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Forais Manuelinos do concelho de Santa Comba Dão
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Aspectos codicológicos
Para abordar os aspectos codicológicos dos cinco forais manuelinos optou-se por uma
análise comparativa dos códices para se destacarem com mais clareza os elementos que,
por um lado, têm em comum e os que, por outro, os singularizam e distinguem.
1. Pergaminho
Os forais de Couto do Mosteiro, Óvoa, Pinheiro de Ázere, Santa Comba Dão e São João de
Areias foram escritos em pergaminho, tal como todos os outros forais novos dados por
D. Manuel I, visto que era esse o material mais resistente e mais duradouro e também
porque era o mais digno para documentos que assumiam tão grande importância para as
populações às quais eram concedidos.
Verificámos que o pergaminho não apresenta uma qualidade homogénea nos cinco códices:
os fólios das correições são mais grossos e mais rudes, de qualidade inferior à dos fólios
que contêm o texto do foral. Em determinados fólios conseguimos detectar pequenos
pontos pretos dispersos pela folha, o que nos permite deduzir que se trata de pergaminho
de bovino.
Regra de Gregory
Códice 1º caderno 2º caderno 3º caderno 4º caderno Observação
Santa Comba Dão PC | CP PC | CP CP PC CP PC |CP PC CP PC
CP PC CP PC |CP PC CP PC Quase total
Couto do Mosteiro PC CP PC CP |PC CP PC CP
PC PC CP |PC CP CP CP | PC Quase total
São João de Areias PC PC PC PC | CP CP CP CP
PC PC |CP CP PC Não
Óvoa CP PC CP PC CP PC |CP PC CP PC
PC PC PC |CP CP PC Parcial
Pinheiro de Ázere CP PC PC CP CP |PC PC CP? PC? CP Parcial
Quadro 1: Regra de Gregory
A regra de Gregory (que pressupõe que, entre os fólios, o lado carne coincida com o lado
carne, e o lado pêlo coincida com o lado pêlo do pergaminho), é quase totalmente respeitada
nos códices de Couto do Mosteiro, Óvoa, Pinheiro de Ázere e Santa Comba Dão mas não o
é no de São João de Areias.
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2. Papel
O foral do Couto do Mosteiro apresenta fólios em papel, colados no interior da capa e
da contracapa. O papel é impresso e tem as letras coladas nas tábuas de madeira. Está
impresso em letra gótica. Não conseguimos detectar marcas de água.
O foral de Santa Comba Dão não apresenta vestígios de papel.
O foral de S. João de Areias apresenta apenas o resto de um fólio de papel colado ao interior
da capa e ainda vestígios de outra folha de papel que teria estado colada no interior da
contracapa.
O papel usado no foral de Óvoa limita-se ao revestimento da parte interna da capa e da
contracapa, apresentando uma folha colada em cima de outra. É precisamente nesta folha
colada em cima de outra folha de papel que revestem a contracapa que podemos detectar,
ainda que com muitas dificuldades, uma marca constituída por três circunferências, em
que na do meio é visível a letra M e na última a letra O.
O foral de Pinheiro de Ázere apresenta quatro folhas de papel em muito mau estado. Na
primeira folha é visível uma marca de papel constituída por três circunferências encimadas
por uma cruz; a primeira circunferência foi dividida, a segunda apresenta duas pequenas
circunferências lado a lado e a terceira está mutilada porque desapareceu com o pedaço da
folha que se perdeu. As duas folhas que se seguem têm a mesma marca: um coração com
uma cruz no cimo, duas letras C no vértice inferior do coração e com as letras N; S; D; R e
S. a preencherem o interior do coração.
3. Texto do Foral:Dimensões e Unidade de Regramento (UR)
Códice Nº fl.Largura (em mm) Altura (em mm)
UR VariaçãoMargem Texto Margem Margem Texto Margem
Couto do Mosteiro III 30 110 - 31 158 54 7,9 -0,166
Óvoa V 22 119 47 41 193 36 7,423 -0.643
Pinheiro de Ázere II 33 108 44 31 165 50 7,5 -0.566
Santa Comba Dão IX 30 110 37 27 163 60 8,15 0,084
São João de Areias VII 18 120 65 47 187 66 7,48 -0.586
Quadro 2: Dimensões e UR
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O foral de S. João de Areias é o maior em temos de dimensões, enquanto que os forais de
Óvoa, Pinheiro de Ázere, Couto do Mosteiro e Santa Comba Dão apresentam sensivelmente
as mesmas dimensões (sendo o de Pinheiro de Ázere o mais pequeno em termos de altura
e o de Santa Comba Dão o mais estreito em termos de largura. Não é possível precisar a
largura do foral do Couto do Mosteiro visto as suas margens se apresentarem rasgadas em
todos os fólios de forma igual). No que concerne à unidade de regramento (espaço entre
as linhas para delimitar o corpo da letra) podemos concluir que o foral de Santa Comba
Dão apresenta a maior UR relativamente aos restantes e a menor é a do foral de Óvoa. A
unidade de regramento dos cinco códices apresenta variações entre -0,643 mm e 0.084
mm em relação à média (8.066 mm).
