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Fragmentos Poéticos de Carne Humana por Felipe Vieira de Galisteo “As palavras nem sempre suprem o caos de nossas idéias. Quando vomito sobre o papel, é instintivamente que o faço. Quando sinto que é preciso limpar ao menos um pouco a sujeira, é a razão muda que grita mais forte. Não creio que seja possível escrever, salvo casos de genialidade extrema, sem nos agarrarmos às duas coisas. E mesmo utilizando-se muito bem destas qualidades primordiais, nem sempre as palavras serão poesia. Mas acredito que é vital que elas sempre sejam paixão”. 1

Fragmentos Poéticos de Carne Humana

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Poemas e contos poéticos de Felipe Galisteo.

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Conto de Amor Imperfeito

Fragmentos Poticos de Carne Humanapor Felipe Vieira de GalisteoAs palavras nem sempre suprem o caos de nossas idias. Quando vomito sobre o papel, instintivamente que o fao. Quando sinto que preciso limpar ao menos um pouco a sujeira, a razo muda que grita mais forte. No creio que seja possvel escrever, salvo casos de genialidade extrema, sem nos agarrarmos s duas coisas. E mesmo utilizando-se muito bem destas qualidades primordiais, nem sempre as palavras sero poesia. Mas acredito que vital que elas sempre sejam paixo.No Sobre Amor e Outros Restos HumanosSempre haver aqui espao para a dor.E sempre caber na dor um pouco prazer... Carinho... E um tanto de ironia..Um Sopro Apenas

Quanta serenidade h no meu confuso esprito quando suspiro ofegantemente sincero ao me perder na sinuosidade indecente das curvas que constituem a escultura magistralmente mal acabada do teu corpo promscuo, desenhando com o ardor de minha lngua inquieta figuras divinas de um amor devotado no suor, procurando, incansvel, encontrar o leve sabor agridoce de tua fruta faminta, pequena e madura que nasce donde nasce a prpria existncia do ser, apossado por meu apurado olfato, um co bandido absorto no cheiro de cada regio fsica desta alma envolta em meus braos na cama dura e apertada deste quarto sujo, mas carinhoso como o proprietrio em receber, no aconchego dos lenis, convidada to cativante ao desejo de meus olhos e ao instinto de meus rgos genitais mas, ainda assim, reflexivo no pensar por um momento apenas na possibilidade de inocncia das nossas aes para, logo em seguida, ser condenado ao prazer do beijo dilacerante na carne onde comportas o alimento primordial de tuas sementes e, assim, esqueo a racionalidade dos sentimentos, escrupulosos desde o ventre, mergulhando em definitivo na devassa sensao da primavera sexual primeira de nossos corpos apaixonadamente adolescentes.A Maa

Se olharmos uma maa cortada ao meio, podemos ver ao mesmo tempo uma flor e uma mutilao.

(Somos mais cegos quanto mais perto as coisas esto de ns).

Refm de nossos olhos, a maa cortada exala seu cheiro e seu sangue, desejando ser amada em uma nica mordida.

(O desejo no cabe s em mim).

Uma maa compartilhada tem o gosto dos outros?

Como um beijo coletivo?

O que nossos olhos desejam de verdade?

A f do amor ou a f no pecado?

Ela quer mais sensaes, mais beijos, mais possibilidades...

Todos os sentidos possveis e impossveis do desejo.

Ela quer o cheiro, o roar da pele, o estalo mido, o sabor da terra, o silncio das horas mais sinceras.

Ela quer querer e no deixar mais de querer.

E pensar que tudo isso foi em funo de uma pequena dor...Momentos de Solido

Durante os primeiros momentos de solido

Eu pensava que as horas se diluam no meu corpo

Como um remdio amargo num copo cheio de sede

Bebi cada segundo como se bebesse meu sangue

Cheirei uma enorme carreira de nmeros absurdos

E esperei os minutos virarem horas, virarem dias...

Seguem-se semanas de alucinaes e vertigens impiedosas

Passados 27 anos, me acostumei ao sabor na boca

Eu, que ao nascer, senti os primeiros momentos

Como momentos eternos de solido

Eu, que ao morrer - j acostumado ao frio -

Descansarei sozinho com minhas lembranasUm Dia de Cada Vez...

Guardei nos meus olhos teu rosto que de perto ainda no vi

Mas lembro dele sempre como se a conhecesse todos os dias

Um dia de cada vez... J diria o velho, na idade da sabedoria

Dizem que a memria nos engana ou que os olhos desejam demais

Mas prefiro pensar que a memria escolhe o que os olhos sabem

O que se desconhece precisa ser conhecido... Sim, falo de amor!

Um dia de cada vez... J diria eu, no auge da ventania!Distante

Distante uma palavra que no abrevia a emoo

Distante no apenas uma palavra

Distante uma idia de esperana e o vazio da solidoLapso Breve de Um Instante

Teus olhos ofuscaram o solA lgrima eviscerada da tua face resplandeceusuplantando definitivamente meus sentimentosLgubre, teu olhar responde com sinceridadeaos beijos homicidas que profundamente cortamteus pequenos lbios donde antes vi imagens sonorasexcitando-me com a filosofia do sorrisoRespondi sempre com uma sinfonia de dorRespondi sempre com o acaso da paixoRespondi sempre com a visceralidade de meu corpoRespondi sempre com desejos mudosde te responder a verdade olhos nos olhosA lua grita sbia a luz que lhe possuie na escurido fria da madrugada cinzentavibra como teus olhos um dia j vibraramno ofuscar do sol de luz esquartejadoraA solido aqui neste poo da noite sem fim bem mais calma sem teu corpo frioesquentando-se no meu corpo friomas esta calma me arrebentana mesma medida que o torturador violenta o condenadoPrefiro a inquietude do mar de teus olhosPrefiro os teus suspiros afogadosPrefiro a devassido da orgia potica do teu serPrefiro esquecer solitrio a dor das palavrase caminhar a trilha do sol agora ofuscado pela lembranaLembrar um auto-devorar-se por inteiroque nem mesmo o sorriso filosficoconsegue subtrair as lgrimas que me remetem s tuasUm dia ainda aprenderei a recomear do fimsem precisar esquecer do princpioInconformvel SonetoRacionalizei o amor

Mas sou puro sentimento

Duro qual uma esttua de cimento

De um tmulo sem nenhuma flor

Pensei na minha dor

Mas minha alma nua em plo

Fria como pedra de gelo

Guardando pra si todo o rancor

Talvez eu deva ser mesmo um solitrio

E o sentimento apenas um escapulrio

Que minha pouca f no consegue carregar

Talvez eu no seja to forte

Quando estiver sozinho no leito de morte

Esperando um amor que no vai chegarOlhos Perdidos

Reconheo de longe este olhar perdidoNo quero que isso continue acontecendoNo confuso, noPode ter certezaMas eu insisto em procurar nas folhas que caem das rvoresMesmo noite o milagre dos olhos aconteceNo com vocApenas foi um sonho feito de lcoolPersisto na falta de convicoIsso tenho certeza que no atraente nem confivelMas em meio covardia, o que vale?As fendas no cho se abremOs corpos se perdem nesta imensa dorQuando a pele sente a brisa lmpida do teu hlitoSabor de suco feito de frutas docesReconheo, sim!Eis a memria, eis o espelho, eis tambm o esquecimento...E sua impossibilidadeSempre perdido procurando coragemFoi por inteiroToda a fora, todo o milagre...Foi por inteiro que me perdi nestas sombras infinitasMe olhe!Talvez o caminho seja o encontro com os meus...No quero que isso continue

dos caminhos para o (a)mar

percorro ruas despedaadas, confusas, cinza-coloridas

abandonado ao destino de labirintos perigosos

transformo o medo em vontade de potncia

reconstruindo minhas pegadas at ali

mpeto dos sonhos que j esqueci ao acordar

cultivando detalhes para no me perder

incrvel a fronteira entre dois corpos - transponvel

a vida no um muro a ser derrubado, a vida gua!

desejos so feitos para serem caminhos inseguros

yemanj, nossa senhora, sou navegante ateu!

ouvindo a mim mesmo como um filsofo mentiroso

no me desfao de idias que sobraram - acredito

inventando histrias aos meus ouvidos

sonhando com guas que despencam de vulces

irremediavelmente poeta, irremediavelmente paixo

o orculo me diz: um peixe no sabe voar!

felipe, no foges da estrada pelo ar, pssaro ferido!

viva a paisagem que te assombra - onde est o mar?

gaia s minha morada de saudade em terras dgua!Quando Voc Voltar...

Quando voc voltar

Instintivamente dominarei minha dor

Repugnantemente expelirei meu asco

E terei de novo tudo aquilo que voc no conservou

Nossos nomes no so mais verdadeiros

Nossas vidas parecem sempre passageiras

E tudo o que ns temos falta um do outro

Quando sentimos falta um do outro...

Percebo os teus olhos me observarem silenciosos

De uma neutralidade pior do que uma catarrada

De uma passividade pior do que um amor profundo

E nos labirintos obscuros de minha alma atormentada

O sentimento h de se tornar carne!

E meu sangue voltar a encontrar meu corao...

Mesmo que nossas peles no se toquem

Porque j nos parecem uma ptrida matria morta

O que sempre separar nossos corpos o amor

Quando voc voltar

Nossos nomes j no sero mais verdadeiros

Nossas vidas continuaro para sempre passageiras

Mas algum ainda vai escrever sobre ns

Instintivamente expelirei meu asco

Repugnantemente dominarei minha dor

E no terei mais nem ao menos o que nos restou:

- Talvez uma fatia incua...

Um pedao dilacerado um do outro.

Sobre as Palavras No Ditas

As palavras se perdem na ponta dos meus dedos

Omissos em no te tocar.

Esse o limite que marca o meu olhar restrito a tua direo?

Covardia talvez? Ou apenas incapacidade?

Palavras que no ouso dizer no vazio infinito que separa

Nossos corpos indecisos.

Esperei resposta o tempo todo (mesmo o tempo dos sonhos)

E jamais acreditei nelas.

Quem conhece realmente a dor de nunca acreditar?

Quem conhece o sentido de tudo aquilo que nunca foi dito?

Eu tento... Eu insisto... (mas sempre sem juramento)

Porque talvez existam palavras demais em meus dedos

Que no agarram o silncio do ar...

Que no se pronunciam nos teus ouvidos e calam meus movimentos

Eternamente inseguros.

Sem as palavras me impossvel o amor.

Sem os atos me impossvel o amor.

Sem mim, apesar de mim, e apenas por mim, impossvel...

26 de JaneiroA msica que consegue nos carregarpor imagens sonoras que esto muito almda viso viciada da realidade aquela que nos ajuda a abrir a portado caminho intenso da incertezaEste parece um mergulho repleto de solidoque s pode ser sincero se realmente partirda verdade que nos consome por dentroAs pessoas que conseguem nos carregarpor pensamentos profundos que esto muito almda viso viciada da realidadeso aquelas que nos ajudam a percorrercom intensidade a incerteza do caminhoEste um mergulho de mos abraadasque s pode ser sincero se realmente partirda verdade invisvel dos sentimentos

DepoisDepois do olhar

da aproximao do contato das palavras da poesia dos movimentos do cheiro da paixo do beijo do abrao do fogo incontrolvel da nudez do suor dos gemidos do orgasmo da exploso de gritos...

