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RELATÓRIO FIAT RELACIONAMENTO COM A COMUNIDADE 2011/2012

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Em seus Princípios e Valores, A Fiat adota coerência, transparência, ética e exigência consigo mesma, com a constante busca de sempre fazer o melhor. Em suas práticas de gestão, que tomam a marca cada vez mais forte, a Fiat preocupa-se constantemente com o cliente, a razão da existência de qualquer negócio, e com toda a sociedade.

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  • RELATRIO FIATRELACIONAMENTO COM A COMUNIDADE 2011/2012

  • 3RELATRIO FIATRELACIONAMENTO COM A COMUNIDADE 2011/2012

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    Quando criamos o Programa rvore da Vida Jardim Terespolis, em 2004, costumvamos nos referir a ele usando a simbologia de uma ponte que ligava a montadora comunidade do seu entorno. Provavelmente, hoje essa j no mais a melhor metfora. Nos oito anos que se seguiram, o programa est to orga-nicamente presente no cotidiano da empresa e, por outro lado, a Fiat no dia a dia do bairro que no mais existem duas realidades dis-tintas que precisam se conectar. H muito, por meio de um trabalho srio e dedicado, e das vrias parcerias que estabelecemos, a ponte deu lugar a vias que se cruzam e as aes e projetos do rvore da Vida, muito mais que se aproximarem, foram agentes de uma profun-da e duradora mudana.

    O rvore da Vida Jardim Terespolis baseia--se no princpio de que oferecendo oportu-nidades, principalmente a jovens, as pesso-as tm a chance de serem protagonistas de transformaes individuais e coletivas. Trata-se no de um investimento pontual, mas de uma ao sistemtica, ampla e estruturada, voltada para a promoo do desenvolvimento social, entendido em sua totalidade como de-senvolvimento econmico, cultural e poltico. Com os projetos que ali desenvolvemos, bus-camos contribuir para a diminuio das dis-paridades de condies, para a emancipao social, para o aumento de representatividade e para o reconhecimento simblico dos bene-ficiados e suas famlias.

    Os xitos do programa podem ser atestados no apenas pelas pesquisas que regularmente realizamos, mas, principalmente, pelos depoi-mentos daqueles que dele participam. So re-latos de superaes e conquistas que nos do a certeza de estarmos Fiat, comunidade e parceiros em uma jornada onde transforma-o da realidade social deixa de ser uma uto-pia. Corroboramos a importncia de dados e indicadores, tanto para confirmar quanto para

    Marco Antnio LageDiretor de Comunicao Corporativa Fiat

    OPORTUNIDADES QUE TRANSFORMAM

    EMPRESA HUMANIZADA E CONSCIENTE DE SEU PAPEL SOCIALAo longo de seus 36 anos no Brasil, a Fiat Automveis se consolidou como sinnimo de inovao e liderana. Sendo uma das princi-pais empresas na conjuntura da economia e do desenvolvimento do pas, conquistou entre os brasileiros legitimidade, respeito e admirao. So milhares as pessoas que, direta ou indiretamente, relacionam-se com a empresa, como funcionrios, clientes, parceiros, a comunidade do entorno da f-brica, fornecedores ou acionista. E so elas que constroem e solidificam, diariamente, a marca Fiat. sempre bom recordar que uma empresa construda por pessoas e a exces-siva automatizao, signo de nossos tempos, muita vezes torna difcil perceber que ape-nas ao homem facultada a capacidade de criar o novo e de liderar.

    Quando uma empresa como a Fiat, por meio das pessoas envolvidas em seu business, coloca a servio da comunidade a fora de sua marca, reafirmado o compromisso de que tamanha representatividade deve vir acompanhada de igual responsabilidade. E por marca, vale dizer, entendemos no o smbolo grfico ou o nome, mas ativos fsi-cos ou no fsicos que se traduzem em uma potente e articulada rede de parceiros, re-cursos humanos e financeiros e expertise na gesto de projetos.

    O exerccio de nossa cidadania corporativa ocupa lugar central na cultura organizacional da Fiat e revela uma empresa humanizada, preocupada com o bem estar de seus fun-cionrios, com a utilizao responsvel dos

    recursos, com o envolvimento nas questes sociais do pas, com o compromisso de exer-cer um papel que ultrapassa o da esfera eco-nmica. Em 2011, fomos eleitos a Empresa do Ano pela revista Isto dinheiro. A premiao, As melhores da Dinheiro, baseia-se em crit-rios de sustentabilidade financeira, recursos humanos, inovao, meio ambiente e respon-sabilidade social.

    A postura adotada pela Fiat vai ao encontro de um novo paradigma empresarial. Neste incio de sculo, as empresas, como integrantes das sociedades onde esto inseridas, veem-se diante de desafios ambientais e sociais que no podem mais ser negligenciados em nome da maximizao dos ganhos. Para a Fiat Au-tomveis, resultados econmicos s so vli-dos quando conjugados com a criao de uma sociedade mais justa e democrtica. Perse-guimos obstinadamente a conciliao entre competitividade e responsabilidade, produ-tividade e sustentabilidade. Queremos no apenas ser lderes de mercado, mas agentes de uma inadivel transformao de mentali-dade e de atitude, onde no exista lugar para o imediatismo das relaes produtivas.

    Uma profunda mudana est em curso na so-ciedade e no mundo dos negcios. Temos no apenas o orgulho, como assumimos o com-promisso de fazer parte dela.

    C. BeliniPresidente

    corrigir rotas. Contudo, temos a certeza de que o sucesso de nossos empreendimentos sociais est em nunca perdermos de vista as pesso-as que deles se beneficiam. So elas que, por meio do empoderamento e da autonomia, es-colhem transformar suas realidades.

    Para alm de seu entorno, a Fiat desenvolve projetos sociais em todo o pas com a mes-ma crena com que atua em Betim: oferecer oportunidades para que as pessoas possam, elas mesmas, protagonizar mudanas. Ao todo, as aes desenvolvidas pela empresa em seus principais programas, rvore da Vida Jardim Terespolis, rvore da Vida Capacitao Profissional, rvore da Vida Parcerias e Nossa Betim, beneficiaram, em 2011, mais de 20 mil pessoas em sete esta-dos brasileiros, mais o Distrito Federal.

    O que os nmeros raramente revelam que esse processo uma via de mo dupla. En-quanto contribui para transformar vidas, a Fiat, como organizao, v-se tambm sendo transformada. A rea de relacionamento com a comunidade, ligada comunicao corpo-rativa da empresa, no apenas responsvel pela gesto de nossos programas sociais e de patrocnios, como tambm propulsora da in-cluso dos valores da responsabilidade social e dos preceitos de uma empresa humanizada na cultura organizacional da montadora. por meio da rea e das aes que ela desenvolve que a preocupao com as pessoas beneficia-das torna-se to importante quanto a exceln-cia na gesto e na linha de produo.

    Acreditamos que apenas o homem capaz de modificar sua histria. Trabalhamos para que aqueles que dos nossos projetos participam te-nham a oportunidade de trilhar esse caminho.

  • INDICE

    EXPEDIENTE

    Projeto EditorialCanal C Comunicao e Cultura

    Projeto Grfico e Ilustrao Luisa Ribeiro

    DiagramaoRodrigo Moreira

    Jornalista ResponsvelCarolina Souza Macedo CRTE 14749 MG

    Produo e edio de contedoCanal C Comunicao e Cultura

    RedaoCarol Macedo, Carolina Abreu, Jessica Soares, Jlia Moyss e Victor Vieira

    RevisoTiago Garcias e Viviane Maroca

    FotografiaArquivo do Movimento Nossa BetimStudio Cerri

    Equipe Comunicao Corporativa Fiat Relacionamento com a ComunidadeMarco Antnio Lage Ana Luiza Veloso Luana FerreiraLuciana Costa Luiz Guilherme Gomes Leandro Meciano

    ImpressoEditora Lastro

    Tiragem17.000 exemplares

    rvore da Vida | Jardim Terespolis

    rvore da Vida | Capacitao Profissional

    rvore da Vida | Parcerias

    Nossa Betim

    Apresentao

    A medida do sucesso

    Ao monitor com carinho

    A voz e a vez

    Quem tem talento vai a Rimini

    Primeiros passos

    As vitrines do bairro

    Apresentao

    Possibilidades multiplicadas

    Uma nova relao com a arte

    Participao social por uma Betim melhor

    Em defesa da sustentabilidade

    Apresentao

    A mecnica da transformao

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    A fbrica da Fiat Automveis no Brasil est localizada em Betim, Regio Metropolitana de Belo Horizonte. Na outra margem dessa mesma estrada est o bairro Jardim Terespolis, que abriga cerca de 30 mil pessoas. O bairro, com altos ndices de vulnerabilidade social demonstradas em um amplo diagnstico em 2003, suscitou a implantao do rvore da Vida Jardim Terespolis. O programa

    uma iniciativa da Fiat em parceria com a ONG Cooperao para o Desenvolvimento e Morada Humana (CDM) e a Fundao AVSI, uma ONG de origem italiana, e conta com o suporte da Rede Fiat de Cidadania, constituda por uma aliana intersetorial gerida pela montadora e formada por diversas empresas, especificamente fornecedores e concessionrias Fiat, alm do poder pblico e terceiro setor.

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    O rvore da Vida Jardim Terespolis tem como prin-cipal meta promover a incluso social atravs do prota-gonismo e do desenvolvimento social, econmico e cul-tural da comunidade. Ao atuar nos pilares que exercem influncia sobre esses jovens famlia, educadores e lideranas do bairro o programa se converte em cata-lisador de uma transformao integral na comunidade, promovendo desenvolvimento humano, social e econ-mico por meio de aes de educao, capacitao, cul-tura, sade e lazer. Ele dividido em trs grandes eixos: Atividades Socioeducativas, Gerao de Trabalho e Renda e Fortalecimento da Comunidade.

    O eixo de atividades socioeducativas, tambm chamado de percurso socioeducativo, formado por oficinas de percusso, canto, esporte e atividades de formao humana, que atendem jovens de 12 a 15 anos. Pais e pa-rentes de jovens que frequentam o projeto, assim como pessoas da comunidade em geral, tm a oportunidade de realizar curso supletivo. Coordenado pelo rvore da Vida, que oferece professores e material pedaggico, com ava-liaes peridicas do Centro Estadual de Educao Con-tinuada (CESEC) e estrutura cedida por duas escolas da comunidade, a primeira turma concluiu seus estudos em 2012. Alm disso, o projeto conta com uma Assistente Social responsvel por oferecer atendimento s famlias. Nos encontros-acolhida, realizados mensalmente ou por demanda, por meio de troca de experincias elas obtm subsdios para lidar com as dificuldades e, quando ne-cessrio, recebem encaminhamento a instituies.

    O eixo de Gerao de Trabalho e Renda (GTR) tem como objetivo auxiliar jovens a partir de 15 anos na conquista das primeiras oportunidades profissionais. Este eixo de atividades constitudo pelo Programa Menor Aprendiz, pelo Programa de Capacitao Profissional, composto por uma srie de cursos de capacitao, e pelo Centro de Referncia do Trabalhador, com aes voltadas para a conquista ou a permanncia do emprego. Ainda in-tegram o GTR, o Programa de Empreendedorismo, de apoio a pequenos empreendedores locais, e a coopera-tiva social do programa rvore da Vida, a Cooperrvore.

    J o eixo de Fortalecimento da Comunidade busca articular e capacitar as lideranas e instituies lo-cais com vistas a convert-las em protagonistas do desenvolvimento do bairro. Por meio deste eixo foi formada a Rede de Desenvolvimento Social do Teres-polis Rejat. Tambm so oferecidas consultorias es-pecficas para as instituies, organizao gerencial, formalizao e organizao de estatuto, alm de apoio a regularizaes junto aos rgos municipais para o correto funcionamento.

