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GESTÃO DE SALA DE AULA ENSINO INFANTIL E FUNDAMENTAL FERRAMENTAS DIDÁTICAS SEQUÊNCIA DIDÁTICA E PAUTA DE ORIENTAÇÃO FORMAÇÃO CONTINUADA PROF. ADEILDO JÚNIOR A construção da formação do professor das séries iniciais e do ensino fundamental, como um todo, tem se fixado em padrões de alta qualidade nos últimos anos no Brasil. Desde a reformulação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação e da criação dos Parâmetros Curriculares Nacionais, a formação desse profissional passou por profundas e significativas mudanças. Porém, essas mudanças associadas às exigências de mercado têm exercido um papel condicionador fundamental para aqueles que buscam no magistério uma carreira profissional de sucesso. O conhecimento específico tem se tornado cada vez mais limitador, e novos conhecimentos, novas habilidades e novas competências têm sido buscadas nesse profissional dos novos tempos. Saber trabalhar em equipe, saber lideram, saber delegar funções, saber tomar decisões, ter uma visão de mundo holística, saber administrar recursos materiais, saber trabalhas com projetos são exemplos dessas novas capacidades exigidas, além de outras tradicionalmente entendidas, como a formação continuada. Hoje, busca-se um professor especialista-generalista, capaz de atual numa escala de grandezas que extrapolam as paredes da sala de aula. Com vistas a promover uma reflexão sobre essa temática, propomos uma discussão sobre a Gestão da Carreira, a Gestão de Sala de Aula e sobre o Uso de Ferramentas de Gestão de Sala, como a Sequência didática e a Pauta de Orientação. Para tanto, fazem-se necessários o resgate de conceitos-chave, a apresentação de vídeos e a leitura de textos fundamentadores. Assim, proporemos a construção de Sequências Didáticas e de Pautas de Orientação com base nos valores discutidos pelo grupo no encontro passado. Um bom trabalho a todos. SEQUÊNCIA DIDÁTICA 1

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GESTÃO DE SALA DE AULAENSINO INFANTIL E

FUNDAMENTAL

FERRAMENTAS DIDÁTICASSEQUÊNCIA DIDÁTICA E PAUTA DE ORIENTAÇÃO

FORMAÇÃO CONTINUADA

PROF. ADEILDO JÚNIOR

A construção da formação do professor das séries iniciais e do ensino fundamental, como um todo, tem se fixado em padrões de alta qualidade nos últimos anos no Brasil.Desde a reformulação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação e da criação dos Parâmetros Curriculares Nacionais, a formação desse profissional passou por profundas e significativas mudanças.Porém, essas mudanças associadas às exigências de mercado têm exercido um papel condicionador fundamental para aqueles que buscam no magistério uma carreira profissional de sucesso.O conhecimento específico tem se tornado cada vez mais limitador, e novos conhecimentos, novas habilidades e novas competências têm sido buscadas nesse profissional dos novos tempos.Saber trabalhar em equipe, saber lideram, saber delegar funções, saber tomar decisões, ter uma visão de mundo holística, saber administrar recursos materiais, saber trabalhas com projetos são exemplos dessas novas capacidades exigidas, além de outras tradicionalmente entendidas, como a formação continuada. Hoje, busca-se um professor especialista-generalista, capaz de atual numa escala de grandezas que extrapolam as paredes da sala de aula.Com vistas a promover uma reflexão sobre essa temática, propomos uma discussão sobre a Gestão da Carreira, a Gestão de Sala de Aula e sobre o Uso de Ferramentas de Gestão de Sala, como a Sequência didática e a Pauta de Orientação.Para tanto, fazem-se necessários o resgate de conceitos-chave, a apresentação de vídeos e a leitura de textos fundamentadores.Assim, proporemos a construção de Sequências Didáticas e de Pautas de Orientação com base nos valores discutidos pelo grupo no encontro passado.

Um bom trabalho a todos.

SEQUÊNCIA DIDÁTICA

O que são sequências didáticas?

As sequências didáticas são um conjunto de atividades ligadas entre si, planejadas para ensinar um conteúdo, etapa por etapa. Organizadas de acordo com os objetivos que o professor quer alcançar para a aprendizagem de seus alunos, elas envolvem atividades de aprendizagem e de avaliação.O termo Sequência Didática surgiu no Brasil nos documentos oficiais dos Parâmetros Curriculares Nacionais como "projetos" e "atividades sequenciadas". Atualmente, as sequências didáticas estão vinculadas ao estudo do gênero textual, porém quando surgiram eram abertas a diferentes objetos do conhecimento.

