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Mário Murteira Formação de técnicos em Desenvolvimento Económico 1 Constitui lugar comum afirmar a importância dos proble- mas do desenvolvimento nas perspectivas actuais da Ciência Econó- mica. Facto relacionado com este, mas em que se tem insistido menos entre nós, é o da penúria, cada vez mais sentida pelos países subdesenvolvidos, de técnicos com capacidades específicas em de- senvolvimento. Verifica-se neste domínio uma situação que valerá a pena analisar nalguns dos seus aspectos, mesmo sem a pretensão de atingir grande profundidade nessa análise. Iremos considerar sucessivamente os seguintes pontos: ligações entre o estado do conhecimento científico do desenvolvimento económico e as exi- gências de aplicação desse conhecimento; o que é a formação em desenvolvimento e a dimensão internacional dessa actividade; as- pectos do problema em Portugal. 2 Não é difícil compreender que constituam questões dis- tintas, por um lado, as solicitações que a própria realidade social desperta no pensamento económico no sentido de aprofundar o conhecimento científico do processo do desenvolvimento, por outro lado, as solicitações que essa realidade ocasiona em função das exigências de aceleração controlada desse mesmo processo. O pri- meiro problema respeita à análise da evolução do pensamento cien- tífico em matéria social; o segundo, tem que ver com a passagem da teoria à prática, do pensamento puro à aplicação, enfim, da consciência da problemática do desenvolvimento à interferência na condução deste enquanto processo social, na sua totalidade his- tórica. Sendo embora distintos, como dissemos, os dois problemas estão no entanto relacionados. Em termos simples, para formar técnicos em desenvolvimento económico (sem cuidar, por ora, de explicar esta expressão) é necessário obviamente dispor de um capital de conhecimentos a administrar nessa formação. Uma dupla corrente de influências pode assim estabelecer-se: o pensamento «puro» é inflectido peia pressão das circunstâncias concretas em função das quais é necessário formar técnicos; o empirismo, a simples acumulação casuística de experiências tentação inevi- tável dos que, como técnicos, são chamados a «participar» no de- senvolvimento, mais do que a estudá-lo são temperados e corri- gi?

Formação de técnicos em Desenvolvimento Económicoanalisesocial.ics.ul.pt/documentos/1224156266L1wVH0bd6Sy32MA2.pdf · 1 — Constitui lugar comum afirmar a importância dos proble-mas

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MárioMurteira

Formação de técnicos emDesenvolvimento Económico

1 — Constitui lugar comum afirmar a importância dos proble-mas do desenvolvimento nas perspectivas actuais da Ciência Econó-mica. Facto relacionado com este, mas em que se tem insistidomenos entre nós, é o da penúria, cada vez mais sentida pelos paísessubdesenvolvidos, de técnicos com capacidades específicas em de-senvolvimento. Verifica-se neste domínio uma situação que valeráa pena analisar nalguns dos seus aspectos, mesmo sem a pretensãode atingir grande profundidade nessa análise. Iremos considerarsucessivamente os seguintes pontos: ligações entre o estado doconhecimento científico do desenvolvimento económico e as exi-gências de aplicação desse conhecimento; o que é a formação emdesenvolvimento e a dimensão internacional dessa actividade; as-pectos do problema em Portugal.

2 — Não é difícil compreender que constituam questões dis-tintas, por um lado, as solicitações que a própria realidade socialdesperta no pensamento económico no sentido de aprofundar oconhecimento científico do processo do desenvolvimento, por outrolado, as solicitações que essa realidade ocasiona em função dasexigências de aceleração controlada desse mesmo processo. O pri-meiro problema respeita à análise da evolução do pensamento cien-tífico em matéria social; o segundo, tem que ver com a passagemda teoria à prática, do pensamento puro à aplicação, enfim, daconsciência da problemática do desenvolvimento à interferênciana condução deste enquanto processo social, na sua totalidade his-tórica. Sendo embora distintos, como dissemos, os dois problemasestão no entanto relacionados. Em termos simples, para formartécnicos em desenvolvimento económico (sem cuidar, por ora, deexplicar esta expressão) é necessário obviamente dispor de umcapital de conhecimentos a administrar nessa formação. Uma duplacorrente de influências pode assim estabelecer-se: o pensamento«puro» é inflectido peia pressão das circunstâncias concretas emfunção das quais é necessário formar técnicos; o empirismo, asimples acumulação casuística de experiências — tentação inevi-tável dos que, como técnicos, são chamados a «participar» no de-senvolvimento, mais do que a estudá-lo — são temperados e corri-

gi?

gidos pelas generalizações da teoria. Estes, os factos elementaresque facilmente se adivinham. Algumas consequências menos evi-dentes merecem, todavia, referência especial.

