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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE PERNAMBUCO PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DA CIDADANIA DA CAPITAL PROMOÇÃO E DEFESA DO DIREITO HUMANO À EDUCAÇÃO EXMA. SRA. DRA. JUÍZA DE DIREITO DA 1ª VARA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE DA COMARCA DA CAPITAL “(...) A criança de quatro anos, em vez de permanecer na rua, precisa de uma pré-escola que facilitará o seu sucesso na escola fundamental, seja ela do município ou do estado. O aluno jovem ou adulto, que se escolarizou, precisa de oportunidades de formação profissional para exercer plenamente a sua cidadania, que pode ser encontrada em outra esfera administrativa. Por tudo isso, o poder público precisa agir em conjunto, por seus diversos níveis e integrantes, construindo pontes e passarelas.(...)” 1 O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE PERNAMBUCO – MPPE, representado pelas Promotoras de Justiça com atuação na Promoção e Defesa do Direito Humano à Educação que esta subscrevem, com endereço no rodapé, no uso de suas atribuições constitucionais e legais, com supedâneo no art. 129, inciso III, da Constituição Federal, no art. 67, § 2º, inciso II, da Constituição do Estado de Pernambuco, no art. 5º, inciso I, da Lei nº 7.347/85 e no art. 148, inciso IV, da Lei nº 8.069/1990, vem à presença de Vossa Excelência propor a 1 In Fundamentos de uma lei de responsabilidade educacional. Cândido Alberto Gomes, UNESCO, Série Debates X, Agosto/2008, p. 12. ___________________________________________________________________________ _____________1 Av. Visconde de Suassuna, nº 99, sala 29, Santo Amaro–CEP 50050-540– fone: 3182-7402

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE PERNAMBUCOPROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DA CIDADANIA DA CAPITAL

PROMOÇÃO E DEFESA DO DIREITO HUMANO À EDUCAÇÃO

EXMA. SRA. DRA. JUÍZA DE DIREITO DA 1ª VARA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE DA COMARCA DA CAPITAL

“(...) A criança de quatro anos, em vez de permanecer na rua, precisa de uma pré-escola que facilitará o seu sucesso na escola fundamental, seja ela do município ou do estado. O aluno jovem ou adulto, que se escolarizou, precisa de oportunidades de formação profissional para exercer plenamente a sua cidadania, que pode ser encontrada em outra esfera administrativa. Por tudo isso, o poder público precisa agir em conjunto, por seus diversos níveis e integrantes, construindo pontes e passarelas.(...)”1

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE PERNAMBUCO – MPPE, representado pelas Promotoras de Justiça com atuação na Promoção e Defesa do Direito Humano à Educação que esta subscrevem, com endereço no rodapé, no uso de suas atribuições constitucionais e legais, com supedâneo no art. 129, inciso III, da Constituição Federal, no art. 67, § 2º, inciso II, da Constituição do Estado de Pernambuco, no art. 5º, inciso I, da Lei nº 7.347/85 e no art. 148, inciso IV, da Lei nº 8.069/1990, vem à presença de Vossa Excelência propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA com pedido de ANTECIPAÇÃO DE TUTELA contra o ESTADO DE PERNAMBUCO, pessoa jurídica de direito público interno, o qual deverá ser citado na pessoa do Procurador Geral do Estado, com sede à Rua do Sol, 143, 1° andar, Santo Antônio, Recife/PE, nesta demanda representando adequadamente todos os órgãos públicos e privados do Sistema Estadual de Ensino, e contra o MUNICÍPIO DO RECIFE, pessoa jurídica de direito público interno, o qual deverá ser citado na pessoa do Excelentíssimo Prefeito, com endereço na Av. Cais do Apolo, 925 - Bairro do Recife, Recife/PE, nesta demanda representando adequadamente todos os órgãos públicos e privados do Sistema Municipal de Ensino, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas.

1 In Fundamentos de uma lei de responsabilidade educacional. Cândido Alberto Gomes, UNESCO, Série Debates X, Agosto/2008, p. 12.

________________________________________________________________________________________1Av. Visconde de Suassuna, nº 99, sala 29, Santo Amaro–CEP 50050-540– fone: 3182-7402

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PROMOÇÃO E DEFESA DO DIREITO HUMANO À EDUCAÇÃO

I- DOS FATOS ENSEJADORES DA ABERTURA DE INVESTIGAÇÃO PELO MPPE E OBJETO DA PRESENTE DEMANDA:

Em virtude de representação formulada por F. E. DE S. J. e K. A. C. DE S. (DOC. 01), pais da criança L.A.C.P.S., os quais solicitam “que o Ministério Público Estadual intervenha para que seja imediatamente suspensa a eficácia das Resoluções nº 03, de 29 de novembro de 2010, e demais atos posteriores que reproduziram a mesma ilegalidade, editados pelo Conselho Estadual de Educação, em ordem a autorizar e garantir a matrícula na primeira série do ensino fundamental das crianças que venham a completar seis anos de idade no decorrer do ano letivo (de janeiro a dezembro), uma vez comprovada sua capacidade intelectual mediante avaliação psicopedagógica por cada entidade de ensino”, o Ministério Público de Pernambuco instaurou o Procedimento de Investigação Preliminar nº 024/2011, na 29ª Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania da Capital, com o objetivo de apurar se as escolas privadas do sistema estadual de ensino estariam limitando o ingresso no ensino fundamental às crianças com seis anos de idade completos ou a completar até 31 de março de 2012, obstaculando, assim, o ingresso no ensino fundamental das crianças que completariam 06 (seis) anos de idade no decorrer do ano letivo de 2012, a partir de 1º de abril do mencionado ano, e, em consequência, restando as mesmas retidas na educação infantil.

No andamento da investigação, outro pai de aluno prejudicado com a citada Resolução, J. K. DOS S. A., compareceu ao MPPE onde prestou declaração perante o Apoio Pedagógico desta Promotoria de Justiça (Termo de Declarações nº 32/2011-PJDCC-Educação – DOC. 02), encartada nos autos do Procedimento de Investigação Preliminar nº 024/2011, onde afirma que foi informado pelo Colégio Salesiano Recife que sua filha C. A. A., nascida em 09/04/2006, aluna do Infantil II, não poderia ser matriculada no 1º ano do ensino fundamental para o ano letivo de 2012 por força de uma resolução do Conselho Estadual de Educação.

Também compareceu a esta Promotoria de Justiça A. M. B. L., mãe de G. P. L., declarando (Termo de Declarações nº 31/2011-PJDCC Educação – DOC. 03) que sua filha, embora concluindo a educação infantil com 5 anos de idade, está impedida de ser matriculada no 1º ano do

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ensino fundamental para o ano letivo de 2012 pela direção do Colégio Geração Ativa em virtude de que somente completará 6 (seis) anos de idade no dia 15/06/2012.

Quando da tramitação da representação mencionada, o MPPE diligenciou investigar como estaria ocorrendo a matrícula no 1º ano do Ensino Fundamental nas escolas públicas do Sistema Estadual de Ensino, evidenciando que o Diário Oficial do Estado (DOE), edição de 05/11/2011, publicou a Instrução Normativa de Cadastro Escolar e Matrícula nº 11/2011 (DOC. 04), com as regras para a realização do cadastro e matrícula dos estudantes, para o ano letivo de 2012, na educação básica da rede estadual de ensino do Estado de Pernambuco2.

A normativa é expressa em seu art. 7º, inciso I: deverá inscrever-se no cadastro candidato(a) ao 1º ano do Ensino Fundamental, com seis anos de idade completos ou a completar até 31 de março do ano em que ocorrer a matrícula de acordo com a Resolução CNE/CEB nº 06/2010 de 20/10/2010.

A edição dessa instrução normativa motivou a instauração, de ofício, de um outro Procedimento de Investigação Preliminar (nº 023/2011) na 29ª Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania da Capital, para apurar se mencionado instrumento normativo, com fundamento em seu art. 7º, I, também iria impedir o ingresso de crianças no 1º ano do ensino fundamental das escolas da rede estadual de ensino.

O MPPE ainda decidiu investigar como estaria ocorrendo a matrícula no 1º ano do Ensino Fundamental nas escolas públicas do Sistema Municipal de Ensino do Recife, evidenciando que, na edição do Diário Oficial do Município (DOM) de 17/11/2011, foi publicada a Instrução Normativa de Matrícula nº 03/2011 (DOC. 05), com as regras para a realização das matrículas dos estudantes, para o ano letivo de 2012, na educação básica das unidades educacionais da rede municipal de ensino do Recife3.

Tal normativa estabeleceu que o acesso às turmas do 1º ciclo/1º ano do ensino fundamental restou garantido apenas aos estudantes com 6 2 Ou seja, as normas que regem a matrícula para os estudantes que pretendem ingressar ou se manter nas escolas públicas do Sistema Estadual de Ensino (rede estadual de ensino).3 Correspondem às normas que disciplinam a matrícula para os estudantes que pretendem ingressar ou se manter nas escolas públicas do Sistema de Ensino do Recife.

