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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃOUNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISANÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E ESTUDOS EM
RECURSOS NATURAIS
CARACTERÍSTICAS MORFOMÉTRICAS E AVALIAÇÃO DOS NÃOCOMPONENTES DE CARCAÇA DE CAPRINOS MESTIÇOS ANGLONUBIANA XSPRD CRIADOS NA CAATINGA EM SISTEMA SEMI-INTENSIVO
FRANCIELLE RODRIGUES SANTOS
2011
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃOUNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISANÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E ESTUDOS EM
RECURSOS NATURAIS
FRANCIELLE RODRIGUES SANTOS
CARACTERÍSTICAS MORFOMÉTRICAS E AVALIAÇÃO DOS NÃOCOMPONENTES DE CARCAÇA DE CAPRINOS MESTIÇOS ANGLONUBIANA XSPRD CRIADOS NA CAATINGA EM SISTEMA SEMI-INTENSIVO
Dissertação a apresentadaUniversidade Federal deSergipe, como parte dasexigências do Curso deMestrado em Agroecossistemas,área de concentraçãoSustentabilidade emAgroecossistemas para obtençãodo título de “Mestre”.
Orientadora: Angela Cristina DiasFerreira
SÃO CRISTOVÃO
SERGIPE- BRASIL
2011
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
S237c
Santos, Francielle RodriguesCaracterísticas morfométricas e avaliação dos não componentes de
carcaça de caprinos mestiços Anglonubiana x SPRD criados na caatinga emsistema semi-intensivo / Francielle Rodrigues Santos. – São Cristóvão,2011.ii, 56f. : il.
Dissertação (Mestrado em Agroecossistemas) – Núcleo de Pós-Graduação eEstudos em Recursos Naturais, Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa,Universidade Federal de Sergipe, 2011.
Orientadora: Profª Drª Angela Cristina Dias Ferreira.1. Caprino – Animais mestiços. 2. Caprino – Alimentação e rações. 3.
Caprino – Morfologia. I. Título.CDU 636.39
“A mente que se abre a uma nova idéia jamais volta ao seu tamanho original.”
Albert Einstein
DEDICATÓRIA
Aos meus pais, Francisco e Judith, por sempre me mostrar o caminho certo, pelo
exemplo de persistência, amor, confiança e capacidade de lutar e, principalmente, pelo
incentivo na minha carreira profissional.
Aos meus irmãos, Francinaldo e Francisco, pelo apoio, amizade, carinho e por
sempre estarem do meu lado.
Aos meus sobrinhos Arthur e Guilherme, por todo amor e carinho.
Amo vocês!
AGRADECIMENTOS
Á Deus, pela presença constante em minha vida, me dando força, paciência e
sabedoria em todos os momentos. A ele a honra e a glória.
Á Universidade Federal de Sergipe - UFS, em especial ao Programa de Mestrado em
Agroecossistemas - NEREM, pela oportunidade e por todo aprendizado adquirido durante o
mestrado.
A todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Agroecossistemas da
UFS, pelos ensinamentos.
Á coordenadora prof. Drª Maria de Fátima Arrigoni Blank do Programa de Pós-
Graduação em Agroecossistemas da UFS, pela incansável luta por este programa.
Á Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, pela
concessão da bolsa de estudo.
Á Facepe pelo financiamento do projeto.
Á orientadora prof. Drª. Angela Cristina Dias Ferreira, pela orientação e
ensinamentos.
Ao co-orientador prof. Dr. Gladston Rafael de Arruda Santos, pelo incentivo,
dedicação e auxílio no desenvolvimento desta pesquisa.
Á Drª. Mônica Alixandrina da Silva e ao Prof. Dr. Leandro Teixeira Barbosa pelos
ensinamentos e desenvolvimento das análises estatísticas.
Ao prof. Dr. Mário Jorge Campos dos Santos, pela amizade, boas risadas, palavras
de apoio e incentivo.
Á Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária – IPA- Sertânia - PE, pela
parceria com a Universidade Federal de Sergipe e pela concessão das instalações para
realização do experimento.
