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ii
ESCOLA POLITÉCNICA DA USP
CURSO DE MBA EM GESTÃO E TECNOLOGIAS
AMBIENTAIS
FLÁVIO JUN KAMIYA
PROJETO COMPOSTA SÃO PAULO: A REDUÇÃO
DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS E SEUS
PASSIVOS POR MEIO DA VERMICOMPOSTAGEM
DOMÉSTICA
São Paulo 2014
iii
FLÁVIO JUN KAMIYA
PROJETO COMPOSTA SÃO PAULO: A REDUÇÃO
DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS E SEUS
PASSIVOS POR MEIO DA VERMICOMPOSTAGEM
DOMÉSTICA
Monografia apresentada ao PECE – Programa de Educação Continuada em Engenharia da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo como parte dos requisitos para a conclusão do curso de MBA em Gestão e Tecnologias Ambientais.
Supervisora: Prof. Letícia Mesquita
São Paulo 2014
iv
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho ao verdadeiro desenvolvimento sustentável.
v
AGRADECIMENTO
Agradeço ao Cláudio Spínola, idealizador e coordenador do Projeto Composta
São Paulo, por acreditar e liderar um movimento tão grande e tão impactante para a
história de São Paulo e do Brasil. Agradeço ao Guilherme Turri por seu envolvimento
e por me ajudar com informações referentes ao Projeto Composta São Paulo.
Agradeço ao Ighor Romero que é meu amigo, estudante de letras da USP e foi
revisor deste trabalho. Agradeço também a todos os integrantes e participantes do
Grupo Composta São Paulo que vêm adicionando membros diariamente para
difundir a vermicompostagem doméstica, a sustentabilidade e a promoção de uma
melhor qualidade de vida. Agradeço a todas essas pessoas pela colaboração que
tiveram com o desenvolvimento do projeto, deste trabalho e por serem corajosos o
suficiente para mudar a cultura de uma das maiores megalópoles do mundo.
vi
EPÍGRAFE
“Seja a mudança que você gostaria de ver no mundo.”
Mahatma Gandhi
“A culpa no crescimento de resíduos não é de quem lida com ele, e sim o
resultado do consumo de todos.”
Anna-Carin Gripwall
vii
RESUMO
O Resíduo Sólido Urbano (RSU) é um tema que tem recebido pouca
importância pelas populações das cidades brasileiras. A Política Nacional de
Resíduos Sólidos (PNRS) responsabiliza os geradores de resíduos pela sua
destinação e pela geração dos seus passivos ambientais, porém na prática não
houve grandes mobilizações para a destinação adequada dos RSUs tanto do
governo quanto da população. O Brasil produz cerca de 144 mil toneladas de
resíduos orgânicos por dia e somente 1,6% destes resíduos têm tratamento
adequado como a compostagem. O objetivo deste trabalho é avaliar se a
vermicompostagem doméstica é uma forma adequada e viável para a redução de
RSUs destinados aos aterros ou lixões inadequadamente e a consequente
diminuição de seus passivos ambientais. São Paulo gera cerca de 20 mil toneladas
de resíduos diariamente e 60% são resíduos domésticos que são coletados pelas
concessionárias Ecourbis e Loga. Através da vermicompostagem, é possível tratar
até 51% desses resíduos domésticos (resíduos orgânicos), possibilitando maior
facilidade para a coleta seletiva dos resíduos recicláveis que compõem 32% e
somente 17% (rejeitos) seriam encaminhados aos aterros sanitários que aumentaria
o tempo de vida útil destes e diminuiria a poluição de solo, água e ar. O total de
resíduos encaminhados aos aterros provenientes de domicílios diminuiria em 83%,
de 3,6 milhões de toneladas ano para 744,6 mil toneladas por ano. Por meio das
informações obtidas, verificou-se que a vermicompostagem doméstica é uma
alternativa adequada para redução de custos com passivos ambientais, aumento da
conscientização da população sobre a responsabilidade compartilhada prevista na
PNRS e benéfica ao desenvolvimento sustentável gerando ganhos ambientais,
sociais e econômicos.
8
LISTA DE SIGLAS
ABRELPE – Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Urbana
AMLURB – Autoridade Municipal de Limpeza Urbana
EPA – Environmental Protecion Agency
Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
MMA – Ministério do Meio Ambiente
OSCIP - Organização da Sociedade Civil de Interesse Público
PGIRS - Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos
PNRS – Política Nacional de Resíduos Sólidos
RSU – Resíduos Sólidos Urbanos
9
LISTA DE FIGURAS E TABELAS
Figura 1 - Padronização vasilhames em São Francisco ........................................... 16 Figura 2 - Esquema simplificado do processo de compostagem .............................. 20 Figura 3 - Húmus de Minhoca ................................................................................... 24 Figura 4 - Minhocas Vermelhas da Califórnia............................................................ 25 Figura 5 - Kit de Compostagem Doméstica (vermicompostagem) ............................ 25 Figura 6 – Chorume .................................................................................................. 34 Figura 7 - RSU Gerado e RSU Coletado 2012 e 2013 .............................................. 35 Figura 8 - Destinação final do RSU .......................................................................... 35 Figura 9 - Percentual por região que conta com coleta seletiva ................................ 36 Figura 10 - Composição dos Resíduos Urbano em São Paulo ................................. 37 Figura 11 -- RSU Reciclado em São Paulo diariamente ........................................... 38 Figura 12 - Possibilidade de novos encaminhamentos do RSU de fonte domicilar em toneladas por dia ....................................................................................................... 39 Figura 13 - Coleta não padronizada e sem separação de resíduos por classificação em São Paulo ............................................................................................................ 42 Tabela 1 - Porcentagem de matéria orgânica tratada em relação ao total estimado coletado (2008) ......................................................................................................... 16 Tabela 2- Tamanho e Capacidade das Composteiras .............................................. 26 Tabela 3 - Resultados Parciais .................................................................................. 29 Tabela 4 - Avaliação do Suporte ............................................................................... 30 Tabela 5 - Avaliação do conteúdo ............................................................................. 30 Tabela 6 – Composição dos Resíduos que podem ser compostados ....................... 32 Tabela 7 - Estimativa da composição gravimétrica dos resíduos sólidos coletados no Brasil ......................................................................................................................... 38
10
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 12 1.1 JUSTIFICATIVA ................................................................................................... 15
2. OBJETIVO ............................................................................................................. 18
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................. 19 3.1 POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS ........................................................ 19
3.2 COMPOSTAGEM ................................................................................................. 20 3.3 MORADA DA FLORESTA ...................................................................................... 21 3.3.1 COMPOSTAGEM DOMÉSTICA (VERMICOMPOSTAGEM) ......................................... 23 3.4 PROJETO COMPOSTA SÃO PAULO ....................................................................... 26
3.4.1 RESULTADOS PARCIAIS DO PROJETO COMPOSTA SÃO PAULO ........................ 27
4. METODOLOGIA .................................................................................................... 31 4.1 AMOSTRA .......................................................................................................... 31 4.2 ABORDAGEM ..................................................................................................... 31
4.3 TÉCNICA ........................................................................................................... 31 4.4 ANÁLISE DOS DADOS........................................................................................... 34
CONCLUSÃO ............................................................................................................ 40
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 44
11
12
1. INTRODUÇÃO
O “lixo” revela muito sobre os hábitos dos seres humanos e apesar da grande
importância desse tema, não existem muitos trabalhos escritos sobre o “lixo” ao
longo dos séculos. Ainda hoje, não é recorrente tratar sobre esse tema fora do
âmbito técnico, provavelmente pela dificuldade das pessoas em tratarem do assunto
com desconforto e insegurança, pois segundo Eigenheer (2009, p.17), restos de
comida podem ser interpretados pelos seres humanos como ameaças, não só
visuais como olfativas.
