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Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário e do Ministério Público da União no DF Filiado à CUT/FENAJUFE Ano XVIII - nº 74 Junho/Julho de 2011

Filiado à CUT/FENAJUFE Sindicato dos Trabalhadores do ......Recentemente uma das obras deste ensaio venceu o concurso de Fotopoesia da Publições Iara, em São Pa ulo. 4 Revista

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Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciárioe do Ministério Público da União no DF

Filiado à CUT/FENAJUFE

Ano XVIII - nº 74Junho/Julho de 2011

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CONTINUA NA PÁGINA CENTRAL

Os 80 anos de João Gilberto retomam nosso mais inventivo DNA: a capacidadede assimilar culturas, processá-las e recriar realidades originais, mesmo frutode tantas influências. Com João foi assim. Não era só a batida diferente,quebrada ou em síncope sobre o samba tradicional, mas a harmonia deum violão mais acariciado que “tocado”, a voz em sussurro (não havia anecessidade do “cantor dó de peito”, com potência, para suprir a deficiênciatecnológica dos microfones e amplificação deficientes), e as letras indicativasdo novo papel da mulher, namorada, companheira e cortejada pelo homemromântico, diferente da fatal ou submissa dos anos anteriores a 1960.

O Brasil moderno consegue essa marca da diferença quando mais devora(no sentido antropofágico de Oswald de Andrade) o que vem de fora, digeree devolve. João e a Bossa Nova provocavam pueris reações dos puristas por ser“jazzísticos”, enquanto nos EUA a crítica celebrava o Brasil pela “única inovaçãocapaz de alterar a tradição do jazz”. O nacionalismo estanque sempre tevedificuldade para reconhecer que a tradição fica mais forte quando longe daconservação mantida em uma bolha. A tradição, no sentido mais inventivo dopovo brasileiro, se fortalece na ruptura e sustenta a essência no centro, emboraas formas se multipliquem em muitos suportes, linguagens e sotaques.

A diferença do Brasil está noconviver com as diferenças

A tradição, nosentido maisinventivo do povobrasileiro, sefortalece na rupturae sustenta aessência no centro,embora as formasse multipliquem emmuitos suportes,linguagens esotaques

TT CATALÃO

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ARTE EM BRASÍLIA

ANTONIO NEPOMUCENO*

Coordenação editorial:Cynthia Borges

Edição:Usha Velasco

Reportagem:Fabíola GóisThais AssunçãoValéria de Velasco

Colaboradores:TT CatalãoJosé Geraldo de Sousa JuniorYuri Matsumoto MacedoAndré Luis Macedo

Revisão: Ana Paula Barbosa Cusinato

Projeto gráfico e arte: Usha Velasco

Tiragem: 15.000 exemplares

Coordenadores-GeraisAna Paula Barbosa CusinatoBerilo José Leão NetoCledo de Oliveira Vieira

Coordenadores deAdministração e FinançasJailton Mangueira AssisJosé Oliveira SilvaRaimundo Nonato da Silva

Coordenadores de AssuntosJurídicos e TrabalhistasAntônio José Oliveira Silva

Marília Guedes de AlbuquerqueNewton José Cunha Brum

Coordenadores de Formaçãoe Relações SindicaisEliane do Socorro Alves da SilvaJosé Joventino Pereira de SousaSheila Tinoco Oliveira Fonseca

Coordenadores deComunicação, Cultura e LazerMaria Angélica PortelaOrlando NoletoValdir Nunes Ferreira

Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário e do MPU no DFSDS, Ed. Venâncio V, s. 108 a 114, Brasília-DF, 70393-900 • (61) 3212-2613

www.sindjusdf.org.br

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A obra acima, intitulada O pequeno protegido, faz parte do livro Reflexos do Tempo, ensaio inspirado em poemas deWilson Pereira. “A busca de uma linguagem própria e que se harmonizasse com o clima das poesias de Wilson exigiu um

mergulho na memória; foi um trabalho quase autobiográfico”, conta o artista. Com fotografias antigas e atuais, espelhos edesenhos infantis de sua neta Clara, ele criou fotomontagens que exploram temas como a memória e o tempo.

*Antonio Nepomuceno é fotógrafo amador e professor do Departamento de Engenharia Civil na Universidade de Brasília. Apaixonado porfotografia, faz parte do Fotoclube f508 de Brasília. Seu delicado trabalho tem se destacado no cenário brasiliense e em eventos nacionais como

o festival Paraty em Foco. Recentemente uma das obras deste ensaio venceu o concurso de Fotopoesia da Publições Iara, em São Paulo.

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4 Revista do Sindjus • Junho/Julho de 2011

José Geraldo deSousa Junior

Reitor da Universidade deBrasília, professor da Faculdade

de Direito e coordenador doprojeto O Direito Achado na Rua

“São cerca de313 mil servidores,

dos quais um poucomais de 15 mil sãotogados. A expres-

são dos números dáuma medida do pa-pel ativo que reali-zam os servidoresnão togados, po-

dendo por isso sercaracterizados

como verdadeirosatores políticos”

O pró-labore de José Geraldopara este artigo é doado

mensalmente à campanha devoluntariado Eu Doo Talento

(veja em www.sindjusdf.org.br)

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om o título acima, da conferência de abertura,foi instalado o 6º Congresso do Sindjus, realiza-

do em Brasília, nos dias 27 e 28 de maio. Participei dasessão inaugural, dividindo a mesa com Sheila Tinoco,que a dirigiu, Amarildo Oliveira, representando o dire-tor-geral do STF, e Roberto Policarpo, deputado fede-ral e antigo coordenador-geral do Sindjus.

Na ocasião, lembrei a satisfação de ter participa-do, igualmente, do Congresso de 2001, cujo tema in-terpelante, formulado pelo Sindicato, foi saber se “épossível uma sociedade democrática com um Judiciá-rio conservador”. Responder a essa pergunta, no âm-bito dos debates, valeu-me iniciar, então, uma colabo-ração editorial no espaço da revista do Sindjus, pormeio desta coluna até hoje publicada.

A resposta então oferecida, que implicourecuperar o eixo participativo democratizante da Cons-tituição Federal de 1988, foi, obviamente, não. Não épossível uma democratização plena da sociedade seuma de suas instituições essenciais se conserva comomodelo instrumental resistente, porque ela se tornaráobstáculo à própria mudança, característica de umasociedade em permanente transformação, processo emque a luta pelo reconhecimento de direitos novos é asua principal representação. Como anota o parágrafosegundo do artigo 5º da CF, “os direitos e garantiasexpressos nesta Constituição não excluem outros de-correntes do regime e dos princípios por ela adota-dos, ou dos tratados internacionais em que a Repúbli-ca Federativa do Brasil seja parte”.

No bojo daquela resposta, prefigurava-se a neces-sidade de o Judiciário recriar-se na forma e no agirdemocráticos, para não tornar a lei e a justiça verda-deiras promessas vazias. Recriar-se não apenas em re-lação à prática de seus agentes adjudicadores – osmagistrados –, condicionados por sua peculiar forma-ção jurídica e pelos limites de sua função social, maspela necessidade de qualificar a atuação de todos osseus agentes institucionais – os servidores –, princi-pais responsáveis pela função administrativa da pres-tação jurisdicional.

No 6º Congresso, sem perder aquela questão devista, é importante marcar a dimensão fundamentalque os servidores do Judiciário e do Ministério Públicorealizam, com o objetivo de concretizar a atividade

jurisdicional e de fiscalização da aplicação das leis, demodo a dar efetividade às atribuições do Estado nessecampo, com eficiência e celeridade.

Embora se faça convergir o sistema para aação do magistrado, e dele se cobre a responsabilida-de plena decorrente dessa função, não é impróprio di-zer-se aqui, relativamente ao papel do juiz na realiza-ção da justiça, o mesmo que Carl von Clausevitz afir-mou, de um ponto de vista estratégico: “A guerra équestão séria demais para ser deixada à conta dosgenerais.” Assim também a Justiça, cuja seriedade re-quer a participação de outros atores.

Basta ver, desde logo, a dimensão nacional do Ju-diciário, por meio de seus grandes números: cerca de313 mil servidores, dos quais um pouco mais de 15mil são togados e mais de 290 mil não são.

A expressão dos números dá uma medida da ca-pacidade de intervenção operativa do papel ativo querealizam os servidores não togados, podendo por issoser caracterizados como verdadeiros atores políticos.Aliás, isso mesmo foi lembrado na abertura, no discur-so da direção da mesa, para reafirmar que o protago-nismo dos servidores reveste a sua missão, na tríplicedimensão profissional, sindical e social, em algo maisque desempenho técnico, mas em atuação apta a cons-tituir autêntica cultura de cidadania.

Esses atributos ressaltam da avaliação coti-diana do trabalho realizado pelos servidores, tornan-do disponíveis catálogos exemplares de boas práticas,como se pode constatar em repertórios à semelhançado Prêmio Innovare, promovido pelo Ministério da Jus-tiça, com apoio de organizações sociais, chegando aconfigurar o que seus organizadores denominam de“reforma silenciosa da Justiça”.

E o próprio Sindjus, com iniciativas parecidas, lem-brando nesse aspecto o concurso que promoveu vi-sando a colher novas ideias para a Justiça, tem valori-zado a capacidade formuladora da sociedade e de seusassociados, para a elaboração de propostas e projetosque contribuam para a democratização do acesso, amodernização da gestão e a ampliação da participa-ção popular na sua realização.

Sim, com toda certeza, os servidores podem e fa-zem muito pela Justiça!

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Sim, os servidores podemfazer mais pela Justiça

DIREITO

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“Em outra passa-gem de seu artigo,Conceição de Frei-tas diz: ‘O esvazia-mento dos proje-tos coletivos desociedade nostransformou emuma espécie narcí-sica, que não re-nuncia a nada, querejeita os diferen-tes.’ Parece atéque ela está escre-vendo sobre nós!