Restou-me o silncio, a dor, a memria...O silncio.Sonho de Ns Juntos

Mesmo cansados, meus olhos felizes no se fecham

Deslumbram-se com fotos e palavras distantes

Que abraam meu corpo como se tu estivesses perto

E ests, de certa maneira...

Tudo que se diz "" pode ser entendido como "talvez"

Mas tudo aquilo que acontece simplesmente ""

No precisa se pensar em mais nada!

Para a relatividade do "talvez" resta apenas o tempo:

Talvez demorem os dias a passar...

Talvez os dias passem bem depressa...

(Mas acho difcil a ansiedade deixar isso acontecer)

A saudade daquilo que desejo apenas ""!

E conto e reconto o tempo

Enquanto o dia teima em no querer acabar

Talvez meus olhos possam descansar num sonho de ns juntos

Onde a saudade se extingue num abrao...

Sacia minha sede com tua beleza mais pura!

Sacia minha pele com tuas palavras mais sinceras!

Talvez meus olhos possam descansar num sonho de ns juntos

Quando a saudade se esvair num abrao

luz de teus olhos, ao sabor de tua boca...

Ao som da tua voz no meu ouvido ser, porque ""!

Porque somos o desejo alm das palavras

Porque seremos a imagem de um beijo que nunca terminaColosso de Rodes

A saudade mutila meu peito inseguro

Restam apenas palavras perdidas

Revelando a face de minha dor:

Ps que se agitam entre solido e esperana

Ps imveis por sobre as ondas do mar

Ponto de chegada e de partida

Sou minha terra que protejo

Como o sol ao frio eterno de meus olhos

Congelados em direo ao horizonte

Uma vez mais, saudade! Preciso chegar l...

A natureza se encarrega em me derrubar do trono!

Quero afundar at ser esquecido!

Quero ser levado pelas ondas at a saudade acabar!

Quero uma vez mais chegar...Breve Histria da Fsica ou Uma Genealogia do AmorEntre minha mo e a tua existe um espao infinito a ser percorrido.

Preencho de paixo.

Vs?

O universo pode caber dentro de uma casca de ns.

Palavras No Por Acaso

O acaso nos faz loucos

E dessa confuso toda hoje sou seu defensor

Por que no mais acasos como esse

Que nos fazem to felizes?

E se essa felicidade loucura mesmo

A verdade que me diga

Quem no o queria ser se fosse sempre assim...

Eu procuro sinceridade

Em todas as portas e janelas entreabertas

Porque elas nunca se abrem totalmente

E seria triste fosse o contrrio

A sinceridade no exige a falta de mistrios

Eis a grande confuso

De que so feitos os melhores instantes

Desta vida eterno instante

Momentos do meu dia noite

Da minha noite dia

Que se fazem sempre menos frias

Quando o acaso do momento o encontro

Com quem se quer sempre to bem

Estar perto mesmo longe

Se sincero o adorar tambm

E neste caso as palavras

No so por acaso poesia

o inevitvel do instante eterno

Da primavera que ao acaso se anuncia...

Nufrago

Naveguei em teus olhos

Quando acordei

Uma semana depois

Bruscamente

Lembrei que no sabia navegar

E meu barco de papel afundouConto de Amor Imperfeito

Ele havia sumido j fazia um bom tempo. No sumido como algum que desaparece, mas sim como algum que foge. Ela sentia sua falta j fazia um bom tempo. No sentia como algum que sofre, mas sim como algum que ama. O tempo se responsabiliza pela nossa solido. Eu os observo.

- No tenho nada nessa cidade.

- Tens a mim.

- Adeus.

Isso no um encontro... Uma conversa por MSN. Acreditem, as relaes amorosas chegaram a esse ponto.

Sempre lhe exigindo a intensidade. Sempre cobrando com juros um amor devotado. Sempre com conhecimento de causa. Sempre com os argumentos caractersticos de um cara inteligente como era, sempre silenciando a voz onrica que pulsava dentro dela.

Mas acaba tudo por MSN...

Numa estrada perdida, a garota tambm se colocou em risco, porque sem risco no se vive como um artista, e a vida depende da arte que fazemos dela.

Quem sabe ainda um derradeiro encontro, sem a quilometrude das conversas por telefone que prolongam ainda mais as distncias, sem os vcios da virtualidade. Sem a culpa que lhe roia o peito, sentimento desnecessrio esse, a culpa!

A alegria do reencontro!

Tens a mim, sim, ainda a mim!

Olha no meu olho e chora de vontade de beijar. Olha no meu olho e simplesmente olha.

Mas as palavras de justia recompem a ordem das coisas, eliminam o pedestal que ela havia criado para ele, realimentando assim a humanidade e seus eternos erros.

Traio.

O sexo s vezes serve pra ser colocado no lixo junto com a camisinha esporrada.

- Vou contar!

No meio da bebedeira ela descobre a verdade. No existem lgrimas. Mas isso no significa ausncia de sofrimento, e sim a elevao da dor em caos interno e incredulidade. Faltar-me- f daqui por diante a cada passo que vou dar.

- Ele ele ele ele ele ele ele...

Com sua melhor amiga. Ele. Aquela vaca! Aquela puta! Aquela doente! Aquela vadia! Vai se tratar a piranha! Sabendo de toda a dor, sabendo de todo o amor, de tudo que ela sentia...

Ela pensa: apenas a idiota aqui ainda acreditava na desgraada!

Culpa.

Por qu?

Isso! Sem culpa!Nojo. Ponto. Nojo. Reticncias.Isso! Sem culpa!A bebida nas veias, a droga no crebro, um encontro casual com qualquer um, um sexo feito de qualquer jeito, um jeito que nem se lembra, um acordar fedido, suado, grudado, sujo, nojo, pronto para o reencontro. Ela at esqueceu o suti, mas no os culos escuros. Solido na Avenida Paulista. O corao como um turbilho de sentimentos, carne e nervos, um corao sendo triturado na mais alta velocidade do liquidificador, e por fora, o corpo... Parece paralisado. Cheiro de cigarro, poros destilando cachaa, o bafo de quem chupou e nem escovou os dentes, destruda, arrasada, qualquer coisa do gnero, porque as palavras no importam, no bastam, e ele, do outro lado da rua, esboa um sorriso por trs do ol. Ela a frieza nos olhos protegidos pela escurido.

- O que tu tens?

Ao p do ouvido, quase lasciva: - Eu tenho nojo de ti.

Sem entender ele ri.

- Por que tu comeu a Ana Luiza?

A verdade no necessariamente derruba a pose do cara. Mas ele nem mesmo entende seus atos passados. Ele queria matar a guria se pudesse pra esquecer que um dia aquilo aconteceu. Mas ele era covarde. E no fez isso.A tal guria, ao contrrio, contava com orgulho seu feito, claro, no esperava que a verdade viesse tona, mas ela vem, sua traidora, que no sabe nem o que dizer. Mas ela sabia:

- Vai tomar no teu cu sua vaca!

Voltando solido da Avenida Paulista aps esta breve lembrana do futuro que veio na noite daquele mesmo dia em que ela finalmente o reencontrava.

O dilogo entre os dois intransponvel. Se eu dissesse perderia a verdade do momento. Mas recordo de uma cena, em especfico. Quando finalmente ela deixou escorrer uma lgrima, que seria a nica, ele limpou seu rosto, seco.

- Espero que um dia possas me perdoar.

Essa a frase mais ridcula que algum pode dizer numa situao como essa, mas no h como escapar dela.

E claro, a resposta, apenas o tempo dar...

Eu? Continuo observando.

AmoresTem amores que nascem num olhar

Tem amores que nascem com o tempo

Tem amores de bar

Que a gente escreve em guardanapo

Amores poesia, amores palavras...

Amores bbados

Platnicos

Tem amores que chegam com a mar

Amores derradeiros!

Os amores so confusos

Mas no precisam ser...

Tem amores diferentes e amores ausentes

Amores no correspondidos

Amores bandidos

Cndidos ou opressivos

Patolgicos

Tem amores violentos, sujos, malvados

Amores depravados

Tem uns amores que deixam a gente doente

Mas no sei se isso amor de verdade...

Tem os amores estranhos

Feios e bonitos

E tem amores queridos

Feitos de flores, beijos e carinhos

Tem amores que no duram

Amores que vem, amores que vo

Amores em vo

Existem amores que pregam a liberdade

E tem aqueles que nos fazem prisioneiros

H ainda aqueles em que se mata e morre pela pessoa amada

E na mesma medida que h os amores que vivem em guerra

H os amores que conhecem bem o que a paz

Tem amores infantis

Tem amores adolescentes

Tem amores que so maduros e enrugados

Amores gelados

Amores quentes

Tem amores que nascem na janela vizinha

Amores secretos e singelos

Tem at aqueles que so piegas

Ah, os amores bregas!

Que fazem a gente chorar vendo novela...

H ainda aqueles que a gente nega

E aqueles em que no se acerta

E fazem a gente chorar

Amores de pele e de cama

Amores entre putas e sacanas

Amores amigos... Amores irmos

Amores sem noo do ridculo

Amores que so pura alegria!

Tem os amores distantes

Amores intensos

Errantes

E h amores que so discretos

Concretos e corretos

Que tem casamento na igreja e tudo

Ah! Os amores! Os amores!

Somos todos, l no fundo, amantes insensatos!

Mordemos com gosto o fruto proibido...

Porque tem amores que bagunam nossa casa

E invadem o corao sem pedir licena...

(Um amor sempre quer um amor como abrigo)

Existem tambm os amores que morrem com o tempo

Mas tem amores que duram a vida toda

E h uma multido de outros amores

E tambm h voc e eu

nicos.

ReencontroSe eu te encontrasse num bar, por acaso, assim, no meio da noite, numa hora em que as pessoas j no lembram exatamente quem elas so, onde os acontecimentos parecem lentos ou rpidos demais, mas sempre intensos ou estpidos ou sinceros em demasia ou todas as possibilidades anteriores, eu no deixaria o tempo se esgotar antes de segurar tua mo com uma fora docemente leve quo louca a fora de uma paixo, e eu te olharia uma vez mais nos teus olhos, sim, nos olhos, mais nos olhos do que nos lbios, buscando no olhar o silncio que diz o que as minhas palavras ainda no conseguiram te dizer, e talvez nunca consigam, e eu poderia contempl-los por horas, eles, teus olhos, e eu saberia realmente que s tu, e eu tambm me esqueceria de tudo, eu abandonaria o nosso ao redor, eu no me importaria com nada que estivesse acontecendo a nossa volta, eu te levaria para outro pas, pela mo, outro pas que no o nosso, muito distante, outro lugar que no o bar onde nos encontramos, outro lugar que no aqui, um lugar bem longe, um lugar que fica s no espao entre nossos olhos, os meus que olham os teus que olham os meus, e neste lugar, neste encontro, eu me aproximaria de teu ouvido e te diria apenas aquilo que necessrio dizer, e que ningum, nem mesmo eu nem mesmo tu sabemos, mas eu diria mesmo assim, e tu escutaria mesmo assim, e a partir desse instante, esse instante que no aconteceu, ns saberamos a verdade que existe entre ns, e nesse instante a verdade entre ns aconteceria, e quem sabe, quem sabe depois que essa verdade acontecer, quem sabe de que forma ela se revelaria?A Garota do Metr ou Um Amor no Subterrneo

Baseado numa histria real:

Um cara encontrou a garota de sua vida e de seus sonhos no metr de Nova Iorque.

