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Ficha Informativa 2 – 11º Ano FILOSOFIA Introdução A palavra "pensar" deriva da palavra latina pensare, que significa pesar. Isto permite-nos compreender o que caracteriza os actos do pensamento (da razão): Pensar é conhecer, o seja, é recolher dados acerca de algo, o que não deixa de poder ser encarado como um acto de avaliação, e aqui convém dizer que só conhecemos algo de novo, integrando-o no conjunto dos conhecimentos já adquiridos, o que remete para uma necessária ponderação dos elementos novos e da sua compatibilidade com os já adquiridos. Pensar é, também, julgar, ou seja, é comparar objectos (conceitos), de forma a que possamos distinguir e relacionar, de uma forma pertinente, os elementos da nossa realidade, interna e externa. Pensar é, igualmente, raciocinar, é, a partir da análise do que conhecemos, sermos capazes de descobrir novas relações entre os objectos do nosso conhecimento, ou novas qualidades do real, que não poderiam ser simplesmente conhecidas através da experiência sensível. Vamos centrar-nos nestes três tópicos, o conhecer, o julgar e o raciocinar, se bem que o pensamento abarque um vastíssimo leque de actividades mentais e de operações lógicas. Em primeiro lugar veremos que o pensamento obedece a regras formais, os princípios lógicos da razão, que são o fundamento da sua consistência. Depois veremos quais os elementos constitutivos do pensamento, bem como as actividades racionais que lhe servem de suporte. E, por fim, veremos que o pensamento, para ser verdadeiro, tem que ser válido e analisaremos, de forma sucinta, os fundamentos da sua validade. Os Princípios Lógicos da Razão – como devemos pensar? 1) Princípio da Identidade: A=A. Cada objecto é igual a si próprio; Cada proposição é equivalente a si mesma. O Princípio da Identidade determina que todo o ser é igual a si próprio: (X = X); (A = A); “ uma girafa é uma girafa”- uma girafa é igual a si mesma. 2) Princípio da não-contradição: uma coisa não pode ser e não ser ao

Ficha inf. 2 princ. lógicos

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Ficha Informativa 2 – 11º Ano FILOSOFIA

 

 

 

Introdução A palavra "pensar" deriva da palavra latina pensare, que significa pesar. Isto permite-nos compreender o que caracteriza os actos do pensamento (da razão): Pensar é conhecer, o seja, é recolher dados acerca de algo, o que não deixa de poder ser encarado como um acto de avaliação, e aqui convém dizer que só conhecemos algo de novo, integrando-o no conjunto dos conhecimentos já adquiridos, o que remete para uma necessária  ponderação dos elementos novos e da sua compatibilidade com os já adquiridos.Pensar é, também, julgar, ou seja, é comparar objectos (conceitos), de forma a que possamos distinguir e relacionar, de uma forma pertinente, os elementos da nossa realidade, interna e externa.Pensar é, igualmente, raciocinar, é, a partir da análise do que conhecemos, sermos capazes de descobrir novas relações entre os objectos do nosso conhecimento, ou novas qualidades do real, que não poderiam ser simplesmente conhecidas através da experiência sensível.Vamos centrar-nos nestes três tópicos, o conhecer, o julgar e o raciocinar, se bem que o pensamento abarque um vastíssimo leque de actividades mentais e de operações lógicas.Em primeiro lugar veremos que o pensamento obedece a regras formais, os princípios lógicos da razão, que são o fundamento da sua consistência. Depois veremos quais os elementos constitutivos do pensamento, bem como as actividades racionais que lhe servem de suporte. E, por fim, veremos que o pensamento, para ser verdadeiro, tem que ser válido e analisaremos, de forma sucinta, os fundamentos da sua validade.  Os Princípios Lógicos da Razão – como devemos pensar? 1) Princípio da Identidade: A=A.Cada objecto é igual a si próprio; Cada proposição é equivalente a si mesma.  O Princípio da Identidade determina que todo o ser é igual a si próprio: (X = X); (A = A); “ uma girafa é uma girafa”- uma girafa é igual a si mesma.

2) Princípio da não-contradição: uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo, de acordo com a mesma perspectiva; Uma proposição não pode ser verdadeira e falsa ao mesmo tempo, de acordo com a mesma perspectiva. O Princípio de não Contradiçãodetermina que proposições contraditórias não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo: (se X é Verdadeiro, ~ X é Falso) e vice-versa.“ Uma girafa não é uma não girafa e uma não girafa não é uma girafa”.

3) Princípio do Terceiro Excluído: um indivíduo ou é ou não é, não há uma terceira hipótese; Uma proposição ou é verdadeira, ou é falsa, não há uma terceira possibilidade.

 O Princípio do terceiro excluído determina que uma proposição ou é verdadeira ou é falsa, não havendo terceira 

possibilidade ou meio termo: ( se X é Verdadeiro, não pode ser simultaneamente falso) e vice-versa.

“ Entre um ser que é uma girafa e um ser que não é uma girafa, não existe terceira possibilidade ou meio termo: 

não existem “camelogirafas” ou “ patogirafas”→ esta 3ª hipótese está excluída.

