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FÓRUM NACIONAL DE CONSENSO - POR UMA CULTURA DE PAZ E TOLERÂNCIA - DECLARAÇÃO FINAL No dia 28 de Abril de 2010 na Biblioteca Nacional na cidade da Praia, numa iniciativa do Primeiro Ministro, Dr. José Maria Neves e organizado, conjuntamente, pela Chefia do Governo, departamentos governamentais relevantes e representantes da sociedade civil, decorreu o Fórum Nacional de Consenso sob o lema POR UMA CULTURA DE PAZ E TOLERÂNCIA. Honrosa foi a presença de Sua Excelência o Senhor Primeiro Ministro, Dr. José Maria Neves, que na sua dissertação de abertura estimou bem-aventurada tão importante encontro das forças vivas da Nação para, juntos, reflectirem sobre a problemática da violência e encontrarem as melhores respostas para construir em Cabo Verde, uma cultura de paz e tolerância. Destacou ser esta a ocasião para articularmos esforços e construirmos parcerias sólidas na base de um consenso nacional sobre o fenómeno da violência, suas causas e medidas necessárias para a sua contenção. É a ocasião para estarmos juntos e constituirmos uma ampla frente e caminharmos no sentido da paz e da segurança e para estabelecermos um compromisso firme e duradouro entre o Estado e a sociedade civil para a promoção de uma cultura de paz e de tolerância. Reconheceu que a questão da violência tem valências várias e, logo, o seu combate exige medidas diversas que aliam medidas positivas de prevenção e ressocialização e medidas de índole repressiva, discorrendo ainda sobre a importância que o Governo tem dado à justiça social, à promoção da solidariedade, a inclusão e a igualdade, para que todos os cabo-verdianos possam beneficiar dos progressos que o país vem realizando. Não obstante a violência não estar, à partida, associada somente ao desemprego e à pobreza, o Governo entende que actuando sobre estes factores estará contribuindo para evitar a endogeneização das novas modalidades de violência que de uns anos a esta parte tende a instalar-se entre nós. Na sessão de abertura Sua Excelência Revendíssima o Bispo de Cabo Verde reflectiu profundamente sobre os valores e a vitalidade da dimensão social do homem cuja formação não é hereditária mas, sim, resultado de um processo educativo, de aprendizagem permanente com os outros na sua permanente

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FÓRUM NACIONAL DE CONSENSO - POR UMA CULTURA DE PAZ E TOLERÂNCIA -

DECLARAÇÃO FINAL

No dia 28 de Abril de 2010 na Biblioteca Nacional na cidade da Praia, numa iniciativa do Primeiro Ministro, Dr. José Maria Neves e organizado, conjuntamente, pela Chefia do Governo, departamentos governamentais relevantes e representantes da sociedade civil, decorreu o Fórum Nacional de Consenso sob o lema POR UMA CULTURA DE PAZ E TOLERÂNCIA.

Honrosa foi a presença de Sua Excelência o Senhor Primeiro Ministro, Dr. José Maria Neves, que na sua dissertação de abertura estimou bem-aventurada tão importante encontro das forças vivas da Nação para, juntos, reflectirem sobre a problemática da violência e encontrarem as melhores respostas para construir em Cabo Verde, uma cultura de paz e tolerância.

Destacou ser esta a ocasião para articularmos esforços e construirmos parcerias sólidas na base de um consenso nacional sobre o fenómeno da violência, suas causas e medidas necessárias para a sua contenção. É a ocasião para estarmos juntos e constituirmos uma ampla frente e caminharmos no sentido da paz e da segurança e para estabelecermos um compromisso firme e duradouro entre o Estado e a sociedade civil para a promoção de uma cultura de paz e de tolerância.

Reconheceu que a questão da violência tem valências várias e, logo, o seu combate exige medidas diversas que aliam medidas positivas de prevenção e ressocialização e medidas de índole repressiva, discorrendo ainda sobre a importância que o Governo tem dado à justiça social, à promoção da solidariedade, a inclusão e a igualdade, para que todos os cabo-verdianos possam beneficiar dos progressos que o país vem realizando. Não obstante a violência não estar, à partida, associada somente ao desemprego e à pobreza, o Governo entende que actuando sobre estes factores estará contribuindo para evitar a endogeneização das novas modalidades de violência que de uns anos a esta parte tende a instalar-se entre nós.

