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FORMAS TUMULARES E PROCESSOS SOCIAIS NOS CEMITÉRIOS BRASILEIROS Antonio Motta Uma das primeiras práticas socioculturais de que se tem notícia é a ocultação do cadáver como meio de preservar os vivos da decomposição de seus mortos. Inumado, queimado, embalsamado, exposto ao ar livre, no cume de montanhas, depo- sitado nas correntezas de rios, exposto para visita- ção, em casa, em funeral home, no drive-up funeral home 1 ou até mesmo em velório virtual, o cadáver é o elemento decisivo e primordial que orienta práti- cas e ritos funerários dos grupos humanos, um dos primeiros registros e testemunhos de sua história. Aliás, foi Robert Hertz um dos primeiros a cha- mar a atenção para o fato de que é o próprio cor- po do morto o objeto sobre o qual a atividade coletiva irá atuar e se exprimir depois da morte, sob formas ritualizadas (Hertz, 1980, p. 90). Nas sociedades ocidentais buscou-se sempre preservar ou guardar os vestígios dos mortos, seja por meio da construção de túmulos monumen- tais, como em algumas civilizações do passado e também nos primeiros cemitérios secularizados, se- ja em suas versões contemporâneas, nos cemité- rios-jardins ou nos cemitérios verticais, nos quais apenas se afixa o nome do morto para identifi- car o local de sepultamento. Atualmente, em sua forma de expressão menos convencional, os vestí- gios do morto são apenas confirmados pela ges- tão afetiva da memória, quando o túmulo não é mais inscrição do corpo a um determinado lugar, quando o cadáver é cremado e suas cinzas, espar- gidas no ar. Os dispositivos funerários e as formas de en- terramento também vêm acompanhando mu- danças significativas nas relações afetivas que os vi- vos estabelecem com os seus mortos. Morrer com o se nasceu, no quarto de casa, cercado pela famí- lia, deixou de ser uma prática comum na maioria das sociedades ocidentais contemporâneas, preferin- do-se submeter a morte e o moribundo à econo- mia de mercado, em clínicas e hospitais, longe dos RBCS Vol. 24 n o 71 outubro/2009 Artigo recebido em novembro/2008 Aprovado em junho/2009

FORMAS TUMULARES E PROCESSOS SOCIAIS NOS ...rentes tipos de morfologias tumulares, como os epitáfios, os adornos e as representações estatuá-rias, constituem elementos reveladores

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FORMAS TUMULARES E PROCESSOS SOCIAISNOS CEMITÉRIOS BRASILEIROS

Antonio Motta

Uma das primeiras práticas socioculturais deque se tem notícia é a ocultação do cadáver comomeio de preservar os vivos da decomposição deseus mortos. Inumado, queimado, embalsamado,exposto ao ar livre, no cume de montanhas, depo-sitado nas correntezas de rios, exposto para visita-ção, em casa, em funeral home, no drive-up funeral home1

ou até mesmo em velório virtual, o cadáver é oelemento decisivo e primordial que orienta práti-cas e ritos funerários dos grupos humanos, um dosprimeiros registros e testemunhos de sua história.Aliás, foi Robert Hertz um dos primeiros a cha-mar a atenção para o fato de que é o próprio cor-po do morto o objeto sobre o qual a atividadecoletiva irá atuar e se exprimir depois da morte,sob formas ritualizadas (Hertz, 1980, p. 90).

Nas sociedades ocidentais buscou-se semprepreservar ou guardar os vestígios dos mortos, sejapor meio da construção de túmulos monumen-

tais, como em algumas civilizações do passado etambém nos primeiros cemitérios secularizados, se-ja em suas versões contemporâneas, nos cemité-rios-jardins ou nos cemitérios verticais, nos quaisapenas se afixa o nome do morto para identifi-car o local de sepultamento. Atualmente, em suaforma de expressão menos convencional, os vestí-gios do morto são apenas confirmados pela ges-tão afetiva da memória, quando o túmulo não émais inscrição do corpo a um determinado lugar,quando o cadáver é cremado e suas cinzas, espar-gidas no ar.

Os dispositivos funerários e as formas de en-terramento também vêm acompanhando mu-danças significativas nas relações afetivas que os vi-vos estabelecem com os seus mortos. Morrer como se nasceu, no quarto de casa, cercado pela famí-lia, deixou de ser uma prática comum na maioriadas sociedades ocidentais contemporâneas, preferin-do-se submeter a morte e o moribundo à econo-mia de mercado, em clínicas e hospitais, longe dos

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Artigo recebido em novembro/2008Aprovado em junho/2009

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olhos, do que conservá-lo no interior do convíviodoméstico. É certo que nas chamadas sociedadestradicionais havia uma maior proximidade e familia-ridade social com a morte, reforçada mediante ati-vidades simbólicas diversas que favoreciam a repe-tição de formas ritualizadas, propiciando aquilo aque Marcel Mauss se referiu como sendo “expres-sões obrigatórias de sentimentos” e que, por suavez, contribuíam para a construção coletiva das re-lações sociais (Mauss, 1921).

O mesmo não se observa em relação à drama-turgia contemporânea da morte, com seus ritos elugares de enterramento, que cada vez mais confe-rem ao protocolo lúgubre o caráter de simulacroou de dissimulação, em que o morto é privado desua própria morte e a família, do luto. E o que di-zer dos vestígios do morto, dos túmulos e dos dis-farces com que os vivos se compraziam em eterni-zar seus desaparecidos, por meio de costumes epráticas mortuárias que no passado desempenha-ram um papel importante no campo ritual e naconfiguração do espaço de enterramento?

Os novos espaços cemiteriais parecem refletirum outro tipo de realidade: superfícies gramadas,com jardins que mais se assemelham à imagem doÉden e sua eterna primavera, parques temáticos es-petacularizados que conferem ao espaço do mortoa inequívoca marca do kitsch funerário high tech ou,ainda, luxuosos edifícios, de altos andares, que abri-gam os lugares para enterramento individual, equi-pados com os mais modernos recursos tecnológi-cos para o conforto e bem estar da família do morto,muitas vezes a se confundir em seu aspecto exteriorcom verdadeiros prédios de apartamento ou ho-téis de luxo.

Neles há também um elemento comum: nãohá referência explícita à morte, nem tampouco aomorto. A preocupação com o espaço, antes de tudo,é torná-lo aparentemente contraditório com aquiloque efetivamente se destina a oferecer: as inuma-ções ou cremações. Em vez das evidências alegóri-cas encontradas nos antigos cemitérios oitocentis-tas, com seus cenários operáticos, de convulsivadramaticidade, o que os novos espaços de enterra-mento se propõem é diluir todo e qualquer resquí-cio da morte. Quanto menos evidente, mais distan-te é a idéia da morte, quanto mais nega-se a morte,

menor é a força de sua alteridade e a grandeza desua atração, concebidos na busca de “apagar noMorto o grande castigo da Morte”.2

Todavia, o que o leitor encontrará neste ensaionão é nenhuma reflexão teórica ou hitórica sobre amorte, nem sobre suas formas de expressão ritua-lizadas mais conhecidas: de dor, de sofrimento oude aflição, tampouco sobre a dimensão transcen-dental, escatológica ou religiosa, que indivíduos egrupos sociais preferem atribuir à finitude. O querealmente interessa e mobiliza o foco desta análise éo corpo do morto e o tratamento social a ele dis-pensado, apreendidos a partir de lógicas particula-res de sepultamento. De que maneira se pode ler eentender atitudes e significados sociais a partir de umsistema de objetos funerários, isto é, através de ves-tígios materiais encontrados nos cemitérios? Nãose trata de substituir enunciados por objetos ou vice-versa, mas identificar e localizar na cultura materialfunerária elementos que possibilitem dar sentido esignificado à linguagem social de uma determinadaépoca, ao mesmo tempo em que permitam enten-der suas diferentes dinâmicas socioculturais. Tantoas práticas de enterramento, concebidas sob dife-rentes tipos de morfologias tumulares, como osepitáfios, os adornos e as representações estatuá-rias, constituem elementos reveladores da organi-zação social, das representações de mundo e de pes-soa. Quando submetido à leitura, os dispositivosfunerários plasmado nos túmulos permitem tradu-zir não só acomodações e equilíbrios, mas tambémtensões e mudanças operadas no contexto de umgrupo específico ou no corpo social mais amplo;assim como é também capaz de revelar atos insti-tucionais e de condutas sociais e morais diversos,tendo sempre como preocupação dar sentido e sig-nificado a alguma coisa.