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    A MEDIDA DO SUCESSO

    rvore da Vida | Jardim Terespolis

    Acompanhamento longitudinal e Sistema de Avaliao e Monitoramento so importantes ferramentas para gesto de resultados e crescimento do Programa rvore da Vida Jardim Terespolis

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    O nome autoexplicativo. Por mais redun-dante que possa parecer, indicadores devem: indicar caminhos, criar parmetros, sintetizar conceitos. Indicadores sociais, mais especifi-camente, traduzem, na forma de dados obje-tivos, aspectos da realidade, permitindo que ela seja mensurada e avaliada. Dessa forma, convertem-se em norteadores fundamentais para a formulao e o acompanhamento de polticas sociais, sejam elas empreendidas pelo Poder Pblico, por ONGs ou pela iniciati-va privada. Foi via anlise de indicadores que o Programa rvore da Vida Jardim Terespo-lis, criado h quase uma dcada, estabeleceu seus objetivos e metas, e tambm por meio deles que seus resultados continuam sendo atestados e novos parmetros traados.

    A Fiat Automveis iniciou, em 2004, um tra-balho de aproximao com a comunidade do Jardim Terespolis justamente a partir de um diagnstico encomendado pela montadora so-bre as demandas sociais da populao. Rea-lizada em 2003, a pesquisa apontou extrema vulnerabilidade social, com baixo nvel de es-colaridade, altos ndices de violncia e desem-prego. Os jovens, identificados como o pblico mais atingido, foram escolhidos como foco do investimento que seria realizado. A atuao da Fiat baseou-se no desenvolvimento daqui-lo que a especialista em Polticas Sociais e em Antropologia Social Urbana, Caroline Moser, define como patrimnio: o conjunto de recur-sos individuais, familiares ou comunitrios que possibilitam a superao de situaes negati-vas e o melhor padro de vida.

    Avaliando as dimenses

    O Programa rvore da Vida passou a articular uma srie de parceiros, projetos e atividades voltados ao desenvolvimento da educao, relaes familiares, capital social e trabalho no Jardim Terespolis. Uma poltica de cons-

    tante monitoramento foi adotada visando ava-liar a evoluo do programa e garantir sua eficcia. Para isso, os dados obtidos com os surveys aplicados na comunidade antes do incio do rvore da Vida servem como linha-base para comparao e anlise do impacto das atividades no bairro. O acompanhamento longitudinal conduzido pela Polis Pesquisa, com consultoria da pesquisadora e doutora em Cincia Poltica, Bertha Maakaroun, res-ponsvel tcnica pela avaliao de impacto.

    Para a Fiat, acompanhar a comunidade e atestar seu desenvolvimento era um desejo e compromisso desde o primeiro dia de ati-vidade do Programa rvore da Vida Jardim Terespolis. Promover um resultado efetivo significa tambm manter um monitoramento desses resultados que so, ao mesmo tempo, motivadores e norteadores, afirma a coor-denadora de Relacionamento com a Comuni-dade da Fiat Automveis, Ana Luiza Veloso. A manuteno de um sistema de informaes est em consonncia com uma perspectiva contempornea de gesto de programas e projetos sociais na medida em que auxilia na melhor aplicao dos recursos e dos servios prestados populao. essencial a produ-o de informaes que alimentem e orientem o processo de tomada de deciso em todas as suas instncias e possibilitem o acompanha-mento sistemtico das aes desenvolvidas e o resultado produzido pelas mesmas, aponta o mestre em Administrao Pblica e doutor em Demografia, Paulo de Martino Jannuzzi, em seu artigo Indicadores para diagnstico, monitoramento e avaliao de programas so-ciais no Brasil.

    Como estava previsto, a primeira pesqui-sa aps a implementao do rvore da Vida Jardim Terespolis foi feita em maro de 2008. Em abril de 2011, a segunda pesquisa de avaliao de impacto foi realizada.

    Diminuindo a desigualdadeSo muitos os aspectos avaliados no acom-panhamento do impacto do programa na realidade do bairro. Por meio de variveis sociodemogrficas como faixa etria, esco-laridade, renda e situao ocupacional, fei-to um raio-x da comunidade e das principais mudanas ocorridas. (Os resultados podem ser vistos na pgina 13).

    Na ltima pesquisa foi avaliado o nmero de pessoas que j se envolveram com o rvore da Vida Jardim Terespolis cresceu. En-quanto em 2008 16,5% das famlias relataram ter pelo menos um de seus membros no pro-grama, em 2011 essa proporo subiu para 24,7%. Quando analisada a mdia de anos de estudo da populao, a variao encontrada ainda pequena, mas aponta avanos: entre 2004 e 2011, passou de 6,2 para 6,85. O desen-volvimento do protagonismo juvenil, uma das principais metas do programa, percebido tambm no aumento do nmero de pessoas que iniciaram um superior. O valor, que era de apenas 0,3% em 2004, atingiu 1,7% em 2011. Outro ndice que aponta avanos o trabalho: h reduo da populao desempregada de 12,6% em 2004 para 7,3% em 2008 e 2011 e, ao mesmo tempo, aumento da populao assalariada com registro formal, que deu um salto de 20%, valor registrado em 2004, para 25,4% em 2008 e 27,3% em 2011.

    Quando o assunto renda, os nmeros so ainda mais animadores. A pesquisa constatou que, entre 2000 e 2004, quando ainda no havia aes do rvore da Vida, a variao percentual da renda familiar no bairro estava muito pr-xima daquela verificada na Regio Metropoli-tana de Belo Horizonte 59,5% e 56,6%, res-pectivamente. Entre 2008 e 2011, no entanto, os nmeros divergem e apontam um avano consideravelmente maior na comunidade: a variao percentual no crescimento da renda familiar no conglomerado mais do que dobrou, contabilizando 44,3%, contra 20,5% na RMBH. Tomando como base o perodo compreendi-do entre 2004 e 2011, o Jardim Terespolis tambm est na liderana: a variao percen-tual registrada no bairro foi de 130,1%, con-tra 88,7% na RMBH, 81,4% em Minas Gerais, 60,3% na regio Sudeste e 65,5% no Brasil.

    Os valores indicam que a presena do pro-grama na comunidade impulsionou efetiva-mente seu crescimento. Para alm de uma

    viso global do bairro, tambm foi avaliada a influncia na renda das pessoas que partici-param das atividades promovidas pelo rvo-re da Vida Jardim Terespolis. Pelas pes-quisas, foi observado que o impacto direto da participao do jovem nos cursos de qualifi-cao profissional sobre a renda familiar no se verificou em 2008. J em 2011, esse qua-dro mudou: a mdia de renda familiar verifi-cada entre as famlias que tiveram membros integrados aos cursos de R$ 1.542, contra R$ 1.094 registrados entre os no participan-tes. Isso aponta, segundo anlise da Polis Pesquisas, que o efeito do programa sobre a renda familiar se processa em mdio prazo. O impacto sentido depois que o jovem se qualifica, j que, com a concluso de sua for-mao, ele pode se inserir efetivamente no mercado de trabalho, explica Bertha.

    Para determinar se o aumento na renda foi em virtude da qualificao, outros fatores como o Bolsa Famlia, programas sociais diversos e a densidade familiar foram isolados por meio de um modelo estatstico conhecido como re-gresso linear mltipla. Com o mtodo, foi possvel atestar que um aumento mdio de R$ 434,97 sobre a renda familiar em decor-rncia de a famlia ter ao menos um membro participante dos projetos de qualificao pro-fissional. Esse resultado muito significativo porque indica claramente que h um impacto na renda dos jovens que participaram do Pro-grama de Capacitao. Da a importncia de promover um acompanhamento que vai alm da simples avaliao, explica a pesquisadora.

    Alm de nmeros, a pesquisa tambm apon-ta alguns dados qualitativos para a formao de um importante vnculo entre o programa e a comunidade. O rvore da Vida no ape-nas atinge as famlias em maior situao de risco, como tambm tem servido como um importante espao de informao para a co-munidade. Ao identificar problemas, a famlia busca mais os programas de transferncia de renda e socioeducativos, bem como o con-selho tutelar, numa tentativa de solucion--los, afirma Bertha. A anlise verificou que as famlias que participam ou j participa-ram do rvore da Vida Jardim Terespolis tem-no como referncia, procurando-o em busca de orientao. O dado faz ressoar o que est presente na fala das pessoas en-contradas no bairro: a grande referncia e apoio que encontram no programa e o seu poder catalisador.

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    OS NMErOS DO PrOgrAMA rvOrE DA vIDA JArDIM TErESPOlIS*

    Mais de 14 mil moradores j

    foram beneficiados de 2004 a 2012.

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    rvore da Vida | Jardim Terespolis

    Fazendo o balano

    O compromisso da Fiat com o monitoramen-to dos resultados e mudanas na comunida-de vai alm dos resultados aferidos. Para que possamos sustentar nossos argumentos quanto s mudanas sociais geradas na vida das pessoas e instituies que integram o programa e, consequentemente, a mudana na realidade da comunidade, tornou-se con-dio essencial a construo de instrumen-tos que pudessem no s apontar as mudan-as, mas tambm medi-las, diz a Gerente de Sistematizao da ONG Cooperao para o Desenvolvimento e Morada Humana (CDM), Tnia Narciso.

    A demanda deu incio, em 2010, ao processo de construo e implantao de um Sistema de Avaliao e Monitoramento do Programa rvore da Vida Jardim Terespolis, com-plementar ao acompanhamento que j vinha sendo realizado. O sistema importante fer-ramenta para a avaliao e continuidade, uma vez que permite comparar temporalmente as mesmas caractersticas e avaliar o alcance dos objetivos estabelecidos. Alm disso, per-mite padronizar o processo de avaliao, sin-tetizar e legitimar a apresentao dos resul-tados. Deveramos aferir se os resultados previstos em cada uma das reas que com-pem o programa esto sendo alcanados; se esses resultados refletem transformaes propositivas na realidade da comunidade; se as atividades realizadas geram efetivamente os resultados previstos; e se precisamos fa-zer ajustes no programa de modo a buscar sua sustentabilidade, explica Tnia.

    Como parte do processo de elaborao do Sistema de Avaliao e Monitoramento, em 2011 foi elaborada uma matriz que sintetiza todos os objetivos que o programa pretende alcanar a curto, mdio e longo prazo e foram definidas metas a serem atingidas nesses es-paos de tempo. Para acompanhar a evoluo do rvore da Vida, foram estabelecidos indi-cadores em trs instncias: de objetivo geral, de objetivo especfico e de resultados.

    Os indicadores de resultados, que corres-pondem aos efeitos aferidos em curto pra-zo, permitem avaliar anualmente as condi-es alcanadas a partir da realizao das

    atividades dos projetos que compem o pro-grama. Ao final de cada ano ser verificado se os resultados correspondem ao espera-do e se estas metas foram cumpridas. Esta avaliao de desempenho importantssi-ma para entender onde erramos, no caso de resultados adversos, e tambm identificar nossos acertos para que metodologias com-provadamente exitosas possam ser aplica-das em outros eixos, explica Tnia.

    Para avaliar o impacto observado em mdio prazo, os indicadores de objetivos especfi-cos apontam o desenvolvimento de cada um dos eixos do rvore da Vida. Fortalecimen-to da Comunidade, Gerao de Trabalho e Renda e Socioeducativo so monitorados de forma bianual por meio de relatrios de acompanhamento e banco de dados.