AO LEITOR

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O desafio dacoletividade

Citação de Freudaplica-se à greve:“A civilização seconstrói com esfor-ço, suor, um mínimoque seja de bene-volência com ooutro e espírito decoletividade”

Newton BrumCoordenador deAssuntos Jurídicose Trabalhistasdo Sindjus

No dia 29, abri o jornal e li a Crôni-ca da Cidade, de Conceição de Frei-tas. Ela abordava os ataques de umleitor que, com “maldade irônica easséptica”, havia criticado outro ar-tigo publicado no jornal. Este, deautoria do jornalista Sérgio Maggio,criticava a “limpeza social” – umaforma de se livrar dos pobres – pro-posta por moradores do Sudoeste.

Embora o tema seja relevante eo artigo de Conceição seja muito in-teressante, o que mais me chamou aatenção foi a seguinte passagem: “Acivilização se constrói com esforço,suor, um mínimo que seja de benevo-lência com o outro e espírito de cole-

tividade.” Não era uma frase dela, mas uma citação de umlivro de Freud, intitulado O mal-estar na civilização.

Civilização? O que é isso? Numa acepção contratu-alista, diz-se que a humanidade deixou de ser “selva-gem” e passou a viver em sociedade. Ou seja, renun-ciou à barbárie e adotou um conjunto de regras quepermite a convivência comum.

Enquanto lia o artigo e pensava sobre isso, fui trans-portado para a nossa realidade. Desde que começamosa lutar pelo plano de carreira, vejo,alguns colegas que-rendo proteger o que já têm ou tirar algo de outros co-legas. Temos esvaziado um projeto coletivo em nome deinteresses cada vez mais egoístas e individuais. Faze-mos a opção pelo “meu” e depois, quando não conse-guimos sucesso, culpamos o outro.

Gostamos de dizer que o outro deve fazer aquiloque nós deveríamos fazer. É mais fácil dizer que a “cul-pa é do TSE, que não fez a greve antes da eleição”.Mesmo sabendo da decisão judicial que determinou que80% dos servidores trabalhassem. Ou culpar Policarpopelo fim da greve antes do PL ser votado, mesmo saben-do que isso foi decidido em assembleia.

Ou, ainda, usar o argumento, com a mesma malda-de irônica e asséptica, de que a greve acabou porquePolicarpo era candidato. Sou servidor do TST e possofalar do que acompanhei: já tínhamos decidido voltar atrabalhar de qualquer forma. O anúncio do acordo entrePeluso e Lula foi um alívio para as consciências.

Em outra passagem de seu artigo, Conceição deFreitas diz: “O esvaziamento dos projetos coletivos desociedade nos transformou em uma espécie narcísica,que não renuncia a nada, que rejeita os diferentes.”Parece até que ela está escrevendo sobre nós!

É preciso lembrar que somos parte, não testemu-nhas desse processo. Temos um importante instrumentode luta: o sindicato. Mas só a partir da nossa mobiliza-ção, da nossa participação e do nosso ativismo podere-mos criar as condições necessárias para que façamosparte, de fato, de uma carreira – uma carreira que aten-da às demandas de todos aqueles que a integram, semqualquer discriminação.

Afinal, técnicos, auxiliares, agentes de segurança,oficiais de justiça, analistas da área meio e da área fimcompõem o mesmo quadro de servidores que atuam noJudiciário e no Ministério Público. Precisamos ter issoem mente com bastante clareza, mesmo que o espíritonarcisista diga o contrário.

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pesar da indignação pelos cincoanos sem reajuste, as manifesta-

ções dos servidores do Judiciário e doMPU foram marcadas pelo bom hu-

mor. Nos atos eassembleias demaio, junho e ju-lho, antes e du-rante a greve, elesesbanjaram cria-

tividade e disposição. Ao lado dos tra-dicionais apitos, buzinas e bandeiras,surgiram balões coloridos, narizes depalhaço, perucas, chapeuzinhos deaniversário e indumentária junina (vejafotorreportagem nas p. 8 a 15).

A criatividade dos grevistas rendeutambém peças como os três macaqui-nhos (ao lado), criada por servidoresdo TSE, e vários tipos de alfinetadas

no presidente do Supremo, César Pe-luso – inclusive uma grande tartarugagigante que se arrastou pela Esplana-da e pela Praça dos Três Poderes. Nãofaltou quem caísse no samba com obatuque do Barakessã, grupo de rit-mistas que animou vários dos protes-tos nos tribunais, na PGR e no STF. E,por sugestão de uma servidora, cercade 100 manifestantes doaram sangue

Fôlego para alutaGrevistas mostram disposição e bom humor nas manifestações pelos PLs 6613 e 6697

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Alfinetadas em Peluso:reação contra a inérciada cúpula do Judiciário

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no Hemocentro, no dia 27/6, no atobatizado de “Grevista Sangue Bom”.

O fôlego dos servidores foi vitalpara garantir os primeiros 45 dias dagreve, a maior da história da catego-ria. E será ainda mais importante nosdias que se seguem. “Agora, mais doque nunca, precisamos da participa-ção intensa de todos para garantir avitória”, disse o coordenador-geral doSindjus, Berilo Leão, ao se referir à lutapela aprovação dos PLs 6613 e 6697no desfavorável cenário de arrocho sa-larial que marcou o início do governoda presidenta Dilma Roussef.

A insatisfação é geral: a categoriase sente traída pelos chefes do Judici-ário e do MPU. Nenhum deles se mo-veu para cobrar do governo o trato fir-

mado com Lula: aprovar o reajustedepois das eleições.

Nem mesmo a defasagem salarialem relação a carreiras semelhantes nospoderes Executivo e Legislativo (vejaquadro), motivo de uma evasão queameaça sucatear os quadros da Justi-ça, foi suficiente para fazer com quePeluso assumisse seu papel de nego-ciador junto ao governo e chegasse aum acordo capaz de garantir o reajus-te e dar fim à greve.

Diante disso, a conclusão é uma só.“A categoria tem que se impor. Essa éa nossa única alternativa: pressionaro governo e os parlamentares até queos projetos voltem a caminhar no Con-gresso”, afirmou o coordenador doSindjus Cledo Oliveira, ao se referir à

série de atos promovidos pelo sindi-cato na Câmara, exigindo dos parla-mentares a aprovação do relatório dodeputado Policarpo ao PL 6613.

O relatório traz três emendas paragarantir a equiparação salarial dosservidores por meio do reajuste da GAJe GAMPU, elaboradas pelo deputadode acordo com os parâmetros votadospela categoria durante o 6º Congres-so do Sindjus, em 27 e 28 de maio.Policarpo, que assumiu a relatoria doPL na Comissão de Finanças e Tributa-ção da Câmara no final de abril, apre-sentou também emendas à Lei de Di-retrizes Orçamentárias (LDO) para in-cluir os valores do reajuste dos servi-dores do Judiciário e do MPU no orça-mento da União.

Saláriosiniciais efinais, emR$ ao mês

Técnico Judiciárioe do MP

Técnico doBanco Central

Tec. AgênciasReguladoras

Técnico Legislativodo Senado

Analista Judiciárioe do MP

Escrivão da PF

Pesquisador comdoutorado (C&T)

Auditor da Receitae do INSS

Delegado da PF

ProcuradorFederal

Analista Legislativodo Senado

Consultor Legislativodo Senado

23.826,0025.000,00

18.440,0020.900,00

14.970,0019.451,00

13.368,0019.700,00

13.600,0019.451,00

8.760,0014.175,00

7.514,0011.879,00

6.551,0010.480,00

13.633,0015.563,00

5.500,007.700,00

4.971,008.449,00

3.950,006.360,00

Uma bandeira mais que justaEQUIPARAÇÃO

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FAZGenteque

Protagonistas de umacultura em construção –a cultura da cidadania.

Assim se afirmaram, maisuma vez, os servidores doJudiciário e do MinistérioPúblico. Com a mesma

dedicação e garra com quegarantem o funcionamento

da Justiça, eles foram àsruas em defesa do reajuste

salarial emperrado noCongresso desde 2009.Esta fotorreportagemhomenageia a força, o

empenho e a criatividadedesses bravos lutadores.

Nariz de palhaço (1) virou moda nas manifesta-ções, assim como os apitos e panelas para chamaros colegas à greve (2 e 3). Na passeata da PGR ao

STF, em 25/5, centenas de servidores dão o reca-do: a paciência acabou e nós vamos à luta (4)

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Ato no STF:protesto em família

(5). Vigília no TSEna noite de 31 de

maio: samba ealegria à luz de

velas (6 e 7). Atosnos dias 24 e 25:

servidores marcampresença na

Praça dos TrêsPoderes (8, 9 e 10)

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15 Em passeata,servidoressaíram da PGR(12) e foram atéo Planalto, ondebuzinaram parachamar a atençãoda presidenta(11). “Arrastões”,protestos epiquetes foramaté as Varas daInfância (13),o Ministério doPlanejamento(14) e o STF (15)

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Maio e junho forammeses agitados na Praça

dos Três Poderes, palcode uma série de

manifestações (16 e 17)e de assembleias gerais

dos servidores (18). OMPU não ficou de fora e

surgiram até apitosgigantes (19). No dia 26/5, uma grande passeata

ocupou a Esplanada echegou ao Ministério do

Planejamento (20)

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BRASÍLIA DO BEM

Deniza Gurgel

que levaria jovens e adolescentes aabrir mão das “baladas” com os ami-

gos no final de semana em troca de assu-mir tarefas duras, com muito suor e traba-lho braçal? A resposta é simples: trabalhovoluntário para ajudar o próximo. É o quefazem os jovens do SuperAção, um dos pro-jetos sociais da ONG Sonhar Acordado.