No passado os mortos foram objeto de inte-resses e de cuidados específicos, hoje relegados uns,esquecidos e ignorados outros, o que se converteem importante dispositivo heurístico para se com-preender as dinâmicas sociais aqui analisadas. Oscemitérios oitocentistas brasileiros foram o campoprivilegiado onde se realizou esta pesquisa: São JoãoBatista, Cemitério da Ordem Terceira dos Mínimosde São Francisco de Paula (Catumbi), Cemitério daOrdem III de São Francisco da Penitência, Cemité-

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rio da Ordem III de N. S. do Carmo, Cemitério deSão Francisco Xavier (Caju), todos no Rio de Janei-ro; Cemitério da Consolação e Cemitério do Ara-çá, em São Paulo; Cemitério de Santo Amaro, noRecife; Cemitério do Campo Santo, em Salvador;Cemitério de Nossa Senhora da Soledade e Cemi-tério de Santa Isabel, em Belém; Cemitério de SãoJoão Batista, em Manaus.

Neles, a principal característica é a preservaçãoe a conservação dos vestígios do morto, materiali-zados nas construções grandiosas, decoradas comrepresentações estatuárias e outros adereços. A pre-sença de túmulos monumentais constitui por ex-celência a afirmação de uma posse simbólica doespaço cemiterial por parte de determinados seg-mentos burgueses da sociedade brasileira, na se-gunda metade do século XIX, que reivindicarampara si suas singularidades de classe pela recom-posição dos liames familiares e, posteriormente, jános primeiros decênios do século XX, pela pro-gressiva individualização de seus membros em tú-mulos personalizados.

Em outras palavras, isso significa dizer que,quando surgem os primeiros cemitérios brasileiros,na segunda metade do século XIX, o que se vainotar é um crescente interesse por parte de algumasfamílias em construir o próprio túmulo, nele reu-nindo seus descendentes diretos com o intuito deperpetuar a cadeia geracional. Por sua vez, o cultoda memória era freqüentemente motivado pelodesejo de manter presente o morto no jazigo dogrupo familiar, o que, de certo modo, reiterava aidéia de ser aquele lugar a continuidade da casa ouequivalente simbólico de unidade residencial da fa-milia conjugal.

Nos primeiros decênios do século XX inicia-seuma significativa mudança nos hábitos de en-terramento e, com ela, novas formas de morfolo-gia tumular irão gradativamente marcar os espa-ços cemiteriais, refletindo-se também no plano dasrepresentações e das atitudes que os vivos passama dedicar aos seus mortos. É dessa época o gos-to pelo túmulo individualizado, construído espe-cialmente para abrigar um único indivíduo, com ointento de evocar traços reveladores da pessoa domorto, traduzido como expressão de afeto parti-cularizado.

Espaço do morto e distinção

[...] o morto mais se inaugura do que morre, e duplamente: orasua própria estátua ora seu próprio vivo[...].

JOÃO CABRAL DE MELO NETO

Por volta do final da segunda metade do séculoXIX, o gosto pela sepultura individualizada tornou-se importante referência para as elites brasileiras ur-banas, que logo se adaptariam aos novos padrõesde uso e apropriação dos espaços cemiteriais, as-sim como de suas lógicas de enterramento. Haviaalguns anos já construídos, os primeiros cemitériosbrasileiros secularizados passaram a concorrer en-tre si pela grandiosidade e luxo exibidos na cons-trução de seus túmulos e jazigos. Cada um a seumodo tentou atrair para seus quadros de sepulta-mento as camadas mais afortunadas ligadas ao pa-tronímico de velhas famílias que gozavam de prer-rogativas econômicas e políticas decorrentes docomércio, da produção escravista, do latifúndio ede cargos importantes no poder. Anos mais tarde,seria a vez das novas fortunas, procedentes do capitalfinanceiro especulativo, da indústria, de profissõesliberais, assim como outros setores das camadasurbanas que surgiam nas principais capitais do país.

Enquanto o Cemitério da Ordem Terceira dosMínimos de São Francisco de Paula, no Bairro doCatumbi, no Rio de Janeiro, inaugurado em 1850,tornara-se o lugar predileto para o sepultamentoda elite nobiliárquica do Império, com seus mar-quezes, condes, barões, conselheiros, comendado-res, tenentes-coronéis e outros titulares da guardanacional, além de proprietários de terras e de escra-vos, o Cemitério de São João Batista, construídoem 1852, no bairro de Botafogo, ocupou esse pa-pel durante a República, acolhendo figuras impor-tantes da vida pública do país: políticos, chefes deEstado, banqueiros, prósperos comerciantes, do-nos de renda, humanistas, militares, bem como seg-mentos da nova burguesia endinheirada da época(ver Valladares, 1972).

Mas, independentemente das afinidades eletivas,religiosas ou preferências político-ideológicas naescolha dos cemitérios, o fato é que tanto um quan-to o outro foram exemplos privilegiados de repre-sentações diversas que as camadas mais abastadas

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buscaram construir sobre si mesmas por meio deedificações tumulares grandiosas, mediante as quaismarcaram sua posição de classe e referendaram aorigem de suas genealogias familiares. O processode diferenciação e distinção nas formas de enterra-mento se reproduziu igualmente em três outros ce-mitérios do Rio de Janeiro. O primeiro deles é oCemitério da Ordem III de S. Francisco da Peni-tência, inaugurado em 1858, que se manteve maishierarquizado quanto ao perfil de seus usuários, namedida em que priorizou para sepultamento osmembros da referida irmandade, entre os quais sedestacavam muitos nomes conhecidos da Repúbli-ca. O mesmo se poderia dizer do Cemitério daOrdem III de N. S. do Carmo, que passou a funcio-nar em 1857, reunindo uma clientela nobiliárquicaproveniente tanto do Império como da República,além de destacadas figuras ligadas às novas profis-sões liberais. Já o Cemitério de São Francisco Xavier,também no Bairro do Caju, inaugurado em 1851,possuía uma freguesia bastante diversificada, com-posta por alguns nomes importantes da vida públicada época e também de profissões liberais, todavia,atraindo em bem maior número segmentos reme-diados e pobres da população.

Provavelmente, por ser na época o Rio de Ja-neiro a capital do país e, portanto, o centro de arti-culação do poder e das decisões políticas, teve igual-mente o privilégio de abrigar o maior número decemitérios, quando comparado a outros centrosurbanos. Isto não quer dizer, todavia, que em ou-tras capitais os cemitérios não constituíssem priori-dades no processo de modernização e de transfor-mação da malha urbana, reflexo evidente daspolíticas de salubridade que foram amplamenteadotadas e difundidas na segunda metade do séculoXIX. Além disso, não se deve rejeitar a íntima rela-ção entre alguns ciclos econômicos, que impulsio-naram o crescimento de determinados centros ur-banos do país, e a construção dos novos cemitérios.

O resultado mais concreto do processo de abur-guesamento da sociedade brasileira, notadamentenos primeiros decênios do século XX, manifestava-se de forma mais evidente no Cemitério da Con-solação, na capital paulista, construído em 1856,considerado o mais tradicional da cidade por reunirtanto a velha elite, oriunda da burguesia quatrocentona

cafeeira, como os novos empreendedores imigran-tes no início do século XX. É preciso, todavia, assi-nalar que este cemitério conheceu fases distintas. Naprimeira, preponderam os túmulos da nobiliarquialatifundiária, tanto da época do Império, como daRepública. Na segunda, sobressaem os mausoléuse as sepulturas monumentais de propriedade degrandes fortunas da indústria e do comércio, a maio-ria de origem imigrante. Diante desse quadro, osjazigos mais antigos, de cantaria portuguesa e italia-na, de estruturas mais sóbrias e convencionais, ca-racterísticos da primeira fase, foram ofuscados peloluxo e a ostentação das construções tumulares pos-teriores, coincidindo com o apogeu do bronzecomo material de expressão artística.3

Não se observa tal fenômeno na mesma pro-porção e intensidade em outros centros urbanosdo país, que somente por algum tempo chegarama conhecer um período de relativa ascensão econô-mica, como foi o caso de Salvador e Belém, já queo Recife teve sua fase de maior apogeu econômicona transição do século XVIII para o século XIX.Nesses cemitérios o que se nota, entre outras coisas,são os jazigos imponentes, em mármore, da fasede consolidação que, em geral, vai de 1870 a 1900.Nos anos subseqüentes à sua inauguração, em 1851,o Cemitério de Santo Amaro, no Recife, passou aaglutinar um número significativo de nomes proce-dentes da velha burguesia rural, embora já em fran-ca decadência, o que se reflete em muitas de suasconstruções tumulares de pequeno e médio porte,com parcos atrativos esculturais ou referências ale-góricas. Mas nele há também notáveis exceções,destacando-se pela suntuosidade e imponência al-guns mausoléus de propriedade dos chamados“barões do açúcar”, proprietários latifundiários nazona do cultivo açucareiro. Processo análogo ocor-reu em Belém, no Cemitério de Nossa Senhora daSoledade, inaugurado em 1853, atualmente desati-vado, que reuniu na época expressivos nomes liga-dos ao ciclo da borracha, assim como alguns tú-mulos construídos especialmente para abrigar osprincipais líderes da Cabanagem. Também na mes-ma cidade, o Cemitério de Santa Isabel, inaugura-do em 1870, desempenhou papel importante napreservação da memória das camadas mais afortu-nadas, isto porque na época ainda reuniu alguns

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“barões da borracha”, além de magistrados, co-mendadores, proprietários de ricos jazigos impor-tados da Europa, os quais margeiam principalmen-te o eixo de sua entrada principal. Repetindo omesmo processo de ostentação, o Cemitério doCampo Santo, em Salvador, por volta de 1855 pas-sou a ser o local predileto de sepultamento das eli-tes fundiárias baianas, de altos comerciantes e dedestacados nomes ligados às profissões liberais e àpolítica, sobressaindo alguns túmulos monumentais,muitos deles encomendados aos marmoristas deLisboa, sobretudo no período entre 1855 e 1870.