    Por referir-se dimenso ltima de eficcia do programa o desenvolvimento da comu-nidade do Jardim Terespolis os indica-dores de objetivo geral foram construdos com o intuito de permitir a comparao da evoluo do rvore da Vida e os resultados aferidos em longo prazo. Uma vez que necessrio tempo maior para observar as mudanas de contexto, foi estabelecido um perodo de anlise de quatro anos.

    Para mensurar o alcance do objetivo geral, buscou-se organizar todos os indicadores definidos pelo programa para se criar um in-dicador nico de impacto. O chamado ndice rvore da Vida de Patrimnio foi desenvol-vido de forma similar composio de in-dicadores sintticos reconhecidos nacional e internacionalmente, como o ndice de De-senvolvimento Humano (IDH). O ndice AV de Patrimnio construdo a partir da combi-nao de todos os indicadores monitorados, ou seja: resultado do acompanhamento de todo o processo de desenvolvimento do pro-grama e, por isso, importante ferramenta para gesto de resultados, explica Tnia.

    O Sistema de Avaliao e Monitoramento j se encontra em fase de aplicao e a expec-tativa de que ele contribua para consolidar a metodologia de interveno na comunida-de, tornando o rvore da Vida exemplo de sucesso ainda mais reconhecido.

    SoMANDO AS CONQUISTAS

    Populao estimada

    2004 2008 2011

    qwqwqw

    33.173 32.452 31.392

    Renda familiar (R$)

    com membros no programa sem membros no programa

    2008 20082011 2011

    832 1.542 883 1.094

    2004 2008 2011

    Populao desempregada (%)

    12,6 7,3 7,3

    Positiva (timo ou bom)

    2008 2011

    Avaliao do programa (%)

    8

    90,9 95,2

    2004 2008 2011

    Mdia de anos de estudo

    6.2 6.77 6.85

    L

    Renda per capta (R$)

    2004 2008 2011

    135,72 232,76 351,19

    A

    2004 2008 2011

    Populao assalariada com registro (%)

    20 25,4 27,3

    Em mdia, 1/4 das famlias tem pelo menos um

    membro que participa ou j participou do programa.

    * Nmeros referentes ao Conglomerado Jardim Terespolis, que inclui as Vilas Jardim Terespolis, Bemge e Recreio.

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    AO MONITOr, COM CArINhO

    rvore da Vida | Jardim Terespolis

    Ao promover o protagonismo juvenil, projeto estimula jovens a encontrarem um caminho no mundo do trabalho

    O amor de Lucas pela msica vem desde a in-fncia. Aos seis anos, insistia para que o pai que no dominava muito bem o violo lhe ensinasse a tirar os primeiros acordes do ins-trumento esquecido em algum canto da casa. Aos dez, tinha a Quarto Distrito, banda com que se apresentava em shows e projetos culturais no Jardim Terespolis, onde mora. Anos mais tarde, seu amor pela msica teve a chance de seguir novos caminhos por meio do rvore da Vida Jardim Terespolis. Lucas ficou sabendo do programa na escola, quando l recebeu o convite para participar das oficinas de canto e percusso. Era 2004, quando o rvore foi cria-do. Eu tinha vontade de me envolver mais com msica, mas, at ficar sabendo do Programa, no via muitas possibilidades de fazer um cur-so, diz. Para participar das oficinas todas gratuitas apenas uma condio: bom rendi-mento escolar. Convite feito, desafio aceito.

    Aluno dedicado, ele comeou a se destacar nas oficinas. Sem querer me gabar, mas hoje sei tocar vrios instrumentos de percusso e sopro. Xilofone, surdo, lira..., conta Lucas. Em 2011, ele se viu diante de um novo desa-fio. Foi chamado para ser monitor das oficinas da qual um dia participou. Iria acompanhar o desenvolvimento de jovens entre 12 e 15 anos, dando suporte a eles e ao professor. A rotina de trabalho exigiria disciplina. s segundas--feiras, haveria um encontro dos monitores para pesquisar material, formas de trabalho, realizar o planejamento das aulas e produzir um relatrio. s teras e quartas dariam aula junto com os professores e, s sextas, teriam formao humana, tica e profissional para fortalecer as atividades profissionais com a coordenadora pedaggica. A iniciativa, que faz parte do Projeto Monitor, criado em 2010, busca oportunizar ao jovem aprendiz a am-pliao do projeto de vida e da carreira pro-fissional. A monitoria proporciona oportuni-dades significativas para que o monitor possa

    vivenciar a prtica, em ambiente real de tra-balho, confirmando suas expectativas e esco-lhas e, principalmente, a autoconfiana para exercitar a postura profissional. Atravs do papel de aprendiz, esses jovens transformam sua relao familiar, passam a integrar a vida produtiva, ganham nova identidade e ampliam suas perspectivas de vida e carreira, afirma a coordenadora pedaggica do rvore da Vida, Maura Almeida.

    A escolha de Lucas como monitor so, ao todo, trs foi feita em equipe, envolvendo coordenao, educador social e educador de arte e cultura. O desempenho, a aquisio de habilidades tcnicas da atividade desenvolvi-da na oficina de arte e cultura, o envolvimen-to nas oficinas de formao humana e outros indicadores relativos motivao, interesse e compromisso com a atividade que frequenta so alguns dos critrios.

    A iniciativa tem se mostrado estar no caminho certo. Os desafios, porm, continuam. Busca-mos a todo momento trabalhar e subsidiar o jovem para que eles mesmos encontrem ca-minhos para enfrentar suas necessidades e desejos. E nunca perdemos de vista que eles devem ter liberdade de escolha, seja para en-contrar no projeto um caminho profissional ou, para ao contrrio, descobrir que eles querem algo totalmente diferente, explica Maura. O Projeto Monitor representa tambm o ama-durecimento do rvore da Vida, que busca sua autossustentao. Desde 2010, quando os monitores iniciaram o trabalho, a ideia colaborar para o desenvolvimento dos jovens fazendo deles os multiplicadores da tcni-ca e da formao humana. Lucas se sente no apenas confortvel nessa funo, mas tambm confiante em relao ao seu futuro profissional. Quero ser professor, continuar estudando sempre. E quero poder dar aula no meu bairro.

    A vOZ E A vEZ

    Naquela noite, o arranhar das cordas dos vio-linos dava incio a algo mais que uma simples cano. Para os trinta jovens do Grupo de Es-petculo [1] das oficinas de Canto Coral do Programa rvore da Vida Jardim Terespo-lis, as notas que abrem Con te partir anun-ciavam um momento nico: era hora de can-tar, ao lado de Andrea Bocelli, uma de suas mais aclamadas obras em frente multido que se reuniu na Praa da Estao, no centro da capital mineira.

    No dia 6 de novembro de 2011, a plateia vi-brava ao acompanhar o tenor italiano entoar seus grandes sucessos ao lado da soprano cubana Maria Aleida, da cantora Sandy e da Orquestra Sinfnica de Minas Gerais, regida pelo maestro norte-americano Eugene Kohn. Promovida pela montadora em celebrao aos seus 35 anos de atuao no Brasil, esta foi a primeira vez que Andrea Bocelli se apre-sentou em Belo Horizonte.

    A jovem Emanuelle Fiza, de 14 anos, ficou emocionada com a grandiosidade daquele momento. Ela canta desde novinha os pri-meiros shows foram mais intimistas, reserva-dos famlia. Depois, passou a se apresentar com o coral da igreja do bairro. Meus pais sempre me apoiaram. Mesmo quando can-tava s para eles, se emocionavam, conta. H quase trs anos, passou a fazer parte da oficina de Canto, do percurso socioeducativo do Programa [2]. Mas o tempo de casa no diminuiu a ansiedade: Na hora de subir ao palco tentaram acalmar a gente: so s 71 pessoas. , 71 mil!, eu respondi, relembra Emanuelle. Mal sabia ela que naquela noite, se apresentaram para aproximadamente 81 mil pessoas. O diretor da comunicao coor-porativa da Fiat, Marco Antnio Lage, diz da importncia da ao: foi um momento mar-cante para o programa rvore da Vida e para a histria do grupo. a comprovao de que o resgate da cidadania pode realmente trans-formar vidas.

    [1] As oficinas que formam o percurso socioeducativo tm como objetivo primordial auxiliar na diminuio das condies de vulnerabilidade. Talentos artsticos so, no entanto, eventualmente, revelados. Para estimular os jo-vens que possuem esses potenciais, foi criado o Grupo de Espetculo percusso e canto voltado para um aprofundamento das tcnicas aprendidas nas oficinas. Os grupos participam de apresentaes em vrias cida-des do Brasil.

    [2] O percurso socioeducativo do Programa rvore da Vida Jardim Terespolis atendeu, em 2011, 920 jovens, entre 12 e 15 anos, em atividades que incluem esportes, oficina de canto e percusso. Pelo Centro de Apoio Famlia, o percurso ainda atende 224 pessoas.

    Participao do grupo de Canto em show de Andrea Bocelli um marco na vida dos jovens e no Programa rvore da Vida

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    O evento contou com a presena de personali-dades do universo empresarial, cultural e po-ltico do Estado, como o governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia. Entre as milhares de pessoas que prestigiaram a comemorao, um grupo especfico aumentou ainda mais a responsabilidade sentida pelos jovens do Jar-dim Terespolis: trs nibus saram do bairro para levar a comunidade ao evento. Entre eles, os pais dos jovens que iriam se apresentar.

    Afinando o tom

    A confirmao de que se apresentariam no evento veio apenas trs semanas antes do show e foi recebida com muita surpresa. Nosso professor sempre brincava muito com a gente, ento nem acreditamos que iramos cantar com um grande tenor de outro pas, conta Renata Gabrielle Oliveira, de 13 anos.

    Como parte da proposta da oficina oferecer aos alunos um repertrio diverso que vai do MPB msica erudita as canes de An-drea Bocelli j eram interpretadas por eles. Isso no significou, no entanto, que a apre-sentao dispensava preparao. Os alunos conheciam o tema, mas a produo foi dife-rente daquela que ensaiavam, ento foi um trabalho pesado, explica o professor de can-to, Rodrigo Firpi.

    As duas aulas semanais foram substitudas por uma preparao intensa durante as tar-des e as noites nos dias que antecederam o show. A familiaridade com a msica Con te partir motivou a sua escolha, e Rodrigo montou o arranjo para o grupo que, naque-le momento, era formado por jovens em di-ferentes nveis de formao inclua os mais experientes e aqueles que haviam ingressado h poucos meses.

    Para ajudar no processo, foi importante a pre-sena dos jovens aprendizes, participantes do Projeto Monitor (leia mais na pgina 14). Bianca Esteves, de 16 anos, faz parte da ofi-cina desde os 13 anos e, h um ano e meio, assumiu a importante funo de auxiliar Ro-drigo nas atividades e de ajudar os jovens re-cm chegados a pegarem o ritmo. Para ela, a oportunidade de trabalhar com algo que ama: seu sonho seguir carreira e j se or-

    ganiza para prestar vestibular para o curso de msica. O ganho no foi s na voz. Fez di-ferena na escola, na famlia, em minha pos-tura. Passei a me comunicar melhor, conta. As habilidades foram postas a teste durante os preparativos para a apresentao: a jo-vem acompanhou o professor nas entrevistas junto imprensa, o que para ela ainda um motivo de estranhamento mas tambm de muita felicidade.

    Alm da tcnica, outro detalhe no podia es-tar fora do tom: a ansiedade. O controle do nervosismo, respeito aos msicos e Orques-tra e outros aspectos de formao humana, que j fazem parte da dinmica do percurso socioeducativo, foram intensificados durante o trabalho de preparao.

