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SOCIEDADE EDUCACIONAL DA PARAÍBA - SEDUP FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA - FESP MÁRCIO JOSÉ DA SILVA BANDEIRA “FICHA-SUJA” COMO CAUSA DE INELEGIBILIDADE JOÃO PESSOA 2010

“FICHA SUJA” COMO CAUSA DE INELEGIBILIDADE · Trabalho de conclusão do curso de Direito ... ANEXO 1 – PROJETO DE LEI ... “Ficha Limpa” foi uma iniciativa do Movimento de

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SOCIEDADE EDUCACIONAL DA PARAÍBA - SEDUP FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA - FESP

MÁRCIO JOSÉ DA SILVA BANDEIRA

“FICHA-SUJA” COMO CAUSA DE INELEGIBILIDADE

JOÃO PESSOA 2010

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MÁRCIO JOSÉ DA SILVA BANDEIRA

“FICHA-SUJA” COMO CAUSA DE INELEGIBILIDADE Trabalho de conclusão do curso de Direito como parte das exigências curriculares para obtenção do título de Bacharel em Direito junto à Faculdade de Ensino Superior da Paraíba – FESP. Orientador: Professor Sérgio José Vieira Lopes Área: Direito Eleitoral

JOÃO PESSOA 2010

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B214f Bandeira, Márcio José da Silva

Ficha suja: como causa de inelegibilidade ./Márcio José da Silva

Bandeira – João Pessoa, 2010. 60f.

Orientador: Prof. Sérgio José Vieira Lopes.

Monografia (Graduação em Direito) Faculdade de Ensino Superior da Paraíba – FESP.

1. Ficha Suja. 2. Inelegibilidade. 3. Iniciativa Popular. 4. Moralidade Eleitoral I. Título.

BC/FESP CDU: 347(043)

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MÁRCIO JOSÉ DA SILVA BANDEIRA

“FICHA-SUJA” COMO CAUSA DE INELEGIBILIDADE Trabalho de Conclusão do Curso de Direito como parte das exigências curriculares para a obtenção do título de Bacharel em Direito, junto à Faculdade de Ensino Superior da Paraíba – FESP

JOÃO PESSOA, PB,______ de _____________ de 2010

Banca Examinadora

Orientador

_____________________________________________________ Professor: Sérgio José Vieira Lopes

Membro _____________________________________________________

Professor: Walter Agra Júnior

Membro ______________________________________________________

Professor: Alexandre Cavalcanti Andrade de Araújo

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Dedico este trabalho ao Povo brasileiro. E a Deus, pois sem Ele não seria possível chegar até aqui.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter me dado forças para que eu pudesse concluir este trabalho, com garra e coragem, e sobretudo, por ter me proporcionado discernimento, sabedoria, humildade e entusiasmo para transmitir, com convicção e consciência, o conhecimento acumulado durante esta jornada acadêmica.

A minha Mãe (in memoriam), que no pouco contato que tivemos durante cinco

anos da minha vida, e nas poucas lembranças que serão guardadas para sempre. Ao meu Pai, pelo constante apoio, incentivo e pela tolerância, nos diversos momentos durante todo este curso de graduação. Aos meus amigos, em especial a colega Fabiana de Cássia Fernandes pelo apoio incondicional propiciado durante toda a conclusão desse trabalho. Aos meus professores, desde as primeiras fases de aprendizagem até a universidade, pelos ensinamentos transmitidos e, sobretudo pelas lições de vida, em especial, ao meu orientador, professor Sérgio José Vieira Lopes. A todos os funcionários e os colegas da Instituição de Ensino - FESP, que em todos os momentos de dificuldades mostraram interesse, dedicação, participação e preocupação em nos ajudar na caminhada dentro da universidade.

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"O analfabeto político O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, não participa dos

acontecimentos políticos, Ele não sabe que o custo de vida, o preço do

feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro, que se orgulha e estufa o peito, dizendo que odeia a política.

Não sabe o imbecil que de sua ignorância nasce à prostituta, o menor abandonado, o assaltante e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e explorador das empresas nacionais e multinacionais”.

(Beltolt Brecht)

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RESUMO

SILVA BANDEIRA, Márcio José. “FICHA-SUJA” COMO CAUSA DE

INELIGIBILIDADE, 2010. – fls.60 – Monografia (Bacharelado em Direito) Faculdade

de Ensino Superior da Paraíba – FESP.

Este é um trabalho bibliográfico que tem por escopo tratar sobre o Projeto de Lei de

iniciativa popular nº. 518/09, intitulado, popularmente, como “Ficha-limpa”, o qual

tem como intuito impedir a candidatura dos cidadãos conhecidos como “fichas-

sujas”, que respondem a processos na justiça. A pesquisa visou também à

apreciação de legislações já existentes e o estudo acerca da criação de novas

normas que pugnem pela defesa da moralidade democrática. O principal objetivo

deste trabalho foi demonstrar os possíveis danos causados ao País resultantes da

eleição de políticos com “fichas-sujas” na justiça. Assim, procedeu-se uma pesquisa

bibliográfica, através do método dedutivo e qualificativo, para constituição de uma

monografia científica, utilizando-se, como fonte de pesquisa, sítios virtuais na

internet, obras de renomados autores, noticiários e palestras sobre o tema, bem

como jurisprudências recentes. Os resultados demonstram a curial necessidade de a

sociedade rever seus parâmetros no momento de colocar pessoas de condutas não

ilibadas em cargo de representatividade popular não só em âmbito interno, mas

também em âmbito internacional, evitando, assim, a descrença da comunidade

mundial quanto à política do País.

Palavras Chave: Ficha-suja. Inelegibilidade. Iniciativa Popular. Moralidade Eleitoral.

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ABSTRACT

SILVA BANDEIRA, Márcio José. “DIRTY-SHEET” WITH CAUSE OF INELIGIBILITY,

2010 – fls.60 - Monograph (Bachelor of Law) - Faculdade de Ensino Superior da

Paraíba – FESP.

This is a bibliographic work which seeks to deal with on Project of Law of popular

initiative nº 518/09, entitled, popularly, as “Clean-sheet”, which aims to prevent the

election of candidates known as “Dirty-sheet”, the respond on justice. The survey

also sought the assessment of existing laws and the study on the creation of new

norms in this sense. The main objective is to demonstrate the possible damage to the

country resulting from the election of politicians with “Dirty-sheet” on justice. So, we

carried out a literature search through the deductive method and qualifying for

establishment of a scientific monograph, using as a source of research, virtual sites

on the internet, works of famous authors, news and lectures on the subject, and as

recent case law. The results demonstrate the necessity for society to review your

criteria at the time of putting people of acquitted conduct not in charge of popular

support not only domestically but also internationally, so, avoiding the disbelief of the

world community about the policy the country.

Keywords: Dirty-sheet. Ineligibility. People initiative. Electoral morality.

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10

1.DO PROJETO DE LEI 518/09 ............................................................................... 13

1.1 FINALIDADE ...................................................................................................... 13

1.2 DA SUA (IN) CONSTITUCIONALIDADE ............................................................ 15

2.ARTIGO 14 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL ....................................................... 20

2.1 O PODER EMANA DO POVO ........................................................................... 20

2.2 PROJETO DE INICIATIVA POPULAR, UM DIREITO CONSTITUCIONAL ....... 22

3.INELEGIBILIDADE DOS CANDIDATOS CONSIDERADOS “FICHAS-SUJAS” . 26

3.1 PRINCÍPIO DA ISONOMIA: ANALOGIA ENTRE CANDIDATOS AOS CARGOS PÚBLICOS MEDIANTE CONCURSO PÚBLICO E CANDIDATOS À REPRESENTATIVIDADE QUANTO AO REQUISITO DA VIDA PREGRESSA ....... 26 3.2 DA ELEGIBILIDADE ........................................................................................... 29 3.2.1 Nacionalidade .................................................................................................. 30 3.2.2 Pleno exercício dos direitos políticos ............................................................... 31 3.2.3 Alistamento eleitoral ........................................................................................ 32 3.2.4 Domicílio eleitoral na circunscrição ................................................................. 33 3.2.5 Filiação partidária ............................................................................................ 35 3.2.6 Idade mínima exigível ...................................................................................... 36 3.4 DA AUTO-INELEGIBILIDADE – “FICHAS-SUJAS” ............................................ 37

4.DOS CRIMES TIPIFICADOS NO PROJEO DE LEI 518/09 ................................. 40

4.1 DA PLURALIDADE DE CRIMES ........................................................................ 40

5.DIREITO ELEITORAL X CANDIDATOS FICHAS-SUJAS ................................... 42

5.1 CORRUPÇÃO ELEITORAL E SEUS REFLEXOS.............................................. . 42

5.2 PRIMEIRO DOMINGO DE OUTUBRO, DIA DO ELEITOR ................................ 45

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 48

REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 52

ANEXO 1 – PROJETO DE LEI 518/2009 ................................................................ 53

ANEXO 2 – LEI nº. 135 DE 04 DE JUNHO DE 2010. LEI DA “FICHA LIMPA” ..... 57

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INTRODUÇÃO

Fruto da luta popular, o Projeto de Lei nº. 518/09 que recebeu o apelido de

“Ficha Limpa” foi uma iniciativa do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral -

MCCE, criado em 1999, ligado à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil),

o qual reuni ainda mais 42 (quarenta e duas) entidades, entre as quais podemos

citar a Associação Brasileira de Magistrados, Procuradores e Promotores Eleitorais

(Abramppe), Associação dos Juízes Federais (Ajufe), Associação dos Magistrados

Brasileiros (AMB) e Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR).

Atualmente, o MCCE conta com mais de 1.400 (um mil e quatrocentos) associados.

O movimento surgiu com o escopo de consolidar e organizar as batalhas

travadas pela população em prol de uma política justa e democrática, primando para

que as pessoas que exerçam o governo tenham de fato uma postura realmente ética

para bem gerir os rumos do País.

Em um primeiro momento, a mobilização, também com o apoio da Ordem

dos Advogados do Brasil - OAB e outras entidades engajadas nesta questão

pugnaram pela aprovação do projeto de lei contra a compra de votos e o uso

indevido da máquina administrativa no período eleitoral para o beneficiamento de

determinadas candidaturas. Este projeto previa a pena de multa e perda do mandato

aos políticos condenados, contando com mais de um milhão de assinaturas dos

cidadãos brasileiros.

Hoje, a Lei 9.940, sancionada no ano de 1999 pelo então Presidente

Fernando Henrique Cardoso, demonstra que o resultado da luta popular foi

altamente positivo, sendo responsável pela cassação de mais de 660 (seiscentos e

sessenta) candidatos aos cargos de prefeitos, vereadores, deputados e senadores,

passados mais de dez anos desde que entrou em vigor.

Após a citada conquista, o MCCE ganhou forças e decidiu permanecer

unido em um trabalho de conscientização do povo para garantir a unidade em torno

do combate à corrupção, diante das estatísticas extraordinariamente motivadoras e

também provocado pelo fato de que, infelizmente, alguns candidatos cassados

permanecem em cargos políticos.

Como exemplos de como a corrupção ainda precisa ser combatida através

de mecanismos mais fortes temos de políticos que mesmo cassados e ou que,

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respondendo processos por improbidade e ou outro crime cometido negam

veementemente que tenham praticado quaisquer irregularidades durante a

campanha eleitoral de 2006, e já nestas eleição de 2010 poderão lançar

candidatura.

Assim, o MCCE abraçou o projeto de lei que estabelece a “ficha limpa”

como requisito para elegibilidade dos candidatos, ou seja, visa vedar a candidatura

de quem tiver processos judiciais ou dos que respondam a ações em tribunais de

justiça. Tal ideia surgiu a partir do lançamento, em abril de 2008, da campanha

também intitulada “ficha limpa”.

A iniciativa se deu tendo em vista a necessidade estampada na Constituição

Federal, precisamente em seu artigo 14, § 9º, que determina a inclusão de critérios

de inelegibilidades que levem em conta a vida pregressa dos candidatos a mandato

eletivo.

Logo, entre os objetivos pretendidos com o Projeto de Lei 518/09 (“Ficha-

limpa”), destaca-se a ampliação das situações que impeçam a candidatura devido a

irregularidades incluindo pessoas condenadas por órgão colegiado ou com denúncia

recebida por um tribunal - este último como o caso de políticos com foro privilegiado

- em virtude de crimes graves como: racismo, homicídio, estupro, tráfico de drogas e

desvio de verbas públicas. Consoante a proposta, essas pessoas deverão ser

preventivamente afastadas das eleições até que resolvam seus problemas com a

Justiça Criminal, assim como candidatos ou políticos condenados por compra de

votos ou uso eleitoral da máquina administrativa.

O Projeto de Lei pugna, então, por uma condenação criminal devido à

improbidade administrativa que venha a culminar na inelegibilidade. No que diz

respeito aos políticos que detém foro privilegiado, o objetivo do projeto é de, que

nessa situação, a inelegibilidade decorra tão somente do recebimento da denúncia,

posto que, segundo a nossa Carta Magna, muitos desses processos podem até ser

suspensos por decisão do Poder Legislativo. A proposta acrescenta ainda que,

nestes casos, as denúncias criminais deverão ser recebidas por um tribunal

constituído por diversas pessoas, favorecendo um campo propício para que o

processo seja respaldado em alegações fundamentadas e alicerçadas por provas.

Doutra banda, a futura Lei pretende estender o período que impede a

candidatura, o qual passaria a ser de 8 (oito), e não mas 3 (três) anos, além de

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tornar mais rápidos os processos judiciais sobre o abuso de poder nas eleições,

fazendo com que sejam executadas imediatamente, mesmo que ainda caibam

recursos, ou seja, tirando-lhes o efeito suspensivo.

O Projeto foi apresentado em 29 de setembro de 2009, aniversário de 10

anos na vitória da Lei contra a compra dos votos, com o apoio de mais de 1 (um)

milhão e 300 (trezentas) mil assinaturas, que representam 1% (um por cento) da

população brasileira, recolhidas em um ano e cinco meses, devidamente submetidas

ao processo de certificação de legitimidade nas casas legislativas, conforme o artigo

da Constituição Federal Brasileira que exige como procedimento para propor projeto

de lei por iniciativa popular a adesão mínima de 1% (um por cento) da população

eleitoral nacional, mediante assinaturas, distribuídas por pelo menos 5 (cinco)

unidades federativas e no mínimo 0,3% (zero vírgula três por cento) dos eleitores em

cada uma dessas unidades.

