Fontes Primárias Traduzidas

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    Histria da Fsica

    Textos de fontes primrias Verso 1.

    Joo Jos Caluzi

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    TEXTOS DE FONTES PRIMRIAS1

    Contedo

    1. A passagem do mito filosofia e cincia: ..............................................................................3

    1.1 Lenda cosmognica Nheengatu [incio] ..............................................................................3

    1.2 Nsadsyaskta .......................................................................................................................6

    1.3 Cdigo de Manu [incio] .........................................................................................................7

    1.4 Theogonia, de Hesodo (sc. VIII a. C.) ........................................................................... 10

    2. Fragmentos de alguns pr-socrticos (segundo diels) ........................................................... 12

    2.1 Orfeu (sc. VIII AC) ........................................................................................................... 12

    2.2 Anaximandro (sc. VI AC) ................................................................................................. 12

    2.3 Herclito (sc. V AC) .......................................................................................................... 13

    2.4 Parmnides (sc. V) ............................................................................................................. 13

    3. Conceitos de cincia: do conhecimento grego ao mtodo experimental ........................... 15

    3.1 PlatoTimeu (trechos) ..................................................................................................... 15

    3.2 Epicurocarta a Herdoto (trechos)........................................................................... 19

    3.3 Aristteles Organonanaltica posterior (trechos) .................................................. 21

    3.4 Isaac Newtonregras para filosofar [regulae philosophandi] ............................................. 25

    4. Evoluo da astronomia - .......................................................................................................... 32

    4.1 AristtelesSobre os Cus (trechos) ............................................................................... 32

    4.2 Claudius Ptolomeusalmagesto (trechos)..................................................................... 37

    4.3 A medida da circunferncia da terra .................................................................................. 42

    4.4 Nicolau CoprnicoCommentariolus (trechos)....................................................... 46

    4.5 Johannes Kepler - Eptome da Astronomia de Coprnico (trechos)....................... 50

    4.6 Galileo Galilei - Sidereus Nuncius (trechos)............................................................... 55

    1As tradues dos textos foi realizada pelo Prof. Dr. Roberto de Andrade Martins. Os textos no traduzidospor ele ser indicado no prprio texto

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    1.APASSAGEM DO MITO FILOSOFIA E CINCIA:

    1.1LENDA COSMOGNICA NHEENGATU [INCIO]2

    1. No princpio, contam, havia s gua, cu.

    2. Tudo era vazio, tudo noite grande.

    3. Um dia, contam, Tupana desceu de cima no meio de vento grande; quando j queriaencostar na gua saiu do fundo uma terra pequena, pisou nela.

    4. Nesse momento Sol apareceu no tronco do cu, Tupana olhou para ele.

    5. Quando Sol chegou no meio do cu seu calor rachou a pele de Tupana, a pele de Tupana

    comeou logo a escorregar pelas pernas dele abaixo.

    6. Quando Sol ia desaparecer para o outro lado do cu a pele de Tupana caiu do corpodele, estendeu-se por cima da gua para j ficar terra grande.

    7. No outro Sol j havia terra, ainda no havia gente.

    8. Quando Sol chegou no meio do cu Tupana pegou em uma mo cheia de terra,amassou-a bem, depois fez uma figura de gente, soprou-lho no nariz, deixou no cho.

    9. Essa figura de gente comeou a engatinhar, no comia, no chorava, rolava toa pelocho.

    10. Ela foi crescendo, ficou grande como Tupana, ainda no sabia falar.

    11. Tupana ao v-lo j grande soprou fumaa dentro da boca dele, ento comeou jquerendo falar.

    12. No outro dia Tupana soprou tambm na boca dele, j ento, contam, ele falou.

    13. Ele falou assim:

    14. Como tudo bonito para mim!

    15. Aqui est gua com que hei de esfriar minha sede.

    16. Ali est fogo do cu com que hei de aquecer meu corpo quando ele estiver frio.

    2Fonte: CASCUDO, Luiz da Cmara.Antologia do folclore brasileiro. So Paulo, LivrariaMartins Editora, [s.d.], pp. 377-386

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    17. Eu hei de brincar com gua, hei de correr por cima da terra, como o fogo do cu estno alto hei de falar com ele aqui de baixo.

    18. Tupana, contam, estava junto dele, ele no viu Tupana.

    19. Noite veio, Lua apareceu no tronco do cu, ele a viu, disse:

    20. Que fogo aquele?

    21. Chama dele no aquece, no alumia, fria como gua.

    22. Ele via a gua, a terra, o cu, o Sol, a Lua, a noite, no via Tupana que estava junto dele.

    23. Ele corria, tomava banho, falava com o Sol, com a Lua, eles no respondiam.

    24. Um dia, quando Sol j ia dormir, ele sentou-se, olhando direto para a Lua.

    25. Quando noite chegou, quando Lua alumiava j bonito, pareceu-lhe ouvir para a bandado cu barulhar alguma coisa.

    26. Ele escutou bem, ouviu uma cantiga.

    27. Sentiu alegre seu corao, cantou tambm.

    28. Ele calou-se quando o dia j vinha vermelho.

    29. Enquanto ele cantava olhando para o cu, Tupana estava fazendo as plantas.

    30. Quando noite desapareceu, Sol mostrou tudo a seus olhos, ele disse:

    31. Ah! Como tudo que eu vejo bonito!

    32. Que ento isto, de cabelos que danam com o sopro do cu?

    33. Foi para junto de uma rvore, perguntou:

    34. Quem s tu, por um pouquinho chegas no cu!

    35. A rvore, contam, respondeu:

    36. Eu sou o cabelo da terra.

    37. Que aquilo que est em ti, em cima, amarelo como a Lua?

    38. So minhas frutas, donde ho de nascer outras como eu para encherem a Terra.

    39. Nesse momento caiu uma fruta junto dele, ele pegou nela.

    40. Apeteceu de repente, no sabia bem o que, disse para a rvore:

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    41. Vigia, tua fruta caiu do teu corpo, que que tu fazes dela agora?

    42. A rvore, contam, respondeu:

    43. Como s tu podes andar de um lugar para outro, come a carne da fruta, depois mete a

    semente debaixo da terra.

    44. Como, contam, ele ainda no sabia o jeito de gente comer, perguntou:

    45. Como eu fao ento para comer?

    46. Mete essa fruta na tua boca, engole dela o que mole, depois mete embaixo da terra asemente.

    47. A mesmo j, contam, sua mo levou a fruta boca, bonito ele sentiu.

    48. Imediatamente seus olhos se abriram, teve fome, comeu.

    49. Quando acabou de comer essa fruta cavou a terra, meteu dentro, enterrou.

    50. Queria comer ainda dessa fruta, disse:

    51. Como gostosa a tua fruta, deixa comer mais porque hei de plantar todas elas.

    52. A rvore respondeu:

    53. Se queres comer sobe, apanha, no tires aquelas que ainda no esto boas, no jogues assementes para o cho porque se podem estragar.

    54. Ele trepou imediatamente na rvore, foi comendo.

    55. Esqueceu-se do que a rvore lhe disse, jogou as sementes para o cho.

    56. Quando no quis comer mais, disse:

    57. rvore, j estou cheio, j no quero comer mais da tua fruta, so gostosas de verdade.

    58. A rvore respondeu:

    59. Como j no queres comer mais desce, no olhes ainda para baixo, porque tudo podeficar estragado a teus olhos.

    60. Ele, contam, veio descendo logo, quando estava no meio da rvore olhou para baixo.

    61. Ele ficou espantado por ver em baixo tapir, veado, cotia, taiass, tamandu, capivara,paca e outros animais.

    62. Voltou para cima da rvore, perguntou:

    63. Que so aquelas coisas que andam embaixo de ns?

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    64. A rvore respondeu:

    65. Tu estragaste tudo porque no juntaste minhas sementes, nem as levaste contigo para aterra como eu te disse.

    66. Foste-as jogando, elas se bateram no cho, foram virando esses animais que esto embaixo de ns.

    67. Ele perguntou de novo:

    68. Como ento agora eu vou para o cho?

    69. A rvore, contam, respondeu:

    70. Vai passando por cima destas rvores, desce na beirada do rio.

    1.2NSADSYASKTA3

    1. Ento no havia nem o ser nem o no-ser.

    No havia o domnio do ar, nem cu alm dele.

    O que recobria isso? Onde, em que receptculo?

    Existia talvez um abismo imperceptvel de gua?

    2. No havia morte, nem imortalidade.

    No havia movimento, nem distino entre dia e noite.

    Aquele Um respirava por sua prpria natureza, sem respirar.

    Alm dele nada existia.

    3. Havia trevas ocultas em trevas.

    A princpio tudo isto era um mar indistinto.

    Havia um vazio envolto no nada.

    Pelo fervor brotou e cresceu aquele Um.

    4. Nele surgiu primeiramente o desejo,

    a semente primal da mente.

    3Texto indiano, aproximadamente sc. X a. C. (Rig-Veda X, 129) Fonte: MUIR,J. Original sanskrit texts. London: Trbner, 1873.

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    A unio do ser ao no-ser foi descoberta pelos sbios

    refletindo sobre o que contemplaram em seus coraes.

    5. O raio se estendeu atravs deles.

    O que estava embaixo, o que estava acima?

    Havia inseminadores, havia poderes,

    Autonomia em baixo e energia alm.

    6. Quem realmente sabe, quem poderia dizer

    de onde brotou, de onde provm esta criao?

    Os deuses so posteriores sua produo.

    Quem sabe ento de onde ela surgiu?

    7. De onde brotou esta criao,

    se ela foi feita ou no o foi,

    Ele que a observa do mais alto dos cus,

    Ele realmente o sabe, ou talvez nem ele o saiba.

    1.3CDIGO DE MANU [INCIO]4

    Livro I Criao

    1. Os grandes videntes se aproximaram de Manu, assentado e concentrado, e apsreverenci-lo lhe dirigiram estas palavras:

    2. Senhor, digna-te contar-nos exatamente e por ordem as regras de todas as castas[primitivas] e das outras que surgem delas.

    3.

    Pois apenas tu, senhor, conheces o verdadeiro sentido dos objetos deste universo,sistema auto-existente, que no pode ser atingido pelo raciocnio.

    4. Aquele cuja glria imensa, sendo interrogado pelos magnnimos, saudou a todos osgrandes videntes e disse:Escutai!

    4Texto indiano, aproximadamente sc. III a. C. Fonte: RENOU, Louis.Anthologiesanskrite. Paris: Payot, 1947.

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    5. Este mundo era trevas, imperceptvel, sem distines, impossvel de descobrir,incognoscvel, como se estivesse totalmente mergulhado no sono.

    6. Ento este senhor auto-existente, indiscernvel, manifestou-se, removendo aobscuridade; indiviso, ele tornou discernvel este mundo com as cinco grande

    substncias [ter, vento, fogo, gua, terra] e outros elementos.

    7. Ele que s pode ser apreendido pelo rgo supra-sensvel, sutil, indiviso, eterno, aqueleque a essncia de tudo, o incompreensvel, ele brilhou por si prprio.

