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Livro O Mundo dos Bens - Para Uma Antropologia do Consumo Foco Criar uma ponte entre o que os economistas dizem sobre o específico tema do “comportamento consumista” e o que os antropólogos afirmam sobre os motivos que levam as pessoas a desejarem coisas. Cidad e RJ Edit ora UFRJ Ano 2004 Pg . 7 - 279 Ediç ão Ano or. 1979 Autor DOUGLAS, M Organizad ores/ Pensadore s Xxxxxxxxxxxxx Palavras- chave Consumo; Anrtropologia Citação: DOUGLAS, Mary. ISHERWOOD, Baron O Mundo dos Bens - Para Uma Antropologia do Consumo. Tradução de Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: UFRJ, 2004. Preparado por: Mateus K. Góes Apresentação de Everardo Rocha (7-18) A importância do livro se dá pelo fato dos autores colocarem o consumo em um patamar de objeto de pesquisa do campo da antropologia, sendo que o fazem de uma forma livre dos “preconceitos, generalizações superficiais, prejulgamentos inconsequentes e suposições precipitadas” sobre o consumo na sociedade contemporânea. O texto, para o apresentador, se distancia dos 3 enquadramentos que as pessoas, e até mesmo alguns teóricos usam para explicar o consumo: O hedonista, o moralista e o naturalista.

Fichamento do livro Os Bens de Consumo, de Mary Douglas e Baron Isher

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Livro O Mundo dos Bens - Para Uma Antropologia do ConsumoFoco Criar uma ponte entre o que os economistas dizem sobre o específico tema do

“comportamento consumista” e o que os antropólogos afirmam sobre os motivos que levam as pessoas a desejarem coisas.

Cidade RJ Editora

UFRJ Ano 2004 Pg.

7 - 279

Edição

1ª Ano or.

1979

Autor DOUGLAS, M Organizadores/Pensadores

Xxxxxxxxxxxxx

Palavras-chave

Consumo; Anrtropologia

Citação: DOUGLAS, Mary. ISHERWOOD, Baron O Mundo dos Bens - Para Uma

Antropologia do Consumo. Tradução de Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: UFRJ,

2004.

Preparado por:

Mateus K. Góes

Apresentação de Everardo Rocha (7-18)

A importância do livro se dá pelo fato dos autores colocarem o consumo em um

patamar de objeto de pesquisa do campo da antropologia, sendo que o fazem de uma

forma livre dos “preconceitos, generalizações superficiais, prejulgamentos

inconsequentes e suposições precipitadas” sobre o consumo na sociedade

contemporânea. O texto, para o apresentador, se distancia dos 3 enquadramentos que as

pessoas, e até mesmo alguns teóricos usam para explicar o consumo: O hedonista, o

moralista e o naturalista.

O primeiro vê o consumo pelo prisma da publicidade, como sendo a

consequência direta dos valores fetichistas da sociedade impostos em conteúdos

publicitários, como por exemplo, o sucesso, a felicidade e a realização. Neste ponto de

vista, consumo e valores são contrastados, como que em um plano cartesiano. Todavia,

esta visão “revela preconceitos ao observador crítico” e mostra fragilidade e

precaridade, pois a sua natureza ideológica tem uma forma óbvia, sendo que e

discussões e aprofundamentos são difíceis de serem feitos.

O segundo ponto de vista atribui, ao consumo, papel de vilão, e o torna o próprio

maquinário regente e causador de todas as mazelas do mundo. Este ponto de vista é

teoricamente instável, uma vez que analisa o consumo a partir de uma visão apocalíptica

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e o põe no centro de problema diferentes e distantes entre si. Também pode ser

observada uma superioridade moral da produção em relação ao consumo. Enquanto que

as ações decorrentes daquela primeira - marca, gasto, compra - são louváveis e

consideradas fruto do esforço laboral humano, que é “nobre e valoroso”, os traços

interligados ao segundo - marca, gasto, compra - são passíveis de críticas negativas e de

imputabilidade em relação aos problemas sociais. Esta disparidade revela um

preconceito ao consumo, enraigado no senso comum e reforçado pela mídia.

Por fim, a visão naturalista, na qual o consumo é uma consequência das

necessidades biológicas e psicológicas humanas, carece de substancialidade e confunde

“a dimensão cultural e simbólica com outros significados que a palavra possui”.

Portanto, ao caracterizar o consumo com algo natural, universal ou simbólico, esse

enquadramento permite dizer, por exemplo, que o fogo consumindo uma floresta e as

práticas de consumo, mais o comportamento do consumidor, são a mesma coisa. Uma

lógica que, na visão de Rocha, é errônea. Outra fragilidade é observada quando o plano

natural impõe-se sobre o cultural, através das pirâmides de desejos observadas em

bibliografias de marketing.

