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Mulheres ganham espaço no rugby Recente no Brasil, o rugby atrai cada vez mais adeptos. O esporte, originalmente masculino, tem con- quistado espaço entre as mulheres. No Ceará, um grupo delas criou o Iracema Rugby Clube, que luta para levar seu nome Brasil a fora Luana Benício O rugby é originário da Ingla- terra e é o segundo esporte mais popular do mundo, perdendo apenas para o futebol. Ele é dis- putado por duas equipes de 15 jogadores, numa partida de dois tempos de 40 minutos e é cara- terizado pelo seu intenso con- tato físico. Apresenta algumas variações. A mais tradicional é o “rugby 15” ou “15 a side”, com 15 jogadores (veja regras no quadro ao lado). Entre as outras, estão o “rugby sevens”, com sete joga- dores, o “beach rugby”, realizado na praia, e o “tag”, uma variante sem contato voltada para inicia- ção das crianças . Aqui, no Cea- rá, o esporte tem se populariza- do e atraído a prática por parte de homens e mulheres. O aterro da Praia de Iracema é o campo dos praticantes dessa modalidade esportiva. É lá que treina o Iracema Rugby Clube, time de rugby sevens que possui um diferencial: é um time for- mado somente por mulheres. A ideia de montá-lo surgiu da ne- cessidade de as meninas terem o próprio espaço. Antes, elas trei- navam ao lado dos meninos dos Sertões Rugby Clube, também no aterro. Com o aumento do número de interessadas, a atual capitã da equipe Tayany Alves, fundou, ao lado de suas com- panheiras, em 2010, o Iracema Rugby Clube, primeiro time fe- minino de rugby do Ceará. A equipe é formada por nove atletas e conta com o comando do técnico Igor Konovallof, fun- dador do BH Rugby e do chileno Enrique Flores. Além do Irace- ma, foi montado há pouco tempo o Centuriões Rugby Clube. Mas o Estado ainda não organiza cam- peonatos por não possuir uma federação. Para que ela passe a existir é preciso a formação de mais um time, já que a Confede- ração Brasileira de Rugby (CBR) exige o mínimo de três equipes associadas. Feito isso, o Ceará poderá receber ajuda financeira da CRB para investir em estrutu- ra, projetos, competições. O foco principal do Iracema é conseguir viajar para as etapas do Circuito de Rugby do Nordeste. Na sua última participação, em Recife, as cearenses atingiram a terceira colocação. Elas buscam formar uma seleção nordestina para jogar no Campeonato Bra- sileiro de Rugby, em São Paulo. A prática desse esporte no Estado ainda é amadora. Quan- do há campeonatos, as jogado- ras arcam com as despesas das passagens e da hospedagem e recebem ajuda de outros atletas. Como não têm uma estrutura firmada, enfrentam dificuldades para conseguir patrocínio. Mas para Tayany, é aí que se encon- tra a magia. “A gente viaja para jogar e fica na casa de outras jo- gadoras. Isso nos aproxima, gera um vínculo muito forte entre os praticantes. A amizade no rugby é algo marcante. Você percebe isso no famoso terceiro tempo, quando as duas equipes, árbi- tros e técnicos, após o término do jogo, se reúnem para beber e conversar, todos juntos.” O Rugby Sevens é jogado por duas equipes de sete joga- dores. A partida é dividida em dois tempos de sete minu- tos cada. O objetivo do jogo é marcar o maior número de pontos. A bola é lançada com as mãos e não pode ser passada para frente, apenas para trás. Os campos de ru- gby são geralmente do tamanho dos campos de futebol, atingindo uma área máxima de 144 x 70 metros numa superfície plana. A bola é oval. Pontuações: Try - Quando o jogador consegue apoiar a bola no chão, com uma das mãos, na área de validação, que equivale a área após a linha dos postes. Um try vale cinco pontos Conversão - Sempre após o try, a equipe marcadora tem a possibilidade de chutar em direção aos postes tentando fazer com que a bola passe por cima da tra- ve e entre os postes da equipe adversária. A conversão vale dois pontos Pênalti - Ao sofrer uma falta, a equipe pode optar por tentar fazer um chute aos postes no local onde ocorreu a infração. Um pênalti vale três pontos Drop Goal - Durante a partida, um jogador pode des- ferir um chute tentando fazer a bola passar por cima da trave e entre os postes da equipe adversária Jogadas: Tackle - Consiste no ato de segurar o jogador que es- tiver com a bola em mãos para impedi-lo de chegar à linha do fim de campo Maul - Quando há três ou mais jogadores em pé em conta- to, com a bola estando na mão de uns desses jogadores Mark - Consiste na possibilidade de se dar um chute sem ter o perigo de ser tackleado Regras do Rugby Sevens O rugby começou no País por meio da criação do Clube Brasileiro de Fu- tebol Rugby, no Rio de Janeiro, fun- dado em 1891 por um grupo de ami- gos, entre os quais estava Luiz Leonel Mouro, recém chegado da Inglaterra, onde fora estudar no Elizabeth Col- lege, na Ilha de Guernsey. Em 1963, é fundada a União de Rugby do Brasil (URB), com sede em São Paulo. Em 1971, é substituída O esporte no Brasil JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIFOR SETEMBRO/OUTUBRO DE 2011 ANO 7 N° 26 Sabia que em Fortaleza existem cerca de dois mil jogadores de xadrez? Conheça mais sobre esse jogo que exige concentra- ção e muita dedicação Página 8 FOTO: ARQUIVO PESSOAL pela Associação Brasileira de Rugby. Em 2010, tornou-se Confederação Brasileira de Rugby (CBR). Já no feminino, não há dados concretos sobre a inserção no País. Estima-se que tenha começado nos anos de 1990. Logo conquistou oito títulos Sul-Americanos, o que esti- mulou a criação de novas equipes. No último Campeonato Mundial de Rugby Sevens, em Dubai, no ano de 2009, as mulheres brasileiras atin- giram a décima posição. A seleção feminina é reconhecida como a me- lhor da América Latina. Segundo dados divulgados no site da CRB (www.brasilrugby.com. br), existem 20 equipes masculinas cadastradas, além dos times univer- sitários, que superam a marca de 15. Não há divulgação do número de equipes femininas. 70m goal 100m 5m 15 10m 22m goal Saiba mais

Fôlego #26

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Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da UNIFOR - 2011.1

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Page 1: Fôlego #26

Mulheres ganham espaço no rugby Recente no Brasil, o rugby atrai

cada vez mais adeptos. O esporte, originalmente masculino, tem con-quistado espaço entre as mulheres. No Ceará, um grupo delas criou o Iracema Rugby Clube, que luta para levar seu nome Brasil a fora

Luana Benício

O rugby é originário da Ingla-terra e é o segundo esporte mais popular do mundo, perdendo apenas para o futebol. Ele é dis-putado por duas equipes de 15 jogadores, numa partida de dois tempos de 40 minutos e é cara-terizado pelo seu intenso con-tato físico. Apresenta algumas variações. A mais tradicional é o “rugby 15” ou “15 a side”, com 15 jogadores (veja regras no quadro ao lado). Entre as outras, estão o “rugby sevens”, com sete joga-dores, o “beach rugby”, realizado na praia, e o “tag”, uma variante sem contato voltada para inicia-ção das crianças . Aqui, no Cea-rá, o esporte tem se populariza-do e atraído a prática por parte de homens e mulheres.

O aterro da Praia de Iracema é o campo dos praticantes dessa modalidade esportiva. É lá que treina o Iracema Rugby Clube, time de rugby sevens que possui um diferencial: é um time for-mado somente por mulheres. A ideia de montá-lo surgiu da ne-cessidade de as meninas terem o próprio espaço. Antes, elas trei-navam ao lado dos meninos dos Sertões Rugby Clube, também no aterro. Com o aumento do número de interessadas, a atual capitã da equipe Tayany Alves, fundou, ao lado de suas com-

panheiras, em 2010, o Iracema Rugby Clube, primeiro time fe-minino de rugby do Ceará.