Aos pesquisadores do IPA, Dr. Sebastião Guido, Dr. Fernando Lucas, MSc. Júlio
César e ao chefe da estação Orlando Bezerra, que muito nos ajudaram durante a execução do
experimento, pelo apoio e incentivo.
Aos funcionários do Centro de Treinamento em Caprino-ovinocultura do IPA, em
especial a Damião, Antônio “Tonho”, seu Ziná e família, Branco, Roberto, Batista, Dona
Assunção, pelos excelentes momentos de convivência, boas risadas e aprendizado.
Aos amigos prof. Dr. Péricles de Farias Borges e a prof. Drª Neuza de Barros
Marques, é muito bom saber, que vocês estão sempre do meu lado.
Aos professores Dr. Alexandre Luna Cândido, Drª. Suyiene Cordeiro Falcão e Dr.
Carlos Alexandre Borges Garcia, pelas cartas de recomendação e incentivo.
Aos amigos da Pós - graduação: Carlos Allan Pereira dos Santos, Lueli Santos
Feitosa, Tiago Lima da Silva e Wellma Nascimento Pedra, pela amizade e vários momentos
de alegria e boas gargalhadas que tivemos.
Aos meus amigos (as): Clarissa Pamponet, Maria de Fátima e Rubens de Araújo,
pela força e amizade.
Ao Msc. Daniel Cézar pelo auxílio e ajuda na execução na condução do experimento.
Aos alunos da Zootecnia da Universidade Federal Rural de Pernambuco e a “Lebre”,
pela ajuda na execução do experimento no momento do abate.
As funcionárias: Adriana, Rogena Amaral, Bárbara Letícia, Rafaela e Mayara da
Pós-Graduação em Agroecossistemas, pela serventia e amizade.
E a todos que direta ou indiretamente contribuíram para realização deste sonho.
Muito Obrigada!
SUMÁRIO
LISTA DE TABELASLISTA DE GRÁFICOSLISTA DE SIGLASRESUMO................................................................................................................................ iABSTRACT............................................................................................................................ iiCAPÍTULO I - Introdução Geral.......................................................................................... 12. Referencial Teórico............................................................................................................. 32.1 A Caprinocultura no Semi-árido....................................................................................... 32.2 A Raça Anglonubiana x SPRD......................................................................................... 42.3 Morfometria in vivo e da carcaça...................................................................................... 52.4 Não componentes de carcaça caprina................................................................................ 63. Referências Bibliográficas.................................................................................................. 9CAPÍTULO II - Características morfométricas in vivo e da carcaça de caprinosmestiços Anglonubiana x SPRD criados em sistema semi-intensivo naCaatinga.................................................................................................................................. 121. Resumo................................................................................................................................ 122. Abstract................................................................................................................................ 133. Introdução............................................................................................................................ 144. Material e Métodos.............................................................................................................. 155. Resultados e Discussão........................................................................................................ 196. Conclusões........................................................................................................................... 247. Referências Bibliográficas................................................................................................... 25CAPÍTULO III- Avaliação dos não componentes de carcaça de caprinos mestiçosAnglonubiana x SPRD terminados em pastagem de Caatinga recebendosuplementação alimentar...................................................................................................... 271. Resumo................................................................................................................................ 272. Abstract................................................................................................................................ 293. Introdução............................................................................................................................ 304. Material e Métodos.............................................................................................................. 315. Resultados e Discussão........................................................................................................ 336. Conclusões........................................................................................................................... 407. Referências Bibliográficas................................................................................................... 41