O autor ainda afirma que só é possível fugir de preconceitos e suposições

precipitadas quando se passa a interpretar e aceitar o consumo como “um sistema de

significação”, como fazem os autores do livro. Para ele, os 2 maiores ensinamentos que

podemos extrair da bibliografia é que “os bens são necessários, acima de tudo, para

evidenciar e estabilizar categorias sociais, e que a função essencial do consumo é fazer

sentido, construindo um universo inteligível”, sendo o consumo uma espécie de código

em que as relações sociais irão ser traduzidas.

Parte 1 – Os bens como sistema de informações (51-100)

Por que as pessoas querem bens

Para o começo da conversa sobre o universo inteligível do consumo, os autores irão

primeiramente voltar-se não ao ato em si, mas sim ao aspecto psicológico e cultural dos

consumidores. Por que consumimos? Por que temos vontade e necessidades de

consumo? Por que queremos alguns bens e não queremos outros?

Logo no começo, a denúncia: Ninguém ainda sabe por que as pessoas querem bens.

Logo, os autores não irão se preocupar em criar tal resposta. O que existirá é uma

revisita às teorias econômicas e sociológicas acerca do assunto. É preciso admitir que há

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um certo “silêncio na teoria utilitarista” e em sua teoria da demanda. Observa-se então a

necessidade dos economistas de refutar intromissões de outras áreas nas teorias

econômicas, como a psicologia.

A abordagem da demanda, por economistas, através da higiene é frágil em

argumentos ao generalizar a pobreza, um conceito relativo que por sua vez não é

compreendido e não se apresenta de uma forma universal nas diversas sociedades. O

que podemos entender é que o consumo seria explicado através da necessidade

biológica (precisamos comprar uma geladeira para que a comida não estrague; É

necessário termos uma casa com banheiro e todos seus artigos próprios de higiene). No

entanto, a argumentação acaba-se por aí, excluindo-se os fatores psicológicos do ser

humano, que são refutados de forma maniqueísta (o biológico é o bom e o psicológico é

o mal).

Economistas e diversos antropólogos recorrem aos sentimentos de cobiça e inveja

para explicar o desenvolvimento econômico e o desejo de consumir, como por exemplo

o “efeito túnel” de Albert Hirschmann (o pobre quer o que o rico tem, e vê nele uma

possibilidade de vida melhorada). Mary Douglas acaba por explicitar uma autocrítica

dos próprios economistas, que agouram a falta de empiricismo de sua própria área:

Os primeiros mestres da teoria econômica estavam em verdade

extremamente interessados nos determinantes gerais do progresso

econômico e nas condições gerais da riqueza ou da pobreza. O título

Uma investigação sobre a natureza e as causas da riqueza nas nações

não poderia ter sido escolhido por alguém que acreditasse que o

mecanismo dos preços num mercado de curto prazo de bens fosse a

essência da economia. Adam Smith aprofundou-se até os fatores

fundamentais que distribuem riqueza ou pobreza para uma nação em

particular (DOUGLAS; ISHERWOOD, 2004, pág.58)

Porque poupam

Se não temos uma concordância na área econômica sobre por que consumimos,

talvez a resposta estaria não no consumo, mas na poupança? Os autores agora

buscam explicações para o ato de poupar.

Na teoria Keynesiana, por exemplo, a “poupança é investimento e é também

consumo adiado, e como o nível da renda no futuro depende do volume

poupado, a decisão de consumir agora ou no futuro é importante na

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macroeconomia”. Também credita-se o fato de que o crescimento da poupança

acompanha o crescimento do ganho real. Porém para os autores, isso não seria

possível pois não há um acordo social acerca da poupança que fizesse dela algo

obrigatório quando se ganha mais, e de qualquer forma, o aumento proporcional

da poupança após o aumento na renda real não foi de certo comprovado.

A avaliação do quanto ou como se deve poupar não é algo que se possa

generalizar, pois difere de uma sociedade para outra, de forma que “gastar

apenas uma pequena proporção da renda pode em certo lugar e época ser

considerado econômico, sábio e previdente; em outros, pode ser visto como

avarento, mesquinho e errado”, juízos que são a fonte de estudo dos

antropólogos.

Já Weber “analisou a transição histórica do conspícuo do Renascimento

para o cálculo econômico dos séculos XVI E XVII como uma mudança

simultânea em três níveis: o socioeconômico, o doutrinado e o moral”. Essa

transição histórica foi acompanhada pela transição do pensamento católico para

o protestante. Enquanto que o primeiro desaprovava o acúmulo (era mais

importante almejar a salvação, a aprovação divina e a vida pós-morte do que

uma vida futura na terra), o segundo o via como algo digno (o divino e o

religioso está no aqui e agora).

Ele também salientou 4 tipos econômicos doutrinários: A economia

tradicional; a economia de subsistência do camponês; o capitalismo aventureiro

e a economia capitalista individual. Sendo que só aprofundou-se em duas delas.

