Filosofia 10/11 resumos

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  • 8/17/2019 Filosofia 10/11 resumos

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    Filosofia 10º/ 11º anos

    I. Iniciação à Atividade Filosófica

    1. Abordagem introdutória à filosofia e ao filosofar

    1.3. A dimensão discursiva do trabalo filosófico

    Define-se por vezes as disciplinas em termos de ob!eto e m"todo#

     O ob!eto de estudo da aritmética elementar é as principais propriedades da adição, da

    subtração, etc. O seu m"todo é a demonstração matemática.

      O ob!eto de estudo da biologia é as propriedades dos organismos vivos. O seu

    m"todo é a observação e a elaboração de teorias que depois são testadas, por vezes em

    laboratórios.

    Obeto e método da filosofia!

     " filosofia tem como ob!eto os conceitos mais básicos que usamos nas ci#ncias, nas

    artes, nas religi$es e no dia a dia. " filosofia estuda conceitos como os seguintes! o bem

    moral, a arte, o con%ecimento, a verdade, a realidade, etc. O seu m"todo é a troca de argumentos, a discussão de ideias.

    "s definiç$es deste tipo não são muito informativas. &ara compreender o que é a

    filosofia o mel%or é ver alguns e$em%los do que se faz em filosofia.

    &$em%los de problemas da filosofia!

     'erá que tudo é relativo(

     'erá que a vida tem sentido( ) se tem, qual é(

     *omo se ustifica a e+ist#ncia do )stado, das eis, e da &olcia(

     'erá que não faz diferença fazer sofrer os animais(

     'erá que Deus e+iste realmente, ou será que os ateus t#m razão e os crentes estão

    enganados(

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    Filosofia 10º/ 11º anos

    )stes problemas surgem naturalmente da nossa capacidade para pensar, em contacto

    com o mundo. Outros problemas surgem da nossa refle+ão sobre as ci#ncias, as

    religi$es e as artes!

     O que é realmente a arte( ) o que é a msica(

     *omo poderemos conciliar a e+ist#ncia de um Deus bom e sumamente poderoso e

    sábio com tanto sofrimento no mundo(

     O que é realmente uma lei da fsica( ) como podemos ter a certeza que essas leis são

    verdadeiras(

    " filosofia é uma refle+ão que surge naturalmente.

    /as nem toda a refle+ão que surge naturalmente é filosófica.

     "s res%ostas %essoais 0s perguntas filosóficas não são respostas filosóficas.

     &odemos e devemos partir das nossas convicç'es %essoais.

      /as só começamos a fazer filosofia quando e+igimos  !ustificaç'es %(blicas  para

    essas convicç$es.

    )aracter*sticas im%ortantes da filosofia#

     " filosofia é uma atividade crtica1

     " filosofia é consequente1

     " filosofia é um estudo conceptual ou a priori;

     " filosofia é diferente da %istória da filosofia.

    O que significa dizer que a filosofia é uma atividade cr*tica+ 'ignifica que temos de

     ustificar as nossas conclus$es. ) ustificar conclus$es é apresentar argumentos.

    A im%ort,ncia dos argumentos em filosofia#

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    Filosofia 10º/ 11º anos

     &recisamos de argumentos para mostrar que os %roblemas que estamos a estudar não

    são meras ilus$es e confus$es. &or e+emplo, será que o problema do sentido da vida faz

    sentido( &orqu#(

     &recisamos de argumentos para avaliar as res%ostas que os filósofos e nós próprios

    damos aos problemas da filosofia. &or e+emplo, será que a resposta que &latão dá ao

     problema da imortalidade da alma é boa(

     ) precisamos de saber avaliar argumentos porque os filósofos passam grande parte

    do seu tempo a apresentar argumentos a favor das suas ideias e contra as ideias que eles

    ac%am que estão erradas. &or e+emplo, será que o argumento de 'anto "nselmo a favor 

    da e+ist#ncia de Deus é bom(

    &orque a filosofia é uma atividade critica, avalia cuidadosamente os nossos

    %reconceitos mais básicos.

    O obetivo do estudo da filosofia não é re%etir o que diz o professor ou o manual. O

    obetivo é aprender a %ensar  sobre os problemas, as teorias e os argumentos da

    filosofia.

    )m filosofia, o estudante tem a liberdade de defender o que quiser, mas tem de adotar

    uma atitude cr*tica!

     2em de sustentar o que defende com bons argumentos1

     2em de aceitar discutir os seus argumentos.

     -er cr*tico não " dier mal. 'er crtico é ol%ar com imparcialidade para todas as

    ideias para podermos avaliar se são verdadeiras ou não.

     -er cr*tico não " ser e$travagante. 'er crtico não é dizer 34ão5 só para marcar a

    diferença. 'er crtico é dizer 3'im5, 34ão5, ou até 32alvez5, mas com base em bons

    argumentos.

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    " filosofia é uma atividade dialogante# consiste em trocar e discutir ideias. " diferença

    entre uma discussão filosófica e uma gritaria, por e+emplo, é esta! em filosofia

    discutimos para c%egar 0 verdade das coisas, independentemente de saber quem

    3gan%a5 a discussão1 numa gritaria discute-se para 3gan%ar5 a discussão,independentemente de saber de que lado está a verdade.

    O pensamento filosófico " conseuente. 'er consequente é aceitar as consequ#ncias das

    nossas ideias.

      'omos livres para defender as posiç$es que queremos1 mas teremos de ser 

    responsáveis pelas consequ#ncias do que defendemos. 'e defendemos que toda a vida é

    sagrada e que isso quer dizer que nunca devemos matar um ser vivo, não podemos ao

    mesmo tempo defender que se pode comer salada de alface. 'e defendemos que tudo é

    relativo e que não %á verdades, não podemos defender que esta ideia é verdadeira.

    Os tr2s elementos centrais da filosofia!

     &roblemas

     2eorias

     "rgumentos

    Os filósofos, ao longo dos séculos, t#m proposto teorias que tentam resolver os

     problemas filosóficos. )ssas teorias apoiam-se em argumentos.

    O nosso papel perante os problemas, as teorias e os argumentos da filosofia é duplo!

    6. 'aber formulá-los claramente.

    7. 'aber discuti-los com rigor.

    Os problemas da filosofia não se resolvem ol%ando para o mundo para recol%er 

    informação. 8 por isso que dizemos que a filosofia é um estudo a %riori ou conce%tual.

    9ueremos dizer que a filosofia se faz unicamente com o pensamento.

     *on%ecimento em%*rico ou a %osteriori! baseia-se na e+peri#ncia.

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    )+emplos! para saber se %á vida em /arte é necessário enviar sondas e fazer 

    observaç$es. &ara saber qual é a natureza da ':D" é necessário fazer observaç$es e

    e+peri#ncias laboratoriais.

     *on%ecimento conce%tual ou a %riori! baseia-se no pensamento apenas.

    )+emplos! para saber se ; é um nmero par basta dividi-lo por dois e ver se o resultado

    é um nmero inteiro. &ara saber se todos os obetos verdes t#m cor basta pensar no

    conceito de verde e de cor.

    O estudo filosófico " a priori , mas temos de ter informaç$es sobre tudo o que for 

    importante para a solução dos problemas que estamos a tratar.

      " filosofia é inevitvel  porque não é mais do que a procura sistemática de

     ustificaç$es sensatas para as nossas ideias mais básicas.

     " filosofia op$e-se ao dogmatismo porque nen%uma ideia tem o direito de suplantar 

    quaisquer outras ideias, enquanto não mostrar que é realmente mel%or do que as outras.

    " filosofia é diferente da sua istória.  )m %istória da filosofia estudamos o que osfilósofos dizem só para saber o que eles dizem. 4a filosofia estudamos o que os

    filósofos dizem para discutir as suas ideias.

     )studar filosofia é como estudar msica e estudar %istória da filosofia é como estudar 

    %istória da msica. 4um caso, aprendemos a tocar um instrumento ou a compor peças

    musicais1 no outro, aprendemos apenas a apreciar a msica do passado. 4um caso,

    aprendemos a discutir ideias e a propor ideias e a defend#-las1 no outro, aprendemos

    apenas a formular as ideias dos outros.

    4ara ue serve a filosofia+

     " filosofia serve para alargar a nossa com%reensão das coisas5 como as ci#ncias, as

    artes e as religi$es.

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      " filosofia serve para mudar as nossas vidas5 como as ci#ncias, as artes e as

    religi$es.

    )+emplos!

     6on -tuart 7ill5 A Submissão das Mulheres ?@

     4eter -inger, Libertação Animal

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    Filosofia 10º/ 11º anos

    9uem sabe argumentar bem toma mel%ores decis$es, porque as decis$es que tomamos

    são baseadas em argumentos. " filosofia auda a tomar mel%ores decis$es.

    8s argumentos

      Bm argumento é um conunto de proposiç$es organizadas de tal modo que uma

    delas é a conclusão que defendemos com base na outra ou nas outras, a que se c%amam

    as %remissas.

     4em todos os conuntos de proposiç$es são argumentos. 'ó os conuntos de proposiç$es

    organizadas de tal modo que ustifiquem ou defendam a conclusão apresentada são

    argumentos.

    *%ama-se entimema  a um argumento em que uma ou mais premissas não foram

    e+plicitamente apresentadas. 2entar encontrar as premissas ocultas do nosso

     pensamento é uma parte importante da discussão filosófica.

    &erante um te+to que defende ideias devemos fazer o seguinte!

    6. Descobrir o que o autor quer defender. :sso é a conclusão.

    7. Descobrir que raz$es ele dá para defender essa conclusão. )ssas raz$es são as

     premissas.

    C. 'e o autor omitiu premissas, acrescentá-las.

    . Eormular o argumento de maneira completamente e+plcita.

    9efinição dos conceitos nucleares

    4roblema# algo que se pretende resolver1

    )onceito#  é uma abstração elaborada pela razão, a partir dos dados obtidos na

    e+peri#ncia, e que serve para designar toda uma classe de obetos ou seres1

    :ese# é uma proposição que se apresenta para ser defendida, no caso de impugnação.

    2ema, assunto a tratar1

    Argumento# é um conunto de proposiç$es organizadas de tal modo que uma delas é a

    conclusão que defendemos com base na outra ou nas outras, a que se c%amam

     premissas.

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    As disci%linas da Filosofia e os %roblemas de ue tratam

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    II. A ação umana e os valores

    1. A ação umana ; anlise e com%reensão do agir

    1.1. A rede conce%tual da ação

      " Eilosofia da "ção é uma rea interdisci%linar que col%e contributos da

    7etaf*sica, da Filosofia da 7ente, da 4sicologia e da moderna :eoria da 9ecisão.

     O ob!eto de estudo da Eilosofia da "ção é a  !ustificação da crença na racionalidade

    da ação umana. 