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anos completos ou a completar até o dia 31/03/2012 (cf. art. 3º, caput, e parágrafo único).

A edição dessa instrução normativa municipal motivou a instauração, de ofício, de mais um Procedimento de Investigação Preliminar (nº 026/2011), na 29ª Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania da Capital, para apurar se as escolas do sistema municipal de ensino estariam limitando o ingresso no ensino fundamental às crianças com seis anos de idade completos ou a completar até 31 de março de 2012, obstaculando, assim, o ingresso no ensino fundamental das crianças que completariam 06 (seis) anos de idade no decorrer do ano letivo de 2012, a partir de 1º de abril do mencionado ano, e, em consequência, restando as mesmas retidas na educação infantil.

Esse assunto, inclusive, mereceu destaque na edição do Jornal do Commercio de 23 de outubro de 2011 (DOC. 06), na qual foi publicada a matéria intitulada ”Limite para o aprendizado”, com declarações de mães de crianças que estão no último ano da educação infantil e que se encontram na iminência de serem retidas nessa primeira etapa da educação básica por não completarem 06 (seis) anos de idade até o dia 31 de março de 2012.

A matéria jornalística repercutiu, havendo o mesmo Jornal do Commercio, na sua edição de 10/11/2011, veiculado em sua coluna “Repórter JC” duas matérias intituladas “Educação para todos” e “Desrespeito burocrático” (DOC. 07). Na primeira, o Presidente do Conselho Estadual de Educação, o Professor Fernando Gonçalves admitiu entender como balizamento sobre qual deve ser a idade mínima para ingresso no ensino fundamental a Emenda Constitucional nº 59/2009 (a educação básica é obrigatória e gratuita dos quatro aos dezessete anos) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (que assegura enquanto princípios a prioridade absoluta e o respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, garantindo acesso aos níveis mais elevados de ensino conforme a capacidade de cada aluno). Na segunda das matérias, a mencionada autoridade afirmou, categoricamente, que “há um desrespeito burocratizador diante da Lei 10.172/20014, a qual é enfática: quanto mais cedo se der a intervenção educacional, mais eficaz ela se

4 A Lei nº 10.172/2001 instituiu o anterior Plano Nacional de Educação, ressaltando que o novo Plano Nacional de Educação se encontra em tramitação no Congresso Nacional.

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tornará no decorrer dos anos, produzindo efeitos mais profundos sobre o desenvolvimento das crianças”.

Na realidade, o Conselho Nacional de Educação (CNE), através de sua Câmara de Educação Básica (CEB), editou a Resolução CNE/CEB nº 6 (DOC. 08), de 20 de outubro de 2010, onde foram definidas diretrizes operacionais para a matrícula no ensino fundamental e na educação infantil, estabelecendo, em seu art. 2º, que “para o ingresso na Pré-Escola, a criança deverá ter idade de 4 (quatro) anos completos até o dia 31 de março do ano em que ocorrer a matrícula”. Quanto ao ensino fundamental, determinou a resolução, no art. 3º, que “para o ingresso no primeiro ano do Ensino Fundamental, a criança deverá ter idade de 6 (seis) anos completos até o dia 31 de março do ano em que ocorrer a matrícula”.

Vale ressaltar que a mesma resolução consagrou uma exceção, exclusivamente para o ano letivo de 2011: admitiu que os sistemas de ensino poderiam “dar prosseguimento para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos às crianças de 5 (cinco) anos de idade, independentemente do mês do seu aniversário de 6 (seis) anos, que no percurso educacional estiverem matriculadas e frequentaram, até o final de 2010, por 2 (dois) anos ou mais a Pré-Escola” (cf. art. 5º, § 2º). Seguro o CNE da valia da regra imposta, o que justificaria excepcionar? Diferentes seriam as crianças que completaram 6 anos em 2011, daquelas que alcançarão tal idade em 2012? Não se encontra qualquer fundamento razoável para tal previsão!

Em seguida, no mês de dezembro/2010, a mesma Câmara de Educação Básica (CEB) do CNE editou a Resolução CNE/CEB nº 7 (DOC. 09), de 14 de dezembro de 2010, ao fixar as diretrizes curriculares nacionais para o ensino fundamental de 9 anos, repetiu a resolução anterior, referida: manteve a limitação do acesso ao 1º ano do ensino fundamental às crianças que possuam 6 (seis) anos completos ou a completar até o dia 31 de março do ano em que ocorrer a matrícula. Estabeleceu, ainda, que as crianças que venham a completar 6 (seis) anos após essa data sejam matriculadas na pré-escola (v. art. 8º, §§ 1º e 2º), insistindo na inconstitucionalidade que incorrera ao editar a Resolução CNE/CEB nº 06/2010 (v. CF, art. 208, IV).

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Por sua vez, o Conselho Estadual de Educação (CEE) de Pernambuco5, com base naquela Resolução do CNE/CEB, editou a Resolução CEE/PE nº 3 (DOC. 10), de 29 de novembro de 2010, estabelecendo para as escolas integrantes do Sistema Estadual de Ensino:

“(...)I- para o ingresso na Pré-Escola, a criança deverá ter 4 (quatro) anos completos ou a completar até 31 de março do ano que ocorre a matrícula;II- para o ingresso no primeiro ano do Ensino Fundamental, a criança deverá ter idade de 6 (seis) anos completos até o dia 31 de março do ano em que ocorre a matrícula.Parágrafo único. As crianças que completarem 6 (seis) anos de idade após a data estabelecida nesta Resolução, deverão ser matriculadas na Pré-Escola”.

Tal como o CNE, a Resolução do CEE também excepcionou as regras que estipulou, antes transcritas, exclusivamente para o ano letivo de 2011: “no ano de 2011, as crianças que, em seu percurso escolar, frequentaram no mínimo 2 (dois) anos na Pré-Escola, deverão ter acesso ao primeiro ano de estudos no Ensino Fundamental de 9 (nove) anos, independente do mês de seu aniversário de 6 (seis) anos” (art. 3º, destaque não existente no original).

Já no âmbito do Sistema Municipal de Ensino do Recife, o Conselho Municipal de Educação (CME)6 não chegou a editar regra específica sobre o acesso ao ensino fundamental, tendo a Instrução Normativa de Matrícula nº 03/2011 (DOC. 05), adotado por fundamento o art. 8º, § 1º, da Resolução CNE/CEB nº 07/2010 anteriormente destacada.

Exemplificando a situação acima explicitada, o MPPE, por meio de seu apoio pedagógico, realizou inspeção no Colégio Fazer Crescer, no Colégio Pontual, no Colégio Santa Maria e no Educandário Nossa Senhora de Lourdes (todas escolas privadas do Sistema Estadual de Ensino), comprovando as situações expostas no Relatório de Inspeção nº 49/2011 5 A quem compete estabelecer normas relativas à adequação do Sistema Estadual de Ensino aos princípios das Constituições Federal e Estadual, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e do Plano Nacional de Educação (cf. inciso I do art. 2º da Lei Estadual nº 11.913/2000), compatibilizar as diretrizes curriculares estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação com a política educacional do Estado (inciso VII, idem), e fixar normas para autorização, reconhecimento e sua renovação, credenciamento, re-credenciamento de instituições de ensino, integrantes do Sistema Estadual de Ensino (cf. inciso VIII, idem).6 Órgão normativo, deliberativo e consultivo do Sistema Municipal de Ensino do Recife que possui entre as suas atribuições, “normatizar a prestação do serviço público educacional” (cf. art. 2º, caput e inciso III, da Lei Municipal nº 17.325/2007).

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(DOC. 11), evidenciando que cada unidade de ensino teve uma posição distinta tentando se adequar ao corte etário estabelecido nas Resoluções do CNE/CEB nº 6 e 7/2010 e do CEE/PE nº 03/2010.

Para confirmar a implicação do corte etário nas escolas públicas e privadas dos Sistemas Estadual e Municipal de Ensino, o mencionado apoio pedagógico emitiu o Pronunciamento nº 06/2011 (DOC. 12), tecendo algumas considerações a respeito do critério de idade no acesso ao 1º ano do ensino fundamental, considerando, ao final “que a Secretaria de Educação de Pernambuco, através da Instrução Normativa nº 11/2011, e a Secretaria de Educação, Esporte e Lazer do Recife, através da Instrução Normativa de Matrícula nº 03/2011, estão impedidno de ingressar no Ensino Fundamental no próximo ano letivo as crianças que completam seis anos de idade, após o dia 31 de março de 2012”.