Na sessão de abertura Sua Excelência Revendíssima o Bispo de Cabo Verde reflectiu profundamente sobre os valores e a vitalidade da dimensão social do homem cuja formação não é hereditária mas, sim, resultado de um processo educativo, de aprendizagem permanente com os outros na sua permanente

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inserção cultural, integração social e libertação individual, para continuar explanando explanou sobre os sagrados princípios da espiritualidade, da tolerância e da irmandade, sobre a força e a grandeza da família, e sobre a coesão social daí decorrentes como a força motora do desenvolvimento harmonioso do nosso país.

Sua Excelência o Senhor Presidente da República, Comandante Pedro Pires dignifica também o acto com a sua ilustre presença, tendo aceite presidir a cerimónia de encerramento deste Fórum.

Ilustres personalidades prestaram-se a marcar presença, sendo de se destacar a de S. E. o Presidente António Mascarenhas Monteiro, Sua Excelência Reverendíssima o Bispo de Cabo Verde, Dom Arlindo Furtado, do Ilustre Superintendente da Igreja do Nazareno de Cabo Verde, Reverendo Emanuel David Araújo que na sessão de encerramento proferirá uma mensagem aos presentes, bem como a de representantes da sociedade civil tais como as Organizações Não Governamentais, Sindicatos, Câmaras de Comércio, ordens e associações profissionais, individualidades representativas dos Direitos Humanos e da Cidadania, de associações juvenis, do género, do desporto, e demais personalidades distintas da nossa sociedade.

Este evento manifesta o seu elevado apreço pela presença engajada de um espctro alargado de representantes da sociedade cabo-verdiana, pelo seu empenho na construção, juntos, de uma ampla frente de familiaridade para este esforço ingente de fortalecer a sociedade cabo-verdiana.

O Fórum constatou que o mundo contemporâneo tem-se deparado com vários desafios advindos das profundas e rápidas transformações sociais, económicas, políticas e inter-relacionais, não estando o nosso país imune a estas transformações.

Nos últimos tempos, vimos assistindo a práticas de irascibilidade, intolerância, de delinquência e até de violência, um pouco por todo o país e por todos os extractos sociais, próprios de uma certa tendência para o desordenamento de valores culturais e morais tanto universais, como os que sempre caracterizam e qualificam a autenticidade cabo-verdiana.

São fenómenos que exigem capacidade de monitorização dos elementos novos que a sociedade produz, de maneira a que todos se adaptem e adoptem medidas, acções e comportamentos abalançados, compatíveis com os novos tempos de modo a que a sociedade se mantenha harmonizada pela imbricação sadia dos

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factores da paz e da tolerância impregnados no mais profundo dos valores civilizacionais que propugnamos.

Constatou-se que a situação vem merecendo especial atenção das autoridades competentes as quais vêm adoptando medidas no quadro das suas políticas sociais, educativas, desportivas, culturais, da juventude e do emprego visando, sobretudo, o reforço da coesão social e a integração de toda a comunidade, indistintamente.

Do mesmo passo são desenvolvidos esforços para melhorar o desempenho dos órgãos de aplicação da justiça e da garantia da ordem pública com vista a ultrapassar a morosidade da justiça e os atrasos na execução da lei, enquanto a sociedade civil se mobiliza por todo o país, com maior incidência nos principais centros urbanos, numa legítima disponibilidade para a implementação e prestação dos serviços necessários ao exercício dos direitos fundamentais.

Enquanto aos órgãos de soberania incumbe a adopção da jurisprudência, a adopção de medidas e acções que respondam às necessidades da cidadania, bem como da segurança dos cidadãos, à sociedade cabe um papel fundamental no desenvolvimento da cultura de princípios e valores de proximidade e tolerância, de afectividade, de solidariedade, de valorização do trabalho, do culto da cidadania.

A autoridade do Estado que também não resistiu às rápidas transformações políticas e socioeconómicas que ocorreram no país, depende, sim, de uma forte agregação entre, por um lado, o seu aparelho jurídico-organizativo consubstanciado nas instituições políticas e administrativas e, por outro, a sociedade civil organizada em torno dos mais sagrados ícones civilizacionais que qualificam a Nação.

A responsabilidade é colectiva, de todos, juntos, poderes públicos, famílias, confissões religiosas, comunidades, instituições educativas públicas e privadas, ONG,s, a começar pelo individuo como cidadão e como tal incumbido de direitos, mas também, de deveres.