      Distingue-se da 8tica por não considerar os aspetos morais do agir, analisando

    apenas o que está na base da ação F crenças5 dese!os5 intenç'es5 motivos e causas.

     O seu m"todo consiste na análise das frases de ação, mediante as quais os agentes

    descrevem e e$%licam o que fazem!

    3&or que fizeste X (5 - Fiz X %orue

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    6. Hoão desea %erdar uma fortuna e cr# que o mel%or a fazer para satisfazer o seu deseo

    é matar o seu pai abastado. /as este pensamento p$e-no tão nervoso que, ao conduzir 

    desaeitadamente o seu carro, mata um peão que é, afinal, o seu paiI )ometeu ou não

    um %arric*dio(

     " atribuição da res%onsabilidade depende de determinarmos se a morte de seu pai

    constitui, ou não, uma ação de 6oão.

    2emos, então, de procurar ual " o as%eto que nos permite dizer que um

    acontecimento " uma ação.

      'erá a sua associação a um ser umano( /as %á acontecimentos que envolvem

    %essoas, mas que claramente não são aç'es  F por e+emplo, escorregar .

      'erá a e+ist#ncia de movimentos cor%orais+ /as %á aç'es sem movimento

    cor%oral

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    7. Os membros de uma famlia estão sentados 0 mesa a comer uma feioada. &stão

    todos a faer a mesma ação ou aç'es diferentes+

     4or um lado, podemos dizer que todos os familiares estão a comer a mesma coisa,

    no mesmo local e 0 mesma %ora1

     4or outro lado, cada pessoa poderá possuir intenç$es  diferentes ao comer

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    C. Bma pessoa afirma que prefere os Limp %iz&it a 'orah (ones e esta cantora a %ach.

     4o entanto, diz preferir %ach aos Limp %iz&it . )omo e$%licar esta irracionalidade das

    suas %refer2ncias+

     Dizemos que as suas prefer#ncias são irracionais porque são não transitivas.

     O que é a transitividade( 8 uma %ro%riedade de relaç'es! se uma entidade M tem

    uma certa relação com uma entidade N e se esta entidade N tem o mesmo tipo de relação

    com uma entidade , então a entidade M está nesse tipo de relação com a entidade .

    )+emplos!

    6. O é ) mais alto do "ue o *%ico1 o *%ico ) mais alto do "ue o 9uim. ogo, o é )

    mais alto do "ue o 9uim. " relação ser mais alto do "ue " transitiva.

    7. O Puil%erme ) o pai do &edro1 o &edro ) o pai da Hoana. /as o Puil%erme não é o

     pai da HoanaI " relação ser pai de " não transitiva.

      Ora, as aç$es são ob!eto de %refer2ncias e as nossas prefer#ncias, se forem

    racionais, deverão ser transitivas!

    'e preferes comer feioada a comer filetes de pescada

    e se preferes comer filetes de pescada a comer 4estum,

    o que será racional que prefiras Q feioada ou 4estum(

      8 legtimo pensar que qualquer comportamento racional terá de se conformar à

    transitividade das %refer2ncias. /as os estudos empricos da &sicologia mostram que

    isto nem sempre acontece, o que intriga muito os filósofos.

    omo e*plicar a irracionalidade das prefer#ncias$

     *%ama-se 3acrasia5 a uma falta de força de vontade. Bm agente tem falta de força

    de vontade se tiver o dese!o de produzir um certo efeito e tiver a crença de que uma

    dada ação é a mel%or forma de produzir esse efeito e, no entanto, não realizar esta ação.

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    Filosofia 10º/ 11º anos

     &ara compreender o que está em causa quando perguntamos 3)omo com%reender o

    fenómeno da acrasia+5, analisemos o seguinte e+emplo!

    'e deseas verdadeiramente respeitar os direitos dos animais e se acreditas que a mel%or 

    maneira de o fazer é dei+ando de comer carne, pei+e, leite ou ovos, como com%reender

    ue o continues a comer tudo isto+

     Aristóteles refletiu sobre a acrasia e pensou que a e+plicação das aç$es acráticas só

     poderia ser feita se dispusesse de um modelo de e$%licação de aç'es racionais. )sse

    modelo e+plicativo ficou con%ecido como 3silogismo %rtico5!

    6. O agente tem o deseo de produzir um efeito ).

    7. O agente cr# que fazer a ação " é o mel%or modo de alcançar ).

    C. ogo, o agente faz "

      4este modelo as premissas 6 e 7 são a  !ustificação racional da ação enunciada na

    conclusão, em C. 'e os agentes forem racionais, deverão poder e+plicar as suas aç$es

    com base nos seus dese!os e crenças, com os quais as aç$es devem ser coerentes.

      4uma ação acrtica, isto não acontece. Reamos o e+emplo do fumar como

    resultado de fraqueza irracional da vontade!

    6. O "ntónio tem o deseo de ser saudável.

    7. O "ntónio acredita que não fumar é a mel%or maneira de ser saudável.

    C. 4o entanto, o "ntónio fuma.

    "ssim conclumos que para falar de ação, implica falar de um agente, uma intenção e

    uma motivação.

    'endo resumido neste quadro!

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    Filosofia 10º/ 11º anos

    :ntenção /otivo "gente o mesmo que %ro!eto, isto

    é, aquilo que nos propomos

    fazer ou o propósito da ação

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    Filosofia 10º/ 11º anos

    1. A ação umana ; anlise e com%reensão do agir

    1.=. 9eterminismo e liberdade na ação umana

      " liberdade de ação é um importante tópico discutido em Eilosofia. 4a tradição

    ocidental moral, religiosa e !ur*dica, conceitos como os de res%onsabilidade , cul%a e

    im%utabilidade estão vinculados ao de liberdade.

      4essa tradição, um agente é res%onsabilivel  por uma ação apenas no caso de ter 

    sido livre para agir como agiu. &or e+emplo, um indivduo é cul%ado aos ol%os de Deus

    se tiver pecado quando podia não o ter feito1 um criminoso é im%utvel aos ol%os da

    Hustiça se tiver cometido um crime quando podia evitá-lo.

     Mas se algu)m )  forçado a agir de uma certa forma+ ser, leg-timo responsabilizá-lo

     pela sua ação/(

      9ue Sforças> condicionam as nossas aç$es( &odemos recon%ecer tr2s ti%os de

    condicionantes da ação!6. F*sicas! as aç$es dependem da estrutura anatómica e fisiológica do agente e das leis

    naturais que regem os fenómenos do mundo1

    7. 4sicológicas! a personalidade, o caráter, a força de vontade ou a falta dela, os

    estmulos e as motivaç$es são aspetos que influenciam o tipo de aç$es que

    empreendemos1

    C. )ulturais! as viv#ncias, as normas, as tradiç$es, os %ábitos e costumes, e todas as

    circunstLncias polticas, económicas e sociais que, enquanto agentes, nos relacionam

    com outros agentes, condicionam claramente as nossas aç$es.

      'erá que as condicionantes da ação impossibilitam a liberdade de ação(  -eremos

    realmente livres ou a ser a liberdade a%enas uma ilusão(

    &ara compreendermos o significado desta pergunta, teremos de dominar uma noção

    essencial F a de causalidade.

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    Filosofia 10º/ 11º anos

     Bma cadeia causal é uma sucessão de acontecimentos na qual cada um deles é causa

    do acontecimento que l%e sucede e cada um deles é efeito  do acontecimento que o

    antecede!

     Bma conceção determinista da ação salienta que as aç$es são acontecimentos que

    t#m lugar no mundo e que, portanto, estão integradas em cadeias causais! ora são

    efeitos  de acontecimentos anteriores

  • 8/17/2019 Filosofia 10/11 resumos

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    Filosofia 10º/ 11º anos

     "s %rimeiras defendem que o livre-arbtrio " com%at*vel com o determinismo1 as

    segundas defendem que o livre-arbtrio não " com%at*vel com o determinismo.

     :eorias que res%ondem ao problema do livre-arbtrio!

    &$em%lo do %roblema do livre@arb*trio

     O problema do livre-arbtrio, um dos mais antigos e intratáveis da filosofia, começa

    com uma certa inadequação terminológica. " e+pressão portuguesa Ulivre-arbtrioU,

    assim como a e+pressão Uliberdade da vontadeU, que é tradução do ingl#s Ufreedom of 

    t%e JillU, são enganosas, pois nem o uzo nem a vontade são os fatores preponderantes.

    /enos comprometida seria a e+pressão Uliberdade de decisãoU ou Uliberdade de

    escol%aU ou, mel%or ainda

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    Filosofia 10º/ 11º anos

      Eeita essa advert#ncia terminológica, passemos 0 e+posição do problema. )le diz

    respeito ao conflito e+istente entre a liberdade que temos ao agir e o determinismo

    causal. &odemos introduzi-lo considerando as tr#s proposiç$es seguintes!

    6. 2odo o evento é causado.

    7. "s nossas aç$es são livres.

    C. "ç$es livres não são causadas.

     " proposição 6 parece geralmente verdadeira! cremos que no mundo em que vivemos

     para todo evento deve %aver uma causa. " proposição 7 também parece verdadeira!

    quando nos observamos a nós mesmos, parece óbvio que as nossas decis$es e aç$es são

    frequentemente livres. 2ambém a proposição C parece verdadeira! se as nossas aç$es

    fossem causalmente determinadas, elas não poderiam ser livres.

     O problema do livre-arbtrio surge quando percebemos que as tr#s proposiç$es acima

    formam um conunto inconsistente, ou sea! não é possvel que todas elas seam

    verdadeirasI 'e admitimos que todo evento é causado e que a ação livre não é

    causalmente determinada

  • 8/17/2019 Filosofia 10/11 resumos

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    Filosofia 10º/ 11º anos

    )spinosa, 'c%open%auer e Tenri dVTolbac%. " segunda alternativa c%ama-se libertismo!

    ela não tem problemas em admitir que o mundo ao nosso redor é causalmente

    determinado, mas abre uma e+ceção para muitas de nossas decis$es e aç$es, que sendo

    livres escapam 0 determinação causal. *om isso o libertismo reeita a validade universal

    do determinismo e+pressa pela proposição 6. )ssa é a posição de "gostin%o, Kant e

    Eic%te. Einalmente %á o compatibilismo, que tenta mostrar que a liberdade de ação é

     perfeitamente compatvel com o determinismo, reeitando a ideia de liberdade e+pressa

    na proposição C. Tistoricamente, Tobbes, Tume e /ill foram famosos defensores do

    compatibilismo. 4o que se segue, quero considerar isoladamente cada uma dessas

    soluç$es, argumentando finalmente a favor do compatibilismo.