A equipe é formada por nove atletas e conta com o comando do técnico Igor Konovallof, fun-dador do BH Rugby e do chileno Enrique Flores. Além do Irace-ma, foi montado há pouco tempo o Centuriões Rugby Clube. Mas o Estado ainda não organiza cam-peonatos por não possuir uma federação. Para que ela passe a existir é preciso a formação de mais um time, já que a Confede-ração Brasileira de Rugby (CBR) exige o mínimo de três equipes associadas. Feito isso, o Ceará poderá receber ajuda fi nanceira da CRB para investir em estrutu-ra, projetos, competições.

O foco principal do Iracema é conseguir viajar para as etapas do Circuito de Rugby do Nordeste. Na sua última participação, em Recife, as cearenses atingiram a terceira colocação. Elas buscam formar uma seleção nordestina para jogar no Campeonato Bra-sileiro de Rugby, em São Paulo.

A prática desse esporte no Estado ainda é amadora. Quan-do há campeonatos, as jogado-ras arcam com as despesas das passagens e da hospedagem e recebem ajuda de outros atletas. Como não têm uma estrutura fi rmada, enfrentam difi culdades para conseguir patrocínio. Mas para Tayany, é aí que se encon-tra a magia. “A gente viaja para jogar e fi ca na casa de outras jo-gadoras. Isso nos aproxima, gera um vínculo muito forte entre os praticantes. A amizade no rugby é algo marcante. Você percebe isso no famoso terceiro tempo, quando as duas equipes, árbi-tros e técnicos, após o término do jogo, se reúnem para beber e conversar, todos juntos.”

O Rugby Sevens é jogado por duas equipes de sete joga-dores. A partida é dividida em dois tempos de sete minu-tos cada. O objetivo do jogo é marcar o maior número de pontos. A bola é lançada com as mãos e não pode ser

passada para frente, apenas para trás. Os campos de ru-gby são geralmente do tamanho dos campos de futebol, atingindo uma área máxima de 144 x 70 metros numa superfície plana. A bola é oval.

Pontuações:Try - Quando o jogador consegue apoiar a bola no chão, com uma das mãos, na área de validação, que equivale a área após a linha dos postes. Um try vale cinco pontos

Conversão - Sempre após o try, a equipe marcadora tem a possibilidade de chutar em direção aos postes tentando fazer com que a bola passe por cima da tra-ve e entre os postes da equipe adversária. A conversão vale dois pontos

Pênalti - Ao sofrer uma falta, a equipe pode optar por tentar fazer um chute aos postes no local onde ocorreu a infração. Um pênalti vale três pontos

Drop Goal - Durante a partida, um jogador pode des-ferir um chute tentando fazer a bola passar por cima da trave e entre os postes da equipe adversária

Jogadas: Tackle - Consiste no ato de segurar o jogador que es-tiver com a bola em mãos para impedi-lo de chegar à linha do fi m de campo

Maul - Quando há três ou mais jogadores em pé em conta-to, com a bola estando na mão de uns desses jogadores

Mark - Consiste na possibilidade de se dar um chute sem ter o perigo de ser tackleado

Regras do Rugby Sevens

- Quando há três ou mais jogadores em pé em conta-to, com a bola estando na mão de uns desses jogadores

Mark - Consiste na possibilidade de se dar um chute Mark - Consiste na possibilidade de se dar um chute Marksem ter o perigo de ser tackleado

O rugby começou no País por meio da criação do Clube Brasileiro de Fu-tebol Rugby, no Rio de Janeiro, fun-dado em 1891 por um grupo de ami-gos, entre os quais estava Luiz Leonel Mouro, recém chegado da Inglaterra, onde fora estudar no Elizabeth Col-lege, na Ilha de Guernsey.

Em 1963, é fundada a União de Rugby do Brasil (URB), com sede em São Paulo. Em 1971, é substituída

O esporte no Brasil

JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIFOR SETEMBRO/OUTUBRO DE 2011 ANO 7 N° 26

Sabia que em Fortaleza existem cerca de dois mil jogadores de xadrez? Conheça mais sobre esse jogo que exige concentra-ção e muita dedicação Página 8

Foto: arquivo pessoal

pela Associação Brasileira de Rugby. Em 2010, tornou-se Confederação Brasileira de Rugby (CBR).

Já no feminino, não há dados concretos sobre a inserção no País. Estima-se que tenha começado nos anos de 1990. Logo conquistou oito títulos Sul-Americanos, o que esti-mulou a criação de novas equipes.

No último Campeonato Mundial de Rugby Sevens, em Dubai, no ano

de 2009, as mulheres brasileiras atin-giram a décima posição. A seleção feminina é reconhecida como a me-lhor da América Latina.

Segundo dados divulgados no site da CRB (www.brasilrugby.com.br), existem 20 equipes masculinas cadastradas, além dos times univer-sitários, que superam a marca de 15. Não há divulgação do número de equipes femininas.

70m

goal 100m

5m

15

10m22m goal

Sabia que em Fortaleza existem Sabia que em Fortaleza existem cerca de dois mil jogadores de

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SETEMBRO/OUTUBRO DE 20112

Atividade esportiva para pessoas com deficiência física tornou-se uma alternativa eficaz para trabalhar traumas e coordenação motora. Paratletas da Unifor con-tam sua trajetória esportiva e como superaram obstáculos para obter uma melhor qualidade de vida

Paratletas se superam no esporte

Um incentivador O interesse do professor em traba-lhar o esporte com deficientes físi-cos começou quando ainda estava na graduação. Percebendo que as pessoas com deficiência não tinham muitas opções, resolveu buscar fora do Ceará conhecimentos práticos e teóricos para expandir seus estudos e colocar seus projetos em prática. Ele afirma que ainda existem mui-tas dificuldades para os paratletas, principalmente por falta de incenti-vo do governo. Preocupado, faz um apelo: “em 2016, teremos o Campe-onato Paraolímpico Mundial e, até agora, cadê o incentivo? Cadê o de-senvolvimento de trabalhos?”.

Na opinião do professor, a mídia tem colaborado para tornar mais conhecido o esporte com paratle-tas. A divulgação têm ocorrido com maior frequência, mas afirma que ainda é preciso conquistar mais es-paço. Dessa forma, deficientes po-derão investir em uma nova pers-pectiva para o futuro praticando esportes. Segundo o último senso de 2000, existiam mais de 300 mil deficientes em Fortaleza, muitos vindos do interior para treinar nos locais em que ele ensina.

O professor conta que um dos maiores casos de superação viven-ciado por ele foi de um jovem que se chama Fernando. “Ele sofreu um acidente e teve suas duas pernas amputadas. Quando aprendeu a nadar, foi participar de uma com-petição. Fernando passou mal na hora da prova, e os salva-vidas não estavam atentos. Eu estava todo ar-rumado e lembrei-me do que a sua esposa tinha me dito: ‘Professor, não deixa meu marido morrer afogado’. Eu tive que pular na piscina com roupa e tudo pra tirá-lo de lá. Fer-nando aprendeu a lição e, desse dia em diante, não exercita a natação quando está indisposto”.

Vicente Cristino se emociona ao falar do seu trabalho com os deficientes físicos. “É a cada dia um deficiente pedir a minha ajuda, e eu poder ajudar. Me alegra poder pegar uma pessoa surda e colocar dando aula para um cego. É a pró-pria Unifor que me dá espaço para desenvolver meu trabalho com essas pessoas. Quando me ligam pedindo ajuda para um deficiente, me sinto realizado como pessoa e como profissional”, revela.

O resultado do seu trabalho pode ser facilmente visto no rosto dos próprios deficientes. Durante uma aula, a reportagem constatou a alegria e satisfação demonstrada pelos atletas pela oportunidade de participar de projetos esportivos.

