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smunàúem ÓRGÃO INFORMATIVO DO CONSELHO DE PARTICIPAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA COMUNIDADE NEfíRA DO ESTADO DE SÃO PAULO

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mimmúeíiem LDITORIAL

ÉTICA NA POLÍTICA / • Fora Collor e sua w w política neoliberal".

Collor para se eleger Presidente da República prometeu vestir os descamisados, calçar os pés descalços e caçar os marajás. Hoje os eleitores que apostaram nele para melhorar o futuro do País, estão firustrados e juntos aos seus não eleitores, vieram a público pedir para que ele seja cassado. Este Governo marcado por escândalos. Até a primeira- -dama Rosane Collor foi condenada pela Justiça a devolver dinheiro que gastou para fazer a festa de aniversário de sua amiga Eunícia Guimarães quando estava na presidência da LBA — Legião Brasileira de Assistência. Antes disso, Rosane foi humilhada em público pelo marido, ficando com a mão estendida, sem que Collor lhe respondesse ao cumprimento. Além disso, apareceu sem aliança durante uma crise conjugai. O Presidente Collor confiscou dinheiro do trabalhador que há duras custas o economizava e o guardava no banco para mais tarde comprar seu terreno ou sua casa própria. Mas o

dinheiro dele foi sacado no dia anterior ao confisco por sua secretária particular. Enquanto isso, os descamisados e pés descalços, vinham assistindo às cenas de exibicionismo do Presidente, manobrando jet-ski, pilotando aviões a jato, mas ele embarcou mesmo foi no conluio com Paulo César Farias, o PC. Isto só não foi adiante porque Pedro Collor, irmão do Presidente veio a público denunciar Paulo César Farias. Com o fim das investigações da Comissão Parlamentar de Inquérito instaurada no Congresso para apurar as denúncias, o Relatório mostrou que o Presidente deve responder à Justiça por crime de responsabilidade, e já tem Governo impedido. Estes acontecimentos fizeram o País se organizar e sair em manifestações em praças públicas, numa verdadeira demonstração de patriotismo, onde o candidato deste enorme comício é o povo cujo discurso se resume em: Impeachment, pela Ética na política.

Lourdes A. de Oliveira

GOVERNO

O Departamento de Juventude do Conselho de Partici- pação e Desenvolvimento da Comunidade Negra está abrindo espaço para jovens que desejam realizar traba- lhos voluntários. Maiores informações com Fernanda pelos telefones: 223-8674, 223-8477 e 220-2946 no horário comercial.

Jornal do Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra

Editado pela Asscssona de Comunicação e Imprensa Rua Antônio de Godoy. 122 - 7o andar - São Paulo/SP

Jornalista Responsável Reportagens e textos Lourdes Aparecida de Oliveira Sandra Sagrado Roberto

(Mtb 21.651/SP) Rose de Oliveira Diagramaçâo

José Luiz de Alkmin

CONSELHO DE PARTICIPAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA COMUNIDADE NEGRA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Presidente

Eduardo J. Oliveira Juriòico Carlos Alberto Carneiro

Juventude Fernanda de Paula Coioboredor Luiz Carlos Santos

COMPO&ICAO torOtllOilMPXfSSAO

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Itamar Franco é o novo Presidente O vice-presidente Itamar Franco

assumiu interinamente a Presidência da República na sexta-feira, dia 2, lo- go após o ex-presidente Fernando Collor de Melo receber a notificação do seu afastamento. Collor foi noti- ficado pelo primeiro secretário do Senado, Dirceu Carneiro (PSDB-SC), que foi também encarregado de comunicá-lo que durante o período de 180 dias prazo que estará sendo realizado o processo de impeache- ment o Brasil está sendo governado pelo vice-presidente Itamar Franco.

Itamar Franco, nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, é divorciado desde 77. Ele tem duas filhas, sendo que uma delas deverá acompanhá-lo

em cerimônias em que a presença da primeira-dama se fizer necessário. Ele deveria assumir a Presidência na segunda-feira dia 5, mas foi anteci- pada durante reunião do vice com o presidente do Supremo TVibunal Fe- deral (STF), Sidney Sanches e do Se- nado, Mauro Benevides (PMDB-CE), o ministro da Justiça, Célio Borja, e os senadores Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP) e Maurício Cor- rêa (PDT-DF), realizada no gabinete de Benevides.

Ao assumir a Presidência, Itamar agradeceu a Deus por este momen- to e disse que em seu Governo não haverá corruptos.

NEGRO DEVE TER VEZ NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO

/^ Não existe discriminação teó- • • rica no Brasil; mas na práti-

ca ela acontece. Somos todos irmãos. Por isso^ o negro também deve ter vez nos meios de Comunicação. Louvo a participação da comunidade negra na realização de grandes trabalhos na fa- mília e na Igreja. O negro pode par- ticipar nos veículos de comunicação

encontrando abertura na sociedade. Ele não deve se fazer de vítima, tem de lutar pelo seu espaço. Na Igreja, o negro deve participar colocando-se em pé de igualdade."

O. Pedro Fedalto Arcebispo de Curitiba

MANIFESTAÇÃO Durante longo tempo, a juventude não

se manifestava diante dos acontecimentos políticos do país, o que preocupava pais e professores. O entusiasmo da juventude surgia apenas em momentos de protestos escolares. Agora, a situação é outra: o en- volvimento do Presidente Collor com PC Farias abalou também a estrutura jovem e as ruas de São Paulo encontram-se lota- das por eles, caras pintadas e por pessoas que buscam justiça. Para todos, o impor- tante é que possam viver em um país on- de haja "cumprimento das leis e que o ri- co também vá para a cadeia". Já passou a hora do Brasil parar de passar a mão na cabeça dos "incompetentes governamen- tais e burgueses" e dar ouvido ao grito da Nação.

O importante de tudo isso é saber que, apesar de todos os problemas enfren- tados pelo jovem brasileiro, existe uma es- trutura formada, que a partir de agora dei- xou de ser desacreditada e conquistou amplo espaço na consciência dos conser- vadores nacionais. Agora, de mangas ar- regaçadas, a juventude se une aos demais brasileiros na tentativa de fazer os gover- nantes entenderem que indistintamente o povo quer justiça. Para isso, é necessário dar vida ao Brasil e morte ao Governo de Fernando Collor de Mello. Rose de Oliveira

500 ANOS DA

AMÉRICA Recentemente tivemos as

Olimpíadas de Barcelona, onde as estrelas negras do esporte promoveram verdadeiros espe- táculos em busca da medalha de ouro. Agora, o mundo se prepara para ir ao aniversário dos 500 anos do Descobrimen- to da América. Será um gran- de momento de troca de soli- dariedade entre os povos, onde os menos favorecidos por siste- mas dominantes como o negro e o índio deverão ter o momen- to de fazer suas reivindicações.

Neste sentido, faz-se impor- tante que entidades se organi- zem em busca de propostas que proporcionem ao mundo cami- nhar melhor.

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manmúe angn /ACONTECEU

Conselho vai ao Secretário da Segurança Pública

O presidente do Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra, Eduardo Joa- quim de Oliveira, esteve no Gabine- te do Secretário da Segurança Pú- blica, Pedro Franco Campos, em agosto acompanhando membros da Frente Negra Brasileira, o presiden- te Francisco Lucrécio e o coorde- nador-geral Osvaldo Cândido, além da representante do departamento fe- minino, Elenice Semini, com a fi- nalidade de levar denúncias de arbi- trariedades cometidas por alguns policiais militares contra a comuni- dade negra.

Essa visita se fez necessária, pe- lo fato ocorrido, no dia 1? de julho, com o músico Antônio Castro Alves de Almeida, que foi agredido no olho direito por um policial das Rondas Ostensivas Tobias Aguiar quando passava pela Praça Roosevelt em di- reção à sua residência. No dia se- guinte, o músico amanheceu com he- matomas no local da agressão e procurou o presidente do Conselho, que o encaminhou ao 4? Distrito Po- licial, onde foi levado na noite ante- rior. No distrito. Castro Alves foi prontamente atendido pelo Delega- do Titular, Orlando Basílio Ivanov,

que fez o Boletim de Ocorrência e solicitou exame de corpo delito, o qual confirmou as queixas. O policial foi devidamente punido.

No gabinete do secretário da Se- gurança Pública os representantes da comunidade negra foram recebidos pelo Secretário Adjunto, Daniel Fink, que ouviu as queixas e considerou- -as justas.

"Não existe, na Instituição, a de- terminação de discriminar qualquer ser humano. Existe, sim, empenho em combater a discriminação", dis- se. Como iniciativa, Fink apontou a

inclusão da disciplina "Direitos Hu- manos", no currículo da Academia Policial.

O Secretário adjunto orienta à comunidade de que é preciso haver estreitamento entre as lideranças de movimentos negros e instrutores das Academias, para ajudar no combate ao racismo. Em seguida, ele relatou as queixas da comunidade negra ao Secretário, Pedro Franco Campos, que se comprometeu a tomar provi- dências no sentido de inibir policiais que cometem arbitrariedades no exercício da profissão.

Programa do Idoso comemora seu primeiro aniversário

No último sábado, dia 19 de se- tembro, o Governo do Estado de São Paulo realizou, nas dependências do Palácio dos Bandeirantes, a cerimô- nia comemorativa do primeiro ani- versário do Programa Estadual de Atendimento Especial à População Idosa. Coordenado pelo Fundo So- cial de Solidariedade do Estado de São Paulo, o programa conta com a participação de todas as secretarias de Estado de empresas estatais e do Ministério Público.

Durante a cerimônia, o governa- dor Luiz Antônio Fleury Filho assi- nou um decreto determinando a cria- ção de novas delegacias de Proteção ao Idoso em todas as Delegacias Re- gionais de Polícia (DERIN), existen- tes no interior do Estado, e em to- das as Seccionais de Polícia (DECAP e DEMACRO), existentes na Capital e na Grande São Paulo. Fleury anun- ciou também, que no dia 18 de se- tembro, assinou resolução determi- nando a concessão de passagens gratuitas aos idosos em todas linhas de ônibus intermunicipais do Esta- do de São Paulo. "São 170 empre- sas de ônibus que a partir de agora terão a obrigação de dar aos idosos esta atenção", ressaltou o governador

Em seu discurso, Ika Fleury, pre-

Aderli Leandro de Oliveira da EEPG Dom Barreto redações sobre tema: Idoso

sidente do Fundo Social de Solida- riedade disse que além do Estado, 220 prefeituras municipais estão en- gajadas no programa, desenvolven- do ações específicas na questão do idoso. Ela ressaltou que a existência de delegacias do idoso, serve para lembrar às pessoas desrespeitadoras de direitos, "que os idosos têm a quem recorrer". E a existência de lu- gares reservados aos idosos em trans- portes coletivos é para mostrar aos demais integrantes da população que

entregou ao governador Fleury pasta contendo

essas pessoas merecem um tratamen- to compatível com a sua idade A pri- meira dama destacou que o Brasil perdeu muito, quando os idosos fo- ram deixados de lado.

Resultados do Programa

Em um ano de vigência o Progra- ma já alcançou resultados como ati- vidades nas áreas de lazer, organizan- do excursões a diversos pontos turísticos do Estado e do País, atra- vés da Secretaria de Esportes e Tli-

rismo. Nos Centros Sociais Urbanos (CSU) são realizados bales, cursos, jo- gos, ginástica e fisioterapia. Já foram atendidos cerca de 25 mil idosos.

Pela Secretaria da Cultura são or- ganizadas Oficinas Culturais, onde o idoso pode desenvolver 42 atividades diferentes e oferecem 1.729 vagas, in- clusive o programa "o Museu vai até você". A Secretaria do TVabalho criou a Bolsa de Empregos com 14 pos- tos de atendimento, na Capital e no interior para cadastrar profissionais com mais de 60 anos de idade.

A Secretaria da Saúde mantém um Centro de Referência e TVeina- mento do Programa de Atenção à Saúde do Idoso com profissionais da área médica, prestando atendimen- to específico às pessoas da Terceria Idade. O idoso conta também com atendimento especial nas agências do Banespa e Nossa Caixa, com aten dimento preferencial. Este sistema está sendo implantado também na Eletropaulo.

Para obter informações sobre serviços, o Governo instalou o SOS Idoso que orienta as pessoas na uti- lização dos recursos disponíveis no Estado. O SOS Idoso atende pelo número 826-9899.

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Serginho Groísman dá exemplo de democracia Serginho Groisman, apresentador

do Programa Livre que vai ao ar todas as tardes, às 17 horas, pelo SBT — Sis- tema Brasileiro de Tfelevisão, deu um ver- dadeiro exemplo de democracia no mês passado. O apresentador juntamente com a produção do programa promoveu um debate sobre discriminação racial par ra o qual foram convidados: Eduardo Joaquim de Oliveira, presidente do Con- selho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra; o modelo e dan- çarino Sebastian Aparecido Fonseca, da propaganda da C&A; a modelo e mane- quim Emili Fátima Luiz, a atriz e mo- delo Kátia Helena de Oliveira e Nasci- mento, da Banda "Os Inocentes".

O debate iniciou com Serginho per- guntando ao presidente Eduardo: O ado- lescente é preconceituoso? Eduardo ex- plicou que hoje nas ruas é possível perceber casais de adolescentes branco com negra, ou vice-versa. Eduardo po- de ainda, explicar no programa que as pessoas que desejarem se integrar a al- gum movimento negro, poderá dirigir-

-se ao Conselho e serão devidamente orientados.