LISTA DE TABELAS
CAPÍTULO II: Características morfométricas in vivo e da carcaça de caprinos mestiçosAnglonubiana x SPRD criados em sistema semi-intensivo na Caatinga
TABELA 1. Composição Centesimal e bromatológica do suplemento alimentar..................... 17TABELA 2. Valores médios do peso vivo inicial, peso vivo ao abate e das medidasmorfométricas in vivo de caprinos mestiços Anglonubiana x SPRD criados na Caatinga dePernambuco em função dos diferentes níveis de suplementação............................................... 19TABELA 3. Valores médios do peso da carcaça quente, peso da carcaça fria e das medidasmorfométricas da carcaça fria de caprinos mestiços Anglonubiana x SPRD criados naCaatinga de Pernambuco em função dos diferentes níveis de suplementação........................... 21TABELA 4. Valores médios da avaliação subjetiva das carcaças de caprinos mestiçosAnglonubiana x SPRD criados na Caatinga de Pernambuco em função dos diferentes níveisde suplementação....................................................................................................................... 22
CAPÍTULO III: Avaliação dos não componentes de carcaça de caprinos mestiçosAnglonubiana terminados em pastagem de Caatinga recebendo suplementação alimentar
TABELA 1. Composição centesimal e bromatológica do suplemento alimentar...................... 32TABELA 2. Valores médios do peso vivo inicial, peso vivo ao abate, peso do corpo vazio,conteúdo do trato digestório, os pesos absolutos dos órgãos, o peso do total dos órgãos, e osrendimentos dos órgãos e do total dos órgãos em relação ao peso corporal ao abate decaprinos mestiços Anglonubiana x SPRD terminados em pastagem de Caatinga recebendosuplementação alimentar durante o período seco....................................................................... 34TABELA 3. Valores médios do peso absoluto das vísceras, o total das vísceras e osrendimentos das vísceras em relação ao peso corporal ao abate de caprinos mestiçosAnglonubiana x SPRD terminados em pastagem de Caatinga recebendo suplementaçãoalimentar durante o período seco................................................................................................ 36TABELA 4. Valores médios absolutos dos subprodutos, os depósitos adiposos e o total dasgorduras e os rendimentos dos subprodutos em relação ao peso corporal ao abate de caprinosAnglonubiana x SPRD terminados em pastagem de Caatinga recebendo suplementaçãoalimentar durante o período seco................................................................................................ 37TABELA 5. . Média dos pesos absolutos dos constituintes da “buchada” e do rendimento de“buchada” de caprinos mestiços Anglonubiana x SPRD terminados em pastagem de caatingarecebendo suplementação alimentar durante o período seco...................................................... 38
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1. Precipitação (mm) observada durante o ano de 2009 na Estação Experimental
de Sertânia-PE........................................................................................................................... 16
LISTA DE SIGLAS
AA: altura do anterior
AP: altura do posterior
BA: Bahia
CC: comprimento corporal
CEC: comprimento externo da carcaça
CIC: comprimento interno da carcaça
CP: comprimento da perna
CV: coeficiente de variação
cm: centímetros
EM: energia metabolizável
FDN: fibra em detergente neutro
FDA: fibra em detergente ácido
g: gramas
IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICC: índice de compacidade da carcaça
ICP: índice de compacidade da perna
DBC: bloco inteiramente casualisado
IPA: Instituto Agronômico de Pernambuco
Kg: kilograma
ha: hectare
LG: largura da garupa
LP: largura do peito
m: metros
MS: matéria seca
mm: milímetros
NDT: nutrientes digestíveis totais
Ns: não significativo
PB: proteína bruta
PC: peso corporal
PJ: peso de jejum
PCF: peso da carcaça fria
PCQ: peso da carcaça quente
PCVZ: peso do corpo vazio
PV: peso vivo
PVA: peso vivo ao abate
PVF: peso vivo final
PVI: peso vivo inicial
PE: Pernambuco
PG: perímetro da garupa
PJ: peso decorrente do jejum
PT: perímetro torácico
PRT: profundidade do tórax
PV: peso vivo
PVI: peso vivo inicial
PVF: peso vivo final
SPRD: sem padrão racial definido
TD: conteúdo do trato digestório
TV: total de vísceras
UFS: Universidade Federal de Sergipe
RESUMO
SANTOS, Francielle Rodrigues. Características morfométricas e não componentes decarcaça de caprinos mestiços Anglonubiana x SPRD criados na Caatinga recebendosuplementação. 2011. (Dissertação, Mestrado em Agroecossistemas)1. UniversidadeFederal de Sergipe, São Cristóvão, SE.