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As sequências didáticas podem ser usadas para o ensino de qualquer conteúdo, de qualquer disciplina, pois auxiliam o professor a organizar o trabalho na sala de aula de forma gradual, partindo de níveis de conhecimento que os alunos já dominam para chegar aos níveis que eles precisam dominar. Aliás, o professor certamente já faz isso, talvez sem dar esse nome.Para ensinar, por exemplo, em Língua Portuguesa, os alunos a dominar um gênero de texto de forma gradual, passo a passo, ao organizar uma sequência didática, o professor pode planejar etapas do trabalho com os alunos, de modo a explorar diversos exemplares desse gênero, estudar as suas características próprias e praticar aspectos de sua escrita antes de propor uma produção escrita final.Outra vantagem desse tipo de trabalho é que leitura, escrita, oralidade e aspectos gramaticais são trabalhados em conjunto, o que faz mais sentido para quem aprende.É preciso ter alguns conhecimentos sobre o conteúdo que se quer ensinar e conhecer bem o grau de aprendizagem que os alunos já têm desse conteúdo. Isso é necessário para que a sequência didática seja organizada de tal maneira que não fique nem muito fácil, o que desestimulará os alunos porque não encontrarão desafios, nem muito difícil, o que poderá desestimulá-los a iniciar o trabalho e envolver-se com as atividades.Outra necessidade desse tipo de trabalho é a realização de atividades em duplas e grupos, para que os alunos possam trocar conhecimentos e auxiliar uns aos outros.Se voltarmos ao tema Gêneros Textuais, para exemplificar a criação do roteiro de uma sequência didática, para organizar o trabalho em sala de aula, sugerimos a seguinte sequência didática:

1. Apresentação da proposta;2. Partir do conhecimento prévio dos alunos;3. Contato inicial com o gênero textual em estudo;4. Produção do texto inicial;5. Ampliação do repertório sobre o gênero em estudo, por meio de leituras e análise

de textos do gênero;6. Organização e sistematização do conhecimento sobre o gênero: estudo detalhado

de sua situação de produção e circulação; estudo de elementos próprios da composição do gênero e de características da linguagem nele utilizada;

7. Produção coletiva;8. Produção individual;9. Revisão e reescrita.

Ao organizar uma sequência didática, é preciso preparar detalhadamente cada uma as etapas do trabalho:

Compartilhar a proposta de trabalho com os alunos: é importante explicar o trabalho passo a passo. Apresentar o que será estudado e comentar as atividades que serão desenvolvidas. Organize com a turma um plano de ação, anotando e um cartaz cada etapa da proposta.

Mapear o conhecimento prévio dos alunos: Nesta etapa, os alunos conversam sobre o que conhecem sobre o assunto que será trabalhado.

Desenvolver atividades que proporcionem a ampliação do repertório dos alunos: de posse do mapeamento dos alunos – informação precisa para avaliar em que ponto está a turma – o professor elabora um conjunto de atividades de leitura, escrita e oralidade, o mais diversos possível. É fundamental oferecer bons

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e variados textos aproximando a turma do assunto estudado. Essa diversidade de propostas amplia a possibilidade de êxito dos alunos.

Podemos, assim, esquematizar a sequência didática da seguinte maneira:

A organização do trabalho pedagógico por meio de sequências didáticas constitui um diferencial pedagógico que colabora na consecução dos objetivos expressos nos quadros dos direitos de aprendizagem.Nesse sentido, o trabalho com sequência didática torna-se importante por contribuir para que os conhecimentos em fase de construção sejam consolidados e outras aquisições sejam possíveis progressivamente, pois a organização dessas atividades prevê uma progressão modular, a partir do levantamento dos conhecimentos que os alunos já possuem sobre um determinado assunto.Ao organizar a sequência didática, o professor poderá incluir atividades diversas como leitura, pesquisa individual ou coletiva, aula dialogada, produções textuais, aulas práticas, etc., pois a sequência de atividades visa trabalhar um conteúdo específico, um tema ou um gênero textual da exploração inicial até a formação de um conceito, uma ideia, uma elaboração prática, uma produção escrita.Ressalta-se que as atividades de avaliação estarão presentes em diferentes atividades no decorrer e no final da sequência didática. Ao propor atividades exploratórias é possível avaliar o que a criança já sabe a respeito do assunto tratado.Vejamos nos anexos um excemplo de sequência didática.

PAUTA DE ORIENTAÇÃO

Como desdobramento da sequência didática, a pauta de orientação surge como mais uma ferramenta didática que ajuda na construção de um aluno mais autônomo, e ajuda professores, alunos e pais a entederem com clareza o passo a passo da aprendizagem.A pauta de orientação é um dos itens a partir do qual o aluno irá a campo buscar informações, apurar e iniciar a construção de uma produção que traduza o aprendizado de um conteúdo, a aquisição de um conhecimento. A pauta é a orientação do aluno e, por isso, deve ser muito bem feita pelo professor.

A professora Joanita Mota Ataíde, da Universidade Federal do Maranhão, fez um resumo de definições sobre “pauta de orientação”:

Segundo Clóvis Rossi,

DEFINIÇÃO: Instrumento de orientação para os alunos e de informação para os professores.

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MÓDULO 3MÓDULO 2MÓDULO 1 PRODUÇÃO FINAL

PRODUÇÃO INICIAL

APRESENTAÇÃO DA SITUAÇÃO

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FORMA E CONTEÚDO: extensa, minuciosa, quase uma receita completa de como cada aluno deve fazer sua produção (indicações do que o aluno deve fazer, as pessoas que deve ouvir, que perguntas fazer, onde pode encontrar informações, que sites pode visitar, que músicas pode ouvir, a que filmes pode assistir etc.).

Segundo Luiz Amaral,

DEFINIÇÃO: ‘’(...) uma previsão dos acontecimentos que se desenrolarão no dia seguinte’’.

Segundo José Marques de Melo,

DEFINIÇÃO: ‘’(...) roteiro destinado à pré-seleção das informações a serem publicadas’’.