Sebastian falou sobre a palavra "pre- conceito", que para ele significa o con- ceito pré-concebido de alguma coisa: Se- bastian disse que a pessoa que carrega consigo este sentimento é carente. Ao ser questionado sobre sua opinião a res- peito de Michael Jackson, o dançarino

respondeu que não sabe exatamente quais os motivos que o levaram a tomar a atitude de ficar branco, mas acredita que o cantor já enfrentou muitos pre- conceitos e manifestações de racismo, porque ele começou na vida artística ain- da criança. Sebastian acrescenta: "Ele sofreu coisas que eu não sofri." Ele en- fatiza que não podemos condenar Mi-

chael Jackson por querer ser branco, pois as pessoas brancas vão às praias pa- ra ficar morenas, ou se bronzear. A es- ta questão Eduardo complementa dizendo que recebe pessoas brancas no Conselho, que confessam-lhe desejo de serem negras.

Encerrando sua participação na programa, o presidente disse que o lí- der negro sul-africano Nelson Mandela está ajudando e muito a Comunidade Negra. Quando ele esteve aqui foi bem recepcionado pela comunidade negra e o governador Luiz Antônio Fleury Filho.

Kátia Helena falou que faz quatro anos que está na profissão de modelo, mas que ainda enfrenta muito precon- ceito. Mas ela disse que melhorou mui- to, porque antes as modelos vinham de outros países.

O músico da Banda "Os Inocentes" — Clemente, falou da diferença do ra- cismo entre Brasil e Estados Unidos. Pa- ra Clemente o americano é corajoso e assume o racismo, o brasileiro age de forma camuflada.

Imprensa católica reflete sua linguagem e se abre para minorias Nos dias 19 e 20 de junho último

Curitiba foi sede do VI Encontro Nacio- nal de Imprensa Católica. O evento reu- niu cerca de 60 representantes de jor- nais, revistas, boletins diocesanos e teve como principal objetivo enfocar a Im- prensa Católica como instrumento de formação e informação. Promovido pe- lo setor de Comunicação da CNBB — Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, da Arquidiocese de Curitiba, Re- gional Sul II e Jornal Atualidade — PUC/Paraná. A abertura do evento foi marcada pelos pronunciamentos do D. Pedro Fedalto — Arcebispo de Curiti- ba, D. Euro Brandão — Reitor da

PUC/Paraná « do Assessor Nacional de Comunicação da CNBB — Padre Augus- to César Pereira.

Nova Linguagem

Foram discutidos pontos importan- tes em busca de uma nova linguagem que permite a troca de diálogo entre a Igreja e o povo de Deus. Para isso os par- ticipantes, através dos grupos de estu- do, puderam conhecer e trocar experiên- cias, fazendo a apresentação de sua publicação e falando das dificuldades pa- ra elaboração da mesma.

Um dos pontos que mais chamaram

ARCA promove encontro de candidatos a vereadores negros

A ARCA — Associação Represen- tativa da Comunidade Afro-brasileira promoveu dia 19 de agosto um encon- tro de candidatos a vereador negros, na Câmara Municipal de São Paulo, com o objetivo de apresentá-los à comunidade negra, assim como criar um momento de apresentação de propostas destes candidatos de acordo com a problemá- tica que a envolve.

A ARCA é uma entidade apolítica que foi fundada em novembro do ano passado e tem como presidente o coro- nel da reserva da Polícia Militar do Es-

tado de São Paulo, Jurandyr Roque Car- los Bittencourt. A ARCA tem como proposta promover a integração do ne- gro em diversas esferas da sociedade bra- sileira e para isso pretende dar continui- dade às discussões depois das eleições.

Neste encontro os candidatos apre- sentaram suas propostas sobre: Saúde, Economia e Educação, e responderam às perguntas da comunidade que deve- rá se dirigir às umas no dia 3 de outu- bro para votar e saber em quem votar, pois nesta hora o "voto deve ser cons- ciente".

a atenção dos encontristas foi a pales- tra proferida por Monsenhor Arnaldo Beltrami, quando analisou vários veícu- los de comunicação do Brasil e exterior e a disputa de mercado por cada um.

No final desse evento foi elaborada a "Carta de Curitiba", documento con- tendo propostas aprovadas em plenária e que deverão ser encaminhadas à CNBB. Dentre as propostas estão a cria- ção de Agência de Noticias, pela CNBB; contratação de jornalistas para esses ser- viços; que as Campanhas da Fraterni- dade e peças publicitárias sejam produ- zidas com maiores cuidados.

principalmente quando o for televisão, rádio, ou por cartazes e músicas. Foram aprovadas, ainda, moções como a utili- zação dos meios de comunicação per- tencentes à Igreja pelas etnias conside- radas minorias pela sociedade como o negro, índio e mulher.

Os participantes do VI Encontro as- sinaram mensagem de pêsames "in me- moriam" do Padre Tito. "Que morreu para estar com o Senhor durante a reali- zação desse evento", os participantes de- finiram que o Estado de São Paulo irá sediar o VII Encontro da Imprensa Ca- tólica, a data será marcada.

Gioconda racista sai do ar "Gioconda", a personagem que

foi interpretada pela atriz Heloiza Mafelda na recém-acabada novela Pe- dra sobre Pedra, da Rede Globo, não se conformou em espalhar o ranço do racismo apenas na novela e par- tiu para a propaganda. Na novela Gioconda hostilizava pessoas e refe- ria-se ao padre Otoniel chamando-o "coisa preta".

No início do mês membros da comunidade negra, dos sindicatos dos Telefônicos e Ferroviários procu- raram o diretor de Arte do Sindica- to dos Publicitários de São Paulo, Wilson Roberto dos Santos, para de- nunciar a veiculação da propaganda

de conotação racista do Grupo Pão de Açúcar, usando o personagem "Gioconda" com a expressão: "Se a coisa tá preta"...

Wilson levou o fato ao conheci- mento do presidente do Conselho, Eduardo Joaquim de Oliveira, que no instante em que recebia o sindicalista falou ao telefone com o diretor do Departamento Comercial do Pão de Açúcar. Do departamento, Eduardo obteve a informação que o comercial deveria veicular uma semana, mas que seriam tomadas providências. Pa- ra vitória da comunidade negra a propaganda saiu do ar na mesma semana.

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Lançamento dos Cadernos Negros n? 15 Cerca de 300 pessoas comparece-

ram dia 17 de julho, no Sesc- Carmo (próximo à Praça da Sé), ao lan- çamento do 15? Cadernos Negros, com performances dos atores negros Sandra Santos e Marcos Xavier.

Caracterizando como uma confra- ternização geral e um espaço já conquis- tado para o encontro de pessoas de di- versos movimentos e sensíveis à questão racial, o evento foi uma das expressões da arte do povo negro.

Após a performance dos atores, o Grupo de Dança e Tfeatro Afro II fez pes- soas presentes ao evento delirarem com sua apresentação, terminando o lança-

mento numa dança geral. Para criar o interesse da comunida-

de negra pela leitura, os exemplares são vendidos a um preço acessível. Quem quiser adquirir um ou mais exemplares

dos diversos Cadernos Negros pode pro- curar a Griôt, na Av. São Luís, 187, 1? andar, loja 15, fone: 256-8916 ou ligar para Maria Conceição no fone 223-3611.

Para quem não sabe, Griôt tem um significado muito especial. Antigamen- te, na África, a história era passada de geração à geração, oralmente. Era elei- ta uma pessoa que possuía o conheci- mento das informações. Antes de sua morte, sua responsabilidade era passar a história para frente. Este eleito era o Griôt.

Sandra Sagrado Roberto Sentados Cuti, Esmeralda e Oubi em pé: Conceição e Márcio Barbosa

Empresa de cosméticos para negros faz três anos Escritores, empresários, políticos, mé- ^^"BÇSr" BMIMÍÜMI

licos, advogados e reoresentantes de outros H \J\ "UrNf Escritores, empresários, políticos, mé

dicos, advogados e representantes de outros segmentos da sociedade proporcionaram o brilho da festa em comemoração ao tercei- ro ano de existência da empresa Muene — Espaço Cor da Pele. No mesmo dia 15 de julho, também foram comemorados 60 anos de vida da criadora e diretora executiva da Muene — Maria do Carmo Valério Nicolau, no salão de festas ZAIS, na Vila Mariana, que teve suas mesas ocupadas pelos con- vidados.

Cosméticos para negros A empresa acreditou no potencial de

consumo de cosméticos pela mulher negra e partiu para realização de pesquisas no mercado em 1978, até encontrar a fórmula certa para produção de uma linha específi- ca em cosmetologia para a comunidade ne- gra. "Muene" num dos dialetos angolanos significa — "meu senhor, ou minha senho- ra, o mais aplaudido", explica Maria do Car- mo. Em 1989 os produtos Muene — Espa- ço Cor da Pele — passaram a ser aplaudidos pela Comunidade Negra, quando foram co- locados ao seu alcance.

Maria do Carmo divide a sociedade da empresa com seu sobrinho e diretor- -administrativo — Milton César Nicolau — e informa que na linha social a mulher ne- gra encontra batons, sombras cintilantes, de- lineadores de olhos, corretivos, cakes-base e pó; pó facial dentre outros. A linha de pro- dutos de maquiagem para homens tem cer- ca de 60 itens. Entre eles: hidratante para pele, emulsão pós barba, creme para bar- bear e perfumes. A linha de produtos capi- lares é feita com ervas naturais.

Exposições na festa No decorrer da festa foram feitas de-

monstrações dos produtos Muene por ma- nequins, modelos fotográficos e bailarinos devidamente maquiados para uma belíssima apresentação. A demonstração incluiu tam- bém a linha de produtos infantis e maquia- gem para pele branca. Os batons recebem nomes de artistas e personalidades da Co- munidade Negra como Dona Ivone Lara, Ze- zé Mota, Alcione, Dulce Pereira, Leci Bran- dão e Carmem Alzira Rufino. "Estes produtos agem como tratamento na pele e são tão importantes que já foram levados pa- ra outros Estados brasileiros e países como Angola, Nigéria e Senegal", enfatiza Maria do Carmo.

Com a falta de produtos específicos pa- ra pele negra no mercado, restava à comu- nidade as opções pelos produtos de fórmu- las européias ou ainda importá-los dos Estados Unidos. Por isso, na festa Maria do Carmo homenageou, com entrega de certi- ficados, as pessoas que colaboraram para o sucesso da empresa, entre elas Élcio Silva — o Fião da Chie Show, Orlanda Campos, o escritor João Elias, José Barbosa, as pro- motoras e distribuidoras da Muene e outros.

A fábrica Espaço Cor da Pele fica na Rua Loefgren, 903 — estação Santa Cruz do Metrô. O Show Room fica na Rua Do- mingos de Morais, 1.457 — sobreloja 8.

SEMINÁRIO DA UNEGRO

Unegro realiza seminário e discute Conjuntura Nacional e Política De 31 de julho a 1? de agosto, realizou-se o 1? Seminário Estadual

da Unegro (União de Negros pela Igualdade) de São Paulo. Organizado por sua Coordenação Geral, o evento teve como objetivo dar início a um aprofundamento da discussão das várias frentes de luta em que a Unegro vem atuando, bem como trocar experiências com outras entidades afins. 0 Conselho Estadual Comunidade Negra esteve presente, bem como a CUT (Central Única dos Ttabalhadores) Estadual, Sindicatos dos Metroviários, dos Condutores, dos Securitários, Cone (Coordenadoria Municipal do Ne- gro) e Soweto - Organização Negra.

A abertura do Seminário no dia 31, aconteceu no auditório do Sin- dicato dos Condutores de Ônibus de São Paulo. Na ocasião, quatro pes- quisadores negros apresentaram um breve relato de suas pesquisas em tomo da questão racial. Expuseram suas pesquisas, Raquel de Oliveira (do Con-

selho da Comun. Negra) sobre discriminação na escola. Álvaro falou, so- bre a identidade da criança negra no candomblé. Palmira discorreu, so- bre cultura negra e Gê (da Soweto) versou sobre a participação dos negros na política partidária.

No dia seguinte, os trabalhos foram realizados no Centro Municipal de Campismo (Cemucam), em Cotia. Na parte da manhã, discutiu-se a Con- juntura Nacional e as eleições. Constatou-se a necessidade do Movimento Negro e o Movimento Popular intervirem de forma mais firme na crise po- lítica nacional, de modo que a luta pelo fim do Governo Coilor, signifique também, o fim da aplicação da política neoliberal, entendida pelos partici- pantes do Seminário, como o maior obstáculo da atualidade para a luta do povo negro pela sua cidadania. Diante disto, os presentes apoiaram a proposta da Unegro de, nas próximas eleições municipais, indicar o voto

para candidatos de oposição ao governo Coilor e à política neoliberal. Neste mesmo dia, discutiu-se os textos apresentados pelas Coorde-

nadorias dos Direitos de Cidadania, de Mulheres Negras e de Itabalhado res Negros. Ficou aprovada a realização de novas mesas-redondas especí- ficas sobre estes temas, bem como a publicação do relatório das discussões do Seminário para servir de subsídios a debates nos núcleos e outras enti- dades do interior.

A realização do Seminário contou com o apoio de várias entidades sindicais e populares. A Coordenação da Unegro/SP já está preparando o relatório com a síntese dos debates e deixará à disposição dos interessa- dos, na sua entidade Basta escrever para a Unegro/SP - Rua Málaga, 209 - V. Prudente - CEP 03157-300 - São Paulo/SP ou procurar Den- nis de Oliveira pelo telefone 209-7800.

Dennls de Oliveira

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maumúenem LETRAS JURíDICAS

A difícil aplicação da Lei 7.716/89 Lei Antidiscriminação

A Constituição Federal, promul- gada aos 5 de outubro de 1988, trou- xe em seu bojo uma série de avan- ços no tocante aos direitos e garantias fundamentais do cidadão, garantias estas elencadas principal- mente no artigo 5? e seus incisos.