Paratletas do Ceará se reúnem para competir em torneio de natação no parque desportivo da Unifor. Fotos: Farley aguiar

Bárbara Sena e Jaqueline Longatti

Nunca paramos para pensar so-bre o que aconteceria se, de uma hora para outra, perdêssemos a visão ou a audição. Ou se so-frêssemos um acidente que nos impossibilitasse de continuar a andar. Para muitas pessoas se-ria o fim. Mas outras, que pas-saram por esse tipo de experiên-cia, buscam forças para superar as limitações físicas na prática do esporte. Elas são conhecidas como paratletas.

A prática de esporte para pes-soas com deficiência física teve início na cidade de Aylebbury, na Inglaterrra. Durante a Segun-da Guerra Mundial, um neuro-logista judeu chamado Ludwig Guttman, que fugia do nazismo, criou um centro para lesionados medulares a pedido do governo britânico. Em 1948, a atividade desportiva para portadores de deficiência se consolidou nos Es-tados Unidos e na Alemanha. No Brasil, começou com a criação do Comitê Paraolímpico Brasi-leiro, em 1995.

Segundo a escritora Cláudia Matarazzo, há uma falsa espe-culação quanto aos números de deficientes físicos no Brasil. As pessoas tendem a pensar que são poucos. Mas, de acordo com o último senso, somam mais de 24 milhões. Entre eles encon-tram-se Carlos Guerreiro e Sau-lo Vinícius. Eles são exemplos de paratletas que encontraram, no esporte, uma poderosa fonte de incentivo para uma vida melhor. Os três praticam atividade física na Universidade de Fortaleza sob orientação de profissionais do curso de Educação Física.

Superação e gratidão Carlos Guerreiro nasceu em Morada Nova, onde teve uma infância normal. Seu esporte preferido, naquela época, era o futebol. Mas uma explosão com dinamite no trabalho o jogou a oito metros de altura. Ele per-deu totalmente a visão e teve seu rosto desfigurado. Todos pensaram que ele não sobrevi-veria. “Ninguém esperava que eu escapasse. Fiquei 29 dias em coma. Até os médicos diziam

para minha família que eu não ia escapar”, lembra. Depois que saiu do hospital, passou por dez cirurgias para regeneração, mas ainda apresenta cicatrizes. Quatro anos após o acidente, ele continua em agradecimento a Deus por ter sobrevivido.

O começo de sua trajetó-ria esportiva aconteceu depois do acidente, quando aceitou o convite do professor Vicente Cristino para treinar na Unifor. Guerreiro ainda precisa fazer al-gumas cirurgias, mas, para não perder os treinos, ele decidiu es-perar mais um pouco. Hoje, di-vide seu tempo com o atletismo e a natação.

Quando as competições se aproximam, Guerreiro treina durante uma hora até quatro vezes por semana. Com apenas seis meses na natação, o atleta já participou da sua primeira

grande competição: os VII Jo-gos Paraolímpicos do Ceará, onde ganhou quatro medalhas. Ele vê perspectivas no espor-te e acredita que futuramente pode conquistar mais vitórias. “Quando entro em uma prova, em uma competição, a minha vontade é de ganhar. Embora saiba que não vencerei todas, dou o máximo de mim para tentar ser um vitorioso. Daqui há um ou dois anos, pelo meu desempenho, quero estar par-ticipando de competições fora, viajando entre os vitoriosos”.

Outro exemplo é Saulo Vi-nícius, deficiente auditivo, estudante de Educação Física da Unifor e aluno do professor Cristino. As repórteres o en-contraram na piscina ensinan-do uma deficiente visual a na-dar. Questionado sobre como conseguia orientar outros de-

ficientes, ele respondeu: “não tem explicação, eles podem fa-zer tudo, como qualquer outra pessoa faz”.

Aquele era o primeiro dia que Saulo ajudava o professor Vicente em sua aula. Sobre a experiência, ele afirmou: “É muito legal, o professor já tinha me convidado algumas vezes para desenvolver esse trabalho, mas não tinha dado certo. Sempre que tiver tem-po, vou vir pra cá”.

Sua deficiência auditiva é congênita, pois sua mãe teve rubéola durante a gravidez. Ele enfrenta dificuldades desde a infância e, até hoje, estuda com a ajuda de um in-térprete. Seu desejo é se tor-nar professor de Educação Física e desenvolver o mes-mo tipo de trabalho do qual participa.

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Caderno Fôlego - Fundação Edson Queiroz - Universidade de Fortaleza - Diretora do Centro de Ciências Humanas: Profa. Erotilde Honório - Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Wagner Borges - Professor Orientador: Alejandro Sepúlveda - Projeto Gráfico: Prof. Eduardo Freire - Diagramação: Aldeci Tomaz e Fernanda Carneiro - - Edição: Amanda Carvalho, Érika Zaituni e Marília Pedroza - Redação: Bárbara Sena, Daniel Honorato, Eduardo Buccholz, Filipe

Dias, Indira Arruda, Jaqueline Longatti, Juliano de Medeiros, Luana Benício, Luciana Bezerra, Luis Domingues, Luiz Carlos Bomfim e Marília Pedroza - Fotografia: Farley Aguiar, Rhaiza Oliveira e Thalyta Martins - Coordenação de

Fotografia - Júlio Alcântara - Supervisão gráfica: Francisco Roberto - Impressão: Gráfica Unifor - Tiragem: 750 exemplares

Sugestões, comentários e críticas: [email protected] (85) 3477.3105

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Page 3: Fôlego #26

3SETEMBRO/OUTUBRO DE 2011

O exercício, muito popular entre as mulheres, proporciona um alto gasto calórico e é associado ao fitness Foto: Filipe Dias

Sucesso nos Estados Unidos e recentemente no Brasil, o kettlebell é uma alternativa para exercitar-se com instrumentos lúdicos, sem recorrer à tradicional musculação

Principais movimentos

Quero o quê? Kettlebell!

Swing

O movimento mais básico do kettlebell. Trabalha principalmente quadris e glúteos

Clean

A força vem dos quadris e das pernas. Pode ser usado como transição para realizar outros movimentos

Turkish get up

É um movimento complexo de estabilização. Traba-lha a musculatura central do corpo

Instituto BudokaiRua Marvin, 600 Cidade dos FuncionáriosFortaleza - CE(85) 3271-3954Funcionamento: seg. a sex., 6h às 21h; sábado, 8h às 12h

Eu não gosto de malhar na aca-demia porque eu acho muito bestas os aparelhos. Aqui eu acho mais in-teressante, que é com o kettlebell e porque traba-lha os movimentos. A professora é minha amiga, aí ela me chamou pra vir pra cá e eu fiz uma aula e gostei. Eu tenho tendinite no joe-lho. Depois que eu comecei a pra-ticar, nunca mais senti dor.

Morgana Mendes Estudante de Enfermagem

Conheci o kettle-bell em uma aca-demia. Perguntei se poderia praticar e levei um “não”, devido à hérnia de disco que pos-suo. Procurei a opinião de outro profissional e ele disse que eu poderia praticar e que não teria contra-indicação. Comecei e logo percebi os benefícios. Atualmente não sinto dores e realizo minhas atividades de forma eficaz.

Márcio Bento FonteneleEstudante de Educação Física

O que levou você a praticar kettlebell?

Filipe Dias, Indira Arruda e

Luciana Bezerra

Durante muito tempo, para a maioria das pessoas, exercício físico era sinônimo de corpos

perfeitos e várias horas na academia. Com o tempo, essa visão mudou; ao invés da es-tética, a prioridade passou a ser o bem-estar e o equilíbrio do corpo, e são esses objetivos que estão contribuindo para a popularização do treino com kettlebell.

