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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO DEPARTAMENTO DE TEORIA DA ARTE E EXPRESSÃO ARTÍSTICA LICENCIATURA EM TEATRO DISCIPLINA: METODOLOGIA DA ENCENAÇÃO PROFESSOR: ROBERTO LÚCIO CAVALCANTE DE ARAÚJO ALUNA: AMANDA DE SAMPAIO ALVES DUARTE Fichamento do artigo “O texto e a encenação – Percursos”, de Edélcio Mostaço Mesmo depois de tantos anos das grandes reviravoltas na organização do teatro, a relação entre texto-encenação permanecem confusas. Isso tudo porque, irredutívelmente, uma não quer ser vencida, engolida, pela outra. Os defensores do textocentrismo se apoiam na concepção de Aristóteles de que o texto, diferentemente da cena, tem autosuficiência, por pode, somente ao ser lido, instaurar o efeito dramático, independendo do espetáculo. O texto dramático escrito surgiu de uma necessidade literária de levar à comunicação escrita o discurso retórico bipartido, que compreende a exposição de dois argumentos contrários que promovem um “jogo dialético entre afirmação e negação”. Para isso, o autor se utiliza de três processos para criação de um novo texto teatral: a instalação dos agentes numa situação (“…adequação dos limites, circunstâncias e possíveis actanciais para as

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Fichamento: o texto e a encenação edélcio mostaço.

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Page 1: fichamento o texto e a encenação edélcio mostaço

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO

DEPARTAMENTO DE TEORIA DA ARTE E EXPRESSÃO ARTÍSTICA

LICENCIATURA EM TEATRO

DISCIPLINA: METODOLOGIA DA ENCENAÇÃO

PROFESSOR: ROBERTO LÚCIO CAVALCANTE DE ARAÚJO

ALUNA: AMANDA DE SAMPAIO ALVES DUARTE

Fichamento do artigo “O texto e a encenação – Percursos”, de Edélcio Mostaço

Mesmo depois de tantos anos das grandes reviravoltas na organização do

teatro, a relação entre texto-encenação permanecem confusas. Isso tudo

porque, irredutívelmente, uma não quer ser vencida, engolida, pela outra.

Os defensores do textocentrismo se apoiam na concepção de Aristóteles de

que o texto, diferentemente da cena, tem autosuficiência, por pode, somente

ao ser lido, instaurar o efeito dramático, independendo do espetáculo.

O texto dramático escrito surgiu de uma necessidade literária de levar à

comunicação escrita o discurso retórico bipartido, que compreende a

exposição de dois argumentos contrários que promovem um “jogo dialético

entre afirmação e negação”. Para isso, o autor se utiliza de três processos

para criação de um novo texto teatral: a instalação dos agentes numa

situação (“…adequação dos limites, circunstâncias e possíveis actanciais para

as figuras cênicas”); a presentificação da ação (“…operação que visa

adensar e tornar mais interessante para o espectador o desenrolar da

ação, tranzendo os fatos narrados para o tempo em que se vive, despertando

emoções no momento já.”); e, a criação das convenções narrativas (“…a

estruturação em cenas, sequências, atos, assim como a conformação de

decoro interno e externo dos personagens, dos espaços, do tempo, dos

figurinos, etc. agrupados em rubricas ou didascalias, que passam a constituis

o texto secundário.”). (P. 13)

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Nesse modo de construção, o dramaturgo se coloca numa posição de

controle total sobre texto e espetáculo (pois determina as diretrizes tanto da

situação posta quanto da sua utilização cênica), que se autoriza em uma

visão apoiada na “verdade imanente ao texto (…) contraposta ao acidental do

espetáculo”. (P.13)

Desde o nascimento do teatro observa-se uma mudança quase que constante

nas figuras que eram/são enaltecidas. Em certo momento foram os autores,

em outro os atores, e ainda um tempo considerável de devoção aos

cenógrafos. A figura responsável pela encenação só veio receber destaque

nas três últimas décadas do século XIX.