O inciso XLII do artigo 5? da Carta Magna dispõe: "A prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível sujeito à pena de re- clusão nos termos da lei."

A lei a que se refere o dispositi- vo constitucional é a Lei 7.716 de 5 de janeiro de 1989 e que define os crimes resultantes do preconceito de raça e de cor. Ficou a partir de en- tão, revogada a "Lei Afonso Arinos".

O novo dispositivo legal é a re- produção quase integral da lei ora re- vogada e, como tal, não logrou exau- rir as hipóteses tipificadoras de preconceitos, discriminações ou mes- mo a prática do racismo. Dentre as diversas condutas tipificadas na lei, não se vislumbra, por exemplo, a hi- pótese de proferição por parte do agente de palavras, gestos ou escri- tos atentatórios à dignidade da vítima.

Assim sendo, um negro por exemplo, ofendido com impropérios de conotação racial, poderá proces- sar o ofensor simplesmente por in- júria (art. 140 do Código Penal), mo- dalidade penal muito branda em relação à lei enfocada.

Lei Caó E que a chamada Lei "Caó" de

iniciativa do deputado federal e cons- tituinte, Carlos Alberto de Oliveira — Caó e promulgada durante o gover- no José Samey, somente abarca si- tuações de recusa ao acesso ou ad- missão de alguém em locais ou estabelecimentos por motivos de pre- conceito de raça ou de cor.

E surge, então, a grande dificul- dade de aplicação da lei antidiscri- minação, nos moldes em que está editada, porque como modalidade de crime contra a honra encontra tipi- ficação do artigo 140 do Código Pe- nal, que dispõe:

"Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:..."

Embora aparentemente haja um conflito de normas, isso não ocorre havendo mesmo grandes diferenças

entre elas. O que cumpre ter em con- ta para a aplicação da Lei 7.716/89 é a lesão à honra subjetiva de uma determinada etnia.

Quando o agente injuria alguém, está ofendendo uma pessoa em seu sentimento íntimo e desrespeitando seu decoro ou dignidade. Porém, quando este mesmo agente discrimi- na alguém, está ofendendo a digni- dade e o decoro de uma raça. O su- jeito ativo do crime de racismo pode ser qualquer pessoa.

O sujeito passivo também. O bem jurídico tutelado pelo Estado, é a honra subjetiva de uma raça.

Menosprezo No crime de racismo há nítida in-

tenção do agente em menosprezar caluniando, injuriando ou difaman- do toda uma raça ou etnia, externan- do seu preconceito por ação ou omis- são impeditiva do exercício legal de um direito da vítima. Exige-se, nes- ta modalidade delituosa, o dolo es- pecífico, ou seja, a intenção inequí- voca de ofensa em detrimento de uma raça.

Assim sendo, as autoridades po- liciais, ao receberem a queixa, já que são os primeiros a tomar ciência dos fatos, tipificam preliminarmente a conduta como sendo injúria. Essa prática, já institucionalizada, impe- de que casos de racismo cheguem ao crivo do Poder Judiciário, criando a falsa impressão de que estas vítimas não reclamam seus direitos.

Ressalte-se que somente com a aplicação severa das regras legais vi- gentes é que uma sociedade pode conviver em harmonia e igualdade de direitos, principalmente numa socie- dade miscigenada como a nossa que procura ainda, sua verdadeira iden- tificação, já que o estereótipo euro- peu definitivamemte nada tem em co- mum com a sociedade brasileira.

Finalmente, a necessária tutela jurisdicional do Estado sobre a dig- nidade e o decoro da etnia negra no Brasil é mais um avanço entre mui- tos outros constantes da Constitui- ção Federal de 1988.

Carlos Alberto Carneiro Dept? Jurídico

Projeto pode acabar com corrupção no Estado

A corrupção tem sido constante na vida do brasileiro. E um mal que corrói sem olhar a quem vai destruir. Por este motivo, o povo anseia por soluções eficazes para que o problema termine. Apesar de existirem pessoas desacreditadas em que haja solução para a corrupção, a Assembléia Legislativa de São Paulo prova através de projeto de lei (criado pelo deputado estadual João Leiva) que para todo mal existe um combate. Para o mal que destacamos, todos os óigãos da Administra- ção Estadual, inclusive as fundações, são obriga- dos a publicar no D.O.E — Diário Oficial do Es- tado a relação de seus gastos com compras, serviços e obras contratados, locação de imóveis, inclusive com a determinação das quantidades e preços unitários. Além do que, os contratos e pe- didos de compras ficarão à disposição do públi- co e da imprensa, em sala própria nas empresas, com cópias arquivadas na Assembléia Legislativa.

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A Lei n? 26/91, aprovada pelos deputados es- taduais, garante à população a transferência dos negócios públicos, o que coopera para chegarmos ao ponto chave que extermine com a corrupção no país. Para isso, é necessário que haja a fiscali- zação, tanto da sociedade quanto da imprensa, de todos os passos governamentais. A partir daí, "quem ousar armar um processo doloso e super- faturamento certamente irá enfrentar o constran- gimento de ver suas intenções iluminadas pela luz dos refletores".

Sancionar a lei pelo Governador Fleury "foi um passo decisivo para que o cidadão paulista sai- ba, com segurança, onde e como o seu dinheiro está sendo aplicado". Se os governadores de ou- tros estados brasileiros se espelharem em Fleury, o Brasil conseguirá em breve exterminar o inseto que tem corroído o povo brasileiro.

Rose Oliveira

Assistência Jurídica gratuita

O Centro de Defesa dos Direitos Humanos "10 de Dezembro" comunica que está oferecendo orientações jurídicas gratuitas à população comprovadamente carente e sem recursos. A entidade estará realizando plantões de segunda a sexta-feira, das 14 às 17 horas, coordenados pelo advogado Dr. Eurípedes de Castro Júnior. O Centro de Defesa fica na Rua Dr. Zuquim n? 564 — Santana/São Paulo.

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minimée negn LDUCACAO

QUEIMADOS: Concurso anual "O PAPEL DO NEGRO NA FORMAÇÃO DA CIDADA-

NIA BRASILEIRA" é o tema do concurso Anual Queimados pro- movido pela Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania do Es- pírito Santo. Qualquer cidadão brasileiro poderá participar do Concurso, individual ou coletivamente. Entidades de qualquer na- tureza também podem participar, em igualdade de condições com os cidadãos.

Os trabalhos deverão ser entregues até o dia 30 de novem- bro (podem ser enviados pelo Correio), para a Secretaria de Es- tado da Justiça e Cidadania, na Av. Governador Bley, 236, Ed. Fábio Ruschi, 9? andar, Vitória, Espírito Santo. Maiores infor- mações podem ser obtidas pelos telefones (027) 223-0674 e 223-0599.

Os textos deverão ter no mínimo 100 e no máximo 200 pági- nas, datilografadas em espaço dois, com um máximo de 25 linhas cada. O autor poderá incluir ilustrações, preferencialmente em preto e branco, sem, no entanto, acrescer o número de páginas.

No conteúdo, deverá levar em conta a possibilidade do uso do texto para o ensino da história da população negra no Brasil, nas escolas, na oitava série do ensino fundamental.

As cinco cópias dos originais deverão ser assinadas com o pseudônimo, acompanhadas de envelope fechado, contendo no- me completo e endereço do autor. A Comissão Julgadora será constituída de cinco membros indicados pelo Departamento de História da UFES, SEJUC, SEDU, DEC e Coonienação Estadual das entidades negras do Espírito Santo. Não haverá recureo, quan- to ao resultado. O autor do trabalho fará documento doando os direitos autorais da primeira edição para o Fundo da Infância e da Adolescência do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente — CRIAD.

Fbderão ser publicadas partes ou capítulos considerados im- portantes de outros trabalhos não premiados, a critério da Co- missão Julgadora. O valor do prêmio é de Cr$ 5 milhões (cinco milhões de cruzeiros), atualizado pela TRD (lixa Referencial Diá- ria) ou outro indexador semelhante para pagamento na época.

Bumba-meu-boi Dos autos do folclore brasileiro em que

figura o Boi como tema central, Bumba- -meu-boi é o mais agradável e mais típico entre outros.

Seria de origem ameríndia e européia, mas há quem diga ser de origem africana, especialmente do povo Bantu, que por oca- sião das colheitas, na região de BANANE- CA, prestava verdadeiro culto a um boi cha- mado GEROA, que conduzido em procissão cantava-se e dançava-se o BUMBA- -MEU-BOI.

Este, ainda lembra a mascarada pari- siense BOEUF-GRAS, restabelecida na França por Napoleão Bonaparte. Até o sé- culo XVIII o boi fazia passeata pelas ruas de Paris, indo o cortejo cantar e dançar às portas das casas, como fazem hoje os nos- sos ranchos. Esta é a sobrevivência geral do paganismo que como outras, incorporou-se ao catolicismo popular da Europa.

Por outro lado, é possível se remontar à Antigüidade Egípcia do boi Apis, depois às pastoras gregas, aos autos medievais e os romances peninsulares, onde a sobrevivên- cia se manteve. Alguns eruditos, por exem-

plo, acham que o BUMBA-MEU-BOI seja o monólogo do vaqueiro, aquele que Gil Vi- cente fez representar em Portugal em 8 de junho de 1502 no espaço do Castelo de Do- na Maria, para festejar o nascimento do prín- cipe Dom João Gil Vicente,

Símbolo zodiacal era festejado no co- meço do ano solar como poder fecundante do sol, estas festas solares de ciclo de JA NEIRAS chamam-se na Península festa do Agnaldo — Agui + Naldo, isto é, (Boi Nas- cido) AGNUS + Natus. O BUMBA-MEU- -BOI é dançado em todo o nordeste brasi- leiro, sendo muitas as versões: Em Alagoas festeja-se a festa do BUMBA-MEU-BOI no período das festas de NATAL até o Dia de REIS. Os personagens são: o Boi de arca- bouço de madeira, coberto de chita verme- lha, representando o corpo do boi e sua ca- beça com chifres.

Essa armação é carregada por uma pes- soa que fica embaixo dela.

O Matheus vestido de vaqueiro é arma- do com uma vara de ferrão para fiirar o boi. O Rei e o Secretário de sala trazem capas, calções, capacetes dourados e espadas. Além

Recessão e desemprego violam direitos básicos do cidadão

"Penses política, econômica e social do País resultaram em recessão, desemprego e achatamento salarial, violando direitos básicos do cidadão brasileira São situações que atingem setores mais pobres da população nos quais predominam membros da comunidade afro-brasileira.

Neste caso, esta comunidade é duplamente discriminada, pelas condições econômico-social e cultural-racial Essas palavras são do secretário de Estado da Justiça e Cidadania do Espírito Santo, Renato Viana Soares.

0 secretário Renato Viana veio a São Paulo para participar de um encontro com outros secretários de Esta- do para tratar de assuntos relacionados à área do trabalho. Tfendo recebido convite para visitar o Conselho da Comunidade Negra ele logo aceitou e felou à Comunidade em entrevista para este jornal.

0 Secretário da Justiça disse que sabe da difícil situação do negro no Brasil e por isso criou no Estado do Espmto Santo um departamento para promoção social da comunidade negra, com apoio do gowmador Albuí- no Azeredo que pertence à comunidade e tem grande sensibilidade humana.

Este departamento realiza ações conjuntas com movimentos negros que vão desde a área cultural até religio- sa, mas com características de afirmação da personalidade da população negra, explica o Secretária Pira ele o racismo e uma realidade em nosso País e uma maneira de combatê-lo é a integração das entidades negras.

Com relação ao caso PC - Paulo César Farias, Renato Vieira disse que já há indícios suficientes que com- provam o envolvimento do presidente Collor neste caso. "0 Presidente frustrou todas expectativas que o País tinha em relaço a ele Iludiu todos seus eleitores. Mas o caso PC está ajudando a população brasileira ter uma elevação de consciência social e política", encena o Secretário.

destes, há o Doutor, a Cathirina, o Padre, o Vaqueiro e outras figuras secundárias. Ma- theus sai na frente conduzindo a procissão. Inicia-se um longo diálogo entre o Rei e o Secretário de sala, findo o qual o Secretá- rio canta uma série de versos depois de al- guns números de cena.

Neste momento, suige o motivo prin- cipal: o \fcqueiro e alguns brinquedos, e sua função confunde-se com a de Matheus que entra conduzindo o Boi e cantando versos que são respondidos em coro. Em certa al- tura do drama Matheus bate no Boi e ele morre. O Vaqueiro grita encolerizado, "O BOI MORREU E QUEM MATOU FOI MA THEUS". Cantam-se versos para ver se rea- nimam o boi morto, e de fato conseguem, pois no fim da cantoria o boi se levanta res- suscitado.

Em outras versões, Cathirina teria von- tade de comer carne de boi. Após a sua mor- te, repartem-se suas partes, sendo o doutor quem as distribui cantando versos improvi- sados, quando o boi ressuscita. É este por- tanto, o motivo temático do auto "UM BOI QUE É FESTEJADO EM MEIO DE CAN- TOS E DANÇAS, A CERTA ALTURA MOR-

RE E LOGO DEPOIS RESSUSCITA". Al- guns personagens incluem-se nesse auto, como, por exemplo, o Caboclo, o Caipora, o Indígena, o Urubu e outros dependendo da região onde se desenvolve o ato do BOI- -BUMBAMEU-BOI. Mistura-se a outros fes- tejos populares no ciclo de Natal, principal- mente aos GONGOS e PASTORIS, originando esta riqueza de autos dramáti- cos do Brasil, filiados ao ciclo geral dos "reisados".