    1. 9eterminismo

     O determinismo parte da consideração de que, da mesma forma que podemos sempre

    encontrar causas para os eventos fsicos que nos cercam, podemos sempre encontrar 

    causas para as nossas aç$es, seam elas quais forem. *om efeito, sendo como somos

     produtos de um processo de evolução natural, seria surpreendente se as nossas aç$es

    não fossem causadas do mesmo modo que o são outros eventos biológicos, tais como a

    migração dos pássaros e o fototropismo das plantas. /esmo que o princpio da

    causalidade não sea garantido e que no mundo da microfsica ele ten%a sido inclusive

    colocado em dvida, no mundo %umano, constitudo pelas nossas aç$es, pensamentos,decis$es, vontades, esse princpio parece manter-se plenamente aceitável. De facto,

    admitimos que as decis$es ou aç$es %umanas são causadas. "lguns poderão dizer que

     4apoleão invadiu a Wssia por livre decisão da sua vontade. /as os %istoriadores

    consideram parte do seu ofcio encontrar as causas, procurando esclarecer as motivaç$es

    e circunstLncias que o induziram a tomar essa funesta decisão. 4a determinação das

    nossas aç$es, as causas imediatas podem ser e+ternas

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    diante de um sinal vermel%o@ ou internas

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    Filosofia 10º/ 11º anos

    atos quanto faz sentido responsabilizar a pedra por ter cado. 2ais dificuldades levam-

    nos a considerar a posição oposta.

    =. ibertismo

     O libertista reeita o determinismo por considerar as conclus$es acima inaceitáveis.

    )le também reeita a primeira premissa do argumento determinista. O princpio da

    causalidade, enunciável como U2odo o evento tem uma causaU, não parece ter a sua

    validade universal garantida. *ertamente, esse princpio é e+tremamente til, valendo

    em geral para o mundo que nos circunda e mesmo para muitas de nossas aç$es. /as

    nada nele garante que a sua validade sea universal. 4ão podemos pensar que " X Y" ou

    que 6 Z 6 X C, mas podemos perfeitamente conceber um evento no universo surgindo

     sem nenhuma causa. " isso o libertarista poderá adicionar que nós simplesmente

     sabemos que somos livres. Tá uma grande diferença entre um comportamento refle+o e

    um comportamento resultante da decisão da vontade. 4ós sentimos que no ltimo caso

    somos livres, que podemos decidir sempre de outro modo.

     &ara ustificar essa posição, o libertista costuma lançar mão de uma teoria da ação, tal

    como foi defendida por Wic%ard 2a[lor ou por Woderic\ *%is%olm. 'egundo essa teoria

    0s vezes, ao menos, o agente causa os seus atos sem qualquer mudança essencial em si

    mesmo, não necessitando de condiç$es antecedentes que seam  suficientes  para

     ustificar a ação. :sso acontece porque o eu é uma entidade peculiar, capaz de iniciar 

    uma ação sem ser causado por condiç$es antecedentes suficientesI Roc# poderá

     perguntar-se como isso é possvel. " resposta geralmente oferecida é que não pode

    %aver e+plicação. &ara responder a uma pergunta como essa teramos de interrogar o

     próprio eu, considerando-o obetivamente. /as, como quem deve considerar 

    obetivamente o eu só pode ser aqui o próprio eu, isso é impossvel. 2entar interrogar o

     próprio eu é tentar, como o barão de /]nc%ausen, alçar-se sobre si mesmo pondo os pés

  • 8/17/2019 Filosofia 10/11 resumos

    22/207

    Filosofia 10º/ 11º anos

    sobre a própria cabeça. O eu da teoria da ação é um eu esquivo ^..._. )le é um eu

    autodeterminador, capaz de iniciar aç$es sem ser causado. 'omos, quando agimos,

    semel%antes ao deus aristotélico! somos causas não causadas, motores imóveis. O

    argumento que conduz 0 teoria da ação tem a forma!

    6. 4ão é certo que todo o evento é causado.

    7. 'abemos que as nossas aç$es são frequentemente livres.

    C. "s aç$es %umanas livres não podem ser causadas.

    . &ortanto, a ação %umana não precisa de ser causada.

     )mbora essa solução preserve a noção de livre ag#ncia, ela tem o inconveniente de

    e+plicar o obscuro pelo que é mais obscuro ainda, que é um mistério a ser aceite sem

    questionamento. " pergunta que permanece é se não %á uma solução mais satisfatória. "

    solução que veremos a seguir, o compatibilismo, é %oe a mais aceite, sendo uma

    maneira de tentar preservar as vantagens das outras duas sem as correspondentes

    desvantagens.

    3. )om%atibilismo# definiç'es

      'egundo o compatibilismo, também c%amado de determinismo moderado ou

    reconciliatório, nós permanecemos livres e responsáveis, mesmo sendo causalmente

    determinados nas nossas aç$es. O raciocnio que conduz ao compatibilismo tem aforma!

    6. 2odo o evento é causado.

    7. "s aç$es %umanas são eventos.

    C. &ortanto, todas as aç$es %umanas são causadas.

    . 'abemos que as nossas aç$es são 0s vezes livres.

    A. &ortanto, as aç$es livres são causadas.

  • 8/17/2019 Filosofia 10/11 resumos

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    Filosofia 10º/ 11º anos

     Bm bom e+emplo de argumento em defesa do compatibilismo é o de `alter 'tace,

     para quem nós confundimos o significado da noção de liberdade na sua cone+ão com o

    determinismo. 'egundo 'tace, o determinista acredita que a liberdade da vontade é o

    mesmo que a capacidade de produzir aç$es sem que elas seam determinadas por causas.

    /as isso é falso. 'e assim fosse, uma pessoa que se comportasse arbitrariamente,

    mesmo que contra a sua própria vontade, seria um e+emplo de pessoa livre. /as o

    comportamento arbitrário não é visto como um comportamento livre. " diferença entre

    a vontade livre e a vontade não-livre não deve residir, pois, no facto de a segunda ser 

    causalmente determinada e a primeira não. "lém disso, tanto no caso de aç$es livres

    como no caso de aç$es não-livres, nós costumamos encontrar determinaç$es causais,

    como mostram os seguintes e+emplos, os tr#s primeiros tomados do te+to de 'tace!

    A. Atos livres  B. Atos não@livres

    6. Pandi passa fome porque quer libertar 

    a ndia.

    Bm %omem passa fome num deserto

     porque não %á comida.

    7. Bma pessoa rouba um pão porque está

    com fome.

    Bma pessoa rouba porque o seu patrão a

    obrigou.

    C. Bma pessoa assina uma confissão

     porque quer dizer a verdade.

    Bma pessoa assina uma confissão porque

    foi submetida a tortura.

    . Bma pessoa decide abrir uma garrafa

    de c%ampan%e porque quer brindar ao

    "no 4ovo.

    Bma pessoa toma uma dose de aguardente,

    mesmo contra a sua vontade, porque é

    alcoólica.

      4ote-se que a palavra UporqueU, que denota causalidade, é comum a ambas as

    colunas. "ssim, a coluna " não difere da coluna pelo facto de não podermos encontrar 

    causas das aç$es, decis$es e voliç$es dos agentes. ) 0s causas apresentadas podemos

    adicionar ainda outras, como raz$es psicológicas e biográficas de Pandi, o costume de

     brindar ao "no 4ovo abrindo uma garrafa de c%ampan%e etc. /esmo nos casos de

  • 8/17/2019 Filosofia 10/11 resumos

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    Filosofia 10º/ 11º anos

    decis$es arbitrárias . Bm membro de uma equipa de

    cinema e+plode uma bomba para efeitos

    de filmagem.

    Bm psicopata e+plode uma bomba porque

    ouve vozes que o convenceram a realizar

    essa ação.

      4o e+emplo -A a pessoa abre a anela porque o %ipnotizador l%e disse que meia %ora

    após ser acordada da %ipnose deveria abrir a anela, sem se lembrar de que faz isso por 

    decisão do %ipnotizador

  • 8/17/2019 Filosofia 10/11 resumos

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    Filosofia 10º/ 11º anos

    e+peri#ncia costuma fornecer uma razão qualquer, como a de que está sentindo calor@.

      4esse caso a pessoa realiza a ação voluntariamente, pensando que o faz por livre e

    espontLnea vontade, embora na verdade o faça seguindo a instrução de quem a

    %ipnotizou. 4o e+emplo ->, o psicopata também age voluntariamente, e o mesmo

     poderamos dizer de casos de fanáticos, de neuróticos e, em geral, de pessoas presas a

    valores e padr$es de conduta e+cessivamente rgidos, que sofrem por isso limitaç$es na

    capacidade de livre deliberação, apesar de agirem voluntariamente. " ação livre deve

    apro+imar-se de um ideal de racionalidade plena, o que aqui está longe de ser o caso.

      4a min%a opinião a diferença mais importante entre os casos apresentados, nas

    colunas " e é que em , em que a ação não é livre, o agente age sob restrição,

    coerção  ou limitação e*terna 

  • 8/17/2019 Filosofia 10/11 resumos

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    Filosofia 10º/ 11º anos

     

    O problema do livre@arb*trio  versus  determinismo surge devido a uma aparente

    contradição entre duas ideias plausveis. " primeira é a ideia de que os seres %umanos

    t#m liberdade para fazer ou não fazer o que queiram

  • 8/17/2019 Filosofia 10/11 resumos

    27/207

    Filosofia 10º/ 11º anos

    =. 8s valores ; Analise e com%reensão da e$%eri2ncia valorativa

    =.1. Calores e valoração ; a uestão dos crit"rios valorativos

    Os valores são qualidades que se atribuem aos obetos. )stes orientam a nossa ação, isto

    é, a nossa ação é determinada pelos valores1 pelo que é considerado ustoinusto1

    corretoincorreto pelo sueito.

    Os valores não e+istem efetivamente nos obetos, ou sea, não são caractersticas dos

    obetos. Orientam as nossas aç$es1 agimos em função daquilo que gostamos e ac%amos

    correto.

    )aracter*sticas dos valores

    8s valores são#

     -ub!etivos F quando dependem do sueito, isto é, dois sueitos perante um obeto

     podem ter opini$es diferentes acerca do mesmo.

  • 8/17/2019 Filosofia 10/11 resumos

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    Filosofia 10º/ 11º anos

    • Ralores religiosos produzem prazer espiritual

    • Ralores estéticos

     -ão relativos F variam de época para época1 de cultura para cultura, não quer dizer 

    que uns seam mais corretos que outros.

     -ão %erenes F não morrem, apesar da sua subetividade e da sua relatividade estes

    continuarão a determinar a visão que o %omem tem do mundo e as suas aç$es.

    )rit"rio Calorativo# 6u*os e Factos

      Facto é o aspeto da realidade, aspeto esse que pode ser descrito de uma forma

    obetiva. 9uando queremos descrever obetivamente um facto, elaboramos os uzos de

    facto.

     6u*o é enunciado onde se afirma ou nega uma coisa de outra coisa.