Os resíduos não eram um problema grave quando o ser humano vivia em
grupos nômades, pois esses se fixavam em um local durante determinado período
de tempo até que a água e o alimento se tornassem escassos. Então saiam em
busca de uma nova moradia deixando para trás todo os resíduos orgânicos e
dejetos, os quais eram decompostos ao longo do tempo (EIGENHEER, 2009).
Desde a antiguidade os seres humanos sofrem com problemas de
contaminação de águas, pestes e doenças trazidas pela falta de saneamento. A
humanidade teve um grande avanço na limpeza urbana na segunda metade do
século XIX devido à teoria microbiana de doenças, trazendo uma mudança na visão
da saúde pública e dando importância maior em se separar o esgoto de resíduos
sólidos.
Após a revolução industrial, os resíduos deixaram de serem compostos em
sua maior parte de resíduos orgânicos, então iniciaram os grandes problemas com a
destinação. A partir da Segunda Guerra Mundial iniciaram-se os esforços contra o
desperdício, devido à escassez de recursos, com ênfase em reutilização e
reciclagem; mas a questão da destinação final dos resíduos se agravou e
atualmente ainda são encontrados lugares contaminados por diversos poluentes
químicos que serviam como vazadouros da indústria de guerra (EIGENHEER, 2009).
O Brasil é um país continental que se desenvolveu de forma desigual e suas
cidades têm diferenças profundas de renda e alto índice de desigualdade social.
Recentemente, há apenas 4 anos, foi instituída a Política Nacional de Resíduos
Sólidos (PNRS). A Lei no 12.305/10 que institui a PNRS, regulamentada pelo
Decreto 7.404/10, foi uma das grandes iniciativas que permitem o avanço do Brasil
no enfrentamento dos problemas ambientais, sociais e econômicos decorrentes do
manejo inadequado dos resíduos sólidos, pois essa política propõe a prática de
13
hábitos do consumo sustentável e conta com instrumentos que incentivam a
reciclagem e reutilização de resíduos sólidos, bem como a destinação adequada dos
rejeitos (resíduos sólidos que, tendo todas as possibilidades de reaproveitamento ou
reciclagem se esgotado, a única destinação plausível seja encaminhá-los para um
aterro licenciado ambientalmente). Um dos instrumentos mais importantes dessa
política é o conceito de responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos
produtos.
A lei sancionada em 2010 determinou a proibição do uso de lixões no país e
que as prefeituras deveriam tomar medidas necessárias até a data de 02 de Julho
de 2014. O lixão é uma área a céu aberto onde resíduos de todos os tipos e rejeitos
são dispostos. Não há nenhum tipo de impermeabilização do solo e não atende a
nenhuma norma de controle. Segundo a PNRS, é proibido o encaminhamento de
rejeitos para outro lugar que não seja um aterro sanitário licenciado ambientalmente.
Porém, somente 2.202 do total de 5.570 municípios elaboraram o Plano de Gestão
Integrada de Resíduos Sólidos (PGIRS) e estabeleceram metas e medidas para
garantir o tratamento adequado dos resíduos orgânicos (ou úmidos), a destinação
adequada dos rejeitos e outras ações previstas pela PNRS, como logística reversa e
responsabilidade compartilhada. Mais da metade dos municípios do Brasil não
cumpriram tal determinação e estão sujeitos a multas e ações na Justiça por crime
ambiental (NERI, 2014). Porém, recentemente o Senado aprovou a MP 651/2014,
que inclui o novo prazo para o fim dos lixões - agosto de 2018. Segundo Baptista
(2014), líder do governo no Congresso, e os senadores José Pimentel e Romero
Jucá, um novo dispositivo será incluído em outra medida provisória, a MP 656/2014,
acrescentando que haverá garantia de recursos federais para os municípios
colocarem em prática a nova política de resíduos sólidos.
Anualmente, o Brasil produz cerca de 62 milhões toneladas por ano de
resíduos sólidos urbanos (ABRELPE, 2012). Dados do Ministério da Agricultura
revelam que o Brasil produz cerca de 144 mil toneladas de resíduo orgânico por dia
que correspondem a cerca de 60% dos resíduos urbano. Geralmente o destino dos
resíduos orgânicos domiciliares no Brasil são aterros ou lixões, proporcionando
elevada produção de gás metano e chorume tóxico, que podem poluir lençóis
freáticos. Outro destino, ainda pouco aplicado no Brasil, é a incineração, que se não
tiver infraestrutura de filtros adequados pode poluir o ar. Segundo Baptista (2014), o
14
custo anual de um aterro sanitário pode variar de R$2,27 milhões (pequeno) a R$
23,07 milhões (grande). Além disso temos alguns desafios na gestão de resíduos:
O aumento na geração de resíduos: relacionado ao comportamento social e
ao aumento populacional. O crescimento da economia proporciona aumento
de poder aquisitivo e consequentemente um maior consumo da população,
principalmente de descartáveis e de produtos com baixa durabilidade.
Manejo indiferenciado dos diversos tipos e classes de resíduos: o sistema de
coleta e destinação de resíduos recebe uma grande variedade de materiais
que são descartados e misturados, tornando o gerenciamento mais difícil. No
longo prazo as possíveis combinações químicas decorrentes da
decomposição dos resíduos podem causar um grande impacto ambiental de
efeitos ainda desconhecidos.
Destinação final de resíduos: no Brasil há aproximadamente 42% de
inadequação. Outro problema na destinação final de resíduos é o crescimento
das cidades. Há cada vez menos áreas disponíveis, acarretando uma maior
distância entre os centros de geração de resíduos e o destino final,
aumentando o custo logístico e a emissão de gases poluentes no trajeto
consumo – destino final.
Reciclagem: A reciclagem sofre concorrência com uma destinação fácil e
barata e carece de instrumentos de gestão e de formalidade. Também há a
ausência de incentivos econômicos e de incentivos tributários e creditícios
para alavancar as atividades nesse segmento.
Atualmente, calcula-se que o Brasil seja o quinto maior gerador de resíduos
sólidos urbanos do mundo. A cidade de São Paulo gera diariamente 20 mil
toneladas de resíduos, uma média de 1,5 quilo por habitante (LAMAS, 2014). Em
São Paulo, mais de 5 mil toneladas de resíduos orgânicos domésticos são enviados
diariamente a aterros sanitários. Como uma iniciativa para resolver o problema dos
resíduos orgânicos domésticos em São Paulo, o projeto Composta São Paulo, um
movimento para uma cidade mais sustentável através da conscientização da
população paulistana, tem como um dos objetivos centrais o fomento à construção
de uma política pública, que estimule a prática da compostagem doméstica na
cidade de São Paulo como uma solução descentralizada de tratamento dos resíduos
orgânicos domésticos produzidos na cidade, a partir dos dados que serão gerados
15
durante o projeto. Na primeira fase, com duração de 8 meses em 2014, o projeto
selecionou 2.000 pessoas de mais de 10.000 famílias inscritas para participarem
voluntariamente. O projeto Composta São Paulo é uma iniciativa da Secretaria de
Serviços da Prefeitura de São Paulo por meio da Autoridade Municipal de Limpeza
Urbana (AMLURB), e contou com a colaboração de recursos das concessionárias de
limpeza urbana Loga e Ecourbis. O projeto foi idealizado e é coordenado por Cláudio
Spínola, sócio diretor da empresa Morada da Floresta, responsável pela execução
do mesmo. O projeto Composta São Paulo é uma das ações do programa municipal
SP Recicla (MORADA DA FLORESTA, 2014).
