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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE APLICABILIDADE DA INELEGIBILIDADE NAS LEIS COMPLEMENTARES N.º 64/1990 E 135/2010 Evelyn Christiane Sampaio Fargnoli Orientador RIO DE JANEIRO 2012

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO ...n.º 64, de 18 de maio de 1990, Lei da Inelegibilidade, que estabelece, de acordo com o art. 14, § 9º da Carta Magna, casos de inelegibilidade

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

APLICABILIDADE DA INELEGIBILIDADE

NAS LEIS COMPLEMENTARES N.º 64/1990 E 135/2010

Evelyn Christiane Sampaio Fargnoli

Orientador

RIO DE JANEIRO

2012

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

APLICABILIDADE DA INELEGIBILIDADE

NAS LEIS COMPLEMENTARES N.º 64/1990 E 135/2010

Apresentação de monografia à Universidade Cândido

Mendes como requisito parcial para obtenção do grau

de especialista em Direito Público e Tributário.

Por: Evelyn Christiane Sampaio Fargnoli

3

DEDICATÓRIA

Àqueles que, de uma forma ou de outra, sempre

estiveram presentes em minha vida, próximos ou

distantes, em momentos alegres ou tristes,

mesclados infalivelmente com um amor que só eles

sabem oferecer - minha família.

4

AGRADECIMENTOS

A Deus, que, como Ser Superior, deu ao Homem o

dom da vida para que pudesse evoluir em seus

sentimentos, sabedoria e viesse criar através do seu

progresso, meios para que fossem amenizadas as

mazelas da humanidade. Que o Homem não seja o

instrumento de sua própria destruição!

Aos familiares e amigos, que, de alguma maneira,

contribuíram para que eu pudesse realizar mais essa

jornada acadêmica. Obrigado!

5

EPÍGRAFE

“O homem livre é aquele que, naquelas coisas que

graças à sua força e engenho é capaz de fazer, não

é impedido de fazer o que tem vontade fazer”.

Thomas Hobbes

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RESUMO

O presente trabalho visa abordar de forma didática, os pontos relevantes da

inelegibilidade nas Leis Complementares n.º 64/1990 e 135/2010, bem como, suas

diversidades de entendimentos, como por exemplo, rever a posição do Supremo

Tribunal Federal – STF, quanto ao julgamento em conjunto das Ações Declaratórias

de Constitucionalidade (ADCs) 29 e 30 e da Ação Direta de Inconstitucionalidade

(ADI) 4578, que tratam da Lei Complementar (LC) 135, conhecida popularmente

como Lei da Ficha Limpa. A norma em discussão alterou a LC 64/90, prevendo

novas hipóteses e prazos de inelegibilidade que ainda está analisando a

constitucionalidade da Lei 135. Ao mesmo tempo, procurar-se-á examinar a proposta

de mitigação da impunidade, mediante artifícios processuais que não encontram

guarida na ordem jurídico-constitucional, com o intuito de prestigiar o interesse

meramente pessoal, bem como a importância do comportamento ilibado como

condição essencial para o candidato postular cargo eletivo. Enfim, a liberdade do

cidadão configura um dos bens mais preciosos da humanidade. Como se vê, a

importância do estudo se dá pela acentuada repercussão que tem a inelegibilidade

na esfera de direitos do cidadão.

Palavras-chave: Elegibilidade; inelegibilidade; LC n.º 64/1990; LC n.º 135/2010.

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METODOLOGIA

O estudo que ora se apresenta classificar-se-á no elenco das pesquisas

bibliográficas, tendo em vista que exigirá respaldo teórico fornecido através de

informações coligidas em fontes escritas produzidas por vários estudiosos do tema.

Será dada ênfase à pesquisa de literatura dos renomados economistas e

empresários brasileiros, que abrilhantarão o estudo com suas idéias e pensamentos.

Isto implicará na adoção de uma metodologia para a elaboração da

monografia compatível com a orientação proporcionada pela literatura específica.

A pesquisa se baseará nos métodos descritivo e exploratório por se tratar de

métodos de abordagem, constituídos de procedimentos gerais que norteiam o

desenvolvimento das etapas fundamentais de uma pesquisa científica.

Através desse procedimento é que serão constituídas as etapas concretas

para a investigação com a finalidade de melhor explicar os fenômenos menos

abstratos. Desse modo, serão utilizados dois procedimentos: o histórico, no sentido

de investigar os acontecimentos, processos e instituições do passado para que seja

verificada sua influência na sociedade atual; e o comparativo, com a finalidade de

verificar semelhanças e explicar diferenças.

O estudo do tema tem caráter analítico, explicativo e comparativo, com a

utilização da doutrina pertinente ao assunto, encontradas em bibliotecas públicas,

particulares e de universidades, bem como em artigos, revistas especializadas e

sites específicos na Internet.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 09

CAPÍTULO I

INTRODUZINDO OS ASPECTOS ESSENCIAIS DOS PODERES POLÍTICOS

E DO VOTO 12

CAPÍTULO II

BREVE REVISÃO SOBRE A ELEGIBILIDADE E INELEGIBILIDADE 24

CAPÍTULO III

OS EFEITOS DA INELEGIBILIDADE NA ESFERA POLÍTICA: LC 135/10

“LEI DA FICHA LIMPA”: APROVAÇÃO 36

CONSIDERAÇÕES FINAIS 61

BIBLIOGRAFIA 64

ÍNDICE 68

FOLHA DE AVALIAÇÃO 70

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INTRODUÇÃO

Pretende-se no presente trabalho abordar o tema “Aplicabilidade da pena de

Inelegibilidade nas Leis Complementares n.º 64/1990 e 135/2010”, com base no

espaço aberto pela Constituição Federal de 1988, justamente pelo fato de serem os

direitos fundamentais que asseguram a liberdade e a dignidade humana devendo,

para tanto, ser respeitados pelo ordenamento jurídico como forma de inibir o poder

incontrolado do Estado, bem como no Direito Eleitoral pela acentuada repercussão

que tem sido a inelegibilidade na esfera de direitos do cidadão.

O estudo surgiu pelo interesse de abordar em conjunto a Lei Complementar

n.º 64, de 18 de maio de 1990, Lei da Inelegibilidade, que estabelece, de acordo

com o art. 14, § 9º da Carta Magna, casos de inelegibilidade que visam proteger a

probidade administrativa e a moralidade do exercício do mandato político

considerando a vida pregressa do candidato, que representam valores fundamentais

do Regime Republicano. Afirma-se que alguns juristas consideram a Lei de Ficha

Limpa uma espécie de tutela antecipada, pois, representa uma medida liminar que

protege a sociedade contra danos futuros, e, ainda outros, a consideram como um

marco fundamental da Democracia e a luta contra a corrupção e a impunidade no

país e, ainda, como uma forma legal de melhorar o perfil necessário ao cargo eletivo

através dos critérios de inelegibilidade, bem como, uma lei que representa uma

valorização do voto enquanto a Lei Complementar n.º 135, de 04 de junho de 2010,

conhecida como Lei da Ficha Limpa, que, além de alterar a Lei Complementar nº

64/90, estabelece em consonância com o § 9º, do art. 14 da Constituição Federal,

casos de inelegibilidade, prazos de cessão e determina outras providências para

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incluir hipóteses de inelegibilidade que visam proteger a probidade administrativa e a

moralidade no exercício do mandato, além de alterar o prazo de inelegibilidade para

oito anos, não importando o crime ou quem o cometeu.

Abre-se, aqui, um parêntese, para registrar que grande parte desse trabalho

de pesquisa se deve, hoje, a esse grande meio de comunicação, a Internet, que

permitiu a abordagem de assunto tão vasto como atual na área de Direito Eleitoral,

no fornecimento de importantes revelações condizentes ao assunto, sem o qual não

se poderia ter chegado ao seu final.

Para tanto, objetiva-se interpretar, em linhas gerais a real aplicabilidade da

pena de inelegibilidade nas leis LC 64/90 e LC 135/2010, assim como os efeitos

dessa inelegibilidade na esfera política e as implicações na vida particular do

cidadão.

Como cidadão que somos, há entendimento que a maioria do povo brasileiro

não tem acesso à informação e os eleitores não sabem quais os candidatos que não

são indicados para exercerem os cargos públicos pretendidos. Neste aspecto,

observa-se que a população precisa de auxílio legal para poder escolher seus

candidatos com mais certeza e segurança.

Foi neste sentido que a mídia se transformou num importante meio de

conscientização à população, devendo ser valorizada, pois, sempre alertou para o

número crescente de corrupção política e pública.

Enfim, sendo a liberdade explicitada pelos cânones constitucionais como uma

forma de preservar a dignidade da pessoa como valor supremo de todo o sistema

jurídico, pode-se afirmar que o tema é polêmico merecendo uma melhor reflexão por

parte dos operadores do Direito e dos Tribunais, que não podem subverter as

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garantias constitucionais para se levarem pelo clamor popular e pela opinião pública

manifestada pela imprensa e pela mídia.

Justifica-se a escolha do tema a partir da observação de que a sociedade

brasileira vive sob uma tradição social e de poder e, que por isso mesmo, há muitos

anos vem clamando por regras jurídicas mais sólidas e eficazes, voltadas para o

combate à falta de moralidade com a coisa pública e também com a ética que deve

prevalecer entre os homens que compõem o poder político.

Julga-se, portanto, a importância em realizar um estudo sobre o tema

proposto, para que se venha oferecer subsídios concretos para uma interpretação e

aplicação corretas da legislação em vigor.

O primeiro capítulo fará uma breve revisão sobre os poderes políticos e o

voto para que se possa adentrar no tema abordado, enquanto que o segundo

capítulo buscará delinear a elegibilidade em linhas gerais e, mais objetivamente, o

estabelecimento da inelegibilidade para, finalmente, no terceiro capítulo, tratar das

Leis Complementares n.º 64/1990 e n.º 135/2010 e sua aplicabilidade na

inelegibilidade do ponto de vista do processo eleitoral cujo campo de atuação

encontra ressonância na Constituição Federal, assim, perfeitamente delimitada.

Espera-se que o leitor possa chegar a uma conclusão pessoal e busque

compreender o ponto de vista do autor, sem, contudo, desprezar sua opinião, pois

não existe nenhuma presunção da palavra final sobre o assunto.

A pretensão é que este trabalho venha a ser um estudo que demonstre o lado

prático e jurídico de quem, como cidadão, vive o problema no dia a dia.

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CAPÍTULO I

INTRODUZINDO OS ASPECTOS ESSENCIAIS DOS

PODERES POLÍTICOS E DO VOTO

Para que melhor se compreenda o assunto que se irá versar, torna-se

necessário que se busque memorizar, em linhas gerais, o direito que tem o cidadão

ao voto.

1.1 ABORDAGEM CONSTITUCIONAL

Sendo os princípios, considerados alicerces de uma ciência, são

indispensáveis à Constituição Federal de um país e como fundamento às demais

Leis. Eles exercem uma função ordenadora, que harmonizam e unificam o sistema

constitucional.

Os princípios, segundo assinala o consagrado José Joaquim Gomes

Canotilho,

possuem um grau de abstração relativamente elevado e por isso requerem medidas concretizadoras por parte do Poder Legislativo ou do Poder Judiciário, sendo uma característica marcante dos princípios, o seu caráter de fundamentalidade no sistema de fontes do direito o que lhes confere uma natureza normogenética, porquanto fornecem o fundamento de validade das regras (CANOTILHO, 2001, p.166).

Os princípios constituem os pressupostos científicos da ordem jurídica,

através dos quais os exegetas procuram encontrar subsídios para a solução de um

caso não tratado pela lei. Tal fato ocorre desde os primórdios da história. A força

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jurídica dos princípios constitucionais fica ainda mais acentuada diante da questão

de se poder evocar a inconstitucionalidade por violação aos referidos princípios.

Princípio é, antes de tudo, ponto de partida. "Princípios de uma Ciência"

(NADER, 2008, p. 23), são as proposições básicas, fundamentais, típicas, que

condicionam todas as estruturações subseqüentes. Neste sentido, princípios são

os alicerces, os fundamentos da ciência.

Por isso mesmo, o reflexo mais imediato é o caráter de sistema que os

princípios impõem à Constituição. Sem eles a Constituição se pareceria mais com

um aglomerado de normas que só teriam em comum o fato de estarem juntas no

mesmo diploma jurídico, do que com um todo sistemático e congruente. Dessa

forma, por mais que certas normas constitucionais demonstrem estar em

contradição, esta aparente contradição deve ser minimizada pela força catalisadora

dos princípios.

É sabido que a Constituição Federal Brasileira positivou o princípio da

presunção de inocência como elemento essencial em todo ordenamento jurídico,

incluindo o Direito Administrativo. Dessa maneira, como o estado de inocência gera

presunção juris tantum, após o título judicial que absolve o agente público ou político

que fora acusado, inclusive pela falta ou insuficiência de prova, a aludida presunção

se torna um dogma, assumindo a posição de certeza (juris et de jure).

A presunção de inocência do agente político/cidadão é, portanto, um

elemento fundamental em todo o ordenamento jurídico e somente poderá ser ilidida

por robustas provas, produzidas legalmente, após o esgotamento do due process of

law, pois do contrário não será lícita a imposição de restrição de direitos, antes do

trânsito em julgado de decisão judicial.

Em outras palavras,

14

a presunção de inocência pode ser considerada como ficção jurídica (verdade interina), desvendada ou alterada através de válidas provas produzidas em contrário, após o esgotamento do processo. Presta-se, pois, esse princípio como limite à acusação penal ou administrativa, que deverá ser provada através de elementos sérios de convicção pelo órgão público, não competindo ao acusado demonstrar a sua inocência, e sim o órgão julgador estatal. Está vem estabelecida em nossa Constituição (MATTOS, Teresina, 2010).

