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Filhos do Café Ribeirão Preto da terra roxa - tradicional em ser moderna Museu do Café Francisco Schmidt

Filhos do Café

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Filhos do CaféRibeirão Preto da terra roxa - tradicional em ser moderna 

Museu do Café Francisco Schmidt

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Caféemcôcosobreumapeneira.Ocaféseapresenta,aprincípio,emgrãosverdeseduros.Àmedidaqueamadurecemelessetornamvermelhosepassamentãoachamar-se“cereja”.Quandosecam,escurecemetomamonomede“côco”.Data:c.1940.Fotógrafo:StudioRembrandt(MC,F322).

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PrefeituraMunicipaldeRibeirãoPreto

PrefeitaMunicipalDárcyVera

SecretáriadaCulturaAdrianaSilva

SecretáriaAdjuntadaCulturaCristianeFramartinoBezerra

DiretorAdministrativoAndersonLimasFrancisco

DiretordeAtividadesCulturaisValérioDiass

DiretoradePreservaçãodoPatrimônioHistóricoeCulturalLilianRodriguesdeOliveiraRosa

DiretordeArtesVisuaisNiltonCampos

ArquivoPúblicoeHistóricodeRibeirãoPretoMichelleCartolanodeCastroSilva

MuseudoCaféFranciscoSchmidtDanielBasso

PresidentedaFundaçãoInstitutodoLivroEdwaldoArantes

ConselhoCuradordoMuseudoCaféFranciscoSchmidt

SecretariadaCulturaAdrianaSilva

LilianRodriguesdeOliveiraRosaNiltonCamposDanielBasso

MichelleCartolanodeCastroSilvaTâniaCristinaRegistroAntonioBernardoTorres

ConselhoMunicipaldaCultura

CláudioBauso

ConselhoMunicipaldePreservaçãodoPatrimônioCulturalNainoraMariaBarbosadeFreitas

SociedadeCivilOnesimoCarvalhodeLima

RitaFantiniLeilaHeck

ElisaGonzáles

DiretoradoSistemaEstadualdeMuseusCecíliaMachado

C9751f-FilhosdoCafé-RibeirãoPretodaterraroxa-tradicionalemsermoderna/CuradoriaHistóricadoMuseudoCafé-RibeirãoPreto,FundaçãoInstitutodoLivro,2010.98páginas.;

ISBN978-85-62852-31.Café-2.HistóriadeRibeirãoPreto-3.MuseudoCaféFranciscoSchmidt

CDD:981.8116

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EquipeTécnica

PesquisaeTextos

AdrianaSilvaLilianRodriguesdeOliveiraRosaMichelleCartolanodeCastroSilva

TâniaCristinaRegistro

ConselhoEditorial

CristianeFramartinoBezerraAliceGomesHeck

RenatoLeiteMarcondes

DigitalizaçãodasImagens

AnaCarlaVannucchiTâniaCristinaRegistro

TratamentodasImagens.ProjetoGráfico.EditoraçãoEletrônica.Capa

AnaCarlaVannucchi

SecretariaMunicipaldaCulturadeRibeirãoPretoPraçaAltodoSãoBento,s/n(16)36361206www.ribeiraopreto.cultura.sp.gov.br

MuseudoCaféFranciscoSchmidtAv.doCafés/nRibeirãoPreto-SP(16)36331986

ArquivoPúblicoeHistóricodeRibeirãoPretoRuaJosédaSilva,915RibeirãoPreto-SP(16)36256712

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Entreaideiaeamaterializaçãoexisteoprocessoe,nocasodoprojetoFilhosdoCafé,

oprocessofoideinteiracooperação.Destaforma,cabeagradeceràprefeitaDárcyVera

pelaconfiançadepositadanaequipegestoradaSecretariadaCultura,àmuseólogaCecília

Machadoquesempremuitocuidadosacomométodo,disponibilizouseusconhecimentos

e,aofazê-lo,ensinouatodososenvolvidos.Agradecemos,emespecial,aosempresários

queresponderampositivamenteaoconviteparaparticiparemdoprojetoderevitalização

doMuseudoCaféFranciscoSchmidteaostécnicosdaSecretariadaCulturaquetêmse

aperfeiçoadocadavezmais.

AdrianaSilva

 Agradecimentos

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Desenhodeumramodecaféfrutificado-Cafeeiro(CoffeeArabica).Autor:CastroSilva.DirectoriaGeraldeEstatística,1908.

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 Apresentação

Estaobraéumajustahomenagematodososribeirãopretanosquenasceramouimigraramparaesta

terraefizeramdolugar,umespaçoreconhecidonomundopelassuasmaisevidentesqualidades. Filhosdocafé,nasuagrandevariaçãohistórica,somostodosnós.OcontornosóciopolíticodeRibeirãoPreto,operfileconômicoeodesenhourbanodacidadeéreflexo,atéosdiasdehoje,daexuberanteforçadocafé. Aofolhearcadaumadaspáginas,observartodososdetalhesdasmuitasfotos,épossívelidentificaraimportânciadohomemedamulherque,aoescolherviveremRibeirãoPreto,promoveuodesenvolvimentodolugar. Hoje, Capital Mundial do Etanol, polo do agronegócio, importante referência na área da pesquisamédica,exportadoradeprimeiralinhadeequipamentosodontológicos,entreoutrosatrativoseconômicos,RibeirãoPretoaindaviveosvínculosestabelecidospelocafé.Omaisfortedeleséteramodernidadecomo

umatradição,assimcomocitadonotítulodestapublicação. AleituradestaobraéumconviteatransitarpelahistóriadeRibeirãoPretodesdeosprimórdiosatéosdiasdehoje.Éumamaneiradereconhecimentodenósmesmosedosmuitoshomensemulheresqueantesdenóspassaramporestasterraroxas.

DárcyVera Prefeita

TheatroCarlosGomesvistoapartirdaPraçaXVdeNovembro.Data:1930-1935aprox.Fotógrafo:AntônioZerbetto–PhotoStudioZerbetto/Pirassununga–detalhedafoto.(APHRP).

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VistadaPraçaXVdeNovembroeruaDuquedeCaxias,àdireita,opalaceteCamilodeMattos.Data:1930-1935aprox.Fotógrafo:AntônioZerbetto–PhotoStudioZerbetto/Pirassununga–detalhedafoto.(APHRP).

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SumárioIntrodução.....................................................................................................................................................................91.RumoaoInterior:novasterrasparaocafé................................................................................................14RibeirãoPreto,cidadebeneficiadapelageografia................................................................................192.Olhaotrem:daportadafazendaaoportodeSantos.........................................................................22Aestradadeferroeocafé.................................................................................................................................25QuevenhaoImperador!.....................................................................................................................................263.Dochicoteàcaderneta:escravoseimigrantesnasterrasdocafé..............................................29Longedaguerrainternacional,muitopertodosconflitospelosdireitos...................................354.Mandaquempode,obedecequemtemjuízo:memóriasdocoronelismo.............................365.Notempodoscafezais:cotidianoeartenasfazendasdecafé.....................................................44Dia-a-diadostrabalhadoresdocafé............................................................................................................45Nacasadoscoronéis...........................................................................................................................................486.Docafésefazmetal,óleo,tecido,chope:aindústriaeocomércioemtemposdecafé..50

Café,comércioeindústria..................................................................................................................................52Asfeirasinternacionaiseocafé......................................................................................................................567.Temcafénobule:café,confeitariasevidaurbana...............................................................................628.HistóricodoMuseudoCafé..............................................................................................................................71AfundaçãodoMuseuMunicipal....................................................................................................................75MuseudoCaféFranciscoSchmidt...............................................................................................................77Referências................................................................................................................................................................78

BardaAntarcticalocalizadonaPraçaXVdeNovembro,aofundo,CasaAlemã,naesquinadaruaGeneralOsóriocomTibiriçá.Data:1930-1935aprox.Fotógrafo:AntônioZerbetto–PhotoStudioZerbetto/Pirassununga–detalhedafoto.(APHRP).

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VistadaPraçaXVdeNovembroeruaDuquedeCaxias,àdireita,opalaceteCamilodeMattos.Data:1930-1935aprox.Fotógrafo:AntônioZerbetto–PhotoStudioZerbetto/Pirassununga–detalhedafoto.(APHRP).

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Introdução

Comosefosseumtextoliterário,écomumonomedeumalocalidadevirseguidodeumsubtítulooucognome,porexemplo:nosEstadosUnidos,cadaumadas 13colônias,desdeaindependênciadopaís,éoficialmenteconhecidaporumcomplementoseguindoonome–aGeórgiaétambémo“PeachState”(EstadoPêssego),NovaIorqueécognominada“Thecitythatneversleeps”(Acidadequenuncadorme),NovaJérsei,graçasaosseusbelos

parquesejardins,échamada“GardenState”(EstadoJardim).Alémdascolônias,cadaumadas cidades americanas também são conhecidas pelos seus cognomes, normalmenterelacionadosàpotencialidadeeconômicadomunicípio. Dessaforma,podemoslembrar,sóparacitaroutrosexemplos,quePariséaCidadeLuz,BuenosAireséaCapitaldoTangoeCanneséa“Capitalemondialedel’artcinématographique”,SãoPauloaCapitalBandeiranteeoRiodeJaneiroaCidadeMaravilhosa. RibeirãoPretosempreteveumcognomeacrescidoaoseunome.NoiníciodoprimeirodecêniodoséculoXX,acidadejásedestacavacomopoloeconômico,emplenaliderançacomoprodutoracafeeiraeporisso,passouaserchamadade“Capitald’Oeste”,nãopelasua

localizaçãogeográfica,maspelacondiçãodelugarabertoaonovoereceptivoaomoderno. Acidadeeradefato,àépoca,a“CapitaldoCafé”.Osnúmeroslheconferiamestetítulo.UminformativoeditadoemLondres,em1913,citaqueentreosdozemaioresprodutoresdecafédoestadodeSãoPauloocupavamasprimeirasposiçõesFranciscoSchmidt,HenriqueDumont,MartinhoPrado,FranciscadoVal,proprietáriosdefazendasemRibeirãoPretoecidadesvizinhas(IMPRESSÕESDOBRAZILNOSÉCULOVINTE,1913). Essaexpansãorumoaooeste,emdireçãoàsterrasdecorvermelha,resultadeumasériedefatores.Contudo,valeapenadestacaraampladivulgaçãofeitaporLuísPereira

Barreto,agrônomoemédicoformadopelaUniversidadedeBruxelas,quepublicouváriosartigosemjornaisdegrandecirculaçãoelogiandoaspropriedadesdaterraroxanaregiãodeRibeirãoPreto.

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LuísPereiraBarreto

   A Terra Roxa - “A Província de São Paulo”- 02/12/1876

[...] É natural que uma tão vistosa superioridade desperte em todosos brasileiros a mais viva curiosidade e provoque o justo desejo de saber quaisos elementos, que dão a São Paulo essa brilhante e invejável perspectiva. [...]

 A flosofa da terra roxa! Não se assustem os srs. azendeiros, [...].

Quero simplesmente colocá-los em estado de responder às incessantes objeçõese aos pedidos de inormação que nos chegam de ora da província.

 A minha tese é a seguinte: a província de São Paulo é o que é naatualidade, graças simplesmente à sua terra roxa. [...]. (Barreto, 1876)

 A Terra Roxa - “A Província de São Paulo”- 10/12/1876 

 A província de São Paulo possue grande número de municípios do mais alto valor em terras de cultura; e é diícil mesmo aum lavrador, que vem de ora, saber a qual deve dar preerência. Mas, quando mesmo não possuisse o Ribeirão Preto, assim seria ela aprimeira província do Império.

Só este era bastante para colocá-la acima de tudo quanto a imaginação pode conceber de mais surpreendente. É ali que a

natureza tropical condensou todas as orças de sua ecundidade e derramou à prousão todas as maravilhas de sua onipotente criação.O Ribeirão Preto é o vasto repositório em que a “Flora Brasileira” se ostenta em sua mais enérgica e deslumbrante expressão. É a essemunicípio que eu aconselharia uma visita a todos aqueles que aprenderam a achar um supremo gozo nos grandes contatos com omundo criador, no grandioso espetáculo da natureza viva. Graças às suas terras excepcionais, a província de São Paulo é a única queescapará ao naurágio geral da nossa lavoura. [...]

Ciências naturais e terra roxa; flosofa positiva e poesia nos bancos da escola; arados e trabalho entre as ruas verde-rubrasde esplendorosos caezais; embelezamento do espírito e embelezamento da terra, nossa mãe comum; elevação do nosso nível moralrepousando sobre as bases imutáveis de uma consciente e enérgica extensão de nossa vida material: eis o mais alto e grandioso ideal,que se deve nutrir todo verdadeiro patriota. [...] (Barreto, 1876)

LuizPereiraBarretonasceuemResende,RJ,em11/1/1840,filhodeFabianoPereiraBarretoeFranciscadeSalles.Aos14anos,mudou-separaSãoPaulo,ondeestudounoColégioJoãoCarlosaté1855.Nestemesmoano,matriculou-senoLiceuDepuiche,emBruxelas,Bélgica.Formou-seemCiênciasNaturaise,posteriormente,emMedicina,naUniversidadeLivredeBruxelas.DuranteoperíodoemqueestevenaEuropa,dedicou-seaoestudodeFilosofia,principalmentedoPositivismo.Em1864,retornouparaResendeecomeçouaclinicar.Em1867,mudou-separaJacareí,SP,elápermaneceupor5anos.InspiradoporseuirmãoRodrigoPereiraBarreto,quehaviaadquiridoterrasnaregiãodeRibeirãoPreto,LuizBarretocomprouaFazendaCravinhos.Em1876,omédicoefamiliaresmudaram-separaafazenda.Comequipamentosagrícolase60escravosiniciaramocultivodecafé.Nestaépoca,introduziunaregiãoocafétipoBourbon.GrandepropagandistadaqualidadedaterraroxadeRibeirãoPretoparaoplantiodecafé,escreveu,em1876,diversosartigosnojornal“ProvínciadeSãoPaulo”(atual“OEstadodeS.Paulo).AovoltarparaSãoPaulo,em1891,foiconvidadoporBenjaminConstantaparticipardoCongressoConstituintecomosenador,masrecusou.Em1904,ficoudoenteeendividado.RetornouaRibeirãoPretoeabriuumaclínicanacasadeseuirmãoCândidoBarreto.AssumiutambémaclínicadaSantaCasadeMisericórdia,ondepermaneceuaté1912.DevoltaaSãoPaulonestemesmoano,clinicounaBeneficênciaPortuguesaatéodiadesuamorteem11/1/1923.(RevistaBrazilMagazine,1911).