Tal cenário só começou a se modificar quando Antoine, em seu Théâtre Libre,

concebeu três considerações basilares para o teatro moderno (que seriam “…

implementados e expandidos por Stanislavski, Meierhold, Bati, Craig, Appia,

Reinhardt, Piscator, Brecht, entre tantos outros): o papel e a função da quarta

parede; a definição do espaço cênico como contraponto ao espaço narrativo;

e, a disciplina dos atores. (P.14)

“O espaço cênico passa a ser vislumbrado, desde então, como uma

galvanização das forças atuantes no espaço narrativo, uma busca de

adequação entre os meios (da infraestrutura da linguagem cênica, da

iluminação e da cenotécnica, etc) e os fins (a articulação dos signos dentro de

um código cênico e suas posssíveis decodificações pelo espectador) a

conformar a substância última do fenômeno teatral.” (P.14)

Dadas tais mudanças, fez-se necessário também mudanças de

comportamento e treinamento dos atores (visto que sua função foi

redimensionada e equiparada aos demais elementos da formação cênicaa)

que, agora, eram administrados de forma a evitar destaques que

comprometessem o grupo.

Tudo, aliás, inclusive o dramaturgo e seu texto, passam a ter relevâncias

equiparadas, saltando, apenas, o trabalho do encenador de unir todas essas

artes em um sentido único.

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“A verdade do texto é recusada, em função da historicidade da cena, do

espetáculo, do fenômeno teatral em ato. O “idealismo” da mensagem é

subtituído pelo “materialismo” do procedimento, tornando a encenação um

jogo de sentidos com o presente do mundo.” (P. 14)

Para localizar o lugar do espetáculo, melhor é enumerar o que ele NÃO é,

para, por eliminação, encontrar o que ele é. “O espetáculo não é a atualização

cênica de uma potencialidade textual”.”O espetáculo não é um aniquilador do

texto”.”O espetáculo não é fiel ao texto”.”Diferentes encenações,

principalmente de obras históricas, não lêem o mesmo texto”.”A encenação

não é uma correção do texto”.”A encenação não é o encontro de dois

referentes, o textual e o cênico”.”A encenação não é a expressão performativa

do texto”.

Há ainda alguns preconceitos relacionados a submissão do espetáculo ao

texto, e que, inevitavelmente, acabam atrapalhando o desenvolvimento da

arte da encenação (apesar dela ser, hoje, a mais valorizada e estudada no

mundo ocidental). São alguns deles: a encenação como ilustração do texto; a

encenação como tradução do texto; a encenação como remate ou

acabamento; a encenação como suplemento; e, a encenação como

conquista.

“O texto teatral é um objeto inerente ao discurso da literatura dramática e,

como tal, possui características e natureza que lhe são próprias. A encenação

pertence ao fenômeno do ato cênico e manifesta-se, assim, a partir de outras

constituintes estruturais.” (P. 16)

“…a tensão é uma resultante performática, o aspecto in vivo que marca todo

ato teatral, presente, aqui e agora; o que torna a encenação um “ensaio

teórico”, não um ato arbitrário ou individualista fruto de uma mente imaginosa,

mas a equação possível entre os diversos enunciados criados pela equipe por

ela responsável (da qual o texto é uma parte).” (P.16)

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“A encenação é vista, então, como o discurso auto-reflexivo específico da

obra de arte teatral (ensejando a postura do encenador como artista-autor),

ao mesmo tempo em que proteja o desejo de teorização do público de

entreter-se não com um segredo a ele inacessível (…), mas com um amplo

jogo de significações com o qual ele é convidado a interagir.” (P. 16)i

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i Todas as citações feitas foram extraídas do artigo O testo e a encenação – Percursos, publicado pelo crítico, ensaísta e professor Edélcio Mostaço na Revista O teatro transcende de número 12, do ano de 2003.