    Depois de dias de dedicao intensa, uma visita ao Palcio das Artes [3], em Belo Ho-rizonte. Era a primeira vez que os garotos adentravam o prestigiado espao, mas no estavam ali somente a passeio. A experincia foi marcada por uma emoo ainda maior: o ensaio ao lado da Orquestra Sinfnica de Mi-nas Gerais [4]. Eles tiveram acesso ao que h de mais valorizado na nossa msica. Alm ser um espao privilegiado e reconhecido, o Pal-cio a sede do CEFAR [5], do Coral Lrico, da Orquestra Sinfnica. Eles puderam ter con-tato com msicos e referncias e vislumbrar o campo artstico e as suas possibilidades, afirma Rodrigo Firpi. A cantora Sandy, acom-panhada por seu pai, o cantor Xoror, tambm se preparava no espao e posou para alguns cliques ao lado dos empolgados jovens. Co-mearam assim a treinar tambm o grande encontro com seus dolos.

    No entanto, nenhum ensaio conseguiria pre-para-los emocionalmente para o grande mo-mento. O Rodrigo orientou a gente a sempre

    rvore da Vida | Jardim Terespolis

    sorrir. Mas, quando subimos ao palco, pensei que no conseguiria cantar, conta Valdirene Pereira, de 14 anos. A ansiedade foi logo subs-tituda pela emoo. A adrenalina era muita, eu comecei a cantar muito alto. Naquele mo-mento ningum desafinou, relembra.

    D um frio na barriga se apresentar para muitas pessoas, estar ali, representando um programa e at uma comunidade inteira, completa Douglas Henrique Fagundes, tam-bm de 14 anos. Quando subiu ao palco, no entanto, o menino sabia exatamente como agir: segurar a emoo para fazer bonito.

    Para entrar no ritmo

    Douglas, que faz parte do grupo de espetcu-lo da oficina de Canto h mais de dois anos, sabe a data exata em que comeou no rvore da Vida Jardim Terespolis: 9 de agosto de 2010. Me ligaram numa tera-feira, lembro at hoje, diz. Se para sua me ver o filho no Programa motivo de orgulho, para o garo-to representa uma oportunidade. O gosto que ele cultiva por diferentes culturas e outros idiomas vai ao encontro de seus planos para o futuro: quer seguir carreira de cantor ou ser guia turstico, como o pai.

    Iniciada em 2008, a oficina de Canto minis-tra aulas para 100 jovens da comunidade. Semestralmente, feita uma audio para a escolha dos integrantes do Grupo de Es-petculo. A oficina, no entanto, no pode ser tratada apenas como uma aula de canto. O projeto visa o desenvolvimento do jovem como um todo, explica a coorde-nadora pedaggica do programa, Edna Reis. No processo de desenvolvimento humano dos alunos, a prtica musical uma importante aliada. A msica incentiva a interdisciplina-ridade, como explica Rodrigo. Pensar em notas musicais matemtica. A contextuali-zao das peas se relaciona literatura. Ao ensaiar as msicas, passam a ter contato com diversos idiomas e aprendem um pouco de gramtica, explica.

    O aprendizado nas oficinas do percurso socio--educativo reflete-se no desempenho escolar. Segundo levantamento do Programa, en-tre 2004 e 2010, houve aumento de 25% no nmero de alunos aprovados na esco-la regular. Interesse, frequncia e parti-

    [3] Espao vinculado Fundao Clvis Salgado e considerado o maior centro de produo, formao e difuso cultural de Minas Gerais.

    [4] A Orquestra Sinfnica, o Coral Lrico e a Cia. de Dana so os trs corpos artsticos mantidos pela Fundao Clvis Salgado.

    [5] Criado em 1986 pela Fundao Clvis Salgado, o Centro de Formao Artstica CEFAR tem como foco principal a capacitao tcnica e artstica, aliada a no-es de tica, de profissionais nas reas de teatro, m-sica e dana.

    cipao dos alunos saltaram de 58% para 86%. A permanncia na escola tambm aumentou, chegando a 96% no perodo.

    Para participar das oficinas de Canto e Per-cusso, assim como nas demais atividades do programa rvore da Vida, alguns critrios so considerados, tais como estar matriculado na escola e estar dentro da faixa etria definida para a atividade. Dentro da premissa de fo-mento ao protagonismo e empoderamento da comunidade, o objetivo dar ao jovem a opor-tunidade de se desenvolver e isso implica em oferecer a ele atividades competentes a sua faixa etria e uma continuidade para sua for-mao cidad. Tem que estudar muito para no arriscar ser convidado a sair, diz Alex Dias. O jovem, que logo completar 14 anos, conta que sempre gostou de cantar. Quando um amigo lhe falou sobre o Programa, no pensou duas vezes. Fez sua inscrio e agora no quer sair mais. Se perguntar que artis-ta admira, no hesita em responder: Andrea Bocelli. Ele conta animado que agora esto aprendendo sobre a Nona Sinfonia do compo-sitor alemo Ludwig van Beethoven do qual tambm virou f.

    A empolgao compartilhada pela cole-ga Jheniffer Sabrina de Jesus, de 13 anos. Ela, que brincava de ensaiar duetos com a irm, encontrou na oficina um espao para crescer e conhecer coisas novas. tudo muito diferente, so msicas que nunca ti-nha ouvido e que passei a gostar muito, diz. Mas a menina no solta a voz apenas no canto: para ela, as disciplinas do percurso CreSer [6] do a oportunidade de ter novas experincias. So dinmicas legais, uma coisa mais diferente que a outra. Faz a gente pensar, podemos conversar, discutir. Eu adoro o percurso humano, conta.

    As educadoras sociais visitam a escola e a casa dos jovens para entender melhor sua histria e, principalmente, fortalecer vnculos com a famlia. um trabalho de parcerias: com os meninos, com a famlia que confia no trabalho que realizamos e com insti-

    [6] Os jovens das oficinas socieducativas tambm participam do percurso CreSer, constitudo por atividades de formao humana. Nele, so discutidos temas como tica, moral, meio-ambiente, violncia, gravidez na adolescncia, entre outros.

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    tuies locais que do suporte em algumas atividades. Quando o jovem participa do Pro-grama, automaticamente a famlia toda parti-cipa, todos esto envolvidos, explica Reis.

    Renata Gabrielle conta que a oficina de Canto no s ajudou a trabalhar sua timidez e me-lhorar sua postura, mas tambm a fez enten-der a importncia do dilogo. Antes no tinha tanto interesse em conversar com a minha me. Agora sempre conto tudo para ela, falo das aulas e das apresentaes e ela faz ques-to de ligar para todo mundo, super feliz, diz ela. Sua me, Luzia Aparecida Oliveira, comemora o crescimento da filha e tambm ressalta o impacto positivo que o projeto re-presentou na sua prpria vida. Procurando trabalho, s ofereciam um salrio mixuruca. Resolvi entrar no rvore da Vida e me deram a dica: uma escola do bairro ia abrir uma turma para adultos que queriam terminar o segun-do grau, conta. Depois de vinte anos fora da escola, ela voltou a estudar.

    Em sintonia com o futuro

    Grasielle Larissa Matos conhecida como a doidinha da sala. Sua empolgao ao falar do Programa, do qual faz parte h dois anos, talvez explique o apelido. A jovem de 14 anos explica que a oficina de Canto mudou sua vida de verdade, faz questo de reforar. Eu sempre amei msica e cantar me ajudou a ser mais feliz. Agora, Grasielle j pensa em seguir carreira: primeiro, quero ser monito-ra de canto, como a Bianca, revela. Ao saber que cantaria ao lado de Andrea Bocelli, no conseguia falar de outra coisa.

    E a famlia tambm comemorou? Grasielle resumiu toda sua emoo em uma frase sim-ples: Minha me falou que estava orgulhosa. Na falta de palavras, os olhos de Grasielle re-velaram o quanto isso representou para ela.

    Para Valdirene Lopes Pereira o interesse pelo canto comeou em casa: a jovem de 14 se

    espelhava na irm, que j havia feito aulas. Mas foi um colega que acabou incentivando sua entrada no Programa. Notei que meu amigo Ericles andava muito sumido. Quando ele contou que estava na oficina fiquei mui-to empolgada. Queria fazer parte tambm!, relembra. Enquanto sua irm concilia apre-sentaes em casamentos com a faculdade de Direito, Valdirene planeja se dedicar m-sica. Seu sonho ser professora de canto e j est correndo atrs. Como aos 15 anos ser encaminhada para o programa Gerao de Trabalho e Renda - GTR, comeou a cur-sar msica na Fundao Nacional de Artes (Funarte) de Betim, um curso mais avanado, onde Firpi tambm d aulas. L, voltou a ser colega de Ericles.

    Ericles Junio Nunes ingressou na oficina de Canto em 2009. Durante os dois anos e meio em que fez parte do Programa, mostrou-se um verdadeiro mobilizador foi por conta de seu incentivo que muitos colegas passaram a fazer parte do coral. Eu contava como era o rvore da Vida e um monte de gente foi se ins-crevendo. Eu dava muita fora porque sempre achei que o Programa me ajudava a melhorar no s na rea artstica, mas tambm como ser humano, revela. Subir ao palco ao lado do maior tenor de todos os tempos serviu como confirmao para sua paixo pela msi-ca, explica Ericles. E, para a famlia, significou mais uma razo para incentivar seu sonho. Quando eu cheguei em casa, depois do show, minha me ficou louca, no parava de falar meu filho, que gracinha, que gracinha!, e eu pelo amor de Deus, me, eu j sou gran-de, conta. Ericles faz uma pausa e confes-sa: Mas significou muito ver o orgulho dela. Pouco tempo aps a apresentao, completou 15 anos e seguiu para o GTR. Falei com as professoras do percurso humano que eu no queria sair de jeito nenhum, queria continu-ar no coral. Elas recomendaram o curso da Funarte, conta. Seu plano agora simples: nunca abandonar a msica.

    A adrenalina era muita, eu comecei a cantar muito alto. Naquele

    momento ningum desafinou

    Valdirene Pereira, de 14 anos.

    rvore da Vida!, anunciou Andrea Bocelli ao fim da apresentao ao lado dos jovens da oficina de Canto. O tenor italiano, que comanda uma instituio com seu nome, dedicada promoo de aes de incluso social e valorizao do ensino da arte, se identificou com o Programa rvore da Vida Jardim Terespolis. Bocelli, cego desde os 12 anos, elogiou o apoio dado pelo rvo-

    O ano de 2012 comeou trazendo novos desa-fios e conquistas para 37 jovens das oficinas de canto e percusso do Programa rvore da Vida Jardim Terespolis. Em 26 de abril, os versos de Imagine, cano composta por John Lennon, foram entoados pelos jovens em fren-te a um pblico de aproximadamente 500 pes-soas. Tratava-se de da 22 edio do Qualitas Awards, premiao da Fiat que tem como ob-jetivo o reconhecimento do desempenho dos seus fornecedores. O Qualitas Awards uma tima oportunidade para compartilhar com os lderes da Fiat as perspectivas do negcio, direcionamento de esforos e estratgias fu-turas. Alm disso, um importante momento para encontrar com representantes da inds-tria automobilstica nacional, afirma Diretor Comercial e Planejamento Estratgico Amri-ca do Sul da Nemak, Marco Landeros.

    A iniciativa que abrange todos os fornece-dores diretos, indiretos e de logstica da Fiat Automveis, CNH, FPT Powertrain Technolo-gies e Iveco garante o bom relacionamen-to entre a montadora e seus parceiros. um

    momento de festa e troca de experincias, o que se tornou ainda mais emblemtico ao som da cano imortalizada pelo ex-beatle. A apresentao do Programa rvore da Vida foi muito interessante. gratificante saber que a Nemak apoia esse programa que concede oportunidades aos jovens que, talvez, de outra forma, no poderiam ter. Foi impactante o vi-sual, a sinergia e a mistura das imagens com a msica, relembra Marco Landeros.