Em vez do modelo anglo-saxônico, conheci-do como cemitério jardim ou rural cemetery, no Bra-sil o esquema do urbanismo funerário seguiu deperto a orientação européia, repleto de estatuárias ede réplicas em miniatura inspiradas em construçõespassadas, para o qual o Père Lachaise e o Staglienoconstituíam referências importantes. Dentro dessalinha de intenção e execução, os planos urbanísticosdos primeiros cemitérios brasileiros seguiram osmodelos convencionais em voga na Europa, varian-do de acodo com a topografia em que foram eri-gidos. Visto no conjunto, o esquema predominanteé o do traçado dividido em quadras regulares, en-trecortadas por grandes alamedas e pequenas ruas,geralmente centrado por um cruzeiro ou capela deonde parte o eixo monumental ou central. Nesseeixo ou no seu entorno situam-se os mausoléus maisantigos e também os ossuários, em forma de urnasou de obeliscos, transportados das igrejas para osnovos locais de enterramento secularizados.

Como na cidade dos vivos, a desigualdade tor-nara-se ainda mais flagrante no espaço póstumo.Havia os bons e os maus lugares. Os mais caros ecobiçados, situados nas grandes alamedas ou ave-nidas centrais, cuja presença era notada e admiradapor todos os que chegavam ao local, eram destina-dos àqueles que podiam pagar mais para ter o pri-vilégio de um lugar especial e também de uma con-cessão perpétua, isto é, um patrimônio materialtransmissível como qualquer um outro: uma casa,um terreno, ou outros bens imóveis. Já os lugaresmais recônditos, situados nas extremidades ou qua-dras laterais desses cemitérios, destinavam-se aos quetinham um poder aquisitivo menor, muitas vezessem a concessão de transmissão.

Todo o esforço de agregar elementos escultó-ricos aos túmulos refletia não só o desejo de dife-renciação por parte da família do morto, por meioda individualização do túmulo, marca distintiva deum patronímico, mas era também revelador de umasignificativa mudança em relação aos hábitos e àsexpectativas diante da morte. Por volta da segundametade do século XIX, as visitas aos cemitériospassaram a ser cada vez mais freqüentes e, com elas,o culto dos túmulos tornava-se prática familiar, aum só tempo afetiva e reputada como de boa con-duta moral, sendo popularizadas por meio de crô-nicas e outros gêneros literários. Ciosas de seus pri-vilégios, as camadas mais bem providas da épocalevaram às últimas conseqüências o projeto de ma-terialização unicitária do túmulo, fosse ele individualou de família, projeto influenciado na época poruma política de pacificação da morte que contem-plava o respeito pelos rituais, individualização doluto e visitas freqüentes ao cemitério. E não é porcoincidência que nessa época os túmulos de família,sob forma de capelas, conheceram o apogeu má-ximo nos cemitérios brasileiros, obrigando muitasvezes o indivíduo a abdicar de sua própria expres-são de individualidade para se integrar ao grupofamiliar, sob o pretexto de solidariedade e coesão,tendo como ancoragem principal o patronímicogravado com destaque no frontispício do jazigo,pois, de agora em diante, “não é mais a alma que éindestrutível, porém, a família, o sobrenome” (Ra-gon, 1981, p. 102).

Mortos em família

Tout graphéme est d’essence testamentaireJACQUES DERRIDA

O epitáfio diz tudoMACHADO DE ASSIS

Como toda marca, ou pedra de fundação, otúmulo é signo de uma inscrição primeira: marca,traço, escrita, origem. Não é por acaso que em gre-go a palavra sema, ao mesmo tempo, serve paradesignar signo e pedra tumular.

Construído em torno de um nome, geralmen-te do pai, o túmulo de família inscreve o indivíduo

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num passado comum, unindo-o a uma cadeia degerações. É por isso que o morto deve abdicar partede sua individualidade para se agregar a um nomeou sobrenome: o da família. O que prevalece nessetipo de construção é a idéia do todo sobre as par-tes, buscando fortalecer laços entre os membros dafamília e, por sua vez, despertando nos vivos o sen-timento de uma identificação comum, freqüente-mente relacionada com uma casa ou unidade resi-dencial, mesmo que esta já não mais exista.

O que se vê nas versões mais elaboradas dessestúmulos é o desejo de unidade e continuidade quese impõe em face da segmentação e dispersão de-pois da morte, evitando, com isso, que os sepulta-mentos fossem realizados separadamente. Neles nãoimporta o indivíduo isolado do seu grupo de filia-ção, mas o sujeito social genérico, constituído a par-tir da referência a um antepassado ou herança co-mum à qual se liga através de relações com seusascendentes e descendentes.

Neste caso, o seu objetivo primordial seria reu-nir e conservar, depois de mortos, os membros per-tencentes a uma mesma unidade familiar, podendoser também extensivo a parentes secundários, a de-pender de cada caso. Os que ali se encontram se-pultados abrigam-se sob um mesmo patronímico,gravado em lápide: dispositivo simbólico equiva-lente à coesão do grupo.

Do mesmo modo que nos cemitérios euro-peus, no Brasil também houve uma recepção posi-tiva em relação aos túmulos de família, sobretudodepois de 1870. Tal morfologia recebeu interpreta-ções diferenciadas, variando de acordo com as con-vicções de gosto e de classe social, algumas delascom referências cristãs, outras mais laicizadas, poden-do variar também de estilos que iam desde as co-nhecidas capelas, passando por formas piramidais,reinterpretações de monumentos assírio-babilôni-cos, neogóticos, renascentistas, templos neoclássicos,ecléticos, de transição, até versões proto-modernas,depois substituídas pelas modernistas.

A referência tumular geralmente era determi-nada pela linha paterna, transmitida aos filhos, ne-tos e bisnetos, podendo o sobrenome vir gravadomuito discretamente ou visivelmente no frontispíciodo túmulo. Em muitos casos, o indicativo resumia-se apenas a um patronímico, como por exemplo:

“Família Vaz Carvalhaes”, “Família Carapebus”, “Fa-mília Nioac”, “Família De Mauá”, “Sepultura daFamília Agra”, “Família S. Clemente”, “FamíliaGuinle”, “Família Chamma”.

Mas há também um detalhe importante que,de certa maneira, modificava a configuração ono-mástica do jazigo de família. Em alguns casos, emvez do sobrenome genérico de família, o que setornava marca distintiva da inscrição tumular, era opróprio nome do pai e do marido fixado como aprincipal referência dos que ali se encontravam se-pultados como, por exemplo, Jazigo Perpétuo deJosé Borges de Figueiredo e sua família. Vale salien-tar que tal referência geralmente dizia respeito à famíliaconjugal, antes do matrimônio dos filhos, confor-me exemplos freqüentes de nominação encon-trados: “Jazigo Perpétuo de José Gomes de Pinho esua Família”, “Jazigo Perpétuo de Bernardo José daCunha e sua Família”, “Jazigo Perpétuo de JoaquimTeixeira de Carvalho e sua Família”.

Entretanto, após a dispersão dos filhos e o es-tabelecimento de novas famílias conjugais, as lógicasde enterramento estavam também sujeitas a modi-ficações. Em muitos casos, os filhos varões estabe-leciam novo túmulo de família, mantendo, todavia,o patronímico paterno. Há também situações emque os filhos preferiam criar novos segmentos, ado-tando uma referência patronímica secundária, adqui-rida por linha materna. Nessa linha de transmissão,a escolha de um sobrenome de referência na vidapública era, em algumas situações, medida pelo graude prestígio que este chegava a adquirir, sendo, natu-ralmente, avaliado em função do benefício que tra-ria à sua descendência. Nesses casos, isso tambémpassava a orientar a lógica de adoção e inclusão dopatronímico na construção de um novo túmulo.