Em suma, por iniciativa popular entenda-se um instrumento da democracia

direta que torna possível à população apresentar projetos de lei, para serem votados

e eventualmente aprovados por Deputados e Senadores.

Neste contexto, não deixemos de comentar um fato “estranho” em que

todas as proposta de iniciativa popular protocolizadas na Câmara dos Deputados

são adotados por um parlamentar ou pelas comissões que assumem a autoria do

projeto, garantindo sua tramitação no Congresso Nacional, sendo que, tomam para

si a “autoria”, muitos o fazem com o intuito de apadrinhá-los e/ou assumem a

paternidade visando interesses futuros no sentido de promoção e “informações” para

campanhas eleitorais sob as custas da própria sociedade.

Embora exista a perspectiva delineada acima, o MCCE, através de seus

representantes, reiteradas vezes manifestou seu posicionamento de não aceitar que

nenhum parlamentar assumisse a paternidade ou qualquer forma de

apadrinhamento sobre o projeto “Ficha Limpa”, posto que ele é fruto da luta popular.

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1.DO PROJETO DE LEI 518/09

1.1. FINALIDADE

Foi acrescentado ao §9º do artigo 14 da Constituição Federal, pela emenda

constitucional de revisão nº 4, de 1994, as expressões “probidade administrativa”,

“moralidade para o exercício do mandato” e “considerada a vida pregressa do

candidato”, onde, ficou a cargo do legislador infraconstitucional a atribuição de

normatizar as hipóteses de inelegibilidade em consonância com tais princípios

expressos.

O Senado Federal, em meio à pressão de entidades não governamentais

como o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral e da própria população

brasileira, perplexa e “cansada” em meio a tantos atos de desrespeito à ordem

constitucional por parte da grande maioria dos que se dizem representantes do povo

anteriores e principalmente os atuais, editou o Projeto de Lei por meio e força da

soberania popular com a finalidade de “impedir” a candidatura desses políticos

conhecidos como "fichas-sujas". Teve início a partir da discussão do Projeto de Lei

Complementar nº 518/09 e com a emenda substitutiva supracitada. Portanto, visa

complementar a regulamentação do disposto no § 9º do art. 14 da Constituição

Federal, que dispõe o seguinte:

"§ 9º lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para o exercício do mandato, considerada a vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício da função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta”.

Existe a perspectiva que se instale ampla discussão nas casas legislativas,

tendo por objetivo implantar junto a uma sociedade uma consciência critica diante do

fato de pessoas imorais, ímprobas e criminosas, deliberarem os rumos do Estado

através do mandato político.

Tais discussões nas casas democráticas têm como foco a busca por reformas

que permitam aos cidadãos enxergarem os representantes do Povo como homens

públicos moldados na vida e no exemplo, cumpridores dos mandatos do povo,

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trabalhando para o povo, na busca do interesse coletivo. Estas reflexões possibilitam

um maior conhecimento acerca das opções de candidatos com moral ilibada e

notáveis trabalhos políticos, ou seja, os mais adequados para representar os

cidadãos no governo democrático.

Além de entidades não governamentais, como o MCCE, a própria

comunidade brasileira se manifestou respaldada pela força constitucional do artigo

14, § 9º, em prol da ética no cenário político nacional. Através de um abaixo-

assinado, foram coletadas precisamente 1.516.479 (um milhão quinhentos e

dezesseis mil quatrocentos de setenta e nove) de assinaturas em todos os Estados

da Federação e no Distrito Federal (fora os computados pela assinatura eletrônica,

via internet, onde totalizam mais de quatro milhões) para ratificação da Campanha

Ficha Limpa. O trabalho árduo para “barra” candidatos ímprobos foi entregue ao

Congresso Nacional, passando a tramitar nas Casas Legislativas.

O maior objetivo deste Projeto é impedir a candidatura de possível

elegibilidade de políticos condenados por crimes graves, sendo este, condenação

criminal e por improbidade administrativa sendo efeitos para que ocorra a

inelegibilidade. O Projeto de Lei ajudará a melhorar a formação de quadros políticos

no Brasil.

Há casos em que os políticos detêm foro privilegiado, neste contexto a

proposta é que a inelegibilidade decorra tão somente do recebimento da denúncia,

vez que, com fulcro na própria Constituição, poderá haver em muitos desses

processos a suspensão por decisão do Parlamento. Não obstante, as denúncias

criminais, nesses casos, terão que ser recebidas por um tribunal formado por várias

pessoas, o que pressupõe e dá maior garantia de que o processo será iniciado com

base em alegações fundamentadas e embasadas por provas indicando

possivelmente o autor do ato delituoso.

O Projeto de Lei 518/09 que altera a lei complementar nº 64, de 18 de maio

de 1990, estabelece de acordo com o art. 14, § 9º da Constituição Federal, casos de

inelegibilidade, prazos de cessação e determina outras providências, tem como meta

possibilitar mecanismos para impedir candidaturas “fichas-sujas” à

representatividade nas Casas Legislativas do País. Doutra banda, de cidadãos que

não há contra si nenhum processo criminal ou que não respondam àqueles crimes

incursos no texto legal do projeto, cumpridores, pois dos deveres constitucionais.

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Frise-se que o texto do Projeto “Ficha limpa” trás ainda a inclusão de

hipóteses de inelegibilidade que buscam proteger a probidade administrativa e a

moralidade no exercício do poder público.

Como é sabido o Projeto de Lei 518/09 foi apresentado ao Congresso

Nacional em setembro do ano passado, com o intuito de alterar a Lei de

Inelegibilidades, considerando a vida pregressa dos candidatos, principalmente em

casos em que estes têm pendências com a Justiça por prática de crimes

considerados graves.

Outro ponto a se destacar é que, em seu texto legal, o Projeto pugna por

estender para 8 (oito) anos o prazo de suspensão do direito de se candidatar.

É de se observar na mídia, através dos jornais escritos e televisivos

diuturnamente “representantes” do povo envolvidos em escândalos e desvio de

condutas. Diante disso, constata-se a necessidade veemente da aprovação do

Projeto de Lei objeto deste trabalho, bem como da continuação dos debates que

primam pelo enfrentamento da corrupção.

1.2. DA (IN) CONSTITUCIONALIDADE

Dentro da teoria geral do processo e na definição lógico-jurídica de outros

institutos do Direito Constitucional, o intérprete da lei deve fazer uso dos princípios

constitucionais atinentes ao Direito Eleitoral. A título exemplificativo cita-se os

seguintes princípios: devido processo legal; proporcionalidade; igualdade;

instrumentalidade das formas; cooperação; investidura; territorialidade;

indelegabilidade; inafastabilidade da jurisdição; juízo natural e outros. Logo, os

princípios são fatores de integração da interpretação jurídica.

No caso da aplicabilidade do texto legal do Projeto “Ficha limpa”, abre-se uma

discussão acerca do choque principiológico entre a “ampla defesa, o contraditório e

o princípio da presunção de inocência”, de um lado e de outro, “o da moralidade

eleitoral”. Na balança da justiça qual princípio seria preponderante no âmbito do

Direito Eleitoral?

O Projeto de Lei de iniciativa popular nº. 518/09 prevê a inelegibilidade

daqueles candidatos que renunciam mandatos eletivos para escapar de sanções por

desrespeito a normas constitucionais, como também daqueles que foram

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condenados em qualquer instância, mesmo que ainda não haja trânsito em julgado

da sentença, ou que, sendo detentores do foro privilegiado, tenham denúncia

criminal recebida pelo tribunal competente.

Neste último caso, considerou-se bastar o recebimento da denúncia, vez que

na maioria dos casos o processo criminal pode ser suspenso por decisão do Poder

Legislativo. Sendo essa denúncia recebida por um órgão julgador colegiado

composto por desembargadores ou ministros, magistrados de notório saber e que

decidem em conjunto sobre a existência de prova e materialidade do crime como

indícios que demonstrem ser o acusado o provável autor do ato delituoso.

O Projeto de Lei “Ficha-limpa” prevê ainda “impedir” os candidatos que

respondem por processos judiciais tanto na esfera criminal como no âmbito eleitoral

sendo eles considerados inelegíveis para ocupar um mandato eleitoral como

também aqueles que tiverem condenação em ações por improbidade administrativa,

as quais não possuem natureza criminal, dentre outras ações similares. Além disso,

o projeto simplifica a tramitação dos processos judiciais eleitorais.

Estabelece que serão inelegíveis os cidadãos que pleiteiam se candidatar

para um mandato político que tiverem contra si condenações em primeira ou única

instância ou denúncia recebida por órgão judicial colegiado pela prática de crimes

descritos nos incisos XLII ou XLIII do art. 5º da Constituição Federal, ou por crimes

contra a economia popular, a fé pública, os costumes, a administração pública, o

patrimônio público, o meio ambiente, a saúde pública, o mercado financeiro, pelo

tráfico de entorpecentes e drogas afins, por crimes dolosos contra a vida, crimes de

abuso de autoridade, por crimes eleitorais, por crimes de lavagem e ocultação de

bens, direitos e valores, pela exploração sexual de crianças e adolescentes e

utilização de mão-de-obra em condições análogas à de escravo, por crime que a lei

comine pena não inferior a 10 (dez) anos, ou por terem sido condenados em

qualquer instância por ato de improbidade administrativa, desde a condenação ou

recebimento da denúncia, conforme o caso, até o transcurso do prazo de 8 (oito)

anos após o cumprimento da pena.

Argumenta-se, com fulcro no princípio da presunção da inocência que este

Projeto de Lei Complementar n.º 518/09 seria inconstitucional, posto que a

incidência de uma causa de inelegibilidade que pressupõe a condenação penal sem

a ocorrência do trânsito em julgado da decisão estaria ferindo tal princípio.

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Neste contexto, as questões que se levantam são: a punição máxima (como é

a inelegibilidade), aplicada por um colegiado, antes que uma sentença seja

considerada transitada em julgado, vai se limitar aos direitos políticos? Nesse caso,

por que só a eles? Ou ainda: por que uma instância superior teria poderes para

rever o risco de cessação de outros direitos, mas não dos direitos políticos?

Ainda há argumentos de que no Projeto “Ficha-limpa” haveria brechas para

perseguições políticas, contra os elegíveis realmente idôneos, o que levaria os

eleitores a votarem de forma a não terem o direito de escolher livremente seus

candidatos.

O artigo 5º, inciso XXXIX, da Constituição Federal preceitua o seguinte:

Artigo 5º [...] XXXIX – não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal.

Aqueles que são contra a Lei do “Ficha-Limpa” usam este preceito

constitucional como argumento de que o Projeto de Lei aprovado no Congresso

Nacional é veementemente inconstitucional, vez que não há, em hipótese alguma, a

partir do momento de sua vigência, que se falar em retroatividade da Lei para

abarcar os “cidadãos” que já respondam processos judiciais tanto na esfera criminal

como no âmbito eleitoral.

Neste mesmo sentido, e, ainda dentro do texto da nossa Lex Mater, este

argumento de que a futura Lei do “Ficha limpa” não deva retroagir repelindo todos

estes “bandos de fichas sujas” da política nacional, encontra interpretação contrária

no inciso subseqüente, vejamos:

“Artigo 5º” “XL – a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”.

Esse inciso transcrito acima, constitucionalmente não nos deixa nenhuma

dúvida quanto à retroatividade da Lei, posto que a partir do momento que este

instituto é aplicado de forma a ferir o texto constitucional tem-se então a

inconstitucionalidade da norma ofensora.

Dessa forma, esse efeito tonaria o texto aprovado no Congresso também

inconstitucional, vez que em tese estaria ferindo um preceito fundamental do Artigo

18

5º, em tese. Entretanto, é de curial sabença que o Projeto de Lei nº. 518/09, fruto da

luta de mais de um milhão e meio de eleitores brasileiros é um Projeto oriundo do

ramo do Direito Eleitoral, ou seja, estamos tratando de uma futura Lei Eleitoral,

onde se perfaz como basilador o Princípio da Prevenção, afastando como o próprio

artigo nos coloca os efeitos do inciso em epígrafe, que é de caráter penal, ou seja,

Lei Penal é que não retroagirá a não ser para beneficiar o apenado.

Observa-se por outro lado a discordância ante a inconstitucionalidade, vez

que o Projeto de Lei Complementar n.º 518/09 não só está em perfeita harmonia

com a Constituição de 1988, como também vem para aperfeiçoar a regulamentação

do § 9º do art. 14 da Lex Mater, que determina o seguinte:

"§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta." (grifa-se).

Há ainda o fundamento favorável de que o princípio da presunção de

inocência ou da não-culpabilidade só é aplicável apenas na esfera penal, ou seja, só

existiria afronte a esse princípio no que diz respeito à matéria criminal, não

preponderando de igual forma no âmbito eleitoral. Neste contexto, veja-se o artigo

5º, inciso XL, da Constituição Federal:

“A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu.”

Destarte no âmbito eleitoral, prevalecem outros princípios constitucionais, por

exemplo, o Princípio da Prevenção. Neste contexto, observa-se o exemplo: basta

que uma pessoa seja parente de alguém que exerça um mandato eleitoral ou que

ocupe certas funções para que se torne inelegível, não pode se candidatar. Isso

ocorre como prevenção no direito eleitoral não se trata, pois, de considerá-la

antecipadamente culpada de supostamente se beneficiar de funções políticas para

interferir no pleito, mas de prevenir impedindo que um fato assim ocorra.

No caso da exigência da análise da vida pregressa dos candidatos a

mandatos eletivos, acontece a mesma coisa: não se trata em apontá-los ou

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considerá-los culpados, mas de, à vista de circunstâncias objetivas, prevenir, a

sociedade e o desenvolvimento do país de possível candidatura de alguém à

representatividade assim ao exercício da função pública, da representatividade de

uma população.

