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FICHA DE LEITURA TEXTO: CUCHE, Denys. A Noção de cultura nas ciências sociais. Bauru, EDUSC, 1999. Introdução Capítulo 1 – Gênese social da palavra e da idéia de cultura Evolução da palavra na língua francesa da Idade Média ao século XIX O Exemplo Francês do uso do termo “Cultura” - No século XVIII o sentido da palavra “cultura” significava o cuidado dispensado ao campo ou ao gado – terra cultivada (p. 19) No século XVI – “cultura” vai significar cultura de uma faculdade – mais ainda pouco reconhecida pelo mundo acadêmico. Progressivamente a palavra cultura vai ser empregada para designar formação e educação. Logo, cultura passou significar instruir o indivíduo. Cultura como oposição ao estado de natureza. Cultura aquilo que é próprio do homem – ideologia – progresso. Século XVIII – cultura como sinônimo de civilização – visão universalista - do irracional para o racional (humanidade) – cultura é a ciência do homem

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ficha de leitura - o que é cultura

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FICHA DE LEITURA

TEXTO:CUCHE, Denys. A Noção de cultura nas ciências sociais. Bauru, EDUSC, 1999.

Introdução

Capítulo 1 – Gênese social da palavra e da idéia de culturaEvolução da palavra na língua francesa da Idade Média ao século XIXO Exemplo Francês do uso do termo “Cultura” - No século XVIII o sentido da

palavra “cultura” significava o cuidado dispensado ao campo ou ao gado – terra

cultivada (p. 19)

No século XVI – “cultura” vai significar cultura de uma faculdade – mais ainda

pouco reconhecida pelo mundo acadêmico.

Progressivamente a palavra cultura vai ser empregada para designar formação e

educação. Logo, cultura passou significar instruir o indivíduo.

Cultura como oposição ao estado de natureza.

Cultura aquilo que é próprio do homem – ideologia – progresso.

Século XVIII – cultura como sinônimo de civilização – visão universalista - do

irracional para o racional (humanidade) – cultura é a ciência do homem

O debate franco-alemão sobre a cultura ou a antítese “cultura” – “civilização” (século XIX – início do século XX)Cultura é uma palavra para distinguir as classes superiores

Cultura como algo específico de uma nação – nacionalismo – cada povo possui

sua cultura particular

Capítulo 2 – A invenção do conceito científico de culturaEtnologia – descrever o que é cultura e não dizer o que é (conteúdo ideológico)

Tylor e a concepção universalista da cultura

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Para Tylor a cultura é a expressão da totalidade da vida social do homem e se

caracteriza por uma dimensão coletiva. Cultura é adquirida e não depende de

hereditariedade biológica. No entanto, sua origem e seu caráter são, em grande

parte, inconsciente.

Evolucionista – não há diferença de natureza mas simplesmente grau de avanço

de caminho da cultura.

Franz Boas e a concepção particularista de culturaBoa é o inventor da etnografia

Pensar a diferença – a diferença fundamental dos grupos humanos é de ordem

cultural e não racial

“raça” não pode medir com precisão

Para Boas não há diferença de “natureza” (biológica) entre primitivos e civilizados

Boas estudava “as culturas” e não a “cultura” – método comparativo

O etnólogo deve conhecer e compreender uma cultura, deve apreender a língua

de uma cultura

Boas trouxe concepções do “relativismo cultural” – Para ele cultura é única,

específica. Sua atenção era espontaneamente voltada para o que fazia

originalidade de uma cultura. Quase nunca, antes dele, as culturas particulares

tinham sido objeto de tratamento autônomo por partre dos pesquisadores. Para

ele, cada cultura representava uma totalidade singular e todo seu esforço consistia

em pesquisar o que fazia sua unidade. Daí sua preocupação de não somente

descrever os fatos culturais, mas de compreende-los juntando-os a um conjunto

ao qual eles estavam ligados. Um costume particular só pode ser explicado se

relacionado ao seu contexto cultural. Trata-se assim de compreender como se

formou a síntese original que representa cada cultura e que faz a sua coerência.