CONTEÚDO: elenco de temas ou assuntos, indicação de ângulos através dos quais os acontecimentos devem ser observados e relatados.

Segundo Luciano de Moraes,

CONTEÚDO: Ligeiro resumo do que constitui o objeto da produção; roteiro das questões básicas; o enfoque pretendido sobre determinado assunto; dicas sobre aspectos desconhecidos ou interessantes do tema; questionamento dos pontos que são o objeto da produção.

LINGUAGEM: Crítica, didática, instigante, científica, clara e objetiva na colocação dos pontos a serem apresentados e argumentados.

Já o site Focas na área traz um texto interessante sobre pauta e no final traça um “roteiro” dos itens fundamentais de uma pauta de orientação. A pauta tem por objetivo oferecer o maior número de informações para o aluno que irá produzir um texto, um vídeo, uma peça teatral, um jogral, enfim, algo que traduza didaticamente o que aprendeu sobre determinado tema. Como todos sabem, o aluno das séries iniciais muitas vezes, por estar trabalhando pela primeira vez com certos conteúdos, não tem a mínima noção de como fazê-lo. Assim, tendo em mãos uma pauta bem elaborada não terá dificuldades com sua pesquisa e com sua produção.A Pauta se constitui num dos grandes problemas para os professores, num primeiro momento, pois sua elaboração exige dedicação e estudo aprofundado. Imagina-se que isso leva muito tempo para ser feito e, por isso, o professor perde o foco de suas atividades em virtude do cumprimento dos planejamentos e da exposição dos conteúdos em sala de aula. Porém, isso não é verdade. O planejamento da ação pedagógica concebida no uso de pautas de orientação e de sequências didáticas cria para o professor e para a coordenação pedagógica clareza de procedimentos de ensino e de avaliação, eliminando consideravelmente a subjetividade desorientada. Ao aluno (e aos pais), a pauta de orientação serve como um roteiro, uma espécie de bússola, capaz de ajudar na condução de suas atividades e de sua compreensão sobre o que deve ser feito.Sem orientação adequada, muitas vezes, a CRIATIVIDADE do aluno acaba sendo jogada no lixo por preguiça, falta de direcionamento ou má-fé. A Pauta tem que ter as características do veículo: texto claro, objetivo, curto, direto, conciso e sem informações óbvias. O professor, responsável pela Pauta, precisa pensar numa

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abordagem diferente de um assunto que pode ajudar o aluno a entender significativamente o que aprende.

Uma boa pauta deve ter, no mínimo:

1 – Um resumo dos acontecimentos (ideias) que são objeto da produção.

2 – O que o aluno terá que conseguir, ou seja, o que interessa a quem vai avalia-lo.

3 – Onde é possível encontrar fontes de informação em relação ao assunto.

4 – Fornecer todos os dados necessários para o aluno: nome, cargo ou função das pessoas que serão entrevistadas, telefones de órgãos e instituições relacionadas ao assunto, pessoas que podem ceder entrevista, local onde podem encontrar informações, e-mail para comunicação sobre eventuais dúvidas, sempre fornecer mais de uma fonte de pesquisa. 5 – Indicar a maneira como a produção deve ser realizada, detalhando ao máximo possível as possibilidades de produção.Diante disso tudo, convém que se lembre de uma coisa, a Pauta é o ponto de partida de uma boa produção escolar, nunca o meio ou o fim. Tudo o que deve ser planejado previamente pelo professor para que a Pauta possa ser "aproveitada" pelo aluno, caso contrario haverá mais problemas e muitas reclamações.Veja no anexo um exemplo de pauta de orientação.

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ANEXOSEQUÊNCIA DIDÁTICA

As crianças no Brasil Império

Objetivos- Conhecer o modo de vida de grupos de crianças que viveram no Brasil imperial.- Relacionar passado e presente, identificando pontos de permanência e mudança entre a própria vida e a dos grupos estudados.- Relacionar a vida da época a alguns aspectos do contexto histórico em questão (transição da mão de obra escrava para a assalariada, imigração europeia e Lei do Ventre Livre).

ConteúdoBrasil imperial

Anos4º e 5º.Tempo estimadoDois meses.Material necessárioLivro História das Crianças no Brasil (Mary del Priore [org.], 450 págs., Ed. Contexto, tel. 11/3832-5838, 65 reais).

Desenvolvimento1ª etapaLance aos estudantes as seguintes perguntas: "Quem eram e como viviam as crianças durante o Brasil imperial?" e "Será que há diferenças e semelhanças em relação a vocês?". Anote as principais ideias e comunique que eles vão aprender sobre essa época. Explique que o período se inicia com a independência, em 1822, e vai até a proclamação da República, em 1889. Fale que, nesse espaço de tempo, o Brasil foi comandado pelo imperador dom Pedro I, por regentes (que governaram no período em que dom Pedro II ainda não tinha idade para ser imperador) e por ele próprio.