O embasamento, o fulcro, dessa possível inelegibilidade não é o

reconhecimento da culpabilidade dos candidatos, mas a simples existência de

sentença criminal condenatória, ainda que não transitada em julgado, sendo a

própria Constituição Federativa do Brasil que, no § 9° do art. 14, determina ao

Congresso a criação de lei complementar tratando dessa problemática, que

estabeleça conforme o desenvolvimento da sociedade outros casos de “barrar”

possíveis candidatos ímprobos, inelegíveis, levando em consideração sua vida

pregressa.

Ou seja, basilado no princípio da não-culpabilidade ou presunção de

inocência do autor de um crime, para que haja a aplicabilidade da penal

correspondente ao crime cometido, exige-se na esfera penal o esgotamento de

todos os recursos cabíveis, não obstante, no âmbito eleitoral que se alberga ao

princípio da prevenção, basta a consideração da vida pregressa de um possível

candidato a mandato eleitoral para tornar-se inelegível, é o que perfaz o Projeto de

Lei em comento, Projeto de iniciativa popular de nº. 518/09, afastando assim caráter

inconstitucional e se firmando, dessa forma, então constitucional, vez que este

princípio, da presunção de inocência ou da não-culpabilidade só é aplicável ao

âmbito penal, enquanto, aplicável ao direito eleitoral o princípio da prevenção.

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2. ARTIGO 14 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

2.1 O PODER EMANA DO POVO

O Princípio da Soberania Popular é vinculado com a ideia de poder, o qual é

inerente à existência do próprio Estado. Opina-se no sentido de que o poder é

soberano partindo do prisma de que está sob os auspícios de nenhum outro.

Soberano é o poder supremo, sem o qual não se concebe o Estado. Como

dito alhures, “o poder, ou melhor, o poder soberano, emana sempre do povo”, e

assim o definiu a Constituição Federal de 1988, em seu art. 1°, parágrafo único,

verbis:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...] Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

O caput do art. 14, por sua vez, nos assegura que a sobredita soberania

popular se concretiza através do sufrágio universal, pelo voto direto e secreto,

plebiscito, referendo e iniciativa popular, devendo nestes três últimos casos, haver

regulamentação legal, se não vejamos:

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I - plebiscito; II - referendo; III - iniciativa popular. (Grifa-se)

No ensinamento de Jairo Gomes (1996, p. 30/1), “a soberania popular se

revela no poder incontrastável de decidir. É ela que confere legitimidade ao exercício

do poder estatal. Tal legitimidade só é alcançada pelo consenso expresso na

escolha feita nas urnas”.

Destarte, em se falando de democracia, todo poder é emanado do elemento

povo, o qual é constituído pelo indivíduo, da pessoa, do sujeito de direitos e deveres,

21

do cidadão. Para Adriano Soares da Costa (1996, p. 30/1) cidadania significa o

status constitucionalmente assegurado ao indivíduo de ser titular do direito à

participação ativa na formação da vontade nacional. Diz o renomado mestre: “Deve-

se entender os termos cidadania e soberania popular como sinônimos, como vínculo

jurídico-político do cidadão com o Estado”, facultado a prática de se alistar, para

adquirir o direito de sufrágio eleitoral já aos 16 anos de idade, participando da

democracia de escolher os destinos do País.

Perceba-se que o “poder” é do povo (soberania popular) que através dele

escolhem os seus representantes, onde são atribuídos ou outorgados um mandato

eletivo de 4 (quatro) anos, para representá-los no âmbito do Legislativo ou do

Executivo. Contudo, não deixemos de frisar que, não são atribuídos nenhum poder

para degradarem, saquearem ou tornar vil o Estado. Atitudes que visam interesses

particulares no exercício do poder político jogam e repelem os verdadeiros

interesses do bem comum os quais os eleitos ali estão para defenderem.

Hoje, vê-se que muitos dos representantes escolhidos pelo povo estão

espezinhando nossa cidadania e/ou a soberania popular, com efeito menoscabando

a moral, a ética e a lei.

O povo é soberano, assim o faz a Constituição Federal de 1988. Leciona o

renomado autor Adriano Soares da Costa (Ano 1996, p. 30/31.) quanto à soberania

popular:

“a soberania popular é o direito político por excelência, dele se irradiando outros tantos. É justamente através da concessão, pelo ordenamento jurídico, do direito à soberania popular que se possibilita ao cidadão o exercício de direitos políticos de vários matizes, como a participação popular na administração da res pública. Assim, se fôssemos dar um conceito mais abrangente, sem fugir ao que averbamos anteriormente, poderíamos dizer que a soberania popular pode ser exercida pelo direito de sufrágio (direito de votar, referendum e plebiscito) e pelo direito de ser votado (elegibilidade)”.

Portanto, consoante infere nossa Carta Magna, todo o poder emana do povo,

que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta

Constituição. Não obstante, é este o texto base para que o povo exerça um direito

que lhe é atribuído, que lhe permita o direito de sufrágio escolhendo seus

22

representantes na busca de seus interesses perante as Casas Legislativas, como

também o direito de proposição de leis dispondo da iniciativa popular.

2.2 PROJETO DE INICIATIVA POPULAR, UM DIREITO CONSTITUCIONAL

Assegurado pelo ato histórico da promulgação da nossa Lex Mater em 1988,

galgado no princípio da soberania popular, o direito de o povo apresentar ao

Congresso Nacional projetos de sua iniciativa, se achar conveniente, que venha a

complementar Leis com a criação de novas, observa-se no texto do artigo 14:

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I – plebiscito; II – referendo; III - iniciativa popular. (Grifa-se)

Entretanto, para a aplicabilidade e ou funcionalidade desse instituto, só se faz

necessário haver uma previsão constitucional que corrobora a existência de

mecanismos de participação popular, é indispensável, estabelecer a criação de

normas infraconstitucionais substanciais que propiciem dinamismo e garanta a sua

fundamental aplicabilidade natural e prática.

Não obstante, através do Poder Legislativo o País permaneceu, por nada

menos de que 10 (dez) anos, suprimido à regulação de uma necessária Lei que

regulamentasse a matéria; com efeito, a possibilidade de democracia semidireta,

ainda que prevista na Carta Magna, era um direito de difícil ato de viabilizar na

prática, o que pode ser verificado pela admoestação de nossos fatos históricos,

onde não regularam, ao longo desses 10 (dez) anos, nenhum paradigma

substancioso relacionado à utilização da consulta popular, salvo o plebiscito de

realizado em 1993, no sentido de escolher a forma e do sistema de governo a

vigorar no país.

Nesse prisma, o Brasil optou por regular apenas os três primeiros

mecanismos mencionados, conforme dispõe o art. 14, incisos I usque III, como já

acima citado.

23

Após 10 (dez) anos da promulgação da Constituição Federal, em 1998 foi

criada uma lei infraconstitucional que veio para regular os inciso I, II e III do artigo

14, a “iniciativa popular” com a Lei nº. 9.709/98, no entanto, regulou tal instituto

apenas nos artigos 13 e 14. A lei regulamentadora não trás muitos detalhes sobre o

procedimento para a criação de Projetos de iniciativa popular. Nada obstante, trata

da matéria o disposto no art. 13, §§ 1º e2º, in verbis:

§ 1º O projeto de lei de iniciativa popular deverá circunscrever-se a um só assunto. § 2º O projeto de lei de iniciativa popular não poderá ser rejeitado por vício de forma, cabendo à Câmara dos Deputados, por seu órgão competente, providenciar a correção de eventuais impropriedades de técnica legislativa ou de redação.

Destarte que, o próprio artigo em seu parágrafo 9º nos remete a aplicabilidade

desse dispositivo que nos leva a regulamentação da Lei oriunda e em conformidade

da Constituição, a qual assegura ao povo a criação de novas Leis mediante iniciativa

popular, senão vejamos:

§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.

A iniciativa popular é um instrumento da democracia participativa, por meio

dela qualquer cidadão pode intervir no processo legislativo brasileiro propondo

novas leis para o País.

Com fulcro na própria Constituição para a criação de um Projeto de iniciativa

popular e para que essa iniciativa popular chegue ao Congresso é necessário se

faça colher a assinatura de pelo menos 1% (um por cento) dos eleitores brasileiros,

ou seja, cerca de 1,4 (um vírgula quatro) milhão de assinaturas, assim sendo

divididos entre cinco estados da Federação, com pelo menos de 0,3% (zero vírgula

três por cento) do eleitorado de cada estado.

Existe ainda a exigência de preenchimento de todos os campos do formulário

colocando o nome completo, endereço residencial, zona, sessão e o município do

24

seu título eleitoral, vez que as listas de assinatura devem ser organizadas por

município e por estado, de acordo com formulário que deve ser retirado na Câmara

dos Deputados depois é só assinar o espaço ao lado, dessa feita o cidadão estará

participando da democracia nacional ante a iniciativa popular.

Sendo assim, e não saindo do âmbito da Constituição, entidades poderão

patrocinar a apresentação de Projetos de Lei, desde que se responsabilizem pela

coleta de assinatura. O projeto deve ter informações da Justiça Eleitoral quanto aos

dados de eleitores por estado, caso não haja números atualizados aceitando-se os

números referentes ao ano anterior. O projeto também deve ser protocolizado na

Secretaria-Geral da Mesa da Câmara, que tem por obrigação verificar as exigências,

onde nessa fase, o projeto de lei de iniciativa popular receberá um número e

passará a ter a mesma tramitação dos demais.

Tem-se ainda a exigência onde, cada projeto deve citar apenas um assunto.

Os projetos de iniciativa popular não podem ser rejeitados por questões técnicas.

Nesse caso, a Comissão de Constituição e Justiça – CCJ – é obrigada a adaptar a

redação do texto.

É de conhecimento que o primeiro projeto de iniciativa popular a ser aprovado

nas Casas do Congresso foi o que deu origem à Lei 8.930 de 7 de setembro de

1994, onde caracterizou chacina realizada por esquadrão da morte como crime

hediondo. A matéria teve o apoio de um movimento criado pela escritora Glória

Perez, ante a perda de sua filha assassinada em 1992, quando foi enviada ao

Congresso pelo então presidente Itamar Franco.

Além de alguns outros Projetos apresentados e aprovados pelo Congresso

Nacional, a última medida levada ao plenário do Legislativo Federal e convertida em

norma legal foi publicada em 17 de junho de 2005, quando criou o Fundo Nacional

de Habitação de Interesse Social.

Foi o que ocorreu com o mais novo Projeto de iniciativa popular intitulado

“Ficha Limpa”, encerrando um jejum de quase cinco anos sem que uma matéria de

iniciativa popular fosse convertida em Lei pelo Congresso Nacional.

O “Ficha limpa” que vem para alterar a Lei Complementar nº 64 de maio de

1990, também é fruto da luta de milhões de cidadãos brasileiros, nasceu com o

objetivo de mudar a política brasileira velando pela moralidade dos políticos e pela

moralidade administrativa buscando melhorar o perfil dos candidatos a cargo eletivo,

25

onde será incluído novos casos de inelegibilidade, sendo ainda estabelecidos novos

critérios para quem não pode se candidatar, os conhecidos como “fichas-sujas”.

26

3. INELEGIBILIDADE DOS CANDIDATOS CONSIDERADOS “FICHAS-SUJAS”

3.1 PRINCÍPIO DA ISONOMIA: ANALOGIA ENTRE CANDIDATOS AOS CARGOS

PÚBLICOS MEDIANTE CONCURSO PÚBLICO E CANDIDATOS À

REPRESENTATIVIDADE QUANTO AO REQUISITO DA VIDA PREGRESSA

É de sabença que, no Direito Administrativo, os entes e órgãos da

Administração Pública direta e indireta na realização das atividades que lhes são

atribuídos regem-se por normas. Além das regras específicas para cada matéria ou

setor, existem preceitos gerais que estabelece amplos campos de atuação, são os

princípios do Direito Administrativo.

Ademais, como as atividades da Administração Pública são regidas

substancialmente pelo direito administrativo, de igual estes princípios têm a

faculdade de serem considerados também princípios jurídicos da Administração

Pública, sendo também aplicados como norteadores aos agentes públicos ante a

vida pública.

Os Princípios que norteiam a Administração Pública brasileira obtêm igual

patamar quanto à vida pregressa dos candidatos a cargos públicos de importância

semelhante aos cargos de mandato eletivo. Enquanto que os candidatos que

prestam concurso público são avaliados através de prova teórica, os candidatos a

cargo eletivo são avaliados pela população. Os primeiros, quando concorrem a

cargos na Magistratura ou no Ministério Público, por exemplo, tem que demonstrar

postura moral ilibada, sendo submetidos a uma analise de sua vida pregressa como

pressuposto para aprovação.

Segundo alguns doutrinadores que buscam extrair outros princípios do texto

constitucional, há outros princípios na Constituição Federal que regulam a matéria

que seriam os implícitos, como afirmam também que através de elaboração

jurisprudencial e doutrinária se originaria outros princípios do direito administrativo.

Na nossa Carta Magna de 1988 encontramos explicitamente os princípios no

qual regulam a matéria, ou seja, são os Princípios que norteiam as atividades na

esfera da Administração Pública: o Princípio da Legalidade, Impessoalidade,

Moralidade, Publicidade e Eficiência (este último inserido pela Emenda 19198 -

Reforma Administrativa).

27

Para um melhor entendimento faremos um breve comentário de cada um

desses princípios no sentido de fazermos uma analogia entre o Direito Administrativo

e o Direito Eleitoral ante a atribuição de cargos públicos a candidatos probos.

Princípio da Legalidade: dá ao agente público por meio de norma permissiva

atuação ante a Administração Pública, sendo esta permissão concedida ou deferida

por norma legal. Neste mesmo sentido é “dado” ao particular a faculdade de fazer

tudo, salvo o que não estiver proibido. Sendo assim, o entendimento de que de tal

princípio decorre a proibição ou vedação onde sem que haja lei ou ato normativo

que permita a Administração possa vir por manifestação unilateral de vontade,

declarar, conceder, restringir direitos ou impor obrigações.

