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Escola de Saúde Mental do Rio de Janeiro – ESAM Instituto Municipal de Assistência à Saúde (IMAS) Juliano Moreira Centro de Estudos Juliano Moreira Fotografias do cotidiano !odos de tra"al#ar e a saúde do tra"al#ador de saúde !ental$ %ucila %i!a da Sil&a 'rientadora atiana Ra!!inger Rio de Janeiro *+,- 1

fotografias do cotiano: a saúde do trabalhador de saúde mental

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Escola de Saúde Mental do Rio de Janeiro – ESAM

Instituto Municipal de Assistência à Saúde (IMAS) Juliano Moreira

Centro de Estudos Juliano Moreira

Fotografias do cotidiano

!odos de tra"al#ar e a saúde do tra"al#ador de saúde !ental$

%ucila %i!a da Sil&a

'rientadora atiana Ra!!inger 

Rio de Janeiro *+,-

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AGRADECIMENTOS

 Ao finali.ar esta etapa da !in#a &ida perce"o /ue n0o #1 co!o circunscre&er 

agradeci!entos neste tra"al#o$ 2ois "us/uei falar de saúde e de tra"al#ar$ E !uitos (todos3)

/ue passara! na !in#a &ida !e ensinara! u! pouco so"re esses dois conceitos – !eproporcionando a atual oportunidade de pens14los e! con5unto$

Se fosse para agradecer a todas essas pessoas n0o ca"eria nessas p1ginas$ Agrade6o

ent0o à &ida e aos encontros e desencontros /ue fa.e! parte dela$

Todos os dias é um vai-e-vem

 A vida se repete na estação

Tem gente que chega pra ficar Tem gente que vai pra nunca mais

Tem gente que vem e quer voltar 

Tem gente que vai e quer ficar 

Tem gente que veio só olhar 

Tem gente a sorrir e a chorar 

E assim, chegar e partir 

São só dois lados

Da mesma viagem

trem que chega

! o mesmo trem da partida

 A hora do encontro

! tam"ém de despedida

 A plataforma dessa estação

! a vida desse meu lugar 

! a vida

#Encontros e Despedidas, $ilton %ascimento&

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Resu!o A Residência e! Saúde Mental nos coloca e! contato direto e (in)tenso co! o /ue 7

tra"al#ar e! saúde !ental$ 2ara al7! das potencialidades do tra"al#o e! saúde !ental

lida!os ta!"7! co! situa68es e9tre!as e co!ple9as cotidiana!ente peculiares do tra"al#o

e! saúde !ental /ue produ.e! efeitos despotenciali.adores$ ornou4se necess1rio para

!i! produ.ir algo a partir da dor /ue eu esta&a sentindo$ 2ois co!o corpos doentes pode!

produ.ir &ida3 Co!o cuidar do outro se n0o e9ercita!os o cuidar de si3 :ue e9igências s0o

essas às /uais o tra"al#o na Saúde Mental con&oca3 :ue instru!entos e estrat7gias

encontra!os para lidar co! essas e9igências /ue nos i!po!os3 ;estaca!os a i!port<ncia

de ol#ar para este coleti&o de tra"al#adores co!o atores principais neste no&o cen1rio

aspirado pois 7 no encontro entre o tra"al#ador e o usu1rio /ue se opera a produ60o de no&as

concep68es e pr1ticas de &ida e saúde$ 2ara pensar este te!a reali.a!os grupos de

discuss8es co! cuidadores de pacientes de longa institucionali.a60o utili.ando fotografias do

cotidiano tiradas pelos pr=prios tra"al#adores co!o disparadores para a discuss0o$

Estrutura!os as discuss8es e! /uatro ei9os te!1ticos A ati&idade do cuidador> ' lugar 

#?"rido da institui60o casa ou #ospital3> ' pra.er e o sofri!ento no tra"al#o das rela68es

entre o cuidador e o paciente> Espa6os @ Modos de Cuidado do ra"al#ador conclus0o – ou

in?cio de u!a pr=9i!a con&ersa$ ' tra"al#o do cuidador (e do tra"al#ador de saúde !ental)

pode !uitas &e.es ser@parecer solit1rio entretanto por !ais /ue &ocê se5a o e9ecutor se a

a60o 7 parte de u!a dire60o de tra"al#o constru?da coleti&a!ente isso possi&el!ente di!inui

o senti!ento de solid0o$ 2erce"e!os /ue o tra"al#o e! e/uipe se constitu? co!o o espa6o

pri!ordial de cuidado do tra"al#ador pela i!port<ncia de poder partil#ar o tra"al#o di&idir as

decis8es e a produ60o de condi68es para /ue o tra"al#o se torne poss?&el$ Cuidar deste

tra"al#ador 7 ta!"7! ent0o dar su"s?dios instru!entos e consistência para /ue ele possa

ser in&enti&o e dese5ante de sair do lugar co!u! ="&io e seguro$

;escritores Saúde Mental> Saúde do ra"al#ador$

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SUMÁRIO

Agradecimentos .................................................................................................3

Resumo e Descritores........................................................................................4

ista de Sig!as e A"re#ia$%es ..........................................................................&

'. Um tra"a!(o )eito de gente ...........................................................................*

+. O Cam,o .......................................................................................................'-

 A escol#a do local e dos participantes da pes/uisa $$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$,

' territ=rio de pes/uisa – a ColBnia e os úcleos$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$,D

'rgani.a60o dos úcleos $$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$*-

3. rocedimentos de es/uisa........................................................................+0

 A entrada no ca!po $$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$*

's encontros$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$*D

4. A ati#idade do cuidador ..............................................................................31

0. O !ugar (2"rido da institui$o casa ou (os,ita!5 ....................................4'

&. O ,ra6er e o so)rimento no tra"a!(o das re!a$%es entre o cuidador e o ,aciente 4*-. Es,a$os 7 Modos de cuidado do tra"a!(ador conc!uso ou

in2cio de uma no#a con#ersa5....................................................................00

Re)er8ncias 9i"!iogr:)icas ..............................................................................&+

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ISTA DE SIGAS 7 A9RE;IA<=ES

 A; Ati&idades de ida ;i1ria

CA2S Centro de Aten60o 2sicossocial

CA2Sad Centro de Aten60o 2sicossocial para usu1rios de 1lcool e outras dorgas

CA2Si5 Centro de Aten60o 2sicossocial infanto45u&enil

CJM ColBnia Juliano Moreira

;C ;i1rio de Ca!po

GJM Gospital Jurandir Manfredini

IMAS JM Instituto Municipal de Assistência à Saúde Juliano Moreira

IMAS S Instituto Municipal de Assistência à Saúde ise da Sil&eira

IM22 Instituto Municipal 2#illippe 2inel

2R 2rogra!a de Residência erapêutica

RMSM Residência Multiprofissional e! Saúde Mental

R Residência erapêutica

SAMH Ser&i6o de Atendi!ento M=&el de Hrgência

; isita ;o!iciliar

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'ara #nós& cuidadores(

'orque é gratificante, é gostoso tam"ém((( 'orque na verdade

a gente fa) o que gosta( #*uidadora, +.//+./&

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UM TRA9A>O ?EITO DE GENTE

 A Residência e! Saúde Mental 7 u!a oportunidade ?!par de i!ers0o no cotidiano de

diferentes ser&i6os nos propiciando aprendi.ado t7cnico !as principal!ente refle98es acerca

de sa"eres e pr1ticas e! produ60o e re4produ60o$ E! cada local pelo /ual passa!os 7

poss?&el n0o apenas o"ser&ar co!o ta!"7! participar e por &e.es construir diferentes

processos de tra"al#o di&ersas !aneiras de articular4se e! rede !últiplas pr1ticas de

cuidado$

 A Residência nos coloca e! contato direto e (in)tenso co! o /ue 7 tra"al#ar e! saúde

!ental$ E torna4se not=rio /ue ningu7! passa i!une pela Saúde Mental tra"al#ar nesta 1rea 7

estar suscet?&el a !arcas e !udan6as ta!"7! e! si pr=prio$ Ent0o o /ue o !ergul#o neste

ca!po pode produ.ir nos tra"al#adores3

o ca!po da saúde !ental o cotidiano 7 feito de gente$ ente co! #ist=ria$ Co! &ida$

Mel#or di.endo idas$ 2ara u! ol#ar atento u! dia nunca 7 igual ao outro (!es!o /ue

e9ista! for6as /ue nos fa6a! acreditar /ue si!)$ Encontra!os as respostas !ais loucas – e

!uitas &e.es estas s0o as !ais s0s – para pro"le!as /ue aflige! a todos$ Encontra!os tipos

es/uisitos tipos engra6ados tipos c#atos$ Mas aprende!os – ou so!os i!pelidos a aprender 

 – a lidar co! todo tipo de gente$ E outra tra"al#ar co! a saúde !ental 7 precisar !uito !enos

de insu!os !ateriais e le!"rar /ue !uitas &e.es o insu!o "1sico de tra"al#o 7 o n=sK

apenas$ E isto d1 u! tra"al#oL Mas ao !es!o te!po 7 !eio li"ertador n0o3

Co!o nos coloca Mer# (*++N) ao contr1rio de outros tipos de tra"al#o o tra"al#o e!

saúde 7 u! tra"al#o &i&o e! ato onde o produto (o cuidado) 7 consu!ido e produ.ido ao

!es!o te!po a partir da rela60o entre usu1rio e tra"al#ador$ 2or isso a preocupa60o de /ue o

tra"al#o &i&o e! ato n0o se5a aprisionado pelo tra"al#o !orto ligado às !1/uinas tecnicis!os

e protocolos onde #1 pouca intera60o entre tra"al#ador e usu1rio pouca a"ertura para a

constru60o de su5eitos nesse encontro reali.ado para produ.ir cuidado$ G1 apenas u!processo frio e duro de produ60o de procedi!entosK (Mer# *++N p$ O)$

Sendo assi! para al7! das potencialidades do tra"al#o e! saúde !ental lida!os

ta!"7! co! situa68es e9tre!as e co!ple9as cotidiana!ente peculiares do tra"al#o e!

saúde !ental /ue produ.e! efeitos despotenciali.adores co!o de!onstra! as falas e cenas

a seguir retiradas do di1rio de ca!po /ue !e aco!pan#ou durante a RMSM$ 

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0A gente fala de cl1nica da psicose, mas o que a gente fa) é cl1nica da miséria todo dia,

de ve) em quando cl1nica da po"re)a, e raramente cl1nica da psicose23   (profissional de n?&el

superior CA2S) 

0Em qualquer outro emprego eu poderia na hora do almoço parar e ligar para meu filho

4pequeno5 ou para marcar médico do telefone fi6o( Aqui eu tenho que ficar dando conta de tudo

no celular, porque mesmo se eu tivesse uma sala ou escritório, não conseguiria ficar parada

nele2 Aqui, a gente t7 ligado 8 99+ 4volts523  (profissional de n?&el superior CA2S)$

 0Eu fui l7 na :D 4visita domiciliar5 e o cara foi falando; <t= com a perna inchada>, <t= com

dor nas costas>, uns pro"lemas cl1nicos, e eu fui pensando; <caram"a, eu tam"ém2 E eu venho

aqui fa)er :D para ele, mas não consigo nem marcar médico para mim2>3  (profissional de n?&el

superior CA2S)$

0%a Sa?de $ental a gente não tem hora de almoço( A gente almoça no serviço, e toda

hora vem algum paciente interromper, algum telefone pra atender( %ão d7 nem pra almoçar 

direito, a gente perde a fome e tem m7 digestão(3 (profissional de n?&el superior CA2S)$

0@uncion7rio da *ol=nia ou morre do coração ou morre de cachaça(3 (7cnica de

enfer!age! GJM)$

0A1 eu fui l7 4na diretoria5 e me falaram; <fulano vai dormir com sicrano e "eltrano com

)etrano>( sso não vai dar certo2 Eu sei que eles não se dão, eu to aqui todos os dias com eles,

sei que vai dar m((( $as ninguém me perguntou o que eu acho, né2 Então vamos mudar23 

(cuidador úcleo)

*E%A .;0%ão vou conseguir dar conta de tudo, não vou conseguir dar conta de tudo23 

(profissional de n?&el superior 2R e! u!a cena onde sacudia &1rios for!ul1rios a

preenc#er)$

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*E%A /;

E! u!a situa60o de organi.a60o dos /uartos trocara! u! paciente cadeirante de

/uarto e n0o le&ara! a ca!a$ Assi! a ca!a no&a era "ai9a$ 's cuidadores co!entara!

entre si

 B 0Eu vou l7 falar com a enfermagem, porque senão a fulana 4plantonista que estaria

so)inha no fim de semana5 vai ficar cheia de dor na coluna tendo que cuidar dele na cama

"ai6a(

 B %ão vai não, tu sa"e que o sicrano 4da enfermagem5 não vai com a tua cara2 

 B $as a colega vai ficar so)inha2 

 B :ocC fala demais, depois vocC que se ferra23 

*E%A ;

o CA2S #a&ia u! usu1rio co! apro9i!ada!ente -+ anos /ue /uando fora de crises

fica&a !uito "e! tin#a sua autono!ia preser&ada na!ora&a !ora&a so.in#o tin#a "oas

rela68es sociais participa&a de oficina de gera60o de renda c#egando a ser usu1rio4"olsista

do CA2S (co!o !onitor de oficinas de gera60o de renda)$ A 2refeitura encerrou o &?nculo co!

a organi.a60o /ue re!unera&a oficineiros super&isores e usu1rios4"olsistas$ E este usu1rio

co!e6ou a entrar e! crise$ E! crise apresenta&a4se agitado agressi&o isola&a4se de todos e

sentia4se in&adido principal!ente pelos pais (/ue cuida&a! dele durante as crises)$ ' CA2S e

os pais 51 #a&ia! sustentado outras &e.es a crise se! interna60o$ Ao perce"er /ue ele

co!e6a&a a se afastar do CA2S inicia!os u! aco!pan#a!ento pautado e! &isitas

do!iciliares (;)$ 's pais n0o !ais sustentara! e c#a!ara! a a!"ul<ncia da prefeitura

(ser&i6o de atendi!ento !=&el de urgência – SAMH) para le&14lo à e!ergência psi/ui1trica de

referência (/ue fica e! u! "airro a apro9i!ada!ente duas #oras de dist<ncia)$ ' SAMH disse

/ue n0o iria le&14lo$ E! certo ponto perce"e!os n0o ser poss?&el contornar !ais apenas co!

