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Fichamento de Contratos, Direitos Civis. CONTRATO DE COMPRA E VENDA EMENTÁRIO DE TEMAS: Introdução — Natureza Jurídica — Elementos — Despesas do Contrato e Garantia — Riscos da Coisa — Limitações à Compra e Venda — Regras Especiais BIBLIOGRAFIA Arts. 481 a 504 da Lei nº 10.406/2002. GOMES, Orlando, Contratos. Rio de Janeiro: Forense, 2007, 26. ed., págs. 265 a 304. PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Rio de Janeiro: Fo rense, 2010, vol. III, 14. ed., págs. 145 a 169. BESSONE, Darcy, Da compra e venda, 4.ed., São Paulo: Saraiva, 1997. JÚNIOR, José Osório de Azevedo, Compra a venda, troca ou permuta, vol. III, São Paulo: Revista de tribunais, 2005. LÔBO, Paulo Luiz Neto, In Antonio Junqueira de Azevedo (coord.), Comentários ao Código Civil, vol.VI, Saraiva: São Paulo, 2003. TEPEDINO, Gustavo, BARBOZA, Heloisa Helena e MORAES, Maria Celina de. Código Civil Interpretado conforme a Constituição da República. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, v. II. Introdução O contrato de compra e venda, verbal ou escrito, é a espécie mais comum dos contratos. Em nosso

Fichamento de Contratos Civis

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Fichamento de Contratos, Direitos Civis.

CONTRATO DE COMPRA E VENDA

EMENTÁRIO DE TEMAS:

Introdução — Natureza Jurídica — Elementos — Despesas do Contrato e Garantia — Riscos da Coisa — Limitações à Compra e Venda — Regras Especiais

BIBLIOGRAFIA

Arts. 481 a 504 da Lei nº 10.406/2002.

GOMES, Orlando, Contratos. Rio de Janeiro: Forense, 2007, 26. ed., págs. 265 a 304.

PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Rio de Janeiro: Fo rense, 2010, vol. III, 14. ed., págs. 145 a 169.

BESSONE, Darcy, Da compra e venda, 4.ed., São Paulo: Saraiva, 1997.

JÚNIOR, José Osório de Azevedo, Compra a venda, troca ou permuta, vol. III, São Paulo: Revista de tribunais, 2005.

LÔBO, Paulo Luiz Neto, In Antonio Junqueira de Azevedo (coord.), Comentários ao Código Civil, vol.VI, Saraiva: São Paulo, 2003.

TEPEDINO, Gustavo, BARBOZA, Heloisa Helena e MORAES, Maria Celina de. Código Civil Interpretado conforme a Constituição da República. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, v. II.

Introdução

O contrato de compra e venda, verbal ou escrito, é a espécie mais comum dos contratos. Em nosso dia-a-dia realizamos inúmeras operações de compra e venda, muitas vezes sem prestar atenção. Por exemplo, quando saímos para jantar, compramos uma bala na banca, vamos a padaria, estamos realizando pequenas operações de compra e venda.

Não é à toa que essa é a primeira espécie a ser tratada pelo Código Civil, sendo que outros contratos, como permuta, são regulados também pelas disposições do contrato de compra e venda.

O contrato de compra e venda não gera efeitos reais, ou seja, não transfere, por si só, o domínio do bem alienado. O contrato de compra e venda gera: para o vendedor, a obrigação de transferir a coisa vendida; para o comprador, a obrigação de pagar o preço ajustado. Porém, a transferência do domínio só ocorre com a tradição (entrega) do bem, no caso de bem móvel, e com o registro do título de compra no Registro de Imóveis na hipótese de bem imóvel. (arts. 1.267 e 1.245 da Lei n° 10.406/2002)

Os artigos 481 e 482 da Lei 10.406/2002 dispõem:

“Art. 481. Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro”.

“Art. 482. A compra e venda, quando pura, considerar-se-á obrigatória e perfeita, desde que as partes acordarem no objeto e no preço”.

A partir da leitura desses dois artigos, podemos extrair a natureza jurídica e os elementos do contrato de compra e venda.

Natureza jurídica:

•CONSENSUAL E (EM REGRA) NÃO SOLENE

Depende apenas da vontade das partes. Estando ambas de acordo com o objeto e o preço, o contrato é realizado. Não se exige, em regra, formalidade específica para o contrato de compra e venda, que só será obrigatória quando prevista especificamente em lei. Tanto é assim que a compra de um chiclete no baleiro da esquina perfaz uma compra e venda perfeita, embora não formalizada em contrato escrito. Pode-se dizer, sem medo de errar, que a maioria esmagadora das operações de venda é feita sem formalidades específicas previstas em lei.

Todavia, não se pode esquecer que, para algumas espécies de compra e venda, a observância de determinadas formalidades poderão alterar os efeitos do contrato. Na venda de bem imóvel de valor superior a 30 (trinta) vezes o maior salário mínimo vigente no país, é necessária a realização de contrato escrito mediante escritura pública e seu registro no RGI para que gere efeitos perante terceiros. Importante: o contrato de compra e venda de imóvel realizado por meio de instrumento particular é negócio jurídico existente, válido e plenamente eficaz, mas somente entre as partes.

Existem outros contratos que, embora não necessitem de formalidades especiais para seu aperfeiçoamento, necessitam de um determinado registro para que a tradição do bem — apesar de móvel — tenha sua

eficácia plena, inclusive perante terceiros. Como por exemplo, a compra e venda de automóveis.

•SINALAGMÁTICO (OU BILATERAL)

Envolve prestações recíprocas de ambas as partes. O comprador deve entregar o preço enquanto o vendedor deve entregar a coisa.

•ONEROSO

Tanto o comprador quanto o vendedor tem prestações a cumprir, que envolvem transferência de seu patrimônio. A gratuidade da compra e venda, expressa na desproporção manifesta entre o valor da coisa transferida e o preço acordado, desfigura o contrato. O correspondente gratuito da compra e venda é a doação.

Elementos:

Os elementos do contrato de compra e venda encontram-se destacados em negrito no artigo 482 acima, quais sejam:

•CONSENTIMENTO

Comprador e vendedor têm que chegar a acordo quanto ao objeto e o preço.

•PREÇO

Conforme artigo 481 da Lei n° 10.406/2002, o preço deve ser pago em dinheiro. Por quê se não, deixa de ser compra e venda, se tornando outro negócio jurídico, como permuta.

Além disso, o preço não deve ser irrisório, pois senão pode ser considerado uma doação e não uma compra e venda. Como visto acima, deve haver uma proporcionalidade entre o valor da coisa e seu preço.

O preço deve ser determinado ou determinável. Ou seja, a lei permite que o preço não esteja determinado no contrato e que as partes indiquem: (i) terceiro para fixá-lo; ou (ii) taxa do mercado ou da bolsa, em certo e determinado dia e local; ou (iii) índices ou parâmetros, desde que possam ser determinados objetivamente. A fixação do preço em regra segue o livre consentimento das partes. Sendo assim, qualquer fórmula estipulada para fixação do preço é permitida. Pode o preço, inclusive, ser ajustado no tempo, ou seja, mesmo após a tradição do objeto o preço pode estar sujeito a ajustes posteriores.

Não é possível, porém, estabelecer que o preço será fixado de acordo com a vontade de apenas uma das partes, pois nesse caso seria uma hipótese de condição potestativa1, vedada pela Lei n° 10.406/2002.

•COISA

Em teoria, todas as coisas que não estejam fora do comércio podem ser objetos do contrato de compra e venda.

Sua amiga, Mônica, conta que está super empolgada com o presente que ganhou do namorado. Imagine que Eduardo inovou desta vez: comprou-lhe a constelação das Três Marias!!! Ela lhe pergunta quanto vale esse presente. Um pouco constrangido (a) com a situação, você explica que esse presente, embora possa ter muito valor sentimental, não tem qualquer valor econômico. Por quê?

Isso não quer dizer, entretanto, que só podem ser objetos de venda os bens tangíveis. Os bens imateriais, ou intangíveis, também podem ser alienados, como as marcas e o fundo de comércio.

Nada impede que seja contratada a alienação de um bem que ainda não existe. Como vimos anteriormente, no direito brasileiro, o contrato de compra e venda não transfere o domínio do bem. Ele representa a obrigação de transferir um bem no presente ou no futuro, de acordo com a combinação das partes. Tanto é assim, que é possível alienar um empreendimento imobiliário, mesmo antes da construção dos prédios.

Despesas do contrato e garantia

Em regra, as despesas de escritura e registro ficam a cargo do comprador e as despesas com a tradição ficam sob responsabilidade do vendedor. As partes podem, porém, estabelecer regra diversa.

Além disso, no caso de venda a termo, o vendedor pode deixar de entregar a coisa, se o comprador torna-se insolvente, até que o comprador lhe dê garantia de que efetuará os pagamentos no prazo ajustado.

Essa regra do art. 495 está em consonância com a previsão da exceção de contrato não cumprido2 estudada anteriormente. Há uma diferença entre elas. Qual é?

Riscos da coisa

Res perit domino — princípio segundo o qual a coisa perece em poder de seu dono, sofrendo este os prejuízos.

1 Relembrando: Condição potestativa é aquela que é sujeita ao puro arbítrio de uma das partes.2 Art. 477 da Lei nº 10.406/2002: “Se, depois de concluído o contrato, sobrevier a uma das partes contratantes diminuição em seu patrimônio capaz de comprometer ou tornar duvidosa a prestação pela qual se obrigou, pode a outra recusar-se à prestação que lhe incumbe, até que aquela satisfaça a que lhe comete ou dê garantia bastante de satisfazê-la”.

Esse princípio foi utilizado pelo legislador ao determinar, no art. 492, que “até o momento da tradição, os riscos da coisa correm por conta do vendedor, e os do preço por conta do comprador”.

Tendo em vista que a celebração do contrato de compra e venda não é suficiente para transferir o domínio da coisa até o momento da tradição (para bens móveis) e do registro (para bens imóveis), a coisa continua a pertencer ao alienante. Por isso, até o momento de sua efetiva entrega ou registro, os riscos com a coisa são do vendedor.

Porém, os riscos com a coisa correm por conta do comprador quando:• a coisa encontra-se à disposição do comprador para que ele

possa contar, marcar ou assinalar a coisa e, em razão de caso fortuito ou força maior, a coisa se deteriora;

• o comprador solicita que a coisa seja entregue em local diverso daquele que deveria ser entregue;

• o comprador está em mora de receber a coisa, que foi posta à disposição pelo vendedor no local, tempo e modo acertado. Esta hipótese é uma exceção ao princípio da Res perit domino, pois neste caso não houve a tradição da coisa. Não seria justo, entretanto, que o vendedor arcasse com os riscos da coisa, uma vez que cumpriu sua parte do contrato.

• houver mútuo acordo entre as partes.

Limitações à compra e venda

A lei veda que determinadas pessoas participem de compra e venda. Essa vedação não resulta da incapacidade das pessoas para realizar essa operação, mas sim da posição na relação jurídica. No caso, eles não têm legitimidade para realizar determinadas operações. Isto ocorre nas seguintes situações:

• tutores, curadores, testamenteiros e administradores não podem comprar, ainda que em hasta pública, os bens confiados à sua guarda ou administração;

• servidores públicos não podem comprar, ainda que em hasta pública, os bens ou direitos da pessoa jurídica a que servirem, ou que estejam sob sua administração, direta ou indireta;

• juízes, secretários de tribunais, arbitradores, peritos e outros serventuários ou auxiliares da Justiça não podem comprar, ainda que em hasta pública, os bens ou direitos sobre que se litigar em tribunal, juízo ou conselho, no lugar onde servirem, ou a que se estender a sua autoridade;

• leiloeiros e seus prepostos não podem adquirir, ainda que em hasta pública, os bens de cuja venda estejam encarregados.

• descendentes não podem adquirir bens do ascendente, sem consentimento expresso dos demais descendentes e do cônjuge do alienante.

O condômino de coisa indivisível pode alienar sua parte a terceiros, desde que dê direito de preferência aos demais condôminos, ou seja, ele precisa oferecer aos demais condôminos sua parte pelo mesmo preço e condições pelos quais pretende vender a terceiros. O que ocorre se houver mais de um condômino interessado em adquirir a quota parte a ser alienada?

A melhor oferta irá ser aceita.

Regras especiais

• VENDA POR AMOSTRA

Ocorre quando a venda ocorre com base em amostra exibida ao comprador. O comprador tem direito de receber coisa igual à amostra.

• VENDA AD CORPUS E VENDA AD MENSURAM

Venda ad mensuram — as partes estão interessadas em uma determinada área. Exemplo: Fazendeiro tem interesse em adquirir mil hectares para poder plantar. O objetivo do adquirente é comprar uma coisa com determinado comprimento necessário para desenvolver uma finalidade.

Venda ad corpus — as partes estão interessadas em comprar coisa certa e determinada, independentemente da extensão. Exemplo: Fazendeiro tem interesse em adquirir a Fazenda Boa Esperança. Nestes casos, entende-se que a referência à medida do terreno é meramente enunciativa.

Embora em alguns casos seja difícil determinar se a venda foi feita ad mensuram ou ad corpus, por vezes essa distinção se faz necessária em razão das regras peculiares a cada uma.

No caso de venda ad mensuram, o comprador tem o direito de exigir que a coisa vendida tenha as medidas acertadas e não o tendo pode pedir a complementação da área, ou caso isso não seja possível, rescindir o contrato de compra e venda.

Já no caso de venda ad corpus, o comprador não teria esse direito, caso verifique que as medidas do imóvel adquirido não correspondem exatamente as medidas que constaram do contrato.

• DEFEITO OCULTO NAS VENDAS CONJUNTAS

“Art. 503. Nas coisas vendidas conjuntamente, o defeito oculto de uma não autoriza a rejeição de todas”.

2. AULA 2: CONTRATO DE CO

Retrovenda

Direito de recobrar = Direito de retrato = direito de resgate = vendedor tem direito de exigir que o comprador lhe revenda o imóvel.

