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Departamento de Química FORMULAÇÃO DE DISPERSÃO DE ÓLEOS ESSENCIAIS COM PROPRIEDADES REPELENTES EM MEIO AQUOSO UTILIZANDO N- ÁLCOOIS Aluna: Ana Caroline Alves Felipe Orientadora: Profa. Dra. Ana Maria Percebom Introdução Este projeto envolve o estudo das estruturas dos n-álcoois no preparo de dispersões de óleo em água e seu efeito direto em algumas propriedades como estabilidade. Como pouco se sabe sobre as estruturas dos agregados formados em escala nanométrica, o conhecimento destas características e da sua relação com as propriedades físico-químicas do produto é essencial para otimizar as formulações. Além disso, os óleos que foram utilizados no preparo das dispersões são naturais e possuem propriedades repelentes contra o Aedes aegypti. Por serem muito voláteis, ao estarem encapsulados nas gotículas/vesículas, eles terão uma liberação mais lenta e, consequentemente, uma duração prolongada. Desta forma, a otimização da formulação utilizando n-álcoois, poderá ser de grande importância para a pesquisa de novas formas de controle de infecções transmitidas pelo Aedes aegypti. Álcoois Normais Os n-álcoois, CH 3 –(CH 2 ) n-1 –OH, também chamados de álcoois graxos ou álcoois alifáticos, estão entre os hidrocarbonetos substituídos mais simples, sendo que uma única hidroxila substitui um átomo de hidrogênio no final da cadeia alifática. 1 Graças às hidroxilas, ligações de hidrogênio são formadas entre as moléculas. E por se tratar de um grupo polar, as moléculas adquirem um caráter anfifílico que torna os n-álcoois muito interessantes para diversas aplicações. Eles são frequentemente usados como aditivos a formulações de surfactantes, sendo frequentemente chamados de co-surfactantes. 2,3 Para simplificação, eles poderão ser representados aqui por: C n OH, onde n é o número de carbonos da cadeia alifática. Os álcoois alifáticos de cadeia longa são amplamente usados em cosméticos por atuarem como emolientes, estabilizadores de emulsão, controladores de viscosidade e estabilizadores de espuma. O mais utilizado para formulações de cosméticos e produtos de higiene pessoal é o n-hexadecanol (C 16 OH), mais conhecido comercialmente como álcool cetílico. Ele está presente em muitas formulações de maquiagem, de produtos para cabelos e pele, também por sua capacidade de prevenir desidratação e ressecamento. 4 Devido ao seu caráter anfifílico, os n-álcoois podem formar fases lamelares quando saturados com água. E eles apresentam uma propriedade chamada de polimorfismo, sendo capazes de formar fases lamelares alfa, beta e gama. 7,8 Nas fases beta e gama, as cadeias de hidrocarbonetos estão mais rígidas e esticadas. Com o aquecimento do sistema, ocorre uma transição devido à fusão destas cadeias, formando-se a fase alfa que é mais fluida. 8 A temperatura ambiente, os n-álcoois de cadeia longa, como o C 16 OH, formam fases lamelares

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FORMULAÇÃO DE DISPERSÃO DE ÓLEOS ESSENCIAIS COM PROPRIEDADES REPELENTES EM MEIO AQUOSO UTILIZANDO N-

ÁLCOOIS

Aluna: Ana Caroline Alves Felipe Orientadora: Profa. Dra. Ana Maria Percebom

Introdução Este projeto envolve o estudo das estruturas dos n-álcoois no preparo de dispersões de óleo em água e seu efeito direto em algumas propriedades como estabilidade. Como pouco se sabe sobre as estruturas dos agregados formados em escala nanométrica, o conhecimento destas características e da sua relação com as propriedades físico-químicas do produto é essencial para otimizar as formulações. Além disso, os óleos que foram utilizados no preparo das dispersões são naturais e possuem propriedades repelentes contra o Aedes aegypti. Por serem muito voláteis, ao estarem encapsulados nas gotículas/vesículas, eles terão uma liberação mais lenta e, consequentemente, uma duração prolongada. Desta forma, a otimização da formulação utilizando n-álcoois, poderá ser de grande importância para a pesquisa de novas formas de controle de infecções transmitidas pelo Aedes aegypti.

