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Flávia de Oliveira Lima Falcão
Efeitos geomecânicos na
simulação de reservatórios de petróleo
Dissertação de Mestrado
Dissertação apresentada como requisito
parcial para obtenção do grau de Mestre pelo
Programa de Pós-graduação em Engenharia
Civil da PUC-Rio. Área de Concentração:
Geotecnia.
Orientador: Prof. Sérgio A. B. da Fontoura
Co-orientador: Dr. Daniel Nunes de Miranda Filho
Rio de Janeiro
Agosto de 2002
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do
trabalho sem autorização da universidade, da autora e do orientador.
Flávia de Oliveira Lima Falcão
Graduou-se em Engenharia Civil, com ênfase em Estruturas, na PUC-Rio em 1997. Fez os cursos de pós-graduação lato sensu em Engenharia Econômica e Administração Industrial, na Escola de Engenharia da UFRJ, em 1999, e Engenharia de Petróleo na CCE/PUC-Rio em 2000. Trabalhou na Companhia Brasileira de Petróleo Ipiranga no período de 1996 a 2000, na área de obras empostos de gasolina e bases de armazenamento e distribuição de derivados de petróleo.
Ficha Catalográfica
Falcão, Flávia de Oliveira Lima
Efeitos geomecânicos na simulação de reservatórios depetróleo / Flávia de Oliveira Lima Falcão; orientador: Sérgio Augusto Barreto da Fontoura; co-orientador: Daniel Nunes de Miranda Filho. – Rio de Janeiro: PUC, Departamento de Engenharia Civil, 2002.
[18], 152 f.: il.; 30 cm
1. Dissertação (mestrado) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Engenharia Civil.
Inclui referências bibliográficas.
1. Engenharia Civil – Teses. 2. Reservatório. 3. Geomecânica. 4. Simulador de reservatório. 5. Análise acoplada. I. Fontoura,Sérgio Augusto Barreto da. II. Miranda Filho, Daniel Nunes de. III. Pontifícia Unversidade Católica do Rio de Janeiro.Departamento de Engenharia Civil. IV. Título.
Para Nilton
Agradecimentos
Agradeço ao Prof. Sérgio A. B. da Fontoura pela oportunidade de
desenvolvimento deste trabalho, por sua orientação e confiança. Obrigada pela
estrutura oferecida através do GTEP, tanto pessoal quanto de equipamentos,
cujo apoio foi essencial.
Agradeço ao meu co-orientador Daniel Nunes de Miranda Filho por sua
excepcional dedicação e pela transmissão de seu fascínio pelos fenômenos
envolvidos nesta ciência. Meu muito obrigado também aos pequenos Sofia e
Daniel.
Agradeço à Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior – CAPES, à Agência Nacional do Petróleo – ANP – e à Financiadora de
Estudos de Projetos – FINEP – por meio do Programa de Recursos Humanos da
ANP para o Setor Petróleo e Gás – PRH-ANP/MCT - pelo apoio financeiro
concedido durante o período de desenvolvimento deste trabalho.
Agradeço, também, à Computer Modelling Group, CMG, pelo acordo acadêmico
com a PUC-Rio para utilização do programas IMEX e STARS. Em especial ao
Victor Manuel Salazar, pelos inúmeros esclarecimentos prestados durante o
aprendizado desses sistemas.
Agradeço aos professores do departamento de engenharia civil da PUC-Rio
pelos conhecimentos passados, e aos funcionários por todo o auxílio prestado,
em especial Ana Roxo, Cristiano e Lenilson.
Agradeço aos professores do curso de Engenharia de Petróleo (2ª turma),
oferecido pelo CCE–PUC-Rio, responsáveis pelo redirecionamento dos meus
rumos profissionais em direção ao petróleo.
Agradeço aos amigos geotécnicos da PUC-Rio pela força e amizade. Em
especial, Ana Julia, Matilde, Cassiane e Fred – amigos que levo para a vida.
Agradeço aos amigos do GTEP, com quem convivi diariamente durante o último
ano. Em especial Suzana, Mércia, Marcia, Patrícia, Ana Sophia, Bruno, Olga,
Shelly, Eudes e Claudio Rabe pelas conversas e trocas; ao Jorge Pastor, pelos
esclarecimentos e ponto de partida desta dissertação; Ewerton e Flávio, amigos
desde a fase dos créditos; e ao Cássio, por toda a ajuda prestada.
Agradeço aos meus pais, Maria e Jeová, aos meus irmãos, Rômulo e Marcela,
César e Lydia, Eliane e Ricardo, e aos meus sobrinhos Victor, Lara, Ana Clara,
Carol e Lucas, por todo e amor e confiança. Um obrigado especial à D. Wanda.
Agradeço aos meus sogros, S. Nilton e D. Nair, aos meus cunhados Luiz e
Márcia, e à pequena Luiza, por toda a compreensão e apoio, principalmente
durante os últimos meses.
Agradeço às minhas amigas de sempre Renatinha, Dani, Lu, Chris, Lorena,
Duda e Karina. Às amigas da Ipiranga Irene, Lili, Gigi e Claudinha. Um obrigado
especial à Marta.
Agradeço ao meu marido, Nilton, por todo o amor, apoio, compreensão e
confiança que muito me ajudaram durante esses dois anos.
Agradeço a DEUS e Nossa Senhora. Por tudo.
Resumo
Falcão, Flávia de Oliveira Lima; Miranda Filho, Daniel Nunes de; Fontoura, Sérgio A. B. Efeitos Geomecânicos na Simulação de Reservatórios de Petróleo. Rio de Janeiro, 2002. 152p. Dissertação de Mestrado – Departamento de Engenharia Civil, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Simuladores de escoamento em reservatórios são ferramentas importantes
na otimização do desenvolvimento de um campo de petróleo. Estes simuladores
modelam o escoamento multifásico através de meios porosos compressíveis,
levando em conta as equações de equilíbrio de fases, as leis de fluxo e a
variação volumétrica do meio poroso associada à variação da pressão de poros
do sistema. As tensões in situ são consideradas através da aplicação de tensões
constantes no contorno do reservatório. Este trabalho descreve a utilização de
um simulador convencional de reservatório, baseado em diferenças finitas com e
sem um módulo geomecânico, e a utilização de um simulador acoplado, que
resolve as equações de escoamento e de tensão num mesmo código de
elementos finitos. Nesta dissertação são feitas comparações entre os modelos
geomecânicos aproximado e rigoroso oferecidos pelos simuladores comerciais,
além de ser apresentada uma análise de situações em que esta última forma
deve ser realmente considerada. O objetivo deste trabalho é analisar a influência
das tensões in situ em reservatórios de petróleo com base na comparação entre
os campos de poropressões obtidos a partir da modelagem de um mesmo
sistema com os dois simuladores geomecânicos. São apresentadas as formas
de acoplamento e a formulação utilizada em cada um dos modelos. Os modelos
geomecânicos utilizados em cada um dos simuladores são comparados. É feita
uma comparação entre os resultados obtidos pelos dois simuladores a partir de
um modelo bidimensional.
Palavras-chave Reservatório; geomecânica; simulador de reservatório; análise acoplada.
Abstract
Falcão, Flávia de Oliveira Lima; Miranda Filho, Daniel Nunes de; Fontoura, Sérgio A. B. Efeitos Geomecânicos na Simulação de Reservatórios de Petróleo. Rio de Janeiro, 2002. 152p. MSc. Dissertation – Departamento de Engenharia Civil, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Numerical simulators for reservoir flow analysis are important tools for the
optimization of oil field development. These simulators model the multiphase flow
through compressible porous medium taking into account the phase equilibrium
equations, flow laws and the rock volumetric change associated to the pore
pressure change during production. Some simulators have been associated with
stress analysis modules in order to use the pore pressure field obtained by the
flow simulator and update the stress field within the reservoir. This dissertation
describes the use of a conventional reservoir simulator based on finite
differences that models multiphase flow in porous media, with and without a
geomechanical module, and the use of a fully-coupled simulator that solves both
the flow and stress equations in a single finite element code. This dissertation
compares the two geomechanical modules, the approximated and the precise,
offered by commercial simulators, and analyses the situations in which the
rigorous form should be considered, or not. The aim of this dissertation is to
investigate the influence of in situ stresses in petroleum reservoirs based on the
comparison of the pore pressure fields obtained from the modeling of the same
system with both geomechanical simulators. The coupling and formulation used
in each model are presented. The geomechanical models of both simulators are
described. A comparison of the simulators is made using a bidimensional model.
Keywords Reservoir; geomechanics; reservoir simulator; coupled analysis.
Sumário
1. Introdução 19
1.1. Motivação para o estudo 21
1.2. Objetivos 25
1.3. Escopo 26
2. Geomecânica aplicada à engenharia de reservatórios 28
2.1. A equação de balanço de materiais 29
2.1.1. Utilizações e Limitações do Método de Balanço de
Materiais 37
2.1.2. O Método de Havlena e Odeh de Aplicação da
Equação de Balanço de Materiais 38
2.2. Consideração da Geomecânica nos Simuladores de
Escoamento Tradicionais 42
2.3. Modelagem geomecânica 50
2.3.1. Modelo de Duas Etapas 53
2.3.2. Acoplamento Explícito 54
2.3.3. Acoplamento Implícito 55
2.3.4. Modelo de Etapa Única 56
3. Descrição dos simuladores FPORO, IMEX e STARS 57
3.1. Formulação utilizada no FPORO 58
3.1.1. Equação de equilíbrio 58
3.1.2. Equação de continuidade para fluxo monofásico 61
3.1.3. Equação de conservação de energia 73
3.2. Formulação utilizada no IMEX 75
3.2.1. Escoamento monofásico pouco-compressível 75
3.2.2. Escoamento monofásico compressível 78
3.2.3. Escoamento multifásico 80
3.3. Formulação utilizada no STARS 85
3.3.1. Formulação térmica-composicional 85
3.4. Comparação dos modelos geomecânicos de reservatório
nos simuladores FPORO e STARS 88
4. Comparação dos simuladores FPORO - STARS 90
5. Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 97
5.1. Simulações para ¼ de 5-spot no simulador STARS 98
5.1.1. Comparação entre resultados com e sem o módulo
geomecânico para ¼ de 5-spot 110
5.1.2. Efeitos da variação da taxa de injeção 116
5.1.3. Efeitos do grau de consolidação do reservatório 124
5.2. Simulações para sistema radial depletivo no simulador
IMEX 134
6. Conclusões e sugestões 139
6.1. Conclusões 139
6.2. Sugestões 141
7. Referências bibliográficas 143
APÊNDICE A 148
Lista de figuras
Fig.1.1. Representação esquemática da rocha-reservatório (de Charlez8). 22
Fig.1.2. Ilustração de compactação/subsidência (de Charlez9). 23
Fig.2.1. Seção transversal de um reservatório com capa de gás e
aquífero (de Craft & Hawkins²). 30
Fig.2.2. Representação esquemática das condições existentes no
reservatório: (a) à pressão inicial e (b) a uma pressão p após
uma produção de pN . 35
Fig.2.3. Representação esquemática de um volume unitário de rocha. 43
Fig.2.4. Comparação entre as correlações de compressibilidade de Hall e
Newman (de Poston & Berg17). 47
Fig.2.5. Compressibilidade do volume poroso para arenitos friáveis (em
Newman19). 48
Fig.2.6. Esquema de interação entre geomecânica e fluxo em um
reservatório deformável. 50
Fig.3.1. Fluxo linear em rocha porosa cilíndrica de comprimento x 62
Fig.4.1. (a) Modelo do reservatório simulado; (b) malha cartesiana
utilizada no STARS. 90
Fig.4.2. Comparação entre as distribuições de poropressão para os
modelos FPORO e STARS com e sem módulo geomecânico,
para o tempo t=1000 dias. 93
Fig.4.3. Evolução de poropressão em x = 3000 e z = 3150 m. 94
Fig.4.4. Comparação entre as produções acumuladas. 95
Fig.4.5. Distribuição de tensões efetivas máximas ao longo do
reservatório em t = 2190 dias, segundo o modelo geomecânico
do STARS. 96
Fig.4.6. Distribuição de porosidade efetiva em t = 2190 dias segundo o
modelo geomecânico do STARS. 96
Fig.4.7. Distribuição de porosidade efetiva em t = 2190 dias segundo o
modelo sem módulo geomecânico do STARS. 96
Fig.5.1. (a) Modelo do reservatório simulado; (b) malha cartesiana
utilizada no STARS. 90
Fig.5.2. Comparação entre as distribuições de poropressão para os
modelos FPORO e STARS com (SGML) e sem opção
geomecânica (SML), para o tempo t=1000 dias. 93
Fig.5.3. Evolução de poropressão em x = 3000 e z = 3150 m. 94
Fig.5.4. Comparação entre as produções acumuladas. 95
Fig.5.5. Distribuição de tensões efetivas máximas ao longo do
reservatório em t = 2190 dias, segundo o modelo geomecânico
do STARS. 96
Fig.5.6. Distribuição de porosidade efetiva em t = 2190 dias segundo o
modelo geomecânico do STARS. 96
Fig.5.7. Distribuição de porosidade efetiva em t = 2190 dias segundo o
modelo sem módulo geomecânico do STARS. 96
Lista de tabelas
Tab. 2.1. Valores típicos de compressibilidade (de Craft & Hawkins²). 46
Tab. 4.1. Dados da rocha-reservatório utilizados nas simulações. 91
Tab. 4.2. Dados das rochas adjacentes utilizados por Pastor14. 92
Tab. 4.3. Incrementos de tempo utilizados no FPORO (Pastor14). 92
Tab. 5.1. Descrição geral dos modelos simulados. 101
Tab.5.2. Valores de saturação de água conata, porosidade e
compressibilidade adotados. 105
Tab. 5.3. Pressão de referência para os modelos simulados. 107
Tab. 5.4. Pressões de fundo de poço utilizadas nas simulações. 108
Tab. 5.5. Valores do módulo de Young utilizados na simulações dos
modelos ¼ de 5-spot. 108
Tab. 5.6. Tensões totais atuando no reservatório. 109
Tab. 5.7. Composição dos fluidos de reservatório. 109
Tab. 5.8. Resumo das simulações que geraram maiores discrepâncias
entre as produções acumuladas de óleo resultantes dos
modelos com e sem opção geomecânica do STARS. 112
Tab. 5.9. Parâmetros utilizados na análise do grau de consolidação do
reservatório. 124
Tab. 5.10. Resultados de produção para arenitos não-consolidados. 126
Tab. 5.11. Resultados de produção para arenitos friáveis. 132
Tab. 5.12. Parâmetros utilizados nas simulações com modelo radial. 135
Tab. 5.13. Índices para mecanismos de produção primários, para t=10
dias. 137
Tab. 5.14. Fatores de recuperação ao final de 1825 dias. 138
Tabela A1.Dados referentes às simulações utilizando o STARS. 149
Lista de símbolos
B Fator volume formação
b Forças de corpo
fC Capacidade de calor da formação
effc Compressibilidade efetiva da rocha
fc Compressibilidade da formação (ou volume poroso)
flc Compressibilidade do fluido
gc Compressibilidade do gás
rc Compressibilidade da matriz rochosa
sc Compressibilidade dos grãos sólidos
Tc Coeficiente térmico de compressibilidade da rocha
tc Compressibilidade total
vc Calor específico da rocha
vfc Calor específico do fluido
vsc Calor específico dos grãos sólidos
wc Compressibilidade da água
Dm Matriz de acumulação
E Matriz de escoamento
E Módulo de Young
F Vetor de força das condições de contorno
gG Volume de gás livre no reservatório, STC
giG Volume de gás inicial no reservatório, STC
g Vetor de aceleração da gravidade
gc Constante de conversão entre sistemas de unidade
gfw Gradiente de pressão da água doce
go Gradiente de pressão do óleo
gsw Gradiente de pressão da água salgada
He Entalpia específica
h Carga de elevação
1I Primeiro invariante das tensões
If , Ig ,
Io e Iw
Índice de expansão da formação, do gás, do óleo e da água,
respectivamente
Jf Fluxo de calor por condução no fluido
Js Fluxo de calor por condução no sólido
K Matriz de rigidez
K Módulo de compressão volumétrica da matriz rochosa
Kf Módulo de compressão volumétrica do fluido
Kp Módulo de compressão do poro
Ks Módulo de compressão volumétrica dos grãos sólidos
k Tensor da permeabilidade absoluta do meio poroso
hk Condutividade térmica da rocha e dos fluidos contidos
krl Permeabilidade relativa da fase l
kx , ky ,
kz
Permeabilidade absoluta nas direções x, y e z, respectivamente
L Matriz de acoplamento
Mm Massa molar
m Vetor binário: unidade para tensões normais, zero para tensões
cisalhantes
lm Fluxo de massa da fase l
m Razão entre os volumes iniciais de gás e óleo no reservatório
ml Massa da fase l em um volume unitário do meio
xm Taxa de escoamento mássico na direção x, por unidade de área
N Volume de óleo inicial no reservatório, STC
pN Produção de óleo acumulada, RC
P Vetor das incógnitas do reservatório (pressões, saturações e
temperatura)
Pc Pressão capilar
p Pressão de poros
p Pressão média
Q Vetor das condições de contorno da região próxima ao poço
q Vazão volumétrica, STC
q~ Vazão mássica, por unidade de volume
Hq Taxa de injeção ou produção da entalpia
R Lado direito das equações de escoamento, parcela de acumulação
R Constante dos gases
pR Razão de solubilidade gás-óleo de produção acumulada
soR Razão de solubilidade gás-óleo
S Saturação
T Matriz de transmissibilidade
T Temperatura
Tf Temperatura do fluido
Ts Temperatura do sólido
t Forças de superfície
U Energia específica interna
uf Velocidade de Darcy da fase fluida
ug Velocidade de Darcy do gás
uo Velocidade de Darcy do óleo
uw Velocidade de Darcy da água
xu ,
zu
u ,yVelocidade de Darcy nas direções x, y e z, respectivamente
V Volume
bV Volume total da rocha
Vf Volume de fluido
Vp Volume poroso inicial
rV Volume da matriz rochosa
Vs Volume dos grãos
v Vetor de deslocamentos do esqueleto sólido
fv Velocidade do fluido
vs Velocidade da fase sólida
vw Vetor de deslocamentos do fluido
W Volume de água inicial no reservatório, RC
eW Influxo de água no reservatório, RC
pW Produção de água acumulada, STC
vx Fração molar do componente ν na fase líquida
vy Fração molar do componente ν na fase gasosa
Z Fator de compressibilidade dos gases
α Coeficiente de Biot
Tα Coeficiente de dilatação térmica
pβ Coeficiente de compressibilidade do fluido à temperatura constante
sβ Coeficiente de expansão térmica para o sólido
Tβ Coeficiente de expansão térmica para o fluido
Γ Contorno
γ Peso específico do fluido
t∆ Indica a varição ocorrida ao longo de um passo de tempo
δ Vetor de deslocamentos
δ Deslocamento médio
ε Deformações totais da matriz rochosa
oε Deformações não associadas com variações de tensões ou
temperatura
Tε Deformação térmica
vε Deformação volumétrica do meio poroso
mΛ Coeficiente de condutividade térmica do meio poroso
λ Transmissibilidade
Lλ Parâmetro de Lamé
mλ Mobilidade da fase
fTλ ,
sTλ
Tensores de condutividade térmica das fases fluida e sólida,
respectivamente
µ Viscosidade do fluido
Lµ Parâmetro de Lamé
ν Coeficiente de Poisson
ξ Massa específica molar da fase
ρ Densidade da rocha
dgρ Densidade do gás dissolvido
fρ Densidade do fluido
gρ Densidade do gás
oρ Densidade do óleo
sρ Densidade dos grãos sólidos
σ Tensão total
'σ Tensão efetiva
o'σ Tensão efetiva inicial
vσ Tensão vertical
hσ Tensão horizontal
Φ Potencial
φ Porosidade
Ω Domínio
Índicesn Passo de tempo ν Iteração
Subscritosdg Gás dissolvido
fg Gás livre
g Fase gasosa
i inicial
l Fase
n Fase não-molhante
o Fase oleica
RC Condições de reservatório
STC Condições padrão
w Fase aquosa ou molhante ν Componente hidrocarboneto
1 Introdução
A importância da indústria do petróleo vem crescendo desde a segunda
metade do século XIX, quando o primeiro poço entrou em produção, em
Titusville, Pensilvânia, sob o comando do coronel Drake. Desde então, verificou-
se uma acirrada corrida em busca da descoberta de novos campos. A indústria
do petróleo tem um papel importante no cenário mundial. A participação do óleo
e gás natural na matriz energética mundial indica uma forte dependência desta
forma de energia não renovável (Yergin¹). Considerando que somente uma
parte do petróleo existente no mundo pode ser produzido economicamente, se
faz necessária uma busca contínua dos meios para aumentar sua recuperação.
Para tanto, é importante um conhecimento cada vez melhor dos mecanismos de
produção que afetam a recuperação de petróleo com impacto nas previsões de
produção. Estas, em última análise, afetam diretamente a economicidade dos
projetos, viabilizando projetos de desenvolvimento de campos petrolíferos.
A engenharia de reservatórios é responsável pelo estudo do escoamento
dos fluidos dentro da meio poroso, cálculo das reservas, definição dos métodos
de recuperação secundária e terciária, esquemas de desenvolvimento do campo,
entre outros. Craft & Hawkins² definem a engenharia de reservatórios como a
“aplicação de princípios científicos para problemas de drenagem que surgem
durante o desenvolvimento e produção de reservatórios de gás e óleo”. Também
foi definido por Moore (1955), segundo apresentado em Craft & Hawkins², como
“a arte do desenvolvimento e produção de óleo e gás de forma a obter uma alta
recuperação econômica”. Os reservatórios são a fonte esgotável de petróleo, e
portanto devem ser tratados como tal, sendo explorados mas sem prejudicar sua
capacidade de recuperação. Devido à sua complexidade, a engenharia de
Introdução 20
reservatórios envolve profissionais das mais variadas áreas de conhecimento:
geofísicos, geólogos, engenheiros e economistas.
A grande barreira em que se depara a engenharia de reservatórios é a
dificuldade de obtenção de dados a respeito dos meios porosos de interesse. Em
um campo recém descoberto, toda a caracterização é feita a partir da sísmica,
de testemunhos retirados de poços exploratórios (que representam muito pouco
comparado ao campo), perfilagens, análises de testes de formação e de
correlações com campos próximos e afloramentos. Daí o grande grau de
incerteza que envolve o estudo dos reservatórios de petróleo na fase inicial de
explotação. O risco associado é ainda maior ao considerar a complexidade dos
reservatórios de petróleo: a heterogeneidade e anisotropia das propriedades da
rocha; variações regionais das propriedades dos fluidos, assim como das
características de permeabilidade relativa; complexidade dos mecanismos de
recuperação de hidrocarbonetos, entre outros (Ertekin et al.³). Porém, com um
bom conhecimento do reservatório é possível ter um entendimento do seu
comportamento no passado, presente e futuro, além de prever a recuperação
necessária para viabilizar o desenvolvimento e operação da formação geológica
em estudo (Timmerman4).
Com o intuito de alcançar os objetivos da engenharia de reservatórios, a
principal ferramenta utilizada são os simuladores de reservatórios, que têm sido
usados desde a década de 50 do século passado. No início, tratava-se de
modelos rústicos capazes de reproduzir apenas escoamento monofásico em
uma direção. Com o desenvolvimento de computadores digitais de alta
velocidade e de métodos numéricos sofisticados, foi possível aperfeiçoá-los, a
ponto de hoje modelarem escoamento trifásico tridimensional (Watts5).
De acordo com Mattax & Dalton6, o advento da simulação numérica tornou
possível detalhar o estudo do reservatório através de sua subdivisão em blocos
com propriedades individuais. Através de uma malha de simulação, o modelo
geológico pôde ser incorporado à análise, permitindo a definição de regiões com
propriedades de fluido e rocha distintas. A resposta do problema passou a ser
obtida pela solução simultânea das equações de escoamento para cada
elemento que compõe o modelo. Porém, devido à complexidade do problema,
que envolve várias disciplinas, alguns simuladores acabam por fazer hipóteses
simplificadoras sobre a parte do problema que não é de interesse primário
Introdução 21
(Gutierrez & Lewis7). Assim, há um desenvolvimento contínuo de novas
tecnologias e modelos matemáticos a serem empregados no estudo de
simuladores de reservatórios de petróleo. Uma necessidade que se verifica na
representação do reservatório é a consideração da interação entre o
escoamento multifásico e o comportamento tensão/deformação no meio poroso.
Isso porque várias práticas de produção e processos a elas relacionados são
altamente dependentes do fato de a formação produtora responder
dinamicamente às mudanças nas tensões aplicadas.
1.1 Motivação para o Estudo
As acumulações de óleo e gás ocorrem em formações geológicas
subterrâneas denominadas reservatórios. De uma forma bastante resumida,
esse acúmulo é resultado de um processo de decomposição de matéria orgânica
depositada há milhões de anos em um sistema de rochas sedimentares. Ao
sofrer decomposição em condições de altas temperaturas e pressões, o produto
é um óleo com densidade menor que a da água, o que faz com que percole em
direção à superfície. Porém, essa substância pode ir ao encontro de uma rocha
selante que impedirá sua passagem, formando, então, uma jazida de petróleo.
Caso seu caminho de percolação não seja bloqueado, o petróleo chega a exudar
na superfície.