Muitos entendem que a retrovenda caiu em desuso em razão do compromisso de compra e venda. “...o compromisso de venda e compra preenche, com muito mais eficácia e maior economia, o papel que durante algum tempo a retrovenda desempenhou. Daí ser ela, hoje, instituto superado”3.

Para que tenha efeito erga omnes4, o direito de retrovenda deve ser registrado no registro de imóveis, juntamente com a escritura pública de compra e venda.

Analisando o artigo 505 da Lei 10.406/2002, podemos extrair alguns requisitos da retrovenda. Quais são eles?

“Art. 505. O vendedor de coisa imóvel pode reservar-se o direito de recobrá-la no prazo máximo de decadência de três anos, restituindo o preço recebido e reembolsando as despesas do comprador, inclusive as que, durante o período de resgate, se efetuarem com a sua autorização escrita, ou para a realização de benfeitorias necessárias”.

Da Venda a Contento e da Sujeita a Prova

A venda a contento é cada vez mais rara atualmente em razão da “padronização de mercadorias, a difusão dos preços fixos, a despersonalização das relações entre as partes...”5.No caso da venda a contento, embora haja a tradição do bem móvel, o domínio do bem não é transferido. Somente com a concordância do

3 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. Dos contratos e das declarações unilaterais de vontade. São Paulo: Ed. Saraiva, vol. 3; pág. 187.

4 Oponível a terceiros

5 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. Dos contratos e das declarações unilaterais de vontade. São Paulo: Ed. Saraiva, vol. 3; pág. 189.

comprador, o domínio é transferido. A concordância do comprador é, portanto, uma condição suspensiva para a alienação.

Preempção ou preferência

Ao vender um bem, o vendedor pode vir a resguardar seu direito de preempção ou direito de preferência. Assim, caso o comprador queira vender esse bem a terceiros, ele estará obrigado a oferecer o bem ao vendedor, que se pagar o mesmo valor oferecido pelo terceiro, terá preferência sobre ele.

Para que esse direito exista são necessários os seguintes requisitos:• o comprador tem que querer vender o bem adquirido;• o vendedor tem que querer recomprar o bem, estando

disposto a pagar ao comprador o preço que ele tiver conseguido com terceiros;

• o vendedor tem que exercer o direito no prazo.

O prazo para exercer o direito de preferência não poderá ser superior a 180 dias se o bem for móvel, ou a 2 (dois) anos, se o bem for imóvel. Se o prazo não for estipulado, o direito de preferência caducará em 3 (três) dias, no caso de bem móvel, e em 60 (sessenta) dias, no caso de bem imóvel. O prazo começa a contar a partir da notificação do proprietário (comprador) ao vendedor informando sobre seu interesse em vender o bem.

Quais são as diferenças entre a preempção e o direito de retrovenda? Na preempção, dono do imóvel caso queira vende-lo, tem que ter em conta que deve procurar o preemptor para que possa mostrar a oferta que tem do imóvel, para que ele decisa se quer ou não exerce-la, já na retrovenda, depois de prazo estipulado, ele tem a obrigação de vender o imóvel.

O direito de preferência é um negócio acessório, geralmente vinculado à compra e venda. Porém, não é raro vermos a estipulação de direito de preferência em outros contratos. A cláusula de direito de preferência é muito comum, por exemplo, em acordos de acionistas6. Tanto é assim que a Lei nº 6.404/19767, que dispõe sobre as sociedades por ações, reconheceu que o direito de preferência é um dos tópicos que pode ser tratado em acordo de acionistas. Deste modo, por meio de acordo de acionistas, os contratantes podem convencionar que se um deles desejar vender sua participação a terceiro será obrigado a oferecer as

6 “Destina-se o acordo de acionistas a regrar o comportamento dos contratantes em relação à sociedade de que participam, funcionando, basicamente, como instrumento de composição de grupos. Sendo um contrato, a ele se aplicam os preceitos gerais, concernentes a essa categoria jurídica. Assim, e como contrato atípico, vinha sendo celebrado no período anterior à atual lei das sociedades anônimas” (Borba, José Edwaldo Tavares. Direito Societário – 7 ed. rev. aum. e atual. – Rio de Janeiro: Renovar, 2001, pág. 322).

7 “Art. 118. Os acordos de acionistas, sobre compra e venda de suas ações, preferência para adquiri-las, exercício do direito a voto, ou do poder de controle deverão ser observados pela companhia quando arquivados na sua sede”.

suas ações primeiro aos demais acionistas, que poderão comprá-las pelo mesmo preço e condições oferecidos ao terceiro.

Venda com reserva de domínio

A venda com reserva de domínio popularizou-se com o aumento das vendas com pagamento em prestações.

No caso de venda com reserva de domínio, assim como na venda a contento, embora o bem seja entregue ao potencial comprador, o domínio permanece com o vendedor até que a última prestação seja paga pelo comprador.

A venda com reserva de domínio é uma venda condicional que se aperfeiçoa na ocorrência de um evento futuro e incerto: o pagamento do preço.

A venda com reserva de domínio restringe-se aos bens móveis e exige forma escrita. Afinal, se não há previsão expressa da reserva de domínio, aplica-se a regra geral de que a propriedade do bem móvel transfere-se com a tradição do bem. Além disso, para que seja oponível a terceiros, o contrato deve ser registrado no Registro de Títulos e Documentos.

A venda com reserva de domínio pode trazer insegurança jurídica uma vez que, ao contrário do que ocorre com os bens imóveis que exigem solenidade para sua transferência, é comum que pessoas realizem operações de venda de bem móvel sem consultar registros ou sem exigir a prova da propriedade do vendedor. Silvio Rodrigues comenta:

“Teoricamente tal sistema é perfeito. Apenas ele não funciona na prática, principalmente nos grandes centros e tendo em vista a quantidade fantástica de bens móveis duráveis vendidos, diariamente, com reserva de domínio”8.Se o comprador está em mora, o vendedor tem duas opções: mover ação de cobrança das prestações vencidas e vincendas e o que mais lhe for devido ou reaver a posse da coisa vendida.

Da venda sobre documentos

O Código Civil de 1916 não previa essa modalidade de venda.

“A venda sobre (ou contra) documentos tem por finalidade dar mais agilidade às transações mercantis que envolvam venda de mercadorias. Por sua natureza, apenas pode ter por objeto coisa móvel. A obrigatoriedade da tradição da coisa é satisfeita com a entrega ao comprador de documento representativo, para que seja exigível o

8 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. Dos contratos e das declarações unilaterais de vontade. São Paulo: Ed. Saraiva, vol. 3; pág. 176.

pagamento do preço. O vendedor se libera da obrigação de entregar a coisa remetendo ou entregando ao comprador o título representativo da mercadoria”9.

TROCA OU PERMUTA. CONTRATO ESTIMATÓRIO

EMENTÁRIO DE TEMAS:

Permuta. Contrato Estimatório.

BIBLIOGRAFIA

Arts. 533 a 537 da Lei nº 10.406/2002.

GOMES, Orlando, Contratos. Rio de Janeiro: Forense, 2007, 26. ed., págs. 325 a 328.

PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Rio de Janeiro: Fo rense, 2010, vol. III, 14. ed., págs. 169 a 172.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR:

JÚNIOR, José Osório de Azevedo, Compra a venda, troca ou permuta, vol.III, São Paulo: Revista de tribunais, 2005.

LÔBO, Paulo Luiz Neto, In Antonio Junqueira de Azevedo (coord.), Comentários ao Código Civil, vol.VI, Saraiva: São Paulo, 2003.

TEPEDINO, Gustavo, BARBOZA, Heloisa Helena e MORAES, Maria Celina de. Código Civil Interpretado conforme a Constituição da República. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, v. II, págs. 201 a 212.

Permuta

A troca ou permuta é o contrato mais antigo. Consiste na entrega de uma coisa para recebimento de outra, que não seja dinheiro. Ela deu

9 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Parte Especial. Das várias espécies de contratos. In: AZEVEDO, Antônio Junqueira de. (coord.). Comentários ao Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2003, vol.. 6, pág. 216

origem ao contrato de compra e venda, quando os bens passaram a ser trocados por moeda.

Atualmente a compra e venda é muito mais utilizada, mas a permuta mantém seu espaço no ordenamento jurídico.

O contrato de permuta tem a mesma natureza jurídica da compra e venda: é bilateral, oneroso e consensual.

Assim como o contrato de compra e venda, não gera efeitos reais, mas sim a obrigação de transferir ao outro o domínio da coisa objeto de permuta.

Todas as coisas que não sofram indisponibilidade natural, legal ou convencional podem ser permutadas, não sendo necessário que os bens sejam da mesma espécie ou valor.

Por serem tão parecidos, aplicam-se à permuta as regras da compra e venda. O Código Civil fez apenas duas distinções no que diz respeito à aplicação das regras da compra e venda. Quais são elas?

Quando os bens a serem permutados têm valores desiguais, a parte cujo bem tem valor inferior ao outro, completa sua prestação com dinheiro, conhecido neste caso como torna.

O uso da torna no contrato de permuta divide os doutrinadores sobre a natureza do contrato: seria ele uma compra e venda ou uma permuta? Muitos entendem que a existência da torna não descaracteriza a permuta, a não ser que o valor da torna seja de tal modo superior, que seja na verdade o objeto da prestação principal. O que você acha?

A caracterização como compra e venda ou permuta leva a conseqüências práticas em razão dos itens que foram especificamente diferenciados no art. 533 da Lei n° 10.406/2002.

Contrato Estimatório

Embora já fosse realizado na prática, esse contrato só veio a ser regulado como contrato típico no novo Código Civil (Lei nº 10.406/2002), que nada mais é do que a venda em consignação. Sendo assim, por que você acha que o legislador chamou de contrato?

Contrato estimatório é o contrato pelo qual o proprietário (consignante) entrega a posse da coisa à outra pessoa (consignatário), cedendo-lhe o poder de dispor da coisa, dentro de prazo determinado, ficando o consignatário obrigado a devolver o bem ou entregar ao consignatário o preço previamente ajustado pela coisa dentro do prazo determinado.

Apenas os bens móveis e que estão no comércio podem ser objeto do contrato estimatório.

As partes estimam um preço pelo bem. A parte que recebe o bem pode vendê-lo a terceiro por qualquer valor, desde que pague a parte que lhe entregou o bem o preço que entre elas foi estimado.

Para retribuir a um favor seu, sua amiga, Ana Maria, lhe oferece um conjunto de xícaras de porcelanas chinesas. Mesmo sem ver muita utilidade para tal presente, você agradece e pergunta quando pode buscá-lo. Ana Maria então lhe explica que o conjunto está na loja Brechó da Vovó. Intrigado, você pergunta o que o conjunto está fazendo na loja e ela lhe explica que celebrou um contrato estimatório com o dono da loja. Curioso, você vai ao Código Civil para consultar esse tipo de contrato e fica um pouco desapontado. Por quê?

Estando para terminar o prazo do contrato estimatório, a loja Brechó da Vovó procura Ana Maria para devolver o conjunto de xícaras que não foi vendido. Você vai junto com Ana Maria para buscá-lo. Ao chegarem à loja, porém, Ana Maria nota que além de faltar uma das peças, muitas outras estão rachadas. O dono da loja explica a Ana Maria que um de seus funcionários estava arrumando a loja e que sem querer esbarrou no conjunto, deixando o cair, mas que felizmente apenas uma das peças havia se quebrado, ficando as demais apenas rachadas. Ana Maria fica muito triste, pois percebe que seu conjunto de chá não poderá mais ser utilizado. Como você aconselharia Ana Maria, neste caso?

DOAÇÃO

EMENTÁRIO DE TEMAS:

Características do contrato de doação — Aceitação — Espécies de doação — Restrições à liberdade de doar — Doação de ascendente para descendente — Resolução e revogação da doação.

BIBLIOGRAFIA:

Arts. 538 a 564 da Lei nº 10.406/2002.

GOMES, Orlando, Contratos. Rio de Janeiro: Forense, 2007, 26. ed., págs. 253 a 264.

PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2010, vol. III, 14. ed., págs. 207 a 226.

A) Características do contrato de doação

O contrato de doação é:

• Unilateral — envolve prestação de apenas uma das partes;• Gratuito — em regra, o doador não espera qualquer

prestação do donatário. É uma liberalidade do doador;• Solene — a lei impõe forma escrita para doação, exceto nos

casos de bens móveis de pequeno valor, havendo a tradição imediatamente depois. (art. 541)

Aceitação

A aceitação pelo donatário é elemento indispensável para a doação e pode ser:

• expressa — quando é manifestada de forma verbal, escrita ou por gestos.

• tácita — quando resulta de comportamento do donatário incompatível com sua recusa à doação.

• presumida pela lei — nos casos previstos nos arts. 539, 543 e 546 da Lei nº 10.406/2002.

Espécies de Doação

Doação pura — é pura liberalidade. O doador não espera do donatário qualquer ato ou prestação por parte do donatário.

Doação remuneratória — tem o objetivo de pagar um serviço prestado pelo donatário, mas que não podia ser exigido pagamento pelo doador. Por exemplo, prêmio pago a alguém que encontrou seu cachorro desaparecido.

Doação com encargo — nessa espécie de doação, o doador impõe ao doador uma contraprestação que resulta em vantagem para o próprio doador ou para terceiro. Exemplo: Doador doa recursos ao donatário, mas o donatário fica obrigado a pagar uma mesada a um parente do doador.

A doação remuneratória e a doação com encargo perdem a característica da gratuidade?

Restrições à liberdade de doar

— DOAÇÃO DE TODOS OS BENS DO DOADOR — ART. 548 DA LEI Nº 10.406/2002

P objetivo dessa restrição é proteger o doador e também a sociedade, evitando que o doador passe a fi car totalmente desamparado e tenha que ser assistido pelo Estado.

— DOAÇÃO DE PARTE QUE CABERIA À LEGÍTIMA — ART. 549 DA LEI Nº 10.406/2002

Essa restrição visa proteger o patrimônio dos herdeiros. De acordo com o art. 1.846, pertence aos herdeiros necessários10 a metade dos bens da herança. Sendo assim, se o doador tem herdeiros necessários, ele só pode doar metade de seus bens, tendo em vista que a outra metade constitui a legítima, e é assegurada aos herdeiros necessários. No momento da doação deve ser aferido se o bem a ser doado é superior à metade dos bens do doador.