Em suma, esse princípio funciona como uma garantia de que “ninguém será

considerado culpado, até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”,

como estabelecido no art. 5º, inc. LVII da Constituição Federal de 1988.

1.2 DOS DIREITOS POLÍTICOS

Em primeira instância, consideram-se direitos políticos aqueles que conferem

participação no poder estatal, através do direito de votar, de ser votado e de ocupar

funções de Estado. Tais direitos são dados apenas ao cidadão, considerando-se

como cidadão o nacional no gozo dos direitos políticos (cidadania = nacionalidade +

direitos políticos).

Ressalte-se, porém, que este conjunto de direitos varia conforme cada país,

encontrando-se intimamente vinculado ao regime político e sistemas eleitoral e

partidário instituídos em cada estado.

Na ordem jurídica brasileira, a raiz constitucional de todos os direitos políticos

pode ser identificada no parágrafo único do art. 1° da Carta Magna de 1988, ao

dispor: "Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes

eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição". Este dispositivo encontra

subseqüente especificação nos artigos 14, 15 e 16 da Constituição no Título II, Dos

Direitos e Garantias Fundamentais, Capítulo IV, Dos Direitos Políticos. Observe-se

que os direitos e garantias individuais e o voto direto, secreto, universal e periódico

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constituem cláusulas pétreas da Constituição brasileira, não podendo ser objeto de

emenda segundo informa o art. 60, § 4°, incs. II e IV.

Direitos políticos é o conjunto de regras que disciplina as formas de atuação

da soberania popular, conforme preleciona o caput do art. 14 da Constituição

Federal de 1988.

Art. 14 - A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos e, nos termos da lei1, mediante: I - plebiscito; II - referendo; III - iniciativa popular.

Pode-se, igualmente, incluir como exercício da soberania e pertencente aos

direitos políticos do cidadão, o ajuizamento de ação popular e organização e a

participação de partidos políticos.

São os direitos públicos subjetivos que investem o indivíduo no status activae

civitatis, permitindo-lhe o exercício concreto da liberdade de participação nos

negócios políticos do Estado, de maneira a conferir os atributos da cidadania

(BONAVIDES, 2003, p. 517).

Neste sentido, é tradicional a definição de Pimenta Bueno ao afirmar:

As prerrogativas, atributos, faculdades, ou poder de intervenção dos cidadãos ativos no governo de seu país, intervenção direta ou indireta, mais ou menos ampla, segundo a intensidade do gozo desses direitos. São o Jus Civitatis, os direitos cívicos, que se referem ao Poder Público, que autorizam o cidadão ativo a participar na formação ou exercício da autoridade nacional, a exercer o direito de vontade ou eleitor, o direito de deputado ou senador, a ocupar cargos políticos e a manifestar suas opiniões sobre o governo do Estado (Apud MORAES, 2009, p. 207).

Tais normas constituem um desdobramento do princípio democrático inscrito

no art. 1°, parágrafo único, que afirma todo o poder emanar do povo, que o exerce

por meio de representantes eleitos ou diretamente.

Conforme prescreve o art. 14, caput, da Constituição Federal, a soberania

popular, será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor

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igual para todos e, nos termos da lei1, mediante: plebiscito; referendo; iniciativa

popular. Pode-se, igualmente, incluir como exercício da soberania e pertencente

aos direitos políticos do cidadão, o ajuizamento de ação popular e organização e a

participação de partidos políticos.

Conforme explica José Afonso da Silva:

As palavras sufrágio e voto são empregadas comumente como sinônimos. A Constituição, no entanto, dá-lhes sentidos diferentes, especialmente, no seu artigo 14, por onde se vê que o sufrágio é universal e o voto é direto e secreto e tem valor igual. A palavra voto é empregada em outros dispositivos, exprimindo a vontade num processo decisório. Escrutínio é outro termo com que se confundem as palavras sufrágio e voto. É que os três se inserem no processo de participação do povo no governo, expressando: um, o direito (sufrágio), outro, o seu exercício (o voto), e o outro, o modo de exercício (escrutínio) (SILVA, 2010, p. 347).

Ou seja, o sufrágio "é um direito público subjetivo de natureza política, que

tem o cidadão de eleger, ser eleito e de participar da organização e da atividade do

poder estatal" (SILVA, 2010, p. 347). Dessa forma, por meio do sufrágio o conjunto

de cidadãos de determinado Estado escolherá as pessoas que irão exercer as

funções estatais, mediante o sistema representativo existente em um regime

democrático.

O direito de sufrágio, no tocante ao direito de eleger (capacidade eleitoral

ativa) é exercido por meio do direito de voto, ou seja, o direito de voto é o

instrumento de exercício do direito de sufrágio (MORAES, 2009, p. 235).

Contudo, há certa imprecisão na terminologia das eleições. Nesse caso,

eleição seria o processo realizado para a escolha de alguém para o exercício de

determinada função enquanto que sufrágio seria o direito subjetivo de escolher ou

aprovar, embora para alguns autores signifique também direito de votar e ser

votado. Na Roma antiga o cidadão exercia os direitos políticos pelo ius suffragi

________________ 1Cf. Lei n.° 9.709, de 18 de novembro de 1998, que regulamentou o disposto nos incisos I, II e III do art. 14 da Constituição Federal de 1988.

17

(direito de votar) e pelo ius honorum (direito de ser votado) (BONAVIDES, 2003, p.

517).

O voto seria o aspecto material da eleição, o exercício concreto do direito de

sufrágio enquanto que escrutínio significaria tanto a própria eleição como apenas a

coleta e a apuração dos votos.

1.3 DO VOTO

O voto é um direito público subjetivo, sem, contudo, deixar de ser uma função

política e social de soberania popular na democracia representativa.

A prática do voto no Brasil, embora com algumas reservas dissipadas ao

longo do tempo, constitui-se no instrumento maior da nação para legitimar o

exercício da cidadania; daí porque desde a criação das primeiras vilas e povoados

vem permitindo uma ampla discussão do papel do nosso país, bem como dos

homens que conduzem a vida política do Brasil.

Nos termos do art. 14, § 1º, inc. I, da Constituição Federal de 1988, "o

alistamento eleitoral e o voto são obrigatórios para os maiores de dezoito anos". Em

contrapartida, são facultativos para os analfabetos, os maiores de setenta anos e os

maiores de dezesseis e menores de dezoito anos. É o que se extrai do inciso II, do

mesmo dispositivo.

No Brasil, o alistamento eleitoral e o voto são obrigatórios para os maiores de 18 anos e facultativo, aos analfabetos e aos maiores de setenta anos, bem como de acordo com o art. 14, § 1º, da Constituição Federal para os maiores de 16 e menores de 18 anos, sendo que, segundo reza o art. 12, § 1º da Constituição, os portugueses com residência permanente no país poderão votar se houver reciprocidade em favor de brasileiros. Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período de serviço militar obrigatório, os conscritos (art. 14, § 2º, da CF). O impedimento não abrange os militares de carreira (ARAÚJO; NUNES JÚNIOR, 2008, p. 99).

18

Nessa mesma linha, o Código Eleitoral, em seu artigo 6º, dispõe, in verbis:

Art. 6º O alistamento e o voto são obrigatórios para os brasileiros de um e outro sexo, salvo: I - quanto ao alistamento: a) os inválidos; b) os maiores de setenta anos; c) os que se encontrem fora do país. II - quanto ao voto: a) os enfermos; b) os que se encontrem fora do seu domicílio; c) os funcionários civis e os militares, em serviço que os impossibilite de votar.

Partindo da análise das normas supracitadas, pode-se observar que o voto

não é apenas um direito, mas sim, um direito-dever do cidadão. Assume a natureza

de dever, pois, caso o indivíduo não o exercite, injustificadamente, incorrerá nas

penas do artigo 7º do Código Eleitoral.

Cumpre, entretanto, distinguir num primeiro momento, alistamento eleitoral e

voto. Em consonância com a doutrina, o primeiro possui natureza mista, posto que,

inicialmente, se revela como o ato jurídico que faz surgir, para o cidadão, o direito de

votar, assumindo, depois, o caráter de condição de elegibilidade - pressuposto para

o indivíduo poder ser votado.

O voto seria, então, o aspecto material da eleição, o exercício concreto do

direito de sufrágio enquanto que escrutínio significaria tanto a própria eleição como

apenas a coleta e a apuração dos votos.

Assim sendo, o voto, nada mais é que o exercício, no plano fático, desse

direito de votar e é da sua concretização que se originou o alistamento eleitoral.

Em sua tipicidade, o voto pode ser:

. universal - extensivo a todos (adotado pela Constituição Federal);

. restrito - limitado a certos eleitores;

. censitário - limitado a eleitores possuidores de certo capital;

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. capacitário - limitado a eleitores com certos requisitos pessoais, como grau

de instrução;

. igualitário - cada um tem um voto; um homem, um voto (adotado pela CF);

. desigual - possibilidade de votar mais de uma vez, ou representando o

número de pessoas da família.

Quanto à classificação do voto podem se dividir em: a) secreto ou público; b)

obrigatório ou facultativo; c) direito ou indireto; d) igual ou desigual.

De acordo com o que afirma Alexandre de Moraes:

Quanto ao voto obrigatório e facultativo. A regra geral é a obrigatoriedade do voto. As exceções estão previstas taxativamente na própria Constituição Federal. Há de se compreender que, tecnicamente, o que é obrigatório não é o voto em sim, mas o comparecimento do indivíduo na seção eleitoral ou a sua justificativa. Note-se que a obrigatoriedade do voto não possui natureza de cláusula pétrea. Tal conclusão tem como fundamento o artigo 60, § 4º, inc. III da Constituição Federal de 1988 que dispõe: "não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir o voto direto, secreto, universal e periódico" (MORAES, 2009, p. 234).

Sendo assim, é possível que, por meio de Emenda Constitucional, se adote

como regra o voto facultativo, o que, para os estudiosos, é uma das principais

características de um verdadeiro Estado Democrático.

1.3.1 Caracteres do voto

O voto, que será exercido de forma direta, apresenta diversas características

constitucionais: personalidade, obrigatoriedade, liberdade, sigilosidade, igualdade,

periodicidade.

Personalidade: o voto só pode ser exercido pessoalmente. Não há

possibilidade de se outorgar procuração para votar. A identidade do eleitor é

verificada pela exibição do título de eleitor.

A personalidade é essencial para se verificar a sinceridade e autenticidade do

20

voto.

Obrigatoriedade formal do comparecimento: em regra, existe a

obrigatoriedade do voto, salvo aos maiores de 70 anos e aos menores de 18 e

maiores de 16. Consiste em obrigar o cidadão ao comparecimento às eleições,

assinando uma folha de presença e depositando seu voto na urna, havendo inclusive

uma sanção (multa) para sua ausência. Em virtude, porém, de sua característica de

secreto, não se pode exigir que o cidadão, efetivamente, vote (MORAES, 2009, p.

236).

Liberdade: manifesta-se não apenas pela preferência a um candidato entre os

que se apresentam, mas também pela faculdade até mesmo de depositar uma

cédula em branco na urna ou em anular o voto. Essa liberdade deve ser garantida,

e, por esta razão, a obrigatoriedade já analisada não pode significar senão o

comparecimento do eleitor, o depósito da cédula na urna e a assinatura da folha

individual de votação. Como salienta NIESS (2000, p. 91) "em defesa da prevalência

dessa liberdade, não passível de elisão pela renúncia - que a afetaria na essência,

tornando-a extremamente vulnerável -, é que o Judiciário inadmite a validade do

voto identificável".

Sigilosidade: o Código Eleitoral exige cabine indevassável, para garantir o

sigilo do voto. O segredo do voto consiste em que não deve ser revelado nem por

seu autor nem por terceiro fraudulentamente.

O sigilo do voto deverá ser garantido mediante algumas providências legais,

tais como: uso de cédulas oficiais, que impossibilitam o reconhecimento do eleitor;

isolamento do eleitor em cabine indevassável, para assinalar, em segredo, o

candidato de sua preferência; verificação da autenticidade da cédula oficial, à vista

das rubricas dos mesários emprego de urna que assegure a inviolabilidade do

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sufrágio e seja suficientemente ampla para que não se acumulem as cédulas na

ordem em que forem introduzidas pelo próprio eleitor, não se admitindo que outro o

faça (Código Eleitoral, art. 103).

Ressalte-se, ainda, que na hipótese de votação por meio de urnas eletrônicas,

sempre haverá a necessidade de garantir-se, por meio de correto programa

computadorizado, não só o total sigilo do voto como também a possibilidade do

eleitor optar pelo voto em branco ou pelo voto nulo, a fim de resguardar-se a

liberdade de escolha.

Direto: os eleitores elegerão, no exercício do direito de sufrágio, por meio do

voto (instrumento), por si, sem intermediários, seus representantes e governantes.

Discorda-se de SILVA (2010, p. 196) quando diz que:

Essa é uma regra sem exceções, pois a própria Constituição Federal prevê, excepcionalmente, no art. 81, § 2°, uma espécie de eleição indireta para o cargo de Presidente da República. Assim, vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, nos últimos dois anos do período presidencial, far-se-á nova eleição para ambos os cargos, em 30 dias depois da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei.

Periodicidade: o art. 60, § 4°, da Constituição Federal é garantia da tempora-

riedade dos mandatos, uma vez que a democracia representativa prevê e exige

existência de mandatos com prazo determinado.

Igualdade: todos os cidadãos têm o mesmo valor no processo eleitoral,

independentemente de sexo, cor, credo, idade, posição intelectual, social ou

situação econômica. One man, one vote (MORAES, 2009, p. 237).