Originário da Rússia, onde é conhecido como gyria, o kettlebell é uma bola maciça de ferro fundido com uma alça e seu peso varia geralmente

de 6 a 32 kg. Na Rússia, é con-siderado um esporte e possui até federação. Desde 1985 são realizadas as competições ofi-ciais do esporte, com regras e categorias de peso definidas. Foi o bielorusso Pavel Tsat-souline quem levou o kettlebell aos Estados Unidos, onde pas-sou a ser associado ao fitness e seu uso começou a se massifi-car. Segundo o educador físico David Mascena, responsável pela popularização do kettle-

bell em Fortaleza, a principal vantagem da ferramenta é que uma única peça permite uma grande variedade de exercí-cios. “Ela tem alguns indicati-vos que você não encontra em outras ferramentas: trabalho de estabilidade, transferência de força, trabalho muscular, aumento da capacidade car-diovascular...” .

Ele acrescenta que a princi-pal vantagem, entretanto, é seu uso como ferramenta correti-va. “Você pode ganhar capaci-dade de se movimentar com a utilização do kettlebell”, expli-ca. Além disso, o gasto calórico é altíssimo – segundo David, perde-se mais calorias em vin-te minutos de treino com ket-tlebell do que correndo a 15 km/h pelo mesmo período.

Para todos e todasApesar da utilização do ket-tlebell para aquisição de força e resistência datar da Rússia czarina, ainda não há estudos suficientes que determinem se há alguma contra-indicação em seu uso. Embora essa aná-lise fique mais limitada à ob-servação durante os treinos, David afirma que, na prática, não há restrições. “A contra-indicação é a falta de capaci-dade de se movimentar; é por isso que vem atrelado a uma avaliação de movimento. En-tão, a partir do momento que você ganha movimento, pode treinar”, explica.

E engana-se quem pensa que o peso do kettlebell é um obstáculo para as mulheres.

David afirma que, em Fortale-za, elas têm procurado mais do que os homens. “Acredito que mulher tem mais facilidade pra pegar a essência, pra entender e praticar a técnica”, diz.

Mesmo com a popularização do kettlebell, ainda são poucos os profissionais que buscam ca-pacitação. “A capacitação que ‘tem que ter’ não existe. É uma coisa que você busca pra melho-rar a qualidade do seu trabalho, mas, como em todas as áreas, é um problema. Muita gente vê os vídeos na internet e começa a fazer”, conta David. Em For-taleza, a Equipe Arte da Força, empresa que fornece cursos de capacitação em Kettlebell, rea-lizou curso com dois módulos iniciais e um avançado no ano passado, permitindo que vários estudantes e profissionais obti-vessem certificação.

A aquisição do kettlebell tam-bém é complicada: há poucos fabricantes e a qualidade nem sempre é boa. Segundo David, a maior parte dos kettlebells é ad-quirida durante os cursos.

Mesmo com essas dificula-des, o kettlebell vem ganhando cada vez mais adeptos, conso-lidando-se como um dos me-lhores aliados na busca por um estilo de vida mais saudável.

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Fonte: http://www.bestkettlebellworkout.com/how-to-do-the-kettlebell-clean/

Enquete

Serviço

Page 4: Fôlego #26

SETEMBRO/OUTUBRO DE 20114

O triatleta cearense já está na reta final da preparação para a próxima Olimpíada, que acontecerá na cidade inglesa de Londres, no ano que vem. Seis brasileiros lutam por três vagas e Wesley é um deles. Em entrevista ao Fôlego, o jovem talento falou da rotina de treinamentos, da rigorosa dieta alimentar a qual um atleta profissional precisa se submeter, das surpresas enfrentadas em meio às competições e do desafio de morar longe do Brasil em busca de maior destaque e reconhecimento internacional. Wesley também dá dicas para quem deseja praticar o triathlon

Wesley Matos, esperança olímpica cearense

Luis Domingues e Eduardo Buchholz

Fôlego – Como você começou no Triathlon?Wesley Matos – Iniciei no es-porte na natação, aos oito anos de idade. Quando já fazia parte do alto rendimento, fazíamos muitos treinos aeróbicos para melhorar a resistência física na natação e uma das atividades era a corrida. Com 17 anos de idade eu me destacava entre os nadadores nos treinos de corrida e tinha muita facilida-de. Então alguns triatletas que treinavam natação com a gente me convidaram para partici-par de uma prova de duathlon aquático (nadar e correr). Acei-tei o desafio e fui. Nessa prova, terminei em primeiro com mais de cinco minutos de diferen-ça para o segundo colocado. A partir dessa competição, a brin-cadeira começou a ficar séria e fui sendo convidado pela Fe-deração de Triathlon do Ceará para fazer provas nacionais. Fui me destacando e investindo na modalidade até ser chamado para a Seleção Brasileira e tive de escolher qual dos dois espor-tes levaria em diante. Acho que fiz a escolha certa!

Fôlego – Você sempre foi in-centivado pela família? Este apoio é fundamental para dar

Medalha de prata por equipes na 5ª edição dos Jogos Mundiais Militares do CISM, Wesley Matos ainda luta pela vaga nas Olimpíadas de Londres, em 2012. Fotos: arquivo pessoal.

sequência em uma carreira?WM – Minha família sempre foi meu braço direito. Sem o apoio deles eu não chegaria onde estou. Muitos amigos que iniciaram comigo e tinham muito talento acabaram se perdendo pela falta de incen-tivo em casa. Na minha casa havia apenas uma condição: se não for bem nos estudos, não vai para o treino. Mas nunca tive problemas com isso. Fui aluno de turmas avançadas, de fazer olimpíadas, e passei em 1° lugar em três universi-dades; numa delas, em 1° lu-gar geral. Então, passei bem pela única regra. Hoje minha família respira esporte e tenho total apoio. Não é apenas em casa, é em toda a família. Um exemplo é que foram 20 fami-liares ao Rio de Janeiro, re-centemente, assistir aos Jogos Mundiais Militares.

Fôlego – E a saudade, ela pode atrapalhar no rendimento du-rante as competições? O que fa-zer para conseguir diminuir?WM – A saudade é o pior de tudo. Mas, quando lembro que fico vá-rios meses longe das pessoas que gosto, eu treino mais forte para valer a pena todo esforço. E todos os dias entro na Internet para fa-lar com a família. A saudade pode atrapalhar se você perder um

pouco o foco e acabar desequili-brando o emocional. Isso tem que ser trabalhado constantemente. Fôlego – Todo esportista possui um ídolo, uma pessoa que sirva de referência. Quem é o seu e por quê? WM – Meu ídolo se chama Wedla Matos, minha irmã. Ape-sar de não praticar mais esporte, não existe uma competição em que eu não lembre dela, das vi-tórias dela e dos feitos que con-quistou. Ela era simplesmente imbatível. Como moramos juntos,

eu vivi ao lado dela quando era campeã, então lembro do que ela enfrentava, dos sacrifícios, da dedi-cação. E, quando entrei na natação, não era porque gostava de nadar e sim porque queria ser um campeão como ela. Aprendi muito com cada lição que passou e hoje levo como experiência de vida.

Fôlego – Você é um atleta já mui-to premiado. Qual das conquis-tas foi a mais difícil ou marcante? WM – Certamente a mais difícil não foi um primeiro lugar, ou um

título importante, mas foi uma prova em que tinha que conquis-tar um certo objetivo. A prova mais marcante foi em Ixtapa no México, 2010. Vinha de um pe-ríodo de seis meses de lesão, não havia ido tão bem em algumas provas e minha vaga na Seleção Brasileira estava ameaçada. Eu precisaria ser o melhor brasileiro nesta prova para marcar pontos importantes e garantir a perma-nência na equipe. Naquelas cir-cunstâncias, era quase impossível aos olhos dos outros. Para mim,

Entrevista

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5SETEMBRO/OUTUBRO DE 2011

Triathlon mistura três modalidades: ciclismo, atletismo e natação Foto: arquico pessoal.