    8. Desejando produzir diferentes criaturas de seu prprio corpo, por sua vontade criouinicialmente as guas e nelas depositou sua semente.

    9. Esta tornou-se um ovo dourado, brilhante como o astro de mil raios, no qual eleprprio nasceu como Brahm, antecessor dos mundos.

    10.As guas se chamam nrh porque descendem de Nara [o esprito]. E como elasforam o lugar deste movimento [ayana] inicial, ele chamado Nryana [aquele que semove nas guas].

    11.Sendo formado por esta causa indiscernvel, eterna, que tanto existente comoinexistente, este macho [Purusha] conhecido no mundo como Brahm.

    12.Esse senhor, tendo habitado esse ovo por um ano, dividiu-o em duas partes pelo seumero conhecimento.

    13.

    Com essas duas conchas ele formou o cu e a terra, e no meio o firmamento, as oitoregies e a eterna morada das guas.

    14.De si mesmo ele criou a mente [manas], que existe e no existe; e da mente [ele criou] oego, o senhor, o dominador;

    15.e o Grande Eu [Mahat], e tambm todas as coisas com os trs poderes naturais [gunas],e os cinco rgos que apreendem os objetos sensveis.

    16.Destes seis princpios, com fora imensurvel, ele combinou as pores sutis com seus

    elementos prprios, formando ento todos os seres.

    17.E como as seis pores sutis da base primitiva esto contidas [shrayanti] nesseselementos, os sbios chamaram essa matria perceptvel de corpo [sharra].

    18.As grandes substncias com suas funes, o rgo mental com suas pores sutis,entram naquele que o inesgotvel gerador de todas as coisas.

    19.Do eterno, dos elementos sutis formando a base desses sete poderes nasceu operecvel.

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    20.Cada elemento adquire as propriedades daquilo que o precede; ensina-se que ele tem asqualidades correspondentes sua posio.

    21.De acordo com as palavras dos Vedas, ele [Brahm] assinalou desde o incio os nomese as atividades prprias a cada criatura, e as leis prprias a cada uma.

    **********

    51.Quando o Ser de poderes inconcebveis criou assim o universo e a mim, eledesapareceu em sua prpria essncia, alternando um tempo [de criao] com um tempo[de repouso].

    52.Quando este deus desperta, ento o mundo se coloca em movimento. Quando

    adormece pacificamente, ento tudo se dissolve.53.Em seu tranqilo sono, os seres corpreos feitos para a ao deixam de agir, e o

    esprito deles cai nas trevas.

    54.Quando todos juntos se dissolvem nessa grande alma, ento ela, a alma de todos osseres, dorme feliz, em paz.

    **********

    64.Dezoito piscadas de olhos [nimesha] fazem uma kshth, trinta kshth formam umakal, trinta kal um muhrta, igual nmero [30 muhrta] um dia e uma noite.

    65. o Sol quem divide o dia e a noite para os homens e para os deuses: a noite para osono e o dia para a atividade.

    66.Um ms [lunar] faz o dia e a noite dos antepassados. Divide-se em duas metades, aescura, destinada como o dia atividade, e a clara, que serve para o repouso, como anoite.

    67.Um ano um dia e uma noite dos deuses, assim dividido: quando o Sol est ao norte[da linha equinocial], o dia; e quando ele caminha pelo sul, noite.

    68.Eis resumidamente e em ordem a durao de um dia e uma noite de Brahman, etambm as idades do mundo:

    69.Quatro mil anos [dos deuses] fazem, dizem os sbios, a idade [yuga] chamada Krita; oseu alvorecer tem outras tantas [quatro] centenas de anos, e tambm o seu crepsculo.

    70.Nas outras trs idades, com suas alvoradas e crepsculos, os milhares e as centenas soreduzidos de uma unidade.

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    71.Este conjunto de quatro idades, cujo total doze mil [anos dos deuses] chamado deidade dos deuses.

    72.Saibam que um total de mil idades dos deuses constitui um dia de Brahman, e que anoite tem a mesma durao.

    73.Os que sabem que o santo dia de Brahman termina com mil idades dos devas, e que anoite tem a mesma durao, conhecem realmente o dia e a noite.

    74.Ao final deste dia e desta noite, quem dormia [Brahman] desperta; despertando, ele criao pensamento [manas], que existe e no existe.

    75.Movida pelo desejo de criar, a mente se modifica gerando o ter; ele dotado daqualidade de vibrao.

    76.

    Do ter, modificado por sua vez, nasce o vento puro e poderoso, que carrega todos osodores; ele dotado de tangibilidade.

    77.Do vento, transformado, procede a luz brilhante, que ilumina e dissipa as trevas; elatem a qualidade da cor.

    78.Da luz, modificada, nasce a gua, que tem a qualidade do sabor; da gua [nasce] a terra,que tem a qualidade do odor. Eis o princpio da criao.

    79.A idade dos devas, antes descrita, com seus doze mil anos, multiplicada por 71, forma operodo de um dirigente [Manu].

    80.Inumerveis so os perodos dos Manus, e a criao e dissoluo do mundo. O Sersupremo os repete sempre, por divertimento.

    81.Na primeira era [Krita-yuga], a justia e a verdade so completas, com seus quatro ps;e nenhum proveito obtido injustamente pelos homens.

    82.Nas outras [eras], pelos proveitos [ilcitos], a justia perde sucessivamente seus ps; epelo roubo, pela mentira e pela falsidade, o mrito diminui a cada vez em um quarto.

    83.

    Na era Krita, os homens, sem doenas, sempre obtm o que desejam e vivem 400 anos;mas na idade Trit e nas seguintes [Dvpara, Kali], sua existncia diminui em umquarto.

    84.A durao da vida dos mortais, declarada no Veda, os poderes e as recompensas pelasaes rituais, dependem da idade em que este mundo se encontra.

    85.

    1.4THEOGONIA,DE HESODO (SC.VIIIA.C.)

    Trechos selecionados

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    Saudaes, filhas de Zeus: Dai-me vosso canto que enleva: Celebrai a raa sagrada dosimortais que ainda hoje vivem, e que nasceram de Gaia e do Ouranos estrelado, e datenebrosa Nyx e do amargo Pontos.

    Dizei-me como nasceram os Deuses e Gaia, e os rios, e o imenso Ponto que brame furioso,

    e os astros brilhantes, e acima, o grande Ouranos, e os Deuses, fonte dos bens que delesnasceram; e como, tendo partilhado as honras e riquezas desde a origem, eles tomaram oOlimpo de numerosos picos.

    Dizei-me essas coisas, Musas residentes no Olimpo, e quais delas foram as primeiras, noincio.

    Antes de todas as coisas existiu o Khaos, e depois Gaia de amplo ventre, base sempreslida de todos os imortais que habitam os picos do Olimpo nevado e o Trtaro sombrionas profundezas da terra espaosa; e depois Eros, o mais belo dentre os deuses imortais,

    que rompe as foras e doma a inteligncia e a sabedoria no peito de todos os deuses e detodos os homens.

    E de Khaos nasceram Erbos e a negra Nyx. E de Nyx, que se uniu a Erbos pelo amor,foram concebidos e nasceram Aithr e Hmr.

    E inicialmente Gaia procriou seu igual em tamanho, o Ouranos estrelado, a fim de que elea cobrisse inteira, e fosse uma moradia segura para os deuses felizes. E depois ela gerou asaltas montanhas, frescas moradias das divinas Ninfas, que habitam as montanhasentrecortadas por gargantas, e depois Pontos, o mar estril que brame furioso; mas, para

    isto, ela no se uniu pelo amor. E depois, unida a Ouranos, ela gerou o Okanos deprofundos turbilhes, e Koios, e Krios, e Hyprion, e Iaptos, e Thia, e Rhia, e Thmis,e Mnmosyn, e Phoib coroada de ouro e o amvel Tthys. E o ltimo que ela gerou foi osutil Kronos, o mais terrvel de seus filhos, que enraiveceu seu pai vigoroso.

    [...] E eles (os filhos de Gaia e Ouranos) eram odiosos a seu pai, desde a origem. E quandoeles nasceram, um aps o outro, Ouranos os prendeu, privando-os da luz, nas profundezasda Terra. E ele se alegrava por esta m ao, e a grande Gaia gemia, cheia de dor. Ento, elaconcebeu um plano maligno e engenhoso. Aps criar o branco ao, ela fez dele uma grandefoice, e, chamando seus amados filhos, ela os incitou e lhes disse, com o corao cheio detristeza:

    Meus caros filhos, gerados por um pai culpado, se vs quiserdes obedecer-me, tiraremosvingana da ao injusta de vosso pai, pois ele foi o primeiro a meditar um plano cruel.

    Ela assim falou, e o temor os invadiu a todos, e nenhum deles falou. Enfim, retomando suacoragem, o sutil Kronos respondeu assim a sua venervel me:

    Me, eu o prometo, com certezaeu realizarei esta vingana. De fato, eu j no respeitonosso pai, pois ele, primeiramente, meditou um plano cruel.

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    Ele assim falou, e a grande Gaia se alegrou em seu corao. E ela o escondeu em umaemboscada, e lhe colocou nas mos a foice de dentes cortantes, e lhe contou seu plano.Quando desceu a noite, o grande Ouranos veio, e deitou-se inteiro, por todas as partes,cheio de um desejo de amor, sobre Gaia. Ento, saindo do esconderijo, seu filho o seguroucom a mo esquerda, segurando com a mo direita a terrvel e imensa foice, com dentescortantes. E ele cortou rapidamente as partes genitais de seu pai, e as jogou para trs. Elasno foram desperdiadas.

    Gaia recolheu todas as gotas sanguinolentas que delas escorreram; e com o correr dos anosela gerou os robustos Erinnyes e os grandes Gigantes de armas brilhantes, tendo nas moslongas lanas, e as Ninfas, que so chamadas de Mlies na imensa Terra. E Kronos mutiloucom o ao as partes que ele havia cortado, e as lanou, da terra firme, ao mar de ondasagitadas. Elas flutuaram por muito tempo sobre o mar, e uma branca espuma brotou dosrestos imortais, e da surgiu uma jovem mulher[...]E ela chegou praia, a bela e venervel

    Deusa, e a erva crescia sob seus belos ps. E ela foi chamada Aphrodite, nascida daespuma[...]

    2.FRAGMENTOS DE ALGUNS PR-SOCRTICOS (SEGUNDO DIELS)

    2.1ORFEU (SC.VIIIAC)

    12A teologia de Eudemos, atribuda a Orphaeus, nada diz sobre o Inteligvel. Ele indicaa noite (Nyx) como o elemento original. Na rapsdia rfica atual, a teologia referente aoInteligvel aproximadamente assim: o elemento original uno o tempo; o duplo, ter eKhaos; e no lugar do Ser, o Ovo. Primeiro h esta trade[...]Os rficos dizem que a Esfera

    como um Ovo, sendo a casca a abbada celeste, e a pelcula o ter.