1.3.2 Eleições, plebiscito, referendo e iniciativa popular

Os direitos do cidadão são exercidos pelas eleições, pelo plebiscito, pelo

referendo e pela iniciativa popular.

22

Em consonância com o art. 14 da Constituição Federal de 1988 as eleições e

consultas populares realizam-se por sufrágio universal e pelo voto direto e secreto,

com valor igual para todos.

Plebiscito é uma consulta direta ao cidadão, em que ele se manifesta sobre

um assunto de extrema importância, porém, antes que uma lei sobre o tema seja

estabelecida, devendo o cidadão responder a uma pergunta sobre projeto de lei ou

medida administrativa. Compete ao Congresso Nacional autorizar referendo e

convocar plebiscito (Constituição Federal de 1988, art. 49, inc. XV). Exemplo de

plebiscito foi a oportunidade de escolha entre república e monarquia (art. 2º do

ADCT; EC 2). Fazem-se também por plebiscito a incorporação ou o desmembra-

mento de Estado ou Município (art. 18, parágrafos 3º e 4º, da Constituição Federal

de 1988).

Historicamente, já foram realizados dois plebiscitos no Brasil sendo que o

primeiro foi realizado em 6 de janeiro de 1963, com o objetivo de ouvir os eleitores

sobre a continuidade ou o fim do sistema parlamentarista de governo, instituído

dois anos antes, depois que Jânio Quadros renunciou à presidência da República.

Vale lembrar que a democracia brasileira é basicamente representativa, ou

seja, os cidadãos elegem representantes para fazer e executar as leis. Entretanto, a

Constituição Federal de1988 estabelece alguns instrumentos característicos da

democracia direta.

O referendo é um deles. Trata-se de uma forma de consulta ao cidadão sobre

um tema de importância efetivamente grande. Ele ocorre quando o povo é chamado

a manifestar-se sobre uma lei após ela ter sido elaborada e aprovada pelos órgãos

competentes do Governo nacional. O referendo está previsto no artigo 14 da

Constituição Federal de 1988.

23

O plebiscito, além de ser um instituto de participação legislativa, também pode

ser utilizado para participação popular na atividade administrativa, permitindo ao

povo orientar o exercício daquelas funções. Não incidindo na atividade jurisdicional.

A Carta Magna de 1988 dispôs sobre a realização de plebiscito, deixando

aberta à possibilidade de definir novos casos para consulta plebiscitária, entretanto,

a competência para convocá-lo foi destinada exclusivamente ao Congresso

Nacional.

A pesar da força insculpida ao instituto, já regulamentado pela Lei n.º 9.709 de 18 de novembro de 1998, nenhum plebiscito foi convocado, conforme já dito, a não ser o determinado pela Constituinte e no qual o povo foi chamado a decidir sobre a forma (República x Monarquia) e o sistema de governo (Presidencialista X Parlamentarista). Mesmo assim, o Senador Eduardo Suplici sugeriu na proposta legislativa que visa instituir o voto facultativo à confirmação via plebiscito, como forma de garantir a vontade do povo, origem do Poder. (MOREIRA NETO, 1999, p. 112).

Muitas outras proposições legislativas tramitam no Congresso Nacional

objetivando a apreciação mediante consulta plebiscitária.

A iniciativa popular é um procedimento que consiste no desencadeamento do

processo legislativo pelo povo, representado por um determinado quociente do

eleitorado nacional. O mecanismo ganhou contornos na Constituição Federal de

1988, no § 2º do art. 61, que estabelece as premissas básicas da iniciativa popular

em projeto de lei, a saber:

(1) competência da Câmara dos Deputados para iniciar a tramitação; (2) forma de projeto de lei; e, (3) subscrição por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por cento de eleitores de cada um deles. Ampliando os requisitos, a Lei n.º 9.709/98, que regulamentou o instituto, exige, ainda, (4) que trate de um só assunto; e, finalmente, (5) que o projeto não poderá ser rejeitado por vício de forma, cabendo à Casa Legislativa inauguradora providenciar a correção de eventuais impropriedades de técnica legislativa ou redacional (SILVA, 2010, p. 63).

A Lei 9.709, de 18 de novembro de 1998, regula o plebiscito, o referendo e a

iniciativa popular.

24

CAPÍTULO II

BREVE REVISÃO SOBRE A

ELEGIBILIDADE E INELEGIBILIDADE

2.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A ELEGIBILIDADE

Segundo informações de fontes ilibadas, considera-se como elegibilidade a

capacidade eleitoral passiva consistente na possibilidade de o cidadão pleitear

determinados mandatos políticos, mediante eleição popular, desde que preenchidos

certos requisitos, porem, segundo reza o art. 14, § 3°, inc. VI, da letra “a” até “d” da

Constituição Federal de 1988, não basta possuir capacidade eleitoral ativa, ou seja,

ser eleitor, para adquirir a capacidade eleitoral passiva, poder ser eleito. A

elegibilidade adquire-se por etapas segundo faixas etárias.

Em outras palavras, a elegibilidade é o direito de ser votado, que nasce do

registro de candidatura, depois de preenchidas pelo interessado todas as condições

de elegibilidade previstas para o cargo a ser disputado.

As condições de elegibilidade são os pressupostos ao registro de candidatura, previstos na Carta Magna de 88 no art. 14, parágrafo 3º ou em normas infraconstitucionais, como por exemplo, indicação em convenção partidária, prevista na Lei n.º 9.504/97. Nada impede,orem, que a lei complementar contenha elenco de condições de elegibilidade a serem atendidas pelos candidatos (CÂNDIDO, 2003, p. 83).

Ou ainda, de acordo com Rodrigo López Zílio:

As condições de elegibilidade se justificam porque a pretensão ao exercício de mandato eletivo, por constituir no ápice da caracterização do conceito de cidadania, implica, necessariamente, no preenchimento de

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determinados requisitos constitucionais e legais. Tenciona-se, assim, estabelecer uma atividade prévia de joeiramento para, somente então, possibilitar ao pretenso candidato a submissão à vontade popular, que é essencialmente soberana em sua escolha (ZILIO, 2009, p. 131).

Assim sendo, para que alguém venha a concorrer a um mandato eletivo,

é necessário que preencha certos requisitos gerais, denominados condições de

elegibilidade e que não incida numa das inelegibilidades, ou seja, em impedimentos

à capacidade eleitoral passiva.

Celso Antônio Bandeira de Mello utilizando-se da sua própria classificação

tornou possível afirmar que:

A elegibilidade é uma outorga de poder-direito a determinado cidadão. Isto significa que o seu usufruto independe de uma prestação jurídica alheia, conforme lição do referido mestre: Os titulares destes poderes-direitos não necessitam que alguém lhes preste algo, mas, pelo contrário, só necessitam que outrem não os embarace, não os turbem. (MELLO, 2010, p. 22-23).

Por sua vez, José Jairo Gomes comenta:

As condições de elegibilidade, por seu turno, podem ser conceituadas como exigências ou requisitos positivos que devem, necessariamente, ser preenchidos por quem queira registrar candidatura e receber votos validamente. Em outras palavras são requisitos essenciais para que se possa ser candidato (GOMES, 2010, p. 130).

Trata-se, portanto, do direito de ser votado, do preenchimento dos requisitos

exigidos pela lei para que alguém possa eleger-se.

Segundo informa Alexandre de Moraes (2009, p. 238-239), no mesmo

sentido, Joel José Cândido (2010, p. 116-120) nomeiam de acordo com a

Constituição Federal de 1988, em seu art. 14, § 3º, as condições mínimas que

deverá ter o cidadão que deseja participar como candidato a um cargo eleitoral:

I - Nacionalidade brasileira.

Segundo lição de Adriano Soares da Costa:

26

Nacionalidade é o vínculo jurídico existente entre a pessoa e o Estado, do qual nascem deveres e direitos. Nacional, de conseguinte, é o individuo que faz parte do povo de um Estado, na concepção segundo a qual os elementos constitutivos do Estado são o povo, o território e a soberania (COSTA, 2009, p. 96-97).

Enfim, a nacionalidade é um pressuposto da cidadania, logo, somente os

cidadãos nacionais podem se alistar enquanto que os estrangeiros não possuem

direitos políticos no Brasil, com exceção dos portugueses com residência

permanente, em razão da reciprocidade firmada entre Brasil e Portugal, prevista pela

Constituição Federal de 1988 no art. 12, § 1º.

II - Pleno exercício dos direitos políticos.

Não basta a nacionalidade para o exercício da cidadania passivo, isto é,

aquele que teve suspenso ou perdeu seus direitos políticos não exercerá a

capacidade eleitoral passiva.

III - Alistamento eleitoral.

Comprovado pela inscrição eleitoral obtida no juízo eleitoral do domicílio do

alistando, e por parte do candidato, com o seu título de eleitor.

IV - Domicílio eleitoral na circunscrição.

O art. 42, parágrafo único, do Código Eleitoral exige que o eleitor que tenha

domicílio eleitoral na circunscrição pela qual pretende se eleger por período que será

estabelecido pela legislação infraconstitucional.

V - Filiação partidária.

A cidadania passiva no Brasil pressupõe que o indivíduo faça parte de algum

partido político. Não se admitem candidaturas avulsas, independentes ou extra-

partidárias. É uma forma de prestigiar os partidos políticos. Para concorrer a

qualquer cargo eletivo, o pretendente deve estar ao menos em tese, vinculado aos

objetivos da agremiação política da qual faça parte.

27

Na opinião de Alexandre de Moraes:

A filiação partidária é um pressuposto constitucional relevante, pois indica a impossibilidade de existirem candidaturas avulsas, independentes dos partidos políticos. O mandato eletivo, como exercício da representação indireta dos eleitores na administração lato sensu da coisa pública, deve ser outorgado a nacionais vinculados às agremiações políticas, as quais são associações de cidadãos, no gozo de seus direitos políticos, unidos por uma ideologia e por uma disposição legítima de alcançarem o poder. Assim, o partido político se constitui em pessoa jurídica de direito privado (art. 17, § 2º, da CF/88 c/c art. 1º da LPP – Lei dos Partidos Políticos), com a finalidade de assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do sistema representativo e a defesa dos direitos fundamentais definidos na Carta. Todo partido tem um programa, idéias-forças que unem os seus associados em torno de objetivos políticos e às quais são eles vinculados, sob pena de ferirem a fidelidade partidária (art. 23 da LPP) (MORAES, 2009, p. 133).

As Leis n.ºs 9.096/95 e 9.504/97 dispõem, respectivamente, sobre os partidos

políticos e a realização de eleições, em seus artigos 18 e 9º, exigem que o eleitor

esteja filiado ao partido há pelo menos um ano antes da data lixada para as eleições,

ou seja, elegem-se por um partido político, conquanto possam exercer mandato

sem legenda e sem compromisso com programas partidários.

A Lei n.º 9.096/95, Lei dos Partidos Políticos dispõe:

Art. 18. Para concorrer a cargo eletivo, o eleitor deverá estar filiado ao respectivo partido pelo menos um ano antes da data para as eleições, majoritárias ou proporcionais. Art. 20. É facultado ao partido político estabelecer, em seu estatuto, prazos de filiação partidária superiores aos previstos nesta Lei, com vistas a candidatura a cargos eletivos. Parágrafo único. Os prazos de filiação partidária, fixados no estatuto do partido, com vistas a candidatura a cargos eletivos, não podem ser alterados no ano da eleição (LEI Nº 9.096/95, 2008, p. 251).

A dupla filiação partidária configura crime previsto pelo art. 320 do Código

Eleitoral, Lei n. 4.737/1965.

VI - Idade mínima.

De acordo com a opinião de Pedro Henrique Távora Niess:

28

A Constituição estabelece, claramente, o requisito da idade mínima como condição para que o candidato possa ser escolhido pelo eleitorado - fato esse que ocorre na data do pleito eleitoral -, e não como condição de posse (NIESS, 2000, p.95).

Neste sentido, a Constituição Federal de 1988 estabelece as seguintes idades

mínimas:

a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador; b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal; c) vinte e um anos para Deputado Federal, Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito ou juiz de paz; e d) dezoito anos para Vereador.

VII - Não incorrer em nenhuma inelegibilidade específica.

A Constituição Federal e a legislação complementar apontam diversas

inelegibilidades, que serão examinadas no próximo item que tratará da mesma.

Enfim, como bem explica José Afonso da Silva:

Elegibilidade e inelegibilidades dizem respeito ao candidato, ou possível candidato, a um mandato eletivo. Incompatibilidade constitui impedimento ao exercício do mandato e à prática de certos atos ou exercício de funções, cumulativamente. Não se prende à candidatura, mas é impedimento que surge com a eleição. Diz respeito ao eleito, não ao candidato (SILVA, 2007, p. 57).

2.2 DEFININDO INELEGIBILIDADE

O conceito de inelegibilidade tem sido considerado “como o estado jurídico

de ausência ou perda de elegibilidade” (COSTA, 2006, 141) entretanto, sendo a

elegibilidade o direito subjetivo público de ser votado, ou seja, o direito de concorrer

a mandato eletivo, acrescenta o autor que “a inelegibilidade é estado jurídico

negativo de quem não possui tal direito subjetivo – seja porque nunca o teve, seja

porque o perdeu” (Idem, ibidem).

Mais adiante, o autor entende ser a inelegibilidade uma sanção. Eis o seu

29

posicionamento:

A inelegibilidade é a regra, pois só terá direito a candidatura o nacional que efetuar o seu registro. No entanto, não se trata de sanção a inelegibilidade decorrente da ausência das condições de elegibilidade. Será sanção, segundo o autor, aquela inelegibilidade decorrente do cometimento de algum ilícito. Relembremos que sendo cominada, poderá ser simples (para a eleição em que se deu o fato ilícito) ou potenciada (com efeitos futuros).