A coordenadora do projeto, Suzelay-ne Azevedo, acredita que cada pessoa temsuas motivações para contribuir. “Cadaum tem um estímulo que o impulsionapara o trabalho social. Quando ingressamna ONG, os voluntários analisam o perfil

Projeto social recruta voluntários entrejovens e adolescentes que, nos finais de semana,

assumem o papel de pedreiros e pintores

massaCom as mãos na

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dos programas e escolhem aquele com oqual se identificam mais”, conta. “Nor-malmente as pessoas que se interessampelo SuperAção são aquelas que gostamde desafios, de trabalho em equipe e sãoproativas”, completa Suzy, como é conhe-cida pelos colegas.

Suzy é bibliotecária, cresceu na Cei-lândia e conheceu a ONG em 2006. Elacoordena o projeto SuperAção há umano. “Acredito que a motivação comumque existe no grupo é que todos acredi-tam no impacto social positivo de cadaação realizada na comunidade atendi-da”, explica ela. “Dessa maneira é pos-sível transmitir a mensagem da união,da cooperação e da solidariedade. Sãoesses valores que queremos incutir noscorações de nossos voluntários e dos be-neficiados”, conclui.

O Sonhar Acordado é uma ONG inter-nacional fundada em 1998 em Monterrey,no México. A iniciativa partiu de um grupode jovens que desejava fazer algo pelo pró-ximo com a participação da juventude. Oprojeto chegou ao Brasil no ano 2000 ereúne voluntários, estudantes e profissio-nais de diversas áreas.

Além do SuperAção, que começou afuncionar em Brasília em 2004, a ONGtambém tem os projetos Amigos para Sem-pre, Dia do Sonho, Sonhando Juntos e Pre-parando para o Futuro. “Uma das coisasque me atraiu foi essa diversidade de pro-jetos. Tem sempre um que combina com apessoa e com o ritmo de vida que ela leva.O importante é ajudar”, explica Suzy.

Este ano ogrupo de volun-tários do Super-Ação já fez duasmob i l i zaçõespara ajudar acreche CriançaCidadã, no Var-jão. Como resul-tado, as cinquen-

ta crianças atendidas agora contam com umambiente adequado para estudar e brincar.

A primeira ação aconteceu nos dias19 e 20 de março. O grupo se mobilizoupara criar um ambiente multieducativo.Depois de lixar, pintar, enfeitar paredes emontar móveis, os jovens transformaramuma sala de aula sem atrativos em umambiente divertido e multifuncional, quepode ser usado como hemeroteca, salade estudo, cantinho da leitura e um pe-queno laboratório de computação. Tudoisso feito pelos voluntários, com materialque eles mesmos arrecadaram.

A segunda ação aconteceu nos dias16 e 17 de abril e montou o berçário dacreche, que agora conta com uma espa-ço iluminado, berços pintados e reforma-dos, carrinho de bebê, kit de higiene eDVDs infantis.

Mas Suzy acredita que os resultadosdos projetos sociais vão muito além dosbenefícios materiais para a comunidade.“O que mais me atrai é a possibilidade detransmitir valores. No lugar onde eu cres-ci, vi muita gente se perder na vida porquenão tinha ninguém para os orientar. Tenhoconhecidos que se envolveram com dro-gas, com prostituição, que se deterioraram.Eu mesma poderia ter tido uma vida as-sim, se meus pais não tivessem me passa-do os valores que tenho hoje. É essa ba-gagem que eu quero transmitir para as cri-anças, que muitas vezes se veem sem pers-pectivas de futuro”, conta ela.

Enquanto isso, o projeto não para. Osplanos para este ano incluem reformas,mobilizações sociais e assistência a comu-nidades carentes em várias áreas. Uma dasatividades reunirá voluntários em estéti-ca, como cabeleireiros, manicures e ma-quiadores, para fazer um “mutirão de be-leza” para mães e filhos da creche Crian-ça Cidadã. Também está previsto o proje-to “Um sonho de sorriso”, com tratamen-to odontológico às crianças das oito insti-tuições beneficiadas pela ONG.

A agenda dos projetos mostra que servoluntário não é brincadeira. “Nós fica-mos exaustos, mas também muito grati-ficados”, conta Suzy. “Sempre saímos dasações com um sorriso no rosto e uma sen-sação de dever cumprido. Acho que, nofim das contas, esse trabalho faz maisbem aos voluntários do que às crianças”,conclui a coordenadora.

Suzelayne:“Esse trabalhofaz mais bem aosvoluntários doque às crianças”

CONTATO

Quem quiser se engajarno serviço voluntário daONG Sonhar Acordado

pode entrar no sitewww.sonharacordado.

org.br/brasilia ou mandarum e-mail para

[email protected]

Jovens em ação:reforma dasparedes e mó-veis revitaliza acreche. Elesmesmos arreca-dam o material

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Neste espaço, os psiquiatras YuriMatsumoto Macedo e André LuisMacedo publicam mensalmente artigossobre saúde mental. Para saber mais,acesse www.animaconsultorio.site.med.br

André Luis Macedo, especialistaem Psiquiatria, formou-se em Medi-cina pela UnB e fez residência emPsiquiatria no Hospital de Base doDF. É psiquiatra do TJDFT, membroda Associação Brasileira de Psiquia-tria (ABP) e da Associação Psiquiá-trica de Brasília (APB).

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Yuri Matsumoto Macedoformou-se em Medicina pelaUniversidade Federal do Pará, pós-graduou-se em Medicina doTrabalho pela UniversidadeEstadual do Pará e fez residênciaem Psiquiatria no Hospital de Basedo DF. Publicou o livro Louco équem me diz (2005), com casosverídicos de pacientes psiquiátricos.Também é membro da ABP e APBr.

SAÚDE

18 Revista do Sindjus • Junho/Julho de 2011

ivemos atualmente em um momen-to de grandes exigências sociais, e

nos sentimos obrigados a ter riqueza, po-der, elegância, felicidade plena... E, sobre-tudo entre as mulheres, beleza. Apesar detodas as conquistas femininas, pouco seconsegue dos quesitos anteriores se a pes-soa não se curvar à ditadura da beleza.Nada parece ser suficiente sem beleza. Ea moda atual dita que bela é aquela queé lânguida como suas ídolos, esbelta,magra – aliás, magérrima.

Aqui começa uma classe de doençaschamadas de transtornos alimentares. Nomeio artístico, onde a beleza e a perfei-ção se impõem ainda mais como fatoresde sucesso, muitos nomes já admitiram terou ter tido um transtorno alimentar: LadyDi, Kate Moss, Alanis Morrisette, Jane Fon-da, Débora Evelyn, Victoria Beckham, El-ton John…

Os transtornos alimentares afetam emsua maioria mulheres de 12 a 35 anos,mas podem ocorrer em qualquer faixa etá-ria e também em homens. Frequentemen-te seus portadores não reconhecem ter umproblema de saúde. Eles se preocupamexageradamente com a alimentação, pesoe forma corporal, além de serem muito crí-ticos em relação ao corpo. Hoje sabemosque pode haver também algum compo-nente de hereditariedade e de problemasfamiliares nesse tipo de transtorno, nãose tratando apenas de uma escolha dita-da por padrões sociais.

Os principais tipos de transtornos ali-mentares são a anorexia nervosa e a buli-mia nervosa. Na anorexia nervosa as pa-cientes apresentam um medo enorme deengordar, mesmo já estando com o pesoabaixo do normal. A imagem que o porta-dor tem de seu corpo é alterada. Para ob-

ter o que desejam – perder mais peso –fazem restrições alimentares ou usam mé-todos para “compensar” o que comem,como usar laxantes, fazer exercícios e vo-mitar. Essas restrições alimentares e com-pensações causam distúrbios severos e atémesmo a morte. Anemia, interrupção damenstruação, osteoporose, desnutrição,constipação intestinal, peles e cabelos que-bradiços, depressão, apatia, queda da pres-são arterial e da temperatura são algunsdos efeitos.

A bulimia nervosa é um transtorno queleva as pacientes a ingerirem maiores quan-tidades de alimento em intervalos de tem-po mais curtos, se comparadas a outra pes-soa de mesmo tamanho e idade. Muitasvezes comem alimentos gelados, sem mas-tigar, sem sentir o sabor; comem até sentirdor no estômago ou ficarem exaustas, edepois vão dormir. Também ocorrem com-pensações, como vômito, uso de laxativose exercícios físicos. Na bulimia as portado-ras sentem vergonha de seus hábitos ali-mentares, costumam ingerir a comida deforma escondida, e por isso leva tempo para

V

Pesona consciência

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ESPELHOS DISTORCIDOS • Depoimentos

Com 12 anos, 1,60m de altura e 49kg,me achava gorda e tinha vergonha daminha barriga. Comecei a fazer um re-gime ‘básico’ e me exercitar. Com 13anos pesava 36kg e ainda me achavagorda. Fazia de uma a duas horas deexercício seis vezes por semana. (...)Sem perceber tinha me afastado de to-dos meus amigos, chorava muito e ti-nha vontade de morrer. Me sentia ton-ta e minha mãe resolveu me levar nomédico. Ele receitou que três vezes porsemana fosse ao hospital tomar soro.Me levavam à força (...). Com isso co-mia menos ainda porque pensava queo soro engordava. Com 32kg, minhamãe desesperada descobriu que eu es-tava vomitando. Foi quando descobri-mos a Dra. X. Com 30 kg e muito des-nutrida ela queria me internar porqueestava com anorexia nervosa.1

que sejam descobertas. O peso pode ser nor-mal ou acima do normal. As complicaçõesmais comuns são constantes inflamações degarganta, enfraquecimento dos dentes, mauhálito, problemas intestinais e renais, causa-dos pelo uso de remédios, e aumento dasglândulas parótidas.

Dada a grande incapacidade das por-tadoras de transtornos alimentares se per-ceber realmente doentes, assim como suaimagem corporal alterada, é comum en-contrar círculos de amigas na internet pro-movendo dias de NF e LF (No Food e LowFood), recomendando “dietas de emergên-cia” para perder muitos quilos em um úni-co fim de semana, fazendo uso de “pul-seirinhas pró-ana” e estimulando outrasmulheres a chegar aos “tão sonhados 40quilos” por meio da restrição e das pur-gações de alimento. Os nomes ANA e MIAsão utilizados como codinomes para Ano-rexia e Bulimia.