ENQUADRAMENTO E RECOMENDAÇÕES GERAIS

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A caracterização da violência, natureza, mensuração e o modelo de abordagem da violência são fundamentais para o estabelecimento de um quadro de referência da problemática, algo que é essencial quando o seu combate exige a participação dos mais diversos quadrantes num trabalho articulado e consensual.

Por outro lado, é premente a identificação da violência na sociedade cabo-verdiana, na perspectiva da identificação das suas manifestações e no estabelecimento da sua tipologia, para que se possa assumir uma abordagem integrada para a enfrentar.

É de destacar que a Organização Mundial da Saúde assumiu a violência como “O uso intencional da força física ou do poder, real ou sob forma de ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação”, devendo os seus elementos ser analisados, e enquadrando-a em tipos como a violência auto-inflingida, inter-pessoal e colectiva, ou caracterizando-a como física, sexual, psicológica e envolvendo privação ou negligência.

A abordagem nacional do fenómeno impõe a medição e a verificação dos seus impactos nos diferentes sectores da sociedade, importando em consequência obter dados que nos permita, entre outros:

A descrição da magnitude e do impacto da violência;

A compreensão de quais os factores que aumentam o risco de vitimização e perpetração da violência;

O conhecimento dos programas de prevenção contra a violência;

Os dados sobre a mortalidade, a morbidez e outros dados de saúde, a criminalidade, os factores económicos e as políticas adoptadas, entre outros, devem ser coligidos de modo a adequar-se às exigências de um método científico de tratamento e que leve em consideração a necessidade do desenvolvimento de uma estratégia focalizada e eficaz, assente em alguns indicadores essenciais para a formulação de um diagnóstico preciso e global da problemática em Cabo Verde:

a) Ter o máximo possível de conhecimento básico a respeito de todos os aspectos da violência;

b) Realização pelas instituições vocacionadas para a pesquisa, que determinem o tipo de violência, as causas e os factores relacionados à violência, os factores que aumentam ou diminuem os riscos a ela inerentes

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e os que podem ser modificados por meio de intervenções. Neste particular, realça-se o importante papel da academia na investigação e conhecimento do fenómeno;

c) Explorar formas de evitar a violência, utilizando as informações obtidas, elaborando, implementando, monitorizando e avaliando intervenções.

Para além de um plano de acção integrado que possa assumir os dados levantados, o país deve dispor de um mecanismo de coordenação e monitorização da problemática da violência, de forma a se saber, permanentemente, o que se faz, como se faz, por que se faz, que ajustes são necessários fazer-se e para que direcção se está a caminhar.

EDUCAÇÃO, FAMÍLIA, COMUNICAÇÃO E VIOLÊNCIA

A sociedade cabo-verdiana mudou. A independência, a democratização do

país, a crescente participação das mulheres no mercado de trabalho, a

participação de jovens nas escolas e universidades, a presença do país no

cenário internacional tornou-se mais concreta. Isso tudo, aliados a

problemas já existentes mas que ficaram exacerbados: o crescimento das

desigualdades sociais, a divisão desigual do rendimento e o aumento de

um número significativo de excluídos sociais.

A violência aumentou em nossa sociedade com as estatísticas crescentes

de furtos, homicídios e outros crimes envolvendo indivíduos de todas as

classes sociais. Assim como o surgimento de outros tipos de violência até

então desconhecidos.

A violência é na sua maior parte protagonizada pelos jovens, que se

agrupam, formando sub culturas, habitualmente no seio do tecido urbano,

adquirindo formas de vestir, agir ou pensar muito característica.

A comunicação é essencial à socialização, à aculturação e à formação-

educação do indivíduo. É comunicando que uma pessoa adquire

consciência de si e dos outros e interioriza os comportamentos, os valores,

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as normas, os conhecimentos, etc., e os seus significados na sociedade e

na cultura em que se insere.

A sociedade tem vindo a sofrer significativas transformações. A família,

núcleo primordial de educação, tem vindo dissimuladamente a delegar

esse papel para a escola, dado que é no contexto educativo que as crianças

passam a maior parte do dia. Todavia, nenhuma outra instituição poderá

substituir as condições educativas da família, nem parece ser razoável que

seja unicamente a escola a ensinar valores tão necessários para o normal

desenvolvimento da criança tais como: a democracia, as regras para a sã

convivência, o respeito pelo outro, a solidariedade, a tolerância, o esforço

pessoal, etc.