    13 A teogonia rfica fornecida por Hieronimus e Hellanicus no igual. Ela indica osdois primeiros elementos como gua e Terra. O terceiro elemento foi gerado desses dois, eera uma serpente possuindo as cabeas de um touro e um leo com o rosto de um deus nomeio. Tinha asas e era chamado Tempo-sem-idade, ou Heracles imutvel. A ele estavaunida a Necessidade ou Adrasteia, um elemento sem corpo, e espalhado sobre todo ouniverso, mantendo-o unido. A serpente do tempo produziu trs descendentes: Aether,Khaos e Erebus. Neles, o Tempo gerou o Ovo[...].Este Heracles produziu um grande Ovo,que se dividiu em dois, formando Gaia e Ouranos. Ouranos uniu-se a Gaia e produziu as

    Moiras, e os gigantes e Ciclopes. Ouranos escondeu os machos no Trtaro, onde Gaiaenraivecida produziu os Titans.

    2.2ANAXIMANDRO (SC.VIAC)

    1O indefinido (apeiron) o material original das coisas existentes. Alm disso, a fonte deonde as coisas existentes tiram sua existncia tambm aquilo a que elas retornam ao serdestrudas, de acordo com a necessidade[...].

    2,3Isto (o apeiron) duradouro e no envelhece. imortal e indestrutvel.

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    2.3HERCLITO (SC.VAC)

    30Este universo ordenado (Kosmos), que o mesmo para todos, no foi criado por umdos deuses ou pelos homens, mas sempre foi e sempre ser um Fogo imortal, ativado eresfriado no tempo devido.

    90Existe uma troca: todas as coisas pelo Fogo, e o Fogo por todas as coisas, como benspelo ouro e ouro pelos bens.

    124O mais belo universo apenas um monte de p empilhado ao acaso.

    50Quando voc tiver ouvido, no a mim, mas a Lei (Logos), concordar sabiamente quetodas as coisas so uma.

    57Hesodo o mestre da multiplicidade, ele que no entendeu o dia e a noite; pois elesso um.

    8 As coisas que se opem concordam entre si, e das coisas diferentes vem a mais belaharmonia.

    51 Eles no compreendem como aquilo que difere est em concordncia; harmoniaconsiste em tenso de oposio, como a do arco e da lira.

    67 Deus dia-noite, inverno-vero, guerra-paz, saciedade-fome. Ele muda como afumaa do incenso, e denominado de acordo com a vontade dos homens.

    88Aquilo que est em ns indiferente: vivo e morto, desperto e adormecido, jovem evelho; pois o segundo, ao se transformar, torna-se o primeiro, e este de novo se transformano segundo.

    102 Para Deus, todas as coisas so belas, boas e justas; mas os homens consideramalgumas coisas injustas, outras justas.

    103O incio e o fim esto por toda parte na circunferncia do crculo.

    12Aqueles que entram no mesmo rio tm diferentes guas fluindo sua volta.

    49 aEntramos e no entramos no mesmo rio; somos e no somos.

    91 impossvel entrar duas vezes no mesmo rio.

    2.4PARMNIDES (SC.V)

    2[...]Venha, e eu lhe direie voc deve aceitar minha palavra, ao ouv-laos caminhosde investigao que so os nicos que podem ser pensados: o caminho segundo o qual ele

    existe, e no possvelque ele no existe, o caminho da credibilidade, pois ele segue averdade; o outro, que ele no existe, e que necessrio aquilo que no existe este, eulhe digo, um caminho que no pode ser explorado; pois voc no poderia nemreconhecer o que no , nem exprim-lo.

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    6 Deve-se dizer e pensar que o Ser existe; pois existir possvel, e o nada impossvel[...]Eu fecho a voc o caminho pelo qual vagueiam os mortais que nada sabem,os de cabea dupla, pois a perplexidade faz sua inteligncia extraviar-se, e eles socarregados surdos e cegos[...]considerando o que existe e o que no existe como iguais ediferentes, e vendo em tudo um tipo de tenso de oposio.

    7 Por isto jamais pode predominar: que existe aquilo que no existe. Voc deve fechareste caminho de pesquisa a seus pensamentos. No deixe que a experincia ordinria, emsua variedade, o force por este caminho. No aceite o domnio do olho, sem viso, doouvido cheio de sons e do paladar. Julgue por meio da razo a prova muito discutida que exposta por mim.

    8Existe apenas uma outra descrio do caminho que resta, que existe. Neste caminho hmuitos sinais: o Ser no surge e no destrudo, pois ele completo, sem movimento esem fim. Ele nunca foi, nem ser, pois ele agora, um todo unido nico, contnuo. Queincio dele voc poderia procurar? Brotar de onde, como? No permitirei que voc fale oupense sobre ele surgindo do no-ser. Pois no pensvel nem exprimvel que existe aquiloque no existe. Alm disso, que necessidade o impeliria a ser produzido antes ou depois, setivesse brotado do nada? Assim, ele deve ser, absolutamente, ou nada.

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    3.CONCEITOS DE CINCIA:DO CONHECIMENTO GREGO AO MTODO

    EXPERIMENTAL

    3.1PLATO TIMEU (TRECHOS)

    Primeiro, portanto, em minha opinio, devemos fazer uma distino e perguntar: que coisasempre e no se transforma? E o que est sempre vindo a ser e nunca ? Aquilo que apreendido pela inteligncia e pela razo est sempre no mesmo estado; mas aquilo que concebido pela opinio com a ajuda da sensao e sem a razo, est sempre em umprocesso de surgir e desaparecer, e nunca realmente . Ora, tudo o que surge ou criadodeve necessariamente ser criado por alguma dor, se ele contempla o imutvel e amolda a

    forma e natureza de seu trabalho de acordo com um padro imutvel, devenecessariamente ser belo e perfeito. Mas se ele apenas v o criado, e usa um padro criado,ele no ser belo ou perfeito. Foi o mundo, ento, sempre existente e sem princpio? Oucriado, e teve um princpio? Criado, eu respondo, pois ele visvel e tangvel e tem umcorpo, e portanto sensvel; e todas as coisas sensveis so captadas pela opinio e pelossentidos e esto em um processo de criao, e so criadas. Ora, tudo o que criado deve,como afirmamos, ser necessariamente criado por uma causa[...] Qual dos padres o artficeteve em vista quando ele construiu o mundo o padro do imutvel, ou o criado? Se omundo realmente belo e o artfice bom, manifesto que ele deve ter tido em vista o que eterno; mas se aquilo que no pode ser dito sem blasfmia for verdade, ento [deve ter tido

    em vista] aquilo que criado. Todos vero que ele deve ter contemplado o eterno; pois omundo a mais bela das criaes, e ele a melhor das causas. E tendo sido criado destaforma, o mundo deve ter sido estruturado semelhana daquilo que apreendido pelarazo e pela mente e que imutvel, e portanto deve necessariamente, se admitirmos isto,ser uma cpia de alguma coisa.

    [...] Assim como o ser est para o tornar-se, da mesma forma a verdade est para a opinio.Se portanto, Scrates, dentre as muitas opinies sobre os deuses e a gerao do universo,no formos capazes de dar noes completamente exatas e consistentes umas com asoutras sob todos os aspectos, no se surpreenda. bastante, se produzirmosprobabilidades to razoveis quanto quaisquer outras. Pois devemos lembrar que eu quefalo, e vocs que so os juzes, somos apenas homens mortais, e devemos aceitar a lendaque provvel, e no perguntar mais alm.

    [...] O criador era bom, e o bondoso no pode ter cimes de coisa alguma. Estando livre docime, ele desejou que todas as coisas fossem to semelhantes a ele prprio quantopudessem s-lo. Esta , no mais verdadeiro sentido, a origem da criao e domundo[...]Portanto, encontrando toda a esfera visvel em movimento irregular edesordenado, ele produziu a ordem a partir da desordem, considerando que isto era melhor

    do que aquilo sob todos os aspectos [...] E o criador, refletindo sobre as coisas que sovisveis por natureza, descobriu que nenhuma criatura sem inteligncia tomada como um

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    todo era melhor do que a inteligente tomada como um todo; e que a inteligncia nopoderia estar presente em algo desprovido de alma. Por esta razo, ao formar o universo,ele colocou a inteligncia na alma, e a alma em um corpo, para que ele pudesse ser ocriador de um trabalho que fosse por natureza o mais belo e melhor. Portanto, usando alinguagem da probabilidade, podemos dizer que o mundo tornou-se uma criatura vivarealmente dotada de alma e inteligncia pela providncia de Deus.

    [...] Ora, aquilo que criado necessariamente corpreo, e tambm visvel e tangvel. Enada visvel onde no h fogo, nem tangvel sem solidez, e nada slido sem terra.Portanto Deus, no incio da criao, fez com que o corpo do universo consistisse em fogoe terra. Mas duas coisas no podem ser colocadas juntas corretamente sem uma terceira;deve existir algum lao de unio entre elas[...]Se a estrutura universal tivesse sido criadaapenas como uma superfcie, sem profundidade, um nico termo mdio teria sidosuficiente para unir entre si os outros termos; mas como o mundo deve ser slido, e os

    corpos slidos so sempre compactados por dois termos mdios e no por um Deuscolocou gua e ar entre fogo e terra, e fez com que eles tivessem a mesma proporo tantoquanto possvel (fogo est para o ar como o ar para a gua, e o ar est para a gua como agua est para a terra). E assim ele uniu e produziu um cu visvel e tangvel. E por estasrazes, e desses elementos que so em nmero de quatro, foi criado o corpo do universo, eele foi harmonizado pela proporo, e portanto tem o esprito da amizade; e tendo sidoreconciliado consigo mesmo, tornou-se indissolvel pela mo de qualquer outro alm deseu criador.

    [...] A inteno (do Criador) era, em primeiro lugar, que o animal fosse tanto quanto

    possvel um todo perfeito com partes perfeitas. Alm disso, que ele fosse nico, sem deixarrestos dos quais outro mundo pudesse ser criado; e tambm que ele estivesse livre davelhice e da doena[...]E ele deu ao mundo a figura que era adequada e natural. Ora, aoanimal que deveria incluir todos os animais, a figura adequada era aquela que inclusse em sitodas as outras formas. Por isso ele fez o mundo sob a forma de um globo, redondo comouma bolha, tendo suas extremidades em todas as direes eqidistantes do centro, a maisperfeita de todas as figuras, e a mais semelhante a si prpria; pois ele considerou que osemelhante infinitamente mais belo do que o dessemelhante. E ele tornou sua superfcietoda lisa, por muitas razes. Em primeiro lugar, porque o ser vivo no precisa de olhosquando no h nada fora dele para ser visto; nem de ouvidos quando no h nada para

    ouvir[...]Ele foi propositadamente criado assim, seus prprios dejetos proporcionando suaprpria comida, e tudo o que ele fizesse ou sofresse ocorrendo nele e por ele. Pois oCriador concebeu que um ser que fosse auto-suficiente seria muito melhor do que um aquem faltasse algo[...]Foi-lhe dado o movimento adequado a sua forma esfrica, sendo detodos os sete movimentos aquele que mais apropriado mente e inteligncia; e ele foicolocado em movimento da mesma maneira e no mesmo lugar, girando em crculo dentrode seus prprios limites. Todos os outros seis movimentos lhe foram impedidos, e ele nofoi autorizado a participar de seus desvios. E como este movimento no exigia ps, ouniverso foi criado sem pernas e sem ps.