; e indica!os a interna60o psi/ui1trica c#a!ando no&a!ente o SAMH /ue respondeu /uen0o iria le&14lo por tratar4se de u! usu1rio de drogas e n0o crise psi/ui1tricaK (apesar da

indica60o do ser&i6o)$ Algu!as se!anas depois o 5o&e! /ue n0o era usu1rio de drogas

desapareceu de casa e foi encontrado !orto$

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*E%A 9;

Est1&a!os discutindo estrat7gias para redu60o de gastos na casa &isto /ue ali #a&ia

dois !oradores /ue n0o rece"ia! "enef?cio e dois cu5o "enef?cio fica&a co! a fa!?lia$ 0%o

outro tra"alho, eles tCm grana, se precisar de qualquer coisa os filhos compram para eles na

hora( Aqui a gente tem que fa)er de tudo para que eles tenham o melhor poss1vel a partir do

 pouco que eles tCm( nclusive amor(3 (Cuidadora de R)

E no !eio deste caos no ca!in#ar da Residência fui !e perce"endo adoecer$ H!a

energia /ue pulsa&a e! !i! co!e6ou a se es&air$ ;ificuldades de acordar para ir tra"al#ar

&ontade de dor!ir i!ediata!ente ao c#egar e! casa$ ;ores n0o espec?ficas pelo corpo todo

epis=dios de fortes dores de ca"e6a$ Falta de &ontade ou potência para inter&ir no cotidiano e

produ.ir !o&i!enta68es ad&indas de a68es e refle98es diferentes das #a"ituais$

a reuni0o de e/uipe do CA2S a coordenadora t7cnica esta&a apresentando os

casos de desinstitucionali.a60o de dois pacientes /ue sairia! de longas

interna68es para o retorno fa!iliar$ eria /ue fa.er u! tra"al#o co! os

pacientes para /ue eles pudesse! recon#ecer o no&o a!"iente o no&o con&?&io

social> co! a fa!?lia para podere! estar co! essas pessoas no&a!ente ap=sanos distantes> e co! a rede de ser&i6os para !aior suporte das di&ersas

/uest8es /ue cada caso de!anda&a$ 2ensei ossa /ue tra"al#o "acanaL

:uero participar$ A# !as &ai dar !uito tra"al#o n0o /uero !e desgastar co!

isso n0o$$$K Ao !e perce"er e9austa a tal ponto i!ediata!ente pensei co!o

posso /uerer continuar e! u! tra"al#o onde eu estou fugindo de tra"al#ar333K

(;C ;e.e!"ro@*+,,)

E ao ol#ar à !in#a &olta perce"i &1rias pessoas /ue ta!"7! apresenta&a! algu! tipode es!oreci!ento &ital$ :ue e9igências s0o essas às /uais o tra"al#o na Saúde Mental

con&oca3

E9ige agora u! tra"al#ador i!plicado pol?tica e afeti&a!ente co! o pro5eto de

transfor!a60o do !odo co!o a sociedade te! se relacionado co! a loucura

/ue tra"al#e de for!a interdisciplinar e! u!a articula60o da gest0o co! a

cl?nica circulando pela cidade considerando u! duplo papel ser agenciador 

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tanto do cuidado co!o da rede – e n0o apenas da rede de saúde !as de u!a

rede de suporte social$ (RAMMIER E PRI' *+,, p$ ,N-)

ornou4se necess1rio para !i! produ.ir algo a partir da dor /ue eu esta&a sentindo$

2ois co!o corpos doentes pode! produ.ir &ida3 2rincipal!ente &ida in&enti&a3 Co!o cuidar 

do outro se n0o e9ercita!os o cuidar de si3 Co!o produ.ir &ida no tra"al#o tra"al#o &i&o e!

ato – co!o di. Mer# (*++*) – /uando o pr=prio corpo n0o sustenta as pr1ticas cotidianas3

:ue instru!entos e estrat7gias encontra!os para lidar co! essas e9igências /ue nos

i!po!os3

 Ante a co!ple9idade da constru60o do ca!po da Saúde Mental precisa!os atentar 

para a constante "usca de no&as for!as de pensar e agir co! rela60o à loucura e aos

dispositi&os constitu?dos para oferecer cuidado à/ueles /ue necessita!$o te9to ' CA2S e seus tra"al#adores no ol#o do furac0o anti!anico!ial$ Alegria e

 Al?&io co!o dispositi&os analisadoresK Mer# (*++) nos fala da i!port<ncia de neste ca!po

construir posturas /ue &0o na dire60o oposta ao !odelo !anico!ial$ 2or7! diferente de

construir !odelos anti!anico!iaisK indica a necessidade de potenciali.ar as !ultiplicidades

de um fa)er coletivo solid7rio e e6perimental K (p$O) /ue co!p8e u!a ressignificação de

 pr7ticasK (p$O)

($$$) produ.ir e! no&as &idas dese5antes no&os sentidos para a inclusi&idade

social onde antes s= se reali.a&a a e9clus0o e a interdi60o dos dese5os$ ($$$)

A,ostar a!to deste @eito B crer na )a"rica$o de no#os co!eti#os de

tra"a!(adores de sade no ca!po da saúde !ental /ue consiga! co! o seus

atos &i&os tecnol=gicos e !icropol?ticos do tra"al#o e! saúde produ.ire! !ais

&ida e interditare! a produ60o da !orte !anico!ial e! /ual/uer lugar /ue ela

ocorra$ (MERGQ *++ p$O grifos nossos)

;estaca!os a i!port<ncia de ol#ar para este coleti&o de tra"al#adores co!o atores

principais neste no&o cen1rio aspirado pois 7 no encontro entre o tra"al#ador e o usu1rio /ue

se opera a produ60o de no&as concep68es e pr1ticas de &ida e saúde$

Mer# e Feuererer (*++T p$ ) aponta! /ue no encontro entre o médico e o usu7rio,

este profissional de sa?de utili)a <cai6as de ferramentas tecnológicas> para agir nesse processo

de interseçãoK$ Considera! três tipos de tecnologia /ue co!p8e! o cuidado e! saúde

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Seria! três tipos de cai9as de ferra!entas u!a &inculada à propedêutica e aos

procedi!entos (diagn=sticos e terapêuticos) Utecnologias durasV outra aos

sa"eres Utecnologias le&e4durasV e outra às rela68es tra"al#ador4usu1rio

Utecnologias le&esV cada u!a delas e9pressando processos produti&os

singulares i!plicados e! certos tipos de produtos$ ($$$) ;ependendo de co!o se

co!"ina! esses três tipos de tecnologias configura!4se distintos !odelos de

aten60o à saúde$ (MERGQ e FEHERWERXER *++T p$ 4)

Considera!os /ue as tecnologias le&es s0o de su!a i!port<ncia especial!ente no

cuidado e! saúde !ental feito por pessoas e no encontro co! pessoas$

 A terceira cai9a de ferra!entas Utecnologias le&esV 7 a /ue per!ite a produ60o

de rela68es en&ol&idas no encontro tra"al#ador4usu1rio !ediante a escuta o

interesse a constru60o de &?nculos de confian6a> 7 a /ue possi"ilita !ais

precisa!ente captar a singularidade o conte9to o uni&erso cultural os !odos

espec?ficos de &i&er deter!inadas situa68es por parte do usu1rio enri/uecendo

e a!pliando o racioc?nio cl?nico do !7dico$ 's processos produti&os nesse

espa6o s= se reali.a! e! ato e nas intercess8es entre !7dico e usu1rio$ Y

nesse territ=rio /ue a 7tica do e9erc?cio profissional e os sa"eres so"re a rela60o

!7dico4paciente ad/uire! i!port<ncia e&idenciando a rele&<ncia do tra"al#o

&i&o do !7dico nesse !o!ento$ Y ta!"7! neste territ=rio – das rela68es do

encontro de tra"al#o &i&o e! ato – /ue o usu1rio te! !aiores possi"ilidades de

atuar de interagir de i!pri!ir sua !arca de ta!"7! afetar$ (MERGQ e

FEHERWERXER *++T p$ 4)

orna4se necess1rio /ue pense!os ent0o n0o s= na saúde do usu1rio !as ta!"7!

na saúde do tra"al#ador /ue 7 co4respons1&el pelo cuidado$

o ca!po de estudos e pes/uisas de Saúde do ra"al#ador dispo!os ainda de poucostra"al#os /ue discute! a saúde do tra"al#ador de saúde !ental$ A partir de u!a re&is0o de

estudos "rasileiros nesta 1rea Ra!!inger aponta /ue

esse n0o 7 u! te!a !uito pes/uisado ne! na 1rea de Saúde Mental /ue te!

priori.ado as discuss8es e! torno das !udan6as no cuidado ao portador dos

transtornos !entais e no entendi!ento da loucura ne! no ca!po da Saúde do

ra"al#ador /ue acu!ula estudos e! organi.a68es pri&adas e industriais$

(RAMMIER *++D p$ ,)$

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esta re&is0o os estudos s0o di&ididos e! três "locos apresentando u! panora!a

co! rela60o ao !odo de pes/uisar so"re a Saúde do ra"al#ador de saúde !ental

(RAMMIER *++D)

,$ Estresse carga e so"recarga no tra"al#o e! saúde !ental 's estudos deste

"loco tê! e! co!u! a afinidade co! a epide!iologia e co! as teorias do

estresse$ Aponta! o ?ndice de estresse e desgaste' relacionados às condi68es de

tra"al#o e à intensidade do con&?&io e cuidados co! o paciente$ A autora ta!"7!

cita estudos co! 0escalas internacionais de avaliação de satisfação #SATS-F& e

so"recarga #$'A*T-F& das equipes técnicas de serviços de sa?de mental3 $

ais estudos ta!"7! analisa! rela68es do tra"al#ar co! gênero idade

escolaridade status e contrato de tra"al#o$

*$ Sofri!ento e pra.er no tra"al#o e! saúde !ental este "loco os estudos

citados utili.a! co!o referenciais te=ricos a psicopatologia e psicodin<!ica do

tra"al#o psicologia Institucional e a psican1lise de grupos$ Aponta! fatores

s=cio4pol?ticos /ue contri"ue! para o sofri!ento do tra"al#ador de saúde !ental

relati&os à re!unera60o aos &?nculos tra"al#istas às instala68es f?sicas e

condi68es !ateriais dos esta"eleci!entos aos conflitos nos encontros co!

outros dispositi&os às !o"ili.a68es /ue a articula60o e! rede intersetorial

de!anda à carência de u!a pol?tica de cuidado aos tra"al#adores da saúde ao

contato co! a loucura aos conflitos e entrela6a!entos de diferentes !odelos e

paradig!as (por e9e!plo o "iol=gico e o psicossocial)$

-$ Su"5eti&idades discursos pr1ticas e &i&ências dos tra"al#adores de saúde

!ental este "loco apresenta artigos que não tratam diretamente da relação

entre sa?de e tra"alho em Sa?de $ental, mas que apresentam contri"uiçGes

 para o temaK$ (p$ N)$ Analisa! processos de su"5eti&a60o e pr1ticas discursi&as

/ue perpassa! o tra"al#o@tra"al#ador de saúde !ental$ Fala! ta!"7! dae9pectati&a alta depositada no tra"al#ador contrastando co! a escasse. de

recursos di&ersos para o ca!po de tra"al#o$

'pta!os nesta pes/uisa por tentar nos apro9i!ar do terceiro "loco ao pensar os

atra&essa!entos do tra"al#o a partir do ol#ar do pr=prio tra"al#ador – os discursos e as

rela68es /ue eles esta"elece! e co!o sua saúde 7 afetada por isso$

1 ;esgaste nestes estudos 7 entendido co!o u!a perda da capacidade potencial e@ou efeti&a corporal eps?/uicaK$ (RAMMIER *++D p$ *)$

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 Assi! nos pr=9i!os cap?tulos apresenta!os o ca!po onde foi reali.ada a pes/uisa e

os procedi!entos de pes/uisa utili.ados$ E! seguida estrutura!os os cap?tulos de acordo

co! /uatro ei9os te!1ticos /ue surgira! no de"ate co! os tra"al#adores A ati&idade do

cuidador> ' lugar #?"rido da institui60o casa ou #ospital3> ' pra.er e o sofri!ento no tra"al#o

das rela68es entre o cuidador e o paciente> Espa6os @ Modos de Cuidado do ra"al#ador$ Z

!edida /ue o últi!o ei9o foi sendo organi.ado e analisado perce"e!os /ue os espa6os e

!odos de cuidado do tra"al#ador citados pelos cuidadores for!ara! u! contraponto aos ei9os

anteriores e assi! neste tra"al#o tal ei9o desen#ou4se co!o conclus0o – ou in?cio de u!a

pr=9i!a con&ersa$

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+. O CAMO

 A Residência e! Saúde Mental 7 u!a for!a60o te=rica e pr1tica co! carga #or1ria de

+ #oras se!anais distri"u?das entre ati&idades did1ticas (,+ #oras se!anais) ati&idades

did1ticas co!ple!entares (entre ,+ e *+[ da carga #or1ria) e treina!ento e! ser&i6o$ A

organi.a60o destas ati&idades guarda caracter?sticas da singularidade de cada territ=rio * e

&e! sendo refor!ulada a cada ano a partir da a&alia60o dos participantes do progra!a

(residentes preceptores coordenadores)$

;urante a Residência passa!os por di&ersos ser&i6os e dispositi&os da rede de saúde

!ental e aten60o psicossocial – co!o CA2S CA2Si5 CA2Sad #ospitais psi/ui1trico de curta

!7dia e longa per!anência residências terapêuticas$ A /uest0o da saúde do tra"al#ador !e

aco!pan#ou nestes diferentes ser&i6os$ 2or7! para reali.ar a pes/uisa era necess1rio

circunscre&er esse uni&erso$

A esco!(a do !oca! e dos ,artici,antes da ,es/uisa

2ara facilitar a operacionali.a60o da pes/uisa considerando /ue seria conco!itante ao

treina!ento e! ser&i6o priori.a!os reali.ar a pes/uisa nos ser&i6os /ue fa.e! parte da grade

de pr1ticas do segundo ano de residência no territ=rio - (E - ao /ual !e &inculo en/uanto

residente) o 2rogra!a de Residência erapêutica (2R) os úcleos (#ospitais de interna60o

psi/ui1trica de longa per!anência) e o Gospital Jurandir Manfredini (#ospital de interna60o de

pessoas co! /uadro psi/ui1trico agudi.ado)$

 A proposta inicial era /ue participasse! da pes/uisa cuidadores e au9iliares e@ou

t7cnicos de enfer!age! considerando /ue estes tra"al#adores s0o a/ueles /ue aco!pan#a!

de for!a !ais cont?nua e intensi&a o cotidiano dos usu1rios de saúde !ental co! u!a

e9tensa carga #or1ria de tra"al#o sendo co4respons1&eis por cuidados cotidianos dospacientes (dos úcleos e do GJM) e !oradores (das R) "e! co!o seus aco!pan#antes na

reali.a60o de ati&idades de &ida di1ria$

 Aca"a!os optando por reali.ar esta pes/uisa co! os cuidadores dos úcleos e das

Residências erapêuticas pois al7! da carga #or1ria algu!as outras /uest8es i!portantes

atra&essa! o tra"al#o desta categoria-$ 2or fi! os cuidadores do úcleo fora! os /ue

participara! da pes/uisa e das discuss8es$ Sendo assi! apresentare!os a regi0o da ColBnia

2 E9iste! - territ=rios de pr1ticas da Residência &inculados aos Centros de Estudos dos Institutos Municipais2#ilippe 2inel (E,) ise da Sil&eira (E*) e Juliano Moreira (E-)$

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co!o territ=rio da pes/uisa considerando as !arcas da #ist=ria deste antigo #ospital4colBnia

/ue atra&essa! o tra"al#o atual "e! co!o os úcleos e seu !odo de organi.a60o$

O territrio de ,es/uisa a Co!Fnia e os Nc!eos

' E - territ=rio &inculado ao IMAS Juliano Moreira carrega as !arcas da #ist=ria da

antiga ColBnia Juliano Moreira$

os artigos ;a colBnia agr?cola ao #ospital4colBnia configura68es para a assistência

psi/ui1trica no Prasil na pri!eira !etade do s7culo \\K (*+,,) e A ColBnia Juliano Moreira na

d7cada de ,TO+ pol?tica assistencial e9clus0o e &ida socialK (*++D) Ana eresa A$ enancio

apresenta e analisa o conte9to pol?tico da psi/uiatria à 7poca da funda60o da ColBnia Juliano

Moreira (CJM) "e! co!o a proposta de funciona!ento – inclusi&e dire60o cl?nica – desta

institui60o na/uele !o!ento$ 2arece4nos i!portante reto!ar "re&e!ente esta #ist=ria pois

perce"e!os seus refle9os at7 #o5e$

A CJM foi fundada em 1924, na área de um dos mais antigos engenhos de cana de açúcar de

Jacarepaguá. Já em sua inauguração contaa com uma infra!estrutura ur"ani#ada $ redes de %u#, água e

esgoto, casas e par&ues $ mesc%ada ' infra!estrutura hospita%ar $ 1( pai%h)es constru*dos, %aanderia,

refeit+rio, farmácia, %a"orat+rios, necrotrio e enfermarias. -/0A0C, 2335 23136. 7eu mode%o

seguia o &ue era preconi#ado na poca como direção naciona% de tratamento psi&uiátrico 48 o hospita%!

co%nia, comp%e:o hospita%ar &ue ocupaa e:tensa área f*sica, afastado das regi)es mais ur"ani#adas.