Medalha de prata por equipes na 5ª edição dos Jogos Mundiais Militares do CISM, Wesley Matos ainda luta pela vaga nas Olimpíadas de Londres, em 2012. Fotos: arquivo pessoal.

impossível é o limite que você dá a si. 1h da tarde de domingo, 42°C, sensação térmica de 47°C e umidade de 89% - previsão do tempo pior não existe para uma prova de Endurance. Mas, o que é ruim, pode piorar: O mar esta-va de “ressaca” e teve a natação cancelada para segurança dos atletas. Minha melhor modali-dade havia sido cancelada. Hou-ve quem comemorasse antes do tempo e aquilo só me fortalecia e, ao mesmo tempo, sabia que te-ria que fazer o meu máximo. Fui

além do limite, fui além do que podia, mas não além da minha vontade e com quase duas horas de competição, em que muitos já caíam e paravam a prova, com a visão escurecendo e sem di-minuir o ritmo, passei o último brasileiro que restava na minha frente a 1km da chegada. Cruzei a linha e já desabei no chão. Na-quele dia eu havia ultrapassado as barreiras psicológicas e físicas para garantir a permanência na Seleção Brasileira. Fôlego – Dentre as muitas via-gens e competições, deve ter al-guma história ou situação curio-sa pela qual você passou. Pode compartilhar alguma(s) dela(s)?WM – De cada viagem fica uma história. Podemos citar os fenô-menos da natureza que já passei por vários. Na hora é muito ruim, mas depois é uma aventura. Pe-guei um terremoto de escala 5.6 no Japão, enquanto tomava ba-nho; peguei tornado em Chicago, EUA, e tive que ficar mais três dias para conseguir voltar pro Brasil; furacão no Canadá, entre outros.

Fôlego – Ainda dá para sen-tir um nervosismo, aquele famoso ‘friozinho na barriga’ antes de começar uma com-petição? Isso pode atrapalhar? WM – Com certeza. Até o nú-mero um do mundo confessou para mim que ainda fica nervo-so hoje, depois de quase 15 anos de triathlon. A diferença é que atualmente sei controlar mais esse nervosismo para não che-gar a ponto de atrapalhar a pro-va. Tem que ter um controle emocional muito grande.

Fôlego – Já teve algum mo-mento na carreira que o fez pensar em desistir? Al-gum companheiro talento-so precisou largar o esporte? WM – Não. Eu amo o que faço e não quero nunca deixar de fazer. Quero ficar vovô e com-petindo ainda. Não mais com o objetivo de ganhar, e sim de participar. Muitos amigos ta-lentosos, muitos companhei-ros de treino tiveram que lar-gar o esporte. Alguns na época do vestibular, quando não con-seguiram conciliar os estudos com o treino. Outros quando perceberam que não conse-guiriam levar o esporte como profissão e até outros que de-sanimaram e não tiveram paci-ência para esperar e ter ânimo novamente. Eu levo o esporte como minha profissão, no dia que não treino é como se não trabalhasse.

Fôlego – Você tem algum ami-go que também pode ser con-siderado um rival dentro do Triathlon? Se sim, como fazer para separar as coisas?WM – Tenho. Meu grande ami-go e quase que irmão é tria-tleta. A nossa relação é muito boa no esporte, nos ajudamos o máximo na hora da prova e até

já chegamos juntos para deixar a arbitragem decidir quem ganhou a prova. Nas competições impor-tantes e que valem pontos, nos ajudamos até a fase final (corri-da), para podermos sair para a fase final na frente e essa última etapa deixamos que ganhe quem estiver melhor. Esse tipo de rela-ção no esporte é difícil de se ver. Fôlego – Como você faz para conciliar o estudo com o es-porte em nível profissional. É possível?WM – Sim. Exige muita dedi-cação e tem que gostar das duas coisas. Quando era pré-vesti-bulando, eu ficava madrugadas estudando ou treinando. Muitos treinos eu fazia a partir de 4h30 da manhã, antes de ir pra esco-la. Outros dias eu estudava nes-sa hora. Hoje estou terminando a faculdade e apenas agora dei prioridade ao esporte devido às minhas temporadas na Europa.Até as olimpíadas vou fazendo o máximo que dá, depois volto mais dedicado ao estudo outra vez. Mas, para quem gosta, tudo é possível. Fôlego – Ainda falta muito apoio no Brasil ou você já consegue treinar em alto nível no País? WM – Ainda está longe disso. Hoje passo certas temporadas na Europa quando preciso fa-zer treinamentos de mais qua-lidade. Sem falar de infraestrutu-ra, de estradas boas para pedalar, de respeito ao ciclista, de locais próprios e de qualidade ao trei-namento. Ainda estamos muito

longe de virar uma potência no esporte. Os brasileiros que se destacam mundo a fora é porque são muito bons mesmo.

Fôlego – Como é a sua rotina de treinos?WM – Treino sete dias por se-mana, cerca de 7 a 9 horas por dia. É muito tempo de treino e exige um certo repouso entre um treino e outro para aguen-tar a próxima sessão. Treino natação 6 vezes por semana, ciclismo 5 vezes e corrida 7 ve-zes. Além disso ainda têm trei-nos de força, fortalecimento, fisioterapia, entre outros.

Fôlego – E a dieta alimentar, é muito pesada?WM – Sim, é bastante rigoro-sa. Apesar de comer em mé-dia seis mil calorias por dia, a dieta é muito balanceada e com muitas frutas e verdu-ras. O controle do peso é di-ário. As seis mil calorias são apenas para suprir as neces-sidades diárias. Basta pensar que se tiver 1 quilo acima do peso, é como se competis-se com uma barrinha de um quilo nas costas. Faz muita diferença.

Fôlego – Para quem não co-nhece, qual o calendário do Triathlon (as principais com-petições), o país referência no esporte e os grandes atletas da atualidade?WM – O triathlon possui um calendário árduo de competi-ções. O ideal para o corpo se-

ria fazer cerca de oito provas na distância olímpica (cerca de duas horas de duração) por ano. Mas tem mês que faço quatro provas. O ca-lendário anual fica com as competições nacionais, as copas continentais e as copas do mundo. Cerca de 26 pro-vas por ano. Não posso citar um país e sim países. A In-glaterra tem, na atualidade, os dois primeiros do mundo (irmãos), a Espanha tem o maior vencedor da história e a Rússia se destaca pelas re-velações todos os anos.

Fôlego – O sonho de grande parte dos atletas é defender o país em uma Olimpíada. Você já tem índice para Londres 2012? WM – A vaga para Londres só estará definida em junho de 2012. Hoje não existe ne-nhum triatleta garantido, mas com chances. O máximo são três por país e no Brasil temos seis grandes atletas com chance. A pontuação iniciou em junho de 2010 e são dois anos de somató-ria de pontos. Ainda temos muito trabalho pela frente.

Fôlego – E a emoção de dispu-tar uma olimpíada no Brasil, já que o Rio de Janeiro será sede de 2016, tem como explicar? Existe uma preparação psico-lógica para esses tipos de situa-ções, onde pode acontecer uma pressão exagerada em cima de um atleta?WM – Esse é o marco do meu objetivo. Quero chegar em 2016 com experiência para brigar pela inédita medalha olímpica do triathlon. A pres-são será grande e o trabalho psicológico terá que ser ainda maior. Mas tenho que agrade-cer por ter essa oportunidade de poder disputar uma olim-píada em casa. São poucos atletas que conseguem esse feito. O trabalho já começou para 2016.

Fôlego – Qual dica daria para quem está começando no Tria-thlon?WM – Paciência e dedicação. No triathlon você adqui-re experiência com muitos anos e a cada ano você evo-lui, pois ele é um esporte de resistência e os anos de prá-tica te darão uma base para o futuro.

Fôlego – Deixe um recado para os cearenses e brasileiros.WM – Acho que só tenho a agradecer o apoio da torcida que está sendo cada vez maior. Continuarei representando o Ceará e o Brasil onde eu for. Apesar da falta de apoio e mui-tos problemas que temos no Ceará e no Brasil, eu levo a nos-sa bandeira onde estiver. Conto com a torcida de todos rumo a Londres 2012 e Rio 2016.