OspaulistasdoOestedeSãoPaulo,emgeral,nãosuspeitamoquantoasuaterraestánateladadiscussãocorrentenasoutrasprovíncias,mas,comespecialidadenadoRiodeJaneiro.

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ConsiderandoorecursofilosóficodeLuckásemqueahistóriasópodeserentendidacomo “pósfestium”, é possível, hoje, observar que muito mais do que a terra roxa, erao perfil do homem aportado em Ribeirão Preto que garantia a elevada produção e odesenvolvimentoeconômico.DiferentedosbarõesdocafédaregiãodoValedoParaíba,ohomemribeirãopretano,tendocomoexpoenteFranciscoSchmidt,jáera,naqueleiníciodeséculo,umhomemdohojereconhecidoagronegócio.

Aindasobreaépocadocafé,em1909,ofrancêsLaliéreescreveuumlivrosobreocafénoBrasil,“LeCafé–Dansl’ÉtatdeSaintPaul”ededicou,logonoiníciodapublicação,algumaspáginasaRibeirãoPreto,nasquaisidentificavaSchmidtcomoomaiorprodutordomundo. Também Monteiro Lobato escreveu sobre Ribeirão Preto e talvez ele, melhor doquequalqueroutro, soubeveracidadecomodiferentee,aodescrevê-la,observousuascaracterísticas.DisseeleemcartaenviadaaGodofredoRangelnodia18dejaneirode1907:

  Rangel,

Estou seriamente endividado para contigo, em cartas, livros, cumprimento de promessas, pedaçosde queijo... Mas explica-se a má fnança. O mês de dezembro passei-o todo ora daqui, em S. Paulo e noOeste.

Corri as linhas da Paulista, Mogiana e Sorocabana, com paradas nas inconcebíveis cidades que danoite para o dia o Caé criou - S. Carlos, um lugarejo de ontem, hoje com 40 mil almas; Ribeirão Preto,com 60 mil; Araraquara, Piracicaba a ormosa e outras. Vim de lá maravilhado e todo semeado de coragemnova, pois em toda a região da Terra Roxa -um puro óxido de erro - recebi nas ventas um bao de seiva, com

pronunciado sabor de riqueza latente.

Em Ribeirão, a colheita do município oi o ano passado de 4 e meio milhões de arrobas -coisaabulosa e nunca vista. Um azendeiro, o Schmidt, colheu, só ele, 900.000 arrobas. Costumes, hábitos,idéias, tudo lá é dierente destas nossas cidades do velho S. Paulo e da tua Minas. Em Ribeirão dizem quehá 800 “mulheres da vida”, todas“estrangeiras e caras”. Ninguém “ama” ali à nacional. O Moulin Rougeunciona há 12 anos e importa champanha e rancesas diretamente.

 A terra-chão, porém, é uma calamidade -”enerruja”, isto é, avermelha todas as pessoas e coisas,desde a achada das casas até o nariz dos preeitos. Vai um pacotinho de amostra. Não pense que é tinta, não.

Lá ninguém mora; apenas estaciona para ganhar dinheiro. Esse meu passeio de 3.453 quilômetros

de via érrea buliu muito com as minhas idéias.

[...] Eu mesmo gostaria de frmar-me por lá [...] Estou tentando ser nomeado para Ribeirão Preto...(Lobato, 1950 pp. 153-155)

Portudoquefoidemonstrado,apresenteobra“FilhosdoCafé”,sejustificaporpropororeconhecimentoeavalorizaçãodocafécomoparteessencialdoprocessodeformaçãohistórico-social da região, responsável por engendrar práticas que diferenciam e dãopeculiaridadeaomunicípio,constituindo-secomoreferênciasculturais.

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1.Rumo ao interior: novas terras para o café

Trabalhodesecagemdecafénoterreiro.Nadireita,astulhasenofundoplantaçãodecafénaFazendaChimborazodaCompanhiaAgrícolaRibeirãoPreto.Data:c.1920/1930.Fotógrafo:TheodorPreising(APHRP,F801).

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Homemabanandocafé.A colheitapodeserexecutadasegundoo processodederriça,queconsiste emarrancar osgrãosdecadagalhotodosaomesmotempo.Osgrãoscaemaochãojuntamentecomasfolhasqueosentremeavamnosgalhos.Umavez

derriçado,ocafééreunidoempequenosmontes.Osmontículossãorecolhidosepostosnapeneiraparaserem“abanados”.Aabanaçãoéaoperaçãoqueconsisteematiraroconteúdodapeneiraparaoaltoquandooventoseencarregadefazercairàsfolhaseoutrosdetritosmaislevesaochãoeocaféentãoretornalivredeimpurezasparaapeneira.Apósentão,ocaféélevadoparadarinícioaoprocessodebeneficiamentoData:c.1940.Fotógrafo:nãoidentificado.(APHRPF792)

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VistadeterreirosdecaféeconstruçõesdaFazendaDumont,naépocapartedomunicípiodeRibeirãoPreto.Data:1902.Fotógrafo:JoãoPassig(APHRP,F060).

OiníciodoséculoXVIIImarcouachegadadocaféaoBrasil,entãocolôniadePortugal.Aoquetudoindica,ocaféchegoupelasmãosdeFranciscodeMeloPalheta,militarnascidoem 1670, possivelmente em Belém, PA, quando em missão diplomática em Caiena, naGuianaFrancesa,trouxeasprimeirassementesparaaregiãodoextremonortedopaís(ELLISJÚNIOR,1951).Naterceiradécadadossetecentos,ogrãojáeracultivadonoMaranhãoenoPará,expandindo-sedepoisparaoRiodeJaneiro.Ocaféeracultivadoempequenaescalaoucomoplantaornamentalemsítios,quintaisebeirasdeestradas.

FoipeloValedoParaíba,regiãoentreosEstadosdeSãoPauloeRiodeJaneiro,queaexpansãodaculturacafeeirachegouàsprimeirascidadesdoestadodeSãoPaulo.Em1836,das590.066arrobasdecafé,510.406foramproduzidasnaregiãodoVale,segundorevelaapesquisadoraMariaLuizadePaivaMeloMoraes(1980).

A expansãodoscafezais emterraspaulistas, principalmentenoperíodode1850a1890,sedeupordoiseixos(MILLIET,1939,p.18).OprimeiroseguiaotrajetodalinhaférreadaMogiana:Mogi–RibeirãoPreto–Franca.OsegundoacompanhavaotrajetodalinhaférreadaCompanhiaPaulista,passandoporCampinas– RioClaro– SãoCarlos–Araraquara-Catanduva.Asáreasatravessadaspelasduasestradasdeferropassaramaserdenominadas,

naépoca,deOestePaulista,regiãoondeosolovermelho,queficouconhecidocomoterraroxa,espalhava-se.AregiãodeCampinas,em1850,jáeraograndecentrocafeicultordoBrasil.

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Planta geraldaslinhas daCia.Mogianade Estradas de Ferro, demonstrando otraçadodeCampinas àAraguari.Versodomenudo“WagonRestaurant”dirigidopeloarrendatárioAntonioBergamini.Novagãorestauranteeramservidosvinhosfinosnacionaiseestrangeiros,licores,frutas,sobremesaserefeiçõesquentesvariadas(MenuWagonRestaurant,APHRP).

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O café transformava rapidamente essa região, definindo formas de povoamento,criando cidades, expandindo frentes pioneiras, fomentando o surgimento de ferrovias,tecendopráticassociaisemtornodasfazendasdecafé.Criava-se,então,umapaisagemculturaldocafé.AssentadosemterrenosdoPlanaltoOcidentaledaDepressãoPeriférica,comumsolodeorigembasálticaecoloraçãovermelhaquesemostravaextremamentefértil,oscafezaissubstituiamaspaisagensdeMataAtlânticaeCerradoerecriavamoambienteàimagemdeumimensotapeteverdeevermelho.

OhábitodebebercafévirourotinanaEuropaenaAméricadoNorteegerouexpectativadeaumentonos lucros comasexportaçõesaolongodoséculoXIX.Comoresultado,asáreasprodutoras dogrão cresciam rapidamentenoBrasil. Desdeo início do Império,aproduçãocafeeirabrasileiraeramaiorqueaproduçãomundial.Aexpansãodocaféfoitãorápidae intensaqueacabouprovocandoumacrisedesuperproduçãoaindanofinaldoséculoXIX.Ogovernobrasileiro,entendendo-semeioreguladordomercado,propôsaçõesintervencionistas,dedefesadospreçosdocafé,noiníciodoséculoXXeosresultadosforampositivos.

Solos férteis, transporte ferroviário, terras disponíveis. Fatores colaboradores para

consolidaraculturacafeeiraeopoderdoscafeicultoresaolongodastrêsprimeirasdécadasdoséculoXX.

Partedocafécolhidoéconduzidoaosterreirosporcanalizaçõesdeágua(BrazilMagazine,1911).

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LocalizadoentreosRiosMogiePardo,omunicípiodeRibeirãoPretoengedrouumaeconomiacafeeiradiferenciadadasdemaisregiõesprodutorasdogrãoemSãoPaulo.EmRioClaroeCampinas,ocaféfoiprecedidodeumaculturaextensivadecana-de-açúcar,responsávelporgeraros recursosnecessáriosparaaimplantaçãodaeconomiacafeeira.JáemRibeirãoPreto,ocafé foiaprimeiraeconomia forte, precedidapelaagriculturadesubsistênciaepelacriaçãodegado.Emboraessaestruturaeconômicanãotenhatidooperfildelargaescala,foiaqueproduziuascondiçõesprimáriasparaocultivodocafé:derrubadadematas,desbravamentodosertão,ocupaçãodosolo,formaçãodoprimeironúcleourbano

emão-de-obra.

Ribeirão Preto, cidade beneficiada pela geografia 

PanoramadeRibeirãoPretoem1913.VistadacidadeapartirdobairroCamposElíseos,trechoentreasruasAmadorBuenoeTibiriçá.Nofundo,aCatedraldeSãoSebastiãoaindasematorredorelógio(AlmanachIllustrado,1913).

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HenriqueDumont

Apartirde1870,RibeirãoPreto integrouafrentepioneiradaexpansãodocaféemdireçãoaoOestePaulista.ComachegadadaferroviaaCampinas,em1872eemLimeira,em1874,adistânciamédiade200kmtornavaRibeirãoPretoumaáreaeconomicamenteviávelparaoplantiodecafé.Nesseperíodo,osinvestimentosnacompradeterrasena

formaçãodecafezaisnaregiãoseintensificaram.NaregiãodaantigafazendaLageado,osproprietáriosManoelOtavianoJunqueira,JoséBentoJunqueira,RodrigoPereiraBarretoeManoeldaCunhaDinizJunqueiracomeçaramaformarseuscafezais(PINTO,2000).

LuizPereiraBarreto,agrônomo,incentivadoporseuirmãoRodrigo,esteveemRibeirãoPretoecoletouamostrasdosolo,queforamenviadasàBélgicaparaanálise,cujosresultadosreferentesàfertilidadedaterraforamdivulgadosemartigosdejornaisdaépoca.

Acomposiçãoparaaexpansãodocaféestavapronta:terrascomsolofértil-terraroxa-etopografiaadequada,divulgaçãopormeiodeartigos,comodeLuizBarretoeproximidade

comoscentrosdeexportação.Eramtantososatrativosque,alémdePereiraBarreto,outrosadquiriramterrasnomunicípio,entreeles,MartinhoPradoJúniore,posteriormente,HenriqueDumont,paideSantosDumont.

HenriqueDumontnasceuemDiamantina,MG,em1832.Apósofalecimentodeseupaimudou-separaoRiodeJaneiro.EmseguidapassouaresidiremParisondeseformouengenheiro.RetornouaoBrasiletrabalhouemOuroPreto,entãocapitaldoEstadodeMinasGerais.Em1856,casou-secomafilhadoComendadorFranciscodePaulaSantosetrabalhoucomoengenheironaconstruçãodeumaviaférrea,nomunicípiodeBarbacena.Mudou-separaValença,RJetrabalhoucomoadministradordeumafazendadecafédepropriedadedeseusogro.ChegouaRibeirãoPretoem1879,ondeadquiriuterraseiniciouoplantiodecafé,tendosidoumdosprecursoresdoplantioemlargaescala.HenriqueDumontrecebeuotítulo

dePrimeiroReidoCafé.Emjulhode1882foieleitovereadoremRibeirãoPreto,masfoidistituídoassumindoemseulugarJerônimoVieiradeAndrade.Apósumgraveacidentedecharreteemsuafazendamudou-secomafamíliaparaaFrança,noiníciode1891.RetornouaoBrasilnoanoseguinteefaleceunoRiodeJaneiro,RJnodia30deagostode1892.

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MartinhoPradoJúnior

Martinho Prado Júnior ou simplesmente MartinicoPradoNasceuemSãoPaulo,SP,em17/11/1843.FilhodeMartinhodaSilvaPradoeVeridianaValériadaSilvaPrado.Passousuainfâncianachácaradafamíliae,aos17anos,ingressounaEscoladeDireitodeSãoPaulo.Duranteoperíododefaculdade,iniciouamilitânciaem prol das causas abolicionista e republicana.

Em 1865, alistou-se para participar daGuerra doParaguaiondeficouporcincomeses.Formou-seem1866efoinomeadopromotor,demitindo-seemseguida.Em1868,casou-secomAlbertinadeMoraisPintoemudou-separaoatualmunicípiodeAraras,ondeadministrouasfazendasdeseupai,CampoAltoeSantaCruz.Comofazendeiro,desbravouterrase formou várias fazendas de café. Em Araras, foivereadorenomeouváriasruasdacidadecomnomesdepersonagensdaHistórialigadosàdemocraciaeàliberdade. Com a visita do Imperador àquela cidade, os

nomesforamcobertosousubstituídosàspressas.