A rocha-reservatório, onde está confinado o petróleo, é composta por duas
partes: a matriz rochosa, formada pelos grãos e cimento, e os poros,
preenchidos por fluidos, conforme indicado na figura 1.1. Esse fluido pode estar
na fase gasosa, líquida ou uma combinação de ambas. A fase do fluido contido
no reservatório normalmente varia com a pressão, uma vez que a temperatura
permanece aproximadamente constante, ao considerar escoamento horizontal
dentro da formação.
Introdução 22
Representação esquemática da rocha-reservatório (de Charlez8). Fig.1.1.
A produção inicial de hidrocarbonetos do reservatório normalmente se dá a
partir de sua energia natural. Durante a produção primária, como é denominada,
óleo e gás são deslocados aos poços de produção através de cinco principais
mecanismos: (i) expansão de rocha, óleo e água conata com conseqüente
redução do volume poroso durante o processo de depleção, resultando no
deslocamento do óleo; (ii) gás em solução, em que o gás é liberado de solução,
se expande, e desloca o óleo para os poços produtores; (iii) capa de gás, em
que a queda de pressão acarretada pela produção leva à expansão do gás da
capa, deslocando o óleo; (iv) deslocamento do fluido causado pelo influxo de
água a partir de um aqüífero de fundo ou lateral; e (v) segregação gravitacional,
em que o gás, óleo e água tendem a voltar a ocupar uma distribuição baseada
em suas densidades. É possível que mais de um mecanismo seja responsável
pela produção de óleo do reservatório (Craft & Hawkins²). Um outro possível
mecanismo de produção combinado é relativo à geomecânica, em que as
tensões in situ podem provocar a compactação da rocha-reservatório e,
conseqüentemente, aumentar o volume de óleo produzido.
Com a produção de fluido a partir do reservatório, há uma redução da
pressão de poros inicial do meio poroso de interesse. De acordo com o princípio
das tensões efetivas de Terzaghi, decorrente dessa diminuição de poropressão,
há um aumento das tensões efetivas, que pode ser descrito através de:
p−=σσ ' (1.1)
onde 'σ é a tensão efetiva, referente à matriz rochosa, σ é a tensão total e p
é a pressão de poros, relacionada ao fluido aí contido. Com o aumento das
tensões efetivas, há uma diminuição do espaço poroso e, no caso de o fluido
ficar retido, haverá um aumento da poropressão. Este fenômeno acaba por
Introdução 23
preservar a energia natural do reservatório, o que é favorável para sua vida
produtiva. Por outro lado, se o excesso de poropressão for dissipado, ocorrerão
deformações no sentido de compactação do reservatório.
Dessa forma, a compactação é a resposta geomecânica da formação para
a redução da poropressão. De acordo com Charlez9, é definida como a redução
da espessura do reservatório durante a produção. Fisicamente, o processo de
compactação pode ser descrito da seguinte forma: o peso das camadas
sobrejacentes ao reservatório é suportada parcialmente pela matriz rochosa e
pelo fluido pressurizado situado nos poros da rocha. Quando a pressão do fluido
é reduzida devido à produção de óleo/gás, parte do carregamento é transferido à
matriz rochosa, resultando na compactação da formação. Essa compactação da
subsuperfície, dependendo das características das camadas sobrejacentes,
pode vir a produzir subsidência da superfície com deslocamentos siginificativos
tanto na direção vertical quanto horizontal. Esses deslocamentos são
direcionados para o centro da bacia de subsidência (figura 1.2), resultando em
um aumento (no sentido de compressão) das tensões horizontais no centro da
bacia e uma redução na parte externa, a qual pode chegar a exercer tração. A
amplitude desse deslocamento pode alcançar a ordem de metros.
Ilustração de compactação/subsidência (de Charlez9). Fig.1.2.
Assim, a compactação e subsidência podem trazer efeitos indesejados,
como danos ao revestimento e equipamentos do poço, afundamento de
plataformas, além de risco de alagamento ao longo da costa. Além destas, outra
possível consequência associada à influência das tensões in situ em
Introdução 24
reservatórios de petróleo é o aumento da produtividade decorrente da redução
do volume de poros (compaction drive mechanism). Por outro lado, essa redução
pode ser responsável também pela diminuição da permeabilidade, prejudicando
a produção. Diversos casos relatados na literatura exemplificam os efeitos
associados a esses processos.
No Campo de Valhall, no mar do Norte, o mecanismo de compaction drive
teve participação importante na produção de hidrocarbonetos, podendo ter sido
responsável por, aproximadamente, 25% da recuperação total (York et al.10). Por
outro lado, no campo de Ekofisk, a 200 km da costa da Noruega, estima-se um
gasto extra na ordem de US$ 2,6 bilhões de dólares na prevenção/reparação de
danos causados pela subsidência, através da construção de diques de
contenção ao redor dos tanques de armazenamento e elevação de
equipamentos de superfície, inclusive plataformas (Santarelli11).
Em Bolivar Coast, na Venezuela, verificou-se uma subsidência acumulada
de mais de 4 metros. Como consequência, algumas áreas foram inundadas e a
vegetação ficou permanentemente submersa, além da ocorrência de fraturas nas
tubulações. Por outro lado, a redução do volume de poros beneficiou a produção
de óleo na região afetada (Charlez9).
Outro ponto a ser analisado com relação às tensões in situ é observado
em reservatórios não consolidados situados em camadas menos profundas. Um
caso deste tipo foi observado na Venezuela, no Orinoco Belt, em que um poço
horizontal foi perfurado através de uma formação cujo material é uma areia não
consolidada. O poço colapsou parcialmente após sua perfuração. Como
conseqüência, só foi possível completar metade do comprimento planejado. O
fato de o poço ter sido perfurado ao longo da direção da tensão horizontal
máxima agravou o problema. No mesmo reservatório não consolidado, um
segundo poço horizontal apresentou problemas de produção de areia. Estando
situado em uma camada superior do reservatório, em relação ao primeiro poço,
composta por grãos finos e por uma composição de argila da ordem de 8-9%, foi
completado sem problemas. Porém, verificou-se o entupimento do poço
decorrente da produção de areia imediatamente após o início da sua operação
(Rodriguez et al.12, 13).
Introdução 25
1.2 Objetivos
O objetivo deste trabalho é analisar a influência das tensões in situ em
reservatórios de petróleo com base na comparação entre os campos de pressão
de poros obtidos a partir da modelagem de um mesmo caso em dois
simuladores geomecânicos. Para isso, serão utilizados os simuladores FPORO,
desenvolvido pelo Grupo de Tecnologia e Engenharia de Petróleo (GTEP) da
PUC-Rio, e o térmico-composicional STARS, da Computer Modelling Group
(CMG).
Será feita, também, uma comparação entre as duas formas de
consideração da geomecânica oferecidas pelo simulador comercial STARS – a
primeira aproximada e a outra acoplada. Serão apresentadas as diferenças
obtidas para o campo de pressão de poros e produção acumulada de óleo. Esse
objetivo será cumprido através de 108 simulações, as quais consideram a
combinação de alguns cenários envolvendo diferentes profundidades,
espessuras e tipo de material que forma a rocha-reservatório.
Com base nas simulações acima descritas, um outro objetivo é analisar os
efeitos de diferentes taxas de injeção e graus de consolidação do meio poroso
de interesse no comportamento do reservatório.
Por fim, um segundo conjunto de simulações será feito para modelar um
sistema depletivo através de um outro simulador comercial, também
desenvolvido pela CMG – o IMEX. Seu objetivo é avaliar de forma ponderada a
parcela de cada mecanismo de produção na performance do reservatório. Para
isso, será feito um balanço de materiais para três diferentes tipos de
reservatórios subsaturados: óleo vólatil, óleo pesado e um óleo intermediário,
denominado Black-Oil na indústria do petróleo. Os resultados serão
apresentados de forma comparativa para mostrar o mecanismo preponderante
em cada tipo de reservatório.
Introdução 26
1.3 Escopo
No capítulo dois é apresentada a equação de balanço de materiais, que
tem grande importância no entendimento dos mecanismos envolvidos na
produção de fluidos a partir do reservatório. Sua importância, porém, é muito
maior ao saber que era utilizada para previsão do comportamento do
reservatório antes do advento dos simuladores. Este capítulo descreve também
a forma aproximada com que a geomecânica é considerada nos simuladores
convencionais. Uma outra maneira de se considerar a geomecânica ainda mais
rigorosa é através de um modelo acoplado. As formas de acoplamento
geomecânico também são discutidas.
O capítulo três apresenta a formulação referente a escoamento de um
fluido monofásico compressível e outro pouco-compressível, conforme utilizada
no IMEX, sendo estendida para escoamento multifásico. Descreve também as
formulações utilizadas no STARS e FPORO. Por fim, neste capítulo é feita uma
comparação entre os módulos geomecânicos do STARS e do FPORO.
O capítulo quatro consiste na descrição da comparação dos simuladores
FPORO e STARS com base nos resultados apresentados em Pastor14. É
descrito o modelo bidimensional utilizado na comparação e os resultados obtidos
para o campo de pressão de poros. A comparação considera dois tipos de rocha
sobrejacente, que geraram diferentes resultados a partir de simulações feitas em
trabalho anterior no FPORO (Pastor14). Nessa comparação são avaliadas as
duas opções de consideração da geomecânica oferecidas pelo STARS.
A fim de comparar as duas formas de tratamento da geomecânica
oferecidas pelo simulador comercial STARS (com e sem o módulo acoplado), o
capítulo cinco descreve as simulações realizadas e os resultados obtidos.
Descreve, também, as demais comparações decorrentes dessas simulações, em
que são analisados os efeitos de diferentes taxas de injeção e graus de
consolidação da rocha-reservatório no comportamento do reservatório. As
simulações utilizando o IMEX, a fim de avaliar os mecanismos de produção
Introdução 27
primária em três diferentes tipos de reservatório, são descritas. São
apresentados os resultados do balanço de materiais.
Por fim, no capítulo seis são apresentadas as conclusões deste trabalho e
as sugestões para trabalhos futuros em continuidade ao estudo dos efeitos da
geomecânica em reservatórios de petróleo.
2 Geomecânica Aplicada à Engenharia de Reservatórios
O advento dos computadores e de sofisticados modelos matemáticos
possibilitaram o desenvolvimento dos simuladores de reservatórios. O primeiro
programa elaborado com o intuito de prever o comportamento do reservatório ao
longo de sua vida produtiva data do início da década de 50 (Watts5). Antes disso,
porém, o engenheiro de reservatório fazia uso da equação de balanço de
materiais para acompanhar os mecanismos responsáveis pela produção do
reservatório de petróleo. Essa equação foi primeiro desenvolvida por Schilthuis
em 1936, e a derivação descrita a seguir no item 2.1 é baseada na forma
apresentada em Craft & Hawkins2. A equação de balanço de materiais é a base
dos simuladores de escoamento. Portanto, seu total entendimento é importante
na prática da engenharia de reservatórios.
Devido às limitações computacionais e de formulações matemáticas, os
primeiros simuladores de reservatório eram restritos à modelagem de
escoamento monofásico unidimensional. Com o desenvolvimento tecnológico,
passaram a ser mais elaborados, sendo capazes de modelar escoamento
multifásico em sistemas com geometrias mais complexas (Watts5). Porém, o
comportamento do reservatório envolve, além do comportamento do fluxo,
parâmetros geomecânicos, como as tensões in situ e as deformações da rocha.
Devido à complexidade do tratamento da geomecânica e do escoamento
multifásico como processos acoplados, conforme explicam Gutierrez & Lewis7, a
geomecânica, se não totalmente negligenciada, é ainda tratada como um
aspecto a parte do escoamento multifásico. Ao tratar os dois assuntos
separadamente, a tendência de cada um é simplificar e fazer aproximações com
relação ao outro. É o que acontece nos simuladores de reservatório tradicionais,
Geomecânica aplicada à engenharia de reservatórios 29
como o IMEX e o STARS sem o módulo geomecânico, em que a consideração
da geomecânica é feita de forma aproximada através de um único parâmetro
geomecânico, a compressibilidade da rocha, como descrito no item 2.2.
Nos últimos anos, tem-se verificado maiores desenvolvimentos
tecnológicos e com isso a possibilidade de incorporar os efeitos geomecânicos
nos simuladores de reservatório. Essa consideração é feita através do
acoplamento hidromecânico. Nos softwares comerciais, o módulo geomecânico,
desenvolvido em elementos finitos, é acoplado ao simulador de escoamento, em
diferenças finitas, de forma explícita, como o STARS. Uma outra maneira de se
considerar a geomecânica ainda mais rigorosa é através de um modelo
totalmente acoplado, em que as equações de escoamento e equilíbrio são
resolvidos em um mesmo código de elementos finitos, como o FPORO. As
formas de acoplamento geomecânico são discutidas no item 2.3
2.1 A Equação de Balanço de Materiais
Quando um reservatório de hidrocarbonetos entra em produção, a retirada
de óleo e gás reduz a pressão do meio poroso levando à expansão das
substâncias remanescentes, que ocupam todo o espaço poroso. Quando o
reservatório de óleo apresenta um contato com um aquífero adjacente, a água
invade a zona de interesse de acordo com a queda de pressão devida à
produção, como mostra a figura 2.1. Esse volume de água diminui o espaço que
seria ocupado pela expansão de óleo e gás remanescentes, retardando o
declínio da pressão do reservatório. Conforme descrito por Craft & Hawkins2, o
grau de expansão de óleo e gás remanescentes no reservatório depende apenas
da pressão, uma vez que a temperatura durante a depleção é praticamente
constante. Assim, é possível prever o comportamento dos fluidos do reservatório
com o declínio da pressão, o que pode ser feito a partir de amostras
pressurizadas dos fluidos retiradas do fundo do poço, e fazendo medição de
Geomecânica aplicada à engenharia de reservatórios 30
seus volumes relativos em laboratório, mantendo a temperatura do reservatório e
variando a pressão.
Fig.2.1. Seção transversal de um reservatório com capa de gás e aquífero (de Craft &
Hawkins²).
A equação de balanço de materiais nada mais é que um simples balanço
de massa, ou um balanço volumétrico nas condições padrão. Isso significa que
uma vez que a massa do reservatório é constante (definido a partir de seus
limites iniciais), a soma algébrica da variação volumétrica de óleo, gás em
solução e rocha no reservatório deve ser nula. É importante ressaltar que a
dedução que se segue considera um modelo de reservatório com capa de gás e
alimentado por um aquífero adjacente. Ainda de acordo com Craft & Hawkins²,
ao considerar que o equilíbrio completo entre o óleo e o gás em solução no
reservatório é sempre respeitado, é possível escrever uma expressão de
balanço de material geral relacionando as quantidades de óleo e gás, a pressão
média do reservatório e a quantidade inicial de óleo contida no reservatório. Ao
fazer esses cálculos, os seguintes dados de produção, reservatório e laboratório
são considerados:
a) Pressões inicial e média do reservatório em intervalos de produção
sucessivos;
Geomecânica aplicada à engenharia de reservatórios 31
b) As quantidades de óleo e gás produzidas em condições padrão, ou seja,
medidos a 101,35 kPa (ou 14,7 psia) e 15,5°C (ou 60°F), em qualquer
intervalo de produção;
c) A razão entre os volumes iniciais da capa de gás e de óleo, dada por:
m = Volume inicial de gás livre no reservatório Volume inicial de óleo no reservatório
Se o valor dessa razão for determinada com uma precisão razoável, a
única incógnita no balanço de materiais é o volume inicial de óleo no caso
de reservatórios com capa de gás. O valor de m é determinado a partir de
dados de perfilagem e de testemunhos, podendo ser obtido também a
partir de dados de completação de poços. Este último também colabora na
localização dos contatos gás-óleo e óleo-água;
d) Os fatores volume formação1 do óleo e do gás dissolvido, assim como a
razão de solubilidade gás-óleo2. Esses valores são definidos como função
da pressão, e obtidos através de medições laboratoriais em amostras
recolhidas do fundo do poço, através dos métodos de liberação diferencial
e de equilíbrio (flash);
e) Quantidades de água produzida e que invade o reservatório.
Visando um melhor entendimento, a dedução é dividida em variações nos
volumes de óleo, gás, água e rocha que ocorrem entre o início da produção e um
tempo qualquer. A variação no volume de rocha é expressa como variação do
volume poroso, porém com sinal negativo. Os seguintes termos são utilizados no
desenvolvimento da equação de balanço de material, descrita segundo Craft &
Hawkins²:
t
1 Fator volume formação B é a razão entre o volume ocupado por uma dada massa de fluido em condições de pressão e temperatura do reservatório, e o volume ocupado pelo mesmo componente em condições padrão. Esse conceito é descrito de forma mais detalhada no item 3.1.2 desta dissertação. 2 Razão de solubilidade gás-óleo é a relação entre o volume de gás dissolvido no óleo e o volume de óleo a uma dada pressão e temperatura; ambos são medidos em condições padrão.
Geomecânica aplicada à engenharia de reservatórios 32
N Volume de óleo inicial no reservatório, STC3
oiB Fator volume formação de óleo inicial
pN Produção de óleo acumulada, STC
oB Fator volume formação de óleo
giG Volume de gás inicial no reservatório, STC
giB Fator volume formação de gás inicial
gG Volume de gás livre no reservatório, STC
soiR Razão de solubilidade gás-óleo inicial
pR Razão de solubilidade gás-óleo de produção acumulada
soR Razão de solubilidade gás-óleo
gB Fator volume formação do gás
W Volume de água inicial no reservatório, RC4
pW Produção de água acumulada, STC
wB Fator volume formação da água
eW Influxo de água no reservatório, RC
wc Compressibilidade isotérmica da água
p∆ Variação da pressão média do reservatório
wiS Saturação inicial de água
pV Volume poroso inicial, RC
fc Compressibilidade isotérmica da formação
Variação no volume de óleo:
Volume inicial de óleo no reservatório:
oiNB (2.1)
Volume de óleo no tempo e pressão t p :
3 STC indica a medição do volume em condições padrão. 4 RC indica a medição do volume nas condições de pressão e temperatura do reservatório.
Geomecânica aplicada à engenharia de reservatórios 33
( ) op BNN − (2.2)
Variação no volume de óleo:
( ) opoi BNNNB −− (2.3)
Variação no volume de gás:
Razão entre volumes iniciais de gás livre e de óleo:
oi
gigi
NBBG
m = (2.4)
Volume inicial de gás livre, em condições de reservatório:
oigigi NmBBG = (2.5)
Volume inicial de gás dissolvido, em condições padrão:
soiNR (2.6)
Volume de gás produzido, em condições padrão:
pp RN (2.7)
Volume de gás remanescente em solução no tempo e pressão t p :
( ) sop RNN − (2.8)
Volume de gás livre no tempo = volume inicial de gás (incluindo livre e
dissolvido) – volume de gás produzido – volume de gás remanescente em
solução (STC):
t
[ ] ( )[ ]sopppsoigi
oig RNNRNNR
BNmBG −−−
+= (2.9)
Geomecânica aplicada à engenharia de reservatórios 34
Volume de gás livre no reservatório no tempo t :
( ) gsopppsoigi
oig BRNNRNNR
BNmB
G
−−−+= (2.10)
Na expressão acima, o primeiro e segundo termos consideram os volumes
iniciais de gás livre e dissolvido no reservatório, subtraindo o gás dissolvido
produzido junto com o óleo e o gás dissolvido remanescente no rerservatório.
Com isso, obtém-se o volume de gás livre remanescente no reservatório no
tempo . t
Variação no volume de gás livre (RC): A partir da diferença entre os
volumes de gás livre no reservatório inicial e no tempo : t
( ) gsopppsoigi
oioi BRNNRNNR
BNmBNmB
−−−+− (2.11)
Variação no volume de gás dissolvido (RC), devido a sua produção em
conjunto com a do óleo.
( )[ ] gsopppsoi BRNNRNNR −−− (2.12)
Variação no volume de água:
Volume de água inicial no reservatório: W
Produção de água acumulada no tempo t : W p
Produção de água acumulada em condições de reservatório: pwWB
Volume de água que invadiu o reservatório no tempo t : W e
Parcela da variação no volume de água referente à sua compressibilidade:
pWcw∆ (2.13)
Variação no volume de água:
Geomecânica aplicada à engenharia de reservatórios 35
( ) pWcWBWpWcWBWWW wpwewpwe ∆−+−=∆+−+− (2.14)
Variação no volume poroso:
Variação no volume poroso devido à expansão da formação, resultante da
diminuição da pressão de poros:
pcV fp ∆− (2.15)
Esquematicamente, o balanço de materiais pode ser representado da
seguinte forma (Pirson15):
(N - Np)Bo
We - Wp
pi p
NmBoi (Bg/Bgi)NmBoi
NBoi
Gás em excesso
(a) (b)
Fig.2.2. Representação esquemática das condições existentes no reservatório: (a) à
pressão inicial e (b) a uma pressão p após uma produção de . pN
De acordo com a figura 2.2 (a), no tempo inicial o reservatório é composto
por uma capa de gás e óleo, o qual inclui gás em solução. Após a produção de
um determinado volume de óleo, o reservatório se encontra na forma indicada na
figura 2.2 (b), à uma pressão p inferior à inicial. Nessa situação, o volume de
água existente no reservatório é resultado do influxo de água a partir de um
aquífero adjacente, menos o volume de água produzida. O volume de óleo é o
inicial menos o produzido. Com a queda de pressão, parte do gás sai de
solução, criando uma camada de gás em excesso. Por fim, o volume de gás livre
é dado pelo seu volume inicial multiplicado pelo fator volume formação do gás,
de forma a retratar a expansão decorrente da queda de pressão.
Combinando as variações nos volumes de água e rocha em um mesmo
termo, obtém-se:
Geomecânica aplicada à engenharia de reservatórios 36
pcVpWcWBW fpwpwe ∆−∆−+− (2.16)
Sabendo que o volume de água inicial no reservatório pode ser definido
através de W , e que, por sua vez, o volume poroso inicial pode ser
definido como
wip SV=
wi
oioi
SNmB
−+
1pNB=V , e substituindo no termo (2.16) acima:
( ) pcScSNmBNB
WBW fwiwwi
oioipwe ∆+
−+
−+−1
(2.17)
ou, rearranjando os termos:
( ) pS
cScNBmWBW
wi
fwiwoipwe ∆
−
++−+−
11 (2.18)
A equação de balanço de materiais considera as variações de volume de
óleo e gás como sendo iguais às variações de volume de rocha e água. Assim, o
balanço de volumes é dado por:
( ) pS
cScNBmWBWRBNRNB
BRNBNRB
BNmBNmBBNNBNB
wi
fwiwoipwesogpsog
gppgsoigi
goioiopooi
∆
−
+++−=−
++−
−++−
11
(2.19)
Adicionando e subtraindo o termo no lado esquerdo da equação
acima e agrupando os termos:
soigp RBN
( )[ ] ( )[ ]
( ) ( ) pS
cScNBmWBW
BBNmB
NBRR
BRRBNBRRBNNmBNB
wi
fwiwoipwe
gi
goipgsoip
gsosoiopgsosoiooioi
∆
−
+++−=
−−
+−++−+−+
11
(2.20)
Essa é a equação de balanço de materiais. Sua dedução pode ser
encontrada em várias outras referências bibliográficas, como Pirson15, Ahmed16
e Timmerman4. Para uma melhor adequação para as discussões que se
Geomecânica aplicada à engenharia de reservatórios 37
seguem, ela pode ser rearranjada da seguinte forma, conforme proposto em
Craft & Hawkins²:
( ) ( )[ ]
( ) ( )[ ] pwgsopopewi
fwiwoi
gi
goigsosoioio
WBBRRBNWpS
cScBmN
BB
BNmBRRBBN
+−+=+∆
−
++
+
−+−+−
11
1
(2.21)
Os termos do lado esquerdo da equação acima se referem aos diferentes
mecanismos de produção - o primeiro termo é referente à expansão de óleo e
gás dissolvido, o segundo se refere à expansão da capa de gás e o terceiro leva
em consideração a alteração do volume poroso, isto é, expansão de rocha e
água, respectivamente, e o quarto quantifica o volume de água proveniente do
influxo do aquífero adjacente ao reservatório. Já os termos do lado direito
representam a produção de hidrocarbonetos e água.
2.1.1 Utilizações e Limitações do Método de Balanço de Materiais
A equação de balanço de materiais, na forma acima apresentada, tem
como principais finalidades a determinação do volume inicial de hidrocarbonetos
in situ, o cálculo do volume de água de influxo e a previsão das pressões do
reservatório. A fim de prever o efeito da taxa de produção/injeção (de gás ou
água) na pressão do reservatório é preciso conhecer previamente o volume de
óleo inicial e a razão , o qual é obtido a partir de dados de perfilagem e
testemunho. Apesar de o influxo de água ser normalmente indicado através de
evidências geológicas, o balanço de materiais pode ser utilizado com essa
finalidade ao acompanhar o comportamento dos volume iniciais de óleo e gás no
reservatório calculados para períodos sucessivos de produção, sem considerar
qualquer atuação de aqüífero adjacente. No caso desses valores variarem
continuamente, indicando o déficit de massa, é confirmada a existência do
influxo de água no reservatório. A precisão dos valores calculados depende da
acuracidade dos dados disponíveis utilizados na equação.
m
Geomecânica aplicada à engenharia de reservatórios 38
Uma possível fonte de erro é a hipótese de que os dados de pressão –
volume – temperatura (PVT) utilizados no balanço de materiais são obtidos
utilizando processos de liberação de gás que procuram reproduzir o que ocorre
no reservatório (mais precisamente no poço) e nos separadores na superfície.