     8s 6u*os de facto são proposiç$es onde se descrevem obetivamente os aspetos da

    realidade

  • 8/17/2019 Filosofia 10/11 resumos

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    Filosofia 10º/ 11º anos

    "o fazer a sua avaliação, o sueito pretende influenciar os outros, levando-os a fazer o

    mesmo tipo de avaliação de um acontecimento sendo, por isso, parcialmente,

    normativos.

     "ssim temos!

    )+emplos!

     Os !u*os morais são os uzos de valor mais discutidos pelos filósofos.

    )stas são duas quest$es importantes sobre a natureza desses uzos!

    1. Os uzos morais t#m valor de verdade(

    =. 'e t#m valor de verdade, são verdadeiros ou falsos independentemente da perspetiva

    de quaisquer sueitos(

     "s teorias ob!etivistas respondem afirmativamente a ambas as quest$es.

     Ramos e+aminar apenas teorias que não são obetivistas.

    -ub!etivismo

     -ub!etivismo# Os uzos morais t#m valor de verdade, mas o seu valor de verdade

    depende da perspetiva do sueito que faz o uzo.

     )+istem factos morais, mas estes são subetivos, pois só dizem respeito 0s atitudes de

    aprovação ou reprovação das pessoas.

    9uas ra'es %ara ser sub!etivista#

  • 8/17/2019 Filosofia 10/11 resumos

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    Filosofia 10º/ 11º anos

     'e as distinç$es entre o certo e o errado não forem fruto dos sentimentos de cada

     pessoa, então serão imposiç$es e+teriores que limitam as possibilidades de ação de cada

    indivduo. O subetivismo preserva a liberdade individual.

      9uando percebemos que as distinç$es entre o certo e o errado dependem dos

    sentimentos de cada pessoa e que os sentimentos de uma não são mel%ores nem piores

    que os de outra, tornamo-nos mais capazes de aceitar as aç$es contrárias 0s nossas

     prefer#ncias.

    O subetivismo promove a toler,ncia entre indivduos.

    8b!eç'es ao sub!etivismo#

     O subetivismo permite que "ual"uer uzo moral sea verdadeiro.

    &or e+emplo, se uma pessoa pensa que devemos torturar inocentes, então para essa

     pessoa é verdade que devemos torturar inocentes.

     O subetivismo compromete-nos com uma educação moral que consiste apenas em

    ensinar que devemos agir de acordo com os nossos sentimentos.

     O subetivismo tira todo o sentido ao debate moral. 2orna absurdo qualquer esforço

    racional para encontrar os mel%ores princpios éticos  e fundamentá-los perante os

    outros.

    &ara aprofundar esta ltima obeção, veamos como o subetivista entende os casos de

    desacordo moral!

  • 8/17/2019 Filosofia 10/11 resumos

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    Filosofia 10º/ 11º anos

      'e a tradução do subetivista é correta, então não %á qualquer desacordo genuno

    entre o Hoão e a /aria. /as %á um desacordo genuno entre o Hoão e a /aria. ogo, a

    tradução do subetivista não é correta.

  • 8/17/2019 Filosofia 10/11 resumos

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    Filosofia 10º/ 11º anos

    II.A ação umana e os valores

    =. 8s valores ; Analise e com%reensão da e$%eri2ncia valorativa

    =.=. Calores e cultura ; a diversidade e o dialogo de culturas

    Eelativismo moral

     Eelativismo moral# Os uzos morais t#m valor de verdade, ou sea,  são verdadeiros

    ou falsos. &or isso, e+istem factos morais.

      " verdade ou falsidade dos uzos morais é sempre relativa a uma determinada

    sociedade.

     Bm uzo moral é verdadeiro numa sociedade quando os seus elementos acreditam

    que ele é verdadeiro, falso quando acreditam que ele é falso.

     O certo e o errado, o bem e o mal morais, são convenç'es estabelecidas dentro de

    cada sociedade.

    &odemos c%amar relativismo cultural 0 ideia de que muitos costumes e práticas que

    variam de sociedade para sociedade, como os %ábitos alimentares, as cerimónias de

    casamento ou o estilo de vestuário, são relativos 0 cultura! não %á uma maneira de

    comer, casar ou vestir que sea universalmente mel%or do que todas as outras.

    O relativista moral estende esta ideia quase trivial 0 ética. "plicada 0 ética, no entanto, a

    ideia dei+a de ser trivial.

    9uas ra'es %ara ser relativista moral#

      O relativismo promove a coesão social. )sta coesão é fundamental para a

    sobreviv#ncia da sociedade e assim para o nosso bem-estar.

     O relativismo promove a toler,ncia entre sociedades diferentes.

    eva-nos a não ter qualquer impulso violento e destrutivo em relação aos outros povos e

    culturas.

    8b!eç'es ao relativismo moral#

  • 8/17/2019 Filosofia 10/11 resumos

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    Filosofia 10º/ 11º anos

      O relativismo moral conduz ao conformismo. Bm conformista limita-se a agir de

    acordo com as ideias dominantes na sociedade. 4a aus#ncia de algum inconformismo,

    não pode %aver qualquer %rogresso moral.

     O relativismo moral só aparentemente promove a tolerLncia entre culturas diferentes!

    • " afirmação do valor universal da tolerLncia é incompatvel com o relativismo.

    • Bm relativista teria de aprovar atitudes de e+trema intoler,ncia  se estas fossem

    consideradas boas no interior de uma dada sociedade.

    A teoria dos mandamentos divinos :eoria dos mandamentos divinos# Os uzos morais t#m valor de verdade, ou sea,

    são verdadeiros ou falsos. &or isso, e+istem factos morais.

     " verdade ou falsidade dos uzos morais depende da vontade de

    9eus.

     O certo e o errado, o bem e o mal morais, são convenç'es estabelecidas por Deus.

    8 dilema de utifron

    A relação entre a diversidade cultural5 o relativismo e a toler,ncia

     Os valores são simultaneamente absolutos e relativos. 'ão absolutos porque e+istem

    em todas as sociedades e porque %á valores universalmente aceites, tais como os valores

  • 8/17/2019 Filosofia 10/11 resumos

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    Filosofia 10º/ 11º anos

    consignados na Declaração Bniversal dos Direitos do Tomem. 'ão relativos porque

    variam as qualidades que t#m de possuir para poderem ser consideradas bens. De facto,

    todas as sociedades distinguem o bem do mal, considerando o bem um valor positivo e

    o mal um valor negativo ou contra valor. &orem, o conceito de bem e de mal é definido

    culturalmente1 os valores t#m um caráter %istórico e mudam 0 medida que a sociedade e

    a cultura se transformam

  • 8/17/2019 Filosofia 10/11 resumos

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    Filosofia 10º/ 11º anos

    avaliados sem referencia a padr$es absolutos, a necessidade de tolerLncia pelas

    diferenças

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    Filosofia 10º/ 11º anos

     A moral utiliza-se %oe  para designar o Lmbito da formação das normas obrigatórias,

    da sua %ierarquização e aplicação a casos concretos no interior duma comunidade

    %umana.

      "ssim a 7oral  constitui, portanto, um conunto de imperativos e de interditos,

    traduzindo o sentido de obrigatoriedade, o conunto dos deveres do ser %umano, isto é,

    uma deontologia, as normas validas no interior de um grupo. Desenvolve-se na pratica

    social, no conte+to de uma cultura, no seio da qual os valores, os %ábitos e os costume

    geram as leis ou códigos que definem o que é deseável e o que é permitido ou proibido,

    distinguindo o bem do mal. "presenta-se, portanto, com uma função normativa, isto é,

    de institucionalização de normas que regulam a conduta. " /oral responde-nos, pois, 0s

    quest$es! 9ue devo fazer( *omo é correto agir em tal circunstLncia(

      "pesar desta distinção, quer a 8tica quer a /oral são importantes guias da ação

    %umana, no sentido em que relacionam com uma vida com proetos e ideais a alcançar.

    O sentido da palavra 3desmoralizado5 auda-nos a compreender bem, embora pela

    negativa, a sua importLncia! diz-se 3desmoralizado5 de alguém a que perdeu a

    orientação e o interesse pela vida ou pelos seus obetivos. ) a /oral e a 8tica apelam

    e+atamente para a realização pessoal do indivduo. "pesar desta distinção conceptual,

    muitos autores continuam a usar os dois conceitos como sinónimos.

    9efinição dos conceitos nuclearestica# 

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    Filosofia 10º/ 11º anos

    7oral# 

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    Filosofia 10º/ 11º anos

     'endo assim, a dimensão ética implica que não se considerem e+clusivamente os

    interesses individuais e se avaliem as situaç$es tendo em conta também os interesses

    dos outros.

     " relação eu-outro implica, portanto, que os nossos uzos avaliativos adotem um

     ponto de vista no qual considerem igualmente os interesses de todos os que são afetados

     pelas nossas aç$es, isto é, implica que nos coloquemos numa perspetiva de

    universalidade do agir. " ação ética e+ige que ultrapassemos o nosso ponto de vista

     pessoal e nos coloquemos, na medida do possvel, no lugar do outro

  • 8/17/2019 Filosofia 10/11 resumos

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    Filosofia 10º/ 11º anos

      4esta interação social forma-se em cada um de nós uma instLncia interior de

    orientação e de critica do nosso agir, a que c%amamos consci2ncia moral.

      &ara podermos compreender mel%or a natureza e o papel da consci#ncia moral,

    costumamos compará-la a uma espécie de 3uiz interior5 que ulga o que fazemos,

     provocando-nos, em certas situaç$es, aquilo a que c%amamos remorsos por termos

     praticado uma ação considerada má

  • 8/17/2019 Filosofia 10/11 resumos

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    Filosofia 10º/ 11º anos

      Tá pois, uma interação entre as estruturas do indivduo e as influencias do meio

    social, uma articulação do querer individual com os padr$es sociais, que conduz 0

    transformação do indivduo em pessoa.

    Doção de %essoa

     &or pessoa entende-se o individuo %umano que!

    • 'e recon%ece como sueito de direitos e deveres ou obrigaç$es, para consigo mesmo,

     para com os outros e para com as instituiç$es1

    • "ssimilou de forma consciente os ideais e a sua responsabilidade social1

    • "ssume o caráter racional da sua autonomia e, portanto, a capacidade de agir livre e

    responsavelmente, isto é, em nome próprio1

    • 2em consci#ncia do caráter inter-relacional da sua autonomia, uma vez que autonomia

    não significa autossufici#ncia nem indiferença pelos outros1

    • "ssume a dignidade como atributo essencial do Tomem, dignidade que se e+pressa

    numa e+ig#ncia perante si mesmo, perante os outros e perante as instituiç$es.

     &odemos dizer então que ser pessoa e+ige viver em sociedade, recon%ecer e respeitar 

     princpios universais de relação com os outros, recon%ecer-se como sueito de direitos e

    deveres, estar aberto aos outros.