;efendido desde os anos de ,T,+ por Juliano Moreira era reafir!ado nos anos

O+ e N+ do s7culo \\ co!o padr0oK tanto no sentido de parecer ser 

considerado o /ue #a&ia de !ais ade/uado ao trata!ento de doentes !entais

/uanto no sentido do incenti&o siste!1tico /ue 7 dado à sua reprodu60o$

(EACI' *++D p$ -)$

Confor!e enancio

e! ,TN, a CJM a"riga&a portanto cerca de -$D++ enfer!os de a!"os os se9os

e tin#a co!o principais unidades #ospitalares O cl?nicas psi/ui1tricas (* nos

núcleos !asculinos Hlsses ianaK e Rodrigues CaldasK e * nos núcleos

fe!ininos ei9eira Prand0oK e Franco da Roc#aK) Ploco M7dico Cirúrgico (de

3 Ao longo do cap?tulo O 4 Ati&idades do cuidadorK discutirei !ais a!pla!ente co!o a categoria cuidadorK se

constitui e /uais os principais desafios /ue atra&essa! sua ati&idade de tra"al#o$4 Cf$ EACI' *++D e EACI' *+,+ so"re o Ser&i6o acional de ;oen6as Mentais$

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cl?nicas especiali.adas) * 2a&il#8es de isiologia (fe!inino e !asculino) a

2upileira e o A!"ulat=rio de Gigiene Mental o /ual encontra&a4se situado na

a/uara fora da 1rea f?sica da CJM$ ' a!"ulat=rio tin#a co!o o"5eti&o o

diagn=stico do paciente agudo e encarrega&a4se da triage! dos pacientes /ue

entra&a! na CJM$ (*++D p$ N)

Ga&ia na ColBnia dois pilares assistenciais a pra9iterapia e a assistência #etero4

fa!iliar$ A assistência #etero4fa!iliar pre&ia o contato siste!1tico dos doentes co! pessoas

nor!ais e sadias de !aneira a propiciar u! con&?&io social s0o ainda /ue !?ni!o$

;e&e o go&erno construir casin#as #igiênicas para alugar às fa!?lias dos "ons

e!pregados /ue poder0o rece"er pacientes suscept?&eis de sere! tratados e!

do!ic?lio$ Far4se41 assi! assistência fa!iliar$ Se nas redonde.as da colBnia

#ou&er gente idBnea a /ue! confiar alguns doentes poder4se4 1 ir estendendo

essa assistência #eterofa!iliar e at7 tentar a #o!ofa!iliar (Moreira ,T,+)N$

'corria! a68es &oltadas para a popula60o de funcion1rios e seus fa!iliares co!o o

Clu"e Atl7tico da ColBnia o par/ue infantil e cele"ra68es de !issas$ ;entro desta proposta na

con&i&ência social cotidiana os funcion1rios e seus fa!iliares era! no!eados moradoresK e

os pacientes hóspedesK (EACI' *++D)$ A partir deste conte9to enancio aponta /ue o processo de a"andono

despersonali.a60o e perda de &?nculos sociais analisados por autores /ue fala! de pr1ticas

asilares (cf$ F'HCAH% ,TD e 'FFMA ,TD) 7 corro"orado pela e9periência da CJM

por7! #1 alguns !o&i!entos espec?ficos e singulares desta institui60o

' pri!eiro !o&i!ento foi o de constitui60o de u!a pol?tica assistencial

psi/ui1trica forteK no sentido do plane5a!ento e i!planta60o de diretri.es

!oderni.adoras de organi.a60o do pr=prio Estado frente ao pro"le!a da

assistência aos doentes !entais e /ue &isa&a e9ata!ente constranger o aflu9o

de pacientes de outros estados para os grandes centros ur"anos da regi0o

sudeste e! particular o ;istrito Federal o /ual #istorica!ente por !uito te!po

acol#eu os ent0o alienados de diferentes regi8es do pa?s$ a 5ustificati&a das

a68es terapêuticas a sere! i!ple!entadas nas no&as institui68es e na

a!plia60o da/uelas co!o a CJM encontra!os !en60o as !ais !odernas

t7cnicas de trata!ento se5a! as !ais cient?ficasK ancoradas nu!a &is0o

5 Conforme citado por Venancio (2011, p. 40)

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org<nica do paciente e "ali.ada por estudos e an1lise de casos cl?nicos (co!o s

diferentes tipos de trata!ento por c#o/ue)> se5a! as de cun#o !ais sociali.ante

co!o a pra9iterapia e a assistência #etero4fa!iliar$

' segundo !o&i!ento di. respeito à confor!a60o de u!a &ida socialK

ala&ancada pelos trata!entos !ais sociali.antes e /ue independente do ê9ito

dos !es!os aca"ou por dar orige! a constitui60o e reprodu60o de u!

a!"iente /ue e! certa !edida dilu?a os sentidos de isola!ento e interna!ento

pr=prios dos lugares asilares$ 2rodu.ia4se u!a &ida social e! /ue os doentes

era! c#a!ados de #=spedesK e! /ue o lugar de cura dos enfer!os e de

tra"al#o para os profissionais passa&a a ser ta!"7! locus de !oradia dos

funcion1rios e onde di&ersos e/uipa!entos sociais – o clu"e o cine!a o r1dio

por autofalantes a igre5a o par/ue infantil a escola – era! pro&idenciados e

!antidos pela institui60o$ A CJM passa assi! a ter u!a outra fun60o social /ue

n0o apenas a do trata!ento e da e9clus0o social decorrente do interna!ento

prolongado dos pacientes e do afasta!ento geogr1fico do centro ur"ano> ela

passa contraditoria!ente a reprodu.ir u! núcleo ur"ano to!ando co!o

popula60o al&o dessa e!preitada as pessoas co!uns e sadias$ (p$4D)

;esta !aneira a co!unidade constitu?da no co!ple9o #ospitalar e atual!ente nos

seus arredores est1 direta!ente &inculada aos pacientes da CJM$ Muitos funcion1rios &i&era!

durante toda sua &ida na ColBnia e relata! le!"ran6as do con&?&io na inf<ncia e

adolescência co! pacientes /ue #o5e eles s0o respons1&eis pelo cuidado$

Co! a !unicipali.a60o da ColBnia e! ,TT seguindo o preconi.ado pelo SHS e!

rela60o à descentrali.a60o das unidades de saúde sua 1rea foi di&idida e! cinco setores

&isando separar a 1rea ur"ana intensa!ente ocupada pela popula60o (/ue passou a ser 

ad!inistrada pela Secretaria Municipal de Ga"ita60o) e a 1rea #ospitalar$ A 1rea #ospitalar 

passou a ser gerida pela Secretaria Municipal de Saúde e ;efesa Ci&il (SMS;C) constituindo4

se o IMAS Juliano Moreira$ A parte /ue inclui outras 1reas caracteri.adas co!o de

preser&a60o a!"iental passou a ser gerenciada pela Funda60o 'saldo Cru. (Ca!pus

Fiocru. da Mata Atl<ntica) (cf$ MACIE% E A% *++D)$

 Atual!ente a ColBnia 7 u!a 1rea de ta!an#o e/ui&alente ao "airro de Copaca"ana$

2arte desta regi0o 7 locali.ada no "airro de Curicica e parte no "airro da a/uara – regi0o de

Jacarepagu1 sendo /ue o o"5eti&o 7 tornar4se u! "airro pr=prio deno!inado ColBnia$

6 Conferir not?cia #ttp@@$cidadeoli!pica$co!$"r@colonia45uliano4!oreira4gan#a4status4de4"airro@ de,*@+D@*+,,$

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o pri!eiro se!estre do segundo ano da Residência esti&e inserida no 2R /ue à

7poca era &inculado ao IMAS Juliano Moreira$ a/uele !o!ento ti&e oportunidade de

participar de u! processo único a desospitali.a60o e inser60o e! Residências erapêuticas

(R) de D+ pessoas /ue esti&era! institucionali.adas por u! longo per?odo$ ;e&ido a este

processo aco!pan#ei a sa?da de algu!as pessoas dos úcleos para as R podendo assi!

con#ecer a ColBnia de diferentes <ngulos$

;urante !uito te!po os úcleos era! &istos e utili.ados apenas co!o #ospitais de

longa per!anência$ Muitos internos era! origin1rios de outras institui68es  psi/ui1tricas ou

n0o co!o antigo Gosp?cio acional (atual IM22) Centro 2si/ui1trico 2edro II (atual IMAS ise

da Sil&eira) FEPEM FHAPEM e orfanatos$ 0o #a&ia pre&is0o de sa?da a n0o ser pela

!orteD$

Rara!ente era poss?&el reali.ar o retorno fa!iliar do paciente$ 2or &e.es os internos

era! adotadosK por funcion1rios e seus fa!iliares e este era o processo de desospitali.a60o

!ais co!u! – /ue #istorica!ente era a dire60o do trata!ento sociali.anteK adotado

oficial!ente na CJM confor!e &i!os aci!a$

 Atual!ente e9iste! &inculados ao IMAS JM u! úcleo !asculino – Rodrigues Caldas

(RC) e dois fe!ininos – ei9eira Prand0o (P) e Franco da Roc#a (FR)$ At7 ano passado

e9istia! ta!"7! o úcleo Hlisses ianna (H !asculino) e o úcleo de Rea"ilita60o e

Integra60o Social (HRIS)$ Co! a a"ertura de ,+ Rs na 1rea da ColBnia e co! a

per!anente cria60o de Rs no !unic?pio do Rio &isando à e9tin60o de institui68es /ue

pro!o&e! interna68es de longa per!anência foi poss?&el o fec#a!ento do HRIS e do H

no segundo se!estre de *+,*$

;urante !uito te!po o HRIS era c#a!ado Centro de Rea"ilita60o e Integra60o Social

(CRIS)$ Funciona&a co!o u! #ospital de passage! entre as pessoas /ue esta&a! saindo dos

outros úcleos e indo para Rs$ Z !edida /ue os úcleos se apropriara! da proposta de

desinstitucionali.a60o fora! paulatina!ente assu!indo a fun60o do CRIS$ ;esta !aneira osúcleos s0o agora dispositi&os estrat7gicos no processo de desinstitucionali.a60o no

!unic?pio pois rece"e! paciente das cl?nicas con&eniadas /ue est0o e! fec#a!ento no Rio

de Janeiro e !un?cipes do Rio internados e! !unic?pios &i.in#os e9ercendo a fun60o de lugar 

de passage! antes delegado ao HRIS e au9iliando no processo de fec#a!ento de cl?nicas

co!o a ;r$ Eiras e! 2araca!"i e a A!endoeiras e! Jacarepagu1 no ano de *+,*$

7 Atual!ente o 2R 7 &inculado ao CA2S III Art#ur Pispo do Ros1rio$

8I!pressionou4nos /ue a fic#a de cadastro da entrada do paciente tin#a co!o ca"e6al#o os seguintes espa6os apreenc#er o!eK ;ata de entradaK ;ata de ="itoK$

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Organi6a$o dos Nc!eos

's úcleos s0o for!ados por pa&il#8es$ Atual!ente e! todos os três úcleos co4

e9iste! dois tipos de pa&il#8es no for!ato enfer!ariaK e no for!ato /uartosK$ 's pa&il#8es4

enfer!ariasK s0o a"ertos$ S0o grandes sal8es co! de.enas de ca!as ocupando o !es!o

espa6o$ 's pa&il#8es4/uartosK s0o esses !es!os sal8es /ue gan#ara! di&is=rias (de

concreto ou de outros !ateriais) transfor!ando4os e! /uartos para duas ou três pessoas$

o úcleo onde a pes/uisa foi reali.ada e9iste! cinco pa&il#8es sendo dois no for!ato

enfer!ariaK e três no for!ato /uartoK$

Cada úcleo costu!a ter dire60o coordena60o t7cnica coordena60o de enfer!age! e

super&is0o de enfer!age!$

Cada pa&il#0o te! os seguintes profissionaisT

• H! 7cnico de Referência profissional da saúde de n?&el superior respons1&el pela

dire60o t7cnica do tra"al#o co! os pacientes da/uele pa&il#0o incluindo

aco!pan#a!ento do tra"al#o dos cuidadores$

• H! a dois cuidadores dos úcleos profissional de n?&el !7dio co4respons1&el pelo

aco!pan#a!ento dos pacientes> tê! regi!e de tra"al#o diarista co! carga #or1ria de

O+ #oras se!anais$

• 2rofissionais de enfer!age! profissionais de n?&el !7dio (au9iliar) ou n?&el t7cnico de

enfer!age!> tê! regi!e de tra"al#o co!o plantonistas co! escalas di&ersas (,*

#oras de tra"al#o por - #oras de folga ou ,*#9+# por e9e!plo)

9

 o !o!ento da pes/uisa e! de.e!"ro@*+,* era u! t7cnico de referência e u! ou dois cuidadores$ o!o!ento da de&oluti&a e! a"ril@*+,- #ou&e u!a reorgani.a60o do tra"al#o e e9iste! agora dois t7cnicos dereferência e dois a três cuidadores por pa&il#0o$

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3. ROCEDIMENTOS DE ESUISA

ratar do te!a saúde do tra"al#adorK dentro dos ser&i6os de saúde !ental n0o 7 tarefa

si!ples$ 's espa6os de discuss0o s0o co!u!ente reser&ados a pensar o cuidado do usu1rio

e n0o de seus tra"al#adores$ E este costu!a ser u! assunto &elado /ue /uando surge 7 e!

con&ersas infor!ais e do /ual se aca"a tratando de for!a indi&iduali.ada$ a apresenta60o do

pro5eto de pes/uisa para con&idar os cuidadores a participar u!a cuidadora /ue esta&a e!

dú&ida so"re /ual seria o o"5eti&o do !es!o disse 0T7, então vocC vai avaliar como que a

instituição dei6ou a gente doenteH u o que é que a gente t7 fa)endo de errado que dei6a a

gente doenteH :ai ver de quem é a culpa2(((3  (Cuidadora *@,+@*+,*)$

  a dire60o de pro"le!ati.ar a saúde do tra"al#ador pensa!os ser i!prescind?&el

utili.ar discuss8es e! grupo co!o instru!ento principal de a"ordage! da pes/uisa de for!a

a n0o reprodu.ir a indi&iduali.a60o das /uest8es do tra"al#ar /ue considera!os u!a

di!ens0o coleti&a$ 

 A princ?pio a ideia era tra"al#ar co! cenas &istas e &i&idas por !i! durante a

residência /ue so"ressaltara! por apresentar /uest8es ligadas à saúde do tra"al#ador$

2or7! opta!os por tra"al#ar inspirando4nos nas oficina de fotos ('s=rio *+,+) co!o

disparador das discuss8es de for!a a afir!ar o protagonis!o do tra"al#ador no processo de

an1lise de sua ati&idade de tra"al#o$

 Assi! a proposta foi /ue os tra"al#adores fotografasse! cenas do seu cotidiano /ue

esti&esse! relacionadas co! o /ue eles entendia! co!o saúde ou adoeci!ento no tra"al#o

e ao le&ar!os para o grupo essas fotos pudesse! suscitar discuss8es acerca do te!a$

as oficinas de fotos "e! co!o e! outros dispositi&os usados na cl?nica da

ati&idade o /ue se prop8e 7 u!a for!a de co4an1lise do tra"al#o praticada no

a!"iente #a"itual de tra"al#o transfor!ado pela introdu60o do pes/uisador dos

instru!entos de o"ser&a60o e das !arcas i!ag7ticas /ue ser0o suporte para as

an1lises co4produ.idas$ ('S]RI' *+,, p$ *,D)$

Pusca!os co! a utili.a60o da oficina de fotos dar &isi"ilidade a conflitos inerentes ao

processo de tra"al#o para /ue pud7sse!os refletir so"re co!o interfere! na saúde do

tra"al#ador e /ue a68es s0o poss?&eis para pro"le!ati.ar o cotidiano e coleti&i.ar as /uest8es$

A entrada no cam,o

21

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 Ap=s apro&a60o pelo Co!itê de Ytica do IMAS Juliano Moreira inicia!os a entrada no

ca!po$ 2ela e9periência ao longo do ano nos úcleos e nas R> e pelo pr=prio contato co! os

profissionais deste territ=rio ti&e!os algu!as indica68es so"re /ual ca!in#o percorrer$

 A pes/uisa se organi.ou e! /uatro !o!entos a sa"er

I$ Con&ite (três reuni8es de e/uipe)

II$ Encontro para apresentar@construir a proposta (u! encontro)

III$ Encontros para apresenta60o das fotos (três encontros)

I$ ;e&oluti&a (u! encontro)

2ara dar in?cio aos con&ites entra!os e! contato co! as coordenadoras do 2R e co!

o diretor de u! dos úcleos$ Eles orientara! a procurar as aco!pan#antes terapêuticas ,+ (A)

das residências terapêuticas e a coordenadora t7cnica do úcleo – pois elas teria! !aior 

pro9i!idade do tra"al#o cotidiano dos cuidadores inclusi&e era! /ue! reali.a&a! as reuni8es

co! os cuidadores$ A essas pessoas solicita!os participar de u!a de suas reuni8es para

apresentar a proposta da pes/uisa e con&idar os cuidadores a participar das discuss8es$