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SETEMBRO/OUTUBRO DE 20116

Seja por lazer, moda ou como exercício, os fortalezenses tro-caram as chinelas pelos patins e invadiram a avenida Beira Mar. “É o único espaço. Não é um local apropriado, mas é onde a gen-te usa pra patinar e pra fazer as pessoas se conscientizarem do esporte”, desabafa o presidente da Federação Cearense de Pati-nação, Éder Bicudo.

Algumas pessoas, no entan-to, já se mostram descontentes com o crescente número de patinadores. “Eu acho horrível ir para ali. Você não sabe quem tá errado. Eu já vi até criança sen-do atropelada. A pessoa que tá andando de patins não sabe se ela deve desviar ou o pedestre”, revela a universitária Marina Solon. Gabriela Trindade, mo-radora da Beira Mar, também demonstra insatisfação: “Eles tomam conta do lugar. É hor-rível. Você tem que andar com cuidado. Se tá tão na moda de-veriam fazer uma quadra, um negócio apropriado. Incomoda pra quem quer só passear”.

Sobre essa questão, Bicu-do fala que uma solução já foi

vislumbrada no projeto de re-vitalização da Beira Mar. “Vai ser feito um grande projeto e está previsto um ring. A gente cha-ma o ring de patinação. É uma quadra de patinação adequada, com alambrado, com banquinho pras pessoas sentarem, onde a pessoa pode ir patinar tranqui-la. Só vai ter patinador lá dentro. Não vai ter perigo de você cair num buraco, como tem aqui no calçadão, esbarrar com alguém, bicicleta, cachorro”.

Marília Pedroza

Mesmo quem não costuma passear com frequência pelo calçadão da avenida Beira Mar já reparou que ultimamente é preciso fi car atento a muitos frequentadores que passam ao nosso lado deslizando velozes em ziguezague. São patinado-res, a nova mania que tomou conta da orla.

O esporte já foi modinha em Fortaleza em 1978 e em 1993, com o estouro dos patins in line, que possuem quatro rodas alinhadas. Mas sempre a febre passa e “depois acaba total”, constata o presidente da Fede-ração Cearense de Patinação, Éder Bicudo. Ele conta que a patinação voltou quando apare-ceu na telenovela “Malhação”, há cerca de dois anos.

“Mas aqui começou a ser de-senvolvido. Um cara começou a alugar patins e agora já tem mais de 10 pessoas alugando”. É o caso do italiano Emanuele Serafi ni, que vive em Fortaleza há oito anos. “Eu moro perto, não tava fazendo nada e vi que tinha muita gente alugando. Aí eu vim”. Emanuel, como prefe-re ser chamado no Brasil, onde seu nome original é considerado feminino, começou o negócio no início de 2011 e já conta com 30 pares de patins. Num fi nal de se-mana comum, ele chega a alugar todos. Uma hora custa oito reais e o usuário pode escolher entre patins de velocidade e patins de manobra. O italiano também aluga skate e empresta material de segurança, como as joelhei-ras. As chinelas dos patinadores fi cam guardadas com ele.

Para os interessados em co-meçar a prática, a maioria dos alugadores de patins esta-cionam suas vans na praia de Iracema, em frente à estátua de metal. O aluguel pode variar de cinco a dez reais por uma hora de uso. Bi-cudo dá a receita para os iniciantes. “A gente aconselha qualquer pessoa, antes de fazer qualquer esporte, a procurar um médico pra saber se tem alguma restrição, problema de tornozelo, essas coisas. Pro-curar orientações de quem já anda há mais tempo e o princi-pal, usar equipamento de pro-teção. Joelheira, cotoveleira, caneleira e capacete. Porque existe queda e se machuca se a pessoa não estiver habilitada”.

Foi assim que Alisson Alves Dias começou a patinar, mes-

A patinação volta com força total na orla de Fortaleza e divide opiniões entre os pedestres por invadir o cal-çadão da Beira-Mar. Prefeitura pensa na alternativa de construir quadra de patinação para os usuários

mo com um problema nos rins. “Pra mim, a patinação repre-senta hoje uma superação. Eu comecei a treinar devagarzinho, pra não machucar. Porque na hemodiálise o pessoal vê a gen-te como um doente. O pessoal lá da clínica parece que pensa que quem é doente não pode fazer nada. Então, eu sempre incenti-vo lá”. Hoje Alisson é instrutor, anda de patins todos os dias e se considera uma pessoa com bom preparo físico. Revitalização prevê quadra

Espera, enquanto a quadra não sai, pedestres e patinadores tentam se entender Foto: thalyta martins

Atividade física De acordo com a educadora física Samara Maia, 26 anos, a patinação é uma excelente atividade física. Aumenta a re-sistência muscular e, a partir dos trinta minutos de prática, leva a uma melhora do condi-cionamento cardio-respirató-rio. “Mas é preciso ter uma in-tensidade maior. Se realizada dessa forma, é possível quei-mar até 800 calorias em uma hora”, garante.

Para Bicudo, “se você for ver o treinamento de um profi ssio-nal de patinação, tecnicamente é quase a mesma coisa que o treinamento de um triatleta. É muito puxado. Tem que ter uma parte aeróbica bem trei-

nada”.Além de todos

os benefícios de ser uma ativida-

de físi- ca, para Bicudo, o que a patinação traz de melhor é a liberdade. “Você, quando tá de patins, lógico, você sabendo patinar, tendo o domínio do patins, você vai pra onde qui-ser. Isso se a cidade permitir,

né? Áreas apropriadas... Mas, aqui, a gente se diverte bas-

tante na Beira Mar. Não é todo mundo que pode estar assim. São poucos países do mundo que têm

o privilégio de você tá pa-tinando na praia. É muito legal andar de patins”.

Quando começar? É aconselhável ini-

ciar a partir de três anos de idade, mas para parar

Lotação: na noite do feriado do 7 de setembro, os patins estavam tão disputados que muitas pessoas não conseguiram alugar Foto: thalyta martins

Patins viram febre na Beira Mar

Saiba mais

e o usuário pode escolher entre patins de velocidade e patins de manobra. O italiano também aluga skate e empresta material de segurança, como as joelhei-ras. As chinelas dos patinadores fi cam guardadas com ele.

Para os interessados em co-meçar a prática, a maioria dos alugadores de patins esta-cionam suas vans na praia de Iracema, em frente à estátua de metal. O

cudo dá a receita para os iniciantes. “A gente aconselha qualquer pessoa, antes de fazer qualquer esporte, a procurar um médico pra saber se tem alguma restrição, problema de tornozelo, essas coisas. Pro-curar orientações de quem já anda há mais tempo e o princi-pal, usar equipamento de pro-teção. Joelheira, cotoveleira, caneleira e capacete. Porque existe queda e se machuca se a pessoa não estiver habilitada”.

Foi assim que Alisson Alves Dias começou a patinar, mes-

o treinamento de um profi ssio-nal de patinação, tecnicamente é quase a mesma coisa que o treinamento de um triatleta. É muito puxado. Tem que ter uma parte aeróbica bem trei-

nada”.

de físi- ca, para Bicudo, o que a patinação traz de melhor é a liberdade. “Você, quando tá de patins, lógico, você sabendo patinar, tendo o domínio do patins, você vai pra onde qui-ser. Isso se a cidade permitir,

né? Áreas apropriadas... Mas, aqui, a gente se diverte bas-

tante na Beira Mar. Não é todo mundo que pode estar assim. São poucos países do mundo que têm

o privilégio de você tá pa-tinando na praia. É muito legal andar de patins”.

Quando começar? É aconselhável ini-

não tem limite. Wendelly Sil-va, 12, patina desde os dez e não teve difi culdades para aprender. “Eu vi e peguei. Eles me explicavam e eu ia atrás de aprender”. Wendelly exi-be habilidade nas manobras e afi rma que quer ser profi s-sional no esporte. Só que, por enquanto, o único par de pa-

tins da família tem que ser di-vidido com as outras mulheres da casa: a irmã mais nova e a mãe, dona Eliane Gomes. Ela vende água de côco e assis-te atenta às manobras sobre quatro rodas. Mas não fi ca só assistindo. “Eu gosto de pati-nar. É bom porque te dá uma adrenalina a mais na rotina”.