Em1876,mudou-separaSãoPaulo,filiou-seaoPartidoRepublicanoeingressounapolítica comodeputadona Assembléia Provincial. Foi um dos fundadores da SociedadePromotoradaImigraçãoem1876,entidadequetinhacomoobjetivoaintroduçãodeimigranteseuropeusnalavouradecaféemsubstituiçãoàmão-de-obraescrava.Em1877,visitouaViladeRibeirãoPretoeescreveuváriosartigosnojornal“ProvínciadeSãoPaulo”(atual“OEstadodeS.Paulo”),exaltandoafertilidadedasterrasdaregião.Emseguida,adquiriuafazendaAlbertinae,em1885,comprouafazendaGuatapará,ondeutilizoumão-deobralivrecompagamentodeterminadoeregistroemcartório,plantandomaisde1,8milhãodepésdecafé.Emsociedadecomseuirmão,adquiriudepoisafazendaSãoMartinho.

EmRibeirãoPreto,MartinhoPradofoiproprietáriodeumachácaraadquiridaem1889deRodrigoPereiraBarreto.Acasadachácara,demolidanadécadade1970,ficouconhecidacomo“PalaceteMartinhoPrado”e,posteriormente,foiadquiridapelaCompanhiaAntarcticaPaulista,láfuncionandoasededaFundaçãoAntonioeHelenaZerrener.Foipaidedozefilhos.FaleceuemSãoPauloem28/7/1906.(BrazilMagazine,1911)

MartinhoPradoJúnior,com42anos,naformaçãodaFazendaGuataparáem1885.AfazendaGuataparáfoiumadasmaisimportantespropriedades cafeeiras do Estado de São Paulo. Dr. Martinho (ouMartinico) Prado Júnior, chegou à região de Ribeirão Preto por voltade1870,adquirindosuaprimeirafazenda.Em1885,comproudeJoãoFranco deMoraes Octávioterras daserrado Guatapará, formandoaFazenda Guatapará. Dividia-se em4 seções: MarcodaPedra, BrejãoGrande,MonteiroeGuatapará,ondeforamplantadosmaisde1milhãoeoitocentosmilcafeeiros.Possuíamaisde500edifíciosentreresidênciaspara os diretores, oficinas, máquinas de café, farmácia, consultóriomédico,umgrandeestabelecimentocomercialparausoexclusivodasuapopulação,depósitos,cocheirasegrandenúmerodecasasdeoperários

etrabalhadores.DasterrasdaantigaFazendaGuatapará,surgiuoDistritodeGuataparáem1938,emancipadoem1990.(MartinhoPradoJúniorinmemoriam,1943,p.VI)

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2. Olha o trem: da porta da fazenda  ao porto de Santos

EstaçãoGuataparádaCia.MogianadeEstradadeFerro.Vistadoprédiodaestação,locomotivaevagõesdepassageirosecarga.Data:1924.Fotógrafo:nãoidentificado(APHRP,F159).

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Homens ensacando e pesando café. Data: 1932.Fotógrafo:TheodorPreising(APHRP,F798).

Companhia Docas de Santos. Carregamento de cafénas docas e vista da Casa das Máquinas e guindastes elétricos.(ImpressõesdoBrazilnoSéculoVinte,1913,p.274).

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Carregadordesacasdecafé.Data:c.1920/1930.Fotógrafo:CarlosW.Weise(APHRP,F799).

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Entremeadosde1880e1890,houveumaverdadeiracorridaporterrasnaregiãodeRibeirãoPreto,querapidamentetransformou-senamaisimportantezonaprodutoradecafé.Essedesenvolvimento rápido justificava-se, emparte, pela chegadadaEstradadeFerroMogiana,em1883,quesolucionouoproblemadalongadistânciaentreomunicípioeoportodeSantos,distânciaqueinviabilizavaeconomicamenteotransportedaproduçãoemlombodeburros(HOLLOWAY,1979).

Nessafase,eracomumasáreasprodutorasdecaféseremconhecidaspelosnomesdasestradasdeferro.Dessaforma,aregiãodeRibeirãoPretopassouaserconhecidacomoAltaMogiana(PINTO,2000).

Deumamaneirageral,ocaféfoiograndepropulsordenovostrechoseprolongamentosdas linhas daMogiana. Alguns desses trechos passavamdentro das grandes fazendasque,alémdecultivarogrão,progressivamenteampliavamoprocessodebeneficiamento(ZAMBONI,1993).

Formavam-segrandesfortunasdaprodução,beneficiamentoecomercializaçãodocafé.Partedesseslucroserainvestidanosmeiosdetransporte.Asferroviastornavam-seum

bominvestimento,poiseramresponsáveispelodeslocamentodocafédointeriorpaulistaparaoportodeSantos,deondeeraexportadoparaaEuropaeparaosEstadosUnidos(ZAMBONI,1993).

AligaçãoentreointerioreoportodeSantospelalinhaférreacontribuíaparaestabelecervínculosentreoscafeicultoreseascasascomissáriasebancossituadosemSãoPauloeSantos.Quantomaissólidasessasrelaçõeseestreitososvínculos,maisfácileraoacessodosfazendeirosaoscréditosbancários(ZAMBONI,1993).

RibeirãoPretofoiumadasgrandesbeneficiadasporessascasascomissáriasebancos.UmexemplodessevínculoeraoConselheiroAntonioPradoePachecoChaves.Grandes

fazendeirosdaregiãoeramtambém“proprietáriosdeumacasacomissáriaemSantos:aPrado&Chaves”(ZAMBONI,1993p.97).

 A estrada de ferro e o café

Trabalhodecapinaçãojuntoaoscafeeiros.Nocorredor,juntoàsfileirasdepésdecafé,estãoposicionadosostrilhosporondecirculama locomotivae osvagonetes para transportedo café. FazendaChimborazoda Companhia Agrícola RibeirãoPreto.Data: c.1920/1930.Fotógrafo:TheodorPreising(APHRP,F804).

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Que venha o imperador!

CasasededachácaradeRodrigoPereiraBarretoondesehospedouoimperadoremsuavisitaàRibeirãoPreto.EstavalocalizadanaRuaLuizdaCunha,próximoaAv.JerônimoGonçalves,emfrenteaPraçaSchmidt.Em1889foiadquiridaporMartinhoPradoJúnior,ficandoentãoconhecidacomoPalaceteMartinhoPrado.Posteriormente,foicompradapelaCia.AntarcticaPaulista,ondefuncionouasede

daFundaçãoAntonioeHelenaZerrener.Oprédiofoidemolidoem1975.Data:c.1910.FotógrafoErnestoKühn–PhotographiaModerna(APHRP,F176).

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Comograndecrescimentodasestradasdeferropelopaísediantedanecessidadedeconhecerasáreasdemaiordesenvolvimentoeconômicodoseureino,oImperadorDomPedroIIesuaesposaTerezaCristinaviajaramporalgumascidadespaulistasemineiras

entre1885e1886.EmumadessasviagensestiveramemRibeirãoPreto,quandoocaféjádespontavaeconomicamenteeaterraroxajáeraamplamentecomentadaemoutrasregiõesdopaís.Chegaramcomsuacomitivarealem24deoutubrode1886paraainauguraçãodeumramaldaEstradadeFerroMogiana(TORNATORE,2006).Foramplanejadosparaachegadadocasaloestourodefogosdeartifícios,umamissaemaçãodegraças,apresentaçãodecavalhadaseumgrandebailedegala(PRATES,1956).

Entretanto,ascomemoraçõesnãotiveramosucessoesperadopelospolíticoslocais.Choveumuito e todasas festividades tiveramque ser abortadas, restandoapenas umamodestareuniãodançante.DomPedroIIesuaesposahospedaram-senopalacetedoDr.RodrigoPereiraBarreto,masparachegaratélá,comaenxurradaprovocadapelachuvarada,

tiveramque improvisarcomocontouogarçom italiano,AntôniodaColina,queserviuaocasal:

O trem chegara bastante atrasado e debaixo de um grande aguaceiro. Por issoa comitiva real, devido às chuvas, permanecera algum tempo no interior da pequenaestação, que na época era localizada no Bairro da República, em terrenos que pertenceramposteriormente ao Sr. Vilalobos. No local além de uma considerável multidão,encontravam-se também o Intendente municipal e outros edis monarquistas queaguardavam impacientes, o amainar da chuva torrencial, que parecia zombar da paciênciade todos, que, descontentes, previam o racasso das grandes estividades destinadas aosmonarcas. [...]

Como a chuva continuasse e os troles e carros de praça onde os Soberanosembarcariam estivessem todos enlameados até nos seus interiores, os promotores darecepção para sanar aquela anomalia, conseguiram algumas liteiras, muito em uso naocasião, as quais carregadas por escravos possantes conduziram os magnânimos imperadores[...] (PRATES, 1956 p. 76).

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JoãoFrancodeMoraesOctáviocomesposaefilhas.Daesquerdaparadireita:Tita,VirginiaeAnna(esposa,comamãoesquerdasobreoombrodeJoãoFranco);MirandolinaBraga(filhacomamãodireitasobreoombrodopaiJoãoFranco).JoãoFrancofoifazendeiroeprimeiroproprietáriodaFazendaMonteAlegre,compradaposteriormenteporFranciscoSchmidt.Datac.:1890.Fotógrafo:nãoidentificado(APHRP,F623).

Porocasiãodasuavisita,umdoshomensdemaiorprestígioeconômicoepolíticoeraJoãoFrancodeMoraesOctávio,cafeicultor,criadordegadoecomerciantedeescravos.AguardavaavindadosImperadorescomaexpectativadereceberotítulodebarão.Fatoquenãoaconteceu(MORAES,1992).PedroIInãopareciaestardispostoaagregaràaristocraciaumescravocrataconvicto,numaprovínciacujopodercrescenteestavanasmãosdeliberaisepositivistas.

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3. Do chicote à caderneta:escravos e imigrantes nas terras do café

Acolheitadocafépeloscolonositalianos(BrazilMagazine,1911).

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VistadetrabalhadoresjuntoàlocomotivaevagõesparatransportedecafénaFazendaChimborazodaCompanhiaAgrícolaRibeirãoPreto.Otransportedesacasdecaféerarealizadopormeiodeumamalhadetrilhosqueatravessavamoperímetrodafazenda.Data:c.1920/1930.Fotógrafo:TheodorPreising(APHRP,F301).

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1379

1887

1557

1885

857

   N   ú   m   e   r   o   d   e   e   s   c   r   a   v   o   s

 ano

1872

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OescravizadoafricanochegouaRibeirãoPretojuntamentecomosprimeirosentrantesvindosdeMinasGerais,nasprimeirasdécadasdoséculoXIX.Inicialmente,trabalharamnasatividadesdepolicultura,criaçãodegadoetrabalhodoméstico.Comainserçãodacafeiculturanaregião,osescravosforamresponsáveispelaplantaçãodosprimeiroscafeeiros,aindanadécadade1870.

JoãoFrancodeMoraesOctávio,oprimeiroproprietáriodaFazendaMonteAlegre,quehojeabrigaoMuseuHistórico,oMuseudoCaféeoCampusdaUSP-RP,foiproprietáriodeescravoseumdosprimeiroscafeicultoresdaregião.MigrantedeMinasGerais,morouemAtibaiaeDescalvadoantesdefixar-seemRibeirãoPreto.AdquiriatropasemSorocabaeascomercializavanoRiodeJaneiro,voltandocomosescravosnegociadosparaabasteceramão-de-obranasfazendasdecafédaregião(MORAES,1992).

O crescimento populacional total e o expressivo aumento da população escravadeveram-se,principalmente,àexpansãodocaféeànecessidadeimediatademão-de-obra. EmRibeirãoPretoesseaumentopodeserobservadonoaumentodonúmerodenascimentos

defilhosdeescravosentre1877e1885.

A cafeicultura no Oeste Paulista, a exemplo do Vale do Paraíba, desenvolveu-seinicialmentecomamãodeobraescrava.DurantedécadasfoidifundidaaideiadequenãohouvetrabalhoescravoemquantidadesignificativaemRibeirãoPreto,contudo,pesquisasrecentesconseguiramnãosóquantificaressamão-de-obra,comotambémidentificarasuarealimportânciaparaaformaçãodaidentidadeculturaldoribeirãopretano.

Gráfico 1: Evolução de escravos em Ribeirão Preto (Adaptado de Lages, 1997).

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102

87 89

117

101

     N    a    s    c    i    m    e    n    t    o    s

 anos

1870-73 1874-76 1877-79 1880-82 1883-85 1886-88

132

32

Gráfico 2: Número de nascimento de filhos de escravos em Ribeirão Preto entre 1870 e 1888

Gráfico adaptado a partir dos dados coletados por David Jr. (2006)

Na última década do período escravocrata, os cativos eram organizadospredominantemente em famílias matrifocais, ou seja, em torno de mães solteiras erepresentavamumaparteconsideráveldariquezadosfazendeiros(entre35%e76%),quefaziamamanutençãodessamão-de-obraapartirdocrescimentovegetativo(diferençaentreastaxasdemortalidadeedenatalidade)eemsegundolugar,comotráficointerno(DAVIDJr,2006).

A libertaçãodos escravosemRibeirãoPreto ocorreuem1887,porato daCâmaraMunicipal. Contudo,amão-de-obraescravizada já vinha sendo substituída pelo trabalhoassalariado.Tendovividosobaleidochicoteesofridoumprocessodedesenraizamentocultural,osnegrospassaramdacondiçãodesubmissãooficialparaainformalidade,muitosseestabeleceramnazonaurbana,dedicando-seàsatividadesdeambulanteouaosserviçosdomésticos, enfrentandonodia-a-dia o desafio complexode reconstituir sua identidadecultural.

IntelectuaispositivistasdepesocomoLuizPereiraBarretovislumbravamasmudanças 

decorrentesdafaltademão-de-obraecomeçavamadivulgaranecessidadedaadoçãodepolíticasdeimigraçãomesmoantesdaaboliçãodaescravidão.

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 A Terra Roxa - “A Província de São Paulo”- 10/12/1876

[...] Sabemos todos que as condições, que regulam o nosso trabalho agrícola, vão muito brevemodifcar-se do todo ao todo; e um azendeiro previdente deve empregar todos os seus esorços para atenuaros males inevitáveis, que os nossos flhos vão atravessar no mais grosso da tormenta.

Não podemos contar só com a ertilidade da terra roxa e nos pôr a dormir sobre rosas: podemosdespertar sobre espinhos.[...]

Precisamos trabalhar, precisamos organizar a providência humana. Ora, são precisamente os braçosdo trabalho, que nos vão altar. Muito breve, ou antes, desde já, não temos outro recurso senão a colonização.Mas, esta não virá de um modo eetivo, enquanto não orem removidos certos óbices.

O primeiro destes óbices é o art.5º da nossa constituição, que concedeu à religião católica, oprivilégio de religião do Estado. [...]