Para este modelo de enterramento, observa-seo desejo de uma inscrição social baseada na aquisi-ção de um novo status, seja por meio da riqueza, daposição social alcançada, seja, ainda, por meio dostítulos nobiliárquicos, como foi de praxe durante oImpério, parte da República e no início do séculoXX, conforme se pode encontrar em alguns tú-mulos: “Jazigo Perpétuo de Barão do Amparo esua Família”, “Sepultura Perpétua da família Barãode Andaray, Visconde de Andaray”, Jazigo Perpé-tuo do Barão de Silveiras e sua Família”, “Jazigo

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perpétuo dos Barões de Mangaratyba e seus des-cendentes”, “Família do Conde de São Joaquim”,“Jazigo da Família do Barão da Limeira”.

No vasto quadro da onomástica tumular, ob-serva-se a presença de alguns “nobres”, de “ricos”,“novos ricos”, cada qual à sua maneira reinventan-do suas próprias raízes genealógicas. Entretanto,qualquer que fosse o caso em particular, era sempreum único indivíduo a ser valorizado. Para essas si-tuações, o que de fato predominava era a prefixa-ção do título honorífico representado sempre poruma referência individual da qual deveriam se be-neficiar os seus descendentes. Já para outros pro-prietários de jazigos o que deveria prevalecer era opatronímico, respaldado no peso e na importânciade uma profissão ou de uma tradição herdada. Noinício do século XX, em plena expansão de umasociedade de classes, começava a ser invocado naepigrafia tumular o reconhecimento advindo dacompetência pelo trabalho e por mérito pessoal,muitas vezes adquirido em atividades laborais ouhumanísticas.

O conjunto de dados onomásticos reunidos naslápides, repetidas vezes, apelava à banalizada árvo-re genealógica, servindo tanto para avigorar as rela-ções de parentesco como rememorar o grau deprestígio social de uma determinada família. Noentanto, não se deve esquecer que toda memóriagenealógica irrompe à medida de sua própria con-veniência, podendo também revelar-se através deoutras interfaces, como lapsos, esquecimentos, res-trições, seletividade. Afinal, não se recorda senãodaqueles por que se tem interesse, pois, entre osantepassados há sempre o fascínio de se escolheraquele com quem se deseja identificar e, volta e meia,tal escolha é determinada pelo prestígio de um nome.

O lugar dos antepassados na cadeia genealó-gica, por razões óbvias, sempre ocupou um papelimportante entre a aristocracia francesa, ao passoque para os segmentos burgueses o exercício genea-lógico, em muitos casos, não possuía nenhum inte-resse ou uma ação efetivamente prática. Mesmoassim, como já observou o historiador francês An-dré Burguière (1991), algumas famílias burguesasdo séculos XVII e XVIII buscaram reconstituir ou,de certo modo, reinventar suas raízes genealógicas,manipulando suas origens conforme seus propósitos

e necessidades, com o intuito de criar novas identi-dades em razão do novo status socioeconômicoadquirido. Para isso, preferiram realçar supostossinais nobiliários do que exibirem o dinheiro comovalor conquistado pelo esforço do trabalho – jáque este último se tornara apanágio da burguesiada época.

Como ainda hoje se pode ver na maioria dostúmulos dos cemitérios aqui referidos, a epigrafiaonomástica orienta-se pela ordem cronológica doóbito, resumindo-se apenas a informar o nome e osobrenome do indivíduo, a data de nascimento efalecimento, acrescidos eventualmente de informa-ções suplementares sobre a personalidade do mor-to. Além disso, a lógica de sepultamento, no interiorde um túmulo de família, a maioria das vezes eraorientada pelo princípio da consangüinidade, po-dendo nele reunir os ascendentes e os descendentesem linha direta (pai, mãe, filhos, avô e netos).4 Adepender do caso, encontram-se incluídos algunsafins ou aliados. Em qualquer das hipóteses é pou-co provável a existência de sepultamentos dos fi-lhos oriundos de relações extras conjugais no inte-rior desses jazigos, exceto quando são reconhecidoscivilmente ainda em vida pelo pai ou quando con-signados em testamento.5 Viúvas que contraírammatrimônio posterior, e com filhos do primeirocasamento, eram geralmente enterradas no túmulode família erguido pelo primeiro marido ali sepul-tado. O mesmo não se verifica após a morte docônjuge masculino de segundo casamento, que ge-ralmente era sepultado no túmulo da família pater-na ou em túmulo individual. Na hipótese de umasegunda união conjugal resultar em filhos comuns,a responsabilidade de decidir pelo enterramento dopai e padrasto no túmulo de família, herdado pelamãe na primeira união conjugal, caberia geralmenteaos filhos mais velhos.6 Quando se tratava de indi-víduos solteiros, ou eram sepultados em túmulosindividuais ou se integravam ao jazigo de sua famí-lia de origem.

Com efeito, todo esse argumento, que apontapara o desejo de distinção, possessão material, re-produção e conservação de uma memória fami-liar, poderia ser também corroborado por outraimportante variante ou representação do túmulo,isto é, uma possível analogia entre a casa e o jazigo.7

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Quando a convivência e a familiaridade com osmortos deixaram de existir, quando estes foram le-vados para fora das cidades, sendo obrigados adeixar as igrejas e seus entornos, para os cemitérios,os túmulos passaram a preencher esse espaço ante-riormente ocupado pela igreja. Como se sabe, erano interior desses templos, sobre um chão de adu-bado humus cadavérico e sob a guarda de um tetodivino, pintado de carregadas nuvens e de arcanjossuspensos, que a coletividade compartilhava momen-tos de intensa sociabilidade, não somente irmanadapor crenças e devoções comuns, como tambémpelos rituais que celebravam: batizados, casamen-tos, aniversários de vida e de morte, confissões,comunhões, cíclos festivos e religiosos, procissões,velórios etc. Nos cemitérios, distantes de suas casase igrejas, de suas paróquias, à céu aberto, os mortosencontrariam abrigos nos túmulos. Por isso, muitosdeles reproduziram cenários de igrejas e de capelas,em escalas reduzidas, enquanto outros, com mor-fologias laicizadas, assemelhavam-se às residênciasde seus proprietários. Mas àquela altura não se tra-tava apenas de assegurar ao morto um lugar nocéu, mas garantir também um lugar na terra, sob aproteção de uma coberta, aos cuidados da família,para lhe proteger das intempéries, e também resguar-dar a imagem de conservação do corpo. Nos túmu-los acumulavam-se cadáveres, um ao lado do outroe não sobrepostos, cada um conservando parte desua individualidade, mas sempre invocando lembran-ças comuns, memórias genealógicas, pois os túmu-los passaram a ser também habitações familiares.

Se considerada dessa perspectiva, a casa e otúmulo de família cumpriam praticamente funçõesanálogas, podendo ser interpretados como o lugarem que se reproduzia e se perpetuava o grupo fa-miliar através de sucessivas gerações, asseguran-do-lhes a transmissão de um sobrenome, de bensmateriais e imateriais, relações de poder, de autori-dade e de hierarquia. Enquanto a casa poderia servista como locus de socialização da família, sendo,em alguns casos, capaz de reunir ao longo do tem-po sucessivas gerações, integrando-as por meio decampos rituais diversos (nascimentos, batizados, for-maturas, casamentos, aniversários, mortes, velórios,participação coletiva na elaboração do luto etc.), otúmulo, por sua vez, reproduzia no plano imagético

o desejo de reunificar e perpetuar diferentes mo-mentos de expressões coletivas da família e, comisso, fortalecer com sua dimensão simbólica o pac-to de continuidade dos laços de parentesco entreseus membros. Visto desse ângulo, e a partir dasbases sobre as quais se estruturavam as relações fami-liares, a morte do pai poderia também representaruma fratura econômica determinante na organiza-ção social do grupo familiar, interferindo igualmenteno plano afetivo das relações domésticas. Quandoisso ocorria, acarretava efeitos variados, podendodesencadear o processo de dissolução da famíliapatriarcal, seja por meio de desavenças na partilhaeconômica dos bens, seja por meio de divergênciasna escolha de interesses e valores a ser seguidos. Mas,se de um lado a morte do pai era sempre umaameaça, pois representava em certa medida a de-sarticulação econômica do grupo, interferindo in-clusive na redefinição de novos papéis entre seusmembros, de outro lado, era no túmulo onde sebuscava corporificar, como espaço de representa-ção, conservação e “presentificação” do morto, areintegração de laços familiares e a neutralização deeventuais conflitos entre seus membros, uma vezque a casa já não mais conseguia cumprir tal papel.

Várias são as semelhanças entre as suntuosascasas senhoriais nas fazendas de café do Vale doParaíba do Sul – algumas destruídas, outras atual-mente sob domínio de estranhos – e os jazigos nãomenos opulentos de seus respectivos proprietários,muitos deles resistindo à ação do tempo, o que sepode comprovar ainda hoje nos cemitérios do Riode Janeiro, especialmente no Catumbi, e na capitalpaulista, no Cemitério da Consolação.