Porém, nem sempre se pode garantir a representatividade desses dados, o que
pode produzir resultados errôneos no balanço de materiais.
Outra fonte de erro é introduzida na determinação da pressão média do
reservatório ao final de um determinado intervalo de produção. Os erros podem
ser tanto instrumentais, devido à dificuldade de obtenção de pressões reais,
quanto decorrentes de uma ponderação não correta das pressões dos poços, no
caso de um campo com vários poços. O erro relacionado à determinação da
pressão é mais importante em casos de reservatórios depletivos subsaturados,
já que naqueles com capa de gás e influxo de água o declínio é retardado.
Enquanto a produção de óleo acumulada é conhecida com certa precisão,
a produção de gás e água correspondentes é normalmente bem menos precisa,
o que introduz ainda mais erros na equação. Essa verificação pode ser
exemplificada através do caso em que as produções de gás e água não são
mensurados diretamente, mas inferidas a partir de testes periódicos para
determinação de razões gás-óleo e percentual de água do volume líquido
produzido dos poços individualmente. Quando dois ou mais poços completados
em diferentes reservatórios estão produzindo para uma estocagem comum, só é
conhecida a produção do conjunto, a não ser que haja ferramentas específicas
de medição individual em cada poço.
2.1.2 O Método de Havlena e Odeh de Aplicação da Equação de Balanço de Materiais
Segundo Craft & Hawkins², em 1963 Havlena e Odeh publicaram um
trabalho em que propuseram uma forma de linearização da equação de balanço
de materiais. Esse método utiliza todos os pares de dados (pressão e produção
Geomecânica aplicada à engenharia de reservatórios 39
correspondente), com a condição de que estes devem levar à soluções lineares
da equação de balanço de materiais para obtenção das variáveis independentes.
Para o método de linearização deve-se reescrever a eq. (2.21) de balanço
de materiais da seguinte forma:
( )[ ]( ) ( )[ ] ( ) p
ScSc
BmBB
BmBRRBB
WBWBRRBNN
wi
fwiwoi
gi
goigsosoioio
pwegsopop
∆
−
+++
−+−+−
+−−+=
111
(2.22)
Havlena e Odeh definiram os seguintes termos, conforme apresentado
em Craft & Hawkins²:
( )[ ] pwgsopop WBBRRBNF +−+= (2.23)
( ) ( )[ ]gsosoioioo BRRBBE −+−= (2.24)
−= 1
gi
goig B
BBE (2.25)
( ) pS
cScBmE
wi
fwiwoiwf ∆
−
++=
11, (2.26)
Subdividindo a expressão (2.26), tem-se:
( ) pS
cBmE
wi
foif ∆
−
+=1
1 (2.27)
( ) pSScBmE
wi
wiwoiw ∆
−
+=1
1 (2.28)
de forma que a equação de balanço de materiais pode ser reescrita da seguinte
forma:
Geomecânica aplicada à engenharia de reservatórios 40
( ) ewfgo WEEmEENF ++++= (2.29)
Nesta equação, o termo representa a produção total de óleo do
reservatório; , , e representam a expansão do óleo, do gás, da
formação e da água, respectivamente. Para qualquer tipo de reservatório essa
equação pode ser escrita na forma de uma reta. Uma vez obtida essa relação
linear, o gráfico resultante pode ser utilizado para estimar a produção futura. Por
exemplo, no caso de um reservatório sem capa de gás, sem influxo de água, e
negligenciando as compressibilidades da formação e da água (com base na
tabela 2.1), a eq. (2.29) assume a seguinte forma:
F
oE gE fE wE
oNEF = (2.30)
Verifica-se, assim, a linearização da equação de materiais, já que a
equação acima representa uma reta com inclinação , onde os eixos N x e
são os termos e , respectivamente, interceptados na origem.
y
F oE
Da eq. (2.29), ao analisar um caso em que não há influxo de água, e
rearranjando os termos, obtém-se:
wfgo EEmEEFN
+++= (2.31)
Efetuando uma multiplicação cruzada:
( )1=
+++F
EEmEEN wfgo (2.32)
Com base nessa equação, Pirson15 desenvolveu uma formulação que
define os índices de cada mecanismo de produção relacionado à pressão, da
seguinte forma:
Índice de expansão do óleo:
Geomecânica aplicada à engenharia de reservatórios 41
FNEI o
o = (2.33)
Índice de expansão do gás:
FNmE
I gg = (2.34)
Índice de expansão da formação:
FNE
I ff = (2.35)
Índice de expansão da água:
FNEI w
w = (2.36)
Cada um desses termos representa um mecanismo de produção
responsável por parte da produção total de óleo do campo. Ao somá-los devem
totalizar a unidade, ou seja:
1=+++ wfgo IIII (2.37)
Na eq. (2.37) acima, o termo relativo ao potencial da formação retrata a
influência da geomecânica, quando considerada de forma aproximada através
da compressibilidade da rocha, na produção de óleo do reservatório.
Geomecânica aplicada à engenharia de reservatórios 42
2.2 Consideração da Geomecânica nos Simuladores de Escoamento Tradicionais
A produção de fluidos de um reservatório de petróleo leva à diminuição da
pressão de poros, a qual contribui para o suporte das tensões que atuam na
rocha. A parcela adicional de tensão efetiva, decorrente da diminuição de
poropressão, é transferida para a matriz rochosa quando o aumento de tensão
excede a resistência do poro saturado com fluido. De acordo com Poston &
Berg17, a rigidez da matriz rochosa define o tipo de deformação inelástica que
pode ocorrer. Em rochas não consolidadas ou friáveis pode ocorrer
escorregamento e combinação dos grãos de rocha, reduzindo o volume poroso
ou acarretando a formação de microfissuras em matrizes rochosas cimentadas,
resultando em um sistema fragmentado. Em qualquer um dos casos, o efeito da
compressão inelástica do material do reservatório se dá no sentido de aumentar
a rigidez da matriz rochosa. A deformação pára quando uma condição de
equilíbrio for estabelicida no sistema. No caso de o diferencial de pressão
aplicada ser relaxada, o material comprimido não apresentaria condições de
retornar à sua configuração original uma vez que a estrutura interna sofre
alterações durante o processo de compactação. A essa não habilidade da rocha
de retornar ao seu volume original após o ciclo de compressão/descompressão é
chamada efeito de histerese. A deformação da rocha reservatório está
relacionada com a variação ou na compressibilidade total, ou do grão da rocha
ou do volume poroso. As definições dessas compressibilidades são
apresentadas em Poston & Berg17 e aqui descritas:
Compressibilidade do grão da rocha ( ): sc
É uma propriedade elástica definida como a variação volumétrica de um
volume unitário de material rochoso sólido, quando submetido à variação da
tensão confinante. Um valor padrão para esse parâmetro é de no mínimo 1/20
do valor da compressibilidade da formação, descrita a seguir. Assim, a influência
da compressibilidade do grão da rocha no desempenho do reservatório é
considerada mínima.
Geomecânica aplicada à engenharia de reservatórios 43
Compressibilidade total ( c ): t
É a variação de um volume unitário total da rocha quando submetida à
variação diferencial de pressão. É dada pela razão entre a compressibilidade do
poro e a porosidade. O estudo de subsidência considera a aplicação desta
compressibilidade total.
Compressibilidade da formação ( ): fc
É, na verdade, a compressibilidade do volume poroso. É a variação do
volume poroso unitário para uma dada variação da pressão.
Compressibilidade efetiva da rocha ( ): effc
Leva em consideração os efeitos combinados de expansão volumétrica da
água conata e a compressão do volume poroso decorrentes da perda de
pressão durante o processo depletivo de um reservatório sobrepressurizado. O
resultado desses dois fatores tem como conseqüência a redução do volume
poroso dos hidrocarbonetos. É expressa por:
wi
fwieff S
cSc
−+
=1
(2.38)
De uma forma resumida, essa expressão é uma medida do efeito de
variação da pressão no volume poroso dos hidrocarbonetos. Esse termo é
particularmente importante no estudo de reservatórios de gás
sobrepressurizados em que a pressão de poro inicial é elevada, normalmente
sujeito a uma queda de pressão acentuada durante a depleção.
Esses conceitos são melhor entendidos através da ilustração da figura 2.3,
apresentada por Smith et al.18, assim como a descrição que se segue:
V r
φ V b = 1
Fig.2.3. Representação esquemática de um volume unitário de rocha.
Geomecânica aplicada à engenharia de reservatórios 44
A figura 2.3 representa um volume de rocha unitário, composto pela matriz
rochosa e o poro. Para essa situação qualquer redução na poropressão resulta
na expansão da rocha no sentido de redução do volume poroso. A pressão
inicial é pi, enquanto o volume da matriz rochosa é Vr. Assim, a porosidade é
dada por:
rV−=1φ (2.39)
Considere, agora, que parte do fluido contido no espaço poroso é retirado,
deixando uma pressão p tal que p<pi. A equação geral da compressibilidade
isotérmica é:
TpV
Vc
∂∂−= 1
(2.40)
O sinal negativo é incluso na definição porque o comportamento normal de
uma substância é aumentar de volume ao diminuir a pressão. Assim, o termo
pV ∂∂ é normalmente uma quantidade negativa. O sinal negativo permite que a
compressibilidade seja um número positivo.
Aplicando a equação da compressibilidade para a matriz rochosa, obtém-
se:
T
r
rr p
VV
c∂∂−= 1
(2.41)
e para o volume poroso:
Tf p
c∂∂= φ
φ1
(2.42)
Nesse caso o sinal negativo foi omitido uma vez que a porosidade diminui
com a redução da poropressão. Substituindo a definição da porosidade, eq.
(2.39), no termo diferencial da equação acima, obtém-se:
Geomecânica aplicada à engenharia de reservatórios 45
pVc r
f ∂∂−=
φ1
(2.43)
Rearranjando a eq. (2.41) a fim de obter uma expressão para o termo
pVr ∂∂ , e substituindo na eq. (2.43):
φrr
fVcc = (2.44)
Através desta expressão a compressibilidade do volume poroso pode ser
calculada a partir da compressibilidade da matriz rochosa e da porosidade. Da
eq. (2.39), substituindo a expressão para V na eq. (2.44), obtém-se: r
−=φ
φ1rf cc (2.45)
De acordo com Smith et al.18, no desenvolvimento acima foi considerado
que o contorno da rocha não sofreu deslocamento. Como citado anteriormente,
quando há uma redução da pressão de poros uma parcela da rocha
sobrejacente é transferida para a matriz rochosa. Esse fenômeno causa
compactação do volume rochoso, acarretando uma redução do volume poroso, o
que pode ser encarado como uma expansão da matriz rochosa em direção ao
poro.
Apesar de as compressibilidades da água conata e da formação serem
consideradas pequenas quando comparadas com a compressibilidade dos
fluidos do reservatário, passam a ser significativas ao se tratar de um
reservatório subsaturado, ou seja, quando a pressão de poros é superior à
pressão de bolha. Nessas condições, essas compressibilidades não podem ser
negligenciadas, conforme descrevem Craft & Hawkins2. A tabela 2.1 apresenta
intervalos de valores típicos para esses parâmetros.
Geomecânica aplicada à engenharia de reservatórios 46
Tab. 2.1. Valores típicos de compressibilidade (de Craft & Hawkins²).
Rocha reservatório 3 – 10 x 10-6 psi-1
Água 2 – 4 x 10-6 psi-1
Óleo subsaturado 5 – 100 x 10-6 psi-1
Gás a 1000 psi 900 – 1300 x 10-6 psi-1
Gás a 5000 psi 50 – 200 x 10-6 psi-1
Segundo Poston & Berg17, informações de análise de testemunhos são
raramente disponibilizadas para estimar relações de compressibilidade em
função da pressão para a rocha reservatório. Por essa razão, há uma ampla
utilização de correlações publicadas quando se deseja determinar a
compressibilidade da formação do reservatório em estudo. A primeira correlação
considerada útil foi apresentada por Hall em 1953. Ele se baseou na análise de
12 amostras de calcáreo e arenito bem consolidados. Essa correlação indica que
a compressibilidade do volume poroso é inversamente relacionado à porosidade,
ou seja, quanto menor a porosidade, maior a compressibilidade. Isso se deve ao
fato de, em seus experimentos laboratoriais, Hall ter medido a porosidade na
condição de pressão inicial do reservatório, porém desconsiderando a tensão
efetiva proveniente das camadas sobrejacentes. Uma vez que essa correlação
foi determinada para rochas bem consolidadas, deve ser empregada com
cautela em reservatórios localizados em áreas geologicamente jovens, onde os
arenitos são menos consolidados. No caso de arenitos não consolidados e
formações altamente fraturadas essa correlação não deve ser aplicada.
Visando uma correlação que tivesse uma aplicação mais ampla, Newman19
apresentou um estudo com base em 256 amostras de arenitos e calcáreos,
representando 40 reservatórios. Além de arenitos e calcáreos consolidados,
foram apresentados resultados para arenitos friáveis e não consolidados.
Qualitativamente, essas amostras podem ser classificadas de acordo com as
definições a seguir:
Amostras consolidadas: São ditas duras, a ponto de não ser possível
quebrar suas extremidades manualmente;
Amostras friáveis: É possível cortá-las em cilindros, porém suas
extremidades podem ser quebradas com as mãos;
Geomecânica aplicada à engenharia de reservatórios 47
Amostras não consolidadas: Quebram apenas pela ação de seu peso
próprio, a não ser quando submetidas a algum tratamento especial, como
congelamento.
Os resultados obtidos por Newman19 são apresentados na figura 2.4, onde é
feita uma comparação com a curva de Hall. Poston & Berg17 chamam a atenção
para o fato de, no caso de arenitos não consolidados e friáveis, as correlações
não serem realistas, apesar das curvas apresentadas na figura 2.4. Os trechos
verticais das curvas ilustram um altíssimo grau de variação dos valores
encontrados para compressibilidade da formação para uma mesma rocha
reservatório. A figura 2.5 ilustra a grande dispersão de resultados encontrados
para o caso de arenitos friáveis. Por essa razão, na prática, em muitos casos a
compressibilidade do volume poroso da rocha é um parâmetro de ajuste , e não
uma propriedade da rocha em estudo.
Fig.2.4. Comparação entre as correlações de compressibilidade de Hall e Newman (de
Poston & Berg17).
Geomecânica aplicada à engenharia de reservatórios 48
Compressibilidade do volume poroso para arenitos friáveis (em Newman19). Fig.2.5.
Ao analisar o gráfico da figura 2.4, percebe-se uma diferença quanto ao
comportamento das curvas apresentadas: os arenitos não consolidados e
friáveis apresentam um comportamento oposto ao arenito consolidado e ao
calcáreo. Enquanto os primeiros apresentam uma compressibilidade crescente
com a porosidade, para os segundos quanto menor a porosidade, maior a
compressibilidade do volume poroso. Para uma melhor compreensão, pode ser
feita a correlação descrita a seguir.
Como a porosidade tende a diminuir com o aumento da pressão, a qual
normalmente é diretamente proporcional à profundidade, pode-se dizer que o
comportamento da curva porosidade versus compressibilidade do volume poroso
deve seguir a mesma forma da curva profundidade versus compressibilidade do
volume poroso. Assim, ao analisar a curva do arenito não consolidado na figura
2.4, percebe-se que a compressibilidade diminui com o aumento da
profundidade. Porém, o que se percebe no caso de arenito consolidado é o
inverso: quanto maior a profundidade, maior a compressibilidade. De acordo com
Newman19, para determinação dessas correlações, a porosidade foi medida em
amostras em que foram reproduzidas a mesma distribuição de poropressão em
Geomecânica aplicada à engenharia de reservatórios 49
que se encontrava no reservatório, porém com um estado de tensões atuantes
nulo. Outro fato relevante é exposto por Geertsma20 com relação à deformação
sofrida pelo material rochoso. Segundo ele, um material com alto grau de
cimentação (neste caso, arenitos consolidados e calcáreo) sofre deformações
elásticas, que é um processo reversível. Com o decréscimo desse grau de
cimentação (chegando a arenitos não consolidados e friáveis), o material passa
a sofrer deformações cataclásticas, que envolvem esmagamento das partículas
e outros constituintes do esqueleto sólido, caracterizando um comportamento
irreversível. Dessa forma, é como se os materiais consolidados sofressem pré-
adensamento durante o processo de deposição das camadas sedimentares, e
ao recompor o estado de poropressão a que estava submetido no reservatório,
apresenta uma maior compressibilidade quanto mais profundo se encontrava
sua posição inicial, já que sofreu deformações elásticas.
Os simuladores de escoamento em reservatório tradicionais geralmente
representam a variação da porosidade como função da pressão e temperatura,
de acordo com a formulação a seguir:
( ) ( )[ ]000 1 TTcppc Tf −−−+=φφ (2.46)
onde , 0p 0T e são os valores de referência. O coeficiente é a
compressibilidade da formação, definida como sendo função da pressão, e é
o coeficiente térmico da compressibilidade da rocha. Nos simuladores de
escoamento tradicionais, este é o único parâmetro que reflete o comportamento
mecânico da rocha-reservatório (Settari & Mourits
0φ fc
Tc
21). Porém, como citado
anteriormente, em muitos casos não é possível a medição deste parâmetro,
sendo necessário o uso de correlações, que nem sempre retratam a realidade.
Geomecânica aplicada à engenharia de reservatórios 50
2.3 Modelagem Geomecânica
A geomecânica é uma área interdisciplinar que envolve o estudo de
sistemas com ênfase na mecânica de vários fenômenos que interagem entre si.
Considera aspectos de numerosas disciplinas da engenharia, como civil,
mecânica, hidráulica, de materiais e geológica, com bases apropriadas na
matemática e física. Com isso, tem uma importante participação em
desenvolvimentos tecnológicos em uma vasta área de aplicação, entre os quais
se encontra a indústria do petróleo, mais especificamente a compactação e
subsidência induzidas pela produção (Zamam et al.22).
A figura 2.6 ilustra os parâmetros principais envolvidos no escoamento de
fluidos em meio poroso deformável, e como esses parâmetros teoricamente
interagem entre si. A pressão do fluido é a principal quantidade necessária para
prever o movimento do fluido e a produtividade de um reservatório. É
responsável, também, por parte do suporte das cargas transmitidas pelas rochas
adjacentes ao reservatório. Uma mudança na pressão do fluido altera o estado
de tensões efetivas, o que sugere duas formas de acoplamento do escoamento
de fluido com a deformação da rocha: acoplamento tensão–permeabilidade,
onde a deformação da rocha causa mudança da estrutura do poro, afetando a
permeabilidade e o escoamento; e acoplamento deformação–poropressão, em
que a deformação da rocha afeta a poropressão e vice-versa.
TENSÕES IN SITU
DEFORMAÇÃO DA ROCHA
PRESSÃO DE POROS
PERMEABILIDADE
Fig.2.6. Esquema de interação entre geomecânica e fluxo em um reservatório
deformável.
Geomecânica aplicada à engenharia de reservatórios 51
Várias formas de implementação dos efeitos geomecânicos na simulação
de reservatórios foram propostas. A principal diferença entre elas é o grau de
acoplamento entre o modelo geomecânico e o de escoamento.
De uma forma geral, o modelo geomecânico é embutido nos simuladores
comerciais de reservatórios de uma forma modular, a qual apresenta vários
graus de acoplamento. Esse é o caso do STARS, um simulador térmico ao qual
é acoplado um módulo que calcula a variação do volume de poro no reservatório
(Fung et al.23).
O sistema de acoplamento modular busca permitir que o código
convencional da análise de tensão possa ser usado em conjunto com um
simulador de reservatórios comercial. Para isso, tem como base a reformulação
da relação entre tensão e escoamento. Settari & Walters24, definem esse tipo de
abordagem como parcialmente acoplada já que as equações de tensão e
escoamento são resolvidas separadamente para cada incremento de tempo.
Porém, se as iterações forem feitas até a total convergência, esse método pode
resolver o problema tão rigorosamente quanto a solução totalmente acoplada
(simultânea). O acoplamento é feito através de um código de interface que
permite a comunicação entre os simuladores.
Settari e Walters24 classificam os graus de acoplamento conforme descrito
a seguir. Para um melhor entendimento, deve-se considerar a formulação geral
de um problema acoplado em elementos finitos. Após a discretização no espaço
e no tempo, o sistema pode ser escrito na forma matricial como:
=
∆∆
RF
PELLK
Tt
tδ (2.47)
onde K é a matriz de rigidez, δt∆
Pt∆
é o vetor dos incrementos de deslocamento
no tempo t , é a matriz de acoplamento para as incógnitas do escoamento, E
é a matriz de escoamento e o vetor dos incrementos das incógnitas do
reservatório (isto é, pressões, saturações e temperatura) no tempo t . Do lado
direito da equação, é o vetor das condições de força atuando no contorno e
L
FR representa o lado direito das equações de escoamento, ou seja, a parcela de
Geomecânica aplicada à engenharia de reservatórios 52
acumulação. indica a variação ocorrida ao longo de um intervalo de tempo,
isto é:
t∆
1
−1iT
nn
t δδδ −=∆ +1 , nnt PPP −=∆ +1 (2.48)
onde os subscritos n e indicam os intervalos de tempo atual e o próximo,
respectivamente.
1+n
Na notação de simuladores de reservatórios convencionais, a matriz de
escoamento é definida como a diferença entre a matriz de transmissibilidade e a
de acumulação, ou seja, . A matriz T é simétrica, dada por: mDTE −=
−
+−
+
NN
iii
TT
TTT
TT
21
2121
211
......
......
(2.49)
onde:
=
−
−
21
21
00
2i
i
n
w
TT
, ( )2121 +− +−= iii TTT (2.50)
Os subscritos e indicam as fases molhante e não-molhante,
respectivamente. A matriz é dada por:
w n
Dm
N
i
D
D
D
..
..
1
(2.51)
Geomecânica aplicada à engenharia de reservatórios 53
onde o i-ésimo bloco de é uma matriz 2 x 2: mD
=
ii
ii
dddd
i2221
1211D (2.52)
Esses termos de acumulação e transmissibilidade são discutidos com maiores
detalhes no capítulo 3.
De acordo com Settari & Walters24, a transmissibilidade é uma propriedade
do meio poroso, que define o fluido que escoa através do meio, a direção do
escoamento e sua posição no espaço, uma vez que é determinada para cada
bloco da malha. O vetor R é dado por , onde Q é o vetor das
condições de contorno na região próxima ao poço, definindo sua taxa de
produção/injeção.
nTPQR −=
2.3.1 Modelo de Duas Etapas
Os modelos de duas etapas podem ser descritos da seguinte forma: na
primeira etapa consideram apenas o modelo de escoamento, isto é, 0=∆ δt .
Assim, chega-se à hipótese assumida nos simuladores de reservatório
convencionais, uma situação de não variação das tensões, descrita pela
seguinte equação matricial:
[ ] ntm TPQPDT −=∆− (2.53)
Em alguns casos é possível considerar a pressão e/ou temperatura como
carregamentos externos, isto é, ∆ conhecido. Dessa forma, a segunda etapa
deste modelo considera a metade superior da eq. (2.47), que pode ser
desacoplada e reescrita como:
Pt
PLFK tt ∆−=∆ δ (2.54)
Geomecânica aplicada à engenharia de reservatórios 54
Na prática, essas simulações podem ser feitas de duas maneiras: (i)
através da utilização apenas do modelo de reservatórios, considerando o
reservatório indeformável em sua fronteira externa. A compressibilidade da rocha
é o único parâmetro geomecânico utilizado, de forma a permitir a deformação
interna do reservatório; (ii) utilizando a solução do reservatório para todo o
intervalo de tempo analisado, eq. (2.53), é possível computar o vetor das
incógnitas do reservatório e, a partir daí, calcular a solução de tensões
transientes através da eq. (2.54). Esse método tem como vantagens a utilização
de modelos convencionais e o fato de considerar duas histórias independentes,
sem qualquer acoplamento.
P
Ainda de acordo Settari & Walters24, uma vez que o modelo de reservatório
é normalmente desenvolvido no código de diferenças finitas, enquanto o modelo
de tensão em elementos finitos, o efeito do acoplamento através da matriz é
refletido no fato de a permeabilidade e a porosidade serem função da tensão.
TL
2.3.2 Acoplamento Explícito
De acordo com Settari & Walters24, o modelo explícito tem como base os
termos de acoplamento do passo de tempo anterior. Partindo da solução do
modelo de reservatórios e das variações de tensão conhecidas ao final do
intervalo de tempo anterior, ∆ , resolve-se a equação: ntδ
[ ] nt
Tnnt δ∆−−=∆− + LTPQPDT 1 (2.55)
Utilizando, então, a solução para o modelo de escoamento , a
solução da tensão é calculada a partir de:
1+∆ ntP
11 ++ ∆−=∆ n
tn
t PLFK δ (2.56)
Geomecânica aplicada à engenharia de reservatórios 55
Na eq. (2.55) a discretização dos termos de acumulação pode ser feita na
forma de conservação de massa. Os termos dependentes da tensão na matriz
podem ser tratados explícitamente em termos da tensão. T
O acoplamento explícito é um caso especial do sistema implícitamente
acoplado, sendo feita apenas uma iteração por passo de tempo.