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2ª etapaDiga que todos estudarão os meninos negros que viveram no Brasil imperial. Indique a leitura do texto abaixo, extraído do livro História das Crianças no Brasil (págs. 179 e 180):

"(...) Por certo, algumas (crianças) eram compradas e vendidas, transações que se faziam mais frequentes nas etapas finais da infância, especialmente durante as fases de grandes desembarques africanos. Também é verdade que outras eram doadas ao nascer (...) As crianças que as fazendas compravam não eram o principal objeto de investimento senhorial, mas sim as suas mães, que com eles se agregavam aos cafezais, plantações de cana-de-açúcar e demais (...). Poucas crianças chegavam a ser adultos (...). Aqueles que escapavam da morte prematura, iam, aparentemente, perdendo os pais. Antes mesmo de completarem um ano de idade, uma entre cada dez crianças já não possuía nem pai nem mãe anotados no inventário. Aos cinco anos, metade parecia ser completamente órfã; aos 11 anos, oito a cada dez."

Comente que os meninos e meninas começavam a trabalhar muito cedo, na lavoura, na pecuária e em trabalhos domésticos. Recomende a leitura de outro excerto do mesmo livro (págs. 184 e 185):"Por volta dos 12 anos, o adestramento que as tornava adultos estava se concluindo. Nesta idade, os meninos e as meninas começavam a trazer a profissão por sobrenome: Chico Roça, João Pastor, Ana Mucama. Alguns haviam começado muito cedo.O pequeno Gastão, por exemplo, aos quatro anos já desempenhava tarefas domésticas leves na fazenda de José de Araújo Rangel. Gastão nem bem se pusera de pé e já tinha um senhor. Manoel, aos oito anos, já pastoreava o gado da fazenda de Guaxindiba, pertencente à baronesa de Macaé. Rosa, escrava de Josefa Maria Viana, aos 11 anos de idade, dizia-se costureira. Aos 14 anos, trabalhava-se como um adulto."Proponha uma leitura dos artigos do capítulo 5 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), disponível em abr.io/eca-crianca. Questione: "Muitos menores trabalham?" e "Hoje isso é aceitável?". Sistematize as opiniões no quadro.3ª etapaComente que agora os alunos vão conhecer a Lei do Ventre Livre, que estabelecia que bebês nascidos de mulheres escravas passassem a ser consideradas livres a partir de 1871. Comunique que isso levou ao aumento do número de menores abandonados vivendo nas ruas. Sugira a leitura de um texto sobre a lei (disponível em abr.io/ventre-livre). Peça que os estudantes escrevam sobre a situação das crianças negras no Brasil Império, a Lei do Ventre Livre e a existência de menores nas ruas na época.4ª etapaComente que diários escritos por pessoas do passado permitem conhecer seu dia a dia e seu tempo histórico. Faça a leitura coletiva do relato de Bernardina (abaixo), uma menina que viveu no século 19, sinalizando as palavras grafadas de forma diferente da atual (em itálico). Ela era filha de Benjamin Constant, um conhecido militar da época."No dia 1º de Setembro (não anotou o ano), papai convidou-nos para ir todos ao Jardim Zoológico, para vermos o elephante, os camelos, a jirafa. As crianças gostaram muito do passeio. Depois do jantar fomos à casa de tia Leopoldina, para cear com ella, que faz annos hoje. Alcida e eu fomos assistir pela primeira vez, uma peça de teatro. Hoje, depois do almoço, mamãe, Alcida e eu saímos, fomos comprar dois cortes de vestido para mim e para Alcida."(livro História das Crianças no Brasil, pág. 169).Em seguida, questione: "Segundo os textos que lemos, quais eram as diferenças entre a vida de uma criança escrava e de uma livre, de família rica, como Bernardina?" e "Os pequenos escravos tinham tempo livre? Faziam passeios?". Dê espaço para que os estudantes apresentem argumentos extraídos dos textos lidos. Pergunte: "Isso acontece no Brasil de

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hoje?", "A vida de pobres e ricos tem diferenças?" e "Quais são?". Proponha que eles imaginem como seria um dia na vida de Bernardina no Brasil atual e registrem no caderno.5ª etapaComente que a mão de obra escrava foi sendo substituída pela livre assalariada, de origem europeia, durante o Império. Nessa época, o governo brasileiro estimulou a vinda de imigrantes, como os alemães e os italianos. Eram camponeses, que saíam de suas terras e iam procurar no novo mundo terras para cultivar, atraídos por anúncios do Governo imperial Brasileiro.Continue, explicando que muitos pequenos vieram para o Brasil de navio, com sua família. Faça uma leitura compartilhada de um texto informativo sobre a lavoura cafeeira e a imigração europeia (disponível em abr.io/imigracao-europeia). Lembre-se de que todos os alunos devem possuir uma cópia do texto. Depois, pergunte o que mais chamou a atenção e comente que vocês irão fazer uma segunda leitura juntos, parando em cada parágrafo para sublinhar as informações mais importantes. Diga que vocês tomarão notas com base nessa leitura.Releia o texto, fazendo paradas estratégicas para explicar conceitos e expressões (como "latifundiário" e "visão eurocêntrica") e discutir que informações devem ser grifadas. Deixe que as crianças falem, mas faça intervenções caso as sugestões sejam inadequadas. Releia as informações selecionadas e sublinhadas e pergunte se todas consideradas importantes estão relacionadas. Caso não percebam a ausência de algum dado relevante, aponte você mesmo. Em seguida, peça que a turma anote no caderno o período de maior entrada de imigrantes no Brasil e as razões do apoio do governo brasileiro a isso. Cite o exemplo de imigrantes em sua cidade, se houver, vinculando-os a esse contexto nacional.6ª etapaPara continuar explorando a temática, atrelando-a ao contexto local, proponha procedimentos de História oral. Assim, a turma pode explorar as memórias de infâncias de seus familiares e o modo de vida de seus antepassados. Elaborem em conjunto uma lista de perguntas. Exemplos: "Seus pais e avós nasceram aqui?" Se não: "De onde vieram?". De volta à classe, tabulem e analisem os dados.AvaliaçãoAvalie a participação das crianças durante as etapas e observe se elas são capazes de desenvolver a orientação temporal, ou seja, relacionar o passado ao presente, indicando mudanças e permanências. Nas etapas 2, 4 e 5, verifique como cada uma constrói argumentos sobre os conteúdos estudados. A Educação e as brincadeiras da meninada no Brasil Império, bem como a participação do país na Guerra do Paraguai (1865-1870), podem ser temas de outras sequências.