;urante o per?odo /ue esti&e na R co!o residente a reuni0o co! os cuidadores !e

pareceu essencial – era o espa6o de troca e onde era poss?&el construir a dire60o de tra"al#o$

Y claro /ue no cotidiano #1 inter&en68es poss?&eis 5unto a esses tra"al#adores de for!a a

co!partil#ar a l=gica da Refor!a 2si/ui1trica para /ue eles atue! ta!"7! nesta dire60o

por7! o espa6o de reuni0o 7 pri&ilegiado para se pensar e construir con5unta!ente as a68es$

Isso se reflete na reposta à solicita60o para participar das reuni8es a coordenadora e as As

de!onstrara! apoio e interesse ao pro5eto e autori.ara! a nossa presen6a na reuni0o$ A

pri!eira fe. a ressal&a de /ue n0o utili.1sse!os o espa6o da reuni0o co!o espa6o para as

discuss8es da pes/uisa propria!ente dita$ 0'reciso muito desse espaço com eles2223  (sic)$ Eu!a das As /uando !enciona!os /ue se n0o pudesse e! u!a se!ana poderia ser na

outra – 0se tiver reunião23  eu disse$ Ela pronta!ente respondeu 0%ão, não2 Se não tiver essa

semana, semana que vem tem que ter22 Eu preciso23

Essas reuni8es n0o fora! gra&adas 51 /ue a inten60o era con&idar os tra"al#adores e

apesar de poder ante&er /ue alguns assuntos 51 surgiria! na apresenta60o da proposta e no

10

 2rofissional de n?&el superior respons1&el pelo aco!pan#a!ento de apro9i!ada!ente , !oradores e! duasou !ais Rs "e! co!o o aco!pan#a!ento da e/uipe de cuidadores co4respons1&el pelo tra"al#o co! os!oradores$

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con&ite eles ainda n0o #a&ia! consentido sua participa60o$ 2or7! registra!os e! di1rio de

ca!po todas as reuni8es$

2articipa!os de três  reuni8es$ ;uas era! for!adas por tra"al#adores de Rs sendo

on.e cuidadores dentre os /uais surgira! cinco interessados e! participar da discuss0o

proposta$

 A terceira reuni0o foi co! os cuidadores &inculados ao úcleo$ A coordenadora t7cnica

/ue condu.ia a reuni0o fe. u!a fala so"re a i!port<ncia de os cuidadores 0pararem de fa)er 

quei6as pelos corredores, e procurarem lugares leg1timos para isso I como o desta pesquisa,

que ser7 apresentada para muita gente importante, gente que pensa a organi)ação de seus

tra"alhos3 $ 's cuidadores ficara! !uito atentos à proposta tirara! suas dú&idas e ent0o dos

oito cuidadores presentes seis de!onstrara! interesse e! participar das discuss8es$

Co!o !encionado anterior!ente parte dos interessados n0o pBde co!parecer aos

encontros sendo a pes/uisa reali.ada apenas co! cuidadores do úcleo$

Os encontros

 Antes de iniciar!os os encontros todos os participantes assinara! o er!o de

Consenti!ento %i&re e Esclarecido (C%E) autori.ando a gra&a60o e di&ulga60o acadê!ica

das discuss8es$

Reser&a!os no&enta !inutos para cada encontro$ a pr1tica todos os encontros

ti&era! dura60o de apro9i!ada!ente sessenta !inutos$ Este foi o te!po necess1rio pois

ap=s este te!po os assuntos co!e6a&a! a se repetir e o cansa6o a to!ar conta de nossos

corpos$ e! todos os cuidadores do úcleo /ue de!onstrara! interesse e! participar 

pudera! estar presentes e! todos os encontros se5a por /uest8es pessoais ou profissionais$

' pri!eiro encontro te&e co!o o"5eti&o apresentar@construir a proposta da oficina de

fotos siste!ati.ando ta!"7! os pr=9i!os encontros$ esse !o!ento "usca!ospro"le!ati.ar a rela60o entre saúde do tra"al#ador e tra"al#o e! saúde !ental$ 2ara isso

inicia!os con&ersando so"re o /ue gera pra.er e o /ue gera sofri!ento no tra"al#o /ue

reali.a!$ E este foi o par<!etro para /ue eles reali.asse! a escol#a das fotos$ A cada no&o

encontro para apresenta60o das fotos eles costu!a&a! declarar 0agora vou falar so"re o

 pra)er(((3  ou 0isto tem a ver com a parte do sofrimento(((3(

este encontro ta!"7! co!"ina!os /ue! traria as fotos nos pr=9i!os três encontros

no segundo !o!ento da pes/uisa$ 2or7! na pr1tica aconteceu /ue a cada encontro ?a!os

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sugerindo /ue! traria as fotos do pr=9i!o$ E por !ais /ue todos ti&esse! se

interessado@co!pro!etido e! tirar fotos e escol#er /uais le&ar no fi! das contas dos seis

participantes apenas três pessoas le&ara! fotos sendo u!a por encontro$

' terceiro !o!ento co!posto por três encontros te&e co!o o"5eti&o a apresenta60o

das fotografias e discuss0o co! o grupo acerca do /ue estas fotografias suscita! /uando

relacionadas ao te!a saúde do tra"al#adorK$

2ara reali.ar a an1lise das discuss8es ou&i!os as gra&a68es por três &e.es u!a

pri!eira escuta superficial para rele!"rar os encontros> u!a segunda &e. co! a inten60o de

elencar os principais assuntos a"ordados> e u!a últi!a para transcre&er os trec#os /ue

elege!os para co!por o tra"al#o final$

a tentati&a de agrupar os te!as /ue do!inara! os de"ates destaca!os /uatro ei9os

te!1ticos A ati&idade do cuidador> ' lugar #?"rido da institui60o casa ou #ospital3> ' pra.er e

o sofri!ento no tra"al#o das rela68es entre o cuidador e o paciente> Espa6os @ Modos de

Cuidado do ra"al#ador$

 Ap=s a defini60o desses ei9os recol#e!os os dados referentes aos t=picos – relendo os

di1rios de ca!po e ou&indo as gra&a68es pela terceira &e. – e pude!os desen&ol&er a

discuss0o co!o apresenta!os a seguir$

o /uarto !o!ento foi reali.ada u!a de&oluti&a para discuss0o dos efeitos e a&alia60o

da oficina "e! co!o para a decis0o so"re se e co!o reali.are!os u!a de&oluti&a para o

grupo de profissionais do úcleo$ esta discuss0o c#ega!os à conclus0o de /ue n0o seria

necess1rio reali.ar nen#u!a inter&en60o na institui60o pois o /ue foi identificado co!o efeito

para o tra"al#o a partir da pes/uisa – pensar a reorgani.a60o do tra"al#o e! e/uipe e

estrat7gias para dar !aior &isi"ilidade ao tra"al#o do cuidador – 51 &e! sendo reali.ado no

úcleo neste no&o !o!ento /ue a institui60o est1 &i&endo (confor!e apresentare!os noúlti!o cap?tulo deste tra"al#o)$

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4. A ATI;IDADE DO CUIDADOR

a Classifica60o Prasileira de 'cupa68es (PRASI% *++*) encontra!os so" o t?tulo

N,* a ocupa60o Cuidadores de crian6as 5o&ens adultos e idososK /ue inclui Pa"1

Cuidador de Idosos M0e social e Cuidador e! SaúdeK$ As 1reas de ati&idades descritas s0o

a"rangentes e pode!os utili.14la para perce"er a di&ersidade de fun68es /ue u! cuidador 

pode e9ercer dependendo da institui60o e da dire60o de tra"al#o a /ue est1 su"!etido$

 Assi! tal&e. a especificidade do cuidador de saúde !ental 7 n0o ter especificidade de

!aneira /ue as a68es desta categoria escapa! a territ=rios disciplinares constituindo u!

territ=rio trans&ersal de atua60o$

2ode!os perce"er /ue de acordo co! os cuidadores seu tra"al#o est1 &inculado à

reali.a60o do /ue c#a!a!os de ati&idades de &ida di1ria (A;) 5unto co! o usu1rio

principal!ente seus cuidados pessoais e circula60o no territ=rio$

e! pessoas /ue n0o entende! o /ue 7 o tra"al#o do cuidador$ Sa"e3 '

cuidador n0o 7 u! t7cnico da saúde !ental> n0o 7 u! t7cnico de enfer!age!> B

uma outra coisa$ A gente t1 a/ui pra a5udar o paciente inserir ele na sociedade$

o caso co!o a5udar a ensinar a to!ar u! "an#o> co!o a5udar a co!o 7 /ue

se &este u!a roupa> co!o sair !ostrar a eles os ca!in#os /ue eles tê! /ueto!ar pra ir e &oltar> e outras coisas !ais$ ($$$) ^A# !as o cuidador te! /ue

fa.er_ Ui!ita fala de outrosV$ 0o o cuidador n0o te! /ue fa.er> o cuidador te!

/ue at7 fa.er 5unto !as o cuidador te! /ue a5udar$ Sa"e3 Ent0o 7 ligado à

fun60o de orientar o paciente$ (Maria +@,*@*+,*),,

Ue! diferen6a do papel do cuidador para os outros profissionais3V e! te!$

Cada u! te! seu papel n7$ ' cuidador fica !ais nessa responsa"ilidade de t1

le&ando para o territ=rio de t1 tirando da casa desse #1"ito institucional dentrodo pa&il#0o ($$$) e!"ora a gente fa6a outras coisas ta!"7!$ Mas eu ac#o /ue 7

!uito &1lido /uando a gente consegue tirar o paciente da institui60o le&ar l1

para fora con#ecer outras coisas$$$ Ainda !ais paciente /ue n0o te! #1"ito de

fa.er isso$ (Ana *-@,,@*+,*)

' cuidador 7 o /ue cuida n7$ Y o /ue cuida de /ue! n0o pode cuidar de si

!es!o$ (Ana *,@,*@*+,*)

11 's tra"al#adores e os pacientes est0o identificados neste tra"al#o por no!es fict?cios$25

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0o 7 o paciente /ue te! /ue se agregar  à gente$ A gente 7 /ue te! /ue se

agregar ao paciente E at7 ent0o eu digo /ue eles s0o os nossos patr8es$ E

/uando n=s c#ega!os eles 51 esta&a! a/ui$ Se n0o fosse! eles eu n0o estaria

a/ui$ (Maria +@,*@*+,*)

 A ati&idade do cuidador e! saúde !ental 7 identificada co!o u! estar 5untoK fa.er 

 5untoK a5udarK /ue! n0o consegue cuidar so.in#o de si !es!o$ 2ara isso ele te! /ue se

agregarK ao usu1rio o /ue nos re!ete à u!a ati&idade de tra"al#o &isceral!ente relacionada

ao &?nculo e aos efeitos produ.idos na &ida cotidiana dos usu1rios$ anto 7 /ue frente à

proposta de fotografar o tra"al#o todas as fotos tra.idas pelos tra"al#adores era! de

pacientes assi! co!o a !aioria dos relatos das situa68es de sofri!ento no tra"al#o esta&a!

relacionados a situa68es de sofri!ento dos usu1rios$ ;ada a rele&<ncia desse assuntodedica!os o cap?tulo ' pra.er e o sofri!ento no tra"al#o das rela68es entre o cuidador e o

pacienteK para !aior discuss0o do te!a$

Considerando a perspecti&a do cuidador perce"e!os ainda /ue seu !odo de cuidar 

transita entre as pr1ticas cl?nica e pedag=gica$

2edro a &erdade na &erdade isto 7 u! adestra!ento$ Ana Y$ %ucila

adestra!ento de /ue!3 Ana de gente$ %ucila ;os pacientes ou de &ocês3

Maria ;eles$ 2edro E a gente &ai ensinando a gente &ai adestrando da !el#or 

!aneira poss?&el$ Uma reeduca$o di)erenciada /ue a gente fa.$ 2or !ais

/ue se5a e! ter!os repetiti&o a gente est1 se!pre focado e! fa.er o !el#or$

2assa a ser um adestramento mesmo$ ($$$) A gente te! u! tra"al#o !uito$$$

!e fugiu a pala&ra agora$ Ana e Maria !uito &i&o de todo dia t1 insistindo$$$ ($$$)

2or/ue por !ais /ue a gente n0o /ueira a gente aca"a sendo u!a pessoa !uito

dura !uito$$$ Rita At7 às &e.es r?gido as &e.es at7 !ais /ue$$$ ($$$) Maria E te!

pessoas /ue a gente &ê /ue o nosso tra"al#o cl?nico 7 &ocê se i!por n7 pra

eles podere!$$$ 7 por/ue 7 /ue ne! pai e !0e$ ocê te! /ue respeitar$ Se pai e

!0e n0o sou"er se i!por fil#o n0o respeita$ Ana Y por/ue a gente /uer o

!el#or pra eles$ ($$$) Ent0o &ocê passa a ser o adestrador o reeducador$ udo

depende de &ocê$ a #ora de recon#ecer tudo$ (Cuidadores +@,*@*+,*)

's cuidadores fala! de u!a caracter?stica do tra"al#o /ue 5ulgara! produ.ir

parado9al!ente sofri!ento e pra.er o ato de repetir orienta68es para o paciente 0todo dia,

toda hora, a todo instante, a todo momento3  (Maria +@,*@*+,*)$

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e! dia /ue gente sai da/ui co! a ca"e6a deste ta!an#o$ 0o 7 u! cansa6o

f?sico 7 u! cansa6o !ental$ 2or/ue o nosso tra"al#o 7 repetiti&o$ odo dia te!

/ue a&an6ar !ais u! ponto todo dia te! /ue su"ir !ais u! degrau$ E /uando a

gente consegue su"ir !ais u! degrau 7 t0o "o! 7 t0o gostosoL Mas e!

co!pensa60o a ca"e6a da gente fica !uito grandeL (Maria +@,*@*+,*)

Este tra"al#o 7 e9e!plificado co! situa68es e! /ue os cuidadores elege! algo /ue

ac#a! i!portante /ue o paciente sai"a fa.er dentro das regras sociais &igentes e insiste!

repetindo todo dia at7 /ue o paciente co!ece a fa.er$ 2edro conta a #ist=ria de u! paciente

/ue 0não ficava dois minutos de roupa23  Ent0o 2edro iniciou u! tra"al#o de 0insistCncia3  co!