Sempre figura central da brincadeira resume-se, portanto, ao canto do vaqueiro e sua ressurreição. O BOI é o animal totem como animal de proteção no Norte. Lá o BUMBAMEU-BOI sai nas festas juninas e no Nordeste nas festas natalinas. Maranhão é o Estado onde o BUMBAMEU-BOI mais se difundiu. O BUMBAMEU-BOI recebe di- versos nomes de acordo com a região onde se desenvolve, em três categorias: (DE MA TRAGA, DE ILHA E DE ORQUESTRA) e recebe nomes como: "BOI-BUMBÁ, BOI DE JARAGUÁ, BOI MAMÃO, BOI-DE- -REIS, BOI-CALEMBA".

Pesquisado por José Alicio de Oliveira (Kabala DAngola)

Presidente diz que a Comunidade Negra vai reagir A absolvição do policial branco que espancou o negro norte-americano gerou o conflito racial envolvendo várias

etnias, em Los Angeles-Estados Unidos. 0 lato proporcionou ao mundo repensar a ação de sua polida. Em São Paula membros da Subcomissão de Negros e da Comissão dos Direitos Humanos da O.A.B. Ordem dos Advogados do Brasil, Celso Martins Fontana e Maria da Penha Lopes, reuniram autoridades das polícias Civil e Militar dos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, autoridades dos Pbderes Executivo, Legislativo e Judiciário do Estado, lideranças de Movimen- tos Negros e o presidente da Associação dos Coreanos do Brasil, para que após exibição de imagens do vídeo sobre a violência policial de Los Angeles relatassem suas reflexões.

Depois de assistirem ao vídeo, as autoridades policiais esclareceram que a violência não fez parte da formação dos policiais nos quartéis, mas sim que os aspirantes^oficial aprendem a respeitar o cidadão e tratá-lo com cordialida- de. Neste evento a comunidade afro4)rasileira se manifestou na feia do presidente do Conselho, Eduardo Joaquim de Oliveira: "A comunidade negra é discriminada insistentemente. Nas ruas ela ê diariamente abordada por policiais. Acrescentando que este reação dos negiro norte-americanw não suigiu (^ ela já vinha sendo acalentada há tempos naquela comunidade, A comunidade afro-brasileira tem acolhido a todos e enfrente os preconceitos racial e social com inteligênda. Mas um dia ela vai reagir", diz Eduarda

Ainda estiveram presentes ao debate o CônsuWkral Americano e o presidente da Associação de Dirigentes de Vendas do Brasil.

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UULTURA

As gravadoras perdem sem a cantora Adiei Quem não se lembra daquela música do

comercial da Jeans Jeneration, cantada em inglês? A cantora é Adiei, que mora em São Paulo, na Casa Verde

No show "A face negra da América", Adiei esteve mostrando toda a sua arte, só possibilitada depois que ela cantou no comercial, o público chegou a pedir bis para a música do comercial.

Falta apoio Adiei ainda não gravou nenhum disco.

Aliás, ela diz que as dificuldades são muito

grandes, por falta de apoio por parte dos governos aos artistas. O público está sempre aberto.

Com uma voz muito afinada, cantando blues, jazz, traçando todos os tipos de música. Adiei diz não possuir técnica vocal. "Não ligo para a técnica, na verdade sempre ouvi muitos instrumentos de sopro e ouvi muita música e gosto de cantar", diz.

As gravadoras ainda não atentaram para esta excelente cantora que foi descoberta quando fazia

,o musical "Emoções baratas", em São Paulo. "Meus planos para o futuro? Vou para Curitiba

fazer teatro paiol dias 12 e 13. É uma cidade^ muito receptiva para a música e o povo é maravilhoso", diz.

Quanto à situação do negro no Brasil, a cantora assinala que ser loira é muito mais fácil para quem quer fazer carreira, mesmo sem ter o dom para tal. "Para mudar isso, a gente tem que se unir mais. O que eles querem é nos dividir, nos diluir. Temos população suficiente para lutar pelos nossos dteitos e colocar alguém lá em cima para nos representar", finaliza.

Sandra Sagrado Roberto

Antropofagia e Canibalismo não são Magia Negra Convencionou-se a alguns

profissionais dos meios de comunicação chamar o espetáculo macabro e antropofágico, que aconteceu no Estado do Paraná, e que resultou na morte do menino de seis anos em abril deste ano, de Magia Negra. Esse nome caberia a este ritual se estivesse sido professado por negros ou tivesse a cor preta como símbolo. Entretanto, não há negros envolvidos nesta pretensa religião, e ela não teve origem em outras religiões que são ou foram cultuadas por africanos que foram trazidos para o Brasil. Alguns

profissionais da "imprensa- marrom" passaram a informação de que esse ritual é originário do candomblé ou do exu, religiões professadas por negros em nosso país. No candomblé ou em outras religiões trazidas com o negro da África, existem sacrifícios de animais, mas nunca de seres humanos.

Possivelmente houvera negros antropófagos, como a história registra que no Brasil havia tribos de índios que comiam carne humana. Mas os índios não eram negros, e ninguém confere que isso seja verdadeiro, pois nossa

história está eivada de mentiras. Houve e há até hoje brancos canibais como aquele que há pouco foi condenado nos Estados Unidos, porque matava pessoas e comia carne humana.

O perigo em inventar títulos é que esses permanecem verdadeiros e, no futuro, a história registra que no Sul do Brasil os negros tinham uma religião que sacrificava crianças para beber seu sangue e comer seus órgãos. Essa religião chamava-se "Magia Negra". E o negro pagará como agente de um fato histórico do qual nunca

participou. Tbdas pessoas envolvidas no episódio do Paraná são pessoas de pele branca.

Magia Negra é, sim, o espetáculo que os jogadores de basquete norte-americano fizeram nas Olimpíadas de Barcelona, escondendo a bola,xque só aparecia no cesto. E negra porque eles são negros.

Deve-se ter respeito às raças, não atribuindo-lhes costumes im- próprios.

Eduardo Guedes Casimiro Médico-Psiquiatra

POESIA Soltaram

Meus braços Mas fecharam

Janelas E portas

Cercaram as ruas Por onde Iria passar Reprimiram Meu grito

Prenderam-me No compasso Do dia-a-dia

Vendam Meus olhos

Para que Não possa ver

Os raios De sol

Fazem-nos Acreditar

Que somos Ineficazes

Calam Quem clama Por liberdade

E todos os dias Surge um muro /

Em meu caminho Mesmo assim

Vou indo Por estas veredas Abrindo espaços

Para os que virão.

Negritude é discutida em Escola Estadual da Zona Leste

Parte do livro CANTO A UMA MANHÃ SEM DOR. poesias e crônicas de SANTIAGO DIAS

O Presidente do Conselho, Eduardo Joaquim de Oliveira, proferiu palestra dia 05/08 na EEPSG Prof? Américo de Moura, na Vila Prudente, Zona Leste

Na ocasião, Eduardo falou aos alunos e professores presentes, dentre eles, a prof? Marilena Zapparoli, sobre a Etnia Negra. Dentre os temas abordados pelo palestrante constam "o negro nas Olimpíadas, no mercado de trabalho e na atual conjuntura do país. Além disso, o presidente

orientou uma aluna sobre seu relacionamento familiar, que disse assistir em casa, seu pai, branco, dizer que as atitudes de sua mãe, negra, "só podem ser coisas de preto". A situação da garota se complica pelo fato dela não saber como proceder no momento, visto que ela também é de origem afro- -brasileira. Este é um dos motivos pelos quais a militância em movimento negro toma-se im- portante.

Rose de Oliveira

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nomnmúenegri UULTURA

Negro Psique e Cultura ' Dermeval Corrêa de Andrade

Pelo fato de ser oriundo de família mestiça, tra- go componentes indígenas, negro e branco. Isto nun- ca foi suficiente para que me interessasse por qual- quer de seus problemas específicos. O caso de a família ser composta por pessoas pobres e de clas- se média-baixa também nunca provocou em mim ímpetos para o estudo da problemática social em que estamos inseridos. Jamais se sensibilizara, es- te que vos escreve, a protestar contra alguma in- justiça que rondasse os povos indígenas, brasilei- ros, nem os negros sul-africanos. Somente muitos anos após, ajudado pelo instrumental marxista (este sim conscientizador), é que mudei de atitude

O que pretendo afirmar é que nem a vivência da pobreza econômica nem o gueto cultural em que vivia levaram-me à revolta, ou depois à tomada de consciência contra a opressão. E neste ponto que podemos ampliar o fato e dizer que o imenso fenô- meno cultural, racial e econômico é, ao entrar na mente do oprimido, representado por algo que não é verdadeiro, porém, de maneira tão convincente, que o fato toma-se inquestionável e o verdadeiro, duvidoso.

Diríamos então que essa superestrutura é de uma força manipuladora tão poderosa que a colo- ca numa posição de importância determinante pa- ra a luta de libertação. E claro que as pessoas po- bres têm conhecimento de seu sofrimento, porém não têm acesso às suas causas. Por isso a parafer- nália ideológica é aplicada na interpretação distor- cida, na nomeação equivocada do elemento cau- sador. O sofrimento vivenciado atravessa os mecanismos psicológicos que a psique do ser hu- mano tem funcionando em si, toma-se inconscien- te e poderosamente ativo porque está instalado nas sombras do desconhecido.

Mente humana é igual para todos Apesar de tudo isso, convém ressaltar que o me-

canismo de funcionamento da mente humana é igual para todos. Uma pessoa ao sonhar, por exem- plo, coloca em movimento em sua mente os mes- mos mecanismos que qualquer outra, de qualquer raça, em qualquer lugar do mundo para produzir tanto o sonho manifesto (aquela parte que se lem- bra ao acordar) quanto o sonho latente (a parte que não se recorda, mas que mobilizou o sonho).

Porém, se a mente humana trabalha desta ma- neira, como explicar então o fato de as pessoas se- rem tão diferentes?

São vários os fatores que diferenciam um ser humano do outro. Primeiramente a carga genéti- ca que dá a cada um diferenças na percepção, desde a mais tenra idade Outro fator importante são os relacionamentos familiares, ou seja, cada pessoa em sua singularidade irá inscrever na criança os traços da sua cultura. Por último, a sociedade co- mo um todo irá influir de forma decisiva, através dos professores, médicos, chefes, artistas, psicólo- gos, padres etc, enfim, elementos que colocarão seu modo de ver o mundo, geralmente já perspassado pela visão do mundo da classe dominante

Essa visão da classe dominante é veiculada das mais diferentes formas, situações e pessoas; na rua, na TV, na igreja, na escola etc. São esses os cha- mados Aparelhos Ideológicos de Estado. Este qua-

dro, complexo e sutil vai, aos poucos sendo intro- jetado pela pessoa, na medida em que a repetição dos pontos de vista, das normas, faz com que ela sinta a pressão do grupo circundante Esta é uma ação efetuada pelos representantes da sociedade, conjuntamente aos ideólogos que militam por dife- rentes causas, em sua maioria confírmante dos in- teresses da classe dominante

Vejam que a sociedade aborda seus partícipes de maneira ininterrupta e de diversas formas, tra- vando com eles uma dialética, onde participam os impulsos, os interesses, os ideais e os desejos de cada ser humano. São extremamente importantes, nesse conjunto de acontecimentos, os valores cul- turais predominantes em cada segmento e na so- ciedade em geral.

Para nós da Psicoterapia de Libertação, o ní- vel de justiça e democracia da sociedade irá deter- minar o grau de saúde mental de seus membros. Dentro dessa perspectiva, podemos afirmar que as pessoas^ da raça negra, quando em sua terra de ori- gem, têm sua psique trabalhando absolutamente igual às outras culturas, em seus aspectos estmtu- rais. Diferem em seus conteúdos devido às pecu- liaridades culturais de seu povo, que são anima- dos pelo grupo social, pela religião, pelo conjunto de elementos afins dos diferentes grupos étnicos etc. Nessas sociedades ninguém tem vergonha de ser negro, nem se sente diminuído pelo fato. Isso quer dizer que é esperado, é desejado. Ser negro é um traço igualitário, portanto não haverá interesse em diminuir alguém pelo fato de ser negro. Na verda- de, não se lucrará nada com isso, a não ser que faça parte de uma minoria branca, dominante co- mo nos casos de colonialismo que todos conhecem.

Chegamos, desta maneira, próximo ao âmago da_ questão, isto é, começamos a perceber que se não houver interesse econômico em jogo não ha- verá ataque à raça, à cultura de um povo. Todas as vezes que estas forem atacadas, serão em situa- ção de guerra, de dominação.

Na dominação é comum adotarem, segundo as necessidades dos que detêm o poder, o procedimento de controle da produção coletiva, sem abordarem diretamente os usos e costumes do povo domina- do, extraindo 'Somente" o produto do trabalho alheio, ou, o que tem sido encontrado amiúde, a do- minação não econômica, política e cultural (re- ligiosa).

No caso do negro brasileiro, encontramos essa segunda aplicação de força. Com essa opção, ca- be ao dominador quebrar a 'tolima dorsal" do opri- mido: sua cultura e sua religião, ou seja, os elemen- tos essenciais para a manutenção do moral de um povo que não se curva.

Encontramos pois, com a escravidão, a disso- lução das famílias dos negros e negras seqüestra- dos, a perseguição à sua religião, o ataque siste- mático aos seus valores de beleza e gosto lúdico, a sua capacidade e seu talento para o trabalho, a arte etc. TUdo isso passou a ser visto pela classe dominante como inferior, como produto do submun- do. A cor negra da pele passou a ser apontada co- mo feia, o cabelo ruim etc. etc...

Dominação reforça preconceitos Após séculos de dominação e repetição siste-

mática desses preconceitos através da escola, das famílias, dos meios de comunicação, é evidente que conseguiram lograr êxito quase total. Essa vitória, até hoje verificada, encontra seu ápice quando o próprio negro passa a acreditar no que ouve da bo- ca do dominador. A partir desse momento, introje- ta essas idéias que transpassam seus sentimentos e inicia um processo de ódio aos negros mais pró- ximos: sua família. A partir desse momento, fica intolerante e apontando os 'defeitos" nos seus, feiúra em irmãos e irmãs, mau-caratismo em seu povo.