Ademais, pesquisa realizada no sítio eletrônico do Tribunal de Justiça de Pernambuco, demonstrou que representantes legais de crianças matriculadas na educação infantil de escolas privadas do sistema estadual de educação tem ingressado com medidas judiciais a fim de assegurar o ingresso de seus filhos não obstante a discutida previsão normativa do CCE, e obtido antecipação de tutela pleiteado, conforme se constata nas decisões proferidas nos processos de nº 0060233-29.2011.8.17.0001 (DOC. 13); 0069803-39.2011.8.17.0001 (DOC. 14); 0058799-05.2011.8.17.0001 (DOC. 15); 0060669-85.2011.8.17.000 (DOC. 16); 00600232-44.2011.8.17.0001 (DOC, 17); 0063511-38.2011.8.17.0001 (DOC. 18); 0063186-63.2011.8.17.0001 (DOC. 19); 0065594-27.2011.8.17.0001 (DOC. 20); 0065785-72.2011.8.17.0001 (DOC. 21); 0065405-49.2011.8.17.0001 (DOC. 22); 0065409-86.2011.8.17.0001 (DOC. 23); 0065410-71.2011.8.17.0001 (DOC. 24); 0065418-48.2011.8.17.0001 (DOC. 25); 0065427-10.2011.8.17.0001 (DOC. 26); 0065430-62.2011.8.17.0001 (DOC. 27); 0065438-39.2011.8.17.0001 (DOC. 28); 0065424-55.2011.8.17.0001 (DOC. 29); 0065451-38.2011.8.17.0001 (DOC. 30).

Registre-se que o Ministério Público Federal (Procuradoria da República em Pernambuco) ingressou com Ação Civil Pública (Processo nº 0013466-31.2011.4.05.8300) junto à 2ª Vara da Justiça Federal, onde obteve antecipação de tutela determinando a suspensão, das disposições (de autoria do Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Básica) das “Resoluções de nº 01, de 14/01/2010, de nº 06, de 20/10/2010

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e outras normas que a elas se seguiram de igual conteúdo, no que tange à proibição de ingresso no ensino fundamental de crianças menores de idade em 31 de março do ano letivo a ser cursado, de modo a permitir a regular matrícula desses educandos nas instituições escolares”.

II – DO DIREITO:

A Constituição Federal, ao consagrar o Estado Democrático, em seu Preâmbulo, assegura o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e na ordem internacional, com a solução pacífica das controvérsias, Daí ser expressa a Carta Magna: “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade” (art. 5º, caput, da Carta Magna – destaque não existente no original).

Nela a educação é tratada como um dos direitos sociais, juntamente com a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados (art. 6º, caput).

A mesma Lei Fundamental dispõe, ainda, que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (cf. caput do art. 227 – destaques não existentes no original). Tal disposição encontra-se também expressamente consagrada no Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (Lei nº 8.069/1990, art. 4º) e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB (Lei nº 9.394/1996, art. 2º).

Cuidando especificamente da educação, o texto constitucional a considerou como direito de todos e dever do Estado e da família, devendo ser promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (v. art. 205), o que é refletido no caput do art. 53 do ECA.

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Tal dispositivo foi recepcionado pela Constituição do Estado de Pernambuco, em seu art. 176 (“A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, baseada nos fundamentos da justiça social, da democracia e do respeito aos direitos humanos, ao meio ambiente e aos valores culturais, visa a preparar o educando para o trabalho e torná-lo consciente para o pleno exercício da cidadania e para a compreensão histórica de nosso destino como povo e nação”).

MARIA CRISTINA DE BRITO LIMA7 pontuou:

“No caso da educação, tem-se que, embora esteja, como um todo, evidenciada no art. 6º, ‘caput’, da Lei Fundamental, no que toca à educação básica (ensino fundamental) houve o seu deslocamento para a categoria de direito fundamental, pois, ao tratar amiúde do Tema no Título VIII, Da Ordem Social, o legislador constitucional atendeu ao reclamo da sociedade e estabeleceu no artigo 208, § 1º, da Constituição Federal que o acesso ao ensino obrigatório (este entendido como ensino fundamental, a teor do mesmo artigo, inciso I) e gratuito é direito público subjetivo.

Mais especificamente, o direito à educação básica tornou-se tão importante quanto o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, todos evidenciados pelo ‘caput’ do artigo 5º da Carta Magna, tendo como consequência, a possibilidade de demanda independentemente de qualquer política pública que o evidencie.

(…)

Com efeito, o direito público subjetivo ao ensino fundamental, obrigatório e gratuito, está ligado ao ‘status positivus libertatis’, isto é, aquela circunstância necessária a que o indivíduo possa ir em busca de oportunidades em igualdade de condições com os demais”.

Nesse contexto, o art. 206 da norma constitucional impõe que o ensino deverá ser ministrado com base em princípios, dentre eles, o da igualdade de condições para o acesso e permanência na escola (inciso I), o da liberdade de aprender (inciso II) e o da coexistência de instituições públicas e privadas de ensino (inciso III, parte final), princípios que também se encontram inscritos nos arts. 178, incisos I e VI, da Constituição Estadual; art. 3º, incisos I e V, da LDB; e no art. 53, inciso I, do ECA.

O direito à educação não se situa dentro da discricionariedade estatal mas se constitui, repita-se, em dever do Estado

7 A Educação como Direito Fundamental, 1ª edição, 2003, RJ: Editora Lumen Juris, pág. 29.________________________________________________________________________________________9

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PROMOÇÃO E DEFESA DO DIREITO HUMANO À EDUCAÇÃO

efetivar o direito à educação mediante algumas garantias constitucionais (art. 208 da CF), dentre as quais se destacam:

“(...)I – educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria8;(...)IV – educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade 9 ;V- acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;(...)§ 1º. O acesso ao ensino obrigatório é direito público subjetivo.§2º. O não oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente.(...)” (destaques não existentes no original).

Essas garantias estão previstas também no art. 4º da LDB10 e no art. 54 do ECA11.

Entretanto, como o texto constitucional original sofreu alterações introduzidas pela Emenda Constitucional nº 53/2006, resultou em divergência entre essa emenda constitucional e a legislação infraconstitucional citada (art. 4º da LDB e art. 54 do ECA). Isto porque pela emenda constitucional o Estado deverá garantir a educação infantil, em creche e pré-escola, até os 5 (cinco) anos de idade (art. 208, inciso IV, 8 Redação determinada pela EC nº 59/2009, entretanto, o próprio art. 6º dessa EC estabeleceu que “o disposto no inciso I do art. 208 da Constituição Federal deverá ser implementado progressivamente, até 2016, nos termos do Plano Nacional de Educação, com apoio técnico e financeiro da União” (destaque não existente no original).9 Redação determinada pela EC nº 53/2006.10 LDB, art. 4º: “O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de :

I- ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiverem acesso na idade própria;

(…)IV- atendimento gratuito em creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos de idade;V- acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a

capacidade de cada um;(...)X- vaga na escola pública de educação infantil ou de ensino fundamental mais próxima de

sua residência a toda criança a partir do dia em que completar 4 (quatro) anos de idade.”11 ECA, art. 54: ”É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente:

I- ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiverem acesso na idade própria;

(…)IV – atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade;V – acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística,

segundo a capacidade de cada um;(...)”.

________________________________________________________________________________________10Av. Visconde de Suassuna, nº 99, sala 29, Santo Amaro–CEP 50050-540– fone: 3182-7402

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CF) e não mais até os 6 (seis) anos de idade. Enquanto que na LDB (arts. 4º, inciso IV e 30, inciso II) e no ECA (art. 54, inciso IV), permaneceu consignado atendimento em creche e pré-escola de 0 (zero) a 6 (seis) anos de idade. Portanto, as normas infraconstitucionais citadas, insculpidas na LDB e no ECA, não sofreram – como deveriam – alterações para se adaptarem ao novo texto constitucional supra destacado e se encontram em desacordo com a nossa Carta Magna.

Vale consignar que, necessariamente prevalece o texto constitucional em relação à legislação infraconstitucional, em virtude do princípio da supremacia da Constituição Federal, estando essa legislação infraconstitucional implicitamente revogada no que diverge do texto constitucional.

A respeito desse princípio da supremacia da Constituição Federal, leciona JOSÉ AFONSO DA SILVA12:

“Nossa Constituição é rígida. Em consequência, é a lei fundamental e só ela confere poderes e competências governamentais. Nem o governo federal, nem os governos dos Estados, nem os dos Municípios ou Distrito Federal são soberanos, porque todos são limitados, expressa ou implicitamente, pelas normas positivas daquela lei fundamental. Exercem suas atribuições nos termos nela estabelecido.

Por outro lado, todas as normas que integram a ordenação jurídica nacional só serão válidas se se conformarem com as normas da Constituição Federal”.

Ressalte-se que, se por um lado o Estado tem deveres com a educação básica, de outro, a legislação atribui deveres aos pais ou responsáveis pelas crianças. Tanto é que o art. 6º da LDB impõe que é dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula dos menores, a partir dos seis anos de idade, no ensino fundamental.

No ECA, esse mesmo dever está expresso no art. 55: “os pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino”.

Neste ponto, vale destacar que a Constituição Estadual determinou em seu art. 179, § 1º, que é obrigatória a escolarização dos seis aos dezesseis anos, ficando os pais ou responsáveis pelo educando responsabilizados, na forma da lei, pelo não-cumprimento desta norma.