Pese embora o respeito devido à Economia na família dasCiências Sociais, ao menos pela sua veterania, cremos ser legítimoafirmar — como em tantos outros domínios — que quanto mais seavança no conhecimento científico do económico dentro do social,mais se consciencializam os limites, as fragilidades e impotênciasdesse conhecimento. De certa maneira não será este o estado deespírito mais favorável a transmitir aos que, mergulhados na acção,não podem contemporizar demasiado com a dúvida metódica dosestudiosos de gabinete. A verdade porém é que, ao menos no campoda teoria do desenvolvimento, está-se longe de dispor de um vastosomatório de conhecimentos científicos, que possam ser conside-rados como definitivamente adquiridos e assim tranquilamentetransmitidos aos práticos, que daqueles conhecimentos extrairão,para cada caso, as adequadas receitas. Daqui resultam várias con-sequências para os técnicos que são chamados, de múltiplas formas,a participar nas políticas de desenvolvimento.

Ou contemporizam com uma suposição de omnisciência em re-lação aos problemas económicos que efectivamente não merecemou, pondo em dúvida a sua própria competência, correm o risco dese verem substituídos pelos não especialistas menos escrupulosos eporventura mais dispostos a racionalizarem (quando muito) a li-nha do interesse mais forte.

Além disso, se a sua formação é predominantemente teórica,verificam facilmente que em muitos casos essa formação só per-mite— e esta hipótese será talvez ainda optimista — uma certacapacidade fundamental de raciocínio a aplicar à generalidade doscasos. Para cada um destes, há que contar sobretudo com duassimples coisas, para além daquela capacidade geral: imaginaçãoperante situações defrontadas pela primeira vez e senso comum.

O problema é ainda mais grave se o técnico é predominante-mente um prático: nesta hipótese, ou há uma repetição de situa-ções que efectivamente formaram o técnico em sua correspondên-cia, ou noutro caso o técnico corre o risco de não estar definitiva-mente à altura dos problemas que lhe são postos.

Um outro tipo de dificuldades nasce da necessidade de umaespecialização cada vez maior dentro do próprio campo do desen-volvimento.

Em rigor, é um paradoxo falar de especialistas em desenvol-vimento económico. Um técnico capacitado em desenvolvimentoeconómico, como processo global, será ainda essencialmente umhomem de ideias gerais; verdadeiros «especialistas» serão os que,por exemplo, possuam competências específicas em planeamentoregional, investigação operacional ou avaliação de projectos. Ora,

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sucede que estas diferentes especializações só nascem de uma efec-tiva divisão de trabalho resultante da consciência mais exigenteque cada sociedade vai formando em relação aos seus problemasespecíficos de desenvolvimento. No nosso País, por exemplo, oreconhecimento do economista enquanto técnico de formação bemindividualizada marcou, de certo modo, o início de uma fase, nessagradual tomada de consciência da problemática do desenvolvimentoportuguês. Entramos agora, possivelmente, numa segunda fase, emque se falará menos de economistas e mais de especialistas nesteou naquele campo do desenvolvimento económico. Ora, à medidaque socialmente se vai substituindo, digamos assim, a procura dotécnico de formação económica geral, pela do especialista em sec-tores mais restritos da Economia, dois tipos de consequências sur-gem: o técnico carece de especializar-se e, na ausência de umaactividade formativa de que possa beneficiar, tem de correr osriscos do autodidactismo; o ensino universitário (ou de nível equi-valente) deve adaptar-se a esta situação, não fornecendo apenasum «background» genérico de conhecimentos (aliás, necessitandosempre de sucessivas actualizações) mas também abrindo umagama de especializações mais adequadas à procura social de técni-cos. Simplesmente, quanto a este último aspecto, dificilmente oensino universitário poderá encontrar-se totalmente à altura dasnecessidades. A Universidade transmite um estádio determinadodo conhecimento económico, mais ou menos desfasado em relaçãoà actualidade desse pensamento; esse desfasamento é tanto maisgrave quanto maiores forem os progressos da ciência e mais rígidose manifestar o ensino à sua absorção. Por outro lado, se se con-sidera a rapidez com que nos últimos anos se têm aberto novasvias à especialização em matéria económica — nomeadamente noque se refere ao desenvolvimento — e a importância dos progres-sos realizados no conhecimento económico não partindo da teoriapara a prática mas seguindo o caminho inverso, verifica-se que aformação de técnicos carece de estar ligada aos centros de inves-tigação aplicada, investigação que não é — ou não é ainda — con-siderada como de índole tipicamente universitária.

3 —Feitas estas considerações, é-nos mais fácil precisar oconteúdo da expressão «formação em desenvolvimento económico».Ela é utilizada nomeadamente pala O.C.D.E., numa actividade deintercâmbio de experiências dos institutos de formação em assun-tos económicos, e deve ser apenas considerada com uma formacómoda de designar um conjunto variado de temas de ensino, maisou menos directamente relacionados com o desenvolvimento econó-mico1. A proliferação de cursos desta natureza organizados em

- Cf. Programmes ãe formation en ãéveloppement économique, O.C.D.E.,Paris, 1962.