Sem nenhuma palavra, amou.

Procurou-a desesperadamente. Criou um site para encontr-la. Pasmem: conseguiu.

Num mundo de paixes virtuais, de relacionamentos pelo msn e por chat de encontros casuais, uma certeza: ainda existe espao para amor primeira vista.Recordaes do Vmito

Carrego na boca o gosto amargo

Aquele beijo que escapou na areia da praia...

Carrego no meu suor o cheiro sincero

Aquele abrao que escapou no meio das ondas...

Carrego nos meus olhos as memrias indigestas

Eu sonhei contigo quando ainda construa castelos...

Adormeci, acordei, adormeci

Do meu lado a cachaa, o usque, a cerveja, a vodka, o vinho...

Enfim, os restos do que j esqueci

No calor do sol

Um cachorro lambeu meu rosto

Mas poderia ter sido voc a me despertar

No fosse o navio mais frgil que o mar

No fossem meus gestos, meus atos, meus sonhos to lcidos!

Que nem mesmo o lcool me bastou para te amar...De Como Sou ToloNo sei se j aconteceu com algum de vocs

Mas comigo teima em continuar no acontecendo

O encontro derradeiro que me far esquecer

Que o amor no existe!

Mas eu pouco me importo com esta realidade

Pois a mim, o que basta, a fico

- Me visto de iluso em festas fantasia e me sinto nu como vim ao mundo...

A verdade que a verdade uma tolice

Embora isso no queira dizer absolutamente

Que a tolice seja uma mentiraPoema Triste

Encontro paz no horizonte longnquo de teus olhos

Lmpido mar onde h felicidade em mergulhar profundo

Afogando-se num amor sem fim

Sinto-me mais vivo do que boiando em lgrimas de solido

Eu no queria mais falar da dor

Queria seguir revolto no mar livre destes sonhos

Porque a revoluo tambm pode ter tranquilidade

Porque do amor no precisa restar s a saudade...

Mas no posso...

Hoje o poema muda e no mais posso

Da revoluo que mexe nalma

Embora eu no acredite nalma

No pode restar nenhum sorriso

Sempre restam escombros de sentimentos infelizes

Sempre resta um corpo morto levado pelas ondas

Na guerra do amor

Sou soldado fardado de solido e utopias

No mar lmpido dos sonhos que senti nos teus olhos

O que fica apenas a esperana de nadar

Se a esperana esperar caminhando

Sobra-me tempo para sorrir sozinho

Se tudo isso no passa de um horizonte infinito para mim

Resta-me pelo menos a dor da poesia

Pois eu no sei falar de mais nada que soe como alegriaA Filosofia Uma Alcolatra Bebo palavras calmamente para me embriagar no tempo exato da viagem.

Mas sempre, antes de chegar, dou de cara contra algum muro.

Ressacas

1. DespertarRiso, melancolia... Uma pitada amarga na boca

O sono vir para derrubar o que a noite construiu

Com tijolos de lcool e cimento de tabaco

O dia acorda azedo, alheio a tudo isso

E recomea sua jornada de volta ao fundo do poo

2. Mais Uma!

Recorda-te disso tambm nos tempos de comemorar

Lembra-te que as coisas terminam sem dar explicaes

Como uma porta que se fecha com a chave por dentro

3. Dentro do Copo

O mar leva embora,

Mas sempre torna beira da praia...

O mar esconde muitos mistrios.VscerasUm dia ele foi abandonadoe o esquecimento fez seu corpo recomear das prprias vscerasPassaram sobre ele o peso das coisas do mundo ao seu redormas forte, no se deixaria soterrar pela matria que o consumiaVai conseguir se erguer do cho, algum dia?Algum dia ainda vai conseguir...Eu sempre me pergunto: por qu?sem gostar de admitir que a resposta sempre ser devorada dentro de minha cabeaVoc consegue dormir na sua cama confortvel?Voc vai tomar um bom caf da manh?O corpo continua esmagado no asfalto duro e tem sonoE com fome sobrevive do sangue que escorre pelo rostoEu sempre me pergunto: por qu?sem gostar de admitir que no meu sonodescanso em sonhos perdidosQuanto pesa sobre meu corpo as coisas do mundo ao meu redor?Quanto da fora essa matria morta me consome?Vai conseguir se erguer do cho, algum dia?Algum dia ainda vai conseguir...Um dia ele foi abandonadosabendo que s vezes necessriose perder no prprio esquecimentoConseguiria enxergar que tambm o asfalto um sonho que se perdeu na incerteza?Eu sempre me pergunto: por qu?Sem, no entanto, nunca admitir que esquecia resposta silenciosa de minhas prprias vscerasSobre Limites

Chegar ao limite

Um atleta desafiando a resistncia de seus msculos, de seus ossos, de seus pulmes...

Querer desafiar o prprio corpo

Estar alm das foras...

Renascer das cinzas de mais uma guerra estpida

Interrompida

Parece que a pausa apenas um instante de humanidade

Saber onde a vida acaba e a morte comea

Eu sempre enfrentei o espelho

Logo pela manh o desafio est traado:

Saber onde voc acaba e eu apenas comeo!

Estar mais ao fundo que consegue enxergar e estar alm do que os olhos podem ver... Infinito

E infinito o limite de estar alm de mim

Mas tambm apenas um fio que separa o perto do longe, A luz do calor ou da escurido das sombras frias

A solido decidida

E onde estarei eu no vale das lgrimas que escorrem

Da dor de estar sobre os nervos expostos, pisando o limite?

Pensei sempre na possibilidade

De tornar-me um grande homem

Carreguei comigo este fio de esperana como um tolo orgulho de minha nobreza pobre e tola

Mas o limite me afastou da utopia

Dizem, alis, que a utopia no existe seno para imaginar

Sou mais idias do que concreto

Mas tambm haverei de encontrar a grandeza de decidir ser pequenoChegar ao limite

sonhar estar do outro lado do muro

E dar de cara com este muro

E saber ser forte o suficiente para derrub-lo

E ser sbio o bastante para apenas continuar sonhando

No me agrada o limite

Posso chafurdar como porco, mais fundo

Remexer na ferida mal cicatrizada do orgulho embrutecido

Sem morfina

Chafurdar na ferida como na merda at doer

At fazer sangue

At beber o prprio sangue

At no erguer mais o muro para no precisar derruba-lo depois

Idias so abstraes, como a matemtica

Mas tambm dos nmeros se faz concreto

Por que as idias doem?

Por que as idias no so nmeros?

A sujeio subjetividade faz com que eu saiba que desejar saber est muito aqum da sabedoriaMas o saber sei que no saberei

Ento o que ser estar alm?

Aceitar a pequenez do indivduo, a mediocridade

A impossibilidade de ascenso divindade

Mergulhar mais fundo, mais sujo, sujar-se com as prprias entranhas

Mostrar que no sou ferro nem barro

Sou cego, sou feto, sou sincero?

Um afago doce na nuca, um sono profundo...

Superar o desejo para desejar ainda mais

No aquilo que no tenho, mas aquilo que possuo, o que sou, e que no possuo

O que sou?

Um ferimento, o soldado baleado em servio

O gnio que chegou a perfeio das formas!

O atleta que rompeu as prprias barreiras, e rompeu suas artrias...

Pra mim, o rompimento est na busca

O risco de no aceitar o mesmo do suicdio

Aceitar ser pequeno pode ser grandioso

Mas eu no desejo ser grandioso, no mais um homem grandioso

Nem aceitar a grandeza das coisas pequenas

O cmodo

Essa posio me incomoda, essa busca machuca

Mas seguirei o caminho da merda at colher as flores

Por fidelidade ao meu jardim, por achar que esse muro no to alto, no no, no to duro

Insistir pode me tornar ainda mais burro

Dar um tiro, na cabea, no meio do escuro

ter medo de jogar-se do prdio mais alto da cidade em pleno meio-dia

Medo de mostrar o teu lado mais frgil senhor...

O poema sujo, e por isso me esfrego nele

Exposio aos olhos crticos do carrasco, mais um massacre!

O limite que est sempre ali

E que vence

Derruba-te quando tu no queres, e te derruba ainda assim se tu quiseres

Vencer, vencer, vencer!

Algo reverbera nos ouvidos todo dia quando acabou o adormecer

Mas se fao da minha prpria piada e piedade um sonho de perdo

Confesso a mim mesmo que no sou e nunca fui

No serei...

Mas que importncia tem isso?

De que vale a grandeza se o mundo pequeno demais e no posso abra-lo porque to grande?

O paradoxo do insulto que ele machuca o insultante talvez mais que o insultado

Embora no saiba

Embora faa bem ao ego se o insulto justo

Eu me alimento de insultos, me alimento de sujeira, vou fundo, chafurdo

A merda importante para a poesia

Mas eu no sou importante para a poesia

Serei importante para a merda, ou a merda no importante para mim Porque sonho com a grandeza dos grandes homens, dos poetas?

Quem disse o que um grande homem?

O que ser?

O que ser?

O que ser pequeno?

A verdade dessas perguntas no est nas respostas limitadas como essa

Mas tambm no sero encontradas nos vestgios de minhas palavras

Dessa noite insone a marretadas

Eu me obrigo a resistir e sentir

Obrigao de sentir a impossibilidade de sentir coisa alguma

Mas e quando se sente demais? Como se faz?

Quando se sente alm das idias? Quando se sente alm da dor da porrada que dei com a cabea no muro

Feito um coice cerebral desta mula humana que restou de minhas feridas?

Escuto msica, olho pra tela, tento sorrir, trocar algumas palavras

Mas h frieza demais nas relaes virtuais

O limite me abraa

Porque estou procurando aqui?

No sei se sei amar, no sei se isso importa, eis meu segredo?

Esse no revelei... No revelo porqu no sei, no porque no sei...

Respostas para meus pulmes, meus olhos gritam pelo sono

Eu digo no!

Vou mais fundo, espera meu corpo mais um segundo

Que depois o descanso eterno te trar a paz que tu me pedisteE que eu nunca te dei

No consigo sorrir para ela

A paz um limite ou uma utopia?

A utopia o limite, a guerra o concreto

A pausa o momento que todo mundo esqueceu

No conseguimos recordar do silncio quando ouvimos barulho demais

No consigo sofrer quando sinto dor demais

No consigo ser feliz quando estou repleto de alegria

No aceitar as coisas como elas simplesmente so!

Por que, por que, por que vou ao limite da pacincia comigo mesmo?

A fria brota nos olhos de co pastor

E cuido das minhas idias e das minhas lgrimas como se elas fossem um rebanho, o rebanho da dor

Tenha pacincia, o tempo nos dir a verdade

No quero a verdade do tempo, quero a minha verdade

Se a encontrarei?

Eis o limite dos nossos ideais...