• Álcoois Normais Os n-álcoois, CH3–(CH2)n-1–OH, também chamados de álcoois graxos ou álcoois

alifáticos, estão entre os hidrocarbonetos substituídos mais simples, sendo que uma única hidroxila substitui um átomo de hidrogênio no final da cadeia alifática.1 Graças às hidroxilas, ligações de hidrogênio são formadas entre as moléculas. E por se tratar de um grupo polar, as moléculas adquirem um caráter anfifílico que torna os n-álcoois muito interessantes para diversas aplicações. Eles são frequentemente usados como aditivos a formulações de surfactantes, sendo frequentemente chamados de co-surfactantes.2,3 Para simplificação, eles poderão ser representados aqui por: CnOH, onde n é o número de carbonos da cadeia alifática.

Os álcoois alifáticos de cadeia longa são amplamente usados em cosméticos por atuarem como emolientes, estabilizadores de emulsão, controladores de viscosidade e estabilizadores de espuma. O mais utilizado para formulações de cosméticos e produtos de higiene pessoal é o n-hexadecanol (C16OH), mais conhecido comercialmente como álcool cetílico. Ele está presente em muitas formulações de maquiagem, de produtos para cabelos e pele, também por sua capacidade de prevenir desidratação e ressecamento. 4

Devido ao seu caráter anfifílico, os n-álcoois podem formar fases lamelares quando saturados com água. E eles apresentam uma propriedade chamada de polimorfismo, sendo capazes de formar fases lamelares alfa, beta e gama.7,8 Nas fases beta e gama, as cadeias de hidrocarbonetos estão mais rígidas e esticadas. Com o aquecimento do sistema, ocorre uma transição devido à fusão destas cadeias, formando-se a fase alfa que é mais fluida.8 A temperatura ambiente, os n-álcoois de cadeia longa, como o C16OH, formam fases lamelares

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beta ou gama. Para obter emulsões com apenas um dos tipos de n-álcoois, é necessário aquecer o sistema até temperaturas maiores que a da transição para a fase lamelar alfa.

Apesar de estudos anteriores abordarem a caracterização das estruturas formadas pelos n-álcoois, seu polimorfismo e a estabilidade de emulsões, não encontramos relatos que façam uma caracterização estrutural do meio disperso das emulsões. Isso deixa algumas perguntas em aberto, como: a fase lamelar atua na estabilização das gotículas de óleo? Ou as gotículas das emulsões seriam, em realidade, pedaços de fase lamelar dispersos e que dissolvem o óleo? Poderia haver formação de vesículas? Qual o efeito dos n-álcoois puros no tamanho e polidispersão destas gotículas? O conhecimento das propriedades físico-químicas de tais formulações é essencial para otimizar as formulações.5 E se formos capazes de caracterizar as estruturas a nível nanométrico que controlam estas propriedades macroscópicas, poderemos relacioná-las sistematicamente e assim teremos uma ferramenta para planejar novas formulações de acordo com as propriedades desejadas.

• Emulsões

Uma emulsão é uma dispersão coloidal de um líquido em outro líquido, no qual o primeiro é imiscível.9 Normalmente, há uma fase aquosa e outra orgânica, sendo que as emulsões podem ser do tipo água-em-óleo (W/O) ou óleo-em-água (O/W). As gotículas das emulsões são chamadas de fase dispersa, enquanto o meio que as rodeia é a fase contínua. Para garantir que um óleo seja disperso em água, é necessário adicionar uma molécula anfifílica para garantir estabilidade. Do contrário, as gotículas de óleo se colidem, fundindo entre si, ou seja, elas coalescem. O fenômeno de coalescência aumenta com o aumento da polidispersão da fase dispersa, com o raio das gotículas e com a diminuição da viscosidade da fase contínua.9