1.1 JUSTIFICATIVA
Aterros sanitários são grandes poluidores de água, solo e ar. O material
orgânico descartado em aterros acaba gerando grandes quantidades de metano. Os
lixões nos EUA estão entre uma das principais fontes de emissões de metano
globais de acordo com a Defesa dos Recursos Naturais e, segundo a Environmental
Protecion Agency (EPA), cada molécula de metano é de 20 a 30 vezes mais potente
que o CO2 na geração do efeito estufa (JENKINS, 2005). Com a utilização da
compostagem é menor o metano emitido para a atmosfera. Dados da Secretaria de
Serviços de São Paulo apontam que, de 1974 a 2007, já foi destinada uma área de
2,3 milhões de metros quadrados para dispor quase 42 milhões de toneladas de
resíduos. A secretaria estima que a decomposição dos resíduos orgânicos
descartados nesses aterros, encerrados ou em operação, foi responsável pela
geração de 14% dos gases de efeito estufa emitidos pelo município.
Por meio de relatos de cidades de países desenvolvidos, como Estados
Unidos, Suécia e Alemanha, pode-se verificar que há destaques de práticas de
ações sociais em prol do meio ambiente que possam ser utilizadas como referencial
para as cidades brasileiras. Segundo o Ipea (tabela 1), apenas 1,6% dos resíduos
orgânicos no Brasil era reciclado em 2008; a partir de dados do Ministério do Meio
Ambiente (MMA), esse índice chega a 28% na Inglaterra, 12% nos EUA e 68% na
Índia.
16
Tabela 1 - Porcentagem de matéria orgânica tratada em relação ao total estimado coletado (2008)
Unidade de análise
Quantidade encaminhada
para unidade de compostagem
(t/d)
Estimativa de quantidade de
matéria orgânica
coletada (t/d)
Taxa de tratamento em
função da quantidade
coletada
Brasil 1.519,5 94.309,1 1,6%
Norte 18,4 7.523,5 0,2%
Nordeste 13,0 24.262,6 <0,1%
Sudeste 684,6 35.004,1 1,9%
Sul 475,3 19.193,7 2,5%
Centro-Oeste 328,2 8.285,2 3,9%
Fonte: Ipea, 2012
Em São Francisco, nos EUA, 75% dos resíduos são reciclados. Com o
programa Zero Waste a meta é chegar a 100% até 2020. A cidade conta com 850
mil habitantes e cada um produz em média 2kg de resíduos por dia, o dobro da
média no Brasil. Uma lei obriga desde 2009 todos os moradores e comerciantes a
separar seus resíduos. Para isso a prefeitura fez uma parceria com a empresa
Recology. Todo cidadão recebe três vasilhames e pagam uma taxa obrigatória de
US$35 por mês. Conforme a figura 1, o vasilhame verde é para resíduos orgânicos
que serão encaminhados para compostagem, o azul é para os recicláveis secos e o
preto para os rejeitos que não são recicláveis secos nem orgânicos. A meta é
eliminar o vasilhame preto até 2020.
Figura 1 - Padronização vasilhames em São Francisco Fonte: KTSF, 2014.
Atualmente cerca de 20% dos resíduos urbanos ainda vão para o aterro; em
2000 chegava a 50%. A estratégia utilizada pela empresa foi aumentar a
17
conscientização através da educação dos cidadãos e oferecer ferramentas
necessárias para isso. Atualmente são enviadas 700 toneladas por dia aos centros
de compostagem. Após 60 dias o material se transforma em adubo, que é
comercializado para as fazendas. Outras 700 toneladas diárias são transportadas ao
centro de triagem para separar os resíduos sólidos em 16 tipos de categorias, que é
comercializado para a reciclagem. Os funcionários da Recology recebem cerca de
US$25 a US$35 por hora e são todos sócios (cerca de 1.000 funcionários). Eles
fazem um trabalho duro e difícil, porém ganham um bom salário e plano de saúde.
(TERRON, 2014)
A Suécia virou referência na área ao reduzir para apenas 1% a quantidade de
resíduos que acabam em aterros sanitários. O projeto sueco começou nos anos 60
com uma campanha de conscientização quanto aos resíduos sólidos, destacando a
importância da separação de recicláveis e a responsabilidade de cada um,
conquistando assim a colaboração e a confiança da população. O país importa
resíduos de países vizinhos para fazer a queima energética: 3 toneladas de lixo
geram energia equivalente a 1 tonelada de combustível; esse processo emite 50%
dos poluentes permitidos por lei (TERRON, 2014).
Na Alemanha, a prática de coletar os resíduos orgânicos separadamente para
posterior compostagem iniciou-se há cerca de 25 anos atrás. De acordo com a
Statistisches Bundesamt, cerca de 14 milhões de toneladas de resíduos orgânicos
foram compostados para serem utilizados como fertilizante em horticultura e
agricultura. Em 2012, a lei federal Kreislaufwirtschaftsgesetz exigirá em abrangência
nacional que os resíduos orgânicos sejam recolhidos separadamente; essa prática
se tornará obrigatória a partir de 1 de janeiro de 2015 (UMWELTBUNDESAMT,
2014).
O presente estudo se fará em relação ao Projeto Composta São Paulo,
promovido pela Morada da Floresta, por ter sido a maior iniciativa da história da
cidade de São Paulo e do Brasil na busca da criação de uma política pública que
incentive a separação de resíduos e a compostagem doméstica dos resíduos
orgânicos para diminuição dos resíduos urbano e seus passivos.
18
2. OBJETIVO
O objetivo deste estudo é analisar, por meio da vermicompostagem
doméstica, os impactos na redução dos RSUs de São Paulo destinados de forma
inadequada e consequente diminuição de seus passivos ambientais. Pretende-se
também avaliar se o método proposto pelo Projeto Composta São Paulo é
compatível para a criação de uma política pública que incentive a compostagem
doméstica em áreas urbanas.
19
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1 POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Para o Instituto Akatu, “O lixo parece ser objeto de um passe de mágica: você
o coloca para fora de casa e alguém o leva”. As pessoas acreditam que a partir do
momento que o “lixo” sai do domicílio o problema está resolvido, pois alguém está
cuidando dele. Porém, o impacto acontece nos lixões, que geram enormes
quantidades de chorume, são absorvidos pela terra e poluem lençóis freáticos
(TERRON, 2014). O Instituto Akatu defende uma posição até mais incisiva na
tentativa de conscientizar e determinar responsabilidades do cidadão. A coleta de
resíduos não deveria ser feita nas residências, mas, sim, a partir de pontos pré-
determinados em cada bairro. Caberia a cada um levar seus resíduos até lá. "Com
isso se elimina uma parte grande do custo da coleta. Além de mais econômica, essa
prática faria cada pessoa perceber mais o quanto de lixo ela realmente está
gerando, porque terá de carregá-lo para cima e para baixo".
A maior parte dos resíduos pode ser reciclada, tanto pelo processo da
compostagem, no caso dos orgânicos, como pelo processo da reciclagem dos
resíduos secos. “Antes, os responsáveis pelos resíduos eram os municípios”, explica
Silvano Silvério Costa, presidente da AMLURB de São Paulo, que também já
trabalhou no MMA. “Agora existe a chamada responsabilidade compartilhada. Os
fabricantes, indústria, importadores e comércio passaram a também ser
responsáveis pelos resíduos gerados a partir de produtos que colocaram no
mercado”.
