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ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 1 FRAGILIDADE AMBIENTAL DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DUAS BOCAS - ESPÍRITO SANTO: UMA ANÁLISE INTEGRADA DOS ELEMENTOS DA PAISAGEM James Rafael Ulisses dos Santos (a), Eberval Marchioro (b), Edilsa Oliveira dos Santos (c) (a) Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Geografia - PPGG, Universidade Federal do Espírito Santo-UFES, [email protected] (b) Professor Drº do Programa de Pós-Graduação em Geografia - PPGG, Universidade Federal do Espírito Santo- UFES, [email protected] (c) Mestra do Programa de Pós-Graduação em Geografia - PPGEO, Universidade Federal de Sergipe-UFS, [email protected] Eixo: Geotecnologias e modelagem aplicada aos estudos ambientais Resumo Este trabalho teve por objetivo determinar a fragilidade ambiental da bacia hidrográfica do rio Duas Bocas, Espírito Santo, Brasil, por meio da integração das seguintes variáveis: declividade, solos, uso e cobertura da terra e precipitação. Como metodologia o trabalho foi dividido em três etapas, na primeira realizaram-se pesquisas bibliográficas e cartográficas. A segunda correspondeu aos levantamentos de campo e coleta de dados in loco, e na terceira foram produzidos os mapas em ambiente dos Sistemas de Informações Geográficas (SIGs). Os resultados demonstraram que com a integração das variáveis propostas, as classes de fragilidade muito baixa e baixa predominaram nos topos de morro e fundos de vale a jusante da bacia, já as classes muito alta e alta abrange toda porção central e montante, com a classe média presente nas vertentes íngremes ao longo da bacia. Contudo, a aplicação dessa metodologia apresentou resultados satisfatórios para a área de estudo. Palavras-chave: Fragilidade, Paisagem, Bacias Hidrográficas, Análise Integradora 1. Introdução A análise integrada dos elementos da paisagem como geologia, geomorfologia, pedologia, hidrografia, declividade, uso e cobertura da terra e precipitação é fundamental para estudos em bacias hidrográficas. Assim, as interações dos fatores naturais com as ações humanas tornam-se indispensáveis quanto a dinâmica, planejamento, gestão e tomada de decisões em estudos de sistemas ambientais (CRUZ, et al., 2010; SANTOS et al., 2015, CUNHA, 2008). Para Santos (2004, p.85) “toda ocorrência de evento em uma bacia hidrográfica tanto de origem antrópica como natural, interfere na dinâmica desse sistema, seja na quantidade dos cursos de água ou na sua qualidade”. Nesse sentido:

FRAGILIDADE AMBIENTAL DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO … · A bacia hidrográfica do rio Duas Bocas está localizada entre os municípios de Santa Leopoldina, Cariacica e Viana, no

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FRAGILIDADE AMBIENTAL DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO

DUAS BOCAS - ESPÍRITO SANTO: UMA ANÁLISE INTEGRADA DOS

ELEMENTOS DA PAISAGEM

James Rafael Ulisses dos Santos (a), Eberval Marchioro (b), Edilsa Oliveira dos Santos (c)

(a) Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Geografia - PPGG, Universidade Federal do Espírito Santo-UFES,

[email protected] (b) Professor Drº do Programa de Pós-Graduação em Geografia - PPGG, Universidade Federal do Espírito Santo-

UFES, [email protected] (c) Mestra do Programa de Pós-Graduação em Geografia - PPGEO, Universidade Federal de Sergipe-UFS,

[email protected]

Eixo: Geotecnologias e modelagem aplicada aos estudos ambientais

Resumo

Este trabalho teve por objetivo determinar a fragilidade ambiental da bacia hidrográfica do rio Duas Bocas, Espírito

Santo, Brasil, por meio da integração das seguintes variáveis: declividade, solos, uso e cobertura da terra e precipitação.

Como metodologia o trabalho foi dividido em três etapas, na primeira realizaram-se pesquisas bibliográficas e

cartográficas. A segunda correspondeu aos levantamentos de campo e coleta de dados in loco, e na terceira foram

produzidos os mapas em ambiente dos Sistemas de Informações Geográficas (SIGs). Os resultados demonstraram que

com a integração das variáveis propostas, as classes de fragilidade muito baixa e baixa predominaram nos topos de

morro e fundos de vale a jusante da bacia, já as classes muito alta e alta abrange toda porção central e montante, com

a classe média presente nas vertentes íngremes ao longo da bacia. Contudo, a aplicação dessa metodologia apresentou

resultados satisfatórios para a área de estudo.