O tratamento dos transtornos alimen-tares deve envolver uma equipe com diver-sos profissionais. Casos graves podem de-mandar internação, para evitar a morte dapaciente. É necessária a prescrição de me-dicamentos, a recuperação da autoestimae da autoimagem e o ajuste da alimenta-ção, que devem ser feitos respectivamentepelo psiquiatra, psicólogo e nutricionista.Junto com o apoio e a compreensão famili-ar, é possível ajudar o portador a ter umavida em que os valores não passem exclu-sivamente pelo peso ou forma corporal.

Fui modelo um tempinho, mas depois deum acidente (...) fiquei um bom temponuma cadeira de rodas, passei do 55kgpara os 115kg. Já cheguei a 80kg, maspor causa de compulsões engordei denovo. Quando eu era modelo, começeicom a ANA, não por moda nem nada,nem sabia que isso era ANA. Cheguei a

“Pensava que osoro engordava”

“Não desejo a vida queeu levo a ninguém”

pesar 50kg para um desfile. A MIA veiodepois da obesidade, e ao todo são qua-se seis anos de tudo, junto com a de-pressão. Não desejo a vida que eu levopara ninguém.2

Quando fiz intercâmbio na Inglaterra,minha colega brasileira era fissurada emforma física. Dietas, exercícios, remédi-os. Passei a me achar gorda e segui oexemplo dela. Enganávamos nossa mãeinglesa, mal comíamos e dávamos fimna comida. Fui diminuindo toda a ali-mentação, fazia exercícios até não po-der mais, minha cabeça só pensava nis-so. Voltando ao Brasil continuei meachando gorda e mesmo com 39 kg emanequim 34 achava minhas coxasmuito gordas. (...) Não menstruava eachava encanação da família que se in-trometia na minha vida. Não saía maiscom amigas, usava roupa larga para nãome encherem a paciência e não queriasaber de ouvir sermões. Um dia, soubede uma terrível notícia: minha colega deintercâmbio cometera suicídio! (...) Commedo de morrer, fui para um tratamen-to psicológico. Estou com 17 anos, te-nho 1,60m e peso 41kg. Não está sen-do fácil mas acho que vou conseguir. Oque mais me apavora é a morte, maisque o medo horrível de engordar.1

“O que mais meapavora é a morte”

Fontes: 1http://umespelhocego.blogs.sapo.pt; 2http://xanacarolinax.blogspot.com

LEITURA

Mentes InsaciáveisDra. Ana Beatriz B.SilvaEdiouro, 1ª ed., 2009276 páginas

Com depoimentosintercalados porexplicações, o livrofala sobre bulimia,anorexia e compulsãoalimentar, seus diag-nósticos e os trata-mentos e acompanha-mentos adequados.

“Esta fotografia é o hor-ror. Mas o objetivo échocar para sensibilizar”,disse a modelo e atrizfrancesa Isabelle Caro, aoposar para campanha dagrife No-l-ita. Isabellemorreu no ano passado,aos 28 anos, após umalonga batalha contra aanorexia. Media 1,68m epesava 31 quilos. Suamãe cometeu suicídiodois meses depois.

PARA SENSIBILIZAR

19Revista do Sindjus • Junho/Julho de 2011

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22 Revista do Sindjus • Junho/Julho de 2011

VIOLÊNCIA

Massacre na escola de Realengo sacode o paísentorpecido com a rotina dos crimes diários e traz

de volta a discussão sobre o desarmamento

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serve uma

“Não adianta nada nosrendermos às cercaselétricas, carros blinda-dos... Enquanto tivermosmilhões de armas emcirculação, todos estare-mos desamparados”

Francisco Régis, designer gráficoe presidente do Comitê Nacional deVítimas de Violência (Convive)

Francisco Régis e a mãe,Fátima, com a foto deMaurício: “vítima da fragilidadeda lei e da impunidade”

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sequência de fotos e documen-tos cuidadosamente guardados

em um álbum que a servidora públicaMaria Alice Gonçalves de Rezende pro-tege como uma relíquia em sua mo-desta casa, no Guará, mostra os pas-sos da filha Grasiela Gonçalves de Re-zende desde que a menina abriu osolhos pela primeira vez, em um hospi-tal público de Brasília. Grasiela bebê,com os avós. Nos braços dos padri-nhos, durante o batizado, no crisma.Na escola, sorridente. Feliz, ao lado das

irmãs, Fernanda ePatrícia. Nos ensai-os fotográficos,quando estreou nacarreira de modelo.

O álbum e asaudade que nãotem dia para aca-bar são o que res-tou da filha caçulada goiana MariaAlice, funcionáriade uma escola-clas-se de Taguatinga, edo marido, o minei-ro de Campos AltosJosé Raymundo Re-

zende, que chegou a Brasília em 1957,antes mesmo da inauguração, em bus-ca do sonho que Juscelino Kubitschekespalhou por todos os cantos do país.Um tiro no coração da moça bonita ealegre, disparado pelo namorado, den-tro da casa dele, no Guará, acabou comtudo, em poucos segundos, no dia 14de agosto de 2001.

“Fui sendo empurrada pela situa-ção, desde esse dia. É um nó na gar-ganta que nunca se desfaz. Pra mim,foi ontem”, resume Maria Alice. O de-sabafo da mãe de Grasiela, quase dezanos depois da tragédia que mudou avida da família, é muito semelhante amilhares de outros, como o do desig-ner gráfico Francisco Régis, que per-deu o irmão em 1999 (veja box). Eocorre no momento em que o país trazde novo à tona o debate sobre o de-sarmamento, sob o choque do brutalassassinato a tiros de doze adolescen-tes da Escola Tasso da Silveira, em Re-alengo, zona oeste do Rio de Janeiro.Uma discussão que não poderia tersido abandonada, um problema quenão pode ser jogado para debaixo dotapete, como mostram os registros detragédias que deixaram famílias comoa de Maria Alice para sempre “com umnó na garganta”.

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Maria Alice e Grasiela:“Pra mim, foi ontem”

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“Temporão, caçula, rapa do tacho,além de irmão, Maurício tinha um quê defilho também. Foi o primeiro recém-nasci-do que vi na vida (eu tinha 17 anos). Mau-rício foi um farol em nossa família. Certavez acordei cedo e pensei ir vê-lo no berço,despertando. Qual foi a minha surpresa aome deparar com toda a família fazendo omesmo... Foi uma cena mágica. Imaginei:como deve ser feliz essa criança!

Adorei passear com meu irmão em

parques, levá-lo a festas, comprar-lhepresentes de aniversário, Natal, Dia daCriança... Eu o vi crescer, se tornar ado-lescente, um rapagão! Maurício traba-lhava em meu escritório. Era parceiro,amigo, irmão, dividíamos trabalhos, so-nhos, segredos, risos, muitos risos.

Maurício morreu porque ousou exer-cer sua liberdade. Naquele fim de tarde,ele estava embaixo do bloco com ami-gos. O assassino anunciou o assalto emandou entregar a bicicleta. Ele já esta-va descendo para entregá-la quandolevou dois tiros à queima-roupa, no pei-to. Como foi difícil acreditar nisso!

Após o enterro, visitei o local onde elefoi morto. Meu peito ardia, difícil explicar...

DEPOIMENTO

Francisco Régis Ferreira Lopes*Meu irmão

Acabou a nossa luz. Minha família nuncamais foi a mesma. Meu irmão passou a serum número, mais uma das 41.950 vítimasde homicídios ocorridos em 1999. Foi víti-ma da fragilidade da lei e da impunidade.Qualquer um pode comprar uma arma.

Não entendo por que as pessoasacreditam que uma arma garante segu-rança. A segurança deve ser tratadacomo uma questão de prevenção, deeducação, de investimento em políticaspúblicas de garantia do direito à vida.Deve envolver toda a sociedade. Nãoadianta nada nos rendermos às cercaselétricas, carros blindados... Enquantotivermos milhões de armas em circulação,todos estaremos desamparados.”

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Nessa primeira década do novo mi-lênio – que para Maria Alice foi “comose não tivesse passado” – o número defamílias brasileiras que sofreram o trau-ma de um assassinato se manteve aci-ma de 47 mil: foram 51.043 mortes em2003, 48.374 em 2004, 47.578 em2005. O número passou de 50 mil em2008, ano em que o país registrou o re-corde de 137 assassinatos por dia – umataxa de homicídios de 26,9 por 100 milhabitantes, que empurrou o Brasil parao sexto lugar no ranking dos países maisviolentos. Os dados estão registrados no

Mapa da Violência2011 – Os jovens noBrasil, realizado peloInstituto Sangari emparceria com o Minis-tério da Justiça.

O índice de 26,9é mais que o dobrodo limite de 10 por100 mil estabelecidopela OrganizaçãoMundial de Saúde. Asituação do país que

ultrapassa essa barreira, segundo a OMS,é de uma epidemia que não foi aindaregistrada nos livros de medicina, masque está levando cada vez mais brasilei-ros às ruas portando cartazes, faixas ecamisetas com fotos de suas vítimas –a epidemia da violência. A maioria é gen-te na faixa da idade de Grasiela, jovensentre 15 anos e 24 anos, como revela oMapa da Violência.

As pesquisas que reacenderam a dis-cussão sobre o desarmamento apontamo uso de armas de fogo em mais de 70%do absurdo total de assassinatos come-tidos no país a cada ano.

No estudo Homicídios por armas defogo no Brasil, publicado um ano an-tes da tragédia de Realengo, a Confe-deração Nacional dos Municípios(CNM) já avisava que o “alarmante usode armas de fogo cresce no Brasil acada ano, demonstrando a força do trá-

fico e o fácil acesso às armas no país,mesmo depois da promulgação do Es-tatuto do Desarmamento”. Essa facili-dade armou as mãos do assassino dajovem Grasiela com um revólver .38, defabricação nacional, e levou a família aengrossar o coro dos milhares de bra-sileiros que foram às ruas lutar pelaaprovação do Estatuto, em 2004 (vejaquadro na p.27).