Neste último cemitério, já em outro contextoeconômico, um exemplo significativo do que sepretende enunciar é o túmulo do proprietário defazendas cafeeiras, importador e empresário, o“Conde Alexandre Siciliano e de seus descenden-tes”, em mármore branco, de autoria do escultorAmadeu Zani. Trata-se de uma reinterpretação decapela em estilo assírio-babilônico, encimada porfigura alegórica no pórtico e vários detalhes leoni-nos, inclusive a presença de dois grandes leões guar-diões que margeiam a entrada principal do mauso-léu, símbolo de vigilância, muito freqüente nas casassenhoriais. Mas o que interessa destacar é a afinidade

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do túmulo com a residência do referido Conde,projetada, em 1896, pelo arquiteto Ramos de Aze-vedo, na Avenida Paulista. Talvez, o detalhe maispeculiar seja a transposição do universo domésticopara o espaço mortuário, como a presença de umacadeira que o Conde costumava utilizar no seu co-tidiano, com talha de sua heráldica no espaldar, bemcomo outros objetos decorativos.

Da Avenida Paulista já não resta quase nada daépoca de seu apogeu econômico, então dominadapelas vivendas da burguesia afortunada, cujo capi-tal acumulado com o café era investido na produ-ção industrial. A maioria de suas residências con-verteu-se em vistosos edifícios empresariais, mas amaior parte dos jazigos, pertencente aos antigosproprietários das velhas casas, ainda continua vivotestemunho de memórias familiares.

A casa do Conde Francisco Matarazzo e desua família, um dos ícones da indústria brasileira,construída em meio a uma área de aproximada-mente 12 mil metros quadrados, projetada pelosarquitetos italianos Giulio Saltini e Luigi Mancini,com o destacado brasão de família gravado no fron-tão principal da residência, atualmente abriga umenorme estacionamento, depois de sua demoliçãona década de 1980. Paradoxalmente, se o terrenodessa emblemática vivenda de família endinheira-da, que foi no passado, converteu-se temporaria-mente em grande garagem para carros, enquantoos herdeiros especulam sua venda, o mausoléu dafamília, no Cemitério da Consolação, parece cum-prir o desejo de seu antepassado fundador, preo-cupado em eternizar sua linhagem. Ademais, a nar-rativa mítica de imigrante italiano bem-sucedido,com título nobiliárquico extensivo a cada um dosseus filhos varões, coaduna-se perfeitamente como partido arquitetônico que orientou a construçãodo faraônico mausoléu, erigido em 1925, com pe-ças em bronze de autoria do escultor genovês LuigiBrizzolara, e que até hoje cumpre o desígnio dopoderoso chefe de família que pretendia reunificare proteger o núcleo formado por seu nome, espo-sa e filhos, incluindo sua genitora. Com enormecripta no subsolo, galerias laterais e capela no nívelda rua, a construção de volume compacto ocupauma área de mais de 150 metros quadrados de cons-trução em blocos de mármore genovês, da oficina

L. Brizzolara, transportado de navio e remontadono local. Destaca-se dos demais pela exagerada es-cala, cujo ponto mais elevado ultrapassa os 15 me-tros do solo, onde se descortina o brasão da família.

Embora essa lógica de sepultamento tivessecomo função precípua cultuar a memória dos an-tepassados, quase sempre conjugada a outros in-teresses do grupo, permitia também aos membrosvivos da família se distinguirem socialmente a par-tir do habitat póstumo de seus parentes. Não se podeesquecer que a morte no mundo burguês, alémde sua dimensão dramática, é também transmis-são de um patrimônio, de uma herança, quandonão material, simbólica. Por essa razão, no túmu-lo de família se configurava não apenas o desejo decontinuidade e de perpetuação dos laços familiares,como igualmente se exibiam, por meio de sua ar-quitetura, na maioria das vezes suntuosa, signos declasse, marcando, assim, a posição social do mortoe de seus descendentes.

Toda essa empreitada simbólica em eternizar afamília surtia importante eficácia no plano intersub-jetivo da recomposição de relações familiares, poisos túmulos possibilitavam aos membros de umafamília, a depender de interesses particulares, se re-conhecerem entre si, através de uma memória ge-nealógica comum, ao mesmo tempo em que per-mitiam reconstituir e atualizar entre eles laçosidentitários, conforme fosse o caso. Mesmo se le-vando em consideração a descontinuidade de se-pultamentos entre gerações, alguns desses jazigos,precários em seu estado atual de conservação, con-tinuam ainda hoje, pelo menos no plano simbólico,representando esse último lugar mais perene atra-vés do qual algumas famílias ainda se permitem dis-farçar os efeitos da decadência econômica, uma vezque seus bens materiais, incluindo as velhas residên-cias, não suportaram as dinâmicas de transforma-ção do sistema.

Conquanto a analogia entre cemitério e familis-tério fosse bem mais evidente durante toda a se-gunda metade do século XIX, apesar disso, já sepodia observar nos últimos decênios desse mesmoséculo algumas das primeiras manifestações de in-dividualidade, com renúncia pessoal de se integrarao grupo de filiação, prática que se tornaria aindamais freqüente nos primeiros anos do século XX.

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Assim, alguns túmulos suntuosos seriam construí-dos especialmente para abrigar uma única pessoa,ornados de representações alegóricas para marcare eternizar a sua presença. A partir de então, cadavez mais, já não é a família que se tornava imperecí-vel, tampouco o sobrenome, porém, o indivíduo.

À flor da pedra

j’écris, je ne veux pas mourirGEORGES BATAILLE

Écrire, c’est se souvenir. Mais lire, c’est aussi se souvenirFRANÇOIS MAURIAC

Se o modelo de enterramento da família bur-guesa conheceu o seu apogeu durante a segundametade do século XIX, com a “panteonização” deseus membros, por outro lado, foi nos primeirosdecênios do século XX que insurgiu o culto ao indi-víduo e sua contrapartida narcisista: os primeirostúmulos desvinculados de genealogias familiares. Éem torno do indivíduo – que ora se complementa,ora se separa do núcleo familiar – que iriam se or-denar outras possíveis lógicas de sepultamento e,por sua vez, determinar a configuração arquitetôni-ca dos novos túmulos, assim como também o cam-po de representações por meio do qual se expri-mem as aspirações e as atitudes dos vivos em relaçãoaos mortos.

Não que a família tenha desaparecido nessenovo modelo de enterramento, pois o indivíduoburguês, nessa época, emerge em sua singularidadea partir dos laços afetivos que mantém com o seugrupo familiar. Mas, além disso, ao seu redor co-meçavam também a se criar expectativas e obriga-ções recíprocas, gerando relações baseadas tanto noprincípio de pertencimento como de diferenças, oque, em algumas situações, o obrigava a redefinirpapéis sociais que hierarquicamente deveria ocuparno contexto doméstico e, de forma correlata, naesfera pública. Tais atribuições sociais podiam servisualizadas nos túmulos que agora mostravam re-presentações mais particularizadas e que abrangiamtanto aspectos ligados à vida em família, como àvida do “amor conjugal”, do “amor materno e fi-lial”, do respeito pelo legado material e imaterial de

um parente longevo; quanto aos aspectos relaciona-dos com o próprio indivíduo: o enaltecimento devirtudes pessoais, da promoção de valores adquiri-dos pelo trabalho, da competência profissional etc.

O que se observa a partir dos primeiros decê-nios do século XX é um progressivo distanciamen-to do modelo anterior, calcado basicamente no re-conhecimento de laços consangüíneos por meio daprocriação, na importância patronímica, como ele-mento diferenciador e de prestígio social, e no inte-resse corporativo de perpetuar vínculos parentais.8Ainda em relação à noção de família anteriormentedescrita, vários são os autores que sublinham a im-portância do caráter autoritário como motor dasrelações familiares centradas no poder de um che-fe, o que não só inibia como, muitas vezes, impediaque se concretizassem laços afetivos e emocionaisentre seus membros. Refletia-se inclusive na opçãopela escolha dos jazigo-capelas, equivalentes sim-bólicos das casas, que dada a natureza de suas mor-fologias austeras mascaravam expressões de afetoparticularizadas, o que nos túmulos individuais se-riam exacerbadas. É também recorrente se associara esse modelo de família o ideal de matrimôniosubordinado aos interesses econômicos e de repro-dução social do grupo, em vez da união conjugalpor motivação afetiva que começava a se imporentre os indivíduos e que, pouco a pouco, se con-verteria em padrão recorrente.

Enquanto nos modelos mais convencionais dotúmulo de família deveriam ser evitadas possíveismarcas valorativas de seus membros, singularida-des que eventualmente pudessem conflitar entre siou até mesmo atrair e dirigir as atenções do espec-tador para um único componente do grupo de fi-liação – pois em princípio todos eles deveriam re-ceber tratamento posicional –, no túmulo construídopara um único indivíduo ou casal, sobressaía o desejode valorizar e enaltecer determinados atributos dapessoa do morto, ocultando outros indesejáveis. Oque mais parecia importar era o desejo de auto-ex-pressão subjetiva, de auto-reconhecimento ou reco-nhecimento de um outrem como sujeito singular.Em algumas situações, o morto poderia ser repre-sentado como sujeito autônomo, cujo grau de inde-pendência não necessitava ser partilhado nem dividi-do, sob pena de perder suas próprias características.