A estabilidade das emulsões pode ser alcançada com a adição de um surfactante, mas também existem outros fatores que podem favorecê-la:

- estabilização eletrostática – através do uso de surfactantes iônicos, polieletrólitos ou outras moléculas que forneçam cargas às interfaces de forma a causar uma interação repulsiva entre as gotículas;

- estabilização estérica – geralmente alcançada através do uso de polímeros neutros e liofílicos;

- estabilização por partículas – partículas sólidas suficientemente pequenas (em comparação com as gotículas) e proteínas hidrofóbicas podem estabilizar emulsões;

- estabilização por cristais-líquidos lamelares – quando as moléculas de surfactante se organizam em multi-camadas, forma-se uma fase lamelar. Tal arranjo pode envolver as gotículas estabilizando a emulsão. 10

No caso dos n-álcoois, devido à sua tendência de formar fases lamelares, espera-se que a sua capacidade de estabilização das emulsões seja graças a estas estruturas. Entretanto, sabe-

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se que as fases lamelares também estão relacionadas a outro tipo de estrutura conhecido como vesículas.

• Vesículas

As moléculas anfifílicas também podem se organizar em estruturas nanométricas chamadas de vesículas. As moléculas de surfactante se organizam em bicamadas que, por sua vez, se fecham em uma estrutura esférica chamada vesícula, deixando um espaço interior contendo água.11 Desta forma, as vesículas são interessantes por serem capazes de dissolver moléculas hidrofóbicas em suas bicamadas e também moléculas hidrofílicas no seu núcleo aquoso. Para a formação de vesículas, o sistema deve ter uma tendência a formar fases lamelares, que são cristais líquidos formados pelo empacotamento de bicamadas de surfactantes. Mas além disso, é muito importante que o sistema esteja na temperatura em que ocorre a fase lamelar alfa, para garantir que as cadeias hidrocarbônicas não estejam rígidas (como estariam nas fases beta e alfa), o que impediria o fechamento da bicamada.12,13

Como os n-álcoois de cadeia longa tendem a formar fases lamelares e a formação de dispersões de óleo em água só ocorre em situações em que ocorre a fase lamelar alfa, podemos nos questionar se as dispersões estabilizadas por estes n-álcoois poderiam ser vesículas, ao invés de emulsões. Como até o momento não foi feita uma caracterização das gotículas de tais emulsões, não é possível de se confirmar. Por isso, neste estudo, pretende-se preparar dispersões de óleo-em-água estabilizadas por n-álcoois e caracterizar a estrutura da fase dispersa.

Recentemente, foi relatada a obtenção de vesículas a partir de ácidos graxos de cadeias longas (ácido tetradecanóico, ácido hexadecanóico e ácido octadecanóico).14 Por serem muito insolúveis em água, estas substâncias não haviam sido usadas para preparar vesículas porque sempre “cristalizavam”, ou seja, não se dispersavam. Esta é uma possibilidade que também deverá ser levada em consideração no estudo envolvendo os n-álcoois. Entretanto, a obtenção de vesículas a partir de ácidos graxos de cadeia longa foi possível graças a adição de um co-soluto que evitava a “cristalização” e da adição de n-decanol para favorecer a formação de bicamadas. 14 Desta forma, o efeito de co-solutos adicionados à formulação também será importante no presente projeto. Para o preparo das dispersões de óleo em água estabilizadas por n-álcoois, pretendemos utilizar determinados óleos essenciais devido a sua importância como repelentes e larvicidas contra o mosquito Aedes aegypti.

