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FINALIZAÇÃO
Abaixo segue a proposta de direção e referências, elaboradas para a realização
do projeto. O Filme foi gravado tentando, dentro das possibilidades da produção, seguir
a proposta. agora está em processo finalização: Gravação de vozoff complementar,
edição de som e mixagem para finalizar o som e fazer a finalizar a cor para terminar o
filme.
PROPOSTA DE DIREÇÃO
O filme Adalgiza discorre sobre o tema do isolamento humano a partir de uma
perspectiva realista, afastandose porém do caráter documental adotado pelo cinema
contemporâneo para aproximarse do realismo Machadiano que observa o cotidiano
das classes sociais para chegar ao cerne de seus costumes e assim, de forma irônica
e subjetiva, analisar a formação da personalidade individual e coletiva das
personagens.
Adalgiza e Soraia trazem características que podem ser, inicialmente,
encaixadas em estereótipos do senso comum, bem como a ambientação tem
verossimilhança com qualquer organização urbana de grande e médio porte que
aglutine populações heterogêneas. O curtametragem não busca, porém, descrever os
cenários e o caos das interações sociais entre personalidades díspares de forma crua
e superficial, mas antes provocar a catarse, do ponto de vista Aristotélico, sobre a
importância das relações interpessoais.
A relação entre as personagens analisada sob o prisma psicanalítico de Freud
permite inferir uma projeção da figura materna e substituição filial preenchendo
possíveis lacunas existentes em ambas.
A solidão, a melancolia e o cotidiano maçante fazem pano de fundo para a
grande alegoria do filme, o isolamento causado pela organização social moderna, que
em busca da segurança e ascensão econômica preteriu o coletivo. O questionamento
sobre o modelo de sociedade individualista e tema recorrente e necessário na
produção artística tendo sido retratado por cineastas de grande importância como
Ingmar Bergman, Wood Allen e David Lynch.
O filme tenta metaforicamente criticar a construção de muros no lugar de
pontes, ideia que pode ser compreendida em analogia ao poema de Sérgio Vaz em
seu livro Colecionador de Pedras:
A CERCA
Deus criou o homem e o homem criou os muros. Cercou a casa e as varandas pelos quatro cantos do mundo. Cercou o tempo,
o passado o presente e o futuro. Cercou o espaço, os sonhos a mente e os pássaros. Cercou a árvore
que nos dá o fruto, a sombra e a penumbra. Cercou as matas arou a terra plantou o trigo e cercou o pão. Foi preciso cercar outro homem.
LUZ
O principal cenário do curtametragem, o apartamento de Adalgiza, será
banhado por luzes frias contrastada com a luz solar quando a personagems estiver
próximo a janelas, que provocará meias sombras nas personagens e objetos cênicos
buscando revelar uma realidade cômoda e monótona, trazendo a sensação de um
ambiente estático, quase inabitado.
O corredor externo, local onde Soraia aparece, trará uma luz mais quente que
contrastará com o apartamento, essas iluminações antitéticas se tornarão dialógicas à
medida que o afeto entre as personagens vai se tornando concreto.
A luz fria será gradativamente suprimida pela quente, representando a conquista
emocional de Soraia sobre Adalgiza, não eliminando as meias sombras, mas
tornandoas menos contrastantes.
COR
ADALGIZA fala principalmente sobre a solidão e o cotidiano pacato, assim a
ambientação do apartamento da personagem homônima terá uma progressão
cromática em tons de bege e ocre, cores comumente ligadas à linearidade e
sobriedade. Os objetos cenográficos terão cores diversificadas, porém, sempre mais
fechadas.
Para auxiliar a caracterização das personagens haverá uma cor temática para
cada uma, de acordo com sua personalidade e ações.
A cor referencial de Adalgiza será o azul, que segundo a simbologia das cores
provoca a sensação de higiene, calma e segurança, e será apresentada em objetos
mais próximos, adereços e figurino, contrastando com a palidez do apartamento.
Para Soraia foi elegido o amarelo que representa otimismo, felicidade e
acolhimento, além de emprestar o clima de animação à personagem. A escolha desta
cor busca desconstruir a visão pré determinada de que tons de amarelo transmitem a
ideia de enfermidade.