2.3.3 Acoplamento Implícito
O método implícito consiste na repetição até a convergência das equações
de escoamento e tensão durante o intervalo de tempo, de acordo com:
[ ] ( ) (νν δLTPQPDT tTn
t ∆−−=∆− +1 ) (2.57a)
( ) ( )11 ++ ∆−=∆ ννδ PLFK tt , ,1=ν ... n intervalos de tempo (2.57b)
onde
, ( ) ( ) nt δδδ νν −=∆ ( ) ( ) n
t PPP −=∆ νν (2.58)
Segundo Settari & Walters24, quando a iteração (2.57) converge, obtém-se
e , e a solução é idêntica ao sistema totalmente
acoplado, conforme eq. (2.47). Ao incluir o termo do acoplamento na eq. (2.57a)
é equivalente a expandir a porosidade
( ) ( )1+= nPP ν ( ) ( )1+= nδδ ν
φ no modelo de escoamento como
função de p , T e das tensões principais ou seu primeiro invariante . Assim,
no modelo de reservatório, a porosidade é determinada diretamente através da
deformação volumétrica calculada a partir do modelo de tensão, o que é
diferente de definí-la como função da compressibilidade. O acoplamento através
das propriedades de escoamento (isto é, efeitos da tensão na matriz ) pode
ser explícito ( ) ou implícito .
1I
TnT=T ( )( )νTT =
Geomecânica aplicada à engenharia de reservatórios 56
2.3.4 Modelo de Etapa Única
Nessa abordagem, o sistema da eq. (2.47) pode ser solucionado
simultaneamente utilizando a mesma discretização. Normalmente é utilizado o
método dos elementos finitos. Como a solução de escoamento e geomecânica é
feita em um mesmo código computacional, esse modelo apresenta vantagens
de consistência interna. Serão necessários grandes esforços para que os
modelos totalmente acoplados apresentem as mesmas capacidades dos
simuladores comerciais existentes.
O FPORO se enquadra no método de solução em uma única etapa, uma
vez que os problemas de escoamento e tensões são tratados no mesmo código
de elementos finitos.
3 Descrição dos Simuladores FPORO, IMEX e STARS
Uma das formas de classificação dos simuladores de reservatório é
baseada no tipo de fluido aí contido. Os simuladores comerciais podem ser
classificados em duas categorias: Black-Oil e composicional. O primeiro é
utilizado em casos em que os processos de recuperação são pouco sensitivos à
variação composicional que ocorre nos fluidos do reservatório. A transferência
de massa é considerada como sendo função apenas da pressão. Os fatores
volume formação e a razão de solubilidade dos fluidos do reservatório são os
únicos parâmetros que governam o comportamento pressão-volume-
temperatura. Com base nessa classificação, o IMEX é um simulador Black-Oil,
em que o comportamento geomecânico da rocha é considerado de forma
aproximada através da compressibilidade da rocha, conforme apresentado no
item 2.2. Neste trabalho, o IMEX é utilizado na modelagem de um reservatório
considerando variações do tipo de óleo contido: volátil, pesado e um
intermediário, denominado Black-Oil. A formulação aqui apresentada é referente
a escoamento de um fluido monofásico compressível e outro pouco-
compressível. Essa formulação é extendida para escoamento multifásico.
Já os simuladores composicionais são utilizados quando os processos de
recuperação são sensitivos à variação composicional. Essas situações incluem,
por exemplo, reservatórios de gás condensado sob depleção primária e
reservatórios sujeitos a processos de recuperação térmica (Ertekin et al.³).
Nessa situação, o equilíbrio necessário no processo de transferência de massa
depende não só da pressão, mas também da composição do fluido. É dessa
forma que pode ser classificado o STARS, como um simulador térmico-
composicional que considera dois ou mais componentes hidrocarbonetos. Ao
STARS está acoplado um módulo geomecânico, desenvolvido em elementos
Descrição dos simuladores FPORO, IMEX e STARS 58
finitos, que inclui o efeito das tensões na simulação de reservatórios. Dessa
forma, é feita uma combinação da simulação tradicional de escoamento com
uma análise de tensões do reservatório. Esta opção pode ser acionada ou não
pelo usuário. No caso de não ser utilizada, a geomecânica é tratada de forma
aproximada através da compressibilidade da rocha, da mesma forma que no
IMEX. Tanto o IMEX quanto o STARS são softwares desenvolvidos pela
Computer Modelling Group - CMG. Suas formulações são apresentadas nos
itens 3.2 e 3.3.
O último simulador a ser estudado é o FPORO, desenvolvido internamente
pelo Grupo de Tecnologia e Engenharia de Petróleo – GTEP, da PUC-Rio. É um
modelo poro-elasto-plástico totalmente acoplado, que resolve tanto problemas
de fluxo como de tensão no mesmo código de elementos finitos. A primeira
versão deste simulador modela apenas fluxo monofásico. O FPORO utiliza uma
formulação de fluxo não-isotérmico num meio poroso deformável, o que consiste
nas equações de equilíbrio, de conservação de massa e de energia para o meio.
De acordo com Pastor14, toda a formulação matemática foi baseada na teoria de
Biot. Sua formulação é apresentada no item 3.1, a seguir.
No item 3.4, é feita uma comparação dos modelos geomecânicos dos
simuladores FPORO e STARS.
3.1 Formulação Utilizada no FPORO
3.1.1 Equação de Equilíbrio
O comportamento mecânico da rocha segue o princípio das tensões
efetivas de Terzaghi, conforme apresentado por Zienkiewicz & Taylor25:
Descrição dos simuladores FPORO, IMEX e STARS 59
pm+= 'σσ (3.1)
onde σ é a tensão total, 'σ a tensão efetiva, p a pressão de poros e um
vetor unidimensional com elementos binários, onde 1 define os componentes de
tensão normal e 0 os componentes de tensão cisalhante, isto é:
m
[ ]T000111=m (3.2)
O comportamento das rochas depende muito das partes não sólidas do
material. Desta forma, também o espaço poroso deve ser considerado. Além de
ser essencial para a produção do óleo, representa um importante papel no
comportamento mecânico da rocha (FJÆR et al.26). Com base nisso, Nur &
Byerlee27 apresentaram a eq. (3.1) de forma modificada:
pmασσ += ' (3.3)
onde α é a constante de Biot dada por:
sKK−=1α (3.4)
onde K é o módulo de compressibilidade da matriz rochosa e é o módulo de
compressibilidade dos grãos. O inverso de é denominado a
compressibilidade dos grãos.
sK
sK
Substituindo a eq. (3.4) em (3.3), obtém-se:
pKK
s
−+= 1' mσσ (3.5)
Como o esqueleto sólido é analisado sem considerar o fluido contido nos
poros, sua deformação não depende da pressão de poros. Desta forma, a
deformação da matriz rochosa pode ser descrita através da seguinte relação
constitutiva, como apresentado por Zienkiewicz & Taylor25:
Descrição dos simuladores FPORO, IMEX e STARS 60
( ) 00 '' σεεεσ +−−= TD (3.6)
onde ε é a deformação total da matriz rochosa, Tε a deformação térmica, 0ε
representa outras deformações não associadas com variações de tensões e
temperatura e 0'σ a tensão efetiva inicial. A deformação térmica Tε é dada por:
( )03TTs
T −= βε m (3.7)
onde sβ é o coeficiente de expansão térmica e T é o incremento de
temperatura.
0T−
A matriz constitutiva D depende da trajetória de tensões, podendo ser
definida através de vários modelos constitutivos, como apresentado em Desai &
Siriwardane28. O FPORO considera o modelo elastoplástico, sendo o trecho
elástico linear. De acordo com Nur & Byerlee27, a relação deslocamento-
deformação infinitesimal é expressa por:
( )ijjiij vv ,,21 −=ε (3.8)
onde é o vetor de deslocamentos do esqueleto sólido. iv
A equação de equilíbrio entre tensões totais σ , forças de corpo e
tensões especificadas no contorno
b
t Γ de um domínio Ω , pode ser obtida a
partir do princípio dos trabalhos virtuais em função do campo de deslocamentos
. Essa formulação é proposta por Zienkiewicz & Taylorv 25, e sua forma integral é
dada por:
∫∫∫ ΓΩΩ=Γ−Ω−Ω 0ddd TTT tvbvσε δδδ (3.9)
Substituindo as equações (3.5) e (3.6) em (3.9), obtém-se:
Descrição dos simuladores FPORO, IMEX e STARS 61
∫∫∫
∫∫∫∫∫
ΓΩΩ
ΩΩΩΩΩ
=Γ−Ω−Ω
−Ω+Ω+Ω−Ω−Ω
03
'00
ddpdKK
pddddd
TT
s
T
TTT
TTT
tvbvm
mDDD
δδδε
δεσδεεδεεδεεδε
(3.10)
3.1.2 Equação de Continuidade para Fluxo Monofásico
Seja um volume unitário de material poroso cujo volume total é V , volume
de poros V , e volume da fase sólida, incluindo poros não conectados V . Dessa
forma,
b
rp
V rpb VV += (3.11)
No caso de o meio estar completamente saturado, o volume de fluido V
que pode circular entre os poros deve ser igual ao próprio volume de poros, ou
seja:
f
pf VV = (3.12)
Define-se porosidade φ como a razão entre o volume ocupado pelo fluido
(que preenche totalmente os poros) e o volume total, isto é:
b
p
VV
=φ (3.13)
Aziz & Settari29 descrevem o fluxo monofásico a partir da consideração do
escoamento de um único fluido (composto por um único componente) na direção
axial em uma amostra cilíndrica, como mostrado na figura 3.1, a seguir. O
volume de controle deve ser representativo frente ao meio poroso, de forma que
suas propriedades sejam as mesmas.
Descrição dos simuladores FPORO, IMEX e STARS 62
Seja m o componente na direção x do vetor de fluxo de massa (isto é,
fluxo de massa por unidade de área por unidade de tempo) de um fluido cuja
densidade é
x&
fρ .
Fig.3.1. Fluxo linear em rocha porosa cilíndrica de comprimento ∆x
Com relação à figura 3.1, o influxo de massa através da superfície do
volume de controle, com área transversal , na posição A x , durante um intervalo
de tempo é dado por: t∆
tAmxx
∆& (3.14)
e o fluxo de massa saindo da superfície do volume de controle em
durante o intervalo de tempo ∆ é
xx ∆+
t
tAmxxx
∆∆+
& (3.15)
A diferença entre fluxo de massa que entra e o que sai deve ser igual à
soma de massa acumulada no volume de controle. A massa acumulada devido à
compressibilidade durante um intervalo de tempo é t∆
( ) tVt bf ∆
∆∂∂ φρ (3.16)
e a massa removida do volume de controle, isto é, a massa depletada (ou
acumulada) devido à produção de q~ (massa por unidade de volume por unidade
de tempo) durante um intervalo de tempo é t∆
tVq b∆∆~ (3.17)
Descrição dos simuladores FPORO, IMEX e STARS 63
Combinando esses termos em uma única equação, obtém-se:
(Massa que entra) – (Massa que sai) = (Massa acumulada)
( ) ( ) tVqVt
tAmm bbfxxxxx∆∆+
∆∂∂=∆−
∆+~φρ&& (3.18)
Dividindo tudo por e sabendo que , obtém-se: tVb∆∆ xAVb ∆=∆
( ) qtx
mmf
xxxxx ~+∂∂=
∆−
∆+ φρ&&
(3.19)
Aplicando o limite , tem-se a equação de conservação de massa para o
sistema da figura 3.1.
0→∆x
( ) qtx
mf
x ~+∂∂=
∂∂− φρ&
(3.20)
Nota-se que q~ é negativo para uma fonte (injeção), uma vez que foi assumido
positivo para produção.
É possível expressar o fluxo de massa em termos da velocidade superficial
(ou de Darcy):
xfx um ρ=& (3.21)
onde é denominada velocidade de Darcy na direção x. Substituindo (3.21) em
(3.20):
xu
( ) qtx
uf
xf ~+∂∂=
∂∂
− φρρ
(3.22)
Analogamente, para o caso tridimensional a equação de conservação de
massa para fluxo monofásico é dada por:
Descrição dos simuladores FPORO, IMEX e STARS 64
( ) qt
uz
uy
ux fzfyfxf
~+∂∂=
∂∂+
∂∂+
∂∂− φρρρρ (3.23)
ou, de uma forma mais genérica
( ) qt ff
~+∂∂=⋅∇− φρρ u (3.24)
A velocidade de Darcy é definida como o produto entre a velocidade do fluido
e a porosidade, ou seja:
u
fvu φ= (3.25)
onde é a velocidade do fluido. De acordo com Bear & Corapcioglufv 30, A
velocidade de Darcy u pode ser decomposta em duas parcelas: uma referente à
fase fluida, outra à sólida:
sf vuu φ+= (3.26)
onde é a velocidade da fase sólida. sv
De acordo com Aziz & Settari29, em complemento à equação da
continuidade (ou de conservação de massa) desenvolvida acima, é necessária
uma relação entre a taxa de escoamento e o gradiente de pressão para cada
fase. Tal relação foi formulada por Darcy (1856) para fluxo monofásico. A forma
diferencial dessa relação é
+∇−=
cf g
p gku ρµ
(3.27)
onde k é a matriz de permeabilidade absoluta do meio poroso, µ é a
viscosidade do fluido, g é o vetor de aceleração da gravidade e é uma
constante de conversão entre os sistemas de unidade. No caso de o eixo de
coordenadas da direção vertical ser crescente para baixo, pode-se escrever:
cg
z
Descrição dos simuladores FPORO, IMEX e STARS 65
zzgg
g cf
c
∇−=∇−= γρρ g (3.28)
Com a definição da eq. (3.28), a lei de Darcy pode ser reescrita como:
( )zp ∇−∇−= γµku (3.29)
Lewis & Schrefler31 apresentam a lei de Darcy na seguinte forma:
( )ghp fρµ
+∇−= ku (3.30)
onde a carga de elevação. O tensor permeabilidade usado nas equações
acima deve ser determinado experimentalmente. Na maioria dos problemas
práticos, é possível (ou mesmo necessário) adotar
h
k como um tensor diagonal,
dado por:
z
y
x
kk
k (3.31)
Se , o meio é dito isotrópico, caso contrário, anisotrópico. zyx kkk ==
A velocidade da fase fluida u pode ser expressa através da lei de Darcy: f
( )ghp ff ρµ
+∇−= ku (3.32)
Substituindo a eq. (3.26) em (3.24) e considerando o termo de produção q~ como
sendo nulo, obtém-se:
( )[ ] ( ) 0=∂∂++⋅∇ φρφρ fsff t
vu (3.33)
Descrição dos simuladores FPORO, IMEX e STARS 66
Considerando que a densidade do fluido é constante em relação às coordenadas
espaciais, e dividindo a eq. (3.33) por este termo:
( ) ( ) 01 =∂∂++⋅∇ φρ
ρφ f
fsf tvu (3.34)
Desenvolvendo a eq. (3.34) e desconsiderando a variação espacial da
porosidade:
0=∂
∂+
∂∂+⋅∇+⋅∇
ttf
fsf
ρρφφφ vu (3.35)
Por definição, a deformação volumétrica do meio poroso é dada por:
v⋅∇=vε (3.36)
A derivada em relação ao tempo da eq. (3.36) é expressa por:
sv
tv⋅∇=
∂∂ε
(3.37)
Dessa forma, pode-se escrever uma expressão para : sv⋅∇
tT
s ∂∂=⋅∇ εmv (3.38)
Substituindo a eq. (3.38) em (3.35), obtém-se:
0=∂
∂+
∂∂+
∂∂+⋅∇
tttf
f
Tf
ρρφφεφmu (3.39)
A derivada em relação ao tempo da eq. (3.13) é dada por:
( )b
s
b
b
VdV
VdVd −−= φφ 1 (3.40)
Descrição dos simuladores FPORO, IMEX e STARS 67
Na eq. (3.40), o termo b
b
VdV
corresponde à deformação volumétrica d vε . Ou
seja:
εε ddVdV T
vb
b m== (3.41)
Com relação ao termo relativo à variação do volume de grãos b
s
VdV
, em
Hudson32, Detournay & Cheng apresentam uma forma de obtenção a partir da
consideração da resposta volumétrica de um material poroelástico sujeito a uma
tensão total P e uma pressão de poros p . Este carregamento pode ser
decomposto em duas parcelas. A primeira corresponde à tensão efetiva de
Terzaghi: (pressão de poros nula); a segunda componente considera
a pressão confinante com igual magnitude à pressão de poros: . Para um
material poroso ideal, que caracteriza-se por apresentar os poros totalmente
conectados e pelo material da matriz rochosa ser homogêneo e isotrópico, pode-
se dizer:
pP −' P=
pp ='
( ) sss
s
Kp
KP
VV '
1' −
−−=∆
φ (3.42)
Sabendo que:
3σTP m−= (3.43)
e
( ) bs VV φ−= 1 (3.44)
Aplicando as definições de 'P e ' , e substituindo as equações (3.43) e (3.44)
em (3.42), obtém-se:
p
Descrição dos simuladores FPORO, IMEX e STARS 68
( )ss
T
b
s
Kp
K
p
VV φ
σ−−
+=∆ 13m
(3.45)
No limite:
( )ss
T
b
s
Kdp
K
dpd
VdV φ
σ−−
+= 13m
(3.46)
A derivada da eq. (3.5) é dada por:
dpKKdds
−+= 1' mσσ (3.47)
Substituindo a eq. (3.47) em (3.46):
( )ss
s
T
b
s
Kdp
K
dpdpKKd
VdV φ
σ−−
+
−+
= 11'
3mm
(3.48)
Na eq. (3.48), o segundo pode ser substituído por dp dpTmm31 :
( )ss
T
s
T
b
s
Kdp
K
dpdpKKd
VdV φ
σ−−
+
−+
= 1311'
3mmmm
(3.49)
A derivada da eq. (3.6) é dada por:
( )Tddd εεσ −=D' (3.50)
Substituindo a eq. (3.50) em (3.49) e rearranjando os termos:
Descrição dos simuladores FPORO, IMEX e STARS 69
( ) ( ) dpKK
KKdd
VdV
sss
TT
b
s
−++
−= 2
13
φεεDm (3.51)
Substituindo as equações (3.41) e (3.51) em (3.40):
( ) ( ) ( ) dpKK
KKdd
ddsss
TT
T
−+−
−−−= 2
13
1 φεεφεφ Dmm (3.52)
A derivada da eq. (3.52) em relação ao tempo é dada por:
( ) ( )tp
KK
KttKtt ss
T
s
TT
∂∂
−+−
∂∂
−∂∂−−
∂∂=
∂∂
2
13
1 φεεφεφ Dmm (3.53)
A formulação acima, conforme apresentada por Detournay & Cheng32, não
considera a dependência da densidade do sólido sρ em relação à temperatura.
Lewis & Schrefler31 propõem a inclusão desta consideração através da correção
do termo correspondente à taxa de variação do volume dos grãos devido a
variações de pressão no problema isotérmico. Esse termo é representado por:
( )tp
Ks ∂∂−φ1
(3.54)
A compressibilidade dos grãos (inverso ao módulo de compressibilidade) é
definida por:
cteT
s
ss pK=
∂∂= ρ
ρ11
(3.55)
Assim, a expressão (3.54) pode ser reescrita da seguinte forma:
( )tp
ps
s ∂∂
∂∂
−ρ
ρφ 11 (3.56)
Na análise não-isotérmica, a densidade do sólido é função da pressão e da
temperatura, ou seja:
Descrição dos simuladores FPORO, IMEX e STARS 70
( )Tpss ,ρρ = (3.57)
Dessa forma, a eq. (3.56) deve ser estendida para:
( )
∂∂
∂∂+
∂∂
∂∂−
tT
Ttp
p p
s
T
s
s
ρρρ
φ 11 (3.58)
Por definição, sabe-se que o coeficiente de expansão térmica do sólido é dado
por:
ctep
s
ss T =∂
∂−= ρρ
β 1 (3.59)
Assim, substituindo o termo corrigido expresso em (3.58), e considerando as
definições das equações (3.55) e (3.59) em (3.53), obtém-se:
( ) ( ) ( )tT
tp
KK
KttKtt sss
T
s
TT
∂∂−−
∂∂
−+−
∂
∂−
∂∂−−
∂∂=
∂∂ βφφεεφεφ 11
31 2
Dmm (3.60)
A integral desta equação no tempo, procedimento inverso ao utilizado na
obtenção da eq. (3.53), fornece a seguinte expressão:
( ) ( ) ( ) ( ) dTdpKK
KKdddd s
sss
TT
T βφφεεφεφ −−
−−+−−−= 11
31 2
Dmm (3.61)
A eq. (3.61) representa a variação efetiva da porosidade em função das
variações de deformação, pressão e temperatura.
A derivada da eq. (3.7) em relação ao tempo é dada por:
tT
tsT
∂∂=
∂∂
3βε m (3.62)
Descrição dos simuladores FPORO, IMEX e STARS 71
Substituindo a eq. (3.62) em (3.60) e rearranjando os termos:
( ) ( ) ( )tp
KK
KtT
KtKt sss
T
ss
T
∂∂
−
+−
∂∂
−−+
∂∂
−−=
∂∂
2
11
931
φφβεφφ DmmDm (3.63)
A consideração da variação da densidade do sólido em relação à pressão
e temperatura deve ser repetida para a densidade do fluido, ou seja:
( )Tpff ,ρρ = (3.64)
Dessa forma:
dtTd
Tdtpd
pdtd w
p
fw
T
ffw
∂∂
+∂
∂=
ρρρ (3.65)
Onde ( ) ( ) ( )∇⋅+
∂∂= w
w
tdtd v é a derivada material, é o vetor dos
deslocamentos do fluido.
wv
Sejam as definições de módulo de compressibilidade do fluido, à
temperatura constante:
cteT
f
ffp pK
=∂
∂==
ρρ
β 11 (3.66)
e o coeficiente de expansão térmica do fluido à pressão constante:
ctep
f
fT T =∂
∂−=
ρρ
β 1 (3.67)
Com base nessas definições, a eq. (3.65) pode ser reescrita da seguinte forma:
dtTd
dtpd
Kdtd w
Tfw
f
ffw βρρρ
−= (3.68)
Descrição dos simuladores FPORO, IMEX e STARS 72
Ao analisar a derivada material, pode-se considerar que ( ) ( )tw ∂
∂<<∇⋅v .
Dessa forma, essa derivada pode ser aproximada pela derivada parcial, isto é
( ) ( )tdt
dw∂
∂≅ . Fisicamente, isso significa que apesar de o meio poroso sofrer
deformações, permanece estacionário. Dessa forma, a eq. (3.68) pode ser
reescrita como:
tT
tp
Kt Tff
ff
∂∂−
∂∂=
∂∂
βρρρ
(3.69)
Substituindo as equações (3.32), (3.63) e (3.69) em (3.39), obtém-se
( ) ( )
( ) ( ) 0119
31
2 =
∂∂−
∂∂+
∂∂
−+−
∂∂
−−
+∂∂
−−+
∂∂+
+∇−⋅∇
tT
tp
Ktp
KK
KtT
K
tKtghp
Tff
f
fsss
T
s
s
TTf
T
βρρ
ρφφφβ
εφεφρµ
Dmm
Dmmk
(3.70)
Rearranjando os termos:
( ) ( )
( ) 019
13 2
=∂∂
−−−
+∂∂
−++−
∂∂
−+
+∇⋅∇−
tT
K
tp
KK
KKtKghp
Tss
sT
sfss
TT
fT
φββφβ
φφερµ
Dmm
Dmmk
(3.71)
A eq. (3.71) é denominada equação de equilíbrio para escoamento de fluido
monofásico não-isotérmico.
Descrição dos simuladores FPORO, IMEX e STARS 73
3.1.3 Equação de Conservação de Energia
A equação da conservação de energia, apresentada por Bear &
Corapcioglu30, considera que o fluido contido nos poros não muda de fase,
permanecendo na fase líquida. É dada por:
ff
fffff
vff
fTpTT
tT
c vJv ∇
∂∂−⋅−∇=
∇⋅+
∂∂
φφφρρ
(3.72)
onde é o calor específico do fluido, velocidade do fluido, T a
temperatura do fluido e é o fluxo de calor por condução no fluido. A eq.
(3.72) é uma extensão para meios porosos da equação proposta por Bird et al.
vfc fv f
fJ33
para meios contínuos. Os termos do lado esquerdo da equação expressam a
dependência da energia em relação ao tempo e a variação da energia devido à
convecção. Já o lado direito apresenta a variação de energia por condução e a
variação reversível de energia provocada por compressão.
De forma análoga, a conservação de energia para a fase sólida é dada
por:
( ) ( ) ( )t
TTtTc v
sssss
vss ∂∂−−−⋅−∇=
∇⋅+
∂∂− εβφφρφ 111 Jv (3.73)
onde é o calor específico do sólido, velocidade do sólido, a
temperatura do sólido, é o fluxo de calor por condução no sólido e
vsc sv sT
sJ
( ) TLL αµλβ 23 += (3.74)
Na eq. (3.74), Tα é o coeficiente de dilatação térmica, e Lλ e Lµ são as
constantes de Lamé. O segundo termo do lado direito da eq. (3.73) indica a
variação reversível de energia provocada por deformação.