    [...]. Vemos que aquilo que se chama gua, parece tornar-se terra e pedra por condensao;e este mesmo elemento, quando derretido e dispersado, transforma-se em vapor e ar. O ar,

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    quando inflamado, torna-se fogo; e o fogo, por sua vez, quando condensado e extinto,torna-se ar; e o ar, coletado e condensado, produz nuvens e neblina; e dessas, ainda maiscondensadas, surge a gua fluida; e da gua terra e rochas mais uma vez. E assim a geraoparece ser transmitida de um para o outro em um crculo[...]Tudo o que vemos mudandocontinuamente, como o fogo, por exemplo, no deve ser chamado de isto ou aquilo,mas devemos dizer apenas de tal natureza. Apenas aquilo de que os elementos crescem, e

    aparecem, e desaparecem, deve ser chamado de isto ou aquilo[...]A natureza universalque recebe todos os corpos deve ser sempre denominada a mesma; pois, ao receber todasas coisas, ela jamais se afasta de sua natureza, e nunca, de forma alguma, ou em tempoalgum, assume uma forma como a da coisas que nela penetram. Ela o recipiente naturalde todas as impresses, e agitada e adquire uma forma graas a elas, e por causa delasparece diferente de tempos em tempos[...]Aquilo que deve receber todas as formas nodeve ter forma; assim como ao se fazer perfumes escolhe-se primeiro o lquido que devereceber o aroma, e que deve ser to inodoro quanto possvel[...]portanto, a me e tmulo

    de todas as coisas criadas e visveis e de todas as coisas sensveis de alguma forma, no deveser denominada terra, ou ar, ou fogo, ou gua, ou qualquer de seus compostos ou doselementos de que so derivados; mas um ser invisvel e sem forma que recebe todas ascoisas e que de algum modo misterioso participa do inteligvel, e completamenteincompreensvel[...]

    [...] evidente a todos que o fogo, terra, gua e ar so corpos. E todo tipo de corpo possuisolidez, e todo slido deve estar contido entre planos. E toda figura plana retilnea composta de tringulos; e todos os tringulos so originalmente de dois tipos, sendo ambosconstitudos por um ngulo reto e dois agudos; um deles tem em cada extremidade da base

    a metade de um ngulo reto, e tem lados iguais; enquanto no outro o ngulo reto divididoem partes desiguais, tendo lados diferentes. Procedendo por uma combinao deprobabilidade e demonstrao, assumimos que estes so os elementos originais do fogo ede outros corpos; mas s Deus e os homens que so amigos de Deus sabem quais so soprincpios que so anteriores a esses.

    E agora devemos determinar quais so os quatro mais belos corpos que podem sertransformados uns nos outros e que so diferentes entre si. Pois se descobrirmos issoteremos encontrado a verdadeira origem da terra e do fogo e dos elementosintermedirios[...]Ora, dos dois tringulos, o issceles tem apenas uma forma; o escaleno,

    ou de lados desiguais, tem um nmero infinito. Das infinitas formas selecionaremos o maisbelo, se queremos avanar na ordem correta[...]e este aquele cuja duplicao forma umtringulo equiltero. A razo disto seria muito longa para dizer[...]Escolhamos ento doistringulos para construir a partir deles o fogo e os outros elementos: um issceles, o outrotendo o quadrado do lado mais longo igual ao triplo do quadrado do lado menor.

    Agora tempo de explicar aquilo que foi dito obscuramente antes; havia um erro emimaginar que todos os quatro elementos poderiam ser gerados um do outro. Isto, eu digo,era uma suposio errada, pois a partir dos tringulos que selecionamos so gerados quatrotipos (de slidos); trs deles a partir do (tringulo) que tem todos os lados desiguais, eapenas o quarto a partir do tringulo issceles. Portanto eles no podem se transformartodos uns nos outros[...]mas trs deles podem ser dissolvidos e compostos e

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    transformados, pois todos eles brotam de um (dos tringulos)[...]O primeiro (slido) ser aconstruo mais simples e menor, e seu elemento o tringulo que tem sua hipotenusaduas vezes maior do que o menor cateto. Quando dois desses tringulos so unidos peladiagonal, e isto repetido trs vezes, e os tringulos repousam sobre suas diagonais e ladosmenores no mesmo ponto como centro, forma-se um nico tringulo eqiltero a partir deseis tringulos; e quatro desses tringulos equilteros, unidos formam a primeira formaslida (tetraedro) que divide em partes iguais a esfera em que inscrito. O segundo tipo deslido formado dos mesmos tringulos, pela unio de oito tringulos equilteros(octaedro)[...] E o terceiro corpo feito de 120 elementos triangulares (dos pequenos, ouseja, 20 tringulos equilteros, compondo um icosaedro)[...] Um elemento, tendo geradoessas figuras, no gerou mais; mas o tringulo issceles produziu a quarta figura elementar,que composta de quatro tringulos desse tipo, unindo-se seus ngulos retos no centro eformando um quadringulo equiltero. Seis destes, unidos,[...]formam um cubo[...]Existeainda uma quinta combinao, que Deus usou na planificao do universo.

    [...] Devemos associar terra a forma cbica; pois a terra o mais imvel dos quatro, e omais plstico dos corpos, e aquilo que tem as bases mais estveis deve ser necessariamentedessa natureza[...]E gua assinalaremos a menos mvel das formas restantes; a maismvel delas ao fogo; e ao ar a forma intermediria. Alm disso associamos o menor corpoao fogo, o maior gua, e o de tamanho intermedirio ao ar; e o corpo mais agudo ao fogo,o seguinte ao ar, e o terceiro gua[...]Concordemos portanto, tanto de acordo com a razoestrita quanto de acordo com a probabilidade, que a pirmide o slido que o elementooriginal e semente do fogo; e assinalemos o elemento gerado em seguida [octaedro] ao ar, eo terceiro [icosaedro] gua. Devemos imaginar que todos esses so to pequenos que

    nenhuma partcula de qualquer desses quatro tipos visvel por ns, por causa de suapequenez; mas quando muitos deles so unidos, seus agregados so visveis[...]

    De tudo o que dissemos sobre os elementos ou tipos, a concluso mais provvel aseguinte: quando a terra encontra o fogo e dissolvida por sua agudeza, seja quando adissoluo ocorre no prprio fogo, ou no ar ou gua, transportada para c e para l, atque suas partes, encontrando-se e harmonizando-se, transformam-se novamente em terra;pois elas jamais podem formar outra coisa. Mas a gua, quando dividida pelo fogo ou peloar, ao se recompor pode tornar-se uma parte de fogo e duas de ar [20 = 4 + 2x8]. Damesma forma, quando uma pequena quantidade de fogo est contida em uma massa maior

    de gua ou de terra, e ambos se movem, e o fogo vencido e partido, ento dois volumesde fogo formam um volume de ar; e quando o ar vencido e cortado em pedaos, duaspartes e meia de ar so condensadas em uma parte de gua.

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    3.2EPICURO CARTA A HERDOTO(TRECHOS)5

    Em primeiro lugar, nada nasce do no-ser; de fato, tudo nasceria de tudo, sem necessidadealguma de semente. E se aquilo que desaparece de nossos olhos terminasse no no-ser,tudo j estaria destrudo, pois aquilo em que elas se dissolveriam no existiria.

    O todo sempre foi como o agora, e sempre o ser, pois nada existe em que ele possatransformar-se, e nem existe fora do todo algo que, penetrando nele, possa transform-lo.

    Alm disso, o todo constitudo por corpos e vazio. Pois, que os corpos existem, asensao por si mesma o atesta sempre, e preciso basear-se nela, com o raciocnio, parajulgar sobre o que desconhecido, como eu j disse. Se no existisse aquilo que chamamosde vazio ou lugar ou natureza intangvel, os corpos no teriam onde estar ou por ondemover-se, como vemos que se movem.

    Alm dessas duas naturezas, no se pode conceber pelo pensamento, nem pelos sentidos,nem pela analogia dos sentidos, coisa alguma que se possa tomar por substnciasuniversais, excetuando-se as chamadas qualidades acidentais ou essenciais.

    E assim, dentre os corpos, alguns so compostos, e outros so os componentes doscompostos. Estes ltimos so indivisveis [tomos] e imutveis, j que todas as coisas nodevem ser destrudas no no-ser; mas tendo o poder de permanecer quando os compostosse dissolvem, [os componentes] so de natureza compacta, no existindo local ou modo dedestru-los. Portanto necessrio que os principais constituintes sejam indivisveis[tomos].

    Alm disso, o todo ilimitado [apeiron]; pois aquilo que limitado tem uma extremidade; eo extremo pode ser delimitado em relao a alguma coisa; mas o todo no pode serdelimitado por alguma coisa, e portanto no tem extremo, e no tem limite; no tendolimite, ele ilimitado, sem limitaes.

    O todo tambm ilimitado em nmero de corpos e pela extenso do vazio. Se o vaziofosse ilimitado e os corpos limitados, estes no poderiam permanecer em local algum, mas

    vagueariam pelo vazio infinito, espalhados aqui e ali, sem ter apoio ou impulso. E se ovazio fosse finito, os corpos infinitos no teriam lugar onde ficar.

    Alm disso, os corpos indivisveis e plenosa partir dos quais so formados os compostose nos quais eles se dissolvem possuem um nmero inconcebvel de formas. Pois no sepode conceber como tantas diferenas (nos agregados) pudessem sair de formas limitadas.E os tomos semelhantes de cada forma so absolutamente infinitos, mas por suasdiferenas eles no so infinitos, so apenas em nmero inconcebvel, a menos que sequeira que tambm seu tamanho seja ilimitado.

    5 Fontes: EPICURUS. Opere. Trad. Graziano Arrighetti. Torino: Argentorati, 1950. BOLLACK, Jean,BOLLACK, Mayotte & WISMANN, Heinz (eds.). La Lettre d'picure. Minuit: Paris, 1971.

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    Os tomos possuem um movimento contnuo durante todo o tempo; alguns se afastam agrandes distncias uns dos outros; no entanto outros conserva sua pulsao quando estounidos em um composto ou contidos em uma rede de outros tomos. De fato, a naturezado vazio a causa disto, e que separa uns dos outros, no sendo capaz de opor resistncia.Por outro lado, a solidez que lhes prpria [aos tomos] a causa de seus retornos noschoques, a menos que a unio lhes permita o retorno ao movimento inicial. No existe umincio para esses movimentos, pois os tomos e o vazio so eternos.

    [...]Os mundos so em nmero ilimitado, tanto os semelhantes a este quanto os diferentes.Pois os tomos, que so infinitos como j demonstramos, so levados at as maioresdistncias. De fato, os tomos no se exaurem ao originar ou constituir um mundo, nempor um s nem por um nmero finito de mundos, nem nos que so semelhantes, nem nosque so diferentes; de modo que nada se ope a que os mundos sejam em nmero infinito.