Envergonha-se de ser negro. Por isso tenho afir- mado que a maioria das pessoas negras geralmente possui mais preconceitos contra a própria raça. En- tendam, une o ódio do branco com seu próprio ódio, mesclados às nyustiças sociais que sofaram e ainda sofrem.

Diante desse quadro é que entendo a situação do povo negro brasileiro e vejo um grande impas- se para os grupos organizados que lutam contra as injustiças das quais são vítimas. Como conscien- tizar esse tumultuado mundo íntimo de um povo que sofreu a mais bárbara repressão? Pôr onde avançar diante de tantos seres que já pensam co- mo o branco injusto? Como trabalhar com aqueles que não vêem mais os seus como aliados? E os cons- cientes de seus problemas, onde estão, como se or- ganizam? E possível caminhar sem o conhecimen- to dessas mentes humanas alteradas pelos preconceitos e sofrimentos?

E importante frisar que a complexidade do as- sunto não deve esmorecer os militantes dos movi- mentos nem as pessoas sensíveis à causa da liber- tação. Necessário é, pois, aprofundarmos essa discussão. Somente assim caminharemos juntos, com as diversidades e similitudes, em busca de uma sociedade verdadeiramente justa e que, certamen- te, sem essa maioria negra, nunca o será!

•DERMEVAL CORRÊA DE ANDRADE^dAw criadora Psicoterapia de Libertação e presidente do Centro Brasileiro de Pesquisa em Saúde Mental Escritor, é consultor internacional para assuntos de Saúde Mental e Políti- ca Cultural

Cosme e Damião: mais um aniversário

Os santos Cosme e Damião anivenariaiam no dia 27 de setembro Co- mo todo aniversariante, não podiam deixar de ser lembrados. Exatamente por isso, os terreiros de Umbanda, Candomblé, Centros Espiritas de Mesa Bran- ca, Lar Beneficente e Igrejas Católicas realizaram a festa de Cosme e Damião - santos católicos gêmeos nascidos no séc XV d.C, na Grécia.

A comemoração do aniversário dos santos foi trazida por escravos ne- gros, onde o sincretismo religioso era comum. Desde então, o mês de setem- bro é tido como "alegria das crianças" pelo feto de Cosme e Damião realiza- rem caridade e cura aos pequeninos.

Hoje em dia, as entidades religiosas organizam festas com a distribui- ção de doces, balas, brinquedos mantimentos, além de paz, saúde e desejo sincero de prosperidade.

Ângelo José Ftreira, 33, da Umbanda, realiza anualmente a festa come- morativa do aniversário dos santos. Ele enfatiza que fez isso por que, quando Cosme e Damião passaram pelo mundo, beneficiaram as crianças com curas e muito axé. Este ano, mais uma vez, Ângelo pôde ver a alegria da garotada ao distribuir as guloseimas oferecidas aos santos. Na ocasião, o desejo sincero de Pereira era poder fazer mais pelas crianças além da distribuição de doces e com maior periodicidade

Resta lembrar que enquanto existir vida e saúde, Ângelo "estará come- morando o aniversário de Cosme e Damião, proporcionarxio às crianças a ale- gra de ganhar doces, lomando-lhes a vida mais feliz".

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INTERIOR

Movimento Negro de Tatui busca a cidadania

O Movimento Negro de Tiituí (MNT) tem como proposta promover o processo de conscientização dos membros da raça negra na busca de seu direito à cidadania plena. Para isso, existe em Tcituí uma comissão elaborando projetos que têm, como principais objetivos, enfocar o racis- mo e a resistência Negra na socie- dade. E para que fossem discutidos em maior dimensão, no mês de maio o MNT realizou palestras em esco- las contando aos estudantes a verda- deira história do Negro no Brasil. Durante os eventos, o líder negro Zumbi foi lembrado por sua luta pe- la comunidade, o que fez com que o dia de sua morte, 20 de novembro, se transformasse no "Dia Nacional da

Foto: Mov. Negro Tatuí

Consciência Negra", desmistificando o "13 de Maio", que se caracterizou como "Dia Nacional de Denúncia Contra o Racismo".

O Movimento Negro de Tcituí, através da Comissão, constituiu uma diretoria provisória, a ser regulariza- da em breve com os seguintes mem- bros: presidente — Rita Hortência Queiroz; vice, Maria Helena Dias; di- retores, administrativo — Marisa Es- teia Silva e de patrimônio — Tânia Alves; 1? secretária — Vera Lúcia Dias; 2? secretária — Márcia Rolim; 1? tesoureiro — Solange Martins; 2? tesoureiro — Fátima Caetano; Dire- tor Cultural — Vera Lúcia Silva e as- sessoria — Lourdes Silva.

Conselho visita Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo Para estabelecer contato e promover integra-

ção entre sindicalistas e Comunidade Negra, o pre- sidente do Conselho, Eduardo Joaquim de Olivei- ra, esteve na sede do Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo do Campo, visitando o presi- dente Vicente de Paulo Silva — Vicentinho, cujo trabalho consiste em organizar a classe operária para lutar por melhores salários e condições de trabalho.

Dirigente irmão No encontro Eduardo disse que "Vicentinho

é nosso irmão de raça". "Tbrcemos para que ele tenha sucesso em todas as reivindicações traba- lhistas", orgulha-se. Ao comentar com o Sindica- lista o caso de Paulo César Farias, o presidente do Conselho acrescentou que se sente feliz por saber que nestas denúncias de corrupções não es- tão envolvidos membros da comunidade afro- -brasileira.

Vicentinho se assume como membro da raça negra e sabe que seus conterrâneos nordestinos sofrem preconceitos. Pára ajudá-los a enfrentar es-

sa questão, atualmente está sendo ministrado um curso para dirigentes sindicais negros, na sede do sindicato.

Ao final do encontro, o presidente Vicentinho agradeceu a visita do Conselho da Comunidade Negra ao Sindicato e disse que se coloca ao lado de quem quiser contribuir com a luta da classe operária e por melhores condições de vida. O sin- dicalista prometeu, ainda, que retribuirá a visita ao presidente do Conselho.

Lourdes A. Oliveira

Pastoral realiza Encontro de Mulheres Negras A Comissão de Mulheres Negras dos APNs

(Agentes de Pastoral Negros) realizou de 4 a 7 de setembro o I Encontro Estadual de Mulheres Negras de São Paulo, na cidade de Caiubi, São Paulo.

"Sexualidade e Afetividade da Mulher Negra" foi o tema central do encontro, que contou com a participação de 16 homens e aproximadamente 70 mulheres. "Prazer e sensualidade, mulher e movimento popular estética negra, dança e trabalho corporal, massagens, mística da mulher, comunicação, penteados e bonecas negras foram as oficinas desenvolvidas com os participantes. O encontro teve como objetivo principal buscar uma maneira de tomar as mulheres mais livres consigo

mesmas e com os outros, além de ter conhecimento ao seu próprio corpo.

Eunice Aparecida de J. Prudente, participante do evento, disse que para ela "o mais importante no encontro foi a mulher negra conseguir dar o primeiro passo rumo a sua emancipação em grupos de base e preparando-nos para o 3? Encontro Nacional de Mulheres Negras que acontecerá em Salvador — BA no ano que vem. A mulher, ainda hoje, é marginalizada pela sociedade em vários aspectos. Sendo negra, o fato se agrava ainda mais. Apesar disso, a luta continua e devemos conquistar todo o espaço que nos pertence", termina.

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3 ? Encontro Nacional de Psicoterapía de Libertação

AUDE

No último dia 26 de setembro, realizou- -se no Ipiranga (Capital), o 3? Encontro Na- cional da Psicoterapia de Libertação, reu- nindo profissionais de diversas áreas como professores, pedagogos (as), psicólogas, as- sistentes sociais, jomalisas e militantes de diversos Movimentos Populares e de Luta pelos Direitos Humanos, além dos Movimen- tos Negros. Organizado pelo Centro Brasi- leiro de Pesquisa em Saúde Mental (CBPSM), o evento contou com o apoio do Codepe (Comitê de Desenvolvimento da Pes- soa Excepcional) Codisem (Comissão pelos Direitos Sociais e Emocionais da Mulher) e Codisec (Comissão pelos Direitos Sociais e Emocionais da Criança) e contou com a par- ticipação de 25 cidades de diversos estados do Pais, como ABCD, Muritinga do Sul, Franca, Belo Horizonte, Brasília, São José do Rio Preto, Litoral Norte de São Paulo, dentre outras.

Como a Psicoterapia de Libertação é uma abordagem com uma visão terceiro mundista moderna na realidade, voltada principalmente para os setores mais oprimi- dos da população como negros, crianças, ex- cepcionais, mulheres, os temas não pode- riam deixar de contemplar estas preocupações.

Pela manhã foram realizadas duas mesas-redondas, cujos temas "O serviço so- cial: do que temos ao que precisamos" e "Criança adotiva: vários ângulos de uma questão polêmica", enfocaram os pro- blemas vividos pelas parcelas mais sofridas da população, referentes ao trabalho de as- sistência social, as possíveis mudanças e também sobre as várias formas que os es- pecialistas trabalham e podem atuar com es- tas questões e da adoção e as causas dos problemas.

Na palestra "Origens e manifestações atuais da discriminação contra o negro brasileiro", proferida por Clóvis Moura, foi

discutida a questão atual da situação dos ne- gros e descendentes que compõem a maio- ria da população e a tentativa do imperia- lismo de utilizar diversos mecanismos para dividir os trabalhadores, além da união de toda a Europa para excluir os povos não brancos, do mundo.

Como não poderia deixar de ser "A criança popular na creche: o que é pre- ciso saber e ...fazer" mobilizou os profis- sionais da área da educação e saúde para a discussão da criança popular e o que os profissionais comprometidos verdadeiramen- te podem fazer. A tarde, na Assembléia Ge- ral da Clínica Social da Psicoterapia de Li- bertação, foi colocado todo o histórico deste trabalho, que desde seu início enfrentou muitas barreiras, e nestes "12 anos de tra- balho, reflexões e respostas", muito se pro- duziu para a saúde mental, de forma dialé- tica e questionadora. Os presentes tiveram a oportunidade de participar democratica- mente, levantando todas as suas questões e dúvidas a respeito da Psicoterapia de Li- bertação.

Fechando o evento, o criador da Psi- coterapia de Libertação, o psicólogo e es- critor, Prof. Dermeval Corrêa de Andrade, proferiu a paletra "O estupro de crianças: entre o desejo e a patologia social", onde os presentes puderam participar e tirar suas dúvidas, tanto de casos de trabalho quanto sobre o porquê do aumento da violência contra as crianças em todos os níveis, até chegar ao estupro. Com uma linguagem sim- ples o prof. Dermeval pode mostrar aos pre- sentes a responsabilidade de cada um, atra- vés de seus próprios atos auxiliarem a criança, principalmente a que já sofreu al- gum tipo de violência, seja ela física ou emo- cional, além das injustiças sociais que per- meiam a nossa sociedade, quando se trata da criança empobrecida.

Sandra Sagrado Roberto

Vacinação foi um sucesso", afirma o secretário Wafae

"Foi um sucesso total. Nem mesmo o tempo chuvoso conseguiu atrapalhar o comparecimento aos postos de vaci- nação", afirmou o secretário estadual da Saúde, Nader Wafae, na entrevista co- letiva concedida ao final da tarde de sá- bado (22), quando fez um balanço do Dia da Multivacinação no Estado de São Paulo.

Segundo o Secretário, os ciados pre- liminares apurados pelo Centro de Vi- gilância Epidemiológica, da Secretaria de Estado da Saúde, indicam que foram vacinadas contra poliomielite cerca de 3,2 milhões de crianças menores de cin- co anos, o que representa 90% do

público-alvo. Walae também considerou "excelen-

te" o comparecimento de adultos — en- tre 500 e 600 mil — nos postos, para se vacinarem contra o tétano. E lembrou que as mães que não puderam levar seus filhos para tomar as vacinas neste sába- do não devem se preocupar, pois pode- rão fazê-lo nos postos de saúde, duran- te os dias de semana.

De acordo com o secretário, o go- verno do Estado despendeu cerca de Cr$ 5 bilhões com esta primeira etapa da Campanha de Multivacinação. A se- gunda etapa deverá se realizar dia 17 de outubro.

Direitos de excepcionais precisam sair do papel

Se você não sabia, de 21 a 28 de agosto é conside- rada a Semana da Pessoa Excepcional, por isso o Cen- tro Brasileiro de Pesquisa em Saúde Mental, ao qual está vinculado o Codepe - Comitê de Desenvolvimento da fts- soa Excepcional, trabalha incansavelmente e para que se- jam respeitados os direitos das pessoas excepcionais. Dia 26 de agosto, a entidade realizou a palestra "Excepcional no Brasil: avanços e retrocessos".

Os ciados sobre os excepcionais no Brasil são dra- máticos: 10% da população, ou seja, 15 milhões de pes- soas (população equivalente a de alguns países do mundo como Portugal que tem 14 milhões de habitantes), possui algum tipo de deficiência em diferentes graus. Nos países desenvolvidos, estes números não ultrapassam 3% da po- pulação.

A principal causa da excepcionalidade é a desnutri- ção, causada pela miséria ocasionada pelos baixos salá- rios. No Brasil, segundo os dados da Unicef (órgão da ONU para a infância), de cada mil crianças nascidas, 64 mor- rem, cuja causa principal é a subnutrição.