Solidariedade dos três princípios: Estes três princípios podem ser considerados como três formulações de uma mesma lei geral do pensamento: os nossos pensamentos não devem conter contradições. As contradições são a base dos nossos erros lógicos. 

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A forma como os princípios estão formulados permite-nos identificar de uma forma mais fácil as inconsistências dos nossos pensamentos. 

Elementos constitutivos do pensamento – o que há no pensamento? Conceito - Os conceitos (ideias) são representações mentais da realidade.A nossa razão, a partir da experiência, representa a realidade, através da abstracção: com base no conhecimento dos objectos, das suas características materiais, a razão reúne essas características numa representação mental que lhe permite, quer a referência à realidade, quer a aquisição de conhecimentos de um grau superior que, por sua vez, são a base de todos os actos complexos do pensamento. Por exemplo, a partir do conhecimento das características materiais das mesas concretas (de vidro, de pedra, com uma perna, quatro pernas, de sala, de café,de sala de aula, triangulares, rectangulares, redondas ou ovais- são caracteristicas acidentais, ou seja, não essenciais para que um dado objecto seja uma mesa) a nossa razão formula o conceito universal de mesa, que reúne as características comuns (essenciais- tampo, pernas) aos objectos que fazem parte do conjunto das mesas, permitindo-nos, assim, pensar acerca das propriedades das mesas, sem que estas estejam (ou tenham que estar) presentes na nossa experiência actual. Por isso, ao ouvirmos a palavra mesa  associamos-lhe como significado o conceito de mesa previamente formulado – o conceito capta o essencial e não o acidental. O mesmo se passa com os restantes conceitos adquiridos por abstracção. Juízo  -   (À  expressão  lógica de um  juízo chamamos  proposição).  Os  juízos são actos  do pensamento  que consistem na  relação de conceitos: a um conceito-base,  a que chamamos  sujeito  (do  juízo),  atribuímos uma característica (ou um conjunto de características), a que chamamos predicado. Esta atribuição é feita através de um elemento de ligação a que chamamos cópula. Assim, os juízos têm a seguinte estrutura formal: SЄP. S é o sujeito, Є é a cópula e P é o predicado.Os juízos podem ser afirmativos, quando a cópula é afirmativa ( x é y ), e negativos, quando a cópula é negativa ( x não é y ).A estrutura formal de um juízo faz lembrar uma balança com dois pratos. Tal como o acto de pesar assenta na comparação  entre  um objecto  e  uma  medida   (o  peso),   assim   também ao  pensarmos,  ao  emitirmos   juízos, estamos a  comparar  conceitos. (No caso dos juízos negativos, estamos a fazer uma disjunção, assente numa comparação). Raciocínio  - (À expressão lógica de um raciocínio chamamos  argumento). Os raciocínios são  relações  entre juízos. pelo que podemos considerar que o raciocínio é uma operação racional que consiste na obtenção de um conhecimento   novo   (conclusão),   a   partir   de   conhecimentos   previamente   adquiridos   (premissas),   que   não poderiam ser alcançados de outra forma com o mesmo grau de consistência.Podemos dizer que, basicamente, adquirimos conhecimentos efectivos acerca da realidade a partir de duas vias: a experiência e a razão.Os conhecimentos adquiridos   pela experiência são  particulares, pelo que nos dão informações precisas, mas insuficientes,   acerca   da   estrutura   da   realidade.   É   que   a   realidade   não   é   constituída   apenas   por   objectos concretos, mas também por  processos que não são imediatamente acessíveis através da experiência sensível. Por este motivo, os nossos conhecimentos podem, se exclusivamente baseados na experiência sensível, revelar-se ilusórios (aparentes) se não forem sujeitos, no mínimo a uma clarificação racional.A razão permite-nos ir além dos dados imediatos da experiência sensível, de forma a descobrirmos as causas dos fenómenos que observamos (causas essas que não são identificáveis directamente), bem como as leis que regem os processos constitutivos da realidade. É deste modo que surge a ciência, como saber racional que visa explicar o funcionamento da realidade.Para concluir, podemos afirmar que todos os actos do pensamento obedecem aos princípios lógicos da razão. A validade formal e a validade material (verdade) Os princípios lógicos da razão dizem-nos como pensar e não o que pensar. Eles referem-se à estrutura formal do 