A facilidade de comprar armas e mu-nição foi a mesma concedida aos qua-tro bandidos que tiraram a vida dos jo-vens Fernanda Braga e Jean Dias, se-questrados ao sair de uma festa no

Gama, no estacionamento da Adminis-tração Regional, e mortos com apenasum projétil, em 20 de dezembro de 1998.Bastam três reais no bolso para comprara munição capaz de acabar com a vidade dois jovens de uma vez só. A mãe deFernanda, Maria Luiza Braga, e as filhas,Cláudia e Heroneida, também transfor-maram o luto em luta e mergulharamnas campanhas por medidas de contro-le das armas. Sete anos depois de co-memorar a aprovação do Estatuto do De-sarmamento, no entanto, a família acom-panhava, estarrecida, a imagem chocan-te dos pais em busca dos corpos de seus

Facilidadepara matar

PERIGO

51 mil

armas foram roubadasdentro de residências em

2003, ano em que o númerode homicídios passou de

27 mil

VIOLÊNCIA

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filhos na escola do Realengo.A tragédia revivida pelos olhos can-

sados de Maria Alice e Maria Luiza con-firma que é preciso restringir o acessoàs armas de fogo. Na última década, essanecessidade foi exaustivamente expos-ta por especialistas e defensores de umapolítica de controle de armas para pre-venção da criminalidade e proteção davida. O país já tem uma lei para isso – oEstatuto do Desarmamento. Mas ela nãoestá sendo cumprida.

Considerado rigoroso, o Estatuto de-termina que para adquirir uma arma ocomprador precisa ter mais de 25 anos,

Uma das armas utilizadas peloassassino de Fernanda foi roubadade uma residência, exatamentecomo ocorre com a esmagadoramaioria das armas nas mãos de cri-minosos. Somente em 2003, deacordo com a Polícia Federal, fo-ram roubadas de residências 27 milarmas, no Brasil, confirmando quebandido não compra arma em loja.

Os assassinatos dos três jovensbrasilienses e o massacre dos pe-quenos estudantes cariocas tam-bém confirmam os estudos do so-ciólogo Antônio Rangel Bandeira(leia entrevista na próxima página)e da cientista social Josephine Bour-gois, no livro Armas de fogo, prote-ção ou risco?, uma espécie de guiacom 100 perguntas e respostas,lançado em 2005, durante a cam-panha do referendo que decidiriasobre proibir ou não o comércio dearma de fogo no país.

Rangel e Josephine Bourgoisrecorrem a pesquisas do Institutode Estudos da Religião (Iser), emparceria com o Viva Rio, para der-rubar o mito de que a ameaça àvida dos brasileiros “são as armasestrangeiras de cano longo e auto-máticas, contrabandeadas”. A fal-ta de pesquisas, explicam, permi-tiu que esse mito, espalhado pelolobby da indústria de armas, se po-pularizasse. O Iser, segundo eles,“avaliou 223.584 armas apreendi-das no Rio de Janeiro, entre 1950e 2003, e mostrou que 76,59%delas são brasileiras, 80% são re-vólveres e pistolas, e 63% foram fa-bricadas pela Taurus e Rossi, no RioGrande do Sul”.

A morte dos brasilienses Grasi-ela, Fernanda e Jean, e dos dozeestudantes da escola carioca con-firma o estudo de Rangel e Jose-phine. O Brasil já tem leis para evi-tar que tragédias como essas se re-pitam. O que falta, para dar um bas-ta, é apenas atitude.

comprovar real necessidade, equilíbrioemocional, aptidão psicológica e idoneida-de. Precisa também registrá-la no SistemaNacional de Armas da Polícia Federal.

A lei também proíbe o porte de armas.Com isso, quem consegue o registro nãopode circular armado. Mas sem fiscaliza-ção e controle, o comércio corre solto equalquer pessoa consegue facilmente ad-quirir uma arma em qualquer canto do país.“O massacre de Realengo só aconteceuporque o criminoso teve total facilidadepara comprar armas e munições”, avalia ocoordenador da Rede Desarma Brasil noDistrito Federal, Everardo Lopes.

Entregando oouro ao bandido

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Maria Luiza (E), com a filhaCláudia e a neta Luiza Fernanda:campanha por medidas decontrole das armas de fogo

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O brasileiro estava acostumadoa ver massacre de estudantes a ti-ros na ficção e nos noticiários so-bre os Estados Unidos, como na ma-tança de Columbine. De repente ésacudido pela morte dos doze alu-nos na escola de Realengo, no Rio.Foi uma tragédia anunciada?

Nos Estados Unidos, em apenas dezanos, foram assassinados 473 criançase jovens em escolas e igrejas. Esse fe-nômeno ia acabar acontecendo aqui,porque estamos cada vez mais pareci-dos com os Estados Unidos, na culturade violência. Os filmes e videogamesamericanos ensinam a resolver proble-mas com tiros, não com negociação. NoBrasil nós temos uma boa lei, o Estatu-to do Desarmamento, mas como elenão é aplicado, é muito fácil adquirirarmas... Com a agravante que ainda te-mos muita corrupção afetando setoresda polícia, que desviam e vendem ar-mas para os bandidos.

Isso quer dizer que podemos ter no-vas matanças em escolas brasileiras?

Outro aspecto de semelhança quecresce é a intolerância, a discriminaçãode quem é diferente. Tudo indica que oWellington (o assassino de Realengo)agiu por vingança, porque foi de tal for-ma discriminado, ridicularizado e humi-lhado quando estudou naquela escola,que acabou se vingando. Não foi à toaque matou principalmente meninas, queo humilhavam porque era manco. Nos-sas escolas não estão preparadas paraconstatar esse processo e tomar provi-dências, a partir do trabalho dos profes-sores e psicólogos. Boa parte dos mas-sacres nos Estados Unidos foi perpetra-da por jovens discriminados.

Muitas pessoas reagiram à tra-gédia de Realengo propondo pro-vidências como instalação de de-tector de metais e segurança arma-da nas escolas, para proteger as cri-

Tragédias anunciadasPara o sociólogo Antônio RangelBandeira, coordenador doProjeto de Controle de Armasdo Viva Rio, ataques como odo criminoso que matou dozeestudantes a tiros, em Realengo,no Rio de Janeiro, já era de seesperar. “Estamos cada vez maisparecidos com os Estados Unidosna cultura de violência”, diz ele,dando o exemplo dos filmes evideogames americanos queensinam nossos jovens a resolverseus problemas com tiros, nãocom negociação. Autor do livroArmas de fogo – Proteção ourisco?, nesta entrevista eleafirma que para evitar esse tipode tragédia é preciso atacar obullying e a facilidade com quequalquer um obtém armas.“O resto é paliativo”, garante.

“O tiro no coração da Grasiela tirou a ale-gria de viver da minha sogra. Ela nunca maissorriu, nunca mais o Natal foi o mesmo, umaniversário foi o mesmo. Essa ferida nuncaserá cicatrizada. A perda da irmã fez com queminha mulher não acreditasse mais no ser hu-mano como imagem e semelhança de Deus.A felicidade experimentada depois da tragé-dia sempre será diferente. Crises de choro, de-pressão, busca pela justiça... Nos apegamosa questões jurídicas para colocar o assassinona cadeia até o Júri Popular que o condenoua 18 anos e meio. Esta saga durou cinco anosaté o desfecho final. Com a progressão doregime prevista na lei, ele saiu da cadeia emtrês anos e meio. Hoje,voltou a ser preso, maspor outro crime.

Nada que eu fizesse para mudar aquele

clima pesado que durou anos surtia efeito. Pre-cisamos de ajuda profissional de psicólogos eespiritual. Acho que continuamos precisan-do.... Não há cura. O meu sogro, que na épo-ca do crime estava gravemente doente, fale-ceu. Me tornei o único homem da família. Fuicatando os cacos, aqui e acolá, para montara família desmoronada. Passados 10 anos, ador está latente. Viveremos assim para sem-pre. O tempo se encarrega de tornar a dormais tolerável. Porém, fatos semelhantes nãodevem ser esquecidos pela sociedade. A vio-lência deve ser combatida para não prevale-cer a impunidade. Preciso continuar crendonos meus iguais, nos meus semelhantes.”

DEPOIMENTO

Fernando Diniz*“Não há cura”

*Fernando Diniz é engenheiro e cunhadode Grasiela, assassinada em 2001

VIOLÊNCIA

ENTREVISTA • ANTÔNIO RANGEL BANDEIRA

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Estatuto do Desarmamento: o que mudou (ou deveria mudar)

anças. Com medidas como essasos pais de alunos podem dormirtranquilos?

Temos que atacar as causas prin-cipais, que são o bullying e a facilida-de com que qualquer um obtém ar-mas e munições na cidade. A escolatem que fazer um trabalho educacio-nal com alunos e pais de alunos emfavor da tolerância e de uma culturade paz. Tem que mudar a mentalidadee dificultar a obtenção de armas. Oresto é paliativo, como nos ensina aexperiência internacional.

Outra reação ao massacre na es-cola carioca foi a proposta de rea-lizar um novo referendo popularsobre a proibição de armas no país,defendida por alguns políticos. Porque organizações como o Viva Rioe a Rede Desarma Brasil, que lide-raram a Campanha do Desarma-mento em 2004 e 2005, agora sãocontra um novo referendo?