(p. 45)

Etnocentrismo

A idéia de cultura entre os fundadores da etnologia francesa

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Uma constatação: a ausência do conceito científico de cultura no início da pesquisa francesa“Cultura” para os intelectuais e pesquisadores franceses continua com sentido de

campo nacional – mas na lógica individualista – cultura de uma pessoa culta

Durkheim e a abordagem unitária dos fatos de culturaPara Durkheim os fenômenos sociais têm necessariamente uma dimensão cultural

pois são também fenômenos simbólicos

Consciência coletiva – para Durkheim existe em todas as sociedades uma

“consciência coletiva”, feita das representações coletivas, dos ideais, dos valores e

dos sentimentos comuns a todos os seus indivíduos. Esta consciência coletiva

precede o indivíduo, impõe-se a ele, é exterior e transcendente a ele: há

descontinuidade entre a consciência coletiva e a consciência individual, e a

primeira é “superior” à segunda, por ser mais complexa e indeterminada. É a

consciência coletiva que realiza a unidade e a coesão de uma sociedade.

Lévy-Bruhl e a abordagem diferencialDiferentes “mentalidades” que podem existir entre os povos. “Mentalidade” era

uma concepção muito diferente de “cultura”.

Capítulo 3 – O triunfo do conceito de culturaAs razões do sucessoNos Estados Unidos predomina o culturalismo – vertente teórica em três grandes

correntes: a primeira herdada direta do ensinamento de Boas e encara a cultura

sob o ângulo da história cultural. A segunda se dedica a elucidar as relações entre

cultura (coletiva) e personalidade (individual). A terceira considera a cultura como

um sistema de comunicações entre os indivíduos.

A herança de Boas: a história culturalOs sucessores de Boas> AlfredKroeber e Clark Wissler vão se esforçar para

explicar o processo de distribuição dos elementos culturais no espaço. Eles

tomam emprestados dos etnólogos “disfunsionistas” alemães do início do século

uma série de instrumentos conceituais que procurarão refinar, principalmente a

noção de “área cultural” e de “traço cultural”.

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Malinowski e a análise funcionalista da culturaQualquer cultura deve ser analisada em uma perspectiva sincrônica, a partir

unicamente da observação de seus dados contemporâneos. Contra o

evolucionismo voltado para futuro, contra o difusionismo voltado para o passado,

Malinowski propõe então o funcionalismo.

Cada cultura forma um sistema cujos elementos são interdependentes, não se

pode estuda-los separadamente.

A escola “cultura e personalidade”Esses antropólogos vão se dedicar a compreender como os seres humanos

incorporam e vivem sua cultura. Para eles, a cultura não existe enquanto realidade

“em si”, fora dos indivíduos, mesmo que todas as culturas tenham uma relativa

independência em relação aos indivíduos. A questão é então elucidar como sua

cultura está presente neles. Como ela os faz agir, que condutas ela provoca,

supondo precisamente que cada cultura determina um certo estilo de

comportamento comum ao conjunto dos indivíduos que nela participam.

Ruth Benedict e os “tipos culturais”“Tipos culturais” – que se caracterizam por suas orientações gerais e as escolhas

significativas que eles fazem entre opções possíveis a priori. Hipótese da

existência de um “arco cultural” que incluiria todas as possibilidades culturais em

todos os âmbitos, cada cultura podendo tornar real apenas um segmento

particular deste arco cultural. As diferentes culturas aparecem então definidas por

um certo “tipo” ou estilos.

Margaret Maed e a transmissão culturalSua orientação para pesquisas em entender como o indivíduo recebe sua cultura

e as conseqüências que isto provoca na formação de sua personalidade. Ela

coloca no centro de suas reflexões e suas pesquisas o processo de transmissão

cultural e de socialização da personalidade.

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Linton, Kardiner e a “personalidade básica”Para os antropólogos que se ligam à escola “cultura e personalidade”, a cultura só

pode ser definida através dos homens que a vivem. O indivíduo e a cultura são

vistos como duas realidades distintas, mais indissociáveis que agem uma sobre a

outra: somente se pode compreender uma em sua relação com a outra.