Palavras-chave: Fragilidade, Paisagem, Bacias Hidrográficas, Análise Integradora

1. Introdução

A análise integrada dos elementos da paisagem como geologia, geomorfologia, pedologia,

hidrografia, declividade, uso e cobertura da terra e precipitação é fundamental para estudos em

bacias hidrográficas. Assim, as interações dos fatores naturais com as ações humanas tornam-se

indispensáveis quanto a dinâmica, planejamento, gestão e tomada de decisões em estudos de

sistemas ambientais (CRUZ, et al., 2010; SANTOS et al., 2015, CUNHA, 2008).

Para Santos (2004, p.85) “toda ocorrência de evento em uma bacia hidrográfica tanto de

origem antrópica como natural, interfere na dinâmica desse sistema, seja na quantidade dos cursos

de água ou na sua qualidade”. Nesse sentido:

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As bacias hidrográficas podem ser consideradas como sistemas abertos, em termos de

inputs ou autputs de energia, oriundos da precipitação, e de outputs, relacionados à água

e sedimentos oriundos da erosão fluvial e das encostas existentes no âmbito das bacias

(GUERRA; MENDONÇA, 2014, p. 231).

Os ambientes naturais dispõem de condições para permanecer em equilíbrio dinâmico. Mas

com os sucessivos aumentos das intervenções antrópicas, esse equilíbrio passou a ser

constantemente alterado. Cada ambiente tem sua dinâmica estabelecida pelo constante fluxo de

energia e matéria que movimentam os sistemas. Assim, por meio de uma análise integrada, pode-

se obter resultados mais satisfatórios quanto a gestão e planejamento em função das ações humanas.

(CRUZ et al., 2010).

A fragilidade dos ambientes naturais e sua correlação com as ações antrópicas tende a ser

maior ou menor em razão de suas características genéticas. A princípio, em algumas regiões do

planeta, os ambientes naturais comportam-se ou comportavam-se em estado de equilíbrio dinâmico

até o momento em que as sociedades humanas começaram progressivamente a interferir de maneira

cada vez mais intensa na exploração dos recursos naturais (ROSS, 1994).

A paisagem se estabelece como uma unidade da geografia, intrínseca e associada aos fatos

geográficos. Sendo composta por uma integração diversificada de formas físicas e culturais. Desse

modo, toda paisagem é formada de elementos geográficos interconectados. Esses elementos são

subdivididos em domínios, como: os naturais, abióticos (que englobam o substrato rochoso), o

clima, os recursos hídricos e o domínio da ação humana (SAUER, 1998; DOLFUSS, 1973).

Contudo, o presente estudo teve por objeto analisar a fragilidade ambiental da bacia

hidrográfica do rio Duas Bocas, Espírito Santo, por meio da integração de elementos naturais e

antrópicas que compõem a paisagem. Sendo utilizadas para a análise as seguintes variáveis:

declividade, solos, uso e cobertura da terra e precipitação, e assim visando a gestão e o

planejamento ambiental da área.

1.1. Localização da Área de Estudo

A bacia hidrográfica do rio Duas Bocas está localizada entre os municípios de Santa

Leopoldina, Cariacica e Viana, no Estado do Espírito Santo, Brasil. Tem uma área de 92,27 km2,

da qual 18,71 km2 (20,28%) corresponde a Santa Leopoldina, 73,51 km2 (79,67%) a Cariacica e

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0,05 km2 (0,06%) a Viana. Seu perímetro (P) é de 55,69 km. E encontra-se compreendida entre as

coordenadas: 20°12'01.28"(7764921) e 20°17'24.90" (7755681) S e 40°23'06'.35 (355302) e

40°32'07.88" (339683) W. (Figura 1).

É uma sub-bacia da bacia hidrográfica do rio Santa Maria da Vitória, sendo de grande

importância para a região, pois desde a década de 1950 com a construção da atual represa de Duas

Bocas, tornou-se responsável pelo abastecimento de água de uma parcela do município de

Cariacica, este que faz parte da Região Metropolitana da Grande Vitória (RMGV).