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diversos países pelas instituições mais variadas corresponde a soli-citações que, em parte, já referimos mas que convirá descrevermais em pormenor.

Na América Latina, os cursos que a C.E.P.A.L., (ComissãoEconómica para a América Latina) organiza desde 1952, segundocremos, pretendem fornecer num período relativamente curto, dealguns meses apenas, uma formação geral em desenvolvimentoeconómico e avaliação de projectos. Para além da necessidade deformar intensivamente economistas, preparados para a problemá-tica do desenvolvimento ,manifesta-se a preocupação de criar umamentalidade favorável à cooperação inter-disciplinar entre os vá-rios técnicos chamados ao desempenho de tarefas de planeamento,em particular no que se refere àqueles que se encontram enqua-drados na administração pública.

Na Europa e na América do Norte, não nos é fácil descreverem profundidade, com os dados de que dispomos, a situação nestedomínio. No entanto, através da documentação da O.C.D.E. e doconhecimento directo de algumas instituições referenciáveis nestaperspectiva, é fácil reconhecer a grande diversidade de experiênciasde formação em desenvolvimento económico. Esta diversidade tra-duz-se em vários aspectos.

Em primeiro lugar quanto à natureza das instituições. Se nunscasos se trata de extensões do ensino universitário — como, porexemplo, o Instituto de Estudo do Desenvolvimento Económico So-cial (I.E.D.E.S.) da Universidade de Paris — noutros, são orga-nismos públicos ou privados com funções de carácter económicoque subsidiariamente exercem também uma actividade formativa,como o Banco Internacional de Reconstrução e Fomento, que todosos anos organiza cursos em Washington para um número reduzidode técnicos provenientes dos mais diversos pontos do Globo, e aAssociação para o Desenvolvimento Industrial do Sul da Itália(S.V.I.M.E.Z.) com sede em Roma. Neste aspecto, nota-se umatendência para os organismos empenhados numa acção determi-nada no campo do desenvolvimento económico, tornarem social-mente mais útil essa acção através da realização de cursos ouestágios apoiados mais ou menos profundamente na experiênciadirectamente adquirida.

Em segundo lugar, quanto às finalidades que se propõe atingirna formação e correspondentes métodos utilizados. A preparaçãode jovens provenientes de países africanos para o retorno a essespaíses tem evidentemente de tomar em conta dois dados fundamen-tais : a fraca qualificação inicial dos alunos que frequentam os cur-sos e as características de acentuado subdesenvolvimento econó-mico e social do meio em que terão de agir. Já a formação pós-uni-versitária de indivíduos diplomados por escolas europeias para oexercício de funções elevadas em empresas ou serviços públicos

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em países industrializados ou medianamente desenvolvidos põeevidentemente problemas radicalmente diversos.

Um outro aspecto importante refere-se à doutrina explícitaou implicitamente condutora da actividade do organismo em ques-tão. É natural que o B.I.R.D., por exemplo, traduza uma feiçãomais «liberal» nos seus cursos do que o I.E.D.E.S. de Paris, aomesmo tempo que serão de esperar diferentes métodos no C.E.P.E.e no I.R.F.E.D.2 quando se repara no predomínio dos economistasmatemáticos no primeiro instituto e da corrente Economie et Hu-manisme do P. Lebret no segundo.

Ressalta pois, destas observações, uma extrema variedade deexperiências todas elas redutíveis à fórmula «formação em desen-volvimento económico». É de salientar ainda a feição «internacio-nalista» (mais do que universalista) destas experiências.

Indivíduos provenientes da América Latina, da Ãsia e daÁfrica reúnem-se em Haia, Paris ou Roma para seguir cursos orien-tados, muitas vezes, por professores também de várias nacionali-dades (mas aqui quase sempre limitados aos países industrializa-dos, como seria de esperar). Nalguns casos são mesmo instituiçõesinternacionais que estão na origem dessa actividade, como aC.E.P.A.L. (organismo das Nações Unidas) ou o Instituto Inter-nacional de Estudos Sociais do B.LT. Cremos que, em princípio,este carácter internacionalista é benéfico, se se atender à crescenteinterdependência entre as sociedades nacionais e às vantagens dacooperação internacional do domínio do desenvolvimento econó-mico. No entanto, esta questão requer uma consideração maisdetida.