• Óleos Essenciais Óleos essenciais são compostos aromáticos, formados por hidrocarbonetos, que

possuem uma diversidade de grupos funcionais. São extraídos das plantas através de algum processo físico específico (geralmente destilação), e têm como principal caraterística o fato de, em sua maioria, serem altamente voláteis. São considerados como uma importante

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alternativa ao uso de produtos químicos sintéticos no controle de insetos e artrópodes, pois não oferecem risco ao meio ambiente e nem à saúde humana. A atividade repelente está ligada à presença de monoterpenos e sesquiterpenos nas plantas. 15 Os óleos essenciais funcionam não só como repelentes, que protegem apenas dos mosquitos adultos, mas também como larvicidas, impedindo a sua proliferação ao combater diretamente às larvas do mosquitos. 16

Os óleos essenciais não podem ser confundidos com óleos graxos. Eles não possuem ácidos graxos e geralmente se volatilizam com extrema facilidade. Pode ocorrer dos ácidos graxos, embora pouco voláteis, serem destilados com componentes terpênicos e por isso serem encontrados nos óleos essenciais, como é o caso do mirístico e do palmítico, por exemplo.

O tempo de proteção é justamente uma das maiores barreiras dos repelentes naturais, pois como os óleos essenciais são essencialmente voláteis, seus componentes costumam evaporar num espaço de tempo curto, fazendo com que o indivíduo se torne desprotegido novamente. 17 O uso de formulações para encapsular os óleos essenciais, controlando sua liberação, poderia ser uma solução viável para este problema.

Os óleos essenciais escolhidos foram: Mineral e da Laranja (Citrus sinensis). O óleo de laranja apresenta atividade larvicida contra o Aedes aegypti, podendo ser utilizado então com esta finalidade. 18–22

Atualmente, existem diversos tipos de repelentes disponíveis no mercado, tanto os de origem natural quanto os sintéticos. O óleo essencial de citronela é o mais utilizado dentre os produtos de origem natural. Entretanto, devido à curta duração do seu efeito, ele não está entre os repelentes recomendados pela Sociedade Brasileira de Dermatologia 23. Dentre os sintéticos, podemos citar o DEET, que é o repelente mais utilizado no mundo, com efeito sobre a maioria dos insetos 24. Apesar de ser recomendado pela OMS e pela Anvisa 23, ainda existem muitas questões acerca da toxicidade e de reações adversas causadas pelo seu uso. Apesar de na maioria dos casos, o problema estar relacionado com o uso incorreto ou com a exposição prolongada ao produto 25, ainda devem ser levadas em conta as questões ambientais do uso do DEET, pois é possível encontrar, com frequência, a sua presença em ambientes aquáticos no mundo todo 26. Desta forma, ainda é importante a busca por formulações de repelentes que tenham um efeito prolongado e que causem o menor dano possível à saúde humana e ao meio ambiente.

Dengue é uma infecção viral transmitida por mosquitos do gênero Aedes e é considerada uma das maiores preocupações da saúde pública no Brasil. Na tentativa de manter a incidência da enfermidade sob controle, são destinadas, continuamente, quantias significativas de recursos para programas contra o vetor, porém surtos de epidemias são frequentes. Nos últimos anos, outras duas enfermidades também transmitidas pelo Aedes aegypti vêm causando grande preocupação: a febre chikungunya e a febre por vírus Zika. Na

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busca por controle químico alternativo contra o mosquito vetor, estimula-se a pesquisa para o desenvolvimento de novos produtos, sobretudo os de origem vegetal.

Objetivos O principal objetivo do projeto é caracterizar as estruturas formadas em dispersões do

tipo óleo-em-água preparadas com n-álcoois de cadeia longa (como o n-hexadecanol, C16OH) e óleos essenciais com propriedades repelentes contra o Aedes aegypti.

• Preparo de dispersões aquosas de óleos essenciais utilizando o n-hexadecanol como emulsionante e estabilizante;

• Caracterização estrutural da fase dispersa formada; • Avaliação da relação entre as características da fase dispersa e as propriedades físico-

químicas da formulação; • Otimização da formulação de forma a obter um sistema eficiente para encapsular os

óleos essências e liberá-los de forma controlada.

Metodologia Os n-álcoois que podem ser utilizados neste projeto são: n-dodecanol (C12OH), n-

tetradecanol (C14OH), n-hexadecanol (C16OH) e n-octadecanol (C18OH). O foco até então, foi aprofundado na investigação do C16OH, por ser uma substância já amplamente utilizada para formulação de cosméticos. O C16OH, adquirido da Oxiteno, foi purificado antes do preparo das amostras, utilizando recristalização em heptano, seguida por secagem com cloreto de cálcio.