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Paulatinamente, neste novo contexto, a famíliavai se rendendo diante da individualidade de seusmembros. A depender de cada situação em parti-cular, começa-se a deslocar o interesse das relaçõesde parentesco para o das relações intersubjetivas –aspecto que se reflete ainda mais nas novas formasde enterramento nos cemitérios-parques e nos ce-mitérios verticais.

Há casos em que os túmulos refletem expres-samente o desejo de alguém que aspira depois damorte ser lembrado por suas ações e realizaçõessob a aspiração de ser, posteriormente, convertidoem síntese edificadora de memória e de reconheci-mento coletivo. Nesse gênero de epitáfio autobio-gráfico é comum atribuir-se ao indivíduo qualida-de de pessoa, o que pressupõe sua construção apartir de uma dimensão sociocultural particular e,portanto, vinculada a um sistema simbólico e derepresentações também específico – representaçõescujos dispositivos rituais muitas vezes costumamconferir a essa noção tanto atributos de identidadecomo valorativos.9 Nos cemitérios ocidentais, àpessoa do morto se costuma adicionar epítetos di-versos, sendo invocados entre outros aspectos aque-les de foro mais íntimo, e também a capacidade deser moral e civil. É por isso que repetidas vezes noléxico tumular são ressaltadas qualidades como:pessoa de “mérito”, “digna”, “honesta”, “carido-sa”, “espiritual”, “benfeitora”, “honrada”, “íntegra”,“fraternal”, “justa”, “trabalhadora” etc.

Vários são os exemplos nos cemitérios aquireferidos em que os méritos pessoais são evocados,sobretudo aqueles advindos do esforço pelo traba-lho, sendo igualmente acompanhados de alegoriasrepresentativas da pessoa do falecido. Talvez, umdos modelos mais significativos da ideologia devalorização do trabalho seja o túmulo erigido nocemitério do Araçá, em São Paulo, pelo prósperocomerciante de cereais, Antonio Lerario.

Como muitos outros imigrantes de origem ita-liana, Antonio chegou à cidade de São Paulo paratentar a vida. O túmulo erigido por ele, em blocosde granito escuro, sobre os quais se apóiam placas debronze em alto relevo, narram sua trajetória, desta-cando como principal conteúdo da mitologia fu-nerária a ascensão social via trabalho incansável epenoso. Suas raízes campesinas, dominadas pela

paisagem rural, ainda na terra natal, a Itália, são re-presentadas por cenas de semeadura, cultivo e co-lheita de trigo, servindo como leitmotiv para as trêsprimeiras placas que servem de vedação nos locaisde enterramento, situadas na base do túmulo.

Em posição de destaque, as demais placas com-põem outra seqüência narrativa na qual se evidenciaa construção mítica do herói, concebida por méri-tos próprios. Na primeira, no topo do volume ver-tical, a cena evoca a partida. Ao que tudo indica, embusca de maiores oportunidades, Antonio decideganhar a vida em outro continente. O rosto voltadopara trás, com um guarda-chuva apoiado sobre obraço esquerdo e a mão direita acenando para o paie a mãe que retribuem com o mesmo gesto ao filhoque parte. Na próxima cena, já no navio que o levaao Brasil, o jovem apóia os braços sobre o guarda-corpo da embarcação, segurando com as duas mãosa cabeça num gesto contemplativo: olha sem pon-to fixo no espaço. Na alegoria seguinte, na capitalpaulista, Antonio inicia sua nova vida como jorna-leiro nas ruas. Na mão, o jornal levantado é ofereci-do a dois senhores devidamente caracterizadoscomo da elite local bem-sucedida, à qual o próprioimigrante logo se integrará. A alegoria final é repre-sentada pela figura de Antonio, homem maduro,afortunado comerciante de cereais, com evidentesinscrições sociais da burguesia ascendente, em meioa dois trabalhadores que carregam sacas de cereais.Ao fundo da cena as sacas empilhadas sugerem abase da riqueza, ao mesmo tempo, produto con-vertido pelas virtudes do próprio esforço pessoal,legado que provavelmente pretendia deixar comomensagem aos descendentes que posteriormente seincorporariam ao túmulo comum.

É interessante, todavia, ressaltar que a mesmaênfase não se verifica em exemplos análogos, de imi-grantes igualmente bem-sucedidos, que preferiramconstruir suas mitologias funerárias calcadas menosno esforço e conquista pelo trabalho penoso – ve-lho apanágio da burguesia – do que na legitimaçãode um ethos aristocrático, como fez o Conde Mata-razzo, seguido por outros quadros da burguesiaoriunda do comércio e da indústria paulista.

A alegoria ao trabalho e à fortuna reaparecetambém de forma mais genérica ou difusa, servin-do como elemento decorativo em alguns túmulos,

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sobretudo no Cemitério da Consolação, em SãoPaulo, e no São João Batista, no Rio de Janeiro,algumas vezes sob formas de signos alusivos aocomércio e à indústria (máquinas de tecelagem, equi-pamentos industriais, bigornas, peças de montagem,produtos de consumos etc.), outras vezes referen-tes à produção agrícola e à pecuária (café, cacau,borracha, cana-de-açúcar, animais de corte etc.), adepender das atividades laborais do proprietáriodo túmulo. A alusão ao trabalho é também valori-zada como qualidade humanitária da pessoa do fa-lecido, especialmente quando se trata dos túmulosde médicos, advogados, engenheiros, bem comode outras atividades técnicas menos reconhecidas.

O mesmo se poderia dizer em relação aos tú-mulos de figuras ligadas ao mundo das artes, da músi-ca e da literatura. Ainda no mesmo patamar, poder-se-ia incluir aqueles que desempenhavam atividadesde notório reconhecimento público ou simplesmen-te “mortos ilustres” como, por exemplo, políticos,militares, governantes, chefes de Estado etc.10

A emulação dos “grandes vultos”, geralmenterealizada pela representação épica, adquire dimen-são de panteão em alguns cemitérios, já que umadas funções da imaginação histórica é edificar mi-tos e, portanto, promover o culto cívico ou patrió-tico. Esse gênero de túmulo-monumento cumpriatambém seu papel civilizador, posto a serviço ideo-lógico da construção do Estado-nação brasileirono final do século XIX e nos anos subseqüentes,reforçando o sentimento coletivo de pertencimen-to cívico na construção de uma identidade e me-mória nacionais.11 Quando se tratava de heróis,mortos a serviço da pátria, as representações dostúmulos deveriam fazer alusão aos signos de força,grandeza, glória, honra, virilidade e outros atribu-tos do gênero. Tanto maior fossem a sua bravura eo sacrifício pela pátria, mais reconhecimento e im-portância adquiriam a pessoa do morto, sendo pro-movida à nobre categoria de mártir nacional. Amodalidade que lhe era reservada no monumentopoderia variar entre o cívico e o patriótico, depen-dendo da grandeza de suas ações, o que certamentelhe promoveria a um monumento individual, quan-do se tratava de um destemido personagem; oucoletivo, quando inserido em um determinado grupoa serviço da pátria.12

Mas, se as mortes dos heróis eram vistas comonobres e grandiosas, raramente acidentais, pois acoragem e a previsibilidade do perigo faziam parteda própria condição mítica do sacrifício heróico, amorte das pessoas comuns não despertava o mes-mo sentimento. Não mais a “bela morte”, mas a“boa morte” por causas “naturais”, sem dor nemsacrifícios, modelo ideal disseminado por todo oséculo XVIII. A forma e as circunstâncias em queuma pessoa comum deixava o mundo dos vivosassumiam um papel determinante na compreensão,no significado e no sentido que os mais próximoscostumavam exprimir em relação à pessoa domorto, refletindo em particular na escolha da for-ma tumular.

A depender da situação, o que se observa é apreferência pela construção de túmulo individual,de pequena proporção, como testemunho afetivoda família ao membro desaparecido, podendo as-sumir características diferenciadas quando se trata-va de uma morte esperada, em que o túmulo e suasrepresentações estatuárias geralmente adquiriamuma dimensão de recompensa subjetiva pelo lega-do material e imaterial deixado pelo morto. Mas oque dizer quando a morte sobrevinha em circuns-tâncias inesperadas, considerada desastrosa? Nestescasos, as representações tumulares são mais pro-pensas à dramatização. Muito freqüente nos cemi-térios são os túmulos construídos para as mães cujamorte súbita deixara órfãos filhos ainda pequenos.A representação da figura materna geralmente re-produz cenas do convívio doméstico, cercada pe-los filhos. Quando a figura masculina, esposo e pai,morto também em circunstâncias inesperadas, tor-na-se o objeto de representação, é figurado sobforma de busto ou em placa de alto relevo, a que seatribui sentido épico, muito comum durante todoo século XIX. Em outras situações, o busto mascu-lino vem acompanhado de representação tridimen-sional da viúva, algumas vezes cercada pelos filhos,em gesto de reverência à figura do marido e do paifalecido. Quando se deseja imprimir maior drama-ticidade à perda, a figura masculina torna-se ausen-te na representação para em seu lugar aparecer emdestaque a figura feminina pranteadora.