Somos contra novo referendo por-que o outro foi feito há pouco tempo,em 2005. Infelizmente perdemos, mascomo somos democratas, temos queacatar a decisão da maioria. Não dápara ser a favor de eleição apenas

quando se ganha. A segunda razão éporque desvia o foco. Um novo refe-rendo proporia mudar a lei, só que nogeral a lei é muito boa. O problema éque ela não é cumprida. Trata-se defazer um movimento para que os co-merciantes de armas e as autoridadesa quem cabe fiscalizar a produção,transporte, comércio e uso de armascumpram a lei. Mas os interesses en-volvidos nesse negócio milionário ini-bem ou acabam por ganhar a cumpli-cidade de muitos policiais, e a lei nãoé cumprida. Qualquer um, hoje em dia,compra arma em loja, que tem atédespachante, que vende certidão desaúde mental e de competência no usode armas, exigidos pela nova lei. Umavergonha. No que foi cumprido, o Es-tatuto já melhorou a situação. As cam-panhas de desarmamento voluntárioe a proibição de se andar armado narua já reduziram em 18% os homicí-dios por arma de fogo no Brasil. Te-mos que cumprir o resto da lei e fisca-lizar as armas e munições.

Os defensores do direito aoporte de armas para os civis ale-gam que é preciso tirar as armasdas mãos dos bandidos, e não dos

cidadãos de bem que compram aarma para sua própria seguran-ça, como propõe a campanha dedesarmamento. Desarmar pesso-as que compram armas legalmen-te ajuda a evitar tragédias?

Ajuda, por várias razões. Os ho-mens de bem compram armas parase defender, mas, agindo com surpre-sa, quase sempre o assaltante roubaa residência e a arma do cidadão. Sóem 2003 foram roubadas 40 mil ar-mas dentro de residências. Arma ébom para atacar, não para se defen-der. A defesa contra um ataque de sur-presa só funciona no cinema. Ter umaarma em casa aumenta em pelo me-nos quatro vezes os riscos de aciden-tes com crianças, suicídios e crimespassionais. Ou seja: arma não aumen-ta a segurança da casa, pelo contrá-rio, aumenta os riscos. Quem temarma tem um problema. Ela dá sóuma ilusão de segurança. A Campa-nha de Desarmamento Voluntário épara convencer essas pessoas de bema entregar a arma, para que não sejaroubada e para que sua família, as-sim, tenha mais segurança. Mas quemtem que desarmar os bandidos é apolícia. São políticas diferentes.

Aprovado em outubro de 2004, o Es-tatuto do Desarmamento entrou em vigordois meses depois, com normas de con-trole criadas para proteger a vida e a inte-gridade física da população.

A lei regula a circulação de armas,acessórios e munições, e cria meios paraaumentar a fiscalização sobre a produção,venda e exportação. Veja as mudançasmais importantes:

Criação do Sistema Nacional de Armas(Sinarm), órgão da Polícia Federal, coma atribuição de controlar as armas defogo de uso permitido – as de cano cur-to e de pequeno calibre, e espingardasdestinadas à caça de subsistência.

Para legalizar a posse da arma, o propri-etário tem que registrá-la no Sinarm.Só estão fora desse controle as armasde uso exclusivo das Forças Armadas, Po-lícia Federal, Polícias Militares e Corposde Bombeiros Militares, que são regis-tradas no Comando do Exército.O registro no Sinarm permite ao propri-etário a posse da arma em sua residên-cia, mas não autoriza o porte. Isso signi-fica que o dono da arma não pode cir-cular com ela na rua.Para adquirir uma arma é preciso com-provar a real necessidade, equilíbrioemocional, destreza e aptidão psicoló-gica para manuseio, a cada três anos.Também é preciso comprovar idoneida-

de, ocupação lícita e residência fixa. Aidade mínima passou de 21 para 25anos. A autorização passou a ser federale só pode ser concedida com permissãoexpressa do Sinarm.Policiais militares e civis só podem ad-quirir uma arma (antes eram seis).A Lei condena posse ilegal e omissão decautela, para punir donos de armas queficam ao alcance de menor de idade ouportador de doença mental.O porte ilegal de arma virou crime inafi-ançável, sujeito a pena de dois a quatroanos de reclusão.A Lei proíbe a fabricação, venda, comer-cialização e importação de brinquedos,réplicas ou simulacros de armas de fogo.

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Fabíola Góis

dia 5 de maio de 2011 entrará para a histó-ria da luta em defesa das liberdades indivi-

duais, especialmente aquelas relativas à opçãosexual. Por unanimidade, os ministros do Supre-mo Tribunal Federal (STF) reconheceram a uniãoestável de casais do mesmo sexo, também cha-mada homoafetiva. A decisão abre caminho paraque os mais de 60 mil casais homoafetivos, se-gundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Esta-tística (IBGE), tenham os mesmos direitos de umaunião estável heterossexual.

As relações homoafetivas são uma realidadeno Brasil e no mundo. A Dinamarca foi o primeiropaís a reconhecer a união de homossexuais, em1989. A Constituição da África do Sul, de 1996,foi a primeira a proibir a discriminação em razãoda orientação sexual. A Holanda foi o primeiro paísa autorizar o casamento civil entre pessoas domesmo sexo, em 2001. Na América Latina a pio-neira foi a Argentina, no ano passado.

Os magistrados brasileiros julgaram a AçãoDireta de Inconstitucionalidade (ADI) 4277 e aArguição de Descumprimento de Preceito Funda-mental (ADPF) 132, propostas, respectivamente,pela Procuradoria-Geral da República e pelo go-vernador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. A deci-são do STF tem efeito vinculante, ou seja, terá que

JUSTIÇA

Direitos assegurados aos casais homossexuais coma jurisprudência firmada pela decisão do STF:

Fazer contrato civil de união estávelIncluir o companheiro como dependente do plano de saúdeRequerer pensão alimentíciaUsufruir de benefícios previdenciáriosDividir bens constituídos ao longo da uniãoTer direito a herança, dentro das regras existentesUsufruir dos bens no caso de um dos companheiros falecerCandidatar-se à adoçãoFazer declaração conjunta do Imposto de RendaDesfrutar de visitas íntimas em presídios

Agora é lei

iguaisDireitos

Enquanto o Congresso adia asdecisões sobre o tema, STF supre

lacunas na legislação e reconhece aunião homoafetiva, beneficiando

milhares de famílias

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ser acatada pelos tribunais. Alguns jávêm concedendo decisões a favor doscasais homossexuais isoladamente. Adecisão, mesmo que ainda não insti-tua o casamento civil, serviu de moti-vação para que centenas de casais domesmo sexo se animassem a oficiali-zar a união de alguma forma.

A luta pelo reconhecimento daunião homossexual começou em 1995,quando a então deputada federalMarta Suplicy, hoje senadora pelo PT-SP, enviou um projeto de lei ao Con-

gresso Nacional para regulamentar aunião de pessoas do mesmo sexo. Oprojeto sofreu críticas por parte dabancada conservadora, alegando quea união não era constitucional.

Desde então, centenas de entida-des que defendem direitos humanospassaram a se debruçar sobre o tema.Entre elas a Associação Brasileira deLésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis eTransexuais (ABGLT), criada em 1995,que reúne 237 organizações. “Essadecisão do STF garante igualdade de

direitos, tornando a sociedade maisjusta e inclusiva. Mas não tenho dúvi-da que vai demorar para alguns seto-res da sociedade se conformarem comela”, avalia Toni Reis.

A decisão do Supremo supre umalacuna na legislação, enquanto o Con-gresso Nacional adia as decisões so-bre o tema. O militante considera queainda há muito a fazer para diminuiro preconceito e os atos discriminató-rios contra quem não se enquadra nopadrão de uma sociedade heterosse-

Homenagem colorida: marchacontra a homofobia, em 18 demaio, terminou com um abraçocoletivo ao prédio do Supremo,em agradecimento à decisão

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xual. “O Brasil tem uma tradição ma-chista muito forte, que prejudica nãosomente as pessoas homossexuais,como também as mulheres. Por isso,pode ser considerado um país atrasa-do, mas a decisão do STF colocou aJustiça brasileira entre as mais avan-çadas do mundo”, declara Toni Reis.

Os defensores da união homoa-fetiva defendem investimentos emeducação como forma de respeito àdiversidade humana e à diversidadesexual. É o que pensa Renata Barce-los, 30 anos, que vive há quatro anoscom a companheira Fran Andrade, 23anos. As duas são proprietárias de umsalão de beleza na Asa Norte e aguar-

davam a decisão do STF para ampliarseus direitos.

Elas já têm um contrato de uniãoestável que estabelece uma divisão debens, mas querem fazer um só planode saúde para a família e precisavamdesse aval do STF. As duas criam o fi-lho biológico de Fran, de cinco anos, esabem que terão abatimento se fize-rem a contratação em conjunto. Re-nata acredita que seja mais fácil tam-bém fazer a declaração do Imposto deRenda em conjunto.

Mas Renata acredita que o precon-ceito pode até mesmo aumentar de-pois da decisão do Supremo, uma vezque os que são contra a união estável

homoafetiva vão se tornar ainda maisradicais. “A decisão nos deixou emevidência. Só mesmo com investimen-to em educação o preconceito poderáser minimizado. Essa é uma questãocultural”, aponta Renata.

Essa é a mesma opinião do enge-nheiro Fernando (nome fictício), 39anos, que é casado há dez anos comFlávio (nome fictício), 29 anos. Fernan-do considera o reconhecimento daunião estável homoafetiva como umgrande avanço nas discussões sobre osdireitos dos homossexuais, mas nãoacredita que ela vá diminuir o precon-ceito. “A lei não muda conceitos”, ava-lia. Fernando conta que já sofreu pre-

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conceito ao viajar para um resort naBahia, onde só aceitavam como casaishóspedes heterossexuais.

O engenheiro também tem um do-cumento que comprova a união está-vel com Flávio, mas não o consideravasuficiente. “Se um de nós morrer, nos-sa famílias poderiam até entrar na Jus-tiça para reivindicar nossos bens. A le-galização da união estável homoafe-tiva é uma garantia de que isso nãovai acontecer”, afirma. Fernando es-pera agora que o Congresso Nacionalreconheça o casamento civil entre pes-soas do mesmo sexo. “O meu estadocivil é de solteiro, mas na prática soucasado”, reclama.