     4este sentido foram fundadas, ao longo dos tempos, instituiç$es polticas e sociais que

    visam ustamente assegurar ao Tomem a possibilidade de se desenvolver como pessoa e

    que demonstram a aceitação pelas sociedades da personalidade %umana.

    9efinição dos conceitos nucleares

    Ees%onsabilidade#  deriva etimologicamente da palavra latina 3respondere5, que

    significa responder pelos atos e ter a obrigação de prestar contas pelos atos praticados. "

    responsabilidade pode assumir diferentes formas! responsabilidade civil F referindo-se

    ao compromisso de ter de responder perante a autoridade social1 responsabilidade moral

     F referindo-se 0 obrigação de responder perante a nossa própria consci#ncia.

  • 8/17/2019 Filosofia 10/11 resumos

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    Filosofia 10º/ 11º anos

    II.A ação umana e os valores

    3. 9imens'es da ação umana e dos valores

    3.1. A dimensão "tico@%olitica ; Anlise e com%reensão da e$%eri2ncia vivencial

    3.1.3. A necessidade de fundamentação da moral ; anlise com%arativa de duas%ers%etivas filosóficas

    tica utilitarista de -tuart 7ill G1J0K@1JL3 d.)H

     Eilósofo e economista, considerado o mais importante representante do utilitarismo

    ingl#s. )mbora manten%a a identificação base do utilitarismo da felicidade com prazer,

    'tuart /ill classifica os prazeres segundo um critério qualitativo, considerando em

     primeiro lugar a dignidade do Tomem, e defende que o fim das nossas aç$es deve ser 

    uma utilidade altrusta e não meramente egosta.

    9uas ob!eç'es ao utilitarismo

     O utilitarismo não funciona na prática, pois e+ige que esteamos sempre a calcular asconseu2ncias das nossas aç$es.

      O utilitarismo, como não leva em conta as normas ou regras morais comuns,

     predisp$e-nos a fazer frequentemente coisas erradas como mentir, roubar ou matar.

    Mma res%osta às ob!eç'es

    O utilitarismo é primariamente uma teoria sobre o que torna as aç$es certas ou erradas.

    O utilitarismo não é uma teoria sobre como devemos tomar as nossas decis'es.

    &or isso, o utilitarismo não implica que!

    1. 2emos de tomar todas as decis$es calculando as consequ#ncias prováveis dos nossos

    atos.

    =. 2emos de ser indiferentes 0s normas morais comuns quando decidimos o que fazer.

  • 8/17/2019 Filosofia 10/11 resumos

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    Filosofia 10º/ 11º anos

    O utilitarista dirá que se tomássemos todas as decis$es calculando as suas

    consequ#ncias acabaramos por não promover o bem.

    O utilitarista dirá que muitas regras morais comuns nos au+iliam a tomar decis$es que,

    de uma maneira geral, serão boas.

    9ois n*veis de %ensamento moral

     D*vel intuitivo# *omo o nosso con%ecimento é muito limitado, tomamos as nossas

    decis$es quotidianas segundo as regras morais simples que aceitamos, obedecendo 0s

    inclinaç$es do nosso caráter, sem aplicar o princpio utilitarista.

     D*vel cr*tico# "plicamos o princpio utilitarista para

  • 8/17/2019 Filosofia 10/11 resumos

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    Filosofia 10º/ 11º anos

    9ois ego*smos

     &go*smo %sicológico# "s pessoas agem sempre apenas em função do seu interesse

     pessoal.

     &go*smo "tico# "s pessoas devem agir sempre apenas em função do seu interesse

     pessoal.

    -omos todos ego*stas+

    Dois argumentos a favor do ego*smo %sicológico!

    1.  9uando agimos voluntariamente, fazemos sempre aquilo que mais deseamos. &or 

    isso, somos todos egostas.

    =. 'empre que fazemos bem aos outros, isso dá-nos prazer. &or isso, só fazemos bem

    aos outros para sentirmos prazer. Ora, isso é o mesmo que dizer que somos todos

    egostas.

    )m ambos os argumentos, a premissa não sustenta a conclusão!

     /esmo que sea verdade que em todos os atos voluntários as pessoas se limitam a

    fazer aquilo que mais deseam, da não se segue que todos esses atos seam egostas.

      /esmo que sintamos prazer a fazer bem aos outros, isso não quer dizer que a

    e+pectativa desse prazer ten%a sido a causa ou motivo da ação.

    9evemos ser ego*stas+

    2r#s obeç$es ao ego*smo "tico!

     O egosmo ético tira todo o sentido a uma parte importante da ética, que consiste na

    atividade de aconsel%ar e ulgar.

     O egosmo ético é moralmente inconsistente! não pode ser adotado universalmente.

      O egosmo ético derrota-se a si próprio# se uma pessoa optar por agir de forma

    egosta, terá uma vida pior do que teria se não fosse egosta.

    Mtilitarismo

  • 8/17/2019 Filosofia 10/11 resumos

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    Filosofia 10º/ 11º anos

    H. '. /ill defendeu o %rinc*%io utilitarista da maior felicidade! 3"s aç$es estão certas

    na medida em que tendem a promover a felicidade, erradas na medida em que tendem a

     produzir o reverso da felicidade.5

     O utilitarismo, tal como o egosmo ético, é uma perspetiva consequencialista.

      'egundo o consequencialismo, agir moralmente é apenas uma questão de produzir 

     bons resultados.

     O egosta defende que o agente deve produzir bons resultados apenas para si próprio.

     O utilitarista defende que o agente deve produzir bons resultados para todos aqueles

    que poderão ser afetados pela sua conduta.

     /uitos utilitaristas defendem que o mel%or curso de ação é aquele que apresentada a

    maior utilidade es%erada.

     &ara determinar a utilidade esperada de um curso de ação, temos de pensar nas suas

    várias consequ#ncias possveis e na %robabilidade  de essas consequ#ncias se

    verificarem.

    ?edonismo

    )m que consiste um bem-estar ou felicidade de uma pessoa(

     ?edonismo# O bem-estar consiste unicamente no prazer e na aus#ncia de dor.

     ?edonismo uantitativo de Bentam! *ada um dos diversos prazeres e dores da

    vida das pessoas tem um certo valor, que em ltima análise é determinado apenas pela

    duração e intensidade.

     ?edonismo uantitativo de 7ill! "lguns tipos de prazeres são, em virtude da sua

    natureza, intrinsecamente superiores a outros. &ara vivermos mel%or devemos dar uma

    forte prefer#ncia aos prazeres superiores, recusando-nos a trocá-los por uma quantidade

    id#ntica ou mesmo maior de prazeres inferiores.

    O argumento da muina de e$%eri2ncias contra o %edonismo!

  • 8/17/2019 Filosofia 10/11 resumos

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    Filosofia 10º/ 11º anos

     " máquina de e+peri#ncias é um dispositivo de realidade virtual que proporciona uma

    vida insuperavelmente aprazvel.

     'e o %edonismo é verdadeiro, então seria mel%or ligarmo-nos para sempre 0 máquina

    de e+peri#ncias. /as é mel%or não nos ligarmos e continuarmos a ter uma vida real.

    ogo, o %edonismo é falso.

    -atisfação de %refer2ncias

    Bma perspetiva alternativa ao %edonismo!

     O bem-estar consiste unicamente na satisfação dos deseos ou prefer#ncias.

    Os utilitaristas de %refer2ncias defendem esta teoria do bem-estar.

    'ustentam que a mel%or maneira de agir é ma+imizar a satisfação das prefer#ncias

    daqueles que poderão ser afetados pela nossa conduta.

    O argumento da maioria fantica contra o utilitarismo de prefer#ncias!

     Bma maioria fanática desea intensamente e+terminar uma minoria inofensiva.

      'e o utilitarismo de prefer#ncias é verdadeiro, seria bom e+terminar a minoria

    inofensiva. /as é profundamente errado e+terminar minorias inofensivas. ogo, o

    utilitarismo de prefer#ncias é falso.

    tica deontológica de Nant

    *élebre filósofo alemão, um dos mais importantes filósofos da época moderna europeia.

    "s mais notáveis das suas obras são a r-tica da 1azão !ura 

  • 8/17/2019 Filosofia 10/11 resumos

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    Filosofia 10º/ 11º anos

    =. 9uando é que nossas aç$es são certas ou erradas(

     4o que diz respeito 0 %rimeira uestão, temos estas respostas!

     Mtilitarismo# "penas as consequ#ncias das nossas aç$es as tornam certas ou erradas.

    "s nossas aç$es são certas ou erradas apenas em virtude de promoverem

    imparcialmente o bem-estar.

     9eontologia# 4em só as consequ#ncias das nossas aç$es as tornam certas ou erradas.

    /uitas aç$es são intrinsecamente erradas, ou sea, erradas independentemente das suas

    consequ#ncias. &odemos dizer, aliás, que todos temos de respeitar certos deveres que

     probem a realização dessas aç$es.

     4o que diz respeito 0 segunda uestão, temos estas respostas!

      Mtilitarismo! Bma ação é certa apenas quando ma*imiza o bem-estar, ou sea,

    quando promove tanto quanto possvel o bem-estar. 9ualquer ação que não ma+imize o

     bem-estar é errada.

      9eontologia# Bma ação é errada quando com ela infringimos intencionalmente

    algum dos nossos deveres. 9ualquer ação que não sea contrária a esses deveres não tem

    nada de errado.

    )+emplos de deveres %abitualmente recon%ecidos pelos deontologistas!

     Fidelidade# /antém as tuas promessas.

     Ee%aração# *ompensa os outros por qualquer mal que l%es ten%as feito. Oratidão# Wetribui fazendo bem 0queles que te fizeram bem.

      6ustiça#  Op$e-te 0s distribuiç$es de felicidade que não esteam de acordo com o

    mérito.

     9esenvolvimento %essoal# Desenvolve a tua virtude e o teu con%ecimento.

     Benefic2ncia# Eaz bem aos outros.

     Dão@malefic2ncia#  4ão preudiques os outros.

  • 8/17/2019 Filosofia 10/11 resumos

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    Filosofia 10º/ 11º anos

    9eontologia

     8 na 2undamentação da Metaf-sica dos ostumes e na *rtica da 1azão !r,tica, que

    Kant procura esclarecer as bases teóricas em que assenta a ação moral.

      4a  2undamentação da Metaf-sica dos ostumes, Kant afirma a necessidade de se

    estabelecer uma filosofia moral pura, isto é, estabelecida a partir da análise da própria

    racionalidade %umana e, deste modo, independentemente de tudo o que sea baseado na

    e+peri#ncia. " razão é a autoridade final para a moralidade e esta não pode ter 

    fundamento, isto é, não pode ser estabelecida e ustificada, na observação dos costumes

    ou modos %abituais e culturais de agir com os %umanos. 2odas as aç$es precisam ser 

    determinadas por um sentido de dever ditado pela razão, e nen%uma ação realizada por 

    interesse ou somente por obedi#ncia a uma lei e+terior ou costume pode ser considerada

    como moral. " ação moralmente boa é a que obedece e+clusivamente 0 lei moral em si

    mesma. " moral Kantiana é, assim concebida como independente de todos os impulsos

    e tend#ncias naturais ou sensveis e está centrada sobre a noção de dever e não na noção

    de virtude e felicidade como em "ristóteles.