Por outro lado, se o doador não tiver herdeiros necessários, ele terá ampla liberdade de doar seus bens, observando-se apenas as demais restrições previstas no Código Civil, como visto anteriormente.

— DOAÇÃO QUE PREJUDIQUE OS CREDORES DO DOADOR — ART. 158 DA LEI Nº 10.406/2002

Embora esta restrição não esteja expressa no capítulo sobre doação do Código Civil, ela está prevista no art. 158 do Código Civil, que trata da fraude contra credores. Para proteger os credores quirografários11 do doador, o código prevê que eles podem anular a doação quando o doador estiver insolvente com eles ou fi car insolvente com os credores por ter doado bens a terceiros.

— DOAÇÃO DO CÔNJUGE ADÚLTERO A SEU CÚMPLICE — ART. 550 DA LEI Nº 10.406/2002

Essa restrição tem como propósito proteger o cônjuge e os herdeiros necessários.

E) Doação de ascendente para descendente

Como já vimos anteriormente, o legislador preocupou-se em tentar evitar que um dos filhos seja benefi ciado pelos pais em detrimento do outro.

10 Os herdeiros necessários são os descendentes, os ascendentes e o cônjuge. (art. 1.845 da Lei nº 10.406/2002).

11 Credor Quirografário ou simples: “aquele que não tem título que lhe dê preferência; possui os mesmos direitos que os credores comuns, sendo pago em rateio do saldo que houver, depois de ressarcidos os privilegiados”. (Dicionário Técnico Jurídico/ organização Deocleciano Torrieri Guimarães; coordenação Luiz Eduardo Alves de Siqueira – 3 ed. rev. e atual. São Paulo: Rideel, 2001.)

Dessa forma, no caso da compra e venda, vimos que é anulável a venda de ascendente a descendente, exceto se os outros descendentes expressamente consentirem. Na permuta entre descendente e ascendente, é anulável a troca de valores desiguais, sem consentimento dos outros descendentes.

Qual foi o mecanismo adotado no caso da doação?

E se o pai realmente quiser doar algo para um dos fi lhos em detrimento dos outros?

Com a morte de seus pais, Ruth e Raquel abriram o inventário. Raquel pede que o juiz considere como adiantamento de legítima à Ruth os gastos que os pais tiveram com a festa de casamento de Ruth. Ruth, por sua vez, solicita que o juiz considere como adiantamento de legítima a Raquel, todas as despesas que os pais tiveram para pagamento do doutorado de Raquel em Paris. Se você fosse o juiz, o que você faria?

F) Resolução e revogação da doação

A doação pode ser desfeita:

• por motivos comuns a todos os contratos — embora não esteja prevista no capítulo específi co sobre doações, aplicam-se as regras gerais a todos os contratos, ou seja, os defeitos12

que podem macular o ato jurídico, como erro, dolo, coação, simulação e fraude, são motivos para anular a doação.

• por ser resolúvel o negócio — ocorre, por exemplo, no caso previsto no art. 547, no qual o doador sobrevive ao donatário e o domínio do bem volta ao patrimônio do doador.

A doação pode ser revogada:• por descumprimento do encargo — no caso de doação com

encargo, se o donatário não cumprir o encargo no prazo assinalado pelo doador, o doador pode desfazer a doação.

• por ingratidão do donatário — o legislador visou punir o donatário, mas restringiu a possibilidade de revogar a doação por ingratidão a determinadas causas e regulou seus efeitos.

Rita foi visitar sua mãe na casa de veraneio e aproveitou para buscar a coleção de discos dos Beatles e entregá-la a Lucy. Lucy fi cou muito satisfeita com a prima, mas isso não foi sufi ciente para apagar a velha briga que tem com o seu vizinho Paul, que é também irmão de Rita. Paul é um péssimo vizinho, que, além de fazer barulho até altas horas da madrugada, não paga em dia as cotas do condomínio do prédio onde vivem. Para completar, uma noite, ao chegar bêbado, acabou por bater no carro de Lucy que estava estacionado na garagem do prédio. Essa foi a gota d’água para Lucy que, no dia seguinte,

12 Rever arts. 138 a 155 (erro, dolo e coação) e arts. 158 a 165 (fraude) e 167 (simulação).

encontrando-o na entrada do prédio, acabou perdendo a paciência e, na frente dos porteiros e de alguns moradores que aguardavam o elevador, chamou de irresponsável e outros adjetivos de baixo calão que não convém replicar para nosso leitor. Paul se disse muito ofendido por Lucy. Lucy diz que Rita é muito ligada a seu irmão e diz que teme que esse incidente com Paul possa ter impacto na doação de Lucy. Lucy tem razão de fi car preocupada? E se Lucy tiver alugado a coleção para um amigo?

CONTRATO DE LOCAÇÃO. LOCAÇÃO DE COISAS.

EMENTÁRIO DE TEMAS:

Introdução — Elementos do contrato de locação — Obrigações do locador — Obrigações do locatário

BIBLIOGRAFIA:

Arts. 565 a 578 da Lei nº 10.406/2002.

GOMES, Orlando, Contratos. Rio de Janeiro: Forense, 2007, 26. ed., págs. 329 a 350.

PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Rio de Janeiro: Fo rense, 2010, vol. III, 14.ed., págs. 229 a 254.

BIBLIOGRAFIA:

ESPÍNOLA, Eduardo, Dos contratos nominados no Direito Civil Brasileiro, Campinas: Bookseller, 2002.

SANSEVERINO, Paulo de Tarso Vieira, Contratos nominados II, vol.IV, 2.ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.

TEPEDINO, Gustavo, BARBOZA, Heloisa Helena e MORAES, Maria Celina de. Código Civil Interpretado conforme a Constituição da República. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, vol. II, págs. 249 a 288.

Introdução

Modernamente, ao se falar em locações, se fala sempre em locação de coisas. A locação de serviços e de obras, tratadas no direito romano como espécies de locação, evoluiu para a prestação de serviços (e para o Direito do Trabalho, quando há vínculo empregatício) e para a empreitada, respectivamente. Portanto, no âmbito destas aulas, quando se fala em locação, ter-se-á sempre em mente a idéia de locação de coisas (locatio rei).

Todavia, ainda hoje existe uma diferenciação no ordenamento quanto às diversas espécies de locação; algumas são consideradas tão especiais pela mens legis, que merecem um regramento especial próprio, e o maior exemplo disto é a locação de prédios urbanos (residenciais, comerciais e de temporada), que são regidos por legislação especial, conforme diretiva do próprio código (art.

2.036 do código e Lei nº 8.245/1991).

CONCEITO DO CONTRATO DE LOCAÇÃO.

O núcleo do contrato de locação é a cessão de uma coisa não fungível entre o seu proprietário — o locador — e aquele que se utilizará da coisa — o locatário.

Código Civil

Art. 565. Na locação de coisas, uma das partes se

obriga a ceder à outra, por tempo determinado ou

não, o uso e gozo de uma coisa não fungível,

mediante certa retribuição.

Do claro conceito legal, pode-se extrair as características principais do contrato: a cessão da coisa (“ceder à outra... uso e gozo de uma coisa não fungível”), preço (“certa retribuição”), consentimento (“se obriga a”) e prazo (“por tempo determinado ou não”).

Trata-se de contrato:

(i) bilateral, porque confere obrigações e direitos recíprocos às duas partes;

(ii) oneroso, como se vê do próprio conceito legal, pois é da natureza do contrato a retribuição econômica por parte do locatário;

(iii) consensual, pois se forma só pelo acordo de vontades, sem exigir forma específi ca13; a tradição da coisa, como na compra e venda, já diz respeito à fase da execução do contrato, não se trata de contrato real;

13 Note-se que, no caso de locações prediais urbanas, a lei dá (art. 46 da lei 8.245) um tratamento especial às locações reduzidas a contrato escrito, incentivando sua utilização, como se verá no ponto específi co.

(iv) comutativo, porque as partes já tem conhecimento de suas respectivas prestações, em regra, na celebração da avença; e

(v) não solene, pois a lei não exige forma específi ca para sua validade. Todavia, os efeitos do contrato podem ser diferentes conforme houver registro ou não. A proteção do locatário, em caso de alienação do bem, é maior se houver registro (art. 576).

Em regra, o contrato de locação não é personalíssimo, embora possa se tornar mediante consentimento das partes. Além disso, o contrato de locação é de execução continuada ou de trato sucessivo, pois envolve prestações seguidas no tempo; o pagamento de uma prestação não exaure o contrato, ao contrário da compra e venda, mas tão somente é considerado como contrapartida pelo uso em um determinado período, normalmente mensal.

B) Elementos do contrato de locação

Os elementos do contrato são, simplifi cadamente, o tempo, o preço e o objeto do negócio, isto é, a coisa, embora alguns autores14 enxerguem também o consentimento e a forma como seus elementos.

I) A CESSÃO DA COISA — O OBJETO DO CONTRATO DE LOCAÇÃO

Embora seja uma confusão bastante comum, o objeto do contrato de locação não é a coisa em si, mas seu uso e gozo por alguém que não o seu proprietário, transferidos por meio de manifestação de vontade.

O principal atributo da coisa que será objeto de locação é a sua infungi-bilidade. Disso decorrem algumas conseqüências: (i) segundo o art. 569, IV, do Código Civil, o locatário é obrigado a restituir a coisa no estado em que a recebeu, salvo as deteriorações do seu uso regular; ou seja, a lei privilegia a não-fungibilidade do bem; (ii) não se destinam à locação as coisas consumíveis no seu primeiro uso, como o dinheiro; e (iii) por outro lado, pode ser objeto da locação se algum acessório da coisa for consumido, sem que ela perca a sua infungibilidade (ex.: corte de árvores em casa de campo).

O fato de um bem ser inalienável não impede o seu uso em locação, como bens fora do comércio ou bens públicos.

Pode ser objeto da locação bens móveis ou imóveis, contanto que sejam infungíveis. Ressalte-se que, embora a Lei do Inquilinato tenha tomado para si a normatização de boa parte dos imóveis urbanos, seu art. 1º, parágrafo único, exclui diversos tipos de imóveis, que continuam sendo tratados pelo código (ou por legislação especial, se houver), como, por exemplo, as vagas autônomas de garagem. O aluguel de lojas em

14 Caio Mário, pág. 276.

shoppings centers também possui toda uma sistemática própria, havendo um grande avanço jurisprudencial na matéria.

É muito comum considerar o contrato de leasing ou arrendamento mercantil como uma locação de coisas móveis; todavia, tal contrato possui peculiaridades específi cas com relação à locação comum de coisas regulada pelo Código Civil (como, por exemplo, a opção de compra ao fi nal do prazo contratual), e, portanto, com ele não se confunde.

Em regra, a celebração da locação transfere a posse do bem, salvo se houver previsão contratual específi ca em contrário. O art. 566, II, do Código Civil, determina ser obrigação do locador garantir ao locatário o uso pacífi co da coisa durante o tempo do contrato.

II) PREÇO — O ALUGUEL

Como dito anteriormente, o pagamento do aluguel é o que diferencia a locação do comodato. Há de haver, sob pena de invalidação do contrato ou

de sua confi guração em empréstimo disfarçado ou até mesmo comodato, uma certa proporcionalidade entre o valor do bem e o aluguel cobrado.

Podem as partes estipular aluguel que não seja em dinheiro? Por quê?

No âmbito da discricionariedade das partes, podem ser deduzidos do aluguel as obras e benfeitorias feitas pelo locatário.

III) PRAZO — O TEMPO DA LOCAÇÃO.

A defi nição legal do contrato de locação já permite que ela seja celebrada tanto por prazo determinado quanto por prazo indeterminado, embora a sua temporariedade o diferencie, por exemplo, do instituto extinto da enfi teuse, em que a transferência da posse é perpétua.

A lei, contudo, dá efeitos diferentes (mais sensíveis ainda no caso da locação de prédios urbanos sujeitos à Lei nº 8.245/1991) ao contrato de locação conforme o seu prazo.

O art. 571 estabelece que, na locação por prazo determinado, por um lado o locador não pode exigir a devolução da coisa antes do término do contrato, a não ser que pague as perdas e danos correspondentes, mas, por outro, o locatário também não poderá devolver a coisa sem o pagamento proporcional da multa contratual. Numa interpretação a contrario sensu, portanto, sendo o contrato sem prazo determinado, qualquer das partes pode resilir o contrato sem o pagamento de penalidades.

Sendo o contrato por prazo determinado (arts. 573 e 574), extingue-se a locação pelo mero decurso do tempo, sem necessidade de notifi cação ou aviso. Caso, todavia, o locatário, sem oposição do locador, permaneça com a posse da coisa, presume-se prorrogada a locação por prazo indeterminado.

Essa presunção legal admite prova em contrário?

C) Obrigações do locador

As obrigações do locador estão dispostas no art. 566 e seguintes do Código Civil. Dentre todas, a fundamental é a de proporcionar ao locatário o uso e gozo da coisa locado, a qual pode ser desdobrada, basicamente, nos deveres de entrega, manutenção e garantia da coisa locada.Entrega — A entrega da coisa, conforme art. 566, I, deve ser feita em estado de servir ao fi m a que se destina. Por exemplo: o locador não pode alugar uma televisão com o tubo de imagem queimado, pois o locatário não poderá fazer o uso esperado dela.

A entrega é o ato por meio do qual a coisa locada muda de possuidor, e presume-se que deve ser feita imediatamente, junto com os seus acessórios e pertenças, salvo se em contrário dispuser o contrato.

Manutenção — Não basta isso, todavia, já que o mesmo artigo fala que o locador deve mantê-la neste estado (dever de manutenção). Esse dever, assim como o de garantia, prolonga-se durante o prazo da locação, embora não caiba a retenção do aluguel como contrapartida a ausência do cumprimento deste dever.

A questão da manutenção da coisa envolve, naturalmente, o tratamento jurídico da conservação e reparação do bem, em razão de sua natural deterioração. O art. 567 do Código Civil reza que, se não houver culpa do locatário, pode este pedir a redução proporcional do aluguel, ou até mesmo a resolução do contrato, se deteriorar-se a coisa durante a vigência do contrato.