As alegorias também costumam refletir lugaresde gênero, isto é, as esferas socialmente atribuídas

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ao masculino e ao feminino. Às mulheres, uma iden-tidade ligada à maternidade e às atividades domés-ticas; aos homens, a competência na esfera da vidapública e do trabalho.13 A partir dos primeiros de-cênios do século XX, começam a surgir, de formapontual e com destaque no conjunto estatuário, re-presentações masculinas tridimensionais geralmen-te associadas ao trabalho e à vida pública. Quandovinculadas a situações ou a cenas da vida privada,geralmente se limitam a invocar algum tipo de lega-do moral ou espiritual, como nas representaçõesem que aparece a figura do avô com o neto, refe-rência cronológica e valorativa de conhecimentos evalores morais transmitidos.

O tributo ao “amor conjugal” é outro temafreqüente nas alegorias tumulares. No amplo qua-dro de representações é comum se ver a figura dematronas, encobertas com véus ou mantilhas, cujasexpressões faciais podem variar entre o pranto e odesconsolo explícitos e o recolhimento introspecti-vo e sereno do luto. A expressão do personagempode se alterar conforme o sentimento que o pro-prietário do túmulo gostaria que fosse transmitidocomo mensagem: ora é a figura feminina que seestende ou se debruça inconsolável sobre o túmuloou esquife do marido, ora situações nas quais pre-valecem sentimentos difusos que vão da melancoliaao êxtase.

Cada um a seu modo, os túmulos individuaisbuscavam reconstituir por meio de representaçõestraços ou elementos que pudessem identificar omorto como único e insubstituível, restituindo noplano imagético tanto momentos ou cenas impor-tantes da vida, como a lembrança de circunstânciassinistras em que a pessoa foi subtraída do convíviomais próximo. Devido à diversidade e à riquezacom que se apresentam os túmulos nos cemitériosaqui referidos, seria impossível reagrupar todas ascategorias de representação encontradas. Entre elas,todavia, chamam a atenção em especial aquelas queexpressam situações em que a morte surpreendepela violência. Nesses casos, diferentes valores sãoevocados como atributos positivos à pessoa domorto, podendo incidir sobre a honra, a idade, acoragem, a sensibilidade, convergindo de formapositiva para a construção individual da mitologiafunerária.

Como a morte acidental ou provocada, a mortede jovens e crianças é também inadmissível para amaioria das sociedades ocidentais de tradição cris-tã, em muitos casos sendo-lhes reservados túmulosà parte que não os das respectivas famílias. Quandose tratava de recém-nascidos, o acontecimento erafreqüentemente inserido no plano da crença dos“anjinhos”, que provavelmente encontra suas raízesno catolicismo popular.14 De acordo com esse tipode representação, a alma infantil, dado o seu estadode “inocência originária”, ascendia mais facilmenteà imortalidade, sendo corriqueiramente associada àfigura dos anjos, tal como aparece na maioria dasalegorias funerárias. Em alguns cemitérios, ainda hojese observa em determinadas áreas uma maior con-centração de túmulos reservados às crianças, povoa-dos de representações de meninos com asas (osputti), pequenos querubins e serafins, espaços prova-velmente previstos em seus projetos iniciais paraenterramento de crianças e recém-nascidos – localchamado de Cripti di Bambini nos cemitérios italianos.

Quando a morte sobrevinha na primeira infân-cia, as representações infantis passavam a ser ou-tras, pois as crianças já começavam a possuir umaidentidade própria, passando a ser vistas como pes-soas singulares: além de um nome, um direito reco-nhecido, um lugar ou papel determinado, uma ida-de cronológica e algumas funções específicas na vidafamiliar. Em muitos casos, também não deveriamintegrar o túmulo de família, sendo sepultadas emjazigos individuais, especialmente concebidos paraeternizar sua presença na terra e marcar o convívioentre os familiares. As representações variavam emfunção das circunstâncias da morte e do grau deafeto familiar. Geralmente no lugar dos anjos, o quese vê são representações de crianças que realçamsuas singularidades de pessoa, retratadas tanto deforma realista como metaforizada por meio de ale-gorias: crianças em suas atividades escolares, crian-ças brincando, acompanhadas dos irmãos, criançassendo levadas pelos anjos etc.

Já em relação aos adolescentes ou aqueles quemorreram ainda jovens, o tratamento simbólico,quando representados sob formas escultórias, mudacompletamente. Isto porque os jovens de algumaforma já integravam o mundo dos adultos, comidentidades sexuais definidas, inclusive aptos à

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procriação. Além disso, suas funções e atribuiçõestornavam-se mais específicas no âmbito da famíliae das relações sociais mais amplas, frustrando coma morte expectativas futuras. Em alguns casos, inte-gravam os jazigos de família, outras vezes, a depen-der das circunstâncias da morte, eram-lhes erigidostúmulos individuais com o intuito de cultivar e pre-servar uma mitologia funerária pessoal.

No final da primeira metade do século XX, asconstruções tumulares, pouco a pouco, deixaramde constituir prioridades de investimento relaciona-das com a distinção social de algumas famílias, aidentificação e a transmissão de um patronímicocomum, a atualização de laços identitários, o cultoà memória. Do mesmo modo o túmulo individualtambém passou a comportar outras expectativas einteresses, subtraindo à pessoa do morto referên-cias alegóricas.

Uma das tendências foi tornar os túmulos maisversáteis, funcionais e menos decorativos, com ca-pacidade de renovação nos locais de enterramento,já que suas morfologias também deveriam se nor-tear por princípios racionais, adequados então àspequenas dimensões dos lotes ainda disponíveis que,a depender do cemitério, poderiam atingir altosvalores especulativos. As novas construções pas-saram a ocupar toda a extensão do terreno, comproporções que permitem apenas abrigar um deter-minado número de sepultamentos, sendo substituí-dos à medida das novas necessidades de inumaçãode seus proprietários, e com isso refletindo as novasdinâmicas de composições familiares. Antigos túmu-los foram refeitos para atender às necessidades prá-ticas de seus herdeiros ou de novos compradores.

Simultaneamente ao crescimento demográficodas cidades e da expansão da economia mortuária,emergiram outros espaços de enterramento alter-nativos, com concepções arquitetônicas e paisagís-ticas inteiramente diferenciadas. A nova tendência éde que nenhuma evidência alegórica alusiva à con-servação do corpo do morto deve se tornar ele-mento constitutivo da paisagem cemiterial. Nas ver-sões dos cemitérios-parque ou jardim, predominamas campas-chão, com aberturas horizontais, na altu-ra do solo, com dimensão exata do corpo humano,que comportam de uma a três inumações em lagessobrepostas. As superfícies externas são recobertas

por gramado com uma discreta sinalização no localde inumação. O mesmo princípio aplica-se aos ce-mitérios verticais, em que os lóculos para inumaçãose distribuem pelos andares, alocando os mortosde uma mesma família pelos corredores dos dife-rente pavimentos. Mas tanto em um quanto no ou-tro, a lógica acumulativa de enterramentos, e tam-bém de presentificação, como nos antigos túmulosde família, desaparecem completamente.

Já a cremação, que vem ganhando adeptos nosúltimos anos, parece impor ainda mais novos desa-fios em relação ao tratamento dispensado ao mor-to e suas formas de recordá-lo. É possível conser-var a lembrança de alguém sem um signo materialreferente à sua existência ou sem a memória deobjetos que o evoquem? Muito prontamente po-deria alguém retrucar que o verdadeiro túmulo estámuito mais presente na memória dos vivos, ou nocemitério dos vivos, a ser cultivado no interior decada indivíduo, do que na representação alegóricados restos mortais de uma pessoa.

Há várias forma de se recordar. Um álbum defotos, um eventual objeto de estimação herdado,um souvenir de viagem, uma música, um livro, umaroma não seriam também capazes de evocar a lem-brança de alguém desaparecido e, ao seu modo,render-lhe homenagem? Mas para isso sempre ne-cessitamos de alguém que nos recorde, e por certoaí reside um dos fantasmas de quem vive: o medode ser esquecido.

