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FICHAMENTO – DIREITOS DE PERSONALIDADE E AUTONOMIA PRIVADA O presente fichamento, resultado da pesquisa do livro direitos de personalidade e autonomia privada, de Roxana Cardoso Brasileiro Borges, problematizando primordialmente a característica da indisponibilidade dos direitos da personalidade, é possível compendiar as principais ideias desenvolvidas. Para cumprir este desiderato, seguem-se, de modo analítico, as conclusões que podem ser extraídas, as quais serão apresentadas, na medida do possível, na ordem em que os assuntos foram tratados ao longo do texto. No pensamento jusfilosófico grego, colocou-se a pessoa como a origem e a finalidade do Direito. No entanto, muito embora se possam verificar algumas manifestações isoladas da proteção da pessoa na antiguidade, principalmente através da hybris grega e da iniuria romana, que, para alguns autores, constituem o embrião do direito geral de personalidade, não se pode afirmar que tal proteção se assemelha ao que hoje concebemos a partir da tutela dos direitos da personalidade, haja vista que neste período histórico a posição que a pessoa ocupava na sociedade influenciava o tratamento a ela dispensado. Os direitos da personalidade vinculam-se de forma indissociável ao principio da dignidade da pessoa humana e, por isso, são considerados essenciais e inatos. Ao nascer, toda pessoa torna-se titular de direitos inerentes à sua vida, saúde, integridade física, nome, imagem, honra e privacidade.

Fichamento

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Page 1: Fichamento

FICHAMENTO – DIREITOS DE PERSONALIDADE E AUTONOMIA PRIVADA

O presente fichamento, resultado da pesquisa do livro direitos de personalidade e

autonomia privada, de Roxana Cardoso Brasileiro Borges, problematizando primordialmente

a característica da indisponibilidade dos direitos da personalidade, é possível compendiar as

principais ideias desenvolvidas. Para cumprir este desiderato, seguem-se, de modo analítico,

as conclusões que podem ser extraídas, as quais serão apresentadas, na medida do possível, na

ordem em que os assuntos foram tratados ao longo do texto.

No pensamento jusfilosófico grego, colocou-se a pessoa como a origem e a finalidade

do Direito. No entanto, muito embora se possam verificar algumas manifestações isoladas da

proteção da pessoa na antiguidade, principalmente através da hybris grega e da iniuria

romana, que, para alguns autores, constituem o embrião do direito geral de personalidade, não

se pode afirmar que tal proteção se assemelha ao que hoje concebemos a partir da tutela dos

direitos da personalidade, haja vista que neste período histórico a posição que a pessoa

ocupava na sociedade influenciava o tratamento a ela dispensado.

Os direitos da personalidade vinculam-se de forma indissociável ao principio da

dignidade da pessoa humana e, por isso, são considerados essenciais e inatos. Ao nascer, toda

pessoa torna-se titular de direitos inerentes à sua vida, saúde, integridade física, nome,

imagem, honra e privacidade.

O valor dignidade da pessoa humana surge, no ordenamento jurídico, como um

elemento unificador das normas e categorias jurídicas, com forte influencia sobre os direitos

de personalidade. Portanto, é um conceito que também demanda um estudo e uma delimitação

conceitual.

Segundo Pontes de Miranda,

No direito brasileiro a personalidade jurídica é tradicionalmente

definida como um atributo jurídico. Como atributo jurídico, depende

do ordenamento jurídico. O ordenamento brasileiro atribui

personalidade jurídica e entidades que passam a ser consideradas

sujeitos de direito. Portanto, personalidade jurídica e sujeitos de

direito são categorias interligadas e originárias do ordenamento

jurídico de certo momento histórico. (p. 8)

Mas segundo Clóvis Beviláqua a ideia de personalidade é, indispensável ao direito,

porque o direito se concebe como uma organização da vida em que, sob a égide tutelar de um

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poder mais forte, se expandem as faculdades dos indivíduos e dos agrupamentos humanos, e

essas faculdades asseguradas pela ordem jurídica são irradiações de um foco – a

personalidade. (p. 8)

O conceito de personalidade jurídica esteve, dessa forma, ligado a um papel que o

homem pudesse vir a exercer no mundo jurídico, a uma função que ele pudesse vir a ocupar

em dada relação jurídica.

A origem da atribuição de direitos de personalidade à pessoa jurídica no Brasil é

jurisprudencial, fruto da tentativa de permitir a reparação de danos sofridos pela pessoa

jurídica, mas que, por serem difícil liquidação, foram chamados de danos morais.

De acordo com Pietro Perlingeri fundamenta a afirmação de que a personalidade é um

valor fundamental do ordenamento jurídico ao analisar a forma como as várias expressões dos

direitos de personalidade devem ser protegidas. Para o autor italiano, há um direito geral de

personalidade que protege a pessoa como um valor unitário, sem subdivisões. Por isso, ele

sustenta que a personalidade corresponde à unidade de valor que a pessoa representa em

nosso ordenamento jurídico. Essa unidade de valor não pode, assim, ser dividida em

diferentes interesses, bens ou ocasiões, pois a pessoa é um todo, não partes acrescidas umas às

outras. O que é tutelado pelo direito de personalidade não são situações existenciais

específicas, mas o valor da pessoa, um valor unitário, ou seja, o valor da personalidade

jurídica.