Os óleos essenciais deste trabalho foram escolhidos de acordo com relatos na literatura de suas propriedades como repelentes contra o Aedes aegypti.16, 18-22 Eles foram adquiridos da empresa Quinarí. Até então, foram utilizados os óleos mineral e de laranja.

O preparo de amostras se deu através de diferentes métodos comuns para a obtenção de emulsões e/ou vesículas: sonicação, agitação mecânica, evaporação reversa e centrifugação.11 Todos os ensaios foram realizados mantendo sempre a temperatura mais alta que a temperatura de transição para a fase lamelar alfa do n-hexadecanol segundo a literatura.7,27 Entre os quatro principais métodos, a agitação mecânica foi a mais utilizada durante o projeto.

Para evitar a cristalização do n-álcool de cadeia longa favorecendo a formação de vesículas, foram testados o efeito de co-solutos. Os co-solutos testados foram os polímeros PEG (polietilenoglicol), PVA (poliacetato de vinila), PAA (ácido poliacrílico), Pluronic (PPG-PEG-PPG) e Brij 58 (polietilenoglicol – éter hexadecil), que foram testados na presença ou não de etanol para facilitar a dissolução na emulsão. O polímero que foi utilizado nas emulsões foi o Brij 58, um surfactante não iônico que facilitou a formação de uma emulsão homogênea. Não foi utilizado etanol nas soluções finais, que foram formadas pelo n-álcool (C16OH), o polímero (Brij 58), água e o óleo essencial (mineral ou de laranja).

Com relação à proporção entre os componentes da solução, foram feitos diversos testes para indicar a melhor diluição de emulsão em água, escolhendo-se duas principais: a mais diluída (0,4mL:40mL) e a mais concentrada (1,0mL:10mL). Além disso, também se estudou a melhor proporção de n-hexadecanol para seu respectivo óleo essencial, em que foram utilizados duas: 1:1 e 2:1.

A caracterização das amostras foi feita por espalhamento de luz dinâmico e espalhamento de raios-X a baixos ângulos.

• Espalhamento de luz dinâmico (DLS): Esta técnica forneceu o raio hidrodinâmico e a polidispersão da fase orgânica dispersa. Ela também permitiu

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acompanhar a evolução destes parâmetros com o tempo, para avaliar a estabilidade do sistema.

• Espalhamento de raios-X a baixos ângulos (SAXS): Estas medidas foram realizadas no Laboratório Nacional de Luz Síncroton. Os resultados indicaram a estrutura da fase dispersa, para identificar a formação de gotículas, ou pedaços de fases lamelares ou ainda vesículas uni- ou multi-lamelares.

Resultados Antes do preparo das amostras, o C16OH foi purificado utilizando recristalização em heptano. Foram utilizados 10mL de heptano com 0,4861g de C16OH que foi deixado sob aquecimento e agitação até a dissolução, quando foi congelado e depois deixado sob temperatura ambiente para a recristalização. O procedimento de purificação foi refeito em grandes quantidades. A partir de testes utilizando o C16OH, foi possível identificar qual método seria mais eficaz: água em etanol ou etanol em água. Solubilizando o ácido graxo em água e adicionando etanol gota a gota, e em seguida o procedimento oposto, foi possível determinar qual daria uma maior estabilidade à formação de uma única fase na emulsão. Sob aquecimento e agitação, verificou-se que o C16OH era mais estável quando dissolvido no etanol. Foram realizados diversos testes utilizando polímeros que atuariam como co-solutos na solução. O Primeiro utilizado foi o PEG (polietilenoglicol):

Figura 1: Polietilenoglicol

Utilizando 0,0094g de PEG dissolvido em água, e 0,05g de C16OH dissolvidos em 5mL de etanol, foi adicionada a solução aquosa aquecida (45oC<T<55oC) gota a gota e sob agitação na solução contendo o C16OH. Todo o etanol evaporou e a solução apresentou gotas, não apresentando uma solução homogênea. O segundo polímero utilizado foi o PVA (poliacetato de vinila):

Figura 2: Poliacetato de vinila

Foi feito um preparo de 0,0522g de C16OH e 0,0179g de PVA em 5mL de etanol que foi deixado sob agitação e aquecimento (40oC<T<55oC). Foram adicionados em seguida 10mL de água gota a gota. Foi formada uma solução turva porém homogênea, mas após seu resfriamento, observou-se a formação de precipitado nas paredes.