     Kant faz distinção entre o bem e o agradável. O bem é função da lei moral, não deve,

     pois, ser determinado antes da lei moral, mas só depois dela e mediante ela.

     "lém disso, para classificar uma ação como moralmente boa não basta observar o que

    o Tomem faz efetivamente mas aquilo que ele quer fazer. &or isso, se diz que a moral

    Kantiana é uma moral de intenção. "ssim, nada é bom ou mau em si mesmo1 Kant

    afirma que a nica coisa que verdadeiramente pode ser boa em si mesmo é a vontade

    %umana.

    " moral Kantiana parte do pressuposto que o Tomem não é simplesmente racional.

    )le é, simultaneamente, racional e naturalsensvel, esprito e corpo, razão e deseo, por 

    isso, a vida moral é uma luta continua e o agir bem apresenta-se-l%e como uma

    obrigação, como uma certa coação, que a sua parte racional terá de e+ercer sobre a sua

  • 8/17/2019 Filosofia 10/11 resumos

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    Filosofia 10º/ 11º anos

     parte sensvel. O dever obriga, força-nos a fazer o que talvez não quiséssemos ou que

     pelo menos não nos agradaria, porque o %omem não é perfeito e sim dual. "ssim, a

    moralidade aparece na forma de uma lei que e+ige ser obedecida por si mesma, uma lei

    cua autoridade não está fora do Tomem mas representa a voz da razão, a que o sueito

    moral deve obedecer. )ntão, para que cumpra integralmente a lei moral, é preciso que o

    domnio da vontade livre

  • 8/17/2019 Filosofia 10/11 resumos

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    Filosofia 10º/ 11º anos

    " condição necessária para que sea possvel apenas a razão determinar a ação é a

    liberdade. " vida moral somente é possvel, para Kant, na medida em que a razão

    estabeleça, por si só, aquilo a que se deve obedecer no terreno da conduta moral, o que

    só é possvel pressupondo que o Tomem é um ser dotado de liberdade.

    "s ideias éticas de Kant são um resultado lógico da sua crença na liberdade

    fundamental do indivduo. )sta liberdade não é sinónimo de aus#ncia de leis ou de

    anarquia1 significa, antes, autogoverno, a liberdade de poder realizar o que a razão

    ordena, isto é, obedecer ao imperativo categórico.

    &oder realizar significa! causar por vontade própria um efeito no mundo, tal como as

    causas naturais produzem um efeito na natureza. O %omem, neste sentido, é livre,

    legislador e membro de uma sociedade ética! é legislador porque é ele que determina o

    que deve ser feito, e é membro ou sbdito porque obedece aos deveres que a sua própria

    razão fórmula. 4este sentido, ele não tem um preço, mas uma dignidade, e é por isso

    que a segunda fórmula do imperativo categórico diz para agirmos de modo a não tratar 

     amais a %umanidade, em nós ou nos outros, como um meio, mas sempre como um fim

    em si. " ética Kantiana é uma ética do respeito 0 pessoa. " ética Kantiana é moderna

     porque confia no %omem, na sua razão e na sua liberdade, condena todas as situaç$es

    sociais de instrumentalização do Tomem

  • 8/17/2019 Filosofia 10/11 resumos

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    Filosofia 10º/ 11º anos

    ser %umano não concebe sempre do mesmo modo aquilo que é ser feliz, alcançar a

    felicidade não pode ser o fim supremo da moralidade nem a sua ustificação. "

    moralidade auto-ustificasse na natureza racional do ser %umano e a felicidade e a

    virtude são apenas as consequ#ncias do esforço %umano para praticar atos moralmente

     bons. " felicidade de que Kant fala é a da consci#ncia do dever cumprido, a

    tranquilidade da boa consci#ncia. 2emos obrigação de fazermos tudo para sermos

    felizes. " nica condição é que tudo o que fizermos possa ser universalizável. 4ão é a

    felicidade a qualquer preço.

    'er feliz é, assim, uma aspiração que o %omem concretiza através do seu mérito, mas

    mesmo que esse aspiração e+istisse ou a felicidade não fosse concretizável e atingvel

    através da moralidade, mesmo assim o ser %umano ainda teria a obrigação moral ou o

    dever de agir respeitando unicamente a lei moral ou o imperativo categórico.

    &m conclusão de Nant#

    "lguns deontologistas, como Kant, pensam que os nossos deveres morais podem ser 

    inferidos de um princpio ético fundamental.

    Outros deontologistas, como Woss, pensam que sabemos por simples intuição quais são

    os nossos deveres.

    "lguns deontologistas, como Kant, pensam que os nossos deveres são absolutos! nunca

     podemos desrespeitá-los.Outros deontologistas, como Woss, pensam que os nossos deveres são  prima facie! por 

    vezes podemos desrespeitá-los.

    9uas distinç'es

    "lguns deontologistas, por oposição aos utilitaristas, atribuem relevLncia moral 0s

    distinç$es atoomissão e intençãoprevisão, defendendo o seguinte!

  • 8/17/2019 Filosofia 10/11 resumos

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    Filosofia 10º/ 11º anos

      Atos e omiss'es! 8 pior provocar um mal que permitir que um mal ocorra. &or 

    e+emplo, é pior matar uma pessoa que dei+á-la morrer.

     Intenção e %revisão! 8 pior dar origem a um mal intencionalmente que dar a origem

    a um mal que não pretendemos produzir, ainda que saibamos que o mesmo resultará da

    nossa conduta. &or e+emplo, é pior torturar alguém que fazer algo que resulte em

    sofrimento como efeito colateral.

    Puadro s*ntese da tica utilitarista de -tuart 7ill e a tica deontológica de Nant

    Fundamentação da 7oral

    Nant GdeontológicaH -tuart 7ill GutilitaristaH• " felicidade é algo e+terior 0 razão, é

    subetiva1

    • " ação moral tem por base a boa

    vontade1

    • 'ó as aç$es por dever t#m valor moral1

    • "s aç$es por dever imp$em-se-nos pelo

    imperativo categórico1

    • O imperativo categórico, ao impor leis

    universais, constitui o fundamento da

    autonomia %umana1

    • O agir moral autónomo confere-nos

    dignidade.

    • O valor moral das aç$es está nas suas

    consequ#ncias e nos seus efeitos

     práticos1

    • em é aquilo que trou+er mais

    felicidade global1

    • O utilitarismo adota um relativismo

    ético face 0 perca de critérios absolutos

    e universais1

    • O utilitarismo é um refle+o da

    tecnicização da produção e da sociedade

     pós F moderna.

    II.A ação umana e os valores

    3. 9imens'es da ação umana e dos valores

    3.1. A dimensão "tico@%olitica ; Anlise e com%reensão da e$%eri2ncia vivencial

  • 8/17/2019 Filosofia 10/11 resumos

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    Filosofia 10º/ 11º anos

    3.1.Q. tica5 direito e %olitica ; liberdade e !ustiça socialR igualdade e diferençasR !ustiça e euidade

    8 ue legitima a autoridade do estado ; Ees%ostas de Aristóteles e de ocSe

    A !ustificação aristot"lica do estado

     Bma das respostas mais antigas para este problema foi apresentada por Aristóteles

  • 8/17/2019 Filosofia 10/11 resumos

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    Filosofia 10º/ 11º anos

    *onstituram também comunidades de famlias

  • 8/17/2019 Filosofia 10/11 resumos

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    Filosofia 10º/ 11º anos

    "ristóteles, o mais importante sea saber que tipo de governo da cidade-estado é mel%or 

     para garantir a vida boa.

    *rticas ao naturalismo aristotélico

      " principal crtica ao naturalismo é que a noção aristotélica de 3natureza5 é

    incoerente e enganadora. "ristóteles encara a natureza das coisas como uma espécie de

     princpio interno de movimento ou repouso que se encontra nelas. 4este sentido, a

    natureza da cidade-estado seria comparável 0 natureza das plantas e de outros

    organismos vivos, que se desenvolvem a partir do embrião até atingirem a maturidade.

      )ste desenvolvimento é meramente biológico, sem qualquer intervenção da

    racionalidade.

     *ontudo, a finalidade da vida na cidade é permitir uma vida boa. /as o deseo de ter 

    uma vida boa é um deseo racional, na medida em que é uma aspiração de seres

    racionais como nós F até porque não se verifica nos outros animais. "ssim, este deseo é

    fruto da deliberação racional dos seres %umanos e não simplesmente de um impulso

     biológico ou natural.

    A !ustificação contratualista de ocSe

     Bma ustificação do estado bastante mais influente do que a de "ristóteles é dada por 

    6on ocSe C7-6;@. )ste filósofo defende que o estado tem origem numa espécie

    de contrato social em que as pessoas aceitam livremente submeter-se 0 autoridade de

    um governo civil. oc\e considera que esse contrato dá origem 0 transição do estado de

    natureza para a sociedade civil. &or isso se diz que a teoria da ustificação do estado de

    oc\e é contratualista.

     /as o que levou as pessoas a celebrar entre si esse contrato( Reamos, em primeiro

    lugar, como eram as coisas antes do contrato, isto é, como eram as coisas antes de %aver 

    estado F quando ninguém detin%a o poder poltico e não %avia governo nem tribunais

    nem polcias.

  • 8/17/2019 Filosofia 10/11 resumos

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    Filosofia 10º/ 11º anos

    " lei natural e o estado de natureza

     4o estado de natureza as pessoas viviam, segundo oc\e, em perfeita liberdade! cada

    um era 3sen%or absoluto da sua pessoa e bens5, não tendo de prestar contas nem

    depender da vontade de sea quem for. "s pessoas viviam também num estado de

    completa igualdade, não %avendo qualquer tipo de %ierarquia social ou outra. "lém

    disso, viviam segundo a lei natural, a qual disp$e que ninguém infrina os direitos de

    outrem e que as pessoas não se ofendam mutuamente.

     oc\e defendia que esta lei natural se descobre usando a razão natural, pelo que é

    comum a todas as pessoas e independente de quaisquer convenç$es %umanas. Deste

    modo, oc\e distinguia a lei natural das c%amadas 3leis positivas5 da sociedade civil.

     "s leis positivas são leis que resultam das convenç$es %umanas1 são as leis que

    realmente e+istem nas sociedades organizadas em estados.