Um ponto pouco debatido da PNRS diz respeito a um incentivo direto à
conscientização do valor gasto com a coleta e tratamento dos resíduos no Brasil;
existe um prazo para que os municípios deixem claro que há um imposto dessa
área. Cidades que têm essa "taxa do lixo" embutida em outros tributos, como IPTU,
terão de separar essas cobranças. Isso tornará as responsabilidades sociais e
financeiras de todos sobre esses serviços mais evidentes. São Paulo teve uma
experiência conturbada com esse tipo de imposto durante a gestão de Marta Suplicy.
O grande desafio é mostrar para as pessoas que elas também são responsáveis
pelos resíduos que produzem e não somente o governo.
20
3.2 COMPOSTAGEM
A definição de compostagem, para o MMA, é uma técnica que permite a
transformação de resíduos orgânicos (sobras de frutas, legumes, papel, restos de
comida, podas de jardim, trapos de tecido, serragem, etc.) em adubo. A
compostagem é um processo biológico no qual microorganismos aceleram a
decomposição do material orgânico, tendo como produto final o composto orgânico,
que pode ser utilizado como adubo. Em termos técnicos, a compostagem pode ser
definida como uma bioxidação aeróbia exotérmica de um substrato orgânico
heterogêneo, no estado sólido, caracterizado pela produção de CO2, água, liberação
de substâncias minerais e formação de matéria orgânica estável (FERNANDES,
1996). O sistema de compostagem pode ser simplificado conforme mostrado na
figura 2 abaixo:
Matéria Orgânica
+ Microorganismos → O2 Matéria Orgânica Estável
CO2 H2O Calor Nutrientes
Figura 2 - Esquema simplificado do processo de compostagem
Fonte: Fernandes e Silva, 1996
A compostagem é praticada desde a História Antiga, os chineses já utilizavam
excrementos humanos para a fertilização do solo há mais de 2.000 anos, os gregos
têm Hércules como o patrono da limpeza urbana por remover os estrumes do
estábulo e encaminhá-los ao campo e existem várias referências bíblicas sobre
práticas de correção do solo (EIGENHEER, 2009). A compostagem moderna foi
disseminada por Albert Howard, um agrônomo de origem inglesa que estudou por
mais de 25 anos práticas indianas de enriquecimento do solo e descobriu a riqueza
dos compostos orgânicos (MORADA DA FLORESTA, 2014)
A compostagem é uma forma de recuperar os nutrientes dos resíduos
orgânicos e levá-los de volta ao ciclo natural, enriquecendo o solo para agricultura
ou jardinagem. Além disso, é uma maneira de reduzir o volume de “lixo” produzido
pela sociedade, destinando corretamente um resíduo que se acumularia nos lixões e
aterros gerando mau cheiro, a liberação de gás metano (gás de efeito estufa 23
vezes mais destrutivo que o gás carbônico) e chorume tóxico (líquido que contamina
o solo e as águas). Hoje, cerca de 55% do “lixo” produzido no país é composto por
21
resíduos orgânicos, que sofrem o soterramento nos aterros e lixões, impossibilitando
sua biodegradação (MMA, 2014).
A compostagem é considerada uma forma de destinação final
ambientalmente adequada para o tratamento de resíduos orgânicos a partir da Lei no
12.305/2010, Artigo 3º, Inciso VII (Ipea, 2012). Segundo o MMA, há várias
experiências internacionais de recolhimento de resíduos orgânicos para
compostagem, com a distribuição gratuita do adubo resultante do processo à
população local. Dessa maneira, fica claro para a sociedade que aquele resíduo tem
valor, pois retorna aos cidadãos como um benefício que os economiza o dinheiro
que empregariam na compra de fertilizantes industrializados. A partir de informações
da EPA dos EUA, a compostagem:
Enriquece o solo: ajuda a regenerar solos pobres. Colabora com o aumento a
produção de micro organismos, com o aumento da capacidade do solo de
reter umidade e também com a diminuição do uso de fertilizantes e pesticidas;
Ajuda a remediar solos contaminados: absorve odores e ajuda a prevenir que
metais pesados migrem para lençóis freáticos ou que sejam absorvidos pelas
plantas;
Previne a poluição: diminui a produção de gás metano e previne erosão;
Oferece benefícios econômicos: reduz a necessidade do uso de água,
fertilizantes e pesticidas. É uma alternativa de baixo custo.
3.3 MORADA DA FLORESTA
A empresa Morada da Floresta Soluções Ecológicas Ltda é um negócio
social, ou seja, juridicamente está registrada no segundo setor, mas na prática trata-
se de um empreendimento cujo seus produtos e serviços causam impactos positivos
na sociedade e no meio ambiente. Também atua no terceiro setor com o Instituto
Morada da Floresta, que é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público
(OSCIP). Todas as soluções socioambientais, cursos, produtos, serviços e projetos
são para incentivar práticas sustentáveis cotidianas e contribuir para o despertar de
uma conscientização ambiental através da diminuição de resíduos no Brasil.
22
Desde 1999, Cláudio Spinola realiza a técnica de compostagem na Morada
da Floresta. Já experimentou várias técnicas e considera que a vermicompostagem
em caixas de plástico é a forma mais simples, prática e eficiente para a realização
da compostagem doméstica dos resíduos orgânicos. Atualmente a Morada da
Floresta é a principal responsável por espalhar a técnica no Brasil, incluindo o
fornecimento de tutoriais, manuais, informações para os que querem construir a
própria composteira, cartilhas e vídeos informativos. Todas essas informações
podem ser acessadas pelas diversas mídias sociais da Morada da Floresta:
facebook, website e youtube.
Os produtos que a Morada da Floresta utiliza para compostagem estão:
Composteiras Domésticas:
o Kit de Compostagem Doméstica. Tamanhos: P, P4, M, G, G4 e
GG. (Tabela 2)
o Composteira Ecopedagógica: Composteira transparente que
permite visualizar todo o processo de compostagem, indicado
para atividades educativas
o Minhocas Californianas: Pacote com aproximadamente 300
minhocas vermelhas da Califórnia
o Húmus de minhoca: Pacote de 1,5kg de adubo natural
produzido pelas minhocas vermelhas da Califórnia
o Extrato de Neem: Repelente de insetos para uso animal ou
jardinagem. Utilizado nas composteiras domésticas para evitar a
proliferação de insetos indesejados como moscas drosóphilas.
o Serragem: Pacote de 1,5kg para ser colocada na composteira
doméstica (volume aproximado de 10 litros).
Compostagem Empresarial: Sistemas de compostagem dimensionadas
de acordo com as características específicas de cada local. Serviços
personalizados para a logística operacional, instalação, capacitação,
visitas pós venda, atividades ecopedagógicas, cursos, oficinas e
palestras.
o Empresas
o Escolas
o Condomínios
o Restaurantes
23
o Eventos
o Hotéis
o Municipal
o Cursos, oficinas e palestras
3.3.1 COMPOSTAGEM DOMÉSTICA (VERMICOMPOSTAGEM)
A vermicompostagem é uma técnica utilizada para acelerar o processo de
compostagem através do metabolismo de minhocas que ocorre em um período
menor de tempo do que se deixasse o resíduo orgânico decompor naturalmente.
Durante a vermicompostagem, as minhocas ingerem e digerem os resíduos
orgânicos, dejetando excrementos que são facilmente assimilados por raízes de
plantas por estarem em estágio avançado de decomposição (humificação).
(LANDGRAF, 1999).
O húmus da minhoca (Figura 3) é o produto resultante da matéria orgânica
decomposta a partir do sistema digestório das minhocas. É um adubo que possui
como característica físico-química: inodoro, rico em micronutrientes (ferro, boro,
cobre, zinco, molibdênio, cloro), macronutrientes (potássio, nitrogênio, fósforo),
possui textura macia e granulada (KRUKEMBERGHE, 2012). Consiste em um
produto estável e homogêneo, de coloração escura e de textura leve (LEE 1985,
AQUINO & NOGUEIRA 2001, ANTONIOLLI et al. 2002).