No, a paz no haver... Jamais...Neo-Romantismo

Nasci no sculo XIX

E sou invariavelmente castigado pelo fracasso

Condenado ao exlio de minha poca que no vivi

Sigo mais tempestade do que mpeto

Mais grotesco do que belo

Colecionador de derrotas

O ser pattico que me olha no espelho

Pelo menos no covardeAntes da Tempestade Chegar

Tenho muitas contas a acertar comigo mesmo

Estou esperando a hora certa de pagar

Espero demais

Ningum poder resolver

Responder s perguntas que insistem em gritar

Na minha mente violenta e excessiva

Atrs dos olhos que todos conhecem

No cansa de rodar o mesmo filme

Um resumo

Minha vida resumida em segundos

Tenho muitas contas a acertar comigo mesmo

Como bom devedor no consigo pagar

E devo demais

No se trata de culpa

So espelhos partidos dentro de mim

Que refletem a verdade decisiva

Frente aos outros olhos no exterior da carne nua

Sempre se repete o mesmo filme

Um resumo

Minha vida resumida em segundos

A lembrana mais pura ... Um suspiro perdido.

A lembrana mais forte ... Tem sangue em meu rosto?

A lembrana mais clara ... Esqueci de tudo!

No, ainda no acabou

Meu jardim est abandonado

As flores em pedaos esperam a tempestade

Um dia ela ir chegar

A Chuva

As estrelas choram no cu

No fundo azul escuro

Do reflexo de um mar revolto

De repente o silncio da lua

Toma forma de tempestade

Quando uiva um sombrio vento

Durante o cio da madrugada

Transborda pelas nuvens

Tristes cristais de gua

Transformados numa luz guia

Dentro da eterna noite modificada

Escute as gotas de lgrimas

Caindo do azul infinito!

Veja como a irrealidade

Traz os ventos mais bonitos!

Como excita a chuva gelada

Quando vem o tempo dos sonhos

Na solido da madrugada!

Como escura a noite fria

Que se torna poesia viva

No longo caminho da estrada!

Nadabsolutamentudo

Os sinais absolutos dos meus sentimentos so humanos demais para meu entendimento

As cores do meu silncio so irreais e desfiam a conscincia de quem o aceitaOs ideais to tristes meus so iguais queles que choram tristes por sentirem

Espera

No sou um doente terminal

espera do horrio de visita

No sou um animal de zoolgico

espera do horrio de visita

No sou um parente distante

espera da visita que nunca chegar

Solido

Sou ferida aberta que no cicatriza

No mexa com meus briosA Doena e O Vinho

Todos se aglomeram ao redor da camaA tosse no o que mais assustaMas sim ver teu corpo assim... To diferenteE acreditar que somente a dor nos uneE saber que sempre nos faltaram as palavrasE ser covarde por no toc-la... No quero chorar

Me refao de concretoEngano meu sangue no bebido, no digeridoNunca aceito em ser recebidoTinto seco, inalcanvelEnvolto por uma taa, casca inquebrvel de vidroTransparente sim... Refletindo assim...No deixo vazar uma gota desta liquidez puraPorque s no meu sono que transbordoDeitando sobre o papel mentiras da realidadeDaqueles que a suportam apenas com os olhosA tosse no o que mais assustaMas sim ver teu corpo assim... To diferenteE saber que nem mesmo a dor nos uneE saber que sempre nos faltaram as palavrasE ser covarde por no am-la... No quero gritar

Mas tenho tanta vergonha de ficar caladoDe permanecer ausenteTenho medo de ficar distanteEnquanto todos se empurram ao redor da camaNo estarei jamais presente na verdadeNo consigo me aproximar, nuncaNo quero que cheguem perto de mimSobrevivendo mudo, lquido impuroRecolhendo os cacos que restam pelo choTaciturno sim... Escrevendo assim...

Na Calada da Noite

Estou sempre procura

De algum na madrugada

(Nem eu mesmo me conheo)

Aguardo o vo do tempo...

Na calada da noite

Chovem cinzas gotas geladas

Arremesso a solido no papel

Pintando em cores

Meus sonhos preto e branco

Em busca do meu prprio cu

(Eu converso com as estrelas)

Mais uma noite escura, vazia...

Enquanto a lua vela meu sono

Vejo no meu espelho torto

Um fantasma que sorria

Seria eu na linda noite?

Ser eu no raiar do dia?

Sonmbulo, rabisco num papel imundo

(Sujeira da minha poesia)

Talvez a soluo de meu mundo

Enquanto meus prprios monstros

Gritam em pesadelos na noite sombria

NoturnoNo gosto de partir completamente sbrio pelas ruas de Porto Alegre e me confundir nas esquinas, nos nomes das ruas que mudam de uma hora para a outra sem motivo algum, no encontro quase bvio que sempre ocorre com algum conhecido que nem gosto tanto assim; no gosto de me ver ao mesmo tempo que estou ali e no me reconhecer nunca nesta cidade que eu tanto conheo e que me conhece to bem, quase que na mesma medida que nos desconhecemos nas nossas profundidades. Mas ao mesmo tempo, quando me deixo levar, bbado, perdido por estas pessoas, ruas e esquinas, os pensamentos me devoram numa avalanche lenta. O mapa de meus sonhos desmente minhas vocaes, reafirmando minhas angstias, e isso me faz ainda mais fantasma, como todos estes que vagueiam pelas ruas, de esquina em esquina, de pessoa em pessoa, de encontros e encontres... O fantasma que verdadeiramente sou.Um Peregrino Talvez

Ir me manter parado aqui sem possibilidades...

O tempo

Me permite seno o continuar incgnito

E que outro momento seno este para saber?

E que outro instante seno agora?

O limite

Minha costura cutnea superfcie da luz

Meus rgo santificando cada milmetro da imensido

Da dor

Espasmos mudos da vontade viva

Degolada neste labirinto de obscuridades

Em que a semente insiste em renascer

Da partida

E que caminho ser este seno o de viver para buscar

A chegada que nunca vem...

E a cada passo alm

H somente o horizonte e mais alm

O espao, o tempo, a direo...

E tudo cada vez mais sempre uma despedida

Outra vez?

No, a pergunta sempre a prxima, agora!

Por que no?

Entres Ilhas de Vidas, Sonhei...

Deixei a noite escorrer como areia do tempo por entre meus dedosDeixei o silncio calado ficar ainda mais mudoDeixei a razo prostituir a pureza dos sonhos mais lindosDeixei a paz derradeira escondida na barreira de meu mundoDeixei a lua esquecida no escuro, absorto na minha solidoDeixei os sentimentos bandidos devorarem meu corpo obsoletoDeixei a bebida sobre a mesa, acabado numa mrbida embriaguezDeixei o instinto morrer no impulso decididoDeixei meu corpo cansado para correr nu pela estrada perdidaDeixei meu sangue no asfalto que mascara algum caminhoDeixei meu suor impregnado no odor da putrefaoDeixei as certezas incontveis na minha memria j esquecidaDeixei a carta de alforria marcada com a faca e o pus dessa rotinaDeixei a cicatriz exposta nas vitrines embaadas de meus segredosDeixei o espelho se partir para me esquecer no fim da imagemDeixei recortes de minha alma espalhados na caladaDeixei a estrada despedaada com o peso de minhas patasDeixei o caminho seguro da volta para me perder no destino confusoDeixei de ser passageiro para mergulhar na viagem incertaDeixei o ponto final aberto pela interrogao

Nas Minhas MosPor que tu ests to cabisbaixo?Esse olhar que grita como o fogo... a fria, meu pai, simplesmente a friaNo precisamos de outra explicaoPorque os seus motivos esto em tudoNas minhas mos,Onde as coisas parecem nunca parar de morrerAlgumas coisas entendemos sem precisarDas respostas absolutas, a prpria naturezaMas tu insistes nas tuas perguntasNestes malditos porqus de respostas prontasMe desculpe o insulto da verdade,Mas no existe mais aqui nem aqueleQue antes, nos teus sonhos,Te contava todas as suas doresEu nunca te disse nadaAgora tu no deves nem mais acreditar em mim...Mas eu no tenho medoEis a ironia absurda:Por que as coisas insistem em morrer nas minhas mos?A lcera sempre impregnada de friaConteve minha corridaE o vento no rosto e os ps longe do asfaltoNo posso enganar meus olhosEnquanto perpetuar o sentimentoDe que seria to melhor se eu sujasse tudoCom minha carne morta e ensangentadaPor que insistir nas perguntas?Tudo no passa de uma imagem na minha memria...No preciso explicar minha dor ao meu corpoPor que os seus motivos esto em tudoNa natureza das prprias perguntas sem respostasNas minhas mos,Onde as coisas parecem nunca parar de morrerPor que as coisas insistem em morrer nas minhas mos?Me atormenta tanto... a fria!Por qu? Por qu?Eu escutei, eu ainda estou vivo...Ento me diga por qu?Cala a tua boca! Afasta teus olhos!Deixa que eu mesmo as enterre...Porque as coisas insistem em morrer nas minhas mos

O Silncio do Vazio

O silncio...

...do vazio.

ou

BlBl BlBl Bl BlBl Bl Bl BlBl Bl Bl Bl BlBl Bl Bl Bl Bl BlBl Bl Bl Bl Bl Bl BlBl Bl Bl Bl Bl Bl Bl BlBl Bl Bl Bl Bl Bl Bl Bl BlBl Bl Bl Bl Bl Bl Bl Bl Bl BlBl Bl Bl Bl Bl bl Bl Bl Bl Bl BlBl Bl Bl Bl Bl Bl Bl Bl Bl Bl Bl BlBl Bl Bl Bl Bl Bl Bl Bl Bl Bl Bl Bl Bl

-Banalidades!Bl(nulidades)"Ad Infinitum...Cansado

Cansado de repetir os mesmos movimentose de me emocionar com as mesmas ilusesencerro as palavras mais consistentes na minha cabeaNo so palavras que realmente determinama expresso verdadeira de um sentimento, uma idiaou talvez at mesmo uma forma de existirGrito, mas meus gritos apenas consomem meus rgosrevelando a ti apenas o silncio de minhas emoesO olhar centrado no cho, como se algo pesasse sobre mim...Continuo a dizer, a gritar coisas ininteligveis,mas impossvel ser escutado se tudo fica acumulado por dentrodeste corpo que vou abandonando fome dos vermes insaciveisQueria esquecer, juro, mas no consigoNo consigo admitir minha covardia no momentomais importante da luta pela minha prpria existnciaTo dependente e to solitrio ao mesmo tempo...Tempo que nunca me d um fim sinceroQueria esquecer, juro, mas no consigoMinha memria teimosa em contaminar meu espritoque se enterra da alegria ao sofrimento no simples instanteem que a intensidade toda desmentida,em que os segredos mantm-se fechados na memria,em que a paixo desmedida no consegue transcenderalm das lembranas inseguras,em que os gritos seguem caladosalmejando a estupidez que continuar a acreditar...O Canto do Corao

O que sobrou de verdadeiro em mim?Que filhos iro surgir da sinceridade dos meus rgos?Minha cabea foi decapitadae meus pensamentos procuram os meus restospara metamorfosearem-se de atitude

Minhas pernas foram arrancadase j no tenho nem mais a possibilidadede ir para onde desejar a minha vontadeOs meus braos foram amputadosSensao triste de no poder apertartodo o teu amor contra o meu peitoE at reconfort-la da dor de me ver no fim...E de se ver assim...O que sobrou de nsse no apenas fragmentos poticos da carne humanaperdidos nesta escurido mediavalescada aclamada contemporaneidade urbana e globalizada?S ficar a sujeira de todo o excrementciomesmo que a barriga grite sua fome aos surdos...Mas me restar ainda o peito inseguroesperando um ar possvel de se respirar...Mas me restar ainda o peito ansiosoesperando que o corao jamais pare de cantar...Esquecidos no Jardim do Mal

Um pouco de p...Alegre-se!No sei se vou conseguir saber...O cu parece to distanteMas o que procura l em cima?Eu no entendo...Do que voc precisa?Cale-se!No v as nuvens?Elas precisam de silncioNo de alegriaTudo... Tudo fica escuro!Tudo... Tudo fica adormecido!Tudo... Tudo foi esquecido!Tudo... Tudo...Apenas voc e eu no jardimA lei do mal!Um pouco de p...Alegre-se!No sei se vou conseguir saber...Os muros parecem to altosNo vai conseguir pularEu no entendo...Do que voc precisa?Foda-se!No v os pssaros?Eu preciso voarNo de alegriaTudo... Tudo fica escuro!Tudo... Tudo fica adormecido!Tudo... Tudo foi esquecido!Tudo... Tudo...Apenas voc e eu longe do jardimAlm do mal!O Sol

Este o Sol

O Grandioso Sol

Olha como ele explode diante de ns

Olha como nossos olhos fascam

Olha!