    )nquanto no estado de natureza as pessoas nada t#m acima de si a não ser a lei natural,

    na sociedade civil as pessoas consentem em submeter-se 0 autoridade de um governo. "

    nica lei que vigora no estado de natureza é, pois, a lei natural. oc\e distingue a lei

    natural da lei positiva, mas também da lei divina!

  • 8/17/2019 Filosofia 10/11 resumos

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    Filosofia 10º/ 11º anos

    oc\e não encara a lei natural como uma lei cientfica que descreve o funcionamento

    efetivo da natureza. oc\e defende que a lei natural é normativa! determina como as

     pessoas racionais devem agir e não como de facto agem. &or outro lado, a lei natural e a

    lei divina, apesar de não serem a mesma coisa, não podem ser incompatveis, pois Deus

    é a origem de ambas.

     Dado que no estado de natureza as pessoas vivem de acordo com a lei natural, t#m os

    direitos decorrentes da aplicação dessa lei. "ssim!

    1.  2odas as pessoas são iguais, pois t#m e+atamente o mesmo conunto de direitos

    naturais1

    =. 2odas as pessoas t#m o direito de auizar por si que aç$es estão ou não de acordo com

    a lei natural, pois ninguém tem acesso privilegiado 0 lei natural nem autoridade especial para ulgar pelos outros1

    3. 2odas as pessoas t#m individualmente o direito de se defender F usando a força, se

    necessário F daqueles que tentarem interferir nos seus direitos e violar a lei natural, pois

    esta e+istiria em vão se ninguém a fizesse cumprir1

  • 8/17/2019 Filosofia 10/11 resumos

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    Filosofia 10º/ 11º anos

    Q. 2odas as pessoas t#m o direito de decidir a pena apropriada para aqueles que violam a

    lei natural, assim como direito de aplicar essa pena, dado que num estado de perfeita

    igualdade a legitimidade para faz#-lo é rigorosamente a mesma para todos.

     O estado de natureza é não só diferente da sociedade civil como, segundo oc\e, do

    estado de guerra, pois neste não %á lei que vigore e as pessoas não t#m direitos.

    oc\e caracteriza o estado de natureza como uma situação de abundLncia de recursos e

    em que cada pessoa é livre de se apropriar das terras e bens disponveis, através do seu

    trabal%o e esforço. 'endo assim, que raz$es teriam as pessoas para abandonar o estado

    de natureza, aceitando limitar a sua liberdade a favor de um governo ao qual t#m de se

    submeter(

    O contrato social e a origem do governo

     oc\e pensa que qualquer poder e+ercido sobre as pessoas F e+cetuando os casos de

    autodefesa ou de e+ecução da lei natural F só é legtimo se tiver o seu consentimento.

     4em outra coisa seria de esperar entre pessoas iguais e com os mesmos direitos

    naturais.

     "ssim, a e+ist#ncia de um poder poltico só pode ter tido origem num acordo, ou

    contrato, entre pessoas livres que decidem unir-se para constituir a sociedade civil. )

    esse acordo só faz sentido se aqueles que o aceitam virem alguma vantagem nisso.

     "pesar de parecer que oc\e caracteriza o estado de natureza como um estado quase

     perfeito, não dei+a de recon%ecer alguns inconvenientes que, mais cedo ou mais tarde,

    iriam tornar a vida demasiado instável e insegura. :sto porque %á sempre quem, movido

     pelo interesse, pela ganLncia ou pela ignorLncia, se recuse a observar a lei natural,

    ameaçando constantemente os direitos das pessoas e a propriedade al%eia. oc\e dá o

    nome genérico de 3propriedade5 não apenas aos bens materiais das pessoas, mas a tudo

    o que l%es pertence, incluindo as suas vidas e liberdades.

  • 8/17/2019 Filosofia 10/11 resumos

    58/207

    Filosofia 10º/ 11º anos

     "ssim, parece ustificar-se o abandono do estado de natureza em troca da proteção e

    estabilidade que só o governo pode garantir. oc\e torna esta ideia mais precisa

    indicando tr#s coisas importantes que faltam no estado de natureza e que o poder 

     poltico está em condiç$es de garantir!

    1. Ealta uma lei estabelecida, con%ecida e aceite por consentimento, que sirva de padrão

    comum para decidir os desacordos sobre aspetos particulares de aplicação da lei natural.

    :sto porque, apesar de a lei natural ser clara, as pessoas podem compreend#-la mal e

    divergir quando se trata da sua aplicação a casos concretos.

    =. Ealta um uiz imparcial com autoridade para decidir segundo a lei, evitando que %aa

     uzes em causa própria. :sto porque quando as pessoas ulgam em causa própria t#m

    tend#ncia para ser parciais e inustas.

    3. Ealta um poder suficientemente forte para e+ecutar a lei e fazer cumprir as sentenças

     ustas, evitando que aqueles que são fisicamente mais fracos ou em menor nmero

    seam inustamente submetidos pelos mais fortes ou em maior nmero.

     8 para fazer frente a estas dificuldades que as pessoas decidem abrir mão dos

     privilégios do estado de natureza, cedendo o poder de e+ecutar a lei 0queles que forem

    escol%idos segundo as regras da comunidade. ) ainda que se possa dizer que ninguém

    nos perguntou e+pressamente se aceitamos viver numa sociedade civil, oc\e defende

    que, a partir do momento em que usufrumos das suas vantagens, estamos a dar o nosso

    consentimento tácito. *aso contrário, teramos de recusar os benefcios do estado e de

    viver 0 margem da sociedade.

    *rticas ao contratualismo de oc\e

      2#m sido feitas várias crticas ao contratualismo de oc\e. Ramos estudar 

     brevemente algumas das mais importantes.

    O consentimento tácito é uma ficção

  • 8/17/2019 Filosofia 10/11 resumos

    59/207

    Filosofia 10º/ 11º anos

     9uando oc\e fala do contrato social não está a pensar num procedimento formal,

    como quando se assina um documento ou se faz um uramento pblico. O contrato a que

    se refere revela-se no consentimento tácito das pessoas que, ao usufrurem dos

     benefcios do estado, dão implicitamente o seu consentimento para que este ten%a

     poderes sobre elas. &or e+emplo, se alguém pede proteção 0 polcia quando se sente

    ameaçado, está tacitamente a consentir que a polcia ten%a poder sobre si também.

     /as %á boas raz$es para pensar que não %á efetivamente qualquer consentimento

    tácito das pessoas. /esmo que tivesse %avido inicialmente um acordo original baseado

    no consentimento tácito das pessoas dessa altura, isso não inclui as geraç$es atuais, as

    quais não tiveram qualquer palavra a dizer sobre isso. Tá até pessoas que, apesar de

    estarem sueitas a um dado governo, o combatem e o consideram ilegtimo, pelo que tal

    governo não tem seguramente o seu consentimento tácito.

     "lém disso, é incoerente pensar que podemos consentir em algo sem que o nosso

    consentimento sea livre e intencional. /as para que sea intencional, uma pessoa tem

    de ter consci#ncia daquilo a que está implicitamente a dar o seu acordo. 2odavia, parece

    claro que muitas pessoas não t#m consci#ncia de terem dado qualquer acordo. De modo

    semel%ante, %á pessoas cuas condiç$es de vida não l%es permitem optar entre aceitar a

    autoridade do governo e mudar para um território onde essa autoridade não e+ista.

     "ssim, não c%ega a %aver verdadeiro consentimento.

    Os contratos podem ser inustos

     Outra crtica é que %á contratos que não são ustos, pelo que nem sempre devem ser 

    cumpridos. "ssim, o facto de o estado ter resultado de um acordo entre pessoas livres

    não o torna, só por isso, legtimo.

     :magine-se que uma mul%er promete viver com o amante na condição de este matar o

    seu marido e que o amante concorda com isso. 4ão é por ambos terem feito um contrato

    que as suas aç$es se tornam legtimas. "ssim, o consentimento inerente a qualquer 

  • 8/17/2019 Filosofia 10/11 resumos

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    contrato é, na mel%or das %ipóteses, condição necessária para a sua legitimidade, mas

    não é suficiente. "nalogamente, o facto de o estado ter tido origem num contrato

    celebrado entre pessoas livres também não é suficiente para legitimar a sua autoridade.

    O contrato é desnecessário

     oc\e pensa que, no estado de natureza, cada indivduo tem o direito de fazer 

    cumprir a lei natural e até de usar a força para punir quem a violar.

     :magine-se então que %á apenas duas pessoas que vivem no estado de natureza. 'e, na

    opinião de uma delas, a outra violar a lei natural, não precisa do consentimento do

     prevaricador para, com todo o direito, o punir. 'upon%a-se agora que várias pessoas

    decidem organizar-se para tornar a aplicação da lei natural mais efetiva e que é detetado

    alguém e+terior a esse grupo que, em sua opinião, está a violar a lei natural. /esmo que

    a pessoa que viola a lei não ten%a dado o seu consentimento e nem sequer pertença ao

    grupo, este pode recorrer 0 sua força coletiva para submeter e punir o prevaricador.

     oc\e defende precisamente que isso seria ilegtimo, a não ser que o prevaricador 

    tivesse dado o seu consentimento e que, portanto, estivéssemos á não no estado de

    natureza mas na sociedade civil. /as por que razão é ilegtimo um grupo organizado de

     pessoas impor a sua força sem o consentimento do visado e não é ilegtimo no caso de

    ser uma só pessoa a faz#-lo(

      :sto sugere que, além do poder coletivo das pessoas, não é necessário qualquer 

    consentimento contratual daqueles a quem se aplica a força. 4esse caso, o contrato não

    desempen%a qualquer papel na legitimação do uso da força.

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    )m conclusão!

    )omo " %oss*vel uma sociedade !usta ; a res%osta de EaTls

     9uando discutimos certas quest$es relacionadas com a organização social, é muito

    comum ouvir e+press$es como 3:sso é inusto5 ou 3Eazer isso não seria usto5. De

    algum modo, todos temos uma noção do que é usto e inusto, e todos queremos viver 

    numa sociedade usta. /as o que é realmente uma sociedade usta(

     *onsideremos uma sociedade em que a grande maioria das pessoas é muito pobre,

    mas em que e+iste um pequeno grupo de pessoas e+tremamente ricas. 'erá que uma

    sociedade assim pode ser usta( &orqu#(

      :maginemos agora uma sociedade em que todas as pessoas usufruem da mesma

    riqueza.