24
Figura 3 - Húmus de Minhoca Fonte: Site da Morada da Floresta
Atualmente existem empresas que comercializam composteiras de diferentes
composições e técnicas. No presente trabalho abordaremos o kit de compostagem
doméstica que é disponibilizado pela Morada da Floresta Soluções Ecológicas
LTDA. por ser um dos maiores difusores da compostagem doméstica no Brasil e por
serem uns dos pioneiros a difundirem a técnica no Brasil (MORADA DA FLORESTA,
2014).
Geralmente são utilizadas minhocas californianas vermelhas (Figura 4) nesse
processo devido às suas excelentes características de adaptabilidade em diferentes
regiões do mundo, produtividade elevada na produção de húmus, alta prolificidade,
facilidade na reprodução e crescimento precoce. Por esses motivos também é umas
das melhores minhocas para a criação comercial (Rural News, 2013). As minhocas
dessa espécie podem consumir diariamente matéria orgânica equivalente ao seu
peso, duplicam a população a cada 2 meses e diminuem a reprodução quando o
espaço se torna pequeno.
25
Fonte: O Autor
A compostagem doméstica é composta por 3 caixas. As caixas e a tampa
possuem encaixe perfeito entre elas. Nas duas caixas digestoras (caixa central e a
de cima) são onde ocorre a decomposição de todo o material orgânico; a caixa da
base é onde se coleta o chorume escorrido (Figura 5). A empresa comercializa
diferentes tamanhos para atender às diferentes necessidades (Tabela 2). Também
há as versões com 3 caixas digestoras (P4 e G4):
Figura 5 - Kit de Compostagem Doméstica (vermicompostagem) Fonte: Morada da Floresta (2014)
Figura 4 - Minhocas Vermelhas da Califórnia
26
Tabela 2- Tamanho e Capacidade das Composteiras
Tamanho
Volume de cada
caixa (Litros)
Capacidade de compostagem
de resíduos orgânicos por
dia (Litros)
Preço (R$)
Kit P 15 0,5 179
Kit P4 15 0,75 222
Kit M 28 1 239
Kit G 39 1,3 252
Kit G4 39 2 315
Kit GG 60 2 289
Fonte: Morada da Floresta (2014)
3.4 PROJETO COMPOSTA SÃO PAULO
O Projeto Composta SP é uma das ações do município para cumprir o
PGIRS, aprovado no início de 2014. A meta da prefeitura é reduzir, nos próximos 20
anos, 80% da quantidade de resíduos descartados atualmente para os aterros. O
projeto visa conscientizar moradores da cidade de São Paulo sobre a compostagem
doméstica como forma de reciclar resíduos orgânicos produzidos nas residências e
levantar informações pertinentes para a multiplicação dessa prática entre a
população da cidade. Esse projeto é uma das ações do programa SP Recicla. Um
dos objetivos centrais do projeto é gerar informações e aprendizados para serem
utilizados para impulsionar e fomentar a elaboração de uma política pública que
estimule a prática da compostagem doméstica na cidade de São Paulo. As
informações obtidas com a experiência dos participantes serão sistematizadas e
ajudarão a prefeitura a planejar ações para introduzir a compostagem doméstica na
gestão integrada dos resíduos sólidos na cidade de São Paulo. (MORADA DA
FLORESTA, 2014)
O projeto Composta São Paulo contou com mais de 10.000 inscritos
interessados em receber a composteira doméstica, sendo selecionados 2000
residentes da megalópole para receber unidades de kits para compostagem
doméstica. Para haver uma seleção de munícipes que espelhassem a cidade de
São Paulo, as composteiras entregues foram distribuídas de acordo com o índice
populacional e renda domiciliar das regiões da cidade de São Paulo de acordo com
27
o Censo IBGE 2010 (MORADA DA FLORESTA, 2014). O projeto Composta São
Paulo é uma iniciativa da Secretaria de Serviços da Prefeitura de São Paulo, por
meio da AMLURB, está sendo executado pela empresa Morada da Floresta
Soluções Ecológicas Ltda e financiado pelas concessionárias de limpeza urbana
Loga e Ecourbis. Pelos contratos que essas empresas têm com a prefeitura de São
Paulo, 0,5% do valor que recebem anualmente devem ser gastos em projetos de
pesquisa e educação ambiental. É parte desse recurso que está viabilizando a
realização do projeto Composta São Paulo. (MORADA DA FLORESTA, 2014)
Segundo o Franco (2014), das 2.000 composteiras entregues, 493 foram para
os chamados Centros de Apoio (escolas, entidades, creches, condomínios, etc.) e as
outras 1.507 foram entregues às famílias que se inscreveram. De acordo com
Silvano Silvério, presidente da AMLURB, cada composteira distribuída tem
capacidade de reciclar entre 1 e 2 quilos de resíduos orgânicos por dia, o que pode
reduzir pela metade o volume de resíduos gerados por família. Então, somando as
2.000 unidades distribuídas no projeto, teremos entre 2 e 4 toneladas por dia de
resíduos orgânicos domésticos a menos indo aos aterros sanitários.
O melhor caminho é a compostagem descentralizada por ser mais
econômica, gerar educação ambiental e responsabilidade compartilhada. O ideal
seria que cada subprefeitura possuísse também um centro de compostagem para
atender às feiras livres que atendem a área. “O estímulo à população por meio de
políticas públicas e educação ambiental é a melhor forma de resolver o problema
dos resíduos no Brasil”, conclui Spínola (Franco, 2014).
Junto com a redução do desperdício e outras iniciativas de reciclagem, a
compostagem também pode aumentar a vida útil dos aterros e vai ao encontro das
diretrizes da PNRS.
3.4.1 RESULTADOS PARCIAIS DO PROJETO COMPOSTA SÃO PAULO
O Projeto Composta São Paulo teve 10.067 inscritos de 22 estados do Brasil,
mesmo sendo um projeto da cidade de São Paulo. O projeto atingiu 6.960 pessoas
que são residentes dos domicílios que receberam a composteira doméstica. A partir
de resultados parciais obtidos através da organização do projeto, dos contemplados
que receberam a composteira doméstica, 1.501 responderam ao questionário até o
dia 10 de Dezembro de 2014.
28
O critério para seleção dos participantes do Projeto Composta São Paulo
foram:
1. Critério prioritário: representação da distribuição populacional
geográfica e por renda domiciliar de cada região do município de São
Paulo, de acordo com os dados do Censo IBGE 2010.
2. Critério de qualificação: foram classificados qualitativamente todos os
candidatos, numa escala de 1 a 4, a partir da pergunta “porque você
acredita que deva ser contemplado pelo projeto?” Sendo:
- 1 Baixa pontuação: menor dedicação na resposta. Motivações ligadas
a benefícios individuais (produzir adubo próprio, cuidar das plantas
domésticas, custo da composteira, fazer “sua parte”com o meio
ambiente);
- 4 Alta pontuação: maior dedicação na resposta. Histórico de prática,
engajamento e conhecimento sobre o tema. Motivações ligadas a
engajamento, mobilização, educação, ações e transformações
coletivas.
3. Critério de equilíbrio: equalização dos critérios de faixa etária, sexo e
perfil do domicílio (aplicado na amostral total de demanda espontânea
e não por região)
4. Critério de desempate final por vaga: consumo de frutas, legumes, e
verduras, priorizando o alto consumo. Motivação na compostagem,
priorizando a produção para o uso coletivo. Número de habitantes no
domicílio, priorizando as maiores quantidades de pessoas impactadas.