Joa/ui!$ Co!"inou /ue ele s= poderia ficar nu no espa6o de seu /uarto$ 0E ele o"edeceu, de

 prontoH3 0'ode chegar l7 4agora5 que ele só vai t7 pelado dentro do quarto dele23 $ 2or7! n0o 7u! tra"al#o /ue se fa. da noite para o dia$ 2edro relata 0eu insisti dois meses com o Joaquim(

$ais .K dias eu não aguentava, eu ia levantar a "andeira e falar; chega( @oi quando eu dei6ei 

ele 8 vontade e ele vestiu a roupa dele(3  (2edro +@,*@*+,*)$

Este tra"al#o de repeti60oK ta!"7! fica e&idenciado no /uarto encontro$ ;uas das três

fotos /ue a cuidadora le&ou retrata&a! o /ue ela no!eou de 0situaçGes pra)erosas3 

0situaçGes de conquista3 $ H!a foto de u! paciente arru!ando sua pr=pria ca!a e outra de u!

paciente se "ar"eando$ 0A gente vai orientando todo dia e chega uma hora que eles aca"amassimilando, né, que aquilo é "om pra eles, que é melhor que eles comecem a fa)er(3   (Ana

*,@,*@*+,*)$

ransitar entre as pr1ticas cl?nicas e pedag=gicas pro&oca u! tensiona!ento na

discuss0o do /ue 7 cuidado$ At7 /ue ponto u!a pr1tica pedag=gica pode ser ta!"7! cl?nica3

2ara !el#or an1lise precisa!os estar atentos aos efeitos pro&ocados por tais pr1ticas "e!

co!o atentos ao discurso do cuidador tentando co!preender /ue l=gicas !oti&ara! suas

a68es$

;e todo !odo perce"e!os /ue nesse e!"ate cotidiano de sa"eres co! rela60o ao /ue

7 cuidar ao /ue 7 loucura /uais os paradig!as /ue de&e! orientar o tra"al#o e9iste u!a

for6a na dire60o da des&alori.a60o dos sa"eres constru?dos na pr1tica pelos cuidadores$

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H!a coisa /ue o Miguel fala /uando t1 apresentando a foto do Igor a /uest0o

do cigarro$ o H os cuidadores da&a! cigarro nas #oras !arcadas O ou N

por dia – ap=s o caf7 o al!o6o o lanc#e e a 5anta$ :uando !udou a t7cnica de

referência ela adotou a dire60o de dar din#eiro para os pacientes ire! àpadaria co!prar seus pr=prios cigarros e /ue o !a6o ficasse co! eles –

estrat7gia para pro!o&er autono!ia à !edida /ue os pacientes poderia!

aprender a controlar seu cigarro tendo4os dispon?&eis$ Miguel ficou !uito

estressado co! isso e u! dia falou co!igo (/uando eu ainda era residente no

H)$ Ele ac#a&a /ue assi! os pacientes esta&a! fu!ando !ais /ue eles

(cuidadores) tin#a! feito todo u! tra"al#o para os pacientes di!inu?re! o fu!o

e esse tra"al#o tin#a sido despre.ado (n0o le!"ro se foi essa a pala&ra /ue ele

usou) 5ogado fora$ :ue eles n0o fora! ou&idos co! rela60o a isso e agora os

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pacientes &oltara! a fu!ar !uito !ais e at7 ficar !eio co!pulsi&os e co! os

co!porta!entos de antes a&an6ar no cigarro dos outros pedir cigarro toda #ora

para todo !undo ficar irritado /uando n0o te! fa.er pirra6a para conseguir –

co!porta!entos /ue segundo Miguel 51 n0o acontecia! !ais co! suas (dos

cuidadores) estrat7gias$K (;C ,O@,*@*+,*)

 Al7! do e9posto aci!a os cuidadores perce"e! u!a discri!ina60o co! rela60o a seu

tra"al#o &inculada à falta de clare.a para todos do /ue 7 a fun60o do cuidador$

Miguel Zs &e.es para outros cargos nosso tra"al#o n0o 7 nada$ ^' /ue &ocês

fa.e!3 UI!ita outros perguntando nu! to! irBnicoV_$ Rita Ac#a! /ue so!os as

pessoas /ue n0o fa.e! nada$ 2elo contr1rio a gente fa. "astante coisa !as

ne! todo !undo perce"e a nossa fun60o a/ui dentro$ Ana a realidade essa 7

u!a situa60o !uito antiga o /ue o cuidador fa. e o /ue a enfer!age! fa.$

Ent0o e9iste esse confronto$ ' /ue o cuidador fa.3 ' /ue a enfer!age! fa.3K

(Cuidadores *-@,,@*+,*)

2erce"e!os /ue esta discri!ina60o /ue sente! en/uanto cuidadores aparece

principal!ente na rela60o co! a enfer!age!$ ;esta !aneira relata! /ue as !aiores

possi"ilidades de parceria aca"a! sendo co! o t7cnico de referência de seu pa&il#0o apessoa co! /ue! reali.a! !ais trocas$

 As fun68es do cuidador s0o constru?das no cotidiano e !es!o /uando 7 poss?&el

descre&ê4las ne! se!pre os li!ites do tra"al#o fica! claros para os cuidadores ou /ue!

tra"al#a co! eles$ Esta confus0o se fa. !ais e&idente no encontro dos cuidadores –

principal!ente os /ue est0o #1 !enos te!po na fun60o – co! os t7cnicos de enfer!age!$

Esta /uest0o n0o est1 restrita aos úcleos$ Atual!ente a regula!enta60o da profiss0o

do cuidador est1 atra&essada pela discuss0o dos li!ites da categoria principal!ente frente às

fun68es do t7cnico de enfer!age!,*$

E9iste! algu!as tarefas /ue teorica!ente seria! papel da enfer!age! e o cuidador 

aca"a fa.endo na !edida e! /ue perce"e a necessidade do paciente$ 2or7! se ao reali.ar 

estas tarefas algu!a coisa sair errado o cuidador sente /ue ser1 responsa"ili.ado – se! o

apoio do t7cnico de enfer!age!> co! o apoio apenas do t7cnico de referência$ Co!o

e9e!plo eles cita! u!a tarefa /ue Jo0o reali.ou /ue estaria na al6ada do t7cnico de

12

 Conferir not?cias so"re o 2ro5eto de %ei O+*@,* /ue regula!enta a profiss0o de cuidador de idoso e! tr<!itena C<!ara dos deputados pu"licada e! *,@+*@*+,-#ttp@@*$ca!ara$leg$"r@ca!aranoticias@noticias@O-++D$#t!l 

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enfer!age! aparar os pelos pu"ianos de u! paciente /ue esta&a! na &is0o de Jo0o

e9cessi&a!ente grandes 0saindo pelo short, até a "arriga3  (sic Jo0o)$

Ser1 /ue &0o &er /ue ele UcuidadorV /uis fa.er a/uilo por/ue ele &iu /ue ta&a

necess1rio pra fa.er e ele te&e u!a &ontade de fa.er pra !el#orar a situa60o

corporal do paciente da #igiene do paciente3 (Ana *,@,*@*+,*)

Eu se!pre passo a eles Ucuidadores !ais no&os na fun60oV o seguinte tudo te!

/ue passar para a enfer!age!$ udo$ ($$$$) E a? te! caso /ue$$$ Ui!ita u! t7cnico

de enfer!age! falandoV a#$$$ eu por !i! n0o le&a&a$$$K 2or e9e!plo /ue a

press0o t1 alta$ A? se eu pego e le&o e ele UpacienteV passa !al Ui!ita u!

t7cnicoV a#$$$ eu falei pra n0o le&ar$$$K$ 2or/ue /ue ele Ut7cnicoV n0o di. /ue 7

pra n0o le&ar3 (Ana *,@,*@*+,*)

2ara Rita e Jo0o (/ue esta&a! #1 O !eses e #1 algu!as se!anas nesta fun60o

respecti&a!ente) os li!ites das a68es do cuidador ainda est0o se configurando

e! tudo 7 per!itido pro cuidador fa.er$ UE &ocês sa"e! o /ue n0o 7 per!itido

te! clare.a disso3 'u &ai desco"rindo confor!e &ai fa.endo e fala! '#L Isso

a? n0o era pra &ocê fa.er n0oLK3V Y isso a? dessa for!a$ 's t7cnicos geral!enten0o fala! o /ue 7 /ue o cuidador te! /ue fa.er o /ue 7 /ue o t7cnico te! /ue

fa.er$ e! coisas /ue eles dei9a! &ocê fa.er /uando acontece /uando

c#a!a! a aten60o deles 7 /ue eles fala! u7 !as o cuidador /ue /uis fa.erLK

Mas ningu7! fala o /ue 7 pro cuidador fa.er o /ue 7 pro t7cnico fa.er$ ;epois

/ue fala!L (Rita *,@,*@*+,*)$

2ara Ana /ue est1 #1 sete anos neste tra"al#o os li!ites do tra"al#o do cuidador est0o

claros$ Mes!o assi! identifica /ue algu!as &e.es seu tra"al#o se !istura co! o daenfer!age! (/ue ela locali.a no di1logo co! o !7dico no trato co! a !edica60o na aferi60o

de press0o arterial) 0eu aca"o me envolvendo, mesmo((( mas sempre em prol do paciente( #(((&

Luando vocC se envolve vocC sa"e qual é o seu lugar( :ocC t7 se envolvendo, mas vocC sa"e

que vocC é só o cuidador(3  (Ana *,@,*@*+,*)$

Eu acredito /ue a diferen6a 7 not=ria Uentre enfer!age! e cuidadorV$ 2or/ue a

enfer!age! tra"al#a ,ara o paciente$ E o cuidador tra"al#a com o paciente$

($$$) ra"al#a a auto esti!a dele ($$$) por/ue ele precisa ter auto esti!a pra gente

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poder co!e6ar o tra"al#o$ Ele precisa /uerer$ E para ele co!e6ar a /uerer a

gente tem /ue in#estir $K (Ana cuidadora !ais antiga *-@,,@*+,*)

 A/ui a cuidadora aponta esta diferen6a /ue ela perce"e na fun60o do cuidador

tra"al#ar co!> estar 5unto ao paciente construindo co! ele suas a68es suas ati&idades e

pro&ocando no su5eito diferentes &ontades /uereres$ Ela diferencia este tra"al#o de u! fa.er 

paraK o paciente o /ue a"afaria as potencialidades da/uele su5eito$

ra"al#ar com o paciente de!anda ent0o u! in&esti!ento ta!"7! do profissional$

In&estir 7 dispender energia &oltada para a/uele tra"al#o co! a/uele paciente$ H! ponto fino e

delicado do tra"al#o e! saúde !ental /ue ta!"7! se relaciona co! a produ60o de saúde e

de adoeci!ento dos tra"al#adores$

%ucila In&estir 7 u! gasto de energia ta!"7! n73

 Ana a!"7!$ 0o ten#a dú&ida 7 !uitoL

%ucila E co!o 7 /ue isso afeta &ocês3

Miguel Eu n0o sei de &ocês$ Eu &en#o de !an#0 de u! 5eito$ a #ora /ue eu

&ou e!"ora pra casa eu tB diferente$ Eu tB co! u! cansa6o f?sico u!a coisa$$$

u! cansa6o /ue eu n0o sei e9plicar o /ue /ue 7$

 Ana Y !ental$ :ue a gente tra"al#a principal!ente co! a !ente$

Miguel Isso a?$$$ fica u!a coisa assi!$$$ /ue &ocê n0o /uer sa"er de !ais nada$Eu n0o sei &ocês$ :ue eu 51 &i outros colegas /ue o cara &ai co! u! cansa6o

t0o grande u! peso /uando &i e!"ora$$$ o outro dia de !an#0 &ocê 51 est1

legal !as$$$ 7 o dia a dia$

 Ana por/ue n0o 7 u! tra"al#o "rutal !as a gente tra"al#a !uito co! a !ente$

Co!o fa.er3 Co!o tra"al#ar a/uele dia3 Co!o tra"al#ar a/ue!e usu1rio3

(Cuidadores *-@,,@*+,*)

este !o!ento os cuidadores sinali.a! a i!port<ncia /ue perce"e! no tra"al#o /uese d1 de !aneira singular co! cada paciente e co!o isso se relaciona à /uantidade de

pacientes referenciadas aos cuidadores$

 Zs &e.es as pessoas ac#a! /ue n0o pensa! /ue a gente n0o tra"al#a !as

assi! a gente parar e pensar n=s cuidadores a gente tra"al#a "astante !as a

gente tra"al#a "astante por/ue ne! todos pacientes est0o no !es!o lugar$

ocê te! /ue ficar indo dar aten60o a/ui às &e.es te! u! l1 atr1s tu sai da/ui

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&ai l1 d1 aten60o à/uele /ue t1 te c#a!ando ali entendeu3 Ent0o te! /ue t1

co! a nossa ca"e6a e! todos os UlugaresV$ (Rita *-@,,@*+,*)

Y i!portante apontar /ue os cuidadores s0o respons1&eis por todos os pacientes decada pa&il#0o /ue tê! e! !7dia *+ pacientes$ Mes!o nos pa&il#8es /ue tê! dois

cuidadores eles n0o di&ide! a referência dos pacientes da/uele pa&il#0o$

E! u!a discuss0o co! rela60o à /uantidade de pacientes /ue s0o referenciados a

cada cuidador – se s0o !uitos poucos suficientes> se poderia ser organi.ado de outra

!aneira – /uestiona!os se seria !ais interessante /ue cada cuidador ti&esse deli!itado /ue!

s0o seus pacientes de referência (e! u!a !ate!1tica si!ples di&idindo o nú!ero de

pacientes pelo nú!ero de cuidadores)$ Assi! seria! !enos pacientes por cuidador$ 2or7!c#egou4se à conclus0o /ue os cuidadores tê! contato co! todos os pacientes de seu pa&il#0o

e n0o seria interessante para o tra"al#o discri!in14los co!o seusK ou de outro cuidadorK$

;e /ual/uer !odo !ante&e4se a /uest0o da /uantidade de pacientes ser grande

principal!ente pela percep60o dos cuidadores da necessidade de estar u! te!po !aior co!

cada paciente para con#ecê4lo !el#or e produ.ir algu! tipo de inter&en60o /ue possa ser 

pra.erosa para o paciente e conse/uente!ente (co!o narrado pelos cuidadores) pra.erosa

ta!"7! para o tra"al#ador$

e! uns /ue co!e6a! a grudar e! !i!$ ' Allan$$$ grudou e! !i! de u!a tal

!aneira$$$ 'nte! !es!o eu sa? depois /ue aca"ou a reuni0o ele falou assi!$

Ele !e c#a!a de issin#o$ issin#o &a!os dar u! passeio3K$ Eu falei fil#o

aonde &ocê /uer ir3K A# /ual/uer passeio por a?$K Ent0o eu falei a!os fa.er 

o seguinte 51 t1 tarde &a!os dar u!a ca!in#adin#a at7 perto do ca!po do

ColBnia pra gente &er a/uele fute"ol$K A# t1 legalK$ A? sa?!os$ ($$$)$ C#egando

ali perto ali eu falei a!os descansar na gra!a u! pou/uin#o3K Ele falou

a!os &a!os si!$ ' Prasil t1 5ogando n73K 2or/ue tin#a u! garoto co! a

ca!isa a!arela$ Prasil e asco t1 5ogandoLK$ A? o /ue /ue eu fi. eu sentei na

gra!a Ua"ai9ei a pernaV ele falou A# &ou deitar u! pou/uin#o "ota tua perna

a/ui$K 2ensei igual a crian6a "otei a perna ele deitou na !in#a perna$ Ele

deitou eu pensei$$$ eu ac#ei assi! /ue foi$$$ ele /ueria u! carin#o$$$ A? ele

deitou na !in#a perna eu falei assi! – at7 desculpa eu falarL – agora t1

parecendo dois "oiolasL H! alisando a ca"e6a do outro a/ui n7LK$ A? ele cai na

gargal#ada$ ($$$) A? da/ui a pouco ele &ai e senta$ A? eu falei e agora3K Agora

 51 t1 "o! 51 !atei !in#a &ontade de deitar na gra!a$K (Miguel *-@,,@*+,*)

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0. O UGAR >H9RIDO DA INSTITUI<O CASA OU >OSITA5

:uando eu &isitei o RC no in?cio da nossa passage! pelo 2R !e c#a!ou

aten60o co!o os t7cnicos de referência e alguns t7cnicos de enfer!age! se

referia! às constru68es co!o casaK$ Era o %ar de 2edraK e o resto era! Casa

OK Casa K etc$ E para !i! de casa n0o tin#a nada$ Mas ac#o /ue eu !e

#a"ituei a c#a!ar de casa ta!"7!$ E ten#o reparado nesses dois encontros

co! os cuidadores Udia *-@,, e dia +@,*@*+,*V /ue eles c#a!a! de pa&il#0o

(/ue era o no!e original e 7 !eio o /ue s0o as constru68es – s0o pa&il#8es)$ E

!es!o /uando eu falo auto!atica!ente casaK eles n0o !e corrige!

direta!ente !as repete! c#a!ando de pa&il#0o$ (;C +@,*@*+,*)

os núcleos co!o !encionado anterior!ente e9iste! pa&il#8es no for!ato de /uartos

e outros no for!ato de enfer!arias – onde aparece para os cuidadores a dificuldade de reali.ar 

u! tra"al#o /ue &alori.e a singularidade dos pacientes ou at7 !es!o de tra"al#ar no caso a

caso dentro de u! espa6o co!o a enfer!aria$

as discuss8es os cuidadores a"ordara! esse te!a contrapondo e9e!plos citados no

cap?tulo anterior$ So"re a #ist=ria de 2edro e Joa/ui! (/ue passou a usar roupas) Jo0o

/uestionou co!o fa.er tal inter&en60o dentro de u! pa&il#0o /ue se organi.a co!o

enfer!aria3 Co!o falar para o cara ocê pode ficar pelado s= dentro do seu /uartoK se ele

n0o te! este /uarto (ou ol#ando por outro <ngulo seu /uarto n0o te! paredes)3 E a pr=pria

cuidadora /ue trou9e as fotos no /uarto encontro e conseguiu reali.ar u!a inter&en60o onde o

paciente passou a arru!ar sua ca!a /uestionou o /uanto 7 poss?&el fa.er isto co! outros

pacientes – 51 /ue para ela e9iste su"entendido u! contra4argu!ento do paciente na

enfer!aria por/ue eu faria se este cara /ue dor!e do !eu lado n0o te! /ue fa.er3K$