Exemplo e superação:O instrutor de patina-ção Alisson, orgulha-se em ser um dos poucos brasileiros que faz he-modiálise e patina Foto: thalyta martins

Page 7: Fôlego #26

7SETEMBRO/OUTUBRO DE 2011

É possível observar, diariamente, pedestres fazendo cooper na Av. Wa-shington Soares. O que muito dos co-opistas não sabem é que tal exercício pode ser extremamente prejudicial à saúde, tanto pela poluição atmosférica quanto pela sonora

Luiz Carlos Bomfim

Esportistas amadores estão realizando atividades em lo-cais inapropriados, o que pode gerar malefícios à saúde. O exemplo mais visível ocorre na Avenida Washington So-ares (rodovia CE-040), onde é possível encontrar pessoas praticando caminhadas e cor-ridas no período da manhã e no final da tarde, horários em que o fluxo de veículos é mais intenso. Também podem ser observados grupos de ciclistas noturnos pedalando ao lado dos carros. A realização de exercícios físicos com o objeti-vo de melhorar a saúde do cor-

po e da mente pode não trazer benefícios, dependendo do lo-cal onde são praticados. Por falta de informação, muitos esportistas “de final de expe-diente ou de final de semana” praticam seus exercícios em ambientes inadequados.

Profissionais da saúde ad-vertem que praticar esportes em uma via poluída é extre-mamente maléfico à saúde. A fuligem inalada pode causar ressecamento das vias respi-ratórias, alergias, sinusite, ri-nite, bronquite, crises de asma etc. E a exposição contínua à fumaça dos carros, a longo prazo, traz os mesmos malefí-cios do cigarro. Os gases emi-tidos por veículos possuem, além de fuligem e materiais particulados, traços de metais pesados e monóxido de carbo-no. Este último, uma vez ina-lado, forma nas hemácias uma ligação química que inutiliza o processo de absorção de oxi-gênio.

Walter Cortez, professor da disciplina de Fisiologia da Ati-vidade Física, do curso de Edu-

Esporte em avenidas é um risco à saúde

A professora Elieide da Silva costuma caminhar na avenida Washington Soares para ir a sua academia. Ela acrescenta outros inconvenientes de se exercitar em avenidas: “Já fiquei várias ve-zes gripada. Acho que é por conta da poluição. Além disso, ocorrem muitos assaltos. São os meninos que andam de bicicletas no meio da avenida”. A dona de casa Ro-sângela Tavares pensa diferente. “É mais pratico e me sinto segu-ra na Washington Soares, pois há bastante movimento” afirma. Já o estudante Igor Moreira afir-ma usar a avenida para a prática de esporte porque a ciclovia é o equipamento de lazer mais pró-ximo da sua casa.

Igor e Rosângela encontra-vam-se na avenida, na altura

Lago Jacarey é uma alternativa

cação Física da Universidade de Fortaleza, adverte: “Quan-do você faz uma atividade físi-ca, ocorre uma vaso dilatação. Os capilares dos pulmões e os alvéolos ficam mais abertos, a fim de facilitar a captação e a distribuição de oxigênio pelo organismo. Logo, caminhar em um local poluído reduz a oferta de oxigênio, pois parte do ar contém gases dos es-capamentos dos veículos”. O professor também lembra que a oferta de oxigênio menor, juntamente com a atividade física, causa nos músculos a produção de ácido lático.

Nem só a poluição atmos-férica é prejudicial. De acordo com o otorrinolaringologista Dr. Daniel Pinheiro, “se pen-sa muito quanto à poluição dos carros, mas se esquece da poluição sonora. São dois ma-lefícios de se fazer uma cami-nhada em um ambiente ina-propriado como uma avenida. A poluição sonora é responsá-vel pelo aumento do número de pessoas que apresentam al-gum grau de perda auditiva”.

Fortaleza na rota do Brasil na Copa

17 de junho de 2014, será uma data marcante para os fortale-zenses apaixonados por futebol. No dia acontecerá o segundo jogo do Brasil na Copa e o palco será o nosso Castelão. A capi-tal cearense foi escolhida para sediar um dos jogos do Bra-sil na primeira fase da Copa do Mundo de 2014 e para um dos jogos da segunda fase, caso a se-leção brasileira se classifique. Ao todo serão seis jogos na Arena Castelão, estádio que já está com mais 45% das obras concluídas. Além disso, Fortaleza foi escolhida como sede da Copa das Confe-derações em 2013. Uma das semi-finais será disputada no Ceará.

Parapanamericano 2011Entre os dias 12 e 20 de Novembro serão realizados o Jogos Parapan-americanos. Nesta edição, a com-petição que reúne países dos con-tinentes americanos, será realizada em Guadalajara, no México. Coinci-dentemente, a primeira edição de um Parapan também foi no mesmo país, em 1999, na Cidade do México. Cerca de mil e 500 atletas, de 26 pa-íses, disputarão as 13 modalidades do evento. Mais de 200 atletas representarão o Brasil nos jogos. Assim como os últimos jogos no Rio de Janeiro, as instalações do Pan serão aproveitadas para o Parapan.

Basquete brasileiroO basquete masculino brasileiro está de volta às Olimpíadas após 15 anos de ausência. Com o segundo lugar na Copa América, disputada em setembro, o Brasil ganhou uma das duas vagas para ir a Londres disputar os Jogos Olímpicos. A ou-tra vaga ficou com a Argentina, campeã do torneio entre seleções americanas. Foram três olimpíadas em que o Brasil só assistiu aos jogos de basquete pela TV. A Olímpiada vai ser disputada de 27 de junho a 12 de agosto de 2012.

Olimpíadas UniversitáriasA 58º edição dos Jogos Universi-tários Brasileiros (JUBs) 2011 será realizada em Campinas (SP), de 4 a 13 de novembro. Esta é a pri-meira vez que a Região Sudeste recebe o evento. A competição reúne cerca de 3 mil atletas para a disputa de oito modalidades (atle-tismo, basquete, futsal, handebol, judô, natação, vôlei e xadrez). Os jogos são realizados nos moldes olímpicos, e adotam o mesmo padrão de acomodações, instalações e regras. Participam da com-petição os alunos regularmente matriculados e efetivamente cursan-do instituições de ensino superiores públicas ou privadas. A Unifor será representada no JUBs em cinco modalidades: basquete, volei, futsal, atletismo e natação. A instituição sediou o evento em 2009.

139º UFCO evento que mais ganha fãs no Brasil chega a sua edição núme-ro 139. O MMA (sigla para ‘’Mixed Martial Arts’’, que significa ‘’Artes Marciais Mistas’’, em português) cresceu muito nos últimos me-ses devido aos ótimos resultados dos brasileiros, sempre entre os melhores, e o fato de o próprio evento ter se realizado aqui, no famoso UFC RIO. Dessa vez, as lu-tas serão em San Jose, California, dia 19 de novembro. O principal combate será protagonizado pelo norte-americano Dan Hender-son, atual campeão dos meio-pesados do Strikeforce contra o bra-sileiro Maurício Shogun.

Foto: Divulgação

Foto: Divulgação (aFp)

Foto: Divulgação (aF)

Foto: internet

Foto: internet

do bairro Seis Bocas, porém é possível ver pessoas pra-ticando esportes em quase

toda a extensão da ciclovia da avenida.

Uma outra opção para ca-minhadas seria o Lago Jacarey, como lembra Guilherme No-gueira. “O único local ideal para fazer caminhada próxima a essa região, que eu conheça, é o Lago Jacarey. Mas, para mim, fica mais difícil sair do Seis Bocas. Não tenho tempo e o transito não ajuda’’.

O Lago Jacarey, que se locali-za na Cidade dos Funcionários, é movimentado. Nas calçadas, em torno do lago, há intensas ativi-dades comerciais que envolvem moradores locais, como feiras e barracas, mas a pratica de espor-tes é facilitada pela segurança e a qualidade do ambiente verde às margens do lago.