Cada cultura privilegia entre todos os tipos possíveis, um tipo de personalidade,

que se torna então o tipo “normal” (conforme à norma cultural e por isso

reconhecido socialmente como normal). Este tipo normal, é a “personalidade

básica”, isto é, o “fundamento cultural da personalidade”. Cada indivíduo o adquire

através do sistema educativo próprio de sua sociedade.

As lições da antropologia culturalCríticas a antropologia cultural

Cultura, língua e linguagem

Lévi-Strauss e a análise estrutural da culturaLévi-Strauss toma quadro idéias de Ruth Benedict:

1º- As diferenças culturais são definidas por um certo modelo (pattern);

2º - Os tipos de culturas possíveis existem em número limitado;

3º - o estudo das sociedades “primitivas” é o melhor método para determinar as

combinações possíveis entre os elementos culturais;

4º - Estas combinações podem ser estudadas em si mesmas, independentemente

dos indivíduos que pertencem ao grupo, para quem estas combinações

permanecem inconscientes.

Culturalismo e a sociologia: as noções de “subcultura” e de “socialização”A abordagem interacionista da culturaEscola de Chicago

Subcultura – cada grupo social faz parte de uma subcultura particular, retoma-se

aqui a idéia já esboçada por Linton através da noção de “personalidade

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estatutária”. Os sociólogos distinguem então subculturas segundo as classes

sociais, mas também segundo grupos étnicos.

A abordagem interacionista da culturaSapir foi talvez um dos primeiros a ter considerado a cultura como um sistema de

comunicação interindividual, quando afirmava: “o verdadeiro lugar da cultura são

as interações individuais”. Para ele, uma cultura é um conjunto de significações

que são comunicadas pelos indivíduos de um dado grupo através destas

interações.

Capítulo 4 – O estudo das relações entre as culturas e a renovação do conceito de cultura“Aculturação” – as teorias difusionistas tratavam de fenômenos emprestados e da

repartição de “traços” culturais a partir de um suposto “lar” cultural. Além disso, a

teoria difusionista não implicava necessariamente o contato entre a cultura que

recebia e a cultura que dava.

“A superstição do primitivo”Para os etnólogos o importante era estudar prioritariamente as culturas mais

“arcaicas”, pois eles partiam do postulado que estas culturas forneciam para a

análise as formas elementares da vida social e cultural que se tornariam

necessariamente mais complexas à medida que a sociedade se desenvolvesse.

A invenção do conceito de aculturaçãoA aculturação era um conceito, às vezes, negativo ou positivo, mas passou a ter

uma abordagem científica.

O memorando para o estudo da aculturaçãoAculturação é o conjunto de fenômenos que resultam de um contato contínuo e

direto entre grupos de indivíduos de culturas diferentes e que provocam mudanças

nos modelos (partterns) culturais iniciais de um ou dos dois grupos.

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O memorando, a aculturação deve ser distinguida da “mudança cultural”,

expressão utilizada sobretudo pelos antropólogos britânicos, pois esta expressão

é apenas um dos aspectos da aculturação: de fato, a mudança cultural pode

também resultar de causas internas.

Não confundir aculturação com “assimilação”. Assimilação deve ser compreendida

como a última fase da aculturação.

Aculturação não pode ser confundida com “difusão”, mesmo que haja sempre

difusão na aculturação, mas pode haver difusão sem contato “contínuo e direto”.

Aprofundamento teóricoNoção de Tendência – aculturação não é uma pura e simples conversão a uma

outra cultura. A transformação da cultura inicial se efetua por “seleção” de

elementos culturais emprestados e esta seleção se faz por si mesma segundo a

“tendência” profunda da cultura que recebe. A aculturação não provoca

necessariamente o desaparecimento da cultura que recebe, nem a modificação de

sua lógica interna que pode permanecer dominante.

“Reinterpretação” – O processo pelo qual antigas significações são atribuídas a

elementos novos ou pelo qual novos valores mudam a significação cultural de

formas antigas.