E mais:

É no processo de registro de candidatura que se verifica a presença das condições de elegibilidade e a ausência de causas de inelegibilidade. Salientamos que a inelegibilidade não nasce no momento da sentença que julga improcedente o pedido de candidatura, conquanto esta sentença tenha o condão de declarar a existência ou não das condições acima referidas (COSTA, 2009, p. 149).

Enquanto na opinião de Edson Resende Castro:

A moderna doutrina do direito eleitoral vem apregoando que as inelegibilidades se classificam, quanto à origem, em inelegibilidades inatas e inelegibilidades sanção ou cominada. As primeiras ocorrem independentemente da prática de qualquer conduta por parte do cidadão ou de terceiros em seu benefício e a segunda decorre da prática de alguma conduta ilícita praticada pelo candidato (CASTRO, 2010, p. 132-135).

Segundo visão de Alexandre de Moraes:

A inelegibilidade consiste na ausência de capacidade eleitoral passiva, ou seja, da condição de ser candidato e, conseqüentemente, poder ser votado, constituindo-se, portanto, em condição obstativa ao exercício passivo da cidadania. Sua finalidade é proteger a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou do abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta, conforme expressa previsão constitucional (art. 14, § 9°) (MORAES, 2009, p. 240).

Assim, foi editada a Lei Complementar n.º 64, de 18 de maio de 1990, Lei das

Inelegibilidades, além de prever outras causas de inelegibilidade.

Diante do exposto pode-se afirmar que as condições de elegibilidade figuram

como simples escolhas do legislador constituinte e que possuem natureza mais

procedimental, visando estabelecer certas condições, algumas delas visando uma

maior qualificação do pretenso candidato, para que a candidatura venha a ser

30

deferida. Em relação a elas, defende-se que não há como se estabelecer

previamente um valor constitucional comum a se proteger.

Finaliza-se, portanto, afirmando que caso não haja direito subjetivo de

elegibilidade, não se estará restringindo direito ao se declarar inelegível, visto que o

direito ainda não foi adquirido pelo indivíduo. Quer-se dizer, com isso que, em

consonância com o TSE, a cada eleição o pretenso candidato deverá ser submetido

a nova análise: preenchidas as condições será deferido o pedido de registro.

É por isso que não se pode alegar limitação a direito o fato de ser declarada a

inelegibilidade, pois quem define as condições que deverão ser preenchidas e a que

critério deve ser submetido o indivíduo é a norma posta, assim como o momento de

aferição das condições é o do pedido do registro, sendo neste instante em que se

verificará se poderá o cidadão exercer o seu ius honorum (direito de ser votado).

Deste modo, confirma-se que as inelegibilidades tem como fundamentação

constitucional a proteção à normalidade e legitimidade das eleições, visando

prevenir o certame da influência de abusos e de corrupções.

2.3 CONDIÇÕES DE INELEGIBILIDADE

O presente item tratará do instituto da inelegibilidade dando continuidade ao

item anterior quando se falou de maneira concisa sobre as condições de

elegibilidade, ou seja, sobre os requisitos que o cidadão brasileiro deve possuir para

ser elegível a determinado cargo público. A seguir serão analisadas as causas que

podem levar o cidadão a se tornar inelegível mesmo que tenha preenchido todas

aquelas condições de elegibilidade.

Estão dispostas no art. 1º da Lei Complementar n.º 64/90, as causas infra-

31

constitucionais de inelegibilidade alterado, dentre outras, através da já citada Lei

Complementar n° 135, de 04.06.2010, conhecida como a Lei da Ficha Limpa, que

altera a LC n.° 64/90, estabelece casos de inelegibilidade, prazos de cessação e

determina outras providências, para incluir hipóteses de inelegibilidade que visam a

proteger a probidade administrativa e a moralidade no exercício do mandato.

Sendo assim, caso o cidadão tenha a pretensão de se candidatar a um cargo

eletivo, terá o dever de atender às citadas condições constitucionais de elegibilidade,

além não incorrer em nenhuma das causas de inelegibilidade, conforme explícito no

art. 14, parágrafos 4º ao 8º da Constituição Federal de 1988 enumerados abaixo:

Art. 14 (...) § 4º - São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos. § 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subseqüente.

§ 6º - Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito.

§ 7º - São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.

§ 8º - O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições: I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade; II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade.

A partir daí, insta esclarecer que, além de permitir que alguma lei

complementar estabeleça outros casos como, por exemplo, o do art. 14, § 9° da

Constituição Federal em que a lei complementar correspondente é a LC n.° 64/90,

demonstra a mesma finalidade acima descrita.

Quem não tem elegibilidade, por não possuir o registro de candidatura em razão da ausência de algum dos seus pressupostos, é originariamente inelegível, ou seja, não possui o direito de ser votado. Trata-se da inelegibilidade inata, comum a todos aqueles que não preencham qualquer

32

das condições de elegibilidade, próprias ou impróprias, ou mesmo que não preencham algum pressuposto de admissibilidade do processo de pedido de registro de candidatura.

A par da inelegibilidade inata, há a inelegibilidade decorrente de algum fato

ilícito, aplicada como sanção que obsta o nacional de concorrer validamente a um

mandato eletivo, que apenas pode ser prevista por lei complementar, na forma do

parágrafo 9° do art.14 da Constituição Federal de 1988.

Art. 14, § 9º - Lei Complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessão, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para o exercício do mandato, considerada a vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício da função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta (FERREIRA FILHO, 2006, p. 15) (grifos do autor)

Segundo o autor, “é necessário lembrar que o movimento militar de 31 de

março de 1964 sempre se propôs a “subversão” e a “corrupção” (FERREIRA FILHO,

1995, p. 117).

Ressalte-se, porém, que segundo informa Mauro Roberto Gomes de Mattos:

Essa questão da necessidade de promulgação de Lei Complementar dispondo sobre as condições jurídicas em que se declara a inelegibilidade de se encontra ultrapassada, em virtude da alteração da Lei Complementar nº 64/1990, em debate pela Lei Complementar nº 135/2010. Ou seja, não se discute mais se o Poder Judiciário pode ou não estabelecer situações ou condições não contempladas em Lei Complementar. Ultrapassando esse pressuposto constitucional (art. 14, § 9º da CF), a discussão agora se cinge ao efeito do julgado na ADPF declinado, visto que o STF declarou que o princípio da presunção de inocência não é somente dirigido para o processo penal, por ser direito fundamental da pessoa em todo ordenamento jurídico.

Melhor explicando:

No regime democrático não se pode subtrair do cidadão o direito à informação, mormente quando ela se cinge sobre aqueles que participam do processo eleitoral, na condição de pretendentes a mandato eletivo. Se eles violaram a probidade, a moralidade ou a ordem jurídica, tudo deve ser bem esclarecido ao eleitor, para que não paire nenhuma dúvida quanto a "ficha" do candidato, objetivando o exercício conscientemente seu impostergável direito de votar (MATTOS, 2009, p. 735).

33

Ao mesmo tempo, lembrando que o postulado constitucional da publicidade,

voltado para a Administração Pública em consonância com o art. 37, da Carta

Magna, é estendida para toda a sociedade como sendo necessária e indelegável, de

ciência dos atos públicos e também da transparência da atividade política.

Dessa forma, entende-se que todo cidadão que pretende exercer mandato

eletivo deve prestar contas de seus atos para a sociedade, como forma de premiar

aqueles que se mantêm probos e honestos, mas também como forma de permitir o

exercício consciente do eleitor, que pelo sufrágio de seu voto, censure os candidatos

eticamente desqualificados por atributos negativos.

Quanto à sanção de inelegibilidade cominada, pode se apresentar sob a

forma de duas espécies: simples ou potenciada, sendo que a cominada simples é

aquela que impede o nacional de concorrer na eleição em que ocorreu o ilícito

("nessa" eleição), enquanto a inelegibilidade cominada potenciada é aquela que

obsta o nacional de concorrer ao mandato eletivo em um determinado trato de tempo

certo ou indeterminado, dependente de alguma condição extintiva.

A inelegibilidade cominada potenciada pode alcançar mais de uma eleição,

dependendo do tempo de sua aplicação prevista pelo ordenamento. Essa a razão

pela qual pode existir, em uma eleição seguinte àquela em que veio a ser aplicada, o

obstáculo-sanção para o deferimento do registro de candidatura, ainda que o

nacional seja portador de todas as condições de elegibilidade, típicas e atípicas, e

preencha os pressupostos de desenvolvimento regular do processo, fixados pela

legislação ordinária.

De acordo com o pensar de Adriano Costa:

A inelegibilidade cominada é sempre efeito de um fato jurídico ilícito, decretada por decisão judicial de eficácia preponderante constitutiva negativa. A decisão judicial que a decreta tem relevante efeito declaratório da ocorrência do fato jurídico ilícito. É por isso que, no momento da

34

apreciação do momento do registro de candidatura, o juiz não constitui a inelegibilidade cominada; ele a declara existente no mundo jurídico, como efeito de um fato jurídico ilícito anterior, que levou à sua decretação judicial, também ela anterior ao pedido de registro (COSTA, 2009, p. 161).

É possível concluir que “todas as hipóteses de inelegibilidade, ao tempo da

LC 64/90 e, agora, sob a vigência da LC 135/2010, são sanções que visam a

proteger a probidade, a moralidade, inclusive levando em conta a vida pregressa”

(COSTA, 2009, p. 161).

2.4 INCOMPATIBILIDADE

Além das causas de inelegibilidade existem outras hipóteses relativas a

pessoas que exercem cargos, empregos ou funções, públicas ou privadas, que

tornam determinados cidadãos inelegíveis caso não se afastem desses cargos,

empregos ou funções,desincompatibilizando-se nos prazos definidos pela LC n.º

64/90.

As hipóteses de incompatibilidade estão previstas no art. 1º da LC n.° 64/90,

nos incisos: II - para concorrer aos cargos de Presidente e de Vice Presidente; III -

para Governador e Vice-Governador; IV - para Prefeito e Vice-Prefeito; V - para o

Senado Federal; VI - para a Câmara dos Deputados, Assembléias e Câmaras

Legislativas e; VII - para a Câmara Municipal.

O texto base da incompatibilidade se encontra no art. 1º, inc. II, "l" da Lei

Complementar 64/90 e é o seguinte:

São inelegíveis os que, servidores públicos, estatutários ou não, dos órgãos ou entidades da Administração direta ou indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e dos Territórios, inclusive das fundações mantidas pelo Poder Público, não se afastarem até 3 (três) meses anteriores ao pleito, garantido o direito à percepção dos seus vencimentos integrais

35

Por desincompatibilização entende-se o ato através do qual o cidadão se

desvencilha da inelegibilidade com vistas à candidatar-se ao cargo pretendido.

Assim, caso o pré-candidato incida numa regra de inelegibilidade relativa deverá se

desincompatibilizar, no prazo estabelecido, a fim de requerer o registro de sua

candidatura. A desincompatibilização poderá ocorrer ou com o afastamento definitivo

da situação funcional em que se ache o candidato a candidato - ou seu cônjuge ou

seu parente -, ou através de licença para atividade política. Deverá afastar-se

definitivamente, entretanto, por renúncia ou exoneração, aquele que ocupe função

ou cargo de Chefe Executivo ou de sua confiança.

Em regra, a desincompatibilização é formalizada através de simples licencia-

mento. Observe-se Jurisprudência abaixo:

"Inelegibilidade (LC no 64/90, art. 1º, inciso II, letra l e inciso IV, letra a). Cabe ao candidato desincompatibilizar-se, ou afastar-se no prazo de lei, de direito e de fato. Caso em que isto não se verificou. Questão de fato (súmulas nos 279/STF e 7/STJ). Recurso especial não conhecido." NE: Candidatura a vice-prefeito. (Ac. no 13.488, de 30.9.96, rel. Min. Nilson Naves.) (Internet: http://jus.com.br/revista/texto/17292/elegibilidade-pressupostos-legais-para-ser-votado/5. Acesso: 29/01/2012).

Afirme-se, diante do exposto que, para que o cidadão brasileiro possa pleitear

um cargo público, deverá preencher certos pressupostos legais que envolvem

as condições constitucionais de elegibilidade, bem como a não incidência em

qualquer das causas de inelegibilidades previstas no texto constitucional e em

legislação infraconstitucional e que não esteja incurso em alguma das hipóteses

de incompatibilidade. Somente após observar esses três aspectos é que poderá o

cidadão, após aprovado em convenção político-partidária, submeter seu nome ao

crivo da Justiça Eleitoral com vistas ao registro de sua candidatura, que o levará à

disputa eleitoral, à diplomação e, finalmente, à posse no cargo almejado e

consequente início do exercício do mandato representativo.

36

CAPÍTULO III

OS EFEITOS DA INELEGIBILIDADE NA ESFERA POLÍTICA:

LC 135/10 “LEI DA FICHA LIMPA”: APROVAÇÃO

Não é necessário lembrar que o tema que vem sendo apresentado é por

demais polêmico, além de merecer uma nova reflexão por parte dos operadores do

Direito e dos Tribunais que, por sua vez, não podem subverter as garantias

constitucionais para se deixarem levar pelo clamor popular e pela opinião pública

manifestada pela imprensa. Mesmo porque, acima de tudo, a liberdade é explicitada

pelos cânones constitucionais como uma forma de preservar a dignidade da pessoa

como valor supremo de todo o sistema jurídico.

A seguir, será estudado o tema central da pesquisa que é a posição do STF a

respeito da constitucionalidade da LC 135/2010 que chegou ao seu final no mês de

fevereiro de 2012.