Descrição dos simuladores FPORO, IMEX e STARS 74
No desenvolvimento da equação de conservação de energia, é assumida a
hipótese de que em dado ponto o fluido, o sólido e o meio poroso como um todo
se encontram à mesma temperatura média, ou seja:
fs TTT == (3.75)
Essa consideração é baseada em duas hipóteses: a primeira, de os grãos serem
pequenos em relação ao tamanho dos canais através dos quais o fluido escoa,
de forma a não haver entupimento dos mesmos; e a segunda, em que o
equilíbrio de temperatura entre fluidos e sólidos é alcançado rapidamente
quando comparado a outros processos de transporte que ocorrem no domínio.
Desta forma, a partir das equações (3.72), (3.73) e (3.75), a equação da
conservação de energia é dada por:
( )[ ] ( )[ ]
( )[ ] ( )
∂∂−−⋅∇
∂∂−−+⋅∇−
=∇−++∂∂−+
tT
TpT
TcctTcc
vfsf
svssfvffvssvff
f
εβφφφφ
ρφφρρφφρ
ρ
11
11
vJJ
vv
(3.76)
Como para a condução de calor a lei de Fourier é válida, podem ser feitas
as seguintes definições:
TfTf ∇−= λJ e T
sTs ∇−= λJ (3.77)
onde fT
λ e sT
λ são os tensores de condutividade térmica das fases fluida e
sólida, respectivamente.
O termo Tp ∂∂ da eq. (3.76) pode ser reescrito com base nas equações
(3.66) e (3.67):
constanteTp
ff p
T ==
∂∂
ρρ ββ
(3.78)
Descrição dos simuladores FPORO, IMEX e STARS 75
Substituindo as equações (3.77) e (3.78) em (3.76), obtém-se uma outra forma
da equação de conservação de energia:
( ) ( ) ( ) 01 =
∂∂−+∇+∇∇−∇+
∂∂
tTTTTc
tTc v
fT
p
Tm
TTfvffmv
εβφφββφρρ vΛv (3.79)
onde
( ) ( ) vssvffmv ccc ρφφρρ −+= 1 (3.80)
ρ é a densidade da rocha, é o calor específico da rocha, é o coeficiente
de condutividade térmica do meio poroso como um todo, dado por:
vc mΛ
( ) sfm λφφλ −+= 1Λ (3.81)
A eq. (3.80) representa a capacidade de aquecimento por unidade de volume do
meio poroso.
3.2 Formulação Utilizada no IMEX
3.2.1 Escoamento Monofásico Pouco-Compressível
Segundo Aziz & Settari29, no escoamento de fluidos pouco compressíveis é
possível assumir a compressibilidade do fluido, definida por:
T
f
fT
f
ffl pp
VV
c∂
∂=
∂∂
−=ρ
ρ11
(3.82)
Descrição dos simuladores FPORO, IMEX e STARS 76
constante em um intervalo de pressões de interesse. Ao integrar a eq. (3.82) ao
longo do intervalo de interesse, obtém-se:
( )[ ]ofl
off ppc −= expρρ (3.83)
onde é a densidade na pressão de referência . Seja a definição de fator
volume formação
ofρ op
B dada por:
[ ][ ]STC
RC
VVB = (3.84)
onde é o volume ocupado por uma dada massa de fluido em condições de
pressão e temperatura do reservatório, e [ ] é o volume ocupado pelo
mesmo componente em condições padrão, ou seja, pressão de 101,35 kPa (ou
14,7 psia) e temperatura de 15.5 º C (ou 60º F).
[ ]RCV
STCV
A partir dessa definição, nota-se que:
( )[ ] ( ) ( ) ...!211exp 22
0 +−+−+=−== ofl
ofl
ofl
o
f
f ppcppcppcBB
ρρ
(3.85)
onde oB é o fator volume formação em . op
Considerando apenas os dois primeiros termos da expansão, já que c é
pequeno (na ordem de 10
fl
-6 psi-1), tem-se:
( )[ ]ofl
o
ppcBB
−+=1
(3.86)
Se a variação do volume poroso com a pressão for significativa, deve ser
considerada através da seguinte relação:
( )[ ]of
o ppc −+= 1φφ (3.87)
Descrição dos simuladores FPORO, IMEX e STARS 77
onde é a compressibilidade da formação. fc
Substituindo a eq. (3.29) em (3.24), obtém-se
( ) ( ) qt
zpk
ff ~+
∂∂=∇−∇⋅∇ φργ
µρ
(3.88)
Dividindo essa expressão por stcf ,ρ e aplicando a definição de fator volume
formação B :
( )[ ] qBt
zp +
∂∂=∇−∇⋅∇ φγλ (3.89)
onde λ é a transmissibilidade definida por Bk
µλ = . O termo da derivada em
relação ao tempo da equação acima pode ser expressa em termos de tp ∂∂
utilizando a expressão para B1 , dada na eq. (3.86), e para φ pela eq. (3.87).
Com isso, a eq. (3.89) pode ser reescrita como
( )[ ] qtp
Bc
Bc
zp foofl +
∂∂
+=∇−∇⋅∇ φφγλ (3.90)
Outra forma da equação de escoamento é obtida pela substituição de
(3.83) em (3.88), e negligenciando os termos envolvendo o quadrado do
gradiente de pressão multiplicado por c , por ser pequeno em comparação com
os outros termos. A equação resultante é
fl
qkt
pkc
pf
fl ~2
ρµφµ
+∂∂=∇ (3.91)
Ao escrever a equação acima, conhecida como equação da difusividade,
também foi assumido que as propriedades do fluido são constantes, enquanto
e os termos gravitacionais são negligenciados. fc
Descrição dos simuladores FPORO, IMEX e STARS 78
Pode-se também expressar as equações de conservação de uma forma
que não envolve explicitamente os termos de gravidade. Isso pode ser feito
através da definição de potencial, introduzido por Hubbert em 1940, 1956 e
apresentado em Aziz & Settari29.
Define-se:
zdpp
p
−=Φ ∫0 γ
(3.92)
A lei de Darcy pode ser reescrita como:
( ) Φ∇−=∇−∇−= γµ
γµ
kzpku (3.93)
Enquanto a equação de escoamento para fluido monofásico assume a seguinte
forma:
[ ] qtppc +
∂∂=Φ∇⋅∇ γλγ )( (3.94)
onde
( )Bc
Bdpdpc foφφ +
= 1
(3.95)
3.2.2 Escoamento Monofásico Compressível
Para fluidos monofásicos compressíveis, utiliza-se a eq. (3.89) acima
deduzida:
Descrição dos simuladores FPORO, IMEX e STARS 79
( )[ ] qBt
zp +
∂∂=∇−∇⋅∇ φγλ (3.89 bis)
No caso de escoamento de gás, não é apropriado adotar a
compressibilidade constante. Conforme descrevem Aziz & Settari29, a equação
de fluxo deve ser da seguinte forma:
( )[ ] ( ) qtppczp +
∂∂=∇−∇⋅∇ γλ (3.96)
Outra forma da equação é obtida a partir da lei dos gases:
ZRTpMm
g =ρ (3.97)
onde gρ é a densidade do gás, e , mM Z e R são a massa molar, fator de
compressibilidade e constante dos gases, respectivamente.
Substituindo a eq. (3.97) em (3.88) e negligenciando os termos
gravitacionais, que são normalmente pequenos para fluxo de gás, obtém-se:
qkM
RTZp
tkp
Zp
m
~+
∂∂=
∇⋅∇ φ
µ (3.98)
Na equação acima, φ e k são constantes. De acordo com Al-Hussainy et
al. (1966), conforme apresentado por Aziz & Settari29, sabendo que
, pode-se escrever que: 22 ppp ∇=∇⋅
( )[ ]( ) qkM
ZRTZp
tkZpZ
dpdp
m
~22ln 222
22 µφµµ +
∂∂=∇−∇ (3.99)
A derivada do lado direito da eq. (3.99) pode ser escrita como
tp
Zpc
Zp
tg
∂∂=
∂∂
(3.100)
Descrição dos simuladores FPORO, IMEX e STARS 80
onde é a compressibilidade do gás, dada por: gc
dpdZ
Zpdpd
cT
g
gg
111 −==ρ
ρ (3.101)
Substituindo a eq. (3.100) em (3.99) e negligenciando o segundo termo do
lado esquerdo desta, obtém-se:
qkM
ZRTtp
kc
pm
g ~2222 µφµ
+∂
∂=∇ (3.102)
3.2.3 Escoamento Multifásico
De acordo com Aziz & Settari29, ao substituir a definição apresentada na
eq. (3.21) na lei de conservação de massa para escoamento monofásico, a eq.
(3.24) pode ser generalizada da seguinte forma para escoamento multifásico:
( )l
l qtm ~+∂
∂=⋅∇− lm& (3.103)
onde é a massa da fase l (óleo, água ou gás) em um volume unitário do
meio, é o fluxo de massa do componente l e é a taxa de efluxo de
massa por unidade de volume.
lm
lm& lm&⋅∇
No modelo Black-Oil é assumida a existência de 3 fases distintas: óleo,
água e gás. Os dois primeiros são considerados imiscíveis, enquanto o gás é
solúvel no óleo, mas não na água. Ao considerar a solubilidade do gás igual a
zero nas condições padrão, pode-se definir o óleo no reservatório como sendo
uma solução de 2 componentes: óleo e gás, também em condições padrão.
Nessa análise, assume-se que os fluidos estão à temperatura constante e em
equilíbrio termodinâmico ao longo do reservatório. Sob essas condições, o
Descrição dos simuladores FPORO, IMEX e STARS 81
comportamento pressão-volume-temperatura (PVT) do sistema pode ser
expresso pelos fatores volume formação, definidos abaixo:
[ ][ ] ( )o
STCo
RCdgoo pf
VVV
B =+
= (3.104)
[ ][ ] ( )w
STCw
RCww pf
VV
B == (3.105)
[ ][ ] ( )g
STCg
RCgg pf
VV
B == (3.106)
onde é o volume ocupado por uma massa fixa do componente nas
condições de reservatório e [ ] é o volume ocupado pelo mesmo
componente em condições padrão. A transferência de massa entre as fases óleo
e gás é descrita através da razão de solubilidade gás-óleo:
[ ]RClV
STClV
( )0pfVV
RSTCo
dgso =
= (3.107)
Esta equação fornece a quantidade de gás dissolvido no óleo como função
da pressão da fase oleica. Ainda de acordo com Aziz & Settari29, as densidades
das três fases nas condições de reservatório são relacionadas às densidades em
condições padrão através das seguintes relações:
( )STCdgsoSTCoo
o RB ,,1 ρρρ += (3.108)
( )STCww
w B ,1 ρρ = (3.109)
( )STCgg
g B ,1 ρρ = (3.110)
A densidade do óleo também pode ser expressa como:
Descrição dos simuladores FPORO, IMEX e STARS 82
dgoo ρρρ += (3.111)
onde oρ e dgρ são as densidades dos dois componentes, dadas por:
STCoo
o B ,1 ρρ = (3.112)
STCdgo
sodg B
R,ρρ = (3.113)
A saturação da fase , , é a fração do volume poroso ocupado por esta
fase. A equação de conservação de massa para cada componente pode ser
escrita através da equação (3.103). Para o componente óleo na fase oleica:
l lS
oo um oρ=& (3.114)
ooo Sm φρ= (3.115)
Sustituindo as equações (3.18) e (3.19) em (3.103), e dividindo por STCo,ρ :
oooo
qSBtB
+
∂∂=
⋅∇− φ11
ou (3.116)
onde
STCo
oo
qq,
~
ρ= (3.117)
Todos os termos da equação (3.117) tem a dimensão tempoVolume
Volume
RC
STC 1⋅
.
Analogamente, a equação para a fase aquosa é dada por:
Descrição dos simuladores FPORO, IMEX e STARS 83
wwww
qSBtB
+
∂∂=
⋅∇− φ11
wu (3.118)
onde
STCw
ww
qq,
~
ρ= (3.119)
O componente gás existe tanto na fase gás quanto em solução na fase
óleo:
ogg uum dgg ρρ +=& (3.120)
[ ]odgggg SSm ρρφ += (3.121)
STCgsofgSTCo
gsofgdgfgg RqqRqqqqq ,
~~~~~~ ρρρ
+=
+=+= (3.122)
onde fgq~ é a vazão mássica do gás livre.
Substituindo na equação (3.103), obtém-se a equação final do gás:
osofggg
oo
so
go
so qRqSB
SBR
tBBR ++
+
∂∂=
+⋅∇− 11 φgo uu (3.123)
Os termos , e representam o volume produzido em condições padrão
por unidade de tempo, por unidade de volume em condições de reservatório.
oq wq gq
A lei de Darcy pode ser extendida para descrever o escoamento
simultâneo de mais de uma fase. De acordo com Aziz & Settari29, a eq. (3.29)
pode ser reescrita da seguinte forma:
Descrição dos simuladores FPORO, IMEX e STARS 84
( )zpkkll
l
rll ∇−∇−= γ
µu (3.124)
onde c
ll ggργ = e =o, w, g (óleo, água ou gás, respectivamente) e é a
permeabilidade relativa da fase l .
l rlk
A eq. (3.124) pode ser substituída na equação de conservação de massa
para cada fase (equações 3.116, 3.118 e 3.123), obtendo as seguintes equações
de escoamento:
( )[ ] oo
oooo q
BS
tzp +
∂∂=∇−∇⋅∇ φγλ (3.125)
( )[ ] ww
wwww q
BS
tzp +
∂∂=∇−∇⋅∇ φγλ (3.126)
( ) ( )[ ] fgosog
go
o
sogggoooso qqR
BS
SBR
tzpzpR ++
+
∂∂=∇−∇+∇−∇⋅∇ φγλγλ (3.127)
onde as transmissibilidades lλ são definidas como
kBk
ll
rll µ
λ = (3.128)
Enquanto a equação de conservação é suficiente para descrever o fluxo
monofásico, uma vez que a única variável dependente é p, o mesmo não ocorre
para fluxo multifásico: as eq. (3.125) a (3.127) contém 6 variáveis dependentes.
Assim, faz-se necessária a inclusão de relações adicionais para completar a
descrição:
1=++ gwo SSS (3.129)
( )gwwocow SSfppP ,=−= (3.130)
Descrição dos simuladores FPORO, IMEX e STARS 85
( )gwogcog SSfppP ,=−= (3.131)
Essas relações entre pressões de capilaridade e saturações são, geralmente,
empíricas.
3.3 Formulação Utilizada no STARS
3.3.1 Formulação Térmica-Composicional
A formulação térmica visa modelar processos como o de injeção de vapor,
em que o vapor é utilizado para aquecer a seção de um reservatório, de forma a
assegurar o aumento das taxas de produção através da redução da viscosidade
do óleo. De uma forma geral, pode-se dizer que a idéia base desse processo é o
de injetar energia térmica na formação de interesse, permitindo que a rocha
aquecida faça transferência de calor para aquecer o óleo em escoamento,
reduzindo sua viscosidade. Além da redução de viscosidade do óleo, outros
mecanismos estão associados a esse método de recuperação avançada, como
a expansão térmica e a alteração de molhabilidade. De acordo com Mattax &
Dalton6, o sucesso econômico de uma operação de injeção de vapor depende da
eficiência com a qual o óleo é recuperado, ou seja, o grau com o qual o óleo é
deslocado dos poros da rocha reservatório, e da eficiência de varrido. Por este,
entende-se a fração do volume do reservatório atingido pela injeção.
Do ponto de vista de modelagem, a maior dificuldade ao reproduzir o
processo de injeção de vapor é a estabilidade computacional. As equações de
balanço de massa e energia são fortemente não-lineares e praticamente
acopladas, o que causa problemas de estabilidade. O processo físico que leva a
esses problemas computacionais é descrito a seguir: O vapor injetado sofre
condensação conforme sua movimentação através do reservatório, o que causa
Descrição dos simuladores FPORO, IMEX e STARS 86
grande variação de volume. Essa variação afeta o balanço de massa, o qual, por
sua vez, determina como os fluidos, incluindo o vapor, se movimentam através
do reservatório. Assim, a variação de volume afeta também o balanço de
energia, que determina a quantidade de vapor que sofre condensação. Em
outras palavras, a movimentaçao dos fluidos afeta em muito o movimento da
energia, e vice-versa. Esse acoplamento se traduz na necessidade das
equações que representam os balanços serem solucionadas simultaneamente.
Além das dificuldades numéricas descritas, outra barreira na modelagem
de injeção de vapor é devida à complexidade do processo em si. As
propriedades do fluido dependem de sua composição, pressão e temperatura. O
comportamento de fase deve ser conhecido em várias temperaturas e a perda
de calor às rochas adjacentes também deve ser considerada. Com relação ao
transporte de calor, este ocorre predominantemente na direção vertical, podendo
ser ignorada a condução no plano paralelo ao topo do reservatório. Desta forma,
o cálculo da perda de calor às camadas superiores pode ser feito na forma de
cálculos individuais em apenas uma direção, um para cada coluna da malha.
Outra consideração a ser feita ao simular injeção de vapor é a representação
adequada do escorregamento do vapor em relação ao óleo. Esse fenômeno
ocorre principalmente devido à diferença de densidade. Para modelá-lo é preciso
definir as células da malha estreitas o suficiente de modo a permitir o
escoamento de vapor nas camadas superiores do reservatório.
Segundo Mattax & Dalton6, na formulação composicional, a equação de
conservação é desenvolvida para cada um dos componentes que descrevem o
fluido de interesse. Dessa forma, os componentes do fluido de interesse são
agrupados, formando os pseudo-componentes. O número de pseudo-
componentes a ser utilizado visando uma simulação adequada depende do
processo a ser modelado e do nível de detalhamento desejado. Por exemplo, ao
modelar a injeção de CO2, basta a definição de três componentes (óleo, gás e
CO2), além da água. No caso de um processo mais elaborado, será necessário
um maior número de pseudo-componentes.
Na formulação composicional deve ser considerada a equação de
conservação para a água, já que esta também coexiste no reservatório. No caso
térmico, a equação de balanço de material da água deve refletir o fato de que a
água pode existir nas fases aquosa e vapor (Mattax & Dalton6):
Descrição dos simuladores FPORO, IMEX e STARS 87
( ) ([ ]ggwwwwggmgwwwmw SySt
qy ξξφλξλξ +∂∂=+Φ∇+Φ∇⋅∇ ,, ) (3.132)
Nota-se que nesta equação não foi considerado o transporte de nenhum
outro componente além da água na fase aquosa. Esta hipótese tende a ser
conservadora, porém é a forma usual considerada nos programas.
Ainda segundo Mattax & Dalton6, a equação para o componente
hidrocarboneto ν considera seu escoamento tanto na fase oleica quanto
gasosa:
( ) ( )[ ]ggooggmgoomo SySxt
qyx ξξφλξλξ ννννν +∂∂=+Φ∇+Φ∇⋅∇ ,, (3.133)
Nas equações acima, mλ é a mobilidade da fase ( µλ rm kk= ), é o
potencial da fase,
Φ
ξ é a massa específica molar da fase, e são as frações
molares do componente nas fases líquida e gasosa, respectivamente, e é a
taxa de injeção ou produção do componente v .
v vyx
v vq
A equação da energia é dada por:
( )
( ) ( )[ ]gggwwwoovf
Hggggewwwweooooeh
SUSUSUTCt
qHHHTk
ξξξφρφ
λξλξλξ
+++−∂∂
=+Φ∇+Φ∇+Φ∇+∇⋅∇
1
,,,
(3.134)
onde é a condutividade térmica da rocha e dos fluidos aí contidos, hk T é a
temperatura, é a entalpia específica, U é a energia específica interna, eH ρ é
a densidade da rocha correspondente à porosidade inicial, é a capacidade
de calor da rocha e é a taxa de injeção ou produção da entalpia (Mattax &
Dalton
fC
Hq6).
Descrição dos simuladores FPORO, IMEX e STARS 88
3.4 Comparação dos Modelos Geomecânicos de Reservatório nos Simuladores FPORO e STARS
O FPORO é um simulador térmico totalmente acoplado que soluciona as
equações de escoamento e tensão em um mesmo código de elementos finitos.
Em sua análise, ele considera não apenas a rocha-reservatório, mas também as
camadas sobre-, sub- e adjacentes. O material é tratado com base na
formulação poro-elasto-plástica. Já o simulador comercial STARS com o módulo
geomecânico caracteriza-se por fazer uma análise acoplada elasto-plástica em
elementos finitos da formação do reservatório através de um conjunto de
condições de contorno de deslocamentos e tensão efetivas, de acordo com Fung
et al.23
Segundo Pastor14, em sua primeira versão o FPORO considera
escoamento monofásico ao longo do reservatório. O fluido analisado é
Newtoniano, compressível e não muda de fase durante seu deslocamento no
reservatório. O STARS, como descrito anteriormente, é um simulador
composicional, que considera mais de dois componentes hidrocarbonetos.
Na solução de um problema, para cada iteração, o processo de solução do
sistema de equações não-lineares no FPORO é realizado em três passos:
(i) Mantendo o campo de temperaturas constante, são resolvidas as
equações de equilíbrio e continuidade, até a convergência;
(ii) Mantendo os campos de deslocamentos e de pressões constantes,
resultantes de (i), é resolvida a equação de energia até a
convergência.;
(iii) O processo é repetido até que a convergência seja alcançada.
Uma nova versão do FPORO considera a variação da permeabilidade em
folhelhos durante a perfuração do poço, de acordo com Araújo34. Novas relações
de variação de permeabilidade estão em fase de implementação com o objetivo
Descrição dos simuladores FPORO, IMEX e STARS 89
de analisar a variação desta propriedade no reservatório decorrente do início da
produção.
De acordo com Fung et al.23, atualmente o modelo geomecânico da CMG
está acoplado ao simulador térmico STARS. A implementação do acoplamento
entre o modelo geomecânico e o simulador de reservatório se dá da seguinte
forma:
(i) Para um dado passo de tempo, são calculadas as variações de
temperatura e pressão, a partir das quais são computadas as
cargas distribuídas no sistema;
(ii) A mudança no volume poroso pode ser causado pela combinação
das tensões compressivas/de tração ou cisalhantes. Assim, a partir
da aplicação das cargas calculadas em (i), é feito um incremento na
análise de tensão através do cálculo da variação total de volume
para cada elemento. Já que há uma correspondência de um-para-
um entre o grid de elementos finitos e o do reservatório, a variação
volumétrica em cada elemento é a mesma para o bloco do
reservatório. A permeabilidade efetiva é calculada como uma
função da variação do volume poroso. O índice de produtividade do
poço (IP) também é modificado para refletir a variação da
permeabilidade dos blocos através dos quais o poço é completado.
(iii) A variação do volume poroso calculada em (ii) é usada para
atualizar de forma explícita a compressibilidade da rocha. As
variações no volume poroso e as mudanças associadas nas
transmissibilidades são usadas no modelo do reservatório para
calcular balanços de massa e energia.
(iv) O simulador de reservatórios sofre iterações para convergência no
próximo passo de tempo, o que leva de volta ao cálculo das cargas
distribuídas no sistema.
4 Comparação dos Simuladores FPORO-STARS
A diferença básica entre os simuladores desenvolvidos pela PUC-Rio e
pela CMG consiste na consideração das camadas adjacentes ao reservatório no
primeiro, além deste ser um modelo totalmente acoplado, enquanto o segundo
considera apenas o reservatório e utiliza um acoplamento explícito. Com o intuito
de fazer uma comparação entre os simuladores FPORO e STARS, foi utilizado o
modelo apresentado em Pastor14. Este modelo bidimensional tem 3000 metros
de comprimento, uma espessura de 300 metros, e seu topo está situado a 3000
metros de profundidade. O reservatório está saturado com um fluido com as
mesmas propriedades da água, e produz através de um único poço situado em
uma de suas extremidades, conforme indicado no esquema da figura 4.1a:
z
x
3000 m
300 m
700 m
Poço
Overburden
Underburden
Reservatório
3000 m (a) (b)
Fig.4.1. (a) Modelo do reservatório simulado; (b) malha cartesiana utilizada no STARS.
A malha utilizada está representada na figura 4.1b, e consiste em 30
blocos na direção x, um na direção y, que corresponde à largura do reservatório,
enquanto na direção z, com numeração crescente no sentido descendente, 32
camadas. A primeira, com apenas 10 cm de espessura, foi saturada com óleo a
fim de garantir a consistência do modelo. Abaixo desta, a 3000 metros de
Comparação dos simuladores FPORO-STARS 91
profundidade, seguem as demais 31 camadas, todas saturadas com água. A
caracterização deste reservatório, assim como do fluido com o qual está
preenchido, foi feita de acordo com os dados apresentados em Pastor14, e aqui
reproduzidos na tabela 4.1. Com base nesse modelo, foi analisada a situação de
pressão especificada em um sistema bidimensional com escoamento linear.
Tab. 4.1. Dados da rocha-reservatório utilizados nas simulações.
DADOS DO RESERVATÓRIO
Porosidade (%) 40
Módulo de Young E (Mpa) 280
Coeficiente de Poisson ν 0,2
Temperaturada (ºC) 20
Permeabilidade k (m²) 1x10-14 ( = 10 md)
Compressibilidade da rocha (1/kPa) 6,43E-6
DADOS DO FLUIDO
Módulo de compressibilidade Kf (Mpa) 1000
Viscosidade (cp) 1,0
DADOS DO POÇO
Pressão de fundo de poço a 3150 m de prof. (kPa) 10500
Raio (m) 0,127
ESTADO INICIAL DE TENSÕES
PROF.