12 Curso de Direito Constitucional Positivo, 30ª edição, 2007, SP: Malheiros Editores, pág. 46.________________________________________________________________________________________11Av. Visconde de Suassuna, nº 99, sala 29, Santo Amaro–CEP 50050-540– fone: 3182-7402

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É sabido que a Lei nº 11.274/2006 implementou uma grande mudança na LDB, ampliando o ensino fundamental obrigatório de 08 (oito) para 09 (nove) anos de duração, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade (v. art. 32, caput), bem como estabelecendo que cada Estado e Município deve matricular todos os educandos a partir dos 6 (seis) anos de idade no ensino fundamental (cf. nova redação do art. 87, § 3º, inciso I).

Frise-se que, em nenhum momento, o legislador constitucional determinou que os 6 (seis) anos de idade deveriam ser completados no início, no meio ou no fim do ano e qualquer tentativa burocrática de estabelecer um corte etário para essas crianças deve ser repudiada, por não se revestir de amparo constitucional e legal.

Nenhum instrumento normativo poderá restringir direito público subjetivo garantido na nossa Carta Maior.

Após a análise dos dispositivos constitucionais e infraconstitucionais citados, pode-se concluir:

1º: o dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade (art. 208, inciso I, da CF – redação dada pela Emenda Constitucional nº 59/2009);

2º: o dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de educação infantil, em creche e pré-escola às crianças até 5 (cinco) anos de idade (art. 208, inciso IV, da CF – redação dada pela Emenda Constitucional nº 53/2006);

3º: o acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo de todos (art. 208, § 1º, da CF);

4º: é dever do Estado e dos Municípios matricular todos os educandos a partir dos 6 (seis) anos de idade no ensino fundamental (arts. 32, caput, e 87, § 3º, inciso I, da LDB – redação dada pela Lei nº 11.274/2006);

5º: é dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula das crianças, a partir dos seis anos de idade, no ensino fundamental (art. 6º da LDB – redação dada pela Lei nº 11.274/2006).

A bem da verdade, a real intenção do legislador, ao ampliar o ensino fundamental obrigatório de 8 (oito) para 9 (nove) anos, foi a de antecipar a entrada das crianças nesta etapa da educação básica, muitas das quais – a grande maioria das classes menos favorecidas que não têm acesso à educação infantil por não ter sido universalizada – permanecem nas ruas submetidas a toda sorte de violência e provação. Com essa ________________________________________________________________________________________12Av. Visconde de Suassuna, nº 99, sala 29, Santo Amaro–CEP 50050-540– fone: 3182-7402

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mudança e ampliação do ensino fundamental para 9 (nove) anos, as crianças não precisam esperar pelos 7 (sete) anos de idade para ingressar no 1º ano do ensino fundamental obrigatório, entrando 1 (um) ano mais cedo, aos 6 (seis) anos de idade.

Destaque-se que a matrícula das crianças no 1º ano do ensino

fundamental deve ocorrer no início do ano em que a mesma completa 6 (seis) anos de idade, não fazendo o menor sentido que essa matrícula ocorra somente no decorrer do ano letivo no qual a criança completa os 6 (seis) anos de idade, pois isso seria pedagogicamente inadequado e estaria em desacordo com o texto constitucional e infraconstitucional.

Além do mais, os pais/responsáveis poderiam ser responsabilizados caso não efetuassem a matrícula de seus filhos/pupilos no ensino fundamental, a partir dos seis anos de idade.

Como assegurar o cumprimento desses deveres pelo Estado, pelo Município e pelos pais/responsáveis, senão entendendo que no ano em que as crianças completam os 6 (seis) anos de idade, independente da data de seus aniversários, devem estar matriculadas no ensino fundamental de 9 (nove) anos? Se assim não for, no decorrer do ano, quando as crianças completarem os 6 (seis) anos de idade e não estiverem matriculadas no 1º ano do ensino fundamental obrigatório, estará havendo o descumprimento das regras constitucionais pelo Estado, pelo Município e pelos pais/responsáveis.

Ressalte-se, ainda, que as alterações introduzidas na Constituição Federal (art. 208, I e IV) e em dispositivos da própria LDB (arts. 6º, 32, caput, e 87, § 3º, inciso I), anteriormente explicitados, asseguram que a pré-escola deverá ser garantida às crianças até 5 (cinco) anos de idade e que, no ano em que essas crianças completam 6 (seis) anos de idade, elas possuem direito líquido e certo de serem matriculadas no 1º ano do ensino fundamental, independente da data em que fazem aniversário, de terem ou não passado pela educação infantil e de serem submetidas a qualquer tipo de avaliação.

Constatado que o corte etário, limitando o ingresso no 1º ano do Ensino Fundamental apenas às crianças com 6 (seis) anos completos ou a completar até o dia 31 de março do ano em que ocorrer a matrícula, estabelecido pelas Resoluções CNE/CEB nº 6/2010 e 7/2010, e CEE/PE nº 3/2010, pelo art. 7º, inciso I, da Instrução Normativa de Cadastro Escolar e Matrícula nº 11/2011 da SEE, e pelo art. 3º, caput, e parágrafo único, da Instrução Normativa de Matrícula nº 03/2011, viola os preceitos constitucionais aos quais alude esta exordial, além de violar a LDB e o ECA.

________________________________________________________________________________________13Av. Visconde de Suassuna, nº 99, sala 29, Santo Amaro–CEP 50050-540– fone: 3182-7402

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Sequer se contraponha a falta de recursos para atender a demanda de matrícula no 1º ano do ensino fundamental a todas as crianças que completam 6 (seis) anos de idade no decorrer do ano, independente da data de seu aniversário, porque, como bem sentenciou JOSÉ AFONSO DA SILVA13, “o Estado tem que aparelhar-se para fornecer, a todos, os serviços educacionais, isto é, oferecer ensino, de acordo com os princípios estatuídos na Constituição (art. 206); que ele tem que ampliar cada vez mais as possibilidades de que todos venham a exercer igualmente esse direito; e, em segundo lugar, que todas as normas da Constituição, sobre educação e ensino, hão que ser interpretadas em função daquela declaração e no sentido de sua plena e efetiva realização. A Constituição mesmo já considerou que o acesso ao ensino fundamental, obrigatório e gratuito, é direito público subjetivo; equivale reconhecer que é direito plenamente eficaz e de aplicabilidade imediata, isto é, exigível judicialmente, se não for prestado espontaneamente”.

Note-se, ainda, que a própria Resolução CNE/CEB nº 6/2010 e a Resolução CEE/PE nº 3/2010, por meio do disposto no art. 5º, § 2º14 e no art. 3º15, respectivamente, deram tratamento diferenciado a situações idênticas, determinando que, exclusivamente para o ano de 2011, poderiam ter acesso ao 1º ano do ensino fundamental, as crianças que completassem 6 (seis) anos de idade, independente do mês de seu aniversário, desde que tivessem frequentado 2 (dois) anos de pré-escola.

Vale insistir no mencionado princípio da supremacia constitucional na contestação ao limite etário fixado a bel prazer pelo Conselho Nacional de Educação e pelo Conselho Estadual de Educação, seguido pela Secretaria Estadual de Educação e pela Secretaria de Educação, Esporte e Lazer do Recife. É de ser invocado mais uma vez porque se cuida de uma questão de proteção ao direito público subjetivo de um largo número de crianças, especialmente quando se tem em mente aqueles pertencentes às classes menos favorecidas que sequer logram uma vaga na educação infantil (ainda não universalizada) precariamente ofertada pela rede pública municipal.

O inconstitucional corte etário para o acesso ao 1º ano do ensino fundamental, já foi objeto do crivo judiciário: a 2ª Câmara de Direito Público do TJSP, ao julgar a Apelação Cível nº 990.10.273767-5, assim decidiu:13 Op. Cit., pág. 313.14 “Art. 5º. (…) § 2º Os Sistemas de Ensino poderão, em caráter excepcional, no ano de 2011, dar prosseguimento para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos às crianças de 5 (cinco) anos de idade, independentemente do mês do seu aniversário de 6 (seis) anos, que no seu percurso educacional estiveram matriculadas e frequentaram, até final de 2010, por 2 (dois) anos ou mais a Pré-Escola.”15 “Art. 3º. No ano de 2011, as crianças que, em seu percurso escolar, frequentaram no mínimo 2 (dois) anos na Pré-Escola, deverão ter acesso ao primeiro ano de estudos no Ensino Fundamental de 9 (nove) anos, independente do mês de seu aniversário de 6 (seis) anos.”________________________________________________________________________________________14Av. Visconde de Suassuna, nº 99, sala 29, Santo Amaro–CEP 50050-540– fone: 3182-7402

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“Recurso ex officio e Apelação Cível. Ação Civil Pública. Crianças que completam seis anos de idade no meio do ano letivo. Recusa da matrícula no 1º ano do ensino fundamental. Violação a direito líquido e certo assegurado pela Constituição Federal (arts. 205 e 208, inciso I). Idade mínima de seis anos para o ensino fundamental estabelecida na Lei nº 11.274/06. Ação julgada procedente. Decisão mantida. Recursos não providos.”