    Existem alm disto imagens que possuem a mesma forma dos slidos, mas que, por suasutileza, so muito diferentes dos corpos aparentes. Nada impede, de fato, que se forme noenvoltrio [dos corpos sensveis] uma pelcula que se destaca, capaz de reproduzir as partesocas e as planas, ou conservar a posio e a ordem que tinham nos corpos slidos. Essasimagens, ns a chamamos de dolos

    O movimento (desses dolos) atravs do vazio, sem qualquer obstculo ou choque,percorre uma distncia perceptvel em um tempo inconcebivelmente pequeno. A presenae ausncia de choques produz a lentido e a rapidez. Mas certamente um corpo emmovimento no atingir vrios lugares ao mesmo tempo, ou em duraes que s podem

    ser pensadas, pois isso inconcebvel[...]Alm disso, os dolos possuem uma sutileza inconcebvel; nenhum fenmeno se ope aisso. Por isso no pode haver uma velocidade maior; eles encontram toda passagemadequada, de modo que encontram pouca ou nenhuma resistncia, mesmo quando emgrande nmero[...]

    [...] ainda necessrio acreditar que vemos a forma das coisas, e pensamos, por meio dealgo que emana dos objetos e entra em ns. Pois as coisas externas no poderiam transmitira marca de suas cores e suas formas por meio do ar interposto entre elas e ns, nem por

    radiaes ou de qualquer fluxo que partisse de ns para elas, como elas transmitem [ascores e formas] quando esses dolos penetram em ns, dos objetos externos, conservandocor e forma, com um tamanho adaptado ao olho ou ao pensamento e movendo-se comgrande velocidade.

    E preciso crer que os tomos no conservam qualquer qualidade dos fenmenos, alm deforma, peso e tamanho, e de tudo o que est necessariamente ligado forma. De fato, todaqualidade muda, mas os tomos no mudam, pois preciso que permanea alguma coisa deslido e indissolvel na destruio dos compostos, para que as mudanas no se originemno nada nem terminem no nada, mas consistam em deslocamentos, chegadas e partidas [de

    tomos] que alteram os corpos[...]

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    No preciso acreditar que os tomos so de todos os tamanhos, para que as aparnciasno se oponham a isso. Mas deve-se pensar que existam diferenas de tamanho, pois assimse poder explicar melhor aquilo que se passa nas sensaes e sentimentos. Mas no tilpara explicar as diferenas de qualidade que exista todo tipo de tamanho, pois ento serianecessrio que nossos sentidos fossem atingidos por tomos visveis, coisa que no se vacontecer, e nem possvel conceber como poderia ser visvel um tomo. Alm disso nose deve acreditar que em um corpo limitado exista um nmero infinito de partes, ou detamanho indefinido. Pois deve-se excluir a diviso ao infinito para no esgotar todas ascoisas, e reduzir tudo ao no ser[...]Se dissermos que um corpo tem infinitas partes ou detamanhos indefinidos, no se poderia pensar como isso poderia acontecer. Como ento otamanho do corpo poderia ser limitado? Pois claro que essas partes infinitas devem terum tamanho, e seja qual for a dimenso desses componentes, o tamanho [dos compostos]seria infinito[...]

    [...]Alm disso necessrio que os tomos possuam a mesma velocidade quando se movemno vazio, sem que nada os impea. Os corpos pesados com efeito no se movero maisdepressa do que os pequenos e leves, quando nada se ope ao movimento destes, nem osmenores sero mais rpidos do que os grandes, pois toda passagem lhes adequada,quando nada os freia. Nem o movimento para o alto, nem o oblquo resultante doschoques, nem os movimentos para baixo resultantes do peso prprio, no so maisrpidos. Enquanto o tomo conserva um ou outro tipo (de movimento), ele ser dotado deum movimento veloz como o pensamento, at que seja freiado pela ao exterior, seja oefeito do peso prprio contra a fora do corpo que o atingiu.

    Mas, nos corpos complexos, diz-se que um movimento mais rpido do que o outro,embora os tomos se movam sempre a uma velocidade igual, pois mesmo no menor tempocontnuo eles no se movem em uma s direo, mas em tempos s perceptveismentalmente eles se chocam, de modo que aos sentidos o movimento parece contnuo.

    preciso tambm adicionar que os mundos e todos os compostos limitados semelhantesaos que vemos nascem do ilimitado, formando-se todos de concentraes particularesmaiores ou menores. E novamente todas as coisas sero destrudas, umas mais depressa,outras mais lentamente, sob o efeito de certos agentes ou de outros.

    Quanto s coisas celestes, no se deve pensar que o movimento, revoluo, surgimento eocultao, eclipse e fenmenos do mesmo gnero comearam pelo esforo de algumapessoa que assegurou ou deveria assegurar a ordem disso, e que ao mesmo tempo desfruteda completa felicidade e imortalidade[...] preciso pensar que esses movimentos seformaram por necessidade, com este mundo, no instante do incio, quando se formaram asconcentraes.

    3.3ARISTTELES ORGANON ANALTICA POSTERIOR (TRECHOS)

    Toda instruo dada ou recebida por meio de argumento parte de conhecimento pr-existente. Isto se torna evidente examinando-se todas as espcies de instruo desse tipo.

    As cincias matemticas e todas as outras disciplinas especulativas so adquiridas destaforma, e assim tambm os dois tipos de raciocnio dialtico: silogstico e indutivo. Cada um

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    deles faz uso de um conhecimento antigo para fornecer um novo. O silogismo pressupeuma audincia que aceite suas premissas; a induo exibe o universal como implcito noparticular claramente conhecido.

    Supomos que possumos conhecimento cientfico, propriamente dito de uma coisa (em

    oposio a conhec-lo da forma acidental em que o sofista conhece) quando pensamosque sabemos a causa de que depende o fato, como causa desse fato e de nenhum outro, e,alm disso, que o fato no poderia ser diferente do que . evidente que o conhecimentocientfico algo desse tipotanto os que falsamente afirmam t-lo como os que realmenteos possuem, ambos o testemunham; os primeiros meramente imaginam estar na condiodescrita, enquanto os ltimos realmente o esto. Consequentemente, o objeto prprio doconhecimento cientfico algo que no pode ser diferente do que ele .

    [...] Eu agora afirmo que sempre conhecemos por demonstrao. Eu chamo dedemonstrao um silogismo produtor de conhecimento cientfico, ou seja, um silogismocuja captao por si prpria um conhecimento desse tipo. Assumindo portanto que correta minha tese sobre a natureza do conhecimento cientfico, as premissas doconhecimento demonstrado devem ser verdadeiras, primrias, imediatas, melhorconhecidas e anteriores concluso, a qual est ligada a elas como efeito causa.

    [...] As premissas devem ser verdadeiras; pois aquilo que no no pode serconhecido[...]As premissas devem ser primrias e indemonstrveis; de outra forma elasexigiriam demonstrao para ser conhecidas; pois ter conhecimento (exceto conhecimentoacidental) de coisas que so demonstrveis significa precisamente ter uma demonstrao

    delas. As premissas devem ser as causas da concluso, melhor conhecidas do que ela, eanteriores a ela; suas causas, pois s possumos conhecimento cientfico de uma coisaquando conhecemos sua causa; anteriores, para ser causas; conhecidas antes, sendo esteconhecimento anterior no uma simples compreenso do significado, mas conhecimentotambm do fato [...]

    Ao dizer que as premissas do conhecimento demonstrativo devem ser primrias, querodizer que elas devem ser verdades bsicas apropriadas, pois identifico premissa primria e

    verdade bsica. Uma verdade bsica em uma demonstrao uma proposio imediata.Uma proposio imediata uma que no tem outra proposio anterior a ela.

    Assim, como as premissas primrias so a causa de nosso conhecimentoisto , de nossaconvicosegue-se que ns as conhecemos melhor ou seja, estamos mais convencidosdelasdo que suas conseqncias, precisamente porque nosso conhecimento das ltimas o efeito de nosso conhecimento das premissas [...] A convico da cincia pura deve serinabalvel.

    Alguns sustentam que, pela necessidade de conhecer as premissas primrias, no hconhecimento cientfico. Outros pensam que existe, mas que todas as verdades sodemonstrveis. Nenhuma dessas doutrinas verdadeira nem conseqncia necessrias das

    premissas. A primeira escola, assumindo que no existe outro modo de conhecer senopela demonstrao, mantm que isso envolve um regresso infinito, baseando-se em que se

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    por trs dos anteriores no houvesse um primrio, no poderamos conhecer o posterioratravs do anteriornisto eles esto certos, pois no se pode atravessar uma srie infinita;se por outro lado dizem eles a srie termina e existem premissas primrias, essas nopodem ser conhecidas, pois so incapazes de ser demonstradase de acordo com eles essa a nica forma de conhecimento. E como assim no se pode conhecer as premissasprimrias, o conhecimento das concluses que delas seguem no conhecimento cientficopuro nem propriamente conhecimento algum, mas baseia-se apenas na mera suposio deque as premissas so verdadeiras.

    A outra escola concorda com eles com relao ao conhecimento, mantendo que ele s possvel por demonstrao; mas no vem dificuldade em sustentar que todas as verdadesso demonstrveis, baseando-se em que a demonstrao pode ser circular e recproca.

    Nossa prpria doutrina de que nem todo conhecimento demonstrativo. Pelo contrrio,o conhecimento das premissas imediatas independente de demonstrao. A necessidadedisto bvia; pois como devemos conhecer as premissas anteriores a partir das quais feitaa demonstrao, e como o regresso deve terminar em verdades imediatas, essas verdadesdevem ser indemonstrveis. Tal , portanto, nossa doutrina; e em adio mantemos quealm do conhecimento cientfico existe sua fonte originria que nos permite reconhecer asdefinies.

    Devemos considerar o que so as premissas da demonstrao, isto , qual o seu carter.Como preliminar, vamos definir o que queremos dizer por atributo verdadeiro de seu

    sujeito em todos os casos; atributo essencial; e atributo comensurado e universal.

    Chamo de verdadeiro em todos os casos aquilo que verdadeiramente predicvel em todosos casose em todos os temposno apenas neste ou naquele tempo.

    [...]Atributos essenciais so aqueles que pertencem a seus sujeitos como elementos de suanatureza essencial como a linha pertence ao tringulo, e ponto pertence linha; pois oprprio ser ou substncia de tringulo e linha composto destes elementos, que estocontidos nas frmulas de definio de tringulo e linha ou que pertencem a certossujeitos, e os sujeitos a que pertencem esto contidos na prpria frmula de definio doatributo. Assim, reta e curva pertencem linha; par e mpar, primo e composto[...]anmero.

    [...]Os atributos[...]que satisfazem s descries acima pertencem essencialmente a seussujeitos; enquanto que atributos que no esto associados por nenhuma dessas duas formasa seus sujeitos, eu chamo de acidentes ou coincidentes. Exemplo: musical, ou branco, umcoincidente de animal.