3.1 A REAL APLICABILIDADE DA PENA DE INELEGIBILIDADE NA

LC 64/90

A Constituição Federal de 1988 assevera em seu art. 5º, inc. XXXVI, que “a

lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”,

entretanto, observa-se que ao contrário do que se ouve falar, o ordenamento não

fixou como absoluto o princípio da irretroatividade das leis, sendo assim, a nova lei

pode tratar de condutas anteriores à sua vigência, desde que não contrarie o direito

37

adquirido, a coisa julgada e o ato jurídico perfeito.

Com a finalidade de atender ao comando constitucional do parágrafo 9º do

art. 14 da Lei Complementar n.º 64, de 1990, Lei de Inelegibilidade, interessa

destacar a alínea e do inciso I do art. 1º que dispõe:

Art. 1º São inelegíveis: I – para qualquer cargo: (...) e) os que forem condenados criminalmente, com sentença transitada em julgado, pela prática de crime contra a economia popular, a fé pública, a administração pública, o patrimônio público, o mercado financeiro, pelo tráfico de entorpecentes e por crimes eleitorais, pelo prazo de 3 (três) anos, após o cumprimento da pena; (grifos nossos)

Observe-se pela duração do tempo (três anos), que o problema existente

nessa legislação é que, dada a lentidão da justiça e a possibilidade de interposição

de recursos protelatórios, uma sentença condenatória definitiva pode demorar anos.

Por isso, um indivíduo que seja efetivamente um criminoso não só consegue

candidatar-se, como também exercer um ou mais mandatos antes que isso ocorra.

Por outro lado, dada a existência do instituto da imunidade parlamentar e o

poder que adquire um indivíduo detentor de mandato, uma vez eleito o criminoso,

torna-se muito mais difícil imputar-lhe a merecida pena, pois, ele pode, por exemplo,

votar a favor do governo no parlamento em troca de um tratamento benevolente da

receita federal ou estadual; assim como pode usar sua exposição na mídia para

caluniar seus acusadores, ou ainda, usar o velho chavão de que o processo a que

está submetido é uma perseguição política. E mais, ele poderá, também, ao longo

de uma campanha política, utilizar seu horário eleitoral para atacar o candidato

adversário do governo, como tem acontecido nos últimos tempos, mais uma vez em

troca de um tratamento leve da parte das agências federais de investigação criminal

que uma vez eleito o criminoso, torna-se muito mais difícil imputar-lhe a merecida

38

pena.

Está claro que não só existe uma brecha para a eleição de criminosos, como

também, há o estímulo para que esses infratores busquem a política como um

caminho para reduzir a probabilidade de punição. A coletividade passa, então, a

viver a ameaça de que a coisa pública seja gerida por pessoas de má índole,

moralidade duvidosa e vida pregressa maculada. De forma alguma, a probidade

administrativa está garantida, de modo que a atual redação da Lei de Inelegibilidade

não garante o cumprimento do preceito constitucional citado. Há, portanto, a

necessidade de se aumentar a segurança da coletividade contra o acesso de

criminosos ao poder.

Como resposta a toda essa preocupação é de bom tom lembrar que em 1990,

quando da promulgação da Lei Complementar n.º 64/90 que revogou a Lei

Complementar n.º 5/70, Pedro Henrique Távora Niess sustentou que a aplicação

imediata para as novas inelegibilidades, mesmo decorrentes de fatos anteriores à

sua vigência:

Sujeitam-se a ela também os que tenham sido processados e condenados antes da entrada em vigor da Lei Complementar nº 64/90 (...) É que o diploma de 1990 tem natureza civil, não tipificando delitos (exceto o art. 25), mas complementando dispositivo constitucional relativo a inelegibilidades, e apanhando, assim, todos aqueles que se enquadrem nas situações nela agrupadas, no momento de sua imposição. Isto não significa ter a lei efeito retroativo, mas sim aplicação imediata.

O TSE, nessa mesma época, quando do julgamento dos Recursos n.º 8.818 e

n.º 9.797, decidiu que:

A inelegibilidade prevista no art. 1º, inc. I, letra ‘e’, da Lei Complementar 64/90, aplica-se às eleições do corrente ano de 1990 e abrange sentenças criminais condenatórias anteriores à edição daquele diploma legal (...) ainda que o fato e a condenação sejam anteriores à vigência.

O Supremo Tribunal Federal ratificou tal entendimento como se confirma da

análise da Ementa transcrita a seguir:

39

CONSTITUCIONAL. ELEITORAL. INELEGIBILIDADE. CONTAS DO ADMINISTRADOR PÚBLICO: REJEIÇÃO. LEI COMPLEMENTAR N.º 64/90, art. 1º, I, “g”. (...) “II - Inelegibilidade não constitui pena. Possibilidade, portanto, de aplicação da lei de inelegibilidade, Lei Complementar n.º 64/90, a fatos ocorridos anteriormente à sua vigência” (MS n.º 22087-2, Rel. Min. Carlos Velloso).

A partir daí o STF começou a julgar três ações - ADC 29, ADC 30 e ADI

4578 - que discutem a constitucionalidade da LC 135/2010, conhecida como "Lei da

Ficha Limpa", onde somente se manifestaram um dos onze ministros, importando

lembrar, no entanto, que tanto para o TSE quanto para o STF a inelegibilidade não é

pena (grifos nossos).

Eis o que dizem ambos os tribunais:

“Inelegibilidade não constitui pena. Possibilidade, portanto, de aplicação da lei de inelegibilidade, Lei Complementar n. 64/90, a fatos ocorridos anteriormente a sua vigência.” (STF - MS 22.087/DF, rel. Min. Carlos Velloso, Pleno, DJ de 10/05/1996, p. 15.132)

“A inelegibilidade, assim como a falta de qualquer condição de elegibilidade, nada mais é do que uma restrição temporária à possibilidade de qualquer pessoa se candidatar, ou melhor, de exercer algum mandato. Isso pode ocorrer por eventual influência no eleitorado, ou por sua condição pessoal, ou pela categoria a que pertença, ou, ainda, por incidir em qualquer outra causa de inelegibilidade” (Consulta n.º 1.147/DF, rel. Min. Arnaldo Versiani, julgada em 17 de junho de 2010).

Segundo afirma o relator Ministro Arnaldo Versiani o entendimento não só do

TSE, “mas também do Supremo Tribunal Federal, é o de que a inelegibilidade não

constitui pena” (BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Consulta 1147-

09.2010.6.00.0000 – CLASSE 10 – BRASÍLIA – DF. Rel. Ministro Arnaldo Versiani).

Para melhor entendimento o Ministro apresenta o acórdão do STF proferido ao julgar

o Mandado de Segurança n.º 22.087 pelo qual se decide “(...) inelegibilidade não

constitui pena”, como também, apresenta outro acórdão do TSE, como se vê

abaixo:

“(...) Ao contrário do que foi afirmado no voto condutor, a norma ínsita na LC n 64/1990, não tem caráter de norma penal, e sim, se reveste de norma de caráter de proteção à coletividade. Ela não retroage para punir, mas sim busca colocar ao seu jugo os desmandos e malbaratações de bens e erário

40

público cometidos por administradores. Não tem o caráter de apená-los por tais, já que na esfera competente e própria é que responderão pelos mesmos; mas sim, resguardar o interesse público de ser, novamente submetido ao comando daquele que demonstrou anteriormente não ser a melhor indicação para o exercício do cargo”. (BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Consulta 1147-09.2010.6.00.0000 – CLASSE 10 – BRASÍLIA – DF. Rel. Ministro Arnaldo Versiani) (Disponível na Internet: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.35406&seo=1 Acesso em 27/02/2012).

De outro lado, o STF se posicionou da mesma forma no julgamento do MS n.º

22087-2, cujo relator foi o Ministro Carlos Velloso, o qual aduz:

“EMENTA: CONSTITUCIONAL. ELEITORAL. INELEGIBILIDADE. CONTAS DO ADMINISTRADOR PÚBLICO: REJEIÇÃO. LEI COMPLEMENTAR N.º 64, de 1990, art. 1º, I, "g".

I. Inclusão em lista para remessa ao órgão da Justiça Eleitoral do nome do administrador público que teve suas contas rejeitadas pelo TCU, além de lhe ser aplicada a pena de multa. Inocorrência de dupla punição, dado que a inclusão do nome do administrador público na lista não configura punição.

II. Inelegibilidade não constitui pena. Possibilidade, portanto, de aplicação da lei de inelegibilidade, Lei Compl. nº 64/90, a fatos ocorridos anteriormente a sua vigência.

III. À Justiça Eleitoral compete formular juízo de valor a respeito das irregularidades aponta-as pelo Tribunal de Contas, vale dizer, se as irregularidades configuram ou não inelegibilidade.

IV. Mandado de segurança indeferido”. (BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Mandado de Segurança 22.087-2. Brasília – DF. Rel. Ministro Carlos Velloso Diário da Justiça, 10/05/1996. Ementário nº 1827-03).

Dessa forma, visto que inelegibilidade não é pena, o que por sua vez, atrairia

o princípio da presunção de inocência, afasta-se desde logo, a exigência do trânsito

em julgado podendo-se mesmo confirmar, que inelegibilidade não é pena, é uma

condição jurídica (grifos nossos).

Como exposto, não há nada de novo nisso, pois essa já era a posição

adotada pelo Supremo Tribunal Federal.

Ao mesmo tempo, observou-se que a atual jurisprudência do Supremo

Tribunal Federal afasta da inelegibilidade o caráter de pena e, por razões lógicas, se

reconhece sua aptidão para alcançar fatos ocorridos no pretérito. É a própria Carta

41

Magna quem declara: a inelegibilidade levará em conta a “vida pregressa” do

candidato.

Como se vê, enquanto a sanção penal tem propósitos punitivos, a inelegibili-

dade tem por meta o estabelecimento do perfil esperado dos candidatos. Essa é a

finalidade de todas as exigências fixadas na Lei da Ficha Limpa. É assim porque nos

domínios eleitorais prevalece o Princípio da Proteção, afirmado expressamente no

citado § 9º do art. 14 da Constituição Federal.

3.1.1 Quanto aos prazos

Quanto ao prazo de inelegibilidade imposto em virtude da prática de condutas

será sempre de oito anos, como se depara nas alíneas do art. 1º, inc. I, da LC 64/90

alterado pela LC 135/2010, para qualquer cargo, os que tenham incorrido em

'perda anterior do mandato eletivo','condenação por abuso do poder econômico ou

político', 'condenação por determinados crimes', 'declaração de indignidade de

oficialato', 'rejeição de contas', 'declaração de ter sido beneficiado por abuso do

poder econômico ou político', bem como 'ser dirigente de entidade liquidada ou em

liquidação'.

A Constituição Federal de 1988 dispõe em seu art. 5º, inc. XLVI que “a lei

regulará a individualização da pena”. O art. 59 do Código Penal obedecendo a essa

norma, dá nove critérios para o magistrado estabelecer a sanção, porém, em todos

os casos, a sanção é de 08 anos. Se a inelegibilidade não pode ser individualizada,

poderia ser considerada pena.

Se fosse pena, deveria no caso das relacionadas à sanção criminal,

desaparecer com a prescrição da pretensão executória, a qual, nos termos do art.

110 do Código Penal, regula-se pela pena aplicada. A prescrição da pretensão

42

executória impede a execução da pena e da medida de segurança.

Apesar de a pena ter sido extinta a inelegibilidade permanecerá intacta, assim

como os demais efeitos secundários da condenação,ou seja, a inclusão do nome no

rol dos culpados, a revogação do sursis, a caracterização da reincidência se houver

crime posterior, a interrupção a prescrição executória quando houver reincidência, a

revogação da reabilitação e assim por diante.

Cite-se como exemplo concreto o exame quanto à prescrição da pretensão

executória de pena de um ano para o crime de furto. A sanção prescreverá em

quatro anos com base no art. 109, inc. V, c.c o art. 110. Entretanto, a reincidência

poderá ser considerada até cinco anos da data da nova infração e o cumprimento ou

extinção da pena em consonância com o art. 64 do Código Penal, enquanto que a

inelegibilidade, perdurará por 08 anos.

Vislumbre-se que a inelegibilidade de pena não tem nada, mesmo quando é

oriunda de condenação criminal, é dela mero efeito. Assim, aqueles que equiparam

pena e inelegibilidade cometem o equívoco de igualar toda sanção à pena, pois nem

toda consequência negativa ao cidadão é pena.

De acordo com as palavras de Hans Kelsen:

O Direito é concebido como uma ordem estatuidora de atos de coerção. A proposição jurídica que descreve o Direito toma a forma da afirmação segundo a qual, sob certas condições ou pressupostos pela ordem jurídica determinados, deve-se executar um ato de coerção, pela mesma ordem jurídica especificado. Dentre as espécies de ato de coação (ou sanção) está a pena, a inclusão de nome no rol de culpados e a inelegibilidade. Isso não significa que todos sejam idênticos.

E mais, explica o autor:

O conceito de sanção pode ser estendido a todos os actos de coerção estatuídos pela ordem jurídica, desde que com ele outra coisa se não queira exprimir senão que a ordem jurídica, através desse actos, reage contra uma situação de facto socialmente indesejável e, através dessa reação, define a indesejabilidade dessa situação de fato (KELSEN, 1984, p. 71).