4 — O carácter internacionalista da formação em desenvol-vimento económico é um facto positivo, explicável, entre outrasrazões, pelas seguintes:

As desigualdades de desenvolvimento entre nações, traduzem--se em desigualdades quanto aos recursos humanos, nomeadamentequanto a cientistas e técnicos em assuntos económicos. Daí que asnações economicamente dominantes, o sejam também no pensa-mento económico. É assim natural que os grandes centros de inves-tigação e ensino na Europa ou na América do Norte constituampólos de atracção para os que, oriundos dos países subdesenvolvi-dos, procurem adquirir uma competência em assuntos económicos.

Num outro plano, aquela diversidade de experiências e situa-ções que atrás referimos, no clima geral de aproximação de povosque hoje conhecemos, sugere o intercâmbio, o confronto entre as

2 Centro de Estudos e Programas Económicos e Instituto Internacionalde Formação e de Investigação com vista ao Desenvolvimento Harmonizado,ambos de Paris.

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diferentes orientações preconizadas nos centros de investigaçãonos países economicamente mais evoluídos.

Em terceiro lugar, a ciência e a técnica têm uma vocação niti-damente universalista, que é mais fácil de concretizar-se na fasehistórica que atravessamos. Isto é, para além das «impurezas» queo mundo real introduz na passagem dos conhecimentos científicosdos investigadores à prática social, é compreensível que o econo-mista inglês, indiano ou brasileiro se encontrem, ou procurem fazê--lo, ao nível da ciência que cultivam e para além das diferenças denacionalidades, das respectivas problemáticas e interesses políticos.

Posto isto, forçoso é reconhecer que alguns riscos se oferecemàs nações menos desenvolvidas ao aceitarem, conjuntamente comas economias dominantes um pensamento económico dominante.Há, por vezes, uma certa confiança ingénua no «perito» estrangeiroque os factos nem sempre confirmam. Com o exagero de uma «bou-tade», mas com algum fundamento sério, escutámos um dia deum economista reputado como o Prof. Rosenstein-Rodan a afirma-ção de que quando um país pede um economista de uma organiza-ção internacional, com funções de conselheiro, tudo pode acontecer,até mesmo receber um técnico competente... Por outro lado, e maisprofundamente, a cooperação internacional na formação de espe-cialistas em desenvolvimento só parece ser totalmente útil quandoo país menos desenvolvido puder dispor já de uma élite capaz decriticar e efectivamente dialogar com os elementos provenientesdos meios mais evoluídos. A simples aceitação passiva das fór-mulas e receitas mais em voga naqueles meios, pode ocasionar nãouma formação autêntica mas antes uma real deformação.

5 — Algumas observações para o nosso País têm agora cabi-mento, ainda que não tenhamos intenção de fazer mais do queum ligeiro comentário sobre um tema que manifestamente mere-ceria tratamento mais exigente. Portugal não constitui excepçãono panorama dos países economicamente menos desenvolvidos noque se refere às carências quantitativas e qualitativas de técnicoshabilitados em desenvolvimento económico, nas suas múltiplas im-plicações. A quantidade de economistas disponível e dos anualmentediplomados é, no conjunto, reconhecidamente insuficiente em rela-ção à procura, e isto agrava-se particularmente quanto limitamosa questão aos técnicos capacitados para a resolução dos problemasdo desenvolvimento. Por outro lado, os que efectivamente desem-penham funções pressupondo essa formação não podem, em regra,isoladamente suprir as carências do ensino que receberam nem dasua inevitável desactualização, em proporção directa com o númerode anos decorridos desde a licenciatura. Nem seria necessário falar,portanto, das consequências que esta situação acarreta quanto àeficiência da administração pública com funções económicas. É

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evidente que o problema tem dimensões que transcendem o relati-vamente limitado sector de técnicos que temos considerado, e assuas implicações mais profundas só numa perspectiva mais geral— que agora não pretendemos abordar — poderiam ser devida-mente estudadas. Em todo o caso, e era esta a conclusão funda-mental a que queríamos chegar nestas notas, parece-nos que nãoseria muito difícil atenuar a gravidade da questão através da orga-nização de cursos intensivos em desenvolvimento económico paraindivíduos já possuidores de um grau universitário. Não escas-seiam, como vimos, as experiências doutros países como pontos dereferência; nem as oportunidades de apoio internacional; nem se-quer, felizmente, devemos recear o «efeito de dominação» do pen-samento alheio, uma vez que, apesar de tudo, já atingimos umadimensão mínima em matéria de pensamento económico que nospermitirá, em muitos casos, um efectivo diálogo. Por outro lado,um certo número de instituições públicas e privadas com funçõeseconómicas — como a Associação Industrial Portuguesa, a Corpo-ração da Indústria, o Instituto Nacional de Investigação Industriale eventualmente outras — parecem em princípio susceptíveis deexercer ou apoiar uma acção útil neste domínio, completando aUniversidade numa tarefa que é afinal estratégica para o própriodesenvolvimento económico do País.

Uma instituição internacional:a O. L T.

