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1. Ética e Moral A Filosofia Moral distingue entre ética e moral. Ética tem a ver com o "bom": é o conjunto de valores que apontam qual é a vida boa na concepção de um indivíduo ou de uma comunidade. Moral tem a ver com o "justo": é o conjunto de regras que fixam condições equitativas de convivência com respeito e liberdade. Éticas cada qual tem e vive de acordo com a sua; moral é o que torna possível que as diversas éticas convivam entre si sem se violarem ou se sobreporem umas às outras. Por isso mesmo, a moral prevalece sobre a ética. No terreno da ética estão as noções de felicidade, de caráter e de virtudes. As decisões de qual propósito dá sentido à minha vida, que tipo de pessoa eu sou e quero vir a ser e qual a melhor maneira de confrontar situações de medo, de escassez, de solidão, de arrependimento etc. são todas decisões éticas. No terreno da moral estão as noções de justiça, ação, intenção, responsabilidade, respeito, limites, dever e punição. A moral tem tudo a ver com a questão do exercício do direito de um até os limites que não violem os direitos do outro. As duas coisas, claro, são indispensáveis. Sem moral, a convivência é impossível. Sem ética, é infeliz e lamentável. Diz-se que quem age moralmente (por exemplo, não mentindo, não roubando, não matando etc.) faz o mínimo e não tem mérito, mas quem não age moralmente deixa de fazer o mínimo e tem culpa (por isso pode ser punido). Por outro lado, quem age eticamente (sendo generoso, corajoso, perseverante etc.) faz o máximo e tem mérito, mas quem não age eticamente apenas faz menos que o máximo e deixa de ter mérito, mas sem ter culpa (por isso não pode ser punido, mas, no máximo, lamentado). Virtude – Qualidade do que se conforma com o considerado correto e desejável (p.ex., do ponto de vista da moral, da religião, do comportamento social etc.); e Uma qualidade moral particular. Caráter – Qualidade inerente a um indivíduo, desde o nascimento; temperamento, índole; e Feitio Moral Ética Militar – É um conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral afetos à vida castrense que impõem a disciplina consciente. 2. Disciplina A instituição militar sustenta-se no binômio hierarquia e disciplina permeado pela lealdade militar, e é nesse contexto que se deve entender a mensagem do general Senger sobre julgar, cuidar e decidir. A hierarquia baseia-se na superioridade apenas hierárquica de um militar sobre o outro e se manifesta na disciplina, usada pela hierarquia no cumprimento da missão. A disciplina Militar, diz o Art. 8º do Decreto Federal 4.346, RDE, é a rigorosa observância e o acatamento integral das leis, regulamentos, normas e disposições, traduzindo-se pelo perfeito cumprimento do dever por parte de todos e de cada um dos componentes do organismo militar.

Filosofia Militar

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Estudo sobre a disciplina e sua importância para o regular funcionamento das instituições militares

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  • 1. tica e Moral

    A Filosofia Moral distingue entre tica e moral. tica tem a ver com o "bom": o

    conjunto de valores que apontam qual a vida boa na concepo de um indivduo ou de uma

    comunidade. Moral tem a ver com o "justo": o conjunto de regras que fixam condies

    equitativas de convivncia com respeito e liberdade. ticas cada qual tem e vive de acordo com

    a sua; moral o que torna possvel que as diversas ticas convivam entre si sem se violarem ou

    se sobreporem umas s outras. Por isso mesmo, a moral prevalece sobre a tica.

    No terreno da tica esto as noes de felicidade, de carter e de virtudes. As decises

    de qual propsito d sentido minha vida, que tipo de pessoa eu sou e quero vir a ser e qual a

    melhor maneira de confrontar situaes de medo, de escassez, de solido, de arrependimento

    etc. so todas decises ticas.

    No terreno da moral esto as noes de justia, ao, inteno, responsabilidade,

    respeito, limites, dever e punio. A moral tem tudo a ver com a questo do exerccio do direito

    de um at os limites que no violem os direitos do outro.

    As duas coisas, claro, so indispensveis. Sem moral, a convivncia impossvel. Sem

    tica, infeliz e lamentvel. Diz-se que quem age moralmente (por exemplo, no mentindo, no

    roubando, no matando etc.) faz o mnimo e no tem mrito, mas quem no age moralmente

    deixa de fazer o mnimo e tem culpa (por isso pode ser punido). Por outro lado, quem age

    eticamente (sendo generoso, corajoso, perseverante etc.) faz o mximo e tem mrito, mas quem

    no age eticamente apenas faz menos que o mximo e deixa de ter mrito, mas sem ter culpa

    (por isso no pode ser punido, mas, no mximo, lamentado).

    Virtude Qualidade do que se conforma com o considerado correto e desejvel (p.ex.,

    do ponto de vista da moral, da religio, do comportamento social etc.); e

    Uma qualidade moral particular.

    Carter Qualidade inerente a um indivduo, desde o nascimento; temperamento,

    ndole; e

    Feitio Moral

    tica Militar um conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral afetos

    vida castrense que impem a disciplina consciente.

    2. Disciplina

    A instituio militar sustenta-se no binmio hierarquia e disciplina permeado pela

    lealdade militar, e nesse contexto que se deve entender a mensagem do general Senger sobre

    julgar, cuidar e decidir. A hierarquia baseia-se na superioridade apenas hierrquica de um militar

    sobre o outro e se manifesta na disciplina, usada pela hierarquia no cumprimento da misso.