Muito da violência está ligado às desigualdades sociais e de género que

ocorrem em grandes parcelas da população sob maior risco.

A educação é fundamental na melhoria da qualidade de vida de um

indivíduo, mas não pode ser considerada A ÚNICA SOLUÇÃO DO

problema. Existe uma percepção errada, em nossa sociedade, de que

quando todo o resto falha a escola tem de resolver.

RECOMENDAÇÕES

FAMÍLIA.

Criar redes de profissionais que apoiam as famílias com mais problemas nas

suas comunidades

Promover a relação interfamilar, desenvolvimento da relação de vizinhança

Aproveitar os recursos comunitários disponíveis, para fortalecimento das

famílias aonde elas moram.

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Treinar líderes Juvenis em matéria de prevenção da violência nas suas

comunidades. Para além de formação contínua, possibilitar condições para que

as OBCs e líderes associativos possam trabalhar.

Reforçar o papel da família dando-lhe responsabilidade concreta. Atribuir maior

responsabilidade à família no processo de educação pois a escola não pode

substituir a família.

Treinamento para boas práticas parentais e melhor funcionamento familiar;

Equipa multidisciplinar no trabalho com a família

Promover mais espaço de diálogo entre a família e a escola. A escola deve

ajudar a família a ganhar uma maior consciência do seu papel no processo

educativo. Para o efeito, as escolas precisam ser capacitadas.

ESCOLA

Rede multidisciplinar para apoiar as escolas, na promoção de atitudes e

comportamentos saudáveis

Criar espaços de lazer, lúdico nas escolas

Analisar o perfil dos professores, desde o pré-escolar e treinar os professores

para a prevenção e gestão da violência. Promover o seguimento da

implementação desses programas.

Introduzir no programa de formação dos professores sobre a temática violência.

Formação de professores em matéria de competências sociais

Implementar projectos de promoção de cultura da paz e cidadania em todas as

escolas

Estudar o fenómeno de abandono escolar que se vem manifestando com mais

incidência entre rapazes isto poderá significar que se está a formar uma geração

d e jovens rapazes revoltados

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Aproximação das entidades empregadoras às escolas.

Promoção da Disciplina versus Laxação

COMUNIDADE

Criar redes comunitárias de sensibilização sobre a temática iolência visando

maior implicação da comunidade e a própria família sobre as questões que as

afectam

Elaborar uma estratégia de intervenção na comunidade com implicação das

organizações comunitárias e com enfoque especial nas famílias em situações de

maior vulnerabilidade.

Correcção das disparidades e a intervenção no sentido de anular os factores de

risco nas comunidades

Utilizar programas radiofónicos e televisivos para difundir mensagens de

prevenção e combate à violência.

Promover actividades cívicas como limpeza dos bairros, concurso bairro mais

limpo

Prémios para os cidadãos que se destacam nos Bairros (destaque do mérito)

Construção de infra-estruturas e equipamentos sociais

Promover mais espaços de lazer e de socialização para crianças e adolescentes

Melhor enquadramento quando estamos analisar a questão da comunidade

INSTITUIÇÃO/SOCIEDADE

Integrar a prevenção contra a violência às políticas sociais e educacionais e,

assim, promover a igualdade de géneros e social.

Maior colaboração e troca de informações relacionadas à prevenção contra a

violência.

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Campanhas de comunicação direccionadas à conscientização do público sobre o

problema, treinamento e monitoramento dos agentes de polícia e públicos e

incentivos educacionais ou económicos para grupos em desvantagem.

A educação, para actuar como elemento de correcção, precisa estar encaixada

dentro de políticas públicas estruturadas.

A violência surge em contextos e situações diversos. Torna-se imperiosa uma

intervenção educativa, não só dirigida aos jovens mas a todos os cidadãos, para

uma sociedade mais justa e igualitária.

Tendo em consideração que 44% de agregados familiares chefiados pelas

mulheres, reforçar as estruturas de apoio às mulheres (de diversão e de micro

crédito).

Dar às crianças e jovens acesso contínuo à educação é um dos factores que

diminuem as estatísticas da criminalidade e reduzem a incidência (ou

reincidência) de casos de violência de qualquer espécie.