1. A Organização Internacional do Trabalho, correntementedesignada ou citada pelas iniciais, O.I.T., nasceu em 1919, daConferência da Paz de Paris. Uma comissão de quihze membros,designada Comissão da Legislação Internacional do Trabalho,que compreendia dirigentes da Associação para a Protecção Legaldos Trabalhadores (criada em Paris em 1900), chefes siindica-

Ar. da R.—Com a presente nota inicia-se a publicação de pequenostextos, meramente informativos, através dos quais se irão daindo a conhecerinstituições (de política sodal, de ensino e de investigação) cujos fins eactividades sejam particularmente relevantes no campo das Ciências do Ho-mem e dos problemas sociais em geraJ.

listas e homens de estado, foi constituída logo no início daConferência da Paz, em ordem a elaborar a constituição de umaorganização permanente, destinada a estudar, no plano interna-cional, as condições de trabalho e a sua regulamentação. Após umasessão de dois meses, esta Comissão apresentou um projecto deconvenção, que foi adoptado pela Conferência da Paz com ligeirasalterações e veio a (constituir a parte XIII do Tratado de Versa-lhes. Foi esta a primitiva Constituição da O.I.T.

As razões e os objectivos que acompanharam a criação daO.I.T., nesta altura, encontram-se particularmente afirmados nopreâmbulo da Constituição, que vale a pena referir:

«Atendendo a que uma paz universal e durável não podefundar-se senão na base da justiça social;

«Atendendo a que existem condições de trabalho que impli-cam, para um grande número de pessoas, a miséria e as privações,o que engendra um tal descontentamento que a paz e a harmoniauniversais são postas em perigo, e dado que é urgente melhoraressas condições: por exemplo no que respeita à regulamentaçãodas horas de trabalho, à fixação da duração máxima da jornadae da semana de trabalho, ao recrutamento da mão-de-obra, à lutacontra o desemprego, à garantia de um salário que assegure ascondições convenientes de existência, à protecção dos trabalha-dores contra a doença, em geral, e as doenças profissionais e osacidentes de trabalho, à protelcção das crianças, dos adolescentese das mulheres, às pensões de velhice e invalidez, à defesa dosinteresses dos trabalhadores ocupados no estrangeiro, à afirma-ção do princípio «a trabalho ilgual, salário igual», à afirmação doprincípio da liberdade sindical, à organização do ensino profissio-nal e técnico e a outras medidas análogas;

«Dado que a não adopção, por uma nação qualquer, de umregime de trabalho realmente humano constitui obstálculo aos es-forços das outras nações desejosas de melhorar a sorte dos tra-balhadores nos seus próprios países;

«As Altas Partes contratantes, movidas por sentimentos dejustiça e humanidade, do mesmo modo que pelo desejo de asse-gurar uma paz mundial durável, e com vista a atingir os finsenunciados neste preâmbulo, aprovam a presente Constituição daOrganização Internacional do Trabalho».

Não deixará de ser curioso observar que, apesar deste textoconseguir, ainda hoje, manter actualidade, ele não constituiu, em1919, senão uma síntese das preoícupações e anseios que quaseum século antes tinham começado a manifestar-se dando corpoa um movimento em prol de uma legislação internacional do tra-balho. Este movimento pode considerar-se nascido em 1830-1840,em Inglaterra, e entre as suas manifestações mais salientes con-tam-se as primeiras conferências interna/cionais do trabalho, reu-

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nidas na Suíça (1888 e 1889) e em Berlim (1890) — que se limi-taram a formular simples recomendações sobre trabalho de meno-res e de mulheres, trabalho nas minas e descanso semanal; paraalém disto, em 1900, constituiu-se em Paris a já referida Asso-ciação Internacional para a Protecção Legal dos Trabalhadores,a qual, após ter criado uma Repartição Internacional do Trabalho(que prefigurou o B. I. T.), levou a efeito uma conferência inter-nacional, em 1906, donde saíram as duas priineiras convençõesinternacionais do trabalho sobre o trabalho nocturno das mulhe-res, na indústria, e sobre o emprego do fósforo branco na fabri-cação de fósforos.

Como se sabe, a O. I. T. sobreviveu à Sociedade das Nações.Durante a segunda grande guerra transferiu-se para o Canadá(Montreal); em 1944 reuniu-se uma Conferência extraordináriaem Filadélfia, comemorando os 25 anos da Organização, e foi nessaaltura aprovada uma declaração, que ficou com o nome de Decla-ração de Filadélfia e que foi integrada na Constituição da O. I. T.Este texto tem um alcance mais vasto do que o preâmbulo de1919, correspondendo à evolução das iconcepções sobre o papel eo alcance da O. I. T. Vale a pena transcrevê-lo, pois dificilmentese lhe poderiam substituir quaisquer considerações ou comen-tários.