Como proprietário da coisa, e, portanto, principal interessado na manutenção do seu valor econômico, em regra se atribui ao locador o dever de promover as obras necessárias à sua conservação, sem, contudo, sob esse pretexto, mudar a destinação da coisa alugada, embora seja normal que o locatário responda pelas despesas de conservação de pequeno porte, consertos, reparos etc.

A prática, porém, especialmente nos imóveis urbanos, é que o contrato de locação estabeleça exatamente que tipo de despesas caberá o locatário e ao locador, sendo esse assunto inclusive objeto de regramento próprio na Lei do Inquilinato.

Garantia — o já mencionado art. 566, II, determina ser obrigação do locador garantir ao locatário o uso pacífi co da coisa, para o fi m a que se destina. Isso quer dizer, conforme sistematiza Caio Mário da Silva Pereira, que o locador deve garantir o locatário quanto a:

(i) vícios da coisa, ou defeitos que possam prejudicar o seu uso. Art. 568, in fi ne, respondendo pelas perdas e danos (graduados pelo seu grau de culpa, sobretudo para os vícios ou defeitos posteriores ao contrato) e sujeitando-se à resolução do contrato, ou à redução proporcional do aluguel, conforme a escolha do locatário (v. tb. Art. 567). Isso vale somente para os vícios ocultos ou também para os vícios aparentes?

(ii) incômodos ou turbações de terceiros, embora caiba ao locatário “o desforço que a lei lhe assegura (Código Civil, art. 1.210, §1º)”15, conforme o mesmo art. 568. Esse dever é imposto mesmo no caso de turbações feitas por colocatários.

(iii) Abstenção de incômodos. Se o locador deve garantir ao locatário o uso pacífi co da coisa com relação a terceiros, com muito mais razão não pode ele praticar atos que venham a prejudicar esta utilização pacífi ca, sob pena de resolução do contrato e pagamento das perdas e danos correspondentes.

(iv) Evicção. Se for total, além da resolução do contrato decorrente da própria evicção, o locatário deve ser indenizado dos frutos que tiver

que restituir, as despesas dela oriundas, além das perdas e danos. Caberia ao locatário o pedido de restituição dos aluguéis pagos? Se parcial a evicção, o locatário pode pedir a resolução do contrato ou abatimento proporcional no aluguel.

(v) Atos da administração pública — não só a desapropriação, mas também os chamados fatos do príncipe que desnaturem a coisa ou o uso a que ela se destina, exceto se causadas pelo próprio locatário (ex.: fechamento de estabelecimento comercial pela vigilância sanitária), caso em que pode o locador solicitar as perdas e danos sofridas. A desapropriação tem um regramento próprio, na medida em que em regra o contrato não pode ter sobrevida pelo interesse público subjacente. Se o locador tinha conhecimento do decreto

15 Caio Mário, pág. 289.

expropriatório, responde pela indenização. Se, todavia, ela sobrevier na vigência do contrato, o locador indenizará o locatário pelas benfeitorias e os aluguéis são devidos até que o ente público seja imitido na posse da coisa.

D) Obrigações do locatário:

Estão dispostas fundamentalmente no art. 569 do Código Civil.

A mais importante delas é a de pagar pontualmente o aluguel, na forma ajustada no contrato. O aluguel está para a locação assim como o preço está para a compra e venda. A lei estabelece inclusive um penhor legal sobre os móveis que guarnecem o imóvel locado como garantia de pagamento, conforme o art. 1.467, II do código.

Deve também o locatário usar a coisa para os usos convencionados ou presumidos, tratando-a como se sua fosse (art. 569, I). A eventual tolerância do locador, em regra, não permite afastamento desta regra. O desvio de fi nalidade é analisado no caso concreto, conforme as circunstâncias do contrato, do local em que ele é celebrado e o princípio da boa-fé objetiva.

O locatário deve ter a diligência esperada para o cuidado com a coisa, de maneira, por exemplo, a impedir a deterioração do bem se ela é evidente, sem prejuízo de seu dever de pequenos reparos e consertos já mencionado.

O locatário é obrigado a levar ao conhecimento do locador as turbações de terceiros. Isso é contrapartida do dever do locador de garantir a coisa locada. Esse dever de informação deve ser exercido de modo a permitir a que o locador possa tomar todas as providências para o exercício do seu próprio dever, isto é, tão logo o locatário tome conhecimento da turbação, deve notifi car o locador, para que ele, por exemplo, possa entrar com as medidas judiciais cabíveis para a proteção de sua propriedade e da posse do locador.

Por fi m, fi ndo o contrato de locação, deve o locatário restituir a coisa no estado em que a recebeu, salvo por sua deterioração natural. As únicas exceções permitidas por lei são as em é conferido ao locatário direito de retenção, como se verá a seguir.

Caso o locatário descumpra esse dever, a lei provê a solução no art. 575: ficará responsável pelos aluguéis enquanto mantiver a coisa em seu poder, no valor arbitrado pelo locador, e responderá pelos danos a ela, ainda que proveniente de caso fortuito.

ALIENAÇÃO DO BEM DURANTE O PRAZO LOCATÍCIO

A questão está regulada no art. 576 do código, sem prejuízo das regras específicas da Lei nº 8.245. O adquirente do bem somente estará obrigado a respeitar a locação se o contrato contiver cláusula expressa e tiver sido submetido ao registro próprio.

DIREITO DE RETENÇÃO

É um poder, uma defesa que a lei dá ao locatário de conservar em sua posse a coisa alheia locada, mesmo depois de fi ndo o prazo contratual, enquanto não lhe forem indenizadas as despesas ou perdas sofridas em razão da coisa. Pode-se dizer até que é um dos poucos casos de “Justiça privada” aceita pelo Direito brasileiro.

A lei confere direito de retenção ao locatário pelas benfeitorias necessárias16, e também pelas úteis17, caso tenham sido feitas com o consentimento do locador (art. 578). Tratando-se de norma dispositiva, contudo, podem as partes dispor em contrário no contrato.

16 Art. 96, parágrafo 3º da Lei nº 10.406/2002: “São necessárias as que têm por fi m conservar o bem ou evitar que se deteriore”.

17 Art. 96, parágrafo 2º da Lei nº 10.406/2002: “São úteis as que aumentam ou facilitam o uso do bem”.

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. EMPREITADA.

1.11.1. EMENTÁRIO DE TEMAS:

Prestação de Serviços — Introdução. Características da Prestação de Serviços. Empreitada — Introdução. Características da Empreitada. Riscos com aumento ou redução de preços. Espécies de Empreitada. Obrigações do Empreiteiro. Obrigações do dono da obra.

1.11.2. BIBLIOGRAFIA OBRIGATÓRIA:

Arts. 593 a 626 da Lei n° 10.406/2002.

GOMES, Orlando, Contratos. Rio de Janeiro: Forense, 2007, 26. ed., págs.

351 a 361 (Prestação de serviços); págs. 362 a 372 (Empreitada).

PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Rio de Janeiro: Fo rense, 2010, vol. III, 14. ed., págs. 339 a 347 (Prestação de serviços); 277 a 287 (Empreitada).

1.11.3. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR:

CARVALHO, J.M de, BARRETO, Plínio, ESPÍNDOLA Eduardo e DANTAS San Tiago. Empreitada — Construção por administração e pelo preço de custo, In Revista dos Tribunais, n. 254, dez., 1956, págs.24-57.

PEREIRA, Caio Mario da Silva, Empreitada Clausula de revisão de preço — reajustamento lícito. Quer em face do art. 1.246 do Código civil. quer à vista do curso legal da moeda. In Revista dos Tribunais, n. 245, mar., 1956, págs.07 — ss.

RÁO, Vicente, Empreitada, Modalidades do contrato, In Revista dos Tribunais, n. 254, dez., 1956.

TEPEDINO, Gustavo, BARBOZA, Heloisa Helena e MORAES, Maria Celina de. Código Civil Interpretado conforme a Constituição da República. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, vol. II, págs. 319 a 341 (Prestação de Serviços); 341 a 382 (Empreitada).

A) Prestação de Serviços — Introdução

No Código Civil anterior, a prestação de serviços era tratada como “locação de serviços”. Modernamente, o termo “locação” é utilizado apenas para coisas e não mais para pessoas.

O trabalho com vínculo empregatício é regulado pelo Direito do Trabalho. O Código Civil regula a prestação de serviços residual, ou seja, o “trabalho avulso feito por pessoa física ou jurídica (geralmente microempresa) e o trabalho dos profi ssionais liberais”. Há serviços específi cos que são tratados em seção específi ca do Código Civil, como transporte, corretagem, agência e distribuição, ou até mesmo em lei específi ca, como os serviços de telefonia e bancário.

Desde que respeitados os pressupostos e requisitos18 para os negócios jurídicos, qualquer espécie de serviço pode ser objeto do contrato de prestação de serviço.

B) Características da Prestação de Serviços

18 Relembrando: capacidade das partes, objeto lícito e forma.

Relembrando nossa primeira aula, como poderíamos classifi car o contrato de prestação de serviços?

Bilateral — há obrigações e direitos recíprocos par ambas as partes.Consensual — aperfeiçoa-se com o simples acordo entre contratante e contratado.Oneroso — a remuneração é da essência da prestação de serviços. Não há presunção de gratuidade em qualquer trabalho. Neste ponto, vale a pena comentar da Lei n° 9.608/1998 que disciplina o trabalho voluntário.

Não solene — a lei não exige forma determinada para sua validade.]

Tendo atuado muitos anos no comércio varejista, o senhor Eugênio foi contratado com exclusividade pelo Supermercado Pechincha para prestar serviços de pesquisa de técnicas de atração ao consumidor. Durante a diligência, tivemos conhecimento de que Jeremias Russo vinha mantendo conversas e negociações com o senhor Eugênio para que ele parasse de prestar serviços ao supermercado e passasse a trabalhar para o seu sócio em um novo negócio que Jeremias estava pensando em abrir. Ao saber disso, nosso cliente, o senhor Odin Heiro, preocupado, nos pergunta se há alguma providência que possa ser tomada caso o senhor Eugênio resolva parar de trabalhar para o Supermercado Pechincha.

C) Empreitada — Introdução

Empreitada é o contrato por meio do qual o empreiteiro “se compromete a executar determinada obra, pessoalmente ou por terceiros, em troca de certa remuneração fi xa a ser paga pelo outro contraente — dono da obra —, de acordo com instruções deste e sem relação de subordinação”19.Quais são as diferenças entre o contrato de empreitada e o de prestação de serviços?

D) Características da Empreitada

O contrato de empreitada é:

19 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. Dos contratos e das declarações unilaterais de vontade. São Paulo: Ed. Saraiva, 2002, vol 3, pág.243.

Bilateral ou sinalagmático — envolve prestação de ambas as partes. O empreiteiro entrega a obra e o dono da obra entrega o preço.

Consensual — se aperfeiçoa com a mera vontade das partes, sem que seja necessária a entrega da coisa, como ocorre no mútuo.

Oneroso — envolve um “sacrifício” patrimonial para ambas as partes.

Não solene — a lei não impõe forma específi ca para sua execução. Pode ser ajustado verbalmente.

E) Riscos com aumento ou redução de preços

Em regra, salvo estipulação em contrário, os riscos da alta ou baixa do preço dos materiais e do salário são assumidos pelo empreiteiro. (art. 619 da Lei n° 10.406/2002).

O empreiteiro só pode exigir acréscimo no preço do dono da obra se fo-rem feitas modifi cações no projeto a ser implementado, por meio de instruções por escrito do dono da obra e, no caso de não haver autorização escrita do dono da obra, se esse presente às obras verifi cou a alteração no projeto e não protestou, sendo a ausência de protesto considerada uma aceitação tácita do dono da obra.

F) Espécies de empreitada

Empreitada de lavor — aquela em que o empreiteiro contribui apenas com seu trabalho.

Empreitada mista — aquela em que o empreiteiro contribui com mão-deobra e materiais.

Por que é importante distinguir entre a empreitada de lavor e a empreitada mista?

G) Obrigações do empreiteiro

A principal obrigação do empreiteiro é entregar a coisa no tempo e na forma acertados. Caso o empreiteiro não cumpra as obrigações do contrato, fi ca sujeito à obrigação de reparar o prejuízo, conforme regra geral20.Além disso, se o empreiteiro não atende as especifi cações contratadas, o dono da obra tem duas alternativas: rejeitar a coisa ou recebê-la com abatimento do preço.

20 Art. 389 da Lei nº 10.406/2002: “Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices ofi ciais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado”.

Ao ser entregue, a obra pode ter defeitos aparentes ou ocultos. Para os defeitos aparentes, a lei criou as alternativas referidas acima.

Para os vícios ocultos, aplicam-se as regras de vício redibitório21.A lei prevê ainda uma regra específi ca no caso de empreitada de edifícios e outras construções consideráveis, segundo a qual o empreiteiro de materiais e execução responderá pela solidez e segurança do trabalho, em razão dos materiais como do solo, durante o prazo de cinco anos.

H) Obrigações do dono da obra

A principal obrigação do dona da obra é efetuar o pagamento do preço. Embora não haja previsão legal, a doutrina entende que o empreiteiro tem direito de retenção, como garantia do pagamento do preço.

O dono da obra tem obrigação de receber a coisa, não podendo recusar injustifi cadamente o seu recebimento. Caso o dono da obra recuse o recebimento da coisa sem motivo, ele será tido como em mora, fi cando responsável pelos efeitos decorrentes da mora.

Maria Lúcia está muito insatisfeita com o trabalho do senhor Pedro, devido a isso pensa em extinguir o contrato que mantém com ele. Ela lhe procura com a seguinte pergunta: qual é a regra geral para suspensão dos serviços no caso de empreitada?

DEPÓSITO

1.12.1. EMENTÁRIO DE TEMAS:

Introdução. Depósito Voluntário. Depósito Necessário.

1.12.2. BIBLIOGRAFIA OBRIGATÓRIA:

Arts. 627 a 652 da Lei nº 10.406/2002.