(m)
PRESSÃO
(kPa)
TENSÃO
VERTICAL (kPa)
TENSÃO HORIZONTAL
(kPa)
3000 30500 62000 55000
3150 31500 65000 57700
3300 33000 68200 60500
Os dados das camadas sobrejacentes utilizados por Pastor14 são
apresentados na tabela 4.2.
Comparação dos simuladores FPORO-STARS 92
Tab. 4.2. Dados das rochas adjacentes utilizados por Pastor14.
φ (%) E (Mpa) ν Kf (Mpa) k (m²)
280 5
5000 0,2 1000 1 x 10-19
Com relação à discretização no tempo, o FPORO utilizou os incrementos
apresentados na tabela 4.3 a seguir:
Tab. 4.3. Incrementos de tempo utilizados no FPORO (Pastor14).
Tempo (s) ∆t (s)
0 – 10 1
10 – 10² 10
10² - 10³ 10²
10³ - 104 10³
104 - 105 104
105 - 106 105
Já no STARS, os intervalos de tempo utilizados são calculados pelo
próprio simulador, com base em: (i) variações máximas permitidas entre
intervalos de tempo sucessivos para os parâmetros definidos pelo usuário:
pressão ............................... 2000 kPa
saturação ............................. 0,15
temperatura .......................... 30°C
fração molar do óleo ............. 0,20
fração molar do gás .............. 0,20
(ii) intervalo de tempo máximo, nesse caso definido como cinco dias; (iii)
intervalos menores devido à dificuldade de convergência.
Ao considerar uma rocha sobrejacente com as mesmas características
geomecânicas da rocha-reservatório, ou seja, mesmos coeficiente de Poisson e
módulo de Young, há uma proximidade muito grande das respostas obtidas a
partir do FPORO e do STARS com modelo geomecânico, como mostra a figura
4.2. Uma pequena diferença pode ser notada ao perceber que o simulador
FPORO prevê um ligeiro aumento de poropressão acima de sua distribuição
inicial. Incluindo nessa comparação a resposta do simulador comercial sem a
Comparação dos simuladores FPORO-STARS 93
opção geomecânica, percebe-se que sua resposta difere das outras duas no
sentido de manter mais a energia do reservatório, ou seja, para um mesmo
tempo este apresenta níveis de poropressão superiores aos demais. Vale
ressaltar, mais uma vez, que nesse modelo, apesar de não haver um módulo
geomecânico acoplado, esses efeitos são considerados de forma simplificada
através unicamente da compressibilidade da rocha-reservatório, sem considerar
as camadas adjacentes. Daí a diferença entre as previsões para o campo de
poropressões.
10000
15000
20000
25000
30000
35000
40000
0 500 1000 1500 2000 2500 3000
Distância (m)
Poro
pres
são
(KPa
)
t=0
FPORO, E = 280 MPa
FPORO, E = 5000 MPa
STARS, sem módulo
STARS, com módulo
Fig.4.2. Comparação entre as distribuições de poropressão para os modelos FPORO e
STARS com e sem módulo geomecânico, para o tempo t=1000 dias.
Na prática, há casos de reservatórios que se encontram abaixo de
camadas cuja rigidez é mais elevada que a da própria rocha-reservatório.
Visando abordar essa situação, foi analisado no FPORO um caso extremo em
que o módulo de Young da camada sobrejacente é de 5000 Mpa, ou seja, quase
vinte vezes mais rígido que a rocha-reservatório. A resposta deste simulador
para essa situação também está indicada na figura 4.2. Ao comparar essa curva
com a geomecânica do STARS, verifica-se que essa situação provoca um
aumento de poropressão em níveis muito mais elevados em partes do
reservatório, ultrapassando em muito a distribuição inicial. Percebe-se, assim, o
possível erro embutido ao não considerar as camadas adjacentes na análise do
comportamento do reservatório.
Comparação dos simuladores FPORO-STARS 94
A figura 4.3 mostra a evolução da poropressão no ponto mais externo do
reservatório ao longo do tempo para as quatro situações: STARS com e sem
opção geomecânica, FPORO com módulo de Young da camada sobrejacente
igual a 280 MPa e 5000 MPa. Mais uma vez fica clara a proximidade das
respostas dos simuladores geomecânicos ao considerar as rochas adjacentes
com as mesmas propriedades geomecânicas da rocha-reservatório, com uma
ligeira superioridade do FPORO. Com uma camada sobrejacente mais rígida,
percebe-se um aumento máximo de poropressão na extremidade do reservatório
em aproximadamente 2000 dias. Com o decorrer da simulação, seu
comportamento se aproxima das outras curvas geomecânicas.
20000
22000
24000
26000
28000
30000
32000
34000
36000
38000
0 2000 4000 6000 8000 10000 12000
Tempo (dias)
Poro
pres
são
(KPa
)
FPORO, E = 280 MPaFPORO, E = 5000 MPaSTARS, sem móduloSTARS, com módulo
Fig.4.3. Evolução de poropressão em x = 3000 e z = 3150 m.
O aumento da poropressão gerado pelo FPORO considerando a rocha
sobrejacente mais rígida pode ser explicado a partir da seguinte análise: com a
produção de óleo do reservatório, há uma redução da pressão de poros nas
proximidades do poço, o que acarreta um aumento das tensões efetivas nessa
área. Por se tratar um corpo muito rígido, a camada sobrejacente se comporta
como uma viga, aliviando as tensões efetivas no limite externo do reservatório, o
que, por sua vez, implica em um aumento da pressão de poros nessa região.
Esse mecanismo é denominado efeito de arqueamento (Bévillon et al.35). O
acúmulo de poropressão é verificado durante o escoamento em regime
transiente, ou seja, até todo o reservatório ser atingido pelo diferencial de
pressão imposto pelo início da produção. Nos intervalos de tempo subsequentes,
esse excesso de poropressão é dissipado.
Comparação dos simuladores FPORO-STARS 95
Ao comparar as respostas obtidas pelos modelos com e sem opção
geomecânica do STARS (figuras 4.2 e 4.3), verifica-se que no modelo
geomecânico a distribuição de poropressão se dá em níveis inferiores ao outro
modelo. A fim de completar essa comparação, a figura 4.4 mostra a produção
acumulada obtida através de cada um dos modelos, que indica que o modelo
geomecânico produziu aproximadamente 30% mais. A partir dessas duas
constatações, pode-se associá-las à ocorrência do mecanismo de compaction
drive, em que a compactação do reservatório contribui para a produção de fluido.
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
0 2000 4000 6000 8000 10000 12000
Tempo (dias)
Prod
ução
acu
mul
ada
(m³)
STARS, sem módulo
STARS, com módulo
Fig.4.4. Comparação entre as produções acumuladas.
A figura 4.5 mostra a distribuição das tensões efetivas máximas ao longo
do reservatório no tempo t = 2190 dias (6 anos). Verifica-se que a maior variação
de tensão se dá nas regiões próximas ao poço, enquanto a extremidade externa
sofre influência em níveis muito menos elevados, chegando a não sofrer
nenhuma alteração no bloco situado no canto inferior. Essa variação no campo
de tensões efetivas é refletida na porosidade, porém de uma forma não tão
sensível, como indicado na figura 4.6, i.e., no mesmo tempo, quase metade do
reservatório mantém sua porosidade inicial.
No simulador STARS sem opção geomecânica, a variação da porosidade
é função da compressibilidade da rocha, sendo este o único parâmetro
geomecânico considerado. Desta forma, verifica-se uma grande discrepância
entre as distribuições de porosidade obtidas através dos modelos com e sem
geomecânica, como indica a comparação entre as figuras 4.6 e 4.7.
Comparação dos simuladores FPORO-STARS 96
Fig.4.5. Distribuição de tensões efetivas máximas ao longo do reservatório em t = 2190
dias, segundo o modelo geomecânico do STARS.
Fig.4.6. Distribuição de porosidade efetiva em t = 2190 dias segundo o modelo
geomecânico do STARS.
Fig.4.7. Distribuição de porosidade efetiva em t = 2190 dias segundo o modelo sem
módulo geomecânico do STARS.
5 Simulações Utilizando os Pragramas STARS e IMEX
As simulações executadas no programa STARS têm como objetivo a
obtenção de resultados que possam possibilitar uma comparação entre os
modelos geomecânicos adotados pelo próprio simulador térmico-composicional.
As situações modeladas procuram retratar casos facilmente encontrados na
prática. Já o simulador IMEX foi utilizado com o intuito de fazer uma análise dos
mecanismos envolvidos na equação de balanço de materiais em um sistema
depletivo.
Fig. 5.1. Tipos de malhas oferecidas pelos simuladores comerciais: (a) em coordenadas
Cartesianas; (b) em coordenadas cilíndricas; (c) malha com profundidade e/ou espessura
variável; (d) malha “corner point” (do manual do usuário do STARS).
Os simuladores comerciais IMEX e STARS oferecem vários tipos de
malhas: coordenadas cartesianas, cilíndricas, retangular com variação das
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 98
espessuras das camadas ou de sua profundidade, e malhas do tipo corner
points, em que as células apresentam dimensões irregulares. Para uma melhor
visualização, esses quatro tipos de malhas são apresentados na figura 5.1.
5.1 Simulações para ¼ de 5-Spot no Simulador STARS
Nessa primeira situação, foi utilizada uma malha cartesiana para modelar o
que é denominado por “¼ de five-spot” na indústria do petróleo. Seja um campo
de petróleo com vários poços produtores, como indicado na figura 5.2 a seguir.
Visando aumentar a recuperação de hidrocarbonetos, são dispostos alguns
poços injetores (de água ou vapor) em torno de cada poço produtor. O fluido
injetado tem como objetivo deslocar o óleo em direção ao poço produtor. A área
delimitada pela linha cheia é o que se chama five-spot; a área hachurada indica
o ¼ de five-spot. A linha vermelha indica a distância entre o poço produtor e o
injetor, denominada espaçamento.
x
y
Poços produtores
Poços injetores
Fig. 5.2. Vista superior do arranjo de poços 5-spot para produção de hidrocarbonetos.
A partir desse arranjo, foi definido o modelo básico, que tem um
espaçamento de 200 metros, de forma que os lados nas direções x e y têm
aproximadamente 280 metros. O reservatório está situado a uma profundidade
de 1500 metros, e tem 50 metros de espessura. A rocha reservatório foi
classificada como sendo um arenito consolidado, e foi especificada uma taxa de
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 99
injeção de água de 300 m³/dia. Para essa situação, foi utilizada uma malha
cartesiana regular, com 15 células nas direções x e y e 11 células na direção z
(profundidade), como mostra a figura 5.3. Os poços têm um raio de 0,127 metro,
ou cinco polegadas, completados ao longo de toda a extensão da camada do
reservatório.
z
yx
Fig. 5.3. Vista 3-D da malha utilizada na primeira etapa das simulações.
Esse caso foi simulado no STARS em duas situações: a primeira utilizando
o módulo geomecânico e a segunda considerando a geomecânica de forma
aproximada, através da compressibilidade da rocha. A fim de encontrar maiores
contrastes entre as duas opções, ou seja, situações em que a consideração da
geomecânica de forma consistente forneça resultados que justifiquem sua
utilização, foram geradas variações deste modelo. Os parâmetros variados foram
o tipo de rocha, a profundidade em que se encontra o reservatório, sua
espessura e a taxa de injeção de água. É importante ressaltar que cada situação
simulada envolve um conjunto de parâmetros, que juntos caracterizam o material
nessa situação. Assim, ao considerar nova situação, os parâmetros devem variar
como um todo, de forma a manter a consistência dos dados. A figura 5.4 ilustra
a consistência dos conjuntos de dados da rocha para cada situação. As
variações empregadas e os parâmetros são descritos a seguir.
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 100
Conjunto 1
Conjunto 2
Conjunto 3
φ, k, So, cf, E
500 m
1500 m
3000 m
φ, k, So, cf, E
φ, k, So, cf, E
Fig. 5.4. Esquema das situações simuladas.
Considerando um arenito consolidado, foram simuladas as seguintes
situações: Foram definidas três espessuras de reservatório (20, 50 e 80 metros).
Para cada caso foram consideradas três profundidades (500, 1500 e 300 metros)
e, para cada situação, a taxa de injeção de água teve três valores definidos (100,
300 e 500 m³/dia). Todos esses modelos foram repetidos para o caso de arenitos
não-consolidados. O diagrama da tabela 5.1 mostra mais claramente os casos
simulados, lembrando que a tabela deve ser duplicada para considerar os casos
em que a geomecânica foi considerada de forma aproximada. Desta forma, são
totalizadas 108 simulações, das quais apenas sete apresentaram problemas de
convergência, todas elas com o módulo geomecânico.
Para cada situação simulada, os dados básicos da rocha determinados
pelo usuário no STARS são: porosidade e compressibilidade, com as respectivas
pressões em que foram medidas, permeabilidade, e saturação de água conata.
Para um determinado ponto, devem ser descritas a pressão e a temperatura do
reservatório. Ao utilizar o módulo geomecânico, além destes parâmetros também
devem ser definidos o módulo de Young e o coeficiente de Poisson do material,
o estado de tensões iniciais totais em que se encontra o reservatório e o
gradiente de tensões. Também é oferecida uma opção para incluir o efeito de
amolgamento na região próxima ao poço, o que vem a alterar a permeabilidade
nessa área. Porém, optou-se por não utilizar essa função.
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 101
Tab. 5.1. Descrição geral dos modelos simulados. Arenito consolidado
Espessura 20 metros Profundidade 500 metros
Taxa de injeção 100 m³/dia
300 m³/dia
500 m³/dia Profundidade 1500 metros
Taxa de injeção 100 m³/dia
300 m³/dia
500 m³/dia Profundidade 3000 metros
Taxa de injeção 100 m³/dia
300 m³/dia
500 m³/dia Espessura 50 metros
Profundidade 500 metros
Taxa de injeção 100 m³/dia
300 m³/dia
500 m³/dia Profundidade 1500 metros
Taxa de injeção 100 m³/dia
300 m³/dia
500 m³/dia
Profundidade 3000 metros
Taxa de injeção 100 m³/dia
300 m³/dia
500 m³/dia Espessura 80 metros
Profundidade 500 metros
Taxa de injeção 100 m³/dia
300 m³/dia
500 m³/dia Profundidade 1500 metros
Taxa de injeção 100 m³/dia
300 m³/dia
500 m³/dia Profundidade 3000 metros
Taxa de injeção 100 m³/dia
300 m³/dia
500 m³/dia
Arenito não-consolidadoEspessura 20 metros
Profundidade 500 metros
Taxa de injeção 100 m³/dia
300 m³/dia
500 m³/dia
Profundidade 1500 metros
Taxa de injeção 100 m³/dia
300 m³/dia
500 m³/dia Profundidade 3000 metros
Taxa de injeção 100 m³/dia
300 m³/dia
500 m³/dia Espessura 50 metros
Profundidade 500 metros
Taxa de injeção 100 m³/dia
300 m³/dia
500 m³/dia Profundidade 1500 metros
Taxa de injeção 100 m³/dia
300 m³/dia
500 m³/dia Profundidade 3000 metros
Taxa de injeção 100 m³/dia
300 m³/dia
500 m³/dia Espessura 80 metros
Profundidade 500 metros
Taxa de injeção 100 m³/dia
300 m³/dia
500 m³/dia Profundidade 1500 metros
Taxa de injeção 100 m³/dia
300 m³/dia
500 m³/dia
Profundidade 3000 metros
Taxa de injeção 100 m³/dia
300 m³/dia
500 m³/dia
A porosidade do arenito pode ser determinada a partir de ensaios
laboratoriais feitos em amostras de testemunhos ou a partir de dados de
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 102
perfilagem. Neste trabalho, a porosidade foi obtida a partir de uma relação
porosidade – profundidade, indicada no gráfico da figura 5.5. Neste gráfico são
apresentadas curvas para arenitos quartzoso e lítico. O primeiro, com uma
predominância de grãos de quartzo, os quais representam normalmente 70% da
composição do material, apresenta uma melhor seleção de grãos. No arenito
lítico, o quartzo se encontra a uma proporção inferior a 40%, de forma geral, e o
componente lítico consiste em fragmentos de rocha. Com base nessas
distribuições de grãos, foi considerado que o comportamento da curva do arenito
quartzoso se aproxima mais do não consolidado, enquanto o lítico está mais
relacionado ao consolidado, mesmo sabendo que essa correlação não se aplica
a outras propriedades dos materiais, como resistência. Assim, acompanhando
essas curvas para obtenção da porosidade das rochas consolidada e não-
consolidada a uma profundidade de 500 metros (aproximadamente 1600 pés),
este gráfico fornece valores de porosidade em torno de 31% e 37%,
respectivamente. Porém, esses valores não são observados na realidade, em
especial o segundo. A não consistência desses valores pode ser justificada com
Fig. 5.5. Porosidade em função da profundidade para arenitos lítico e quartzoso (de
Poston & Berg17).
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 103
base no gráfico da figura 5.6, onde se verifica que para pequenas profundidades
é difícil a obtenção de dados a partir de testemunhos, sendo mais comuns os
perfis. Porém, nestes há uma grande margem de erro embutida, dificultando a
determinação da porosidade para reservatórios mais próximos à superfície.
Assim, para os casos em que o reservatório está situado a 500 metros de
profundidade foi adotada uma porosidade de 22% para arenito consolidado, o
que está de acordo com vários casos práticos. Para manter a consistência dos
dados, foi preservada a diferença apontada pelo gráfico 5.5, considerando-se,
assim, uma porosidade de 28% para o arenito não-consolidado.
Porosidade em função da profundidade (de Poston & Berg17). Fig. 5.6.
Para os reservatórios situados a uma profundidade de 1500 metros
(aproximadamente 5000 pés) a curva para arenito lítico do gráfico 5.5 aponta um
valor de 20% para o arenito consolidado, condizente com a realidade. Já no caso
do arenito não-consolidado, o valor obtido pelo gráfico é de aproximadamente
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 104
33%, o que mais uma vez não é verificado na prática. Assim, foi aplicada a
diferença entre os valores de porosidade obtidos para o caso do reservatório
mais raso, resultando em 26% para o arenito não-consolidado. Por fim, para os
reservatórios situados a uma profundidade de 3000 metros (aproximadamente
10.000 pés) foi adotado o mesmo procedimento anterior, chegando aos valores
de porosidade de 15% e 23% para os arenitos consolidado e não-consolidado,
respectivamente.
Na determinação da permeabilidade, foi utilizado o gráfico da figura 5.7,
apresentado em Timmerman4. Neste são apresentadas relações de
permeabilidade em função da porosidade para diversos tipos de arenitos,
classificados em: (i) bom e limpo; (ii) bem selecionado com grãos maiores; (iii)
extremamente bem selecionado com grãos menores; (iv) bem selecionado com
grãos menores; (v) moderadamente selecionado com grãos maiores; (vi) mau
selecionado com grãos menores. Nas situações analisadas, foram consideradas
as curvas (vi) e (ii) para os arenitos consolidado e não-consolidado,
respectivamente. Partindo das porosidades acima determinadas, para os
reservatórios situados a 500 metros de profundidade, os valores obtidos foram
Fig. 5.7. Relação entre porosidade e permeabilidade para: (1) arenito bom e limpo; (2)
bem selecionado com grãos maiores; (3) extremamente bem selecionado com grãos
menores; (4) bem selecionado com grãos menores; (5) moderadamente selecionado
com grãos maiores; (6) mau selecionado com grãos menores (de Timmerman4).
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 105
400 md e 5000 md; a 1500 metros, 25 md e 1000 md; e finalmente a 3000
metros, 8 md e 750 md.1
A saturação de água conata está fortemente relacionada à pressão capilar
(Timmerman4), a qual não está sendo considerada nesta análise. Apesar de
essa propriedade ser função também da porosidade, este parâmetro foi
relacionado apenas ao tipo de arenito, se consolidado ou não-consolidado, tendo
sido atribuídos os valores de 25% e 15%, respectivamente. De uma forma geral,
essa saturação é maior no caso de arenitos consolidados porque sua
permeabilidade é inferior ao não-consolidado, o que interfere diretamente no
escoamento de água da rocha-reservatório.
A determinação das compressibilidades dos volumes porosos em cada um
dos modelos simulados foi feita com base na correlação de Newman19,
apresentada na figura 2.5, a partir dos valores de porosidade. Os valores
adotados são apresentados na tabela 5.2, a seguir.
Tab. 5.2. Valores de saturação de água conata, porosidade e compressibilidade
adotados.
Compressibilidade Tipo de
Arenito Swi (%)
Profundidade (metros)
Porosidade (%) x 10-6 psi-1 x 10-7 kPa-1
500 22 2,3 3,34
1500 20 2,7 3,92 Consolidado 25
3000 15 3,6 5,22
500 28 40 58
1500 26 10 14,5 Não-
consolidado 15
3000 23 6 8,7
Vale ressaltar que nesse trabalho a compressibilidade da rocha é utilizada como
propriedade do material. Sua utilização como parâmetro de ajuste só seria
justificada caso se desejasse que os dois modelos chegassem ao mesmo
1 Na indústria do petróleo, a unidade utilizada para quantificar a permeabilidade intrínsica da rocha é o Darcy, onde 1 Darcy corresponde a 9.86 x 10-9 cm2. Com relação à condutividade hidráulica, 1 Darcy corresponde a aproximadamente 10-3 cm/s, considerando escoamento de água a 20°C (Goodman37).
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 106
resultado. Porém, a finalidade dessas simulações é comparar as respostas dos
dois simuladores para uma mesma situação modelada.
Outra definição necessária é a da temperatura do reservatório. Esse
parâmetro é obtido a partir do gradiente de temperatura geotérmico, apresentado
na figura 5.8 (Hearst et al.36). No sistema internacional, esse gradiente de 1°F
para cada 100 pés corresponde a 25°C por quilometro. Assim, nas profunidades
de 500 metros, 1500 metros e 3000 metros o reservatório se encontra nas
temperaturas de 30°C, 55°C e 92,5°C, respectivamente.
Fig. 5.8. Gradiente geotérmico (em Hearst et al.36).
Em complemento à temperatura, também deve ser definida a pressão em
um ponto de referência. Esse valor é obtido a partir do gradiente de pressão
litostática, apresentado no gráfico da figura 5.9, considerando uma situação de
pressões normalmente distribuídas.
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 107
Fig. 5.9. Gradientes de pressão para óleo (go), água salgada (gsw) e água fresca (gfw) (de
Poston & Berg17).
Para cada combinação de profundidade com espessura do reservatório, foi
determinada a pressão em sua camada central. Foi considerado que até o topo
do reservatório o meio poroso estava saturado com água doce; a partir daí foi
considerada a curva do óleo. Os valores obtidos são apresentados na tabela 5.3.
Tab. 5.3. Pressão de referência para os modelos simulados.
Espessura (metros)
Profundidade (metros)
Pressão (kPa)
500 5000
1500 14800 20
3000 29500
500 5100
1500 14900 50
3000 29600
500 5250
1500 15000 80
3000 29700
As pressões de fundo do poço foram definidas para cada profundidade:
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 108
Tab. 5.4. Pressões de fundo de poço utilizadas nas simulações. Profundidade
(metros)
Pressão de fundo de poço (kPa)
500 2000
1500 5000
3000 10000
Ao utilizar o módulo geomecânico do STARS, outros parâmetros são
solicitados, além dos já descritos. São eles: Módulo de Young, coeficiente de
Poisson e o estado de tensões atuantes. O módulo de Young E é calculado a
partir da relação a seguir, apresentada em Goodman37:
( )ν213 −= EK p (5.1)
onde é o inverso da compressibilidade da formação acima determinada e pK ν
é o coeficiente de Poisson. Este, por sua vez, foi considerado constante e igual a
0,2. Desta forma, os valores obtidos para o módulo de Young são apresentados
na tabela a seguir:
Tab. 5.5. Valores do módulo de Young utilizados na simulações dos modelos ¼ de 5-
spot. Módulo de Young
(x 106 kPa) Profundidade
(metros) Consolidado Não-consolidado
500 5,4 0,31
1500 4,6 1,24
3000 3,45 2,07
As tensões verticais e o gradiente relacionado é obtido a partir do gráfico
de tensão litostática, apresentado na figura 5.9, acima exposta. As tensões
horizontais foram estimadas a partir da teoria da plasticidade, com base na
formulação a seguir, apresentada em Goodman37:
−=
ννσσ
1vh (5.2)
As tensões totais obtidas são apresentadas na tabela a seguir.
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 109
Tab. 5.6. Tensões totais atuando no reservatório.
Tensão Total (kPa)
Gradiente da Tensão
total (kPa/m) Profundidade
(metros) Vertical Horizontal Vertical
500 11400 2840 22,6
1500 34000 8500 Horizontal
3000 68000 17000 5,65
Nessa primeira situação, o fluido de reservatório utilizado foi caracterizado
a partir de um típico Black-Oil. Com o intuito de publicar esses dados típicos,
mas sem comprometer a privacidade de qualquer uma das empresas de petróleo
que utilizam os serviços de análise de fluido feito pela Core Laboratories, de
Dallas, Texas, foi criada uma empresa fictícia, a Good Oil Company, cujos dados
de fluido foram publicados por Smith et al.18. Trata-se de um reservatório sub-
saturado, ou seja, todo o gás está dissolvido no óleo, onde não há a presença
nem de capa de gás nem de um aqüífero adjacente.