Ciências naturais e terra roxa; flosofa positiva e poesia nos bancos da escola; arados e trabalhoentre as ruas verde-rubras de esplendorosos caezais; embelezamento do espírito e embelezamento da terra,nossa mãe comum; elevação do nosso nível moral repousando sobre as bases imutáveis de uma consciente e

enérgica extensão de nossa vida material: eis o mais alto e grandioso ideal, que se deve nutrir todo verdadeiropatriota. [...] (Barreto, 1876).

Positivismo, liberalismo, modernidade, esse era o espírito que impregnava odesenvolvimentodocafénaprovínciadeSãoPaulo.Otrabalhoassalariadoerareconhecido

comoaformamaisadequadaaotipodeprosperidadeesperada.Osbraçosparaocafédeveriamvirdeforadopaís,pormeiodaimigração.

Por algum temponegros eimigrantes dividiram os cafezais.Antes da aboliçãodaescravatura, os imigrantes, emespecial os italianos, ajudavam na expansão rápida dasplantações.Estabeleceu-seumfluxomigratóriocontínuoduranteatransiçãodotrabalhoescravoparaoassalariado.

Entre 1886e 1900a populaçãodomunicípiopassou para 59.195(SANTOS, 2006).Em 1886, os austríacos representavam 46,2% dos estrangeiros, enquanto os italianos

correspondiam a 20,7% e os portugueses 18,4%. Em 1902 a situação se inverteu: osimigrantesitalianosperfaziamumtotalde83,7%,osportugueses7,9%,osespanhóis5,1%eosaustríacosapenas1,7%(SANTOS,2006).EsseseoutrosnúmerostornaramazonadaMogiana,emtornodeRibeirãoPreto,amaisimportanteáreaparaahistóriadocaféedaimigração(HOLLOWAY,1979p.39).

Osproblemasdeadaptaçãoenfrentadospelasfamíliasdeimigrantesquechegavamàregiãoparatrabalharnasfazendasdecaféeramvários,entreosquaisestavamoaltoíndicedeanalfabetismoeodesconhecimentodalínguaportuguesa.Acondiçãodeestrangeiroe de analfabeto contribuía para a aceitação de contratos de trabalho que, geralmente,tornavamosimigrantesdependentesfinanceiramentedosagricultorespeloendividamento

nosarmazénsdasfazendas,ondeospreçosaltosdosalimentoscontrastavamcomabaixarendadostrabalhadores.Ocontrolesocialeramantidopelasdívidasanotadasnacaderneta.

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Paragarantirsuasubsistência,oscolonospraticavamapoliculturaeahorticulturanasfileirasentreospésdecafé.Essaprática,alémdesuprirosustentodafamília,possibilitavaaconstituiçãodeumapoupançaquepoderiagarantirumafuturaindependênciafinanceira.Depoisdeanosdetrabalho,algunsimigrantesestabeleceram-secomoproprietáriosruraisemRibeirãoPretoeregião,oucomopequenoscomerciantes,industriaiseprestadoresdeserviçonazonaurbana.

Passaporteitalianode1899(APHRP,1899)

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Longe da guerra internacional, muitoperto dos conflitos pelos direitos

Apesar de uma minoria ter conseguido ascender socialmente, as condições detrabalhodosimigrantes,emgeral,nãoeramsatisfatórias.Oscolonosficavamàmercêdasdeliberaçõesdopatrão,senhordosdireitosedeveresdotrabalhador.Emcasodeabusoscometidos pelos fazendeiros, o consulado poderia intervir emdefesa dos trabalhadoresestrangeiros,contudo,namaioriadasvezesmantinhaumaatitudeconciliatória.Assim,oscolonoseramnormalmenteentreguesàprópriasorte,sujeitosàsdecisõesdoscafeicultores.

Umexemplofoiademissãocoletivadeaproximadamentecemhúngaros,em1925,colonosde uma fazenda de Orlândia. Famílias inteiras que desconheciam a língua portuguesaforamdespejadasnaestaçãodetrem,alificandodurantediassemcomidaeassistênciamédica(DIÁRIOdamanhã,1925p.1).CasoscomoesseeramcomunsnofinaldoséculoXIXenoiníciodoXX,provocandomovimentosderesistênciaporpartedostrabalhadoresrurais,manifestadosemaçõesindividualizadasou,maisraramente,emgrevesdegranderepercussão.

DoisdosmovimentosmaisexpressivosocorridosemRibeirãoPretoforamasgrevesde1912e1913,queenvolverammilharesdetrabalhadoresdasfazendasdecafédoCoronelFranciscoSchmidteFranciscodaCunhaDinizJunqueira.Ostrabalhadoresreivindicavam

melhoriadesalários,decondiçõesdetrabalhoeterrasparaocultivodecereais.Umdosmotoresdessemovimentofoiaproibição,porpartedosfazendeiros,docultivoentreasfileirasdecafeeiros,ameaçandoosonhodoimigrantedesetornarindependentefinanceiramente,podendoconsumirevenderoqueplantasse.

Entreosdescendentesdosescravizadosafricanosedosmilharesdeimigrantesdeváriasnacionalidadesqueseestabeleceramnaregião,aindaépossívelidentificartraçosfortesdessasculturasnosdiasdehoje.Essesgrupos,muitasvezesesparsos,aindaconservampeculiaridadesimportantesdassuasraízese,emRibeirãoPreto,construíramsignificadospróprios e gerarambens culturais que os identificam. Como exemplo é possível citar oFestivalTanabata,frutodosesforçosdacomunidadejaponesa,aAssociaçãoDanteAlighieri,organizadapelositalianoseoCentroCulturalOrunmilá,dedicado,entreoutrasatividades,àvalorizaçãoeàconsolidaçãodaculturaafro-descendente.

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Cel.ArthurDiederichsen(àesquerda),Cel.FranciscoSchmidt(nocentro)eDr.FranciscodeFreitasRamos.Noanode1890Arthur

eSchmidtadquiriramaFazendaMonteAlegredeJoãoFrancoMoraesOctávio.Em1942,oGovernodoEstadodeSãoPauloinstalounaMonteAlegreaEscoladeAgricultura“GetúlioVargas”eem1952aFaculdadedeMedicinadaUniversidadedeSãoPaulo.Data:c.1920,Fotógrafo:nãoidentificado.(APHRP.F295).

4. Manda quem pode, obedece quemtem juízo: memórias do coronelismo

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ManifestaçãoemfrenteaoprédiodaCâmaraeCadeia,naruaCerqueiraCésar.VereadoreseautoridadesàfrentedeumgrupoarmadoqueliderouummovimentodedeposiçãodaCâmaraMunicipal.Entreeles:Cel.FernandoFerreiraLeite–fazendeiro,capitalistaerepresentantedoBancodeRibeirãoPreto;Dr.JoséAlvesGuimarãesJúnior–advogadoefazendeiro;MajorAntônioBarbosaFerrazJúnior–fazendeiro;JoaquimJosédeFaria–comercianteefazendeiro;Dr.FranciscoAugustoCésar–médico;Cel.ArthurDiederichsen–fazendeiro;JosédeAmorim–funcionáriomunicipal;ManuelMarcondes;Dr.JuvenalMalheirosdeSouzaMenezes–JuizMunicipal;Dr.ManueldosSantosSaraíba–advogadoepolítico(CorreioPaulistano,2/12/1945).Data:1891.Fotógrafo:nãoidentificado(APHRP,F269).

PolíticosintegrantesdoPRP–PartidoRepublicanoPaulista.Sentados,daesquerdaparadireita:CoronelFernandoFerreiraLeite,umdoschefespolíticoslocais,fazendeiroepresidentedoBancodeRibeirãoPreto;JoséAlvesGuimarãesJúnior,figuradocenáriopúblicodeSãoPaulo,tambémcafeicultornaregiãoeposteriormentedeputadoesenadordoEstado;emseguidaoMajorAntonioBarbosaFerrazJúnior,proprietáriodeváriasfazendasnãosóemRibeirãoPreto,comoemCravinhos.Empé,daesquerdaparaadireita:JoaquimJoséde

Faria,comercianteefazendeiro;Dr.FranciscoAugustoCesar,médico;CoronelArturDiederichsen,fazendeiroecafeicultor(deternoclaro),sóciodeFranciscoSchmidtnacompradafazendaMonteAlegre;JosédeAmorim,funcionáriomunicipal;ManoelMarcondes,Dr.JuvenalMalheiros,entãojuizemRibeirãoPreto;ManueldosSantosSaraíba,advogadoepolítico.Data:c.1890/1900.Fotógrafo:nãoidentificado.(APHRP,F271).

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Aexpressão“coronelismo”éusadanumsentidorestritoparadesignaropoderexercidopelos chefes políticos locais sobre o eleitorado, buscando influenciá-lo para votar emdeterminadoscandidatos.Contudo,opoderdoscoronéiserabemmaisamplo,abarcandoaprestaçãodefavores,anomeaçãodeapadrinhadoseparentesjuntoàadministraçãopúblicaeainfluênciadiretaouindiretasobreavidapolíticaeeconômicadopaís(BACELLAR,1999).

Esse poder, em especial dos coronéis paulistas, foi consolidado no período daRepúblicaVelha,embasadofundamentalmentenaexpansãodaeconomiacafeeira.EntreofinaldoséculoXIXeiníciodoséculoXXaregiãodaMogianajálideravaaproduçãodocaféemSãoPaulo.Dentreaszonasexistentes,34%dototaldetoneladasproduzidasadvinhamdessaregião(ZAMBONI,1993).

Opoderpolíticodoscafeicultoresnessafasefoiamplamenteestudadoporhistoriadoresbrasileiros,queanalisaramoCoronelismoea “Políticacafécomleite”comoestruturasdepoderessenciaisparanortearainterpretaçãodaquestãosocialnesseperíodo.Osgrandesfazendeirosmanipulavamapolíticautilizandomecanismosqueosbeneficiavamtantonoâmbito econômico comopolítico.Os rendimentos damaior partedosmunicípios,sob a

influênciadoscafeicultores,dependiamdassafrasdecaféqueserviamdealavancaparaocomércio,paraaindústriaeparaosetordeprestaçãodeserviços,tornandoascidadesdointeriordoEstadodeSãoPauloverdadeirospolosdeatraçãopopulacional.FoioqueocorreuemRibeirãoPreto.

Agrandeconcentraçãofundiáriaeeconômicafortaleciaopoderdoscafeicultoresnapolíticalocal,dominadapredominantemente,desdeofinaldoséculoXIX,pordoishomens:CoronelFranciscoSchmidt,quedeteveamaioráreaprodutoradecafédomundoeCoronelJoaquim daCunhaDiniz Junqueira, que dominou a situaçãopolítica em RibeirãoPretoduranteosanosde1920,controlandoosrepresentantespolíticoslocais,comooprefeito,osvereadoreseosjuízes(WALKER,1978).

FranciscoSchmidt,em1906,obteveumaproduçãode300milsacasdecafé.Em1912chegouapossuiromaiorcafezaldoBrasilcom7.885.154pés,contandocommilharesdetrabalhadoresdentrodassuasdezenasdepropriedadesadministradasapartirdaFazendaMonteAlegre.

OPartidoRepublicanoPaulista,criadoem1873,eraoórgãoderepresentaçãopolíticadoscoronéisdocafé.OP.R.P.defendiaoaumentodaautonomiamunicipal,garantindoquedariaaogrupodoscafeicultoresmaiorpodereconômicoparaefetuartransaçõescomerciaiscomomercadoexterno.Seusrepresentantesnegociavamcomogovernofederalmedidas

quepudessembeneficiarosprodutoresdecafé,fundindoosinteresseseconômicospessoaiscomos interessespúblicos.Nos debatesocorridos naCâmaraMunicipal,osvereadorescoronelFranciscoSchmidt,doutorJoãoAlvesMeiraJúnior,doutorJ.P.VeigaMiranda,coronelManoelMaximianoJunqueira,coronelGabrielJunqueira,coronelJoséMartinianodaSilva,capitãoAntônio IgnáciodaCosta, capitãoJosédeCastroeodoutorMacedoBittencourtteciam considerações sobreosproblemas que a lavoura cafeeirae omercado decaféatravessavam:

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[...] A lavoura caeeira atravessa um período de difculdades, de verdadeira apreensão pelasdifculdades de transporte do produto para os mercados estrangeiros, pelas leis repressivas da importaçãodecretadas por outros países e fnalmente pela guerra europeia, que desorganizou a vida econômica detodas as nações. A presente sara de caé, orçosamente será sacrifcada se medidas não orem tomadasque venham amparar contra as previstas especulações mercantis resultantes principalmente da diminuiçãode mercados. Neste sentido a Sociedade Nacional de Agricultura, assim como a Sociedade Promotora deDeesa do Caé, recentemente undadas na Capital já ofcializaram ao Senhor Presidente da Repúblicapedindo a sua cooperação no sentido de serem decretadas medidas urgentes que possam salvaguardar os

interesses da lavoura. O Senhor Presidente do Estado solícito como se mostra para resolver os grandesproblemas econômicos que nos apertam, já se dirige também ao Senhor Presidente da República pedindo-lhe igualmente que amparasse com medidas efcazes a lavoura caeeira. Sendo Ribeirão Preto o municípiocaeeiro por excelência, cuja produção excede bastante a qualquer outro, não pode tornar-se indierente,antes deve estudar com a maior solicitude solução do grave problema em debate. [...]

Resolve secundar rancamente a ação da lavoura e do Senhor Presidente do Estado, telegraandoao Senhor Presidente da República para pedir-lhe que, em execução das autoridades legislativas, orneça aosEstados produtores de caé os recursos necessários para a deesa de sua produção [...] (Câmara Municipalde Ribeirão Preto, Ata da sessão extraordinária, 7 de julho de 1917).

Vale a observaçãode quequatrodos nove vereadores presentesaesta seçãodaCâmaratihamotítulodeCoronel,sendodoisdafamíliaJunqueiraeumdafamíliaSchmidt.Entre1910e1928,56,6%dosvereadoreseleitoseramagricultoresoufilhosdeagricultores,o que demonstra, apesar de alguns também acumularem profissões urbanas, que osfazendeiros tinham supremacia naCâmara Municipal (WALKER, et al., 2000). As esferaspúblicaeprivadafundiam-senaatuaçãodesseshomensnospodereslegislativoeexecutivo(ROSA,1999).