A crítica feita aqui é que os antropólogos, diferentes dos economistas,

procurariam analisar todos os casos e nuances. Logo, conclui-se que Weber não

chegou a criar uma teoria da poupança. As fraquezas se mostram:

As doutrinas não podem explicar nada sem oferecer razões

adequadas para a adesão das pessoas a elas. Nem as doutrinas nem as

adesão são fixas. O sociólogo terá de imaginar as razões pelas quais

uma doutrina que oferece compensação na outra vida em troca da

dissipação de uma fortuna mundana se torna aceitável. Entender que

se torne bom senso distribuir tudo para os pobres é um problema

dentro da análise (DOUGLAS; ISHERWOOD, 2004, pág.58)

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Por sua vez, Boutruche vai de encontro a Weber ao analisar a Guerra dos Cem

Anos. É possível analisar a contradição ao modelo católico e tradicional pré-Reforma

que Weber apresenta, sendo que a extravagância e os gastos se aproximavam muito

mais das necessidades sociais (clero precisava mostrar respeito, nobreza esbanjar

riquezas e os senhores precisavam mostrar presença aos seus vassalos) do que das

indulgências esperadas na vida espiritual por ter uma mão aberta. A terra daqui era mais

cobiçada que a terra dos céus, e isso podia ser visto em todos os estratos que Weber

nomeou.

Logo mais, é feito uma análise dos 4 tipos de Weber com o diagrama de grade e de

grupo de Basil Bernstein, onde cada tipo se localiza em uma parte do diagrama, que põe

em um dos eixos a facilidade de penetração em um determinado grupo, chamada de

“grade” e no outro a possibilidade de poupança individual. É assinalado que quanto

mais corporativista uma sociedade ou grupo social, menor é a propensão à poupança

individual (o interesso do grupo é mais importante).

O capítulo desenvolve então para a abordagem de Duesenberry, que criticou os

pressupostos de que o comportamento consumidor de cada indivíduo é independente do

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de todos os outros, e que as decisões de consumo são reversíveis no tempo. O

economista traz uma viés mais sociológico ao estudo do consumo, confrontando Keynes

especialmente no aspecto da poupança em passos iguais aos da mudanças na renda:

Para o tipo de sociedade que Duesenberry está apresentando, há

uma pressão contínua sobre o consumidor para gastar mais. Como

ponto de partida para considerar a propensão marginal a consumir,

Duesenberry separaria a propensão a poupar do nível absoluto de

renda, relacionando-a mais diretamente a um fator social, ou seja, à

posição relativa do consumidor na distribuição de renda da população

de que faz parte. (DOUGLAS; ISHERWOOD, 2004, pág.88)

Dessa forma o economista acaba pautando seu trabalho em 4 frentes: “A propensão

culturalmente mediada para consumir, os limites culturais de uma população, um

princípio universal de emulação dentro de determinada cultura e a poupança como não-

consumo viável depois que as pressões culturais estejam satisfeitas”(estou rico, agora

posso poupar). Apesar de comprovar que o argumento de Keynes é falho, o autor acaba

também por falhar ao considerar que a poupança é algo residual, um último estágio.

Outro erro é tratar o comportamento do consumidor como algo unicamente regrado pela

emulação social (necessidade de subir na vida e aumentar status).

O último a ser revisitado pelos autores do livro no capítulo é Milton Friedman, com

a teoria da renda permanente. Nela, o economista se afasta das complexidades

psicológicas do consumidor, afirmando que a opção pelo gasto/consumo ou poupança é

estritamente racional.

A hipótese da renda permanente supõe que o indivíduo tenha um

programa de consumo para toda a vida, dentro do qual tome suas

decisões orçamentárias cotidianas. Seu plano de vida muda a todo

tempo, à medida que ele aprende com a experiência passada ou à

medida em que mudam suas expectativas legítimas. (DOUGLAS;

ISHERWOOD, 2004, pág.88)

Os autores simpatizam com a teoria de Friedman, uma vez que ela dá ao consumo caráter

atemporal, pois afirma que todos possuimos uma renda permanente e um consumo permanente.

Outra ideia considerada pertinente é que a teoria não diz como o planejamento financeiro

ocorre, o que abre as possibilidades dela ser aplicada em diferentes sociedades (não sei como

você gasta ou poupa, só sei que você tem um planejamento de renda contínuo). Sobre a

poupança, Friedman conversa com Duesenberry ao observar que a posição social de fato possui

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influência sobre a poupança, mas também acrescenta dúvidas ao deduzir que pessoas que

possuiam renda menor e condições de vida precária supostamente poupariam mais, ainda que

estivessem em um patamar igual aos de maior renda. O autor não explica, todavia, as atitudes

extrapoladas (churrasco todo domingo, cervejinha do dia).

No final, é possível perceber que tanto Duesenberry quanto Friedman agregaram

contribuições à teoria do consumo, rumo a um estudo antropológico do mesmo.