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PAUTA DE ORIENTAÇÃO

COMO ELABORAR UM DOCUMENTÁRIO

PAUTA DE ORIENTAÇÃO

INFORMAÇÕES GERAIS

A Pauta de Orientação é uma ferramenta didática que é muito usada em escolas americanas, europeias e asiáticas há muito tempo. Nos últimos anos, essa ferramenta tem sido inserida das escolas brasileiras com objetivos variados. Um desses objetivos é permitir uma comunicação mais clara entre o professor e o aluno, oferecendo a este informações objetivas sobre o que o professor quer que seja realizado. Outro objetivo é a principal característica da Pauta de Orientação: roteirizar o trabalho para o aluno.

Esta Pauta de Orientação visa ajudar os alunos do 6º Ano das Turmas C e D do Turno Matutino do Colégio Militar 2 de Julho a compreenderem o Gênero Textual Documentário e a trabalharem na elaboração de uma documentário para apresentação em sala de aula para os demais alunos de suas respectivas turmas.

COMPETÊNCIA: Compreender a sociedade, sua gênese e transformação através dos múltiplos fatores que nela intervêm a partir da concepção de religião.

CONHECIMENTO: Literatura, Língua Portuguesa, Redação, Arte, Filosofia, Geografia e História.

HABILIDADE: Identificar e analisar as características temáticas, literárias e históricas a partir da leitura do livro “O Menino do Pijama Listrado”, de John Boyne.

PROPOSTA DE TRABALHO: Criação de um documentário.

DEFINIÇÃO CONCEITUAL: Documentário é um gênero cinematográfico que se caracteriza pelo compromisso com a exploração da realidade. O documentário é o gênero do cinema que mais se aproxima do jornalismo eletrônico.

PROCESSO PEDAGÓGICO: O processo de produção de um documentário mobiliza diferentes capacidades e cria uma relação participativa e horizontal entre educando/educador, que destituem as relações clássicas, e mostra a importância de um trabalho participativo, horizontal e em equipe. São diferentes dinâmicas e oportunidades de construção do conhecimento.

TEMA: A visão poética versus a visão referencial do Holocausto e da Segunda Guerra Mundial.

DICAS: Para fazer um documentário é preciso muito mais do que ideias, é preciso ter dados, ter lido a obra, ser coerente, buscar informações coerentes e reais. Antes de gravar faça um roteiro esquematizando o que a equipe pretenderá gravar.

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NORMATIVAS PARA O TRABALHO:

1. Todos os membros da equipe deverão aparecer no documentário. 2. A equipe deverá abordar um problema REAL histórico onde deverá ser analisado um problema de acordo com o tema, levando em consideração: origem, causa, desenvolvimento e possível solução. 3. O documentário é uma filmagem (vídeo), no entanto, será permitido também o uso de montagens com fotos e trilha musical. 4. O vídeo deve ser entregue em DVD ou CD, com capa e referências na capa: título do documentário, nome dos autores, série, turma, nome da escola, disciplina e nome do professor.5. O trabalho deve ser entregue, impreterivelmente, na data e horário marcados pelo professor por pelo menos um dos componentes do grupo, caso contrário será atribuída nota zero ao grupo. DATA DE ENTREGA: 15 dias a partir da aula de hoje.

MATERIAL COMPLEMENTAR: RESENHAS

RESENHA 1: UMA FÁBULA DE GUERRA1

O MENINO DO PIJAMA LISTRADO, John Boyne, São Paulo: Companhia das Letras, 2008, 186 pág.

Escrito pelo irlandês John Boyne e traduzido para o português por Augusto Pacheco Calil, O menino do pijama listrado conta a história de Bruno, filho de um graduado oficial alemão que durante a segunda guerra mundial sai com a família do conforto de seu lar em Berlim para viver próximo a um campo de concentração.

Durante toda a narrativa o jovem, de apenas nove anos, desconhece os horrores da guerra tampouco sabendo quem são aquelas pessoas que vê da janela de sua casa e que estão do outro lado da cerca, todos de pijamas listrados.

Sem amigos e desgostoso com o novo lar, Bruno parte para explorar o local e inicia uma amizade com Shmuel, um menino da mesma idade, nascido no mesmo dia, porém judeu. Envoltos por realidades bem distintas, Bruno é pura inocência, tendo no pai um exemplo de disciplina e respeito. Já seu amigo de pijama não pode dizer o mesmo, estando a cada dia visivelmente mais magro e “cinza”.

A amizade, porém, ocupa os dias de Bruno e durante os encontros na cerca, cada um do seu lado, eles esquecem de seus problemas e insatisfações. É uma amizade sincera, sem interesses, despreocupada.