«A Conferência Geral da Organização Internacional do Tra-balho, reunida em Filadélfia na sua 26.a sessão, adopta, em 10 deMaio de 1944, a presente Delclaração dos fins e objectivos da Or-ganização Internacional do Trabalho, assim como dos princípiosque deverão inspirar a política dos seus Membros.

A Conferência afirma de novo os princípios fundamentais emque se funda a Organização, nomeadamente:

a) o trabalho não é uma mercadoria;&) a liberdade de expressão e de associação é uma ícondição

indispensável de um progresso firme;c) a pobreza, onde quer que exista, constitui um perigo para

a prosperidade de todos;d) a luta contra a necessidade deve ser conduzida com uma

energia inquebrantável no seio de cada nação, e por umesforço internacional ^contínuo e concertado, no qual osrepresentantes dos trabalhadores e dos empregadores,cooperando em pé de igualdade com os representantes dosgovernos, participem em discussões livres e em decisõesde carácter dtemocrático, com vista a promover o bemcomum.

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IIConvencida de que a experiência tem demonstrado plena-

mente o bem fundado da declaração (contida na Constituição daOrganização Internacional do Trabalho, e segundo a qual nãopode estabelecer-se uma paz durável senão sobre a base da justiçasocial, a Conferência afirma que:

a) todos os seres humanos, de qualquer raça, crença ou sexo,têm o direito de prosseguir o seu progresso material e oseu desenvolvimento espiritual na liberdade e na digni-dade, na segurança económica e icom igualdade de opor-tunidades;

&) a realização dás condições que permitam chegar a esteresultado deve constituir o fim central de toda a políticanacional e internacional;

c) todos os programas de acção e medidas tomados no planonacional e internacional, nomeadamente no domínio econó-mico e financeiro, devem ser apreciados deste ponto devista e somente aceites na medida em que apareçam demolde a favorecer, e não a entravar, a realização desteobjectivo fundamental;

d) incumbe à Organização Internacional do Trabalho exami-nar e considerar à luz deste objectivo fundamental, nodomínio internacional, todos os programas de acção emedidas de ordem económica e financeira;

e) no desempenho das tarefas que lhe são confiadas, a Orga-nização Internacional do Trabalho, levando em conta to-dos os factores económicos e financeiros pertinentes, temqualificação para incluir nas suas de/cisões e recomenda-ções todas as disposições que julgue apropriadas.

III

A Conferência reconhece a obrigação solene para a Organi-zação Internacional do Trabalho de secundar a realização, entreas diferentes nações do Mundo, de programas destinados a rea-lizar:

a) o pleno emprego e a elevação dos níveis de vida;6) o emprego dos trabalhadores em ocupações em que te-

nham a satisfação de dar toda a medida da sua habili-dade e dos seus iconhecimentos, e de contribuir o melhorpossível para o bem-estar comum;

c) para atitngir este fim, a realização, mediante garantiasadequadas por parte de todos os interessados, de possi-bilidades de formação e de meios próprios para facilitaras transferências de trabalhadores, compreendidas asmigrações de mão-de-obra e de colonos;

d) a possibilidade para todos de uma participação equitativanos resultados do progresso em matéria de salários e d£ganhos, de duração de trabalho e outras condições de tra-balho, e de um salário mínimo vital para todos aquelesque têm um emprego e têm necessidade de uma tal pro-tecção ;

e) o reconhecimento efectivo do direito de negociação colec-tiva e a cooperação dos empregadores e da mão-de-obrapara o melhoramento contínuo da organização da produ-ção, assim como a colaboração dos trabalhadores e dosempregadores na elaboração e na aplicação da políticasocial e económica;

/) a extensão das medidas de segurança social Icom vMa aassegurar um subsídio de base a todos aqueles que têmnecessidade de uma tal protecção, assim como tratamentomédico icompleto;

g) uma protecção adequada à vida e à saúde dos trabalha-dores em todas as ocupações;

h) a protecção da infância e da maternidade;i) um nível adequado de alimentação, habitação e meios de

recreação e cultura;j) a garantia de oportunidades* iguais no domínio educativo

e profissional.

IV

Convencida de que uma utilização mais completa e mais largadas fontes produtivas do inundo, necessária à realização dosobjectivos enumerados na presente Declaração, pode ser assegu-rada por uma acção eficaz no plano internacional e nacional, enomeadamente por medidas tendentes a promover a expansão daprodução e do consumo, a evitar flutuações económicas graves, arealizar o progresso económico e social das regiões cuja valori-zação é pouco avançada, a assegurar uma maior estabilidade dospreços mundiais das matérias-primas e mercadorias, e a promo-ver um comércio internacional de volume elevado e constante, aConferência promete a inteira colaboração da Organização Inter-nacional do Trabalho com todos os organismos internacionais aosquais possa ser confiada uma parte de responsabilidade nestagrande tarefa, assim como no melhoramento da saúde, da edu-cação e do bem-estar de todos os povos.