Melhoria do acesso à saúde para todos sobretudo para o segmentos sociais em

situações de maior vulnerabilidade

Assistência de saúde pré-natal e perinatal para as mães, bem como programas de

melhoria da pré-escola e de desenvolvimento social para crianças e

adolescentes;

Com o intuito de melhor se chegar a conhecimentos compartilhados, a um

consenso sobre as metas de prevenção e a uma melhor coordenação da acção,

devem ser avaliadas as relações de trabalho e comunicação entre as

ORGANIZAÇÕES E ENTIDADES INTERVENIENTES, as agências

governamentais, os pesquisadores, as redes e as organizações não

governamentais envolvidos na prevenção contra a violência.

Restrições e adopção de medidas que dificultem o acesso ao álcool, à

droga e às armas de fogo;

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Através da comunicação social montar um programa para cidadania

destinado às famílias

Rever Políticas de apoio a maternidade e à paternidade

Políticas de habitação

Politicas fiscal/rendimentos

Políticas de emprego/ educação familiar para a saúde, política

fiscal/rendimentos

Política de habitação

POLÍTICAS SOCIAIS NA PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA

Alvo de intervenção

Acções/medidas a desenvolver Parcerias/intervenientes

FAMÍLIA Criação de institutos que se ocupem das questões da família e da juventude;

Criação do Observatório da Juventude;

Formação da família visando o seu empoderamento a diferentes níveis, económicos, educativos, sociais;

Combater a exclusão social através de programas de micro-crédito;

Criação de redes de apoio às mulheres vítimas de violência com base no género;

Melhorar a articulação com outras instituições e instâncias regionais e internacionais que intervêm no domínio da família;

Conciliação entre as exigências da vida familiar e profissional;

Reforço das capacidades das famílias no combate a exclusão social;

Governo/igrejas/ONG´s/Sociedade Civil/Municípios e sector privado

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Focalizar as políticas sociais na família enquanto todo e não nos seus elementos individuais;

Promoção de políticas publicas para geração de rendimento como forma de diminuição dadependência das politicas publicas assistencialistas

Reforço do programa de famílias ESCOLA Actualização dos curricula;

Promover a educação para os valores e cidadania;

Atribuição de bolsas de estudo a jovens de famílias vulneráveis;

Funcionamento da escola com actividades extracurriculares para alem do horário normal;

Reforçar a articulação escola, família comunidade;

Criação de salas de estudo em horários alternativos;

Trabalhar a educação na perspectiva global

Governo/igrejas/ONG´s/Sociedade Civil/Municípios e Sector privado

COMUNIDADE

Maior participação da comunidade na formulação das políticas sociais;

Desenvolvimento de um trabalho no contexto da comunidade com as próprias populações;

Aproveitamento e partilha de equipamentos sociais e outros recursos existentes na comunidade

Reforço e divulgação das boas práticas no processo de desenvolvimento e na intervenção em determinadas problemáticas na comunidade;

Valorização de líderes comunitários (anciãos) para exercer a articulação com a família e outras entidades e no trabalho de mediação e desenvolvimento da comunidade

Desenvolvimento na comunidade

Governo/igrejas/ONG´s/Sociedade Civil/ Municípios e Sector privado

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de actividades extra-escolar e complementares de ocupação de tempos livres;

Reforçar a articulação das redes de trabalho social no desenvolvimento de trabalho com as famílias em todos os segmentos da sociedade;

SOCIEDADE/INSTITUIÇÃO

Melhorar a articulação com outras instituições e instâncias regionais e internacionais que intervêm no domínio da família;

Acompanhamento do percurso dos jovens no sentido da sua orientação e integração escolar, profissional e social;

Reforçar o papel social das igrejas na formação da família com base na matriz cristã do país;

Valorização dos profissionais da área social;

Reforçar o associativismo juvenil; Incentivar e promover o acesso à

habitação condigna; Reforçar a articulação entre as

politicas sociais e económicas no combate à violência

Governo/Igrejas/ONG’s/Sociedade Civil/Municípios e Sector Privado

PLANEAMENTO URBANO E VIOLÊNCIA

A definição e adopção de uma Política de solos é urgente, em primeiro lugar para os principais centros urbanos, tendo em vista a correcta implementação dos planos urbanísticos em termos de acessibilidades, iluminação pública, abastecimento de água, saneamento e espaços verdes, eliminação de espaços de risco como pardieiros e de construção clandestina, remoção de pardieiros e de espaços.