GOMES, Orlando, Contratos. Rio de Janeiro: Forense, 26. ed., 2007, págs. 413 a 423.

PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Rio de Janeiro: Fo rense, 2010, vol. III, 14.ed., págs. 325 a 336.

21 Arts. 441 e seguintes da Lei n° 10.406/2002.

1.12.3. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR:

ESPÍNOLA, Eduardo, Dos contratos nominados no Direito Civil Brasileiro, Campinas: Bookseller, 2002.

TEPEDINO, Gustavo, BARBOZA, Heloisa Helena e MORAES, Maria Celina de. Código Civil Interpretado conforme a Constituição da República. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, vol. II, págs. 382 a 417.

1.12.5. ROTEIRO DE AULA

A) Introdução

Conforme dispõe o artigo 627 da Lei nº 10.406/2002, o contrato de depósito é aquele segundo o qual “recebe o depositário um bem móvel, para guardar, até que o depositante o reclame”.

Qual é a principal diferença entre o contrato de depósito e o contrato de comodato?

O depositário não pode utilizar a coisa depositada, a não ser que tenha expressa autorização do depositante. (art. 640 da Lei nº 10.406/2002).O depósito tem por objeto apenas bens móveis.

Há duas espécies de depósito reguladas pelo Código Civil: o voluntário e o necessário.

B) Depósito voluntário

É aquele ajustado única e exclusivamente em razão da vontade das partes.

O contrato de depósito voluntário é classifi cado como:— Real — o contrato de depósito só se aperfeiçoa com a entrega do bem, não basta apenas a celebração do contrato.

— Não solene — embora o art. 646 da Lei nº 10.406/2002 disponha que o “depósito voluntário provar-se-á por escrito”, muitos autores entendem que não há forma prevista para a validade do ato, apenas para sua prova.

“Assim, independentemente do debate a respeito das duas espécies de forma, podemos concluir que esta não é da essência do contrato de depósito, que pode ser pactuado sem qualquer formalidade pelas partes e mesmo assim existirá e será válido. Entretanto, para a sua

prova, se exceder ao décuplo do salário mínimo vigente, necessitará de prova outra, que não a testemunhal, admitindo-se, para tanto, qualquer começo de prova escrita (cf. Art. 227 do CC de 2002)”22.— Gratuito ou oneroso — De acordo com o Código Civil, em regra, o contrato de depósito é gratuito. Nada impede, porém, que as partes convencionem uma retribuição ao depositário. Quando o depósito é gratuito, entende-se que ele é um contrato intuitu personae, pois tem por base a confi ança que o depositante tem no depositário. Já no depósito oneroso, muitos sustentam que não há o caráter intuitu personae.

— Unilateral ou bilateral — após o aperfeiçoamento do contrato, com a entrega do bem pelo depositante ao depositário, cabem obrigações apenas para o depositário. No caso de depósito oneroso, porém, cabe ao depositante a obrigação de pagar ao depositário.

É necessário, portanto, analisar o caso específi co para classifi car o depósito como gratuito ou oneroso e unilateral ou bilateral.

OBRIGAÇÕES DO DEPOSITÁRIO:

— Obrigação de guardar a coisa alheia — é a obrigação inerente e principal do contrato de depósito. A Lei prevê que o depositário poderá devolver a coisa ou depositá-la judicialmente, se o depositante se recusar a recebê-la, quando, por motivo plausível, não puder continuar a guardá-la (art. 635 da Lei nº 10.406/2002).

— Obrigação de conservar a coisa alheia — essa obrigação é uma conseqüência da obrigação de guardar. Conforme artigo 629, o depositário é obrigado a conservar a coisa como se sua fosse. O depositário não responde pela deterioração ou perda do bem em caso de força maior, cabendo a ele, porém, provar a ocorrência de força maior (art. 642 da Lei nº 10.406/2002).

Caso o depositário não cumpra essa obrigação, deverá reparar o prejuízo do depositante.

— Obrigação de restituir a coisa — O depositário deve devolver o bem ao depositante quando solicitado, independentemente do prazo inicialmente ajustado entre as partes.

A coisa deve ser restituída no estado em que foi recebida pelo depositário, acompanhada dos frutos e acrescidos.

Uma das sanções previstas para o descumprimento da obrigação de restituir o bem depositado é a prisão civil, sendo assim uma das exceções ao princípio de que ninguém pode ser preso em razão de dívidas.

22 LOPEZ, Teresa Ancona. Parte Especial. Das várias espécies de contratos. In: AZEVEDO, Antônio Junqueira de. (coord.). Comentários ao Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2003, vol. 7, p. 414.

Nesse sentido, o art. 652 da Lei n 10.406/2002 dispõe: “Seja o depósito voluntário ou necessário, o depositário que não restituir quando exigido será compelido a fazê-lo mediante prisão não excedente a um ano, e ressarcir os prejuízos”.

OBRIGAÇÕES DO DEPOSITANTE:

Como vimos, o contrato de depósito é unilateral quando o contrato é gratuito e bilateral quando o contrato é oneroso. Mesmo nos casos em que o contrato é unilateral, cabem ao depositante algumas obrigações que não decorrem da natureza do contrato de depósito em si, mas sim de obrigações subsidiárias, como a de reembolsar as despesas feitas pelo depositário na guarda da coisa e de indenizá-lo pelos prejuízos que venha a ter em razão do depósito.

DEPÓSITO DE COISAS FUNGÍVEIS

É o chamado depósito irregular. Em regra, ocorre quando o bem depositado é dinheiro. O legislador entendeu que nesses casos deveriam ser aplicadas as regras referentes ao mútuo. Há discussão na doutrina quanto à natureza do depósito bancário, pois de acordo com Teresa Ancona Lopez: “... nos depósitos bancários, feitos como meio de guardar valores e perceber rendimentos e juros, não há um depósito, mas um genuíno empréstimo por força da intenção das partes”23. A autora conclui: “em conclusão, os chamados depósitos bancários não são depósitos, mas sim empréstimos”24.

C) Depósito Necessário

O depósito necessário ocorre nas seguintes hipóteses: — depósito para desempenho de obrigação legal; e — depósito que se faz em situação de calamidade.

Estes são equiparados ao depósito necessário e ao depósito de bagagens em hospedarias.

Ao contrário do depósito voluntário que se presume gratuito, o depósito necessário presume-se oneroso.

Em um dia de chuvas torrenciais, ao ver sua casa inundando, Marvim retirou apressadamente alguns objetos, como a televisão e o computador, e os deixou na casa de um vizinho que, por morar em uma área de ladeira, teve melhor sorte com a chuva. Alguns dias depois, quando foi buscar a televisão e o computador, foi surpreendido com a alegação do

23 LOPEZ, Teresa Ancona. Parte Especial. Das várias espécies de contratos. In: AZEVEDO, Antônio Junqueira de. (coord.). Comentários ao Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2003, vol. 7, p. 411.

24 LOPEZ, Teresa Ancona. Parte Especial. Das várias espécies de contratos. In: AZEVEDO, Antônio Junqueira de. (coord.). Comentários ao Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2003, vol. 7, p. 412.

vizinho de que não devolveria aqueles bens. Como ajudar Marvim nessa situação? É possível enquadrar o vizinho como depositário infi el mesmo sem a existência de um contrato entre eles? Cabe a prisão civil nesse caso?

MANDATO.

1.13.1. EMENTÁRIO DE TEMAS:

Introdução. Classificação. Procuração e Substabelecimento. Obrigações do Mandatário. Obrigações do Mandante. Revogação e Extinção do Mandato.

1.13.2. BIBLIOGRAFIA OBRIGATÓRIA:

Arts. 653 a 692 da Lei nº 10.406/2002.

GOMES, Orlando, Contratos. Rio de Janeiro: Forense, 26. ed., 2007, págs. 424 a 437.

PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Rio de Janeiro: Fo rense, 2010, vol. III, 14. ed., págs. 359 a 379.

1.13.3. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR:

ASSIS, Arakén de, Contratos nominados II, vol. IV, 2.ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

KROETZ, Maria Cândida do Amara, A representação voluntária no Direito Brasileiro, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997.

SCHREIBER, Anderson, A Representação no Novo Código Civil, In Gustavo Tepedino (Coord.), A parte geral do Novo Código civil: Estudos na perspectiva civil —Constitucional, Rio de Janeiro, 2003, 2.ed..

TEPEDINO, Gustavo, BARBOZA, Heloisa Helena e MORAES, Maria Celina de. Código Civil Interpretado conforme a Constituição da República. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, v. II, págs. 417 a 472.

Gustavo Tepedino In Sálvio de Figueiredo Teixeira (Coord.), Comentários ao novo código civil, vol. X, Rio de Janeiro: Forense, 2008, págs. 25-208.

1.13.5. ROTEIRO DE AULA

A) Introdução

Por meio do mandato, o mandante se faz representar pelo mandatário. O mandatário age em nome do mandante.

Qual a diferença entre o mandato e a comissão?

B) Classifi cação

O mandato é contrato:

— Consensual — para que se aperfeiçoe basta a vontade das partes.

— Não solene — embora a lei determine que a procuração é o instrumento do mandato, é possível o mandato tácito e o verbal (art. 656 da Lei n° 10.406/2002)

— Gratuito — não havendo estipulação de remuneração, presume-se que o mandato é gratuito, exceto quando tem por objeto a realização de atos que o mandatário realiza profi ssionalmente. O mandato outorgado a advogado, por exemplo, não se presume gratuito, pois ele é um instrumento para que o advogado possa defender os interesses de seu cliente e exercer seu ofício.

— Unilateral — sendo o mandato gratuito, ele será unilateral. Havendo remuneração prevista, ou seja, sendo oneroso, será bilateral, pois implicará obrigações para ambas as partes.

O mandato é intuitu personae, uma vez que o mandante confere poderes a alguém de sua confi ança. Dessa forma, havendo morte de uma das partes, o mandato será extinto, salvo raras exceções que serão vistas adiante.

Pode um advogado prestar serviço advocatícios sem mandato e vice-versa?

De acordo com Teresa Ancona Lopez, “... no exercício da advocacia os contratos quase sempre aparecem juntos, mas podemos ter prestação de serviços de advogado sem mandato, como no caso de um parecer ou de defesa oral sem procuração. Porém mandato advocatício sem prestação de serviços parece-nos impossível. (LOPEZ, Teresa Ancona. Parte Especial. Das várias espécies de contratos. In: AZEVEDO, Antônio Junqueira de. (coord.). Comentários ao Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2003, vol. 7, p. 207)

C) Procuração e Substabelecimento

A procuração é o instrumento do mandato. A procuração pode ser outorgada por instrumento público ou particular.

Tendo em vista que a lei admite mandato tácito, a procuração não é indispensável para conclusão de negócios, exceto para aqueles que exigem instrumento particular ou público.

Substabelecimento “é o ato pelo qual o mandatário transfere ao substabelecido, os poderes que lhe foram conferidos pelo mandante”25.Sendo o mandato outorgado por instrumento público, naturalmente o substabelecimento deverá ser outorgado também por instrumento público, certo?

Para efetuar determinados atos como alienar, hipotecar, transigir, o Código Civil exige que a procuração contenha poderes expressos. Assim, um mandato com poderes de administração em geral não bastaria para que o mandatário assinasse escritura de hipoteca em nome do mandante.

Antes de contratar com alguém que se apresente como mandatário do outro contratante, é indispensável conferir a procuração e os poderes que foram outorgados para não correr o risco de que o contrato seja inefi caz em relação ao mandante, tendo em vista que o artigo 662 da Lei n° 10.406/2002 dispõe que: “os atos praticados por quem não tenha mandato, ou o tenha sem poderes sufi cientes, são inefi cazes em relação àquele em cujo nome foram praticados, salvo se este os ratifi car”.

D) Obrigações do Mandatário

As obrigações do mandatário são:

— Agir em nome do mandante (art. 653 da Lei n° 10.406/2002) — O mandatário deve atuar respeitando os poderes outorgados na procuração. Se o mandatário agir extrapolando os poderes que lhe foram conferidos, o ato é inválido para o mandante, a não ser que este venha a ratifi car o ato posteriormente.

— Agir com o zelo necessário e diligência habitual na defesa dos interesses do mandante (art. 667 da Lei n° 10.406/2002) — o mandatário é responsá- vel pelos prejuízos causados ao mandante, quando eles resultarem de culpa do mandatário. Cabe ao mandatário provar que não houve culpa sua para

se livrar de ser responsabilizado pelo prejuízo que venha a ser sofrido pelo mandante.

— Prestar contas de sua gerência ao mandante e transferir ao mandante todas as vantagens obtidas nos negócios — (art. 668 da Lei n° 10.406/2002)

— Prosseguir no exercício do mandato mesmo após extinção do mandato por morte, interdição ou mudança de estado do mandante,

25 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. Dos contratos e das declarações unilaterais de vontade. São Paulo: Ed. Saraiva, 2002, vol 3, pág. 289.

para concluir negócio já iniciado ou até ser substituído quando for para impedir que o mandante ou seus herdeiros sofram prejuízo (art. 647 da Lei n° 10.406/2002).

Um amigo seu lhe conta que o pai dele havia nomeado um conhecido como procurador dele para adquirir uma bela casa em Itaipava. Aproveitando-se das ótimas condições do negócio, o tal conhecido acabou adquirindo a casa para si próprio, deixando a família de seu amigo “na mão”. Muito chateado com a situação, ele diz que acha que não há nada mais a ser feito, neste caso, até porque o tal conhecido já até devolveu ao pai dele a quantia que havia recebido para pagar o sinal do imóvel. Como você orienta o seu amigo?

E) Obrigações do Mandante

— Cumprir os compromissos assumidos pelo mandatário em seu nome (arts. 675 e 679 da Lei n° 10.406/2002) — O mandante, porém, somente se vincula dentro dos termos previstos na procuração. Vale notar que, se o mandatário contrariar as instruções do mandante, mas não exceder os limites do mandato, o mandante fi cará obrigado a cumprir as obrigações perante terceiros, tendo apenas ação de perdas e danos contra o mandatário pela inobservância das instruções.