Já o Tribunal de Justiça do Paraná reconheceu a possibilidade de ingresso no ensino fundamental de crianças que completem 6 (seis) anos de idade no ano letivo a ser cursado, conforme ementas abaixo transcritas, cujo inteiro teor acompanham a presente peça:

“REEXAME NECESSÁRIO – MATÉRIA DE ENSINO – MANDADO DE SEGURANÇA – MATRÍCULA NA 1ª SÉRIE (ENSINO DE NOVE ANOS) DO ENSINO FUNDAMENTAL INDEFERIDA COM AMPARO NA DELIBERAÇÃO Nº.03/06 DO CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO – ATO ILEGAL – CRIANÇAS QUE NÃO CONTAVAM COM SEIS ANOS DE IDADE NA DATA DA MATRÍCULA – DIREITO ASSEGURADO PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, BEM COMO PELO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – ADVENTO DA DELIBERAÇÃO Nº 02/07 DO CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO – PRECEDENTES DESTA CORTE – SITUAÇÃO FÁTICA CONSUMADA – SENTENÇA MANTIDA EM SEDE DE REEXAME NECESSÁRIO” (Reexame Necessário nº 521.890-4, da Vara Cível da Comarca de Cidade Gaúcha, Rel. Des. Luiz Antônio Barry, j. 03/05/2011 – DOC. 31);

“MANDADO DE SEGURANÇA REEXAME NECESSÁRIO – IDADE INFERIOR À MÍNIMA ESTABELECIDA NA DELIBERAÇÃO Nº 003/2006 DO CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DO PARANÁ-CEE – DIREITO, ENTRETANTO, ASSEGURADO CONSTITUCIONALMENTE E PELO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – OBSERVÂNCIA DA LEI Nº 11.274/2006 QUE DETERMINA QUE O ENSINO FUNDAMENTAL, AGORA COM DURAÇÃO DE 9 (NOVE) ANOS, CONTEMPLA CRIANÇAS QUE COMPLETEM 6 (SEIS) ANOS DE IDADE NO ANO LETIVO A SER CURSADO. SENTENÇA MANTIDA EM SEDE DE REEXAME NECESSÁRIO” (Reexame Necessário nº 725604-8, da Comarca de Quedas do Iguaçu, Vara Única, Rel. Juíza Substituta de 2º Grau Astrid Maranhão de Carvalho Ruthes, j. 19/04/2011 – DOC. 32);

“REEXAME NECESSÁRIO MANDADO DE SEGURANÇA – INDEFERIMENTO DE MATRÍCULA NO ENSINO FUNDAMENTAL COM AMPARO NA DELIBERAÇÃO Nº 03/06 DO CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO – ATO ILEGAL – CRIANÇA QUE NÃO CONTAVA COM SEIS ANOS DE IDADE NA DATA DA MATRÍCULA – DIREITO ASSEGURADO PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – OBSERVÂNCIA DA LEI ESTADUAL Nº 16.049/2009 – POSSIBILIDADE DE INGRESSO NO ENSINO FUNDAMENTAL DE CRIANÇAS QUE COMPLETEM

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6 (SEIS) ANOS DE IDADE NO ANO LETIVO A SER CURSADO – OFENSA A DIREITO LÍQUIDO E CERTO – SENTENÇA MANTIDA EM SEDE DE REEXAME” (Reexame Necessário nº 766.293-1, da Vara da Infância Juventude, Família e Anexos da Comarca de Umuarama, Rel. Des. ClAyton Camargo, j. 25/05/2011 – DOC. 33).

O Superior Tribunal de Justiça, ao apreciar o Recurso Especial nº 1.189.082-SP (DOC. 34), também reconheceu o direito de acesso ao ensino fundamental com seis anos incompletos:

“CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. ART. 127 DA CF/88. ART. 7º DA LEI 8.069/90. DIREITO AO ENSINO FUNDAMENTAL AOS MENORES DE SEIS ANOS "INCOMPLETOS". PRECEITO CONSTITUCIONAL REPRODUZIDO NO ART. 54 DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. NORMA DEFINIDORA DE DIREITOS NÃO PROGRAMÁTICA. EXIGIBILIDADE EM JUÍZO. INTERESSE TRANSINDIVIDUAL ATINENTE ÀS CRIANÇAS SITUADAS NESSA FAIXA ETÁRIA. 1. O direito à educação, insculpido na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente, é indisponível, em função do bem comum, derivado da própria força impositiva dos preceitos de ordem pública que regulam a matéria.2. Menores de seis anos incompletos têm direito, com base em norma constitucional reproduzida no art. 54 do ECA (Lei 8.069/90), ao ensino fundamental.3. Consagrado, por um ângulo, o dever do Estado; revela-se, por outro, o direito subjetivo da criança. Consectariamente, em função do princípio da inafastabilidade da jurisdição a todo direito corresponde uma ação que o assegura, sendo certo que todas as crianças nas condições estipuladas pela lei enquadram-se na esfera desse direito e podem exigi-lo em juízo. A homogeneidade e transindividualidade do direito em foco enseja a propositura da Ação Civil Pública.4. Descabida a tese da discricionariedade, a única dúvida que se poderia suscitar resvalaria na natureza da norma ora sob enfoque, se programática ou definidora de direitos. Muito embora a matéria seja, somente nesse particular, constitucional, sem importância se mostra essa categorização. Tendo em vista a explicitude do ECA, é inequívoca a normatividade suficiente à promessa constitucional, a ensejar a acionabilidade do direito à educação.5. Ressoa evidente que toda imposição jurisdicional à Fazenda Pública implica dispêndio, sem que isso infrinja a harmonia dos poderes porquanto, no regime democrático e no estado de direito, o Estado soberano submete-se à própria Justiça que instituiu. Afastada, assim, a ingerência entre os poderes, o Judiciário, alegado o malferimento da lei, nada mais fez que cumpri-la ao determinar a realização prática da promessa da legislação.6. Recurso Especial provido.” (destaques não existentes no original).

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O Supremo Tribunal Federal, em recente julgado, proferido em 23/08/2011, nos autos do Agravo Regimental no Recurso Extraordinário com Agravo 639.337-São Paulo (DOC. 35), pontuou importantes questões na esfera educacional, principalmente quanto ao fato de reconhecer que o atendimento à pré-escola vai até os 5 (cinco) anos de idade:

“E M E N T A: CRIANÇA DE ATÉ CINCO ANOS DE IDADE - ATENDIMENTO EM CRECHE E EM PRÉ-ESCOLA - SENTENÇA QUE OBRIGA O MUNICÍPIO DE SÃO PAULO A MATRICULAR CRIANÇAS EM UNIDADES DE ENSINO INFANTIL PRÓXIMAS DE SUA RESIDÊNCIA OU DO ENDEREÇO DE TRABALHO DE SEUS RESPONSÁVEIS LEGAIS, SOB PENA DE MULTA DIÁRIA POR CRIANÇA NÃO ATENDIDA - LEGITIMIDADE JURÍDICA DA UTILIZAÇÃO DAS “ASTREINTES” CONTRA O PODER PÚBLICO - DOUTRINA - JURISPRUDÊNCIA - OBRIGAÇÃO ESTATAL DE RESPEITAR OS DIREITOS DAS CRIANÇAS -EDUCAÇÃO INFANTIL - DIREITO ASSEGURADO PELO PRÓPRIO TEXTO CONSTITUCIONAL (CF, ART. 208, IV, NA REDAÇÃO DADA PELA EC Nº 53/2006) - COMPREENSÃO GLOBAL DO DIREITO CONSTITUCIONAL À EDUCAÇÃO - DEVER JURÍDICO CUJA EXECUÇÃO SE IMPÕE AO PODER PÚBLICO, NOTADAMENTE AO MUNICÍPIO (CF, ART. 211, § 2º) - LEGITIMIDADE CONSTITUCIONAL DA INTERVENÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO EM CASO DE OMISSÃO ESTATAL NA IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS PREVISTAS NA CONSTITUIÇÃO - INOCORRÊNCIA DE TRANSGRESSÃO AO POSTULADO DA SEPARAÇÃO DE PODERES - PROTEÇÃO JUDICIAL DE DIREITOS SOCIAIS, ESCASSEZ DE RECURSOS E A QUESTÃO DAS “ESCOLHAS TRÁGICAS” - RESERVA DO POSSÍVEL, MÍNIMO EXISTENCIAL, DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E VEDAÇÃO DO RETROCESSO SOCIAL - PRETENDIDA EXONERAÇÃO DO ENCARGO CONSTITUCIONAL POR EFEITO DE SUPERVENIÊNCIA DE NOVA REALIDADE FÁTICA - QUESTÃO QUE SEQUER FOI SUSCITADA NAS RAZÕES DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO -PRINCÍPIO “JURA NOVIT CURIA” - INVOCAÇÃO EM SEDE DE APELO EXTREMO - IMPOSSIBILIDADE - RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO. POLÍTICAS PÚBLICAS, OMISSÃO ESTATAL INJUSTIFICÁVEL E INTERVENÇÃO CONCRETIZADORA DO PODER JUDICIÁRIO EM TEMA DE EDUCAÇÃO INFANTIL: POSSIBILIDADE CONSTITUCIONAL. - A educação infantil representa prerrogativa constitucional indisponível, que, deferida às crianças, a estas assegura, para efeito de seu desenvolvimento integral, e como primeira etapa do processo de educação básica, o atendimento em creche e o acesso à pré-escola (CF, art. 208, IV). - Essa prerrogativa jurídica, em conseqüência, impõe, ao Estado, por efeito da alta significação social de que se reveste a educação infantil, a obrigação constitucional de criar condições objetivas que possibilitem, de maneira concreta, em favor das “crianças até 5 (cinco) anos de idade” (CF, art. 208, IV), o efetivo acesso e atendimento em creches e unidades de pré-escola, sob pena de configurar-se inaceitável omissão governamental, apta a frustrar, injustamente, por inércia, o integral adimplemento, pelo Poder Público, de prestação estatal que lhe impôs o próprio texto da Constituição Federal. - A educação infantil, por qualificar-se como direito fundamental de toda criança, não se expõe, em seu processo de