Princípio da Impessoalidade: esta é fundamental tanto para este ramo do

direito como no mérito desse trabalho. Aqui o interesse coletivo é sempre, em

primeiro lugar, atribuído ao agente público a função de que vise à satisfação do

interesse coletivo. Este Princípio está relacionado à finalidade estatuído pela lei e

cuja perdição significa desvio que invalida o ato, como também está relacionado à

imputação da atuação administrativa e à necessidade de observância do princípio da

isonomia. É o indicativo de imparcialidade, que condiciona a atividade administrativa

a deferir tratamento igual a todos, independentemente de qualquer interesse público.

Princípio da Moralidade: é de curial sabença que este princípio está ligado

diretamente ao Direito Eleitoral, principalmente no que tange a vida pregressa dos

candidatos a cargos eletivos, que consiste vedar a atuação dos agentes da

administrativa pública distanciar-se da moral, dos princípios éticos, da boa-fé, e da

lealdade.

O manuseio da administrativa pública deverá – pelo menos em tese, e é o

que acontece, infelizmente – sob os auspícios da lei, a moral, os bons costumes, a

honestidade, e a vontade dos deveres prestados para uma boa administração. São

princípios gerais basiladores que inspiram o conteúdo da moralidade administrativa:

a boa-fé, a lealdade, a razoabilidade e a proporcionalidade.

Princípio da Publicidade: aqui os agentes públicos têm o dever de dar

publicidade, levando ao nosso conhecimento todo e qualquer ato pertinente a

administração pública. Exige na atuação ante o Poder Público transparências em

seus atos, a publicação dos atos praticados, sendo esta publicidade obrigatória

como instrumento fiscalizador de eficácia administrativa.

28

Princípio da Eficiência: digna-se por buscar os melhores resultados possível.

É relevante à Administração Pública padronizar-se com equipamentos modernos

para uma gestão ou administração, visando sempre o bem estar da sociedade, onde

ao passo dessa atualização e modernização poderá chegar ao pôr fim na burocracia

que ainda assola os órgãos públicos. Este princípio que exige os agentes públicos

exercerem suas atividades com presteza, perfeição e rendimento funcional. O

princípio da eficiência aproxima-se do da economicidade. Propõe-se, por finalidade e

albergados na administração eficiente, a boa prestação dos serviços a coletividade,

de modo mais rápido e mais econômico, sem onerosidade para a Administração.

Observa-se, com este breve esboço dos Princípios que regulam a

Administração Pública, a semelhança entre as duas esferas do Direito Público,

eleitoral e administrativo, onde, em princípio, a admissão dos agentes a cargos

públicos sendo por mandato eletivo ou perante a prestação de concurso, deve estar

sujeita a rígida análise para aceitação. Este último estará sujeito a análise segundo o

que os textos dos editais trazem, onde após candidato atingir a provação, em muitos

casos será levado em questão também o critério da observância de sua vida

pregressa.

Como ocorre nas próprias iniciais dos princípios nos mostram: Princípios da

Legalidade; Impessoalidade; Moralidade; Publicidade e Eficiência, “LIMPE”, a futura

Lei a vigorar no nosso ordenamento jurídico contra os candidatos “fichas-sujas”,

buscará bani-los da vida política nacional, fazendo uma “varredura” nas Casas

Legislativas em todo o País.

A indagação que apresenta no momento é: com base na moralidade

administrativa e melhor prestação dos serviços públicos, por que a vida pregressa do

candidato a cargo eletivo não é questionada no momento de sua candidatura (Direito

Eleitoral – Princípio da Prevenção)? Em que pese, não seria a função da

representatividade um cargo relevante ao passo de adotar com critério essa

prevenção?

Obrigatoriamente o candidato a cargo público que passou pelos critérios que

regula o concurso público e que foi admitido em um cargo público teve a análise de

sua vida pregressa, uma condição fundamental para ser empossado no cargo. Veja-

se o caso dos concursos para magistratura. Nessa esteira, analogicamente, o

candidato a representatividade popular baseados nos princípios comentados e em

normas que albergam a matéria deveria submeter-se ao mesmo critério para que

29

venha a ter acesso ao exercício da função pública, mormente por sua função

delegada por uma coletividade.

3.2 DA ELEGIBILIDADE

Com fulcro no artigo 14, § 3º da Constituição Federal estas são as condições

de elegibilidade: a nacionalidade brasileira, estar em pleno exercício dos direitos

políticos, o alistamento eleitoral, na circunscrição do pleito haver o domicílio eleitoral,

estar filiado a um partido político e ter a idade mínima exigida.

Há ainda mais quatro condições a serem verificadas para o cidadão poder ser

considerado elegível, são elas: ser alfabetizado, conforme § 4º; as especiais para

militares, § 8º; a desincompatibilização, §§ 6º e 7º, todos do artigo 14 da

Constituição Federal; e ainda haver a indicação pelo partido em convenção, este

último, conforme artigo 94, § 1º, inciso I, do Código Eleitoral.

Segundo o doutrinador Adriano Soares da Costa, em sua obra “Instruções de

Direito Eleitoral 8ª Ed., p. 63”, as quatro primeiras condições para que o cidadão

possa ser considerado elegível são conhecidas como “condições próprias”:

nacionalidade brasileira, pleno exercício dos direitos políticos, alistamento eleitoral,

domicílio eleitoral na circunscrição.

O autor classifica como condições de elegibilidade “impróprias” as seguintes:

alfabetização, especiais para militares, indicação em convenção partidária e

desincompatibilização.

Dessa forma, é de curial relevância tecer que as condições de elegibilidade

próprias são aquelas expressamente contidas na Constituição Federal, artigo 14, §

3º, e sendo o caso, podendo sofrer regulação por lei federal. Foi o que ocorreu com

a vigência da Lei dos Partidos políticos (LPP) quando dispôs que para poderem os

cidadãos ser candidatos aos cargos públicos é necessário ser registrados os filiados

em partido político há mais de um ano do pleito, dessa forma criando um plus à

filiação partidária como condição de elegibilidade, ou seja, não basta ser filiado

como expressa a Constituição como condição própria à elegibilidade, mas ser filiado

a mais de um ano antes do dia da eleição para obter a condição de elegibilidade.

30

Nesse diapasão, faremos uma breve análise destes institutos contidos na

Constituição Federal como condição próprias de elegibilidade, também chamada de

ius honorum.

3.2.1 Nacionalidade

É de curial sabença que nacionalidade é o vínculo existente entre o indivíduo

e o Estado, entre a pessoa, que compõe um povo de um Estado, dessa forma e

neste sentido um ser albergado de direitos e deveres, sendo este vínculo indo além

das fronteiras, ou seja, essa relação de nacional e Estado seria profunda e que se

entende além das fronteiras territoriais. Não obstante o artigo 12 da Constituição

Federal preceitua muito bem essa questão de vínculo entre o nacional e o Estado,

onde considera o brasileiro para todos os fins legais não somente interno, ou seja,

no País, mas também em âmbito internacional.

Nacional não é apenas aquele nascido no País, brasileiro nato, mas também

os naturalizados, dessa feita distinguem-se os natos e os naturalizados. Os

brasileiros natos são aqueles nascidos no Estado da Federação Brasileira, ou seja,

nascidos em território nacional, observado os casos extravagantes como: os filhos

de estrangeiros nascido no Brasil, os nascidos fora do território brasileiro de pais

brasileiros ou pai ou mãe brasileiros. Já os naturalizados são aqueles no qual

adquirem na forma da lei a naturalidade brasileira, sendo que, com exceção aos

estrangeiros de língua portuguesa que será exigível a residência no País apenas um

ano e idoneidade moral, aos demais é exigido serem residentes no Brasil durante

quinze anos ininterruptos e lógico sem condenação penal (já basta os daqui). Uma

observação importante é quanto essa equiparação quando versa a Constituição que

quanto aos brasileiros natos e naturalizados a Lei não poderá estabelecer distinção,

a não ser nos casos trazidos pela Lex Mater em seu § 2º do artigo 12, senão

vejamos:

Artigo 12 § 2º “A Lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição”

31

Dessa feita é regra que todos os brasileiros natos e naturalizados possuem o

direito de elegibilidade para todos os cargos, exceto este último para o cargo de

presidente da república e outros regulados por Lei.

3.2.2 Pleno exercício dos direitos políticos

É de curial sabença que o alistamento eleitoral que é obrigatório aqui no

Brasil é um fato jurídico que permite o direito de voto ou de votar o chamado ius

singulii, que, com a sua perda o indivíduo perde, além do direito de ocupar cargo

público, a legitimidade ativa para a manutenção de determinadas ações cívicas, e

permitir a perda do direito de votar, perde principalmente a própria cidadania, o

próprio status civitalis.

Há tanto na Constituição Federal – que dar o norte a demais normas – como

no ordenamento jurídico pátrio, inúmeras são as condições para a perda ou

suspensão dos direitos políticos, onde dentre várias até mesmo que é o foco

principal do trabalho em comento, verificamos se destaca a Condenação criminal

que é a natureza desse trabalho, que está ligado a Improbidade administrativa,

sendo esta outra condição a ser levada em conta na hora da averiguação do pleno

exercício dos direitos políticos.

Condenação criminal: nesse momento – diga-se por que o nosso Projeto em

comento “Ficha-limpa” encontra-se no Congresso Nacional para ser submetido à

análise do Senado Federal, vez que já passara pela Câmara dos deputados com a

unanimidade de votos, a Condenação criminal segundo o artigo 15, inciso III da CF,

que é uma decisão criminal procedente, ou seja, condenatória, passiva de uma

pena, sendo que não caiba mais nenhum tipo de recurso, transitada em julgado, é

causa de suspensão dos direitos políticos até durarem os seus efeitos.

Sendo assim, esta condenação penal passiva de uma pena, trás como efeito

para a esfera eleitoral a suspensão dos direitos políticos do cidadão como a

inelegibilidade, ou seja, há a cessação do direito de ser votado, logo para ter efeitos

é necessário que esta decisão seja transitada em julgado sem que haja a

possibilidade de interposição e esgotamento de recurso, reza no mesmo sentido o

disposto no artigo 55, inciso VI da Constituição Federal.

32

Improbidade administrativa: que são atos de corrupção realizados por

agentes públicos, é ato ilícito praticado por pessoas de alguma forma vinculada com

a administração pública, com a coisa pública, o bem público. Não obstante, quando

há a participação de terceiros juntamente com o agente público praticarem estes

atos ilícitos à coisa pública, este também estará albergado pelo mesmo tipo ilegal,

ou seja, ao corroborar com a improbidade administrativa estará este juntamente com

aquele na mesma ceara de improbidade.

Há neste instituto de suspensão dos direitos políticos onde proclama a

inelegibilidade, diferentemente do que ocorre com a sentença criminal transitada em

julgado, na prática e conhecimento da improbidade administrativa, necessário se faz

que a decisão declaratória de imputabilidade de determinado ato administrativo

como incurso nos liames da Lei como ímprobo seja expressamente indicativo para a

perda ou suspensão dos direitos políticos, há de haver esta comunicação entre a

prática do ato e a imputabilidade da perda ou suspensão dos direito políticos.

Existe no nosso ordenamento jurídico a Lei Federal nº. 8429/92 que dispõe

sobre essa prática imoral ao poder público, onde fixa que a improbidade

administrativa é o ato ilegal aos princípios básicos da administração pública, de

autoria ou não dos agentes públicos, vez que sendo o caso de terceiros que vierem

a cometer o mesmo ilícito juntamente com aquele, há a caracterização deste ter

praticado a improbidade, sendo incurso no mesmo dispositivo legal, onde subsiste

durante o exercício de função pública ou decorrente dela, pela violação aos

princípios da moralidade, impessoalidade, economicidade e enriquecimento ilícito.

A pena para quem incorre nesta prática absurda ao Estado como um todo,

sendo decisão decretada por sentença eleitoral, posto que a sentença prolatada pela

justiça comum não gera efeitos para decretar a inelegibilidade, vez que esta

inelegibilidade advém da perda de uma das condições da elegibilidade, é a perda

dos direitos políticos, ou seja, o cidadão fica sem poder se candidatar por prazo

determinado.

3.2.3 Alistamento Eleitoral

Sendo outra condição de elegibilidade própria conforme a Constituição

Federal o alistamento eleitoral que é obrigatório, é o ato jurídico onde a Justiça

33

Eleitoral inscreve o indivíduo ou nacional na condição de eleitor, nascendo dessa

forma os direitos políticos como o de votar.

Como existe para os jovens o dever de alistar-se junto às forças armadas

para a defesa da Pátria, há também para o cidadão a obrigatoriedade no sentido de

adquirir à cidadania fazendo jus a participação a coisa pública, sendo este

alistamento um dever perante o Estado que se diz um direito subjetivo público.

Condizendo com o texto constitucional no seu artigo 14, § 1º, inciso I, são

alistáveis obrigatoriamente, os brasileiros natos ou naturalizados, alfabetizados,

maiores de 18 (dezoito) anos e menores de 70 (setenta) anos de idade. Nesse

mesmo liame são alistáveis facultativamente os brasileiros natos e naturalizados,

maiores de 16 (dezesseis) e menores de 18 (dezoito) anos, menores de 70 (setenta)

anos de idade e os analfabetos, conforme o inciso II, do artigo 14 do mesmo texto

legal.

Trazendo a baila o enunciado no texto do Código Eleitoral, ser incurso nos

seus artigos 5º e 42, há a suspensão ou perde dos direitos políticos com o

falecimento ou no momento em que deixa o eleitor de votar nas eleições por três

vezes consecutivas, sendo ainda conforme o artigo 71 do mesmo Código a

hermenêutica é de que o cancelamento da inscrição eleitoral trás efeito jurídico.

Em suma, alistado o cidadão na Justiça Eleitoral além do direito de voto,

nasce também o direito de ser votado, daí para o desenvolvimento e desenrolar de

uma coletividade é preciso a busca de seus interesses, a busca pela voz, pelos

direitos elencados no norte da Constituição Pátria como nas demais normas legais,

evidenciando assim o direito de votar, votar em cidadão que sua função nada mais é

de colocar na prática o que se há positivado, onde compreende duas vertentes, o

direito de ser votado e o cumprimento do mandato eletivo.