Cabedestacarqueemmeioaouniversodos“coronéis”existiramduasfigurasfemininas,proprietáriasdegrandesporçõesdeterrasecafezais:DonaFranciscaMariaSilveiradoValeIriaAlvesFerreira.

Detentoresdemuitasterrasedegrandepodereconômicoepolítico,osfazendeirosmovimentavam a economia da região, fomentando atividades comerciais e industriaisvariadas.Eraocaféaespinhadorsaldaeconomiapaulista,responsávelpordarsustentaçãoàinfluênciadoscoronéisnosassuntospúblicos(LAGES,1996).

Nesse sentido, as crises atravessadas pela cafeicultura transformavam-se emprioridadesnasdiscussõesdaCâmaradosVereadores.UmexemplodissoéapreocupaçãodemonstradanaCâmarapeladiminuiçãodosmercadosconsumidores,duranteaPrimeiraGrandeGuerraMundial.Essacriseintensificou-seem1918,comaocorrênciadeumageadaquecausoudanosirreversíveisa70%doscafezaisdaregião.Fazendas,antesocupadasunicamenteporcafezais,diversificaramsuaproduçãoagrícola,tentandooutraslavouras,como a do algodão. Paralelamente à diversificação agrícola, o número de pequenaspropriedadesaumentava timidamente,semconseguir,contudo,sobrepujara importânciadasgrandesáreasprodutoras(ROSA,1999).

EntreasduasgrandesGuerrasMundiaisocafésuperouoperíododecrisesaumentando

aprodução.Comoresultadodessecrescimento,omercadopassouporumaquecimento,provocandoum“boom”econômicodacafeiculturanoiníciodosanos1920.

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Acriseeconômicamundial,deflagradaem1929,atingiuaeconomiabrasileiraeasuaprincipalatividadeeconômica,aproduçãodecafé.Aquedanasexportaçõescausouumacrisesemprecedentesnosetor.Mesmoassim,algunsfazendeirosdaregiãodeRibeirãoPretocontinuaramaumentandoaproduçãocafeeiraaté1935garantidapelapolíticaprotecionistadogovernoepelaslavourasnovasquetinhamsidoplantadasnoperíodoanterioràcriseequecontinuavamproduzindocafé(ROSA,1999).Porcontadacrise,outrasculturascomooalgodãotiveramumsignificativocrescimento.

A manutenção do aumento da produção de café, a grandemalha ferroviária quecortavaRibeirãoPretoea intensificaçãodadiversificaçãoagrícola (quegarantiupreçosmelhoresaosprodutores)atenuaramosefeitosdacrise,evitandooabandonodasterras,comoaconteceranoValedoParaíba.

Maso retardodacrise sófoi possívelatémeadosda décadade 1930, quando asmudançasnasestruturasfundiáriaepolíticadeRibeirãoPreto,começaramainterferirnocotidianoeconômicodosfazendeiros.Houve,àépoca,aumentodonúmerodepequenaspropriedades,resultadodoloteamentodegrandeslatifúndios(DIÁRIODENOTÍCIAS,1933).Começavaadiminuiropoderdenegociaçãonapolíticaestadualenacionaldoscafeicultores

paulistas.

Notempodocafé,quandoaeconomiaeapolíticaeramassuntosexclusivamentemasculinos,Iria AlvesFerreiraJunqueiraadministrouosnegóciosdafamíliaapósamortedomarido.EntreofinaldoséculoXIXeiníciodoXX,passouaserconhecidacomoaRainhadoCafé.Consideradaumamulherenérgicanosnegócios,chegouaseracusadademataromaridodeumadesuasfilhas.FoiproprietáriadafazendaPauAlto,umadasmaioresprodutorasdecafé,comumaáreade1.300alqueires.Afazendapossuíamaisde1milhãodepésdecaféqueproduziam100milarrobasporano.Afazendapossuíatrêscolôniascomcercade200casasefoiumadasprimeiraspropriedadesareceberosimigrantesjaponesesparaotrabalhonoscafezais.IriaJunqueirafoibeneméritadediversasinstituiçõesdacidade,entreas

quaisaSantaCasadeMisericórdia,oAsilodosInválidos,SociedadeLegiãoBrasileiraeaSociedadeAmigadosPobres.FoicasadaemprimeirasnúpciascomLuizAntôniodaCunhaJunqueiraeemsegundasnúpciascomocoronelArthurJasmimdeCarvalhoDelgadocomquemnãotevefilhos.FaleceuemSãoPaulo,SP,em1927(BrazilMagazine,1911-APHRP).

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FranciscoSchmidt.NasceuemBremem,Alemanha,em3/10/1850,filhodeJacobSchmidteGertrudesRauskoldSchmidt.Em1858,afamíliaSchmidtchegouaoBrasil,paratrabalharnaColôniaSãoLourenço,naFazendaFelicíssima,depropriedadedoComendadorLuizAntôniodeSouzaBarros,emSãoCarlosdoPinhal(atualSãoCarlos).FoinestafazendaqueFranciscoSchmidtentrouemcontatocomaculturadocafé. Posteriormente,transferiu-separaacidadedeBelémdoDescalvado(atualDescalvado,SP),ondetrabalhounafazendadeRafael

TobiasAguiar.Em1873,casou-secomAlbertinaKolhcomquemteve8filhos.Noanode1878,adquiriuumarmazémdesecosemolhadose,nesteperíodo,começouatrabalharcomocorretordecaféparaafirmaTheodorWilleeCo. Em1889,vendeuoseuestabelecimentoemDescalvadoecomprousuaprimeirafazenda,denominada“BelaPaisagem”,nomunicípiodeSantaRitadoPassaQuatro.Passouainvestirnacompraevendadefazendaseconseguiu,comisso,aumentaroseucapital.Em1890,comprou,emsociedadecomoCoronelArthurdeAguiarDiederichsen,aFazendaMonteAlegre(atualMuseudoCafé),atéentãodepropriedadedeJoãoFrancodeMoraesOctávio.ArthurDiederichsenvendeusuapartenafazenda,eSchmidttornou-seoúnicoproprietário.ComofinanciamentodafirmaTheodorWilleeCo.,comprouinúmerasfazendasnosmunicípiosdeRibeirãoPreto,Franca,Brodowski,Orlândia,Araraquara,Sertãozinho,Serrana,entreoutros.Chegouapossuir62fazendas,ondeexistiram,aproximadamente,16milhõesdepésdecafé.

Em1913,eraomaiorprodutordecafédoBrasilerecebeuotítulode“ReidoCafé”.Alémdocafé,implantouoprimeiroengenhodeaçúcardaregião,emSertãozinho,em1906(EngenhoCentral,noatualmunicípiodePontal),ededicou-setambémàpecuáriaeaocultivodealgodão.Em1901,foinomeado,peloentãopresidentedaRepública,CamposSales,coronel-comandanteda72ªBrigadadeInfantariadaGuardaNacional.FoivereadoremRibeirãoPretopor6legislaturas,sendonomeadopresidentedaCâmaraMunicipalem2mandatos.Em1895,juntocomoCoronelVirgíliodaFonsecaNogueira,DoutorLuizPereiraBarreto,AugustoRibeirodeLoiola,FláviodeMendonçaUchoa,eoutros,idealizouaconstruçãodoTheatroCarlosGomes,inauguradoem1897.Comamortedesuaesposa,em1917,organizoucomseusfilhos,aCia.AgrícolaFranciscoSchmidt,mudando-se,logodepois,paraSãoPaulo,SP,ondefaleceunodia18/5/1924.(BrazilMagazine,1911).

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42PropagandadocafédoBrasilnarevista“L’Illustration”,editadaemParisemjunhode1936(L’Illustration,1936,APHRP).

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43PropagandadocafédoBrasilnarevista“L’Illustration”,editadaemParisem27defevereirode1937(L’Illustration,1937,APHRP).

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 No tempo dos cafezais: cotidiano e arte

nas fazendas de café

Detalhedaparedelateraldasaladejantardacasa(ladodireito)daavenidaCaramuru,antigoSolarVilla-Lobos.Data:c.1894/95(BORGES,1999).

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ColôniadaFazendaGuataparaem1889.Aofundodafotoépossívelobservaramatanativaquefoiretiradaparaaconstruçãodascasas(MartinhoPradoinMemorian,1943).

Dia-a-dia dos trabalhadores do café

OstrabalhadoresdoscafezaisdaregiãodeRibeirãoPreto,particularmenteentreaúltimadécadadoséculoXIXeastrêsprimeirasdécadasdoséculoXX,erampredominantementeimigrantesitalianos.ChegavamaoportodeSantoscomosseuspertencespessoaiseasuas

famílias.Aodesembarcarnas fazendasrecebiamumacasanacolônia- grupodecasaspróximasaocafezal,normalmentealinhadasumaaoladodaoutradefrenteparaumpátio,formandoumarua.Algumascolôniaseramnominadaspelaorigemdosseusmoradores,comonocasodaFazendaMonteAlegre,emRibeirãoPreto:ColôniaMilanesa,Napolitana,Portuguesa,etc.(MORAES,1992).

Ascasaseramfeitasdetijolosoupau-a-pique.Aosfundos,oquintalpoderiaserdivididooucomum,ondesepraticavaahorticulturaeacriaçãodepequenosanimais,comocabras,porcos,galinhasepatos.Nãoraro,aconvivênciaentreasváriasfamíliaserapermeadapordesavenças.Brigasedisputaseramfrequentes,provocadaspordiscussõessobreautilizaçãodessasáreas,responsáveis,emparte,pelaproduçãodeexcedentes,querepresentavamagarantiaparaostemposdemácolheitadocaféeparaapoupançadafamília(GARCIA,1997).

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ColonosdaFazendaGuataparáem1887(MartinhoPradoinMemorian,1943).

Cabia aoscolonossuprir suasnecessidadescomalimentação. Entreas fileiras decafé,asfamíliasplantavammilho,arroz,feijãoeoutrosgênerosagrícolas.Homens,mulheres,crianças, velhos, todostinham suasobrigações.Quantomaiora família,mais fácilasua

contrataçãoporpartedosagricultores,afinal,maiscrianças,maisbraçosparaalavoura.Um jargãomuitopropagadonaépocaevidenciavaarelaçãodacriançacomalavoura:“trabalhodecriançaépouco,masquemodesperdiçaélouco”.Àsmulherescabiaocozimentodosalimentos,alavagemeoreparodasroupas,alimpezadacasaedoterreiroeocuidadocomahortaeospequenosanimais.Alémdetodosessesafazeres,elasaindatrabalhavampartedodianocafezal,levandoconsigoascrianças.Ascriançasmaiorestrabalhavamcomospaisnalidadocafé.ZairaZanutin,filhadeimigrantesitalianos,propagouaolongodavidaqueganhousuaprimeiraenxada,aosseteanos.Ascriançasmenores,queaindaseamamentavamnopeito,eramaninhadasemsacosembaixodospésdecafé,enquantoamãetrabalhavanacolheitadogrão,períodoqueexigiaaparticipaçãodetodaafamília.

Namesadocolono,alémdoarroz,dofeijãoedacarnedelata(carnedeporcoouvacaacondicionadaemlatasdeóleode20litros), também tinhaa polenta,a chicória,aabóbora,omacarrãofeitoemcasaeovinho.Demanhã,arefeiçãoeraoleite,opãocaseiroeocafé,torradoemoídonaprópriacasa.

Compoucasopçõesdelazer,asvendaseosarmazénslocalizadosnoscaminhospróximosàsfazendasoudentrodelas,eramolocaldeencontrodoshomens(GARCIA,1997).Nessesambientessecompravabebida,suprimentos,jogava-sebiscaetirava-se“umdedodeprosa”.Nospátiosdacolônia,asmulheresseencontravamparaconversasapósalida.

Paraoshomensodomingoàtardeerareservadoàboccia,aoscausos,aocarteadoe,porvezes,àembriaguez(GARCIA,1997).Paraasmulhereseraodiademissa,mastambémodelimparacasaeprepararasroupasparaotrabalhodasemanavindoura.

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Asfestaseascelebraçõesreligiosaseramoutrasformasimportantesdesociabilidade.Osencontrosreligiososnacapeladaprópriafazendaounoespaçodascasasdacolônia,constituíam-seemmomentosnosquaisoprofanoeosagradomisturavam-seemvivênciascoletivas. Como as visitas dos padres às fazendas eram raras, um membro da própriacomunidade,normalmenteumamulher,encarregava-sedeconduzireorganizaraspreces,novenasefestasreligiosas.Essesencontrosenvolviamastrocasdeinformações,remédios,

asleiturasdecartasdosfamiliaresdistantes,entreoutrasatividades.Depoisdoterçoeramoferecidososquituteseocafé,consumidosduranteasprosassobreosacontecimentosdasemana(FREITAS,2006).

AuladeginásticaparacriançasejovensdacolôniajaponesanaFazendaGuatapará.Data:1926.Fotógrafo:nãoidentificado(APHRP,F157).

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Na casa dos coronéis

AmonoculturacafeeiraredefiniuapaisagemculturaldaregiãodeRibeirãoPreto.Ariqueza acumulada gerava as condições necessáriaspara atrair artistase comerciantesdeartigosdeluxo.Osgrandescafeicultoresinvestiamnadecoraçãodassedesdassuasfazendas(BORGES,1999).

ParedelateraldohalldeentradadasededaFazendaSapecado–Cravinhos,SP.Autordesconhecido.Data:iníciodoséculoXX.ReproduçãoemgrafitesobrepapelporEuniceGomesCosta.(APHRP,ColeçãoMariaEliziaBorges).

Osbelossolaresechaléscomvarandasem“L”ouem“U”,rodeadosdejardins,eramoambienteapartirdoqualoscafeicultorescontrolavamaproduçãodogrãoeemtornodoqualmantinhamreunidaafamília.