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concretização, a avaliações meramente discricionárias da Administração Pública nem se subordina a razões de puro pragmatismo governamental. - Os Municípios - que atuarão, prioritariamente, no ensino fundamental e na educação infantil (CF, art. 211, § 2º) - não poderão demitir-se do mandato constitucional, juridicamente vinculante, que lhes foi outorgado pelo art. 208, IV, da Lei Fundamental da República, e que representa fator de limitação da discricionariedade político-administrativa dos entes municipais, cujas opções, tratando-se do atendimento das crianças em creche (CF, art. 208, IV), não podem ser exercidas de modo a comprometer, com apoio em juízo de simples conveniência ou de mera oportunidade, a eficácia desse direito básico de índole social. - Embora inquestionável que resida, primariamente, nos Poderes Legislativo e Executivo, a prerrogativa de formular e executar políticas públicas, revela-se possível, no entanto, ao Poder Judiciário, ainda que em bases excepcionais, determinar, especialmente nas hipóteses de políticas públicas definidas pela própria Constituição, sejam estas implementadas, sempre que os órgãos estatais competentes, por descumprirem os encargos político- -jurídicos que sobre eles incidem em caráter impositivo, vierem a comprometer, com a sua omissão, a eficácia e a integridade de direitos sociais e culturais impregnados de estatura constitucional. DESCUMPRIMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS DEFINIDAS EM SEDE CONSTITUCIONAL: HIPÓTESE LEGITIMADORA DE INTERVENÇÃO JURISDICIONAL. - O Poder Público - quando se abstém de cumprir, total ou parcialmente, o dever de implementar políticas públicas definidas no próprio texto constitucional - transgride, com esse comportamento negativo, a própria integridade da Lei Fundamental, estimulando, no âmbito do Estado, o preocupante fenômeno da erosão da consciência constitucional. Precedentes: ADI 1.484/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.. - A inércia estatal em adimplir as imposições constitucionais traduz inaceitável gesto de desprezo pela autoridade da Constituição e configura, por isso mesmo, comportamento que deve ser evitado. É que nada se revela mais nocivo, perigoso e ilegítimo do que elaborar uma Constituição, sem a vontade de fazê-la cumprir integralmente, ou, então, de apenas executá-la com o propósito subalterno de torná-la aplicável somente nos pontos que se mostrarem ajustados à conveniência e aos desígnios dos governantes, em detrimento dos interesses maiores dos cidadãos. - A intervenção do Poder Judiciário, em tema de implementação de políticas governamentais previstas e determinadas no texto constitucional, notadamente na área da educação infantil (RTJ 199/1219-1220), objetiva neutralizar os efeitos lesivos e perversos, que, provocados pela omissão estatal, nada mais traduzem senão inaceitável insulto a direitos básicos que a própria Constituição da República assegura à generalidade das pessoas. Precedentes. A CONTROVÉRSIA PERTINENTE À “RESERVA DO POSSÍVEL” E A INTANGIBILIDADE DO MÍNIMO EXISTENCIAL: A QUESTÃO DAS “ESCOLHAS TRÁGICAS”. - A destinação de recursos públicos, sempre tão dramaticamente escassos, faz instaurar situações de conflito, quer com a execução de políticas públicas definidas no texto constitucional,

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quer, também, com a própria implementação de direitos sociais assegurados pela Constituição da República, daí resultando contextos de antagonismo que impõem, ao Estado, o encargo de superá-los mediante opções por determinados valores, em detrimento de outros igualmente relevantes, compelindo, o Poder Público, em face dessa relação dilemática, causada pela insuficiência de disponibilidade financeira e orçamentária, a proceder a verdadeiras “escolhas trágicas”, em decisão governamental cujo parâmetro, fundado na dignidade da pessoa humana, deverá ter em perspectiva a intangibilidade do mínimo existencial, em ordem a conferir real efetividade às normas programáticas positivadas na própria Lei Fundamental. Magistério da doutrina. - A cláusula da reserva do possível - que não pode ser invocada, pelo Poder Público, com o propósito de fraudar, de frustrar e de inviabilizar a implementação de políticas públicas definidas na própria Constituição - encontra insuperável limitação na garantia constitucional do mínimo existencial, que representa, no contexto de nosso ordenamento positivo, emanação direta do postulado da essencial dignidade da pessoa humana. Doutrina. Precedentes. - A noção de “mínimo existencial”, que resulta, por implicitude, de determinados preceitos constitucionais (CF, art. 1º, III, e art. 3º, III), compreende um complexo de prerrogativas cuja concretização revela-se capaz de garantir condições adequadas de existência digna, em ordem a assegurar, à pessoa, acesso efetivo ao direito geral de liberdade e, também, a prestações positivas originárias do Estado, viabilizadoras da plena fruição de direitos sociais básicos, tais como o direito à educação, o direito à proteção integral da criança e do adolescente, o direito à saúde, o direito à assistência social, o direito à moradia, o direito à alimentação e o direito à segurança. Declaração Universal dos Direitos da Pessoa Humana, de 1948 (Artigo XXV). A PROIBIÇÃO DO RETROCESSO SOCIAL COMO OBSTÁCULO CONSTITUCIONAL À FRUSTRAÇÃO E AO INADIMPLEMENTO, PELO PODER PÚBLICO, DE DIREITOS PRESTACIONAIS. - O princípio da proibição do retrocesso impede, em tema de direitos fundamentais de caráter social, que sejam desconstituídas as conquistas já alcançadas pelo cidadão ou pela formação social em que ele vive. - A cláusula que veda o retrocesso em matéria de direitos a prestações positivas do Estado (como o direito à educação, o direito à saúde ou o direito à segurança pública, v.g.) traduz, no processo de efetivação desses direitos fundamentais individuais ou coletivos, obstáculo a que os níveis de concretização de tais prerrogativas, uma vez atingidos, venham a ser ulteriormente reduzidos ou suprimidos pelo Estado. Doutrina. Em conseqüência desse princípio, o Estado, após haver reconhecido os direitos prestacionais, assume o dever não só de torná-los efetivos, mas, também, se obriga, sob pena de transgressão ao texto constitucional, a preservá-los, abstendo-se de frustrar - mediante supressão total ou parcial - os direitos sociais já concretizados. LEGITIMIDADE JURÍDICA DA IMPOSIÇÃO, AO PODER PÚBLICO, DAS “ASTREINTES”. - Inexiste obstáculo jurídico-processual à utilização, contra entidades de direito público, da multa cominatória prevista no § 5º do art. 461 do CPC. A

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“astreinte” - que se reveste de função coercitiva - tem por finalidade específica compelir, legitimamente, o devedor, mesmo que se cuide do Poder Público, a cumprir o preceito, tal como definido no ato sentencial. Doutrina. Jurisprudência.” (destaques não existentes no original).

Vale salientar que as disposições constitucionais e infraconstitucionais aqui versadas não estabelecem que o acesso ao 1º ano do ensino fundamental exige uma avaliação psicopedagógica da criança, como também não estabelecem qualquer processo seletivo para a criança ingressar nessa série que é a “porta de entrada” ao ensino fundamental.

Pelo contrário!

Restou constitucionalmente assegurado que o acesso ao 1º ano do ensino fundamental é direito público subjetivo de toda e qualquer criança ao completar os 6 (seis) anos de idade, esteja ela matriculada ou não na educação infantil. Apesar disso, a legislação possibilita o acesso aos níveis mais elevados do ensino segundo a capacidade de cada um.

Portanto, no ano em que completar 6 (seis) anos de idade, independente de sua data de nascimento, toda e qualquer criança possui o direito público subjetivo de ser matriculada no 1º ano do ensino fundamental obrigatório.