Trata-se de verdadeira fábula, onde são mitigadas as mazelas e a crueldade da grande guerra. No entanto, a sutileza nos detalhes e a inteligência do texto, escrito de forma simples e descompromissada, tornam o livro agradável.

Mesmo que se trate de ficção artificiosa, não consigo compreender como Bruno possa desconhecer por completo quem são aquelas pessoas. Seu pai, na condição de oficial militar, deveria tê-lo introduzido no assunto. No entanto, ao contrário disso, todas as pessoas que cercam o rapaz o mantém absorto, como se a guerra não existisse. A única mais realista é Gretel, sua irmã mais velha, mas como ele mesmo a chama, um “Caso Perdido”.

Há, ainda, a questão da Juventude Hitlerista, onde os jovens de dez anos deveriam se alistar e iniciar sua doutrinação. Tudo bem que Bruno só tinha um ano a menos, mas essa alienação não pode ser admitida a um filho de militar graduado.

1 http://resenhasliterarias.blog.terra.com.br/2008/08/24/resenha-o-menino-do-pijama-listrado-john-boyne/10

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Ressalvado esse comentário, o livro é de leitura rápida e prazerosa, sendo o final surpreendente onde os nazi podem provar do próprio veneno.

RESENHA 2: O Menino do Pijama Listrado2

O comovente livro “O Menino do Pijama Listrado“, de John Boyne traduz de forma original os horrores da Segunda Guerra Mundial no interior da própria Alemanha. É através do olhar inocente de uma criança que nada sabe sobre confrontos bélicos e ideologias nazistas que esta história é revelada.

Bruno é um garoto de apenas nove anos que ignora sua realidade; tudo que ele sabe sobre sua repentina partida de Berlim, cidade na qual levava uma vida aconchegante, e sua nova existência próxima a uma cerca que o separa de um universo distinto, é que esta mudança está ligada ao trabalho de seu pai.

Na verdade, o progenitor de Bruno é um oficial alemão nazista de alta hierarquia, subordinado imediatamente a Hitler; sob novas ordens, ele se transfere, junto com os familiares, para uma casa localizada nas vizinhanças do campo de concentração de Auschwitz.

Como quase todas as crianças, o menino logo se acostuma com as novidades e, mesmo não compreendendo porque as pessoas do outro lado do muro vestem sempre um estranho pijama listrado, em pouco tempo trava uma pungente e sincera amizade com outro garoto, o qual habita a margem oposta da cerca e também traja este inusitado uniforme. Estes laços estabelecidos entre ambos transformam definitivamente suas existências.

O desenrolar da tragédia protagonizada pelos nazistas na Alemanha ganha uma carga dramática ainda mais intensa ao ser narrada do ângulo de uma criança de nove anos, porém este olhar puro sempre busca uma justificativa para os atos bárbaros que ocorrem no campo, o que, infelizmente, atenua a crueldade dos seguidores de Hitler e suas consequências.

O leitor não deve, portanto, imaginar que o enredo está centrado essencialmente no extermínio dos judeus e outros grupos minoritários, pois o autor prefere focar sua atenção particularmente na trajetória de Bruno e de sua família, mantendo o Holocausto como pano de fundo. Alguns personagens são apresentados vagamente, como se fossem apenas figurantes em volta do protagonista da trama.

Bruno está completamente sozinho quando conhece Shmuel, uma criança judia que tem a mesma idade, mais ainda, nasceu exatamente no mesmo dia que o novo amigo. Embora os meninos habitem mundos totalmente diferentes, a amizade entre eles se desenvolve espontaneamente, e certamente é o elemento mais importante da obra do irlandês Boyle.

Enquanto Bruno cresce saudável e inexplicavelmente alheio à realidade que o cerca, Shmuel perde cada vez mais peso e sua face ganha gradualmente uma coloração acinzentada. Apesar dos deslizes do escritor, a leitura vale a pena; chegou mesmo a inspirar uma versão cinematográfica, dirigida por Mark Herman. E o final é, sem dúvida, surpreendente.

RESENHA 3: O menino de pijama listrado – John Boyne3

2 http://www.infoescola.com/livros/o-menino-do-pijama-listrado/3 http://visaoliteraria.blogspot.com/2010/04/o-menino-de-pijama-listrado-john-bonye.html

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A história de ficção é baseada nos horrores do Holocausto, contada por um garoto alemão, cujo pai, foi designado por Hitler, para comandar o campo de concentração de Auschwitz.

Bruno, o protagonista da história, tinha nove anos quando foi obrigado a abandonar, em Berlin, os amigos Karl, Daniel, e Martin, além da avó Nathali e o avô Matthias, e, acompanhar o pai, que havia sido designado para comandar o campo de concentração de Auschwitz, que o autor apelidou de Haja-Vista.

Desde que Bruno chegou a Haja-Vista, detestou a casa e o lugar, não só pelo que tinha deixado para traz, mas, também por ser um lugar sem vida, sem amigos e sem escola. Não bastassem estas condições, a única pessoa que se aproximava de sua idade era a sua irmã Gretel, porém, os dois, competiam entre si em todas as situações.O fato do escritório de Ralf, pai de Bruno, ser na própria residência, fazia com que o entra e sai de soldados na casa se tronasse constante. Esta situação despertava a curiosidade do garoto, até porque não lhe era permitido adentrar ao escritório, tampouco acompanhar os diálogos lá ocorridos. Não bastasse o impedimento, nas reuniões sociais, tanto ele como a irmã Gretel, recebiam a recomendação para se recolherem aos seus quartos.