A Conferência afirma que os princípios enunciados na pre-sente Declaração são plenamente aplicáveis a todos os povos domundo, e que se nas modalidades da sua aplicação deve ser devi-damente levado em conta o desenvolvimento sociaj e elconómico

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de cada povo, a sua aplicação progressiva aos povos que estãoainda dependentes, assim como àqueles que atingiram o estádiode governo próprio, iinteressa o conjunto do mundo civilizado».

No ano seguinte ao da Declaração de Filadélfia (Paris—1945),a Conferência sancionou uma resolução sobre as relações da O.I.T.com a O.N.U.; após a qual se entabularam negociações e se veioa transformar a O.I.T. na primeira instituição especializada daO.N.U.

Posteriormente, em 1948, a O.I.T. regressou a Genebra, ondese encontra actualmente a sua sede.

2. A O.I.T. possui três órgãos, a saber: a Conferência Inter-nacional do Trabalho, o Conselho de Administração e a Reparti-ção Internacional do Trabalho.

A Conferência Internacional do Trabalho constitui a assem-bleia geral dos países membros da Organização, sendo, assim, oórgão supremo. Cada país membro participa na Conferência atra-vés da respectiva delegação, composta de dois delegados governa-mentais, um delegado das entidades patronais e um delegado dostrabalhadores. Cada delegado tem um voto na Conferência.

A principal função da Conferência Internacional do Trabalhoé estabelecer normas sociais internacionais sob a forma de con-venções ou recomendações. Anualmente a Conferência realiza um«debate geral» baseado no relatório apresentado pelo Directorda Repartição Internacional do Trabalho — relatório este que dáconta dos trabalhos da Organização desde a sessão anterior efaz o ponto da situação económica e social no mundo.

Compete ainda à Conferência designar os membros do Con-selho de Administração, aprovar o orçamento, examinar o com-portamento dos países membros em icionexão com as convenções erecomendações da OJ.T. e, em geral, tomar decisões que lhe sejampostas pela Repartição Internacional do Trabalho.

O Conselho de Administração é o órgão executivo da O.I.T.É constituído por 40 membros: 20 representantes governamentais,10 representantes patronais e 10 representantes dos trabalhado-res. Dos 20 membros governamentais, dez têm assento perma-nente no Conselho, representando dez Estados «com importânciaindustrial mais considerável»; os restantes são eleitos trienal-mente pelo grupo dos representantes governamentais da Confe-rência. Os representantes patronais e trabalhadores são, do mesmomodo, eleitos pelos respectivos grupos das entidades patronais edos trabalhadores da Conferência, representando, por isso, noConselho, não os seus países, mas sim todo o grupo da Conferên-cia que os elegeu.

O Conselho reúne três ou quatro vezes por ano; é ele que fixa

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a ordem do dia da Conferência Internacional do Trabalho, nomeiao Director-Geral da Repartição Internacional, e estabelece o or-çamento que é submetido à aprovação da Conferência. Além dissoo Conselho dirige a actividade das várias comissões «de indústria»e outras, das conferências regionais, etc.

A Repartição Internacional do Trabalho, geralmente desig-nada pelas iniciais B.I.T. (do francês: Bureau International doTravail), é o secretariado permanente da O.I.T., órgão executantedas decisões da Conferência e do Conselho, do mesmo passo queconstitui o centro de documentação e investigação. É o B.I.T. queprepara os documentos das sessões da Conferência e das reuniõesdo Conselho, bem como publica diversos periódicos, fornece infor-mações e iconselhos, realiza inquéritos, segue a aplicação dasconvenções, assegura a preparação e a realização das activida-des de assistência técnica aos vários países, etc.

Vista, em linhas gerais, a estrutura da O.I.T., uma nota seimpõe salientar: a sua estrutura tripartida — aspecto que temsido considerado como um factor eficaz de colaboração internacio-nal e explica, em grande parte, a sobrevivência da O.I.T. em re-lação com a Sociedade das Nações. Por outro lado, a actividadeda O.I.T. reveste-se, assim, de uma autoridade particular, atéporque os delegados patronais e dos trabalhadores são indepen-dentes, não tendo que submeter-se à orientação ou voto dos res-pectivos delegados governamentais.

?). A actividade da O.I.T. pode ser considerada, numa pers-pectiva de síntese, em três grandes linhas: criação de normasinternacionais; estudo e confronto de problemas e ideias; assis-tência técnica.

A acção de icriação de normas internacionais de trabalho tra-duz-se, como já foi referido, na adopção de convenções ou derecomendações internacionais acerca dos vários temas que suces-sivamente têm sido considerados. A importância desta acçãopoderá aváliar-se sabendo que o número de convenções ultrapassalargamente a centena, outro tanto sucedendo com as recomen-dações; e que o número de ratificações, por parte dos paísesmembros, destes textos normativos anda à volta de dois mil.