43

Em suma, a tese da inelegibilidade como simples efeito da condenação é

claramente albergada pelo TSE. Eis a definição do Tribunal na Consulta 1147-

09.2010:

Não se trata, mais uma vez, de perda de direitos políticos, mas, sim, de inelegibilidade que não constitui pena, não se podendo pensar em afastá-la apenas porque, antes da vigência da nova lei, a respectiva condenação não trazia como consequência a inelegibilidade para certas hipóteses. A inelegibilidade não precisa ser imposta na condenação. A condenação é que, por si, acarreta a inelegibilidade. A decisão, por exemplo, de Tribunal de Contas que rejeita as contas de determinado cidadão não o declara inelegível. A inelegibilidade advém do disposto na alínea g do inciso I do art. 1º da LC nº 64/90. E é o que ocorre com todas as demais inelegibilidades, inclusive com as oriundas de processos criminais, de improbidade administrativa ou eleitorais. (grifo nosso)(Internet: http://www.rodrigotenorio.com.br/ 2011_11_01_archive.html. Acesso em 10/02/2012).

A posição da doutrina também não trata da inelegibilidade como pena, mas

como mero óbice ao exercício da cidadania, pois conforme lição de Pedro Henrique

Távora Niess:

Inelegibilidade é uma medida destinada a defender a democracia contra possíveis e prováveis abusos. A inelegibilidade consiste no obstáculo posto pela Constituição ou por lei Complementar no exercício da cidadania passiva, por certas pessoas, em razão de sua condição em face de certas circunstâncias. Se a elegibilidade é pressuposto do exercício regular do mandato político, a inelegibilidade é a barreira intransponível a ele (NIESS, 2004, p. 5-9).

Enfim, os conceitos de inelegibilidade e de pena são absolutamente distintos

como se nota.

Diante disso, ao se indagar se é possível afirmar que a LC 135/2010 não

pudesse alcançar fatos que lhe são pretéritos, ou que, as inelegibilidades não

pudessem ser impostas a partir de decisões de órgãos colegiados em trânsito em

julgado, o que se poderia responder que a discussão da aplicação da LC 135/2010 é

quase uma novela onde um dos seus protagonistas é a ADPF 144/DF, em que o

STF decidiu que se aplica ao Direito Eleitoral o art. 5º, inc. LVII da Constituição

44

Federal de 1988, segundo o qual “ninguém será considerado culpado até o trânsito

em julgado de sentença penal condenatória”.

Melhor entendendo, o Ministro Celso de Mello, relator da ADPF 144/DF,

ajuizada pela Associação dos Magistrados, AMB, na qual se postulava a

inelegibilidade do candidato em razão de sua vida pregressa, quanto às infrações

penais ou administrativas que porventura tenha praticado ao argumento de que o

conteúdo normativo do § 9º, do art. 14, da Constituição Federal seria auto-aplicável,

rejeitou-a, analisando o mérito.

Eis o posicionamento do STF, explicitando o voto do Min. Celso de Mello na

ADPF 144/DF:

"Com igual razão, restrições à esfera jurídica de qualquer pessoa, porque qualificadas por seu caráter essencialmente gravoso, não podem derivar, seja da prolação de sentenças judiciais de condenação ainda não tornadas irrecorríveis, especialmente no campo do exercício da cidadania, e em particular, no plano de elegibilidade. Cumpre ter presente, neste ponto, em face de sua permanente atualidade, a advertência feita por RUI BARBOSA ÀQUELES que muitas vezes, deslembrados dos princípios que a Constituição da República contempla em favor das pessoas em geral, precipitam-se na formulação de juízos moralmente derrogatórios, impregnados de reprovabilidade, embora destituídos de suporte idôneo, necessariamente apoiado em decisões transitadas em julgado. Para Rui ("Novos Discursos e Conferências", p. 75, 1933, Saraiva), "Quanto mais abominável é o crime, tanto mais imperiosa, para os guardas da ordem social, a obrigação de não aventurar inferências, de não revelar prevenções, de não se extraviar em conjecturas (...)." .................................................................................................................. “Não podemos desconhecer que o sistema constitucional brasileiro, além de não admitir condenações judiciais baseadas em prova nenhuma, também não legitima nem tolera decretos condenatórios apoiados em elementos de informação unilateralmente produzidos pelos órgãos de repressão penal ou por autores de ações civis de improbidade administrativa." (STF, Rel. Min. Celso de Mello, ADPF 144/DF, Pleno, DJ de 25.02.2010).

Saliente-se que nessa discussão jurídica, o autor da citada Argüição de

Descumprimento de Preceito Fundamental, ADPF, o Ministro Celso de Mello, invo-

cara a desnecessidade de que a lei complementar de inelegibilidade disponha sobre

hipóteses que haveriam de ser apuradas na investigação da vida pregressa do

45

candidato, porque se trata de uma apuração ampla, impossível de ser reduzida a

determinada hipótese, conquanto possa a lei vir a estabelecer algumas dessas

hipóteses exemplificativamente.

O Ministro Celso de Mello pelo RTJ 176/805-806, deixou também assentada a

diretriz de que ninguém pode ser considerado culpado antes que sobrevenha

sentença judicial condenatória irrecorrível:

"Ninguém pode ser tratado com culpado qualquer que seja a natureza do ilícito penal cuja prática lhe tenha sido atribuída, sem que exista, a esse respeito, decisão judicial condenatória transitada em julgado. O princípio constitucional da não-culpabilidade, em nosso sistema jurídico, consagra uma regra de tratamento que impede o Poder Público de agir e de se comportar, em relação ao suspeito, ao indiciado, ao denunciado ou ao Réu, como se estes já houvessem sido condenados definitivamente por sentença do Poder Judiciário. Precedentes." (STF, Rel. Min. Celso de Mello, ADPF 144/DF, Pleno, DJ de 25.02.2010).

Por essa razão, as condenações de órgãos colegiados, que não estejam

transitadas em julgado, não poderão servir de suporte a ensejar uma inelegibilidade

do candidato ao pleito político (MATTOS, 2009, p. 744).

3.2 AÇÕES DECLARATÓRIAS DE CONSTITUCIONALIDADE (ADCs)

29 E 30 E DA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE

(ADI) 4578

O julgamento conjunto das Ações Declaratórias de Constitucionalidade

(ADCs) 29 e 30 e da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4578, que tratam da

Lei Complementar (LC) 135/2010, também conhecida como Lei da Ficha Limpa e

que alterou, sobremaneira, a LC 64/90, assim como previu novas hipóteses e novos

prazos de inelegibilidade.

O ministro Luiz Fux é relator das três ações e, em seu voto, considerou des-

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proporcional a fixação do prazo de oito anos de inelegibilidade após o cumprimento

da pena, pois segundo ele, o lapso temporal deve ser descontado do período entre a

condenação e o trânsito em julgado da sentença .

Na ADC 29, ao defender a LC 135/2010, o PPS, Partido Popular Socialista,

alega que a aplicação da lei sobre atos e fatos passados não contraria os princípios

da segurança jurídica. Para a legenda, o parágrafo 9º do artigo 14 da Constituição

Federal daria margem de liberdade para o legislador ordinário dispor sobre novas

hipóteses de inelegibilidade, observado o requisito da “vida pregressa do candidato”.

Ao mesmo tempo a OAB, Ordem dos Advogados do Brasil, autora da ADC 30,

também defende a norma e, nesse sentido, a ordem afirma que a chamada Lei da

Ficha Limpa não fere o princípio da razoabilidade, e que sua aplicação a atos ou

fatos passados não ofende os incisos XXXVI e XL, do artigo 5º da Constituição

Federal.

Nesses dois casos, os autores pedem que o Supremo reconheça a

constitucionalidade da norma em sua íntegra.

O artigo 1º, inciso I, alínea “m”, da Lei Complementar nº 64/1990, incluído

pelo artigo 2º da LC 135/2010, é questionado pela Confederação Nacional das

Profissões Liberais, CNPL, por meio da ADI 4578. O dispositivo torna inelegível por

oito anos quem for excluído do exercício da profissão, por decisão do órgão

profissional competente, em decorrência de infração ético-profissional.

Com este argumento, a Confederação Nacional das Profissões Liberais pede

a declaração de inconstitucionalidade do dispositivo.

Em todas estas ações o relator, ministro Luiz Fux, adotou o “rito abreviado” do

art. 12 da Lei n.° 9.868/99. O STF por este rito, não aprecia os pedidos de medida

cautelar e os prazos para a instrução do processo são reduzidos, de forma que o

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Tribunal se pronuncie diretamente de forma definitiva sobre a lei.

São várias as disposições da Lei da Ficha Limpa que estavam em discussão,

e não toda ela, é que o Supremo Tribunal Federal só conheceu das ações na parte

que tratavam das causas de inelegibilidade, como vem sendo explicitado durante a

pesquisa. Ao final do julgamento, na parte que foram conhecidas as ações, a Lei da

Ficha Limpa foi declarada constitucional, devendo as novas causas de inelegibili-

dade valer para fatos inclusive anteriores ao início de sua vigência.

Com base no exposto, ficou decidido pelo STF que as inelegibilidades

previstas na Lei da Ficha Limpa só poderão obstar candidaturas a partir do exame

do pedido de registro dessas na Justiça Eleitoral para as eleições de 2012.

Contudo, de acordo com os termos do art. 11, §10º, da Lei 9.504/97, “as

condições de elegibilidade e as causas de inelegibilidade devem ser aferidas no

momento da formalização do pedido de registro da candidatura”, levando-se em

conta que, quando tais pedidos forem feitos, o Ministério Público, candidatos,

coligações e partidos poderão oferecer as Ações de Impugnação de Registro de

Candidatura, AIRCs, previstas no art. 3º da LC 64/90, mesmo que não sejam

oferecidas as ações, a Justiça Eleitoral pode recusar-se a registrar candidato se

detectar alguma inelegibilidade.

3.3 POSIÇÃO DO STF QUANTO À CONSTITUCIONALIDADE DA LC

135/2010

Importa ressaltar, de início, que a Constituição Federal de 1988 em seu art.

5º, inc. XXXVI assevera que “a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico

perfeito e a coisa julgada”. Vê-se que, ao contrário do que muita gente pensa, o

ordenamento não fixou como absoluto o princípio da irretroatividade das leis. Nesse

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caso, a nova lei pode tratar de condutas anteriores à sua vigência, desde que

não contrarie o direito adquirido, a coisa julgada e o ato jurídico perfeito.

Como poderá ser observado no decorrer desta análise, o exame das

condições de elegibilidade da LC 135/10 em fevereiro de 2012 não se confunde com

sua aplicação retroativa, o que revela mero reflexo da eficácia imediata da lei,

prevista no art. 6º da Lei de Introdução ao Código Civil, pois a Lei Ficha Limpa estará

sendo aplicada a registros de candidaturas posteriores à sua vigência. A norma fará

incidir efeitos sobre fatos passados, possibilitando que esses sejam utilizados para

se impedir a obtenção do registro para as eleições de 2012.

Nesse caso, para não tornar a exposição repetitiva e, ao mesmo tempo,

cansativa, tentar-se-á expor as tomadas principais sobre o julgamento das Ações

Declaratórias de Constitucionalidade (ADC) 29 e 30 e da Ação Direta de

Inconstitucionalidade (ADI) 4578 retomado em sessão plenária em novembro de

2011 e encerrado em fevereiro de 2012.

Constatou-se, através de notícias de diversos sites na Internet, que o

Supremo Tribunal Federal, após um ano e oito meses da publicação no diário

oficial da Lei Complementar n.° 135/10, a denominada Lei da Ficha Limpa,

finalmente se reuniu em Plenário em Brasília, no dia 16 de fevereiro de 2012,

próximo passado, onde conseguiu decidir sobre a sua constitucionalidade.

Como comentado, a referida lei foi fruto de projeto de iniciativa popular,

contando com amplo apelo da mídia e da população, alterou sensivelmente a LC n.º

64/90, Lei das Inelegibilidades.

A Constituição da República desde a Emenda Constitucional de Revisão n.°

04/94, que ampliou a autorização prevista no art. 14, § 9° da Carta Magna, já

reclamava pela reforma da Lei Complementar n.° 64/90, em vigor, de forma a

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permitir que o legislador restringisse candidaturas para também “proteger a

probidade administrativa, a moralidade para o exercício de mandato, considerada

vida pregressa do candidato”.

Saliente-se que durante as Eleições 2008 o STF julgou a Arguição de

Descumprimento de Preceito Fundamental n.° 144, ao afirmar que, para gerar

inelegibilidade como consequência de processos criminais seria imprescindível a

“necessidade, também em tal hipótese, de condenação irrecorrível” (Acórdão n.º 144

da ADPF).

Quando das Eleições 2010 alguns recursos foram julgados onde se a discutiu

a questão da incidência ou não do art. 16 da Constituição Federal tendo prevalecido

o resultado no julgamento do caso de Leonídio Bouças em acórdão de do Recurso

Extraordinário n.º 633.703, quando o STF finalmente superou os impasses

decorrentes dos empates nos casos Joaquim Roriz, ex-candidato ao governo do

Distrito Federal (acórdão do RE n.º 630.147) e Jader Barbalho (acórdão do RE n.º

630.147). Tais empates ocorreram porque naquela época o Tribunal estava

composto com apenas dez ministros, pois havia uma cadeira vaga em razão da

aposentadoria do ministro Eros Grau, e que só viria a ser ocupada em fevereiro de

2011, com a posse do ministro Luiz Fux (STF, JUSBRASIL, 2012).

Segundo notícias de vários sites encontrados na mídia:

Por incrível que possa parecer foi exatamente o Ministro Luiz Fux quem viria a ser o relator das ações de controle concentrado de constitucionalidade sobre a Lei da Ficha Limpa. Três ações foram propostas no STF sobre a Lei da Ficha Limpa: 1ª) Ação Declaratória de Constitucionalidade, ADC n° 29, pelo Partido Popular Socialista – PPS, visando garantir a aplicação da lei a fatos pretéritos a sua vigência (inicial da ADC n° 29 e aditamento à ADI n° 29); 2ª Ação Declaratória de Constitucionalidade n.° 30, pela Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, com maior extensão, para declarar a constitucionalidade da lei (inicial ADC n° 30); e 3ª) ADI 4578 pela Confederação Nacional das Profissões Liberais – CNPL, impugnando apenas a causa de inelegibilidade da alínea “m” sobre a exclusão dos quadros de órgão profissional por infração ético-profissional (inicial da ADI n° 4578).