O habito de ler histórias de aventuras, despertou, em Bruno, o interesse por descobertas de lugares e coisas desconhecidas. Na casa em Berlin ele tinha muitos lugares para explorá-la, contudo, em Haja-Vista, após ter descoberto, através da janela do seu quarto, pessoas, além da cerca, usando o que ele chamou de pijama listrada, resolveu contornar a cerca do campo de concentração, sem saber exatamente o que se tratava, e terminou fazendo contato com Shumel, um garoto judeu que tinha a sua idade e nascido no mesmo dia que ele.

Após a conversa com Shumel, o qual se tornou seu melhor e único amigo em Haja-Vista, as visitas se tornaram diárias, oportunidade que Bruno lhe brindava com merendas levadas nos bolsos da calça.

Os diálogos entre Shumel e Bruno eram recheados de cordialidades, apesar de eventualmente, haver citações sobre a grandiosidade do povo alemão em detrimento aos judeus. Situação, contornada habilmente pelo garoto judeu, já que tinha, em Bruno, a alternativa de reforçar a fraca dieta do campo de concentração. Para Bruno, o interesse era dialogar com alguém disposto a ouvi-lo, já que em sua família, poucos estavam atentos à sua necessidade, a não ser Maria, a empregada, e Pavel, o médico idoso, encarregado de descascar verduras.

É sabido que na Alemanha, na época da grande guerra, formam cometidas muitas atrocidades contra judeus, contudo, o povo não se rebelava contra a prática dos crimes, não se sabe se por temor aos castigos do exército que servia a Hitler, ou por conforto do discurso equivocado de ser um povo de casta superior aos demais humanos.

Bruno se contradizia: em algumas situações ele se colocava como defensor dos oprimidos, em outras, se incluía entre os que se julgavam superiores. Ao que parece, o protagonista adsorveu diálogos de desaprovação de atitudes entre sua avó e seu pai, que influenciaram no conflito dos conceitos.

Certa vez, em uma reunião familiar, Nathali, avó de Bruno, disse ao filho, ao vê-lo com um uniforme novo, após a sua promoção:

Eu me pergunto – será que foi nisso que eu errei com você Ralf. Imagino se todas aquelas performances que eu exigir de você o levaram a isso. Fantasiar-se de fantoche. Você fica aí no seu uniforme como se isso o tornasse alguém especial. Nem se importa com o seu verdadeiro significado. O que ele representa.

Ao ser informado, pelo pai, que voltaria para Berlin, juntamente com a sua irmã e sua mãe, Bruno, que já havia se adaptado a Haja-Vista, decidiu de comum acordo com o amigo Shumel, entrar no campo de concentração e ajudá-lo a localizar o pai, do garoto judeu, que

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havia sumido. Esta foi uma aventura idealizada por Bruno, devido às leituras habituais sobre explorações, relatadas nos livros que gostava de ler.

O fato trouxe uma grande e tenebrosa surpresa, que para entendê-la, o leitor precisará conhecer um pouco das práticas no campo de concentração de Auschwitz, na Polônia.

O texto é escrito na forma direta e simples, recheado de diálogos ingênuos e comportamentos infantis de adolescentes. Oferece a oportunidade de visão do holocausto a partir de uma criança alemã, componente de uma família, cujo pai, era envolvido nos crimes de guerra.

Informações sobre o autor - Nasceu na Irlanda em 1971, e é autor de mais sete romances. Os livros do autor foram traduzidos para mais de trinta idiomas.

Referência bibliográfica – BOYNE, John. O menino de pijama listrado: uma fábula / John Boyne; tradução de Augusto Pacheco Calli - São Paulo: Companhia das Letras, 2007. 186p. ISBN 978-85-359-1112-1. 1. Amizade - Ficção 2. Berlim (Alemanha) - Ficção 3. Ficção irlandesa 4. Jovens - Ficção I. Título.

RESENHA 4: "O Menino do Pijama Listrado" usa ingenuidade para enfatizar nazismo4

FABIANA SERAGUSAColaboração para a Folha Online

Pela janela de seu quarto, um menino de oito anos consegue avistar uma grande fazenda, onde adultos e crianças passam o dia todo vestidos com pijamas listrados. É a partir da curiosidade em relação a essa imagem inusitada que se desenvolve toda a história de "O Menino do Pijama Listrado" ("The Boy in the Striped Pijamas", Inglaterra/EUA, 2008), que estreia nos cinemas do país nesta sexta-feira (12).

O filme se passa em 1940 e tem início quando o garoto Bruno recebe a notícia de que terá que deixar sua confortável casa em Berlim e se mudar com a família para um lugar isolado, no campo. O motivo é a promoção de seu pai, um oficial nazista, que para ele é apenas um soldado.

Logo que chega à nova casa, essa fazenda que ele avista do quarto passa a ser a possibilidade que ele tem de alterar a rotina solitária do lugar e arranjar alguém para brincar. E é isso que ele busca quando desobedece às orientações de sua mãe e vai até o jardim dos fundos, de onde sai em direção àquelas pessoas de pijamas listrados.