Ocafépassouaserfontedeinspiraçãonafeituradepaisagenspintadasporartistasplásticosespecializados.OsfazendeirostraziamàregiãoartistascomoAntônioFerrignoeJoãoBatistadaCosta,pararetrataremasimesmoseàssuasfazendas.Esteúltimohospedou--senacasadeFranciscodaCunhaJunqueiraenessapassagemdeixoupinturasregistrandoaspectosdafazenda.UmadessastelasestánoMASP,umóleosobretela“Aprisioneira”,

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comadedicatória:“AoDr.FranciscoC.JunqueiracomorecordaçãodoBrejinho,J.Batista”.(Borges,1999p.37).Outroartista,RosaltinoSantoro,em1895,foicontratadoporFranciscoSchmidtpararealizartrabalhosdepintura(Borges,1999p.23). Tantoapinturaemparedesequadrosquefiguravamnascasas,quantoostrabalhosartísticosrealizadosemigrejas,capelaseedifíciospúblicosestavamaogostodoscoronéiserefletiam“osideaiseaspredileçõesartísticasdaelitecafeeira,noaugedoseudesenvolvimento

material.”(BORGES,1999p.55) Seosquartoseassalasdassedesdasfazendasestavamricamentedecoradoscomoobjetivodegerarconfortoaosmoradoresecausarimpressãoaosvisitantes,acozinhacontinuavasedefinindopelofogãoepelofornoàlenha.Nesseambienteerampreparadasasrefeições,osquituteseocafezinho,tomadonaxícaradeporcelanapelosvisitantesenacanecademetalpelosfuncionários.Tambémnacozinhasepreparavaagomacomaqualascamisasbrancaseoscentrosdemesaeramembebidosantesdeseremalisadospeloferroabrasa.

MartinhoPradoJúnioreD.Albertinaeseus12filhos,em1890.(MartinhoPradoinMemorian,1943).

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6. Do café se faz metal, óleo, tecido, chope... a indústria e o comércio em tempos de café

ObrasdeconstruçãodaCompanhiaAntarcticaPaulista.Aempresafoiinauguradaem11deagostode1911.Data:1911.Fotógrafo:ErnestoKühn(APHRP,F174).

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GrupodepessoasnafrentedoprédiodoescritóriodaCia.Metalúrgica.Visitadocônsuljaponês,presençadeJoãoRodriguesGuião(nocentrodafotocomcavanhaquebranco).Data:1924.Fotógrafo:PhotoJ.Lima(APHRP,F248).

Grupode11homenseumgarotojuntoabarrisdaCia.AntarcticaPaulista.Data:c.1910.Fotógrafo:ErnestoKühn(APHRP,F562).

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Café, comércio e indústria 

AcidadedeRibeirãoPretopassouporum intensocrescimentoeconômicoentreofinaldoséculoXIXeoiníciodoséculoXX.Nãohádúvidasdequeessedesenvolvimento

deveu-se aocafé. Contudo, a produçãoe comercialização dogrão dinamizaramoutrossetores da economia regional. O café provocou uma reviravolta no perfil urbano,uma vez que novos serviços se faziam necessários, tanto para atender às demandastécnicasdaproduçãodocafé,comoparaabasteceroexigenteeenriquecidosegmentode cafeicultores (BACELLAR, 1999). Na cidade de Ribeirão Preto, multiplicaram-se as oficinas e as lojas comerciais, frequentadas pela população de toda a região. O comércio, os serviços eas indústrias,desenvolvidos inicialmente aotalante doscafeeiros,aospoucosganharamsignificativaimportâncianomunicípio,consolidandoumdinamismopróprio.

Dessaforma,nãoépossíveldissociarocrescimentodocomércioedaindústria,dodesenvolvimentodacafeiculturaedaimplantaçãodotrabalholivre.Aatividadeassalariadafomentavaoaumentodoconsumodemanufaturados,alémdedinamizaraeconomia.Osprópriosimigrantesaproveitavamoconhecimentosobreoshábitosdosseuscompatriotaseinvestiamnaindústriadeprodutosperecíveis,difíceisdeseremimportadosdaEuropaemdecorrênciadaslongasviagenstransatlânticas(DEAN,1977). Umcaso típicoédo imigrante italianoCondeMatarazzoqueconstruiuum impérioindustrial ao longo da primeira metade do século XX. O Conde Matarazzo, fundador epresidente daSociedade AnônimaF.Matarazzo, noperíodo entre1934 e 1943, adquiriu

terrenoseinstalouemRibeirãoPreto,nasruasSaldanhaMarinho,JoséBonifácio,CamposSallesePrudentedeMoraes,umasériedeedifíciosparaobeneficiamentodealgodãoedeazeite,extraçãodequeroseneebarracõesparaarmazenamento(VICHNEWSKI,2004).

OperáriosdoAntigoBancoConstructor–Diederichsen&Hibbeln.Adireita,empétrajandoternoclaro,JoãoHibbelneemseguidaAntônioDiederichsen.Data:1905.Fotógrafo:FlósculodeMagalhães(APHRP,F136).

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Existiamnacidade,noanode1890,340estabelecimentos:186comerciais;127eramprofissionaisliberaiseprestadoresdeserviçose27estabelecimentosindustriais.Em1904,dos538estabelecimentos,cercade60%eramcomerciais;aproximadamente35%profissionaisliberaiseorestante,cercade6%eramestabelecimentosindustriais(PINTO,2000). Quantoàparticipaçãodapopulaçãodeorigemestrangeiranasatividadescomerciais,em1913,dos151proprietáriosdecasascomerciaisefábricasnomunicípio,93eramitalianos.

Osestabelecimentoseramdoramodesecosemolhados,botequins,padarias,restaurantes,açougues,entreoutros(CINTRA,2001apudSANTOS,2006).Osnúmerosindicamqueessesimigranteschegaramparatrabalharnaslavourasdecaféeapósovencimentodoscontratosdetrabalhocomosfazendeiros,migraramparaaáreaurbanaeiniciaramatividadesligadasaocomércioeàindústria.Amaioriadoscomercianteseindustriaisentre1920e1951,emRibeirãoPreto,eraimigrante:68%doscomerciantese64%dosindustriaiseramestrangeiros(SANTOS,2006). AtrajetóriadeAdolfoBianchiéumbomexemplodesseprocesso.ChegouaoBrasilparatrabalharnocafé,portandoumdiplomadecursotécnicodemecânicafeitonaItália.DepoisdetrêsanostrabalhandonaFazendaDumont,afamíliamudou-separaaáreaurbanadeRibeirãoPreto,passandoadedicar-seaumapequenaoficinamecânica.Emtrintaanosdeatividade,osBianchijápossuiamumnegócioprósperodefabricaçãodemáquinasagrícolas,alémdepeçasornamentaisdeferro,comopostesdeiluminaçãovendidospara“Santos,SãoPaulo,RibeirãoPretoemaisdetrintaecincoprefeiturasdoEstadodeSãoPaulo”(CINTRA,2001apudSANTOS,2006).

Muitosimigrantestornaram-sefornecedoresdeserviçoseprodutosparaacrescentecidade de Ribeirão Preto, eram artífices, artesãos, proprietários de pequenas fábricas eoutrosnegócios.DuranteosprimeirosanosdoséculoXXestavamestabelecidosnacidade:HotelDeMartino;aPhotografiaPassig,doalemãoJoãoPassig;amarcenariadosIrmãos

Delloiagono;oarquitetoconstrutorEmilioFagnani;aDrogariaePharmaciaItaliana,deFelicePelosi&Cia.;aMarmoariaItalianadeRoselli&Gelli;aFarmacioDelLeone,deRaffaelediZinno;oempresárioeconstrutorVicenteLoGiudice;aRainhadaModa,depropriedadedeBrancatoeSassi,entreoutros.

OcapitaladvindodaproduçãodocafépossibilitoutambémainstalaçãonomunicípiodaElectro-MetallúrgicaBrasileiraS.A.,chamadadeSiderúrgicaEpitácioPessoa,em1921,umaobraidealizadaporFláviodeMendonçaUchôa,concessionáriodosserviçosdeForçaeLuz,ÁguaeEsgotonacidadedesdeofinaldadécadade1910.EntreosacionistasdaMetalúrgicaestavamalgunsdos tradicionaiscafeicultoresdomunicípio,OsóriodaCunhaJunqueira,MartinhodaSilvaPrado,ManuelMaximianoJunqueira,JoaquimdaCunhaDiniz

Junqueira,TheodomirodeMendonçaUchôaeFranciscaSilveiradoVal(LARA;ROSA,2009).

Empresas nacionais em expansão tambémbuscaram se instalar na efervescenteRibeirãoPreto. ACompanhia AntarcticaPaulista, com sede nacidade deSão Paulo, depropriedadedoalemãoJoãoCarlosAntônioZerreneredodinamarquêsAdamDitrikVonBüllow, começou, em 1909, a adquirir terrenos na cidade. Dois anos depois, em 11 deagosto,afábricadeRibeirãoPretofoiinauguradapróximaàAvenidaJerônimoGonçalves,quepassouadistribuirosprodutosparaaregiãodaMogiana,Araraquara,suldeMinas,TriânguloMineiroeGoiás.Ofamosopinguimdosrótulosdacervejasurgiuem1935eumanodepoisfoiinauguradoobarerestaurantePingüim,localizadonoEdifícioDiederichsen.

OchopeoferecidopeloestabelecimentosetornoufamosoepassouareferenciarRibeirãoPretodemaneiratãoexpressiva,queacidadefoicognominadade“CapitaldoChope”.

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InteriordoBareRestaurantePingüimnoEdifícioDiederichsen,naruaÁlvaresCabralesquinacomruaGeneralOsório.Data:30/agosto/1936.Fotógrafo:Gullaci(APHRP,ÁlbumEdifícioDiederichsen).

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LojaAoNovoQueima.LocalizadaemRibeirãoPreto,naruaDuquedeCaxiascomaruaÁlvaresCabral,depropriedadedo imigrante português Antônio Adelino Mendes. Data: 1900.Fotógrafo:JoãoPassig(APHRP,F021).

ConstruçãodoEdifícioDiederichsen,primeiroprédiocommaisdetrêspavimentosemRibeirãoPreto.Neste local existiaanteriormente a casa doCoronelQuinzinho da Cunha (Joaquim Diniz Junqueira). Nocentro da foto, prédio do Banco Francês-Italiano. À

direita, edifício Meira Júnior. Data atribuída: 1935.Fotógrafo:nãoidentificado.

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 As Feiras Internacionais e o Café

A segunda metade do século XIX inaugurou uma nova forma de exposição ecomercialização de produtos: as feiras internacionais. Esses eventos eram verdadeiros...

...rituais de exibição da sociedade burguesa, de louvor à mercadoria e ao progresso técnico com ofm de encantar e seduzir o público com suas artimanhas arquitetônicas, com a magia envolvente e estratégiade seu lay out que amalgama habilidosamente o antigo e o moderno” (GUIMARÃES, 1977 p. 29).

A primeiragrande feiramundial foi realizada nacidade de Londres, entãocapital

industrialefinanceiradomundo,em1851.Essasfeirastinhamcomoobjetivoaexibiçãodosavançostecnológicoseindustriais,alémdeincluíremmostrasdemanufaturas,matérias-primas,produtosagrícolas,arteseartesanato;nesseseventosospaíseseramconvidadosaapresentarseusrecursosepotencialidades,emdiferentessetoreseatividades(LUCA,2007).

OBrasilparticipoupelaprimeiravezdeumafeiramundial,em1862(LUCA,2007).NoEstadodeSãoPaulo,háreferênciadequeaprimeirafeiracomercialeindustrialocorreunodiaa25dejaneirode1885.APrimeiraExposiçãoProvincialfoirealizadaporiniciativadaAssociaçãoComercialeAgrícoladeSãoPaulo,nabibliotecadaFaculdadedeDireitoetevecomoobjetivomostraredivulgarosprodutosagrícolas,industriaisemanufaturados,taiscomoamostrasdecafé,martelo-pilãoavapor-oprimeiroconstruídonopaís,entreoutros

produtos.(CUNHA,2009).

MedalhasdaExposiçãoNacionalde1908noRiodeJaneiro.Àesquerda,imagememalto-relevodaPortaMonumental;àdireitamedalhacomainscrição“LembrançadoPavilhãoS.Paulo”construídoparaamesmaexposição(MC-CCS,F1-22).

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RibeirãoPreto,aolongodotempo,participoudealgumasfeiraseeventosagrícolas/industriais e foi sede de exposições regionais. Um bom exemplo desta participação foia exposição regional, realizada em 1901, com verba aprovada pela Camara Municipal(SIQUEIRA,1902).

Mostrando suapujança econômica, RibeirãoPreto foi representada na ExposiçãoNacionalde1908nasseçõesagrícola,industriale,também,naseçãodeartesliberais.Nesse

período,jáconsagradacomoprincipaláreaprodutoradecafédoestado,tambémpossuiadiversificadosetorcomercial,cujosprorpietárioscongregavam-seemtornoda“AssociaçãoCommercialdeRibeirãoPreto”,criadaem1904.

Emboraas feirastivesem por objetivo principalamostra deprodutos industriais eagrícolas,produtosdeoutrasnaturezasfiguravamnasexposições,comoosmanufaturadose os ligados à prestação de serviços que os ribeirãopretanos mostraram na ExposiçãoNacionalde1908,realizadanoRiodeJaneiro.

CartazCafeBrasil-Françacomainscrição:“LescafésduBrésilalimententl’univers”,(APHRP).

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Produtos industriais, manufaturados e de artes expostos por Ribeirão Preto na ExposiçãoNacional de 1908. Fonte: Sociedade Paulista de agricultura, Commercio e Industria, 1908.

Massas alimentícias,

biscoitos, bolachas

O. Fioretti

Luiz de Maio

Cacaos, chocolates, bombons

e balas

Balas, bombons e confeitos

Bellas Artes J. Boember  

João Pircio

1 quadro “Retrato”

1 quadro feito com cabelos

 Vinhos, vinagres, licores eoutras bebidas alcoólicas

Livi & Bertoldi

José Navasio

2 garrafa de vinho de laranja e 24 bebidas sortidas

9 garrafas de licoressortidos

D. Marietta Vieira de Aquino

Leite

D. Noemi Vieira de AquinoLeite

1 sombrinha de seda bordada 

Bordados a seda 

D. Leonor de Souza 

D. Lizzie Mac Kinight

Bordados a seda sobre linho

Trabalho de crochet

 A. G. Roxo Loção de Quinina, pódentifrício “Esmaltina” edentifrício “Fin de Siecle”

Beschizza & Cia 8 peneiras para café, feijão, arroz, farinha de trigo efubá 

Rendas, bordados e

 applicações em filó

Parfumarias

 Artigos de cobre e outrosmetaes commun

Couros e pelles preparados Stefani & Carvalho Solas, couros de vitelo e decabra, vaquetas, rédeas,cabeçadas, rabichos

Collegio Methodista Trabalhos de bordados a  ouro, seda e linho; Váriostrabalhos em madeira, etc.