ESPAÇO
A narrativa ocorre apenas em dois espaços, o apartamento e o corredor:
No apartamento teremos a disposição de objetos sempre muito organizados e
limpos, demonstrando o hábito da personagem de adaptar o ambiente à comodidade e
conforto necessários para longos períodos sem se ausentar.
Os objetos cênicos serão simples, desprovidos de pompas e luxos, exceto por
alguns detalhes como quadros e porcelanas que embora antigos dão um ar singelo de
aristocracia, como heranças de outro tempo.
O corredor deve estar livre de objetos, mas com uma extensão alongada, que
metaforicamente representa a dificuldade de Adalgiza de acessar o mundo exterior.
CÂMERA
No início do curta teremos planos mais fechados e contemplativos, focando os
detalhes e movimentos, mostrando a individualidade de Adalgiza, seus costumes e
trejeitos. A partir do momento em que Soraia bate à porta os planos de abrem,
usufruindo assim da misancene com enquadramentos mais distanciados e fixos, fica
implícito a mudança no mundo da personagem do singular para a pluralidade.
SOM
A sonorização ressaltará os ruídos do cotidiano, o bater de talheres, a televisão
ligada, o rádio, as sandálias se arrastando no chão. Os sons monótonos serão
entrecortados pelo toque do telefone, depois do diálogo com o filho, o silêncio.
Os barulhos produzidos por Soraia serão sempre ressaltados desde as batidas
na porta aos gritos no apartamento ao lado. A trilha musical ficará por conta do
pequeno rádio de Adalgiza, incluindo os instantes nos quais ela aumenta o volume
para abafar os ruídos da vizinha.
PONTO DE VISTA
O ponto de vista do filme será o de Adalgiza buscando revelar a subjetividade
da personagem, por exemplo nos momentos em que olha através do olho mágico da
porta, alterandose por vezes para o ponto do espectador para melhor compreensão
dos detalhes da interação das vizinhas, atentando para a comunicação corporal e
visual destas.
MONTAGEM
A montagem terá cortes secos demonstrando passagem de tempo no cotidiano
da personagem central. Ritmo pouco dinâmico de contemplação atmosférica em
relação aos enquadramentos mais fechados.
ROTEIRO COM DECUPAGEM
0.Tela preta – Zapeando canais
1.INT. NOITE SALA DE ESTAR
1.1 Plano médio lateral pan com movimento de trilho. Chiado de televisão, ouvese o som de canais sendo trocados. Nas paredes do corredor escuro vê se retratos de tempos antigos, telas com pinturas feitas por crianças e um relógio. Na sala, objetos cuidadosamente posicionados no aparador, um mancebo, um latão com um guarda chuva e uma bengala e, ao chão, alguns pares de pantufas velhas. Muitos vasos de plantas pela casa e sob a janela. 1.2 Plano fixo plonge ( médio/primeiro) Na mesa, uma bandeja com uma cumbuca com restos de sopa e migalhas de pão. 1.3 Plano médio conjunto Em um canto próximo à televisão, ADALGIZA, 65 anos, com roupas de dormir e meias , cochila ao lado do abajur aceso. 2. INT. NOITE – SALA DE ESTAR 2.1 Câmera diagonal, atriz em primeiro plano em relação a câmera. ( correção de reenquadramento, dependendo da disposição dos móveis) 2.1.A Plano detalhe (Tira de um saquinho de feltro e coloca de frente para o espelho.
B Aperta de leve as bochechas C Ajeita os cabelos)
Adalgiza, com roupas mais elegantes, tira de um saquinho de feltro um colar de pérolas e o coloca de frente para o espelho da sala. Aperta de leve as bochechas, para corálas e ajeita os cabelos. Adalgiza olha a hora no relógio de parede e se senta no sofá, como se à espera de alguém. O barulho do relógio ocupa a sala vazia. 3. INT. NOITE – SALA DE ESTAR 3.1 Plano médio, câmera fixa meia altura Momentos mais tarde: Adalgiza cochila no sofá. O telefone toca, ela se assusta e logo o atende.
ADALGIZA (de prontidão) Alô?
FILHO (OFF)
Oi mãe, sou eu.
Adalgiza sorri ao ouvir a voz do filho
ADLGIZA Oi filho! Que bom que você ligou, eu tava ficando muito preocupada.