0 que é pessoa excepcional? É aquela que apresen- ta alguma limitação auditiva, visual, mental, física ou to- das estas limitações ao mesmo tempo. Direitos

A Constituição Federal garante o atendimento es- colar e especializado às pessoas excepcionais e determi- na que todos os Municípios e Estados devem ter verba para educação especial. Só que muitas leis ainda continuam no papel. Neste ano, a Câmara Municipal baixou um de- creto determinando que as crianças excepcionais sejam atendidas nas creches, juntamente com as demais. 0 de- creto prevê também atendimento multídisdptinar nos postos de saúde, com fonoaudiólogo, psicólogo, fisioterapeuta e demais técnicos que o excepcional precisa.

Para que esse decreto se transforme enfiei é preciso que a população esteja verdadeiramente lutando para isso.

Está para ser votado na Cámarados Deputados, em Brasília, o projeto de lei chamado "Ônibus da Alegria", que propõe a transferência de Cr$ 70 bilhões do orçamento da Educação Especial para a compra de ônibus para as crianças do I Grau.

Posicionando-se contra essa arbitrariedade, o Co- depe enviou carta à imprensa colocando sua posição e re-

colheu abaixo-assinados de vários locais. Remeteu a carta que transcrevemos a seguir.

São Paulo, 28 de julho de 1992 Ao Sr. Paulo Egídio Neto DD. Secretário Nacional de Educação Básica do Ministério da Educação Prezado Secretário,

Recebi suas justificativas para o remanejamento or- çamentário de verba da Educação Especial para o trans- porte de alunos do 1 Grau.

ftua a referida reformulação, os senhores dizem te- rem levado em conta a demanda histórica da natureza, do tamanho e do volume das solicitações até então dirigi- das a essa Secretaria, alegando que os Estados e Municí- pios utilizaram apenas 21,7% do total dos recursos desti- nados à Educação Especial.

0 quadro apresentado por V. Sa. é triste e revela inclusive a desatenção que Estados e Municípios ainda de- dicam às pessoas que necessitam de Educação Especial, por qualquer grau que seja sua limitação física, mental ou sensorial.

Quando o senhor refere que a citada reformulação proposta não compromete o programa de Educação Es- pecial, desgraçadamente é verdadeiro, porque tal ativida- de cobre menos de 20% das cidades e estados brasilei- ros, daí a "sobra" de verba. Isso quer dizer que, se a problemática da excepcionalidade brasileira fosse vista de maneira correta, ou seja, em nível nacional, a verba cila- da (Cr$ 146.718.000,00) seria irrisória.

Portanto, o dinheiro que ficou "disponível" encobre uma feita de vontade política e uma agressão aos interes- ses de quase 15 milhões de pessoas!

Assim sendo, suas "elucidações" comprovam a exis- tência de uma visão míope em relação à excepcionalida- de no Brasil e que, por ora, só encontraremos apoio em algum poucos Estados e Munidpios, cujos governantes pos- sam apresentar alguma sensibilidade a nossa causa, pois desgraçadamente nem o Congresso Nacional estabeleceu qualquer prioridade à Educação Especial.

Atenciosamente Pmf. Dermeval Corrêa de Andrade, Presidente Fonte: Jornal da Psicoterapia de Libertação

Aumenta incidência de Câncer na Comunidade Negra Pessoas com altos níveis de coles-

terol podem ter o nível dessa substân- cia no sangue reduzido de 5 a 6%. As pessoas com níveis baixos têm redução de 1%. A informação é da Universida- de de Minnesota — EUA, que através de uma pesquisa constatou que para ha- ver esta redução, são necessárias três gramas diárias de fibras vegetais solú- veis de aveias no organismo. Essa quan- tidade, eqüivale, em fibras, a uma tigela grande do cereal.

O colesterol é um dos maiores res- ponsáveis por problemas vasculares, es- pecialmente infartos.

Além de infartos, as fibras ajudam também no controle do câncer, é o que disse Edward Sondik, da National Cân- cer Institute USA, no Fórum do Con- trole de Câncer no Estado de São Pau- lo, de 17 a 19 de agosto, no Centro de Convenções Rebouças. A relação da fi- bra com o câncer é: quanto mais fibras, menos colesterol no sangue, menor in- cidência do tumor no organismo. Ed-

ward mostrou-se preocupado com a in- cidência do câncer na comunidade negra e a recomendação para o momen- to é, sim às fibras, não ao câncer.

Os tipos de cânceres e a incidência entre negros e brancos são demonstra- dos abaixo.

TIPOS DE CÂNCER INCIDÊNCIA TIPO NEGROS BRANCOS URINÁRIO 31% 14% PULMÃO 30% 36% PRÓSTATA 28% 48% MAMA 27% 25% COLO RETO 25% 04%

Sondik acredita que o poder econô- mico seja o grande responsável pela al- ta incidência de câncer na comunidade negra. Com baixo poder econômico ela tem mal atendimento em saúde. Sondik orienta a apalpar a mama para diagnos- ticar o câncer precocemente e maior in- gestão de fibras.

Rose de Oliveira

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Limeira realiza 1 ? Baile e Concurso "Miss Pérola Negra e Negro Lindo 92 "

A Prefeitura Municipal de Limeira ; Secretaria da Cultura, realizou sába- lo, 11 de junho, o I Baile e Concurso *Iiss Pérola Negra e Negro Lindo do Es- ado de São Paulo 92. O objetivo do jvento foi o de eleger os mais belos re- presentantes da raça Negra no Estado i ocorreu no Grêmio Recreativo Limei- •ense. Para realização do concurso nscreveram-se candidatos do sexo mas- rulino e feminino, que representaram as adades de Araras, Nova Odessa, Cam- pinas, Guarulhos, Mogi-Mirim, Santos, São José dos Campos, Mococa, São Pau- lo, Limeira, Franca, Ribeirão Preto e São Carlos.

Organização O concurso foi organizado pela Co-

missão constituída por Maria de Fátima Maurício, presidente da Comissão e membro da Consciência Negra da Pre- feitura de Limeira, que teve a idéia e pas- sou a persegui-la até a sua concretiza- rão; Marcos Francisco Camargo, vice-presidente da Comissão e diretor do Meio Ambiente da Prefeitura, Fátima Antonia Caetano — secretária e José Fa- ria Zaire — ex-secretário da Cultura.

Foto: Coflos Alberto Pões

Edney Venôncio e Tânia Regina Laurindo, represen- tantes da cidade de Araras, em Limeira

Segundo a presidente Fatí, como Fátima é carinhosamente conhecida na cidade, durante a organização do even- to a Comissão encontrou dificuldades

Judeus, Nordestinos e Negros na Luta contra Racismo

Lideranças das comunidades ju- laicas, nordestina, negras, estão se feuníndo para organizarem manifes- tações de repúdio aos atos terroris- as de grupos neonazistas, adeptos de Adolf Hitler que prega ser a raça jriana superior às demais.

Os encontros fizeram-se neces- ários depois que o Programa Docu- nento Especial, exibido pelo SBT, Tiostrou integrantes do gnipo que di- liam odiar judeus, negros e nordes- dnos. Além disso, um membro da co- munidade judaica foi atacado em Santo André quando saía da sinago- ga muro da Rádio Atual no Bairro do Limão e o CTN — Centro de TVa- dições Nordestina foram pichados com inscrições Fora Nordestino, Nor- destino Canalha e a suástica, símbolo do nazismo.

As inscrições em spray vermelho foram feitas após o radialista Jorge Mauro, que disse ter assistido o pro- grama do SBT, respondeu às provo- cações do grupo.

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O secretário de Justiça e Defesa da Cidadania, Manuel Affonso Fer- reira disse que já havia pedido ao Se- cretário da Segurança Pública, Pe- dro Franco de Campos, abertura de inquérito policial contra os racistas declarados mostrados no Programa Documento Especial. O Secretário lembrou ainda que, racismo e inci- tamento à violência por meio de ór- gãos de divulgação ou por publica- ção de qualquer natureza são considerados crimes inafiançáveis e prevêem penas de dois a cinco anos de reclusão. Ele disse ainda, que o Brasil não será caixa de ressonância de atitudes autoritárias de outros paí- ses que não têm ligações com a rea- lidade brasileira.

Estes encontros estarão sendo integrados por entidades representa- tivas dos índios, homossexuais. Anis- tia Internacional, OAB — Ordem dos Advogados do Brasil e todos parti- dos políticos existentes no Estado de São Paulo.

em contactar as cidades, quando rece- beu o apoio do Conselho de Participa- ção e Desenvolvimento da Comunidade Negra. A Prefeitura na atual gestão do Prefeito Palmiro Paulo Veronesi DAn- dréa, ofereceu almoço para os candida- tos no Zelão Churrascaria e TVansporte.

Desfile Afro Na abertura do concurso, as candi-

datas mostraram às pessoas presentes uma dança Afro no ritmo do grupo Awany, coreografada por Conceição Apa- recida de Campos — a Tliti. Em segui- da todos desfilaram o talento e a beleza negra na passarela, sendo que as meni- nas desfilaram em traje afro, de Banho e Noite. Já os meninos desfilaram nos trajes de b.anho e social. Todos ao som da Banda-lã.

O júri, composto por personalida- des da Comunidade Negra e pessoas li- gadas às áreas de dança, estética e so- cial da cidade, elegeu para Miss Pérola Negra Estadual 92 a candidata de Cam- pinas, Zilza de Oliveira, de 19 anos, que ganhou o título "Miss Pérola Negra Es- tadual 92" e uma viagem de cinco dias oferecida pela empresa Daura's Tlirismo.

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O segundo lugar ficou com a candidata de Mogi-Mirim, Mara Gomes, de 21 anos, com o título "1? Princesa Negra Estadual 92" e um kit Água de Cheiro. Em terceiro lugar ficou a cidade de Gua- rulhos representada por Sueli dos San- tos, de 22 anos que recebeu a faixa de "Miss Simpatia Estadual 92" e um bou- quê de flores.

O primeiro colocado do sexo mas- culino foi Carlos Alberto Douglas que também representou Campinas e rece- beu o título "Negro Lindo Estadual 92". Carlos também tem direito à viagem de cinco dias oferecido pela Daura's Tbris- mo. A segunda colocada foi a cidade de São Carlos representada por Demival dos Santos, de 26 anos, que recebeu o título de "1? Príncipe Negro Estadual 92" e uma camiseta. Em terceiro lugar ficou o candidato que representou Fran- ca, Cláudio Roberto de Oliveira, que re- cebeu o título "Charme e Simpatia Es- tadual 92" e um kit Água de Cheiro.

0 presidente do Conselho, Eduar-' do Joaquim de Oliveira, esteve no local prestigiando o evento e ajudando na pre- miação dos vencedores.

Lourdes A. Oliveira

INTERNACIONAL

Luta contra apartheid vai até o fim

Manifestantes do CNA — Con- gresso Nacional Africano, uma jdas maiores organizações negras da Áfri- ca do Sul, foram atacados por tro- pas do Ciskei, quando participavam de protesto pedindo a renúncia do brigadeiro Oupa Gqozo, que tomou o poder em 1990. Os manifestantes partiram de King Williams e dirigiam-se ao povoado de Bisho, ca- pital de Ciskei. Durante a manifesta- ção houve um grande deslocamento de tropas no bantustão — (lar ban- tu). Soldados e atiradores de elite cercaram prédios públicos. Em King Williams também havia patrulhas sul- -africanas nas ruas e helicópteros rea- lizando vôos razantes. O confronto resultou em 196 mortes e centenas de feridos.

O governo racista de Frederick De Klerk foi responsabilizado por mais este massacre, que não teria

acontecido se as tropas de Gqozo não fossem comandadas por oficiais do Exército rracista da África do Sul. Isto impossibilita dizer que De Klerk não teve nada a ver com o massacre de Ciskei. Através do seu ministro das relações exteriores, ele veio a pú- blico apoiar Gqozo. Passa a idéia de que é contra o povo que luta para combater o racismo, querendo des- sa forma, depositar a culpa pelas mortes das vítimas no CNA, que or- ganiza as manifestações.

O CNA já deixou claro que a lu- ta contra o apartheid irá até o fim. Se será por via pacífica ou por meio de luta armada serão os próprios ra- cistas que decidirão. O CNA alertou que, se eles não quiserem pôr fim ao apartheid, o povo sul-africano irá por fim neste regime desumano e torpe, com os sacrifícios que se fizerem ne- cessários.

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üornnmaenegri i # VARIEDADES

Grupo Ilê, além da música, trabalha com crianças Quem pensa que o bloco Ilê Aiyê

só se preocupa com dança, está com- pletamente enganado! Por ocasião do show onde participaram grandes canto- res e cantoras negras da música brasi- leira, entrevistamos Antônio Carlos dos Santos, o "Vovô", presidente do bloco Ilê Aiyê.

Tendo de 2.500 a 3 mil integrantes, o bloco não faz música e dança só com o intuito de resgate cultural, mas tem todo um projeto de trabalho na área so- cial, preocupando-se com o dia-a-dia do negro baiano, do bairro da Liberdade.

TVabalho com crianças "Tfemos escolas de alfabetização

com mais de 200 alunos, além de tra- balho de música com meninos de rua e da comunidade, inclusive formamos uma banda só com garotos de 7 a 14 anos, que intitulamos de Banda Erê. Nós percorremos as escolas da área pa-

ra fazer o trabalho com as crianças, mas tudo isso não é divulgado", afirma Vovô.

No bairro da Liberdade, em Salva- dor, na Bahia, o grupo Ilê Aiyê é sinô- nimo de ajuda ao negro e trabalha com o resgate cultural de todo o povo. "Nós não temos verbas. Mensalmente, os di- retores e integrantes colaboram com uma porcentagem de seu salário para podermos manter tudo isso. Infelizmen- te, quando pedimos verbas para o go- verno para estes trabalhos com as crian- ças, o dinheiro sai de Brasília e quando chega na Bahia já não dá para mais na- da", aponta o presidente do bloco.