 Arte Musical João Boember Diversas composiçõesmusicais

Typcgraphia, Lihographia,Phototypia, Photogravura eoutros proccessos deimpressão

J. V. Guimarães Diversos trabalhostypographicos

Seção

   S   e   c   ç   ã   o    d

   e   v   á   r   i   a   s   i   n   d   ú   s   t   r   i   a   s

   S   e   c   ç   ã   o    d

   e   A   r   t   e   s   L   i   b   e   r   a

   e   s

Grupo Proprietário Produtos

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PropagandadocafédoBrasilnarevista“L’Illustration”,editadaemParisemmarçode1937(L’Illustration,1937–APHRP).

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PropagandadocafédoBrasilnarevista“L’Illustration”,editadaemParisem13defevereirode1937(L’Illustration,1937–APHRP).

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  Entreosexpositoresoriundosdomunicípio,listadosnoCatálogoGeraldaExposiçãode1908naSeçãodeAgricultura–AmostrasdeCaféestavam:aAlves&Almeida,comochatoBourbon,safra1903;aDiederichsen&Jordão,comochatofino,safra1903/1904eoDr.FranciscoSilveiraValle,comaamostradasafra1903.

DuranteessaexposiçãoforampremiadoscomaMedalhadeOuroasenhoraFranciscaSilveiradoVal,dafazendaSantaTereza;oDr.JoãoAntoniodeO.César,dafazendaSanta

EuláliaeoCoronelFranciscoMaximianoJunqueira,dafazendaBaixadão. Alémdasexposiçõesnacionais,osprodutoresribeirãopretanosparticipavamdefeirasinternacionais.Noexterior,oprodutodemaiorvisibilidadedaregiãosemdúvidaeramasvalorizadasvariedadesdecafédaAltaMogiana.

Em 1911, a cidade se fez representar na Feira de Turim, Itália e nessa ocasião arevistaBrazilMagazinepublicouumaediçãoespecialemtrêsidiomas:português,francêseitaliano.Ostextosretratavamedescreviamomunicípiodandoênfaseàsprincipaisfazendasprodutorasdecafé.RibeirãoPretofoiexaltadacomoEldoradodoCaféerecebeuaindaocognomede“CalifórniadoCafé”.

Duranteadécadade1930,RibeirãoPretocontinuouparticipandodefeirasregionaisenacionais,estandopresentenaFeiradeUberaba,MG,em1934(GUIMARÃES,1997)e,em1943,foisededaIExposiçãoRegionaldeAnimais,promovidapelaSecretariadaAgricultura,ComércioeIndústriadoEstadodeSãoPaulo.Atéosdiasdehojeomunicípionãosóparticipa,mastambémrealizagrandesfeirasagropecuárias,comoaFeapamemaisrecentemente,aAGRISHOW.

CapadaRevistaBrazilMagazine,1911(APHRP)

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7.Tem café no bule: vida urbana,cafés e confeitarias em Ribeirão Preto

Café–SímbolodaHospitalidade,folhetodoInstitutoBrasileirodoCaféapresentandoreceitasparaopreparodeumbomcafé.(APHRP,BibliodeApoio,n.764)

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FotonoturnadaPraçaXVdeNovembrovistaapartirdaRuaGeneralOsório.Data:1920.Fotógrafo:nãoidentificado(APHRP,F287).

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Tradicionalmenteocultivodocafé,comonoValedoParaíba,sedesenvolveucomoumaatividadepredominantementeagrícola,cujocapitalgeradofoiaplicadonaprópriaestruturadeproduçãocafeeira.NointeriordoEstadodeSãoPaulo,particularmenteemRibeirãoPreto,ocenáriofoidiferente.Nessaregião,acafeiculturagerou,impulsionouefomentouprodutoseserviçosrealizadosnãosomentenazonarural,mastambémnoespaçodacidade.

AsprincipaisfontesderendadeRibeirãoPreto,entre1911e1930,foramosimpostosdas

atividadesurbanas,ouseja,ariquezageradapelacafeiculturapossibilitouodesenvolvimentodasatividadesurbanasgeradorasdeimpostosetaxascomasquaisforamrealizadososinvestimentosnaestruturaurbana,comocalçamento,iluminação,abastecimentodeágua,serviçodeesgotoeconstruçãodeprédiospúblicos(PINTO,2000).

EmtornodoantigoLargodaMatriz,hojePraçaXVdeNovembro,foramrealizadasasprincipaisaçõesdemelhoramentoeembelezamentourbano.Nessaárea,tambémestavamlocalizadasasresidênciasdaelitecafeeira.

A populaçãodeRibeirãoPreto,emmaio de1912,era de 58.220 habitantes, sendoque18.732residiamnacidadee39.488nazonarural(CAPRI,1913).Emboraamaiorparte

dapopulaçãohabitassenocampoeestivesseligadadiretamenteàsatividadesagrícolas,ocentrourbanoatraíaumnúmerosignificativodeimigrantes,principalmente italianos,comprofissões como de operários, artistas-artesãos, proprietários de terras ou de comércio,profissionaisliberaiseintelectuais(REGISTRO,2008).

Nessa épocaRibeirãoPreto já contava com uma considerável estrutura. Existiam2.825prédiose5.677profissionais trabalhandonacidade.Entreasprofissõesdecaráterurbano,estavam412negociantes,101profissionaisliberais,712jornaleiros(diaristas)e1.021operários.Nosetoreducacional,aproximadamente1.800alunosestavammatriculadosem31estabelecimentosdeensino(CAPRI,1913).

Gráfico 3 - Estrutura de Ensino em Ribeirão Preto gerado a partir do censo de 1912 (CAPRI, 1913)

12

   N   ú   m   e   r   o   d   e   e   s   t   a   b   e   l   e

   c   i   m   e   n   t   o   s

Escolas

Particulares

Escolas

Estaduais

Escolas

Municipais

Internatos

Particulares

Grupo

Escolar 

Ginásio

EStadual

11

2

4

1 1

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AcidadedeRibeirãoPretoeraumpalcodetrocaseinfluênciasculturais.Oscostumes,aculinária,aspráticasreligiosas,osofícioseprofissões,asmaneirasdepensareoolharsobreomundopassaramaterumaforteinfluênciadosimigrantesestrangeiros.Datotalidadedapopulaçãoem1912,58.220pessoas,osestrangeirosrepresentavam39.488,dosquais18.732residiammazonaurbana.Nacidade,dasnacionalidades,apredominanteeraaitaliana,masmuitasoutrasfiguravamnaformaçãodomunicípio.

Gráfico 4 -Índice de imigrantes gerado a partir do censo de 1912 (CAPRI, 1913)

Foinoperíododenominadode“BelleÉpoque”,entreosanosde1885e1914,queosváriosmundosseentrelaçarameexecutarammovimentosalternandoentreasatitudesdeacolhimentoerepulsa,deestranhamentoeaceitação.SegundoCarrato,

O homem da terra e o imigrante, aparentemente dierentes, mas sendo digeridos pela circularidadedas orças sociais, mescladoras na atividade econômica, no jogo político, na vida amiliar, nas atitudespessoais e coletivas, nas esperanças e aspirações, e, até nas antasias e rustrações. (CARRATO, 1991, p.

133).

Essastrocaseapossamentosmútuosse davamno interior dascasas,nasmesasregadasacafé,àbroademilhoeapãodequeijo,juntamentecomas“delicatéssen”deorigemalemã,francesaouinglesa.Àépoca,ocafécomleite,commuitoaçúcar,porinfluênciadosportuguesesemineiros,eraservidologocedo.Noalmoçocomia-seoarrozeofeijão,juntocomacarneassadaeasverdurasnativascozidas,comoora-pro-nobisouataioba,mashaviatambémoalmeirãodeorigemeuropeia.Porvoltadasduasda  tardeeraservidoocafé“aduasmãos”.Nojantar,quenormalmenteaconteciaentrecincoeseisdatarde,tomava-seumasopa,umaherançanitidamenteportuguesaque,aospoucos,tambémacresciaainfluênciaitaliananocenáriourbano,comasopademassademacarrão(CARRATO,1991).

3896

    Í   n   d   i   c   e   d   e   i   m   i   g   r   a   n   t   e   s

Nacionalidade

Italianos

Portugueses

Espanhóis

Turcos

 Austríacos

 Alemães

Franceses

Outros

876

643

171 134 86 23 80

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Nosespaçospúblicos,sobretudonaspraçasaosdomingos,ospasseiosdosmoçosedasmoçastinhamcomofundomusicalasmodinhasdotempodoImpérioetrechosdeóperasdeVerdi(CARRATO,1991).NocoretodaPraçaXV,naépoca,ocentrodavidasocialepolíticadacidade,sealternavamnaconduçãodosconcertosmusicaisaBandaFilhosdeEuterpe,domaestroJoséDelfinoMachado;aCorporaçãoMusical“GiacomoPuccini”;aBandaBersaglieri,constituídapormembrosdacolôniaitaliana,entreoutras.OrepertórioexecutadoincluíaalémdeVerdi,Puccini,MascagnieCarlosGomes.OHinoNacionaldo

Brasil era frequentemente tocado em datas comemorativas, assim como aMarselhesa,demonstrandoagrandeinfluênciadoscostumeseuropeusnaculturalocal(TUON,1997).

FilhosdeEuterpe,CorporaçãoMusical.MaestroJoséGomesDelphino.Data:1899.Fotógrafo:Mattos(APHRP,F153).

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FestadosViajantesrealizadanosdias7,8e9desetembrode1906noJardimPúblico(PraçaXVdeNovembro).VistadeumgrupodepessoasjuntoàbarracadaComissãodeFestas.Data:1906.Fotógrafo:F.GarciaPhoto(APHRP,F693).

RuaGeneralOsório,vistaapartirdaavenidaJerônimoGonçalves.Naesquerda,segundoprédio,PensãoFamiliar.Nadireita,primeiroprédio,umaConfeitariae,logoàfrente,HotelBrazileHotelViajantes.Data:1910.Fotógrafo:FlósculodeMagalhães.(APHRP,F137).

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Asalternativasdelazereramlimitadasantesdoprocessodeurbanizaçãoquetrouxeteatros,cafés,cinematógraphos,muitasvezesficandorestritasàsfestaseeventosreligiosos.Osbatizados,casamentosevelórioseramosmomentosdedicadosàoraçãoe,emsuaextensão,àsociabilizaçãofamiliar.Foradecasa,nascapelasematrizes,oseventosmaisimportantesdacomunidadeeramasfestasreligiosas,comoaquermessejuninaedosantopadroeiro.

NasprimeirasdécadasdoséculoXX,outrosimportantesespaçosdesocializaçãoeramasconfeitariasecafés.Aspessoasseencontravamparaconversar,leresaboreariguariascomo bombons finos, licores, chás e sorvetes. Essesespaços se configuraram tambémdevitalimportânciaparaasocialibizaçãodasmulheres,quealipodiamseencontrarparaconversarsobreosseusuniversos:olar,omaridoeosfilhos.“AsmaiscultasdiscutiamoconteúdodosromanceseuropeusadquiridosnaLivrariaePapelariaVeríssimodosSantosounaLivrariaSelles.”Nãoraroasconfeitariasofereciamaosseusclientessessõesmusicaisecinematographicas,comapresentaçõesdefilmesdeficçãoenoticiários(TUON,1997).

A vida noturna ribeirãopretana também efervescente e repleta de influências

europeias tinhaà frente a figura deFrancisco (François) Cassoulet. Esse empresáriodeorigemfrancesainstalou-senacidadeprovavelmenteem1884,chegouaadministrarcincocasasdeespetáculosnacidade:oTheatroCarlosGomes,ParisTheatro,CinemaRioBranco,PolytheamaeoCassinoAntarctica.OfereciaaopúblicodesdeespetáculosluxuososnoteatroCarlosGomesatéespetáculos“nãofamiliares”noCassinoAntarctica(TUON,1997).

CassinoAntarctica,frenteparaaRuaAméricoBrasiliense,eRotizzerieSportman,comfrenteparaaruaAmadorBueno.OCassino

Antarcticafoiinauguradoem14denovembrode1914,estetalveztenhasidooempreendimentomaisextravagantedeFrançoisCassoulet,queoadministrouentre1914e1917.NoCassinoocorriamespetáculos,festas,bailes,jogatinaseaprostituiçãodemulheresestrangeiras.Oambienteerafreqüentadopelosgrandescoronéisepolíticosimportantes,alémdeestrangeiroseboêmios.Data:1920.Fotógrafo:nãoidentificado(CartãoPostalCasaBeschizza.APHRP,F101).

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OteatroCarlosGomes,construídopróximoaolargodaMatrizdeSãoSebastião(atualPraçaXVdeNovembro),nocoraçãodacidade,foiinauguradoem1897edurantemuitotempofoisededegrandeseventoscívicos,políticosesociais,alémderecebergrandescompanhiasteatrais.Foiconstruídoporumconsórcioentreosmaioresfazendeirosdaépoca,entreeles:Cel.FranciscoSchmidt,JoaquimdaSilvaGusmão,FranciscoAugustoSacramento,VirgíliodaFonsecaNogueiraeLuísPereiraBarreto.Oprojetoarquitetônico,deautoriadeRamosdeAzevedo,eradeestiloneoclássicodeinfluênciaitaliana(ROSA;REGISTRO,2007).

TheatroCarlosGomes,fachadadefrenteparaaRuaViscondedeInhaúma.Data:1936.Fotógrafo:J.Gullaci(APHRP,F310).

Querfossenamesadacozinha,juntoaofogãoalenha,àmesaaustríaca,detampodemármoreepéstorneados,ounaspraças,nasconfeitariasenospalcosdoglamorosoTheatroCarlosGomes,asinfluênciasdosimigranteseuropeus,daslevasdemigrantesnativosdoSuldeMinasGerais,doEstadodoRiodeJaneiroouprovenientesdosEstadosdoNordestedoBrasilestiverampresentesnoprocessodeformaçãoculturaldacidadedeRibeirãoPreto.

Noterritóriodocafé,sobreaterraroxa,aportaramdiferentesexpressõeseidentidades

culturais,apartirdasquaisfoimodeladaahistóriadeRibeirãoPreto.Expressõesessasquepossibilitamconstantesrevisitasaopassadoeaidentificaçãoculturaldacidadeede“suagente”:múltiplas,diversasecomplexas.

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InteriordoTheatroCarlosGomes.Data:décadade1930.Fotógrafo:J.Gullaci(APHRP,F308).