Se vigorar o corte etário estabelecido pelos Conselhos de Educação, frustradas as mudanças constitucionais e legais para implantação do ensino fundamental de 9 anos. Se o legislador pretendeu que as crianças de 6 anos de idade estivessem no 1º ano do ensino fundamental, as resoluções e as instruções de matrícula aqui questionadas limitaram esse acesso aos 6 anos de idade apenas a quem nasceu em janeiro, fevereiro e março. As crianças que nasceram nos demais meses do ano tiveram seu direito público subjetivo de serem matriculadas no 1º ano do ensino fundamental subtraído abruptamente, pois ali estarão com praticamente 7 anos de idade.

Ou seja, as crianças das classes menos favorecidas, que não dispõem de recursos financeiros para ingressarem individualmente com uma medida judicial visando assegurar esse direito público subjetivo de ter acesso ao 1º ano do ensino fundamental aos 6 anos de idade, ganharam mais uma exclusão no seu rol de direitos fundamentais violados: a exclusão escolar.

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O que é mais grave é que, em publicação do próprio Ministério da Educação, intitulada “A criança de 6 anos, a linguagem escrita e o ensino fundamental de nove anos”16, verifica-se a intenção (contrariada pela edição das resoluções aqui questionadas) daquele órgão público de inclusão das crianças de 6 anos de idade no 1º ano do ensino fundamental:

“A inclusão das crianças de seis anos no Ensino Fundamental amplia a escolarização para uma parcela significativa da população brasileira que se encontrava, até então, privada da educação escolar ou sem garantia de vagas nas instituições públicas de ensino. Como único nível de ensino de matrícula obrigatória no País, o Ensino Fundamental, ao ter sua duração ampliada de oito para nove anos, traz para a escola um grupo de crianças que, ao serem introduzidas nessas instituições, entram em contato com uma cultura da qual devem se apropriar. É importante também considerar que, ainda que algumas das crianças de seis anos já freqüentassem instituições pré-escolares, a entrada desse segmento no Ensino Fundamental impõe novos desafios, sobretudo pedagógicos, para a área educacional. Como se sabe, mesmo admitindo a expansão das vagas como condição fundamental para a garantia do direito à educação, é no âmbito das práticas pedagógicas que a instituição educativa pode tornar-se ela mesma expressão ou não desse direito. Para que esse direito se cumpra, portanto, e para que se configure como promotor de novos direitos, o acesso das crianças às instituições educativas e sua permanência nelas devem consolidar-se como direito ao conhecimento, à formação integral do ser humano e à participação no processo de construção de novos conhecimentos. A construção dessa prática educativa deve ter a criança como eixo do processo e levar em conta as diferentes dimensões de sua formação.”

Diante de tudo isso, é esse direito público subjetivo que o MPPE busca ser reconhecido e assegurado por esse Juízo a todas as crianças, indiscriminadamente, cujos pais ou responsáveis pretendem matriculá-las (o que se constitui em um dever deles) no 1º ano do ensino fundamental nas escolas públicas e privadas pertencentes aos sistemas estadual e municipal de educação, independentemente da rede.

É ocasião, data venia, para consignar, para maior clareamento da questão, o mecanismo do sistema de ensino.

Como a União, os Estados e os Municípios devem organizar, em regime de colaboração, seus sistemas de ensino (cf. art. 211, caput, da CF), é certo que os Estados e o Distrito Federal devem atuar prioritariamente no ensino fundamental e médio (§ 3º idem). Tal previsão 16 Com inteiro teor disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12624%3Aensino-fundamental&Itemid=859 ________________________________________________________________________________________21Av. Visconde de Suassuna, nº 99, sala 29, Santo Amaro–CEP 50050-540– fone: 3182-7402

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constitucional é reproduzida no art. 8º, caput, da Lei nº 9.394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB).

A LDB ainda estabelece, em seu art. 10, que os Estados incumbir-se-ão de:

“I – organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas de ensino;II – definir, com os Municípios, formas de colaboração na oferta do ensino fundamental, as quais devem assegurar a distribuição proporcional das responsabilidades, de acordo com a população a ser atendida e os recursos financeiros disponíveis em cada uma dessas esferas do Poder Público;(...)IV – baixar normas complementares para o seu sistema de ensino;V – assegurar o ensino fundamental e oferecer, com prioridade, o ensino médio a todos que o demandarem, respeitado o disposto no art. 38 desta Lei;(...)” (destaque não existente no original).

Enquanto os Municípios, pelo disposto no art. 11 da LDB, incumbir-se-ão de:

“I – organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas de ensino, integrando-os às políticas e planos educacionais da União e dos Estados;II – exercer ação redistributiva em relação às suas escolas;III – baixar normas complementares para o seu sistema de ensino;(...)V – oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, e, com prioridade, o ensino fundamental, permitida a atuação em outros níveis de ensino somente quando estiverem atendidas plenamente as necessidades de sua área de competência e com recursos acima dos percentuais mínimos vinculados pela Constituição Federal à manutenção e desenvolvimento do ensino;(...)Parágrafo único. Os Municípios poderão optar, ainda, por se integrar ao sistema estadual de ensino ou compor com ele um sistema único de educação básica” (destaque não existente no original).

A Constituição do Estado de Pernambuco prevê, no caput do seu art. 179, que “o Estado organizará, em regime de colaboração com os Municípios e com a contribuição da União, o sistema estadual de educação, que abrange a educação pré-escolar, o ensino fundamental e ________________________________________________________________________________________22Av. Visconde de Suassuna, nº 99, sala 29, Santo Amaro–CEP 50050-540– fone: 3182-7402

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médio, bem como oferecerá o ensino superior na esfera de sua jurisdição, respeitando a autonomia universitária e observando as seguintes diretrizes e normas:

I – ensino fundamental obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria, progressivamente, em tempo integral;(...)III – educação de zero a seis anos, em tempo integral, através de creche e pré-escola;(...)VI – possibilidade de acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística;(...)” (destaques não existentes no original).

É necessário pontuar que dos 184 (cento e oitenta e quatro) municípios pernambucanos, 39 (trinta e nove) instituíram seus sistemas municipais de ensino, não estando vinculados ao sistema estadual de educação, conforme consta em levantamento realizado pela União dos Conselhos Municipais de Educação – UNCME (DOC. 36). Os demais 145 (cento e quarenta e cinco) municípios integram o Sistema Estadual de Ensino e seguem as regras emanadas do Conselho Estadual de Educação, estando sujeitos à decisão desta ação coletiva.

Registre-se, ainda, que o ensino é livre à iniciativa privada, desde que haja o cumprimento das normas gerais da educação nacional e a autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Público, conforme previsão contida no art. 209 da CF, reproduzida no art. 7º da LDB e no art. 193 da Constituição Estadual, destacando esta que caberá ao Poder Público Estadual a verificação da capacidade pedagógica das instituições de ensino privado, para fins de autorização e funcionamento (art. 194, caput).

Aqui vale esclarecer que os sistemas de ensino dos Estados e do Distrito Federal compreendem, a teor do art. 17 da LDB:

“I – as instituições de ensino mantidas, respectivamente, pelo Poder Público estadual e pelo Distrito Federal;II – as instituições de educação superior mantidas pelo Poder Público Municipal;III – as instituições de ensino fundamental e médio criadas e mantidas pela iniciativa privada;

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IV – os órgãos de educação estaduais e do Distrito Federal, respectivamente” (destaques não existentes no original).

Portanto, todas as escolas da rede estadual de ensino (mantidas pelo Estado de Pernambuco) e todas as escolas privadas que ofertam o ensino fundamental em Pernambuco fazem parte do Sistema Estadual de Ensino.

De outro lado, os Sistemas Municipais de Ensino englobam:

“I – as instituições do ensino fundamental, médio e de educação infantil mantidas pelo Poder Público Municipal;II – as instituições de educação infantil criadas e mantidas pela iniciativa privada;III – os órgãos municipais de educação” (destaques não existentes no original).

Concluindo-se que todas as escolas da rede municipal de ensino do Recife (mantidas pelo Município) e todas as escolas privadas que ofertam a educação infantil em Recife fazem parte do Sistema Municipal de Ensino.

Ressalte-se que esta ação coletiva alcança todas as escolas, públicas ou privadas, que integram o Sistema Estadual de Ensino de Pernambuco e todas as escolas públicas que integram o Sistema Municipal de Ensino do Recife, visando à proteção integral das crianças que deveriam, por determinação constitucional e legal, estar matriculadas no 1º ano do ensino fundamental no ano em que completam 6 (seis) anos de idade.

III – DA NECESSIDADE DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA:

O art. 273 do Código de Processo Civil possibilita que o Julgador

antecipe todos ou alguns efeitos do provimento jurisdicional de mérito, desde que exista prova inequívoca e se convença da verossimilhança das alegações apresentadas, havendo fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação.