Teorias da aculturação e culturalismoAculturação possui problemas conceituais, pois a análise se concentra em certos

“traços” culturais isolados.

Cultura parece então ser entendida como “segunda natureza”.

Etnocídio

Roger Bastide e os quadros sociais da aculturaçãoRenova a abordagem da aculturação.

A relação do social com o culturalPara Roger Bastide o cultural não pode ser estudado independentemente do

social. As relações culturais devem então ser estudadas no interior dos diferentes

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quadros de relações sociais que podem favorecer relações de integração, de

competição, de conflito, etc.

Uma tipologia das situações de contatos culturaisBastide cria uma tipologia para o conceito de aculturação – Ele então define

diversas “situações” de contato.

Uma tentativa de explicação dos fenômenos de aculturaçãoBastide não se restringe à classificação dos fenômenos de aculturação. Ele

procura também explica-los analisando os diferentes fatores que podem

desempenhar um papel no processo de aculturação, sem esquecer os fatores não

culturais. Os diferentes fatores podem se reforçar mutuamente ou se neutralizar.

Atendendo-nos às variáveis mais determinantes, teremos o seguinte:

O fator demográfico;

O fator ecológico;

O fator étnico ou “racial”;

A renovação do conceito de culturaA perspectiva científica mudou – não se parte mais da cultura para se

compreender a aculturação, mas da aculturação para compreender a cultura.

Capítulo 5 – Hierarquias sociais e hierarquias culturaisSe a cultura não é um dado, uma herança que se transmite imutável de geração

em geração, é porque ela é uma produção histórica, isto é, uma construção que se

inscreve na história e mais precisamente história das relações dos grupos sociais

entre si.

As culturas nascem de relações sociais que são sempre relações desiguais.

Desde o início, existe então uma hierarquia de fato entre culturas que resulta da

hierarquia social.

Cultura dominante e cultura dominadaUma cultura dominada não é necessariamente uma cultura alienada, totalmente

dependente. É uma cultura que, em sua evolução, não pode desconsiderar a

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cultura dominante, mas que pode resistir em maior ou menor escala à imposição

cultural dominante.

As culturas popularesOs folcloristas alargaram a noção de cultura popular ao se interessarem pelas

tradições dos camponeses.

Os antropólogos e sociólogos viam a partir de uma outra perspectiva.

A noção de cultura popular possui ambigüidade – “cultura” e/ou “popular”

Duas teses do ponto de vista das ciências sociais

1ª minimalista – não reconhece nas culturas populares nenhuma dinâmica,

nenhuma criatividade próprias. As culturas seriam apenas derivadas da cultura

dominante que seria a única reconhecida como legítima e que corresponderia

então à cultura central, a cultura de referência. As culturas populares seriam

apenas culturas marginais.

2ª maximalista - as culturas populares deveriam ser consideradas como iguais e

mesmo superiores à cultura das elites. As culturas populares seriam culturas

autênticas, culturas completamente autônomas que não deveriam nada à cultura

das classes dominantes.

A metáfora da Bricolagem

A noção de “cultura de massa”Edgar Morin, enfatiza o processo desta cultura, que obedece aos esquemas da

produção industrial de massa.

Algumas análises se detêm ao consumo, produzida por uma cultura para a massa.

Comunicação – análises explicam que há um nivelamento cultural entre os grupos

sociais sob o efeito da uniformização cultural que seria ela própria a conseqüência

da generalização dos meios de comunicação de massa. As mídias provocam

alienação cultural – a mensagem transmitida. Patronização.

“massa” também pode remeter a um conjunto da população como ao seu

componente popular, Mas ainda se confunde: “cultura para as massas” de “cultura

das massas”.

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As culturas de classeO fraco valor heurístico da noção de cultura de massa e a imprecisão das noções

de cultura dominante e de cultura popular, às quais se acrescenta a evidência da

relativa autonomia das culturas das classes subalternars, levaram os

pesquisadores a reconsiderar positivamente o conceito (ou subcultura) de classe,

baseado em uma tradição marxista.