     Bma sociedade como esta será forçosamente usta( &orqu#(

     )ste é o problema da ustiça social. &ara responder 0s quest$es acima precisamos decompreender o que é uma sociedade usta. /uitos filósofos entendem que isso implica

    identificar os princpios da ustiça corretos. )ntre esses filósofos destaca-se 6on EaTls

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     :magine-se que cada um dos membros de uma sociedade, sabendo perfeitamente qual

    era o seu estatuto social e quais eram os seus talentos naturais, propun%a determinados

     princpios da ustiça. 4esse caso, o mais certo seria não se c%egar a qualquer acordo. Os

    mais ricos, por e+emplo, tenderiam a opor-se a princpios da ustiça que os forçassem a

     pagar impostos elevados para benefcio dos mais pobres. ) os mais talentosos

    favoreceriam uma sociedade que premiasse os seus talentos, sem se preocuparem muito

    com os que por natureza são menos talentosos. 4estas circunstLncias, como poderamos

    descobrir quais são os princpios da ustiça corretos(

     WaJls sugere que, para encontrar os princpios da ustiça corretos, devemos fazer 

    uma e$%eri2ncia mental! temos de imaginar uma situação em que os membros de uma

    sociedade seam levados a avaliar princpios da ustiça sem se favorecerem

    indevidamente a si próprios pelo facto de serem ricos, pobres, talentosos ou poderosos.

     Ou sea, temos de imaginar que os membros de uma sociedade estão a avaliar 

     princpios da ustiça numa situação que garanta a imparcialidade da sua avaliação.

    WaJls designa essa situação imaginária por %osição original e descreve-a na seguinte

     passagem!

     !arto do princ-pio de "ue as partes estão situadas ao abrigo de um v)u de ignor3ncia.

     'ão sabem como as v,rias alternativas vão afetar a sua situação concreta e são

    obrigadas a avaliar os princ-pios apenas com base em consideraç4es gerais. 567 Antes

    de mais+ ningu)m conhece o seu lugar na sociedade+ a sua posição de classe ou

    estatuto social; tamb)m não ) conhecida a fortuna ou a distribuição de talentos

    naturais ou capacidades+ a intelig#ncia+ a força+ etc. 'ingu)m conhece a sua conceção

    do bem+ os pormenores do seu pro8eto de vida ou se"uer as suas caracter-sticas

     psicológicas especiais. 567 Mais ainda+ parto do princ-pio de "ue as partes não

    conhecem as circunst3ncias particulares da própria sociedade. 567 9 dado ad"uirido+

    no entanto+ "ue conhecem os factos gerais da sociedade humana.

     Ho%n WaJls, :ma eoria da (ustiça, 6?;6,trad. de *arlos &into *orreia, p. 676

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     "s 3partes5 a que WaJls se refere são pessoas singulares, e não pessoas coletivas,

    como associaç$es ou empresas. "quilo que as caracteriza na posição original é o facto

    de estarem sob um v"u de ignor,ncia! sofreram uma espécie de amnésia que as faz

    descon%ecer quem são na sociedade e quais são as suas peculiaridades individuais. &or 

    isso, são forçadas a avaliar princpios da ustiça com imparcialidade. *omo quem está

    na posição original não sabe, por e+emplo, se é rico ou talentoso, não vai escol%er 

     princpios da ustiça que favoreçam indevidamente os ricos ou os talentosos.

     4a posição original, as partes não sabem sequer qual é o seu 3proeto de vida5. 4ão

    sabem, portanto, o que querem fazer na vida para se sentirem realizadas. 4o entanto,

    estão interessadas em escol%er o que é mel%or para si. &or isso, diz-nos WaJls, t#m

    interesse em obter bens %rimrios, ou sea, coisas que seam valiosas sea qual for o

    seu proeto de vida especfico. " liberdade, as oportunidades e a riqueza destacam-se

    entre os bens primários.

    Os princpios da ustiça

     Os princpios da ustiça corretos são aqueles que seriam escol%idos na posição

    original.

      4essa posição, os membros da sociedade, estando todos sob o mesmo véu de

    ignorLncia, ficam numa situação equitativa F da que WaJls nos estea a propor uma

    teoria da  !ustiça como euidade. " questão que se coloca agora é saber que princpios

    da ustiça seriam escol%idos na posição original. WaJls defende que esses princpios são

    os seguintes!

     !rimeiro princ-pio< cada pessoa deve ter um direito igual ao mais amplo sistema total 

    de liberdades b,sicas iguais "ue se8a compat-vel com um sistema semelhante de

    liberdade para todos.

    Segundo princ-pio< as desigualdades económicas e sociais devem ser distribu-das de

     forma "ue+ simultaneamente< A.  1edundem nos maiores benef-cios para os menos beneficiados 567;

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     B. Se8am a conse"u#ncia do e*erc-cio de cargos e funç4es abertos a todos em

    circunst3ncias de igualdade e"uitativa de oportunidades.

     (ohn 1a=ls+ :ma eoria da (ustiça+ >?@>+ trad. de arlos !into orreia+ p. B?

     Dado que o segundo princpio se decomp$e em dois princpios distintos, a teoria da

     ustiça de WaJls oferece-nos, na verdade, tr#s princpios da ustiça. )stes princpios não

    t#m a mesma importLncia, pois WaJls estabelece prioridades entre eles. "presentando-

    os em função da sua prioridade, obtemos a seguinte lista!

    1. &rincpio da liberdade

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    e+pressão F proibindo, supon%amos, a difusão de ideais polticos ou religiosos

    e+tremamente intolerantes F de modo a proteger a liberdade poltica.

     De acordo com o %rinc*%io da o%ortunidade !usta, as desigualdades na distribuição

    da riqueza são aceitáveis apenas na medida em que resultam de uma igualdade de

    oportunidades.

     'e numa sociedade %á grandes desigualdades que se devem, por e+emplo, ao facto de

    os mais pobres não terem acesso 0 educação, então essa sociedade não é usta.

    &ara garantir uma efetiva igualdade de oportunidades, sustenta WaJls, o governo deve

     providenciar, entre outras coisas, iguais oportunidades de educação e cultura para todos.

     O %rinc*%io da diferença  favorece também uma distribuição equitativa da riqueza.

     4o entanto, este princpio não afirma que a riqueza deve estar distribuda tão

    equitativamente quanto possvel. 'e as desigualdades na distribuição da riqueza

    acabarem por beneficiar todos, especialmente os mais desfavorecidos, então ustificam-

    se.

     &ara esclarecer o princpio da diferença, imaginemos duas sociedades! na primeira,

    todos t#m a mesma riqueza, mas todos são muito pobres1 na segunda, %á desigualdades

    na distribuição da riqueza, mas essas desigualdades acabam por beneficiar todos, de tal

    forma que nem mesmo os mais desfavorecidos são muito pobres. O princpio da

    diferença sugere que a segunda sociedade é, apesar das desigualdades que a

    caracterizam, prefervel 0 primeira. :sto porque na segunda os mais desfavorecidos

    vivem mel%or do que os membros da sociedade estritamente igualitária.

     Dado que o princpio da liberdade tem prioridade sobre os outros dois princpios da

     ustiça, numa sociedade usta não se promove a igualdade de oportunidades ou a

    distribuição da riqueza 0 custa de um sacrifcio das liberdades básicas iguais para todos.

     4o entanto, uma sociedade usta não se caracteriza simplesmente pela e+ist#ncia de

    tais liberdades individuais! é também uma sociedade em que a riqueza está

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    equitativamente distribuda, á que as desigualdades socioeconómicas são aceitáveis

    apenas na medida em que resultam de uma efetiva igualdade de oportunidades e acabam

     por beneficiar os mais desfavorecidos.

    O princpio ma+imin

      &or que razão pensa WaJls que, na posição original, as partes escol%eriam os

     princpios da ustiça por si indicados( "final, por que razão não escol%eriam antes, por 

    e+emplo, um princpio da ustiça de caráter utilitarista( 'e o fizessem, conceberiam uma

    sociedade usta simplesmente como aquela em que %á um maior total de bem-estar, sem

    que interesse o modo como este se distribui pelas diversas pessoas.

    WaJls sustenta que as partes prefeririam os seus princpios da ustiça ao utilitarismo

     porque, na posição original, as escol%as devem obedecer ao princpio ma+imin.

     'egundo este princpio de escol%a, se não sabemos quais serão os resultados que cada

    uma das opç$es que se nos colocam terá efetivamente, é racional ogar pelo seguro,

    fazendo a escol%a como se o pior nos fosse acontecer. "ssim, devemos identificar o pior 

    resultado possvel de cada alternativa, e depois optar pela alternativa cuo pior resultado

     possvel sea mel%or do que o pior resultado possvel de cada uma das restantes

    alternativas. Rea-se o seguinte cenário!

     :maginando-nos na posição original, a coberto do véu de ignorLncia, a escol%a mais

    racional seria optar por *. "pesar de nas opç$es " e podermos vir a ser mais ricos,

    seria mais seguro optar por *, caso em que o pior que nos poderia acontecer seria a

     pobreza moderada.

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     )m suma, o princpio ma+imin diz-nos o seguinte!

    *ada alternativa tem vários resultados possveis, sendo uns mel%ores do que outros.

    )ntre as alternativas disponveis, deve-se escol%er aquela que ten%a o mel%or pior 

    resultado possvel.

    :maginemos agora que as partes estão a escol%er entre o utilitarismo e os princpios da

     ustiça de WaJls. partida, numa sociedade em conformidade com o utilitarismo

     poderiam e+istir grandes desigualdades na distribuição do bem-estar, á que, sob esta

    teoria, a distribuição do bem-estar não é intrinsecamente importante. &or e+emplo, se a

    e+ist#ncia de alguns escravos resultasse num maior bem-estar social, e+istiriam

    escravos numa sociedade utilitarista. &elo contrário, os princpios da ustiça de WaJls

    são, como vimos, incompatveis com a e+ist#ncia da escravatura.

     4estas circunstLncias, uma pessoa raciocinaria do seguinte modo, se estivesse na

     posição original!

    'e eu escol%er o utilitarismo, estarei a optar por uma sociedade na qual poderei vir a ser 

    um escravo. 4o entanto, se eu escol%er os princpios da ustiça que WaJls prop$e, nada

    de tão mau poderá acontecer-me. /esmo que acabe por ficar na pior situação possvel,

    terei garantidamente certas liberdades básicas que me permitirão desenvolver o meu

     proeto de vida, sea ele qual for. "lém disso, dificilmente serei muito pobre, á que

    numa sociedade em conformidade com os princpios de WaJls as desigualdades na

    distribuição da riqueza só são aceitáveis se acabarem por beneficiar os mais

    desfavorecidos e resultarem de uma efetiva igualdade de oportunidades. &or isso,

     prefiro os princpios de WaJls ao utilitarismo.

     'ob o véu de ignorLncia, o pior resultado possvel de se escol%er os princpios da

     ustiça de WaJls é muito mel%or do que o pior resultado possvel de se escol%er um

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     princpio utilitarista. &or esta razão, raciocinando segundo o ma+imin, as partes

    escol%eriam os princpios de WaJls em vez do utilitarismo. 

    &m conclusão#

    9efinição dos conceitos nucleares

    &stado# organização e estrutura de governo de um pas e de uma nação. *onunto de

    instituiç$es que zelam pela administração do poder numa dada sociedade.