O conjunto das convenções e recomendações aprovadas for-mam um imponente Código Internacional do Trabalho, regular-mente actualizado pelo B.I.T.

As convenções e recomendações são aprovadas por umamaioria de dois terços. As recomendações são textos que consti-tuem um guia de acção para os governos e destiUam-se a acon-selhar a acção governativa no domínio da política social e dotrabalho. As convenções só entram em vigor após terem sidíoratifficadas por um certo número mínimo de países.

As convenções ratificadas devem ser naturalmente observa-

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das pelos países que as ratifitcaram, e a O.LT. controla a suaobservância.

No que toca ao estudo e confronto de problemas e ideias,podem aqui subsumir-se todas as actividades da O.LT. que te-nham por objecto o estudo dos problemas do trabalho e das res-pectivas soluções, nomeadamente através de inquéritos, trabalhosde documentação, publicações, respostas aos pedidos de infor-mações, 'conferências regionais, comissões especiais, reuniões deperitos, etc, etc. Ê de reter, a propósito, a publicação «RevueInternationale du Travail», que além de artigos de fundo forneceresumos de inquéritos e análises de documentos vários, notíciasacerca da legislação do trabalho nos vários países, bibliografiae material estatístico variado.

A assistência técnica realiza-se fundamentalmente através doenvio de peritos para os países que o desejem, com vista ao estudoe solução de problemas concretos relacionados com a política so-cial e de trabalho, bem como através de concessão de bolsas deestudo e organização de estágios.

4. Terminaremos, enfim, esta nota com a indicação das:

CONVENÇÕES INTERNACIONAIS DE TRABALHO RATIFICADASPOR PORTUGAL»

Convenção n.° 1

Convenção n.° 4-

Convenção n.° 6-

Convenção n.° 7-

Convenção n.° 12-

Convenção n.° 14-

Convenção n.° 17-

Convenção n.° 18-

Convenção n.° 19-

-sobre a duração do trabalho (indústria),1919 (ratificada em 1928).

-sobre o trabalho nocturno (mulheres), 1919(ratificada em 1932).

-sobre o trabalho nocturno de menores (in-dústria), 1919 (ratificada em 1932).

-sobre a idade mínima (trabalho marítimo),1920 (ratificada em 1960).

-sobre a reparação de acidentes de trabalho(agricultura), 1921 (ratificada em 1960).

-sobre o descanso semanal (indústria), 1921(ratificada em 1928).

-sobre a reparação de acidentes de trabalho,1925 (ratificada em 1929).

-sobre as doenças profissionais, 1925 (rati-ficada em 1929).

-sobre a igualdade de tratamento (acidentesde trabalho), 1925 (ratificada em 1929).

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Convenção n.° 26

Convenção n.° 27-

Convenção n.° 29-

Convenção n.° 45-

Convenção n.° 68-

Convenção n.° 69-

Convenção n.° 73-

Convenção n.° 74-

Convenção n,° 75-

Convenção n,° 81-

Convenção n,° 91-

Convenção n.° 92-

Convenção n.° 104-

Convenção n,° 105-

Convenção n,° 106-

Convenção n*° 107-

Convenção n.° 111-

- sobre os métodos de fixação de salários mí-nimo®, 1928 (ratificada em 1959).

- sobre a indicação do peso dos grandes volu-mes transportados em navios, 1929 (ratifi-cada em 1932).

-sobre o trabalho forçado, 1930 (ratificadaem 1956).

-sobre os trabalhos subterrâneos (mulhe-res), 1935 (ratificada em 1937).

-sobre a alimentação e serviço de menoresa bordo dos navios, 1946 (ratificada em1952).

- sobre o diploma de capacidade dos cozinhei-ros a bordo, 1946 (ratificada em 1952).

- sobre o exame médico do pessoal marítimo,1946 (ratificada em 1952).

-sobre os certificados de capacidade profis-sional de marinheiro qualificada, 1946 (rati-ficada em 1952).

- relativa ao alojamento da tripulação a bordo(ratificada em 1952).

- sobre a inspecção ão trabalho, 1947 (ratifi-cada em 1962).

- sobre férias pagas aos marinheiros (revistaem 1949), (ratificada em 1952).

-sobre alojamento das triípulações (revista),1949 (ratificada em 1952).

-sobre a abolí&ão de sanções penais (traba-lhadores indígenas), 1955 (ratificada em1960).

-sobre a abolição do trabalho forçado, 1957(ratificada em 1959).

- sobre o descanso semanal no comércio e nosescritórios, 1957 (ratificada em 1960).

-relativa às populações aborígenes e tribais,1957 (ratificada em 1960).

-respeitante a discriminação em matéria deemprego e profissão (ratificada em 1959).

M. P.

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