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Fichamento: O fluxo sanguíneo da ciência: Um exemplo da inteligência científica de Joliot Autores: Bruno Latour Aluno: Iago Vinicius Avelar Souza Segundo Latour, o projeto dos estudos científicos não é estabelecer a priori que existe "uma conexão" entre ciência e sociedade, pois a existência dessa conexão depende daquilo que os atores fazem ou deixam de fazer para estabelece-la. Todas as respostas são interessantes e constituem dados de grande relevância para aqueles que desejam compreender esse imbróglio de coisas e pessoas coisas, é claro, os dados que possam mostrar que não existe a menor conexão, em dada época, entre uma ciência e o resto da cultura. Para Latour, a operação de translação consiste em combinar dois interesses até então diferentes num único objetivo composto. Os estudos científicos não se situam, no debate clássico, entre história internalista e história externalista. Eles reconfiguram por completo as questões. Só o que se pode dizer é que as sucessivas cadeias de translação envolvem, num extremo, recursos exotéricos (que lembram mais o que lemos nos artigos diários) e, no outro, recursos esotéricos (que lembram mais o que lemos nos manuais universitários). Todavia. esses dois

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Fichamento do capítulo 3 - A esperança de Pandora. de Bruno Latour

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Fichamento: O fluxo sanguneo da cincia: Um exemplo da inteligncia cientfica de JoliotAutores: Bruno LatourAluno: Iago Vinicius Avelar Souza

Segundo Latour, o projeto dos estudos cientficos no estabelecer a priori que existe "uma conexo" entre cincia e sociedade, pois a existncia dessa conexo depende daquilo que os atores fazem ou deixam de fazer para estabelece-la. Todas as respostas so interessantes e constituem dados de grande relevncia para aqueles que desejam compreender esse imbrglio de coisas e pessoas coisas, claro, os dados que possam mostrar que no existe a menor conexo, em dada poca, entre uma cincia e o resto da cultura.Para Latour, a operao de translao consiste em combinar dois interesses at ento diferentes num nico objetivo composto. Os estudos cientficos no se situam, no debate clssico, entre histria internalista e histria externalista. Eles reconfiguram por completo as questes. S o que se pode dizer que as sucessivas cadeias de translao envolvem, num extremo, recursos exotricos (que lembram mais o que lemos nos artigos dirios) e, no outro, recursos esotricos (que lembram mais o que lemos nos manuais universitrios). Todavia. esses dois extremos no so mais importantes nem mais reais que as duas pontas de referencia do captulo anterior - e pela mesma razo. Tudo o que importante ocorre entre ambos e as mesmas explicaes servem para conduzir a translao nas duas direes. Nesse segundo modelo, mtodos idnticos so utilizados para compreender cincia e sociedade. Os estudos cientficos nunca tiveram interesse, a meu ver, em fornecer urna explicao social de qualquer item de cincia. Se tivessem tido, fracassariam de pronto, j que nada na definio comum do que seja sociedade poderia explicar a conexo entre um ministro dos Armamentos e os nutrons. Apenas por causa do trabalho de Joliot que essa conexo foi estabelecida. Os estudos cientficos acompanham de perto aquelas translaes implausveis que mobilizam, de maneira absolutamente inesperada, definies novas do que fazer a guerra e definies novas do que constitui o mundo. (LATOUR, 2001:104).Para ele, as operaes de translao transformam as questes polticas em questes de tcnica e vice-versa; numa controvrsia, as operaes de convencimento mobilizam uma mistura entre agentes humanos e no-humanos. Assim impossvel, por definio, dar uma descrio geral de todos os laces surpreendentes e heterogneos que explicam o sistema circulatrio encarregado de manter vivos os fatos cientficos; mas talvez possamos esboar cinco diferentes preocupaes que todos os pesquisadores tero de considerar ao mesmo tempo caso queiram ser bons cientistas. Mobilizao do Mundo. O primeiro circuito a acompanhar a mobilizao do mundo, se por isso entendermos a expresso geral dos meios pelos quais os no-humanos so inseridos no discurso. uma questo de dirigir-se para o mundo, torn-lo mvel, traze-lo para o local da controvrsia, mante-lo empenhado e faz-lo suscetvel de argumentao. Automao. Para convencer, o cientista precisa de Data, mas tambm de algum a ser convencido. O objetivo dos historiadores da segunda parte do sistema vascular mostrar como um pesquisador encontra colegas. Chamo esse segundo circuito de automatizao porque diz respeito ao modo pelo qual uma disciplina, uma profisso, uma faco ou uma "congregao invisvel" se torna independente e engendra seus prprios critrios de avaliao e relevncia. A referencia circulante no cessa com os dados. Tem de continuar a fluir e convencer outros colegas. Aliana. O terceiro circuito a Aliana. Nenhum instrumento pode ser aperfeioado, nenhuma disciplina pode tornar-se autnoma, nenhuma instituio nova pode ser fundada sem o terceiro circuito. possvel recrutar para as controvrsias dos cientistas grupos que antes no se relacionavam. possvel atrair o interesse dos militares para a fsica, o dos industrias para a qumica, o dos reis para a cartografia, o dos professores para a teoria da educao, o dos congressistas para a cincia poltica. Sem o empenho em tornar o pblico interessado, os outros circuitos nada mais seriam que uma viagem imaginria; sem colegas e sem um mundo, o pesquisador no custaria muito, mas tambm no valeria nada. Representao pblica. Os mesmos cientistas que precisaram correr mundo para torna-lo mvel, convencer colegas e assediar ministros ou conselhos de diretores tm agora de cuidar de suas relaes com outro mundo exterior formado por civis: reprteres, pnditas e pessoas comuns. Chamo esse quarto circuito de representaro publica. Como os demais, esse circuito exige dos cientistas uma conjunto inteiramente diverso de habilidades no relacionadas aos dos outros circuitos, mas ainda assim determinantes para eles. Vnculos e ns. Segundo Latour at aqui, apenas seguimos as veias e artrias para chegar agora, inevitavelmente, ao corao palpitante. Contudo, se mantemos o contedo de um lado e o contexto de outro, o fluxo da cincia torna-se incompreensvel. Se no houvesse um quinto circuito os outros quatro desapareceriam imediatamente. O mundo no mais seria mobilizvel; os colegas se dispersariam em todas as direes; os aliados perderiam o interesse, ocorrendo o mesmo ao pblico aps expressar sua indignao ou indiferena, Mas esse desaparecimento ocorreria tambm se qualquer dos outros circuitos fosse eliminado. O contedo de uma cincia no algo que esteja contido: ele prprio, o continente. Eles fazem parte deste mundo. Surgem apenas aqui, em nosso globo, porque so eles que o constroem unindo mais e mais elementos em coletivos cada vez maiores. Por fim, para Latour no lugar de um coletivo de humanos e no-humanos, produzimos duas sries paralelas de artefatos que jamais se cruzam: de um lado, ideias; de outro, sociedade, A primeira srie, resulta nos sonhos da epistemologia e na reao patelar defensiva dos guerreiros da cincia; a segunda, que resulta na iluso de um mundo social, bem mais nociva, ao menos para aqueles que, como eu, tentam por em prtica uma filosofia realista. Essa inveno de um contexto social enunciado inviabilizou a compreenso do mundo moderno como um todo. Ns precisamos abandonar por completo a noo de sociedade para recuperar o senso de realismo no estudo da cincia.LATOUR, B. A esperana de Pandora: ensaios sobre a realidade dos escudos cientficos. Bauru, SP : EDUSC, 2001.