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2a&il#0oK ou casaK3 Esta /uest0o atra&essa o tra"al#o dos cuidadores$ Se e! parte o

papel deles 7 possi"[email protected] a reinser60o social a constru60o de identidades e de

autono!ia au9iliar os pacientes a constru?re! suas pr=prias regras e !aneiras de ser ao

!es!o te!po !ediando isso co! as regras sociais &igentes> por outro lado est0o su"!etidos

assi! co!o os pacientes às regras e configura68es de u!a institui60o #ospitalar /ue

#o!ogene?.a$

esse sentido n0o 7 apenas o espa6o f?sico (co!o apresentado aci!a) /ue produ. essa

dificuldade$ As rela68es institucionais se d0o a partir de u!a institui60o #ospitalar$ o encontro

dos representantes destas fun68es parado9ais – o cuidador representando a possi"ilidade de

rein&en60o do paciente> e o t7cnico de enfer!age! representando a tutela #ospitalar –

surge! ta!"7! os conflitos produ.idos por esta configura60o #?"rida$

Essa configura60o #?"rida 7 atra&essada pelos diferentes conceitos e paradig!as de

cuidado$

e! gente /ue ac#a /ue !aluco 7 !aluco e /ue n0o t1 inserido$$$ Essas

pessoas n0o encarara! ainda a ressociali.a60o co!o parte Udo tra"al#oV

entendeu3 Ac#a! /ue 7 "o"age! /ue n0o &ai le&ar a gente a lugar nen#u!$$$

(Ana *,@,*@*+,*)

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's cuidadores perce"e! essa diferen6a no /ue 7 cuidado para cada categoria e

circunscre&e! isto re!etendo à discri!ina60o e des&alori.a60o /ue sente! /ue seu tra"al#o

sofre (co!o discutida no cap?tulo A ati&idade do cuidadorK)$

's cuidadores relata! por e9e!plo /ue a enfer!age! recla!a /uando eles sae! co!

apenas u! paciente$ ' /ue para os cuidadores 7 u! tra"al#o reali.ado co! a/uele su5eito de

!aneira singular para a enfer!age! parece ser (pelo relato dos cuidadores) perda de te!poK

ou &ida !oleK$

 Ana e! gente /ue n0o entende este tra"al#oL ($$$) 2rincipal!ente o pessoal da

enfer!age!$ U2or/ue /ue &ocê ac#a /ue eles n0o entende!3V Ana 2or/ue n0o

entende! a sa?da pro territ=rio esse tra"al#o$ Rita Ac#a /ue a gente t1

/uerendo sair pra se di&ertir$ E pra n0o fa.er nada dentro do pa&il#0o$ MariaEles n0o entende! /ue ($$$) a gente t1 saindo co! o paciente pra inserir ele na

sociedade$ UI!itando a &o. de u! t7cnico de enfer!age!V A# &ocês tê! &ida

!ole &ocês passeia!LK ($$$) Rita eral!ente a gente escuta !uita piadin#a

Ui!itando a &o.V ida "ooooaaaaa einLK$ Ana UMasV u! gan#o co! o paciente

fa&orece a e/uipe toda ($$$) Rita e! super&isores /ue fica! !uito feli.es e!

&er fotos$ ($$$) Eu ten#o pra.er de !ostrar para o pessoal de enfer!age! /uando

eu c#ego de !ostrar o tra"al#o /ue eu fi. na rua$ Maria 1$ A? &ocê te! o

pra.er de !ostrar$ Isso n0o altera e! nada$ Rita Eles n0o &alori.a! !as$$$

Maria Eles n0o t0o ne! a? pra gente$ Sa"e o /ue /ue acontece3 Eles fala!

Mas isso a?$$$ 1 l1 t1 do lado !andou ele "otar o cart0o ele "otou$K Mas eles

n0o sa"e! o tra"al#o /ue 7 o /uanto a gente fala o /uanto a gente e9plica at7

ele c#egar aonde ele c#egou$ Isso a? pra eles n0o 7 nada$ (Cuidadores

+@,*@*+,*)$

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 A discuss0o aci!a se refere à u!a s7rie de fotos de u!a ida ao "anco /ue a cuidadora

Rita le&ou para representar o pra.er e! seu tra"al#o a sa?da ao territ=rio e co! isso a

possi"ilidade de ensinar aos pacientes co!o utili.ar o cai9a eletrBnico "e! co!o o !ane5o do

din#eiro$ Este caso espec?fico 7 u! paciente /uase cego /ue n0o saia do úcleo$ Seu

din#eiro era retirado pela e/uipe$ Mas o tra"al#o tra. "oas surpresasL 0 Jeci me superou no

"anco(3 

   Ao analisar a constru60o do processo de tra"al#o dos cuidadores e dos t7cnicos de

enfer!age! no úcleo perce"e!os /ue e9iste u!a dificuldade de entender e acordar 

dire68es de tra"al#o e enca!in#a!entos para o caso$ 2erce"e!os /ue e9iste! espa6os

for!ais utili.ados para reali.ar estes acordos (as reuni8es) !as ta!"7! /ue e9istiria a

possi"ilidade de no cotidiano construir4se parcerias para efeti&ar dire68es de tra"al#o co!uns

entre as duas categorias$

2or7! al7! da rela60o e9plicitada aci!a a estrutura60o da rotina de tra"al#o dos

cuidadores e da enfer!age! dificulta esta troca$ 's cuidadores aponta! /ue eles s0o

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diaristas e os t7cnicos de enfer!age! s0o plantonistas$ Assi! eles n0o tê! grande contato

co! a e/uipe noturna de enfer!age! ne! co! o pr=prio plantonista diurno$ ' pr=prio regi!e

de tra"al#o aponta para u! funciona!ento #ospitalar 9 residencial plantonistas 9 diaristas –

onde u! grupo cuida de procedi!entos t7cnicos padr8es – tecnologia le&e4dura e dura> e

outros cuida de gente no cotidiano – tecnologia le&e$ (cf$ MERGQ E FEHERWERXER *++T p$

)

 Al7! do citado u!a das /uei9as dos cuidadores 7 a falta da participa60o da e/uipe de

enfer!age! nas reuni8es de !ini4e/uipe (da e/uipe de cada pa&il#0o)$ Co! a rotina da

enfer!age! os cuidadores identifica! /ue a reuni0o aca"a sendo feita por eles o t7cnico de

referência e so!ente u! representante da enfer!age! resultando e! u!a co!unica60o

truncada$

' caso narrado a seguir por u!a cuidadora a partir de u!a das fotos analisadas no

encontro do dia *,@,*@*+,* retrata esta dificuldade de co!unica60o agra&ada pelos #or1rios

de tra"al#o e a falta de participa60o da enfer!age! na reuni0o$

 Ana trou9e a foto de Ernesto para !ostrar u!a situa60o /ue ela considera&a u!a

dificuldade no tra"al#o$ Ernesto 7 u! paciente cadeirante co! dispneia /ue 0precisa ter um

olhar especial para ele(3  Ana relata ainda /ue 7 u! paciente dif?cil de lidar$ Sua ca!a fica no

/ue seria a últi!a ala do pa&il#0o a !ais distante do posto de enfer!age! /ue fica locali.ado

logo na entrada$ 2ara Ana este paciente de&eria ficar e! u! local de !ais f1cil acesso aos

profissionais$

Eu co!prei eu "riguei eu consegui le&ar ele l1 pra frente$ A? depois por decis0o

da enfer!age! ele retornou a/ui pra tr1s$ Contragosto !es!o$ :ue eu dei9ei

!uito claro /ue n0o 7 !eu gosto Ernesto n0o 7 paciente pra ficar a/ui atr1s$

2or/ue n0o 7 toda enfer!age! /ue te! o ol#ar a/ui pra tr1s$ (Ana *,@,*@*+,*)

2ara Ana a !aior dificuldade neste caso 7 o fato das decis8es n0o sere! constru?das

coleti&a!ente$

 A sensa60o /ue eu ten#o 7 /ue /uando eu decido o !el#or pra ele eu tB

so.in#a$ ($$$) E /uando &ocê se sente so.in#a nu!a decis0o dessa 7 !uito

co!plicado$ ($$$) A? na reuni0o de !ini4e/uipe 7 colocado Ua proposta dele ficar 

na ala da frenteV$ :ue! esta&a na reuni0o da enfer!age! concordou$ S= /ue

na outra reuni0o de ter6a /ue! esta&a da enfer!age! /ue era outro plant0o

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discordou$ ;isse /ue n0o #1 necessidade$ S= /ue /ue! disse /ue n0o #1

necessidade &e! toda #ora d1 assistência$ (Ana *,@,*@*+,*)$

 A reuni0o de !ini e/uipe (por pa&il#0o) acontece toda se!ana no !es!o dia$ Ent0o os

participantes s0o diferentes de&ido aos plant8es$ A/ui Ana di. /ue o /ue foi decidido e! u!a

reuni0o 7 !odificado e! outra de acordo co! o !odo de tra"al#ar da e/uipe presente e!

cada reuni0o (ou se5a da e/uipe de plant0o)$

UMas na insistência &ai n73V `L Eu gan#o u! !ês co! ele l1 na frente da/ui a

pouco 51 est1 a/ui atr1s$ 2or/ue te&e &e.es /ue eu ac#a&a ele l1 na frente !as

/uando eu c#ega&a de !an#0 ele 51 esta&a a/ui atr1s$

Fica claro a fragilidade da dire60o de tra"al#o constru?da – n0o à toa Ana relata se sentir 

so.in#a nas decis8es relati&as a este caso$ E apesar das rela68es institucionais se

esta"elecere! desta !aneira os cuidadores identifica! /ue tê! /ue fa.er o tra"al#o por/ue

os t7cnicos de referência co"ra! isso deles e por sua &e. ta!"7! s0o co"rados pela dire60o

/ue ta!"7! 7 co"rada l1 de ci!aK$

 

2or7! aponta! /ue esta falta de apoio dos /ue est0o ta!"7! na lida cotidiana co! o

paciente despotenciali.a o tra"al#o$

' pro"le!a a/ui sa"e o /ue /ue 73 Y /ue eles n0o recon#ece! nosso tra"al#o$

Fica u!a coisa "e! dif?cil sa"ia3 Eu pelo !enos às &e.es at7 !e sinto !al$ Zs

&e.es &ocê t1 co! &ontade de fa.er u! tra"al#o co! o paciente a? &e! a/uela

pessoa ali /uerendo te criticar falar /ue n0o 7 a/uilo$$$ Ui!ita algu7! falando

co! ironiaV 2B o cuidador3 ida !oleLK Isso di!inui o seu tra"al#o entendeu3

 Zs &e.es &ocê t1 co! &ontade de fa.er u!a coisa co! o paciente 5oga! u!

"alde de 1gua fria na gente$ :ue! perde 7 o paciente$ 2or/ue n=s cuidadores

fica!os irritados co! o /ue a gente escuta e perde a &ontade de fa.er$ (Rita

+@,*@*+,*)$

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&. O RAJER E O SO?RIMENTO NO TRA9A>O DAS REA<=ES ENTRE O

CUIDADOR E O ACIENTE

' pri!eiro encontro co! os cuidadores foi surpreendente$ 's cuidadores narrara!

co!o situa68es pra.erosas os !o!entos e! /ue pudera! proporcionar pra.er para os

pacientes e da !es!a !aneira narrara! co!o sofri!ento no tra"al#o os !o!entos e! /ue

n0o pudera! e&itar o sofri!ento dos pacientes$

Isto se repetiu e! todos os encontros e todas as discuss8es surgira! a partir dos casos

aco!pan#ados$ 's cuidadores pensa! o /ue os afeta positi&a ou negati&a!ente a partir da

rela60o co! os pacientes e !es!o as /uest8es institucionais surge! a partir da discuss0o

desta rela60o$

E! geral na saúde !ental isto 7 o /ue te!os co!o dire60o fala!os e ou&i!os !uito

nas reuni8es de dispositi&os de saúde !ental especial!ente CA2S /ue 7 i!portante /ue as

discuss8es institucionais e pol?ticas se dêe! a partir dos casos$ E neste grupo de pes/uisa os

casos fora! de fato esta "ase$

 As #ist=rias /ue !ais se repetira! fora! a/uelas onde o cuidador e! seu tra"al#o

conseguiu possi"ilitar ao paciente poder ser ou fa.er algo diferente do #a"itual Uo #1"ito

institucional dentro do pa&il#0o (sic cuidador *-@,,@*+,*)V$

 A68es /ue s0o co!uns no nosso cotidiano transfor!a!4se e! aconteci!entos para os

pacientes gerando pra.er para os cuidadores e! poder a5udar a construir esses !o!entos$ 0A

gente se sente gratificada quando a gente #(((& reali)a uma vontade muito "oa que eles pedem3 

(Maria$ +@,*@*+,*)$ 0Mm sorriso deles pra mim é tudo3  (Jo0o +@,*@*+,*)$ A cuidadora narra

#ist=rias onde estes !o!entos acontece!$

Eles solicitara! 1r&ore de atal$ Ent0o /uando a gente esta&a !ontando eles

&iera! para poder arru!ar$ ' S?l&io /uis "otar as "olin#as pediu parar "otar pisca4pisca$$$ S?l&io co! u! "racin#o s= foi l1 pegou as "olin#as !as "rigando

co! as "olin#asL Mas conseguiu pendurar os enfeites$ ($$$) H!a coisa /ue &ocê

&ê u!a gra6a /ue 7$$$ 7 u!a coisa /ue &ocê t1 fa.endo co! pra.er n7$ (Rita

+@,*@*+,*)

o dia de rece"er o "enef?cio os cuidadores costu!a! incenti&ar os pacientes a

transitar pelo "airro al!o6ar ou lanc#ar fora do #ospital co!prar algu! o"5eto ou utens?lio

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pessoal /ue dese5e! – !o!entos /ue s0o naturali.ados na &ida social !as /ue fa.e! toda a

diferen6a na constru60o de autono!ia e de indi&idualidades dessas pessoas$

's /ue tê! cart0o Ude "ancoV eu tB ensinando eles a enfiar o cart0o$ A? falo ^t1

tirando seu "enef?cio t13L :ue /ue &ocê /uer co!prar3_ Y "o! a gente se!pre

sa"er o /ue eles /uere! co!prar$ A? o Jeci ^eu n0o /uero co!prar nada eu

/uero /uando c#egar l1 Una ColBniaV co!prar u!a co9in#a$$$ UAna Jeci 7

co9in#a e Coca4colaLV$$$ e u!a Coca4cola_$ ($$$) UC#egando l1 ele disseV ^Eu

/uero co!prar u!a co9in#a pra copeira$_ Ent0o t1 "o! /uer co!prar u!a

co9in#a pra copeira ent0o &a!os co!prar u!a co9in#a pra copeira o din#eiro 7

seuL Ent0o 7 !uito "o! &er a alegria deles$ (Rita *-@,*@*+,*)

' /ue d1 pra.er 7 a gente le&ar eles assi! pra sair &er a alegria deles de estar 

na rua$ ocê poder contri"uir$ ($$$) Go5e !es!o fotografei eles co!endo

escol#endo as "lusas$$$ ($$$) Ent0o isso 7 u!a coisa /ue alegra !uito /uando

eles pede! ^a# tB co! &ontade de co!er isso a/ui_ &ocê poder le&ar eles pra

co!prar &ocê &er a alegria deles de estar co!endo$ ' Jeci falou pra !i! assi!

^a# tB feli.$ Co!i u!a co!ida super deliciosaL 2or/ue a/uela co!ida do úcleo

todo dia 51 ta&a de saco c#eio s= sopaL_ ($$$) UE o Pruno falouV ^Co!i u!a

co!ida de reiL_ ' Pruno co!eu arro. "atata frita e frangoL Co!eu co!ida de

rei$$$ URisosV ($$$) UMiguel 0o pouca coisa assi!$$$ /ue pra gente 7 pouca coisa

!as pra eles$ (Rita *-@,,@*+,*)

Eles escol#e! o /ue /uere! co!er$ ($$$) ' Jeci ter!inou de co!er te! /ue

co!er u! sor&ete> o Pruno ter!inou de co!er te! /ue co!er u! pudi!$ e!