Elieide da Silva afirma já ter contraído doença por conta da poluição das aveni-das. Foto: rhaíza oliveira

Coopistas na Av. Washignton Soares caminham despreocupados com os possíveis malefícios dessa prática. Foto: rhaiza oliveira

Sprint (por Juliano de Medeiros)

Page 8: Fôlego #26

SETEMBRO/OUTUBRO DE 20118

Daniel Honorato

Reza a lenda indiana que exis-tia na província Taligana um poderoso rei que perdeu seu único filho em uma batalha. Ele caiu em depressão e passou a descuidar de si e de seu reino. Certo dia, o soberano recebeu a visita de um servo chama-do Sassa, que apresentou um tabuleiro de 64 casas pretas e brancas com diferentes peças que representavam o exército real. O criado explicou-lhe que o jogo poderia ser a cura de sua depressão, proporcionando-lhe conforto espiritual.

Tal lenda sobre a origem do xadrez é narrada em O Homem que Calculava, do escritor e matemático brasileiro Malba Tahan. Há várias outras teorias que especulam sobre o surgi-mento do jogo. Algumas dizem que nasceu na China, Iran e Afeganistão. Mas, segundo o assessor de comunicação da Federação Cearense de Xadrez (FCX), Anderson Moura, seu berço é a Índia.

Prática esportiva de natu-reza recreativa e competitiva entre dois jogadores, disputada num tabuleiro em casas claras e escuras, onde cada enxadrista controla 16 peças com diferen-tes tamanhos e características. O objetivo do jogo é dar o xeque-mate no oponente (veja quadro ao lado sobre as regras do jogo). Seu formato atual foi desenvol-vido no Sudoeste da Europa, na segunda metade do século XV, durante o Renascimento.

Estima-se que cerca de 605 milhões de pessoas em todo o

A posição inicial das 16 peças se disponibiliza como mostra a forma do tabuleiro, peças brancas nas casas pretas e vice-versa. Foto: Farley aguiar

Xadrez exige dedicação e estudo A Federação Cearense de

Xadrez afirma que, apesar de existirem cerca de 2 mil joga-dores no Estado e mais de trinta associações esportivas ligadas à prática, há poucos torneios e campeonatos

mundo saibam jogar xadrez. No Ceará, de acordo com a avaliação de Anderson Moura, existem duas mil pessoas pra-ticando o esporte em clubes es-palhados em todo Estado. Uma dessas agremiações é o Clube Vinte Três, localizado na Pra-ça General Sampaio. Existem outros grupos, como o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) chamado Capablanca, outro na Universidade de Federal do Ceará (UFC), formado por um grupo de escoteiros, e na cidade Maracanaú. Ao todo, o estado possui cerca de 30 associações

Dedicação e estudo são palavras indispensáveis na prática do xa-drez. Geralmente, um jogador profissional se dedica 10 horas por dia ao esporte. Alguns che-gam a estudar até 12 horas di-árias. Mas a prática pode ser preocupante. Quem alerta é o engenheiro civil Francisco Régis, 39, ao relatar que muitas pesso-as se devotam exageradamen-te ao esporte e esquecem outras atividades do dia a dia, como o trabalho e o estudo. O tempo é relevante na prática do esporte, que reclama uma dedicação inte-gral, levando alguns casos ao fra-casso em outras áreas. “Alunos vieram do interior para Fortaleza estudar e não conseguiram pas-

A motivação é a vitóriasar na Universidade Federal do Ceará (UFC), porque estavam dedicando quase todo seu tempo a jogar xadrez”.

A motivação é a vitória. Diante disso, o derrotado procura saber o que ocasionou o seu fracasso e estuda mais para buscar o triunfo sobre o seu adversário. Uma das peculiaridades que diferenciam o xadrez dos demais jogos é o ego. Como é uma pratica esportiva que envolve esforço intelectual, algumas pessoas tornam-se vai-dosas. Passam a agir com arro-gância e prepotência, resistindo em repassar suas táticas ou jo-gadas para iniciantes. “É um jogo que estimula a vaidade das pes-soas”, confirma Régis.

esportivas jogando o xadrez, al-gumas não cadastradas.

Jogada de mestre Devido à realização das elei-ções para a presidência da FCX em 2010, a nova gestão ainda está realizando recadastra-mento dos clubes. Por isso, al-gumas agremiações ainda não foram catalogadas.

Atualmente, a FCX não pos-sui sede própria. As reuniões acontecem na praça do 23º ba-talhão, na Av. Treze de Maio. Entretanto, apesar das dificul-dades, a Federação continua

se organizando e produzindo talentos, como é o caso de Le-one Moreno Lucas, 22, atual Campeão Cearense de Xadrez. O jogador começou nas ruas do Bairro do Conjunto Esperan-ça e conquistou, além do título estadual, o vice-campeonato do Aberto de Salvador, em 2010, o bi-campeonato de xadrez escolar, em 2003/2004, e foi campeão-intermunicipal por equipes.

Os torneios e campeonatos realizados no Estado são poucos, comparados à paixão que o es-porte produz entre os xadrezistas. Alguns não contam com premia-ções e seu resultado é simbólico. O apoio fica direcionado à popu-larização e inclusão social que o esporte oferece, como é o exem-plo da ação conjunta entre a Pre-feitura de Fortaleza, a Secretária de Esporte e Lazer (SECEL) e a própria FCX, que deram início ao Jogada de Mestre. O Projeto tem como objetivo ajudar jovens ca-rentes, com problemas familiares e na escola. “Tínhamos em nossa escola casos de meninos rebeldes e hiperativos, mas a partir do mo-mento que começaram a praticar xadrez, percebemos uma mudan-

ça significativa”, testemunhou Anderson Moura.

A mudança é manifestada principalmente no comporta-mento e no desenvolvimento in-telectual que o esporte produz. Quem afirma é Marco Antônio, 23, policial militar, que joga des-de os 8 anos. Praticando quase diariamente o xadrez, o esporte proporcionou alguns benefícios. “Mais raciocínio, boa memória e muita tranquilidade”.

Esses mesmos benefícios são confirmados pelo operador de su-permercado Hudson Bezerra, 32, que, na labuta diária, aproveita as horas de descanso para conversar com os amigos e jogar o xadrez. “Ele desenvolve muito aquela parte de decorar, né? E você estu-da, precisa decorar muitos lances, mas só que isso não quer dizer que você vai ser um bom jogador”. Para ele, o jogo não é difícil. Preci-sa ter dedicação e disposição para estudar, pois cada peça tem um movimento próprio e em decor-rência disso a avaliação de cada jogada é importante na decisão da partida e no xeque-mate. “Se uma pessoa quer se tornar um excelen-te jogador, precisa estudar muito, mas muito mesmo”, adverte.

Regras básicas do xadrezO tabuleiro quadrado é dividido em 64 quadrados (32 brancos e 32 pretos). Cada jogador possui 16 peças (1 Rei, 1 Rainha, 2 Bispos, 2 Cava-los, 2 Torres e 8 Peões), dispostas como na foto acima. As peças brancas iniciam a jogada, depois as peças pretas e assim por diante. A finalida-de é dar xeque-mate, o que sucede quando o rei adversário encontra-se em uma posição em que não pode movimentar nenhuma peça

Peãomove-se uma casa de cada vez apenas na direção ver-tical, em direção ao adversário. Ele ataca na diagonal à sua frente se a casa estiver ocupada por outra peça

Torre pode mover-se qualquer número de casas ape-nas nas direções horizontal e vertical

Bispo pode mover-se qualquer número de casas na diagonal, sempre nas casas da mesma cor

Cavalo move-se três casas em forma de L, duas numa direção (horizontal ou vertical) e uma na direção vertical ou horizontal

Rainhapode deslocar-se em todas as direções, o que lhe confere um peso estratégico no jogo

Rei pode mover-se em cada jogada apenas uma casa, em qualquer direção (horizontal, vertical e diagonal)

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