O batismodos bichos

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Trichechus inunguis ou peixe-boi-da-amazônia, para os íntimos!

Tamanduá-bandeira, jiboia, entre outros bichos, são velhosconhecidos seus. Mas você conhece o Myrmecophagatridactyla? E a Boa constrictor? Pois saiba que estes são osnomes científicos dessas mesmas espécies! Os nomescientíficos são termos que os pesquisadores usam paraidentificar animais diferentes. Eles são escolhidos de formaque possam ser reconhecidos por estudiosos do assunto nomundo todo. Na hora do batismo, os cientistas costumam fazerreferência a alguma característica do próprio bicho, ou o lugaronde ele foi encontrado. Mas há quem homenageie pessoasqueridas e até estrelas de cinema!

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Quem teve a grande ideia denomear as espécies pelonome científico comoconhecemos hoje foi o

sueco Carl Linné, no século 18.O termo é formado por duaspalavras. A primeira é o nomegenérico, que sempre começa comletra maiúscula e é igual em todasas espécies de um mesmo gênero.Já a segunda é conhecida comonome específico porque identificacada espécie que existe de umgênero. Por isso, ela vem com letraminúscula. Vamos ao exemplo...

Os mico-leões pertencem aogênero Leontopithecus. Assim,Leontopithecus rosalial eLeontopithecus chrysomelas sãomico-leões de espécies diferentes.Deu para entender?

O nome científico pode até serde escrita complicada, mas ométodo é bem organizado peloCódigo Internacional deNomenclatura Zoológica, que trazvárias regras para ospesquisadores seguirem na horade nomear as espécies novas.

Os nomes científicos podemser escritos em qualquer língua ouaté com palavras inventadas, maso mais comum é que sejamescritos usando palavras emgrego ou latim – língua que osantigos povos romanos usavam,mas que não se fala mais. Alémdisso, o nome científico deve virsempre destacado, escrito emitálico, negrito ou sublinhado.

Se um cientista descobre umbicho de gênero e espécie novos,ele pode nomeá-lo por completo.Já se a descoberta for de umgênero já conhecido, o úniconome que ele pode criar é oepíteto específico, ou seja, osegundo nome. O nome genéricodeve ser aquele já existente.

Quer ter uma prova de que essemétodo de nomear o bicho pelonome científico dá certo? Imaginesó que em inglês o animal sechame Amazonian manatee; emespanhol, manati del Amazona; emitaliano, lamantino delle Amazzon.

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Echinaster Brasiliensi, o sobrenome se deve ao fato de a estrela ocorrer no Brasil.

Bradypus significa “pés lentos” etorquatus, “de colar”, daí... Preguiça-de-coleira!

Cyanopsitta spixii – a ararinha-azul –leva o sobrenome de um pesquisadorestrangeiro: Spix.

Complicou? Acontece que paraos cientistas de qualquer parte domundo ele é apenas o Trichechusinunguis que, em bom português, éo peixe-boi-da-amazônia! Viu comofica bem mais fácil? Tem bicho querecebe nomes diferentes no mesmopaís! Imagine que confusão! Veja oexemplo do cágado Platemysplatycephala. Ele é chamadopopularmente de jabuti-machado,lalá e perema, só na Amazônia!

Solte a imaginação!

Apesar das regras, os cientistastêm grande liberdade na hora decriar o nome de uma nova espécie.É nesse momento que eles podemdar asas à imaginação, e aspreferências por nomes são muitas.

Alguns preferem batizar aespécie com nomes que lembremalguma característica do animal.A preguiça-de-coleira (Bradypustorquatus) é um caso desses.Bradypus quer dizer “pés lentos” etorquatus significa “de colar”. Tudo aver com o bicho vagaroso com umcolar de pelos negros em volta dopescoço da foto abaixo. É ou não é?

Outros cientistas indicam pormeio do nome de onde os bichospodem ser encontrados, como é ocaso da Echinaster brasiliensis, umaestrela-do-mar. Echinaster significaalgo como “ouriço-do-mar em formade estrela” – talvez por causa daaparência áspera, algumas vezescom espinhos, que os animaismarinhos deste gênero têm. Já obrasiliensis significa “que ocorre noBrasil”. Interessante, não é?

E a homenagem vaipara...