Os atributos da personalidade podem, dessa forma, como bens jurídicos, ou objetos de

direito, ser submetidos a relações jurídicas, a situações jurídicas e até a negócios jurídicos,

principais instrumentos da autonomia privada das pessoas.

O conceito de autonomia significa autodeterminação. Etimologicamente, vem do

grego: autor (“eu mesmo”, “si mesmo”) e nomos (“lei, norma, regra”). Quem tem o poder de

estabelecer a sua própria lei moral é autônomo e goza de autonomia ou liberdade.

Ao desenvolver a sua personalidade, o sujeito, pode criar, modificar e extinguir

situações jurídicas ativas para si, podendo então exigir dos outros um dever positivo de

cooperação para a realização do seu interesse existencial.

O conceito de autonomia privada, mais restrito, corresponde ao poder de realização de

negócios jurídicos, ou seja, a liberdade negocial. Entende-se, em geral, autonomia privada

como o poder atribuído pelo ordenamento jurídico ao individuo para que este possa reger,

com efeitos jurídicos, suas próprias relações. Esse poder confere às pessoas a possibilidade de

regular, próprias relações. Esse poder confere as pessoas a possibilidade de regular, por si

mesmas, as próprias ações e suas consequências jurídicas, ou de determinar os conteúdos e os

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efeitos de suas relações jurídicas, tendo o reconhecimento e podendo contar com a proteção

do ordenamento jurídico.

Segundo Luigi Ferri, autonomia privada é sinônimo de poder de disposição. Para o

autor, autonomia privada e poder de disposição são exatamente o mesmo conceito, sendo que

poder de disposição significa poder de ditar normas, já que, em sua concepção de negócio

jurídico, este é norma jurídica e a autonomia privada é um poder normativo.

Na mesma medida em que é possível extrair da dignidade humana o direito

fundamental ao livre desenvolvimento da personalidade, tem-se que a possibilidade de

disponibilidade relativa deve atender à finalidade do desenvolvimento e formação da

personalidade, mas não pode chegar ao extremo da objetificação da pessoa humana. A pessoa

existe como um fim em si mesma, jamais podendo ser utilizada como meio para atingir

determinado fim. Assim, qualquer ato, seja ele advindo do Estado, de outra pessoa ou mesmo

do próprio titular no exercício de autolimitação, que intente à mercantilização dos direitos da

personalidade e à objetificação da pessoa humana, deve ser coibido, porque atentatório à

dignidade.

Aqueles que defendem a indisponibilidade absoluta dos direitos da personalidade temem a

mercantilização da pessoa humana, reduzindo-a a mero objeto de direito. No entanto, tal

temor não é suficiente para a negação do direito fundamental ao livre desenvolvimento da

personalidade. Os direitos da personalidade são essencialmente indisponíveis, mas esta

característica não é absoluta, já que o titular do direito pode, em maior ou menor medida,

dispor voluntariamente sobre os bens protegidos por tais direitos num exercício de liberdade e

autonomia que constitui também expressão da própria personalidade e da dignidade.

Conclusão

Durante um bom tempo, o conceito de personalidade esteve jungido ao de capacidade

jurídica, sendo entendido como a aptidão, conferida pela ordem jurídica a um sujeito, para

desempenhar direitos e adquirir obrigações.

Porém, o processo de constitucionalização do direito civil modificou o sentido e o alcance de

princípios e institutos fundamentais de direito privado, elevando-os à categoria de norma

constitucional e encontrando no princípio da dignidade da pessoa humana o fundamento

jurídico para o conceito de personalidade.

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Assim, os direitos de personalidade passaram a ser conceituados, conforme Roxana Cardoso

Brasileiro Borges, como projeções físicas, psíquicas e morais da pessoa, atributos,

características essenciais do homem, e seu objeto são os bens e valores fundamentais ao

homem, isto é, direitos que derivam da própria condição e qualidade de ser pessoa.

A despeito da controvérsia doutrinária quanto à natureza jurídica de tais direitos, tem

prevalecido a opinião de que eles possuem natureza jurídica de direito subjetivo, com a

peculiaridade inata e original de seu objeto ser ínsito ao titular.

Nesse passo, há duas teorias referentes à tutela dos direitos de personalidade: a monista, que

defende a existência de um direito geral que tem como sujeito e objeto de direito a pessoa

humana em seus diversos aspectos reunidos numa unidade – e a pluralista, que afirma que há

várias espécies de direitos independentes entre si.

Independentemente da posição adotada – monista ou pluralista –, fato é que os direitos de

personalidade não são taxativos, mas simplesmente enumerativos, e têm como fundamento a

dignidade da pessoa humana, variando sua classificação de acordo com cada autor.

Dentre as diversas características desses direitos, a doutrina costuma afirmar que são: (i)

absolutos – possuem eficácia erga omnes, ou seja, são oponíveis a todos, embora em algumas

situações possam ser relativos, como os direitos de exigir do Estado uma prestação; (ii)

inatos, necessários e vitalícios – porque a pessoa ao nascer adquire-os automaticamente, não

sendo requerido nenhuma outra condição, e usufrui desses direitos por toda sua existência;

(iii) indisponíveis, intransmissíveis e irrenunciáveis – em tese, não podem ser alienados ou

renunciados, embora essa indisponibilidade também possa ser relativa; (iv) imprescritíveis –

não há limitação temporal para seu exercício; e (v) impenhoráveis e extrapatrimoniais – não

são passíveis de penhora nem avaliáveis pecuniariamente, salvo algumas exceções