3.2.4 Domicílio eleitoral na circunscrição

Conforme Ilustríssimo Professor Procurador da República Roberto Moreira de

Almeida, autor da Obra “Direito Eleitoral” p. 173:

Conceituar domicílio eleitoral é uma questão bastante discutida”, o Código Eleitoral define que “para efeito da inscrição é domicílio o

34

lugar de residência ou moradia do requerente, e, verificado ter o alistando mais de uma, considerar-se-á domicílio qualquer uma delas.

Igualmente estabelece o Código Civil de 2002 quando define domicílio comum

a pessoa natural onde há animus definitivo deste em determinado lugar estabelecer

sua moradia como fixa, ou se, se tratar de diversas residências para a Justiça

Eleitoral será domicílio deste qualquer uma delas.

Sabe-se que no âmbito do Direito Eleitoral o conceito de domicílio é bem mais

amplo do que conceituado no novel Código Civil de 2002, em seu artigo 70 usque

74. A natureza do conceito se traduz do espiral político que envolve a matéria, como

se percebe no entendimento jurisprudencial onde admite que vínculos patrimoniais,

afetiva, profissional, funcional, comercial, traduzem a livre escolha, pelo cidadão, de

um domicílio diferente do lugar de sua residência ou moradia.

Aponta o Código Eleitoral, em seu art. 42, parágrafo único, a quarta condição

de elegibilidade própria para o candidato, quando preceitua que "para o efeito da

inscrição, é domicílio eleitoral o lugar de residência ou moradia do requerente, sendo

verificado o alistando possuir mais de uma, considerar-se-á domicílio qualquer

delas", neste sentido tem a jurisprudência entendido que, é comprovação de

domicílio eleitoral, todo e qual for o tipo de vínculo que prenda, determinadas

pessoas à localidade de exercício eleitoral, ampliando o conceito de domicílio para

fins de alistamento eleitoral.

Sendo assim esta quarta condição de elegibilidade própria de domicílio

eleitoral na circunscrição, ver-se como área de abrangência de determinada zona

eleitoral, a qual deverá albergar o eleitor que naquele espaço geográfico

correspondente tiver seu domicílio.

Nada obstante percebemos nas jurisprudências dos Tribunais a amplitude

desse conceito, passando um entendimento de residência ou moradia muito além do

conceito que estar disposto no Código Eleitoral.

Em acórdão proferido pelo Tribunal Superior Eleitoral - TSE nos mostra, com

veemência e clareza, que um cidadão pode fixar residência em local determinado

como também possuir por manter vínculo com atividades comerciais, funcionais ou

decorrentes de atividades profissionais outros tipos de domicílio, onde ao seu critério

poderá pedir transferência de seu domicílio eleitoral para outro lugar. Dessa feita, os

35

Tribunais têm ampliado o alcance desse conceito, indo muito mais além do conceito

de residência ou moradia, conforme aludido no Código Eleitoral.

3.2.5 Filiação partidária

Fulcrado na Lei nº 9.096, de 19 de setembro de 1995, e na Resolução nº

19.406, de 05 de dezembro do mesmo ano, quem poderá filiar-se a partido político

será somente o eleitor que estiver no pleno gozo de seus direitos políticos, sendo

esta condição até mesmo para fazer jus ao direito de se candidatar a qualquer cargo

eletivo, onde para haver esta candidatura deverá está filiado pelo menos um ano

antes do pleito.

Na prática, para essa inscrição em partido político, é preciso que o eleitor se

dirija à sede do partido ao qual queira filiar-se com seu título de eleitor preenchendo

uma ficha de filiação, em modelo de autoria padrão do partido. Preenchido estes

requisitos será feito a avaliação de deferimento no âmbito partidário, onde, posterior

informação à Justiça Eleitoral.

O transcrito acima estar contido na Lei Orgânica dos Partidos Políticos nº.

9.096, de 19 de setembro de 1995, como em muitas outras normas que

regulamentam o assunto, onde em seus artigos 16 usque 18 assim rezam:

Art. 16. Só pode filiar-se a partido o eleitor que estiver no pleno gozo de seus direitos políticos.

Art. 17. Considera-se deferida, para todos os efeitos, a filiação partidária, com o atendimento das regras estatutárias do partido.

Parágrafo único. Deferida a filiação do eleitor, será entregue comprovante ao interessado, no modelo adotado pelo partido.

Art. 18. Para concorrer a cargo eletivo, o eleitor deverá estar filiado ao respectivo partido pelo menos um ano antes da data fixada para as eleições, majoritárias ou proporcionais.

Conforme a Constituição Federal de 1988 existem eleitores que são

impedidos de se filiar-se em partido políticos por motivo de estarem desempenhando

função em órgão público, seja por estar na ativa nas forças armadas, como: os

militares conforme o artigo 142, § 3º V; membros do Ministério Público, artigo 128, §

36

5º II “e”; juízes, artigo 96 parágrafo único, III; membros do TCU, artigo 73 §§ 3º e 4º;

membros da Defensoria Pública, artigos 46, V, 91, V e 130, V, da LC nº. 80/94 e

serventuário de Justiça Eleitoral, artigo 366, este do Código Eleitoral.

Relevante frisar que filiação partidária pertence à matéria interna dos partidos

políticos, sendo que os órgãos de direção, incumbe a criação de normas para dar

tratamento tanto as causas de extinção do vínculo partidário como o possível

deferimento da filiação. Nada obstante à Justiça Eleitoral cumpre após a informação

passada pelos partidos políticos do deferimento desta filiação o arquivamento e

publicação dessas informações recebidas, como também o controle e fiscalização do

cumprimento de filiação partidária e dos prazos para efeito de registro de

candidatura.

E, por derradeiro quanto à filiação partidária, em 2009 a Justiça Eleitoral

implantou com a finalidade em dar mais segurança, agilidade e comodidade aos

partidos políticos, um sistema eletrônico de inscrição partidária de informação à

Justiça Eleitoral titulado em FILIAWEB, onde o representante do partido político

interessado e habilitado onde poderá ter acesso de qualquer terminal de internet por

meio de senha obtida na Justiça Eleitoral, poderá praticar em todo o território

nacional as operações e atos relacionados à filiação partidária com essa finalidade.

3.2.6 Idade mínima exigível

E por derradeiro dos quesitos trazidos e exigidos pela Constituição para

configurar a elegibilidade os candidatos que assim o buscam tem-se o requisito da

idade mínima exigida para determinados cargos públicos, onde se exige 35 anos

de idade para aqueles candidatos que queiram se candidatar aos cargos de

Presidente e Vice-Presidente da República e Senador; 30 anos para Governador e

Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal; 21 anos Deputado Federal,

Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito e Vice-Prefeito; e, 18 anos para Vereador.

Segundo alguns doutrinadores apontam quanto à idade exigível que no § 2º

do art. 11 da Lei nº 9.504/97, pondera uma duvidosa constitucionalidade, visto que

37

essa exigência é aderida no momento da posse do cargo eleitoral, transcrita a

seguir, ipses literis:

"§ 2º A idade mínima constitucionalmente estabelecida como condição de elegibilidade é verificada tendo por referência a data da posse" - grifos inautênticos

Ainda sobre esta condição própria de inelegibilidade alguns doutrinadores

acreditam que “o legislador ordinário não pode, de maneira alguma, transformar uma

condição de elegibilidade, que é a idade mínima, em mero pressuposto de

investidura no cargo, ou posse, como o fez no citado dispositivo. O registro de

candidatura é o elemento que põe o cidadão em condições de elegibilidade, e é até

este momento que deve o pretenso candidato demonstrar se possui a idade mínima

exigida para pleitear o cargo em vista. Flagrante, portanto, nos termos destas

argumentações, a inconstitucionalidade deste comando legal”1.

3.4 DA AUTO-INELEGIBILIDADE – “FICHAS-SUJAS”

Quanto ao Projeto de Lei de Iniciativa Popular mais conhecido como “Ficha

Limpa”, cuja com a sanção presidencial aonde virá como força de Lei, dispõe acerca

da moralidade eleitoral ante a vida pregressa de candidatos à cargos eletivos, sendo

que, com a prática dos crimes ali tipificados possuem como conseqüência a

cassação do registro de candidatura ou do diploma, razão pela qual o candidato fica

impedido de disputar o pleito eleitoral.

Quanto à inelegibilidade dos candidatos “fichas-sujas”, em tese, isso se dar a

partir do momento em que a futura Lei impedir a pré-candidatura dos indivíduos ou

parlamentares no qual foram condenados ou respondem a processos criminais ou

por improbidade administrativa.

Neste diapasão, quando se fala em “os que tenham sido” (é exatamente o

que o Projeto em comento trazia em seu texto original) que dar a ideia de candidatos

1 BARROS, Felipe Luiz Machado. Apontamentos acerca das condições de elegibilidade e das

medidas jurídicas cabíveis na processualística eleitoral . Jus Navigandi, Teresina, ano 4, n. 43, jul. 2000. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1517>.

38

que já tenham processos judiciais e foram devidamente condenados com o transito

em julgado da sentença condenatória, isso valendo tanto na esfera penal como

eleitoral. Em desarmonia com o texto original ao ser analisado foi modificado no

Senado Federal, onde teve a seguinte redação: “os que foram condenados”

modificação esta feita pelo senador da República (...) que segundo ele não fez mais

do que pôr os sentidos verbais apenas em harmonia. O que não aconteceu.

Ainda segundo o senador, essa mudança se deu para resolver o problema

do tempo no verbo, eles optaram por colocar o tempo verbal no futuro para

harmonizar o texto com o da Lei Complementar 64, que também trata de casos de

inelegibilidade. Além disso, informou ainda que, outro artigo do Projeto de Lei

518/09 “Ficha Limpa” já trata dos casos do passado, quando explica que o

candidato conseguirá efeito suspensivo para a lei quando recorrer e conseguir

decisão de órgão colegiado.

Segundo Cândido Vaccarezza (PT-SP) líder do governo na Câmara dos

Deputados, afirmou que a mudança na redação, feita para adequar os “tempos

verbais” como feito pelo Nobre senador (...), modifica o sentido do texto. Não

obstante, Vaccarezza ressaltou ainda que dificilmente um deputado teria coragem

de questionar a mudança feito no senado e pedir o retorno do Projeto à Câmara,

vez que, um “clima emocional” se formou em torno da questão. Como a emenda foi

considerada apenas de redação como informado pelo senado, a futura nova Lei

seguiu direto para sanção presidencial onde deve valer ainda para as eleições

deste ano.

Em entendimento sobre este embate, segundo o jurista Marcello Lavenéri,

os questionamentos sobre a futura Lei do “Ficha limpa” são infundados e podem

ser sanados pelos próprios juízes quando receberem processos relativos à

suspensão de candidaturas. Segundo ele “Cabe ao Poder Legislativo fazer a lei. E

cabe ao Poder Judiciário interpretá-la e aplicá-la da melhor maneira possível.

Temos consciência de que os advogados dos candidatos que forem impedidos de

se candidatar vão alegar que a lei é inconstitucional, que é confusa, entre outras

coisas. Mas acreditamos que o Poder Judiciário dará a essa futura Lei a melhor

interpretação possível, considerando que ela traz os anseios da população.”

39

Dessa sorte, o que nos deixa “aliviados” é que, estes tipos de iniciativa

popular, a Nação estará “andando” no caminho certo, elegendo uma pessoa para a

representatividade dentre vários candidatos de reputação ilibada e de moral

incontestável, que ao receberem um mandato eletivo o exercerão com presteza, com

compromisso a máquina administrativa, na busca de sanar os anseios do bem

comum.

40

4.DOS CRIMES TIPIFICADOS NO PROJEO DE LEI 518/09

4.1 DA PLURALIDADE DE CRIMES

O Projeto de Lei de iniciativa popular em comento que irá modificar a Lei nº.

64 de 18 de maio de 1990 amplia o quantitativo de crimes no sentido de fazer um

filtro de cidadãos incursos e possíveis candidatos a mandato eletivos, dessa feita

evidenciando sua inelegibilidade.

Este necessário e feliz Projeto, de autoria popular de mais de um milhão e

meio (contando com as colhidas via internet ultrapassa os quatro milhões) de

assinaturas dos eleitores da federação onde temos a esperança de que se torne Lei

e que irá viger já nestas eleições de 2010, em primeiro momento amplia os prazos

de inelegibilidade para 8 (oito) anos de políticos que tiveram suas condutas

desviadas, sendo condenados e cassados pela Justiça Eleitoral onde antes ficariam

inelegíveis até 3 (três) anos consecutivos, agora com a aplicação destes dispositivos

este prazo passa para 8 (oito) anos, ou seja, dois pleitos sucessivos. Contudo já

havia sido modificada a Lei das inelegibilidades na recente reforma feita pela Lei

Complementar nº. 81, de 13 de abril de 1994, mais precisamente na alínea “b” do

inciso I do artigo 1º, onde por falta de decoro parlamentar o parlamentar fica 8º(oito)

anos inelegível.

Ademais, além de previsto também na Constituição Federal em seu Artigo 5º

nos incisos XLII e XLIII, o Projeto “Ficha-limpa” trás em seu texto legal os crimes no

qual deixa os candidatos inelegíveis para pleitearem cargo de mandatos eletivos

àqueles que respondem a processos judiciais pela prática dos crimes de tortura,

tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, terrorismo e dos crimes

hediondos e de racismo, todos estes previstos do artigo 5º da Constituição, e que,

perante a gravidade que destes tipos penais, além de serem imprescritíveis são

inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia.

De mesma sorte, o mesmo se aplica em relação aos crimes contra os

costumes, o patrimônio público, a administração pública, a economia popular, a fé

pública, o meio ambiente, a saúde pública, o mercado financeiro, aos crimes dolosos

contra a vida, aos de abuso de autoridade, aos eleitorais, de lavagem ou ocultação

de bens, direitos e valores, de exploração sexual de crianças e adolescentes e de

utilização de mão-de-obra escrava ou em relação à ação cível por improbidade

41

administrativa, sendo o parlamentar incurso em qualquer desses tipos, será ele

repelido de suas funções preventivamente durante todo o desenrolar do processo

cível ou criminal, ainda após o cumprimento da pena terá o prazo de 8 (oito) anos

sem que haja seu retorno no âmbito eleitoral, ficando ainda suscetível de, proferida

decisão absolutória ficará prejudicado.

