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    Eng MEng. Max Junginger – [email protected] 

    CORREÇÃO DE FISSURAS EMALVENARIA DE VEDAÇÃO: ESTUDO DE CASO

    RESUMO

    Os encontros alvenaria/estrutura de prédios em estrutura convencional reticulada representam locaispropícios ao aparecimento de fissuras, particularmente para estruturas muito esbeltas. Os revestimen-tos internos em gesso de pequena espessura agravam o problema pela sua baixa capacidade de absor-ver deformações. Nesse estudo de caso, uma torre residencial de 18 pavimentos, as interfaces alvenari-a/estrutura foram monitoradas. As fissuras foram analisadas segundo sua amplitude e posição geográ-

    fica, sendo definido um tipo de recuperação adequado para cada uma delas. As fissuras menores e depequena movimentação foram corrigidas no próprio revestimento de gesso e as mais graves foramcorrigidas com uso de massa corrida aditivada e véu de poliéster. Os casos mais críticos no últimopavimento exigiram a colocação de frisos na fachada, o que provocou alterações na arquitetura doedifício. Nas paredes internas desse pavimento, foi necessário o uso de selante acrílico em alguns en-contros verticais.

    1. INTRODUÇÃO

    O presente texto descreve como foram corrigidas as fissuras nos encontros alvenaria/estrutura em umatorre residencial de 18 pavimentos com estrutura convencional e alvenaria de blocos de concreto. Adisposição geográfica do edifício está representada na Figura 1 e as paredes mais atingidas pelo pro-blema estão numeradas na Figura 2. O cronograma de obra seguiu aproximadamente um ciclo de qua-tro pavimentos, ou seja, execução da alvenaria de cima para baixo de quatro em quatro pavimentos,

    iniciando a fixação do 4o quando da conclusão da elevação do 8o.Alguns problemas se manifestaram antes mesmo da entrega da obra, o que resultou numa correçãomenos traumática. Outros, entretanto, surgiram já com o morador habitando o local e logo após a uni-dade ser entregue, o que resultou em grande desgaste para o engenheiro da obra e para a construtora.

    A incidência de Sol (ver Figura 1) concentra-se nos aptos finais 1 e 4, que apresentaram 74% do totalde fissuras da obra, sendo grande parte nas paredes P01 e P35. As paredes simétricas nos apartamentosfinais 2 e 3 apresentaram problemas semelhantes, mas em quantidade sensivelmente inferior, o que foiuma indicação contundente da ação do Sol como fator importante no surgimento desses problemas.

    O gesso de revestimento, na grande maioria das paredes até o pavimento 7, foi aplicado em pequenaespessura, com auxílio de desempenadeira, uma vez que a alvenaria de base era de boa qualidade.Entretanto, nos pavimentos superiores (do 8 ao 18), o gesso passou a ser aplicado em maior espessura

    e com auxílio de mestras devido ao grande número de problemas com fissuração ocorridos até o 7o

     pavimento. A maior espessura do revestimento proporciona maior capacidade para que as deformaçõesda base sejam “absorvidas” de maneira imperceptível, mas em muitos locais essa atitude não foi sufi-ciente para eliminar a ocorrência dessa manifestação.

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    Figura 1 - Posicionamento geográfico do edifício Figura 2 – Numeração das paredes

    Figura 3 – Planta do pavimento tipo

    Sol pela manhã

    Final

    3

    Final

    4

    Final

    1

    Final

    2

    S N

    O

    L

    Sol à tarde

       P   0   1

     

       P   0   1

    P25

    P25

       P   0   1

       P   0   1

    P35P35

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    2. CORREÇÃO DAS FISSURAS – TÉCNICAS UTILIZADAS

    O tipo de correção a ser executado depende fundamentalmente do tipo de fissura e da sua amplitude demovimentação, ou seja, se sua abertura varia substancialmente quando sob incidência de ações higro-térmicas e/ou de seus efeitos. Algumas fissuras ocorrem e se mantêm praticamente estáticas, ou seja,apresentam pouca ou nenhuma movimentação, sendo essa capaz de ser “absorvida” pelo revestimentoaplicado sobre a base em questão.

    Outras, aparecem e se mantêm ativas durante a vida útil do edifício numa amplitude tal que o revesti-

    mento de gesso ou argamassa pode não ter capacidade de deformação suficiente para “absorvê-las” etermina por apresentar uma pequena fissura nas imediações dos pontos de movimentação diferencialda base, como por exemplo nos encontros alvenaria/estrutura. Nesse caso, quanto menor a espessurados revestimentos de gesso e argamassa, menor sua capacidade para “absorver” esse tipo de movimen-tação. Assim, para um dado edifício sujeito à movimentação diferencial na interface alvenari-a/estrutura, a possibilidade de fissuração e a dificuldade de correção aumentam conforme o revesti-mento torna-se menos espesso.

    Por fim, fissuras ativas e de amplitude expressiva, como por exemplo as decorrentes de dilatação tér-mica das lajes de cobertura, são de difícil correção porque apresentam movimentação cíclica e degrande amplitude, chegando à casa dos milímetros em alguns casos. Para detectar-se se uma fissuraestá sujeita à movimentação cíclica, podem ser colocados selos de gesso em alguns pontos, o que for-nece bons subsídios a respeito da sua amplitude de variação.

    É importante ressaltar que tanto a abertura quanto o caráter cíclico das fissuras são fatores importantespara definir a técnica de correção. Grandes fissuras (trincas/rachaduras) podem ser corrigidas com ouso de materiais rígidos desde que sejam estáticas, ou seja, não apresentem movimentação cíclica. Poroutro lado, fissuras “vivas”, ou seja, que apresentam movimentação cíclica, precisam ser corrigidascom a utilização de materiais elasto-plásticos por menor que seja sua abertura.

    Os três tipos de fissuras comentados anteriormente serão tratados na seqüência com a designação defissuras capilares, fissuras médias e fissuras acentuadas, sendo a correção de cada tipo o objetivo deum item específico.

    2.1. Fissuras capilares

    Esse tipo de fissura ocorreu no revestimento de gesso das paredes menos atingidas pelo Sol. Sua apa-rência é semelhante à de um fio de cabelo, daí sua designação, e pode ter caráter cíclico a ponto dedesaparecer em alguns períodos do dia. Sua maior abertura é de um ou dois décimos de milímetro e,mesmo com essa dimensão, pode ser de difícil percepção a olho nu e em condições escassas de lumi-nosidade ou sob ação de sombras.

    Figura 1 – Abertura das fissuras Figura 2 – Preenchimento das fissuras com massa aditivada

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    Sua correção envolveu três passos básicos:

    1. marcação do seu trajeto com lápis escuro: essa etapa, não obrigatória, teve por objetivo pro-porcionar boa visualização da fissura para execução do passo seguinte, evitando que sua vi-sualização fosse prejudicada conforme as condições climáticas estivessem favoráveis ou não;

    2. abertura da fissura: neste passo, a fissura foi aberta em forma de “V” (Figura 1), ou seja, umsulco com aproximadamente 2 a 3mm de largura e mesma dimensão de profundidade. Deve-seficar atento para que o fundo do sulco coincida o melhor possível com a fissura original, daí a

    importância de sua correta demarcação;3. preenchimento do sulco com material flexível: aqui, o sulco aberto anteriormente foi preen-

    chido com material flexível (Figura 2), como por exemplo massa PVA ou acrílica aditivadascom resinas equivalentes. Isso permite a pequena movimentação cíclica da fissura sem que elaseja percebida no acabamento final em pintura ou textura, por exemplo. Uma vez que essasmassas aditivadas apresentam grande retração por perda d’água, podem ser necessárias duas atrês demãos até que se obtenha o acabamento final plano e liso. Também, pelo seu aspecto“emborrachado”, são de difícil lixamento e sua aplicação deve ser feita de tal forma a evitarnecessidade de acabamento final.

    2.2. Fissuras médias

    Pelo fato de apresentarem maior movimentação, maior abertura, ocorrerem em paredes bastante inso-

    ladas e apresentarem diferentes aberturas conforme o horário de observação, deduziu-se que eramfissuras ativas e outra técnica de correção foi adotada. Neste caso, uma faixa do revestimento de gessopróxima à fissura foi desvinculada da base, ou seja, não houve aderência entre o gesso e a alvenari-a/estrutura. Essa “ponte” sobre a fissura evita que a movimentação seja transmitida diretamente paraapenas uma linha do revestimento, possibilitando que toda a faixa não aderida “absorva” a variaçãodimensional. Assim, a movimentação da fissura deixa de exercer um efeito de fendilhamento e passa aser “absorvida” por uma faixa do revestimento. Tanto menores serão a deformação específica e a pro-babilidade de novas fissuras quanto maior for a largura da faixa sem aderência com a base.

    A correção envolveu os seguintes passos:

    1. remoção de uma faixa do revestimento (Figura 3): teve por objetivo remover a região danifi-cada e abrir espaço para a aplicação do véu de poliéster. A partir do centro da fissura, foi re-movida uma faixa de aproximadamente 7-8cm de cada lado, o que totalizou um vão de 15cmde largura em média;

    2. regularização da base (Figura 4): essa etapa, de importância relevante, teve dois objetivos: e-liminar rugosidades da base de modo que a fita pudesse ser aplicada e permitir que o véu depoliéster estivesse num plano único e trabalhasse eficientemente à tração;

    Figura 3 – Remoção do revestimento Figura 4 – Regularização do substrato

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    3. aplicação da fita1 (Figura 6): a fita plástica teve por objetivo formar uma ponte entre o reves-timento e a base, evitando que os esforços decorrentes da movimentação da fissura transmi-tam-se imediatamente para o revestimento. Estando isolado da base, todo o trecho sem ade-rência passa a trabalhar em conjunto para “absorver” a movimentação cíclica da fissura. Entre-tanto, cuidados devem ser tomados para que o trecho de revestimento de gesso sem aderênciacom a base não seja muito extenso, o que poderia torná-lo frágil e ocasionar problemas inespe-rados;

    4. aplicação do véu: com o uso de resina acrílica, uma faixa de véu de poliéster foi aplicada so-bre a fita plástica. É fundamental que o véu esteja muito bem esticado e que sua direção sejaadequada, ou seja, deve ser cortado de tal forma que não se alongue caso seja solicitado à tra-ção quando a fissura aumenta de largura (Figura 8);

    Figura 8 – Direção correta para aplicação do véu

    Figura 6 – Aplicação da fita plástica Figura 10 – Aplicação do véu

    5. reexecução do revestimento: nessa etapa, existem duas maneiras de refazer o acabamento daparede: rígida e flexível. A recuperação rígida consiste em reaplicar o revestimento de gessoonde ele foi removido e a recuperação flexível consiste em preencher a faixa sobre o véu commassa (acrílica ou PVA) aditivada, o que aumenta sua capacidade de absorver deformações

    sem fissurar novamente. Nesta obra em questão, todos os locais atingidos tiveram acabamentoem gesso, o que significou que a ponte formada pela fita plástica mais o reforço do véu de po-liéster foram suficientes para eliminar o problema. Um detalhe importante é que, como o ges-so não adere sobre a resina acrílica usada para colar o véu, foi preciso executar uma ponte deaderência nesse local, ou seja, imediatamente antes da aplicação do gesso foi aplicada umademão da mesma resina usada como cola.

    1 Fita plástica: tipicamente, uma fita de polipropileno com adesivo acrílico no verso.

    O véu não pode alongar quandosolicitado desta maneira

    VéuFissura

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    2.3. Fissuras acentuadas

    Essas fissuras ocorreram no último pavimento, na base da viga da laje de cobertura e em alguns encon-tros de paredes a 90o. Como a laje de cobertura não possuía projeto de isolamento térmico e apenasuma camada de 5cm de argila expandida foi sobre ela distribuída, optou-se por utilizar uma outra téc-nica na correção, capaz de absorver movimentações cíclicas e de maior amplitude apresentadas pelabase.

    Assim, o tipo de recuperação adotado foi o mesmo das fissuras médias, passos 1 a 4. O acabamento,

    entretanto, foi executado por meio de quatro camadas intercaladas de véu de poliéster e massa acrílicaaditivada, formando uma única camada composta e flexível capaz de absorver as movimentações dabase (Figura 11). Vale ressaltar aqui a enorme importância da fita plástica, isolando a região da fissurae formando uma ponte sem aderência com revestimento a ser aplicado.

    Figura 11 – Revestimento corrigido com acabamento flexível

    A Figura 12 mostra um exemplo onde essa técnica de recuperação foi aplicada. Nesse local, o revesti-mento era comporto por uma camada de argamassa de aproximadamente 2cm de espessura e, na regi-ão da fixação da alvenaria, havia uma tela metálica eletrossoldada de malha quadrada. Após a remoçãode uma faixa de 15cm de largura do emboço para a execução dos reparos, percebeu-se que algumasdeficiências técnicas haviam sido cometidas. Primeiro, a tela galvanizada possuía malha muito estreita(#1cm), o que não permitiu adequado contato da argamassa de emboço com o substrato, prejudicando

    seriamente sua aderência; segundo, a tela foi aplicada diretamente em contato com a base, fixada pormeio de tiros à pólvora, não ficando numa posição média do emboço como recomendado pela técnicacorreta de execução. A conseqüência desses fatos é ilustrada na Figura 13, que mostra o emboço desselocal sendo “descolado” da base de maneira semelhante a uma fita adesiva.

    Figura 12 – Emboço a ser removido Figura 13 – Remoção de uma faixa de emboço

    Para uma ação mais eficiente da tela eletrossoldada, deve haver uma ponte sobre a fissura (fita plásti-ca), uma camada de argamassa, a tela numa posição intermediária e a camada final de acabamento, o

    Revestimento em gessosem defeitos

    Massa

    aditivadaRegularização do substratoVéu

    FITA

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