Neste caso concreto, o direito que norteia esta demanda está exposto de forma clara nas razões de fato e de direito desta ação, as quais ________________________________________________________________________________________24Av. Visconde de Suassuna, nº 99, sala 29, Santo Amaro–CEP 50050-540– fone: 3182-7402

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encontram fundamento na Constituição Federal (arts. 5º, caput, 6º, caput, 205, 206, incisos I, II e III-parte final, 208, incisos I, IV, V e §§ 1º e 2º, 227, caput), na Lei nº 9.394/1996 – LDB (arts. 2º, 3º, incisos I e V, 4º, incisos I, V e X, 6º, 32, caput, 87, § 3º, inciso I), na Lei nº 8.069/1990 – ECA (arts. 4º, 53, caput e inciso I, 54, incisos I e V, 55) na Constituição Estadual (arts. 176, 178, incisos I e VI, 179, § 1º), na doutrina e na jurisprudência citadas. Além, evidentemente, do conjunto probatório que instrui esta inicial.

O próprio texto da Resolução CNE/CEB nº 6/2010 (DOC. 08), da Resolução CNE/CEB nº 7/2010 (DOC. 09), da Resolução CEE/PE nº 3/2010 (DOC. 10), da Instrução Normativa de Cadastro Escolar e Matrícula nº 11/2011 (DOC. 04) e da Instrução Normativa de Matrícula nº 03/2011 (DOC. 05) demonstram que o Estado de Pernambuco e o Município do Recife, através dos órgãos públicos e privados dos seus respectivos sistemas de ensino, vêm descumprindo a legislação indicada, limitando o acesso ao 1º ano do ensino fundamental apenas às crianças que completam 6 (seis) anos de idade até o dia 31 de março do ano em que devem ser matriculadas, consubstanciando graves e irreversíveis danos às crianças que completam 6 (seis) anos de idade a partir do dia 1º de abril, prejudicadas pelo burocrático corte etário, desrespeitando direito constitucionalmente assegurado.

Nessa linha, tanto a tutela de urgência, quanto a de evidência, são plenamente possíveis no caso sob apreciação, atendendo ao preceito do citado art. 273 do Código de Processo Civil.

É mais que patente, neste caso, a presença do periculum in mora, consistente no fato de que o período de matrícula para o ano letivo de 2012 já está em curso nas escolas, públicas ou privadas, que integram o Sistema Estadual de Ensino de Pernambuco e o Sistema Municipal de Ensino do Recife.

Na realidade, escolas privadas do Sistema Estadual de Ensino já realizaram a reserva de matrícula para o ano letivo de 2012 e já iniciaram a fase de matrícula propriamente dita, com o pagamento da taxa equivalente e entrega de documentação pelos pais/responsáveis.

Quanto às escolas da rede estadual de ensino, a Instrução Normativa e Cadastro Escolar e Matrícula nº 11/2011 (DOC. 04), da Secretaria Estadual de Educação, estabeleceu o período de matrícula de acordo com o município, da seguinte forma:________________________________________________________________________________________25Av. Visconde de Suassuna, nº 99, sala 29, Santo Amaro–CEP 50050-540– fone: 3182-7402

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“Art. 6º A Inscrição para o Cadastro do (a) Estudante é isenta de pagamento de taxas e estará aberta aos(às) candidatos(as) residentes em Recife e Região Metropolitana, conforme determina a relação dos Municípios (ANEXO I) e, nos demais Municípios, podendo ser realizada da seguinte forma e período:I - via Internet através do site www.educacao.pe.gov.br, no período de 08.11.2011 a 29.11.2011, na Capital e Região Metropolitana do Recife, exceto nos municípios de Itamaracá, Itapissuma, Araçoiaba, Ipojuca e Moreno;II - através da Central de Atendimento Telefônico - 0800.286.0086, no período de 03.12.2011 a 23.12.2011, na Capital e Região Metropolitana do Recife, exceto nos municípios de Itamaracá, Itapissuma, Araçoiaba, Ipojuca e Moreno;III - na escola no período de 03.12.2011 a 23.12.2011, nos demais municípios.” (destaques não existentes no original).

Para as instituições da Rede Municipal de Ensino do Recife, a Instrução Normativa de Matrícula nº 03/2011 (DOC. 05), da Secretaria de Educação, Esporte e Lazer do Município do Recife, estabeleceu que:

“Art. 16. Para efetuar a matrícula é necessário a apresentação da cópia da Certidão de Nascimento ou RG, cópia do comprovante de residência e documento de transferência escolar, quando necessário.

Parágrafo único: A matrícula será efetuada pelo pai/responsável ou pelo próprio estudante, quando de maior idade, no período de 12 de dezembro de 2011 a 13 de janeiro de 2012.” (destaques não existentes no original).

Além do que, como já foi dito, várias são as formas que estão sendo realizadas as matrículas na rede privada do sistema estadual de ensino, conforme restou constatado no Relatório de Inspeção nº 49/2011 (DOC. 11).

Por isso, a demora na prestação jusrisdicional poderá prejudicar uma geração de crianças que completarão 6 (seis) anos de idade de abril a dezembro de 2012, as quais terão seu direito público subjetivo de se matricular no 1º ano do ensino fundamental no ano letivo de 2012 usurpado em função do corte etário burocraticamente fixado, em detrimento do direito constitucionalmente assegurado.

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IV – DO PEDIDO:

Considerando todas as razões de fato e de direito acima expostas, requer o Ministério Público do Estado de Pernambuco:

LIMINARMENTE

A concessão de antecipação de tutela, para:

1- suspender imediatamente os efeitos do:(a) art. 1º da Resolução CEE/PE nº 3/2010; e(b) art. 7º, inciso I, da Instrução Normativa de Cadastro Escolar e

Matrícula nº 11/2011 da Secretaria Estadual de Educação;(c) art. 3º, parágrafo único, da Instrução Normativa de Matrícula

nº 03/2011 da Secretaria de Educação, Esporte e Lazer do Município do Recife;

2- que o Estado de Pernambuco e o Município do Recife assegurem a matrícula no 1º ano do Ensino Fundamental das escolas dos seus respectivos sistemas de ensino para o ano letivo de 2012, a todas as crianças que irão completar 6 anos de idade no decorrer do ano de 2012, reabrindo, se necessário, o prazo de matrícula para as escolas das redes estadual e municipal;

3- seja dada ampla divulgação através da imprensa escrita e falada, bem como nos órgãos internos da Secretaria Estadual de Educação e Secretaria de Educação, Esporte e Lazer do Município do Recife, sobre a concessão da antecipação de tutela ora requerida;

4- seja arbitrada, em caso de descumprimento, multa diária para cada uma das obrigações contidas nos itens 2 e 3 supra, com

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base no disposto no art. 461, § 4º, do CPC e no art. 11 da Lei nº 7.347/1985.

NO MÉRITO

A procedência do pedido em todos os seus termos para confirmar a antecipação de tutela e

1- declarar incidentalmente a inconstitucionalidade, suspendendo definitivamente os efeitos dos seguintes dispositivos:

a) art. 1º da Resolução CEE/PE nº 3/2010; eb) art. 7º, inciso I, da Instrução Normativa de Cadastro Escolar e Matrícula nº 11/2011 da Secretaria Estadual de Educação;(d) art. 3º, parágrafo único, da Instrução Normativa de Matrícula nº 03/2011 da Secretaria de Educação, Esporte e Lazer do Município do Recife;

2- condenar o ESTADO DE PERNAMBUCO e o MUNICÍPIO DO RECIFE:

a) a cumprir obrigação de fazer, para determinar que assegurem a matrícula, desde o início do ano letivo, no 1º ano do Ensino Fundamental das escolas dos seus respectivos sistemas de ensino a todas as crianças no ano em que completam 6 (seis) anos de idade, não importando a data de nascimento das mesmas;

b) a cumprir obrigação de não fazer, no sentido de que, por meio da Secretaria Estadual de Educação e/ou do Conselho Estadual de Educação, da Secretaria de Educação, Esporte e Lazer do Município do Recife e/ou do Conselho Municipal de Educação, abstenham-se de editar outras normas que impeçam o acesso das crianças ao 1º ano do ensino fundamental das escolas dos seus respectivos sistemas de ensino no ano em que completam 6 (seis) anos de idade, não importando a data de aniversário das mesmas;

c) seja arbitrada, em caso de descumprimento, multa diária para cada uma das obrigações contidas nos itens “a” e “b” supra, com

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base no disposto no art. 461, § 4º, do CPC e no art. 11 da Lei nº 7.347/1985.

V – DOS REQUERIMENTOS FINAIS:

Requer a citação do Estado de Pernambuco, na pessoa do Procurador Geral do Estado e do Município do Recife, na pessoa do Excelentíssimo Prefeito para contestar a presente ação, no prazo legal, com a advertência de que o seu silêncio importará na decretação da revelia, reputados como verdadeiros os fatos articulados nesta inicial.

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em direito, bem como a isenção de custas, emolumentos, honorários e outras despesas, em razão do que dispõe o art. 18 da Lei nº 7.347/1985.

Atribui-se à causa, para efeitos meramente fiscais, o valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais).

Pede deferimento.

Recife, 29 de novembro de 2011.

KATARINA MORAIS DE GUSMÃOPromotora de Justiça

ELEONORA MARISE SILVA RODRIGUESPromotora de Justiça

________________________________________________________________________________________29Av. Visconde de Suassuna, nº 99, sala 29, Santo Amaro–CEP 50050-540– fone: 3182-7402