Max Weber e o aparecimento da classe dos empresários capitalistasPara Weber a formação de uma cultura é chamada de “espírito”.

“estilo de vida” – “modo de vida” – baseados num ethos.

A cultura operáriaO sentimento freqüente de vinculação a uma comunidade de vida e de destino

provoca uma bipartição fundamental do mundo social entre “eles” e “nós”. Essa

bipartição se traduz por um grande conformismo cultural e, de maneira muito

concreta, pelas escolhas orçamentárias que dão prioridade aos bens que se

prestam a uma utilização coletiva e, por isso mesmo, ao reforço da solidariedade

familiar.

A cultura burguesaAs pesquisas sobre a cultura burguesa são bem mais recentes, pois as inúmeras

representações produzidas pela elite são cuidadosamente preservadas aos

curiosos.

Bourdieu e a noção de “habitus”Para Bourdieu a noção de cultura se remete aos produtos simbólicos socialmente

valorizados.

O habitus é o que caracteriza uma classe ou um grupo social em relação aos

outros que não partilham das mesmas condições sociais. Às diferentes posições

em um espaço social dados correspondem estilos de vida que são a expressão

simbólica das diferenças inscritas objetivamente nas condições de existência. O

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habitus é então o que permite aos indivíduos se orientarem em seu espaço social

e adotarem práticas que estão de acordo com sua vinculação social.

Capítulo 6 – Cultura e identidadeCultura – aquilo que é inconsciente

Identidade – aquilo que é consciente

Identidade social de um indivíduo

Identidade social de um grupo

Identidade cultura – baseado na distinção de outro grupo social

As concepções objetivistas e subjetivistas da identidade culturalIdentidade cultural – “segunda natureza” – que recebemos como herança e da

qual não podemos escapar, concebem a identidade como um dado que definiria

de uma vez por todas o indivíduo que o marcaria de maneira quase indelével.

Tese radical – que a identidade cultural esta no patrimônio genético do indivíduo –

herança biológica.

Interiorização – com a socialização do indivíduo no interior do grupo, ele interioriza

a identidade que lhe é imposta.

“Primordialistas” - a identidade étnico-cultural é a primeira e a mais fundamental

de toas as vinculações sociais. Genealogia

Objetivistas - Objetivos – hereditariedade ou genealogia – língua, a cultura, a

religião, a psicologia coletiva (personalidade básica), o vínculo ao território, etc.

Subjetivistas - Subjetivos – a identidade cultural não pode ser reduzida a sua

dimensão atributiva: não é uma identidade recebida definitivamente, pois assim o

fenômeno é estático. Aqui o importante são as representações que os indivíduos

fazem da realidade.

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A concepção relacional e situacionalA construção da identidade se faz no interior de contextos sociais que determinam

a posição dos agentes e por isso mesmo orientam suas representações e suas

escolhas. Além disso, a construção da identidade não é uma ilusão, pois é dotada

de eficácia social, produzindo efeitos sociais reais.

“Auto-identidade” – aquela que é reconhecida pelo grupo

“Hetero-identidade” – o grupo de mais de uma identidade

A identidade é então o que está em jogo nas lutas sociais (Bourdieu)

Alguns grupos fogem de sua identidade

O poder de classificar leva à “etnicização”

Não é a sociologia ou a antropologia, nem a história ou outra disciplina que deverá

dizer qual seria a definição exata da identidade A e identidade B. Não é o cientista

que deve “fazer controles de identidade”. O papel do cientista é outro: ele tem o

dever de explicar os processos de identificação sem julga-los. Ele deve elucidar as

lógicas sociais que levam os indivíduos e os grupos a identificar, a rotular, a

categorizar, a classificar e a faze-lo de uma certa maneira ou invés de outra.

A identidade, um assunto de EstadoNono-identificação – o Estado moderno reconhece apenas uma identidade cultural

para definir a identidade nacional.

A identidade multidimensionalNa medida em que a identidade resulta de uma construção social, ela faz parte da

complexidade do social. Nenhum grupo, nenhum indivíduo está fechado a priori

em uma identidade unidimensional.