Vovô conta que a amizade é que tem possibilitado o auxílio ao povo negro que procura a entidade para pedir ajuda. "Não sou político, nem candidato a na- da, mas no Ilê, até casos de abortos já resolvemos. Quando alguém vai preso e a nós que recorrem, pois temos amigos

Eleições devem ter candidatos compromissados com a comunidade

Pensar nas eleições municipais sig- nifica pensar na escolha dos candidatos e em nossa família, na escola de nossos filhos, em mais creches, melhores trans- portes, um atendimento hospitalar de- cente, uma administração honesta e vol- tada para a melhoria de nossas vidas.

A nós, negros, que tipo de políticos interessa'1 Um negro ou sua filiação par- tidária? O político que não tiver uma atuação sensível, e voltada para atender os apelos da comunidade afro-brasileira, não está apto para representá-la. Com relação aos poucos políticos negros elei- tos pela comunidade, estão muito mais compromissados com seus partidos do que com a comunidade. Diante de tan- tas denúncias comprovadas de discrimi- nação racial, não se viu nenhuma toma-

da de posição por parte desses parlamentares.

Se o candidato à eleição ou à ree- leição não tiver uma visão realista dos problemas da população e um compro- misso de luta para o resgate da cidada- nia e cultura do povo negro, lutar con- tra o desemprego, levando em conta que a maioria dos desempregados é negra; por moradia, tendo consciência de que a maioria dos favelados é negra e lutar para que o sistema de ensino altere a situação de analfabetismo que abrange a maioria da população pobre que, sem sombra de dúvida, é negra, deve ser des- cartado do processo eleitoral pelo elei- tor negro.

José Luiz de Campos

Lições de democracia 0 povo brasileiro acaba de mostrar ao mundo que

está amadurecido para conviver com o ideal democrático. 0 princípio da legalidade não está escrito, mas é funda- mental para legitimar a autoridade do governante, asse- gurando a estabilidade das instituições, permitindo que cada um conheça seus deveres e direitos.

No sistema presidencial como o nosso, os poderes Executivo e Legislativo são oriundos do sufrágio univer- sal. Do princípio das separações de poderes, tal como afir- ma a nossa Constituição, decorre a independência dos po- deres Judiciário, Executivo e Legislativo.

Um dos grandes males de nossa Nação está na cor- rupção! Urge uma ação de moralização na vida política e econômica deste País. Os atos de corrupção encontram sua origem na complexidade e opacidade de. certos pro- cedimentos. Fciz-se necessário um óigão interministerial, dirigido por um magistrado e constituído por especialis- tas administrativos, que possa identificar as transações eco- nômicas de risco para o ftus.

Precisamos de reformas técnicas nos setores urba- nísticos e imobiliário, das delegações dos serviços públi- cos, da regulamentação da publicidade e do urbanismo

comercial. Estes setores são particularmente expostos aos riscos da corrupção (valor aleatório dos bens, acordos fi- nanceiros, difícil controle). A reforma do código de urba- nismo poderia prever medidas de combate à corrupção. As concorrências públicas devem ser transparentes.

A Comissão Parlamentar de Inquérito de agosto veio acabar com a abulia até então existente no Congresso com respeito à corrupção. Se existir inocentes, deverão ser des- culpados. Se são culpados, devem ser condenados. Mas todos deverão passar pela Justiça. Quero gritar: "Quem ataca a Justiça ataca a República." Só a Justiça pode jul- gar as pessoas citadas no relatório da CPI. Eis por que uma grande revolução está acontecendo no País: todos ou- viram a leitura do relatório da CPI, mas nem todos julgam- -na dav mesma forma.

A medida que a sociedade brasileira toma-se mais civilizada, toma-se estável e as relações políticas entre os homens, mais complexas. Há países nos quais os tribu- nais políticos são impedidos de pronunciar penas judiciais. Assim fazendo, estão prevenindo-se de terríveis conseqüên- cias da tirania legislativa, maior que a tirania em si.

em toda parte", diz Vovô. Negro é lindo

Ressaltando que a discriminação contra o negro é muito forte na Bahia, o presidente do Ilê afirma que lá, é he- resia "se julgar negro, pois os brancos preferem os negros mascarados que se acham morenos". Segundo ele, o traba- lho desenvolvido pelo bloco mudou, e muito, o cçmportamento de negros e brancos. "E só observar nossa música! O branco fala que somos feios, falamos que somos bonitos, a mulher negra é bo- nita e cheirosa, nós temos os cabelos lin- dos, é o nosso tipo de cabelo. Nossa mú- sica é só para elogiar o negro e ressaltar seu valor", aponta.

Prova disso, é que nesses 15 anof de trabalho. Vovô diz que as mulhere e até os homens não alisam o cabek "Nesse tempo todo já passamos a meo sagem de que o negro é lindo, não obri- gamos ninguém, mas o pessoal já valo riza suas características negras" saliente

Vovô ressalta que a discriminação' muito forte, tento que quando os rapi zes e moças negras vão para a Bençãc às terças-feiras na Bahia, se usam algi ma coisa nova, a polícia toma. "Para rt solver isso, temos que votar em negro; Parar de cobrar o perfil do negro e cc meçar a ter vereadores, prefeitos negro; realmente comprometidos com o negr. pobre."

Glodum devolve US$ 10 mil ao PDS A polêmica de que a participação

de 18 integrantes do Grupo Cultural Olodum no showmício do candidato a prefeito de São Paulo, Paulo Maluf (PDS), teria provocado divisão no gru- po e discussões nos movimentos ne- gros, fez a diretoria do Bloco vir a São Paulo prestar esclarecimentos à im- prensa e devolver US$ 10 mil ao PDS. Para isso o grupo solicitou ao presi- dente do Conselho, Eduardo Joaquim, um espaço na sede, onde distribuiu có- pias do contrato e mostrou os dólares que foram pagos como cachê pelo show.

O dinheiro havia sido pago ao gru- po pela empresa Atração Produções Ilimitadas, pelo show realizado, dia 12 de setembro em Campo Limpo, Zona Sul, como explica o presidente do gru- po, João Jorge dos Santos Rodrigues. Segundo o presidente, o grupo não po- deria aceitai o dinheiro por uma ques- tão de dignidade. "Este dinheiro é su- jo. Além disso foi no Governo Paulo Maluf que foram esterilizadas mulhe- res negras", diz João Jorge, acrescen- tando que os integrantes do grupo fo- ram coagidos a fazer o show sob ameaças. Disse ainda que a comuni- cação do grupo com a diretoria, em Salvador, teria sido interrompida. Con- forme o presidente do grupo, no con- trato assinado com a Atrações não constava que o show seria para a cam- panha do candidato do PDS. O gru- po ficou sabendo disso um dia antes da apresentação, e então tentou cancelar.

O diretor Zulu explica que o Gru- po Cultural Olodum não possui nem indica qualquer candidato e quando isto se faz necessário, como foi o ca- so de eleger Presidente da República, em 1989, o grupo reúne-se para dis- cussão. Zulu disse que a entrevista co- letiva daquele momento ocorria por

compromissos com o profissionalisim e com os movimentos negros. Alén disso, ele disse que "no Estatuto et Banda Olodum consta a não partic pação desta em atividades político -partidárias ". O Grupo tem origer fundamentada no combate ao racismt às injustiças sociais e à valorização d cultura no País, principalmente a à origem negra.

Após esclarecimentos à imprenr e aos movimentos negros a Banda Ok dum seguiu para o Alto de Pinheira onde está localizada a empresa Atn ções Produções Ilimitadas, sendo re cebida pelos sócios Ana Maria Tbcfc Mendes e Wilson Souto. No local, An Maria apresentou cópia de recibo rt valor de Cr$ 62,2 milhões e contrat assinado dia 8 pelo vice-presidente d grupo José Carlos Conceição Nasc mento, quando o presidente João Jor ge encontrava-se na Europa. Ana Ms ria disse ainda que, no dia 12, ante da realização do show, o via -presidente assinou declaração na qir o grupo se comprometia a particip» por livre e espontânea vontade.

O representante do PDS que es- tava na Atração disse que havia libe rado o grupo da apresentação.

Wilson Souto se recusava a rec ber os US$ 10 mil em notas seriada., na seqüência de L70418301A a L70418400A, de cem dólares cad? Ele disse que seria ilegal a transação realizada em moeda americana, m^ admitiu que se o dinheiro fosse troo do por cruzeiros a empresa faria do. ção deste às obras de caridade Intó Dulce, em Salvadon

Como os sócios da Atração insis- tiam em não aceitar o dinheiro, a bar- da depositou-o sobre uma mesa da erf presa e seguiu em direção ao aen porto do Congonhas, onde tomei avião para Salvador.

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VARIEDADES

Geledés e Projeto "Rappers buscam" conscientização através da música

0 Geledés - Instituto da Mulher Negra - através do S.O.S. Racismo, desenvolve diferentes ações de combate ao racismo e de conscientização da população negra sobre os direitos da cidadania. Os Foros de Conscientização constituem um dos módulos do S.O.S. e em seu interior encontra-se o Projeto Rappers, composto por nove bandas de Rap que mostram aos jovens negros os objetivos do S.O.S. em denunciar a violência racial sofrida dia-

riamente pela população negra e de busca coletiva de métodos para a superação do racismo.

As nove bandas pertencentes ao movimento, adotam o Rap apesar de cada uma criar seu estilo de trabalho. Uma delas é a Banda Personalidade Negra, criada em 1989 pelos jovens Clodoaldo A.A. da Silva (Clodoaldo MC), Eduardo André da Silva (DJ Eduardo) e Maximiliano Barbosa Bemanse (MAX).

Personalidade Negra O negro brasileiro é uma preocupação da Ban-

da Personalidade Negra. Exatamente por este mo- tivo, o componente da banda, Clodoaldo MC, sen- tiu a necessidade de se reunir com membros de outras bandas para discutir a importância de pas- sar aos jovens negros conhecimentos sobre a vio- lência policial contra a raça e os direitos que a ne- gritude possui çm relação às injustiças. Carlos Henrique Garcia, Marcelo Santos e Iodes Lyne, to- dos representantes de bandas "Rappers", concor- daram com o pensamento de MC e decidiram rea- lizar o 1? Seminário "Rappers" em fevereiro p.p., discutindo os temas: Violência Policial, Direitos e Garantias Constitucionais, Identidade e Conscien- tização. Deste seminário surgiu a Cartilha Pode Crê, lançada em agosto no Sunset Club, que é a sinteti- zação do pensamento central discutido no evento. Além da cartilha, sentiu-se a necessidade de fezer um vídeo onde os "Rappers" passaram suas expe- riências diárias, seus pensamentos individualmen- te, em nome da banda e agrupadamente. TMo o seminário quanto o-vídeo têm por base a unifica-

ção do movimento Rap - Rock com o negro. Car- los A.A. Souza, 18, diz que o Rap é o estilo de mú- sica que chega com mais facilidade nas regiões onde a população é mais carente, o que dificulta o in- gresso da música Rap na elite de São Paulo. Ape- sar disso, "os grupos continuam seu trabalho, na esperança de que todos os negros do Estado de São Paulo possam se conscientizar que é necessário lu- tar contra os preconceitos raciais".

A Banda F.N.R. - Força Negra Radical - é composta pelos jovens Marcos Felix da Silva — Kako - Carlos Henrique da Silva - Rick - e Mar- co Antônio da Silva — Mark —. Eles curtiam estilo de música funk até que o som Rap chegou aos seus ouvidos através do cantor brasileiro Tàíde, um dos veteranos do estilo no país.

O grupo tem uma faixa gravada no disco Cons- ciência Black e pretende galgar um espaço maior assim que possível. O F.N.R. faz shows em bailes blacks e movimentos de rua. Ao iniciarem seu tra- balho, eles encontraram dificuldades em ocupar o espaço nos salões de bailes. Muitas vezes foram cor- tados em meio às apresentações além da longa es- pera para poderem participar do evento quando suas músicas falavam sobre o racismo. Apesar disso, o grupo continua atuando e seus shows acontecem com mais freqüência e sem fins lucrativos. Os ga- rotos esperam um dia ter retomo de seu trabalho, mas enquanto isso não acontece eles continuam "re- presentando a sociedade através do incentivo pes- soal", diz Carlos.

Rose Oliveira

RAP

O "Rap" nasceu nos Estados Unidos, década de 70, numa manifestação cultural onde os jovens negros de bairros com o Bronx, Harlem, Queens e Brooldyn utiliza- vam a música para protestar a discrimina- ção que sofriam. Para isso, eles emitiam sons em ritmo afro com a boca, quando surgiram o DJ- Disc jockey e o MC, Mestre de Ce- rimônia.

No Brasil o "Rap" habita a população oprimida, onde os jovens que freqüentam o movimento unem suas vozes na luta contra a discriminação. Além disso, os rappers pres- tam serviços à população através de campa- nhas comunitárias como arrecadação de aga- saII«K e prevenção cfe doenças sexualmente transmissíveis, DST. distribuindo camisinhas fornecidas pelo Geledés.

Geledés

Geledés trabalha a Saúde da Mulher Negra

O Geledés — Instituto da Mulher Negra tem como propostas promover in- formações sobre a Saúde da Mulher Ne- gra e combater o racismo e o ceticismo existentes na sociedade Como assistên- cia à saúde da mulher o Geledés desen- volve trabalhos, através dos quais a mu- lher recebe informações relacionadas às suas atividades diárias e sexuais como métodos contraceptivos, esterilização, aborto e DST/Aids — Doença Sexual- mente TVansmissíveis.