O fluido foi modelado no WINPROP, um simulador de propriedades de
equilíbrio multifásico de equações de estado, também desenvolvido pela CMG.
O fluido resultante é constituído por quatro pseudo-componentes
hidrocarbonetos, além da água. Os dados gerados são incluídos em duas
seções do arquivo do entrada de dados do STARS: no de inicialização e no de
dados do fluido propriamente dito.
Na inicialização é descrita a fração molar de cada componente em
condições de escoamento na superfície. Neste modelo, os componentes se
encontram na seguinte proporção:
Tab. 5.7. Composição dos fluidos de reservatório.
COMPONENTE FRAÇÃO MOLAR FASE
Água 1.0000 Aquosa
H2S a C1 0.3754 Oleica
C2 a C3 0.1662 Oleica
IC4 a Fc6 0.1255 Oleica
C7+ 0.3329 Oleica
Os pseudo-componentes apresentados na tabela acima foram gerados a
partir dos seguintes componentes: ácido sulfídrico (H2S), dióxido de carbono
(CO2), nitrogênio (N2) e metano (C1); etano (C2) e propano (C3); iso-butano
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 110
(IC4), n-butano (NC4), iso-pentano (IC5), n-pentano (NC5) e hexanos (FC6); e
heptanos (C7+). Essa composição está de acordo com a característica do
petróleo, uma vez que é constituído principalmente por carbono e hidrogênio,
este último representando entre 11-13% da composição (Amyx et al.38). A
segunda parte dos dados gerados pelo WINPROP deve ser inserida na seção
relativa às propriedades do fluido, onde devem ser inseridas as seguintes
informações para cada pseudo-componente: massa molecular, pressão e
temperatura críticas, coeficientes de K-values (são razões de equilíbrio em
função da temperatura e pressão, definidas para cada componente, de acordo
com Daubert39), densidade molar parcial nas condições de pressão e
temperatura de referência, compressibilidade do líquido à temperatura constante
e um coeficiente de correlação de expansão térmica.
5.1.1 Comparação entre Resultados com e sem o Módulo Geomecânico para ¼ de 5-Spot
Para cada uma das situações modeladas foi feita uma análise do campo
de poropressões e produção acumulada de óleo, de forma a possibilitar uma
comparação entre os simuladores com e sem o módulo geomecânico. Os dados
utilizados na comparação são referentes à seção A-B, indicada na figura 5.10 a
seguir, e ao tempo t=730 dias. O tempo de cada simulação é apresentado na
tabela 5.8. Com relação ao campo de poropressões, o que se verificou foi uma
grande similaridade entre os resultados, chegando, em muitos casos, a uma
coincidência dos valores obtidos. A diferença das poropressões entre os dois
modelos foi de no máximo 1%, sendo o valor superior resultante da simulação
em que a geomecânica é considerada de forma acoplada.
Verificou-se que as pequenas diferenças entre os campos de poropressão
estão diretamente associadas às diferenças significativas no volume de óleo
produzido ao final do tempo de simulação. Os dados relativos à produção para
todos os casos simulados são apresentados na tabela A.1 do apêndice A. A
tabela 5.8, a seguir, resume os casos que levaram a maiores discrepâncias entre
os volumes de óleo produzidos resultantes dos dois modelos.
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 111
(a) (b)
Fig. 5.10. Vistas da seção da malha a que se referem os dados de comparação: (a)
Superior; e (b) 3-D.
No caso de arenitos consolidados, essas discrepâncias se deram
principalmente em arenitos mais espessos, situados a maiores profundidades e
sujeitos a uma menor taxa de injeção. Com relação aos arenitos não
consolidados, as discrepâncias no volume de óleo produzido são mais
amplamente observadas. O reservatório menos espesso foi o que apresentou
menor número de ocorrências de discrepâncias, sendo que as verificadas se
deram em todas as profundidades analisadas, porém sujeitas à menor taxa de
injeção. Já o reservatório com espessura intermediária apresentou um maior
número de casos em que foram observadas diferenças entre as produções de
acumaladas de óleo. Esses casos ocorreram em todas as profundidades
analisadas, principalmente quando sujeitos à menor taxa de injeção. Ainda com
relação aos arenitos não-consolidados, as diferenças foram mais frequentes no
caso do reservatório mais espesso, embora sendo verificadas em todas as
profundidades e taxas de injeção.
A respeito dos arenitos consolidados e a ocorrência de discrepâncias em
reservatórios sujeitos a baixas taxas de injeção de água, pode-se dizer que
nesse caso a pressão do reservatório se encontra em um nível bastante inferior
ao original, o que resulta em uma maior tensão efetiva. Daí a maior influência do
efeito do mecanismo de compactação do reservatório na produção de óleo. Esse
efeito é mais observado em arenitos mais espessos situados em maiores
profundidades.
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 112
Tab. 5.8. Resumo das simulações que geraram maiores discrepâncias entre as
produções acumuladas de óleo resultantes dos modelos com e sem opção geomecânica
do STARS.
x10³ (m³) Diferença (%) (KPa) (%)
Consolidado 50 1500 100 sim 8 139não 5 132
3000 100 sim 7 172não 4 163
80 1500 100 sim 9 140não 4 128
3000 100 sim 35 172não 19 148
20 500 100 sim 20 177não 16 160
1500 100 sim 29 156não 23 142
3000 100 sim 32 159não 26 152
50 500 100 sim 58 282não 38 225
1500 100 sim 15 180não 19 151
3000 100 sim 17 207não 16 190
80 500 100 sim 40 364não 14 278
300 sim 52 647não 16 563
500 sim 37 786não 17 728
1500 300 sim 21 473não 37 423
500 sim 17 697não 16 659
3000 100 sim 12 266não 6 241
300 sim 11 503não 8 480
14.14%
Não-consolidado
4.56%
10.40%
13.03%
104
5.50%
9.43%
7.40%
23.65%
8.02%
15.95%
20.44%
4.43%
8.49%
9.40%
8.32%
5.14%
5.06%
0.91%
Arenito Espessura (m)
Produção acumuladaMaior diferença de
poropressão em t=730 dias (com módulo-sem módulo)Prof. (m)
Taxa de injeção (m³/dia)
Módulo geomecânico
(sim/não)
Tempo de simulação
(min.)
16 0.08%
30 0.14%
135 0.26%
2 0.03%
5 0.02%
9 0.02%
1 0.01%
2 0.01%
0.03%
260 0.52%
2 0.00%
12 0.06%
10 0.02%
4 0.06%
7 0.03%
4 0.06%
2
Por outro lado, as diferenças nas produções acumuladas de óleo em
arenitos não consolidados foram observadas em diversas situações. De uma
forma geral, foram mais presentes no caso de reservatórios sujeitos à menores
taxas de injeção, seguindo a mesma justificativa acima exposta. Porém, as
discrepâncias também estavam presentes em arenitos não consolidados
submetidos à taxas de injeção mais elevadas. Nessas situações, os
reservatórios eram mais espessos e situados a maiores profundidades. Percebe-
se, assim, que os arenitos não consolidados sofrem mais a influência do
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 113
mecanismo de compactação do reservatório na produção de óleo, quando
comparados aos arenitos consolidados.
Pode-se concluir, então, que apesar de o simulador que resume a
geomecânica através da compressibilidade da rocha fornecer uma boa
aproximação para o campo de pressão de poros, pode gerar resultados
divergentes para o volume de óleo produzido, ao comparar com o simulador que
representa a geomecânica de forma acoplada. A boa aproximação para o campo
de pressão de poros é decorrente do ajuste histórico, muito utilizado na indústria
do petróleo: devido ao grande grau de incertezas que envolve o conhecimento
do reservatório, durante sua vida produtiva os dados de produção são
comparados com os de simulação. Com base nos primeiros, os simuladores
comerciais são ajustados de forma a tentar reproduzir os dados reais. O que se
verificou é que esse ajuste histórico se torna mais difícil no que se refere à
produção de óleo, devido às discrepâncias acima descritas.
Abaixo são apresentados dois casos selecionados em que a pequena
diferença na poropressão resultou em diferenças relevantes na produção de
óleo. O primeiro trata de um arenito consolidado, espessura de 80 metros,
profundidade 3000 metros e taxa de injeção 100 m³/dia. O segundo considera
um arenito não consolidado, espessura de 80 metros, profundidade 500 metros,
sujeito a uma taxa de injeção de água de 100 m³/dia. A seguir são apresentados
gráficos comparativos entre as distribuições de poropressão ao longo do
reservatório para o tempo t=730 dias para as duas situações, ou seja, com e
sem a opção geomecânica, assim como os de produção de óleo acumulada. A
escolha deste intervalo de tempo para comparar as respostas é devido a este
ser o que apresentou maior discrepância entre os resultados. A gráfico da
distribuição de poropressão tem como base os dados relativos à linha AB
indicada na figura 5.10.
A figura 5.11 apresenta as distribuições de pressão de poros para o caso
do arenito consolidado, mostrando a coincidência entre os resultados obtidos a
partir dos dois modelos de consideração da geomecânica. A discrepância entre
os resultados de produção é indicada no gráfico da figura 5.12. O modelo com
opção geomecânica produziu aproximadamente 170 mil m³ de óleo, enquanto o
modelo sem essa opção produziu quase 150 mil m³ (o geomecânico produziu
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 114
14% a mais), correspondendo a uma recuperação de 24 e 20%,
respectivamente.
0
5000
10000
15000
20000
25000
30000
35000
0 50 100 150 200 250Distância (m)
Poro
pres
são
(KPa
)
t=0
com geomecânica
sem geomecânica
Fig. 5.11. Distribuições de poropressão para arenito consolidado, espessura 80 metros,
profundidade 3000 metros, taxa de injeção 100 m³/dia, com e sem o módulo
geomecânico, no tempo t=730 dias, ao longo da linha AB.
Fig. 5.12. Produção de óleo acumulada em condições padrão para arenito consolidado,
espessura 80 metros, profundidade 3000 metros, taxa de injeção 100 m³/dia, com e sem
o módulo geomecânico.
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 115
Os resultados referentes ao caso do arenito não-consolidado selecionado
são apresentados nos gráficos a seguir. A figura 5.13 apresenta a distribuição de
pressão de poros, onde mais uma vez se verifica a boa aproximação entre os
dois modelos de consideração da geomecânica. As discrepâncias entre
produção são verificadas no gráfico da figura 5.14. O modelo com geomecânica
acoplada resultou em uma produção quase 25% mais elevada que o modelo
aproximado, ou seja, quase 90 mil metros cúbicos.
Com base nos resultados apresentados, verifica-se que o simulador sem o
módulo geomecânico levou menos tempo para chegar ao fim, de uma forma
geral, e que não apresentou problemas de convergência em nenhuma das
situações simuladas. Porém, a divergência em relação aos dados de produção
gerados pelos dois simuladores de escoamento leva a optar pelo modelo com o
módulo geomecânico acoplado, uma vez que esse tem sua formulação baseada
em conceitos geomecânicos mais rigorosos.
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
0 50 100 150 200 250Distância (m)
Poro
pres
são
(KPa
)
t=0
com geomecânica
sem geomecânica
Fig. 5.13. Distribuições de poropressão para arenito não-consolidado, espessura 80
metros, profundidade 500 metros, taxa de injeção 100 m³/dia, com e sem o módulo
geomecânico, no tempo t=730 dias, ao longo da linha AB.
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 116
Fig. 5.14. Produção de óleo acumulada em condições padrão para arenito não-
consolidado, espessura 80 metros, profundidade 500 metros, taxa de injeção 100 m³/dia,
com e sem o módulo geomecânico.
As 108 simulações acima descritas e analisadas foram geradas com a
finalidade de comparar os modelos de escoamento do STARS. Porém, podem
também servir como base para vários outros estudos. Desta forma, a seguir será
feita uma comparação das respostas de um reservatório para diferentes taxas de
injeção, e, posteriormente, uma análise do efeito do grau de consolidação da
rocha de interesse no comportamento do reservatório.
5.1.2 Efeitos da Variação da Taxa de Injeção
Esta análise é baseada na simulação com módulo geomecânico de um
reservatório com 80 metros de espessura, situado a 3000 metros de
profundidade, cuja rocha é classificada como um arenito consolidado. As taxas
de injeção variaram entre 100, 300 e 500 m³/dia. A seguir são comparadas as
distribuição de poropressão, o campo de tensões efetivas máximas e a
saturação de óleo ao longo da seção do reservatório indicada na figura 5.10, no
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 117
tempo t=730 dias. Por fim, são comparadas as produções de óleo acumuladas
em cada uma das situações, as taxas de produção de óleo e o tempo de
erupção de água (intervalo de tempo que a água injetada leva para alcançar o
poço produtor), observado no gráfico de percentual de água produzido em
relação à vazão de líquidos, denominado cortes de água.
Na análise do gráfico de taxas de produção de óleo, figura 5.15, percebe-
se claramente um aumento da vazão decorrente de uma maior taxa de injeção
de água. As curvas, porém, mostram uma queda abrupta nos casos de taxa de
injeção de 300 e 500 m³/dia, indicando o momento em que a água de injeção
alcança o poço produtor e começa a ser produzida. Esse momento, denominado
de erupção de água, é indicado mais claramente no gráfico da figura 5.16, em
que o percentual de água produzida sofre uma elevação acentuada em
aproximadamente t=750 e t=1200 dias para os casos de taxa de injeção de 500
e 300 m³/dia, respectivamente. No caso de taxa de injeção de 100 m³/dia, a
erupção de água não chega a ocorrer dentro do tempo de simulação, de 5 anos.
Fig. 5.15. Taxa de produção de óleo em condições padrão para arenito consolidado,
espessura 80 metros, profundidade 3000 metros e taxas de injeção de 100, 300 e 500
m³/dia.
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 118
Fig. 5.16. Percentual de água produzida em relação à vazão de líquidos, em condições
padrão, para arenito consolidado, espessura 80 metros, profundidade 3000 metros e
taxas de injeção de 100, 300 e 500 m³/dia.
As diferenças no comportamento de produção de óleo acumulada são
claramente verificadas no gráfico da figura 5.17. Ao analisar as curvas referentes
às taxas de injeção de 300 e 500 m³/dia, percebe-se que, apesar de as duas
alcançarem praticamente o mesmo valor de produção acumulada ao final da
simulação, o caso com taxa de injeção mais elevada fornece uma produção
maior nos períodos de tempo iniciais, indicado por uma inclinação mais
acentuado na sua curva. Pode-se estimar que a curva com taxa de injeção de
100 m³/dia deve alcançar valores de produção acumulada próximos aos das
outras curvas, porém em um momento além do tempo desta simulação. Ao
calcular os fatores de recuperação finais para cada uma das situações, pode-se
comparar a eficiência desses métodos de recuperação e comprovar as
observações acima descritas, já que os casos com taxa de injeção de 300 e 500
m³/dia apresentam fatores de recuperação de 43,7% e 44,4%, respectivamente,
enquanto o de 100 m³/dia, apenas 23,9%.
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 119
Fig. 5.17. Produção de óleo acumulada em condições padrão para arenito consolidado,
espessura 80 metros, profundidade 3000 metros e taxas de injeção de 100, 300 e 500
m³/dia.
O efeito do deslocamento do óleo provocado pela injeção de água pode
ser verificado através da saturação de óleo no reservatório mostrado na figura
5.18. Percebe-se que para taxas de injeção mais elevadas, o deslocamento do
óleo em direção ao poço produtor é mais pronunciado.
Com relação à distribuição de poropressões (figura 5.19), em todos os
casos percebe-se uma distribuição decrescente das áreas mais próximas ao
poço injetor em direção ao produtor. Porém, os níveis de poropressão próximo
ao poço injetor são mais elevados quanto maior a taxa de injeção, chegando a
ultrapassar o valor inicial para os casos de taxa de injeção de 300 e 500 m³/dia.
Já na região próxima ao poço produtor, as poropressões atingem valores mais
próximos nos três casos.
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 120
Taxa de injeção de 100 m³/dia
Taxa de injeção de 300 m³/dia
Taxa de injeção de 500 m³/dia
Fig. 5.18. Saturação de óleo em t=730 dias para arenito consolidado, 80 metros de
espessura, 3000 metros de profundidade e taxas de injeção de 100, 300 e 500 m³/dia.
Taxa de injeção de 100 m³/dia
Taxa de injeção de 300 m³/dia
Taxa de injeção de 500 m³/dia
Fig. 5.19. Distribuição de poropressão (em kPa) ao longo do reservatório em t=730 dias
para arenito consolidado, 80 metros de espessura, 3000 metros de profundidade e taxas
de injeção de 100, 300 e 500 m³/dia.
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 121
A distribuição de tensões efetivas máximas, indicadas na figura 5.20,
mostra que na situação com menor taxa de injeção as tensões são mais
elevadas, como já era de se esperar – uma menor taxa de injeção implica em
uma menor pressão média do reservatório (figura 5.21) e, de acordo com o
princípio das tensões efetivas de Terzaghi, em uma maior distribuição de
tensões efetivas. Com isso, para o caso de taxa de injeção de 500 m³/dia, indica
a menor distribuição de tensões efetivas máximas, uma vez que o reservatório
apresenta uma maior pressão de poros nessa situação.
Taxa injeção 100 m³/dia
Taxa injeção 300 m³/dia
Taxa injeção 500 m³/dia
Fig. 5.20. Campo das tensões efetivas máximas (em kPa) em t=730 dias para arenito
consolidado, 80 metros de espessura, 3000 metros de profundidade e taxas de injeção
de 100, 300 e 500 m³/dia.
No gráfico da figura 5.21 é feita uma comparação direta entre as
distribuições de poropressão ao longo da linha AB, indicada na figura 5.10, e as
pressões médias no tempo t=730 dias para o modelo de reservatório de ¼ de 5-
spot com taxas de injeção de 100, 300 e 500 m³/dia. A situação em que foi
considerada uma taxa de injeção de água maior resultou em uma pressão média
no reservatório mais próxima da original, como já era de se esperar. Essa
distribuição de poropressão mais elevada acaba por proporcionar seu maior
potencial de produção, comparado aos demais casos.
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 122
0
10000
20000
30000
40000
50000
0 50 100 150 200 250Distância (m)
Poro
pres
são
(KPa
)t=0
Pressão para taxa injeção 100 m³/dia
Pressão para taxa injeção 300 m³/dia
Pressão para taxa injeção 500 m³/dia
Pressão média - 100 m³/dia
Pressão média - 300 m³/dia
Pressão média - 500 m³/dia
Fig. 5.21. Comparação das distribuições de poropressão ao longo da linha AB (da figura
4.11) e das pressões médias no reservatório para as situações de taxa de injeção de
100, 300 e 500 m³/dia, em t=730 dias.
Apenas com fins ilustrativos, as distribuições de poropressão são
apresentadas em uma figura tridimensional (figura 5.22), de modo a facilitar a
verificação da influência de diferentes taxas de injeção na pressão do
reservatório como um todo.
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 123
Taxa de injeção de 100 m³/dia
Taxa de injeção de 300 m³/dia
Taxa de injeção de 500 m³/dia
Fig. 5.22. Distribuição de pressão de poros em t=730 dias para arenito consolidado, 80
metros espessura, 3000 metros profundidade sujeito às taxas de injeção de 100, 300 e
500 m³/dia.
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 124
5.1.3 Efeitos do Grau de Consolidação do Reservatório
Ao analisar a correlação de Newman19 para compressibilidade do meio
poroso, percebe-se que, no caso de arenitos não-consolidados e friáveis,
qualquer pequena variação no valor da porosidade implica em uma grande
diferença na compressibilidade relacionada, uma vez que este eixo está em
escala logarítimica. Como para esses materiais a determinação em laboratório
da porosidade é difícil de ser alcançada com alguma precisão (principalmente no
caso de material não-consolidado), com esta análise procura-se demonstrar a
implicação da utilização de um valor mal dimensionado desta propriedade, o que
ocorre com certa freqüência.
Para a análise do efeito do grau de compressibilidade no comportamento
do reservatório foram feitas simulações sem o módulo geomecânico com um
modelo de ¼ de 5-spot cuja espessura é de 20 metros, situado à 1500 metros de
profundidade, sujeito a uma taxa de injeção água de 300 m³/dia. Foram
simulados arenitos não-consolidades e friáveis, cujos valores de
compressibilidade do volume poroso estão indicados na tabela 5.9, e
comparados com arenitos consolidados:
Tab. 5.9. Parâmetros utilizados na análise do grau de consolidação do reservatório.
Compressibilidade do volume
poroso
Comparação Material Porosidade
(%) x10–6 kPa -1 x10–6 Psi -1
28 2,9 20
28 5,8 40 Arenito
não-consolidado 28 10,2 70 1
Arenito
consolidado 28 0,29 2
20 0,29 2
21 1,45 10 Arenito friável
22 5,80 40 2
Arenito
consolidado 21 0,39 2,7
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 125
Para uma melhor compreensão da facilidade com que esses valores de
compressibilidade se confundem nas curvas, o gráfico da correlação de
Newman19 é mais uma vez exposto através da figura 5.23, com a indicação dos
valores que constam na tabela 5.9.
Fig. 5.23. Correlação de Newman com indicação dos valores de compressibilidade do
volume poroso utilizados (de Poston & Berg17).
Para cada uma das situações, ou seja, arenito não-consolidado e friável,
são apresentados gráficos comparativos da distribuição de poropressão e a
saturação de óleo no tempo t=730 dias ao longo da seção do reservatório
indicada na figura 5.10. São também apresentados os gráficos de cortes de água
e de produção acumulada.
Para os arenitos não-consolidados, a figura 5.24 mostra que há uma
grande proximidade nas produções de óleo acumuladas. Também os fatores de
recuperação resultantes são muito similares, como mostra a tabela 5.10. Porém,
estes valores diferem muito dos resultados para arenito consolidado sob as
mesmas condições. Apesar de as compressibilidades variarem bastante para
cada uma das situações, o efeito é mais claro no caso de menor
compressibilidade, que resultou em uma menor produção. Esse efeito também é
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 126
verificado no volume de óleo original no reservatório. Para o arenito consolidado,
o volume de óleo original é inferior devido a uma combinação entre os efeitos de
maior saturação de água conata e menor compressibilidade da formação.
Fig. 5.24. Produção de óleo acumulada para arenitos não consolidados.
Tab. 5.10. Resultados de produção para arenitos não-consolidados.
Material Swi (%)
Porosidade (%)
Compressibilidade (x 10-6 psi–1)
Volume de
óleo in situ
(m³)
Produção
de óleo
acumulada
(m³)
Fator de
Recuperação
(%)
28 20 380.950 211.930 55,6
28 40 380.950 214.930 56,4 Arenito não
consolidado 25
28 70 380.950 219.140 57,5
Arenito
consolidado 15 28 2 240.100 112.430 46,8
Assim, com base nesses dados, pode-se dizer que quanto menos
compressível é o arenito, menor a variação de espaço poroso em condições de
reservatório, implicando em um menor volume de óleo produzido.
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 127
Com relação à erupção de água, o esperado era que sua ocorrência se
desse primeiro no caso do arenito não-consolidado com menor
compressibilidade. Na realidade, caso o sistema fosse rígido, o tempo para a
água injetada alcançar o poço produtor seria apenas o necessário para percorrer
o espaçamento entre os dois poços. Porém, verifica-se através da figura 5.25
que quanto maior a compressibilidade do material, menor o tempo de erupção
de água. De acordo com o gráfico da figura 5.25, para arenitos não consolidados
com compressibilidades de 70, 40 e 20 psi-1, o tempo de erupção de água se dá
em 700, 725 e 760 dias, respectivamente. Para um melhor entendimento, deve-
se analisar o gráfico de permeabilidade relativa do óleo em relação à água
(figura 5.26). Para o caso retratado no gráfico 5.25, a permeabilidade relativa da
água é superior à do óleo, já que a saturação de água está em um ponto mais
avançado. Para evitar essa situação, é preciso retroceder no gráfico de
permeabilidade relativa para um ponto com maior saturação de óleo. Isso pode
ser feito através da diminuição da mobilidade do óleo (razão entre a
permeabilidade e a viscosidade do fluido), mais precisamente com o aumento da
viscosidade dos pseudo-componentes em duas ordens de grandeza. Assim, por
exemplo, a viscosidade do pseudo-componente mais pesado C7+ passa de
5.29E-02 para 5,29 cP. Os resultados obtidos são apresentados na figura 5.27.
Fig. 5.25. Cortes de água para arenitos não consolidados.
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 128
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
0.4 0.5 0.6 0.7 0.8
Saturação de água
Perm
eabi
lidad
e re
lativ
a
Krw
Krow
1as sim. 2as sim.
Fig. 5.26. Curva de permeabilidade relativa água-óleo.
Fig. 5.27. Cortes de água para arenitos não-consolidados em novo ponto da curva de
permeabilidade relativa.
Apesar de as curvas dos arenitos não-consolidados estarem muito
próximas, é possível verificar que a erupção de água ocorre primeiro no material
menos compressível e por último no mais compressível, como esperado.