29
Tabela 3 - Resultados Parciais
97,6% Estão satisfeitos ou muito satisfeitos com a
compostagem doméstica
78% Afirmam que a compostagem já foi incorporada aos
hábitos da casa
90% Dos outros moradores ajudam com a separação dos
orgânicos
90% Afirmam que o envio para os aterros diminuiu muito ou
razoavelmente
98% Acreditam que a compostagem doméstica é uma boa
solução para o tratamento de resíduos na cidade
87% Acreditam ser fácil fazer compostagem
83% Compostam mais da metade dos resíduos orgânicos
que produzem
66% Afirmam que até no máximo 10% dos resíduos
orgânicos não vão para a composteira
Fonte: Projeto Composta São Paulo
O resultado da pesquisa (tabela 3), ainda parcial, foi muito positivo de acordo
com o objetivo do projeto, que é fomentar a criação de uma política pública através
da geração de informações e aprendizado. Dos 1.501 que responderam, apenas 7
pessoas deixaram de praticar a compostagem e somente 10 pessoas pensam em
deixar de praticar a compostagem futuramente. Essa pesquisa demonstrou a
facilidade de manusear a composteira e que compostar é um hábito que pode ser
adquirido sem grandes dificuldades, além disso 83% dos respondentes afirmaram
que reduziram mais da metade dos resíduos orgânicos produzidos. Dos
contemplados, 98% acreditam que a compostagem doméstica é uma boa solução
para o tratamento de resíduos na cidade.
Como forma de instrução, as pessoas contempladas no projeto receberam
conteúdo (aberto ao público) explicativo sobre compostagem: manuais, vídeos,
páginas do site, página do facebook. Também podem contar com o suporte de
atendimento telefônico, grupo do Projeto Composta São Paulo no facebook e e-mail.
Sendo 1 a nota mais baixa e 5 a nota mais alta, os respondentes da pesquisa
avaliaram o suporte e o conteúdo conforme tabelas 4 e 5:
30
Tabela 4 - Avaliação do Suporte
87,0% nota 4 ou 5 para o suporte via grupo Composta São Paulo do facebook
69,0% nota 4 ou 5 para o suporte telefônico
74,0% nota 4 ou 5 para o suporte por e-mail
Fonte: Projeto Composta São Paulo, 2014
Tabela 5 - Avaliação do conteúdo
89,0% nota 4 ou 5 para os manuais
86,0% nota 4 ou 5 para os vídeos
86,0% nota 4 ou 5 para a página do facebook
85,0% nota 4 ou 5 para o suporte por e-mail
Fonte: Projeto Composta São Paulo, 2014
As respostas para essa pesquisa também revelaram que o Projeto Composta
São Paulo oferece materiais explicativos e de fácil entendimento para os usuários.
Os contemplados também contam com um ótimo suporte de atendimento pelos
meios de comunicação pelos quais são atendidos. A partir dos dados obtidos
através dos questionários respondidos pelas pessoas contempladas no projeto, foi
demonstrado que a compostagem doméstica descentralizada é uma alternativa fácil,
efetiva e que gera resultados imediatamente.
31
4. METODOLOGIA
4.1 AMOSTRA
A seleção de dados para esta pesquisa foi feita através de pesquisas em
artigos, trabalhos, jornais e dados de instituições que atuam no setor de gestão de
resíduos urbanos.
4.2 ABORDAGEM
O método da abordagem utilizado foi o indutivo, pois partiu-se do específico
para o geral por meio da análise de dados e informações atuais.
4.3 TÉCNICA
A tecnologia utilizada foi a vermicompostagem oferecida pela empresa
Morada da Floresta através de suas cartilhas, site, cursos e treinamentos. Na tabela
6 pode-se verificar quais tipos de resíduos orgânicos podem ser colocados ou não
dentro das caixas digestoras da composteira. Essas recomendações foram
pensadas para quem está iniciando a prática de compostagem com minhocas e as
restrições indicadas tem intuito de evitar maiores problemas. Com o crescimento da
população de minhocas, estabilização do ecossistema da composteira e com maior
experiência do praticante, é possível introduzir aos poucos maiores quantidades de
cítricos, alimentos cozidos e demais elementos que estão nas restrições “Moderado”.
O adubo orgânico produzido pelas composteiras domésticas é benéfico para
o solo, pois restitui à natureza parte dos nutrientes retirados pelas colheitas. Esse
pode tanto ser utilizado em pequenos plantios domésticos e urbanos, na agricultura
orgânica e/ou agroecológica, como para nutrir árvores da cidade e de
reflorestamento, funcionando como um poderoso estimulante do sequestro de
carbono da atmosfera.
32
Tabela 6 – Composição dos Resíduos que podem ser compostados
Livre Moderado Evitar
- Frutas - Legumes - Verduras - Grãos e sementes - Sachê de chá (sem etiqueta) - Borra e filtro de café - Chimarrão
- Frutas cítricas - Alimentos Cozidos - Guardanapos e Papel toalha - Laticínios - Flores e Ervas (medicinais ou aromáticas)
- Carnes - Temperos fortes (alho, cebola e pimenta) - Óleos e gordura - Líquidos - Fezes - Papéis (higiênico, jornais e papelões)
Fonte: Morada da Floresta, 2014.
A compostagem doméstica não produz mal cheiro, e os resíduos orgânicos
devem ser misturados e cobertos com matéria vegetal seca. Não atrai vetores e
demanda poucos cuidados, podendo deixar as minhocas por até 3 meses sem novo
alimento. Cada kit é composto por:
Duas caixas plásticas (caixas digestoras) que possuem furos no lado
inferior para possibilitar o trânsito de minhocas entre as caixas e escoar
o chorume gerado na decomposição dos resíduos orgânicos;
Uma caixa coletora de chorume com torneira, que sempre fica embaixo
das duas caixas digestoras para facilitar o recolhimento do chorume
gerado;
Tampa para evitar a atração de vetores;
Minhocas.
A operação da composteira ocorre da seguinte maneira:
1. A princípio, são utilizadas somente a caixa coletora e uma caixa
digestora empilhadas, essa com aproximadamente 5 cm de terra com
composto orgânico;
2. As minhocas são introduzidas na caixa digestora;
3. Conforme a residência for gerando resíduos orgânicos, esses devem
ser colocados na caixa digestora, misturados e cobertos com matéria
vegetal seca;
4. Ao se inserir o resíduo orgânico, deve ser colocado em montinhos e
coberto completamente com matéria vegetal seca para garantir o
33
processo de decomposição e evitar a incidência de moscas, larvas e
mau cheiro;
5. Para as minhocas digerirem os resíduos em menos tempo, esses
devem ser cortados ou triturados antes de serem colocados na
composteira;
6. Quando a primeira caixa digestora encher, a segunda caixa digestora
deve ser acoplada acima no encaixe. Repete-se o processo número 3.
Enquanto isso, o material orgânico da primeira caixa digestora estará
entrando em decomposição e as minhocas agilizarão o processo ao
digeri-lo. Naturalmente as minhocas irão transitar até a caixa de cima
em busca de novos alimentos;
7. A caixa coletora (a caixa da base) deve ter chorume (Figura 6), que
através do processo de decomposição escorre das duas caixas. O
chorume deve ser retirado através da torneira e armazenado para sua
posterior diluição, numa proporção de 1 parte de chorume para 10
partes de água, podendo ser utilizado como adubo líquido ou no
combate a pragas em plantas, pode-se borrifar na planta ou colocar
diretamente em terra;
8. É sugerido que cada caixa seja completada num período aproximado
de 30 dias, pois nesse período as minhocas já terão processado os
resíduos orgânicos transformando-os em húmus;
9. Quando a caixa de cima atingir seu limite máximo, a caixa digestora do
meio deve ir para cima e a caixa digestora de cima deve ir para o meio.