Parecem fogos de artifcio

Mas so crianas

Crianas sangrando lgrimas

Num cu de isopor

Este o Sol

O Grandioso Sol

Enquanto nossos olhos se machucam

Subimos a montanha

Voe!

L do alto nos jogamos na escurido

Voc e eu

Cegos pela luz artificial

Do que restou de ns dois

Este o Sol

O Grandioso Sol

No pense que estou mentindo

No h um sorriso no meu rosto

Sinta!

E se a cidade no cantasse?

E se a s janelas j estivessem abertas?

E se j nascssemos mortos

Como flores de plstico?Inspirao No-DivinaClaro crepuscular no vo do abismo que nos entornaChama-nos aos cus como se nos pegasse pela moNs, crianas ariscas, que gritam em meio ao silncioSilenciam quando se fazem necessrios os gritosComo conhecer o limite de nossa finitudeQuando se chora por ela?Como desejar ser eterno se acreditamos em deuses?Fazer dos prprios feitos a beleza de ser humanoAmando mais do que o corpo pode suportarNunca deixe extrair de seu peito aquilo que s seuSe no desejas saber do que estou falando...As palavras no conseguem dizer tudoEis a angstia do poeta! Eis a dor que no cessa!Mas a noite conclama as estrelas a danarE ningum aqui se sentir sozinho neste baile celestialPorque o meu peito detm em si o que s meuE deseja esconder do mundo

A falta de f que sempre caminhava comigo

E mostrar a todos em minha volta o quanto se feliz amando!

Compartilho contigo a sada do abismo!

Compartilho minha vida toda, sempre, em direo beleza!

Claro crepuscular que se esconde nos olhos da noite

Sei que guarda em si o fogo e a luz da alegria

Nos mostrar um dia seu segredo?

Eu o conheo! Feito Prometeu, eu escuto a Nona Sinfonia!

Eu estou em silncio com uma vontade infinita de gritar

Liberto da dor? Liberto da dor ser?

Ah, tempo, tempo! Passe depressa! Faa os dias serem segundos

E verei como as luzes do cu embalam meu sono infantil

Dizendo que guardou tudo isso a vida toda pra mim!

E o silncio ser apenas o repouso da alegria na forma de sorriso

O limite est sim nas palavras

Reconhecer o poeta ao lembrar disso tudo

Mas saber tambm que procurou sempre a melhor poesia

Porque a vida lhe retribuiu com a inspirao merecida

No Corredor

Entrou naquele corredor que lhe parecia to estreitodesejando desesperadamente encontrar o seu final,mas quando j dentro dele estavapercebeu, por ingrata ironia, que ali ele sempre esteveNo necessitava transpassar nenhuma barreiraNo havia portas s quais pudesse abrirSbio desta estranha natureza, assustou-se e correuSentiu-se sufocado pela estreiteza do corredorCorreu para encontrar alguma luz em meio s trevasna qual estava mergulhado sem entender exatamente comoNunca percebera que tudo aquilo que ele tinha conhecidofazia parte do caminho a ser percorrido neste corredor,mas to somente uma pequena parte,divisvel ao extremo de voltar a si mesma,completa como no princpio, vazia como no sempreEle no corredor escuro era tambm um pedaodo conhecimento que insistia em carregare at mesmo procurar, sem nunca, contudo, t-loEm meio s trevas tambm possvel a luzEle apenas no acreditou que sabia que bastava v-laSua corrida j no era to velozMas a constncia do tempo dissipava-se na sua inverdadeEntre estas elipses no mais raras para elepodia ver, mesmo imerso no obscuro, podia verseu passado recontado, seu futuro do instantePodia ver, no presente, seu corpo brotar do ventre maternoe tambm possua olhos para sentir o seu corpo renascido- Por dentro tudo parece ser realmente diferente...A sensao de estar de volta lhe era muito estranha,mas estranho ainda mais era nunca ter voltadoLogo adiante ele encontraria algo anterior a si, incompreensvel,mas to concreto em sua mente que no poderia neg-loVia-se, num agora impossvel na razo,a ele mesmo, com seus 23 anos, com seus netos,eles pulam, eles cantam, eles danam!- Meu corpo velho e cansado de av...Tambm poderia ver as tbuas do caixo fechando-sesobre seu corpo tranqilo e nunca to bem vestido?Podia tambm ver suas pernas correremPodia ver que seus prprios olhos observavam o seu corpono importando se por dentro ou por fora,mas na verdade era ao mesmo tempo os doisEle corria tanto, como se quisesse alcanar o tempo e a escurido,talvez para atravessar a sua prpria histria, todo o seu conhecimentoE tudo lhe parecia, a cada passo que dava, mais desconhecido- No sei se sonho ou se meus pensamentose todas as imagens que brotam deles e destas sensaes purasso simplesmente reflexos da escurido em que estou absorvido.Ele tenta correr ainda mais, e nunca tem certeza, nem nunca ter,se a direo certa ir em frente ou voltar atrs,se, por acaso, j est de volta ao princpio de suas incertezasou ainda se encontrou o fim, no se sabe de qu, mas o fimNo h barreiras que o impeam de encontrar a liberdadeNo existem portas para se derrubar- Existir mesmo alguma luz em meio s trevas?Sufocado, roda em torno do seu prprio eixomas rodando em torno de um universo maior do que o seus limitesque ele no encontrar mais as paredes laterais do corredorSente-se ainda mais pressionado do que antes,mas quando consegue sentir que no existe nem mesmo tetono corredor que antes parecia to estreitoe que o cho em que pisava em correria era o mesmo abismo na qual flutuavaa sede apossa-se de sua garganta, as foras parecem lhe faltar,como se o ar fosse impossvel de respirar,mesmo que lhe pressionando de todos os ladosEra o prprio ar que lhe dava vida que agora o esmagava como a morteRodava ainda mais rpido, no seu eixo e em torno de algo maior,Buscava a transcendncia das sensaes para encontrar a luzque, agora ele sabia, estava em algum lugar daquele corredor- O corredor que agora j me inexistente...Se houvesse pedras naquele caminho, e havia,teria tropeado inmeras vezes nas mesmas, mas no tropeousem perceber que eram as mesmas, e eram sem nunca o ser- Como posso ver meu prprio tempo no tempo,mesmo o que passou, e o que ainda nem aconteceu?Perguntas que ampliavam seus pensamentospensamentos que geravam novas imagensimagens que tornavam-se sensaes vivas por todo seu corpo- Meu corpo extinto na sua construo, nu, instinto...Era preciso correr mais para encontrar mais respostas,mas as respostas se metamorfoseavam em mais perguntas,num turbilho de sons, cores, cheiros, sabores, toques incontidos,tudo alucinava a sua mente repleta pelo vazioque tanto insistiu em preencher com uma essncia preexistente,aquela que sempre lhe conferiu a sensao de incompletudeA cada passo que dava voltava sempre o mesmo passo de sempreO espao obscuro, os pensamentos no podem classificar nadaem significados de palavras que possam tranqiliz-lo- Parece um sonho ou um pesadelo!Existem cicatrizes em cada lugar pela qual atravessamosExistem tambm cada doena com sua cura neste caminhoExistem possibilidades que parecero sempre inalcanveisExiste um ponto do crculo que sempre volta a si mesmo para recomearSua mente no pode expandir-se mais?Mas seu corpo j como um tomo repartido em milharesque acabam por se dividir sempre ao princpio de sua inexistnciaComo no pode expandir-se mais?Ele corria, sbio de que o espao na qual mergulhou tambm corriae que tambm h luz em meio escuridoAli, naquele infinito corredor escuro, repleto pelo vazio,preenchido por uma outra essncia, desconhecida na razo simplesde todas as palavras mortas, assassinadas por suas prprias verdades,existia apenas aquilo que ele encontrou pelo caminho,mas tambm existia tudo aquilo que ele tanto procurou sem saberporque ali, naquele espao de dimenses incalculveis, ininteligveis,o significado inexistente de todas as coisas que ele pudesse imaginarest alm da objetividade da razo!O puro vcuo do nada... alguma coisa mais subjetivaque no est alm do nada absoluto, por ser apenas ele, o nada, absoluto...- Neste lugar em que mergulhei com toda a intensidade do meu ser, desfigurado de mim mesmo, e que eu insisto em reconhecer como ser,existe uma espcie de reestrutura imperfeita da realidade,que est muito alm da construo conhecida desse ser,e ela exatamente a desconstruo ativa de tudo aquilo que eu constru...E que os meus olhos simples, talvez os nossos olhos (quem sabe?)apenas enxergam o escuro porque ns construmosa impossibilidade de ver que tambm h luz na escurido...E que a escurido apenas a prpria cegueira de nossos olhoscegos pela imensido inalcanvel da luz.Dentro do Seu Prprio LarEu estava em casa...

Hoje acordei meio tarde, de ressaca

E olhei

Vi que l fora a claridade evaporava

Lgrimas cobrindo o dia

Estou sozinho aqui na sala

Se chove di um pouco mais

Na geladeira procuro o resto de alguma coisa

A fome me consome

Mas no tem nada pra comer

Ento o que fazer?

Posso te convidar

Quem sabe?

No quer ver um filme aqui em casa?

Tudo est uma baguna

Mas eu precisava falar contigo...

Eu no tenho mais nada pra fazer

Eu me sinto deprimido

Divagando poesias

Mas no sei o que escrever

Eu me sinto deprimido

Mas isso no me incomoda, pode acreditar

Hoje est chovendo

Acordei tarde e vi um filme bem bonito

Talvez isso no te interesse

Mas mesmo assim vou te contar

Voc no estava aqui

E no pode saber

Como fiquei perdido

Uma pedra rolando solitria

Dentro do seu prprio lar

Eu abri a janela e deixei a chuva entrar

Mas ela no quis

Acho que talvez no se importe

Eu apenas precisava de um pouco de ar

Claridade, no me embebede com tuas lgrimas

Vou escutar o teu no

Vou deixar o meu apartamento escuro

Como o cu de hoje

Hoje o cu est deprimido

Mas quem se importa com isso?

Eu quero apenas assitir a um bom filme

No tenho nada pra comer

Mas acho que um dia de jejum no problema

Eu como muito

E depois dizem que eu bebo demais

Mas e voc?