No gráfico da figura 5.27, nota-se que as curvas de cortes de água para os
arenitos não-consolidados apresentam uma forma mais inclinada quando
comparadas às curvas do gráfico 5.25. Essa diferença se dá porque no caso em
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 129
que o óleo tem menor mobilidade ainda há uma grande quantidade de óleo a ser
produzida depois da erupção de água, como pode ser verificado no gráfico da
figura 5.28. Ainda com relação ao gráfico da figura 5.27, observa-se que as
curvas, logo nos tempos iniciais, apresentam uma pequena distorção. Esta é
devido ao distúrbio causado ao sistema pelo processo de injeção de água.
Quando há uma estabilidade na pressão média do sistema, as curvas passam a
se comportar de forma contínua, sem oscilações. Essa observação também é
válida para o gráfico da figura 5.24.
Fig. 5.28. Produção acumulada para arenitos não consolidados em novo ponto da curva
de permeabilidade relativa.
A distribuição de poropressão para os arenitos não consolidados é
coerente com os demais dados apresentados anteriormente. Nos três casos, as
distribuições são muito próximas, sendo que o caso com maior
compressibilidade apresenta poropressão mais elevada (figura 5.29),
consequência dos efeitos combinados da compressibilidade da rocha e injeção
de água. Ao comparar essa distribuição com a do arenito consolidado e a inicial,
percebe-se como os arenitos não consolidados dissipam de uma forma muita
rápida a poropressão original do reservatório, como mostra o gráfico da figura
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 130
5.30, em que são apresentadas as curvas de distribuição de poropressão ao
longo do reservatório no tempo t=730 dias.
4000
4500
5000
5500
6000
6500
7000
7500
8000
0 50 100 150 200 250Distância (m)
Poro
pres
são
(KPa
)
cpor 20
cpor 40
cpor 70
Fig. 5.29. Distribuição de poropressão em t=730 dias para arenitos não consolidados.
0
10000
20000
30000
40000
50000
60000
70000
80000
0 50 100 150 200 250Distância (m)
Poro
pres
são
(KPa
)
t=0
cpor 20
cpor 40
cpor 70
consolidado
Fig. 5.30. Comparação entre distribuições de poropressão em t=730 dias para arenitos
não consolidados e consolidado.
No caso de arenitos friáveis, as produções de óleo acumuladas são
apresentadas no gráfico da figura 5.31:
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 131
Fig. 5.31. Produção acumulada para arenitos friáveis.
Assim como no caso dos arenitos não-consolidados, para os friáveis as
produções acumuladas apresentam um comportamento similar, porém com
diferenças mais visíveis, em que o material mais compressível apresenta maior
produção de óleo. Isso se deve ao fato de o material ser mais sensível à
variação de poropressão decorrente da retirada de fluido, o que implica na
expansão da formação, que por sua vez colabora no deslocamento de óleo em
direção ao poço produtor. Percebe-se que essa diferença entre produções
acumuladas ocorre no estágio inicial da produção, ou seja, antes da ocorrência
de erupção de água, e depois é mantida até o final da simulação. A curva
relativa ao material menos compressível indica que este material começou a
produzir água pouco antes dos demais, como confirma o gráfico da figura 5.32.
A tabela 5.11 apresenta os valores de volume original de óleo no
reservatório, produção de óleo acumulada e recuperação a fim de quantificar o
efeito da compressibilidade da rocha. Mais uma vez, verifica-se que quanto mais
incompressível é o material (sendo a compressibilidade medida em condições de
superfície), menos variação sofre o volume poroso ao considerá-lo em condições
de reservatório, resultando em um menor volume de óleo in situ. No caso do
material mais compressível, ao considerar condições de reservatório, o material
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 132
sofre compressão, aumentando o espaço poroso e, consequentemente,
apresentando um maior volume de óleo in situ.
Fig. 5.32. Cortes de água para arenitos friáveis.
Tab. 5.11. Resultados de produção para arenitos friáveis.
Material Swi (%)
Porosidade(%)
Compressibilidade (x 10-6 psi–1)
Volume
de óleo
in situ
(m³)
Produção
de óleo
acumulada
(m³)
Fator de
Recuperação
(%)
20 2 272.110 146.960 54,0
21 10 285.720 154.670 54,1 Arenito
friável 25
22 40 299.320 164.680 55,0
Arenito
consolidado 15 21 2,7 240.100 112.290 46,8
No gráfico da distribuição de poropressão ao longo do reservatório no
tempo t=730 dias (figura 5.33), percebe-se a proximidade das curvas referentes
aos arenitos friáveis. Porém, ao comparar essas curvas com a inicial e a do
arenito consolidado (figura 5.34), verifica-se, assim como no caso de arenitos
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 133
não-consolidados, a rapidez com que esses reservatórios dissipam sua energia
natural.
4000
5000
6000
7000
8000
9000
10000
11000
12000
0 50 100 150 200 250Distância (m)
Poro
pres
são
(KPa
)
cpor 2
cpor 10
cpor 40
Fig. 5.33. Distribuição de poropressão para arenitos friáveis
0
10000
20000
30000
40000
50000
60000
70000
80000
0 50 100 150 200 250Distância (m)
Poro
pres
são
(KPa
)
t=0
cpor 2
cpor 10
cpor 40
consolidado
Fig. 5.34. Distribuição de poropressão para arenitos friáveis e consolidado.
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 134
5.2 Simulações para Sistema Radial Depletivo no Simulador IMEX
A segunda etapa das simulações tem como objetivo quantificar a
colaboração de cada um dos mecanismos primários de produção na retirada de
óleo do reservatório. Ou seja, através da equação de balanço de materiais,
conforme apresentada no item 2.1, procura-se apresentar, de forma ponderada,
o percentual de produção relativo a cada mecanismo: expansão de rocha, gás
em solução, óleo e água conata (nessa situação, não foram considerados a
existência de capa de gás e influxo de água a partir de um aquífero adjacente).
Para isso, foi utilizada uma malha em coordenadas cilíndricas, como mostra a
figura 5.35. Esse modelo consiste em ¼ da circunferência, com um poço no
centro de 0,127 metros de raio (ou cinco polegadas). O reservatório tem um raio
externo de 300 metros, divididos em 10 células cujas dimensões seguem uma
escala logarítimica crescente. Essa distribuição visa facilitar a observação da
região mais próxima ao poço, já que essa é mais sensível aos efeitos da
produção de óleo, uma vez que está sujeita a maiores diferenciais de pressão. O
reservatório tem 80 metros de espessura, divididos em 11 camadas de 7,3
metros cada.
Fig. 5.35. Modelo cilíndrico para representação do reservatório: (a) vista transversal e (b)
vista superior.
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 135
A rocha-reservatório foi classificada como um arenito consolidado. O topo
do reservatório se encontra a uma profundidade de 1500 metros. Os parâmetros
utilizados foram obtidos com base nos dados apresentados no item 5.1,
apresentados de forma resumida na tabela 5.12.
Tab. 5.12. Parâmetros utilizados nas simulações com modelo radial.
DESCRIÇÃO VALOR
Porosidade (%) 20
Permeabilidade (md) 25
Compressibilidade da rocha (kPa-1) 3,92 x 10-7
Saturação de água residual (%) 25
Profundidade de referência (m) 1540
Pressão de referência (kPa) 14800
Temperatura de referência (°C) 55
Pressão no fundo do poço (kPa) 5000
Visando comparar diferentes situações, as simulações foram feitas em três
estágios, cada um considerando um diferente tipo de reservatório: Black-Oil (na
indústria do petróleo, esse jargão define um óleo médio), óleo-volátil e óleo-
pesado. Desta forma, os resultados podem ser apresentados de forma
comparativa, mostrando a eficiência de cada mecanismo para cada situação
analisada.
Dados básicos para a utilização da equação de balanço de materiais,
como apresentada no item 2.1, são os volumes de óleo e gás tanto nas
condições do reservatório como nas condições padrão. Para facilitar o emprego
da equação de balanço de materiais foi utilizado o simulador Black-Oil IMEX,
também desenvolvido pela CMG, cuja formulação foi apresentada no item 3.2. O
IMEX considera os componentes hidrocarbonetos em duas fases: oleica e
gasosa. Com relação à consideração da geomecânica, esta é feita apenas na
forma aproximada, semelhante ao STARS sem o módulo geomecânico. As
equações de escoamento utilizadas são as de escoamento multifásico com
formulação Black-Oil, e podem ser encontradas de forma detalhada em várias
referências, como Aziz & Settari29, Crichlow40 e Peaceman41.
O fluido Black-Oil foi o mesmo utilizado nas simulações do modelo de ¼ de
5-spot. Já os fluidos óleo-volátil e óleo-pesado foram também gerados no
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 136
WINPROP, a partir do primeiro fluido. A única diferença, no entanto, está no
ponto do envelope de fase em que cada um se encontra, o que foi feito através
da definição de diferentes temperaturas iniciais do reservatório. A figura 5.36
mostra os pontos do envelope de fase correspondentes a cada fluido.
0
5,000
10,000
15,000
20,000
-200 -100 0 100 200 300 400
Temperatura (° C)
Pres
são
(kPa
)
A B
Pc
C
Fig. 5.36. Envelope de fases dos fluidos utilizados.
Assim, na figura 5.36 a isoterma A identifica o óleo-pesado, B o Black-Oil e
C o óleo-volátil. O que chama a atenção na diferença entre eles é o fato de o
óleo volátil ter mais componentes leves em sua composição; o inverso é
verificado no caso do óleo pesado, enquanto o Black-Oil é o caso intermediário.
Para as três situações, as respostas das simulações para o campo de
poropressões foram analisadas em três diferentes intervalos de tempo, sendo
que no tempo t = 10 dias foi verificado o maior contraste entre as curvas. Dessa
forma, a figura 5.37 apresenta uma comparação direta entre essas distribuições
nesse momento.
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 137
4000
6000
8000
10000
12000
14000
0 50 100 150 200 250 300
Distância (m)
Poro
pres
são
(KPa
)
t=0
Óleo-volátil
Black oil
Óleo-pesado
Fig. 5.37. Comparação entre as distribuições de poropressão ao longo da distância entre
os reservatórios Black-Oil, óleo-volátil e óleo-pesado, no tempo t=10 dias.
O gráfico da figura 5.37 mostra claramente que o reservatório com óleo-
volátil apresenta uma melhor preservação da energia original do reservatório, já
que tem um maior percentual de gás dissolvido. Com a diminuição da pressão,
decorrente da produção, esse óleo sofre mais expansão que os demais, o que
favorece a ocupação do espaço poroso pelo óleo, mantendo a poropressão em
níveis mais próximos do original. Já no caso dos fluidos Black-Oil e o óleo-
pesado, suas distribuições quase se confundem, sendo a do segundo
ligeiramente inferior. Esse resultado era esperado, uma vez que o óleo-pesado
tem menos gás dissolvido em sua composição.
A tabela 5.13 apresenta os resultados obtidos a partir do balanço de
materiais para os dois modelos de reservatório no tempo t = 10 dias. Os
mecanismos primários analisados são expansão do óleo (Io), expansão da água
(Iw) e expansão da formação (If).
Tab. 5.13. Índices para mecanismos de produção primários, para t=10 dias.
Tipos de Reservatório Pontenciais (%) Óleo-volátil Black oil Óleo-pesado
Ιo 94 82 60
Ιw 4 12 26
Ι f 2 7 14
No caso de reservatórios subsaturados, a tabela 5.13 mostra a grande
influência do potencial do óleo, ainda mais forte quanto mais leve é o óleo (ou
Simulações utilizando os programas STARS e IMEX 138
seja, maior quantidade de gás em solução). Esse gás distribuído de forma
dispersa no óleo, com a queda de pressão no reservatório, expande e desloca o
óleo em direção ao poço produtor. Percebe-se, também, que o potencial de
produção da formação é o menor em todos os casos. Inversamente ao potencial
do óleo, quanto mais pesado o óleo in situ, maior a influência do potencial da
formação na produção. Pode-se dizer que esse mecanismo traduz os efeitos
geomecânicos nos simuladores de escoamento tradicionais, em que o único
parâmetro geomecânico utilizado é a compressibilidade da rocha.
Na tabela 5.14 constam os fatores de recuperação obtidos para cada tipo
de reservatório ao final dos 1825 dias de simulação. Observa-se que o mais
eficiente é o óleo-volátil, enquanto o menos é o óleo-pesado. Essa verificação
mais uma vez mostra a importância da existência de gás em solução na
produção de óleo, já que o óleo mais leve apresentou um maior fator de
recuperação. Observa-se, também, que o caso em que o efeito geomecânico,
traduzido pelo índice de produção da formação, influenciou mais a produção
resultou em um menor fator de recuperação.
Tab. 5.14. Fatores de recuperação ao final de 1825 dias.
Tipos de Reservatório
Óleo volátil Black-oil Óleo pesado
Fator de
recuperação
(%)
19 7 3
6 Conclusões e Sugestões
6.1 Conclusões
Da comparação dos simuladores geomecânicos FPORO E STARS pode-
se concluir que para o caso analisado, em que o FPORO considera uma rocha
sobrejacente com as mesmas características que a rocha-reservatório, a
consideração das camadas adjacentes na simulação não influencia na resposta
para o campo de pressão de poros obtido. Porém, no caso da rocha
sobrejacente ser muito mais rígida que a rocha-reservatório, o FPORO indica a
influência das tensões in situ nos diferentes campos de poropressão obtidos a
partir dos dois simuladores geomecânicos no reservatório de petróleo.
Comparando as respostas dos simuladores com e sem opção
geomecânica do STARS para o sistema bidimensional, verifica-se a contribuição
do mecanismo de compaction drive na produção. O modelo com essa
consideração apresentou uma produção acumulada aproximadamente 30%
maior e, conseqüentemente, uma distribuição de poropressão em níveis
inferiores, já que se trata de um sistema muito pouco compressível.
Ainda com relação ao modelo bidimensional, é verificada uma diferença
entre as previsões da porosidade da rocha-reservatório obtidas pelos dois
modelos do STARS. Enquanto o modelo acoplado considera a variação das
tensões efetivas no reservatório, o modelo convencional trata a variação da
Conclusões e sugestões 140
porosidade como função da compressibilidade da rocha, o que induz à
consideração do reservatório como sendo uma material mais sensível à
compactação do que ocorre na realidade.
Foram feitas comparações em um sistema 3D entre as duas formas de
consideração da geomecânica oferecidas pelo simulador térmico-composicional
STARS - aproximada e acoplada. Como uma extensão do caso bidimensional,
também foram verificados alguns casos em que a consideração da geomecânica
de uma forma mais rigorosa resultou em uma produção de óleo mais elevada.
Na situação que apresentou maior discrepância entre os resultados, o modelo
acoplado produziu quase 25% a mais que o aproximado. Desta forma, verifica-se
a importância da consideração da geomecânica na simulação de reservatórios
de petróleo.
Ao analisar os efeitos de diferentes taxas de injeção em um reservatório de
arenito consolidado verificou-se que uma maior taxa de injeção de água resulta
no estabelecimento de uma pressão média mais próxima da original do
reservatório. Com isso, obtém-se uma maior eficiência desse mecanismo na
produção, resultando em um maior fator de recuperação.
Na análise do efeito de diferentes graus de consolidação da rocha de
interesse no comportamento do reservatório, verificou-se que os arenitos não
consolidados e friáveis dissipam a energia do reservatório de uma forma muito
mais rápida que os materiais consolidados. Isso porque, com a diminuição da
pressão de poros decorrente da produção de óleo, o arenito consolidado tem
uma maior capacidade de expansão, reduzindo o espaço poroso e assim
colaborando na manutenção da pressão. Isso considerando que o arenito
consolidado apresentou uma produção acumulada inferior à do arenito não-
consolidado ou friável. Nestes, em decorrência à maior retirada de fluido do
reservatório, houve uma queda na pressão média da formação de interesse.
O balanço de materiais em um sistema depletivo para três diferentes tipos
de reservatórios subsaturados mostra que o principal mecanismo responsável
pela produção de óleo é o de expansão do óleo. Esse efeito é ainda mais
relevante quanto mais leve for o óleo a ser produzido, favorecendo a obtenção
de um fator de recuperação mais elevado. Por outro lado, a contribuição da
geomecânica, representada pela compressibilidade da rocha, foi a que
Conclusões e sugestões 141
apresentou menor influência na produção de óleo do reservatório. A situação em
que sua participação foi maior resultou no menor fator de recuperação. A
expansão do gás em solução também colabora na manutenção da poropressão
do reservatório.
6.2 Sugestões
A engenharia de reservatórios, como aqui demonstrado, é um assunto que
envolve diversas áreas de conhecimento, oferecendo, assim, inúmeras linhas de
estudo visando um maior aprofundamento no assunto.
A comparação entre os simuladores geomecânicos STARS e FPORO
teve como base a análise de um único caso. Para proporcionar um melhor
embasamento às conclusões obtidas a partir dessa comparação, devem ser
considerados novos cenários. Como sugestão, o simulador desenvolvido pela
PUC-Rio pode modelar um caso em que a vazão de produção seja especificada,
ao invés da pressão de fundo de poço. Assim, pode-se fazer uma análise da
energia do reservatório utilizada para uma mesma produção acumulada, a partir
dos dois simuladores geomecânicos. Essa condição possibilitaria quantificar a
influência das rochas adjacentes como mecanismo de produção, através de um
balanço de materiais.
Ainda com relação aos simuladores geomecânicos, é válida a análise de
um modelo axi-simétrico no FPORO, representando uma condição mais próxima
de casos reais. Uma sugestão para a CMG é a de incluir as rochas adjacentes
em seu modelo geomecânico, assim como é considerado no simulador
desenvolvido pela PUC-Rio.
Uma outra sugestão relacionada ao FPORO envolve a formulação de
escoamento adotada. Atualmente, é considerado escoamento monofásico.
Porém, para representar o escoamento em reservatórios de petróleo é preciso
Conclusões e sugestões 142
implementar uma formulação mais condizente com a realidade. É sugerida,
assim, a implementação da formulação Black-Oil, como a existente no IMEX.
Ainda com relação ao FPORO, sugere-se um aperfeiçoamento da
geometria do problema, de forma a passar a considerar casos tridimensionais e
condições de contorno mais elaboradas, principalmente em relação ao poço.
Dessa forma, esse programa seria capaz de representar arranjos como os
existentes nos campos de petróleo. Essa alteração resultaria em um módulo
geomecânico que poderia ser acoplado ao simuladores composicionais
comerciais. Isso viabilizaria uma análise acoplada rigorosa entre geomecânica e
escoamento de fluidos, gerando uma poderosa ferramenta de previsão de
comportamento do reservatório. Essas sugestões, porém, exigem um grande
esforço computacional na sua implementação.
No que se refere às comparações realizadas entre os modelos do
simulador composicional STARS, novas análises geomecânicas podem ser
desenvolvidas de forma a verificar sua influência em outras situações. Alguns
possíveis casos são reservatórios heterogêneos, novos arranjos de produção ou
mesmo a utilização de métodos térmicos de recuperação, como injeção de
vapor, uma vez que os casos aqui considerados eram todos isotérmicos. Além
disso, poderia ser feito, junto com a CMG, uma comparação das formulações
utilizadas para um melhor entendimento dos procedimentos de cálculo utilizados.
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APÊNDICE A
Neste apêndice é apresentada a tabela A1, em que são relacionadas as
simulações feitas utilizando o simulador STARS. Para cada caso, são
apresentados os seguintes dados:
(i) As características do modelo considerado: tipo de arenito, isto é,
consolidado ou não-consolidado, espessura e profundidade em que o
reservatório se encontra e a taxa de injeção a que está submetido;
(ii) A forma como foi considerada a geomecânica, se através do módulo
acoplado ou de forma aproximada;
(iii) O tempo de duração de cada simulação;
(iv) A produção de óleo acumulada resultante de cada simulação e uma
comparação direta entre os dois modelos: quanto, quantitativamente,
um produziu a mais que o outro, e quanto isso representa em termos
percentuais.
(v) Para os casos que apresentaram um diferença percentual acima de
4% na produção de óleo acumulada, foi calculada a maior diferença
entre as distribuições de poropressão no tempo t=730 dias. De uma
forma geral, essas diferenças ocorreram a uma distância inferior a
200 metros a partir do poço produtor.
Apêndice A 149
Tabela A1. Dados referentes às simulações utilizando o STARS.
(m³) (com-sem) (com-sem)/com (com-sem) (com-sem)/com
Consolidado 20 500 100 sim 14 135,710não 12 135,380
300 sim 15 138,160não 13 138,000
500 sim 16 138,210não 13 138,110
1500 100 sim 10 103,620não 7 102,700
300 simnão 11 102,870
500 simnão 12 101,030
3000 100 sim 9 83,899não 5 82,748
300 simnão 10 75,887
500 simnão 15 70,714
50 500 100 sim 16 151,650não 23 149,150
300 sim 55 339,320não 12 338,960
500 sim 15 337,040não 13 336,490
1500 100 sim 8 139,110não 5 132,070
300 sim 8 274,930não 18 274,650
500 simnão 9 256,890
7040 5.06%
0.10%280
360 0.11%
550 0.16%
2500 1.65%
1151
NÃO CONVERGE
NÃO CONVERGE
NÃO CONVERGE
NÃO CONVERGE
330
160
100
920
Arenito Espessura (m)
Produção acumulada Maior diferença de poropressão em t=730 diasProfundidade
(m)
Taxa de injeção (m³/dia)
Módulo geomecânico
(sim/não)
Tempo de simulação
(min.)
0.14%
NÃO CONVERGE
0.24%
0.12%
0.07%
0.89%
1.37%
30
Apêndice A 150
(m³) (com-sem) (com-sem)/com (com-sem) (com-sem)/com
Consolidado 50 3000 100 sim 7 172,150não 4 163,310
300 sim 9 198,090não 7 1.97E+05
500 simnão 8 197,420
80 500 100 sim 29 156,280não 26 153,470
300 sim 18 455,990não 16 452,460
500 sim 16 527,260não 12 526,010
1500 100 sim 9 139,500não 4 127,890
300 sim 11 393,420não 7 389,070
500 sim 8 408,260não 7 405,320
3000 100 sim 35 171,900não 19 147,590
300 sim 9 332,690não 6 328,580
500 sim 17 331,970não 7 319,630
Não-consolidado 20 500 100 sim 18 176,580não 21 159,660
300 sim 22 225,780não 19 220,810
500 sim 23 226,210não 19 221,420
2 0.03%
104 0.91%
135 0.26%
16 0.08%
NÃO CONVERGE
Arenito Espessura (m)
Produção acumulada Maior diferença de poropressão em t=730 diasProfundidade
(m)
Taxa de injeção (m³/dia)
Módulo geomecânico
(sim/não)
Tempo de simulação
(min.)
1040 0.53%
8840 5.14%
2810 1.80%
3530 0.77%
1250 0.24%
11610 8.32%
4350 1.11%
2940 0.72%
24310 14.14%
4110 1.24%
12340 3.72%
16920 9.58%
4970 2.20%
4790 2.12%
Apêndice A 151
(m³) (com-sem) (com-sem)/com (com-sem) (com-sem)/com
Não-consolidado 20 1500 100 sim 29 155,540não 23 142,340
300 sim 71 198,610não 138 195,890
500 sim 20 186,350não 17 182,600
3000 100 sim 32 159,310não 26 152,260
300 sim 20 174,250não 19 171,960
500 sim 26 174,350não 21 172,390
50 500 100 sim 54 282,330não 38 223,010
300 sim 27 469,440não 23 453,420
500 sim 16 556,940não 14 542,650
1500 100 sim 15 179,820não 19 151,140
300 sim 22 4.57E+05não 35 4.45E+05
500 sim 18 456,220não 14 445,880
3000 100 sim 17 206,660não 16 190,090
300 sim 20 419,980não 9 412,040
500 sim 14 427,670não 12 424,220 3450 0.81%
16570 8.02%
7,940 1.89%
11780 2.58%
10340 2.27%
14290 2.57%
28680 15.95%
59320 21.01%
16020 3.41%
2290 1.31%
1960 1.12%
3750 2.01%
7050 4.43%
13200 8.49%
2720 1.37%
5 0.02%
Arenito Espessura (m)
Produção acumulada Maior diferença de poropressão em t=730 diasProfundidade
(m)
Taxa de injeção (m³/dia)
Módulo geomecânico
(sim/não)
Tempo de simulação
(min.)
9 0.02%
1 0.01%
2 0.01%
5 0.07%
8 0.04%
260 0.52%
Apêndice A 152
(m³) (com-sem) (com-sem)/com (com-sem) (com-sem)/com
Não-consolidado 80 500 100 sim 40 363,790não 14 277,740
300 sim 52 647,070não 16 562,780
500 sim 37 786,110não 17 727,910
1500 100 simnão 166 253,640
300 sim 21 472,650não 37 423,490
500 sim 17 697,300não 16 658,970
3000 100 sim 12 266,370não 6 241,260
300 sim 11 502,710não 8 479,790
500 sim 11 673,600não 11 660,520
2 0.00%
12 0.06%
10 0.02%
7 0.03%
4 0.06%
2 0.03%
NÃO CONVERGE
4 0.06%
Maior diferença de poropressão em t=730 diasProfundidade
(m)
Taxa de injeção (m³/dia)
Módulo geomecânico
(sim/não)
Tempo de simulação
(min.)
86050 23.65%
Arenito Espessura (m)
Produção acumulada
13080 1.94%
38330 5.50%
25110 9.43%
22920 4.56%
49160 10.40%
84290 13.03%
58200 7.40%