    Mesmo para os alunos veteranos do palco, a apresentao foi marcada pela novidade. Para grande parte dos integrantes da oficina, era a primeira vez que visitavam a cidade maravi-lhosa. Alm de conhecerem o Cristo Redentor e a Po de Aucar, a caminho do evento, eles fizeram uma parada rpida para conhecer a praia da Barra da Tijuca. Para Patrcia Ros-rio, de 13 anos, foi a primeira vez no Rio e no mar um encontro cheio de descobertas. O nosso p ficou todo encharcado, as ondas es-tavam muito fortes, brinca. Ligada nos sons cariocas, Patrcia no deixa de comentar que o pessoal fala muito engraado.

    re da Vida Parcerias [7] aos portadores de deficincia por meio dos projetos Esporte para Todos, Cesta de Trs e Educao In-fantil Inclusiva. Estes projetos so reali-zados, respectivamente, pela Prefeitura Municipal de Betim, Associao Desportiva para Deficientes e Instituto Ester Assump-o que recebem o apoio da Fiat via lei de incentivo fiscal.

    [7] Atravs de leis de incentivo fiscal, a Fiat Automveis apia tambm aes que promovam educao, cultura e esporte em todo o pas.

    No tom da cidade maravilhosa

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    rvore da Vida | Jardim Terespolis

    Para estreitar as relaes

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    QUEM TEM TAlENTO vAI A r IMINICooperrvore participa de encontro europeu e conquista reconhecimento internacional

    O cineasta Federico Fellini foi um dos respon-sveis por tornar conhecida fora do seu pas sua cidade natal, Rimini, na Itlia, de aproxi-madamente 150 mil habitantes. Mas um en-contro promovido na cidade desde a dcada de 80 que faz com que, pelo menos uma vez por ano, ela receba as atenes do mundo inteiro. Realizado em pleno vero europeu, o Meeting di Rimini rene figuras eminentes da poltica e da economia, representantes religiosos e culturais, intelectuais, artistas, esportistas e protagonistas do cenrio mundial para com-partilharem experincias e conhecimento. Palestras, debates, espetculos de msica e exibies de filmes so apenas parte de uma intensa programao que, distribuda em sete dias, proporciona encontros e dilogos a qua-se 800 mil pessoas com as mais diversas atu-aes e de diferentes partes do mundo.

    Em 2011, o Brasil esteve presente por meio do Programa rvore da Vida Jar-dim Terespolis. O convite foi feito pela Fundao AVSI [1], entidade que participa anualmente do evento e cogestora do pro-grama, juntamente com a Fiat Automveis e a ONG Cooperao para o Desenvolvimento

    e Morada Humana (CDM). A Fundao esco-lheu o rvore da Vida por identific-lo como uma das melhores prticas que comunica, de forma concreta, a parceria pblico-privada e a sociedade civil, afirma o gerente de projetos da AVSI, Jacopo Sabatiello. Alm disso, um encontro como o de Rimini era um momento mais que oportuno para difundir este modelo de desenvolvimento inovador de relaciona-mento com a comunidade, em que a multina-cional est diretamente envolvida em todas as etapas de acompanhamento do programa, completa ele.

    Alm de possibilitar uma oportunidade nica de intercmbio de ideias e de experincias permitindo ao mesmo tempo falar sobre o que vem sendo desenvolvido no Jardim Terespolis e conhecer possibilidades de referncias de

    [1] Criada em 1972, a Fundao AVSI (sigla para Associazione Volontari per il Servizio Internazionale) uma entidade italiana voltada para a promoo hu-mana e o desenvolvimento social. Est presente em 38 pases da frica, Amrica Latina e Caribe, sia, Leste Europeu e Oriente Mdio, envolvida em mais de cem projetos de colaborao para o desenvolvimento.

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    projetos exitosos que podem ser aplicados em Betim , o convite para a feira representa tambm um reconhecimento. A participao no encontro significou a valorizao de um trabalho de carter intersetorial e interna-cional que tem sido executado com extrema seriedade. Foi uma primeira oportunidade de apresentao formal no exterior, especial-mente no pas matriz da Fiat, e nos trouxe a certeza de que o rvore da Vida importante para o Grupo Fiat como um todo, comemora a gerente de relacionamento com a comuni-dade da montadora, Ana Luiza Veloso.

    Esse entendimento compartilhado tambm pelo CEO da Fiat, Sergio Marchionne, que es-teve presente no encontro e visitou o estande da Fundao AVSI. Certamente esta a me-lhor parte do trabalho que estamos fazendo. Essas fundaes fazem parte da soluo dos problemas da economia, isso essencial! Fa-lvamos h pouco sobre o nmero de benefi-ciados pelo programa e ouvimos o entusias-mo dos rapazes que estamos preparando. um milagre, declarou.

    Assim como Marchionne, milhares de parti-cipantes do Meeting di Rimini puderam co-nhecer de perto a atuao da cooperativa so-cial do rvore da Vida Jardim Terespolis, a Cooperrvore, escolhida para representar e tangibilizar o trabalho que vem sendo desen-volvido pelo programa. Formada atualmente por 23 cooperadas, desde 2006 ela fabrica produtos que aliam funcionalidade, design, inovao e beleza. Com o olhar voltado para as novas formas de consumo do mundo con-temporneo e para o estmulo cada vez maior reutilizao e reciclagem, a cooperativa utiliza para a confeco de seus produtos, materiais considerados refugos da produo de veculos, tais como aparas de cinto de se-gurana, tecido automotivo e pequenas pe-as descaracterizadas. Banners e lonas de outdoors tambm so reutilizados.

    Uma estrutura similar ao dia a dia do traba-lho na cooperativa, com mquinas de costura e uma mesa para corte foi montada junto s mochilas, bolsas, cases para notebook, cha-veiros e organizadores em exposio.

    Passaporte para o futuro

    Bastante comemorada, a escolha da Coope-rrvore como a representante em Rimini guar-dava ainda uma surpresa. Um ms antes do

    encontro, as cooperadas receberam a notcia com um misto de alegria e incredulidade de que trs delas iriam se juntar equipe tcnica convidada a embarcar para a Europa. A forma de escolha caberia prpria cooperativa, e seis nomes foram por elas sugeridos para se-rem votados. Jussara Silva, uma das escolhi-das, conta que algumas colegas ficaram com receio da viagem ao exterior, uma experincia nova para todas. Quando me candidatei, no tive medo nem de avio, nem da lngua, nem de nada. Ficava sonhando com a possibilidade de ir l e mostrar, eu mesma, para os estran-geiros os nossos produtos, mostrar como bonito o que a gente faz. Acredito tanto nesse projeto que, antes mesmo de a gente ter sido convidada, eu comecei a providenciar meu passaporte. Ningum soube, mas, quando es-colheram meu nome, ele [o documento] j ti-nha sado!, confidencia. Jussara entrou para o projeto em 2009 a convite de uma amiga que j participava. Fiquei desempregada e sem opes. A Cooperrvore me deu a chance de ter no apenas um trabalho, mas algo de que eu pudesse me orgulhar, diz.

    Com ela, embarcaram Claudinia Alvarenga, participante desde 2007 e hoje presidente da cooperativa, e Iracema Salgado, uma das fun-dadoras da Cooperrvore. Na bagagem, elas levaram matrias primas, ferramentas de tra-balho e muita expectativa. Porm, mal podiam imaginar o interesse que iriam despertar e a admirao e respeito que conquistariam. Ini-cialmente iramos apenas fazer uma simulao de como o nosso trabalho. Mas as pessoas no saam do nosso lado, ficavam esperando para ver como nossos produtos so feitos, e decidimos colocar a mo na massa. Muita gen-te no acreditava que era cinto de segurana e tecido de carro, conta Iracema.

    rvore da Vida | Jardim Terespolis

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    Muitos nomes ilustres passaram por l, entre eles Jerzy Buzek, poca presidente do Parla-mento Europeu, Roberto Formigoni, presidente da Lombardia, e Franco Frattini, ento Ministro das Relaes Exteriores da Itlia. Mas uma vi-sita, em especial, as surpreendeu. John Elkann, presidente do Grupo Fiat, aguardado no encontro para uma rara palestra, fez questo de conhec--las pessoalmente. Ele foi primeiro ao nosso estande e s depois para a palestra. Perguntou o nome de cada uma de ns. Todo mundo que-rendo v-lo e a gente tendo esse privilgio. Foi uma honra!, comemora Jussara. Ele conver-sou conosco e contou um pouco de sua histria. Disse que o filho de seis anos sempre pergunta por que ele trabalha, e ele diz que algo impor-tante e que gosta muito. A simplicidade dele nos emocionou. Depois, durante a palestra que es-tava lotada de gente, ele disse: aqui no encon-tro esto trs senhoras do Jardim Terespolis, vocs tm que conhec-las. E todo mundo foi l nos prestigiar, relata Iracema.

    Tamanha visibilidade s fez aumentar o n-mero de admiradores, estimulando o contato delas com outros idiomas e deixando-as ainda mais confiantes. Acompanhamos de perto um processo que foi muito bonito. Cada dia que passava, elas iam se sentindo mais vontade e com mais autonomia para se relacionarem com os visitantes. No primeiro dia, volunt-rios faziam a traduo. No segundo, elas j arriscavam palavras em italiano. Ao final da semana, at brincavam com o vocabulrio que haviam aprendido, conta Jacopo.

    E qual frase elas tiveram de aprender logo nos primeiros dias? gi venduto [2], responde Jussara. Foi um sucesso. Vendemos os pro-dutos que estavam em exposio, as bolsas que produzimos l e at as nossas!, comemo-ra Iracema. Ela conta que, quando a matria--prima acabou, houve quem a convencesse a vender sua prpria bolsa. Mas no foram s

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    vendas que a gente fez. Fizemos amigos tam-bm, diz. Muita gente chorou quando fomos embora. Uma senhora italiana gostou tanto da gente e do nosso trabalho que todo dia ia ao estande. Trocamos e-mails e, no ltimo dia, ela foi l se despedir. Se emocionou, e a gente tambm, conta Claudinia.

    Alm dos laos que estabeleceram com as pessoas e a cidade foram vrios os passeios em Rimini , Claudinia, Iracema e Jussara conheceram Roma e San Marino. Durante a visita ao pequeno pas vizinho Itlia, Iracema comemorou seu aniversrio de 51 anos. Foi um momento especial. Quando chegamos ao Palcio de Governo de San Marino, soubemos que iam fech-lo para uma visita especial para ns, mas o Jacopo agradeceu em nosso nome, dizendo que no era preciso. Foram dias de grande emoo, ela se recorda.

    Na bagagem de volta, alm de experincias to ricas, elas trouxeram autoconfiana e determi-nao para fazer a cooperativa crescer ainda mais. Voltei de l bem mais exigente, quero continuar merecendo os elogios. Hoje eu cobro mais de mim e das outras, sou mais preocupa-da com a forma de fazer, afirma Iracema. Des-de o retorno delas, foram feitas vrias reunies para discutir e avaliar a produo. Queremos surpreender, dar um salto de qualidade, diz Claudinia. Jussara continua sonhando alto. Quero carimbar ainda mais meu passaporte! Representar o projeto mundo afora, melhorar os produtos, crescer as vendas, aumentar o nmero de cooperadas. Quero ir longe, muito longe, que a Itlia seja s o comeo!, diz ela, com entusiasmo. Quando lhe perguntam so-bre o que mais gostaria de dizer nas futuras viagens, ela responde, com sotaque italiano e gesticulando as mos: gi venduto!.

    [2] Em italiano: j est vendido.