    [...]Em outro sentido, uma coisa consequentemente ligada a outra essencial; uma que noo , coincidental. Um exemplo da ltima : Enquanto ele caminhava, relampejou. Orelmpago no foi devido ao caminhar; foi, como se diz, uma coincidncia. Se, por outrolado, existe uma conexo conseqencial, a predicao essencial. Exemplo: quando um

    animal morre ao ter seu pescoo cortado, ento sua morte est tambm essencialmente

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    conectada ao corte, pois o corte foi a causa da morte, a morte no foi uma coincidncia docorte.

    No que se refere ao domnio das conexes cientificamente conhecidas, no sentido prpriodo termo, todos os atributos que (nesse domnio) so essenciais ou no sentido de que

    seus sujeitos esto contidos neles, ou no sentido de que eles esto contidos em seus sujeitosesto ligados a seus sujeitos de modo necessrio e conseqencial.

    [...]Um atributo pertence de forma comensurada e universal a um sujeito quando se podemostrar que ele pertence a qualquer exemplo daquele sujeito, e quando aquele sujeito anica coisa a que ele pode ser mostrado pertencer sempre.

    O conhecimento demonstrativo deve basear-se em verdades bsicas necessrias; pois oobjeto da cincia no pode ser diferente disto[...]Segue-se disso que as premissas dosilogismo demonstrativo devem ser conexes essenciais no sentido explicado; pois todos os

    atributos devem ser inerentes essencialmente, ou ento ser acidentais; e os atributosacidentais no so necessrios a seus sujeitos.

    No existe conhecimento demonstrativo de acidentes, que no so essenciais de acordocom nossa definio de essencial. Pois como um acidente pode tambm no pertencer (aoobjeto)[...] impossvel provar como uma concluso necessria que ele pertence (ao objeto).

    No possvel conhecimento cientfico atravs do ato de percepo[...]Sempre se percebena realidade um algo especfico, e em um lugar e tempo presente definido. Mas aquilo que comensuradamente universal e verdadeiro em todos os casos no pode ser percebido, pois

    no se reduz a isto e ao agora[...]Vendo, portanto, que demonstraes socomensuradamente universais, e universais so imperceptveis, ns claramente nopodemos obter conhecimento cientfico pelo ato de percepo.

    bvio que mesmo se fosse possvel perceber que um tringulo tem seus ngulos iguais adois ngulos retos, ns ainda procuraramos uma demonstrao ns no teramosconhecimento disso; pois a percepo deve ser de um particular, enquanto o conhecimentocientfico envolve o reconhecimento do universal comensurado. Assim, se estivssemos naLua, e vssemos a Terra bloqueando a luz do Sol, no saberamos a causa do eclipse:perceberamos o fato presente do eclipse, mas no o fato raciocinado, pois o ato depercepo no comensurado universal. No nego, claro, que observando a freqenterepetio deste acontecimento pudssemos, aps descobrir o comensurado universal,possuir uma demonstrao; pois o comensurado universal evocado a partir de vriosgrupos singulares.

    O comensurado universal precioso porque ele torna clara a causa; de modo que no casode fatos como este que possuem uma causa diferente deles prprios, o conhecimentouniversal mais precioso do que percepes sensoriais e do que intuio.

    Conhecimento cientfico e seu objeto diferem da opinio e do objeto da opinio, nisto:

    conhecimento cientfico comensuradamente universal, e procede por conexesnecessrias, e aquilo que necessrio no pode ser de outra forma. Assim, embora existam

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    coisas que so verdadeiras e reais e no entanto podem ser diferentes, o conhecimentocientfico no pode se referir a elas, claro. Pois se ele se referisse, essas coisas que podemser diferentes seriam incapazes de ser diferentes.

    Elas tambm no so objeto de intuio racional eu denomino de intuio racional uma

    fonte originadora do conhecimento cientfico nem de conhecimento indemonstrvel,que a captao da premissa imediata. Como intuio racional, cincia e opinio[...]so asnicas coisas que podem ser verdadeiras, segue-se que opinio aquilo que se refere ao quepode ser verdadeiro ou falso, e que pode ser diferente.

    J dissemos que o conhecimento cientfico pela demonstrao impossvel a menos que seconhea as premissas imediatas primrias[...]No podemos possu-las desde o nascimento, eelas no podem vir a ns a no ser que tenhamos um poder desenvolvido para tal.Portanto, devemos possuir uma capacidade de algum tipo[...]E esta uma caractersticabvia de todos os animais, pois eles possuem uma capacidade discriminativa congnita que denominada percepo sensorial. Mas embora a percepo sensorial exista em todos osanimais, em alguns a impresso sensorial persiste, em outros no. Animais em que noocorre esta persistncia, ou no possuem conhecimento algum alm do ato de perceber, ounenhum conhecimento de objetos que no produzem impresso permanente. Animais nosquais ocorre essa persistncia, possuem percepo e continuam a reter a impressosensorial na alma; e quando tal persistncia repetida freqentemente surge uma outradistino entre aqueles que a partir da persistncia de tais impresses sensoriaisdesenvolvem um poder de sistematiz-las, e os que no o fazem. Assim, da perceposensorial vem o que chamamos memria, e de memrias freqentemente repetidas da

    mesma coisa desenvolve-se a experincia; pois um certo nmero de memrias constituiuma nica experincia. Da experincia, por sua vezisto , do universal agora estabilizadoem sua totalidade dentro da alma, e aquela dentre muitas que uma nica identidadedentro de todas elasorigina-se a habilidade do arteso e o conhecimento do homem decinciahabilidade na esfera dos fenmenos, e cincia na esfera do ser.

    Conclumos que esses estados de conhecimento nem so inatos[...]nem so desenvolvidosde outros estados mais elevados de conhecimento, mas sim da percepo sensorial.

    [...] claro portanto que devemos chegar a conhecer as premissas primrias por induo;

    pois o mtodo pelo qual a prpria percepo sensorial implanta o universal indutivo. Ora,dos estados de pensamento pelos quais captamos a verdade, alguns so infalivelmenteverdadeiros, outros admitem erro opinio, por exemplo, e previso, enquantoconhecimento cientfico e intuio sempre so verdadeiros. Alm disso, nenhum outro tipode pensamento exceto intuio mais perfeito do que o conhecimento cientfico; todas aspremissas primrias so mais conhecveis do que demonstraes, e todo conhecimentocientfico discursivo[...]Deve ser a intuio que apreende as premissas primrias[...]Aintuio ser a fonte originadora do conhecimento cientfico.

    3.4ISAAC NEWTON REGRAS PARA FILOSOFAR [REGULAE PHILOSOPHANDI]

    Regra 1

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    S devemos admitir como causas das coisas naturais as que sejam verdadeiras e suficientes para explicar osfenmenos.

    Por isso os filsofos dizem que a Natureza no faz nada em vo, e quando possvelutilizar menos, seria vo utilizar mais. Pois a simplicidade agrada Natureza, e no busca a

    pompa de causas suprfluas.

    Regra 2

    Portanto, para os mesmos efeitos naturais devemos, sempre que possvel, assinalar as mesmas causas.

    Como a respirao em um homem e em um animal; a queda das pedras na Europa e naAmrica; a luz de nosso fogo culinrio e do Sol; a reflexo da luz na terra, e nos planetas.

    Regra 3

    As qualidades dos corpos que no permitem nem aumento nem diminuio de graus, e que se encontroupertencerem a todos os corpos dentro do alcance de nossos experimentos, devem ser consideradas qualidadesuniversais de todos os corpos existentes.

    Pois como as qualidades dos corpos apenas nos so conhecidas pelos experimentos,devemos considerar como universais todas as que concordam universalmente comexperimentos; e as que no podem diminuir no podem ser eliminadas. Certamente nodevemos abandonar a evidncia dos experimentos por sonhos e fices vs inventadas porns mesmos; nem devemos nos afastar da analogia da Natureza, que deve ser simples e

    sempre conforme consigo mesma. No conhecemos a extenso dos corpos de outra formaa no ser por nossos sentidos, e estes no alcanam todos os corpos; mas comopercebemos a extenso em todos os corpos sensveis, por isso ns a atribumosuniversalmente a todos os outros tambm. Aprendemos pela experincia que muitoscorpos so duros; e como a dureza do todo provm da dureza das partes, inferimos demodo justo a partir da a dureza das partculas indivisas e no apenas dos corpos quesentimos, mas de todos os outros. No pela razo e sim pela sensao que captamos quetodos os corpos so impenetrveis. Encontramos que os corpos que manipulamos soimpenetrveis, e da conclumos que a impenetrabilidade uma propriedade universal detodos os corpos. Apenas inferimos que todos os corpos so mveis, e dotados de certos

    poderes de perseverar em seu movimento ou repouso (que chamamos de inrcia) a partirde propriedades semelhantes observadas nos corpos que vemos. Extenso, dureza,impenetrabilidade e inrcia de um todo resultam da extenso, dureza, impenetrabilidade einrcia das partes; e portanto conclumos que as menores partculas de todos os corpostambm so extensas, duras, impenetrveis, mveis e dotadas com sua prpria inrcia. Eeste o fundamento de toda filosofia.

    Alm disso, observa-se que as partculas divididas mas contguas dos corpos podem serseparadas umas das outras; e nas partculas que permanecem indivisas nossa mente capazde distinguir partes ainda menores, como se demonstra matematicamente. Mas se as partes

    assim distinguidas, e ainda indivisas, podem ser realmente divididas e separadas umas dasoutras por poderes da Natureza, isso no podemos determinar com certeza. No entanto, se

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    tivssemos a prova de um nico experimento em que qualquer partcula indivisa se dividequando se quebra um corpo duro e slido, poderamos em virtude desta regra concluir quetanto as partculas indivisas quanto as divididas podem ser divididas e separadasinfinitamente.

    Por fim, se aparece de forma universal, por experimentos e observaes astronmicas, quetodos os corpos em torno da Terra gravitam para a Terra, e isso em proporo quantidade de matria que eles contm; que a Lua tambm, de acordo com a suaquantidade de matria, gravita para a Terra; que, por outro lado, nosso mar gravita para aLua; e todos os planetas uns para os outros; e os cometas de forma semelhante para o Sol;devemos, em conseqncia desta regra, admitir de forma universal que todos os corpos sodotados de um princpio de gravitao mtua. Pois o argumento a partir dos fenmenosconclui com mais fora a favor da gravitao universal de todos os corpos do que a favorde sua impenetrabilidade; da qual, entre os corpos das regies celestes, no temos

    experimentos, nem qualquer forma de observao. No que eu afirme que a gravidade sejaessencial aos corpos: por vis insita eu s quero indicar sua inrcia. Esta imutvel. Suagravidade diminui quando eles se afastam da Terra.

    Regra 4

    Na filosofia experimental devemos adotar proposies inferidas por induo geral a partir dos fenmenoscomo exatamente ou quase verdadeiras, independentemente de quaisquer hipteses contrrias que possam serimaginadas, at quando ocorram outros fenmenos pelos quais elas possam ser tornadas ou mais exatas, ousujeitas a excees.

    Devemos seguir esta regra, para que o argumento da induo no seja evadido porhipteses.