Lá, ele conhece Shmuel, que também tem oito anos, mas vive do outro lado da cerca. As visitas ficam cada vez mais frequentes e, curioso, ele passa a perguntar a seus pais e à sua irmã o que é esse lugar e quem são aquelas pessoas, mas as respostas, ora evasivas, ora negativas, não têm nada a ver com o que seu coração lhe diz.

O tal campo de concentração, como chamam, não tem nada de belo e de alegre como ele vê nos vídeos mostrados a seu pai, e o menino judeu não se parece em nada com o monstro desenhado por todos. Então por que ele tem que ser inimigo? Essa é uma das coisas que Bruno não consegue entender. Mas se o amigo Shmuel não pode vir para o lado de cá da cerca, por motivos que ele também não compreende, então talvez seja mais fácil que ele mesmo passe para o lado de lá.

Quem leu o livro homônimo, escrito pelo irlandês John Boyne, em 2007, vai notar muitas diferenças em relação à história mostrada no filme, como a maneira gradativa com que a mãe percebe o absurdo que acontece à sua volta --no livro, desde o começo, ela parece não aceitar a situação--, a idade de Bruno --que tem nove anos no texto de Boyne-- e como, no final, a família descobre sobre as visitas do garoto ao campo --na obra literária, eles nunca chegam a ter conhecimento do que realmente aconteceu. A pureza e a ingenuidade nas

4 http://guia.folha.com.br/cinema/ult10044u476969.shtml13

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atitudes do menino enfatizam ainda mais o horror do nazismo, que acaba, de uma maneira ou de outra, com a vida de todos.

RESENHA 5: Crítica: O menino do pijama listrado, John Boyne5

Este é um dos raros casos em que o filme supera a obra literária, talvez devido ao fato de o autor tê-lo concluído precipitadamente. As ideias, as palavras, a estrutura do texto, poderiam ter sido analisadas mais para um melhor desenvolvimento da trama. Apesar disso, a obra é espetacular devido à forma inovadora que apresenta o holocausto, ao impacto causado pelo final surpreendente e à reflexão que proporciona após sua leitura.

O menino do pijama listrado nos apresenta uma história emocionante sobre o holocausto do ponto de vista inocente de uma criança de 9 anos, Bruno. E vai além, pois mostra ainda a forma como o adolescente, no caso a irmã mais velha de Bruno, pode ter sua opinião completamente manipulada por um sistema que busca apenas defender os seus próprios interesses. Adolescentes, cheios de ideais, que infelizmente podem se tornar perigosos, violentos, como o tenente Kotler.

Alguns leitores e espectadores dizem se sentir incomodados com a história, principalmente devido ao seu final. Não seria este incômodo benéfico? Ou será que a história da humanidade deve ser disfarçada para não gerar incômodos? A literatura aqui vem nos apresentar o nosso lado cruel e por isso incomoda. Ao denunciar os crimes cometidos durante o holocausto, ela mexe com o nosso 'ser' humano.

Em alguns momentos, percebi no menino inocente, que não entende direito as palavras e associa o uniforme de um campo de concentração a um pijama, desejando mesmo poder ficar todo o dia vestido daquela forma, vivendo junto com os que ali estão como se eles fossem muito mais felizes que ele ― uma referência à geração atual, pois nós não compreendemos o que foi o holocausto. Somos como aquela criança, acreditamos no que nos dizem e muitas vezes fantasiamos um mundo que não existe, pois para que ele exista, é necessário o nosso empenho em criá-lo. Só compreende a dimensão do que foi realmente o holocausto quem o viveu em toda a sua extensão.

Assim como fez o menino Bruno, é necessário sim entrar num campo de concentração para entender o horror e até mesmo vivenciá-lo. Incomodado? Não quer entrar no campo, prefere ficar do outro lado da cerca, fantasiando que não pode ter sido tão ruim assim? Então não assista ao filme nem leia o livro, a história pode te impressionar demais e talvez você não tenha maturidade o bastante para enfrentar isso, como Schmuel, o menino triste e faminto que encontramos do outro lado da cerca.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Agora, o grupo deve analisar o eixo temático estudado na obra. Com base nas informações acima, explorem o conteúdo da obra e construam o seu documentário. Um bom trabalho a todos, e aguardem a segunda pauta de orientação sobre os critérios de avaliação dos vídeos.

MATERIAIS SOBRE DOCUMENTÁRIOS

5 Kelly Vyanna. Membro da ACEIB/DF. Disponível em: www.recantodasletras.com.br, www.aceib-gremioliterario-df.blogspot.com ou http://kelly-literatura.blogspot.com/

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http://www.rc.unesp.br/igce/planejamento/nuppag1/A%20ideia%20do%20documentario.pdfhttp://www.doc.ubi.pt/06/artigo_sergio_puccini.pdfhttp://www.rc.unesp.br/igce/planejamento/nuppag1/Escrevendo%20um%20documentario.pdfhttp://www.roteirodecinema.com.br/manuais.htmhttp://www.livrarialoyola.com.br/pdf_capitulos/9788530808891.pdf

VÍDEOS SOBRE DOCUMENTÁRIOS

http://www.youtube.com/watch?v=a9_Xn-JKMvQhttp://www.youtube.com/watch?v=fIsRHFBsu3M&feature=related

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