    PrIMEIrOS PASSOSCurso de qualificao a porta de entrada para jovens no mercado de trabalho

    Por dia, entre treze e quinze cargas. Em cada carga, cabem 24 para-choques o suficiente para produzir algumas dezenas de veculos. Maykon Henrique Lima e outro colega so os responsveis por vistoriar essa frota que sai da fbrica da Plascar, fornecedora Fiat especializada em componentes plsticos para o setor automotivo. H pouco tempo, Maykon, de apenas 19 anos, nem sonhava com tamanha responsabilidade. Foi a me quem deu a dica sobre o curso de Controle de Qualidade oferecido por meio da parce-ria entre o Programa rvore da Vida Jardim Terespolis, o Senai Betim e as empresas Plascar e Resil. O jovem do bairro, localizado em Betim, decidiu encarar o desafio e come-ar ali sua trajetria profissional.

    A formao ganha o nome de aprendizagem social e dividida em duas etapas: a terica e a prtica, com o estgio dentro da empresa par-ceira. Alm do contedo tcnico definido pela Federao das Indstrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), o rvore da Vida garante con-tedos adicionais que somam a formao pes-soal e profissional do jovem. A ideia trabalhar questes de tica, comportamento, senso cr-tico e relaes de trabalho. Ao incio de cada ci-clo de aulas da formao humana, feita uma srie de dinmicas para definir os ajustes da metodologia a ser usada para cada turma.

    Quanto mais interativa, mais resultado con-segue. preciso ter efeito de provocao e considerar a bagagem trazida por cada sujei-to, destaca a coordenadora do Centro de Re-ferncia do Trabalhador [1] , Eliane Mrcia da

    Silva. Ela, que tem experincia nas salas de aula dos cursos de aprendizagem social, con-ta que importante estar atento a demandas individuais e do grupo. Ao longo do processo, os alunos recebem retorno sobre seu desem-penho e os pontos a serem aperfeioados. A equipe responsvel pela formao humana ainda mantm dilogo com os professores da rea tcnica para compreender melhor as ne-cessidades dos jovens. Alm disso, h reforo de matemtica e lngua portuguesa para aju-dar os alunos a superar defasagens que cos-tumam trazer da escola.

    Maykon confessa que no princpio no esta-va totalmente interessado pelo curso. Foi aos poucos compreendendo a importncia de es-tar naquela formao. Depois do semestre de aulas no Senai, Maykon foi para a Plascar viver a prtica de perto. E no decepcionou. Logo aps o fim do estgio, foi contratado como operador de produo o encarrega-do de montar os para-choques. A promoo veio rpido tambm. Em menos de um ano, Maykon foi promovido a sequenciador e cum-pre a funo de inspecionar os para-choques montados. Agora, ele se divide entre a rotina movimentada da fbrica e os livros do curso de Engenharia de Produo. Recm-chegado faculdade, ele espera subir mais degraus na empresa e na carreira.

    Correndo atrs

    Com o diagnstico interno de demanda, as empresas procuram o Senai e o rvore da Vida para planejar qualificaes de jovens. O primeiro fica por conta de definir a grade cur-ricular e o segundo faz a seleo de alunos de acordo com o perfil estabelecido pela empre-sa. Em geral as demandas mais constantes so para a modalidade de aprendizagem so-cial. Para esta modalidade so selecionados aqueles jovens que j tm ou esto prximos de completar 18 anos. De acordo com as re-gras legais, jovens nesta faixa tm permisso para desempenhar funes dentro dos seto-res fabris. Para a turminha abaixo desta fai-

    [1] O CRT (Centro de Referncia do Trabalhador) uma das atividades do eixo de Gerao de Trabalho e Renda do programa rvore da Vida Jardim Teres-polis. O objetivo oferecer acompanhamento cons-tante aos jovens, ainda em curso ou mesmo aos que j finalizaram esta etapa, e auxiliar a comunidade na busca de oportunidades de emprego, o CRT tambm realiza o monitoramento de vagas e oficinas de orien-tao e capacitao para o mercado de trabalho. O esforo do CRT direcionado a possibilitar ao jovem a conquista de uma oportunidade de emprego e a permanncia no mercado de trabalho.

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    xa etria, existe o Projeto Menor Aprendiz. Os adolescentes, entre 15 e 18 anos, podem tra-balhar como auxiliares administrativos, jovens empreendedores e com Informtica Bsica.

    A participao das empresas ao longo dos cursos importante. Quando esto presen-tes, mais rapidamente os jovens assimilam o ritmo e comeam a se empenhar. Segundo a analista de Recursos Humanos da Plascar, Rejane Evangelista, a vantagem que esses jovens podem se tornar funcionrios j inte-grados cultura da empresa. Quando esto nas empresas, o rvore da Vida mantm con-tato com as sees de recursos humanos para fazer uma avaliao distncia. Na Plascar, por exemplo, os estagirios ainda participam de encontros peridicos e ficam sob os cui-dados de um supervisor em cada seo. Con-forme o rendimento e a demanda, eles tm a chance de serem efetivados.

    Maykon apenas um dos 78 jovens do Jar-dim Terespolis que passaram por essa mo-dalidade de formao oferecida pelo eixo de Gerao de Trabalho e Renda do rvore da Vida. Outros vinte jovens, vindos de bairros diversos, tambm fizeram parte do curso. O secretrio de Desenvolvimento Econmico de Betim, Cleanto Marcos Pedrosa, acredita que o esforo de formar profissionais de grande

    importncia para a cidade. Betim tem em-prego, mas as pessoas no possuem condi-es de disputar por falta de qualificao, analisa. A ideia , ao mudar as perspectivas dos jovens, transformar toda a comunidade.

    Referncia na comunidade

    Deivison Pego aprova a experincia que teve no curso solicitado pela Plascar. Alm da for-mao tcnica, tambm houve uma preocupa-o com uma formao humana, baseada em troca de experincias e muito dinamismo, relata. Deivison acredita que as aulas adicio-nais foram importantes para que os alunos superassem dificuldades e adquirissem uma postura profissional. A gestora de Gerao de Trabalho e Renda, Luciana Silva, ressalta que tornar os alunos mais maduros contribui tanto para o desenvolvimento pessoal quanto para a formao cidad.

    Deivison ainda aponta que o rvore da Vida mais que uma oportunidade pontual, sim uma referncia relacionada a emprego dentro do Jardim Terespolis. um suporte contnuo, elogia. Ele conta que at hoje se comunica com os professores para pedir dicas e conselhos. Pe-riodicamente so ofertadas no bairro oficinas de criao de currculos, orientao sobre a busca de emprego e cadastro nas sees de recursos humanos do entorno.

    No eixo de Gerao de Trabalho e Renda so desenvolvidas atividades de encaminhamento ao mercado de trabalho e acompanhamento. O Centro de Referncia do Trabalhador (CRT) conta com mais de quarenta empresas e ins-tituies colaboradoras e um banco de dados sobre os jovens que passaram pelas forma-es. comum que empresas solicitem indi-caes de pessoas qualificadas para preen-cher postos de trabalho. Por isso, pedimos aos ex-alunos que mantenham suas informa-es atualizadas para que sempre possamos entrar em contato, esclarece Luciana. Depois de fazer essa ponte, o programa ainda acom-panha um pouco mais do percurso se o jo-vem foi admitido ou no e quais as razes que o deixaram fora da vaga. Eliane Mrcia explica que o objetivo fazer com que eles aprendam a buscar solues alm do rvore da Vida e desenvolver o protagonismo desses jovens dentro da comunidade.

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    AS vITrINES DO BAIrrOAlm de fortalecer o comrcio local, a Rede de Empreendedores do rvore da Vida ajuda no desenvolvimento da comunidade

    Quem passa pelas ruas do Jardim Terespo-lis, em Betim, j pode notar diferenas. Den-tro de vrias lojas do bairro, a mudana ain-da mais clara, desde o estoque at o discurso. A gente sonhava pequeno. Com o Programa rvore da Vida Jardim Terespolis, comea-mos a ter uma viso maior, conta o dono de salo de beleza Geraldo Soares, que atende no mesmo ponto h mais de quinze anos. A Rede de Empreendedores do Jardim Terespolis (Rejat) aos poucos d cara nova ao comrcio local. A proposta desenvolver os negcios do bairro e gerar ainda mais vagas de emprego. Esta uma das principais frentes da atividade de empreendedorismo do Programa rvore da Vida Jardim Terespolis.

    No Geralds Studio Fashion o salo de Ge-raldo o trabalho rendeu frutos. Ainda des-confiado, h quase trs anos ele entrou em contato com o rvore da Vida por indicao de uma cliente. O cabeleireiro comeou ento a participar dos encontros, palestras e forma-es oferecidos pelo Programa. Alm de reu-nir os empreendedores locais, as atividades tinham o objetivo de dar noes de negcios: finanas, marketing, planejamento e outros, em parceria com o Centro Universitrio UNA. Orientaes simples, como o controle de cai-xa, j serviram para contabilizar lucros e pro-jetar investimentos. Alm de Geraldo, mais de 280 empreendedores foram beneficiados entre os anos de 2008 e 2011. Segundo o ca-beleireiro, a experincia mostrou a eles alter-nativas e potenciais para o comrcio.

    Ginilza Pinheiro, esposa de Geraldo, trabalha com o marido. O casal planeja ampliar o ne-gcio e abrir outro salo, onde possam ofere-cer mais conforto e estrutura aos clientes. Um dos objetivos garantir espao maior para as noivas. Atualmente, o Geralds Studio Fashion

    emprega outras cinco pessoas, todas do bair-ro Jardim Terespolis. Para Ginilza, a Rede importante porque as inovaes no partem somente do rvore da Vida, mas tambm dos prprios comerciantes. Com a iniciativa, os empreendedores tiveram a chance de conhe-cer a comunidade e as suas demandas. A ges-tora do eixo de atividades de Gerao de Tra-balho e Renda [1] do Programa, Luciana Silva, explica que o objetivo dar condies para que eles sejam os protagonistas de suas aes. Ginilza, inclusive, tomou gosto pela rea e j est na metade do curso superior de Adminis-trao. Com o reforo da faculdade, ela espera que o negcio prospere ainda mais.

    Apoio na vizinhana

    No Jardim Terespolis vivem pouco mais de 30 mil pessoas praticamente 10% da popu-lao de Betim. H poucos anos, muitos deles pegavam nibus at o Centro s para fazer compras. Com o apoio do rvore da Vida, por meio da Rejat, a comunidade do Jardim Tere-spolis tem ficado cada vez mais prxima do comrcio e, para muitos, tambm de seu local de trabalho. Ao vitalizar o comrcio do bairro, a distncia ficou menor, o Jardim Terespolis passou a concentrar uma diversidade de pon-tos comerciais e opes de compra bastante significativa, alm de fomentar a empregabi-lidade dentro do prprio bairro. Isso contribui para o processo de desenvolvimento territo-rial, transformao de realidades e gerao de melhorias para todos.

    A regio est crescendo muito e o potencial de retorno grande, afirma o secretrio de Desenvolvimento Econmico de Betim, Cle-anto Marcos Pedrosa. Segundo ele, o ritmo de valorizao de imveis nas principais ave-

    [1] O eixo de atividades de Gerao de Trabalho e Renda composto pelo Projeto Menor Aprendiz que recebe os ado-lescentes das oficinas socioeducativas a fim auxili-los na conquista das primeiras oportunidades profissionais; por projetos de capacitao e qualificao de jovens e adultos; pelo Centro de Referncia do Trabalhador, que acompanha continu-amente os beneficiados; pela cooperativa social Cooperrvore (leia mais na pgina 20); e por projetos de capacitao e articulao dos comerciantes locais.

    rvore da Vida | Jardim Terespolis

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    nidas do bairro j prximo ao que acontece no Centro. Antes no havia nem onde sacar dinheiro no Jardim Terespolis. Hoje a co-munidade tem caixas eletrnicos e se espe-cula a chegada de uma agncia bancria. O trabalho social do rvore da Vida gerou uma expectativa de melhora no bairro e para as famlias, completa o secretrio.