Decisão inédita e unânimeO relator das duas ações no STF

foi Ayres Britto, que votou pela inter-pretação conforme a Constituição: ex-cluir qualquer significado do artigo1.723 do Código Civil que impeça oreconhecimento da homoafetiva comouma entidade familiar. Ele argumen-tou que o artigo 3º, inciso IV, da CFveda qualquer discriminação em vir-tude de sexo, raça e cor, e que, nessesentido, ninguém pode ser diminuídoou discriminado em função de sua pre-ferência sexual. “O sexo das pessoas(...) não se presta para desigualaçãojurídica”, observou em seu relatório,seguido pelos outros ministros – a vo-tação foi unânime.

A ADI 4277 buscou o reconheci-mento da união entre pessoas do mes-mo sexo como entidade familiar. A se-gunda ação (ADPF 132, do governodo Rio de Janeiro) alegou que o nãoreconhecimento contraria preceitosfundamentais como igualdade, liber-dade e dignidade da pessoa humana,e pediu que o STF aplicasse o regimejurídico das uniões estáveis às uniõeshomoafetivas de funcionários públicoscivis do estado.

O Supremo já dava sinais de reco-nhecer essas uniões quando, há doisanos, permitiu aos seus servidores in-cluir os parceiros como dependentes noplano de saúde do tribunal. A assesso-ria do órgão não informou quantos ca-sais são beneficiados com a medida,alegando que a informação é sigilosa.

Em 19 de maio deste ano, duassemanas após a histórica decisão doSTF, o Tribunal de Justiça do DF e Terri-tórios (TJDFT) reconheceu a união ho-moafetiva para efeito de inclusão dedependentes em benefícios. Mas, ape-sar de aprovada, a decisão ainda nãoestá em vigor. É preciso que uma novaregulamentação seja elaborada, e ain-da não há data prevista.

A decisão do STF ainda não equi-vale a um casamento, apenas umaequiparação de direitos. Não dá aos

companheiros as mesmas garantiasque os casados, como a permissãopara adotar o sobrenome do compa-nheiro. Mesmo assim, faz uma grandediferença. Antes, a união homoafetivaconfigurava apenas sociedade de fato.Isso significava que casos de separa-ção não eram julgados em varas de fa-mília, mas emvaras cíveis,para tratar dadivisão debens. A uniãoera tratadacomo um acor-do comercial.

Para a ad-vogada Regi-na Beatriz Ta-vares da Silva,doutora emDireito Civi lpela Universi-dade de SãoPaulo (USP), amudança égrande, princi-palmente porque antes a dissoluçãodo relacionamento ou a morte de umdos parceiros trazia dificuldade napartilha de bens. “Os direitos de he-rança eram muitos discutíveis. Comesse acórdão há o reconhecimento deque a união homoafetiva é uma enti-dade familiar. A ela se aplicam as mes-mas regras da união entre homem emulher”, afirma.

Segundo a advogada, antes, paraque houvesse o reconhecimento dapartilha, havia um posicionamentomajoritário nos tribunais: era necessá-ria a prova de uma sociedade, comose as pessoas vivessem uma relaçãode natureza estritamente civil, e nãofamiliar, para que o companheiro re-cebesse direitos patrimoniais. “Agoraaplica-se à união homoafetiva o mes-mo regime de comunhão parcial debens de uma união estável heterosse-xual”, explica Regina Beatriz.

Regina Beatriz: “União homoafe-tiva é uma entidade familiar”

Fran e Renata: aval doSTF permitirá um sóplano de saúde e decla-ração de IR em conjunto

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Mesmo antes do STF, alguns tribu-nais já firmaram jurisprudência ao con-ceder a casais homossexuais direitosem relação à herança (metade do pa-trimônio construído em comum podeficar para o parceiro); plano de saúde(inclusão do parceiro como dependen-te); pensão em caso de morte (recebi-mento de pensão se o parceiro for se-gurado do INSS); guarda de filho (con-cessão em caso de um dos parceirosser mãe ou pai biológico da criança) eemprego (a opção sexual não pode sermotivo para demissão).

No Rio Grande do Sul, os cartóriostrabalham desde 2004 com uma nor-ma que possibilitou aos casais homos-sexuais com algum tipo de união es-tável fazer um registro. Assim, proces-sos que envolvem relações homosse-xuais são julgados pela Vara de Famí-lia. E o Rio de Janeiro foi o primeiroestado a conceder pensão a parceirose parceiras de homossexuais, em 2007.

O governo federal tenta vencer opreconceito. Em 2006, o então presi-

dente Luiz Inácio Lula da Silva lançou oprograma Brasil sem Homofobia, como objetivo de combater a violência e adiscriminação contra homossexuais. Oprograma apoia projetos de fortaleci-mento de instituições públicas e nãogovernamentais que atuam na promo-ção da cidadania homossexual e nocombate à homofobia, além de capaci-tar profissionais e ativistas que atuamna defesa dessas pessoas. Em 2004, oBrasil apresentou nas Nações Unidasuma resolução que classifica o homos-sexualismo como direito humano inali-enável. O próprio Lula abriu, em 2008,a 1ª Conferência Nacional de Gays, Lés-bicas, Bissexuais, Travestis e Transexu-ais, em Brasília.

A 2ª Conferência Nacional LGBT doBrasil será realizada em Brasília, de 15a 18 de dezembro de 2011, e foi con-vocada oficialmente pela presidentaDilma Rousseff em 18 de maio desteano. O evento será precedido por con-ferências municipais e estaduais quecontribuem para a avaliação e formu-

Iniciativas pioneiras lação de políticas municipais, estadu-ais e federais e também elegem osmais de mil delegados que participa-rão da Conferência Nacional.

No entanto, o preconceito na soci-edade ainda é forte e fez com que aprópria Dilma recuasse nas medidaspara vencê-lo. A intenção era distribuirvídeos contra a homofobia para todasas escolas públicas, mas a reação dossetores conservadores foi grande. En-tidades que defendem os direitos doshomossexuais reagiram com “perple-xidade”, “consternação” e “indigna-ção” à decisão do governo de suspen-der os vídeos.

Em nota, a ABGLT diz que a açãomacula a imagem internacional dopaís sobre direitos humanos e fere oEstado laico. O texto também criticaa ascendência da bancada religiosasobre o governo. “Um princípio bási-co do Estado republicano está sendoameaçado pela chantagem praticadahoje contra o governo federal pelabancada religiosa fundamentalista eseus apoiadores no Congresso Naci-onal”, diz o texto.

JUSTIÇA

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“Milhões de brasileiros sem direitos”

Mais de 5 mil pessoas participa-ram da 2º Marcha Nacional Contra aHomofobia na Esplanada dos Minis-térios, no dia 18 de maio. Os manifes-tantes pediam a aprovação do PL 122,que criminaliza a homofobia, e cha-maram a atenção das autoridades eda opinião pública para a realidade deopressão, discriminação e exclusãosocial vivida pelos homossexuais.

"Esperamos que o Congresso apro-ve essa lei que o STF já aprovou. Va-mos colorir o Congresso e trazer maispaz e amor para essa classe social"disse o deputado federal Jean Wyllys(PSOL-RJ). Segundo o coordenador damarcha, Evaldo Amorim, presidente do

Grupo Elos LGBT, os homossexuaisquerem cidadania plena, reconheci-mento social e respeito: "Somos mi-lhões de brasileiros sem direitos ga-rantidos", afirmou.

A concentração começou de ma-nhã em frente à Cadetral. Depois deum ato no gramado em frente aoCongresso, os participantes deram umabraço coletivo na sede do SupremoTribunal Federal, para agradecer o re-conhecimento da união estável ho-mossexual. O evento foi organizadopela Associação Brasileira de Gays,Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Tran-sexuais (ABGLT).

No Congresso, as mobilizaçõesganharam corpo: só na Câmara há atu-almente oito projetos em tramitaçãoque tratam de direitos da união ho-moafetiva. O deputado federal JeanWyllys (PSOL-RJ) apresentou uma pro-posta de emenda à Constituição (PEC)sobre o assunto. A PEC conta com maisde 70 assinaturas. Para começar a tra-mitar, é preciso 171.

Mas a resistência também é gran-de. O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ),conhecido por sua posição radicalmentecontrária aos direitos dos homossexu-ais, disse que a proposta não tem chan-ce de tramitar no Congresso. Ele criti-cou a decisão do STF e disse que “nin-guém tem orgulho de ter um filho gay”.

O cientista político David Fleis-cher, professor emérito da Universi-dade de Brasília (UnB), chama de“judicialização da política” o fato doJudiciário ter que interpretar a lei etomar decisões para responder as

demandas do mundo social e políti-co. “A causa está na omissão do Po-der Legislativo”, aponta.

Para Fleischer, quando o Legislati-vo não faz o seu trabalho, que é pro-por leis de acordo com os anseios dopovo, o Judiciário acaba tendo quecumprir esse papel. “Foi assim tambémcom projeto da Ficha Limpa. O Con-

Congresso nãobate o martelo

gresso não decidiu e o Supremo teveque bater o martelo”, afirmou.

O professor considera surpreen-dente a decisão do STF de reconhecera união estável homoafetiva, principal-mente porque ela foi unânime. “O as-sunto é muito polêmico. Ainda haveráresistências, principalmente entre reli-giosos”, comentou.

DavidFleischer:“Omissãodo PoderLegislativo”

Protestocontra opreconceito:realidade deopressão eexclusãosocial

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Fonte: Agência Brasil

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A histórica decisão dos ministros do Supremo, que no começo de maio aprovaramunanimemente o reconhecimento da união estável homoafetiva, repercutiu de

diferentes formas na sociedade: foi festejada pelo movimento GLBTT (gays, lésbicas,bissexuais, travestis e transgênicos) e criticada por grupos conservadores. A revista do

Sindjus foi a campo saber o que o servidor do Judiciário e do Ministério Públicopensa sobre o assunto, e a enquete revelou um resultado próximo à unanimidade da

Suprema Corte: a maioria dos entrevistados considerou positiva a decisão, quepermite importantes mudanças legais na vida de casais do mesmo sexo.