A adopção de parcerias público-privadas é da maior importância para dar sentido e conteúdo comunitário, relevante para o controlo social, respeito pelos regulamentos dos planos urbanísticos e do Código de Posturas Municipais, no que respeita a pintura das casas, limpeza e embelezamento dos bairros,

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Aprovar uma lei de responsabilidade territorial que estabeleça critérios de justiça na ocupação do território, orientado por princípios de equidade e inclusão social no acesso aos solos e a habitação condigna, na organização dos espaços edistribuição dos equipamentos colectivos urbanos, combatendo o fenómeno da ocupação ilegal e provendo processos de legalização fundiária.

Melhoria da Toponímia (Sinalizar com placas indicativas Ruas e prédios públicos e privados);

Criação urgente da polícia municipal, com acções muito específicas e complementares à policia nacional, fazendo cumprir o código de postura municipal;

Promover parcerias no âmbito do Programa Casa para Todos, os subprogramas HabitarCV, ProHaBITAR, Reabilitar e organizações internacionais especializadas, visando a promoção de habitação nos meios rural e urbano, garantindo a melhoria da qualidade de vida e a eliminição das barracas.

SISTEMA DE JUSTIÇA, SEGURANÇA PÚBLICA E VIOLÊNCIA

ENQUADRAMENTOO sistema da Justiça reflecte, de um modo geral, a capacidade do Estado de exercer a sua autoridade, na perspectiva da resolução de conflitos e da repressão dos comportamentos violentos que sejam configurados como crime, circunscrevendo-se, neste contexto, ao Sistema formal de reacção criminal.Neste passo, os órgãos de soberania, neles incluindo os que detém o poder legislativo, assumem um papel no estabelecimento de medidas a curto prazo, que possam combater, não só a violência, mas também dar aos cidadãos a sensação de que a ordem pública é mantida e imposta, sem perder de vista a reinserção dos que são punidos enquanto agentes da prática de crimes.

EVIDÊNCIAS

O diagnóstico relativo aos grandes desafios para o Sistema da Justiça mantém-se perfeitamente válido e tem sido repetido em vários estudos, reflexões e

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relatórios, elaborados pelas mais diversas entidades com responsabilidades na matéria.

O grande desafio que é apresentado à Justiça é o da resposta, que se quer célere, adequada e gizada para reinserção social, reconhecendo-se que ela deverá ser capaz de decidir rapidamente, mas também acompanhar a execução das suas decisões.

RECOMENDAÇÕES

1. Adoptar medidas legislativas visando transmitir a necessária confiança banindo, deste modo, o sentimento de injustiça e impunidade instalado nos cidadãos que passem por:

a) Proceder à aprovação de uma nova lei de organização judiciária que possibilite a criação em comarcas chave de juízos de pequena e média criminalidade e a implementação dos tribunais colectivos para crimes com moldura máxima superior a 8 anos para a melhoria da capacidade de resposta.

b) Definir por lei a política criminal com o objectivo de clarificar as orientações e prioridades envolvendo todos os actores com responsabilidade em matéria de definição desta política;

c) Proceder à revisão alargada do Código do Processo Penal procurando agilizar alguns instrumentos e concatenar melhor outros – caso da violência doméstica – tendo em atenção a experiência da sua aplicação.

d) Estabelecer especial urgência na tramitação, quer a nível da investigação criminal, das diligências criminais, e no julgamento dos processos em que estejam em causa crimes praticados com recurso à violência, com especial enfoque para os praticados com o recurso a armas ou envolvendo grupos de pessoas (os chamados gangs), identificando-se os tipos de crime já previstos no nosso Código Penal;

e) Estabelecer prazos de julgamento especialmente apertados para tais crimes;

f) Reforçar os recursos humanos e materiais, neste último caso, dando um especial enfoque aos instrumentos necessários para a investigação da criminalidade mais complexa;

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2. Adoptar as medidas legislativas que propiciem um relacionamentomais articulado entre a Polícia e o Ministério Público, que favoreça o cumprimento da sua missão de combate à criminalidade e à delinquência;

3. Implementar a tramitação processual penal através do sistema de informação das secretarias judiciais permitindo maior agilidade e eficácia na gestão dos processos e controlo da produtividade;

4. Fomentar a especialização dos magistrados nas matérias criminais para uma maior qualidade da decisão judicial e bem assim maior produtividade;

5. Promover a sensibilização dos magistrados e polícias para o endurecimento da aplicação das normas em vigor, e a assumpção de uma política de Justiça de “tolerância 0”, aplicando as regras actualmente em vigor, com a necessária severidade;

6. Sensibilizar a Polícia e as Magistraturas para a aplicação da lei que regula as medidas tutelares sócio-educativas a menores e reforçar e alargar os Centros Socioeducativos;

7. Desenvolver o sistema de reinserção social dos reclusos, designadamente através da prestação de trabalhos na comunidade e nos estabelecimentos prisionais;

8. Alargar o funcionamento da comunidade terapêutica com a abertura de centros destinados ao tratamento de toxicodependentes em S. Vicente, Fogo e Santo Antão.