    O jovem Euvagner Camilo, que tambm cabeleireiro no Jardim Terespolis, gosta de trabalhar no bairro e acredita nas projees de crescimento. Habilidoso com a tesoura, ele garante que no troca o lugar por outro canto. J dispensei bons servios em Belo Horizonte, que talvez rendessem mais di-nheiro, e preferi ficar aqui, relata. Em outu-bro deste ano, seu salo de beleza completa trs anos. Segundo ele, muita gente de longe vai at o salo s porque gosta do seu servi-o. Alis, clientela no problema. Na mes-ma rua que ele tambm fica o salo de bele-za do tio e outro da me. Euvagner est bem satisfeito com a demanda na comunidade: a agenda dos trs sales est sempre lotada.

    Para melhorar o servio, os empreendedo-res solicitaram, em 2011, uma pesquisa de hbitos de consumo no bairro. A sondagem serviu para apontar dificuldades e caminhos de incremento nas vendas, como canais de divulgao. Uma das queixas dos consumi-dores era sobre o modo de pagamento. No Geralds Studio Fashion, por exemplo, a m-quina de carto de crdito ajudou bastante e a clientela quase dobrou.

    Outro processo importante foi transformar o modo como cada comerciante enxerga os colegas. A Rejat tem a proposta de unir for-as, ao invs de aes individuais. Em troca da ideia de concorrncia, pensar em poss-veis parcerias, explica Luciana. Para o pre-sidente do Sindicato Patronal de Comrcio de Betim, Helvcio Siqueira Braga, um dos mritos desse esforo promover o relacio-namento entre os empreendedores. Ele con-ta que os comerciantes tm postura isolada e no conseguem agir coletivamente, inclusive em entidades de classe. Ao contornar esse obstculo, os resultados da Rejat chamam a ateno at de outros bairros.

    Papis em dia

    Regiane Vernica Gomes dona de um ar-marinho no Jardim Terespolis e conseguiu formalizar seu comrcio. Incentivado por ela, Evaldo Vicente decidiu seguir os passos da es-posa e regularizou sua distribuidora de gua mineral. A deciso de Regiane foi resultado da orientao do rvore da Vida Jardim Tere-spolis, que fez o mesmo com vrios outros empreendedores. Nos ltimos trs anos, seis mil comerciantes informais regularizaram seus documentos em Betim. A Lei do Empre-endedor Individual passou a valer em 2009 e contribuiu, em todo o pas, para que centenas

    Trabalhando para o desenvolvimento do futuroComprovando o interesse e ao efetiva da Fiat Automveis na construo de uma par-ceria mundial para o desenvolvimento, em 2012 o Programa rvore da Vida Jardim Te-respolis foi eleito uma das cinquenta melho-res prticas brasileiras que contribuem com os Objetivos de Desenvolvimento do Milnio (ODM) na 4 edio do Prmio ODM Brasil.

    Ser reconhecido em um prmio que d des-taque a aes consideradas pela ONU como essenciais para o desenvolvimento justo do planeta um grande orgulho para ns. Ao longo dos seus oito anos, o rvore da Vida tem contribudo efetivamente para promover

    de milhares de pessoas deixassem a infor-malidade nos negcios. Com este modelo de contribuio, os microempreendedores passam a ter cobertura previdenciria e pagam menos impostos. No caso de Betim, comerciantes instalados dentro da prpria casa tambm ficaram isentos do IPTU.

    Para a analista do Sebrae Minas, Denise Andrade, as vantagens da formalizao so muitas. O estabelecimento tem mais chan-ces de ampliar os negcios, alm do acesso a crdito e direito aposentadoria. Regiane Vernica recebeu da Associao Comer-cial, Industrial e Agropecuria de Betim o prmio de Empresria do Ano de 2010, na categoria Empreendedor Individual. A homenageada foi a primeira a regularizar um negcio informal no municpio. Antes era muito complicado abrir uma empresa e ainda mais difcil fechar, diz Evaldo, ma-rido de Regiane. As regras novas mudaram bastante a situao. Segundo ele, a forma-lizao s trouxe benefcios. Os documen-tos de sua distribuidora de gua mineral permitem que ele emita notas fiscais e par-ticipe de licitaes. O impacto positivo pode ser traduzido em nmeros. A cada ms, eles vendem entre cinco e seis mil gales de gua de vinte litros.

    o desenvolvimento da regio do Jardim Te-respolis, em Betim, mobilizando diversos parceiros, em prol dos seus objetivos de ge-rar emprego e renda, promover aes so-cioeducativas e fortalecer a comunidade, enfatiza a coordenadora das aes de Rela-cionamento com a Comunidade da Fiat, Ana Luiza Veloso.

    A premiao, criada em 2005, coordenada pela Secretaria Geral da Presidncia da Re-pblica, em parceria com o Programa Na-cional das Naes Unidas para o Desenvolvi-mento (PNUD) e com o Movimento Nacional pela Cidadania e Solidariedade. Ao todo, fo-ram mais de 1.638 prticas inscritas na lti-ma edio do Prmio 918 de organizaes da sociedade civil e 720 de prefeituras.

    Visual renovado

    Uma vez que as lojas aperfeioavam sua estrutura fsica e administrativa, as ruas no podiam ficar para trs. Com verba do Programa de Acelerao de Crescimento (PAC), a prefeitura de Betim tem feito uma srie de obras no Jardim Terespolis. O dinheiro vai para projetos de infraestrutura, como saneamento e urbanizao. Nas principais avenidas do bairro, por exemplo, esto sendo realizadas reformas das caladas. A mudana ajuda o comrcio e muitos j pensam em construir lojas novas. Aqueles que possuem dificuldade de locomoo, como pessoas com deficincia e idosos, podero ter acesso mais fcil aos estabelecimentos. De acordo com Cleanto, o maior investimento em infraestrutura acaba atraindo mais recursos.

    Para Ginilza, a imagem do Jardim Terespo-lis como um lugar violento tambm precisa ser apagada. Os moradores contam que as pessoas de fora tm m impresso sobre a comunidade. Quando chegam l, se surpre-endem com o comrcio ativo. Ela acredita na importncia de divulgar informaes positi-vas sobre o bairro. Muita gente achava que no Jardim Terespolis no valia a pena inves-tir, comenta Euvagner. Ele relata a mesma experincia e ressalta que a opinio das pes-soas de fora, aos poucos, est mudando.

    A analista do Sebrae Minas, Denise Andrade, tambm prope transformaes de imagem. Ela, que acompanhou atividades da Rejat ao longo de 2011, estuda levar aos comerciantes locais conceitos de merchandising visual. Se-

    gundo a analista, a inteno orientar da teoria prtica, passando por estratgias de venda e layout de placas das lojas. Outra expectativa fomentar ainda mais o compartilhamento de experincias entre os empreendedores.

    A gestora do eixo de atividades de Gerao de Trabalho e Renda, Luciana Silva, tambm conta sobre as perspectivas para os prximos anos. O plano de marketing territorial uma das principais apostas. Esse levantamento, encomendado pelo rvore da Vida, serve como um roteiro de estratgias para os comercian-tes ao longo do ano. Com esse itinerrio em mos, eles podem levar adiante mais aes que estimulem o comrcio local. A campanha do Natal Premiado, que existe desde 2009, um exemplo que se tornou tradio no Jardim Terespolis. A proposta simples, mas pos-sibilita um grande retorno. Durante os dias que antecedem o Natal, a cada valor gasto em compras, o cliente tinha direito a um cupom que, depois de preenchido, era depositado em urnas nos estabelecimentos comerciais par-ticipantes. Ao fim do perodo da campanha foi realizado o sorteio que premiou os ganhado-res. Televiso, computador, mquina de lavar, vale compras e at mesmo uma motocicleta foram os prmios sorteados.

    No ano passado, cerca de cinquenta empreen-dedores participaram da campanha que teve seu encerramento realizado no ginsio do Complexo Esportivo Ricardo Medioli com a sho-ws e diversas outras apresentaes artsticas para a comunidade. Os moradores do bairro e os comerciantes j esperam pela quarta edio da campanha.

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    rvore da Vida | Jardim Terespolis

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    S U L

    DESDE 2006

    87%DOS JOVENS NO MERCADO DE TRABALHO

    NORDESTE

    SUDESTE

    C ENT RO - O E ST E

    O rvore da Vida Capacitao Profissional oferece cursos profissionalizantes na rea automotiva a jovens de 18 a 24 anos, em sete cidades do Brasil: Curitiba, Belo Horizonte, Braslia, Porto Alegre, Recife, Salvador e So Paulo. O principal objetivo a qualificao de jovens em situao de vulnerabilidade social a fim de auxili-los no ingresso ao mercado de trabalho. Para garantir a excelncia de formao e resultados efetivos, o programa conta com coordenao e acompanhamento pedaggico da ISVOR Universidade Coorporativa da montadora e parceria de regionais Fiat, concessionrias, ONGs e instituies de ensino.

    O grande diferencial do rvore da Vida Capacitao Profissional est em unir desenvolvimento social ao atendimento efetivo das necessidades do mercado. Os cursos so feitos de acordo com a demanda das concessionrias, o que contribui para a incorporao da mo de obra qualificada. Desde a implantao do Programa, em 2006, 87% dos jovens formados esto no mercado de trabalho.

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    rvore da Vida | Capacitao Profissional

    Mais que formao tcnica, o Programa rvore da Vida - Capacitao Profissional oferece aos jovens ferramentas para um futuro melhor

    A MECANICA DA TrANSFOrMACAO

    Engrenagens no funcionam sozinhas. Tra-balham em conjunto para atingir um objeti-vo: iniciar um movimento. Assim tambm o rvore da Vida - Capacitao Profissional, programa que, por meio da articulao de muitos agentes e parceiros, oferece a jovens de 18 a 24 anos cursos profissionalizantes focados no setor automotivo.

    O objetivo principal do programa promo-ver a incluso social por meio da qualifica-o profissional e da insero no mercado de trabalho. Mais que formao tcnica, o que ele oferece aos jovens em situao de vulne-rabilidade so elementos para a construo da verdadeira mudana de vida e do prota-gonismo que vm com garantia de novas perspectivas e oportunidades.

    Desde a sua implantao, em 2006, o rvore da Vida Capacitao Profissional beneficiou 527 jovens em sete cidades brasileiras [1] Belo Horizonte, Curitiba, Braslia, Porto Alegre, Re-cife, Salvador e So Paulo. Foi em 2011 que o curso estendeu a oportunidade aos jovens da capital mineira. O curso, antes realizado nas instalaes do ISVOR (Universidade Corporati-va da Fiat) em Betim, passou a ser ministrado no SENAI - Unidade Horto, em Belo Horizonte, uma maneira de oferecer oportunidades a um nmero maior de jovens e de estar mais prxi-mo das concessionrias parceiras.

    Encaixando as partes

    Articulao a palavra chave. Seguindo a ideia de que juntos somos mais, ao unir es-foros sob o olhar da incluso social, pos-svel promover transformaes nos sujeitos, no meio em que esto inseridos e na socieda-de. Para desenvolver cursos alinhados com as demandas do mercado automotivo e com as necessidades de formao social, o rvore da Vida Capacitao Profissional conta com coordenao e acompanhamento pedaggico do ISVOR e parceria de Regionais Fiat, Con-cessionrias, ONGs e instituies de ensino.