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No dia 1º de dezembro de 2011, a Ministra Rosa Weber foi indicada ao

Senado Federal para compor o STF preenchendo a cadeira vaga da Ministra Ellen

Gacie.

Com retorno ao Plenário em fevereiro de 2012, os sete ministros que

decidiram a favor do artigo da lei que prevê a inelegibilidade de políticos condenados

em órgão colegiado pela manutenção da norma em sua integralidade foram:

Joaquim Barbosa, Rosa Weber, Carmen Lucia, Ricardo Lewandowski, Carlos Ayres

Britto, e Março Aurélio. O relator das ações em julgamento, Luiz Fux, também

defendeu a lei, mas sugeriu mudança na forma de contagem do tempo de

inelegibilidade (LAGO, 2012).

Com a decisão, já nas eleições municipais que deverão ocorrer neste ano de

2012, os candidatos que tenham condenações por órgãos colegiados ou que

tenham renunciado para escapar de processo de cassação, por exemplo, poderão

ver seus registros impugnados com base na Ficha Limpa (SENADO, 2012).

Os outros quatro ministros que consideraram que ninguém pode sofrer

restrições até que haja uma sentença transitada em julgado (sem possibilidade de

recursos) são: Dias Toffoli, Gilmar Mendes, Celso de Mello e Cezar Peluso.

Dentre os principais pontos sobre os quais o STF se manifestou acerca da Lei

da Ficha Limpa podem-se destacar:

A presunção de inocência

O principal questionamento sobre a ficha limpa era o de que a lei seria inconstitucional ao tornar inelegíveis políticos condenados que ainda poderiam recorrer da decisão. O STF decidiu que a lei não viola o princípio que considera qualquer pessoa inocente até que ela seja condenada de forma definitiva. Essa decisão permite a aplicação da lei a pessoas condenadas por órgão colegiado, mas que ainda podem recorrer da condenação (JUSBRASIL, 2012).

Fatos passados

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A ficha limpa foi contestada por atingir fatos que ocorreram antes da sua vigência, inclusive ao determinar o aumento de três para oito anos do prazo que o político condenado ficará inelegível. (JUSBRASIL, 2012).

Renúncia

A proibição da candidatura nos casos de renúncia de cargo eletivo para escapar de cassação foi mantida pelos ministros do STF. A maioria do tribunal defendeu que a renúncia é um ato para fugir do julgamento e que deve ser punido com a perda do direito de se eleger. (JUSBRASIL, 2012).

Prazo de inelegibilidade

A Lei da Ficha Limpa determina que os políticos condenados por órgão colegiado fiquem inelegíveis por oito anos. Esse período é contado após o cumprimento da pena imposta pela Justiça. Por exemplo, se um político é condenado a 10 anos de prisão, ficará inelegível por 8 anos a contar do fim do cumprimento da pena. Na prática, ele não poderia se candidatar por 18 anos (JUSBRASIL, 2012).

Rejeição de contas

A lei torna inelegíveis políticos que tiveram contas relativas a cargos públicos rejeitadas. Por exemplo, um prefeito que tenha tido as contas do mandato reprovadas por um tribunal de contas (JUSBRASIL, 2012).

Órgãos profissionais

O Supremo manteve o dispositivo da Lei da Ficha Limpa que torna inelegíveis pessoas condenadas por órgãos profissionais, devido a infrações éticas, como nos casos de médicos e advogados que eventualmente forem proibidos de exercer a profissão pelos Conselhos da classe (JUSBRASIL, 2012).

O Ministro Luiz Fux no seu voto nas ADC 29, ADC 30 e ADI 4578 lembrou

com precisão João José Gomes Canotilho para explicar o conceito: “À espécie de

eficácia em que são analisados efeitos de uma norma a condutas passadas dá-se o

nome de retrospectividade”. (CANOTILHO, 2003, p. 256).

No início do julgamento, o ministro Luiz Fux esclareceu que conheceria

integralmente da ADI 4578, proposta pela CNPL, e também da ADC n° 29, proposta

pelo PPS, mas, quanto a ADC n.° 30, proposta pelo Conselho Federal da OAB, só

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conheceria em parte.

Em seu voto, o Ministro relator, Luiz Fux, declarou a parcial constitucionali-

dade da norma, fazendo uma ressalva na qual apontou que:

A desproporcionalidade na fixação do prazo de oito anos de inelegibilidade após o cumprimento da pena (prevista na alínea "e" da lei). Para ele, esse tempo deveria ser descontado do prazo entre a condenação e o trânsito em julgado da sentença (mecanismo da detração) (NOTA DEZ, 2012).

A Ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha acompanhou integralmente o voto

do relator das ações que discutem a Lei Complementar 135/2010 – a chamada Lei

da Ficha Limpa afirmando que “a democracia representativa demanda uma

representação ética. Se não for ética, não é legítima”.

Ao defender a constitucionalidade da norma, a ministra ponderou que o que

se passa na vida de alguém não se desapega de sua história e que “o ser humano

se apresenta inteiro quando ele se propõe a ser o representante dos cidadãos, pelo

que a vida pregressa compõe a persona que se oferece ao eleitor, e o seu

conhecimento há de ser de interesse público, para se chegar à conclusão quanto à

sua aptidão que a Constituição Federal diz, moral e proba, para representar quem

quer que seja”. (STF, NOTÍCIAS, 2012).

Como relator das ações ADCs 29 e 30 e ADI 4578, o Ministro Luiz Fux votou

pela constitucionalidade da norma, além de considerar improcedente a ADI 4578,

que impugnava dispositivo da Lei da Ficha Limpa (alínea "m"), ressaltando o

entendimento de que, no ponto em que trata da renúncia de políticos no exercício de

mandatos (alínea “k”), é desproporcional se declarar a inelegibilidade por conta de

mera petição para abertura de processo que pode levar à cassação de mandato. O

caso de renúncia, para o ministro, só deve levar à inelegibilidade se o processo de

cassação já tiver sido aberto.

53

O Ministro considerou desproporcional a fixação do prazo de oito anos de

inelegibilidade após o cumprimento da pena (alínea “e”), devendo esse prazo ser

descontado do prazo entre a condenação e o trânsito em julgado da sentença.

Entre outros argumentos, ele fez uma análise histórica do princípio da

presunção da inocência, com o objetivo de afirmar o entendimento de que,

diferentemente do direito criminal, esse princípio deve ser flexibilizado no âmbito do

Direito Eleitoral. Além disso, acredita que a norma respeita o tripé "adequação,

necessidade e proporcionalidade".

Segundo explica Rodrigo Lago:

Em todas estas ações o relator, ministro Luiz Fux, adotou o “rito abreviado” do art. 12 da Lei n° 9.868/99. Por este rito, o STF não aprecia os pedidos de medida cautelar, os prazos para a instrução do processo são reduzidos, de forma que o Tribunal se pronuncie diretamente de forma definitiva sobre a lei. Várias disposições da Lei da Ficha Limpa estavam em discussão, e não toda ela. É que o Supremo Tribunal Federal só conheceu das ações na parte que tratavam das causas de inelegibilidade, como será explicitado mais a frente. Ao final do julgamento, na parte que foram conhecidas as ações, a Lei da Ficha Limpa foi declarada constitucional, devendo as novas causas de inelegibilidade valer para fatos inclusive anteriores ao início de sua vigência (LAGO, 2012).

Dando prosseguimento, as ADCs 29 e 30 foram julgadas totalmente

procedentes e a ADI 4578 foi declarada improcedente. Os ministros Ricardo

Lewandowski, Marco Aurélio e Carlos Ayres Britto manifestaram-se favoráveis à Lei

Complementar 135/2010, na continuidade do julgamento da matéria, por sua vez,

Gilmar Mendes, divergiu quanto à constitucionalidade, endossando a tese já

defendida pelo ministro Dias Toffoli, no sentido de que a norma colide com o art. 15,

inc. I, da Constituição Federal, que somente admite a suspensão de direitos políticos

por sentença condenatória transitada em julgado.

Segundo o ministro Ricardo Lewandowski a questão do princípio da não

culpabilidade, também chamado de presunção de inocência, segundo o qual

54

ninguém pode ser considerado culpado sem decisão transitada em julgado (quando

não cabe mais recurso) foi examinado de forma muito pormenorizada pelo jurista e

senador Demóstenes Torres (DEM-GO), que à época presidia a Comissão de

Constituição, Justiça e Cidadania do Senado. O ministro explicou que o senador

ressaltou, na ocasião da análise do projeto de lei complementar, que o trânsito em

julgado cabe para os casos de sentença penal condenatória e que o princípio da

presunção de inocência não pode ser interpretado de forma ampla, para toda e

qualquer situação restritiva de direito e decorrente de ato jurisdicional (STF, 2012).

Ricardo Lewandowski reafirmou que, diante de dois valores constitucionais da

mesma hierarquia, o constituinte optou, de forma legítima, por aqueles abrigados no

parágrafo 9º do artigo 14 da Constituição.

A Ministra Rosa Weber concluiu seu voto pela total constitucionalidade da Lei

da Ficha Limpa (LC 135/10), destacando que "a norma é fruto de um esforço

hercúleo da sociedade para instituir no âmbito político normas moralizadoras, que

impeçam a malversação da coisa pública". Ainda de acordo com ela, "a dispensa do

trânsito em julgado na hipótese de haver condenação colegiada, como previsto na

Lei da Ficha Limpa, não afronta o princípio da não culpabilidade" (STF, NOTÍCIAS,

2012).

No seu entender, as regras de inelegibilidade não têm caráter de sanção de

modo que a dispensa do trânsito em julgado para fazer valer a inelegibilidade não

afronta o princípio da não culpabilidade, sendo que a Lei, segundo visão da Ministra,

tem como foco o coletivo.

O Ministro Marco Aurélio se manifestou de forma favorável à constitucionali-

55

dade de dispositivos da Lei Complementar 135. Para ele, “os preceitos são

harmônicos com a Carta da República e visam à correção de rumos nessa sofrida

pátria, considerado um passado que é de conhecimento de todos”.

A lei prevê que políticos condenados por um colegiado fiquem impedidos de

se candidatar mesmo cabendo recurso. A Ministra Carmem Lúcia Antunes Rocha

acompanhou o voto do relator, ministro Luiz Fux.

O Ministro Ayres Brito vem defendendo a compatibilidade da Lei da Ficha

Limpa com a Constituição Federal desde 2010, por entender que a Constituição

brasileira tem mesmo que ser mais dura no combate à imoralidade e à improbidade

e que a Constituição merece elogios por haver consagrado o princípio da

moralidade.

De acordo com ele, o parágrafo 9º do art. 14 da Constituição Federal de 1988

diz de forma expressa que a Lei Complementar estabelecerá outros casos de

inelegibilidade e, que efetivamente, a LC 135/2010 cuida de outros casos além dos

já aportados no artigo 14 da Carta Magna, protegendo os princípios da probidade e

da moralidade.

Todos esperavam que o Ministro Marco Aurélio votasse pela inconstitucionali-

dade da lei na parte que dispensa o trânsito em julgado para fins de inelegibilidade,

porém, assentou não poder “endossar a postura daqueles que acreditam na

morosidade da justiça e interpõem sucessivos recursos para projetar no tempo,

visando não cumprir o decreto condenatório, o trânsito em julgado da decisão”. Com

isso, acompanhou o ministro Joaquim Barbosa sobre a inexistência de ofensa ao

princípio da presunção de inocência. E de fato votou pela constitucionalidade da lei,

segundo informa Rodrigo Lago (2012).

Declaradamente contrários à Lei da Ficha Limpa, os ministros Celso de Mello,

56

Cezar Peluso e Gilmar Mendes não pouparam críticas às mudanças inseridas pela

norma.

O ministro Celso de Mello, o decano da Corte, votou pela inconstitucionali-

dade do dispositivo da Lei Complementar 135/10, que prevê a suspensão de direitos

políticos sem sentença condenatória transitada em julgado, momento em que

afirmou: “Não admito possibilidade que decisão ainda recorrível possa gerar

hipótese de inelegibilidade”. Segundo ele, eleger fatos e situações ocorridas no

passado, que se regeram pelo ordenamento jurídico então existente, ofende o inc.

XXXVI do art. 5º da Constituição Federal de 1988 ao determinar que “a lei não

prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”.

O ministro Celso de Mello também observou que a presunção de inocência é

uma garantia fundamental e inerente a qualquer cidadão da República. Assim, ele

considerou inconstitucional a previsão da Lei da Ficha Limpa que torna inelegível

políticos condenados por órgãos colegiados. Com relação à alínea “k” da norma, que

torna inelegível o político que renunciar a mandato desde o oferecimento de

representação para evitar processo de cassação, o ministro considera necessária a

instauração formal do processo de cassação para que a inelegibilidade possa incidir.

“A mera representação significa uma petição que contém uma imputação e isso, na

minha perspectiva, ofende a presunção de inocência.”

No início de seu voto, o ministro Celso de Mello frisou que “são altamente

respeitáveis as razões que motivaram a Lei da Ficha Limpa, fruto de iniciativa

popular, que contou com o apoio de entidades que classificou como da mais alta

respeitabilidade”. Afirmou ainda, que:

Não questiono a necessidade de lei que possa banir da vida pública pessoas que efetivamente não se ajustam à exigência de moralidade e probidade considerada sua vida pregressa, reiterando, entretanto, o que nem mesmo a formulação de leis de iniciativa popular, possível por meio de

57

instrumento democrático criado na Constituição de 1988, pode justificar normas que transgridam a Carta Magna (STF, JUSBRASIL, 2012).