— Adiantar ao mandatário os valores necessários ou reembolsá-lo pelas despesas efetuadas em razão do cumprimento do mandato (arts. 675 e 676 da Lei n° 10.406/2002).

— Pagar ao mandatário a remuneração ajustada, caso o mandato seja oneroso (art. 676 da Lei n° 10.406/2002).

— Indenizar o mandatário pelos prejuízos que venha a sofrer em cumprimento ao mandato, desde que não resultem de culpa do mandatário ou de excesso de poderes (art. 678 da Lei n° 10.406/2002).

F) Revogação e Extinção do mandato

O senhor Eduardo Russo outorgou uma procuração ao seu fi lho, Jeremias, para contratar pessoas para trabalharem em sua fazenda, podendo, inclusive fazer entrevistas e ajustar salários. Meses depois, um pouco decepcionado pelo andamento dos trabalhos do fi lho, o senhor Eduardo Russo resolveu outorgar procuração, com poderes idênticos, a sua fi lha, Maria Lúcia. Mesmo tendo conhecimento da nova procuração, Jeremias continuou a utilizar a procuração que havia recebido e a fazer entrevistas, tendo, inclusive, contratado alguns empregados. Maria Lúcia lhe pergunta: afi nal, ambos são mandatários do pai? Jeremias pode continuar a desempenhar os poderes que a ele foram outorgados? A contratação dos empregados é válida?

O senhor Odin Heiro lhe procura, preocupado, pois, em razão de alguns acordos familiares, ele havia sido constituído mandatário de sua tia Gertrudes para transferir a ele próprio um imóvel que era de propriedade da referida tia. Ocorre que, infelizmente, tia Gertrudes faleceu inesperadamente, antes mesmo que ele houvesse efetuado a transferência do imóvel para seu nome. E agora? Ele ouviu dizer que o mandato se extingue com a morte de uma das partes. É verdade?

SEGURO.

O segurador se obriga mediante o pagamento de prêmio a garantia integral legítima do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados.

Prêmio = pago pelo segurado

Riscos = Possibilidade de ocorrência de eventos futuros e incertos

-Somente pode ser parte, no contrato de seguro, como segurados, entidade para tal fim legalmente autorizada.

É contrato bilateral, oneroso, aleatório (o objeto sujeita-se a uma álea – acontecimento futuro e incerto, onde não ocorrendo esse evento [risco], o segurador recebe o prêmio mesmo assim)

É consensual (Maria Helena Diniz entende ser formal), mas não existe solenidade na contratação do seguro – os contratos são consumados até por telefone- A apólice, o documento de pagamento do respectivo prêmio servem apenas como elementos probatórios da existência do contrato de adesão. (A seguradora deve provar que deu ciência das limitações importas ao segurado, no momento da contratação, sob pena de sua invalidação).

Apólice: Sua emissão pode ser substituída pela expedição do bilhete de seguro.

- A apólice e sua forma reduzida (o bilhete de seguro) devem expressar 4 cláusulas essenciais relativas aos:

-riscos assumidos

- início e fim de validade

- limite de garantia

- prêmio devido

A emissão poderá ser feita:

- à ordem

- nominativa

-ao portador

Obs: no contrato de pessoas se veda ao portador. Sendo nominativo ou ao portador a apólice e o bilhete trarão obrigatoriamente o nome do segurado e do beneficiário.

- Em caso de cosseguros, a apólice deve indicar o segurador que administrará o contrato e representará os demais.

- É cosseguro a operação de seguro em que duas ou mais sociedades seguradoras com anuência do segurado, distribuem entre si, percentualmente os riscos de determinada apólice, sem solidariedade entre elas.

- Nos contratos de seguros amparados pelo CDC impõe-se que as cláusulas restritivas sejam redigidas de modo a não dificultar a compreensão de seu sentido e alcance.

Boa fé: A expressão probidade foi substituída pela expressão veracidade.

Se há risco passado (Ex: contratação de seguro sobre a entrega de mercadoria que já ocorreu e o segurador tem ciência desses fatos), deverá restituir e pagar em dobro o prêmio estipulado.

E, se exige que o segurado preste declarações exatas e não omita circunstâncias que possam influir na aceitação da proposta ou na taxa do prêmio, sob pena de perder a garantia, obrigando-se a pagar o prêmio vencido.

Objeto da prestação: É sempre o pagamento da importância em dinheiro, mas as partes podem convencionar a reparação da coisa.

Nulidade na Formação do contrato:

Ilicitude: É preciso que o beneficiário do seguro se encontre em situação tal que o sinistro se converta para ele em um dano e por isso tenha interesse na não ocorrência do sinistro. “O seguro não deve ser fonte de lucro para o segurado ou beneficiário”.

Impossibilidade: Caso do art. 773 CC, quando o segurador contrata ciente de risco ocorrido (caso do transporte já feito).

Sujeito da relação de seguro:

a) Segurador: Pessoa jurídica autorizada pelo poder executivo federal a exercer exclusivamente a atividade securitária, não podendo empregar-se em outras áreas empresariais.

b) Segurado: pessoa física ou jurídica

c) Estipulantes: É pessoa que contrata o seguro a favor de terceiros, podendo ele próprio figurar como beneficiário. O segurador pode opor defesas contra os segurados fundada nas que tenha contra o estipulante (ex: estipulante não repassou os prêmios à seguradora ou não forneceu as informações corretamente) – ocorre na denunciação da lide.

- O estipulante integra necessariamente os contratos de seguro obrigatórios

São proibidos de figurar como estipulantes:

- Corretoras de seguros, seus sócios e todo tipo de empregado.

- O estipulante tem o dever de informação, de repassar os prêmio e de comunicação (do sinistro).

d) Beneficiários: é a pessoa designada no contrato de seguros como credora da indenização ou do capital.

e) Representantes da partes: São os mandatários ou procuradores e agentes autorizados que agem no interesse da seguradora (como bancos que comercializam produtos securitários da seguradora, recebendo comissão)

f)corretoras de seguro: Intermediários legalmente autorizados. Há a existência de um contrato de corretagem, sem vínculo de mandato ou dependência envolvendo informação, aconselhamento e resultado.

- A lei não permite que o segurado faça seguro por valor superior ao que a coisa vale (não deve haver lucro por parte do segurado) Porem, pode ocorrer a pretensão que a contratação de garantia superior se dê com outro segurador na vigência de um contrato de seguro. Neste caso o segurador deve comunicar previamente sua intenção ao primeiro segurado, fazendo o por escrito e indicando a soma que pretende segurar-se, para que a garantia não ultrapasse o valor do interesse segurado e venha acarretar sua perda na hipótese de se verificar a má-fé do segurado.

Abrangência da Indenização: O risco compreende os prejuízos resultantes e conseqüentes prejuízos.

Exclusão do sinistro: Vício intrínseco da coisa (inserem no campo das omissões que podem acarretar a perda do direito de garantia). Caso haja ignorância do fato, o segurador tem direito de resolver o contrato antes da ocorrência do sinistro ou cobrar mesmo após o sinistro a diferença do preço

Cessão: Aplica-se a cessão a terceiro desde que não seja proibido no contrato

Na emissão ao portador :A transferência se dá pela simples tradição

Emissão Nominativa: a seguradora deve ser comunicada por aviso escrito subscrito pelo cessionário e pelo segurado.

Emissão à ordem: deve ser endossada em preto, datado pelo endossante e pelo endossarário.

Subrogação: assunção dos direitos de crédito por aquele que satisfaz a dívida, o que ocorre por força de lei pelo contrato de seguro.

- A seguradora não pode no mesmo contrato aumentar o valor do prêmio, só se resolver o contrato.

- A seguradora escolhe se vai manter ou resolver o contrato no prazo de 15 dias e mantém o contrato por 30 dias.

- Quando a seguradora resolve o contrato, o prêmio é devolvido no valor proporcional

SEGURO DE RESPONSABILIDADE CIVIL:

Há o seguro facultativo e o seguro obrigatório. No seguro de responsabilidade civil, o segurador garante o pagamento por perdas e danos devidos pelo segurado a terceiro. Os danos podem ser morais ou materiais. Inicialmente a responsabilidade pelos atos que causem danos a terceiros, é do agente que lhes dá causa, ou seja, se a seguradora tornar-se insolvente, persiste a responsabilidade do segurado pelos prejuízos a terceiros.

É obrigação do segurado:

- dever de comunicação (em 2 momentos, no momento do acidente e no momento que toma conhecimento da ação impetrada contra ele).

- dever de abstenção do ato: Ao segurado é proibido reconhecer sua responsabilidade, confessar a ação, transigir com o terceiro prejudicado ou indenizá-lo diretamente, sem anuência expressa do segurador.

Já no caso de seguro de responsabilidade legalmente obrigatório (caso do DPVAT) o segurador deve pagar a indenização diretamente ao terceiro prejudicado, ou aos seus beneficiários, em caso de morte. Permite-se a ação de terceiro diretamente em face da seguradora.

Seguradora acionada diretamente não pode opor exceção de contrato não cumprido, isto é, alegar que o proprietário do veículo causador do acidente deixou de recolher o seguro obrigatório anual. A defesa do seu direito pode ser exercida por ação de regresso contra o causador do acidente, mas não ao beneficiário do seguro, vítima do acidente. A jurisprudência vem permitindo que isso ocorra nos contratos facultativos.

FRANQUIA

É uma tentativa de redução do valor do prêmio, há uma divisão do risco entre seguradora e segurado. Há uma “concorrência” em relação à indenização.

SEGURO DE PESSOA

Nesse contrato é livre tanto a estipulação do capital a ser pago pelo segurador, quanto a contratação de mais de um seguro sobre o mesmo interesse, com o mesmo ou diversos seguradores.

Não se permite no contrato de pessoas a sub-rogação pelo segurador dos direitos e ações do segurado, ou no caso de morte, do beneficiário, contra o causador do sinistro.

Os contratos de pessoa estipulados sobre a vida de alguém são títulos executivos extrajudiciais , o que não ocorre com os contratos de seguro de dano.

As estipulações sobre riscos nos contratos de seguro de pessoas referem-se aos casos de acidentes pessoais, de sobrevida, de morte, saúde, incapacidade temporária, etc. O código não trata das garantias relativas ao reembolso de despesas hospitalares ou de tratamento médico, custeio de despesas de luto e de funeral do segurado.

Resumindo: acidente, sobrevida e morte

Visam garantir riscos atinentes à duração da vida humana

Estipulação sobre a vida de outrem: O proponente é obrigado a declarar, sob pena de falsidade, o seu interesse pela preservação da vida do segurado. Caso contrário seu interesse estaria presente na morte deste.

Em caso do beneficiário ser devedor de pensão alimentícia, não se deve fazer a contratação por sobre valor, excedente ao da dívida do segurado. Já que assim muito mais rentável seria a sua morte.

A indicação dos beneficiários é facultativa, na sua falta são considerados beneficiários o cônjuge não separado judicialmente, por 50% do valor, e os herdeiros do segurado, pelo restante. Se o segurado não for casado e não tiver herdeiros, receberá o capital qualquer pessoas que demonstrar que a morte do segurado a privou dos meios necessários para sua sobrevivência. É válida a instituição de companheiro como beneficiário “se ao tempo do contrato o segurado era separado judicialmente, ou já se encontrava separado de fato” – CC, art. 793

Dívidas e Herança

O capital estipulado não se sujeita a dívidas e nem é considerado herança. O seguro de vida é impenhorável. Porém, ocorrida a morte do contratante, o beneficiário, credor da seguradora, possui patrimônio distinto daquele e não responderá por suas dívidas, entretanto, recebido o valor do seguro, o beneficiário, por débitos de sua responsabilidade, poderá sofrer execução sobre seu patrimônio, agora acrescido pelo capital pago pela seguradora.

Prêmio: Seu pagamento obedece à regra pelo qual o seguro de vida foi contratado, se temporário, o pagamento será obrigado durante o prazo limitado no contrato e, se vitalício, por toda a vida.

Caso ocorra atraso na parcela, não há ação executiva ou de cobrança, mas é permitida a resolução do contrato, com a restituição da reserva já formada, ou a redução do capital garantido, proporcionalmente ao prêmio pago, se nenhuma dessas opções foi contratualmente prevista, o segurado poderá escolher.

Carência: Os contratantes podem estipular certo prazo de carência. Ex: se fixado um prazo de carência de 01 ano e o falecimento do segurado ocorrer bem dentro desse prazo, a seguradora deve pagar o valor correspondente à reserva técnica já formada, mas não responde pelo pagamento do sinistro.

Suicídio: Esse evento não impede o pagamento do capital pelo beneficiário; Porém, se o suicídio ocorrer nos 2 primeiros anos de vigência inicial do contrato, ou de sua recondução depois de sofrido, ele não será devido.

Cláusulas Restritivas: Se alguns atos contribuírem ou derem causa à morte ou incapacidade do segurado, ainda que previstas em contrato, a obrigação do segurado subiste, são elas: utilização de meio de transporte mais arriscado, prestação de serviço militar, prática desportiva ou de atos de humanidade em auxílio de outrem.

Transação para redução do capital: é vedada, sob pena de nulidade da cláusula. Há o dever de pagar o quantum estipulado.

Exercício das funções pelo estipulante: No contrato de seguro coletivo de pessoas, o estipulante não representa o segurador e qualquer modificação contratual depende da anuência expressa de 75% dos segurados integrantes da apólice de seguro em grupo. Para a contratação de seguro em grupo, em apólice coletiva, as pessoas contratantes devem manter elo que as vincule de alguma forma ao estipulante, como ser empregado da mesma empresa ou associado de entidade comum. A faculdade de alterar as cláusulas contratadas é atribuída

exclusivamente ao grupo que, para manifestá-la, deverá fazê-lo pela adesão expressa de segurados que representem ¾ do grupo.

PLANO DE SAÚDE.

CONTRATOS AGRÁRIOS.

TRANSAÇÃO.

1.21.1. EMENTÁRIO DE TEMAS:

Transação. Compromisso.

1.21.2. BIBLIOGRAFIA OBRIGATÓRIA:

Arts. 840 a 853 da Lei n° 10.406/2002.