    Toda instruo dada ou recebida por meio de argumento parte de conhecimento pr-existente. Isto se torna evidente examinando-se todas as espcies de instruo desse tipo.

    As cincias matemticas e todas as outras disciplinas especulativas so adquiridas destaforma, e assim tambm os dois tipos de raciocnio dialtico: silogstico e indutivo. Cada umdeles faz uso de um conhecimento antigo para fornecer um novo. O silogismo pressupeuma audincia que aceite suas premissas; a induo exibe o universal como implcito no

    particular claramente conhecido.Supomos que possumos conhecimento cientfico, propriamente dito de uma coisa (emoposio a conhec-lo da forma acidental em que o sofista conhece) quando pensamosque sabemos a causa de que depende o fato, como causa desse fato e de nenhum outro, e,alm disso, que o fato no poderia ser diferente do que . evidente que o conhecimentocientfico algo desse tipotanto os que falsamente afirmam t-lo como os que realmenteos possuem, ambos o testemunham; os primeiros meramente imaginam estar na condiodescrita, enquanto os ltimos realmente o esto. Consequentemente, o objeto prprio doconhecimento cientfico algo que no pode ser diferente do que ele .

    [...]Eu agora afirmo que sempre conhecemos por demonstrao. Eu chamo dedemonstrao um silogismo produtor de conhecimento cientfico, ou seja, um silogismo

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    cuja captao por si prpria um conhecimento desse tipo. Assumindo portanto que correta minha tese sobre a natureza do conhecimento cientfico, as premissas doconhecimento demonstrado devem ser verdadeiras, primrias, imediatas, melhorconhecidas e anteriores concluso, a qual est ligada a elas como efeito causa.

    [...]As premissas devem ser verdadeiras; pois aquilo que no no pode serconhecido[...]As premissas devem ser primrias e indemonstrveis; de outra forma elasexigiriam demonstrao para ser conhecidas; pois ter conhecimento (exceto conhecimentoacidental) de coisas que so demonstrveis significa precisamente ter uma demonstraodelas. As premissas devem ser as causas da concluso, melhor conhecidas do que ela, eanteriores a ela; suas causas, pois s possumos conhecimento cientfico de uma coisaquando conhecemos sua causa; anteriores, para ser causas; conhecidas antes, sendo esteconhecimento anterior no uma simples compreenso do significado, mas conhecimentotambm do fato[...]

    Ao dizer que as premissas do conhecimento demonstrativo devem ser primrias, querodizer que elas devem ser verdades bsicas apropriadas, pois identifico premissa primria e

    verdade bsica. Uma verdade bsica em uma demonstrao uma proposio imediata.Uma proposio imediata uma que no tem outra proposio anterior a ela.

    Assim, como as premissas primrias so a causa de nosso conhecimentoisto , de nossaconvicosegue-se que ns as conhecemos melhor ou seja, estamos mais convencidosdelasdo que suas conseqncias, precisamente porque nosso conhecimento das ltimas o efeito de nosso conhecimento das premissas[...] A convico da cincia pura deve ser

    inabalvel.Alguns sustentam que, pela necessidade de conhecer as premissas primrias, no hconhecimento cientfico. Outros pensam que existe, mas que todas as verdades sodemonstrveis. Nenhuma dessas doutrinas verdadeira nem conseqncia necessrias daspremissas. A primeira escola, assumindo que no existe outro modo de conhecer senopela demonstrao, mantm que isso envolve um regresso infinito, baseando-se em que sepor trs dos anteriores no houvesse um primrio, no poderamos conhecer o posterioratravs do anteriornisto eles esto certos, pois no se pode atravessar uma srie infinita;se por outro lado dizem eles a srie termina e existem premissas primrias, essas no

    podem ser conhecidas, pois so incapazes de ser demonstradase de acordo com eles essa a nica forma de conhecimento. E como assim no se pode conhecer as premissasprimrias, o conhecimento das concluses que delas seguem no conhecimento cientficopuro nem propriamente conhecimento algum, mas baseia-se apenas na mera suposio deque as premissas so verdadeiras.

    A outra escola concorda com eles com relao ao conhecimento, mantendo que ele s possvel por demonstrao; mas no vem dificuldade em sustentar que todas as verdadesso demonstrveis, baseando-se em que a demonstrao pode ser circular e recproca.

    Nossa prpria doutrina de que nem todo conhecimento demonstrativo. Pelo contrrio,o conhecimento das premissas imediatas independente de demonstrao. A necessidade

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    disto bvia; pois como devemos conhecer as premissas anteriores a partir das quais feitaa demonstrao, e como o regresso deve terminar em verdades imediatas, essas verdadesdevem ser indemonstrveis. Tal , portanto, nossa doutrina; e em adio mantemos quealm do conhecimento cientfico existe sua fonte originria que nos permite reconhecer asdefinies.

    Devemos considerar o que so as premissas da demonstrao, isto , qual o seu carter.Como preliminar, vamos definir o que queremos dizer por atributo verdadeiro de seu

    sujeito em todos os casos; atributo essencial; e atributo comensurado e universal.

    Chamo de verdadeiro em todos os casos aquilo que verdadeiramente predicvel em todosos casose em todos os temposno apenas neste ou naquele tempo.

    [...]Atributos essenciais so aqueles que pertencem a seus sujeitos como elementos de suanatureza essencial como a linha pertence ao tringulo, e ponto pertence linha; pois oprprio ser ou substncia de tringulo e linha composto destes elementos, que estocontidos nas frmulas de definio de tringulo e linha ou que pertencem a certossujeitos, e os sujeitos a que pertencem esto contidos na prpria frmula de definio doatributo. Assim, reta e curva pertencem linha; par e mpar, primo e composto[...]anmero.

    [...]Os atributos[...]que satisfazem s descries acima pertencem essencialmente a seussujeitos; enquanto que atributos que no esto associados por nenhuma dessas duas formasa seus sujeitos, eu chamo de acidentes ou coincidentes. Exemplo: musical, ou branco, umcoincidente de animal.

    [...]Em outro sentido, uma coisa consequentemente ligada a outra essencial; uma que noo , coincidental. Um exemplo da ltima : Enquanto ele caminhava, relampejou. O

    relmpago no foi devido ao caminhar; foi, como se diz, uma coincidncia. Se, por outrolado, existe uma conexo conseqencial, a predicao essencial. Exemplo: quando umanimal morre ao ter seu pescoo cortado, ento sua morte est tambm essencialmenteconectada ao corte, pois o corte foi a causa da morte, a morte no foi uma coincidncia docorte.

    No que se refere ao domnio das conexes cientificamente conhecidas, no sentido prprio

    do termo, todos os atributos que (nesse domnio) so essenciais ou no sentido de queseus sujeitos esto contidos neles, ou no sentido de que eles esto contidos em seus sujeitosesto ligados a seus sujeitos de modo necessrio e conseqencial.

    [...]Um atributo pertence de forma comensurada e universal a um sujeito quando se podemostrar que ele pertence a qualquer exemplo daquele sujeito, e quando aquele sujeito anica coisa a que ele pode ser mostrado pertencer sempre.

    O conhecimento demonstrativo deve basear-se em verdades bsicas necessrias; pois oobjeto da cincia no pode ser diferente disto[...]Segue-se disso que as premissas dosilogismo demonstrativo devem ser conexes essenciais no sentido explicado; pois todos osatributos devem ser inerentes essencialmente, ou ento ser acidentais; e os atributosacidentais no so necessrios a seus sujeitos.

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    No existe conhecimento demonstrativo de acidentes, que no so essenciais de acordocom nossa definio de essencial. Pois como um acidente pode tambm no pertencer (aoobjeto)[...] impossvel provar como uma concluso necessria que ele pertence (ao objeto).

    No possvel conhecimento cientfico atravs do ato de percepo[[...]]Sempre se percebe

    na realidade um algo especfico, e em um lugar e tempo presente definido. Mas aquilo que comensuradamente universal e verdadeiro em todos os casos no pode ser percebido, poisno se reduz a isto e ao agora[...]Vendo, portanto, que demonstraes socomensuradamente universais, e universais so imperceptveis, ns claramente nopodemos obter conhecimento cientfico pelo ato de percepo.

    bvio que mesmo se fosse possvel perceber que um tringulo tem seus ngulosiguais a dois ngulos retos, ns ainda procuraramos uma demonstraons no teramosconhecimento disso; pois a percepo deve ser de um particular, enquanto o conhecimentocientfico envolve o reconhecimento do universal comensurado. Assim, se estivssemos naLua, e vssemos a Terra bloqueando a luz do Sol, no saberamos a causa do eclipse:perceberamos o fato presente do eclipse, mas no o fato raciocinado, pois o ato depercepo no comensurado universal. No nego, claro, que observando a freqenterepetio deste acontecimento pudssemos, aps descobrir o comensurado universal,possuir uma demonstrao; pois o comensurado universal evocado a partir de vriosgrupos singulares.

    O comensurado universal precioso porque ele torna clara a causa; de modo que no casode fatos como este que possuem uma causa diferente deles prprios, o conhecimento

    universal mais precioso do que percepes sensoriais e do que intuio.Conhecimento cientfico e seu objeto diferem da opinio e do objeto da opinio, nisto:conhecimento cientfico comensuradamente universal, e procede por conexesnecessrias, e aquilo que necessrio no pode ser de outra forma. Assim, embora existamcoisas que so verdadeiras e reais e no entanto podem ser diferentes, o conhecimentocientfico no pode se referir a elas, claro. Pois se ele se referisse, essas coisas que podemser diferentes seriam incapazes de ser diferentes.

    Elas tambm no so objeto de intuio racional eu denomino de intuio racional uma

    fonte originadora do conhecimento cientfico nem de conhecimento indemonstrvel,que a captao da premissa imediata. Como intuio racional, cincia e opinio[...]so asnicas coisas que podem ser verdadeiras, segue-se que opinio aquilo que se refere ao quepode ser verdadeiro ou falso, e que pode ser diferente.

    J dissemos que o conhecimento cientfico pela demonstrao impossvel a menos que seconhea as premissas imediatas primrias[...]No podemos possu-las desde o nascimento, eelas no podem vir a ns a no ser que tenhamos um poder desenvolvido para tal.Portanto, devemos possuir uma capacidade de algum tipo[...]E esta uma caractersticabvia de todos os animais, pois eles possuem uma capacidade discriminativa congnita que

    denominada percepo sensorial. Mas embora a percepo sensorial exista em todos osanimais, em alguns a impresso sensorial persiste, em outros no. Animais em que no

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    ocorre esta persistncia, ou no possuem conhecimento algum alm do ato de perceber, ounenhum conhecimento de objetos que no produzem impresso permanente. Animais nosquais ocorre essa persistncia, possuem percepo e continuam a reter a impressosensorial na alma; e quando tal persistncia repetida freqentemente surge uma outradistino entre aqueles que a partir da persistncia de tais impresses sensoriaisdesenvolvem um poder de sistematiz-las, e os que no o fazem. Assim, da perceposensorial vem o que chamamos memria, e de memrias freqentemente repetidas damesma coisa desenvolve-se a experincia; pois um certo nmero de memrias constituiuma nica experincia. Da experincia, por sua vezisto , do universal agora estabilizadoem sua totalidade dentro da alma, e aquela dentre muitas que uma nica identidadedentro de todas elasorigina-se a habilidade do arteso e o conhecimento do homem decinciahabilidade na esfera dos fenmenos, e cincia na esfera do ser.