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MM (monômero do PVA): 44g/mol MM(C16OH): 242,44g/mol

PVA – C16OH 2 mol – 1 mol 88g – 242,44g

m – 0,05g O terceiro polímero utilizado foi o PAA (ácido poliacrílico):

Figura 3: Ácido poliacrílico

Foi feito um preparo de 0,0101g de C16OH em 5mL de etanol que foi deixado sob

agitação e aquecimento (40oC<T<60oC). Foram adicionados em seguida uma solução contendo 0,0205g de PAA em 10mL de água gota a gota. Foi formada uma solução turva, porém homogênea (mesmo quando resfriada).

Foram realizados dois procedimentos para verificar a estabilidade da emulsão: a sonicação e a centrifugação. Na sonicação, verificou-se o desaparecimento das grandes granulações, permanecendo apenas as menores. Já na centrifugação, os grandes grânulos ficaram aparentes novamente em solução.

Foi realizado o teste novamente com o PAA, porém utilizando óleo mineral (0,0229g). Verificou-se que o óleo não foi bem incorporado em solução, mesmo utilizando o ultrassom, descartando assim este polímero também.

O quarto polímero utilizado foi o Pluronic (PPG-PEG-PPG):

Figura 4: Pluronic

Neste polímero, após a falha do procedimento padrão, foi utilizada uma nova abordagem sem a utilização do etanol, em que o C16OH seria fundido, em vez de dissolvido como antes. O polímero foi dissolvido em água (1,0018g de polímero + 9mL de água) e foi adicionado o hexadecanol em solução utilizando um conta gotas. Apesar de não alcançado o sucesso esperado, verificou-se a melhora da estabilidade sem a utilização do etanol na emulsão. O quinto polímero utilizado foi o Brij 58 (polietilenoglicol – éter hexadecil):

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Figura 5: Brij 58

Este foi o polímero utilizado durante todo o experimento utilizando o seguinte passo a passo:

Figura 6: Esquema do experimento

A emulsão formada desta mistura era composta por: 0,7g de C16OH, 10mL de água e 3g de Brij58

Foram feitos diversos testes utilizando proporções diferentes de água mili-Q gelada e emulsão para estimar a que melhor se aproximava para o procedimento.

Solução Água (mL) Emulsão

(mL) A 40 0,4 B

(duplicata) 40 0,4

C 20 0,5 D 10 1,0 E 10 0,5 F

(duplicata) 10 0,5

G (duplicata)

10 1,0

Tabela 1: Soluções e suas proporções

Em todos os casos, a adição da emulsão em água é feita sob agitação vigorosa até que a solução apresente uma temperatura ambiente. A partir destas soluções, foi possível escolher duas para continuação do procedimento e observação do seu comportamento: a mais diluída (A e B) e a mais concentrada (D e G).

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Com o polímero mais adequado e as devidas proporções escolhidas, foi possível observar o efeito da presença dos óleos essências na emulsão. Desta forma, foram divididos da seguinte maneira: as concentradas seriam as soluções A e as diluídas seriam as B. Dividindo ainda como M para adição de óleo mineral e L para óleo de laranja. Sendo formadas soluções do tipo AM, BM, AL e BL. Para melhor análise do efeito dos óleos, foram utilizadas duas proporções diferentes de óleo para hexadecanol: 0,5g de C16OH para 0,2g de óleo (2:1) e 0,35g de C16OH para 0,35g de óleo (1:1).