Figura 1 – Mapa de localização da área de estudo. Fonte: Elaborado pelos autores (2016)

2. Materiais e Métodos

Como procedimentos metodológicos, para fins de alcançar os objetivos sugeridos, o estudo

foi dividido em três partes. A primeira correspondeu aos levantamentos bibliográficos e

cartográficos, em formato vetorial e matricial (raster). A segunda parte ficou a cargo dos trabalhos

de campo, tendo como propósito verificar as características naturais e antrópicas da área de estudo.

Em campo foram capturadas fotografias para criar um acervo iconográfico e coletados pontos

com as coordenadas da área, com auxílio do Sistema de Navegação Global por Satélite (Global

Navigation Satellite System - GNSS), por meio do equipamento eTrex 10 Garmin, cedido pelo

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Laboratório de Cartografia Geográfica e Geotecnologias - LCGGEO/UFES, e do GPS Essentials

em ambiente dos Sistemas de Informações Geográficas (SIGs), no software ArcGIS 10.1TM. (ESRI,

2012).

A terceira parte constituiu na elaboração dos mapas dos elementos da paisagem e da

fragilidade ambiental, todos na escala cartográfica de 1:70.000 no Sistema de Projeção Universal

Transversa de Mercator - UTM, Datum SIRGAS 2000, Zona 24 S. Na modelagem com a aplicação

do cálculo da álgebra de mapas, foram utilizadas as seguintes variáveis: declividade, solos, uso e

cobertura da terra e precipitação.

Com relação a precipitação, os dados utilizados foram referentes aos totais pluviométricos

da normal climatológica (1983-2013), sendo interpolados em ambiente SIG, no interpolador

Spline. Os intervalos das classes de chuva apresentaram as seguintes variações: 1.307 a 1.377mm,

1.377 a 1.447mm, 1.447 a 1.517m, 1.517 a 1.587mm, 1.587 a 1.657mm. A variável precipitação

foi uma das quatro componentes para o cálculo da fragilidade ambiental. Os dados da precipitação

foram disponibilizados pela Agência Nacional de Águas (ANA) e pelo Instituto Capixaba de

Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (IMCAPER).

Os dados de uso e cobertura da terra foram disponibilizados em formato vetorial pelo

Instituto Estadual do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (IEMA). A classificação do uso da

terra teve como base o Ortofotomosaico 2012/2015 em escala 1:10.000 com resolução espacial de

0,25m, sendo adaptado para a área de estudo na escala cartográfica de 1:70.000. E os ajustes da

classificação para a área de estudo baseou-se no manual de Uso da Terra do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE) de 2006. Foram atribuídos pesos para as classes e convertidas de

vetorial para o raster com resolução espacial do pixel de 10m.

O mapa de solos foi atualizado com base nos dados vetoriais adquiridos do levantamento da

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA de 2013, em uma escala de

1:5.000.000 e adaptado para a área de estudo na escala de 1:70.000, sendo encontradas as seguintes

classes: Cambissolo Háplico, Gleissolo, Latossolo Vermelho-Amarelo, Latossolo Vermelho-

Amarelo/Argissolos e Neossolos Litólicos. Para essas classes foram atribuídos pesos e

posteriormente convertidas do formato vetorial para raster com resolução espacial de pixel de 10m.

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O mapa da declividade foi elaborado por meio da interpolação das curvas de nível com

equidistância de 5m x 5m, gerando um Modelo Digital de Terreno (MDT), no Topo To Raster.

Com a criação da declividade na ferramenta Slope, na sequência realizou-se a reclassificada das

classes em Reclassify em ambiente SIG. A reclassificação da declividade baseou-se em Ross

(1994), com intervalos das classes adaptados para se ajustar aos parâmetros altimétricos da bacia.

As curvas de nível foram disponibilizadas pelo Instituto Estadual do Meio Ambiente e dos

Recursos Hídricos (IEMA)

A fragilidade ambiental foi determinada com a aplicação da técnica de álgebra de mapas em

ambiente SIG, a partir do cruzamento das variáveis declividade, solos, uso e cobertura da terra e

precipitação. Para essa técnica de modelagem, no software seguiu-se os seguintes procedimento,

em: ArcMap →ArcTollbox→ Spatial Analyst Tools → Map Álgebra → Raster Calculator.

3. Resultados e discussões

3.1. Precipitação

Bastos et al. (2015) analisando a influência da distribuição de chuva na bacia hidrográfica do

rio Duas Bocas, em função da altitude (efeito orográfico), constataram que o fator topográfico

favoreceu o aumento dos totais pluviométricos acumulados a barlavento nas maiores altitudes,

sendo os intervalos de precipitação total de: 1.307 mm a 1.377mm, 1.377mm a 1.447mm, 1.447mm

a 1.517mm, 1.517mm a 1.587mm, 1.587mm a 1.657 mm (Figura 2).