A decisão é precipitada,mas em razão do déficitde representatividade do

parlamento, o STF acaba sendoconduzido a ocupar o papel que

deveria ser do Congresso.Mas eu acho que é uma

questão parlamentar, e nãojudiciária. O STF tem um limite,

que é a Constituição, e nãopode se colocar na posição doparlamento. Sou contra, nostermos do que foi conferido.

Wesley Miranda, STF

Devemos respeitar o livre-arbítrio das pessoas. Todos têm

o direito de se unir a quemquiser, de ser feliz, e nós deve-mos respeitar. A decisão nãovai diminuir o preconceito. Alei inibe, mas não deixa de

haver preconceito. Não é assimque isso vai acabar na socieda-

de. Isso tudo é muito novo.Com o tempo vão respeitar odireito das outras pessoas de

serem como quiserem.

Luísa Alencar, STF

ENQUETE

Acho a decisão importante,eles têm que ter direitos iguais.Todos nós temos o direito de

ser feliz. Não adianta ficar nes-sa briga pelo direito à união

estável homoafetiva. Eu apóio adecisão sim. Ainda há precon-ceito, mas eu acho que eles

agora começam a sair do armá-rio e se assumir. Cada um tem asua escolha. Não é por isso que

você é menos inteligente oumenor que os outros.

Taísa Oliveira Peres, STJ

Eu não tenho nada contra.Todo mundo tem a sua

opção, todo mundo é livrepara escolher. Vivemos emuma democracia. A escolhaé de cada um. Todos devem

ter os mesmos direitos.Com essa decisão do

Supremo, as pessoas vãopoder se familiarizar maiscom essa ideia, discutirmais e aceitar melhor.

Romeu de VasconcelosFonseca, PGR

aprovadaMudança

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Acho que a decisão doSupremo é justa e acho

também que ela demoroumuito. Vivemos em um

estado laico e,independentemente da

opção sexual de cada um,somos cidadãos e devemoster os mesmos direitos. Éimportante ter direito a

herança e a plano de saúde.E é um passo para diminuiro preconceito da sociedade.

Auger Carriconde, STJ

O STF reconheceuuma situação que já vemacontecendo há muito

tempo e que vai facilitar avida dessas pessoas. Elas têm

direitos iguais, porque jávivem em união estável.

O Judiciário reconheceu paraevitar os vários processos

que poderiam surgir. Mas eunão acho que o preconceito

na sociedade vá mudar.

Daniela Borges dosSantos, MPDFT

Não sou contra essadecisão do STF. É uma

questão importante parao casal, e se eles lutaramtanto por isso, não sou eu

que vou ser contra. Ainda hápreconceito na sociedade.O reconhecimento não foi

precipitado, até porqueoutros países também já

reconhecem esses direitos.Eles devem ter direito apensão e herança sim.

Vanilda Gomes, STJ

Eu sou a favor, mas elesvão ter problemas como oscasais heterosexuais hoje

em dia, em relação a divór-cio, guarda dos filhos...

Vai ser a mesma dinâmica,mas eles têm os mesmos

direitos sim. Quanto ao pre-conceito, não sei se vai mu-dar muito. Talvez até piore,

principalmente para aquelesque são mais religiosos, que

podem não concordar.

Eduardo Coelho, PGR

Sou favorável à decisão dereconhecer a união estável.Os casais gays têm direitos

como qualquer pessoa,independente do sexo.

Pelo menos em termos debens financeiros, eles

podem compartilhar a vidanormalmente. Em caso de

morte, não vão mais precisartravar uma batalha judicialdepois. Eu acho que seriainjusto se não fosse assim.

Alisson de Castro, STF

A decisão não é só necessáriapara o Estado Democráticode Direito: é mais do que

justa. Não tem como,na sociedade contemporâneaonde vivemos, uma decisãodessas ser de outra maneira.Mas não sei se a maioria dasociedade esperava por isso.

O preconceito é velado,mas ainda existe. A

tendência dessa decisão éminimizar o preconceito.

Vinícius Costa Batista, STF

Sou a favor, cada umdeve ser livre para fazer o

que quiser da vida. Emboranão seja a minha opção, eurespeito a opção das outras

pessoas. Eles devem terdireito a dividir tudo, direitoa plano de saúde, pensão.

Se duas pessoas vivemjuntas, como casal, não vejo

nada de errado. Essadecisão já é um começo

para diminuir o preconceito.

Jader Nogueira, PGR

A decisão é certa.Sou totalmente a favor.

Todo mundo tem o direitode ter o seu parceiro,não importa o sexo.

Acho que foi importanteesse reconhecimento.Agora ficou claro paratodo mundo que eles

podem ter união estável.O preconceito ainda é

grande, mas essa decisãopode diminuí-lo.

Célia Lopes Silveira, STJ

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Do alto dos seus 95 anos,o poeta Manoel de Barrosensina que o ser humano

é incompleto, e que isso nãoé defeito; é qualidade.Assim como ele, muitas outras

pessoas precisam ser Outras.E são. Esta coluna publicarámensalmente histórias de gente

que concilia o serviço públicocom as mais diversasatividades. São atletas, chefes

de cozinha, professores,pintores, mágicos, mecânicos,músicos... A lista não tem fim.

OUTROS EUS

A maior riqueza do homemé a sua incompletude.Nesse ponto sou abastado.Palavras que me aceitam comosou – eu não aceito.Não aguento ser apenas umsujeito que abreportas, que puxa válvulas,que olha o relógio, quecompra pão às 6 horas da tarde,que vai lá fora,que aponta lápis,que vê a uva etc. etc.PerdoaiMas eu preciso ser Outros.Eu penso renovar o homemusando borboletas.

Manoel de Barros

36 Revista do Sindjus • Junho/Julho de 2011

Thais Assunção

os dez anos de idade, quando se apaixonoupela música, a servidora do TJDFT Minasia-

nes Divina Pires começou a fazer apresentaçõesna casa dos vizinhos, em Goiás. O repertório eracomposto por músicas regionais e sertanejas,como Tião Carreiro e Almir Sater, entre outros.

A influência do pai foi decisiva nas escolhasfeitas nesse início de carreira. O “palco” era di-vidido com o irmão mais novo, Austenes. Os vi-zinhos adoravam ver aquelas duas crianças can-tando músicas que os remetiam aos tempos dejuventude ou de infância. “Era uma grande ale-gria para mim e para o meu irmão. Adorávamoscantar e ver os vizinhos felizes com as nossasapresentações”, recorda Minasianes.

Mas a mudança para Brasília adiou os pla-nos de se tornar cantora profissional. Como aprofissão é arriscada e não oferece segurançafinanceira, Minasianes decidiu se dedicar aosestudos – mais especificamente aos concursos:“Cheguei a Brasília com quinze anos de idade esempre estudei muito. Queria ter um empregoseguro para poder me dedicar à música.”

Mas, em 1998, aprovada no concurso doTJDFT, Minasianes voltou a se concentrar na car-reira musical. Seu repertório estava mais amploe incluía MPB, pop e rock. A servidora escutavaprincipalmente Marisa Monte, Elis Regina e Le-gião Urbana. “É difícil definir o meu repertório,porque gosto de músicas variadas. Depois quevim para Brasília, conheci muita coisa fora doestilo sertanejo e me apaixonei”, conta.

Além de voltar a cultivar o lado musical, Mi-nasianes decidiu estudar para tornar mais pro-fissionais os seus shows. “Estudei teatro no Dul-cina, teoria musical no Instituto Claude Debussye desde 2005 até hoje sou aluna de canto po-pular na Academia Espaço Sonoro. Também te-

Por verdes campos eu andopor tempos eu sigo assimtransparência, vida, mistério...Abraçando afluentes eu vim

‘ ‘‘ ‘(Trecho do poema O rio em mim,

de Minasianes)

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nho uma fonoaudióloga que cuida daminha voz”, relata ela.

O primeiro show dessa nova fase foiem outubro de 2009: Mina Ziane – Con-to e Poesia, no Sesc da 504 sul. O segun-do, com o mesmo nome, foi em abril de2010, no Teatro do Guará. No último mêsde maio ela apresentou Mina Ziane –MPB e pop, no Casa Park. “Meu nome édiferente, mas sempre gostei muito dele.Só que é difícil de ser compreendido, en-tão criei esse nome artístico”, explica.

A cantora conta também que o “cha-mamento do Sindjus” despertou um ou-tro dom artístico, que logo se entrelaça-ria à música. Foi em 2004, no concursoRaquel de Queiroz, promovido pelo sin-dicato. “Eu me senti influenciada, comose aquilo fosse um pedido. O sindicatoestava pedindo textos, então escrevi. Fizuma crônica que acabou premiada emprimeiro lugar. Depois disso continuei aescrever e hoje tenho vários textos e le-tras de músicas, marchinhas e até um

Minasianes, servidorado TJDFT e cantora:“chamamento doSindjus” despertou avontade de escrever

samba”, recorda a servidora.A escritora e a cantora estão ligadas

por uma corrente que Minasianes nãopretende romper: ”Acho que a escrita ea música não se separam. Sempre apre-ciei aquelas canções com letras que fa-lam de temas mais profundos. Desdecedo eu prestava muita atenção às le-tras das músicas. Agora, escrevendo,posso fazer essa junção com temas apro-fundados, e isso se uniu ao estilo de mú-sica que gosto”, observa.

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Não serei o poeta de um mundo caduco.Também não cantarei o mundo futuro.Estou preso à vida e olho meus companheiros.Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.Entre eles, considero a enorme realidade.O presente é tão grande, não nos afastemos.Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,a vida presente.

Mãos dadas • Carlos Drummond de Andrade

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JUSTIÇApara os servidores do Judiciário e MPU

Aprovação dos PLs 6613 e 6697

JÁ!

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BERTO/STF