9. Capacitar a Polícia Nacional em matéria de mediação e de pesquisa das questões relativas cultura da paz e segurança e garantir mais recursos humanos e materiais.

10.Reforçar as operações no quadro da aplicação da lei de segurança interna, intensificando acções de revistas e buscas em todos os locais críticos em termos de segurança.

11.Adoptar medidas legislativas relativas ao uso ilegal e abuso de armas e dinamizar acções de fiscalização e controlo no quadro da Comissão Nacional de Controlo de Armas Ligeiras – COMNAC.

12.Reestruturar as Brigadas de Investigação Criminal e Anti-Crime e reforçar a inteligência policial, como unidades de intervenção especializada na luta contra a delinquência juvenil e urbana, bem como as medidas vocacionadas para o combate á pequena criminalidade associada ao tráfico e consumo da droga e do álcool – causas imediatas destes fenómenos.

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13.Reforçar a fiscalização da observância das leis e normas, designadamente, as relativas à proibição da entrada, permanência, venda e consumo de bebidas alcoólicas a menores e ao horário de funcionamento de estabelecimentos nocturnos.

14.Adoptar as medidas de ordem legislativa e institucional que permitam uma ampla actuação da Guarda Nacional, designadamente da Polícia Militar na segurança pública.

15.Reforçar a coordenação e a articulação entre todas as forças e serviços que concorrem para a segurança pública e o combate contra a criminalidade e a delinquência de modo a garantir a complementaridade institucional no cumprimento da missão.

16.Criar um Observatório Nacional da Criminalidade.17.Intensificar o combate à condução irresponsável e de risco,

particularmente no transporte colectivo de passageiros e de mercadorias especiais ou perigosas e reforçar o controlo qualitativo da circulação e do trânsito e o controlo do trânsito e da velocidade dos veículos em lugares de risco particular para transeuntes.

18.Acelerar a implementação da lei de segurança privada como forma de libertar quadros da Polícia Nacional para o patrulhamento urbano e de densificar a malha de segurança pública.

19.Aprofundar e acelerar o debate sobre a criação da Polícia Municipal, bem como a sua relação com a Polícia Nacional, com vista à sua implementação nos principais centros urbanos do país.

20.Providenciar o necessário seguimento dos nacionais repatriados por crimes graves e apoiá-los com medidas de reinserção social.

SEGUIMENTO

O Fórum reconhece que o combate à violência e por uma cultura de paz e tolerância só terá eficácia se obedecer a uma programação e planeamento específico, com medidas de curto, médio e longo termos. Assim, torna-se pertinente a adopção de um Programa Nacional de Luta Contra a Violência. As inúmeras e muito válidas contribuições apresentadas a este Fórum serão assumidas de pleno por este programaA necessidade de articulação da acção pública recomenda a criação de uma Comissão Interministerial com a função de coordenação das estratégias de luta e

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da implementação das medidas concretas, necessidade essa que o Chefe do Governo entendeu por bem materializar. O Fórum recomendou ainda a criação de um Observatório da violência para fazer o seguimento da questão da violência e contribuir para um melhor conhecimento do fenómeno.O Fórum recomenda a todos os participantes a darem continuidade ao trabalho de sensibilização da sociedade para a promoção de uma cultura de paz.

APROVAÇÃO- CRIAÇÃO DE UM INSTITUTO PARA A FAMÍLIA- SUGERE QUE, ONDE SE MENCIONE MEDIDAS DE PROTECÇÃO PARA VÍTIMAS DE VBG E NÃO PARA “MULHERES”.- NOVOS CENTROS TERAPÊUTICOS: O SAL DEVE SER CONTEMPLADO- ASSUMPÇÃO DAS RESPONSABILIDADES DA FAMÍLIA