Deve-se retirar o composto orgânico que ficou na caixa que está em
cima. Esse composto já é o resultado final da vermicompostagem, que
é conhecido como húmus de minhoca.
10. Para retirada do composto, a caixa digestora deve estar aberta debaixo
de sol ou luz forte, pois devido à intensidade de luz as minhocas cavam
no composto para se protegerem;
11. O adubo deve ser raspado aos poucos enquanto as minhocas fogem
da luz, repetindo a operação até que fique com cerca de 5 cm de altura
de composto no fundo da caixa. A camada deve ser mantida; se estiver
compactada, o composto deve ser misturado com cuidado para que as
minhocas não sejam machucadas.
34
Figura 6 – Chorume Fonte: Grupo Composta São Paulo
4.4 ANÁLISE DOS DADOS
Os Resíduos Sólidos Urbanos (RSU), nos termos da Lei Federal no 12.305/10,
que instituiu a PNRS, englobam os resíduos domiciliares (provenientes de atividades
domésticas em residências urbanas e os resíduos de limpeza urbana, quais sejam,
os originários da varrição, limpeza de logradouros e vias públicas, bem como outros
serviços de limpeza urbana).
Conforme a Figura 7, em 2012 o Brasil gerou 201 mil toneladas/dia de RSU,
uma média de 1,037 quilo por habitante, e coletou 181 mil toneladas/dia. Teve um
acréscimo de 4,1% na geração de RSU em 2013, gerando 209 mil toneladas/dia,
média de 1,041 quilo por habitante, e coletou uma média de 189 mil toneladas/dia.
35
Figura 7 - RSU Gerado e RSU Coletado 2012 e 2013 Fonte: ABRELPE (2013)
A quantidade dos RSU que tiveram como destino final aterros sanitários em
2013 foi de 58,3%; os 41,7% restantes foram encaminhados para lixões ou aterros
controlados (Figura 8), que pouco se diferenciam de lixões, pois não possuem
medidas necessárias para a proteção do meio ambiente contra danos e
degradações.
Figura 8 - Destinação final do RSU Fonte: ABRELPE 2013
No Brasil, 62% dos municípios contam com a coleta seletiva (Figura 9). A
região sudeste é a que tem o maior percentual de seus municípios com coleta
1,025
1,030
1,035
1,040
1,045
1,050
1,055
1,060
165.000
170.000
175.000
180.000
185.000
190.000
195.000
200.000
205.000
210.000
215.000
2012 2013
Gerado (tonelada/dia) Coletado (tonelada/dia) Por habitante (kg/dia)
Eixo Esquerdo Eixo Esquerdo Eixo Direito
58,0%
58,3%
24,2%
24,3%
17,8%
17,4%
2 0 1 2
2 0 1 3
Aterro Sanitário Aterro Controlado Lixão
36
seletiva (83%), seguida da região sul (82%). Porém, de nada adianta ter coleta
seletiva se a população não separar os resíduos adequadamente. Por isso existe a
necessidade de educação e conscientização da população sobre a responsabilidade
compartilhada sobre os resíduos gerados.
Figura 9 - Percentual por região que conta com coleta seletiva Fonte: ABRELPE (2013)
A Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) é o maior centro urbano da
América do Sul e a sexta maior área urbana do mundo. Estima-se que vivem na
RMSP cerca de 20 milhões de pessoas. Segundo dados da Prefeitura de São Paulo,
a cidade gera, em média, 20 mil toneladas de resíduos diariamente, sendo cerca de
12 mil toneladas de resíduos domiciliares. Para coletar todo este “lixo”, as
concessionárias Ecourbis e Loga percorrem uma área de cerca de 1.523 km2 e
utilizam uma frota de 500 caminhões. A composição do “lixo” em São Paulo é de
51% de resíduos úmidos (orgânicos), 32% de resíduos secos (papel, plástico, metal,
vidro, etc.) e 17% de rejeitos (que não possuem possibilidade de tratamento, tais
como papel higiênico, fraldas, absorvente íntimo descartável, plástico metalizado,
etc.).
A prefeitura paulistana informa que 98% de tudo o que é coletado na cidade
acaba nos aterros sanitários (LAMAS, 2014). O maior aterro sanitário do continente,
a 35 km do centro, é a Central de Tratamento de Resíduos Caieiras (CTR Caieiras).
Em um espaço de 3,5 milhões de metros quadrados (o equivalente à área de 490
campos de futebol) são destinados resíduos das zonas norte e oeste, gerados por
6,5 milhões de pessoas – sendo mais de 7 mil toneladas aterradas por dia. O aterro
49,50%
40%
34%
83%
82%
62%
50,50%
59,60%
66,20%
17,40%
18,10%
37,90%
0,00% 20,00% 40,00% 60,00% 80,00% 100,00%
Norte
Nordeste
Centro-Oeste
Sudeste
Sul
Brasil
Sim Não
37
Central de Tratamento de Resíduos Leste (CTL) atende as regiões Sul e Leste e
recebe os resíduos coletados pela Ecourbis. Existem também Estações de
Transbordos que são pontos intermediários de destinação dos resíduos coletados na
cidade, criados em função da considerável distância entre a área de coleta e o aterro
sanitário. O volume estimado de movimentação nos transbordos é em torno de 1.200
mil toneladas por dia (AMLURB, 2014). Existem 3 Estações de Transbordo:
1. Transbordo Vergueiro
2. Transbordo Santo Amaro
3. Transbordo Ponte Pequena
Figura 10 - Composição dos Resíduos Urbano em São Paulo Fonte: Morada da Floresta, 2014
Os resíduos recicláveis (úmidos e secos) devem ser separados para serem
reciclados e somente os rejeitos deveriam ir para aterros sanitários. Portanto, a partir
desses dados, se a população fizesse o trabalho de separar os resíduos recicláveis
dos não recicláveis, seria possível diminuir o encaminhamento de resíduos para
aterros em até 83% dos resíduos domiciliares (Figura 10 e Tabela 7).
38
Tabela 7 - Estimativa da composição gravimétrica dos resíduos sólidos coletados no Brasil
Materiais Participação
Quantidade
2000 2008
% t/dia t/dia
Material Reciclável 31,9 47.558,5 58.527,4
Metais 2,9 4.301,5 5.293,5
Papel, Papelão e tetrapak 13,1 19.499,0 23.997,4
Plástico 13,5 20.191,1 24.847,9
Vidro 2,4 3.566,1 4.388,6
Matéria Orgânica 51,4 76.634,5 94.309,5
Outros 16,7 24.880,5 30.618,9
Total Coletado 100 149.094,3 183.481,5
Fonte: Ipea, 2012
Atualmente o resíduo orgânico acaba sendo encaminhado para disposição
final junto com os resíduos perigosos e com aqueles que deixaram de ser coletados
de maneira seletiva. Essa forma de destinação gera despesas que poderiam ser
evitadas caso a matéria orgânica fosse separada na fonte. Um estudo do Ipea
aponta que o Brasil perde mais de R$ 10 bilhões por ano por não reaproveitar seus
resíduos (LAMAS, 2014). Na cidade de São Paulo, hoje a coleta seletiva abrange
apenas 46% dos domicílios e menos de 2% do RSU é de fato reciclado (Rolnik,
2014).