Voc no quer vir aqui ver um filme comigo?

Como eu me sinto?

Perguntou como eu me sinto?

Talvez um pouco perdido

Rolando como uma pedra por a

Divagando poesias

Perdido

Mesmo no meu prprio lar

Posso escutar um pouco de msica

Quem sabe Bob Dylan?

, pode ser uma boa idia...

Quando a porta se abrir

Vai ter sido eu mesmo quem escolheu abrir

H um pouco de verdade nas minhas palavras

Mesmo que eu seja obrigado a sair

Poderia escolher me deitar

Ficar por aqui

Isso seria bastante conveniente

Afinal est chovendo e voc no veio aqui

No pode saber o que eu sinto, no?

Mas que tolice a minha

Eu no consegui te contar

Eu nem te convidei pra ver um filme comigo

Mas que fome!

A geladeira est vazia

A chuva banha as caladas sujas

Minha casa uma escurido e uma baguna

Voc est to longe

E eu vi um filme sozinho como um cachorro

Eu me perdi

Quando eu cai da mudana

No te falei?

Eu j troquei o dia pela noite

E a claridade chora l fora!

Estou entendendo

Como eu me sinto

Se estou deprimido no vou me incomodar

Tenho mais o que fazer

O filme j terminou

Vou divagar poesias

Devo escrever alguma coisa sobre hoje

Talvez depois eu possa te contar

Um poema que eu escrevi

Sobre uma pedra que rolava

Perdida

Dentro do seu prprio larO Deserto

Tive sede quando caminhei no deserto

Mas eu a tive apenas por saber que precisava de gua para sobreviver

Desejei a mnima gota de chuva de uma nuvem que no existia

E sonhei com cachoeiras, lagos, rios...

Sonhei que um dia viveria nas montanhas

No meio da solido humana que a natureza haveria de me poupar...

Engano meu enquanto caminhava no deserto

Sonhar um pesadelo se o sonho no est alm dos sonhos

Quis eu que o meu destino no fosse o sucumbir

E caminhei, cansado de acreditar nas minhas esperanas

Percebendo que a esperana esperar caminhando

E l, em meio ao deserto que me encontrava

Avistei uma fonte que gotejava apenas um suspiro para a minha vida

E quem me diz nessa hora que um suspiro no o bastante?

Bebi, como bebi!

Minha boca ansiava por isso como se fosse por toda a vida

Assim como um corao anseia da boca amada o beijo de despedida

E o era, meu caro! Era sim uma despedida...

Mal sabia eu que uma gota no meio do deserto pode escorrer por entre os dedos...

E que o beijo no aconteceu alm dos sonhos

Ou dos desejos!

E que eu continuava a secar por dentro, no meio do deserto

Mas - e h sempre um mas que faz com que nada seja to simples ou complexo como parece

Eu mantinha um sorriso nos olhos que eu nem mesmo acreditava

A vida no nascia naquela fonte

A minha necessidade no poderia ser satisfeita no meio do deserto

Bem, disso eu agora com certeza j sabia

Pois cavei a terra ardente com minhas mos de sangue

E sangrei lgrimas enterrando meu prprio corpo no meio do deserto

Adormeci ali, sem sonhar

Pelo menos o que me disseram as minhas lembranas...

Mas quando acordei havia montanhas ao redor de mim

E rios, lagos, cachoeiras!

E no me sentia mais sozinho...

Eu havia criado razes no deserto e ele no era mais o mesmo em que sofri

Nem mais eu mesmo era o sofrimento

Compreendi que apenas sem teu beijo pude minha histria compreender

E compreendendo minha histria tambm ao outro eu poderia vislumbrar o entender

No saberei hoje como ela continuar nos prximos anos que me restam

Nem mesmo sei se os anos que terei ainda viro...

Lembre-se sempre que no me bastam os sonhos!

E que eu tenho agora a tranquilidade de quem sabe esperar sem deixar de procurar o caminho

E que eu tambm sei que preciso continuar

Mesmo que no deserto eu tenha cravado minhas razes...

Principalmente porque eu mudei o deserto

E o deserto mudou em mimA Mensagem de Um Pssaro

Na calada (des)pedaos de mim

O corpo se faz tambm de concreto, de sangue que sobra dos restos

Revolta por dentro de mim

O que eu quero alguma verdade

Meu pai no tem nada a ver com isso

Minha me no pode ser considerada culpada

Porque eu sou aquele que cortou a prpria garganta

Que se abandonou morto na sujeira do prprio suplcio

No resta nada para ser explicado

Quando a faca j est agindo

Sobre teu corpo obsoleto

E o que voc tem pra me dizer depois disso?

Que eu no te dou ateno? Que no te amo?

No, eu no sei. No sei se te amo!

Mas hoje, mesmo assim, eu vou dizer porqu vim.

Hoje. Hoje vou dizer.

Para sempre o que ficar marcado - no volto atrs, impossvel.

hoje que digo, grito, falo!

hoje que digo, que mato!

Aquilo que eu no quero que viva mais em mim!

Tire seus olhos dos meus.

Arranca deles meus pedaos. Quebre o espelho que me faz sangrar.

Eu no tenho tempo, quem sabe fazemos tudo agora mesmo?

Viemos aqui para isso.

No basta? No basta pra voc?

Tenho uma coisa pra dizer. Hoje vou dizer.

Tudo fica claro como a escurido da noite.

Lixo nas minhas veias, soldado das ruas, vivo na calada imunda.

No consigo mais me reconhecer.

Eu sou um garoto e um velho e no tenho dinheiro.

Mas mesmo assim eu vou dizer.

Hoje vou dizer porque estou aqui.

Hoje eu vou dizer porqu vim!

E preste bem ateno para no se machucar:

Dance alto no espao, seu desgraado. Eu tenho asas!

Eu disse que tenho asas.

isso o que tu ouviu. Tu ouviu muito bem. Eu tenho asas!

No estou cego, posso ver que tenho asas.

A calada, o concreto, meu sangue. O lixo. Eu disse!

Por tudo isso que me faz: eu tenho asas!

Voe bem alto, dance no espao seu miservel!

Eu tenho asas! Eu tenho asas!Sobre Redomas e Rupturas

Polmicas so mais interessantes que unanimidades

Tudo que est envolto em algodo

No se sustenta sozinho

Gostem de mim! Me apreciem e me degustem.

Prostitutas do bom gosto!

Quem vocs querem agradar?

Eticamente irracional a represso!

Ditadura cega, burra, plastificada.

Voc tem medo do feio?

As coisas cuspidas na nossa cara

E a gente fingindo que chuva...

Quando algo escapa do crculo que foi criado

E com certeza no foi por ns

E que todos ns desejamos fazer parte

No fcil de compreender

O problema no a dificuldade, mas a ignorncia

Est protegido aqui!

Belo mundinho de acar e afeto

No gosto de ser protegido

Prefiro a sujeira ao crcere

A rua ao shopping

O sexo barulhento ao amor patologicamente silencioso

No prefiro o grotesco ao belo... No!

Prefiro viver

E isso no assim to bonito.Poema Morto

Tenho medo que o cansao no me deixe mais escrever coisas bonitas

(Se que um dia eu as escrevi)

Tenho medo que a arte tenha sido apenas um sonho em minha vida

Ou uma iluso, o que seria mais provvel

Sonhos no costumam ser uma realidade para quem tem olhos de navalha

Quando seus olhos observam a si mesmo

Sonhos no duram tempo demais para quem tem olhos de nervos

Quando seus olhos observam as coisas simples da vida

Tenho medo de no chorar nem mais com elas

Tenho medo que o gosto amargo na minha boca fique impregnado em mim

Tenho medo que meus olhos virem concreto, asfalto, dinheiro

A cidade me fez um monstro

A poesia me fez alma

Da cidade fao poesia, do monstro fao poesia, da alma fao poesia

Minha alma de monstro urbano tem faca sangue carne nervos cimento

Poesia! Poesia! Poesia!

Mas ela cansa! E eu no consigo dormir...O Monstro

Quando ele acordou viu que do outro lado da cama (no o outro lado a outra ponta, mas o outro lado o ao lado dele)havia um mostro. No era muito clara a sua forma, no poderia precisar quantos olhos, por exemplo, tinha o monstro, se que algum olho ele possua, nem mesmo se ele parecia algum inseto gigantesco ou algum rptil lodoso, no, no era a forma que importava, mas o fato, em si mesmo, que havia um monstro ali. Quando ele acordou e se deu conta que ao seu lado havia um monstro no ficou com medo. No, ele parecia j bem acostumado a acordar ao lado de monstros disformes, incomparveis a qualquer coisa que possamos reconhecer como viva em nossa realidade. Levantou-se, e quando levantou percebeu que dessa vez o monstro no se ergueu ao mesmo tempo, como ele sempre fazia, tal uma sombra faz quando estamos sob a incidncia da luz do sol, no, dessa vez o monstro continuou deitado, ali, parado, inerte, talvez morto, mesmo que ele pensasse que o monstro respirava, ele estava morto, teria que admitir a si mesmo a morte desse monstro que estava ao seu lado quando acordou. Foi fazer o que deveria fazer: abandonou seu dia, deixou para trs tudo o que tinha programado fazer, comprou uma p, cavou seu prprio peito, to fundo quanto pde cavar, to fundo quanto aguentaram suas foras, agarrou o monstro com a fora que lhe restava no corpo exaurido, fez do cansao a orao que ainda lembrava, velho ateu que , guardou o monstro l dentro do buraco e, quando lhe voltaram as foras, aterrou o prprio peito e deixou apodrecer a morte do monstro dentro de si, como se d morte dentro de si pudesse finalmente libertar-se das garras do monstro, e voltou a dormir. Quando acordou, no outro dia, viu que no havia monstro algum ao seu lado, na cama. Por um minuto bateu-lhe a nostalgia daqueles tempos em que acordava com um monstro indescritvel ao seu lado, na cama. Mas to logo levantou-se da cama, onde no havia monstro algum ao seu lado, e foi fazer o que havia programado fazer durante o dia, velho pragmtico que , percebeu que no havia barba a ser feita, dentes a serem escovados, banho a ser tomado, cabelos a serem penteados, trabalho a ser realizado, dia a ser vivido, amor a ser amado: diante do espelho, incrdulo, havia um monstro enxergando a si mesmo.O Limite do Poeta

Algumas coisas no se explicam sem palavras

Algumas coisas nas palavras perdem o sentido

No ofcio de poetar bom reconhecer seu limite

Mas melhor ainda saber at onde vai a poesiaPoltica Para AgnsticosNo gosto de falar sobre coisas que eu no acredito.

E sei mentir como ningum...Imvel Perante o Cu

Caminho sob o cu vazioE como se deus (esta figura indecente para meus olhos abortivos)Me esmagasse com seus ps de concreto abstratoA culpa de continuar... Miservel em meio a misriaA culpa deste miservel continuarCiclos ao redor de minha cabea despedaadaImvel o horizonte triste e distante, inalcanvel mesmo na dorO cu pesa demais quando se infiel s suas origens...Msica de Concreto

No meio do silncio

Sons uniformemente disformes

De mquinas rebentando acordes,

Atordoam minha cabea despedaada na calada.

Isso nunca vai acabar?