    A disciplina Militar, diz o Art. 8 do Decreto Federal 4.346, RDE, a rigorosa observncia

    e o acatamento integral das leis, regulamentos, normas e disposies, traduzindo-se pelo

    perfeito cumprimento do dever por parte de todos e de cada um dos componentes do

    organismo militar.

  • A disciplina pressupe, assim, um cdigo de normas (doutrina) a ser seguido na

    transmisso e na execuo de ordens.

    Didaticamente a disciplina pode ser vista sob quatro aspectos: o consciente, o

    intelectual, o complementar e o verdadeiro.

    2.1 Disciplina Consciente

    A tica militar impe a disciplina consciente, aquela que necessariamente faz sentido e

    compreendida. Instrua-se o homem e a mulher no entendimento do que faz no cumprimento

    da misso, e no ser preciso humilhar ningum, coagido a obedecer cegamente.

    No entanto, as coisas se complicam e muito, quando se trata da disciplina consciente,

    que nada mais do que o comportamento do militar que tudo faz, mas o faz porque h uma

    obrigao objetiva advinda do conceito objetivo do que seja disciplina. F-lo porque foi

    conscientizado por um tratamento rigoroso das autoridades que participaram de sua formao.

    Ento no ser necessrio lembr-lo de que deve estar no quartel no horrio em que lhe foi

    determinado, que precisa fazer barba, cortar o cabelo, que as praas e oficiais no devem sair

    do quartel sem a cincia de seu chefe imediato, que quando vai atrasar deve avisar, enfim o

    militar disciplinado, mas disciplinado conscientemente. No h dvida, portanto, que a

    disciplina consciente advm de um rigoroso treinamento durante sua formao. Ela

    consequncia do conceito objetivo de disciplina.

    2.2 Disciplina Intelectual

    Mas por que a compreenso da disciplina intelectual to difcil? Algumas respostas

    existem para isso. A primeira se deve, talvez, a pouca informao que as autoridades repassam

    para os que esto na linha de subordinao. Outra poderia ser pelo pouco investimento em nvel

    intelectual, quer da Organizao ou do prprio militar, que tambm no se preocupa com isso.

    Mas a resposta mais cruel poderia ser a de que quando uma deciso de uma autoridade a quem

    eu, inclusive, admiro me afeta, a minha disciplina consciente perde valor, refiro-me ao valor

    moral que ela tem e a nossa capacidade intelectual (disciplina intelectual) de compreender o

    que foi feito ou se est decidindo no importa mais, porque eu estou sendo afetado por aquilo

    e logo eu me coloco como uma vtima do sistema que at ento eu defendia.

    Fundamental reforarmos a ideia de que a disciplina intelectual no cobra atitudes

    fsicas, atitudes comportamentais, aqui o nvel intelectual, de compreenso, de entendimento,

    e esto talhados para isso, somente os militares com uma boa bagagem cultural, moral e

    espiritual.

    A disciplina intelectual o refinamento da disciplina consciente. Significa tanto o direito

    como o dever de todos de contribuir para o aperfeioamento das ideias que levam melhor

    soluo dos problemas.

    Ela acontece em todos os escales quando os chefes (geralmente os descentralizadores)

    colocam em debate as questes antes das tomadas de deciso.

  • Significa, tambm, que se pode discordar de tudo e de todos e discorrer livremente

    sobre o que se pensa, durante as discusses. Mas, depois da deciso tomada, quem foi voto

    vencido se obriga intelectual e conscientemente a trabalhar pelo sucesso da ideia vencedora.

    2.3 Disciplina Complementar

    Apesar de acessria, a mais visvel. Pode levar o desavisado a no se dar conta de

    fundamentos mais importantes da disciplina. Estudos mostram que a apresentao pessoal,

    base da disciplina complementar, depende 7% da voz, 38% do que diz essa voz e os restantes

    55%, praticamente da roupa que o indivduo veste.

    A voz e o que diz essa voz so marcas importantes do lder. Os 55% da roupa, no caso, a

    farda, compreendem no s a farda impecvel, mas todo o ritual em volta dela: atitude, gesto e

    durao da continncia, ordem unida, paradas dirias, cabelo cortado, barba feita, unhas limpas

    e aparadas, banho tomado, andar e postura marcial, atitude militar.

    2.4 Verdadeira Disciplina

    Conceitualmente, s existe a disciplina consciente. A disciplina quando humilha, achaca,

    deprime no disciplina. Nos seus vrios aspectos e manifestaes (alguns aqui discutidos), visa

    o nobre fim a que se destina: a transmisso e a execuo de ordens, caracterstica (condio

    necessria e suficiente) da verdadeira disciplina.

    Ressalte-se a importncia de capites, tenentes e sargentos como atores principais da

    verdadeira disciplina. So eles, com os soldados, os que morrem nas guerras, os que, de fato,

    travam as batalhas. So eles os que, nessa condio, fazem a ponte entre o comando e a tropa,

    o que torna obrigatrio para eles conhecer de perto cada liderado. Do contrrio, ser impossvel

    transmitir sem rudos as ordens do comando e muito menos faz-las cumprir sem desvios,

    como devido.

    Os tempos so outros. Motiva-se pelo convencimento. E o convencimento, hoje, s

    possvel pelo conhecimento. A retrica corporativista, com a sua linguagem sedutora

    carregada de clichs motivacionais, j no mais convence. Um pas livre exige homens e

    mulheres livres para defend-lo, e o maior exemplo disso Israel, um vencedor.

    http://jeffersonws.blogspot.com.br/2010/04/disciplina-militar-jose-nogueira.html

    http://www.pmpr.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=631