Traz ainda o Projeto de Lei Complementar a previsão de causas de

inelegibilidade frente as práticas de captação de sufrágios, prevista no artigo 41-A da

Lei 9.504/97, como também das condutas vedadas a agentes públicos durante o

período eleitoral, descritas no artigo 73 da mesma lei sendo ainda da captação ou

gastos ilícitos de recursos para financiamentos de campanhas eleitorais, emendada

pela Lei 11.300 de 2006 que originou o artigo 30-A da Lei das Eleições.

Em se tratando da renúncia dos mandatos por Presidente da República,

Governador de Estado e do Distrito Federal, Prefeito, membros do Congresso

Nacional, das Assembléias Legislativas, da Câmara Legislativa e das Câmaras

Municipais, positiva o Projeto de Lei se constituirá causa de inelegibilidade

independentemente da motivação, visando, destarte, inibir a nefasta prática

utilizada, por previsão legal, para a fuga das responsabilizações perante os

julgamentos de ética pelas casas legislativas, ou seja, quando há a abertura de

processo disciplinar para apurar e julgar o parlamentar que praticou conduta vedada

à de seus deveres fronte a representatividade sendo que ele renuncia o mandato

para não incorrer nas penalidades prevista em Leis próprias estará incorrendo no

previsto no Projeto de Lei “Ficha limpa” ficando inelegível no prazo de dois mandatos

sucessivos, 8 (oito) anos.

Todo o exposto acima, de prevenção, moralização, tipificação e penalização,

visa nada mais do que dar um “chega” nas inúmeras candidaturas viciosas que só

trazem retrocesso para o País, em especial, em que pese a firme atuação da Justiça

Eleitoral, aplaudida por todas as classes da sociedade brasileira e vivenciada pelos

profissionais que a compõe e que a militam.

42

5.DIREITO ELEITORAL X CANDIDATOS FICHAS-SUJAS

5.1 CORRUPÇÃO ELEITORAL E SEUS REFLEXOS

Corrupção vem do latim “corruptus”, que significa quebrado em pedaços. O

verbo corromper significa “tornar pútrido”, ou seja, tornar corrupto, poder,

pestilencial.

Corrupção para muitos doutrinadores existem inúmeros significados, indo a

um mesmo sentido. A corrupção pode ser definida segundo Flávia Schilling na sua

tese de doutorado no Departamento de Sociologia da FFLCH da USP, como:

“Corrupção é um conjunto variável de práticas que implica trocas entre quem detém poder decisório na política e na administração e quem detém poder econômico, visando à obtenção de vantagens ilícitas, ilegais ou ilegítimas para os indivíduos ou grupos envolvidos”. (SCHILLING, 1999. p. 15 – 17).

Neste sentido a corrupção é a utilização do poder ou autoridade para

conseguir obter vantagens, no sentido de fazer uso do erário para o seu interesse

particular, sendo ainda de um integrante familiar ou terceiro. Sabemos que a

corrupção no nosso País é assombroso, e, segundo alguns doutrinadores no Direito

brasileiro corrupção existem 2 (dois) significados, são estes: perversão, que

significa induzir à libertinagem, como por exemplo acontece no crime de corrupção

de menores (art. 218 do Código Penal). E suborno, onde se tem o sentido de

suborno mesmo – é pagar ou prometer algo não devido para conseguir a realização

de ato de ofício. Nas duas hipóteses tem o mesmo significado de corromper ou ser

corrompido onde dá a acepção de propiciar ou aceitar a vantagem.

A corrupção é crime. Nesse sentido estão tipificados no Código Penal mais

precisamente nos artigos 333 e 317, como crime a corrupção ativa e a corrupção

passiva, em que pese como também em todo o nosso ordenamento jurídico, essa

prática nojenta se faz presente. Abaixo veja alguns itens que revelam essas práticas

que só causa a retroatividade do País.

Aceitar e solicitar recursos financeiros para obter um determinado

serviço público, retirada de multas ou em licitações favorecer determinada empresa.

Favorecer alguém prejudicando outros.

43

Desviar verbas públicas, dinheiro destinado para um fim público, e

canalizado para as pessoas responsáveis pela obra.

Até mesmo desviar recursos de um condomínio.

Isso caracteriza corrupção. Não obstante a corrupção eleitoral que nos

últimos anos só cresceu em nosso País. Dentre muitas práticas de corrupção, a

corrupção eleitoral é a que mais revolta, que nos deixa com um sentimento de

impotência e que nos leva a descrença de que o lugar onde vivemos sempre

continuará neste ciclo vicioso devido esse “bando” que de tanta falta de moral e sem

credibilidade “dirigem” a nossa Pátria Amada.

Já bastante estudada e questionada essa prática vergonhosa se defini que

toda sociedade corrupta sacrifica a camada pobre, onde esses dependem

diretamente e puramente dos serviços públicos, sendo que com a corrupção

andando junto é bem difícil suprir todas as necessidades sociais como infra-

estrutura, saúde, educação, previdência e outros. Com essa prática os recursos

arrecadados por nós mesmos que seriam para investir nas necessidades básicas da

população são desviados para contas e mais contas fora do País onde o reflexo

disso tudo se vê na evasão escolar, no menor abandonado, nos aposentados

mendigando nas ruas, a violência que se ratifica assombrosamente, as moradias

sub-humanas que cresce a cada ano. Isto são apenas alguns exemplos trazidos

como há de haver este Brasil de mais de 183,9 milhões de habitantes muitas e

muitas mazelas trazendo um retrocesso terrível para a Nação.

Destarte para vermos de perto o terrível reflexo que a corrupção nos leva é só

procurarmos saber o que as pesquisas nos trás e nos dignemos quando entramos

nas escolas e vermos a evasão escolar causado este por vários fatos como a mal

remuneração ao Professor e principalmente as condições estruturais de quase

impossível para o atendimento dessas crianças ou adolescentes. A corrupção

também é causadora de má prestação dos serviços na saúde pública quando não

existe médico, não há lugar para acomodar o “paciente” ou falta equipamentos

necessários para propiciar o atendimento necessário obrigatório e albergado pela

Constituição.

44

Quando um político ao governar governa sem transparência em sua

administração é bem provável que haja ou que incentive essa prática tão repugnante

que é a corrupção. Infelizmente não existe país nenhum do mundo com corrupção

zero, embora os países ricos democráticos tenham menos corrupção, devido sua

população ser mais esclarecida acerca dos seus direitos como cidadão, assim sendo

mais difíceis de serem enganados.

Existem países que tratam a prática da corrupção com tolerância zero onde a

pena para esse tipo de crime custa a própria vida. Em outros países a corrupção é

penalizada com a prisão imediata do “pilantra” caindo sobre ele além de ser

colocado em situação vexatória perante a sociedade será tolhido sua liberdade por

um bom tempo de reflexão.

Infelizmente o que acompanhamos nos noticiários quanto a punição destes

“fichas-sujas” de colarinho branco é a impunidade (sem generalizar), impunidade

esta que faz crescer o desanimo na população na busca de justiça, na busca de Leis

eficazes que combatam essa prática nojenta, imoral, atrasada e inescrupulosa como

muito bem refletido pelo nosso Saudoso Eminente Jurista Rui Barbosa em uma de

suas citações:

“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantar-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e ter vergonha de ser honesto”.

A corrupção eleitoral provoca indignação e desperta nos cidadãos o

sentimento de que algo deve mudar na política brasileira, mas a mudança deve

começar na história de vida dos nossos futuros representantes, seja nas mais

remotas das cidades a de maior conjuntura organizacional.

Sabemos que a iniciativa popular é um instrumento da democracia

participativa garantido na Constituição Federal de 1988, por meio dela qualquer

cidadão pode intervir no processo legislativo brasileiro propondo novas leis para o

País. O Projeto de Lei nº. 518/09 apresentado pela campanha “Ficha limpa”

pretende alterar a Lei Complementar nº 64 de maio de 1990, incluindo novos casos

45

de inelegibilidade, ou seja, serão estabelecidos novos critérios para quem não pode

se candidatar.

Este Projeto é um desses instrumentos que veio para tentar ajudar a

proporcionar ao País o desenvolvimento preciso ante a corrupção que assola os

quatro cantos desse Brasil. Saber o que o candidato realizou durante sua vida

parlamentar dar mais confiança ao eleitor, tanto que a própria Constituição Federal

exige a edição da Lei Complementar 64 incluindo novos casos em que alguém não

poderá se candidatar, até agora o Congresso não regulamentou a matéria, o MCCE

como representante da sociedade civil organizada tomou a frete e lançou essa

campanha intitulada em “Ficha limpa” que já estar na reta final de sua aprovação

para se tornar Lei.

Entretanto, não basta que o Projeto tome o patamar de Lei, é também preciso

que a sociedade fiscalize sua devida aplicabilidade, ter como exemplo a primeira Lei

de iniciativa popular Lei nº. 9840, que proíbe a compra de votos e o uso eleitoral da

máquina administrativa, onde resultou apenas nas eleições de 2008 a bagatela de

mais de 350 (trezentos e cinqüenta) políticos cassados com base nesta Lei, mas a

construção de uma política mais honesta não depende só do número de cassações,

é preciso moralizar o perfil daquele que se candidatam ao poder, agindo assim

estamos prevenindo cassações futuras, como também não basta só fiscalizar e

denunciar, com essa futura Lei em vigor a sociedade quer poder votar em

candidatos confiáveis, candidatos “fichas limpas”.

5.2 PRIMEIRO DOMINGO DE OUTUBRO, DIA DO ELEITOR

Como afirmado no título acima “primeiro domingo de outubro, dia do eleitor”,

verifica-se que neste dia o cidadão viabiliza, pelo menos teoricamente, os seus

direitos constitucionais. Todavia a colocação deste título não está aqui por acaso.

Aqui pretende-se fazer uma crítica que levanta a seguinte questão: na prática, “o

primeiro domingo em ano eleitoral” é o ponto culminante de um direito emanado da

nossa Lex Mater, o qual para o cidadão é atribuído quando atinge a idade eleitoral

facultativa? Este dia seria o auge do direito de exercer a democracia no intuito de

melhor escolher um candidato possuidor de credibilidade em sentido latu sensu ante

46

a Justiça Eleitoral para ser possuidor de um mandato à representatividade,

concebido pelo próprio eleitor?

Ao sul do que se mostra no parágrafo anterior o que se observa nas histórias

das eleições no País é um verdadeiro atentado a Constituição Federal Promulgada

de 1988, não obstante às diversas normais descritas: Código Eleitoral, Lei das

Inelegibilidades e a Lei da Compra de Votos, onde se ver nos noticiários um aviltante

bombardeio de práticas provenientes de parlamentares escrupulosos, malfeitores,

vigaristas, pilantras, corruptos e, acima de tudo “Fichas-sujas”, exploradores dos

recursos oriundos dos impostos que nós mesmos eleitores contribuímos todos os

dias para o desenvolvimento do País.

É aviltante o que realmente acontece na prática no primeiro domingo de

outubro, dia do eleitor, sendo de curial sabença de todos envolvidos na política

podre das mais remotas aos centros urbanos mais populosos e desenvolvidos das

regiões da Federação, onde, o político ou candidato “ficha-suja” prepara um

verdadeiro exército para “trabalhar” neste dia, o qual é dividido por equipes que

desempenharão funções distintas.

O eleitor é contatado durante as campanhas que antecedem o dia da

apuração da democracia, do “primeiro domingo” - isso suscetível a cada dois anos

das eleições - o eleitor “para fazer valer um direito constitucional em prol do bem

estar da comunidade”, espera a equipe que compõe a “força de trabalho” - exército -

em sua residência, onde é levado à sua zona eleitoral para que cumpra com os seus

direitos e deveres como cidadão. Onde, ao votar no candidato ou político

patrocinador, a equipe segue com o eleitor para uma casa estratégica onde é

recepcionado por outra equipe que lhe oferecerá um “pagamento” por mais um voto

comprado, seguindo logo após de volta à sua residência onde se tem a sensação de

dever cumprido.

Destarte a “bajulação” com que é tratado o cidadão/eleitor pela equipe e

principalmente pelo candidato que estranhamente abre todas as portas neste dia,

“dia que é de curial relevância para o desenvolvimento da nossa Nação”, é

repugnante. Verifica-se que, com o seu ato, o cidadão, além de estar se

prejudicando, põe a sociedade, como um todo a mercê da carência na saúde

(hospitais e mais hospitais sucateados ou que após iniciação de construção nunca

foram concluídos), segurança (onde vivemos a cada dia sem perspectiva de

melhora), a moradia e inúmeros outros direitos violados.

47

Sendo ainda infelizmente atribuída a função de representatividade ao

indivíduo que ao ser candidato ao pleito já o faz “as margens da Lei” ferindo as

normas albergadas pelo nosso ordenamento jurídico, proveniente da exploração,

das falsas promessas, do abuso de poder, manipulação da maquina pública e da

compra de votos, cometido por esses “bandidos da política” os taxados como

“fichas-sujas”.

O convencimento dos eleitores não pode ser feito através de subterfúgios e

métodos escusos, obscuros, duvidosos, por meio de técnicas que tragam o

desequilíbrio e a disparidade da disputa entre os candidatos e que maculem a

liberdade de escolha dos cidadãos.

Com o surgimento desse Projeto de iniciativa popular onde houve e ainda se

observa o imane debate em torno de diversas questões onde já começou a mudar

este cenário da política nacional e que só tem de melhorar, que começa com a não

candidatura desses políticos, pré-candidatos políticos, ou seja, os que forem “fichas

sujas”, vez que, antes de tudo o Projeto “Ficha limpa” tem um caráter de

natureza preventivo não permitindo êxito aos candidatos ou políticos que

explorem através da compra de votos – o que acontece em todos os “primeiros

domingos de outubro, dia do eleitor” – a liberdade do eleitor na hora de exercer um

direito constitucional.