    A Rede de Concessionrias Fiat uma im-portante parceira no projeto. Os cursos so realizados sob demanda das concession-rias, as quais tambm cedem espao para abrigar as aulas prticas e incorporam a mo de obra para suprir a necessidade de pessoal qualificado.

    A Tecar, localizada em Belo Horizonte, par-ceira do projeto desde a sua implantao. O gerente de assistncia tcnica da concessio-nria, Adalto Nunes, avalia que os resultados finais so muito positivos e geram grande satisfao na empresa por contribuir para o desenvolvimento social dos jovens. A parti-cipao das concessionrias no projeto no obrigatria, mas j existe entre elas a per-cepo da importncia de se envolver. um investimento que tem dado retorno maior a cada ano, afirma.

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    Como o desemprego entre jovens um qua-dro de impacto nacional [1], os cursos come-aram a ser levados para outros estados [2]. Para a viabilizao do projeto, foi estabe-lecida parceria com o Servio Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), que abriga e executa os cursos nos locais em que o IS-VOR no est presente.

    Assistentes de formao contratadas pelo ISVOR tambm servem como ponte entre a Universidade Coorporativa, a Fiat e as con-cessionrias. de Silvana Elia a responsa-bilidade de desempenhar esse papel em So Paulo, o que para ela mais que um empre-go. Nunca tinha trabalhado em um projeto social, ento um desenvolvimento pessoal e profissional no s para os jovens, mas tam-bm para mim. Fico no SENAI durante todo o tempo e acompanho o curso desde o proces-so seletivo, explica. Ela tambm acompanha o desenvolvimento humano e profissional dos jovens at trs anos aps a concluso do cur-so. Por estar sempre por perto, me sinto a mezona dos meninos, conta com orgulho.

    A articulao da rede de parceiros sempre um desafio. Mas muito gratificante, porque o objetivo o crescimento do jovem, afirma a lder de projetos do ISVOR, Camila Gonal-ves. uma satisfao grande oferecer a es-ses meninos uma oportunidade de mudana de vida. As vitrias esto nas pequenas coi-sas. O jovem se sente mais respeitado, mais realizado, e isso vlido na vida pessoal e profissional, afirma.

    Os cursos tambm refletem a constante bus-ca da Fiat por inovao e pela atualizao de seus profissionais. O ISVOR precisa repensar, propor novas formas de planejamento e de atuao, levando sempre em conta quem o

    profissional que o mercado busca atualmente, as necessidades do mundo atual, assim como as necessidades, expectativas e a vocao dos jovens das comunidades, afirma a gerente de solues para a Rede ISVOR, Elisa Leite.

    Capacitao humana

    Para o sucesso dessa empreitada, entra em cena outra pea importante: as ONGs locais. Alm de serem responsveis pela divulgao, triagem e seleo dos jovens, as organizaes participam do acompanhamento dos selecio-nados durante o curso e aps sua concluso. Em 2011, as ONGs passaram a atuar direta-mente no percurso de formao humana. Di-ferentemente do que ocorre na maioria dos cursos tcnicos voltados exclusivamente para a formao profissional, a formao cidad faz parte da carga horria dos cursos do progra-ma e leva para dentro da sala de aula assun-tos como tica profissional, comportamento, relacionamento interpessoal, trabalho em equipe e projetos de vida.

    O desenvolvimento humano fundamental para o bom desempenho profissional, afir-ma a coordenadora da ONG Colmia, Marisa Donatiello. A organizao de So Paulo firmou parceria com a Fiat para a realizao do curso de Vendas em 2012 no estado. H anos traba-lhando com a capacitao de jovens, Marisa conta que identificou na Fiat uma preocupa-o genuna para a formao e a insero dos jovens no mercado, e afirma que trabalhos sociais so transformadores. O jovem comea a vislumbrar uma carreira, passa a ser res-peitado, e a vida ganha uma nova perspecti-va, destacando tambm que o jovem passa a ter melhor autoestima e a acreditar no futuro. um crculo virtuoso, conclui.

    Realizao profissional, integrao na socie-dade, melhor vida para a famlia isso ago-ra faz parte do dia a dia de Patrcia Betim, de Curitiba. O rvore da Vida mudou tudo, porque agora eu tenho um emprego, pos-so pagar uma faculdade e construir minha vida, afirma. Antes de ingressar no progra-ma, no pensava em trabalhar com carros, mas o curso despertou seu interesse por mecnica automotiva e por tudo que a capa-citao passou a lhe ofercer.

    [1] O documento intitulado Trabalho Decente e Juventude no Brasil, relatrio realizado em 2010 pela Organizao Mundial do Trabalho em parce-ria com o Conselho Nacional de Juventude, mostra que a taxa de desemprego entre jovens no Brasil de 17,8% na faixa de 15 a 24 anos, contra uma taxa de 5,6% entre adultos com 25 anos ou mais.

    [2] So Paulo, em 2008; Paran, Pernambuco, Distrito Federal, em 2009; Bahia e Rio Grande do Sul, em 2010.

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    J para Carolina de Souza, de 23 anos, de Jaboato dos Guararapes, cidade vizinha a Recife (PE), o interesse por carros de fa-mlia: sempre acompanhou com curiosidade o tio que consertava automveis. Sonhava em fazer um curso tcnico no SENAI, mas no tinha condio financeira, conta. Por meio da ONG Pr-Criana, soube do progra-ma de Capacitao Profissional da Fiat. Em poucos meses, o sonho se tornava realidade: formou-se em eletromecnica em 2010 e foi contratada pela concessionria Italiana Au-tomveis. Alm do aprendizado, destaca que o programa a motivou a continuar estudando e a iniciar a faculdade.

    O curso no rvore da Vida foi um divisor de guas, afirma Ualisson Alves, de Betim. O jovem, que antes apenas fazia bicos, con-quistou o sonhado trabalho com carteira as-sinada. H cinco anos contratado na conces-sionria onde concluiu o curso, j comprou seu apartamento e planeja continuar cres-cendo. E os planos para o futuro? Se eu no for engenheiro, quero ser gerente na Scude-ria [4], revela.

    Para somar conhecimento

    Valorizando a importncia da troca de expe-rincias entre os alunos do rvore da Vida - Capacitao Profissional, em dezembro de 2011, ocorreu em Belo Horizonte mais uma edio anual do Encontro Nacional de Turmas, que reuniu jovens dos sete estados brasileiros. Alm de confraternizao e dis-cusses, realizada tambm visita fbrica

    da Fiat em Betim. O Encontro Nacional de Turmas a oportunidade para os jovens que participam do Programa rvore da Vida Ca-pacitao Profissional nos diferentes esta-dos se conhecerem, trocarem experincias e compartilharem expectativas. A visita fbri-ca um dos momentos mais esperados pelos jovens. Aqui eles vivenciam toda a dinmica de montagem de um automvel e identificam, no processo de produo, sua rea de atua-o dentro da mecnica automotiva, explica a analista de comunicao da Comunicao Corporativa Responsabilidade Social da Fiat Automveis, Luana Ferreira.

    No Encontro, h espao tambm para um in-tercmbio que no se restringe apenas ao que tangencia diretamente o Programa. Muitos tm ali a primeira oportunidade de viajar para outro estado, ento tambm uma troca cul-tural alm de discutirem as diferentes de-mandas em cada regio, conversam sobre o dia a dia e conhecem um pouco sobre outros costumes, conta Ferreira.

    A importncia da troca de experincias se manifestou tambm no Workshop rvore da Vida Capacitao Profissional, realizado em 2010. A proposta do evento foi de reunir os parceiros do programa Fiat, ISVOR, con-cessionrias e ONGs de Belo Horizonte para definir, em conjunto, diretrizes de trabalho e planejamento estratgico. O workshop sim-bolizou um amadurecimento: do fazer para

    [4] Concessionria Fiat, localizada em Betim/MG.

    ao fazer com. Como resultado, o rvore da Vida Capacitao Profissional passou a ter seu modelo de gesto moldado de acordo com os seguintes princpios: construir em conjunto; alinhar continuamente; envolver todos os atores durante as definies e apli-car as estratgias do programa.

    Aditivos para a vida

    Aps a realizao do workshop, todos os jo-vens beneficiados e profissionais da Rede de Concessionrias Fiat foram ouvidos em um estudo, concludo em 2011, realizado pelo Instituto Olhar - Pesquisa e Informao Es-tratgica. O objetivo era avaliar os resulta-dos do rvore da Vida Capacitao Profis-sional em seus cinco anos de trajetria. Os nmeros confirmaram a importncia social do programa. Entre os jovens j formados, 87% foram encaminhados para as conces-

    sionrias ao final do curso e 63,1% perma-neceram no emprego aps terem participa-do da capacitao.

    O sucesso, no entanto, no est apenas nas estatsticas. Alm de ter mais conhecimen-to, no curso conheci pessoas novas e profes-sores excelentes, fiquei sabendo mais sobre a rotina da empresa e de uma concession-ria. Agora me sinto preparado para traba-lhar na rea, sinto mais confiana no futu-ro e confio mais em mim mesmo, afirma o jovem Wilson Carlos da Cruz, aluno da pri-meira turma de capacitao profissional do Programa rvore da Vida em Porto Alegre. Assim como Wilson nota, motivao, inicia-tiva, capacidade de expresso e autoestima foram melhorias apontadas por pelo menos 80% dos jovens. Segundo a mesma pesquisa, para 81% destes jovens, o impacto foi positi-vo at mesmo para a felicidade.

    Desempenho medido em conquistas

    Uma das grandes vitrias do Programa r-vore da Vida Capacitao Profissional conseguir promover a incluso efetiva de jovens em condio de vulnerabilidade so-cial no mercado de trabalho. Luiz Fernando Barbosa a prova de que isso possvel. Antes de adentrar o mundo dos carros, o jo-vem de Pernambuco vendia espetinhos para ganhar a vida. Com o programa, novas opor-tunidades surgiram: Barbosa se formou em Mecnica Automotiva em outubro de 2010 e foi contratado como auxiliar de mecnico na concessionria Via Sul Piedade. O poder catalisador do programa de capacitao fi-cou evidente logo que a turma se formou: os alunos se mobilizaram para dar continuidade aos estudos com o curso de manuteno au-tomotiva no SENAI.

    O prximo desafio para o jovem de 22 anos no tardou a aparecer. Recebeu a chance de se tornar tcnico especialista por meio do TEC Fiat, programa criado em 1999, que forma profissionais responsveis pela di-fuso de conhecimento dentro de conces-sionrias. Com informaes diferenciadas, eles passam a ser capacitados para auxiliar os funcionrios da oficina nos processos de diagnstico, reparao e teste de veculos,

    convertendo-se em elo entre a concessio-nria e a montadora. Todo mundo j tinha feito a prova, menos eu, porque eu ainda estava fazendo minha formao no perodo de avaliaes, conta. Sempre incentiva-mos a todos da oficina a fazerem a prova, mas a maioria dos tcnicos especialistas mecnico. Mesmo sendo ainda um auxi-liar, o Luiz teve a melhor nota. Ele se des-tacou e conquistou essa formao por es-foro prprio, conta o gerente da oficina da concessionria Via Sul Piedade, Carlos Roberto Maranho.

    O resultado foi recebido com felicidade e muita surpresa. Pelo que o pessoal conta-va, no acreditei que iria passar, lembra. No era para menos: ele foi o primeiro ex--aluno dos cursos de capacitao indicado para o programa e, tambm, o primeiro au-xiliar de mecnico a ser aprovado na prova e a se tornar TEC Fiat.

    Luiz, que desde garoto gosta de montar e desmontar coisas, comea a colocar as peas de sua vida no rumo de um futu-ro brilhante. Ele, que estuda agora para o vestibu