FILHO(OFF)
Pois é, as coisas se complicaram aqui, uma coisa atrasou a outra. Não consegui sair daqui, não
deu nem pra comprar a passagem ainda. 3.2 Primeiro plano, Camera fixa meia altura Adalgiza vai perdendo o sorriso no rosto, mas continua com a voz firme.
ADALGIZA Entendi, filho. Achei que você já estava a caminho, por
isso fiquei preocupada. Que horas você chega?
FILHO (OFF) Não vou conseguir sair daqui, mãe, desculpa.
Queria estar aí com a senhora, mas a senhora sabe como é difícil arrumar passagem em cima da hora.
ADALGIZA
Tudo bem, filho! Não fica preocupado, tá tudo certo, mais tarde umas amigas vem
aqui, a gente come um bolo, coisa simples mesmo!
FILHO (OFF)
Que bom, tá certo então, mãe. Parabéns pra senhora de novo! Os meninos mandaram um beijo,
estamos com saudades.
ADALGIZA Eu também, filho, demais! Manda outro, fala que o bolo vai ficar pra próxima.
Um beijo, se cuida aí.
3.3 Plano médio , câmera fixa meia altura
FILHO (OFF) Um beijo!
Adalgiza escuta o telefone desligar e o coloca no gancho. Ela deixase encostar no sofá, lentamente tira o colar e os brincos, apertandoos em suas mãos fechadas no colo. Adalgiza tira os sapatos e os coloca em cima do pufe. Em seu rosto, profunda tristeza. Apenas o tictac do relógio ecoa pela sala. 4. INT/EXT. DIA – SALA DE ESTAR 4.1 Câmera em plongee em direção a janela, em primeiro plano plantas desfocadas, em segundo plano plano geral( ao fundo) a parte externa em foco. Mudança de foco para as plantas em primeiro plano Uma pessoa passa de bicicleta pela rua. As mãos de Adalgiza tocam as plantas que recebem sol sob a janela, examinando as. Seu dedo afunda dentro da terra. 4.2 Plano médio, correção em tilt para os pé de Adalgiza. Adalgiza sai, plano continua. Adalgiza molha as plantas com um recipiente com água. Ouve se o som da campainha do vizinho, seguido de batidas na porta.
MULHER (OFF) (brava) Tá de brincadeira. Tem alguém aí?
Adalgiza percebe que derramava água no chão, coloca o recipiente sobre o parapeito da janela e se aproxima da porta. 4.3 Plano primeiro. Adalgiza entra em quadro e vai até a porta.
MULHER (OFF) Como é que é? Vai abrir a porta ou
vou dormir aqui? Adalgiza encosta a orelha na porta.
MULHER (OFF) Ah não, agora não, fala sério!
A campainha de Adalgiza toca. Adalgiza se assusta e vai para trás. Ela olha através do olho mágico. 4.4 Subjetiva AdalgizaOlha mágico Vê SORAIA, 40 anos, aborrecida com o celular na mão. Soraia aproxima o rosto do olho mágico.
SORAIA Por favor, será que eu poderia usar
seu telefone? 4.5 Plano médio Adalgiza em diagonal em relação a porta Traveling out, movimento em pan, acompanhamento de Soraia ate o sofá, Adalgiza entra em primeiro plano desfocada, correção de foca para Adalgiza, Adalgiza sai de quadro. Adalgiza para um momento e pensa.
SORAIA (OFF) Oi? Tem alguém em casa?
Adalgiza abre a porta.
SORAIA Oi! Tudo bem? É que eu acabei de me mudar pra cá mas o proprietário não
aparece pra me dar a chave e o porteiro disse que só ele mesmo pra abrir.
Pra melhorar meu celular descarregou, posso usar seu telefone pra ligar pra ele?
Adalgiza olha para as malas e caixas no corredor.
ADALGIZA (atordoada) Pode sim, entra.
Soraia entra na casa de Adalgiza.
SORAIA Me chamo Soraia. Como é o nome da senhora?
ADALGIZA
É Adalgiza.
SORAIA Diferente, gostei. Ali o telefone, né
dona Adalgiza?
ADALGIZA É sim. Olha, será que eu...
É que eu não uso...Posso pedir pra você... 4.5 A Plano detalhe, sapatos de Soraia no tapete. Adalgiza olha para os sapatos de Soraia em cima de seu tapete. Soraia se senta e liga para ANTONIO, o proprietário.
SORAIA (gritando) Alô! Seu Antônio? Escuta aqui Seu Antônio. Como quem é? É a Soraia! Soraia que alugou a
porcaria do seu apartamento, porra! Adalgiza se espanta com o palavrão. Ela sai e busca um copo de água com açúcar. 4.6 Plano detalhe, Adalgiza coloca açúcar num copo com água.
SORAIA (gritando) Por que que eu tô gritando? Eu não tô gritando! O senhor nem me viu gritar ainda! Eu tô esperando o
senhor aqui há mais de duas horas, já vim, já voltei, já vim, já voltei e nada do senhor.
4.7 Plano americano. Adalgiza entra em quadro. Correção em pan.
ADALGIZA (baixo) Toma uma água com açúcar, minha filha, se
acalma.
SORAIA (gritando) Buscar aí? Eu? Aí na puta que o pariu? O senhor falou que ia me esperar aqui.
Todas as minhas coisas estão no corredor! O carreto já foi! Eu tô sozinha aqui!
Adalgiza sentase e toma a água com açúcar.
SORAIA (gritando)
Eu não tenho carro pra ir buscar esse caralho de chave! Eu vou pegar um táxi
e o senhor que vai pagar!
Soraia desliga o telefone e levanta num pulo. Adalgiza também se levanta.
SORAIA (mais calma) O que que a senhora tava dizendo?
ADALGIZA
É só que... os sapatos...por causa do tapete... 4.7.A Plano detalhe , subjetiva Adalgiza sapatos Soraia
SORAIA Ah! A senhora me desculpa, mas olha,
eu já tô saindo! Vou ter pegar as chaves! Será que eu podia pedir um outro favor pra senhora? Tudo bem a senhora ficar de olho
no corredor com as minhas coisas? Eu não demoro.
Soraia anda em direção à porta e Adalgiza a acompanha. 4.8 Plano médio, movimento em trilho, Adalgiza segue Soraia ate a porta. Movimento acaba, com over, com Adalgiza em diagonal em relação a porta.
ADALGIZA Fico sim, não tem problema, mas olha, não
fica nervosa, menina, você quer uma água?
SORAIA
Não, não, obrigada. Eu só quero mesmo é entrar em casa! Valeu, dona Adalgiza!
Soraia sai pela porta. Adalgiza, com o copo de água na mão, olha a grande quantidade de malas e alguns eletrodomésticos no corredor. Adalgiza toma um gole do copo. 5. INT. DIA – SALA DE ESTAR 5.1 Plano Médio, Adalgiza sai de quadro, baixa o som do radio (off), passa de novo em frete ao plano. Adalgiza almoça sentada à mesa da sala, ao som do rádio. A campainha toca. Adalgiza levanta e se ajeita.
5.2 Subjetiva Adalgiza olho mágico. Através do olho mágico, ela vê Soraia, com roupa de academia e óculo de sol em cima da cabeça. 5.3 Plano médio over, Adalgiza em diagonal em relação a porta. Adalgiza abre a porta.
SORAIA Oi, dona Adalgiza! Tudo bem com a senhora?
Olha, desculpa o outro dia, viu! Vim agradecer e trazer essa caixinha, já que a senhora gosta de açúcar.
Soraia tira de debaixo do braço uma caixa de chocolates em forma de coração e a entrega à Adalgiza.
ADALGIZA Poxa, minha filha, não precisava não.
Obrigada. Adalgiza olha a caixa e vê um cartão preso onde lêse: 5.4 Plano detalhe – Bilhete / Soraia , tira o bilhete. “Para minha loira linda”
SORAIA Ah, espera aí, deixa eu só tirar esse
lixo aqui. Soraia arranca o cartão e o amassa. 5.5 Plano médio over, Adalgiza em diagonal em relação a porta. Adalgiza sai em direção a câmera.
SORAIA Bom, é isso, vou lá dar minha corrida, depois a senhora me conta se é gostoso.
Té mais!
ADALGIZA Tchau, menina.
Adalgiza entra em casa e ri.
6. INT. DIA – SALA DE ESTAR 6.1 Plano detalhe. Uma música toca no rádio. Adalgiza costura sob a janela. 6.2 Plano médio Ouvese o som de um martelo batendo na parede vizinha. Adalgiza olha irritada em direção à porta. O som do martelo continua. Adalgiza aumenta o volume do rádio. Ouvese o som de uma furadeira. Adalgiza, irritada, larga o bordado no colo. 7. INT. NOITE – SALA DE ESTAR 7.1 Plano médio diagonal, em relação a Adalgiza( câmera posicionada em relação a disposição da porta )
Ouvese os sons de canais sendo trocados. Adalgiza desliga a TV e levantase para ir dormir. Ouvese risos de Soraia e de um homem. 7.2 Subjetiva Adalgiza Olho mágico Adalgiza para, vai até a porta e olha através do olho mágico. Ela vê Soraia, com os sapados nas mãos, pendurada ao lado de CARLOS, 45 anos, engomado.
CARLOS Ê, gatinha, tem certeza que é
aqui que você mora, né?
SORAIA Certeza absoluta, só preciso
achar minha chave. Soraia revira a bolsa e acha suas chaves. 7.3 Plano primeiro Adalgiza recua contrariada e vai dormir. 8. INT. NOITE – SALA DE ESTAR 8.1 Plano médio conjunto( frontal), Adalgiza sai de quadro. Adalgiza, com os pés de pantufa em cima do pufe, assiste à televisão. Ouvese passos de salto alto e risos vindos do corredor. Ouvese o som de alguém caindo no chão.
SORAIA (OFF)
Ai, Deus! Esse sapato tá me matando. Ouvese o barulho de chaves. Soraia tenta abrir a porta, mas as chaves caem no chão. Adalgiza vai até a porta e olha através do olho mágico. 8.2 Subjetiva Adalgiza Olho mágico Vê Soraia, de quatro e descalça, que tateia pelas chaves. 8.3 Subjetiva Adalgiza , plano médio Adalgiza abre a porta.
ADALGIZA(off) Menina, o que aconteceu?
Soraia para e coloca a mão na boca como se fosse vomitar, 8.4 Plano primeiro Adalgiza. Meia Altura. Ela não consegue mais segurar e vomita no capacho.
SORAIA(OFF) Ai não!
8.5 Plano americano. Adalgiza vai ate o batente da porta.
ADALGIZA Vem, menina. Vou te fazer um chá.
8.6 Plano detalhe, Adalgiza tira um lenço da gaveta do quarto. 8.7 Plano médio, Adalgiza entra em quadro. (Soraria já esta e quadro) Adalgiza coloca Soraia no sofá. Adalgiza busca um lenço em sua gaveta e o entrega à Soraia, que limpa sua boca.
SORAIA Ai, vai cheirar mal agora.
ADALGIZA
Não tem problema, menina, fica pra você. 9. INT. DIA – SALA DE ESTAR 9.1 Plano médio conjunto Soraia, deitada, dorme no sofá de Adalgiza. Ao seu lado, uma xícara de chá vazia. Adalgiza está na cozinha. 10. INT. FIM DE TARDE – SALA DE ESTAR 10.1 Plano Médio diagonal Uma música toca no rádio. Adalgiza cuida de suas plantas, troca algumas de lugar, rega outras.
SORAIA (OFF) (gritando) Que que você veio fazer aqui,
seu filho da puta?
CARLOS (OFF) Calma Soraia, não é pra tanto.
Fala baixo.
SORAIA (OFF) (gritando) Na minha casa eu falo como eu quiser!
CARLOS (OFF)
Eu só vim te trazer isso aqui, gastei mó grana!
SORAIA (OFF) (gritando) Enfia no cu essa porra.
10.2 Subjetiva Adalgiza Olho mágico Adalgiza vai para a porta, olha através do olho mágico e vê Soraia, sentada no chão, encostada no batente da porta., ela chora. Algumas rosas estão caídas no chão. 11. INT. FIM DE TARDE CORREDOR 11.1 Plano médio, Adalgiza de costas e Soraia no chão. Adalgiza abre a porta.
SORAIA (entre soluços)
Dona Adalgiza, desculpa essa gritaria.
ADALGIZA Ô menina, deixa disso...
SORAIA
Por que eu sou tão burra, dona Adalgiza?
ADALGIZA A gente não é burra só porque faz
algumas burrices. Vem comigo, eu fiz um bolinho de manhã que tá
bem gostoso. Adalgiza vai até batente da porta. Soraia fecha sua porta a e segue Adalgiza. 12. INT. FIM DE TARDE – SALA DE ESTAR
12.1.Plano médio conjunto –meia altura
Adalgiza traz um pedaço de bolo de chocolate para Soraia, ela senta ao lado dela no sofá.
SORAIA (triste) Obrigada. Na casa dos meus pais
ninguém fazia bolo assim.
ADALGIZA Nem sua vó?
SORAIA
Não conheci meus avós. Tá uma delícia esse bolo, dona Adalgiza.
O telefone toca.
ADALGIZA Só um minutinho, minha filha.
Soraia, de boca cheia, gesticula.
SORAIA Uhum!
Adalgiza atende o telefone.
ADALGIZA
Alô? 12.2 Primeiro Plano (em diagonal)
FILHO (OFF) Oi, mãe. Sou eu. Tô ligando pra saber se
tá tudo bem.
ADALGIZA Tá tudo certo, filho. E com vocês aí?
FILHO (OFF)
Bem também, mãe. Olha, queria te avisar que vamos viajar no feriado, tudo bem?
Então não estaremos em casa.
ADALGIZA Tudo bem, filho, não tem problema não.
FILHO (OFF)
Chegando lá eu te telefono pra senhora falar com os meninos, tá?
ADALGIZA
Tá certo, filho. Boa viagem pra vocês. Tô aqui com uma amiga, não posso falar muito agora...
FILHO (OFF)
Ah, tá. Até mais então, mãe, obrigada! Um beijo.
ADALGIZA
Beijo, filho. Até. 12.3 Plano médio conjunto –meia altura Adalgiza desliga o telefone.
SORAIA Não sabia que a senhora tinha filho.
ADALGIZA
Filho e dois netos. Mas nos vemos bem pouquinho, eles moram longe.
SORAIA
Entendi, que pena. Soraia raspa a cobertura do prato.
SORAIA Acho que eu vou comer mais um, dona
Adalgiza. 13. INT. DIA – SALA DE ESTAR 13.1 Plano médio diagonal Uma música toca no rádio. Adalgiza costura sob a janela. Ouvese o som de outra música se sobrepondo à de Adalgiza, um rock alto. Soraia canta do outro lado da porta. Adalgiza ri, aumenta o volume do rádio e continua a costurar. 14. INT. DIA – COZINHA 14.1 Plano Americano Adalgiza e Soraia tomam café juntas e conversam. 15. INT. DIA – SALA DE ESTAR 15.1 Plano médio Adalgiza em diagonal em relação a porta ( referente ao plano 4.5) Adalgiza caminha para abrir a porta. Soraia entra segurando um grande vaso de plantas. Adalgiza fica feliz. Adalgiza e Soraia procuram um lugar para o novo vaso de plantas. 16. INT. NOITE – SALA DE ESTAR 16.1. Plano médio conjunto, câmera fixa. Adalgiza sai de quadro (Adalgiza levanta e abre a portinha do armário do aparador. Ela tira uma garrafa de cachaça e dois copinhos e os coloca na mesa). Adalgiza entra em quadro. Soraia e Adalgiza jogam buraco e dão risada na mesa da sala. Soraia come salgadinhos feitos por Adalgiza.
SORAIA Ai, dona Adalgiza, só a senhora pra ficar fazendo essas coisas, eu compro tudo pronto.
ADALGIZA
Credo, essas coisas de padaria só tem óleo!
SORAIA
Gotoso mesmo, mas melhor ficaria com uma cervejinha.
ADALGIZA
Vou ficar devendo, mas tenho guardado aqui uma coisa que acho que você vai gostar.
Adalgiza levanta e abre a portinha do armário do aparador. 16.2. Plano primeiro em Soraia. Ela tira uma garrafa de cachaça e dois copinhos e os coloca na mesa.
SORAIA Opa, dona Adalgiza! Quem diria! Agora sim o jogo vai ficar bom!
INSERT 1: Dias depois 1.Plano Zenital,( vertical), plano primeiro câmera fixa 17. INT. DIA – SALA DE ESTAR 17.1 Plano Médio diagonal( referente ao plano 10.1) Uma música toca no rádio. Adalgiza borda sob a janela. Adalgiza olha em direção da porta e diminui o som do rádio, como se esperasse ouvir algum barulho vindo do corredor. Adalgiza retoma o bordado. INSERT 2: Semanas depois 1.Plano Zenital,( vertical), plano primeiro câmera fixa 18. INT. NOITE – SALA DE ESTAR 18.1 Plano médio/ conjunto, câmera fixa. Adalgiza chega a mesa e sai de quadro. 18.1 A – Plano primeiro, câmera fixa. Adalgiza se aproxima do olho mágico. Adalgiza leva uma bandeja com uma cumbuca de sopa e um pão e a coloca em cima da mesa. Ela ouve barulho de passos no corredor, vai até a porta e olha através do olho mágico.
18.2 Subjetiva Adalgiza Olho mágico Um faxineiro do prédio retira o lixo da porta de Adalgiza. 18.3 Plano médio/ conjunto, câmera fixa. Adalgiza volta para mesa e se senta, o tic tac do relógio ecoa pela sala vazia. 19. INT. NOITE SALA DE ESTAR 19.1. Plano geral, câmera fixa Adalgiza cochila no sofá ao som de algum programa na televisão. 20. INT. DIA – SALA DE ESTAR 20.1 Plao primeiríssimo, câmera fixa. Mãos de Adalgiza nas plantas. Adalgiza rega a suas plantas. 20.2 Plano primeiro , câmera fixa. Ouvese o som de passos no corredor. 20.3 Plano americano. No sofá, Adalgiza passa , a câmera acompanha em pan. (rodar inteiro) Adalgiza se apressa para a porta e olha através do olho mágico. Adalgiza abre a porta. 20.4 Subjetiva Adalgiza Plano médio. (rodar inteiro) O porteiro do prédio apanha as correspondências que estavam acumuladas no capacho de Soraia.
ADALGIZA Bom dia, Manuel
MANUEL
Bom dia, dona Adalgiza. Tudo bem com a senhora? Já tava deixando isso aqui
no seu tapetinho. Manuel apanha a correspondência do chão e entrega nas mãos de
Adalgiza. 20.5 Plano médio, em diagonal para Adalgiza ( rodar inteiro)
ADALGIZA Ah obrigada, Manuel. Escuta, a
menina que mora aí na frente, a Soraia Faz tempo que não a vejo.
Ela se mudou?
MANUEL Não senhora, não mudou não. Ela
tá no hospital, eu acho. O sindico pediu pra eu guardar a correspondência dela que ele vai
mandar entregar.
ADALGIZA Mas o que ela tem? Tá tudo bem?
Você sabe se é grave?
MANUEL Não sei não, dona Adalgiza. Mas pergunta pro
sindico que ele sabe, sabe onde ela tá e tudo.
ADALGIZA
Vou ligar lá sim. Bom, obrigada Manuel.
MANUEL
Nada, dona Adalgiza. Qualquer coisa a senhora chama.
Adalgiza fecha a porta . 20.6 Plano médio, câmera fixa, sofá. E volta para o interior da sala. Ela senta no sofá e coloca a correspondência ao seu lado. Adalgiza pega o telefone e o apoia no colo. 21. INT. DIA – SALA DE ESTAR 21.1 Câmera diagonal, plano médio
2.1.A Plano detalhe (Tira de um saquinho de feltro e coloca de frente para o espelho.
B Aperta de leve as bochechas C Ajeita os cabelos)
Uma música toca no rádio. Adalgiza, com roupas elegantes, tira seu colar de pérolas do saquinho de feltro e o coloca na frente do espelho da sala. Ajeita seus cabelos e aperta as bochechas para corálas. 21.2 Plano americano, com correção e pan. Adalgiza põe algumas fatias de bolo de chocolate em um pote plástico sobre a mesa e o coloca dentro de uma sacola. Ela vai em direção ao mancebo, tira as pantufas e encaixa seus sapatinhos. Adalgiza abre e sai pela porta, deixando para trás seu rádio ligado. 22. EXT. DIA – RUA 22.1 Câmera em plongee em direção a janela, em primeiro plano plantas desfocadas, em segundo plano plano geral( ao fundo) a parte externa em foco, Adalgiza passa. Adalgiza caminha pela rua.
FIM
ADALGIZA
FÍLMICA
The Straight Story (1999)- David Lynch
FÍLMICA
Tomates verdes fritos(1991)- Jon Avnet
FÍLMICA
Smultronstället (Morangos Silvestres)(1957)- Bergman
FÍLMICA
Harold and Maude (Ensina-me a viver)(1971) Hal Ashby
FÍLMICA
Whatever Works (Tudo Pode Dar Certo)( 2009) Woody Allen
FÍLMICA
Il Postino ('O Carteiro e o Poeta‘)(1994)-Michael Radford
PERSONAGEM ADALGIZA
PERSONAGEM SORAIA
Uma Mulher Sob influência(1974)- Cassavetes Blue Jasmine ( 2013) - Woody Allen
Literária “(...)e na minha idade, cada hora é um ano.” “Tomei banho enquanto passava o café, bebi uma caneca adoçada com mel de abelhas e acompanhada por duas broas de farinha de mandioca, e vesti o macacão de brim de ficar em casa.” “(... )eram os meus noventa anos. Nunca pensei na idade como se pensa numa goteira no teto que indica a quantidade de vida que vai nos restando.”
Memorias de minhas putas tristes – Gabriel Garcia Márquez
“O segredo de uma velhice agradável consiste apenas na assinatura de um honroso pacto com a solidão.”
Cem anos de solidão - Gabriel Garcia Márquez
Literária “Vivo agitado, cheio de terrores, uma tremura nas mãos, que emagreceram. As mãos já não são minhas: são mãos de velho, fracas e inúteis. As escoriações das palmas cicatrizaram.” “À noite fecho as portas, sento-me à mesa da sala de jantar, a munheca emperrada, o pensamento vadio longe do artigo que me pediram para o jornal.” “Afinal tudo desaparece. E, inteiramente vazio, fico tempo sem fim ocupado em riscar as palavras e os desenhos. Engrosso as linhas, suprimo as curvas, até que deixo no papel alguns borrões compridos, umas tarjas muito pretas.”
Angústia Graciliano Ramos
Literária “Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então não me impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que nunca tive: duas pernas. Sei que somente com as duas pernas é que posso caminhar. Mas ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa encontrável em mim mesma, e sem sequer precisar me procurar.” “Até aquele momento eu não havia percebido totalmente a minha luta, tão mergulhada que estivera nela. Mas agora, pelo silêncio onde enfim eu caíra, sabia que havia lutado, que havia sucumbido e que cedera.”
Paixão segundo G.H -Clarice Lispector
Literária Lo recordaré siempre con claridad porque fue simple y sin circunstancias inútiles. Irene estaba tejiendo en su dormitorio, eran las ocho de la noche y de repente se me ocurrió poner al fuego la pavita del mate. Fui por el pasillo hasta enfrentar la entornada puerta de roble, y daba la vuelta al codo que llevaba a la cocina cuando escuché algo en el comedor o en la biblioteca. El sonido venía impreciso y sordo, como un volcarse de silla sobre la alfombra o un ahogado susurro de conversación. También lo oí, al mismo tiempo o un segundo después, en el fondo del pasillo que traía desde aquellas piezas hasta la puerta. Me tiré contra la pared antes de que fuera demasiado tarde, la cerré de golpe apoyando el cuerpo; felizmente la llave estaba puesta de nuestro lado y además corrí el gran cerrojo para más seguridad. Yo cebaba el mate con mucho cuidado, pero ella tardó un rato en reanudar su labor. Me acuerdo que me tejía un chaleco gris; a mí me gustaba ese chaleco. Los primeros días nos pareció penoso porque ambos habíamos dejado en la parte tomada muchas cosas que queríamos. Mis libros de literatura francesa, por ejemplo, estaban todos en la biblioteca. Irene pensó en una botella de Hesperidina de muchos años. Con frecuencia (pero esto solamente sucedió los primeros días) cerrábamos algún cajón de las cómodas y nos mirábamos con tristeza.
Casa tomada- Julio Cortázar
Literária
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira Talvez fosse feliz.) Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela. O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?). Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica. (O Dono da Tabacaria chegou à porta.) Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me. Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.
Álvaro de Campos, 15-1-1928
(...) Depois deito-me para trás na cadeira E continuo fumando. Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
Janelas do meu quarto, Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é (E se soubessem quem é, o que saberiam?), Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente, Para uma rua inacessível a todos os pensamentos, Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa, Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres, Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens, Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada(...)
Pictórica
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