...Os naturalistas

No Brasil, são comunsanimais cujo nomecientífico faz referência aoutros pesquisadores, emespecial os naturalistasestrangeiros quepercorreram nosso paísentre os séculos 18 e 19.Alguns deles, como o barãode Langsdorff, têm dezenasde espécies que receberamseu nome! Só para citaralguns exemplos, JohannNatterer tem seu nome emuma borboleta da MataAtlântica, a Heliconiusnattereri. Johann Baptistvon Spix estará na eternalembrança por causa dafamosa ararinha-azul ou

Cyanopsitta spixii; e Charles Darwinfoi homenageado com a lagartixaGymnodactylus darwinii.

...Os brasileiros ilustres

Muitos brasileiros ilustrestambém já foram homenageados porcientistas que descobriram novosgêneros e espécies. O ratinhoJuscelinomys candango, encontrado

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Henrique Caldeira Costa,Museu de Zoologia João Moojen,Universidade Federal de Viçosa.

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O pesquisador que descobriu a perereca Aplastodiscus arildae batizou o anfíbioem homenagem à sua mulher: Arilda.

A lagartixa Gymnodactylusdarwinii foi batizada emhomenagem a Charles Darwin.

durante a construção de Brasília,recebeu este nome em homenagemao presidente Juscelino Kubitschek,que ordenou a criação da novacapital do país. O sambista PauloEmílio Vanzolini, que também é umgrande zoólogo, possui váriasespécies que levam seu nome, entreelas um mico-de-cheiro daAmazônia, o Saimiri vanzolinii.O famoso seringueiro ChicoMendes, que lutava pelapreservação da Amazônia, tambémtem um animal com seu nome: oinseto Brasilocaenis mendesi.

...Os parentes

Tem cientista que preferehomenagear um parente. O nome deuma espécie de cobra-coral do RioGrande do Sul foi dedicado àesposa de Marcos Di-Bernardo,Sílvia, pois ambos eram biólogos.Sabe como a cobra se chama?

Micrurus silviae! Já o pesquisadorCarlos Alberto G. da Cruz colocou onome da mulher, Arilda, em umaperereca que descobriu, aAplastodiscus arildae. A biólogaJanira Costa homenageou o marido(Jalmos) e a filha (Janice) no nomede duas espécies de libélulas:Peristicta jalmosi e Peristictajaniceae.

...O “timão”, a seleção eos músicos do coração

O que dizer, então, do time docoração? O cientista AndréNemésio, torcedor roxo do ClubeAtlético Mineiro, dedicou uma novaespécie ao seu clube preferido.A descoberta não era um galo –mascote do time –, mas uma novaabelha, Eulaema atleticana! Doispesquisadores do Rio de Janeiroforam ainda mais longe! Eles

batizaram doze novas espécies deinseto do gênero Neotrichia comnomes de onze jogadores e dotécnico da seleção brasileira defutebol campeã da Copa do Mundode 1958! Entre as espécies novasestão Neotrichia garrinchai,Neotrichia zagalloi e Neotrichiapelei, homenagens a Garrincha,Zagallo e Pelé!

Enquanto isso, três biólogosbatizaram uma nova rã de MinasGerais de Ischnocnemapenaxavantinho, em homenagem àdupla sertaneja Pena Branca &Xavantinho. Pode?!

...O personagempreferido

Os cientistas de outros paísesmuitas vezes também têmimaginação fértil ao criarem o nomede uma espécie nova. Existe umpeixe da Colômbia e do Peruchamado Otocinclus batmani. Issomesmo! Uma homenagem aohomem-morcego dos quadrinhos edos filmes de ação, o Batman. Damesma maneira, um aracnídeoaustraliano chamado Draculoidesbramstokeri é dedicado ao CondeDrácula e seu criador, o escritorirlandês Abraham Bram Stoker. E oque dizer dos besouros com nomesMacrostyphlus bilbo, Macrostyphlusfrodo e Macrostyphlus gandalf, quefazem referência a três personagensdos livros de J. R. R. Tolkien, oshobbits Bilbo e Frodo, e o magoGandalf? Mais tarde, eles brilharamnas telas de cinema em O Senhordos Anéis.

Estes foram só alguns poucosexemplos de como os cientistasmuitas vezes se divertem aobatizarem novas espécies quedescrevem.

E você? Já imaginou se um diareceber uma homenagem dessas?E se descobrisse um novo gêneroou uma nova espécie de animal,para quem iria a sua dedicatória?

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