Na medida em que os antigos cemitérios nãose renovam, tendem cada vez mais a se tornar ves-tígios arqueológicos, atrativos de curiosidade mu-selógica, lugar de memórias residuais, o que já háalgum tempo atrás metaforizava Marcel Proust aocomparar um livro a um grande cemitério, no qualsobre a maior parte de seus túmulos não se podemais ler os nomes apagados. Talvez por isso, paramuitos, a descontinuidade na cadeia geracional re-presente ainda hoje uma constante ameaça, como asituação vivida por uma mulher, já bastante idosa,que no São João Batista, no Rio de Janeiro, costu-ma dedicar horas semanais a cuidar do túmulo deseu único filho, morto na juventude. Entretanto, las-tima que não lhe restando muitos dias pela frente,nem laço algum de família, pois todos os seus já seforam, o nome do filho pouco a pouco perderá os

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contornos na pequena lápide, e sem nervuras, comouma grande mancha impalpável, não tardará a al-cançar por completo toda a superfície lisa da pe-dra, juntando-se a outros nomes apagados.

Mas independentemente das imagens que sus-cita e dos meios que os vivos mobilizam para supe-rá-la, a morte é sempre ruptura radical, por issoainda hoje continua sendo objeto de uma série deatitudes ritualizadas, senão coletivas, individualiza-das, mesmo que as morfologias tumulares, as dinâ-micas sociais e seus sistemas de representação emnada mais se assemelhem às dos antigos cemitérios,que buscavam eternizar, por meio da pedra e deoutros elementos alegóricos, os elos intersubjetivosque a morte foi capaz de desagregar.

Notas

Equipamento móvel criado nos Estados Unidos, nadécada de 1970, cujo objetivo é expor os corpos dosdefuntos em vitrines a fim de que os familiares e ami-gos possam do próprio interior do automóvel con-templar o morto e registrar suas condolências em li-vro, sem a necessidade de sair do veículo. Experiênciahomóloga à do conhecido drive-in que se destina aoconsumo de fast food, propagadas por todo mundoatravés de cadeias como McDonald’s e similares.Trecho do poema O defunto, da autoria de Pedro Nava.Trata-se de cópia dada pelo autor a Manuel Bandeira,posteriormente incluído no livro organizado pelopoeta pernambucano, intitulado Apresentação da poesiabrasileira (1946, pp. 384-387).É importante assinalar que o Cemitério do Araçá, cons-truído em 1897, passou a ser palco de enterramentode segmentos médios da população e de profissio-nais liberais, muito deles imigrantes. O Cemitério doBrás, em 1880, tornou-se com o tempo lugar de inu-mação popular, conservando um grande contingentede origem italiana. Já o Cemitério São Paulo, no bair-ro de Pinheiros, construído na década de 1930, foiplanejado para receber uma parte da elite empresarial eprogressista que emergia com força a partir dos anosde 1940 até a década de 1960.O direito de quem pode e deve ser sepultado em umjazigo de família já foi estudado por João de PinaCabral, em contexto contemporâneo, sob a perspecti-va da gestão das sepulturas por algumas famílias bur-guesas da cidade do Porto. A noção de que “o sangue

é mais denso do que a água” (máxima predileta deDavid Schneider: “blood is thicker than wather”), iden-tificada por Pina Cabral como categoria recorrente en-tre as famílias burguesas do Norte de Portugal para“descrever a sua vida familiar”, parece também consti-tuir uma referência importante na lógica de enterra-mento nos túmulos de família aqui referidos, embo-ra em outro contexto histórico (ver Pina-Cabral, 1991).É o que se depreende da leitura de alguns testamen-tos de famílias tradicionais da segunda metade doséculo XIX, no Rio de Janeiro e Pernambuco. Emgeral, o testador identifica-se pelo nome e estado civil,número e nome dos filhos, após instituir o destinodo corpo e o local da sepultura.Foram realizados contatos com alguns descendentesde proprietários de túmulos em alguns dos cemité-rios pesquisados. A escolha foi pela antiguidade e pres-tígio de algumas conhecidas famílias. No universopesquisado, só foi possível localizar e ter acesso ape-nas àqueles mais idosos, que forneceram informaçõesa respeito dos critérios adotados em relação aos quepoderiam ou não ser enterrados no túmulo perten-cente às suas famílias. Em alguns casos, o contato foiestabelecido com aqueles que ainda se ocupavam comtarefa de zelar pela conservação do túmulo ou quevisitavam mais freqüentemente o local.Sobre esses assunto, ver Freyre (1951); Ariès, “Du sen-timent moderne de la famille dans les testaments etles tombeaux”, artigo apresentado no Colóquio so-bre Familia, realizado em Cambridge, em setembrode 1969 e depois incluído no livro Essais sur l’histoirede la mort en Occident, 1975, pp. 141-142.Sobre as transformações da idéia de família na socie-dade contemporânea, isto é, de liames familiares aserviço do indivíduo e da identidade pessoal, ver San-gly (1996a e b), Théry (1999), Roussel (1989). Essesautores, cada um à sua maneira, reforçam a tese deuma individualização familiar baseada na “desinsti-tucionalização” do grupo familiar, isto é, de que afamília não mais se funda a partir do respeito a umpassado ou a um projeto comum, tampouco sobre avontade de perpetuar uma linhagem, passando do-ravante a se organizar de forma mais estritamentepessoal e relacional sobre a qual prevalece a idéia deindivíduo.No espaço desse ensaio não cabe aprofundar umareflexão sobre a noção de pessoa, tal como foi elabora-da na antropologia por Marcel Mauss, Lévy-Bruhl,Maurice Leenhardt e, mais recentemente, por outrosantropólogos contemporâneos, como Louis Dumont,

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entre outros. Tal noção será retomada em próximotrabalho. Sobre o assunto, consultar as referências jáconsagradas: Mauss ([1929] 1969; [1938] 1950). Vertambém C. Carrithers, C. Steven e L. Steven (1985).Sobre esse assunto, consultar o trabalho de Bonnet(1986).Sobre o culto cívico e patriótico, evidenciado na cons-trução de monumentos aos mortos, é interessanteconsultar o artigo de Prost (1984).No caso brasileiro, a panteonização dos heróis com-batentes quase sempre encontra-se vinculada às forçasarmadas: exército, marinha e aeronáutica, ações de com-bate muito limitadas. Já no continente europeu, aPrimeira e a Segunda Guerra mundiais marcaram pro-fundamente a concepção de monumento, concorren-do para que se passasse da celebração individual doherói para a celebração coletiva das vítimas. Isto nãoocorreu no Brasil, haja vista a participação secundáriadas forças armadas nacionais na Segunda GrandeGuerra, o que inclusive resultou na construção de mo-numento coletivo aos soldados desaparecidos em par-que do Rio de Janeiro. No que diz respeito à Europa,ver Volvelle (1988).A este respeito, consultar Bronfen (1975); Rahme(2000).Provavelmente, o simbolismo dos “anjinhos” temorigem na Península Ibérica, posteriormente influen-ciando o imaginário popular de países latino-america-nos. Com o barroco, é possível que tenha se difundi-do ainda mais essa crença, devido à abundanterepresentação de cunho religioso nas igrejas, assimcomo o papel dos jesuítas no processo missionárioentre os povos indígenas. Sobre as representações damorte infantil, consultar Ariès (1973).

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RESUMOS / ABSTRACTS / RESUMÉS 191

FORMAS TUMULARES EPROCESSOS SOCIAIS NOSCEMITÉRIOS BRASILEIROS

Antonio Motta

Palavras-chave: Cemitérios; formastumulares; Processos sociais; Parentesco.

Este trabalho focaliza vários níveis decorrelação entre formas tumulares e pro-cessos sociais, sobretudo no que diz res-peito às composições familiares e de pa-rentesco, calcadas no desejo de asseguraruma continuidade na ordem familiar pormeio de uma memória genealógica co-mum. Busca também analisar e interpre-tar a transição das lógicas de sepultamentocentradas na família para um novo mo-delo baseado no individualismo.

TOMB FORMS AND SOCIALPROCESSES IN BRAZILIANCEMETERIES

Antonio Motta

Keywords: Cemeteries; Tomb forms;Social processes; Kinship.

This study emphasizes several levels ofcorrelation between tomb forms and so-cial processes, especially with respect tokin and family compositions based onthe desire to assure continuity of familyorder by way of a shared genealogicalmemory. It also seeks to analyse and in-terpret the transition from burialscemtered on the family to a new modelbased on individualism.

FORMES DES TOMBEAUX ETPROCESSUS SOCIAUX DANSLES CIMETIÈRES BRÉSILIENS

Antonio Motta

Mots-clés: Cimetières; Formes des tom-beaux; Processus sociaux; Parenté.

Ce travail met l’accent sur plusieurs ni-veaux de rapports entre la forme des tom-beaux et les processus sociaux, notam-ment, en ce qui concerne les composi-tions familiales et de parenté, basées surl’intention d’assurer une continuité del’ordre familial à travers une mémoiregénéalogique commune, en même tempsqu¹il cherche aussi à analyser et interpré-ter la transition des logiques d’enterre-ment: de la famille vers l’individualisme.

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