Neste estudo, os totais pluviométricos acumulados foram referentes a normal climatológica

(1983-2013), que de acordo com Bastos et al. (2015) para a área de estudo foram identificados dois

períodos de chuva característicos, um seco de abril a setembro e outro chuvoso de outubro a março,

sendo que as maiores precipitações foram registradas de novembro e dezembro e as menores de

junho e julho.

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Figura 2 – Mapa da precipitação. Fonte: Elaborado pelos autores (2016).

3.2. Solos

A classe dos Cambissolos Háplicos estão presentes na maior parte das porções central e

montante da bacia, sendo caracterizados pela elevada suscetibilidade aos processos erosivos,

cobrindo relevo dissecado. São solos pouco profundos, onde dificilmente atinge 1 m de solum, com

argilas de atividade média a alta, de variação textual moderada (EMBRAPA, 2013).

A classe dos Gleissolos foi encontrada na planície de inundação no baixo curso do rio

principal, sendo pouco suscetíveis a erosão, com permanente ou periodicamente saturados por

água, exceto em áreas artificialmente drenadas, onde a água permanece parada internamente no

solo, podendo ocorrer saturação por meio do fluxo lateral ou elevando-se por capilaridade,

atingindo a superfície (EMBRAPA, 2013).

A classe dos Latossolos Vermelho-Amarelo cobre boa parte a jusante e uma pequena área a

montante da bacia. Essa classe de solo pode ser encontrada nas mais variadas feições do relevo,

sendo que nessa porção encontra-se em relevo suave ondulado e apresentando pouco suscetível a

erosão. Já a classe dos Latossolos Vermelho-Amarelo associados aos Argissolos está presente em

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uma pequena área da porção central e abrangendo maior extensão a jusante. Apresentou também

baixa suscetibilidade aos processos erosivos (EMBRAPA, 2013).

Os Neossolos Litólicos são encontrados em um pequeno segmento da porção central da bacia,

e assim como os Cambissolos Háplicos, são muito suscetíveis a erosão. Apresenta o horizonte A

ou hístico com 90% (por volume) ou mais de sua massa constituída por fragmentos de rocha com

diâmetro maior que 2mm, em contato lítico ou fragmentário dentro de 50cm da superfície do solo

(EMBRAPA, 2013). (Figura 3).

Figura 3 – Mapa das classes de solos. Fonte: Elaborado pelos autores (2016).

3.3. Uso e Cobertura da Terra

Conforme apresentado na (Tabela 1) a classe de uso da terra mata nativa, que se caracteriza

por corresponder a resquício de vegetação típica da Mata Atlântica, apresentou o maior percentual

com 48,27%, cobrindo uma área de 44,54km2, sendo encontrada principalmente na porção a

montante da bacia, onde abrange praticamente toda a Rebio de Duas Bocas, nas maiores altitudes

e declividades da área.

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Tabela 1 – Classes de uso e cobertura da terra mais recente da área de estudo, com áreas

em km2, ha e percentuais

Fonte: Elaborado pelos autores (2016)

No entanto, foi a partir da implementação da lei nº 2.095 de 12 de janeiro de 1965, que criou

a Reserva Florestal de Duas Bocas, e posteriormente redefinida para Reserva Biológica em 2 de

janeiro de 1991 através da lei nº 4.503 que houve um maior rigor quando ao desmatamento e criação

de novas áreas para agropecuária nas proximidades da REBIO, fato que influenciou diretamente

no entorno e dentro da bacia (NOVELLI, 2010; GOVERNO DO ESTADO DO ESPÍRITO

SANTO,1996)

A classe de pastagem apresentou o segundo maior percentual com 31,51% em uma extensão

de 29,08 km2. Essa classe está presente na porção central e principalmente no baixo curso do rio

Duas Bocas, correspondendo aos fundos de vale e a planície de inundação, e sendo característico

dessa porção a prática da pecuária extensiva, cuja a finalidade destina-se a criação de gado de corte

e/ou leiteiro.

Para tanto, a classe de cultivo agrícola de banana foi a que deteve o terceiro maior percentual

com 6,78% representando uma área de 6,25km2. E como pode ser observado na (Figura 4) está

presente na porção central da área de estudo, nas maiores altitudes e declividade do relevo, e cujos

solos são mais suscetíveis aos processos erosivos, com predominância dos Cambissolos Háplicos.