“Fabricação da Identidade” - O indivíduo que faz parte de várias culturas fabrica

sua própria identidade fazendo uma síntese original a partir destes diferentes

materiais. O resultado é uma identidade sincrética e não dupla, se entendermos

por isso uma adição de duas identidades para uma só pessoa.

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As estratégias de identidadeA identidade é tão difícil de se delimitar e de se definir, precisamente em razão de

seu caráter multidimensional e dinâmico. É isso que lhe confere sua complexidade

mas também o que lhe dá sua flexibilidade.

A identidade não é absoluta – ela possui uma margem de manobra

Estratégia de identidade – o indivíduo, enquanto ator social, não é desprovido de

uma certa margem de manobra. Em função de sua avaliação da situação, ele

utiliza seus recursos de identidade de maneira estratégica.

As “fronteiras” da identidadeBarth, no processo de identificação o principal é a vontade de marcar os limites

entre “eles” e “nós” e logo, de estabelecer e manter o que chamamos de

“fronteiras”.

Uma coletividade pode perfeitamente funcionar admitindo em seu seio uma certa

pluralidade cultural. O que cria a separação, a “fronteira”, é a vontade de se

diferenciar e o uso de certos traços culturais como marcadores de sua identidade

específica.

Etnicidade que é o produto do processo de identificação, pode ser definida como a

organização social da diferença cultural. Para explicar a etnicidade o importante

não é estudar o conteúdo cultural da identidade mas os mecanismos de interação

que, utilizando a cultura de maneira estratégica e seletiva mantêm ou questionam

as “fronteiras” coletivas.

Capítulo 7 – Conteúdos e usos sociais da noção de cultura

A noção de “cultura política”Cultura política está muito ligada ao que se chama de “caráter nacional”.

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A noção de “cultura de empresa”“cultura de empresa” e gerenciamento

Nos anos oitenta surgiu o discurso sobre o gerenciamento. O uso da noção de

cultura representava então para os dirigentes de empresa, um meio estratégico

para tentar obter dos trabalhadores sua identificação e sua adesão aos objetivos

que eles haviam definido.

A abordagem sociológica da cultura de empresaOs sociólogos já haviam abordado direta e indiretamente a cultura da empresa

quando trataram da cultura das profissões e cultura de classe.

A noção de cultura de empresa é usada para designar o resultado das

confrontações culturais entre os diferentes grupos sociais que compõem a

empresa. A cultura de empresa não existe fora dos indivíduos que pertencem à

empresa; ela não pode ser preexistente a eles; ela é construída nas suas

interações.

As grandes escolas e a cultura

A “cultura dos imigrantes”Os imigrantes estão sempre defasados da cultura que se estabelece depois de

sua partida.

Nas representações sociais dominantes, o imigrante é por si só diferente, ser

estrangeiro (estranho).

As culturas de imigrantes não podem então ser confundidas de maneira redutora

com suas culturas de origem. São culturas vivas e dinâmicas que anima os grupos

de imigrantes, compostos de várias gerações.

Conclusão em forma de paradoxo: um bom uso do relativismo cultural e do etnocentrismoO conceito de cultura conserva atualmente toda a sua utilidade para as ciências

sociais. A descontrução da idéia de cultura subjacente aos primeiros usos do

conceito, marcada pro um certo essencialismo e pelo “mito das origens”,

supostamente puras, de toda cultura, foi uma etapa necessária e permitiu um

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avanço epistemológico. A dimensão relacional de toas as culturas pode assim ser

evidenciada. No entanto, considerar a situação relacional na qual é elaborada uma

cultura, não deve levar a negligenciar o interesse pelo conteúdo desta cultura, o

interesse pelo que ela significa em si mesma. Reconhecer que toda cultura é em

maior ou menor grau motivo de lutas socias, mas não deve levar o pesquisador a

estudar unicamente as lutas sociais.

O etnocentrismo pode ser encontrado tanto nas sociedades “primitivas”, que

consideram geralmente os seus vizinhos como inferiores em humanidade, quanto

nas sociedades mais “modernas” que se julgam mais “civilizadas”.