Lei n° 9.307/1996.

GOMES, Orlando, Contratos. Rio de Janeiro: Forense, 2007, 26. ed., págs. 543 a 548.

PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Rio de Janeiro: Fo rense, 2010, vol. III, 14. ed., págs. 461 a 467.

1.21.3. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR:

PASQUALOTTO, Adalberto, Contratos nominados III: vol.IX, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.

REALE, Miguel. Transação, In Revista dos Tribunais, n. 508, fev., 1978.

TEPEDINO, Gustavo, BARBOZA, Heloisa Helena e MORAES, Maria Celina de. Código Civil Interpretado conforme a Constituição da República. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, v. II, págs. 655 a 668 (Transação); 668 a 682 (Compromisso).

1.21.4. CASO GERADOR

Embora não fosse de costume, o Supermercado Pechincha emprestou dinheiro a um de seus fornecedores, que estava passando por um período fi nanceiramente delicado. Na época do pagamento do mútuo, as partes divergiram quanto ao valor a ser pago e aos juros incidentes no período. Após muita discussão, o supermercado e o fornecedor chegaram a um acordo e assinaram um termo de transação. Tendo em vista que o devedor não vem efetuando os pagamentos pactuados no instrumento de transação, o supermercado quer cobrar o valor do mútuo do fi ador. Comente a situação.

1.21.5. ROTEIRO DE AULA

A) Transação

O Código Civil de 1916 não tratava a transação como contrato, mas sim como um dos modos de extinção das obrigações. Atendendo a algumas críticas doutrinárias, o novo Código Civil incluiu a transação no rol dos contratos.

A transação é a “composição a que recorrem as partes para evitar os riscos da demanda ou para liquidar pleitos em que se encontram envolvidas; de modo que, receosas de tudo perder ou das delongas da lide, decidem abrir mão, reciprocamente, de algumas vantagens potenciais, em troca da tranqüilidade que não tem”26.A transação é contrato bilateral e solene. Assim, a transação que não versar sobre objeto de disputa judicial deve ser feita por escritura pública, nas obrigações que a lei assim o exigir, ou por instrumento particular, quando for admitido em lei. A transação para extinguir processo judicial em curso deve ser feita por escritura pública ou termo assinado nos autos, assinado pelas partes e homologado pelo juiz.

Princípios que decorrem da natureza jurídica da transação:

(i) Indivisibilidade — De acordo com o art. 848 da Lei n° 10.406/2002, “sendo nula qualquer das cláusulas da transação, nula será esta”. A lei abranda essa regra ao dispor no parágrafo único desse artigo que “quando a transação versar sobre diversos direitos contestados, independentes entre si, o fato de não prevalecer em relação a um não prejudicará os demais”.(ii) Interpretação restritiva — A transação não pode ser alterada

por analogia ou ser utilizada para casos que não estejam expressamente refl etidos no instrumento de transação (art. 843 da Lei n° 10.406/2002).(iii) Assim como os demais contratos, admite pena

convencional27.Elementos da Transação

26 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. Dos contratos e das declarações unilaterais de vontade. São Paulo: Ed. Saraiva, 2002, vol 3, pág. 366.

27 Arts. 408 a 416 da Lei n° 10.406/2002.

— Divergência entre as partes e a vontade de terminar com ela — as partes podem estar discutindo em juízo ou em vias de fazê-lo.

Maria Lúcia lhe conta que um cliente entrou com um processo contra o Supermercado Pechincha pedindo perdas e danos por ter sido mal atendido no supermercado. Ora, a existência do processo em si seria uma propaganda negativa para o supermercado. Sendo assim, apesar de achar que o supermercado sairia vitorioso da disputa judicial, o supermercado resolveu assinar um termo de transação com o cliente, segundo o qual, em troca de desistir da ação judicial, o cliente poderia levar mercadorias do supermercado em valor total equivalente a R$ 200,00. Ocorre que, após a assinatura do termo de transação, Maria Lúcia descobriu que o processo já havia terminado com sentença favorável ao supermercado. E agora?

— Acordo entre as partes com concessões recíprocas — na transação, ambas as partes devem abrir mão de algo para alcançar a segurança desejada.

Vale lembrar que, de acordo com o parágrafo primeiro do artigo 661 da Lei n° 10.406/2002, a procuração deve conter poderes especiais e expressos para transigir.

— Objeto da transação — Conforme art. 841 da Lei n° 10.406/2002, a transação só pode ter por objeto direitos patrimoniais de caráter privado.

B) Compromisso

O compromisso também entrou para o rol dos contratos com a edição da Lei n° 10.406/2002. Você concorda com o legislador que entendeu que o compromisso é um contrato?

Assim como na transação, só é possível compromisso que envolva direito patrimonial. Não podem ser objeto de compromisso questões de estado, de direito pessoal de família, entre outras.

Recebemos cópia de um termo de compromisso celebrado entre o supermercado e um revendedor. Notamos que o compromisso foi assinado por um procurador do revendedor e pedimos para analisar o teor da procuração que foi outorgada. A procuração continha poderes específi cos para transigir. Isso é sufi ciente?

Distinção entre compromisso e cláusula compromissória

O compromisso é contrato perfeito e acabado. Tem força vinculativa e obriga as partes a submeterem determinada questão ao julgamento de árbitros.

Já a cláusula compromissória diz respeito a litígio futuro e incerto. Por meio da cláusula compromissória, as partes comprometem-se a submeter eventual pendência à decisão do juízo arbitral.

Qual é a vantagem de se escolher o juízo privado, como a arbitragem, ao invés do juízo público?

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

Da convenção de arbitragem e seus efeitosLidio Francisco Benedetti Junior

Advogado em São Paulo Sinopse

Nosso estudo trata da convenção de arbitragem, que abrange a cláusula compromissória e o compromisso arbitral, de acordo com a Lei 9.307, de 23 de setembro de 1996.

A temática proposta assume especial relevância, pois está intrinsecamente relacionada com a livre e voluntária vontade das partes em se submeter à arbitragem, em detrimento ao Poder Judiciário, para resolver impasses ou confl itos surgidos num relacionamento pessoal ou negocial.

Assim, com esse simples estudo, espero compartilhar as idéias e, ainda, contribuir e divulgar as vantagens que a justiça alternativa proporciona:

como ser mais rápida e menos onerosa do que a Justiça Comum.

IntroduçãoEste trabalho não consiste num aprofundamento sobre o tema específi co, mas simples tentativa de análise da Lei de 9.307, de 23 de setembro de 1996, no que diz respeito à convenção de arbitragem e seus efeitos.

Ressalta-se que a arbitragem já estava presente em nosso ordenamento jurídico, desde a primeira Constituição (1) brasileira, de 1824, posteriormente, contemplada no Código Civil Brasileiro (2), de 1916.Contudo, até a promulgação da nova Lei de Arbitragem, em 1996, esse sistema encontrava-se estagnado, isto é, não acompanhou a evolução dos tempos, comportamento decorrente da cultura e tradição reinante em nosso país.

Há que se considerar, também, que a Arbitragem não se desenvolveu, no Brasil, devido à insegurança jurídica que o sistema transmitia às partes, uma vez que, por exemplo, mesmo que o compromisso de arbitragem contivesse a cláusula «sem recurso» as partes poderiam recorrer ao tribunal superior. Ademais, entendia-se anteriormente que, embora as partes tivessem acordado de instituírem o juízo arbitral, através da cláusula compromissória, e, posteriormente, uma parte desistisse de celebrar o compromisso arbitral, geraria para a outra parte apenas o direito a perdas e danos.

Entretanto, com a promulgação da Lei de Arbitragem, em setembro de 1996, as barreiras legais que causavam insegurança jurídica para as

partes contratantes foram revogadas. Hoje, a nova Lei de Arbitragem é considerada um instrumento privado alternativo para solução de confl itos ou, como ensina ALEXANDRE FREITAS CÂMARA, «um meio paraestatal de solução

de confl itos» (3), capaz de garantir segurança jurídica às partes que voluntariamente vierem a instituir a cláusula compromissória em seus contratos.Há que se ressaltar, também, que a questão da constitucionalidade levantada no Supremo Tribunal Federal encontra-se superada. Assim, a Arbitragem, como instrumento efi caz para solução de controvérsias consolida-se no Brasil, com o mesmo consentimento que encontra em outros países, como Estados Unidos da América, Japão e países da Europa.

Cabe frisar, ainda, que o novo Código Civil, Lei 10.406/2002, nos artigos 851 a 853, fortaleceu o instituo da arbitragem no Brasil, admitindo a nova lei o compromisso e a cláusula compromissória para resolver divergências mediante o juízo arbitral.

Assim, como afi rmamos acima, a Lei de Arbitragem torna-se um instrumento seguro, alternativo ao Poder Judiciário, para aqueles que procuram rapidez e Justiça na solução do confl ito; Para tanto, devem fi rmar, nos termos do artigo 3o da Lei nº 9.307/96, uma convenção de arbitragem, através da cláusula compromissória, contratada anteriormente ao eventual confl ito, ou através do compromisso arbitral, que é fi rmado quando surge a controvérsia.

1.Da Convenção de Arbitragem e seus efeitos1.1.Da Convenção de Arbitragem

Por intermédio da convenção de arbitragem (4), as partes, livres e voluntariamente, podem resolver suas controvérsias, relativas a direito patrimonial disponível, submetendo-se ao juízo arbitral.

Em recente julgamento, o ilustre Relator MINISTRO MAURICIO CORRÊA, ao prolatar seu voto, manifestou-se, a respeito da convenção de arbitragem, no seguinte sentido: «A convenção de arbitragem é a fonte ordinária do direito processual arbitral, espécie destinada à solução privada dos confl itos de interesses e que tem por fundamento maior a autonomia da vontade das partes. Estas, espontaneamente, optam em submeter os litígios existentes ou que venham a surgir nas relações negociais à decisão de um árbitro, dispondo da jurisdição estatal comum.» (5).A respeito da autonomia da vontade das partes, a ilustre Advogada e Membro da Comissão Relatora do Projeto de Lei sobre Arbitragem, DRA. SELMA MARIA FERREIRA LEMES, pontifi ca que «o Principio da Autonomia da Vontade é a mola propulsora da arbitragem em todos os seus quadrantes, desde a faculdade de as partes em um negócio envolvendo direitos patrimoniais disponíveis disporem quanto a esta via

opcional de confl itos (art. 1o), até como será desenvolvido o procedimento arbitral, no que pertine à forma de indicação dos árbitros (art.13), seja material ou formal, desde que não viole os bons costumes e a ordem pública (art. 2o, §§ 1o e 2o); se a decisão será de direito ou por eqüidade (art.2o); eleger a arbitragem institucional (art.5o); prazo para o árbitro proferir a sentença arbitral (arts. 11, Inciso III e 23).» (6)

Concluindo que: «O objetivo do princípio da autonomia do pacto arbitral é salvar a cláusula compromissória, para que, em virtude dela, possa se julgar a validade, ou não, do contrato arbitrável.» (7).Com efeito, cabe esclarecer que, conforme adotado pela lei 9.307/96, artigo 3o, a convenção de arbitragem abrange tanto a cláusula compromissória como o compromisso arbitral

Assim, cabe frisar que, a cláusula compromissória ou cláusula arbitral, como também é conhecida, nasce antes do surgimento do confl ito, isto é, as partes envolvidas em algum negócio pessoal ou negocial, convencionam que se ocorrer qualquer impasse ou controvérsia a questão será resolvida pelo procedimento arbitral em detrimento ao Poder Judiciário. Ao passo que, o compromisso arbitral surge apenas quando o confl ito já se instaurou e as partes, de comum acordo, resolvem que o impasse será resolvido pela Arbitragem.

1.2.— Da Cláusula CompromissóriaA cláusula compromissória, como já mencionado, é conhecida, também, como cláusula arbitral, entretanto, nesse estudo a identifi caremos apenas como cláusula compromissória, conforme é a defi nição dada pela Lei de Arbitragem.

De acordo com o artigo 4o, da lei 9307/96, cláusula compromissória é «a convenção através da qual as partes em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato.». Entretanto, essa cláusula deve ser estipulada por escrito pelas partes, seja no próprio contrato ou em um adendo.

O texto da lei é claro ao conceituar a cláusula compromissória, todavia, é necessário trazer a luz deste estudo, a defi nição da melhor doutrina. Assim é que, segundo o ilustre professor WASHINGTON DE BARROS MONTEIRO a cláusula compromissória (pacto de compromittendo) «constitui apenas parte acessória do contrato constitutivo da obrigação; é a cláusula pela qual as partes, preventivamente, se obrigam a submeter-se à decisão do juízo arbitral, a respeito de qualquer dúvida emergente na execução do contrato.» (8).Nesse sentido, ensina ALEXANDRE FREITAS CÂMARA que a cláusula compromissória é «um contrato preliminar, ou seja, uma promessa de celebrar o contrato defi nitivo, que é o compromisso arbitral.». (9). Esclarece, ainda, que essa promessa gera a obrigação de celebrar o compromisso arbitral.

Assim, conclui-se que a cláusula compromissória é o primeiro acordo de vontade das partes, substituindo no contrato a clássica cláusula que designa o Foro Judicial, para que, numa possível e futura controvérsia, o confl ito venha a ser dirimido pelo juízo arbitral. Isto é, as partes ao acordarem sobre a cláusula compromissória, comprometem-se, em existindo o confl ito, a instaurar o compromisso arbitral.

1.2.1 — Da autonomia de vontade e forma escritaA cláusula compromissória deve ser estipulada por escrito, seja no próprio contrato negocial ou em outro documento aditivo. Importante salientar que, uma vez acordada, ela obriga às partes a resolver o confl ito através do Juízo Arbitral, por essa razão a Lei exige a manifestação de vontade das partes ao aderirem à cláusula compromissória, sob pena de ser declarada nula.