TheatroCarlosGomesePraçaXVdeNovembroduranteaFestadosViajantesrealizadanosdias7,8e9desetembrode1906.Fotógrafo:nãoidentificado(APHRP,F467).

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8.Histórico do Museu do Café 

VistadosprédiosdoMuseuHistóricoMunicipal,àesquerdaedoMuseudoCaféFranciscoSchmidt,nofundo.Dataaproximada:1960.Fotógrafo:FotoMiyasaka(APHRP,F806).

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MonumentoaosimigrantesalemãesfeitoporJoséPereiraBarretoeoferecidopelogovernomineiroaoMuseudoCafé.Data:s/d.Fotógrafo:Carlos(MC,F225).

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AorigemdoMuseudoCafédeRibeirãoPretoestáassociadaàfiguradePlínioTravassosdosSantos,idealizadordosmuseusmunicipais.PersonagemdedestaquedahistóriaculturaldeRibeirãoPreto,nasceuemCravinhos,em07demarçode1886.Foicasado,emprimeirasnúpcias,comClaricedeSáBarretodosSantos,filhadeCândidoPereiraBarretoedeVirgíniadeSáBarreto;erasobrinhadeLuizPereiraBarretoeirmãdeFábiodeSáBarreto.Casou-seemsegundasnúpciascomAnaCorrêadosSantos.PlíniofaleceuemRibeirãoPreto,em12dedezembrode1966(APHRP,2006).

UmdosgrandespesquisadoresdahistóriadeRibeirãoPreto,passouainfâncianomeioruralenajuventudemudou-secomosseuspaisparaacidade.EstudounoColégioSpencer,fundadoporseuirmãoBrenoSantos.Aindaduranteajuventudepublicoualgumaspoesiasemjornaiserevistasdacidade.EstudiosodaciênciadoDireitotornou-serábulaepublicounoanode1937umlivrosobreregistrodepessoasnaturaiseocasamentoreligioso.PlínioatuoutambémcomojornalistanosjornaisDiáriodaManhã,ACidadeeATarde.Foiescritoreproduziuaolongodesuavidaalgunscontoseromances,taiscomoPáginasdoSertão,em1923,ExpiaçãoeHorasdeLazer.EscreveuváriasobrassobrehistóriadoBrasil,históriadeRibeirãoPreto,vultosbrasileirosentreoutrastemáticas(PRATES,1981).

PlínioTravassosdosSantos–Retrato.Data:décadade1910.Fotógrafo:NãoIdentificado(APHRP).

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Foi como secretário da Câmara Municipal durante várias legislaturas que Plínioexecutouumadassuasprincipaisatividades:adepesquisadorsobreahistóriadeRibeirãoPreto.Comacessoàsmelhoresfontesdocumentais,livrosdeataseregistrosdaPrefeituraMunicipal,produziuváriostrabalhos.Figuraproeminenteerespeitadointelectualdacidade,teveacessotambémaosarquivosdoBispadodeRibeirãoPreto,deMogiMirim,deSãoSimão,deCasaBranca,ecidadesdeMinasGerais,semprebuscandoencontrarinformaçõesligadasaRibeirãoPreto(PRATES,1981).

Duranteosanosde1950,integrouogrupodeintelectuais,aoladodeRomualdoMonteirodeBarros,SebastiãoFernandesPalma,JoséAméricoPeixeAbbade,CônegoFranciscodeAssisBarroseRomeroBarbosa,quedefendeuaalteraçãodadatadecomemoraçãooficialdedescobrimentodoBrasil,naépocacomemoradanodia03demaio,paraodia22deabril.EssegruposearticuloujuntoaohistoriadoreDeputadoAurelianoLeite,queapresentouumprojetodeleiem1954,pleiteandotalmudançaconformerelataPriscodaCruzPrates,estudiosodabiografiadePlínioTravassosdosSantos.

AspesquisasempreendidasporPlíniosobreahistóriadeRibeirãoPretoeregiãofizeramdeleumdosprincipaisexpoentes,apontodeinfluenciaremesmodefinirahistoriografia

oficialdomunicípio.Umbomexemplodopesoqueasuaproduçãointelectualpossuíajuntoàsociedadedaépocafoiasuaproposiçãosobreadatadecomemoraçãodoaniversáriodefundaçãodacidade.AspesquisasrealizadasporPlínio,desdeoanode1922,serviramdebaseparaafixaçãododia28demarçode1863.Em1952,Plíniorealizououtraspesquisasealterouoanodefundaçãopara1853,permanecendo,todavia,odia28demarço(APHRP,2006).

Essa data foi adotadapelaMunicipalidade, integrando ocalendário cívico até sercontestadaporOsmaniEmboaba.Contestaçãoessa,quedeuinícioaumasériededebatesenvolvendointelectuais,profissionaisdaimprensa,políticoseprincipalmente,protagonizadapelosdois,PlínioeEmboaba.Asdiscussõesforamfinalizadassomenteem16dejulhode1954,porforçadeumparecerdeumacomissãoexternacompostaporEurípedesSimõesdePaula,NutoSant’AnnaeAliceP.Canabrava,queindicouadatade19dejunhode1856,comoademaiorsignificado.

Aolongodosanosdadécadade1950enaprimeirametadedosanosde1960,Plíniodedicou-seàorganizaçãodoMuseuMunicipaledoMuseudoCafé. 

GeremiaLunardelliàfrentedeumaesculturaemsuahomenagemcomPlínioTravassosdosSantos(deternoclaro),nointeriordoMuseudoCafé.Data:1957.Fotógrafo:FotoMiyasaka(APHRP,F813).

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 A fundação do museu municipalde Ribeirão Preto

PrédiodoMuseuMunicipalPlínioTravassosdosSantos,antigasededafazendaMonteAlegre,depropriedadedoimigrantealemãoFranciscoSchmidt(APHRP,F530).

AideiademontarummuseuqueexibisseastradiçõeseasglóriasdopassadodeRibeirãoPretoeraumsonhoacalentadoporPlíniodesde1917.

Desteanoaté1938,PlínioTravassosconseguiuformarumaconsiderávelcoleçãodeobjetos,recolhidosemváriaslocalidadesnosEstadosdeSãoPaulo,MinasGerais,Riode

JaneiroeGoiás.AsviagensrealizadasporPlínioforampatrocinadaspelaPrefeituraMunicipaleosobjetosporeleacumulados,pordoaçãooucompra,ficaramguardadosouexpostosemdiversossetoresdaPrefeituraMunicipal.Algumaspeçaschegaramaficarexpostasemalgumasescolasmunicipais(PRATES,1981).

DuranteogovernodoprefeitoJosédeMagalhães,de1948a1951,PlíniofoinomeadoInspetorEscolar.NesseperíodoeleconsolidouacriaçãodomuseuemRibeirãoPreto.Entreosanosde1948e1949foramconcluídasasobrasdeconstruçãodeumprédionaPraçaSantoAntônio,nº. 71,enesselocal foi instaladaaBiblioteca “GuilhermedeAlmeida”eoDepartamentodeCultura,sobocomandodePlínioTravassos.AbibliotecafoiformadacomdoaçõesdaBibliotecaMunicipaldeSãoPaulo,doMuseuPaulista,doInstitutoGeográficoeGeológicodeSãoPaulo,doConselhoEstadualdeBibliotecaseMuseus,doInstitutoNacionaldoLivroeMuseuHistóricoNacional,entreoutrasinstituições(PMRP,1952).

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ComacolaboraçãodoProfessorAntônioPalocciquesepropôsarestauraralgumasestátuaseesculturasecompequenasverbasdaCaixaEscolarMunicipal,foiinaugurada,nasededoDepartamentodeCultura,aseçãodeArte,constituídaporalgumasesculturasepinturas(PMRP,1952).Adataescolhidaparaainauguraçãofoiodia28demarçode1950.

Aindaem1950,oMunicípiorecebeu,porempréstimo,aantigacasasededaFazendaMonteAlegre,paraondePlíniotransferiutodooacervoecomeçouaorganizaroMuseu.O imóvel e a área circundante foram, posteriormente, doados ao Município medianteautorizaçãolegaldatadade1956eescrituralavradaem05dejaneirode1957.

Em28demarço1951,oMuseufoiinauguradonanovasede,comasseçõesdeArtes,História,EtnologiaIndígena,Zoologia,GeologiaeNumismática.

OacervoreunidoporPlínioentre1948e1950,destinadoaomuseumunicipal,foiformadocomdoaçõesdosprópriosartistas,nocasodeesculturasepinturas,eoutrosobjetosforamofertadosporinstituições,taiscomooMuseuPaulista,InstitutoButantã,MuseuNacional,InstitutodeZoologiadoEstado,InstitutoOswaldoCruz,entreoutras.Plínioempreendeuumasériedeviagensecriouumarededecontatosjuntoaosórgãospúblicoseinstituiçõesdecultura,conseguindotrazerparaomuseudeRibeirãoPretopeçasemregimededoação.

Algunsexemplosdessasdoaçõessão:ofragmentodometeorito“Bendegó”,doadopeloMuseuNacional,emjaneirode1949,duranteumavisitarealizadaporPlínioeoPrefeitoJosédeMagalhãesaoRiodeJaneiro;57moedasportuguesas,datadasdosperíodoscolonialeimperialforamdoadaspeloMuseuPaulista;oslivrosdeautoriadeLuizPereiraBarretoforamdoadosporMartinhoPereiraBarreto;conchaseouriçosdomarforamdoadaspeloSr.Besnar,diretordoServiçoOceanológicodoEstado;umaurnafuneráriacontendoresíduoshumanos,encontradanacidadedeIgarapava,foidoadapelaUsinaJunqueira,etc.Obrasdosartistas:ChavesPinheiro,RodolfoBernardelli,CorreaLima,PereiraBarreto,TitoBernucci,HumbertoCavina,Castellani,J.B.Ferri,OdeteBarcelos,entreoutros,foramintegradasaoacervoaté1950(SANTOS,1950).

AestruturaçãoadministrativadomuseumunicipalfoiiniciadapormeiodaResoluçãonº.16,de29deagostode1949,comacriaçãodoDepartamentodeCulturaedaDifusãoCultura

eMuseu, a quemcompetia “organizar omuseu recolhendo, restaurandoe conservandoospapéisedocumentoshistóricos,relativosàNacionalidadeaoEstadoeaoMunicípio”.Antesdisso,aleinº.97,de1ºdejulhode1949,deestruturaçãodecargosefunçõesdofuncionalismopúblicojápreviaosetordeDifusãoCulturaleMuseujuntoaoDepartamentodeCultura.Emboraaexistênciadomuseumunicipaljáestivesseevidenciadaemlegislação,somenteem1957,pormeiodaleinº.568,de22deabrilde1957foioficialmentecriadooMuseuMunicipal,jáinstaladoeemfrancofuncionamento;estamesmaleicriouoMuseudoCaféFranciscoSchmidt.

Noanode1966,pormeioda leimunicipalnº.1.750,de06demarço,omuseu foidenominadodeMuseuMunicipal“PlínioTravassosdosSantos”,homenageandoassimoseu

idealizador.

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Museu do Café Francisco Schmidt

Comoobjetivoespecíficodecontarahistóriadocafé,Plínioelaborouumplano,datadode12deoutubrode1953,paraaorganizaçãodo“MuseudoCafé”.Omuseufoiconcebido“comoreparaçãodafalhahámuitoobservada,poisdentreosmuseusnacionais,estaduaisemunicipaisexistiaalacunadeumMuseucomojustaesignificativahomenagemaosoberboprodutoquefez,fazefaráagrandezaeconômicadeSãoPauloedoBrasil.”(SANTOSapudCHAVES,s/d).

AsverbasparaarealizaçãodeviagensaalgumaszonascafeeirasdeSãoPauloeaestadoslimítrofes,paraarealizaçãodepesquisaseobtençãodemateriais,foramconcedidaspeloGovernodoEstado,porintermédiododeputadoAntônioSilviodaCunhaBueno.Noanode1955odeputadoOsnySylveiraconseguiuaconsignaçãodeverbasjuntoaogovernodo

estadoparaoprojetodoMuseudeCafé(SANTOS,1956).

Após empreendera coleta deobjetosalusivosà culturado “ouro verde”, o acervoconstituídoincluíamóveisparamostruário,váriasqualidadesetiposdecafés,doiscarros-de-boi,cochos,pilões,engenhosemáquinasdebeneficiarcafé-aonaturaleemminiaturas,moinhos,troles,utensíliosdepreparareservircafé.

Em20dejaneirode1955,oMuseudoCafédeRibeirãoPretofoiinaugurado,ocupandoprovisoriamente alguns espaçosdo interiordoprédio e varandasdoMuseuMunicipal –ocupavadoiscômodosdoprédio,trêsfacesdasvarandasquecircundamoprédioeumporão(CHAVES,s/d;Santos,1956).A inauguraçãodomuseu,instaladononovoprédio,foiprogramadaparaacontecernodia 26dejaneiro,todavia,emrazãodas fortes chuvas,oprédionãoficouprontoatempo.Ainauguraçãooficialsedeuentãonodia26demaiode1957.

A ideia inicialeradenominaromuseucomonomedeGeremiaLunardelli,grandecafeicultorecolaboradornaconstruçãodoprédiodomuseu“enãoofoi,poisohomenageadoaissoseopôsterminantemente,porconsiderarqueessemerecimentocabiaexclusivamenteaoCel.FranciscoSchmidt,oPrimeiroReidoCafé”(CHAVES,s/d).

Acriaçãooficialdomuseudocafésedeupormeiodaleimunicipalnº.568,de22

deAbrilde1957,queoficializoutambémacriaçãodomuseumunicipaldeordemgeraleestabeleceuumaestruturafuncionalúnicaparaambososmuseus.Aleiestabeleceuqueomuseudocaféfuncionarianumprédioanexoequedeveriaserconstituído“demateriaisapropriados,principalmentehistóricos,detodasaszonascafeeirasdoBrasil,paraquesejadeâmbitonacional”(LEInº.568/1957).

OprojetodoprédiodomuseudocaféédeautoriadeHernanidoValPenteado,queconcebeuo“PavilhãodoCafé”comumaamplavarandaladeandoasfacesfrontalelateraldocorpoprincipal,constituídoporumsalãosemdivisórias(SANTO;MURGUIA,2007).PlínioTravassosdosSantosesteveàfrentedaadministraçãodosMuseusMunicipaisaté1958quandofoisubstituídoporsuafilha,ClarisseCorrêadosSantos,diretoradosmuseusatéo

anode1960.

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