Além dos inúmeros benefícios trazidos pelo Projeto 518/09 “Ficha Limpa” já

aprovado por unanimidade nas Casas do Congresso Nacional onde aguarda agora

nada mais do que a sanção presidencial para começar a viger no País. Não

deixemos de comentar os grandiosos préstimos à sociedade que poderá trazer as

Cortes Supremas através do Poder Judiciário, que irá propiciar no ano todo visando

este dia: “dia do eleitor”, além da liberdade com que os cidadãos/eleitores terão na

hora de exercer seu direito de sufrágio a escolher entre muitos candidatos “fichas

limpas” o mais adequado que julgar para atribuí-lo um mandato eletivo de 4

(quatro) anos às suas representatividades, a soberania de exercer este direito

constitucional de maneira correta, convicto e principalmente respeitando nossa

Constituição Federal.

48

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Constituição Federal de 1988 atribuiu aos eleitores o direito de apresentar

projetos para complementação de Leis já existentes, com base no artigo 14 § 9º. A

promulgação da Carta Democrática foi um fato histórico para o País. Hoje, passados

22 (vinte e dois) anos após a promulgação, a título exemplificativo podemos citar a

aprovação de seguintes Leis como conquistas: Lei Complementar nº. 64, de maio de

1990; Leis das Inelegibilidades, nº. 9.096 de 1995; Leis dos partidos políticos, nº.

9.504 de 1997; Leis das eleições, nº. 9.840 de 1999; Lei da compra de votos, nº.

11.300 de 2006.

A vitória mais recente é o Projeto de Lei Complementar nº. 518/09, conhecido

como “Ficha Limpa”, aprovado pelo Senado Federal, no dia 19 de maio de 2010,

quando foi proferido o resultado da votação pelo Senador da República, in verbis:

“...encerrada a votação, vamos proclamar o resultado: 76 (setenta e seis) votante: nenhuma abstenção, nenhum voto não, 76 (setenta e seis) votos sim. Está aprovado o Projeto Ficha Limpa, nesta sessão histórica para o Senado Federal, para o Congresso Nacional e para o Brasil. Parabéns ao povo brasileiro!”

Por conseguinte, o Projeto que foi encaminhado para sanção do Presidente

da República, pretende vetar pedidos de candidaturas ao pleito eleitoral de cidadãos

ou políticos com sentença condenatória proferida por órgão colegiado, por crimes

cujas penas sejam superiores a 2 (dois) anos de prisão nos casos em que houver

dolo, ou seja, houver o animus de cometer o crime, (alteração feita através do seu

substitutivo, vez que o texto original trazia condenação em qualquer instância).

Entretanto, há de se frisar que não existe na prática, no Brasil, o lugar em que

se reúne o referido colegiado de Juízes. Logo, supõe-se que o texto legal esteja se

referindo mais especificamente ou indiretamente à segunda instância. Com isso, a

expressão “órgãos colegiados” parece ser adotada de modo que fere a

susceptibilidade dos juízes de primeiro grau. Levanta-se, então a indagação: o

impedimento de candidatura dos “fichas-sujas” valeria tão somente a partir de

quando os processos contra estes passarem a tramitar em segunda instância? Outra

questão importante é se a decisão colegiada de juízes, para o caso dos que querem

49

disputar as eleições, se daria numa sessão extraordinária ou já seria considerada a

sessão ordinária mesmo, sendo a decisão definitiva daquela instância? Tais

indagações são de suma importância diante de um fato que deve se evitar e que

infelizmente se repete no cenário jurídico nacional: a punição dos inocentes e o

beneficiamento dos culpados.

Verificou-se ainda, durante o decorrer desse trabalho monográfico, que o

prazo de inelegibilidade que era de 3 (três) anos, passa a ser de 8 (oito). Ademais,

mesmo o político que renuncia ao mandato eletivo para tentar “fugir” da cassação,

sofre as penalidades da futura Lei “Ficha limpa”, se for comprovado que este tenha

praticado ato diverso da sua verdadeira finalidade, que é representar idoneamente o

povo nas Casas do Congresso Nacional.

Dessarte, incorrerem nos tipos albergados pelo Projeto o recebimento de

doações ilegais em campanhas políticas; abuso de poder; crimes contra o meio

ambiente e a saúde pública; podendo os políticos, que cometeram tais crimes,

perder o direito à candidatura, se condenados.

Frisa-se que um dos destaques do texto da futura Lei é o direito de os

candidatos apresentarem um recurso que suspende temporariamente a decisão da

Justiça. Neste caso, o recurso deverá ser analisado pelo colegiado jurídico com

prioridade. Todavia, se a Justiça rejeitar a súplica recursal, o candidato perderá o

registro da candidatura de qualquer forma.

Para o relator da proposta na Câmara, o objetivo da citada medida é

assegurar o direito à ampla defesa, e impedir que os “fichas-sujas” usem recursos

apenas para “ganhar tempo” na Justiça.

Têm-se a perspectiva de que o Projeto “Ficha limpa” vai afastar da vida

política algumas pessoas que jamais deveriam se candidatar, além de dar mais

transparência ao Poder Legislativo.

Consoante o ilustre Carlos Ayres Brito, ministro vice-presidente do Supremo

Tribunal Federal, o Projeto “Ficha Limpa” é uma lei de iniciativa popular que vem

para revolucionar a política:

“A exigência de uma vida pregressa eticamente limpa para os políticos paraibanos já se fazia necessária há muito tempo. Esta aprovação, portanto, foi muito boa e vem em boa hora, portanto, o

50

projeto é uma providencial „vitória da população‟, que chegou para moralizar ainda mais a vida pública”2

Ainda segundo o ministro, só depois o TSE vai analisar se a lei já valerá para

as eleições próximas de 2010 ou se entrará em vigor apenas em 2010.

Destaca-se que é aviltante o que se é noticiado quanto à política nacional

onde, o que não dá para entender é como um político desonesto, explorador dos

recursos públicos, noticiado nos meios de comunicação, continua no cargo, agindo

em dissonância com a Lei, à margem da punibilidade fora do alcance dos auspícios

da Justiça.

Com o passar do tempo estas práticas corruptas e imorais só aumentam,

com escândalos e mais escândalos envolvendo políticos. Não se sabe o porquê da

Justiça Eleitoral nada fazer para tirá-los de lá, para dar um basta aos políticos

desonestos, ímprobos e corruptos. Com efeito, o sentimento de estar sendo

enganado aumenta, bem como o de que não adianta denunciar, pois quem tem

poder aquisitivo nunca é preso, nem tem a candidatura vedada ou o mandato

cassado, imperando a idéia de descrença na Justiça do País.

Todos estes escândalos fez surgir na sociedade um sentimento de revolta

contra atos absurdos e criminosos praticados por aqueles que deveriam velar pela

probidade administrativa, pelo melhor zelo para com a administração pública. A

revolta popular se dá, primordialmente pela impunidade com o que age a Justiça.

As pessoas do povo estão à mercê dos interesses particulares desses

homens escolhidos para representatividade, onde a realidade só é de inconformismo

e de indignação. Para quebrar este círculo vicioso, surgiu um Projeto de iniciativa

popular, com mais de um e meio milhão de assinaturas colhidas, o chamado Projeto

de Lei “Ficha Limpa” está à espera da sanção presidencial, na expectativa de que

com a criação de uma nova Lei, estes “políticos” que vierem a cometer práticas

enojadas de desrespeito ao ordenamento jurídico pátrio sejam verdadeiramente

punidos.

É possível sonhar que, com a vigência da Lei Ficha Limpa, restarão

rechaçadas e repelidas todas as condutas abusivas e imorais que atualmente

2 Entrevista exclusiva à Rede Paraíba Sat.

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assolam os quatro cantos do Brasil, banindo-se de uma vez do seio da sociedade os

considerados políticos “fichas-sujas”, que, ao invés de exercerem suas funções com

base nos princípios basiladores da Constituição e da administração pública

buscando o desenvolvimento social, só realizam atos e práticas que levam ao

retrocesso do País.

Desse modo, com mais uma criação da futura Lei “Ficha Limpa” para compor

o ordenamento jurídico eleitoral brasileiro onde se fez necessário para “tapar”

brechas encontradas pelos políticos do nosso País o que se busca vedando

candidaturas de pré-candidatos e políticos “fichas-sujas”, propondo a sociedade

eleições “limpas” mais justas, com candidatos de conduta confiável, onde terá o

eleitor hoje a oportunidade através do direito que é de votar fazer a democracia aos

cidadãos de amanhã.

O Projeto de Lei Complementar “Ficha limpa” foi sem dúvidas um avanço

importante para a democracia brasileira, posto que prestigiou o princípio da

moralidade. O texto legal foi aprovado pelo Congresso Nacional em um momento

extremamente oportuno, porque permite que se possa fazer a melhor escolha

possível. Diante do exposto, os partidos estão na obrigação moral de escolher os

melhores candidatos em termos de antecedentes, porque essa foi a manifestação

praticamente unanime do Congresso, que representa a voz do povo.

E, por derradeiro devemos sempre lembrar, que o processo de formação de

cidadãos inicia-se no berço, em casa, e deve ser formalizado na sala de aula

(quando defendemos a composição do relevante “Ensino da Constituição” às

escolas), onde tem, além de ensinar português e matemática, a função de, desde

cedo, criar uma consciência crítica, (onde criticar não é falar mal de alguém ou de

alguma coisa, e sim “olhar” o além do aparente), a função de transformar cidadãos.

Cidadãos este que irão conduzir os rumos do País, de maneira a preservar para as

gerações futuras um meio-ambiente equilibrado, uma sociedade harmoniosa, que

possa propiciar uma vida digna, com menos desigualdades.

Destarte com a inclusão do ensino à Constituição nas escolas, deixaríamos

de ser o analfabeto político, tão retratado por Brecht.

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REFERÊNCIAS

ANGHER, Anne Joyce (Org.) Vade Mecum academic de Direito. 6. Ed. São Paulo: Rideel, 2008.

ALMEIDA, Roberto Moreira. Direito Eleitoral. 1ed. Editora: jus PODIVM. 2009.

AZAMBUJA, Darcy. Introdução à ciência política. 5. ed. Rio de Janeiro: Globo, 1985.

BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Código eleitoral anotado e legislação complementar. 8. ed. rev. e atual. – Brasília : TSE, 2008a. ______. Tribunal Superior Eleitoral. Eleições 2008: instruções do TSE. 3. ed. Brasília: TSE, 2008b.

CÂNDIDO, Joel José. Direito eleitoral brasileiro. São Paulo: EDIPRO, 1998.

FRANÇA, L. de. Políticos devem se render às redes sociais. Veja.com, São Paulo, jun. 2009. Seção Brasil. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/eleicao- 2010-internet-redes-sociais-477459.shtml>. Acesso em: 24 ago. 2009.

PINTO, Ferreira. Código eleitoral comentado. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 1990.

COSTA, Adriano Soares. Instruções de Direito Eleitoral. 8ª Ed. p. 63”, 1996.

BARROS, Felipe Luiz Machado. Apontamentos acerca das condições de elegibilidade e das medidas jurídicas cabíveis na processualística eleitoral . Jus Navigandi, Teresina, ano 4, n. 43, jul. 2000. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1517>.

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ANEXO 1: PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR Nº 518 DE 2009

PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR Nº 518 DE 2009

Altera a Lei Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990, que estabelece, de acordo com o art. 14, § 9º da Constituição Federal, casos de inelegibilidade, prazos de cessação e determina outras providências, para incluir hipóteses de inelegibilidade que visam proteger a probidade administrativa e a moralidade no exercício do mandato.

O Congresso Nacional decreta:

Art. 1º - As alíneas “b”, “c”, “d” , “e” ,“f”, “g” e “h” do inciso I do art. 1º da Lei Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990, passam a vigorar com a seguinte redação: “ Art. “1º (...) b) os membros do Congresso Nacional, das Assembléias Legislativas, da Câmara Legislativa e das Câmaras Municipais, que hajam perdido os respectivos mandatos por infringência do disposto nos incisos I e II do art. 55 da Constituição Federal, dos dispositivos equivalentes sobre perda de mandato das Constituições Estaduais e Leis Orgânicas dos Municípios e do Distrito Federal, ou cuja conduta tenha sido declarada incompatível com o decoro parlamentar, independentemente da aplicação da sanção de perda de mandato, para as eleições que se realizarem durante o período remanescente do mandato para o qual foram eleitos e nos oito anos subseqüentes ao término da legislatura; c) o Governador e o Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal, o Prefeito e o Vice-Prefeito que perderem seus cargos eletivos por infringência a dispositivo da Constituição Estadual, da Lei Orgânica do Distrito Federal ou da Lei Orgânica do Município, para as eleições que

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se realizarem durante o período remanescente e nos 8 (oito) anos subseqüentes ao término do mandato para o qual tenham sido eleitos; d) os que tenham contra sua pessoa representação julgada procedente pela Justiça Eleitoral em processo de apuração de abuso do poder econômico ou político, para a eleição na qual concorrem ou tenham sido diplomados, bem como para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes; e) os que forem condenados em primeira ou única instância ou tiverem contra si denúncia recebida por órgão judicial colegiado pela prática de crime descrito nos incisos XLII ou XLIII do art. 5º. Da Constituição Federal ou por crimes contra a economia popular, a fé pública, os costumes, a administração pública, o patrimônio público, o meio ambiente, a saúde pública, o mercado financeiro, pelo tráfico de entorpecentes e drogas afins, por crimes dolosos contra a vida, crimes de abuso de autoridade, por crimes eleitorais, por crime de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores, pela exploração sexual de crianças e adolescentes e utilização de mão-de-obra em condições análogas à de escravo, por crime a que a lei comine pena não inferior a 10 (dez) anos, ou por houverem sido condenados em qualquer instância por ato de improbidade administrativa, desde a condenação ou o recebimento da denúncia, conforme o caso, até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após o cumprimento da pena; f) os que forem declarados indignos do oficialato, ou com ele incompatíveis, pelo prazo de 8 (oito) anos; g) os que tiverem suas contas relativas ao exercício de cargos ou funções públicas rejeitadas por irregularidade insanável e por decisão irrecorrível do órgão competente, salvo se esta houver sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciário, para as eleições que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes, contados a partir da data da decisão; h) os detentores de cargo na administração pública direta, indireta ou fundacional, que beneficiarem a si ou a terceiros, pelo abuso do poder econômico ou político apurado em processo, para a eleição na qual concorrem ou tenham sido diplomados, bem como para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes” Art. 2º - O art. 1º, inciso I, da Lei Complementar nº.64, de 18 de maio de 1990, passa a vigorar acrescido das seguintes disposições:

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“j) os que tenham sido julgados e condenados pela Justiça Eleitoral por corrupção eleitoral ( art. 299 do Código Eleitoral), captação ilícita de sufrágio (art. 41-A da Lei nº 9.504/97), conduta vedada a agentes públicos em campanha eleitoral (arts. 73 a 77 da Lei nº 9.504/97) ou por captação ou gastos ilícitos de recursos (art. 30-A da Lei nº 9.504/97), pelo prazo de 8 (oito) anos a contar da realização da eleição; l) o Presidente da República, o Governador de Estado e do Distrito Federal, o Prefeito, os membros do Congresso Nacional, das Assembléias Legislativas, da Câmara Legislativa, das Câmaras Municipais, que renunciarem a seus mandatos após a apresentação de representação ou notícia formal capaz de autorizar a abertura de processo disciplinar por infringência a dispositivo da Constituição Federal, da Constituição Estadual, da Lei Orgânica do Distrito Federal ou da Lei Orgânica do Município, para as eleições que se realizarem durante o período remanescente do mandato para o qual foram eleitos e nos 8 (oito) anos subseqüentes ao término da legislatura”; Art.3º - O inciso II do art. 1º. da Lei Complementar nº.64, de 18 de maio de 1990, fica acrescido da alínea “m”, com a seguinte redação: “m) os que nos 4 (quatro) meses que antecedem ao pleito hajam exercido cargo ou função de direção, administração ou representação em entidade beneficiada por auxílio ou subvencionada pelos cofres públicos.” Art. 4º. O art. 15 da Lei Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990, passa a vigorar com a seguinte redação: “Art. 15. Publicada a decisão que declarar a inelegibilidade do candidato, ser-lhe-á negado registro, ou cancelado, se já tiver sido feito, ou declarado nulo o diploma, se já expedido”. Art. 5º. O inciso XIV do art. 22 da Lei Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990, passa a vigorar com a seguinte redação: “XIV – julgada procedente a representação, ainda que após a proclamação dos eleitos, o Tribunal declarará a inelegibilidade do representado e de quantos hajam contribuído para a prática do ato, cominando-lhes sanção de inelegibilidade para as eleições a se realizarem nos 8 (oito) anos subseqüentes à eleição em que se verificou, além da cassação do registro ou diploma do candidato diretamente beneficiado pela interferência do poder econômico e pelo

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desvio ou abuso do poder de autoridade ou dos meios de comunicação, determinando a remessa dos autos ao Ministério Público Eleitoral, para instauração de processo disciplinar, se for o caso, e processo-crime, ordenando quaisquer outras providências que a espécie comportar.” Art. 6º - O inciso XV do art. 22 da Lei Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990, passa a vigorar com a seguinte redação: “Para a configuração do ato abusivo, não será considerada a potencialidade de o fato alterar o resultado da eleição, mas apenas a gravidade das circunstâncias que o caracterizam”. Art. 7º - A presente lei entrará em vigor na data da sua publicação.

Brasília, 29 de setembro de 2009.

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ANEXO 2: LC Nº 135, DE 4 DE JUNHO DE 2010.

LEI DA “FICHA LIMPA”

Presidência da República

Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI COMPLEMENTAR Nº 135, DE 4 DE JUNHO DE 2010

Altera a Lei Complementar no 64, de 18 de maio de 1990, que estabelece, de acordo com o § 9o do art. 14 da Constituição Federal, casos de inelegibilidade, prazos de cessação e determina outras providências, para incluir hipóteses de inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no exercício do mandato.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei Complementar:

Art. 1o Esta Lei Complementar altera a Lei Complementar n

o 64, de 18 de maio de 1990, que

estabelece, de acordo com o § 9o do art. 14 da Constituição Federal, casos de inelegibilidade, prazos

de cessação e determina outras providências.

Art. 2o A Lei Complementar n

o 64, de 1990, passa a vigorar com as seguintes alterações:

“Art. 1o ...................................................................................................................................

I – ............................................................................................................................................

....................................................................................................................................................

c) o Governador e o Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal e o Prefeito e o Vice-Prefeito

que perderem seus cargos eletivos por infringência a dispositivo da Constituição Estadual, da Lei Orgânica do Distrito Federal ou da Lei Orgânica do Município, para as eleições que se realizarem durante o período remanescente e nos 8 (oito) anos subsequentes ao término do mandato para o qual tenham sido eleitos;

d) os que tenham contra sua pessoa representação julgada procedente pela Justiça Eleitoral, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado, em processo de apuração de abuso do poder econômico ou político, para a eleição na qual concorrem ou tenham sido diplomados, bem como para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes;

e) os que forem condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, desde a condenação até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após o cumprimento da pena, pelos crimes:

1. contra a economia popular, a fé pública, a administração pública e o patrimônio público;

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2. contra o patrimônio privado, o sistema financeiro, o mercado de capitais e os previstos na lei que regula a falência;

3. contra o meio ambiente e a saúde pública;

4. eleitorais, para os quais a lei comine pena privativa de liberdade;

5. de abuso de autoridade, nos casos em que houver condenação à perda do cargo ou à inabilitação para o exercício de função pública;

6. de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores;

7. de tráfico de entorpecentes e drogas afins, racismo, tortura, terrorismo e hediondos;

8. de redução à condição análoga à de escravo;

9. contra a vida e a dignidade sexual; e

10. praticados por organização criminosa, quadrilha ou bando;

f) os que forem declarados indignos do oficialato, ou com ele incompatíveis, pelo prazo de 8 (oito) anos;

g) os que tiverem suas contas relativas ao exercício de cargos ou funções públicas rejeitadas por irregularidade insanável que configure ato doloso de improbidade administrativa, e por decisão irrecorrível do órgão competente, salvo se esta houver sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciário, para as eleições que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes, contados a partir da data da decisão, aplicando-se o disposto no inciso II do art. 71 da Constituição Federal, a todos os ordenadores de despesa, sem exclusão de mandatários que houverem agido nessa condição;

h) os detentores de cargo na administração pública direta, indireta ou fundacional, que beneficiarem a si ou a terceiros, pelo abuso do poder econômico ou político, que forem condenados em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, para a eleição na qual concorrem ou tenham sido diplomados, bem como para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes;

..........................................................................................................................

j) os que forem condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado da Justiça Eleitoral, por corrupção eleitoral, por captação ilícita de sufrágio, por doação, captação ou gastos ilícitos de recursos de campanha ou por conduta vedada aos agentes públicos em campanhas eleitorais que impliquem cassação do registro ou do diploma, pelo prazo de 8 (oito) anos a contar da eleição;

k) o Presidente da República, o Governador de Estado e do Distrito Federal, o Prefeito, os membros do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas, da Câmara Legislativa, das Câmaras Municipais, que renunciarem a seus mandatos desde o oferecimento de representação ou petição capaz de autorizar a abertura de processo por infringência a dispositivo da Constituição Federal, da Constituição Estadual, da Lei Orgânica do Distrito Federal ou da Lei Orgânica do Município, para as eleições que se realizarem durante o período remanescente do mandato para o qual foram eleitos e nos 8 (oito) anos subsequentes ao término da legislatura;

l) os que forem condenados à suspensão dos direitos políticos, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, por ato doloso de improbidade administrativa que importe lesão ao patrimônio público e enriquecimento ilícito, desde a condenação ou o trânsito em julgado até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após o cumprimento da pena;

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m) os que forem excluídos do exercício da profissão, por decisão sancionatória do órgão profissional competente, em decorrência de infração ético-profissional, pelo prazo de 8 (oito) anos, salvo se o ato houver sido anulado ou suspenso pelo Poder Judiciário;

n) os que forem condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, em razão de terem desfeito ou simulado desfazer vínculo conjugal ou de união estável para evitar caracterização de inelegibilidade, pelo prazo de 8 (oito) anos após a decisão que reconhecer a fraude;

o) os que forem demitidos do serviço público em decorrência de processo administrativo ou judicial, pelo prazo de 8 (oito) anos, contado da decisão, salvo se o ato houver sido suspenso ou anulado pelo Poder Judiciário;

p) a pessoa física e os dirigentes de pessoas jurídicas responsáveis por doações eleitorais tidas por ilegais por decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado da Justiça Eleitoral, pelo prazo de 8 (oito) anos após a decisão, observando-se o procedimento previsto no art. 22;

q) os magistrados e os membros do Ministério Público que forem aposentados compulsoriamente por decisão sancionatória, que tenham perdido o cargo por sentença ou que tenham pedido exoneração ou aposentadoria voluntária na pendência de processo administrativo disciplinar, pelo prazo de 8 (oito) anos;

...........................................................................................................................................

§ 4o A inelegibilidade prevista na alínea e do inciso I deste artigo não se aplica aos crimes culposos e

àqueles definidos em lei como de menor potencial ofensivo, nem aos crimes de ação penal privada.

§ 5o A renúncia para atender à desincompatibilização com vistas a candidatura a cargo eletivo ou

para assunção de mandato não gerará a inelegibilidade prevista na alínea k, a menos que a Justiça Eleitoral reconheça fraude ao disposto nesta Lei Complementar.” (NR)

“Art. 15. Transitada em julgado ou publicada a decisão proferida por órgão colegiado que declarar a

inelegibilidade do candidato, ser-lhe-á negado registro, ou cancelado, se já tiver sido feito, ou declarado nulo o diploma, se já expedido.

Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput, independentemente da apresentação de recurso, deverá ser comunicada, de imediato, ao Ministério Público Eleitoral e ao órgão da Justiça Eleitoral competente para o registro de candidatura e expedição de diploma do réu.” (NR)

“Art. 22. ................................................................................................................................

..................................................................................................................................................

XIV – julgada procedente a representação, ainda que após a proclamação dos eleitos, o Tribunal declarará a inelegibilidade do representado e de quantos hajam contribuído para a prática do ato, cominando-lhes sanção de inelegibilidade para as eleições a se realizarem nos 8 (oito) anos subsequentes à eleição em que se verificou, além da cassação do registro ou diploma do candidato diretamente beneficiado pela interferência do poder econômico ou pelo desvio ou abuso do poder de autoridade ou dos meios de comunicação, determinando a remessa dos autos ao Ministério Público Eleitoral, para instauração de processo disciplinar, se for o caso, e de ação penal, ordenando quaisquer outras providências que a espécie comportar;

XV – (revogado);

XVI – para a configuração do ato abusivo, não será considerada a potencialidade de o fato alterar o resultado da eleição, mas apenas a gravidade das circunstâncias que o caracterizam.

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............................................................................................................................................” (NR)

“Art. 26-A. Afastada pelo órgão competente a inelegibilidade prevista nesta Lei Complementar, aplicar-se-á, quanto ao registro de candidatura, o disposto na lei que estabelece normas para as eleições.”

“Art. 26-B. O Ministério Público e a Justiça Eleitoral darão prioridade, sobre quaisquer outros, aos processos de desvio ou abuso do poder econômico ou do poder de autoridade até que sejam julgados, ressalvados os de habeas corpus e mandado de segurança.

§ 1o É defeso às autoridades mencionadas neste artigo deixar de cumprir qualquer prazo previsto

nesta Lei Complementar sob alegação de acúmulo de serviço no exercício das funções regulares.

§ 2o Além das polícias judiciárias, os órgãos da receita federal, estadual e municipal, os tribunais e

órgãos de contas, o Banco Central do Brasil e o Conselho de Controle de Atividade Financeira auxiliarão a Justiça Eleitoral e o Ministério Público Eleitoral na apuração dos delitos eleitorais, com prioridade sobre as suas atribuições regulares.

§ 3o O Conselho Nacional de Justiça, o Conselho Nacional do Ministério Público e as Corregedorias

Eleitorais manterão acompanhamento dos relatórios mensais de atividades fornecidos pelas unidades da Justiça Eleitoral a fim de verificar eventuais descumprimentos injustificados de prazos, promovendo, quando for o caso, a devida responsabilização.”

“Art. 26-C. O órgão colegiado do tribunal ao qual couber a apreciação do recurso contra as decisões colegiadas a que se referem as alíneas d, e, h, j, l e n do inciso I do art. 1

o poderá, em caráter

cautelar, suspender a inelegibilidade sempre que existir plausibilidade da pretensão recursal e desde que a providência tenha sido expressamente requerida, sob pena de preclusão, por ocasião da interposição do recurso.

§ 1o Conferido efeito suspensivo, o julgamento do recurso terá prioridade sobre todos os demais, à

exceção dos de mandado de segurança e de habeas corpus.

§ 2o Mantida a condenação de que derivou a inelegibilidade ou revogada a suspensão liminar

mencionada no caput, serão desconstituídos o registro ou o diploma eventualmente concedidos ao recorrente.

§ 3o A prática de atos manifestamente protelatórios por parte da defesa, ao longo da tramitação do

recurso, acarretará a revogação do efeito suspensivo.”

Art. 3o Os recursos interpostos antes da vigência desta Lei Complementar poderão ser

aditados para o fim a que se refere o caput do art. 26-C da Lei Complementar nº 64, de 18 de maio de

1990, introduzido por esta Lei Complementar.

Art. 4o Revoga-se o inciso XV do art. 22 da Lei Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990.

Art. 5o Esta Lei Complementar entra em vigor na data da sua publicação.

Brasília, 4 de junho de 2010; 189o da Independência e 122

o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Luiz Paulo Teles Ferreira Barreto

Luis Inácio Lucena Adams

Este texto não substitui o publicado no DOU de 7.6.2010.