Sujeira e Decadncia

Com o passar do tempo foi ficando sujo e decadente. Era quase impossvel que isso no ocorresse. A vida reponta na imensido de um estar sozinho que d aos nossos olhos o presente de se ver morto. Caminhando, um peregrino de uma f absurda e inconcebvel, mas que mesmo assim f, e talvez por isso mesmo seja f, canta sua esperana. Se a condio da sujeira e da decadncia vive cada minuto do seu lado, como no s-la tambm na eternidade? Por que no medir a misria com os prprios olhos? Porque quando se est cego se quer tambm continuar cego, mesmo que os outros sentidos no fiquem mais aguados. a tal falta de sensibilidade. No h sentimentos? Nenhum? Mas eu vejo aquele canto buscando uma sada, desesperado. Pede comida, pede abrigo, pede trabalho... E pede comigo. Mas os olhos vem e apenas lamentam em lgrimas. Fao sempre muito pouco, sou sempre muito fraco perante a fora individualista que nos esmaga e trucida. a fora que fazemos pra continuar girando a roda do mundo, uma presso de toneladas de indigentes, torturados, oprimidos... Ns os carregamos, ns os construmos - ou destrumos? ns os temos tambm sobre nossos ps cansados. Com o passar do tempo fui ficando mais sujo e decadente... So apenas lamentos em um labirinto de vida sem nenhuma vida. Foi ficando cada vez mais assim... Esquecido? No, mais uma mentira! Sempre fomos assim, sujos, decadentes, bandidos esquecidos pelas nossas lembranas, torturadores torturados, vice-versa, avesso do reverso, peregrinos cegos, perdidos mesmo ao lado de algum. Nunca soube se era ou no era, nunca foi amigo do Homem, pediu ajuda poucas vezes... Timidamente, porque tinha fome... Depois no pediu mais ajuda... Indecente e destruidor, porque sentia-se superior. a f. a f que perco com o passar do tempo, mas no este mesmo passar que faz se perder o humano de ser. Busquei respostas no sei pra qu, perdi tempo sem me importar, assim como os outros, como voc que vejo cantar decadentemente esperanoso, imerso na sujeira. a f que passa, que fica, que nunca existiu, que insiste. Sempre se assim quando se assim, as coisas no so diferentes do que eram antes, talvez at sejam pior. Hoje eu estava pensando no mundo e tive que me deparar comigo, e novamente tive que aturar mais lamentaes decadentes e sujas de quem no consegue compreender mais nada, porque nem mesmo eu me compreendi... Quem sabe esta seja uma forma de compreenso de ser humano? Divagaes, poesias, lamentaes, nada passa sem ficar, e ao mesmo tudo passa para ter fim. E o que restou para nossa sujeira, nossa decadncia, nossa fome? Um prato vazio da eternidade!

Chuva cida

Talvez se a lgrima casse sobre o papel

Eu escrevesse um poema com saudades do azul do cu

E quando molhassem as pginas do meu caderno elas queimassem

Pois terei escrito sobre a chuva cida que cai do cu

Como minhas lgrimas que escorrem no papelA F

As pessoas daqui tem fNo importa o que acontea

Seus filhos, aos montes, levando tiros na cabea

Sua fome, infinita, acordando cedo pra colheita

Onde no haver nenhum po

As pessoas daqui tem f

Parece que nunca vai acabar

Eu tambm acreditei um dia que poderia ser melhor

Mas penso que realmente tudo tem um fim

E o seu fim foi abraar todo o poder

Suas promessas e discursos no me convencem

Mas as pessoas daqui tem f!

Uma estrela passageira despencando l do cu

Mas no era o cu no, era um altar

Santificar o que no se pode santificar

As runas parecem intactas

E as rugas dos velhos daqui so rugas de f

Na televiso isso parece s mais uma piadaOu uma retrospectiva de final de anoMas para as crianas daqui existia a f

E a barriga continua roncando

E os ces continuam rosnando

E os porcos de gravata continuam roubando

O muito que resta de f nas pessoas daqui

O pouco que sobra no final do msQuando no falta o bsico para a sobrevivncia

Das pessoas que tinham f e fizeram pedidos

Estrela cadente, decadente

S repetindo os mesmos feitos histricos

Sempre antigos feitos nada hericos

Suas categricas mentiras institucionalizadas

E aqui apenas o silncio nas ruas

A ptria amada, a paz armada

Publicidade, propaganda, truques

As bocas fechadas num suicdio em massa

E por dentro perguntamos o porquMas a impotncia nos faz tambm pai

De toda essa sujeira promscua e vergonhosa

Pagamos nossas contas... E agora?

Vo continuar bebendo os vinhos mais caros?

Vo continuar comprando carros importados?

Vo continuar a economia de Davos?

Ser possvel continuar, sempre assim?

Parece mesmo que nunca sairemos do lugar

E ser que no assim em todo o mundo?

As pessoas daqui tem f

O carnaval, a novela, o futebol...

O povo daqui tem muita f!

No conhecemos a nossa prpria histria

Mas sabemos contar tudo o que aconteceu no novo BBB

Debochamos de nossas misrias

E nas universidades o conhecimento acaba no umbigo

por tudo isso a nossa maldita f?

Por isso que veneramos deuses?

Que queremos reis?Pais para os pobres?

Mes para os miserveis?

Depois de anos de silncio

Mantemos o pior deles, que o de se autocensurar

Porque a liberdade distorcida,

Nosso atrativo para turistas estupradores de meninas,

Tornou-se o nosso maior crcere

E Vossa Senhoria pra l, e Vossa Excelncia pra c...

Bl, bl, bl...

assim que se tratam uns aos outros, essa corja toda!

Bando de vagabundos, bando de assassinos!

E esto l para representar este teatro de imundices

Matando-nos de fome desde pequenininho, e a?

Vai fazer o qu?

Escrever? Ficar chorando? Rezando?

Que porra mesmo, mas as pessoas daqui tem f!

A terra frtil desmatada e invadida

S no sobra espao para o seu prprio povo sem terra

Mas para os de fora a gente entrega de graa

Afinal, em se plantando, tudo d... Dinheiro!

A gua ainda no falta

Mas quando ns vamos entreg-la?

Quando eles nos iro confisc-la?

Depositaremos nossa f num novo deus, num novo rei

Nos nossos novos pais, nossos novos donosS porque desta vez eles esto sem cruzes e chicotes?

E seguiremos no buraco profundo, sem cultura e estudo

Porque as pessoas daqui tem muita f

O carnaval, a novela, o futebol...

Espalhados por todos os cantos do mundo

At parece que ns decidimos alguma coisa, no mesmo?

Vossa Excelncia conheceu todo o mundo?

Falta pouco, no falta?

Se passou fome, se tambm teve f, se foi analfabeto,

Se foi honesto, se foi guerreiro e quis o bem algum dia

Porque sempre se imigra para o poder

Para manter a ordem do se corromper?

Ser o homem um eterno corrompido?

s vezes, mesmo quando a gente trabalha muito,

No consegue ter na mesa um prato de comida...Os problemas continuam, incessantes e irritantes

O silncio infinito, a repetio dos mesmos erros e acontecimentos

Essa histria toda sem fim!

Histria que volta ao incio para ser recontada

Ser que um dia... Ser que um dia...

A f, a esperana de um novo e melhor dia

Ser que um dia tudo isso acaba?

Ser que algum dia esquecerei as esperanas na privada?Por isso tudo, e apesar disso, e apenas por isso,

Fao minhas as palavras do poeta:

Minha terra a terra que minha. Sempre ser.As pessoas daqui tem realmente muita f... A Extino da Espcie

Estou num bueiro fedorento e enfrento ratos e fetos abortados

Eles so canibais

Mas quando escorrego num absorvente sujo e caio indefeso

Um dos fetos reconhece o cheiro da me

Suas lgrimas comovem os demais (inclusive os ratos)Eles rezam por suas vidas

E eu, tolo, apenas tento escapar de morrer afogado no esgotoCampos Floridos

Um sol quente impera sobre o campo seco

As enxadas se levantam para o trabalho

Combatem as lgrimas da fome com suor

Resposta viva queles que levantam espingardas

E fazem da morte sua batalha

Nossas palavras esto em nossos braos

Nossa vontade est no olhar de nosso filho

Que ainda nem nasceu... E que vir...

Vir dizer "aos que viro depois de ns"

Que tudo isso nosso!

Porque isso tudo ser de vocs tambm!

Um dia o sol se acalma... Um dia a seca acaba...

Lavraremos as folhas virgens com suor e lgrimas

E a chuva vir como se fosse um filho

Eu consigo ver! Eu consigo ver! Eu, teu filho!

As lgrimas j no sangram...

J podemos ver de novo o campo florido

J podes ver os netos correrem livres atrs dos cavalosA Montanha Escura Me Chamou

O que h de cinza na chuva que inunda essa cidade?

O que h de chumbo na cor do ouro?

O que h de barulho num baque surdo em meio a dilogos mudos?

As perguntas que giram ao redor das cabeas

Tem sentidos que os sentimentos no compreendem na razo

Como eu posso no me inquietar

Quando o meu pulso vibra incansvel

Cada batida das sensaes que se apertam contra o meu peito?

Eu no consigo decifrar este som no escuro

Eu no me permito ver a msica enraizada no ar

Pois a rvore na qual tento subir ser tombada antes mesmo que eu caia

Na crena de que os ventos podem conduzir meu corpo

Para uma ilha desconhecida no meio do oceano

Ansiosamente ocioso, nunca descoberto

Eu no procuro a ateno do meu reflexo

Pois sou aquele a qual o reflexo no revela por inteiro

Porque no consegue me enganar

Tento sempre no cair no abismo de minhas prprias respostas

Porque no confio infalivelmente nelas

Eu no vou desmaiar no meu sono mais profundo

Eu no recordarei meus sonhos

No momento em que a utopia d razo aos meus sentimentos

Amargurados por tanto tentarem acertar sem nunca conseguir

No se abriro espaos, penhascos ao redor de mim

Porque no me inclino em direo ao vcuo do inaceitvel

Quero subir apenas a minha prpria montanha sem pecados indigestos

Abraado na solido que dormiu todas as noites comigo

Enquanto pude me sentir permanentemente vivo, mas inseguro

Agora que ela se mostra to negligente com a minha prpria sorte

Nem a morte deseja realmente me despertar

H coerncia demais em no dizer palavras fnebres

Quando a cidade mesma um cemitrio vivo

No quero partir hoje, em cada segundo que parto, sem remoer alguns remorsos

Mas que arrependimentos so necessrios para se permanecer livre?

Isso instinto de sobrevivncia, acreditem em mim

Senhoras e Senhores que me acusam sem conhecer minhas prprias leis

Respaldados pela justia cega e burocrtica dos mandatrios desta construo

Civil, senil, servil, dcil, afvel, amvel

torpe o meu dio aos burocratas de uma falsa realidade livre?