• Método DLS O procedimento para a medida de tamanho no equipamento DLS foi feita da seguinte

forma: adicionando 1mL de água mili-Q para 1mL de solução na cubeta. Foram feitas medidas das seguintes soluções: Solução Proporção C16OH:Óleo Óleo

AL2 Concentrada 2:1 Laranja BL2

Diluída 2:1 Laranja

AL3 Concentrada 1:1 Laranja BL3

Diluída 1:1 Laranja

AM3 Concentrada 2:1 Mineral BM3

Diluída 2:1 Mineral

AM4 Concentrada 1:1 Mineral BM4 Diluída 1:1 Mineral

Tabela 2: Soluções finais e suas características Todos os dados foram medidos em triplicata, fornecendo oito gráficos diferentes, para cada uma das soluções. No caso do óleo de laranja, podemos observar os seguintes gráficos:

Gráfico 1: Solução concentrada contendo óleo de laranja em menor proporção

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Gráfico 2: Solução diluída contendo óleo de laranja em menor proporção

Gráfico 3: Solução concentrada contendo óleo de laranja em proporção equivalente

Gráfico 4: Solução diluída contendo óleo de laranja em proporção equivalente

Podemos observar que para o caso do óleo de laranja, as soluções mais concentradas apresentaram um perfil mais coerente, por apresentarem picos de larguras menores e de uma única população, diferentemente das soluções diluídas, que apresentaram essas duas

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características. As diferenças encontradas no diâmetro das partículas em cada triplicata podem ser desconsideradas nesse caso. Já no caso do óleo mineral, podemos observar os seguintes gráficos:

Gráfico 5: Solução concentrada contendo óleo mineral em menor proporção

Gráfico 6: Solução diluída contendo óleo mineral em menor proporção

Gráfico 7: Solução concentrada contendo óleo mineral em proporção equivalente

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Gráfico 8: Solução diluída contendo óleo mineral em proporção equivalente

Observando os gráficos referentes ao óleo mineral, foi possível prever que o óleo mineral apresenta um pico mais coerente com o esperado do que no caso do óleo de laranja, sendo maior, mais estreito e homogêneo.

Para o caso específico da solução em que havia uma quantidade equivalente de C16OH e óleo mineral ocorreram medidas que saiam um pouco do perfil até então encontrado, com uma frequência zerada em alguns casos.

• Método SAXS

A caracterização feita pelo SAXS ainda está sendo interpretada, porém alguns resultados já podem ser observados. Estes estão sendo mostrados através do gráfico apresentado:

0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0

104

105

106

107

I/u.a.

q /nm -1

O leodela ranja /n-hexadecanol1/1O leominera l/n-hexadecanol1/1O leominera l/n-hexadecanol1/2

Gráfico 9: Comparação do AL3, AM4 e AM3, respectivamente.

Fazendo a comparação direta do óleo de laranja com o óleo mineral, podemos observar que o mineral tem uma maior intensidade de espalhamento (contraste) podendo acompanhar o perfil de decaimento que ainda será analisado por ajustes de modelo. Sendo coerente com os resultados concluído no DLS. Comparando as proporções de óleo mineral em relação ao n-hexadecanol, pode-se observar picos de reflexão no caso de menor proporção de óleo, que correspondem a uma

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estrutura líquido-cristalina. Esta estrutura foi indexada como fase lamelar e parâmetro de cela de 14,1 nm Conclusões

A partir das estruturas formadas em dispersões do tipo óleo-em-água preparadas com o n-álcool de cadeia longa C16OH e óleos essenciais com propriedades repelentes contra o Aedes aegypti, foi possível concluir através das medidas realizadas pelo DLS e pelo SAXS, que as emulsões feitas com o óleo mineral apresentaram um perfil mais coeso e uma estabilidade maior que as com óleo de laranja.

Além disso, foi feita uma comparação direta entre duas principais concentrações, na qual se concluiu que as soluções mais concentradas da emulsão apresentaram um perfil mais coerente com o esperado. Referências (1) Ventola, L.; Calvet, T.; Cuevas-Diarte, M. A.; Ramirez, M.; Oonk, H. A. J.; Mondieig,

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