No contrato de adesão, a cláusula compromissória só terá validade se a mesma estiver em negrito e conter a assinatura, do aderente, especialmente para essa cláusula, como manifestação de sua vontade em instituir o compromisso arbitral. Esse é o entendimento da Lei (10).Nesse sentido, se posicionou o eminente MINISTRO MAURÍCIO CORREA, ao proferir seu voto em sentença estrangeira contestada nº 6.7537, oriunda do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte: «a lei brasileira sobre o tema exige clara manifestação escrita das partes quanto à opção pela jurisdição arbitral (Lei 9.307/96, artigos 3o, 4o e 5o). Tanto que nos contratos de adesão requer-se destaque e a assinatura especial na cláusula compromissória e, nos ajustes remissivos não se dispensa que as partes reportem-se expressamente à opção. Não se admite, em conseqüência, até pela sua excepcionalidade, convenção de arbitragem tácita, implícita e remissiva...» (11)

1.2.2 — Espécies da Cláusula CompromissóriaA respeito da cláusula compromissória é de grande relevância, também, distinguir a cláusula compromissória vazia da cláusula compromissória cheia.

Segundo as melhores doutrinas, as chamadas cláusulas vazias são àquelas que não contemplam os elementos mínimos necessários para instituição da arbitragem (12), enquanto que, chama-se cheia a cláusula compromissória quando já contém todos os elementos necessários à instauração do processo arbitral (13).

Segundo ensina ALEXANDRE DE FREITAS CÂMARA, essa distinção «é importante principalmente nos casos em que uma das partes se recuse a, surgindo o confl ito, celebrar o compromisso arbitral. Isto porque sendo cheia a cláusula compromissória, tudo o que ali tenha sido estipulado será obrigatoriamente observado pelo juiz ao proferir a sentença do processo a que se refere o artigo 7o, da Lei de Arbitragem.»

(14)

1.2.3 — Força obrigatória da Cláusula Compromissária

De acordo com o artigo 8o da Lei de Arbitragem, a cláusula compromissória é independente do contrato negocial, e a nulidade deste não implica a nulidade daquela. Ou seja, é peculiar da cláusula compromissória a autonomia, cuja intenção do legislador foi dar maior segurança às partes que, livre e voluntariamente, acordaram pela instituição do juízo arbitral.

Assim, surgindo o confl ito estão as partes obrigadas, por força da cláusula compromissória, a celebrarem o compromisso arbitral. Entretanto, havendo a recusa de qualquer uma das partes em celebrar o compromisso, gera para a outra parte o direito de recorrer à Justiça comum para ver garantido a instauração do procedimento arbitral. (15)

Ademais, sendo procedente o pedido de instauração do procedimento arbitral, a sentença judicial valerá como o compromisso arbitral. Esse é o entendimento do § 7o, do artigo 7o, da Lei de Arbitragem.

1.3 — Do Compromisso ArbitralO Compromisso arbitral, como uma segunda espécie da convenção de arbitragem, é a primeira peça onde constam as regras que irão reger o processo arbitral. Ou ainda, o compromisso é o ato instituidor do juízo arbitral. (16)

É nesta peça inicial que as partes, criteriosamente, defi nem todos os aspectos que serão observados no processo arbitral, devendo para tanto, serem observadas as regras dos artigos 10 e 11 da Lei 9.307/96, que tratam das cláusulas obrigatórias e facultativas do compromisso arbitral.

Ademais, ressalte-se que, o compromisso arbitral, diferente da cláusula compromissória, é celebrado após o surgimento da controvérsia entre as partes, que submetem esta à decisão de um árbitro.

Conclui-se, portanto, que o compromisso arbitral é a convenção em que, as partes interessadas em resolver a controvérsia existente, renunciam à solução no Judiciário, em favor da arbitragem.

1.3.1 — Do Compromisso Arbitral judicial e extrajudicialO compromisso arbitral, conforme artigo 9o, da Lei de Arbitragem, pode ser judicial ou extrajudicial. (17)

A — Do Compromisso Arbitral JudicialDe acordo com a Lei de Arbitragem há duas hipóteses de compromisso arbitral celebrado em juízo.

A primeira hipótese vem estabelecida no artigo 7o, §§ 1o ao 7o, da lei de arbitragem, e ocorre quando a cláusula compromissória já existe. Ou seja, surgindo o confl ito entre as partes esse deveria ser solucionado pela arbitragem, porém, uma das partes impõe resistência para se lavrar o compromisso arbitral, fazendo com que a outra parte ingresse com um processo judicial requerendo o cumprimento da declaração de vontade instituída no contrato (cláusula compromissória), que é de submeter o confl ito à apreciação de um árbitro.

A segunda hipótese é tratada pelo §1o do artigo 9o. Ocorre quando as partes, em litígio na justiça comum, decidem optar pela arbitragem, mesmo sem ter combinado, anteriormente, a instituição da cláusula compromissória. As partes, de comum acordo, desistem do processo judicial e lavram o compromisso arbitral, manifestando a vontade de solucionar o confl ito através da arbitragem.B — Compromisso Arbitral Extrajudicial

O compromisso arbitral extrajudicial vem regulado no § 2o, do artigo 9o. Este compromisso é lavrado quando não foi instituída a cláusula compromissória e, também, não existe demanda ajuizada, mas as partes, voluntariamente, decidem que o confl ito existente será submetido à decisão de um árbitro, lavrando-se então o compromisso arbitral. Esse compromisso, de acordo com a lei, pode ser lavrado por escritura pública ou por documento particular, obrigatoriamente, assinado por duas testemunhas.

1.3.2 — Da extinção do Compromisso ArbitralO compromisso arbitral extingue-se nas hipóteses do artigo 12, da Lei de Arbitragem, ou seja, (i) quando qualquer árbitro recusar-se, antes de aceita a nomeação, e as partes terem deliberado que não seria aceito substituto; (ii) quando, também, deliberado, que não seria aceito substituto em caso de falecimento ou impossibilidade do árbitro proferir seu voto; (iii) quando tiver expirado o prazo fi xado no compromisso e o árbitro, embora notifi cado a respeito do prazo de 10 dias para apresentar a sentença arbitral, não apresente sua decisão.

2.ConclusãoDiante desse modesto estudo, dos pontos relevantes da convenção de arbitragem — cláusula compromissória e compromisso arbitral —, a conclusão a que se chega, é de que:

— A cláusula compromissória poderá ser utilizada antes de surgir à controvérsia;

— A cláusula compromissória poderá ser acordada no momento judicial do negócio principal ou, posteriormente, em um adendo, se assim for a vontade das partes, deixando claro que, essa cláusula refere-se a um confl ito futuro e incerto;

— O compromisso arbitral retrata o confl ito atual e específi co, quando então as partes lavram o compromisso prevendo as regras que serão utilizadas no juízo arbitral e, também, o árbitro regularmente escolhido para solucionar e prolatar a sentença arbitral.

Ressalta-se que, esses conceitos dispostos na Lei nº 9.307/96, traduzem hoje, sem dúvida alguma, uma segurança maior ao instituto da arbitragem no Brasil o que, anteriormente, não tínhamos em nosso ordenamento jurídico. Segurança capaz de garantir as partes, que espontânea e consensualmente optaram por esse sistema privado e

alternativo ao judiciário, a solução de suas controvérsias através do juízo arbitral.

A arbitragem, como se encontra normalizado, hoje, em nosso ordenamento jurídico, refl ete a modernidade do mundo globalizado, instituto utilizado por vários paises, tais como: Japão e Estados Unidos. Podendo, portanto, afi rmar que a arbitragem pode e deve ser utilizada por toda a sociedade brasileira como um instrumento alternativo a Justiça Comum, por ser mais ágil e objetiva na solução dos confl itos que envolvam direito patrimoniais disponíveis.

Alias, cumpre salientar que, a sentença arbitral tem o mesmo efeito da sentença judicial tendo, ainda, algumas peculiaridades mais benéfi cas, tais como:

— É prolatada por um árbitro escolhido livremente pelas partes; — Não cabe recurso ou a homologação pelo Poder Judiciário; — É auto-executável.

Essas peculiaridades demonstram a precisão da nossa Lei de Arbitragem, iniciando, no Brasil, na perspectiva de ALEXANDRE FREITAS CÂMARA, uma nova era, «era em que o processo jurisdicional fi que reservado para aqueles em que nenhuma outra forma de resolução de confl itos foi adequada». (18)

Por fi m, vale transcrever aqui os ensinamentos do ilustre professor VICENTE RÁO, por entender que a Lei de Arbitragem refl ete esse pensamento: «Boa só é a norma que traduz uma aspiração ou uma necessidade reveladas, esta e aquela, pela consciência social e humana e não a que impõe a prática de doutrinas eivadas de mero logicismo».

NOTAS01. Artigo 164 da Constituição Imperial do Brasil — «Nas

causas cíveis e nas penais civilmente intentadas, poderão as Partes nomear Juízes Árbitros. Suas sentenças serão executadas sem recurso, se assim o convencionarem as mesmas Partes.»02. Lei nº 3.071, de 1o. de janeiro de 1996, artigos 1.037 a

1048.03. Câmara, Alexandre Freitas. Arbitragem — Lei nº

9307/96, p. 9.04. art. 3o, da Lei 9.307 de 1996 — « As partes interessadas

podem submeter a solução de seus litígios ao juízo arbitral mediante convenção de arbitragem, assim entendida a cláusula compromissória e o compromisso arbitral.05. STF — Tribunal Pleno — Sentença Estrangeira

Contestada nº 6.7537 — Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte, Acórdão de 13/06/2002, D.J. de 04/10/2002, Ementário nº 2085-2.06. Lemes, Selma Maria Ferreira. Princípios e Origens da Lei

de Arbitragem. AASP/Revista do Advogado nº 51, p. 32.

07. Ibidem, p. 33.08. Monteiro, Washington de Barros. Curso de Direito Civil,

p. 319, v.4.09. Câmara, Alexandre Freitas. Arbitragem — Lei nº

9307/96, p. 28.10. art. 4o, §2o, da Lei 9.307 de 1996 — «Nos contratos de

adesão, a cláusula compromissória só terá efi cácia se o aderente tomar a iniciativa de instituir a arbitragem ou concordar, expressamente, com a sua instituição, desde que por escrito em documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula.11. STF — Tribunal Pleno — Sentença Estrangeira

Contestada nº 6.7537 — Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte, Acórdão de 13/06/2002, D.J. de 04/10/2002, Ementário nº 2085-2.12. Carmona, Carlos Alberto. A Aspectos Atuais da

Arbitragem. Arbitragem no Brasil no terceiro ano de vigência da Lei nº 93047/96.. p. 53.13. Câmara, Alexandre Freitas. Arbitragem — Lei nº

9307/96, p. 34.14. Ibidem. p.3415. art. 7o, da Lei 9.307 de 1996 — «Existindo cláusula

compromissória e havendo resistência quanto à instituição da arbitragem, poderá a parte interessada requerer a citação da outra parte para comparecer m juízo, a fi m de lavrar-se o compromisso, designando o juiz audiência especial para tal fi m.»16. Ráo, Vicente. O Direito e a Vida dos Direitos. Anotação

(114) de atualização da obra, por Ovídio Rocha Barros Sandoval,, p.792, v.2.17. art. 9o, da Lei 9.307 de 1996 — «O compromisso arbitral

é a convenção através da qual as partes submetem um litígio à arbitragem de uma ou mais pessoa, podendo ser judicial ou extrajudicial.»

Câmara, Alexandre Freitas. Arbitragem — Lei nº 9307/96, p.

JOGO E APOSTA.

1.19.1. E 1.20.1. EMENTÁRIO DE TEMAS:

Introdução. Espécies de Jogo e Efeitos. Introdução — Seguro. Classifi cação — Seguro. Elementos do Contrato de Seguro. Obrigações do Segurado. Obrigações do Segurador.

1.19.2. E 1.20.2. BIBLIOGRAFIA OBRIGATÓRIA:

Arts. 814 a 817 da Lei nº 10.406/2002.

Arts. 757 a 802 da Lei nº 10.406/2002.

GOMES, Orlando, Contratos. Rio de Janeiro: Forense, 2007, 26. ed., págs.

526 a 535 (Jogo e Aposta); 504 a 525 (Seguro).

PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Rio de Janeiro: For ense, 2010, vol. III, 14. ed., págs. 439 a 445 (Jogo e Aposta); 409 a 427 (Seguro).

1.19.3. E 1.20.3. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR:

TEPEDINO, Gustavo, BARBOZA, Heloisa Helena e MORAES, Maria Celina de. Código Civil Interpretado conforme a Constituição da República. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, vol. II, págs. 559 a 612 (Seguro); 624 a 629 (Jogo e Aposta).

A) Introdução

O jogo e a aposta estão dispostos entre as várias espécies de contratos previstos na Lei nº 10.406/2002, mas eles podem ser considerados como contrato?

O novo Código Civil trouxe duas alterações signifi cativas na disciplina do jogo e da aposta. Quais foram?

B) Espécies de Jogos e Efeitos

Proibidos — São os jogos de azar28, como a roleta, o bicho, aposta sobre corrida de cavalos fora de hipódromos, briga de galo. Tendo em vista que são ilícitos não geram direitos e sujeitam o infrator a punição.

Tolerados — São aqueles que o resultado não depende preponderantemente da sorte, como o truco, a canastra, o pôquer. Embora não sejam contravenções penais, não são protegidos pela lei uma vez que não há interesse social em proteger relações que não passam de “divertimento sem utilidade”29, exceto se forem eivados de vícios, como dolo, que mereçam repressão.

28 Defi nição de jogo de azar está no artigo 50, parágrafo 3º da Lei de Contravenções Penais: “O jogo em que o ganho e a perda dependem exclusiva ou principalmente da sorte”.

29 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil - Contratos. Rio de Janeiro: Forense, 2005 - vol. III, pág. 488.

Autorizados — São aqueles que trazem algum benefício à Sociedade, seja por estimularem o espírito esportista (competições esportivas) ou atividades econômicas (turfe), seja por gerarem outra fonte de renda ao Estado (loterias). Nesse caso, as obrigações oriundas de jogo ou aposta são exigíveis.

Apenas os jogos e apostas autorizados perdem o caráter ilícito e dão causa à exigibilidade da prestação.

DECLARAÇÕES UNILATERAIS DE VONTADE.