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pensamento e não ao seu conteúdo, a que podemos chamar a matéria do pensamento.Assim,   quer   pensemos  acerca   de   faquires,   borboletas,   idas   ao   cinema,   ou   qualquer   outra   coisa,   por  mais mirabolante que seja, temos que pensar de forma consistente, temos que seguir os princípios lógicos da razão, ou seja, o nosso pensamento tem que estar bem estruturado. Isto, como é óbvio, independentemente do conteúdo do pensamento.Dizer que o João é bom e mau aluno, sem mais, é um pensamento inválido, porque viola o princípio da não-contradição; o mesmo acontece se dissermos que "agora é de dia e de noite", ou "os xptos são extraterrestres e terrestres”.Ora, chamamos validade formal  à consistência dos nossos pensamentos, eles são válidos se estiverem bem construídos, de acordo com os princípios lógicos da razão, caso contrário são inválidos em termos formais. Para além da sua estrutura formal os nossos pensamentos têm um conteúdo, têm uma matéria. Se o conteúdo do nosso   pensamento   for   incongruente   com   os   dados   da   experiência   sensível   (da   realidade),   então   o   nosso pensamento é inválido em termos materiais, ou seja, é falso (mesmo que seja formalmente válido).Sendo assim,  podemos dizer  que  o nosso pensamento é verdadeiro quando está adequado à realidade.  A verdade (validade material) pode ser definida como a adequação do pensamento à realidade.Mas, para poder ser verdadeiro, para estar adequado à realidade, o pensamento tem que ser válido em termos formais, tem que estar bem estruturado. Assim: os pensamentos só podem ser verdadeiros se forem válidos em termos   formais  e,   também,   se  estiverem adequados  à   realidade.  Daqui   se  depreende  que  um pensamento inválido em termos formais não pode ser verdadeiro (se está mal construido não pode corresponder à realidade).

Assim,, para além de uma estrutura formal, os nossos pensamentos têm que ter um conteúdo (caso contrário seriam vazios). Ora, o conteúdo dos nossos pensamentos também tem que estar correctamente estabelecido. Aquilo que determina a correcção do conteúdo do pensamento não é um conjunto de princípios ou regras de carácter formal, mas a sua adequação à realidade. Assim a validade material (ou verdade), corresponde, de acordo com a definição aristotélica,  à  adequação do pensamento à realidade.  Sendo assim,  a validade material (ou verdade) do pensamento está fora do âmbito da Lógica Clássica, que tem como objecto o estudo dos  princípios  e  das  regras  que permitem a coerência   formal  do  pensamento  e  não a  sua adequação à realidade.O problema da adequação à realidade não depende da Lógica Clássica, mas da  Gnoseologia  (Filosofia do conhecimento) e da  Epistemologia  (Filosofia das ciências). Sendo assim, a partir deste momento não nos iremos preocupar com o  conteúdo  dos enunciados com os quais iremos trabalhar, mas apenas com a sua estruturação formal, com a sua conformidade com os princípios e regras que regem a sua coerência formal.Mas com isto não se pense que a Lógica ( a partir  deste momento sempre que nos referirmos à Lógica, estamos a  referir-nos  à Lógica Clássica)  não se preocupa com a verdade  (validade material),  antes  pelo contrário: é que o pensamento só pode ser verdadeiro se estiver correctamente estruturado. Podemos, então, concluir o seguinte:A validade formal é uma condição necessária da validade material, quer dizer: os enunciados só podem ser válidos em termos materiais (verdadeiros) se forem válidos em termos formais. Mas um enunciado pode ser válido em termos formais, sem que seja verdadeiro (válido em termos materiais). Simplificando: os enunciados inválidos em termos formais são necessariamente falsos (Ex. ; os enunciados verdadeiros não podem ser inválidos em termos formais;  os enunciados  válidos em  termos formais  podem ser ou  verdadeiros  ou falsos, consoante a sua adequação ou não adequação à realidade (Ex.

Síntese de ideias sobre o conceito

- O conceito não afirma nem nega;- O conceito é a ideia que representa o real no espírito;- É uma representação intelectual, geral e abstracta;- Diz respeito respeito à essência de um conjunto de seres- Reune as características comuns- Embora o conceito seja uma representação mental, universal, há conceitos singulares (Estádio do Dragão, Torre dos Clérigos, Os Maias...)- Os conceitos referem-se a objectos reais (mesa, escola), ideais (Liberdade), metafísicos (alma) e axiológicos(bondade);

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- Os conceitos têm de respeitar as regras lógicas- um conceito não pode reunir em si elementos contraditórios como por exemplo: uma brancura negra, um círculo quadrado;- Um conceito pode ter mais que uma palavra – pedra parideira, guarda-chuva;Os conceitos isolados não são verdadeiros nem falsos mas unem-se formando redes conceptuais.

Se o conceito é mental, como se exprime? Através do TERMO.

O que é?

- é a roupagem do conceito- é a expressão material do conceito- é a expressão verbal, oral ou escrita do conceito- é a exteriorização do conceito- o termo fixa e limita o conceito

O mesmo termo pode ser expresso por vários termos

REI – Roi (francês), King (Inglês), Konig (Alemão) e Ti (chinês)

O mesmo termo pode expressar conceitos diferentes:

COMPASSO pode ser unidade de medida musical, a visita pascal e um instrumento de desenho.

O termo pode ser contituido por várias palavras:

Ser vivo, animal doméstico e animais que habitam o hemisfério norte.

Actividades:

1. Qual a função dos princípios lógicos da razão? Justifique a sua resposta. 2. O que distingue a validade material e a validade formal? 3. Poderemos dizer que os princípios lógicos da razão são o fundamento da verdade (validade material) dos 

nossos pensamentos? Justifique a sua resposta. 4. Explique a seguinte asserção: “A validade formal é uma condição necessária da validade material”. 

Rosa Sousa 

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