Figura 11 -- RSU Reciclado em São Paulo diariamente Elaboração: O Autor, 2014
De acordo com dados expostos neste trabalho, se a composição dos RSUs
de São Paulo é de 51% de orgânicos, 32% recicláveis secos e 17% rejeitos, e,
19.600
400
Aterro
Reciclado
39
considerando as informações da prefeitura, se de um total de 20.000 toneladas de
RSU gerados diariamente, 12.000 são domiciliares, com a colaboração de cada
habitante de São Paulo poder-se-ia então evitar de encaminhar aos aterros cerca de
9.960 toneladas dia. Destas 9.960, 5.580 podem ser compostados e 4.880
recicladas (Figura 12). Portanto, o total de resíduos encaminhados a aterros
provenientes de domicílios diminuiria de 12.000 toneladas dia para 2.040 toneladas
dia, ou uma diminuição de 3,6 milhões de toneladas ano para 744,6 mil toneladas
por ano. Considerando que a diminuição seria em 83%, a frota de caminhões
utilizada para fazer a coleta dos RSUs diariamente poderia ser reduzida, emitindo
menos gases poluentes.
Figura 12 - Possibilidade de novos encaminhamentos do RSU de fonte domicilar em toneladas por dia
Elaboração: O autor
A partir da vermicompostagem de resíduos orgânicos pode-se obter húmus
de minhoca que pode ser utilizado em plantios domésticos e urbanos. Como as
minhocas californianas vermelhas se proliferam com facilidade e têm alto valor de
mercado, essas também podem ser comercializadas gerando renda extra às
residências.
8.000
2.040
5.080
4.880
Não proveniente dedomicílios
Aterro Sanitário provenientede domicílios
Compostagem Orgânica
Reciclagem
40
CONCLUSÃO
Observou-se que outras informações importantes como a redução e o reuso
da água, alimentos, resíduos recicláveis, a prática da horticultura e jardinagem foram
discutidas no grupo do Grupo Composta São Paulo. Portanto, a prática da
vermicompostagem promove aos praticantes um interesse maior por hábitos
sustentáveis e a aproximação do ciclo natural de produtos e alimentos (berço ao
berço).
Existem algumas alternativas em estudo para a destinação do resíduo
orgânico, como o encaminhamento a grandes centros de compostagem,
biodigestores e até mesmo incineração. Porém, um dos problemas identificados ao
longo do trabalho foi a falta de conhecimento da população em geral sobre os
processos de compostagem doméstica, os seus benefícios e até mesmo a falta de
conhecimento da responsabilidade compartilhada sobre resíduos gerados. Através
do Projeto Composta São Paulo, pode-se analisar que 87% dos contemplados no
projeto consideraram fácil o processo de compostagem doméstica. Também
verificou-se que hábitos de separação de resíduos foi incorporado pelos usuários e
que os praticantes da compostagem doméstica acreditam que essa seja uma
solução adequada para o tratamento de resíduos orgânicos, por ser econômica e
gerar educação ambiental. Ainda que 62% dos municípios brasileiros contam com a
coleta seletiva, é necessária a educação da população para sobre a importância da
responsabilidade de cada um sobre o resíduo que gera, pois de nada adianta o
município ter coleta seletiva se os geradores de resíduos não colaboram com a sua
separação. A conscientização da responsabilidade compartilhada, aliada à instrução
dos processos de compostagem doméstica, se mostra uma solução eficaz para o
tratamento de resíduos orgânicos domiciliares em áreas urbanas, por sua
consequente diminuição de passivos ambientais gerados pelos resíduos se
destinados de forma apropriada.
Com a destinação adequada dos RSUs, pode-se obter diversos benefícios
que atendem os pilares desenvolvimento sustentável: social, econômico e ambiental.
Ao compostar os resíduos orgânicos domésticos podemos citar:
1. Diminuição em até 51% de resíduos domésticos orgânicos destinados aos
aterros sanitários, aterros controlados ou lixões;
41
2. Diminuição da poluição de ar devido a menor emissão de gás metano nos
aterros;
3. Evita a poluição de lençóis freáticos causados pelo chorume tóxico gerado
em aterros ou lixões;
4. Geração de renda e conhecimento através da comercialização de fertilizantes
naturais (húmus e composto orgânico);
5. O composto orgânico ajuda a enriquecer solos, regenerá-los e por
consequência diminui o uso de pesticidas;
6. O adubo orgânico pode tanto ser utilizado em pequenos plantios domésticos
e urbanos, na agricultura orgânica e/ou agroecológica, como para nutrir
árvores da cidade e de reflorestamento, funcionando como um poderoso
estimulante do sequestro de carbono da atmosfera;
7. Facilita a separação de resíduos recicláveis e rejeitos.
Ao separar os resíduos recicláveis que normalmente são destinados aos
aterros sanitários (correspondem por 32% dos RSUs domésticos) podemos citar
outros benefícios como:
1. Facilidade para separar resíduos que podem ser reutilizados;
2. Aumento da reciclagem;
3. Geração de emprego e renda;
4. Facilita a coleta seletiva;
Finalmente, restariam os 17% de rejeitos para serem encaminhados aos
aterros sanitários. Por estes motivos teremos outros benefícios como:
1. Diminuição de rotas e frotas de caminhões para a coleta e destino de RSUs e
a quantidade de gases poluentes emitidos;
2. Redução de uso de solo destinado aos aterros sanitários;
3. Aumento do tempo de vida útil dos aterros sanitários;
4. Estudar novas soluções para destinação final de rejeitos.
A partir da análise das informações obtidas neste trabalho, fica cada vez mais
evidente a necessidade da criação de uma política pública que incentive a
compostagem doméstica para um melhor encaminhamento de RSUs de acordo com
a PNRS. A vermicompostagem, assim como outros tipos de compostagem
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doméstica, se mostrou como uma ótima alternativa, pois é uma forma democrática
de conscientizar e educar a população para que ela entenda os processos de
produção, de reuso, reciclagem, descarte, a responsabilidade compartilhada prevista
na PNRS e atendem os pilares do desenvolvimento sustentável. Foi notado que a
compostagem doméstica é uma solução viável, por motivos já expostos neste
trabalho, para o tratamento dos resíduos domésticos orgânicos urbanos. É
perceptível que a forma de separação de RSU no Brasil ainda é muito confusa e que
gera dúvidas para a população sobre qual modo deve ser descartado cada tipo de
RSU.
Outro ponto que deve ser mencionado é que a padronização de vasilhames
facilita o trabalho dos coletores. O sistema de coleta seletiva facilita a compostagem
da matéria orgânica, a reciclagem e a correta destinação de resíduos perigosos. A
ausência de vasilhames (figura 15) traz inúmeros problemas operacionais desde a
limpeza de ruas até a coleta e destinação dos RSUs. Podemos citar outros
problemas como a proliferação de cachorros de rua e o entupimento de bueiros
(principalmente em dias chuvosos que são comuns no verão paulistano).
Figura 13 - Coleta não padronizada e sem separação de resíduos por classificação em São Paulo
Fonte: LAMAS, 2014.
43
Contudo, diante dos fatos expostos, a conclusão que se chega é de que a
criação de uma política pública que incentive a compostagem doméstica, juntamente
com a educação e conscientização da população, mostra-se uma maneira efetiva de
tornar as cidades menos poluidoras, diminuindo diversos passivos ambientais
(poluição de ar, água e solo), gerar ganhos econômicos através do reuso, da
reciclagem e da melhor destinação dos RSUs. O Projeto Composta São Paulo
demonstrou que a forma descentralizada de compostagem é uma alternativa real,
econômica e de resultados imediatos. Por isso, a vermicompostagem se mostrou
efetiva na redução dos RSUs e seus passivos ambientais e o modelo do Projeto
Composta São Paulo deve ser replicado em outras cidades do Brasil.
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