4. Cadernos
Códice Nº Fólios Bifólios Bínios Ternos Quaternos
Couto do Mosteiro 3 2 - - 1 1
Óvoa 5 2 3 + 3 fólios 1 menos 2 fólios - 1
Pinheiro de Ázere 1 12 4 + 3 fólios - - 1
Santa Comba Dão 4 - 2 - - 2
São João de Areias 2 13 6 1 + 1 fólio - 1
Quadro 3: Cadernos
5. Fólios Numerados
Códice Num. Romana
Couto do Mosteiro I- XIII
Óvoa I a XII
Pinheiro de Ázere I a III
Sta. Comba Dão I – XV
S. João de Areias I a X
Quadro 4: Fólios numerados
Em todos os códices, só estão numerados os fólios correspondentes ao texto do foral. A
numeração apresenta-se a vermelho no centro da margem de cabeceira.
O foral de Santa Comba Dão foi numerado posteriormente com algarismos árabes
antecedidos de um ‘f’. Esta numeração, que não é visível em todos os fólios, aparece no
canto inferior direito e apenas no recto dos fólios III, IIII, IX, X, XI, XII.
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A numeração árabe não acompanha a romana e, apesar de estar escrita apenas no recto
dos fólios, os versos foram também contados. O foral de São João de Areias apresenta uma
numeração posterior, em algarismos árabes, no canto superior direito do fólio, embora não
corresponda à numeração romana, e apenas numera os fólios do foral. No fólio VIII do
foral de Óvoa surge, no canto superior direito, o n.º 8 mas não se encontram mais folhas
numeradas com algarismos árabes.
6. Regra Áurea
Códice Valor Variação
Couto do Mosteiro 1.436 - 0,182
Óvoa 1,621 + 0,003
Pinheiro de Ázere 1,527... - 0,091
Santa Comba Dão 1.481 - 0,137
São João de Areias 1,558 - 0,06
Quadro 5: Regra áurea
As proporções dos cinco forais aproximam-se bastante da proporção áurea, 1,618, (relativa
à proporção da justificação dos cadernos), sendo apenas um pouco inferiores, com uma
variação de 0,06 no foral de São João de Areias, de 0,091 no foral de Pinheiro de Ázere,
de 0,137 no foral de Santa Comba Dão e de 0,182 no foral do Couto do Mosteiro. Apenas
o valor do foral de Óvoa ultrapassa o da proporção áurea em 0,003.
7. Decoração
Os forais de Couto do Mosteiro, Óvoa, Pinheiro de Ázere, Santa Comba Dão e São João de
Areias pertencem todos ao mesmo modelo de forais. A decoração utilizada no primeiro fólio
caracteriza-se fundamentalmente por estar dividida em duas metades. A parte superior tem
como elemento mais importante o escudo com as armas do rei, com sete castelos, encimado
pela coroa, motivos que estão inscritos no corpo do grande D maiúsculo de D. Manuel sob
fundo em azul celeste. Este espaço ocupa sensivelmente o mesmo nos cinco forais.
O D surge pintado a azul, ornamentado a vermelho e verde e inserido num quadrado de
inspiração heráldica.
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O espaço rectangular situado à direita do motivo heráldico da letra D está, no caso do foral
de São João de Areias e no de Óvoa, apenas preenchido pelas restantes letras das palavras
Dom Manuel, escritas em proporções muito maiores relativamente às do texto da metade
inferior da página. No caso do foral de Pinheiro de Ázere o texto do foral começa logo a ser
escrito neste espaço por baixo do nome Dom Manuel. Nos forais do Couto do Mosteiro e
de Santa Comba Dão, por baixo de Dom Manuel aparecem as palavras per graça de Deus.
A metade inferior deste tipo de iluminuras consiste num rectângulo com o início do texto
que está envolvido por uma cercadura composta por duas bordaduras laterais e uma
inferior, no caso dos forais de Óvoa, Pinheiro de Ázere e São João de Areias, e por duas
tarjas laterais, no caso dos forais do Couto do Mosteiro e de Santa Comba Dão. Nos cinco
códices tanto as cercaduras como as tarjas são decoradas com pequenas flores vermelhas e
azuis e ramagens verdes e com pequenas bagas douradas em fundo branco.
As iniciais seguem o mesmo modelo nos cinco forais. São iniciais filigranadas, desenhadas
a vermelho com enquadramento preto ou castanho, ou a azul com enquadramento
vermelho ou castanho, usadas em alternância. Da cercadura soltam-se arabescos da cor
do enquadramento.
Os caldeirões usados ao longo do texto nos cinco forais apresentam-se alternadamente a
vermelho e a azul. As rubricas laterais estão escritas a vermelho. Quando as linhas não
foram totalmente escritas são preenchidas com uma espécie de entrelaçado que tranca
os parágrafos. Estas linhas aparecem a vermelho em todos os forais. São compostas por
pequenos segmentos cortados por dois traços perpendiculares e o tamanho varia consoante
o espaço livre na linha.
8. Encadernação
Códice Primitiva Planos Cobertura Brochos Nervos
Couto do Mosteiro Sim Madeira Couro lavrado 5 / 5 3 duplos
Óvoa Sim Madeira Couro lavrado 5 / 4 4
Pinheiro de Ázere Sim Madeira Couro lavrado 1 / 1 5
Santa Comba Dão Sim Madeira Couro lavrado 5 / 5 3 duplos
São João de Areias Sim Madeira Couro lavrado 5 / 5 4
Quadro 6: Encadernação
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