/ue ter u! pudi!L Mes!o /ue n0o ti&er pudi! na/uele local te! /ue co!prar 

pudi! pra ele e! outro lugarL (Rita +@,*@*+,*)

Mas ne! se!pre d1 para reali.ar estas &ontades cotidianas$

 Ana Agora co! certe.a o /ue 7 frustrante 7 /uando &ocê n0o consegue fa.er 

isso e! fun60o da "urocracia$ ($$$) %e&ei o paciente onte! ao "anco paciente

todo oti!ista pra rece"er e eu pro!etendo assi! con&ersando co! ele ^n=s

&a!os fa.er isso n=s &a!os fa.er a/uilo$$$_ C#eguei no "anco o !unic?pio n0o

repassou$ Ficou .ero .ero .ero$ 2aciente a"riu a carteira dele pra !i! e falou

^e agora3_ Rita 2or/ue a gente &ai preparando eles da/ui at7 c#egar no local$(Cuidadoras *-@,,@*+,*)

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'utro fator gerador de sofri!ento para os cuidadores 7 a discri!ina60o co! os

pacientes do úcleo$ as sa?das para o territ=rio e! alguns !o!entos os transeuntes

elogia! o cuidador pelo tra"al#o de reinser60o dos pacientes na sociedade$ a !aioria das

&e.es no entanto os co!ent1rios s0o preconceituosos$ 's cuidadores relata! /ue as

pessoas da rua se dirige! !uito !ais a eles /ue aos pacientes !uitas &e.es referindo4se aos

pacientes na terceira pessoa perguntando ao cuidador o /ue o paciente &ai /uerer co!er ou

passando o troco para o cuidador ap=s o paciente pagar a conta$ E at7 !es!o perguntando

se o cuidador n0o te! !edo do paciente ou se o paciente 7 ou n0o perigoso ou agressi&o

(!uitas &e.es essas perguntas s0o feitas na frente do paciente)$

0o 7 apenas nas sa?das ao territ=rio /ue os cuidadores perce"e! discri!ina60o co!

rela60o ao paciente !as ta!"7! no contato co! outras institui68es de saúde$ Essa /uest0o

apareceu de !aneira forte ao narrare! o caso do Willia! /ue os cuidadores trou9era! no

pri!eiro encontro$ Willia! era u! paciente idoso 0N+ e poucos, quase O+ anos, um

senhor)inho3  (sic Rita) /ue esta&a e! u! /uadro cl?nico confor!e narrado pelos cuidadores

!uito gra&e sangrando !uito se ali!entando !al$ Este paciente !orreu entre o pri!eiro e o

segundo encontro e os cuidadores apresentara! o caso dele no&a!ente co!o u! ponto

cr?tico do tra"al#o /ue causou !uito sofri!ento$ Este caso 7 e9e!plar para pensar &1rias

/uest8es do tra"al#o$

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 Ao narrar este caso os cuidadores coloca! e! /uest0o a rela60o do úcleo – e da

saúde !ental de !aneira !ais geral – co! outras institui68es de Saúde$ A/ui aparece a

rela60o co! o #ospital geral e co! o ser&i6o de atendi!ento !=&el de urgência (SAMH)$

er o paciente sangrando direto ter /ue esperar fa.er o processo para poder ir 

para o #ospital UissoV se ti&er &agaL 2ara eles !arcare! para poder fa.er algo$

Isso a gente fica pensando n=s en/uanto profissional da saúde$ ente os caras

/ue 51 sofrera! desde pe/uenos agora e! certa parte da &ida &a!os di.er 

assi! /uase final alguns pela idade e ainda t1 co! essa "urocracia de

#ospital /ue n0o pode le&ar por causa disso ou te! /ue esperar !arcar da/ui a

/uanto te!po$$$ Ent0o pra /ue /ue a gente tra"al#a na saúde3 ' /ue 7 saúde3

(Miguel *-@,,@*+,*)

 Ainda te! a discri!ina60o co! o pacienteL :ue &ocê c#ega /uando &ocê

consegue internar o paciente co! &aga .eroK /ue 7 u!a e!ergência ainda

te! a discri!ina60o por/ue 7 doente !ental$ Ent0o se ti&er esse paciente

UcitadoV 7 u! paciente /ue precisa to!ar sangue$ Ent0o se o #ospital ti&er dispon?&el u!a "olsa de sangue ele 5a!ais &ai ceder pro paciente psi/ui1trico$

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Ele &ai ceder pra outra pessoa$ Isso a gente perce"e n0o ten#a dú&idas disso$

(Ana *-@,,@*+,*)

 As &e.es o paciente passa !al a/ui de!ora dois dias pra a!"ul<ncia c#egarLLL

2ede nu! dia c#ega no outro diaL (Cuidadores *-@,,@*+,*)

E ent0o os cuidadores fala! co!o isso fa. !al para eles 0a gente t7 vendo o paciente

sofrer((( definhando a cada dia((( sso a1 fere a gente, maltrata a gente((( Diante desta situação,

eu me sinto com certe)a impotente(3 # fala dos cuidadores referente à #ist=ria do Willia! e!

*-@,,@*+,*)

 A sensa60o de i!potência citada aci!a &e! a partir do !o!ento /ue fa.er algo para

!odificar a condi60o do paciente parece estar para al7! do alcance deles ou e!perrado por pontos /ue os cuidadores classificara! co!o "urocracia

Purocracia do siste!a$$$ e9ige papelada dificuldade !es!o$ 2ra transferência

de u! paciente pra t1 le&ando o paciente pra consulta$$$ ;o pr=prio lugar /ue

&ai aceitar o paciente e9ige u!a docu!enta60o se! necessidade do paciente

/ue est1 a/ui$ (2edro+@,*@*+,*)

Miguel ipo assi! !altrata Uos cuidadores por/ue a gente pensaV ^o /ue /ueeu tB fa.endo3 :ue /ue eu &ou poder a5udar3 E! nada$ 2or !ais /ue &ocê

/ueira$$$ UEnt0oV eu !e sinto !altratado$ Ana 2or/ue na realidade o cuidador t1

na ponta do tra"al#o !as nesse !o!ento o cuidador nada pode fa.er$ Ent0o eu

!e sinto co!pleta!ente i!potente$ 2or/ue eu &e5o o sofri!ento dele a gente

aco!pan#a o sofri!ento dele$$$ Miguel ;e repente eu n0o colo/uei a pala&ra

certa$$$ a gente sofre 5unto$ UMiguel su"stitui a e9presso citada aci!a – ^!altrata

a gente_ – pela e9press0o – ^sofre 5unto_V$ Rita Y u! !altrato$ A gente &ê ele

sofrer ali e n0o pode fa.er nada$ Maria ' /ue /ue acontece a gente sai da/ui a

gente &ai pra nossa casa$$$ Rita E a gente t1 pensando co!o t1 o paciente a/ui$

 Ana E9ata!ente e o paciente continua a/ui do !es!o 5eito /ue a gente

dei9ou$ E no outro dia a gente encontra ele do !es!o 5eito (Cuidadores

*-@,,@*+,*)

2or7! tra"al#ar 7 in&entar e se rein&entar

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 Ana Go5e eu &i o Miguel saindo co! u! cadeirante UMiguel Ele nunca saiuV$ Eu

ac#ei isso super legal 7 u! tra"al#o super legal e 7 5usta!ente u! paciente

/ue nunca saiu do úcleo Miguel de&e ter tirado fotos$

  Miguel ' /ue /ue eu fi.$$$ 'nte! depois /ue aca"ou a reuni0o o Cos!e

resol&eu falar co! a gente /ue ele t1 fa.endo u! tra"al#o u!a pes/uisa so"re

desde /uando o paciente co!e6ou co! a doen6a /ue foi interno at7 os dias de

#o5e$ Ele procurou sa"er a &ida do Renato todin#a e o /ue /ue n=s fi.e!os 7

i!portante ele Uo pacienteV estar 5unto na reuni0o de e/uipe$ ($$$) U2ergunta!osV

o sen#or se le!"ra /uando se internou3 o sen#or 51 tra"al#ou3 Sa"e por/ue3L

 A gente n0o &ê por/ue o sen#or t1 assi! t1 assado n0o /uer sair da/ui de

dentro$$$K E p1 e a/uilo !e inco!odou /uando fui e!"ora para casa$ Me

inco!odou a/uilo$ C#eguei e! casa fi/uei pensando at7 a noite$ Falei

a!an#0 eu &ou cantar ele at7$$$K /ue eu 51 tentei &1rias &e.es sair ($$$) co! ele$

Ele fa. at7 for6a na cadeira para n0o sair$ Atra&7s dessa con&ersa /ue a gente

te&e a/ui eu senti /ue te&e u!a !el#ora !uito grande$ C#eguei de !an#0 ($$$)

pensei ten#o /ue conseguir tirar ele da/ui de dentro$ Y o pri!eiro passoK$ ($$$)

:uando saiu do lado de fora ele !e !ostrou o ca!po ali$$$ ($$$) Eu falei o

sen#or 51 con#ecia isso a/ui3K$ Con#e6oL ($$$) Eu 51 to!ei !uito "an#o ali$K :uer 

di.er ele 51 este&e internado a/ui ta!"7!$ G1 !uitos anos atr1s$ ($$$) A gente

ac#a&a /ue ele tin#a ido direto pro Hlisses iana /ue ele esta&a #1 !ais de *+

anos l1$ Mas ele este&e a/ui pri!eiroL ($$$) Ele falou tin#a u!a igre5a a/uiK$

Falei in#a n0o te! u!a igre5aLK 2or isso /ue eu tirei a foto dele l1 na Igre5a$

($$$) UCo!preiV dois "iscoitos dei u! na !0o dele e disse to!a esse "iscoito 7

seu$K Ele a"riu co!eu$$$ e perguntou assi! n0o tin#a coca4cola n0o3K A? ele

n0o fala co! a gente l1 dentroL Eu falei por/ue3K A# 7 /ue eu gosto !uito de

coca4cola$K Eu falei t1 &endo se o sen#or con&ersar !ais co!igo a gente fa.

passeio e eu posso co!prar a coca4cola pro sen#or$ E o sen#or gosta !ais de

/uê3K ($$$) U;epois euV falei ol#a segunda4feira n=s &a!os ali na frente te! u!

ca!po "onito$$$ ' sen#or le!"ra do ca!po do ColBnia3K A? ele %e!"ro$ in#a

u!a escola l1$ A escola do Clu"e ColBnia /ue eu estudei /uando era crian6a$K

2B fe. co! /ue ele co!e6asse a le!"rar de &1rias coisas$ Essa #ist=ria toda

/uando &ocê ta&a falando das fotos$$$ Foi u!a coisa /ue fe. eu !e sentir "e!$

2o9a ele era l1 do Hlisses iana eu nunca ti&e contato co! ele pB eu tB l1 #1

,- anos nunca ti&e contato co! o Renato$ i! ter contato co! ele a/ui$ ($$$) Foi

gratificante$ ($$$) 0o foi u! !7rito !eu foi da e/uipe$ 2or/ue te&e a reuni0o e oCos!e te&e essa ideia de tra.er ele para participar pra ele se le!"rar /ue a

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#ist=ria 7 dele$ Se5a "o! ou se5a rui! 7 a #ist=ria de &ida dele$ (Miguel

*-@,,@*+,*)

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-. ESA<OS 7 MODOS DE CUIDADO DO TRA9A>ADOR CONCUSO OU

INHCIO DE UMA NO;A CON;ERSA5

o processo de constru60o deste ei9o perce"e!os o /uanto a /uest0o dos espa6os e

!odos de cuidado do tra"al#ador re!ete! à necessidade de reali.ar u! tra"al#o e! e/uipe

de ter a seguran6a de u!a retaguarda para construir 5unto suas a68es$ ;este !odo este ei9o

foi se construindo na dire60o de u! fec#a!ento para este tra"al#o – /ue pode nos le&ar a

no&as con&ersas na tentati&a de construir inter&en68es /ue produ.a! rela68es !ais

saud1&eis na e/uipe$

;urante as discuss8es pude!os perce"er /ue a e/uipe@o tra"al#o e! e/uipe se

constitu?a co!o o espa6o pri!ordial de cuidado do tra"al#ador$ 2erce"e!os isso nas falas /ue

narra! a sensa60o de desa!paro dos cuidadores na rela60o co! a enfer!age! – /uando se

&êe! se! a possi"ilidade de decidir 5untos u!a a60o a ser reali.ada co! o paciente$ Assi!

co!o nas falas /ue narra! resultados positi&os co!o refle9o do tra"al#o e! e/uipe tais

co!o u! gan#o co! o paciente 7 u! gan#o para a e/uipe todaK ou ainda n0o foi !7rito

!eu foi da e/uipeK$ A #ist=ria do Renato de!onstra clara!ente a i!port<ncia das a68es tere!

sido constru?das n0o s= co! a e/uipe do úcleo !as ta!"7! incluindo o pr=prio paciente na

reuni0o de e/uipe espa6o de constru60o das a68es$

 Ao narrar a #ist=ria de Willia! os cuidadores fala! da sensa60o de descaso co! o

paciente e solid0o no tra"al#o por n0o encontrar eco no !o&i!ento de tentar fa.er algo para

!udar a situa60o$

 Ana Ac#o /ue o /ue !ais inco!oda 7 o descaso$ UMaria Y o descaso 7 o

descaso !es!oV$ 2ara co! eles$ Maria A gente &ê descaso de repente at7

pelos pr=prios funcion1rios dentro desta institui60o$ Rita 2ediu n0o &eio$$$ Ufa.

gesto dando de o!"rosV$ Maria Sa"e assi!3 ^0o 7 !eu n0o 7 da !in#a

fa!?lia$$$ Eles t0o a? a"andonados$$$_ Isso 7 u!a coisa rui!$ Eles e9ige! !uito

/uere! /ue a gente fa6a !uito !as de repente n0o d0o retaguarda pra gente$

E a? a gente &ê paciente sofrendo paciente !orrendo$$$ (Cuidadores

+@,*@*+,*)

;estaco a pala&ra retaguarda$ ' /ue seria@co!o funcionaria para os cuidadores3

 A retaguarda 7 o seguinte a gente pede u!a assistência !aior de repente at7dentro do pr=prio local de tra"al#o e a gente n0o te!$ UEles destaca! do pr=prio

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local de tra"al#oK pois esta&a! antes definindo "urocracia /ue re!etera! !ais

a espa6os fora outras institui68esV Isso /ue eu c#a!o de retaguarda por/ue a

gente procura fa.er o nosso tra"al#o !as a gente precisa de algu7! /ue este5a

 5unto ali co! &ocê /ue possa te a5udar$ 2or/ue o tra"al#o do cuidador 7 a/uele

tra"al#o /ue &ocê a5uda$ Ento desde o momento /ue #oc8 a@uda #oc8

,recisa do outro e o outro n0o te d1 retaguarda$ :uer di.er &ocê te! /ue

fa.er n0o &ê a condi60o do outro de fa.er e a gente te! /ue fa.er o tra"al#o

so.in#o$ E a? a gente n0o te! a retaguarda$ (Maria +@,*@*+,*)

o&a!ente esta fala re!ete à i!port<ncia de poder partil#ar o tra"al#o di&idir as

decis8es e a produ60o de condi68es para /ue o tra"al#o se torne poss?&el$

' tra"al#o do cuidador (e do tra"al#ador de saúde !ental de u!a !aneira geral) pode

!uitas &e.es ser@parecer solit1rio por/ue tra"al#a!os co! o /ue e!erge ali e n0o rara!ente

te!os /ue reali.ar inter&en68es na/uele !o!ento se! consultar ningu7!$

os ser&i6os de saúde #1 u! encontro entre diferentes &ontades su5eitos e

necessidades$ Mes!o na ati&idade de cada profissional de saúde diferentes

negocia68es de efic1cia s0o reali.adas$ ($$$) Esse de"ate e negocia60o !es!o

/uando a decis0o 7 de u! s= tra"al#ador s0o se!pre coleti&os$ Se a gest0o do

tra"al#o en&ol&e a gest0o de !últiplas gest8es ca"e salientar /ue n0o #1igualdade de condi68es nesse de"ate e negocia60o de efic1cias$ As rela68es de

poder@sa"er esta"elecidas influencia! direta!ente as decis8es fa.endo desta

gest0o de !últiplas gest8es u! ca!po de conflitos acirrados$ (RAMMIER E

PRI' *+,, p$ ,N-)

Entretanto por !ais /ue &ocê se5a o e9ecutor se #1 u!a e/uipe /ue se co!pro!ete

se en&ol&e na a60o 5unto co! &ocê se a a60o 7 parte de u!a dire60o de tra"al#o constru?da

coleti&a!ente isso possi&el!ente di!inui o senti!ento de solid0o$

E assi! n=s discuti!os e constru?!os e! e/uipe /ual !el#or contorno para a situa60o

