Upload
amanda-duarte
View
4
Download
0
Embed Size (px)
DESCRIPTION
Fichamento: o texto e a encenação edélcio mostaço.
Citation preview
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO
DEPARTAMENTO DE TEORIA DA ARTE E EXPRESSÃO ARTÍSTICA
LICENCIATURA EM TEATRO
DISCIPLINA: METODOLOGIA DA ENCENAÇÃO
PROFESSOR: ROBERTO LÚCIO CAVALCANTE DE ARAÚJO
ALUNA: AMANDA DE SAMPAIO ALVES DUARTE
Fichamento do artigo “O texto e a encenação – Percursos”, de Edélcio Mostaço
Mesmo depois de tantos anos das grandes reviravoltas na organização do
teatro, a relação entre texto-encenação permanecem confusas. Isso tudo
porque, irredutívelmente, uma não quer ser vencida, engolida, pela outra.
Os defensores do textocentrismo se apoiam na concepção de Aristóteles de
que o texto, diferentemente da cena, tem autosuficiência, por pode, somente
ao ser lido, instaurar o efeito dramático, independendo do espetáculo.
O texto dramático escrito surgiu de uma necessidade literária de levar à
comunicação escrita o discurso retórico bipartido, que compreende a
exposição de dois argumentos contrários que promovem um “jogo dialético
entre afirmação e negação”. Para isso, o autor se utiliza de três processos
para criação de um novo texto teatral: a instalação dos agentes numa
situação (“…adequação dos limites, circunstâncias e possíveis actanciais para
as figuras cênicas”); a presentificação da ação (“…operação que visa
adensar e tornar mais interessante para o espectador o desenrolar da
ação, tranzendo os fatos narrados para o tempo em que se vive, despertando
emoções no momento já.”); e, a criação das convenções narrativas (“…a
estruturação em cenas, sequências, atos, assim como a conformação de
decoro interno e externo dos personagens, dos espaços, do tempo, dos
figurinos, etc. agrupados em rubricas ou didascalias, que passam a constituis
o texto secundário.”). (P. 13)
Nesse modo de construção, o dramaturgo se coloca numa posição de
controle total sobre texto e espetáculo (pois determina as diretrizes tanto da
situação posta quanto da sua utilização cênica), que se autoriza em uma
visão apoiada na “verdade imanente ao texto (…) contraposta ao acidental do
espetáculo”. (P.13)
Desde o nascimento do teatro observa-se uma mudança quase que constante
nas figuras que eram/são enaltecidas. Em certo momento foram os autores,
em outro os atores, e ainda um tempo considerável de devoção aos
cenógrafos. A figura responsável pela encenação só veio receber destaque
nas três últimas décadas do século XIX.
Tal cenário só começou a se modificar quando Antoine, em seu Théâtre Libre,
concebeu três considerações basilares para o teatro moderno (que seriam “…
implementados e expandidos por Stanislavski, Meierhold, Bati, Craig, Appia,
Reinhardt, Piscator, Brecht, entre tantos outros): o papel e a função da quarta
parede; a definição do espaço cênico como contraponto ao espaço narrativo;
e, a disciplina dos atores. (P.14)
“O espaço cênico passa a ser vislumbrado, desde então, como uma
galvanização das forças atuantes no espaço narrativo, uma busca de
adequação entre os meios (da infraestrutura da linguagem cênica, da
iluminação e da cenotécnica, etc) e os fins (a articulação dos signos dentro de
um código cênico e suas posssíveis decodificações pelo espectador) a
conformar a substância última do fenômeno teatral.” (P.14)
Dadas tais mudanças, fez-se necessário também mudanças de
comportamento e treinamento dos atores (visto que sua função foi
redimensionada e equiparada aos demais elementos da formação cênicaa)
que, agora, eram administrados de forma a evitar destaques que
comprometessem o grupo.
Tudo, aliás, inclusive o dramaturgo e seu texto, passam a ter relevâncias
equiparadas, saltando, apenas, o trabalho do encenador de unir todas essas
artes em um sentido único.
“A verdade do texto é recusada, em função da historicidade da cena, do
espetáculo, do fenômeno teatral em ato. O “idealismo” da mensagem é
subtituído pelo “materialismo” do procedimento, tornando a encenação um
jogo de sentidos com o presente do mundo.” (P. 14)
Para localizar o lugar do espetáculo, melhor é enumerar o que ele NÃO é,
para, por eliminação, encontrar o que ele é. “O espetáculo não é a atualização
cênica de uma potencialidade textual”.”O espetáculo não é um aniquilador do
texto”.”O espetáculo não é fiel ao texto”.”Diferentes encenações,
principalmente de obras históricas, não lêem o mesmo texto”.”A encenação
não é uma correção do texto”.”A encenação não é o encontro de dois
referentes, o textual e o cênico”.”A encenação não é a expressão performativa
do texto”.
Há ainda alguns preconceitos relacionados a submissão do espetáculo ao
texto, e que, inevitavelmente, acabam atrapalhando o desenvolvimento da
arte da encenação (apesar dela ser, hoje, a mais valorizada e estudada no
mundo ocidental). São alguns deles: a encenação como ilustração do texto; a
encenação como tradução do texto; a encenação como remate ou
acabamento; a encenação como suplemento; e, a encenação como
conquista.
“O texto teatral é um objeto inerente ao discurso da literatura dramática e,
como tal, possui características e natureza que lhe são próprias. A encenação
pertence ao fenômeno do ato cênico e manifesta-se, assim, a partir de outras
constituintes estruturais.” (P. 16)
“…a tensão é uma resultante performática, o aspecto in vivo que marca todo
ato teatral, presente, aqui e agora; o que torna a encenação um “ensaio
teórico”, não um ato arbitrário ou individualista fruto de uma mente imaginosa,
mas a equação possível entre os diversos enunciados criados pela equipe por
ela responsável (da qual o texto é uma parte).” (P.16)
“A encenação é vista, então, como o discurso auto-reflexivo específico da
obra de arte teatral (ensejando a postura do encenador como artista-autor),
ao mesmo tempo em que proteja o desejo de teorização do público de
entreter-se não com um segredo a ele inacessível (…), mas com um amplo
jogo de significações com o qual ele é convidado a interagir.” (P. 16)i
i Todas as citações feitas foram extraídas do artigo O testo e a encenação – Percursos, publicado pelo crítico, ensaísta e professor Edélcio Mostaço na Revista O teatro transcende de número 12, do ano de 2003.