No resistirei aos segundos que separam

Esta ponte e a caverna onde os ursos dividiro seu almoo comigo

Acariciando minha fome, meu frio e minha sede de verdade

No tenho pudor nenhum em negligenciar a mim mesmo

E tenho medo, apesar de tudo, tenho muito medo

Mas se no meio da gritaria desta noite tempestuosa,

Onde apenas os barulhos do universo desconhecido

E de todas as coisas repletas de nenhum sentido

Eu me reconhecer em relao ao meu caminho natural

Continuarei a jornada livre sem medo do que eu possa ter um dia conquistado

E deixarei tudo isso para trs

Pois no existiro nunca fantasmas fortes o bastante na memria

Que possam acalmar a minha inquieta paz!Pintura Abstrata

Desenhamos sinceridade no arNa terra que no de ningumEu quero caminhar sobre as linhas deste horizonte encantadoTemos que ter cuidado para no pisar nas formigas e nas floresTemos que ter cuidadoE temos que danar!No so apenas formas no ar que desejo para respirar a imperfeio dos gestos e movimentosSinceridadeE pernas cansadas de tanto andarE pernas felizes por andar sempreTemos que ter cuidado para no pisar nos bichos e nos sonhosTemos que ter cuidadoE temos que danar! possvel escutar a trilha sonora deste pr-do-sol?Eu quero abraar tudo aqui ou l de cimaPorque vivo aqui ou l embaixoEu quero desenhar um abrao no horizonte com sinceridadeNa terra que no pertence a ningumTemos que ter cuidado para no pisar nas plantas e nos amoresTemos que ter cuidadoE temos que danar!Estamos vivendo aquiE no possumos ou pertencemos nadaSomos pedaos de vida adormecidos desenhando caminhosEu quero sinceridadeE um punhado de vontade e coragemE quero continuar caminhando ao som do horizonteO mais lindo pr-do-solEu necessito de um abrao sinceroNesta terra que cantamos e vivemos para cantarTemos que ter cuidado para no pisar na msica e no coraoTemos que ter cuidadoE temos que danar!Sinceramente pelo ar... Sincero respirar... Abraar...E um pouco mais de colorido nas cinzasA Menina na ParedeA menina na paredeA menina na parede est chorandoSeus olhos no enxergam a certezaEm meio s incertezasSeus olhos pequenosInundados de lgrimasA menina na paredeTem seus cabelos bagunadosPode at mesmo estar sujaA menina na parede pode ter fome, ter sedePode at ter piolhos e doenasA menina na parede tem tristezaE linda, sim, eu seiSei talvez que imaginoA menina na paredeNa minha memriaNas minhas lgrimasA menina na parede est chorandoO que procuram seus olhos?O que procuram seus olhos tranqilos?Seus olhos inundados de lgrimasTranqilos como os olhos de sonoO que segura nas mosMenina na parede?Na minha prpria criao no consigo verFlores, criana, armas, solidoS me possvel crer na procuraProcura dos teus olhos tristesTriste olhar de meninaMenina na paredeA menina dentro dos meus olhosUma histria antigaNas minhas lembranasNas minhas lgrimasA menina na parede est chorando.Caminhada na EscuridoQueria me sentir plenoNo importando quanto fosse dolorosoQueria me afundar exaustoNa imensido infinita desta vidaProcurei romper os muros e as gradesMas das trancas o silncio a piorCorri sempre incansvel para me libertarE deixei para trs muitos pedaosQue agora j no mais posso encaixarEnto eu te perguntoQual o nome que me restou?Qual a direo sem volta,De ruas depredadas, alagadas, violadas?Quais so os sabores da terra que no senti?E continuamos esperandoO amanh que chega devagar...Sempre difcil a trilha deste caminhoTempestuosa, amarga, inseguraBombardeiam a trincheira indefesaDe meus sentimentos renascidos todos os diasE todos os dias eu irei plantar uma rvorePara subir, para continuar respirandoEnto eu te pergunto:O que restou do meu nome?Voc quer ir junto comigo nesta direo sem volta?Quanta coisa ainda para sentir nesta terra?E continuamos caminhandoPorque o sol j vai nascer...Diferenas Entre o Silncio e a PazSe tu quiseres gritarSaiba, eu tambm possoTenha certeza disso com esses seus gritosMas se tu quiseres me baterEu irei apenas me defenderPois no quero ver a me chorarNo sei se isso realmente me comoveTanto que no procuro conversarTanto que meus argumentos engasgamTanto que as palavras no fariam sentidoSe tu quiseres, continue a gritarEu no vou levantar minha moMas no exija meu silncioPorque esse eu dou somente a quem mereceNo tenho medo da repressoDifcil suportar outras coisasAs dvidas sobre si mesmoA impotncia perante este mundoA solido inexplicvel da noiteDifcil suportar que em meioa todo o horror impregnado em nossos olhostenhamos que ir ao extremode nossos estpidos gritosToda fora, em vez de libertar, aprisionaPorque procuramos este caminhoGritarei sim, para extravasar os sentidosQue me amarguram no meu prprio claustroDivide ento teu claustro do mundo comigoGrita junto comigoEu no irei nunca levantar a moContra quem no o verdadeiro inimigoMas o que eu vejo o silncio

Um outro silncioApenas esse silncio idiota e passivoTo estpido quanto teus gritos insignificantesO silncio que nunca alcanar a pazMas o que eu vejo o caminho da ruaA casa ficando pequena a cada passoA minha procura por um outro lugarA Cidade

1.

No me faa de refm desse dio

Amortecendo meus olhos sem sono

Gritos calados expelidos como suor

a morte que infesta a cidade toda com seu odor

Degolados, gargantas mudas, rgos extirpados

No h cirurgia que possa curar essa dor

Aprisionado s correntes do silncio

Observo a praga que contamina a todos

Mas tenho piedade ao perceber os olhos da praga

Igualmente contaminados pelo horror

Difcil mesmo ser quebrar as correntes

Difcil mesmo seria estancar a enchente

Cor vermelho escuro, jorrada por feridas abertas

Que as cicatrizes no fecharo jamais

No me faa de refm desse dio

To evidente que vejo nos meus olhos

Amortecido pelo tambm meu sono calado

Por esse gritos degolados, por essa morte muda

Aprisionada s correntes dessa cidade

Expelida por toda a dor contaminada pela praga

Degolada, extirpada silenciosamente com horror

Nossos rgos, mudos, no doem mais

No h cirurgia que possa estancar esse odor

Difcil mesmo ser fechar as feridas

Difcil mesmo seria conter o suor na garganta

Cor vermelho escuro, jorrada por uma piedade

Que parece no cicatrizar jamais

To evidente que no vejo meus olhos

Amortecidos por esse dio calado

Que o sono necessita para no me infestar nunca!

2.

De que adianta manter abertos os olhos

atentos os ouvidos

a saliva na boca

o cheiro das flores

a vontade do sexo?

De que adianta manter

se o silncio permanece sofrido demais?

(Para que seja possvel enxergar

Para que seja possvel ouvir

Para que seja possvel beijar

Para que seja possvel o amor)

Quando reconheceremos a cor das flores pelo seu cheiro?

De que adianta viver

com sabor de plstico na boca?

(Para arder nos olhos

Para repelir o carinho

Para no escutar o silncio)

Das flores enraizadas na falta de odor?

De que adianta

De que adianta

De que adianta

sofrer silencioso por absolutamente nada?

De que adianta gritar

quando o silncio sofrido a nica resposta

aceita para aconchegar uma paz mentirosa?

Abrem-se os olhos, enxergam os ouvidos, escutam as bocas, salivam os poros...

As flores nos acariciam com seu cheiro e os corpos plastificados no mesmo lugar

mantm uma paz que grita silenciosamente para no sofrer mais sem amor

3.

Explodiu uma mina em meio fome

Fazendo homens/mulheres, velhos/crianas

Correrem, mesmo sem pernas, como voam os pssaros no ar

Numa fuga que a fome alucinou como entorpecentes

Que no silenciaram a dor

Dos homens/mulheres, dos velhos/crianas

Que voam como pssaros para salvar as pernas

Dos homens/mulheres, dos velhos/crianas

Que no correro nunca mais

Exploso corrupta, exploso gananciosa

Exploso lambuzada no smen

Que produz e rejeita mais uma gerao

De homens/mulheres, de velhos/crianas

Que voam famintos como pssaros sem pernas

Porque a esperana possui asas que no podem esperar para voar

4.

Olhar e enxergar o que impossvel ver

E s a partir da a paz poder se imbuir

De pertencer ao ser humano

Porque o ser no concedeu a paz ao humano

Porque o humano no concebeu a paz para ser

Olhar e enxergar o que possvel ver

Porque o impossvel disfarou-se muito bem

E a mscara do medo s cair nunca

Se olharmos e no enxergarmos a viso

De que o ser no impossvel

Mas que o humano apenas v com olhos

Que no se imbuem de conceder a paz para si mesmo

5.

Mais forte o calor

Mais forte a vontade

Mais forte a necessidade

Do calor aquecer a vontade em ser necessria

6.

A cidade possui um estranho som

assustador como o barulho ensurdecedoramente silencioso

No tenho medo de altura, tenho medo l debaixo

Ao imaginar o que as bocas poderiam artificialmente gritar

No acredito que o amor possa ser absoluto

No acredito que a arte possa ser absoluta

Mas o absurdo absoluto do silncio estardalhado pelo barulho

L debaixo me assusta mais que altura

Mesmo que minhas asas j tenham sido amputadas

S no me assusta tanto o caminho rpido entre o teto e o cho

O eterno silncio necessrio do caminho que percorremos

Em meio cidade com seu estranho som

assustador como o silncio ensurdecedoramente barulhento

assustador saber que no se possui asas

E que o nico caminho possvel visualiza a queda

assustador saber que no incio e no fim deste caminho

No se possvel conhecer nada

E sim apenas preciso que se conhea o caminho direto para o cho

Sem asas, porque o caminho sem asas menos comprido

No da velocidade e da distncia que provm o medo?

Os rudos, os no rudos, todo o som se condensa na cabea

Explodindo idias na certeza de que o medo talvez seja maior

E de que o medo seja ainda maior quando se tem asas para percorrer o caminho

Que no possuiria, assim, uma nica direo entre o teto e o cho

Medo de que o caminho seja mais longo, mais intenso, menos ntido

Quando se possui as asas necessrias para percorrer outros caminhos

7.

No tenha medo dos vulces

A erupo e a vala so necessrias para limpar

Um pouco essa terra com o que h de vivo na terra

Eu tenho medo dos canhes

Mas preciso ser como a terra emergindo se si mesma

Para se limpar um pouco o que h de sujo em nosso esprito

8.

A cidade ficou arrasada

Ficou apavorada sem razo

A cidade ficou imvel, passiva

Esperando a absolvio

Mas absolver o que

Se a razo do susto

a passividade no absolvida

Por essa cidade imvel

Que espera a absolvio arrasar

Com o que nos sobrou de dignidade?

9.

A dor entupiu minhas veias

Expeliu meus olhos que tatearam

Toda a minha casa buscando encontrar meu corpo

O corpo extirpou a dor para reencontrar os olhos

Porque necessrio perceber o quanto se cego

Quando no se reconhece a prpria dor

Quero ver como a dor pode reconhecer a si mesma

Para perceber que o silncio um grito

Exalados pelos poros que infectam a cidade toda

Com o fedor ptrido do medo de percorrer o caminho

No deixando cicatrizar as asas necessitadas de voar

O medo entorpece os pssaros para sua condenao

O vulco que emerge das cinzas da cidade

Devasta a sujeira de todo o ser

Que segue na busca de razes para no continuar sendo

Como desumanizado o humano?

Sendo demasiado humano o duplo humano?

Porque