Use5a a priori antecipando algu!a situa60o se5a a posteriori a partir da discuss0o de algu!a

ocorrência tendo a possi"ilidade de re&er as atitudes e a&aliar se poderia@poder1 se fa.er algo

diferenteV$ Pusca4se esclareci!entos e a partir do retorno deste esclareci!ento te!os ali u!

indicador para constru60o de dire60o de tra"al#o$ ;a pr=9i!a &e. /ue o cuidador se deparar 

co! situa60o se!el#ante 51 far1 a partir de u!a discuss0o e! e/uipe caracteri.ando co!o

u!a a60o co! respaldo coleti&o$ E /uando as a68es s0o constru?das coleti&a!ente nos

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senti!os !enos s=s pois se o resultado for negati&o a "o!"aK (confor!e e9press0o usada

pelos cuidadores) n0o estourar1 na !0o de u! s= e si! todos se responsa"ili.ar0o 5untos

assi! co!o "uscar0o no&as solu68es$

 A reuni0o de e/uipe especifica!ente se destacou co!o espa6o pri&ilegiado para os

encontros entre profissionais "e! co!o para cuidar dos cuidadores /uando lidar co! u!

paciente se torna u!a tarefa !uito dif?cil$

' Jo0o co!e6a a falar !as ele fa. isso co!o u!a representa60o teatral – n0o

aparece na gra&a60o – so"re co!o às &e.es 7 o profissional /ue pro&oca u!a

rea60o (&iolenta por e9e!plo) do paciente$ 's cuidadores fala! do incB!odo de

&er alguns profissionais pro&ocare! pacientes$ Relata! /ue alguns funcion1rios

s0o descuidados na !aneira de falar co! pacientes e por !uitas &e.es fa.e!"rincadeiras inapropriadas$ E depois o cuidador 7 /ue te! /ue segurarK a

situa60o$ E9e!plifica! narrando o caso de u! paciente /ue /uando pro&ocado

por !oti&os di&ersos reage "atendo e! !ul#eres$ Ele 7 do pa&il#0o da Rita e 7

u! ponto cr?tico para ela$ 2or7! Rita e Jo0o n0o perce"e!4se so.in#os apesar 

de n0o conseguire! &er inter&en68es /ue possa! !odificar estes

co!porta!entos$ ' !oti&o de apesar de angustiados co! a situa60o n0o se

sentire! so.in#os 7 o tra"al#o e! e/uipe – a retaguarda o cuidado do

tra"al#ador – 51 /ue confor!e eles di.e! Ele UpacienteV 7 pauta de reuni0otoda /uinta4feira$K (;C +@,*@*+,*)

's espa6os de discuss0o para constru60o desta !onografia ta!"7! se transfor!ara!

e! espa6os de cuidado do tra"al#ador à !edida /ue os cuidadores /ue participara! !ais

ati&a!ente destes encontros os perce"era! co!o 0um espaço tam"ém de refle6ão do

tra"alho3 $ Eles apontara! para a i!port<ncia de espa6os deste tipo sere! para /ue! /ueira

participarK (Rita *,@,*@*+,*) e n0o o"rigat=rios 0só porque a direção estava aqui 4quando o

convite foi feito5 K (Rita *,@,*@*+,*) e nos dissera! /uanto foi i!portante a /ualidade das

discuss8es !ais /ue a /uantidade de cuidadores /ue pudera! participar (pois co!o

esperado ne! todos cuidadores pudera! participar de todos os encontros)$

'utra /uest0o /ue perce"e!os co!o norteador do tra"al#o dos cuidadores /ue

ta!"7! poderia ter sido utili.ada co!o fio condutor para esta !onografia foi u! #i"ridis!o

inerente ao seu tra"al#o os cuidadores est0o entre a fun60o do cuidador e da enfer!age!

entre a casa e o #ospital entre a cl?nica e a pedagogia e ao !es!o te!po construindo na

pr1tica a68es /ue "orra! esses conceitos essas institui68es$

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 Assi! 7 de e9tre!a i!port<ncia estar atento aos !odos de constru60o de sa"er 

intr?nsecos ao tra"al#o se5a para &alori.ar u!a troca /ue ocorra no cotidiano se5a para

potenciali.ar espa6os de aprendi.age! institu?dos ou ta!"7! para in&entar no&os espa6os$ E

o cuidador /ue est1 !uito intensa!ente pr=9i!o ao usu1rio certa!ente te! sa"eres

i!portantes para partil#ar$ E te!os /ue cuidar para /ue estas falas se5a! &alori.adas e

&isi"ili.adas$ E neste cotidiano intensi&o de &i&ências 5unto aos usu1rios o sa"er /ue se

reprodu. possi&el!ente se consolidar1 nos espa6os de trocas infor!ais$ 's cuidadores cita!

/ue aprende! seu tra"al#o fa.endoK e perguntando aos cuidadores !ais antigos /uando tê!

dú&idas$ Z !en60o de u! espa6o for!al de aprendi.ado por e9e!plo u! curso de

capacita60o a resposta 7 /ue eles aprende! !uito !ais co! o paciente do /ue co! o

professor$

 Acredito /ue de&e!os estar atentos apenas para /ue estes espa6os infor!ais n0o

se5a! os únicos e9istentes de !aneira a potenciali.ar e legiti!ar as falas dos cuidadores "e!

co!o construir@instru!entali.ar4nos co! teorias /ue sir&a! de ferra!entas para o tra"al#o$

 A coordena60o inter&eio di.endo /ue este te!a era !uito i!portante ^tal&e. o

!ais i!portante /ue eu 51 &i_> /ue o espa6o de reuni0o 7 u! espa6o para falar 

disso para tra.er as /uest8es para falar do /ue pega no tra"al#o do /ue 7

dif?cil$ Falou ta!"7! /ue eu apresentarei a !onografia ^l1 e! ci!a_ (referência àsede ou ao n?&el central3) ^co! a presen6a de gestores e !uita gente

i!portante gente /ue pensa a organi.a60o do tra"al#o de &ocês_$ E /ue os

cuidadores tê! /ue apro&eitar os espa6os /ue aparece! para tornar as /uei9as

deles leg?ti!as para as pessoas podere! ou&i4los ^te! /ue parar de fa.er 

/uei9a s= pelos corredores e procurar lugares leg?ti!os para isso$ (;C

*N@,+@*+,*)

;e certa !aneira foi a resposta /ue o"ti&e!os no !o!ento e! /ue reali.a!os nossoúlti!o encontro co! os tra"al#adores$ En/uanto as discuss8es ocorrera! e! de.e!"ro o

últi!o encontro – /ue foi utili.ado para retornar aos cuidadores o /ue foi analisado e constru?do

a partir de suas falas – foi reali.ado /uatro !eses depois e! a"ril$

este encontro as cuidadoras presentes &alidara! as discuss8es aci!a e9postas

concordando /ue foi u! retrato da/uele !o!ento e! /ue &i&ia! !uitas !udan6as no seu

tra"al#o$ Assi! fa.4se necess1rio apontar /ue no final do ano de *+,* /uando fora!

reali.adas as pri!eiras entre&istas o úcleo esta&a e! di&ersos processos de !udan6a oscargos de c#efia (dire60o coordena60o t7cnica e de enfer!age!) esta&a! sendo ocupados

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por no&os atores> os pacientes re!anescentes tanto do núcleo !asculino rec7! fec#ado

/uanto da Cl?nica A!endoeiras con&eniada do SHS – a!"os rec7! fec#ados – #a&ia! sido

transferidos para o núcleo onde a pes/uisa foi reali.ada> e !uitos funcion1rios ta!"7!

esta&a! sendo re!ane5ados de outros espa6os do IMAS JM para este núcleo$ i&ia!

portanto u! processo de reaco!oda60o tanto dos pacientes co!o dos tra"al#adores e suas

ati&idades$

 Assi! no processo da de&oluti&a as cuidadoras narrara! /ue no in?cio de *+,-

ocorreu u!a reorgani.a60o das e/uipes al7! do acr7sci!o de u! cuidador e u! t7cnico de

referência por pa&il#0o$ As e/uipes de enfer!age! tornara!4se fi9as por pa&il#0o$ 's

tra"al#adores fora! realocados de !aneira /ue a dire60o e as coordena68es estruturara! os

pa&il#8es co! tra"al#adores /ue acredita&a! tere! perfil de tra"al#o !ais afinado entre si$ E

as reuni8es de e/uipes de pa&il#0o passara! a ser reali.adas na !aioria das &e.es nos

postos de enfer!age! con&ocando@pro&ocando a participa60o do corpo de enfer!age!$

 As cuidadoras perce"era! /ue esta reorgani.a60o do úcleo trou9e efeitos feno!enais

para o tra"al#o 51 /ue nesta no&a organi.a60o elas tê! !aior contato co! todos os !e!"ros

da e/uipe sendo !ais poss?&el construir u!a dire60o co!u! de tra"al#o$

'utro instru!ento /ue te&e u! efeito interessante no tra"al#o foi a constru60o de !urais

nos pa&il#8es e9pondo as fotografias das a68es dos cuidadores co! os pacientes no territ=rio

 – de !aneira /ue este tra"al#o gan#ou !aior &isi"ilidade entre os outros tra"al#adores$

H! dos !aiores desafios atuais /ue as cuidadoras elencara! neste últi!o encontro foi

a condi60o financeira dos pacientes$ Est1 sendo reali.ado u! tra"al#o no úcleo para /ue os

pacientes possa! ter !aiores recursos financeiros (atra&7s do Penef?cio de 2resta60o

Continuada – P2C@%'AS por e9e!plo) "e! co!o u! tra"al#o de sensi"ili.a60o das fa!?lias

/ue fica! co! o din#eiro dos pacientes para /ue estes fa!iliares possa! le&ar n0o o"5etos

co!prados !as o din#eiro e! si para /ue os pr=prios pacientes possa! escol#er co!o

utili.ar seu din#eiro$ Mas este ainda 7 u! processo /ue ca!in#a a passos lentos segundo ascuidadoras infor!ara! – e nisso consta o desafio$

Foi relatado /ue à !edida /ue os pacientes est0o conseguindo !el#ores condi68es

financeiras os cuidadores intensificara! – co! o apoio dos outros tra"al#adores do úcleo –

u! processo de indi&iduali.a60o dos pacientes co!prando ar!1rios indi&iduais roupas de

ca!a e o"5etos pessoais confor!e o gosto de cada paciente$

Foi !uito i!portante poder reali.ar esta pes/uisa "e! co!o retornar /uatro !eses

depois e &er as !udan6as ocorridas no tra"al#o pois neste processo pude!os reafir!ar a

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caracter?stica coleti&a do tra"al#o o tra"al#o 7 constru?do coleti&a!ente tanto no !o!ento e!

/ue os processos de tra"al#o le&a! à segrega60o dos tra"al#adores /uanto no !o!ento e!

/ue a reorgani.a60o destes processos pro!o&e! u! tra"al#o efeti&a!ente ideali.ado e

reali.ado e! e/uipe$

E ao finali.ar a Residência Multiprofissional e! Saúde Mental e iniciando no&a etapa na

!in#a &ida de tra"al#adora estou certa /ue carregarei co!igo o /ue pude aprender co! estes

tra"al#adores – ensina!entos /ue se constitue! agora co!o retaguarda co!o

funda!enta60o para no&as a68es no !eu tra"al#o$

2ara pro!o&er o tra"al#o &i&o e &i&ificador na saúde !ental 7 i!portante estar atentos

para a necessidade de 0#(((& construir um campo de proteção para quem tem que inventar 

coisas não pensadas e não resolvidas, para quem tem que construir suas cai6as de

ferramentas, muitas ve)es em ato, para quem, sendo cuidador, deve ser cuidado(3   (Mer#

*++ p$ N)$ Cuidar deste tra"al#ador 7 ta!"7! ent0o dar su"s?dios instru!entos e

consistência para /ue o ele possa ser in&enti&o e dese5ante de sair do lugar co!u! ="&io e

seguro$

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RE?ERENCIAS 9I9IOGRÁ?ICAS

PRASI% Minist7rio do ra"al#o$ 2ortaria Ministerial -T de +T de outu"ro de *++*$*lassificação rasileira de cupaçGes$ ;ispon?&el e!

#ttp@@$!tec"o$go&$"r@c"osite@pages@#o!e$5sf 

F'HCAH% Mic#el$ Pistória da Qoucura na dade *l7ssica$ S0o 2aulo 2erspecti&a ,TD$

'FFMA Er&ing$ $anic=mios, prisGes e conventos$ S0o 2aulo 2erspecti&a ,TD$

MACIE%$ %aurinda Rosa et al$ Pistória ral dos $oradores do 'avilhão %ossa Senhora dosFemédios da *ol=nia Juliano $oreira I FJ $ E! \III Encontro de Gist=ria A2HG – Rio Rio deJaneiro *++D$ ;ispon?&el e!#ttp@@encontro*++D$r5$anpu#$org@resources@content@anais@,*,*TOT*TNbAR:HI'bartigobanpu#b2SRbCJM$pdf  

MERGQ E!erson E$ Sa?de; a cartografia do tra"alho vivo$ S0o 2aulo Gucitec *++*$

MERGQ E!erson E$ ' CA2S e seus tra"al#adores no ol#o do furac0o anti!anico!ial$ Alegriae Al?&io co!o dispositi&os analisadores$ E! Mer# E$E$> A!aral G$ ('rg$)$  A reforma psiqui7trica no cotidiano  $ S0o 2aulo@Ca!pinas Aderaldo Rot#sc#ild@Ser&i6o de Saúde;outor C<ndido Ferreira *++$ p$ NN4$ ;ispon?&el e!#ttp@@$uff$"r@saudecoleti&a@professores@!er#@capitulos4+D$pdf 

MERGQ E!erson E$ e FEHERWERXER %aura C$ M$ o&o ol#ar so"re as tecnologias de

saúde u!a necessidade conte!por<nea$ E! MA;ARI' A$ C$ S$ e 'MPER E$('rgs$)$ Qeituras de novas tecnologias e sa?de$ S0o Cristo&0o e Sal&ador Editora Hni&ersidadede Feira de Santana e Editora da HFPA *++T p$ *T4N$ ;ispon?&el e!#ttp@@$uff$"r@saudecoleti&a@professores@!er#@> acesso *N@+@*+,*$

'S]RI' Cl1udia$ E9peri!entando a fotografia co!o ferra!enta de an1lise da ati&idade detra"al#o$ E! nform7tica na Educação; teoria e pr7tica$ 2orto Alegre &$ ,- n$ , p$O,4OT*+,+$

'S]RI' Cl1udia$ A fotografia co!o u!a !arca do tra"al#o u! !7todo /ue con&oca oprotagonis!o do tra"al#ador na in&en60o de !undos$ E! AE%%A A$ $ e I'I J$

('rgs$)$ magens no pesquisar; e6perimentaçGes$ 2orto Alegre ;o! :ui9ote *+,,$

RAMMIER atiana$ Sa?de do tra"alhador de Sa?de $ental; uma revisão dos estudos"rasileiros( E! Saúde e! ;e"ate$ Rio de Janeiro &$ -* n$ D@T@D+ p$ +4, *++D$

RAMMIER atiana e PRI' Jussara C$ 0*ada *A'S é um *A'S3; uma coan7lise dosrecursos, meios e normas presentes nas atividades dos tra"alhadores de sa?de mental(2sicologia e Sociedade$ *- (n$ esp) p$ ,N+4+ *+,,$

EACI' Ana eresa A$ A ColBnia Juliano Moreira na d7cada de ,TO+ pol?tica assistenciale9clus0o e &ida social$ E! III Congresso Internacional de 2sicopatologia Funda!ental *++D

iter=i$ Anais do III Congresso Internacional de 2sicopatologia Funda!ental – 2at#os&iolência e poder$ ;ispon?&el e!

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http://pt.fundamentalpsychopathology.org/uploads/files/iii_congresso/mesas_redondas/a_colonia_juliano _moreira_na_decada_de_1940.pdf

EACI' Ana eresa A$ ;a colBnia agr?cola ao #ospital4colBnia configura68es para aassistência psi/ui1trica no Prasil na pri!eira !etade do s7culo \\$ Gist=ria Ciências Saúde –

Manguin#os Rio de Janeiro &$,D supl$, de.$ *+,, p$-N4N*$