Uso e Cobertura da Terra Área

km2

Área

ha (%)

Afloramento Rochoso 1,16 115,99 1,26

Brejo 2,11 211,29 2,29

Cultivo Agrícola de Banana 6,25 625,45 6,78

Cultivo Agrícola de Café 1,66 165,77 1,80

Cultivo Agrícola – Coco Bahia 0,25 25,72 0,27

Edificação 2,15 215,19 2,33

Jaqueira 0,14 13,58 0,15

Macega 2,02 201,83 2,19

Massa d´Água 0,67 67,21 0,73

Mata Nativa 44,54 4453,53 48,27

Outros Cultivos Agrícolas Anuais 1,37 136,94 1,48

Pastagem 29,08 2907,54 31,51

Silvicultura 0,51 51,03 0,55

Solo Exposto 0,36 35,81 0,39

Total 92,27 9226,88 100

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Figura 4 – Mapa de uso e cobertura da terra. Fonte: Elaborado pelos autores (2016)

3.4. Declividade

No mapa da declividade (Figura 5), pode ser observado que as menores declividade

encontram-se na porção a jusante estando associadas a planície de inundação e fundos de vale com

intervalos de < 6% a 12% em relevo plano e suave ondulado. Já as maiores declividades que variam

de 12% a 30% e de 30% a > 60% foram verificadas nas porções central e montante em relevo forte

ondulado, montanhoso e escarpado.

Figura 5- Mapa de declividade. Fonte: Elaborado pelos autores (2016).

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3.5. Fragilidade Ambiental

A fragilidade ambiental da área de estudo como demonstrado na (Figura 6), determinou as

porções com maiores e menores graus de fragilidade em função dos elementos naturais e antrópicos

da paisagem. Desse modo, verificou-se que as classes de fragilidade muito baixa e baixa

corresponde a porção jusante da bacia, especificamente nos topos de morros, fundos de vale e

planície de inundação, caracterizando-se por apresentar relevo plano e suave ondulado e com

declividade pouco acentuada, contribuindo assim, para as inundações durante os períodos

chuvosos. Já a classe média é verificada nas vertentes íngremes sujeitas a movimentos de massa.

Nesse segmento as classes de solos predominantes são do Latossolos Vermelho-amarelo,

Latossolos Vermelho-Amarelos associados com Argissolos e Gleissolos, sendo pouco suscetíveis

a erosão. O uso da terra predominante é de pastagem, e a precipitação apresentou intervalos de

1.307 mm a 1.377mm, 1.377mm a 1.447mm, 1.447mm a 1.517mm.

Na porção central da bacia predominaram a classe de fragilidade muito alta, sendo

corroborado pela declividade elevada e com a presença de Cambissolos Háplicos, que são muito

suscetíveis aos processos erosivos. O uso da terra, tem forte presença do cultivo agrícola de banana.

Já com relação a porção montante, a classe de fragilidade de maior destaque foi a alta, com menor

intensidade para classe muito alta. E mesmo com presença de mata nativa a fragilidade a montante

foi alta devido a forte dissecação do relevo e declividade acentuada, atrelado aos Cambissolos

Háplicos, e precipitação com intervalos de 1.517mm a 1.587mm, 1.587mm a 1.657 mm.

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Figura 6 – Mapa da fragilidade ambiental. Fonte: Elaborado pelos autores (2016)

4. Considerações finais

Com esse estudo pode-se demonstrar que por meio da análise integrada dos elementos físicos

e antrópicos que compõem a paisagem, pode-se determinar a fragilidade ambiental da bacia

hidrográfica do rio Duas Bocas, visando auxiliar num diagnóstico das consdições de conservação,

formas de uso da terra, degradação dos solos e aspectos socioeconômicos, podendo com isso,

contribuir na elaboração de prognósticos com o propósito de corroborar em tomadas de decisão.

Contudo, a metodologia aplicada para determinara a fragilidade ambiental apresentou

resultados bastante satisfatórios, condizentes com as características naturais da área. Em ambiente

SIG, sendo uma ferramenta fundamental para estudos que integralizam variáveis, foi possivel

anlisar as porçães com maior ou menor graus de fragilidade da paisagem. No entanto, trata-se de

um método que possibilita adaptações das variáveis conforme a finalidade do estudo.

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