A divergência foi aberta por Dias Toffoli, Ministro do Supremo Tribunal Federal

disse entender que, “em respeito ao princípio da presunção de inocência, só pode

ser considerado inelegível o cidadão que tiver condenação transitada em julgado,

quando não cabe mais recurso” e que:

O mesmo se aplica ao caso de inelegibilidade de quem for excluído do exercício da profissão por decisão de órgão profissional competente. A inelegilidade, para o ministro, só deve passar a existir depois de vencido o prazo para interposição de eventual recurso administrativo. (...) Fala sobre a possibilidade das condenações anteriores à edição da Lei da Ficha Limpa. No caso de um político ter sido condenado há três anos e a nova lei prever inelegibilidade de oito anos. Inicialmente, ele afirmou ser favorável ao artigo e não ver inconstitucionalidade.

Com relação à retroatividade da lei, o ministro Dias Toffoli votou pela sua

aplicação a fatos ocorridos anteriores à sua edição.

O ministro Gilmar Mendes acompanhou a divergência aberta pelo ministro

Dias Toffoli, em maior extensão, pois para ele, a lei não pode retroagir para alcançar

atos e fatos passados, sob pena de violação ao princípio constitucional da

segurança jurídica (art. 5º, inc. XXXVI).

Gilmar Mendes, afirmou que:

Não é possível se tomarem fatos do passado para projetá-los para o futuro e, com isso, atingir direitos políticos, como faz a lei e que permitir que se estenda a pena para casos já julgados é um convite ao casuísmo, à arbitrariedade. É algo que envolve concepções básicas.‘(...) Esta Corte tem de proteger as minorias. (STF, JUSBRASIL, 2012).

"É necessário banir da vida pública pessoas desonestas, mas é preciso

respeitar as regras da Constituição", disse Celso de Mello. “A rigor, muitas vezes a

Corte pode decidir contra a opinião popular. Porque, se não, faríamos plebiscito toda

hora e alteraríamos a Constituição. A pena de morte seria aprovada. O modelo

58

contra majoritário pretende defender o indivíduo de si mesmo”, disse Gilmar

Mendes. (STF, JUSBRASIL, 2012).

O último a se manifestar no julgamento conjunto das ADC 29 e 30 e da ADI

4578, foi o presidente do STF, ministro Cezar Peluso ao votar no sentido de que a

Lei Complementar 135/2010, ao dispor sobre inelegibilidades, não pode alcançar

fatos ocorridos antes de sua vigência. Isso porque, em sua opinião, a inelegibilidade

seria, sim, uma restrição de direitos.

O presidente da Corte disse concordar com o argumento de que o momento

de aferir a elegibilidade de um candidato é o momento do pedido de registro de

candidatura frisando que o juiz eleitoral tem que estabelecer a norma que irá ser

aplicada para que se faça essa avaliação e que deverá ser uma lei vigente ao

tempo do fato ocorrido, e não uma lei editada posteriormente.

Enfim, o Ministro Cezar Peluso argumentou em seu voto que:

A irretroatividade da lei ao atingir fatos passados, ocorridos antes da vigência da norma, não estaria o direito levando em consideração o ser humano em sua dignidade, porque absteria dele sua capacidade de se auto-administrar. Trata-se de fato acontecido no passado, ele considerou que o cidadão não teria possibilidade factual de eleger comportamentos com base em lei futura. Ao mesmo tempo em que entende que editar uma lei para apanhar fatos pretéritos pode atingir pessoas certas, que tiveram determinadas atitudes. Nesse caso, a norma deixa de ser lei geral, e passa a ser confisco de cidadania, porque o Estado retira do cidadão parte da sua esfera jurídica de cidadania.

E mais:

Ao se manifestar contrário à aplicação da inelegibilidade para condenações ainda não transitadas em julgado, não se pode tomar medidas restritivas que levem o cidadão a perder sua dignidade antes que a condenação seja definitiva. Não se pode impor medidas gravosas antes do fim de um processo que ainda não terminou, somente depois do trânsito em julgado. (...) Julgou ser inconstitucional permitir que órgãos não estatais, previstos na alínea “m” do inciso I do artigo 1º da Lei Complementar 64/90, com redação dada pela LC 135/2010 (Lei da Ficha Limpa), possam retirar do cidadão um direito público subjetivo (STF, PORTAL).

59

Finalmente a Lei da Ficha Limpa foi declarada constitucional sem qualquer

ressalva ao seu texto. Ao mesmo tempo em que o STF assentou também que “as

novas causas de inelegibilidade, e as alterações das causas de inelegibilidade já

previstas na Lei das Inelegibilidades, poderão alcançar fatos pretéritos à sua

vigência” (LAGO, 2012).

Ressalta Ophir Cavalcante, presidente nacional da Ordem dos Advogados do

Brasil (OAB), que a aprovação da lei da Ficha Limpa no STF é considerada como

“vitória da ética e da democracia”, ou seja, “é uma vitória da cidadania, da ética e do

povo brasileiro, que foi às ruas e disse para todo o Brasil que quer mudança na

política”, quando do acolhimento da Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC)

30, ajuizada pela Ordem dos Advogados do Brasil, para declarar, por maioria de

votos, a constitucionalidade da Lei Complementar 135/10 (JUSBRASIL, 2012).

Ressaltou, ainda, que:

A declaração de constitucionalidade da Lei da Ficha Limpa vai além, tornando-se, na prática, o início do processo de reforma política no país. O próximo passo será o Supremo Tribunal Federal acabar com o financiamento privado das campanhas eleitorais. Contudo, ela não será capaz de acabar com todos os males da política brasileira, mas será um passo importante para evitar que carreiristas ingressem na política com a intenção de fazer do mandato uma extensão de interesses privados. Esses vão pensar duas vezes porque a punição moral e política será grande, afirmou. A lei é um importante passo para a limpeza ética na política brasileira e o STF, ao declará-la constitucional, o fez em prestígio aos princípios da probidade administrativa e da moralidade pública.

Quanto à maior responsabilidade que recai aos partidos, entende que:

A Lei da Ficha Limpa veio para mudar os costumes políticos e propiciar que os partidos escolham seus candidatos não mais com base em sua capacidade econômica e com foco no aspecto meramente político. Agora os partidos terão de avaliar se o candidato tem o passado limpo. Isso é muito importante para mudarmos o caminho da política atual no sentido da ética e da moralidade. O presidente nacional da OAB acompanhou pessoalmente a votação do plenário do STF, em Brasília (JUSBRASIL, 2012).

Diante dos intensos debates sobre a aplicabilidade da Lei da Ficha Limpa, o

60

que se tem a dizer é que finalmente após um ano e oito meses da sua publicação no

Diário Oficial da Lei Complementar n° 135/2010, o Supremo Tribunal Federal

conseguiu decidir sobre a sua constitucionalidade.

Tal decisão se deve ao voto da mais nova Ministra Rosa Weber do STF ao

declarar durante seu voto:

No trato da coisa pública, o representante do povo, detentor de mandato eletivo, subordina-se à moralidade, probidade, honestidade e boa-fé, exigências do ordenamento jurídico que compõem um mínimo ético, condensado pela Lei da Ficha Limpa.

61

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma conclusão é sempre tarefa árdua porque tem a missão de dizer em

poucas palavras aquilo que foi auferido e que restou de mais importante do trabalho.

É preciso lembrar, no entanto, que a Ciência do Direito isolada em seu saber

puro, não é suficiente para compreender e resolver a contento, os conflitos advindos

de uma sociedade tão confusa e complicada.

Antes de finalizar o trabalho, registre-se que a escolha do tema deveu-se ao

interesse pessoal de tentar compreender a polêmica existente acerca das ADCs 29 e

30 e a ADI 4578 que se encontravam em fase de andamento no Senado Federal.

Objetivou-se, portanto, mostrar o imprescindível caráter transformador das

Ações Declaratórias de Constitucionalidade (ADCs 29 e 30) e da Ação Direta de

Inconstitucionalidade (ADI 4578) que tratam da Lei Complementar 135/2010, a Lei

da Ficha Limpa.

Por ser assunto novo não foi possível encontrar material bibliográfico

suficiente para expor as idéias centrais com base em autores da área de Direito

Eleitoral, tornando-se, por isso, um desafio, que se espera ter alcançado a finalidade

inicial, além de se centralizar em dados tirados da Internet, através de sites do

governo e dos órgãos que fazem parte desse programa, por serem consideradas

fontes fidedignas.

Observou-se, em linhas gerais, que as inelegibilidades têm como funda-

mentação constitucional a proteção à normalidade e legitimidade das eleições e que

tem por fim prevenir a influência de abusos e de corrupções. Viu-se, por outro lado,

62

que as condições de elegibilidade figuram como simples escolhas do legislador

constituinte, possuindo natureza mais procedimental e que visam estabelecer certas

condições, sendo que algumas delas visam uma maior qualificação do pretenso

candidato, para que a candidatura venha a ser deferida. Neste sentido, defendeu-se

que não há como se estabelecer previamente um valor constitucional comum a se

proteger.

Diante disso, denota-se que a grande maioria das posições consolidadas

pelos tribunais eleitorais acerca das matérias de elegibilidade e de inelegibilidade

constitucionais se encontram de fato em consonância com a máxima da

proporcionalidade, além de prestigiar, em linhas gerais, a ampla elegibilidade em

detrimento das restrições excessivas.

Dentre as novas hipóteses de inelegibilidade, estão, por exemplo, certas

condenações judiciais de órgão colegiado, mesmo sem trânsito em julgado, rejeição

de contas relativas ao exercício de cargos ou funções públicas, exclusão do

exercício de profissão por decisão de órgão profissional por infração ético-

profissional e renúncia na pendência de representação ou petição capaz de autorizar

a abertura de processo por infringência a dispositivo da Constituição Federal, da

Constituição Estadual, da Lei Orgânica do Distrito Federal ou da Lei Orgânica do

Município.

Para o enriquecimento da pesquisa que ora chega ao seu final, surge, para

surpresa de toda Nação brasileira a decisão do STF quando do julgamento final da

Lei da Ficha Limpa, Lei Complementar 135/2010, que reconheceu a constitucionali-

dade do referido diploma normativo que vem merecendo uma análise complexa e

sistêmica pelo Tribunal, ao admitir a tensão entre princípios de envergadura

63

constitucional, quais sejam, o da presunção de inocência previsto pelo art. 5º, inc.

LVII e a moralidade e probidade administrativa do art. 14 da Carta Maior de 1988,

admitiu, através da ponderação de valores, a prevalência deste último.

Refletindo acerca de tais palavras e da realidade em que o povo brasileiro

vive, pode-se assentar que a recente decisão do STF reforça ainda mais o

sentimento de vitória do povo brasileiro aliado ao prazer em participar dos processos

político e eleitoral.

Não se pretendeu esgotar o assunto, deixando para um futuro próximo dar

continuidade ao estudo, principalmente pelo fato da vitória do tema onde a Lei da

Ficha Limpa tornou-se um marco para o fortalecimento do processo democrático,

contribuindo para o aprimoramento e amadurecimento dos instrumentos de defesa

da cidadania.

64

BIBLIOGRAFIA

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68

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO....................................................................................................02

DEDICATÓRIA...........................................................................................................03

AGRADECIMENTOS.................................................................................................04

EPÍGRAFE.................................................................................................................05

RESUMO....................................................................................................................06

METODOLOGIA.........................................................................................................07

SUMÁRIO...................................................................................................................08

INTRODUÇÃO...........................................................................................................09

CAPÍTULO I - INTRODUZINDO OS ASPECTOS ESSENCIAIS DOS PODERES

POLÍTICOS E DO VOTO...........................................................................................12

1.1 Abordagem constitucional....................................................................................12

1.2 Dos Direitos Políticos...........................................................................................14

1.3 Do Voto.................................................................................................................17

1.3.1 Caracteres do voto............................................................................................19

1.3.2 Eleições, plebiscito, referendo e iniciativa popular............................................21

CAPÍTULO II - BREVE REVISÃO SOBRE A ELEGIBILIDADE E INELEGIBILI-

DADE..........................................................................................................................24

2.1 Considerações sobre a elegibilidade....................................................................24

2.2 Definindo inelegibilidade.......................................................................................28

2.3 Condições de inelegibilidade................................................................................30

2.4 Incompatibilidade..................................................................................................34

CAPÍTULO III - OS EFEITOS DA INELEGIBILIDADE NA ESFERA POLÍTICA:

LC 135/10 “LEI DA FICHA LIMPA”: APROVAÇÃO.....................................................36

69

3.1 A real aplicabilidade da pena de inelegibilidade na LC 64/90.......................36

3.1.1 Quanto aos prazos...........................................................................................41

3.2 Ações Declaratórias de Constitucionalidade (ADCs) 29 e 30 e da Ação

Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4578..........................................................45

3.3 Posição do STF quanto à constitucionalidade da LC 135/2010.........................47

CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................61

BIBLIOGRAFIA..........................................................................................................64

WEBGRAFIA..............................................................................................................66

ÍNDICE.......................................................................................................................68

FOLHA DE AVALIAÇÃO............................................................................................70

70

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes

Título da Monografia: Aplicabilidade da pena de Inelegibilidade nas LC n.º

64/1990 e LC 135/2010

Autor: Evelyn Christiane Sampaio Fargnoli

Data da entrega: Março de 2012

Avaliado por: Prof. Conceito: