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Marília Beatriz de Castro Ramos
FITOSSOCIOLOGIA E CARACTERIZAÇÃO BIOTÉCNICA DO ESTRATO
ARBUSTIVO DE FRAGMENTOS DE MATA RIPÁRIA NO PARQUE ESTADUAL
SERRA DO OURO BRANCO/MG
Dissertação apresentada ao Departamento de
Biodiversidade, Evolução e Meio Ambiente, do Instituto
de Ciências Exatas e Biológicas da Universidade Federal
de Ouro Preto, como parte dos requisitos para obtenção
do título de Mestre em Ecologia de Bioma Tropicais.
Ouro Preto Minas Gerais, Brasil
2014
UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E BIOLÓGICAS
DEPARTAMENTO DE BIODIVERSIDADE, EVOLUÇÃO E MEIO AMBIENTE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA DE BIOMAS TROPICAIS
FITOSSOCIOLOGIA E CARACTERIZAÇÃO BIOTÉCNICA DO ESTRATO
ARBUSTIVO DE FRAGMENTOS DE MATA RIPÁRIA NO PARQUE ESTADUAL
SERRA DO OURO BRANCO/MG
Marília Beatriz de Castro Ramos
Dissertação apresentada ao Departamento de
Biodiversidade, Evolução e Meio Ambiente, do
Instituto de Ciências Exatas e Biológicas da
Universidade Federal de Ouro Preto, como parte
dos requisitos para obtenção do título de Mestre
em Ecologia de Bioma Tropicais.
Orientadora: Profa. Mariangela Garcia Praça Leite
Co-orientadoras: Profa. Alessandra Rodrigues Kozovits
Profa. Maria Cristina T. Braga Messias
Ouro Preto, Setembro de 2014
Catalogação: [email protected]
R175f Ramos, Marília Beatriz de Castro. Fitossociologia e caracterização biotécnica do estrato arbustivo de fragmentos de mata ripária no Parque Estadual Serra do Ouro Branco/MG. [manuscrito] / Marília Beatriz de Castro Ramos - 2014. 63f.: il.; grafs.; tabs. Orientadoras: Profa. Dra. Mariangela Garcia Praça Leite, Alessandra Rodrigues Kozovits e Maria Cristina Teixeira Braga Messias. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto. Instituto de Ciências Exatas e Biológicas. Departamento de Biodiversidade, Evolução e Meio Ambiente. Programa de Pós-Graduação em Ecologia de Biomas Tropicais. Área de concentração: Evolução e Funcionamento de Ecossistemas
1. Bioengenharia de solos - Teses. 2. Mata ciliar - Teses. 3. Ouro Branco (MG) – Teses. I. Sousa, Hildeberto Caldas de. II. Kozovits, Alessandra Rodrigues. III. Messias, Maria Cristina Teixeira Braga. IV. Universidade Federal de Ouro Preto. V. Título.
CDU: 502:631.963(815.1)
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Marília e Aurindo. Aos meus irmãos, Daniel e Leonardo. Ao meu marido,
Diego. Obrigada pelo incentivo e apoio constantes.
À professora Mariangela Garcia, pela orientação, confiança e contribuições.
Às professoras Maria Cristina Messias e Alessandra Kozovits, pela co-orientação e apoio.
Aos professores Hidelberto Caldas Sousa e Luciana Dias Thomaz por compor a banca
examinadora deste trabalho e por todas as contribuições a ele atribuídas.
Às amigas Sileimar Maria Lelis e Hortênsia Lopes pela ajuda de campo, laboratório e pela
amizade.
Ao Instituto Estadual de Florestas pela licença de pesquisa e colaboração nos dias de campo.
À Universidade Federal de Ouro Preto e Programa de Pós-graduação em Ecologia de Biomas
Tropicais.
À CAPES, pela bolsa de estudos concedida.
Aos especialistas em botânica de diferentes instituições pela identificação das plantas.
SUMÁRIO
RESUMO....................................................................................................................................1
ABSTRACT ...............................................................................................................................2
INTRODUÇÃO GERAL ........................................................................................................... 3
OBJETIVOS ............................................................................................................................... 8
Objetivo Geral ............................................................................................................................ 8
Objetivos Específicos..................................................................................................................8 HIPÓTESE ................................................................................................................................. 8
MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................................................ 9
Área de estudo ............................................................................................................................ 9
Levantamento florístico ............................................................................................................ 10
Determinação do potencial biotécnico das espécies ................................................................. 13
Tratamento estatístico dos dados .............................................................................................. 16
Referências Bibliográficas ........................................................................................................ 17
ARTIGO 1.................................................................................................................................23 Florística e fitossociologia do estrato arbustivo de um trecho de vegetação ripária no Parque Estadual Serra do Ouro Branco, MG, como subsídio à prospecção de espécies para uso em bioengenharia de solos.............................................................................................................. 23
Resumo ..................................................................................................................................... 23
Abstract ..................................................................................................................................... 24
Introdução ................................................................................................................................. 24
Material e Métodos ................................................................................................................... 27
Resultados e Discussão ............................................................................................................29
Referências Bibliográficas ........................................................................................................ 34
ARTIGO 2 ................................................................................................................................ 39 Potencial biotécnico de espécies de mata ripária para uso em obras de bioengenharia de solos em ambientes fluviais ............................................................................................................... 39 Resumo................................................................................................................................................39 Abstract.....................................................................................................................................40 Introdução ................................................................................................................................. 40
Material e Métodos ................................................................................................................... 43
Resultados e Discussão ............................................................................................................. 46
Conclusões ................................................................................................................................ 52
Referências Bibliográficas ........................................................................................................ 52
CONCLUSÕES GERAIS........................................................................................................ 56 Anexo A- Enraizamento e Brotação ........................................................................................57
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Localização do Parque Estadual Serra do Ouro Branco em relação do Brasil e no Estado de Minas Gerais, em destaque a localização da área amostral (Imagem cedida pelo IEF/PESOB)........................................................................................................................ 9, 43
Figura 2: Localização do Parque Estadual Serra do Ouro Branco no Estado de Minas Gerais, em destaque (quadrado vermelho) a localização da micro bacia de estudo (Imagem cedida pelo IEF/PESOB). ..............................................................................................................10, 28
Figura 3: Vista parcial da área de estudo, no Parque Estadual Serra do Ouro Branco, MG.....11
Figura 4: Vegetação ao longo o córrego do Veríssimo, localizado no Parque Estadual Serra do Ouro Branco. ............................................................................................................................ 11
Figura 5: Demarcação das unidades amostrais no trecho de estudo, no Parque Estadual Serra do Ouro Branco, MG. ............................................................................................................... 12
Figura 6: Teste de enraizamento de estacas em casa de vegetação do Horto Botânico (UFOP)......................................................................................................................................14
Figura 7: Estacas a serem submetidas a testes de submersão parcial em água. ....................... 15
Figura 8: Ensaio de enraizamento e brotação de estacas em recipiente plástico, onde as estacas foram parcialmente submersas por 40 dias............................................................................... 16
Figura 9: Detalhe da estaca e mensuração de dados de Bidens sp. .......................................... 16
Figura 10: Famílias com maior riqueza (% especies) nas duas margens do córrego do Veríssimo, no Parque Estadual Serra do Ouro Branco, MG. ................................................... 30
Figura 11: Porcentagem de enraizamento e brotação das 24 espécies testadas nas estações chuvosa (T1) e seca (T2), em casa de vegetação, utilizando substrato areia lavada. ............... 46
Figura 12: Porcentagem de brotação e enraizamento em estacas de cinco espécies coletadas na estação chuvosa (T1) e seca (T2), utilizando o substrato areia e coletadas na estação chuvosa, utilizando submersão parcial das estacas em água (T3), Ouro Preto, MG. .............................. 48
Figura 13: Soma do comprimento de brotos (cm) para estacas de 5 espécies na estação chuvosa e seca utilizando o substrato areia (T1 e T2), Ouro Preto, MG. Valores de comprimento de brotos seguidos pela mesma letra, não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Dunn (p<0,05). ............................................................................................................ 49
Figura 14: Soma do comprimento de raízes (cm) para estacas de 5 espécies na estação chuvosa e seca utilizando o substrato areia, Ouro Preto, MG. Valores de comprimento de brotos seguidos pela mesma letra, não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Dunn (p<0,05). ................................................................................................................................... 50
Figura 15: Número de raízes para estacas de 5 espécies na estação chuvosa (T1) e seca (T2) utilizando o substrato areia, Ouro Preto, MG. .......................................................................... 50
Figura 16: Massa seca (gramas) para estacas de cinco espécies na estação chuvosa e seca utilizando o substrato areia, Ouro Preto, MG. .......................................................................... 51
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Diâmetro mínimo, máximo e valor médio do diâmetro das estacas, em centímetros, para as espécies estudadas. ....................................................................................................... 13
Tabela 2: Espécies avaliadas e tratamentos em que foram submetidas. T1 = Teste utilizando areia lavada como substrato, na estação chuvosa. T2 = Teste utilizando areia lavada como substrato, na estação seca. T3 = Teste utilizando submersão parcial das estacas em água, na estação chuvosa...................................................................................................................14, 45
Tabela 3: Parâmetros fitossociológicos das espécies amostradas em mata de galeria do Parque Estadual Serra do Ouro Branco (PESOB), MG, Brasil. Dados organizados por ordem decrescente de DR. Onde: DA = densidade absoluta, DR = densidade relativa, FA = frequência absoluta, FR = frequência relativa, DoA = dominância absoluta, DoR = dominância relativa, IVI = índice de valor de importância. ..................................................... 31
1
RESUMO
Técnicas de bioengenharia de solos estão se difundindo gradativamente pelo Brasil como
prática sustentável para estabilização de taludes fluviais. Antes das intervenções, entretanto,
deve-se previamente conhecer quais espécies vegetais são mais adequadas para serem
utilizadas nestes projetos. Atributos como capacidade de reprodução vegetativa via estacas,
formação de densa malha de raízes, flexibilidade do caule e disponibilidade de material
vegetal autóctone na região são parâmetros relevantes para a escolha destas espécies. Neste
contexto, este estudo objetivou identificar espécies arbustivas das matas ripárias do Córrego
do Veríssimo localizado no Parque Estadual Serra do Ouro Branco, município de Ouro
Branco, Minas Gerais, com aptidão para uso em projetos biotécnicos. Realizou-se o
levantamento fitossociológico utilizando o método de parcelas e estimou-se a densidade,
frequência, dominância e índice de valor de importância das espécies. Além disso, foram
calculados o índice de diversidade de Shannon-Wiener (H’) e equabilidade de Pielou (J´).
Foram identificadas 75 espécies reunidas em 26 famílias. As famílias com maior riqueza de
espécies foram: Asteraceae (12), Myrtaceae (10), Melastomataceae (9) e Rubiaceae (7). A
espécie com maior IVI foi Miconia theizans (Bonpl.) Cogn. (12,53), seguida por Baccharis
myricifolia DC. (6,10) e Drimys brasiliensis Miers (4,71). O índice de diversidade (H’)
encontrado da área foi de 3,61 e a equabilidade de Pielou (J’) foi de 0,84. Em seguida, as 12
espécies de maior abundância e outras 12 pertencentes à listagem obtida pelo levantamento
foram testadas em relação à capacidade de se propagar de forma vegetativa em casa de
vegetação. Parâmetros como a soma de comprimento de raízes e brotos, número de raízes e
brotos e biomassa foram estimados em três tratamentos, sendo realizados plantios em sacos
plásticos contendo areia lavada na estação chuvosa (T1) e seca (T2), e submersão parcial de
estacas em água na estação chuvosa (T3). As espécies Cyrtocymura scorpioides (Lam.)
H.Rob. e Bidens sp., quando comparadas às outras espécies testadas, exibiram maior
percentual de produção de raízes e parte aérea, assim como uniformidade de estacas
enraizadas, além de apresentarem maiores comprimentos e número de raízes e brotos para um
período de 40 dias. Vale destacar que as estacas de C. scorpioides, confeccionadas na estação
chuvosa, e Bidens sp., na estação seca, obtiveram resultados promissores.
Palavras-chave: bioengenharia de solos, mata ciliar, propagação vegetativa
2
ABSTRACT
Soil bioengineering techniques are gradually spreading throughout Brazil as a sustainable
practice for riverbanks stabilization. Before the interventions, however, it is important to
know which plant species are most suitable for use in these projects. Attributes such as ability
to vegetative reproduction via cuttings, formation of dense mesh of roots, stem flexibility and
availability of native plant material in the region are relevant parameters for the choice of
species. In this context, this study aimed to identify riparian shrub species of the Veríssimo
stream located in the Serra do Ouro Branco State Park, municipality of Ouro Branco, state of
Minas Gerais, with suitability for use in biotechnical projects. Was performed
phytosociological survey using the plot method. The density, frequency, dominance and
importance value index (IVI) of the species were estimated. Furthermore, the Shannon-
Wiener (H ') and the Pielou (J') diversity indexes were calculated. Then the 12 most abundant
species and 12 others from the listing obtained by the phytosociological survey were tested
for their ability to propagate vegetatively in a greenhouse. Parameters such as the sum of roots
and shoots length, number of roots and shoots and biomass were estimated in three treatments
as follows: planting in plastic bags containing sand in the rainy season (T1), in the dry season
(T2), and cuttings partial submersion in water in the rainy season (T3). Seventy-five species
from 26 families were identified. Families with higher species richness were Asteraceae (12),
Myrtaceae (10), Melastomataceae (9) and Rubiaceae (7). The species with the highest IVI was
Miconia theizans (Bonpl.) Cogn. (12.53), followed by Baccharis myricifolia DC. (6.10) and
Drimys brasiliensis Miers (4.71). The H' diversity index of the study area was 3.61 and the
Pielou evenness (J') was 0.84. The species Cyrtocymura scorpioides (Lam.) H.Rob. and
Bidens sp. stood out in the ability to propagate vegetatively compared to the other species
tested. Both species exhibited higher percentage of roots and shoots production, uniformity of
cuttings rooted and higher length and number of roots and shoots for 40 days. Is worth
mentioning that the stakes of C. scorpioides, made in the rainy season, and Bidens sp., in the
dry season, yielded promising results.
Keywords: soil bioengineering, riparian vegetation, vegetative propagation.
3
INTRODUÇÃO GERAL
As formações ciliares, ambientes de extrema importância ecológica, ainda que
protegidas pela legislação há mais de meio século com a instituição do antigo Código
Florestal em 1934, não foram resguardadas da degradação. Apesar de que normas legais,
como as Leis Federais 4.771/1965 e 12.651/2012, tratem tais áreas como sendo de
Preservação Permanente, tendo especificações mínimas de faixa protegida de 30 metros de
largura dos cursos d’água, o processo de urbanização, a construção de hidrelétricas, a abertura
de estradas, implantação de culturas agrícolas e de pastagens têm diminuído sua área,
resultando em diversos problemas ambientais, como a diminuição da quantidade e qualidade
da água, dentre outros (FELFILI et al., 2000; VANDENBERG & OLIVEIRA-FILHO, 2000;
BATILANI et al., 2005, CARVALHO et al., 2005, DIETZSCH et al., 2006).
Em várias situações o termo “Floresta Ripária”, “Mata Ciliar” e “Mata de Galeria” têm
sido usados como sinônimos, no entanto, essas definições estão muitas vezes associadas ao
tipo de vegetação das zonas de interflúvio e características do solo (RODRIGUES, 2004). Na
região do cerrado, por exemplo, o termo “Mata Ciliar” caracteriza a vegetação florestal à
margem de rios de médio e grande porte, onde as copas das árvores entre as margens não
entram em contato umas com as outras, permitindo maior incidência da luz solar sobre as
espécies mais próximas ao rio do que as Matas de Galeria (RIBEIRO et al., 1999). Ribeiro e
Walter (1998) acrescentam na definição de Mata Ciliar a presença de certa deciduidade, e
deixam claro que Matas de Galeria se referem às formações que ocorrem em rios de pequeno
porte. A associação dessas matas a formações adjacentes distintas também é um fator
sugestivo a utilização do termo, conforme Rodrigues (2004). De acordo com o glossário da
ACIESP (1997), para as regiões com formações florestais vizinhas às formações que
acompanham os cursos d’água, o termo Floresta Ciliar é mais apropriado. Além disso, Ratter
et al. (1973) associam as Matas de Galeria aquelas formações florestais situadas no fundo de
vales, em bordas de cursos d’água.
Outras denominações ainda são usadas, como formação ribeirinha, ripária ou ripícula,
florestas paludosas ou de brejo, em referência à vegetação que se encontra ao longo de um
curso d’água (RODRIGUES, 2004). Pela a legislação brasileira, as Áreas de Preservação
Permanente são quaisquer formações florestais ocorrentes nas margens de cursos d’água.
Entretanto, nem sempre a legislação está ajustada às Matas de Galeria. Para Felfili et al.
(2000), por exemplo, em alguns casos, córregos estreitos, com largura inferior a 10 metros,
possuem vastas áreas de vegetação ciliar que são muitas vezes negligenciadas em relação à
4
legislação por ultrapassarem as metragens estabelecidas pelas leis para conservação e
preservação ambiental.
Zonas ripárias têm sido consideradas como corredores extremamente importantes para
a movimentação da fauna, ligando fragmentos florestais e, portanto, facilitando o fluxo gênico
entre as populações de espécies animais e vegetais (MONTAG et al., 1997; LIMA & ZAKIA,
2004; MEYER et al., 2004; AVILA et al., 2011). Além disso, a vegetação nativa destas zonas
protege o solo contra os processos erosivos e desempenha outros papéis relevantes para o
funcionamento dos ecossistemas e para a manutenção da qualidade de vida das populações
humanas (PRIMACK & RODRIGUES, 2001; FERRAZ, 2001). Ou seja, compreender as
funções destes sistemas ciliares e do papel que desempenham na saúde do ecossistema é
essencial para sua preservação e gestão (ELMORE, 1992). Além disso, como Guarino &
Walter (2005) constataram, a diversidade desses ambientes propicia maior variação florística
em espaços relativamente curtos, sendo, portanto, necessários maiores esforços voltados para
conservação de amplas áreas dessas formações, a fim de garantir sua heterogeneidade
florística.
Em seus estudos, Carvalho et al. (2005) e Oliveira-Filho et al. (2004) atestam que no
complexo montanhoso do sudeste brasileiro, são recentes as descrições florísticas, estruturais
e ecológicas de florestas localizadas acima de 1.100m de altitude. As florestas montanas
carecem de estudos e, conforme Gentry (1995), estão entre os ambientes florestais tropicais
mais ameaçados. Seguindo a classificação de Veloso et al. (1991), no Brasil, as florestas de
altitude, também denominadas montanas (sensu lato) incidem no alto dos planaltos ou serras,
atingindo até 2.200 m, sendo subdivididas em montanas (sensu stricto) e altimontanas.
Oliveira-Filho et al. (2004) destacaram que a importância da conservação desses ambientes
montanos, principalmente aqueles que abrigam nascentes e cursos d’água, vão além da
manutenção de um ambiente florestal preservado, pois garantem a estabilidade hídrica, assim
como condições para manutenção da fauna regional e evitam inúmeros processos erosivos, a
que esses ambientes de montanha estão normalmente sujeitos.
Atividades antrópicas, principalmente a agricultura (RODRIGUES & GANDOLFI,
2004), têm proporcionado ao longo dos anos uma redução na área dessas florestas no Sudeste
do Brasil. Evidências históricas indicam que a maioria das zonas ribeirinhas tem mudado
dramaticamente nos últimos cem anos ou mais (ELMORE, 1992). A área original desses
ambientes ciliares foi reduzida, ocasionando mudanças nos padrões de composição e
abundância de espécies e, consequentemente, nos processos ecológicos das comunidades
5
(AVILA et al., 2011). Em Minas Gerais, amplas áreas de vegetação foram destruídas por
atividades deste gênero (DRUMOND et al., 2005). A fragmentação desses ambientes ciliares
promove a diminuição de suas áreas, através da redução de maciços florestais a pequenos
fragmentos de diversos tamanhos, além de reduzir a conectividade entre os fragmentos, que se
encontram, em sua maioria, fortemente alterados. Como consequência, tem-se a perda da
biodiversidade e alterações nos processos ecológicos (PRIMACK & RODRIGUES, 2001).
Diante deste cenário, é imprescindível a reestruturação destas áreas, com a
recuperação dos ecossistemas. Felizmente, demandas pela recuperação destes ambientes
ciliares têm aumentado com o passar dos anos, possivelmente pelo fato de que os estudos
relacionados à conservação dos solos e das águas, assim como estudos voltados para o
entendimento dos processos ecológicos e diversidade biológica dessas formações estejam
sendo aprimorados, reafirmando a importância da manutenção desses ambientes. A urgência
por ações neste sentido reflete os inúmeros problemas associados à má gestão dessas áreas
ripárias, sendo prioritárias ações de recuperação dos ambientes degradados e formação de
florestas viáveis (BRANCALION, 2010).
Algumas leis brasileiras, como a Lei Federal 9.985 de 2000, que institui o Sistema
Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, trazem em seu art. 2º, § 14 e 15, as
definições dos termos “Recuperação”, como sendo “a restituição de um ecossistema ou de
uma população silvestre degradada a uma condição não degradada, que pode ser diferente
de sua condição original”; e “Restauração”, como sendo “a restituição de um ecossistema
ou de uma população silvestre degradada o mais próximo possível da sua condição original”.
Já de acordo com o IBAMA (1990) a “Recuperação” seria “o retorno do sítio degradado a
uma forma de utilização de acordo com o plano preestabelecido para o uso do solo”.
Independente do entendimento do termo “Recuperação”, o planejamento de um
projeto de recuperação deve se basear em diferentes fases de execução e agregar diversos
conceitos para chegar ao resultado proposto. Prioritariamente, o entendimento sobre a
dinâmica do ecossistema e uma minuciosa avaliação a respeito do local de estudo são
essenciais para que se estabeleçam critérios e metodologias a serem empregados (TOUMEY
& KORSTIAN, 1967; ALMEIDA, 2010). Metzger (2001) afirma que nestes programas de
recuperação, critérios ecológicos devem ser levados em conta a fim de avaliar a
heterogeneidade da paisagem. Conceitos relacionados à ecologia da paisagem inseridos em
tais programas certamente podem contribuir com o sucesso no reestabelecimento da dinâmica
do ecossistema. No Estado de Minas Gerais, por exemplo, estudos de remanescentes de
6
florestas ripárias têm sido feitos com o objetivo de auxiliar ações de recomposição destas
florestas com espécies nativas (MEYER et al., 2004; CARVALHO et al., 2005;
GONÇALVES et al., 2011; RODRIGUES, 2011).
Programas clássicos de recuperação de matas ciliares, mesmo quando privilegiam o uso
de espécies nativas, nem sempre são bem sucedidos. Muitas vezes, são necessárias aplicações
de técnicas de engenharia civil para promover a contenção da erosão, e somente depois disso
é que tornaria possível qualquer tentativa de revegetação da área. Técnicas de engenharia civil
associadas ao conhecimento ecológico de plantas, conhecidas por bioengenharia de solos,
engenharia natural e engenharia biotécnica, estão sendo empregadas em vários países,
principalmente para contenção de processos erosivos em margens de rios (BURYLO et al.,
2007; STOKES et al., 2010; BISCHETTI et al., 2010). Essas práticas visam aliar a
estabilização dos solos degradados com o retorno dos processos ecológicos ao local afetado.
Esse resultado é garantido pela utilização de materiais que irão se decompor com o passar do
tempo, como madeiras e geotêxteis, na medida em que as espécies nativas utilizadas recobrem
e garantem a estabilidade da estrutura através de suas folhas e raízes. De acordo com
Greenway (1989), Lemes (2001), Fernandes & Freitas (2011) e Durlo & Sutili (2012), o uso
de plantas em projetos desse gênero podem ter efeitos positivos, como por exemplo, o efeito
das folhas, que reduzem processos erosivos superficiais e das raízes, que aumentam a
resistência e ancoragem dos taludes, além disso, esse sistema facilita o retorno gradativo da
dinâmica natural do curso d’água. Por outro lado, efeitos adversos como sobrecarga do talude
em virtude do crescimento de árvores de grande porte e até mesmo do vento que incide sobre
a vegetação podem trazer instabilidade às encostas (GRAY, 1995; DURLO E SUTILI, 2012).
Estudos realizados por Li & Eddleman (2002) revelam que a grande quantidade de folhas
pode reduzir a velocidade da água em alguns cursos d’água, podendo ocasionar problemas a
montante destes cursos. Outra desvantagem está relacionada a cursos d’água com fluxo muito
rápidos, o que para Li & Eddleman (2002) torna-se um dificultador da utilização das técnicas
de bioengenharia. Além disso, a falta de conhecimento sobre plantas apropriadas para
conjugar com esses tipos de projetos levam a usos de poucas espécies monotípicas (LI &
EDDLEMAN, 2002).
A engenharia biotécnica ou bioengenharia de solos, que são tratadas como sinônimos
por Durlo & Sutili (2012), podem então ser definidas como uma técnica que utiliza plantas,
ou parte destas, como material vivo para construção, combinadas ou não com materiais
inertes, com objetivo principal de estabilização de solos e conter processos erosivos (GRAY
& LEISER, 1982; SCHIECHTL & STERN, 1992; GRAY & SOTIR, 1996; HOLANDA et
7
al., 2008; DURLO & SUTILI, 2012). Esta tecnologia pode ser vista como uma alternativa
eficaz tanto do ponto de vista estrutural quanto paisagístico (SUTILI, 2007).
De acordo com Li & Eddleman (2002), a engenharia biotécnica, como técnica milenar
bem sucedida no passado, está sendo reavaliada no contexto de impactos decorrentes da
rápida urbanização e sensibilização do público para as novas questões ambientais. Li &
Eddleman (2002) afirmam ainda que houve um aumento de interesse em técnicas naturais
cujos benefícios e vantagens foram reexaminados. Ao confrontar os métodos tradicionais,
como a canalização de cursos d’água, e a engenharia biotécnica, concluem que além da perda
dos benefícios ecológicos, os métodos tradicionais podem transferir os problemas de erosão
para outras áreas do córrego, ao invés de restabelecer sua dinâmica natural.
Países do sudeste asiático como Filipinas, Malásia e Hong Kong são os que mais
empregam tratamento de bioengenharia, conforme Fatahi et al. (2010). Gradativamente, estas
metodologias estão se difundindo pelo Brasil como prática sustentável para estabilização de
taludes fluviais. Porém, para o sucesso dessa técnica, antes das intervenções, deve-se
previamente conhecer quais espécies vegetais seriam mais adequadas para esse uso. Atributos
como capacidade de reprodução vegetativa via estacas, formação de densa malha de raízes,
flexibilidade da madeira, capacidade de suportar condições de submersão, movimentos de
massas e disponibilidade de material vegetal autóctone na região são parâmetros relevantes
para a escolha destas espécies (ROSA & DURLO, 2009; HOLANDA et al., 2010,
MONTEIRO et al., 2010; DURLO & SUTILI, 2012). De acordo com Dewes-Júnior (2012),
os resultados obtidos em investigações sobre potencial biotécnico das espécies da flora do sul
do Brasil embasaram a aplicação de práticas de bioengenharia de solos nesta região,
condicionando o sucesso dos projetos.
A utilização de espécies arbóreas, principalmente aquelas de grande porte, pode trazer
sérios problemas de sobrecarga nos taludes a serem recuperados, principalmente sobre efeito
dos ventos. Além disso, de acordo com Gray (1995) e Lemes (2001), são as espécies
arbustivas as mais indicadas para o uso em obras de bioengenharia, juntamente com as
gramíneas. Os arbustos, apesar de não terem sistemas radiculares tão profundo como a
maioria das árvores, possuem mais flexibilidade, rapidamente recobrem o solo através de sua
parte aérea e não pesam no talude (GRAY, 1995). Cabe ressaltar a importância de se escolher
espécies nativas do local, as quais já possuem adaptações genotípicas e fenotípicas às
condições do ambiente, além de devolver características naturais, garantindo assim maiores
benefícios ecológicos e melhorando as condições do ecossistema local (FELFILI et al., 2000;
8
DURLO & SUTILI, 2012). Deste modo, levantamentos da vegetação arbustiva de áreas
ripárias tornam-se o passo inicial para a busca de espécies que possam apresentar um
potencial biotécnico para uma determinada região, já que levantamentos florísticos e
fitossociológicos deste estrato carecem de estudos.
Neste contexto, este estudo tem como objetivo realizar levantamento florístico e
fitossociológico da vegetação arbustiva em fragmentos florestais ciliares do córrego do
Veríssimo, em Ouro Branco, MG, buscando identificar espécies nativas com potencial
biotécnico para posterior emprego em trabalhos relativos à bioengenharia de solos na região.
OBJETIVOS
Objetivo Geral
Identificar espécies dos ambientes ripários do córrego do Veríssimo, que tenham
potencial para serem utilizadas em obras de bioengenharia de solos/engenharia natural.
Objetivos específicos
Avaliar a composição florística e estrutura fitossociológica do estrato arbustivo de um
trecho de mata ripária do córrego do Veríssimo, Ouro Branco, MG.
Avaliar a capacidade de propagação vegetativa das espécies arbustivas mais
abundantes nos ambientes ribeirinhos, como medida do seu potencial biotécnico.
Sugerir e propor espécies aptas à utilização em projetos de restauração ecológica em
margens de rios por meio de técnicas de engenharia natural/bioengenharia de solos.
HIPÓTESE
Espécies que ocorrem naturalmente em abundância nos ambientes ciliares são
promissoras para utilização em projetos de bioengenharia de solos/engenharia natural, uma
vez que são adaptadas às condições ambientais próprias desses locais (inundação sazonal,
movimentos de massa, luminosidade).
9
MATERIAL E MÉTODOS
Área de estudo
O estudo foi realizado em um trecho de mata ripária do córrego conhecido por córrego
do Veríssimo ou da Lavrinha, pertencente à bacia do rio Doce, na Serra do Ouro Branco,
localizado nos limites do Parque Estadual Serra do Ouro Branco (20o29'31”S, 43o40'34”W),
no município de Ouro Branco, MG. Para este estudo optou-se pela denominação córrego do
Veríssimo (FIGURA 1).
Figura 1: Localização do Parque Estadual Serra do Ouro Branco em relação ao Brasil e no Estado de Minas Gerais, em destaque a localização da área amostral (Imagem cedida pelo IEF/PESOB).
A área encontra-se na porção sul da Cadeia do Espinhaço, situando-se ao sul do
conjunto de elevações do Quadrilátero Ferrífero (HERS, 1978). Apresenta elevação abrupta a
sudeste com aproximadamente 17 km de extensão e, a nordeste, declividades que delimitam
vales a partir de um planalto de altitudes entre 1.250m e 1.568 m (PAULA et al., 2005). De
acordo com Nimer (1989), o clima predominante é do tipo Cwb (classificação de Köppen),
mesotérmico úmido, com verões suaves e invernos secos. A temperatura média é de 20,7ºC e
a precipitação anual é de 1.188,2 mm, sendo o período chuvoso de outubro a março e os
invernos secos, conforme informações obtidas através da Estação Meteorológica da Gerdau –
Açominas (1989-2002), localizada em Ouro Branco. A região é considerada importante zona
de recarga hídrica local e regional por fazer parte de duas grandes bacias hidrográficas, do rio
São Francisco e do rio Doce (INSTITUTO TERRA BRASILIS, 2006). Além disso, a Serra do
10
Ouro Branco é considerada área prioritária para conservação da flora em Minas Gerais
(DRUMOND et al., 2005). A vegetação se enquadra dentro dos domínios do Cerrado e da
Mata Atlântica (AB’SABER, 1977; DRUMOND et al., 2005; SILVA et al., 2008). Formações
campestres e florestais compõem a paisagem da área de estudo, com variações
fitofisionômicas em cada uma dessas modalidades, incluindo campos rupestres, até florestas
semideciduais e matas de galeria (PAULA et al., 2005; INSTITUTO TERRA BRASILIS,
2006; LEMES, 2009). Estas florestas, localizadas na região do Quadrilátero Ferrífero,
possuem características peculiares devido à tipicidade do solo com alto teor de metais, às
variações topográficas significativas e às altitudes elevadas em grande parte de suas extensões
(KAMINO et al., 2008).
Levantamento florístico
Um trecho do córrego Veríssimo foi definido como área amostral, após observação de
mapas e visitas ao campo (FIGURA 2). Nas cabeceiras do córrego do Veríssimo, as áreas de
mata estão em ótimo estado de conservação e encontram-se circundadas nas bordas por
campos rupestres, formando faixas de transição (INSTITUTO TERRA BRASILIS, 2006).
Além disso, trilhas já estabelecidas facilitam o acesso ao trecho de estudo.
Figura 2: Localização do Parque Estadual Serra do Ouro Branco no Estado de Minas Gerais,
em destaque (quadrado vermelho) a localização da micro bacia de estudo (Imagem cedida
pelo IEF/PESOB).
Na área escolhida foram observadas diferenças entre inclinação de vertentes e
estrutura da vegetação entre as margens. A margem esquerda do córrego possui a matriz
11
predominantemente florestal e com declividade de talude superior do que a margem direita.
Nesta, a vegetação possui fisionomia campestre com o trecho ciliar composto por uma
vegetação de maior porte, porém ocupando uma faixa mais estreita que a da matriz florestal
da margem oposta (FIGURA 3 e 4).
Figura 3: Vista parcial da área de estudo no Parque Estadual Serra do Ouro Branco, MG.
Figura 4: Vegetação ao longo do córrego do Veríssimo, localizado no Parque Estadual Serra
do Ouro Branco/MG.
As unidades amostrais foram estabelecidas aleatoriamente em uma transecção de
aproximadamente 500 m, ao longo do córrego (FIGURA 5). Foi utilizado o método das
parcelas (MUELLER-DOMBOIS & ELLENBERG, 1974), sendo demarcadas 10 parcelas
com 2 x 5 metros em cada margem do córrego (FIGURA 5), totalizando 200 m² amostrados.
12
Figura 5: Demarcação das unidades amostrais no trecho de estudo, às margens do córrego do Veríssimo, no Parque Estadual Serra do Ouro Branco, MG.
O levantamento florístico e fitossociológico iniciou-se em outubro de 2012, com
visitas mensais ao campo. Foram coletadas todas as espécies com altura superior a 0,6 m até o
limite de 3,0 m. Foram mensurados a altura total e diâmetro na altura do solo (DAS). Todos
os indivíduos foram marcados e numerados com etiqueta plástica. Material reprodutivo das
espécies foi coletado, herborizado e depositado no Herbário Professor José Badini (OUPR)
para formação da coleção de referência. As espécies foram identificadas de acordo com
Angiosperm Phylogeny Group III (APG III, 2009). A identificação das espécies foi feita por
análises morfológicas, comparação com material previamente herborizado, utilização de
literatura especializada e consulta aos especialistas.
Foram avaliados os seguintes parâmetros fitossociológicos: densidade absoluta (DA) e
relativa (DR), frequência absoluta (FA) e relativa (FR), dominância absoluta (DoA) e relativa
(DoR) e índice de valor de importância (IVI) (MUELLER-DOMBOIS & ELLENBERG,
1974). Foram também estimados a diversidade, pelo índice de Shannon-Wiener (H´) e
equabilidade de Pielou (J´) (MAGURRAN, 2004).
As análises fitossociológicas foram processadas com o programa Mata Nativa 3
(CIENTEC, 2010). Devido às diferenças fitofisionômicas observadas entre as duas margens
do córrego, calculou-se a similaridade florística entre elas através do índice de Sørensen
(SØRENSEN, 1948).
13
Determinação do potencial biotécnico das espécies
Foram avaliadas 24 espécies presentes na listagem obtida com o levantamento
fitossociológico, sendo que 12 delas foram as que apresentaram a maior densidade relativa
(DR%) no levantamento fitossociológico, somadas a outras 12 espécies presentes na listagem
obtida.
Foram coletadas 20 a 40 estacas de cada espécie, conforme a disponibilidade de
material, com diâmetros semelhantes (TABELA 1) e 15 cm de comprimento. As estacas
foram colocadas em sacos preenchidos com areia lavada para se avaliar o potencial de rebrota,
sendo que, com as estacas na vertical, 2/3 dos seus comprimentos foram enterrados.
Tabela 1. Diâmetro mínimo, máximo e valor médio do diâmetro das estacas, em centímetros, para as espécies estudadas. Espécies Diâmetro min. Média Diâmetro max.
Alchornea triplinervia (Spreng.) Mull. Arg. 0,54 0,97 1,44
Baccharis ligustrina DC. 0,35 0,68 0,94
Baccharis myricifolia DC. 0,39 0,75 1,68
Baccharis platypoda DC. 0,47 0,75 0,96
Bidens sp. 0,29 0,51 0,74
Cyrtocymura scorpioides (Lam.) H.Rob. 0,37 0,62 1,13
Clusia sp. 0,54 0,96 1,58
Conyza sp. 0,49 0,62 0,77
Cybianthus sp. 0,40 0,77 1,20
Drimys brasiliensis Miers 0,46 0,83 1,33
Escallonia hispida (Vell.) Sleumer 0,61 0,74 0,88
Erythroxylum tortuosum Mart. 0,60 0,91 1,40
Gaylussacia sp. 0,38 0,70 1,00
Ilex amara (Vell.) Loes. 0,42 0,73 1,26
Ilex chamaedryfolia Reissek. 0,57 0,91 1,23
Leandra aurea (Cham.) Cogn. 0,60 0,74 1,50
Ludwigia nervosa (Poir.) H.Hara 0,33 0,77 1,92
Myrsine gardneriana A.DC. 0,44 0,87 1,50
Miconia theizans (Bonpl.) Cogn. 0,45 0,97 1,46
Maytenus sp. 0,30 0,57 0,80
Melastomataceae sp.1 0,36 0,54 1,03
Miconia sp. 0,41 0,67 1,14
Rubiaceae sp.1 0,54 0,89 1,46
Vochysia sp 0,47 0,84 1,53
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Os testes foram realizados em casa de vegetação do Horto Botânico Jorge Luiz da
Silva, da UFOP (FIGURA 6). As condições ambientais foram controladas, sendo a
temperatura média mantida a 25º C e a umidade relativa em torno de 75%.
Após 40 dias, as estacas foram retiradas, lavadas e dispostas em bandejas para
avaliação quanto ao número e comprimento de raízes e brotos. Para as medições, utilizou-se
um paquímetro digital. Posteriormente, o material foi seco em estufa a 60ºC até peso
constante. Foram mensurados, separadamente, o peso seco das raízes, brotos e estacas,
utilizando-se uma balança de precisão.
Os testes em casa de vegetação foram realizados em Outubro de 2012, no início da
estação chuvosa (Tratamento 1 = T1) e Julho de 2013, na estação seca (Tratamento 2 = T2).
As espécies que obtiveram bons percentuais de propagação vegetativa em T1 foram somadas
a outras espécies para os testes em T2. Espécies que apresentaram alta capacidade de rebrota
das estacas em areia lavada nas duas estações ou em alguma delas foram incluídas em testes
de rebrota em água em Outubro de 2013 (Tratamento 3 = T3) (TABELA 2).
Figura 6: Teste de enraizamento de estacas em casa de vegetação do Horto Botânico (UFOP).
Tabela 2. Espécies avaliadas e tratamentos em que foram submetidas. T1 = Teste utilizando areia lavada como substrato, na estação chuvosa. T2 = Teste utilizando areia lavada como substrato, na estação seca. T3 = Teste utilizando submersão parcial das estacas em água, na estação chuvosa. Espécies T1 T2 T3
Alchornea triplinervia (Spreng.) Mull. Arg. X
Baccharis ligustrina DC. X X X
Baccharis myricifolia DC. X X X
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Espécies T1 T2 T3
Baccharis platypoda DC. X X
Bidens sp. X X X
Cyrtocymura scorpioides (Lam.) H.Rob. X X X
Clusia sp. X X
Conyza sp. X
Cybianthus sp. X
Drimys brasiliensis Miers X X
Escallonia hispida (Vell.) Sleumer X
Erythroxylum tortuosum Mart. X
Gaylussacia sp. X
Ilex amara (Vell.) Loes. X
Ilex chamaedryfolia Reissek. X
Leandra aurea (Cham.) Cogn. X
Ludwigia nervosa (Poir.) H.Hara X X X
Myrsine gardneriana A.DC. X
Miconia theizans (Bonpl.) Cogn. X X
Maytenus sp. X
Melastomataceae sp.1 X
Miconia sp. X
Rubiaceae sp.1 X X
Vochysia sp X
Para estes testes (T3), foram usadas 30 estacas de 15 cm de comprimento por espécie
(FIGURA 7). As estacas foram cuidadosamente posicionadas verticalmente, usando como
suporte uma folha de isopor, sendo que 2/3 do seu comprimento ficaram submersos em água
contida em recipiente plástico (FIGURA 8).
Figura 7: Estacas a serem submetidas a testes de submersão parcial em água.
Após os 40 dias, as estacas foram avaliadas quanto ao número e comprimento de
raízes e brotos. O sistema radicular e a parte aérea foram lavados, dispostos em bandeja,
mensurados e fotografados (FIGURA 9). Posteriormente, as estacas foram secas em estufa a
16
60ºC até peso constante e o peso seco das raízes, brotos e estacas separadamente, foram
mensurados em balança de precisão.
Figura 8: Ensaio de enraizamento e brotação de estacas em recipiente plástico, onde as estacas foram parcialmente submersas por 40 dias.
Figura 9: Detalhe da estaca e mensuração de dados de Bidens sp.
Tratamento estatístico dos dados
Utilizou-se o software Excel® para elaborar gráficos e tabelas. Como variáveis para
avaliar se a capacidade de enraizamento e brotação utilizou-se a porcentagem de estacas
enraizadas e brotadas, o número de raízes e brotos e a soma do comprimento de raízes e
17
brotos por estaca. Os dados foram analisados através de estatística descritiva, com a
construção de Box-plots a fim de demonstrar as particularidades de cada espécie/tratamento
(Software Statistica® 7.0). Procedeu-se a análise de variância através do teste Kruskal-Wallis.
O teste post-hoc de Dunn, a 5% de probabilidade de erro, foi utilizado para verificar a
diferença entre as espécies (Software GraphPad Prism® 5 for Windows).
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23
ARTIGO 1
Florística e fitossociologia do estrato arbustivo de um trecho de vegetação ripária no Parque Estadual Serra do Ouro Branco, MG, como subsídio à prospecção de espécies para uso em bioengenharia de solos
RESUMO
O conhecimento ecológico e fitossociológico da vegetação ribeirinha de diferentes bacias
hidrográficas torna-se premissa básica para desenvolver estudos a respeito de espécies aptas a
compor obras de bioengenharia de solos em taludes fluviais. Desta forma, este trabalho
objetivou estudar a composição florística e estrutura fitossociológica do estrato arbustivo da
vegetação ripária do Córrego do Veríssimo, localizado no Parque Estadual Serra do Ouro
Branco (PESOB), MG, buscando identificar espécies nativas para uso em obras de
bioengenharia. Foram demarcadas aleatoriamente 10 parcelas de 2 x 5m, em cada margem do
córrego. Foram coletadas todas as espécies arbustivas com altura entre 0,6m e 3,0m. Todas as
espécies vasculares foram coletadas, herborizadas e identificadas (APG III). Foram
mensurados a altura total e diâmetro na altura do solo de cada indivíduo. Calculou-se a
densidade, frequência, dominância e índice de valor de importância (IVI) das espécies. Além
disso, foram calculados o índice de diversidade de Shannon-Wiener (H’), a equabilidade de
Pielou (J´) e a similaridade florística (Sørensen) entre as duas margens. Foram identificadas
75 espécies reunidas em 26 famílias. As famílias com maior riqueza de espécies foram:
Asteraceae (12), Myrtaceae (10), Melastomataceae (9) e Rubiaceae (7). A espécie com maior
IVI foi Miconia theizans (Bonpl.) Cogn. (12,53), seguida por Baccharis myricifolia DC.
(6,10) e Drimys brasiliensis Miers (4,71). O índice de diversidade (H’) encontrado da área foi
de 3,61 e a equabilidade de Pielou (J’) foi de 0,84. O Índice de Sørensen foi de 29%. Os
resultados alcançados apontam uma lista de espécies potenciais a serem utilizadas em
programas de bioengenharia de solos.
Palavras-chave: Serra do Ouro Branco, Minas Gerais, bioengenharia de solos.
24
ABSTRACT
The ecological and phytosociological knowledge of riparian vegetation of different watershed
becomes a basic premise to develop studies on species able to compose soil bioengineering
constructions in riverbanks. Thus, the current study aimed to investigate the floristic
composition and the phytosociological structure of the shrub of riparian vegetation of the
Veríssimo stream, located in the Serra do Ouro Branco State Park (PESOB), state of Minas
Gerais, seeking to identify native species for use in bioengineering constructions. Ten plots of
2 x 5m were randomly demarcated at each bank of the stream. All shrubs with a height
between 0.6 m and 3.0 m were collected. All vascular species were collected, herborized and
classified (APG III). We measured the total height and the diameter at ground level of each
individual. We calculated density, frequency, dominance and importance value index (IVI)
for each species. Furthermore, the Shannon-Wiener (H ') and the Pielou (J') diversity indexes
and the Sørensen similarity index between the two margins were calculated. Seventy-five 75
species from 26 families were identified. Families with higher species richness were
Asteraceae (12), Myrtaceae (10), Melastomataceae (9) and Rubiaceae (7). The species with
the highest IVI was Miconia theizans (Bonpl.) Cogn. (12.53), followed by Baccharis
myricifolia DC. (6.10) and Drimys brasiliensis Miers (4.71). The H' diversity index was 3.61
and the Pielou evenness (J') was 0.84. The Sørensen index was 29%.The results obtained in
the current study show a list of species with potential use in soil bioengineering.
Keywords: Serra do Ouro Branco, Minas Gerais, soil bioengineering.
INTRODUÇÃO
A vegetação ciliar possui alta importância do ponto de vista ecológico e hidrológico,
atuando de forma direta ou indireta na manutenção da qualidade da água, no fornecimento de
recursos para a fauna, no regime hídrico, na estabilidade do solo de áreas marginais, dentre
outros fatores (SALVADOR, 1987). Processos geomorfológicos modelam constantemente a
paisagem fluvial, ora pela erosão de margens de cursos d’água, ora pelo assoreamento destes
(ROSA & DURLO et al., 2009; DURLO & SUTILI, 2012). Em ambos os casos, ocorre um
reajustamento natural da morfologia do canal, em sua busca por um novo equilíbrio, como
resposta às alterações na dinâmica fluvial (CHRISTOFOLETTI, 1981). No entanto, na
maioria dos casos, a grande causa da alteração desses ambientes é o impacto gerado pelo mau
uso e ocupação do solo (CARDOSO-LEITE et al., 2004, RODRIGUES & GANDOLFI,
2004, SILVA-JÚNIOR, 2005). A drástica redução da biodiversidade, a simplificação do
25
ambiente, a diminuição das formas de vida, assim como o aumento da susceptibilidade a
processos erosivos, são fatores que agravam a degradação destes ambientes (PRIMACK &
RODRIGUES, 2001; BERTONI, 2010). A recuperação de tais áreas, consideradas de extrema
fragilidade e heterogeneidade, pode ser vista como uma tentativa de remediar danos que
poderiam ter sido evitados, sendo considerada uma atividade difícil, porém exequível,
exigindo visão em longo prazo e uma abordagem que contemple o maior número de fatores
que podem influenciar seu sucesso. (DIAS & GRIFFITH, 1998; FELFILI et al., 2000;
RODRIGUES & GANDOLFI, 2004).
A bioengenharia de solos é a integração de práticas de diversas áreas do conhecimento
objetivando a estabilização dos solos, minimizando as ações erosivas de forma mais natural.
Esta técnica, sendo tratada como uma ciência multidisciplinar, utiliza as técnicas de
engenharia aliadas ao uso da vegetação como componente estrutural e fundamental nas obras
de contenção de erosão (GRAY & LEISER, 1982; SCHIECHTL & STERN, 1992; GRAY &
SOTIR, 1996). Esta tecnologia pode ser vista como uma alternativa eficaz, tanto do ponto de
vista estrutural, quanto paisagístico (DURLO & SUTILI, 2012).
Técnicas de bioengenharia de solos estão se difundindo pelo Brasil como prática
sustentável para estabilização de taludes fluviais (SUTILI, 2007; HOLANDA et al., 2008;
HOLANDA et al., 2010), entretanto, é necessário cautela na escolha das espécies vegetais a
serem utilizadas nestes trabalhos. O uso de espécies nativas em processos de recuperação de
áreas degradadas procura restaurar as características naturais do ambiente, criando microclima
e oferta de recursos similares às condições anteriormente encontradas, além de privilegiar
espécies nativas, que estão mais bem adaptadas às condições edáficas, climáticas e ecológicas
do local (FELFILI et al., 2000; DURLO & SUTILI, 2012). Estudos realizados por Holanda et
al. (2010), concluem que gramíneas exóticas contribuem negativamente nos projetos de
bioengenharia, pela agressiva competição com as espécies nativas. Além desse fato, para o
sucesso dos programas de recuperação de áreas degradadas com obras de bioengenharia, as
espécies necessitam de possuir atributos como: capacidade de reprodução vegetativa via
estacas, formação de densa malha de raízes, flexibilidade da madeira, capacidade de suportar
condições de submersão e movimentos de massas (ROSA & DURLO, 2009; HOLANDA et
al., 2010, MONTEIRO et al., 2010; DURLO & SUTILI, 2012).
No Brasil, ainda há poucos estudos sobre recuperação de áreas ciliares degradadas
usando técnicas de bioengenharia. Estudos desenvolvidos no Rio Grande do Sul (DURLO &
SUTILI, 2012) apresentam diversas espécies vegetais de porte arbustivo com potencial
26
biotécnico. No entanto, as espécies citadas não são mencionadas em levantamentos florísticos
de florestas ripárias do Quadrilátero Ferrífero (MEGURO et al., 1996; MEYER et al., 2004;
KAMINO et al., 2008). As florestas localizadas na região do Quadrilátero Ferrífero possuem
características peculiares devido à tipicidade do solo com alto teor de metais, às variações
topográficas significativas e às altitudes elevadas em grande parte de suas extensões
(KAMINO et al., 2008).
Além desse fato, grande parte dos levantamentos florísticos e fitossociológicos não
inclui o estrato arbustivo, o qual abarca o conjunto de plantas com maior potencial a serem
utilizadas na faixa do talude mais próxima da margem dos canais fluviais (FLORINETH &
GERSTGRASER, 2000). As relações espécie-ambiente são fundamentais para a explicação
dos padrões de distribuição espacial das espécies, uma vez que os organismos se estabelecem
em locais que ofereçam os atributos ambientais necessários a sua sobrevivência (POWER &
DIETRICH, 2002). Conforme Rodrigues & Schepherd (2004) a faixa ciliar deve favorecer o
desenvolvimento de espécies de crescimento rápido que suportam efeitos de enchentes e de
maior luminosidade. Entre outros autores, Begemann & Schiechtl (1994), Florineth &
Gerstgraser (2000) e Durlo & Sutili (2012) relatam que espécies arbustivas adaptadas à
reofilia são mais aptas para compor a faixa mais próxima da margem da estrutura dos taludes
fluviais, sendo as árvores de pequeno ou médio porte indicadas para zonas superiores do
talude. Desta forma, o hábito de crescimento das espécies deve ser observado, já que espécies
de grande porte podem provocar sobrecarga nos taludes, reduzindo a estabilidade dos
mesmos, inviabilizando o processo de recuperação por essa técnica (GREENWAY, 1987;
DURLO & SUTILI, 2012).
Assim, levantamentos da vegetação arbustiva de áreas ripárias caracterizam-se como o
passo inicial e fundamental para a busca de espécies nativas que possam apresentar um
potencial biotécnico para essa região. Somente a partir deste levantamento, as espécies mais
abundantes podem ser testadas quanto aos demais requisitos supracitados. Neste contexto, o
conhecimento ecológico e fitossociológico da vegetação ribeirinha de diferentes bacias
hidrográficas torna-se premissa básica para desenvolver estudos a respeito de espécies aptas a
compor obras de bioengenharia de solos em taludes fluviais. Desta forma, este estudo tem
como objetivo estudar a composição florística e estrutura fitossociológica do estrato arbustivo
da vegetação ripária do Córrego do Veríssimo, em Ouro Branco, MG, buscando identificar as
espécies nativas para uso em obras de bioengenharia. Espera-se que as espécies com maior
abundância, sejam mais adaptadas ao ambiente fluvial, apresentando maior potencial
biotécnico em obras de bioengenharia de solos na região.
27
MATERIAL E MÉTODOS
O Parque Estadual Serra do Ouro Branco (PESOB) é uma unidade de conservação de
proteção integral, criada pelo Decreto Estadual 45.180 de 21 de setembro de 2009. Localizado
ao sul do Quadrilátero Ferrífero, entre os municípios de Ouro Preto e Ouro Branco no Estado
de Minas Gerais, possui clima predominante do tipo Cwb, mesotérmico-úmido, conforme
classificação de Köppen (NIMER, 1989). A temperatura média anual é de 20,7º C e a
precipitação anual de 1.188,2 mm, sendo o período chuvoso de outubro a março e a estação
seca no inverno. O relevo apresenta-se como uma elevação abrupta com declividades que
delimitam vales a partir de um planalto de altitudes entre 1.250 m e 1.568 m (PAULA et al.,
2005) (Figura 2).
O PESOB encontra-se inserido em região de transição entre os biomas Mata Atlântica
e Cerrado (AB’SABER, 1977; DRUMOND et al., 2005; SILVA et al., 2008), com
fisionomias florestais e campestres e fitofisionomias variadas. Dentre as formações florestais
encontradas, incluem-se as matas ripárias que por muitas vezes são circundadas por campos
rupestres, elevando a diversidade biológica, prioridade para conservação e importância
ecológica (PAULA et al., 2005; DRUMOND et al., 2005; INSTITUTO TERRA BRASILIS,
2006).
O levantamento foi realizado em fragmentos de formações ripárias do córrego do
Veríssimo, cuja nascente e curso se localizam no interior do PESOB (20o29'31”S,
43o40'34”W) (Figura 2). As encostas do córrego são visivelmente distintas em relação a suas
declividades e fitofisionomias. A margem direita se caracteriza por possuir a vegetação de
menor porte, influenciada pelo domínio dos campos rupestres, onde o terreno possui menor
declividade, com áreas ocasionalmente inundadas e esparsos afloramentos rochosos. A
margem oposta, por sua vez, é caracterizada por uma fitofisionomia florestal, típica de matas
ciliares, onde o talude possui uma inclinação mais pronunciada.
Foi utilizado o método das parcelas (MUELLER-DOMBOIS & ELLENBERG, 1974),
sendo demarcadas aleatoriamente 10 unidades amostrais de 2 x 5 m, em cada margem do
córrego, o mais próximo possível dos cursos d´água. A fim de satisfazer premissas básicas na
escolha de espécies para práticas de bioengenharia de solos, utilizou-se como critério de
inclusão as espécies com altura variando de 0,6 m a 3,0 m. Todos os indivíduos foram
marcados, coletados e identificados. Espécies arbóreas que satisfizeram os critérios de
inclusão deste trabalho foram contidas na amostragem, tendo em vista que para a região de
28
estudo, teores elevados de metais nos solos levam a alterações fisiológicas e modificações
morfológicas em alguns grupos de plantas, o que resulta muitas vezes em diferenças de
estatura (PORTO & SILVA, 1989).
Figura 2: Localização do Parque Estadual Serra do Ouro Branco no Estado de Minas Gerais
(Imagem cedida pelo IEF/PESOB).
Foram mensurados a altura total e diâmetro na altura do solo (DAS) de cada indivíduo.
Todo o material coletado foi herborizado e depositado no Herbário Professor José Badini
(OUPR). As espécies foram agrupadas em famílias de acordo com o APG III (APG III, 2009).
A identificação das espécies foi realizada com auxílio de literatura especializada, por meio de
consulta à coleção do Herbário Professor Jose Badini (OUPR) e pela colaboração de
especialistas na determinação de táxons.
Para se analisar a estrutura e composição da vegetação foram avaliados os seguintes
parâmetros fitossociológicos: densidade absoluta (DA) e relativa (DR), frequência absoluta
(FA) e relativa (FR), dominância absoluta (DoA) e relativa (DoR) e índice de valor de
importância (IVI) (MUELLER-DOMBOIS & ELLENBERG, 1974). Para a interpretação
destes resultados utilizou-se o software Mata Nativa (CIENTEC, 2010). Além disso, foram
calculados o índice de diversidade de Shannon-Wiener (H’) e equabilidade de Pielou (J´)
(MAGURRAN, 2004).
29
Os parâmetros fitossociológicos foram ordenados por ordem decrescente de densidade
relativa. A priorização pelo descritor quantitativo densidade relativa se deve ao fato deste
descritor representar a porcentagem de indivíduos amostrados que pertençam a uma mesma
espécie (MORO & MARTINS, 2011). Além disso, os descritores frequência e dominância
podem, muitas vezes, serem influenciados pelo padrão de dispersão e área basal da espécie,
respectivamente. Devido a isso, a densidade relativa serve melhor aos propósitos implícitos na
escolha das espécies para utilização em bioengenharia de solos e no planejamento da
revegetação das áreas degradadas.
Para verificar a similaridade florística entre as duas margens do córrego utilizou-se o
índice de Sørensen (SØRENSEN, 1948) através da razão entre o número de espécies comuns
e o número de espécies encontradas, ao se comparar duas amostras.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram registradas 75 espécies reunidas em 26 famílias. Desse total, 6 indivíduos não
foram identificados por não apresentarem estruturas reprodutivas. Isso provavelmente se deve
ao fato das mesmas serem espécies arbóreas sem maturidade fisiológica suficiente para
produção dessas estruturas.
As famílias com maior riqueza de espécies foram: Asteraceae (12), Myrtaceae (10),
Melastomataceae (9) e Rubiaceae (7) (Figura 10). Essas quatro famílias representam 51% da
riqueza total da amostragem. Em estudo prévio à criação do PESOB, tais famílias foram
identificadas como sendo as de maior riqueza em áreas de mata, acrescentando-se a família
Fabaceae (Leguminosae) (INSTITUTO TERRA BRASILIS, 2006). Foi encontrada somente
uma espécie de Fabaceae (Inga sp.) para os critérios de inclusão deste trabalho, sendo que a
redução ou ausência desta família em matas de galeria já foi evidenciada em outros estudos
(GUARINO & WALTER, 2005; MATOS & FELFILI, 2010). Para Meira-Neto & Martins
(2003), a maioria de trabalhos em comunidades florestais, o componente arbóreo é
tradicionalmente priorizado em detrimento ao estrato arbustivo e herbáceo, que passa a ser
relegado ao segundo plano. Em ambientes ciliares esse fato não é diferente. Estudos no Brasil
em ambientes ciliares apontam as famílias Myrtaceae, Rubiaceae e Melastomataceae como
famílias de riqueza elevada principalmente para os estratos arbóreo/arbustivo
(IVANAUSKAS et al., 1997; ROMAGNOLO & SOUZA, 2000; SILVA-JUNIOR, 2005;
DIETZSCH et al., 2006). Este padrão se mantém para ambientes ripículas montanos
(OLIVEIRA-FILHO et al., 2004; CARVALHO et al., 2005; ANDRADE et al., 2006).
30
Estudos realizados por Pedreira & Sousa (2011) em uma mancha florestal permanentemente
alagada em Ouro Preto, Minas Gerais, também apontam tais famílias como possuindo maior
riqueza.
Figura 10: Famílias com maior riqueza de espécies na vegetação ripária do córrego do
Veríssimo, no Parque Estadual Serra do Ouro Branco, MG.
Dezesseis famílias foram representadas por somente uma espécie. Os gêneros de maior
riqueza foram Baccharis, Miconia, Ilex e Myrcia, somando 37% dos gêneros amostrados.
Oliveira-Filho et al. (2004) observaram resultados semelhantes nos seus estudos em
fragmentos de floresta montana na chapada das Perdizes, Minas Gerais. França & Stehmann
(2004) apresentam os gêneros Miconia, Drymis, Ilex, Myrsine, ente outros, como gêneros
fortemente relacionados a altitudes elevadas.
Foram amostrados 306 indivíduos de porte arbustivo, sendo observada a estimativa de
15.300 ind ha-1 de densidade absoluta. Mais de 50% dos indivíduos amostrados pertencem as
10 espécies com maior densidade absoluta (Tabela 3). Por outro lado, 64% das espécies são
representadas por apenas 1 ou 2 indivíduos. Estudos realizados por Felfili et al. (2000)
mostram este mesmo padrão para matas de galeria não inundável na região do Brasil central.
Os parâmetros fitossociológicos encontram-se na Tabela 3 ordenados por ordem decrescente
de densidade relativa.
Dentre as espécies de maior densidade relativa destacam-se: Miconia theizans,
Baccharis myricifolia, Drimys brasiliensis, Conyza sp., Baccharis platypoda e Cyrtocymura
scorpioides. Miconia theizans é também a espécie com maior FR% (8,27%), o que indica que
0
5
10
15
20
25
30Es
pé
cie
s (%
)
31
a espécie possui uma boa distribuição ao longo do trecho amostrado. O gênero Miconia é
muito comum em matas de galeria, principalmente em formações florestais de mata atlântica
em altitudes elevadas (GOLDENBERG et al., 2012).
Tabela 3. Parâmetros fitossociológicos das espécies amostradas em mata de galeria do Parque
Estadual Serra do Ouro Branco (PESOB), MG, Brasil. Dados organizados por ordem
decrescente de DR. Onde: DA = densidade absoluta, DR = densidade relativa, FA =
frequência absoluta, FR = frequência relativa, DoA = dominância absoluta, DoR =
dominância relativa, IVI = índice de valor de importância.
ESPÉCIES DA DR% FA FR% DoA DoR% IVI Voucher
Miconia theizans (Bonpl.) Cogn. 2400 15,69 0,6 8,39 0,739 13,50 12,53 OUPR 27026
Baccharis myricifolia DC. 1800 11,76 0,35 4,90 0,090 1,64 6,10 OUPR 27015
Drimys brasiliensis Miers 850 5,56 0,3 4,20 0,240 4,38 4,71 OUPR 27006
Conyza sp. 650 4,25 0,1 1,40 0,045 0,82 2,16 OUPR 27023
Baccharis platypoda DC. 600 3,92 0,2 2,80 0,029 0,54 2,42 OUPR 27012
Cyrtocymura scorpioides (Lam.) H.Rob. 600 3,92 0,2 2,80 0,024 0,44 2,39 OUPR 27013
Ilex amara (Vell.) Loes. 500 3,27 0,15 2,10 0,071 1,30 2,22 OUPR 28150
Clusia sp. 400 2,61 0,1 1,40 0,144 2,63 2,21 OUPR 28155
Ilex chamaedryfolia Reissek 350 2,29 0,25 3,50 0,106 1,94 2,57 OUPR 27019
Baccharis ligustrina DC. 300 1,96 0,15 2,10 0,018 0,32 1,46 OUPR 27022
Gaylussacia sp. 300 1,96 0,15 2,10 0,131 2,39 2,15 OUPR 27522
Melastomataceae sp.2 300 1,96 0,2 2,80 0,019 0,34 1,70 OUPR 28147
Myrcia laruotteana Cambess. 250 1,63 0,25 3,50 0,304 5,55 3,56 OUPR 27820
Myrsine gardneriana A.DC. 250 1,63 0,15 2,10 0,076 1,38 1,70 OUPR 27014
Rhynchanthera cordata DC. 250 1,63 0,1 1,40 0,031 0,57 1,20 OUPR 27024
Rubiaceae sp.1 250 1,63 0,2 2,80 0,324 5,92 3,45 OUPR 28154
Rubiaceae sp.2 250 1,63 0,1 1,40 0,116 2,12 1,72 OUPR 28153
Miconia pepericarpa DC. 200 1,31 0,1 1,40 0,036 0,66 1,12 OUPR 27524
Bidens sp. 150 0,98 0,1 1,40 0,006 0,11 0,83 OUPR 28148
Conyza bonariensis (L.) Cronquist 150 0,98 0,1 1,40 0,007 0,12 0,83 OUPR 27028
Escallonia hispida (Vell.) Sleumer 150 0,98 0,05 0,70 0,006 0,11 0,60 OUPR 27018
Indeterminada sp.3 150 0,98 0,05 0,70 0,008 0,14 0,61 OUPR 28156
Inga sp. 150 0,98 0,1 1,40 0,348 6,35 2,91 OUPR 27809
Lamanonia cf. ternata Vell. 150 0,98 0,1 1,40 0,104 1,89 1,42 OUPR 28157
Melastomataceae sp.1 150 0,98 0,1 1,40 0,024 0,45 0,94 OUPR 27525
Myrsine sp. 150 0,98 0,05 0,70 0,082 1,51 1,06 OUPR 28152
Trembleya phlogiformis DC. 150 0,98 0,1 1,40 0,006 0,11 0,83 OUPR 27017
Alchornea triplinervia (Spreng.) Mull. Arg. 100 0,65 0,05 0,70 0,009 0,17 0,51 OUPR 27818
Alibertia sp1 100 0,65 0,1 1,40 0,019 0,35 0,80 OUPR 27238
Alibertia sp2 100 0,65 0,05 0,70 0,484 8,84 3,40 OUPR 27240
Aquifoliaceae sp.1 100 0,65 0,1 1,40 0,011 0,21 0,75 OUPR 28151
Asteraceae sp.1 100 0,65 0,05 0,70 0,003 0,05 0,47 OUPR 27009
Baccharis crispa Spreng. 100 0,65 0,05 0,70 0,002 0,04 0,46 OUPR 27027
Boraginaceae sp.1 100 0,65 0,1 1,40 0,036 0,65 0,90 OUPR 28158
Calyptranthes pulchella DC. 100 0,65 0,05 0,70 0,051 0,93 0,76 OUPR 27810
32
ESPÉCIES DA DR% FA FR% DoA DoR% IVI Voucher
Casearia cf. arborea (Rich.) Urb. 100 0,65 0,05 0,70 0,020 0,37 0,58 OUPR 28159
Celastus sp. 100 0,65 0,05 0,70 0,005 0,09 0,48 OUPR 28160
Cybianthus sp. 100 0,65 0,05 0,70 0,004 0,07 0,47 OUPR 27021
Erythroxylum tortuosum Mart. 100 0,65 0,05 0,70 0,018 0,33 0,56 OUPR 27010
Eugenia ligustrina (Sw.) Willd. 100 0,65 0,1 1,40 0,189 3,44 1,83 OUPR 27526
Indeterminada sp.1 100 0,65 0,05 0,70 0,003 0,06 0,47 OUPR 28161
Leandra aurea (Cham.) Cogn. 100 0,65 0,1 1,40 0,064 1,16 1,07 OUPR 27008
Ludwigia nervosa (Poir.) H.Hara 100 0,65 0,1 1,40 0,064 1,18 1,08 OUPR 27011
Miconia chartacea Triana 100 0,65 0,05 0,70 0,017 0,32 0,56 OUPR 27819
Myrcia pubescens DC. 100 0,65 0,05 0,70 0,038 0,70 0,68 OUPR 27237
Myrtaceae sp.1 100 0,65 0,1 1,40 0,106 1,93 1,33 OUPR 28146
Vernonanthura lindbergii (Baker) H.Rob. 100 0,65 0,05 0,70 0,007 0,13 0,50 OUPR 27029
Vochysia sp. 100 0,65 0,05 0,70 0,079 1,43 0,93 OUPR 28162
Anacardiaceae sp.1 50 0,33 0,05 0,70 0,004 0,07 0,37 OUPR 28163
Baccharis tarchonanthoides DC. 50 0,33 0,05 0,70 0,006 0,10 0,38 OUPR 27521
Bignoniaceae sp.1 50 0,33 0,05 0,70 0,016 0,29 0,44 OUPR 28164
Calyptranthes sp. 50 0,33 0,05 0,70 0,011 0,21 0,41 OUPR 27816
Celastraceae sp.1 50 0,33 0,05 0,70 0,017 0,32 0,45 OUPR 28165
Celastraceae sp.2 50 0,33 0,05 0,70 0,001 0,01 0,35 OUPR 28166
Cordiera elliptica (Cham.) Kuntze 50 0,33 0,05 0,70 0,029 0,52 0,52 OUPR 27236
Diodia hyssopifolia (Roem. & Schult.) Cham. & Schltdl. 50 0,33 0,05 0,70 0,003 0,05 0,36 OUPR 27025
Guatteria pohliana Schltdl. 50 0,33 0,05 0,70 0,003 0,05 0,36 OUPR 28167
Ilex paraguariensis A.St.-Hil. 50 0,33 0,05 0,70 0,023 0,41 0,48 OUPR 28149
Indeterminada sp.2 50 0,33 0,05 0,70 0,087 1,58 0,87 OUPR 28168
Indeterminada sp.4 50 0,33 0,05 0,70 0,001 0,03 0,35 OUPR 28169
Indeterminada sp.5 50 0,33 0,05 0,70 0,110 2,01 1,01 OUPR 28170
Indeterminada sp.6 50 0,33 0,05 0,70 0,033 0,60 0,54 OUPR 28171
Ocotea acutifolia (Nees) Mez 50 0,33 0,05 0,70 0,066 1,20 0,74 OUPR 27823
Marlierea angustifolia (O.Berg) Mattos 50 0,33 0,05 0,70 0,048 0,88 0,63 OUPR 27812
Marlierea laevigata (DC.) Kiaersk. 50 0,33 0,05 0,70 0,014 0,26 0,43 OUPR 27811
Maytenus sp. 50 0,33 0,05 0,70 0,141 2,58 1,20 OUPR 28172
Myrcia splendens (Sw.) DC. 50 0,33 0,05 0,70 0,001 0,02 0,35 OUPR 27813
Myrciaria sp. 50 0,33 0,05 0,70 0,277 5,06 2,03 OUPR 27814
Piperaceae sp.1 50 0,33 0,05 0,70 0,001 0,01 0,35 OUPR 28173
Rubiaceae sp.3 50 0,33 0,05 0,70 0,001 0,03 0,35 OUPR 27030
Schefflera calva (Cham.) Frodin & Fiaschi 50 0,33 0,05 0,70 0,192 3,51 1,51 OUPR 28174
Symplocos arbutifolia Casar. 50 0,33 0,05 0,70 0,016 0,29 0,44 OUPR 27817
Tapirira guianensis Aubl. 50 0,33 0,05 0,70 0,001 0,01 0,35 OUPR27822
Trembleya parviflora (D.Don) Cogn. 50 0,33 0,05 0,70 0,011 0,21 0,41 OUPR 27523
Vernonanthura sp. 50 0,33 0,05 0,70 0,001 0,02 0,35 OUPR 27020
Apesar de Inga sp. apresentar a segunda maior dominância (6,42%), elevando sua
importância diante da comunidade estudada e ser um gênero ecologicamente importante nas
matas ripárias (MATA & FELIX, 2007), foi uma espécie que apresentou poucos indivíduos.
A variação de fatores como clima, solos, variação do lençol freático nos solos, dinâmica
de cheias dos rios e a geomorfologia das encostas e taludes atua como responsável pela
33
grande e peculiar heterogeneidade na estrutura e composição florística de matas de galeria
(LEITÃO-FILHO, 1982; OLIVEIRA-FILHO, 1989; MATOS & FELFILI, 2010;
RODRIGUES & NAVE, 2004). A transição com as formações vegetais vizinhas contribui
para a particularidade da composição florística destas matas (MATOS & FELFILI, 2010).
Infelizmente, devido aos diferentes critérios de inclusão, as comparações florísticas entre os
levantamentos de florestas ripárias são limitadas. Espécies de ampla distribuição como
Myrcia multiflora, M. splendens e Tapirira guianenses foram encontradas, assim como
espécies comuns em campos rupestres, como algumas do gênero Baccharis e da família
Melastomataceae (MESSIAS et al., 2012). Pedreira & Sousa (2011) estabeleceram em seus
estudos as espécies Drimys brasiliensis, Miconia chartacea, Miconia theizans, Schefflera
calva, Myrcia laruotteana, Trembleya parviflora, entre outras, como espécies indicadoras de
altitude e típicas de florestas semideciduais alto montanas. Carvalho et al. (2005) realizaram
levantamento em floresta ciliar alto montana às margens do rio Grande em Bocaina de Minas,
Minas Gerais e encontraram Tapirira guianensis, Lamanonia ternata, Alchornea triplinervia,
Miconia chartacea, Myrsine gardneriana, Myrcia laruotteana e Drymis brasiliensis como
espécies indicadoras desta fitofisionomia.
O índice de diversidade (H’) encontrado da área foi de 3,61 e a equabilidade de Pielou
(J’) foi de 0,84. Estudos mostram que a variação do índice de diversidade de Shannon em
matas de galeria brasileiras situa-se entre 1,80 a 4,30 (OLIVEIRA-FILHO et al., 1989, 1994;
IVANAUSKAS et al., 1997; ROMAGNOLO & SOUZA, 2000; MARQUES et al., 2003;
CARDOSO-LEITE et al., 2004; OLIVEIRA & FELFILI, 2005; BATTILANI et al., 2005;
SILVA-JÚNIOR, 2005; MATOS & FELFILI, 2010; AVILA et al., 2011; PRATA et al.,
2011). Os valores encontrados denotam uma alta riqueza de espécies e uniformidade na
distribuição das abundâncias das mesmas na área amostrada. Oliveira Filho et al. (1994)
relatam que valores de diversidade mais elevados são encontrados em áreas de topografia
acidentada e com flutuações acentuadas do lençol freático.
O trecho em estudo apresenta diferenças visuais entre as diferentes margens com
relação à declividade dos taludes e a fitofisionomia. O índice de Sørensen sugere uma
similaridade de espécies relativamente baixa (29%) entre as margens do córrego do
Veríssimo. Conforme Felfili & Venturoli (2000), índices de Sørensen superiores a 50%,
indicam elevada similaridade florística entre as comunidades amostradas. Este resultado pode
estar relacionado com o fato de a margem direita está circundada por formações de campos
rupestres, com espécies de menor porte. A vegetação ripária, sob influência do campo
rupestre, torna-se mais aberta, o que favorece a maior entrada de luz, propiciando a ocorrência
34
de espécies heliófitas. O solo mais raso e a topografia diferenciada também podem contribuir
para a variação estrutural e florística entre as margens. Algumas espécies como Baccharis
ligustrina, Baccharis myricifolia, Drimys brasiliensis, Ilex amara, Ilex chamaedryfolia,
Lamanonia cf. ternata, Miconia theizans e Myrcia laruotteana, que são comuns às duas
margens, podem ser sugeridas em planos de restauração de ambientes ribeirinhos desta região
do estado de Minas Gerais, onde a transição entre estas fisionomias é comum. Espécies típicas
de campo rupestre e de altitude apareceram exclusivamente na margem direita do córrego,
como Baccharis crispa, Escallonia hispida, Rhynchanthera cordata, Conyza bonariensis
entre outras, fato que confirma a baixa similaridade entre os ambientes amostrados.
Sendo uma premissa básica da prática de bioengenharia de solos em taludes fluviais a
escolha cuidadosa de espécies abundantes na região de interesse e que essas espécies tenham
porte arbustivo, os resultados alcançados apontam uma lista de espécies potenciais a serem
utilizadas nas práticas de bioengenharia de solos ou engenharia natural. Tais espécies devem
prioritariamente ser avaliadas através de testes de propagação vegetativa e biomecânicos
como testes confirmatórios do potencial biotécnico dessas espécies. As espécies nativas que
apresentem bom potencial biotécnico podem ser sugeridas em planos de recuperação de áreas
ciliares degradadas, em proporções semelhantes àquelas encontradas nesse estudo.
Os resultados obtidos através do levantamento florístico e fitossociológico da vegetação
encontrados neste estudo contribuem para o conhecimento da flora arbustiva e subarbustiva
de matas não só em Minas Gerais, mas também no Brasil, carentes deste tipo de estudo.
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ARTIGO 2
POTENCIAL BIOTÉCNICO DE ESPÉCIES DE MATA RIPÁRIA PARA USO EM OBRAS
DE BIOENGENHARIA DE SOLOS EM AMBIENTES FLUVIAIS
RESUMO
A utilização de plantas nativas em programas de bioengenharia de solos vai além de suas
funções estéticas e paisagísticas. Nestas práticas, as plantas possuem papel fundamental como
elemento estrutural e mecânico. O desenvolvimento de um denso sistema radicular e parte
aérea atuam na melhoria das condições de drenagem e na contenção de processos erosivos.
Além disso, o uso de espécies nativas garantem o retorno das características naturais do local
e inúmeros serviços ambientais. Neste contexto, este trabalho objetivou investigar o
comportamento de 24 espécies ribeirinhas do córrego do Veríssimo, localizado na região
centro-sul do estado de Minas Gerais, em relação à propagação vegetativa para fins de uso em
práticas de bioengenharia de solos. Utilizou-se uma listagem de espécies arbustivas ocorrentes
na mata de galeria deste córrego obtida através de levantamento fitossociológico. Utilizou-se
30 estacas de 15 centímetros de comprimento para cada espécie em três tratamentos: estacas
coletadas na estação chuvosa (T1) e seca (T2), plantadas em sacos plásticos contendo areia
lavada, e estacas coletadas na estação chuvosa submetidas à imersão parcial em água (T3). O
experimento foi conduzido em casa de vegetação para T1 e T2 e em ambiente aberto para T3,
por 40 dias. Como variáveis para avaliar a capacidade de enraizamento e brotação utilizou-se
a porcentagem de estacas enraizadas e brotadas, o número de raízes e brotos e a soma do
comprimento de raízes e brotos por estaca. Dentre as espécies testadas, destacaram-se
Cyrtocymura scorpioides (Lam.) H.Rob. e Bidens sp. que exibiram maiores percentuais de
produção de raízes e parte aérea, assim como uniformidade de estacas enraizadas, além de
apresentarem maiores comprimentos e número de raízes e brotos para um período de 40 dias.
Nota-se que as estacas de C. scorpioides confeccionadas na estação chuvosa obtiveram
resultados promissores. Bidens sp. obteve melhores respostas na estação seca. Pode-se
verificar que a submersão parcial em água não favoreceu o enraizamento de C. scorpioides.
Ensaios suplementares, a fim de buscar novas informações, principalmente quanto ao
comportamento biomecânico dessas espécies são sugeridos.
Palavras-chave: propagação vegetativa, talude fluvial, enraizamento.
40
ABSTRACT
The use of native plants in soil bioengineering programs goes beyond their aesthetic and
landscape functions. In these programs, the plants play a fundamental role as a structural and
mechanical element. The development of a dense root system and leaves work in the
improvement of drainage and erosion containment. Furthermore, the use of native species will
guarantee the return of the site natural characteristics and numerous environmental services.
In this context, this study aimed to investigate the behavior of 24 riverine species in the
Veríssimo stream, located in the south central region of the state of Minas Gerais. The species
ability to propagate vegetatively was assessed with the aim to evaluate their use in soil
bioengineering practices. We used a list of shrub species that occur in the gallery forest of the
Veríssimo stream obtained by phytosociological survey. We used 30 cuttings of 15 cm length
for each specie in three treatments: cuttings collected in the rainy season (T1) and the dry
season (T2) and planted in plastic bags containing sand, and cuttings collected in the rainy
season partially immersed in water (T3). T1 and T2 experiments were conducted in a
greenhouse while T3 experiment was carried out in an open environment for 40 days. To
evaluate the ability of rooting and sprouting, the following variables were used: percentage of
rooting and sprouting, number of roots and shoots and sum of the roots and shoots length per
cutting. Among the species tested, Cyrtocymura scorpioides (Lam.) H.Rob. and Bidens sp.
stood out. Both exhibited higher rates of root and shoot production, uniformity of rooting and
higher lengths and number of roots and shoots for 40 days. We notice that C. scorpioides
cuttings made in the rainy season had promising results. Bidens spp. showed better responses
in the dry season. The partial submersion in water did not improve the rooting of C.
scorpioides. Additional tests in order to seek new information, especially regarding the
biomechanical behavior of these species are suggested.
Keywords: vegetative propagation, riverbank, rooting.
INTRODUÇÃO
A bioengenharia de solos é uma área do conhecimento que se preocupa com a
elaboração de técnicas alternativas às da engenharia convencional para estabilização de solos
e taludes (GRAY & LEISER, 1982; BINDER et al., 1983; GRAY & SOTIR, 1996;
FLORINETH & GERSTGRASER, 2000; LI et al., 2006). De forma geral, os sistemas
construtivos da bioengenharia se caracterizam por associar em uma mesma obra, em diversas
proporções, elementos biológicos (sementes, estacas e feixes de plantas vivas) a materiais
41
inertes (rochas, madeiras, metais, geotêxteis, entre outros) (LEWIS et al., 2001; DURLO &
SUTILI, 2012). Embora a utilização de técnicas mistas direcionadas especialmente para a
recuperação e estabilização de taludes e margens fluviais possa ser remetida ao século XII na
China e tenham sido utilizadas com bastante sucesso na Europa há mais de um século
(STOKES, 2010; DURLO & SUTILI, 2012), a bioengenharia reascendeu e tem se expandido
como ciência e aplicação prática em todo o mundo nas últimas décadas (GRAY & SOTIR,
1996; FLORINETH & GERSTGRASER, 2000; LI & EDDLEMAN, 2002; LI et al., 2006;
COPPIN & RICHARDS, 2007).
A utilização de plantas nesses sistemas construtivos vai além de suas funções estéticas
e paisagísticas. Nestas práticas, as plantas possuem papel fundamental como elemento
estrutural e mecânico. O sistema radicular e parte aérea atuam na melhoria das condições de
drenagem e na retenção das movimentações de solos e sedimentos no interior de bacias
hidrográficas (BURYLO et al., 2007; COUTO et al., 2010), contribuindo com os processos de
contenção de erosões. Além disso, priorizando espécies nativas dos locais a serem
recuperados, a comunidade estabelecida realizará suas funções ecológicas, devolvendo ao
ambiente inúmeros serviços ambientais além do simples controle da erosão. Portanto, a
bioengenharia é uma tecnologia que pode ser vista como alternativa eficaz tanto do ponto de
vista estrutural, paisagístico, quanto ecológico (SUTILI, 2007; ARONSON et al., 2011).
Contudo, não são todas as espécies vegetais que podem ser usadas nestes processos.
Características biotécnicas como alta disponibilidade de estruturas vegetais ou ocorrência da
espécie na área ou região, crescimento rápido, sistema radicular denso e profundo, capacidade
de propagação vegetativa, elasticidade e resistência à flexão da madeira são requisitos
essenciais que caracterizam as espécies aptas a compor projetos de bioengenharia de solos
(GRAY & LEISER, 1982; MORGAN & RICKSON, 1995; ROSA & DURLO, 2009;
HOLANDA et al., 2010, MONTEIRO et al., 2010; SUTILI et al., 2012). Como em longo
prazo, tais intervenções possuem o objetivo de restaurar os ecossistemas de maneira
sustentável, de acordo com as recentes considerações sobre conceitos de engenharia e técnicas
ecológicas (GATIE et al., 2003), antes do planejamento e da execução de obras desta natureza
é fundamental que a vegetação a ser empregada contemple os requisitos relacionados a
diversos aspectos ecológicos, fitossociológicos e econômicos (MONTEIRO et al., 2010).
No Brasil, a aplicação de técnicas de bioengenharia para a contenção de processos
erosivos em margens fluviais é ainda recente e concentrada em algumas localidades do país
(HOLANDA et al., 2010; MONTEIRO et al., 2010; SUTILI et al., 2012). Espera-se que a
42
capacitação de pessoal de nível técnico e superior para elaborar projetos de bioengenharia
experimente ascensão vertiginosa ainda na presente década, entretanto, o desconhecimento da
aptidão biotécnica das espécies nativas dos diferentes biomas e habitats permanecerá, sem
dúvida, fator primariamente limitante do uso destas técnicas na maior parte do território
nacional.
Em Minas Gerais, assim como em outros 16 estados da Federação, a Floresta Atlântica
continua sofrendo com o desmatamento, apesar de todos os esforços governamentais para
impedir tal processo (Resolução CONAMA 303/2002, Leis Federais 9.650/1998,
11.428/2006, 12.651/2012). Embora a taxa de desmatamento neste bioma tenha apresentado
queda acentuada na última década no estado, este ainda ocupa o primeiro lugar no Brasil em
área desmatada (Fundação SOS Mata Atlântica & INPE, 2014). A perda da cobertura vegetal
tem contribuído para o aumento de processos erosivos, que levam muitas vezes a
assoreamentos de cursos d’água e perdas de áreas ciliares (FILIZOLA et al., 2011).
Levantamentos da vegetação de áreas ripárias em Minas Gerais caracterizam-se como
o passo inicial e essencial para a busca de espécies que possam apresentar potencial
biotécnico para uso em projetos de bioengenharia em margens e taludes fluviais. De posse de
informações fitossociológicas, devem-se seguir a avaliação de atributos biotécnicos como a
capacidade de reprodução vegetativa por estaquia, rápido enraizamento e brotação de folhas, e
parâmetros arquitetônicos do sistema radicular. A estaquia é considerada um dos métodos
mais antigos de propagação vegetativa utilizados para recobrimento de solos degradados
(SCHIECHTL, 1973). Conforme Braz et al. (2005), ela se sobressai entre outras metodologias
pelo baixo custo, facilidade operacional e obtenção de mudas em curto período, estando
inseridas nos métodos mais importantes da macropropagação de espécies florestais e
arbustivas ornamentais (INOUE & PUTTON, 2007). Entre outros autores, Florineth &
Gerstgraser (2000) afirmam que plantas com a capacidade de reprodução por estaquia
normalmente são as ideais para uso em projetos de revegetação. Assim, o ideal é que somente
espécies que apresentem bons resultados neste tipo de propagação devam ser destinadas aos
testes de flexibilidade e aos testes em campo.
Neste contexto, o objetivo deste estudo é investigar o comportamento de 24 espécies
ribeirinhas do córrego do Veríssimo, em relação à propagação vegetativa para fins de uso em
práticas de bioengenharia de solos. Situado em unidade de proteção integral, este córrego
pertence à bacia do rio Doce, apresentando características físicas comuns a outros ambientes
montanos ripários em Minas Gerais.
43
MATERIAL E MÉTODOS
A área de estudo localiza-se no Parque Estadual Serra do Ouro Branco, ao sul do
Quadrilátero Ferrífero, no município de Ouro Branco, MG (20o29'31”S, 43o40'34”W), em
fragmentos de mata ripária do córrego do Veríssimo, tributário da bacia do rio Doce (Figura
1). Possui clima predominante do tipo Cwb (classificação de Köeppen), mesotérmico, com
temperatura média anual de 20,7ºC (NIMER, 1989).
Figura 1: Localização do Parque Estadual Serra do Ouro Branco em relação ao Brasil e no Estado de Minas Gerais, em destaque a localização da área amostral (Imagem cedida pelo IEF/PESOB).
Utilizou-se uma listagem de espécies arbustivas ocorrentes na mata ripária, em trechos
de 500 metros ao longo do córrego (RAMOS et al., dados não publicados). Nesta etapa do
estudo foram avaliadas 24 espécies presentes na listagem obtida com o levantamento
fitossociológico, sendo que 12 delas foram as que apresentaram maior abundância no
levantamento, somadas a outras 12 espécies presentes na listagem obtida.
As espécies em ordem decrescente de densidade relativa na região de estudo foram:
Miconia theizans (Bonpl.) Cogn., Baccharis myricifolia DC., Drimys brasiliensis Miers,
Conyza sp., Baccharis platypoda DC., Cyrtocymura scorpioides (Lam.) H.Rob., Ilex amara
(Vell.) Loes., Clusia sp., Ilex chamaedryfolia Reissek., Baccharis ligustrina DC., Gaylussacia
sp., Melastomataceae sp.1. As outras espécies da listagem foram: Maytenus sp., Alchornea
triplinervia (Spreng.) Mull. Arg., Bidens sp., Cybianthus sp., Escallonia hispida (Vell.)
44
Sleumer, Erythroxylum tortuosum Mart., Leandra aurea (Cham.) Cogn., Miconia sp.,
Rubiaceae sp.1, Vochysia sp., Myrsine gardneriana A.DC. e Ludwigia nervosa (Poir.)
H.Hara.
Para os testes de propagação vegetativa, as coletas de estacas foram realizadas em
Outubro de 2012, no início da estação chuvosa (Tratamento 1 = T1) e Julho de 2013, na
estação seca (Tratamento 2 = T2). Estacas de 19 espécies foram submetidas ao tratamento 1.
As espécies que obtiveram bons percentuais de propagação vegetativa em T1 foram somadas
a outras espécies para os testes em T2, a fim de se avaliar o efeito da sazonalidade sobre
brotação e enraizamento das estacas. O tratamento 2 incluiu o total de 15 espécies (Tabela 2).
De cada espécie, a depender da disponibilidade do material vegetal na área, de 20 a 40
estacas aéreas, com 15 cm de comprimento e diâmetros semelhantes foram coletadas. As
estacas foram enterradas em 2/3 dos seus comprimentos em fitocelas (25 x 9 cm) preenchidas
com areia lavada. Os testes foram realizados em casa de vegetação do Horto Botânico da
Universidade Federal de Ouro Preto (Minas Gerais) em ambiente controlado, sendo a
temperatura média mantida a 25º C, a umidade relativa em torno de 75% e a irrigação
realizada três vezes ao dia, com duração de dois minutos cada. Após 40 dias, as estacas foram
avaliadas quanto ao número e comprimento de raízes e brotos. Para as medições utilizou-se
paquímetro digital. Posteriormente, o material foi separado em raízes, brotos e estaca, foi seco
em estufa de circulação a 60ºC até peso constante e pesado separadamente em balança de
precisão.
Situações de alagamento parcial e temporário podem se desenvolver durante a estação
chuvosa, por exemplo, submetendo as plantas, ou parte delas, como o sistema radicular, à
baixa concentração de oxigênio. Alguns tipos de obras de bioengenharia expõe as estacas à
condições semelhantes (FERNANDES & FREITAS, 2011; DURLO & SUTILI, 2012). Neste
contexto, o sucesso de enraizamento e brotação deve ser também testado em condições
simuladas de alagamento. Segundo Inoue & Putton (2007), taxas de enraizamento acima de
30% indicam resultados positivos a multiplicação de espécies através da macropropagação
vegetativa. No presente estudo, entretanto, utilizou-se o percentual superior a 50% de
enraizamento, em pelo menos uma das estações, para definir as espécies que teriam suas
capacidades de propagação vegetativa testadas em água, através de submersão parcial das
estacas em outubro de 2013 (Tratamento 3 = T3) (Tabela 2). Para este teste foram usadas 30
estacas de 15 cm de comprimento por espécie. As estacas foram cuidadosamente posicionadas
em folha de isopor, sendo que 2/3 do seu comprimento ficaram submersos em água num
45
recipiente plástico. Após os 40 dias, as estacas foram avaliadas quanto ao número e
comprimento e biomassa seca de raízes e brotos conforme anteriormente descrito para os
tratamentos 1 e 2.
Tabela 2. Espécies avaliadas e tratamentos em que foram submetidas. T1 = Teste utilizando
areia lavada como substrato, na estação chuvosa. T2 = Teste utilizando areia lavada como
substrato, na estação seca. T3 = Teste utilizando submersão parcial das estacas em água, na
estação chuvosa.
Espécies T1 T2 T3
Alchornea triplinervia (Spreng.) Mull. Arg. X
Baccharis ligustrina DC. X X X
Baccharis myricifolia DC. X X X
Baccharis platypoda DC. X X
Bidens sp. X X X
Cyrtocymura scorpioides (Lam.) H.Rob. X X X
Clusia sp. X X
Conyza sp. X
Cybianthus sp. X
Drimys brasiliensis Miers X X
Escallonia hispida (Vell.) Sleumer X
Erythroxylum tortuosum Mart. X
Gaylussacia sp. X
Ilex amara (Vell.) Loes. X
Ilex chamaedryfolia Reissek. X
Leandra aurea (Cham.) Cogn. X
Ludwigia nervosa (Poir.) H.Hara X X X
Myrsine gardneriana A.DC. X
Miconia theizans (Bonpl.) Cogn. X X
Maytenus sp. X
Melastomataceae sp.1 X
Miconia sp. X
Rubiaceae sp.1 X X
Vochysia sp X
Tratamento estatístico dos dados:
Como variáveis para avaliar a capacidade de enraizamento e brotação utilizou-se a
porcentagem de estacas enraizadas e brotadas, o número de raízes e brotos e a soma do
comprimento de raízes e brotos por estaca. Os dados foram analisados através de estatística
descritiva, com a construção de Box-plots a fim de demonstrar as particularidades de cada
espécie/tratamento (Software Statistica® 7.0). Procedeu-se a análise de variância através do
46
teste Kruskal-Wallis. O teste post-hoc de Dunn, a 5% de probabilidade de erro, foi utilizado
para verificar a diferença entre as espécies (Software GraphPad Prism® 5 for Windows).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Das 19 espécies coletadas na estação chuvosa (T1), somente sete espécies
apresentaram crescimento radicular e lançamento de brotos de forma simultânea (Figura 11),
sendo as proporções de brotação e enraizamento, respectivamente, em B. ligustrina (12% de
brotação e 6% de enraizamento), B. myricifolia (13% e 20%), D. brasiliensis (77% e 21%),
Rubiaceae sp.1 (54% e 43%), L. nervosa (31% e 69%), Bidens sp. (57% e 78%) e C.
scorpioides (92% e 100%). Entre as espécies testadas na estação seca (T2), apenas seis
espécies obtiveram resultados satisfatórios e estão incluídas entre as sete de melhores
resultados na estação chuvosa, sendo elas: C. scorpioides (83% de brotação e 77% de
enraizamento), Bidens sp. (83% e 90%), L. nervosa (23% e 17%), B. myricifolia (97% e
57%), B. ligustrina (97% e 48%) e Rubiaceae sp.1 (70% e 17%).
Figura 11: Porcentagem de enraizamento e brotação das espécies testadas nas estações chuvosa (T1) e seca (T2), em casa de vegetação, utilizando substrato areia lavada.
Apesar da variação observada entre as estações em cada uma das seis espécies com as
melhores porcentagens, os resultados as indicam como fortes candidatas ao uso em obras de
bioengenharia. Em especial, C. scorpioides e Bidens sp., que apresentaram percentuais
elevados de crescimento de brotos e raízes nas estacas coletadas em ambas as estações,
atributos desejáveis para a bioengenharia em margens de rios. O rápido crescimento de raízes
47
acelera a ancoragem do novo indivíduo no local e a estabilização do solo (COPPIN &
RICHARDS, 2007; FAN & CHEN, 2010). Além disso, emissão e crescimento de ramos e
folhas promove a cobertura do solo, minimizando os efeitos erosivos da chuva, do vento e do
fluxo de água do rio (BURYLO et al., 2007; FERNANDES & FREITAS, 2011), além de
restabelecer os processos de produtividade primária, ciclagem de nutrientes, e de criar nichos
para ampla diversidade de outros organismos (LIMA & ZAKIA, 2004; FERNANDES &
FREITAS, 2011). Manutenção do potencial de rebrota e enraizamento em ambas as estações
também pode ser uma característica importante para a bioengenharia, ampliando as
possibilidades temporais de execução de obras (COPPIN & RICHARDS, 2007).
Dentre as 24 espécies testadas, seis não apresentaram formação de raízes e parte aérea
e 12 apresentaram somente produção de brotos, inclusive a espécie Miconia theizans, que se
mostrou mais abundante nas margens do córrego em estudo (RAMOS et al., dados não
publicados). Espécies abundantes e que não se propagam via estaquia, certamente poderão se
estabelecer nas margens de rios através de mudas produzidas via sementes, já que estão
adaptadas as condições de estresse sazonal advindas do ambiente fluvial.
Com base nos resultados de rebrota em areia, foram eleitas para o teste de submersão
em água (T3) as seguintes espécies: C. scorpioides, Bidens sp., L. nervosa, B. myricifolia e B.
ligustrina (Figura 12) (vide anexo A- Enraizamento e Brotação).
Ao analisar a Figura 12, pode-se observar que L. nervosa apresentou melhores
resultados de produção de raízes e brotos em estacas confeccionadas na estação chuvosa e
utilizando o substrato areia (T1). Para B. myricifolia, a estação que favorece seu
desenvolvimento vegetativo é a seca. B. ligustrina obteve resultados distintos nos três
tratamentos. Resultados de produção de raízes inferiores aos desejáveis foram observados
para o material coletado na estação chuvosa nos dois tratamentos, sendo a estação seca
beneficiadora da sua capacidade de propagação vegetativa. Em ambas as espécies do gênero
Baccharis e para a espécie L. nervosa, a imersão parcial em água não resultou em percentuais
satisfatórios de desenvolvimento do sistema radicular. Porém os percentuais para brotação
indicam bom “pegamento” das estacas, considerando pegas as estacas que iniciaram a
emissão de brotos (SUTILI et al., 2013), o que torna essas espécies propícias a serem
plantadas em porções superiores do talude, em menor contato com a água.
Espécies como C. scorpioides e Bidens sp. mantiveram nos tratamentos T1 e T2 bons
percentuais de rebrota, superiores a 75%. Isto indica que suas estacas podem ser produzidas
48
em ambas as estações do ano. Para o tratamento de submersão parcial de estacas em água, C.
scorpioides não garantiu um bom percentual, chegando a somente 10% de estacas enraizadas.
Por outro lado, Bidens sp. manteve bons percentuais (46%), o que torna esta espécie mais apta
ao plantio tanto nas zonas inferiores do talude, em contato com a água, quanto em suas
porções superiores.
Bidens sp.
T1 T2 T3
Bro
taçã
o e
Enr
aiza
men
to (%
)
0
20
40
60
80
100
Cyrtocymura scorpioides
T1 T2 T3
Bro
taçã
o e
Enr
aiza
men
to (%
)
0
20
40
60
80
100
Baccharis myricifolia
T1 T2 T3
Bro
taçã
o e
Enr
aiza
men
to (%
)
0
20
40
60
80
100
Baccharis ligustrina
T1 T2 T3
Bro
taçã
o e
Enr
aiza
men
to (%
)
0
20
40
60
80
100
Brotação (%) Enraizamento (%)
Ludwigia nervosa
T1 T2 T3
Bro
taçã
o e
Enr
aiza
men
to (%
)
0
20
40
60
80
100
T1- Teste em areia na estação chuvosaT2- Teste em areia na estação secaT3- Teste em água na estação chuvosa
Figura 12: Porcentagem de brotação e enraizamento em estacas de cinco espécies coletadas na estação chuvosa (T1) e seca (T2), utilizando o substrato areia e coletadas na estação chuvosa, utilizando submersão parcial das estacas em água (T3), Ouro Preto, MG.
A parte aérea das plantas é de extrema importância em relação à regulação do fluxo do
canal, além de garantir o recobrimento da área (LI & EDDLEMAN, 2002; BURYLO et al.,
49
2007). Ao comparar os tratamentos, a Figura 13 mostra que em T2 a soma do comprimento
dos brotos para B. myricifolia e B. ligustrina é notavelmente superior. L. nervosa, Bidens sp. e
C. scorpioides não apresentaram diferenças significativas em seus resultados para as duas
estações. Apesar disso observa-se que em T1, C. scorpioides e L. nervosa apresentaram
maiores comprimentos de parte aérea.
Enquanto C. scorpioides conta com uma média de 1,5 brotos por estaca em T1 após 40
dias, Bidens sp. possui em média 1 broto por estaca nas duas estações. As duas espécies
apresentaram em seus melhores resultados 5,5 cm e 4,7 cm de comprimento total de brotos
em T1, respectivamente. Ao considerar conjuntamente as duas características, número e
comprimento de brotos, é C. scorpioides que possui a combinação que resulta em maior
volume.
Figura 13: Soma do comprimento de brotos (cm) para estacas de 5 espécies na estação chuvosa e seca utilizando o substrato areia (T1 e T2), Ouro Preto, MG. Valores de comprimento de brotos seguidos pela mesma letra, não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Dunn (p<0,05).
Ao observar as figuras 14 e 15 é possível verificar que C. scorpioides apresentou a
maior produção final de raízes na estação chuvosa, exibindo maior número de raízes e
diferindo estatisticamente das outras espécies quanto a soma do comprimento de raízes
produzidas por estaca. Soma-se a este fato, a maior ocorrência de emissão foliar nesta mesma
época do ano, o que torna esta estação a mais indicada para confecção de estacas para esta
espécie.
50
Figura 14: Soma do comprimento de raízes (cm) para estacas de 5 espécies na estação chuvosa e seca utilizando o substrato areia, Ouro Preto, MG. Valores de comprimento de brotos seguidos pela mesma letra, não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Dunn (p<0,05).
Apesar de haver uma maior variação no comprimento das raízes para estacas de
Bidens sp., a soma dos comprimentos de raízes na estação seca é superior. Sua produção
média por estaca é de 3,7 raízes em T1 e 4,7 raízes em T2 (Figura 14 e 15). As medianas da
soma dos comprimentos de brotos são semelhantes estatisticamente nos dois tratamentos,
portanto essa espécie mostra-se mais eficiente no desenvolvimento vegetativo no período seco
do ano.
Figura 15: Número de raízes para estacas de 5 espécies na estação chuvosa (T1) e seca (T2) utilizando o substrato areia, Ouro Preto, MG.
L. nervosa apresentou raízes pequenas com comprimentos médios inferiores a 3 cm em
sua melhor estação. Para B. ligustrina e B. myrifolia, a estação seca torna mais favorável o
desenvolvimento de raízes maiores nas estacas, embora com medianas inferiores a 3 cm de
51
comprimento. Para Sun (2008), Holanda et al. (2009), Fan & Chen (2010) e Fatahi et al.
(2010), sendo tratado como um componente estrutural de obras de bioengenharia, o sistema
radicular fornece reforço ao solo e proporciona resistência ao cisalhamento, principalmente
após as chuvas; afirmam também que a força de coesão e tração do solo são melhoradas,
auxiliando a estabilização de encostas devido ao reforço mecânico e hidráulico. A formação
de densos tapetes de raízes é uma condição essencial que deve ser observada ao escolher a
espécie a ser utilizada em obras desse gênero.
De acordo com Ziemer (1981) e Li et al. (2006), há um aumento aproximadamente
linear na resistência ao cisalhamento com o aumento da biomassa radicular. Para Gyssels &
Poesen (2003), o aumento da densidade da parte aérea, como o aumento na densidade de
raízes, resultam num decréscimo exponencial no fluxo de taxas de erosão concentrada. A
densa cobertura vegetal do solo e uma grande rede de raízes auxiliam inclusive na fixação de
mantas geotêxteis que estabilizam as camadas mais superficiais do talude, o que gera um
substrato resistente e estruturado (HOLANDA et al., 2008). Para este estudo, os maiores
incrementos de massa seca de raízes se dá em T1 para C. scorpioides e em T2 para Bidens sp
(Figura 16).
Figura 16: Massa seca raízes (gramas) para estacas de cinco espécies na estação chuvosa e seca utilizando o substrato areia, Ouro Preto, MG.
Através dos resultados obtidos, tem-se que C. scorpioides e Bidens sp. destacam-se em
relação as outras espécies nos quesitos soma de comprimentos e número de raízes e brotos e
percentual de estacas que sobreviveram através da propagação vegetativa. Ao comparar os
resultados, nota-se que as estacas de C. scorpioides confeccionadas na estação chuvosa
obtiveram resultados promissores. Bidens sp. obteve melhores resultados na estação seca. Ao
analisar o T3 para as duas espécies, pode-se verificar que a submersão parcial em água não
52
favoreceu o enraizamento de C. scorpioides, dessa forma, manutenções com replantios
periódicos de estacas nas partes inferiores do talude garantirão a densidade adequada. De
acordo com Durlo e Sutili (2012), as características do enraizamento, em especial a rapidez
com que um grande número de raízes é produzido, fazem dessas espécies, as mais
promissoras para uso em projetos de bioengenharia.
CONCLUSÕES
Conhecer os aspectos da biologia reprodutiva assexuada das espécies é fundamental
para seleção daquelas que irão compor projetos de bioengenharia de solos. Dentre 24 espécies
comuns em mata ripária de um córrego na região centro-sul de Minas Gerais, as espécies C.
scorpioides e Bidens sp. se destacaram quando comparadas as outras espécies testadas,
exibindo maior percentual de produção de raízes e parte aérea, assim como uniformidade de
estacas enraizadas para um período de 40 dias em duas estações distintas, além de
apresentarem maiores comprimentos e número de raízes e brotos. Os testes estatísticos
apontam diferenças significativas quando comparadas às outras espécies testadas.
C. scorpioides e Bidens sp. são espécies presentes nas áreas ribeirinhas da região de
estudo, ocorrendo em grande frequência. Os resultados indicam que as espécies multiplicam-
se de maneira satisfatória através de propagação vegetativa. A soma desses fatores as tornam
espécies promissoras e potenciais, aparentemente portadoras das características biotécnicas
desejáveis. Ensaios suplementares devem ser realizados em diferentes condições, a fim de
buscar novas informações, principalmente quanto ao comportamento biomecânico dessas
espécies.
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CONCLUSÕES GERAIS
A escolha cautelosa das espécies para utilização em obras de bioengenharia de solos é
um pré-requisito essencial a ser cumprido. Levando em consideração o fato de que as espécies
nativas do local ou da região devem ser privilegiadas nesta escolha e que essas espécies
possuam preferencialmente porte arbustivo, os resultados obtidos apontam uma lista de
espécies ocorrentes nas matas ripárias do córrego Veríssimo, localizado na região centro-sul
de Minas Gerais com potencial para serem utilizadas em obras que sigam esses propósitos.
A reprodução através de propagação vegetativa é uma condição fundamental para que
se possam selecionar espécies aptas a compor projetos de bioengenharia de solos. Neste
contexto, 24 espécies presentes na lista gerada através do levantamento fitossociológico foram
testadas em relação à capacidade de se reproduzir de forma assexuada e as espécies
Cyrtocymura scorpioides e Bidens sp. se destacaram quando comparadas as outras espécies
testadas, apresentando maiores percentuais de produção de raízes e emissão foliares,
uniformidade de estacas enraizadas em duas estações distintas, além de apresentarem maiores
comprimentos e número de raízes e brotos. Este conjunto de características as tornam espécies
promissoras e potenciais, aparentemente portadoras de características biotécnicas desejáveis.
Essas espécies podem ser sugeridas em planos de recuperação de áreas ciliares
degradadas, em proporções semelhantes às encontradas nesse estudo.
Ensaios adicionais, referentes ao comportamento biomecânico dessas espécies, devem
ser realizados com o objetivo de confirmar seu potencial biotécnico.
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Anexo A- Enraizamento e Brotação
Imagens das estacas de Cyrtocymura scorpioides (28), Bidens sp. (27), Baccharis myricifolia
(18), Baccharis ligustrina (46) e Ludwigia nervosa (7).