Além disso, o Instituto da Mulher

Negra promove encontros de auto-ajuda da mulher, onde elas discutem temas de seu interesse, de acordo com a vivência de cada uma, e o reflexo causado na sua saúde devido à opressão.

"Com este trabalho as mulheres sentem-se fortalecidas, pois sabem que não estão sozinhas e, com isso, tomam suas próprias decisões, explica Sueli Car- neiro, coordenadora do Programa de Di- reitos Humanos e vice-presidente do Geledés.

Geledés presta Assessoria Jurídica O Geledés — Instituto da Mulher Negra, dentro do projeto SOS Racismo,

possui um serviço de Assessoria Jurídica para casos de Discriminação Racial co- mo parte do Programa dos Direitos Humanos. Se você for vítima de alguma ação discriminatória por causa de sua raça, ou de sua cor, poderá processar seu agressor:

Denuncie!

Só assim você estará combatendo o racismo.

O Geledés atende de 2? a 6? feira, das 14 às 18h30, na Praça Carlos Gomes, 67 - 5? andar - Cj. M - Liberdade - São Paulo - fone: (OU) 35-3869.

Sexo, Chocolate e Zambelê

O ator Eduardo da Silva que é também professor esteve no Conse- lho visitando o presidente Eduardo Joaquim de Oliveira e convidou-a pa- ra ir ao teatro assisti-lo na peça: Se- xo, Chocolate e Zambelê, no Tfeatro Brasileiro de Comédia, que fica na Rua Major Diogo, 315, de quinta a

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sábado às 21 horas e aos domingos às 20 horas.

Eduardo da Silva trabalhou na novela Ana Raio e Zé TVovão da Re- de Manchete, mas disse que agora vai se dedicar somente ao teatro. O pre- sidente do Conselho disse que irá retribuir-lhe o convite.

apresenta

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Teatro Bfasileiro de Comédia - - Rua Major Diogo, 315

Quinta a Sábado 21 horas e Domingo 20horas na apresentação desta filipefa Desconto de 30%

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VARIEDADES

Milton Nascimento recebe título "Cidadão Paulistano"

No dia 7 de agosto a sociedade paulista compareceu à Câmara Mu- nicipal de São Paulo para prestigiar o cantor e compositor Milton Nasci- mento que foi homenageado com o título de "Cidadão Paulistano". O

cantor tem músicas como: Maria, Maria, Coração de Estudante e ou- tras que expressam a esperança do povo brasileiro e que já foi cantada em vários países. Por seu destacado trabalho pelos Direitos Humanos, Milton tomou-se membro da Anistia Internacional, lutando em favor do índio, do negro e em defesa da ecologia.

Naquela noite, a platéia não ou- viu Milton Nascimento cantar, mas

ele e os convidados foram homena- geados com o toque mágico das mãos do pianista César Camargo Ma- riano. Houve lágrimas na platéia du- rante a magia das apresentações dos 16 Meninos da "13 de Maio" que, orientados por Penha Pietráz — res- ponsável pelo grupo que cantou rap e dramatizou a luta da criança po- bre pela sobrevivência, pedindo pão de porta em porta. Outro momento emocionante foi quando o menino

Wellington Rodrigues, de 8 anos de idade, autor do Rap do Piolho, can- tou a música TVavessia.

Após os discursos das autorida- des presentes ao evento, Milton Nas- cimento recebeu a chave Anchieta e o Título de Cidadão Paulistano. No encerramento da solenidade o can- tor agradeceu a manifestação de ca- rinho do povo de São Paulo.

Lourdes A. de Oliveira

David e Danillo lançam seu 1 ? disco em 11 de setembro

Dia 11 de setembro às 20h30 se realizou o Grande Show de lança- mento-da dupla sertaneja "DAVID e DANILLO", na Av. Santa Marina, 2.302, na Freguesia do Ó, no Salão J. Maia e Montanha.

Este é o primeiro LP da dupla, que já canta há muito tempo nos bai- les da Zona Norte. David sempre te- ve vontade de ser cantor, a exemplo de seu Tio que cantava música ser- taneja na Rádio Cultura de Umuara-

ma, em programas ao vivo. Cantando em barzinhos, David

reencontrou Danillo que havia sido seu amigo de infância. Manoel da Viola apresentou-os sem saber que se conheceram quando crianças. Deste reencontro nasceu a dupla Da- vid e Danillo, cujos nomes reais são Moacir Armindo do Nascimento e Anildo Pereira Júnior, respecti- vamente.

Pessoas simples, David já traba-

lhou em lavoura de café e Danillo co- mo office-boy, a dupla canta os amo- res e desilusões, interpretando melodias de Chitãozinho e Xororó e Leandro e Leonardo. Uma das mú- sicas gravadas é "Marina", de auto- ria de David e Danillo. É uma home- nagem à filha de David que no teste de pezinho constatou-se que pode- ria ter fenilcetenúria. Após um tra- tamento na APAE ela é saudável e está com 4 anos", conta, feliz, David. Da esq. para dir. David e Danillo

ii FALA NEGAO »»

reúne diversos grupos negros em Itaquera Em Itaquera, a comunidade negra ganha

destaque com mobilização dos grupos culturais que cresceram nos últimos anos. Para fazer a integração dos grupos que atuam na região, em 23 de março de 1991, Dia Nacional *da Luta Contra a Discriminação Racial, foi criado o Pro- jeto Cultural "Fala Negão", que reúne grupos como Cecone, Dandara, Odudwá, Nova Emo- ção, Grupo Afro II, bloco Afro-Consciência, en- tre outros.

O Projeto "Fala Negão" organizou e parti- cipou de vários eventos. Em junho, esteve pre- sente no ciclo de debates da Universidade Cas- telo Branco, em Itaquera. No mês de julho acompanhou, de perto, o "Projeto Pátria Ama- da Esquartejada" estando à frente da aula pú- blica que aconteceu no dia 17. Em agosto, or-

ganizou uma apresentação de grupos do "Projeto Fala Negão", realizando uma feira de artesanato com exposições, poesias, dança afro, música popular, em Ermelino Matarazzo, no Parque Boturussu, no dia 8, e no Parque Sa- voy City, no dia 1?.

Gilson Nunes, do Grupo Odudwá, desde o início levou à frente a idéia de reunir os gru- pos da região e avalia que "todas as atividades têm contribuído para aumentar a conscienti- zação e a valorização do movimento negro no Brasil".

Você poderá entrar em contato com o pes- soal do "Projeto Fala Negão", na Administra- ção Regional — Itaquera, pelo telefone 944-6555, ramais 20/21

Kátia M. Fernandes

Empresário do samba

Carlos Alberto Rosa é o Pfelé empresário do can- tor Reinaldo, e já o acompanha por três anos. Antes de se tomar empresário, Pele trabalhava no ramo de vendas de títulos de clubes de campo. Carlos gosta- va de exercer essa atividade até que recebeu o convi- te para ser empresário de Reinaldo e resolveu acei- tar. Desde então vem batalhando nesta profissão, tendo como meta ampliar o espaço até o exterior.

Pele começou com Reinaldo, mas já vendeu shows de nomes conhecidos da rapaziada como: Gru- po Fundo de Quintal, Grupo Raça, Zeca Pagodinho, Alcione, Eliana de Uma e Neguinho da Beija- Flor, sempre procurando levar shows para estados como: Rio de Janeiro, Porto Alegre, Manaus e interior de São Paulo, onde o samba é bem aceito. Ele diz que às vezes encontra dificuldade em conseguir patroci- nadores, mas a profissão é rentável. Disse ainda que quem quiser ser empresário deve adquirir credibili- dade na praça.

Lourdes A. de Oliveira

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LDUCACÀO

Educadores pesquisam relações raciais na escola Rachel de Oliveira

"Relações raciais na escola: uma experiência e intervenção" é a disser- tação de mestrado de um grupo de edu- cadores que relata as primeiras interven- ções educacionais realizadas na rede pública de ensino do Estado de São Pau- lo, na década de 80. Dentre os traba- lhos realizados pelo grupo, destaca-se a implantação de um projeto intitulado "Salve 13 de Maio?", que foi o instrumen- to que iniciou o processo de debate nas escolas sobre a situação sócio- -econômica e política do negro.

Em 1987 os participantes dos de- bates responderam à pesquisa "A crian- ça negra na escola", cujos resultados foram uma rica fonte de informação para a análise do pensamento na escola so- bre o negro, sua organização familiar e, notadamente, sobre o desempenho es- colar da criança negra. O relato de um pequeno número de crianças negras per- mitiu a análise de suas falas sobre a dis- criminação racial.

Não à democracia racial O resultado desta pesquisa contra-

ria o clássico pensamento de Gilberto Freire e alguns pressupostos do Movi- mento Negro. Surpreendentemente, a es- cola negou acreditar na democracia ra- cial. Dos 253 questionários analisados, apenas 8 (que representam 3,16% das escolas), confirmaram a existência da de- mocracia racial.

As crianças são as que mais denun- ciam o racismo escolar. Alunos brancos também apontaram diretores e profes- sores como agentes da discriminação e cúmplices das ações racistas praticadas na escola. Os alunos foram responsabi- lizados por 32,40%, seguidos dos pro-

fessores 27,20%, diretores, 3,10% e ou- tros funcionários 3,10% por ações discriminatórias. Na ordem dos princi- pais agentes que determinam a expul- são da criança negra da escola, a con- dição econômica aparece na 4? posição, evidenciando que os pesquisados acre- ditam que a pobreza é apenas um dos componentes que exercem influência na trajetória da criança negra.

Criança negra denuncia

A fala de diretores, professores e alu- nos que compõem o discurso da escola revela os mecanismos de discriminação vigente na instituição. Já a feia da crian- ça negra se resume em três pontos: o de afirmação da existência da discrimi- nação racial, a afirmação da igualdade (biológica, moral, intelectual e cultural) entre brancos e negros e o apelo ao combate à discriminação. Da mesma for- ma que a criança branca tem consciên- cia de sua ação discriminadota, a criança negra percebe a ação do branco sobre si e sabe que quem as vê como diferen- te é o branco e que sua cor não lhe tra- ria nenhum transtorno, caso a socieda- de brasileira não fosse preconceituosa.

Dos 1.352 relatórios recebidos na- quele ano, apenas 28 foram elaborados por crianças negras, representando uma participação muito tímida. Seus depoi- mentos revelaram dados preciosos para novos estudos sobre a formação da iden- tidade das crianças negras. Apesar da pressão ideológica e psicológica, ficou nítido que parte das crianças negras pro- cura integrar-se na sociedade sem o de- sejo de se submeter aos mecanismos do embranquecimento. Neste sentido, a feia da criança negra contraria o discurso da escola e mostra que é possível superar a teoria do "reprodutivismo".

Escola, espaço de luta contra discriminação

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Estatística dos 253 relatórios analisados

Escolas que acreditam %

na democracia racial 3,16%

Responsáveis pela discriminação

apontados %

alunos 32,40 professores 27,20 diretores 3,10

outros funcionários 3,10

28 crianças negras entrevistadas

Afirmam que negros e brancos têm mesma capacidade

Não se envergonham de sua cor

50%

10,7%

Capacidade igual Em 50% dos relatórios de crianças

negras encontramos a afirmação de que negros e brancos têm a mesma capaci- dade moral e intelectual; 10,7% argu- mentam que não se envergonham de sua cor. E a despeito da escola, reconhecer- -se como instituição altamente racista, não se registra iniciativa para o comba- te à discriminação. Ao contrário, num antigo jogo de culpabilização da vítima, a responsabilidade pelo fracasso esco- lar é transferida para a criança negra e sua família.

No discurso da escola, o argumen- to que alcançou o mais alto percentual (56,50%) é o que afirma que a criança negra é responsável por sua discrimina- ção. Considerada incapaz de suportar a discriminação racial, complexada e di- ferente da criança branca na escola e até considerada incapaz intelectualmente. A escola elabora um conjunto de catego- rias que caracteriza a criança negra co- mo uma entidade mórbida criando uma verdadeira síndrome para ela.

Discursos

Alunos: "Os colegas de classe a re- jeitam, deixando-a de lado, nas brinca-

deiras, nas atividades de classe, não per- mitindo que ela (a criança negra) participe e nem mesmo se agrupe a eles". (Marília/SP)

"As crianças brancas têm receio de conviver com as crianças negras porque estas são vistas como maus elementos", (Marília/SP) "Existem negros no Brasil com possibilidades de atuar melhor nos empregos que muitos brancos, mas acontece sempre a mesma história, o branco acaba ganhando a parada" (ne- gro Campinas/SP)* "Não tenho a míni- ma vergonha de ser negra. Ao contrá- rio, me orgulho de ser assim. Sou feliz como qualquer pessoa da minha idade." (Campinas/SP)

Culpabilização Diretores — "Toda criança negra traz dentro de si uma marca de recalque que é nato." (Bragança Paulista/SP) * Elas próprias percebem seu fracasso em re- lação às outras crianças e não encon- tram ambiente na escola." (Jd. Sta. Fé/SP).

Rachel de Oliveira é mestre em Edu- cação na PUC (Pontifica Universidade Católica de São Paulo) e Conselheira do Conselho Estadual de Desenvolvimen- to da Comunidade Negra.

Escola: espaço de luta contra a discriminação "Em uma sala de aula (no primeiro dia de aula) a professora precisou sair. Falou para as crianças se comunicarem, se conhecerem melhor, conversarem com o amiguinho de trás, com o da frente Um aluno olhou para a professora e falou: — Eu vou conversar com essa pretinha aí de trás? E a professora ficou desarmada, sem saber o que falar?' Depoimento de aluno — Tupã/SP Trecho extraído da Revista "Salve 13 de Maio". Ed. 1% ano 1988, pág. 24