    Conclumos que esses estados de conhecimento nem so inatos[...]nem so desenvolvidos

    de outros estados mais elevados de conhecimento, mas sim da percepo sensorial.[...] claro portanto que devemos chegar a conhecer as premissas primrias por induo;pois o mtodo pelo qual a prpria percepo sensorial implanta o universal indutivo. Ora,dos estados de pensamento pelos quais captamos a verdade, alguns so infalivelmente

    verdadeiros, outros admitem erro opinio, por exemplo, e previso, enquantoconhecimento cientfico e intuio sempre so verdadeiros. Alm disso, nenhum outro tipode pensamento exceto intuio mais perfeito do que o conhecimento cientfico; todas aspremissas primrias so mais conhecveis do que demonstraes, e todo conhecimentocientfico discursivo[...]Deve ser a intuio que apreende as premissas primrias[...]A

    intuio ser a fonte originadora do conhecimento cientfico.

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    4.EVOLUO DA ASTRONOMIA -

    4.1ARISTTELES SOBRE OS CUS (TRECHOS)

    Uma coisa deve se mover ou naturalmente ou de modo no-natural, e os dois movimentosso determinados pelos lugares prprios ou imprprios. Um lugar em que uma coisa s fica

    em repouso no-naturalmente, ou para o qual se move apenas de modo no-natural, deveser o lugar natural de algum outro corpo, como a experincia mostra.

    Uma coisa se move naturalmente de um lugar em que ela permanece sem ser presa, erepousa naturalmente em um lugar para onde ela se move sem ser forada. Por outro lado,uma coisa se move por violncia para um lugar em que s fica em repouso presa, e fica emrepouso presa em um lugar para o qual s se move forada. Alm disso, se um dadomovimento devido violncia, seu contrrio natural[...]E o movimento natural um,em cada caso.

    Sustentamos que todos os corpos e grandezas naturais so, como tais, capazes delocomoo; pois dizemos que a natureza o princpio de seu movimento. Mas todomovimento local, toda locomoo, como a chamamos, ou retilnea ou circular ou umacombinao desses dois, que so os nicos movimentos simples. E a razo disto que alinha reta e o crculo so as duas nicas grandezas simples. Ora, rotao em torno de umcentro movimento circular, enquanto que movimento para cima e para baixo so emlinha reta para cima indicando movimento para longe de um centro, e para baixomovimento em direo a ele. Todo movimento simples, portanto, deve ser movimento oupara longe de um centro, ou em direo a ele, ou em torno dele. Isto parece estarexatamente de acordo com o que dissemos acima: como os corpos se completam em trsdimenses, do mesmo modo seus movimentos se completam em trs tipos.

    Os corpos ou so simples ou compostos dos simples; e por simples quero indicar aquelesque possuem em sua prpria natureza um princpio de movimento, tal como o fogo e aterra, com seus tipos, e tudo o que semelhante a eles. Necessariamente, portanto, osmovimentos tambm sero ou simples ou compostos de algum modo simples no casodos corpos simples, composto no caso dos compostos e no ltimo caso o movimentoser o do corpo simples que prevalece na composio. Supondo, portanto, que existemovimento simples, e que o movimento circular um exemplo dele,[...]e que todo

    movimento simples de um corpo simples,[...]ento deve necessariamente existir algumcorpo simples que gira naturalmente, em virtude de sua prpria natureza, com um

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    movimento circular. Por violncia, claro, ele pode ser obrigado a se mover com omovimento de algo diferente dele, mas ele no pode por sua natureza se mover de mododiferente, pois s existe um movimento natural para cada corpo simples.

    Se o movimento forado o contrrio do movimento natural; e se cada coisa s pode ter

    um contrrio; segue-se que o movimento circular, que um movimento simples, ser no-natural ao corpo movido, se ele no fosse natural.

    Se o corpo que se move circularmente for o fogo ou algum outro elemento, seumovimento natural ser o oposto do movimento circular. Mas cada coisa tem um nicocontrrio; e movimento para cima e para baixo so os contrrios um do outro (e portantonenhum desses movimentos contrrio do movimento circular, e o movimento circularno possui contrrio)[...]O movimento natural para cima pertence ao fogo e ao ar, e o parabaixo gua e terra.

    Se o movimento dos corpos em rotao em torno do centro fosse no-natural, seriaespantoso e realmente inconcebvel que apenas este movimento fosse contnuo e eterno,apesar de ser contrrio natureza. Em todos os outros casos, a evidncia indica que aquiloque no natural termina muito rapidamente.

    A partir de tudo isto, portanto, podemos inferir com confiana que existe algo alm doscorpos que esto perto de ns, aqui nesta Terra, diferente e separado deles; e que a glriasuperior da natureza proporcional sua distncia deste nosso mundo.

    igualmente razovel supor que este corpo ser no-gerado e indestrutvel, e isento de

    aumento e alterao, pois tudo o que surge vem de seu contrrio, e em alguma substncia, edesaparece igualmente em um substrato pela ao do contrrio, como explicamos nasdiscusses iniciais. Ora, os movimentos (naturais) de coisas contrrias so contrrios.Ento este corpo no pode ter contrrio, pois no h movimento contrrio ao circular, eportanto a natureza parece ter isentado de contrrios o corpo que deveria ser no-gerado eindestrutvel.

    Em todo o tempo passado, to longe quanto chegam os registros herdados, no parece terocorrido mudana nem no esquema geral do cu mais externo, nem de qualquer de suaspartes. Tambm o nome comum que nos foi transmitido por nossos antepassados distantesat nossos dias, parece mostrar que eles o conceberam da mesma forma que o estamosexprimindo[...]Indicando que o corpo primrio algo alm da terra, fogo, ar e gua, elesderam ao lugar mais elevado um nome especfico, aither, derivado do fato de que ele

    sempre corre (aithein) por um tempo infinito.

    Devemos em seguida falar sobre as estrelas, sua composio, formas e movimentos. Seriamais natural e conseqente, a partir do que foi dito, que cada uma das estrelas fossecomposta da substncia em que fica sua trajetria, pois, como dissemos, h um elementocujo movimento natural circular[...]

    O calor e a luz que delas procedem so causados pela frico produzida no ar pelo seumovimento. O movimento tende a criar fogo na madeira, na rocha e no ferro; e com maior

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    razo ainda ele deveria ter esse efeito no ar, uma substncia que est mais prxima aofogo do que estas. Um exemplo o dos msseis, que quando se movem so aquecidos tofortemente que as balas de chumbo se derretem; e se eles se aquecem, o ar em torno deveser afetado da mesma maneira. Ora, enquanto os msseis se incendeiam por causa do seumovimento no ar, que transformado em fogo pela agitao trazida pelo movimento, oscorpos superiores so transportados em uma esfera que se move, de modo que, emboraeles mesmos no se incendeiem, o ar abaixo da esfera do corpo em rotao necessariamente aquecido por seu movimento e particularmente naquele ponto em que oSol est preso a ela.

    Resta falar sobre a Terra, sua posio, sua forma, e sobre a questo de seu movimento ourepouso. Sobre sua posio, existe certa diferena de opinio. A maioria e,particularmente, todos os que consideram o cu como finito diz que ela est no centro.Mas os filsofos italianos conhecidos como Pitagricos adotam a viso contrria. No

    centro, dizem eles, est o fogo, e a Terra uma das estrelas, criando a noite e o dia por seumovimento circular em torno do centro. Alm disso eles imaginam uma outra Terra oposta nossa, qual eles do o nome de Anti-terra. Nisto tudo eles no esto procurando teoriase causas para satisfazer os fatos observados, mas sim forando suas observaes, etentando acomod-las a certas teorias e opinies suas. Mas h muitos outros queconcordariam tambm que errado dar Terra a posio central, procurando confirmaona teoria, e no nos fatos da observao. Sua opinio a de que o lugar mais preciosobeneficia a coisa mais preciosa; mas o fogo, dizem eles, mais precioso do que a terra, e olimite ( mais valioso) do que o intermedirio, e a circunferncia e o centro so limites.Raciocinando assim eles expem a viso de que no a Terra que fica no centro da esfera,

    mas o fogo.

    As opinies sobre o repouso ou movimento so semelhantes. Pois aqui tambm no hacordo geral. Todos os que negam que a Terra est no centro pensam que ela gira em tornodo centro, e no apenas a Terra, mas tambm a Anti-terra. Alguns deles at considerampossvel que existam vrios corpos em movimento (perto da Terra) que so invisveis parans por serem ocultos pela Terra. Isto, dizem eles, explicaria o fato de os eclipses da Luaserem mais numerosos do que os do Sol; pois alm da Terra, cada um desses corpos emmovimento poderia obstru-la.

    H igualmente disputas sobre a forma da Terra. Alguns pensam que ela esfrica, outrosque ela achatada, ou com a forma de um tambor (cilndrica). Como evidncia eles indicamo fato de que quando o Sol se ergue ou pe, a parte oculta pela Terra mostra uma bordareta, e no curva, enquanto se a Terra fosse esfrica a linha de separao teria que sercircular. Eles deixam de considerar a grande distncia entre o Sol e a Terra, e o grandetamanho da circunferncia que, vista de uma certa distncia sobre estes crculosaparentemente pequenos, parece reta. Tal aparncia no deveria faz-los duvidar da formacircular da Terra. Mas eles possuem outro argumento. Dizem que, por estar em repouso, a

    Terra deve necessariamente ser achatada[...]

    A dificuldade deve ter ocorrido a todos. Somente uma mentalidade muito complacente nose surpreende quando percebe que, enquanto um pequeno pedao de terra, solto no meio

  • 7/23/2019 Fontes Primrias Traduzidas

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    do ar, move-se e no fica parado, e quanto maior, mais depressa se move, no entanto aTerra inteira, livre no meio do ar, no mostre movimento algum. No entanto, existe estegrande peso da Terra, e ela est parada.

    Por estas consideraes, alguns foram levados a afirmar que a Terra sob ns infinita,

    dizendo, como Xenphanes de Colophon, que ela empurrou suas razes at o infinito -para no ter o trabalho de procurar a causa[...]Outros dizem que a Terra repousa sobre agua. Tal realmente a mais antiga teoria que foi preservada, e que atribuda a Tales deMileto. Supuseram que ela ficaria parada porque flutuava como madeira e outrassubstncias semelhantes, que so constitudas de forma tal que repousam sobre a gua masno sobre o ar. Mas teriam que explicar, ao invs (do repouso) da terra, como a gua quecarrega a Terra (fica parada). gua, assim como terra, no tem a natureza de ficar paradano meio do ar; ela deve repousar sobre outra coisa. Alm disso, assim como o ar maisleve do que a g