A criação de caprinos no Brasil vem se caracterizando como uma atividade de grandeimportância no mercado sócio-econômico da região Nordeste, pois gera oportunidades deemprego e renda. Atualmente a caprinocultura se apresenta como uma alternativa para adiversificação da produção e aumento da rentabilidade das propriedades rurais. Nestecontexto, a produção de carne caprina tem sido impulsionada pela sua valorização e elevadademanda por parte dos consumidores, além do aproveitamento dos não componentes decarcaça, na confecção de pratos típicos como a “buchada“ e o “sarapatel”. O presentetrabalho objetivou avaliar as características morfométricas in vivo e da carcaça e os nãocomponentes de carcaça de caprinos mestiços da raça Anglonubiana criados em pastagem decaatinga, recebendo diferentes níveis de suplementação. A suplementação alimentar foicomposta por palma miúda, fubá de milho, farelo de trigo, farelo de soja e caroço dealgodão. O delineamento experimental, utilizado foi em blocos inteiramente casualizados(DBC), com quatro níveis de suplementação (0,0; 0,5; 1,0 e 1,5% do peso vivo) e setecaprinos (repetições), sendo os blocos formados para controlar o efeito do peso inicial. Foifeita análise de variância e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey (5%). Oaumento do nível da suplementação influenciou positivamente (P<0,05) o peso vivo ao abatee o comprimento corporal que variaram de 18,53 a 22,50kg e de 58,28 a 63,71cm, para asmedidas morfométricas na carcaça, apenas as variáveis largura da garupa, perímetro dagarupa, índice de compacidade da perna e da carcaça sofreram influencia (P<0,05) dostratamentos, apresentando valores que variaram de 13,95 a 18,70 cm; 43,71 a 48,50 cm; 0,40a 0,51 e 0,13 a 0,16 (kg/cm) respectivamente. Os pesos absolutos do pulmão, coração,fígado, baço, pâncreas e intestino delgado sofreram influencia (P<0,05) dos tratamentos evariaram de 0,136 a 0,202kg; 0,110 a 0,150kg; 0,36 a 0,48kg; 0,033 a 0,053kg; 0,019 a0,029kg e de 0,41 a 0,52kg. Nos subprodutos apenas o mesentério e omento apresentaraminfluencia (P<0,05) dos tratamentos e variaram 0,12 a 0,21kg e de 0,09 a 0,35kg. O peso de“buchada” aumentou significativamente (P<0,05) em função do aumento do nível desuplementação e variou de 2,63 a 3,52kg, respectivamente. Conclui-se que a suplementaçãoalimentar possibilitou caprinos com maior peso vivo ao abate, maiores medidasmorfométricas in vivo e da carcaça, maiores pesos absoluto para órgãos, vísceras,subprodutos e constituintes da “buchada”.
Palavras-Chave: buchada, caatinga, caprinos, suplementação
__________________________________________________________________________________________________________________________________
1Comitê Orientador: Angela Cristina Dias Ferreira - UFS (Orientadora), Gladston Rafael de Arruda Santos (co-orientador) - UFS e Veronaldo Souza de Oliveira –UFS (membro da banca)
ABSTRACT
SANTOS, Francielle Rodrigues. Morphology and carcass components not crossbredgoats raised in the Caatinga Anglonubiana x SPRD supplementation. 2011.(Dissertation, Master in Agroecosystems)1. Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão,SE.
Goat farming in Brazil has been characterized as an activity of great importance in the socio-economic market in the Northeast region, because it generates jobs and income. Currently,the goat is presented as an alternative to product diversification and increased profitability offarms. In this context, the production of goat meat has been driven by their appreciation andhigh demand from consumers, besides the use of non-carcass components, in making disheslike "buchada" and "sarapatel". This study aimed to evaluate the morphometriccharacteristics in vivo and carcass and non carcass components of crossbred goats raised onpasture Anglonubiana savanna, receiving different levels of supplementation. Foodsupplementation was composed of palm girl, corn meal, wheat bran, soybean meal andcottonseed. The experimental design used was randomized complete block design (DBC)with four levels of supplementation (0.0, 0.5, 1.0 and 1.5% of body weight) and seven goats(repetitions), with the blocks formed to monitor the effect of initial weight. Analysis ofvariance was performed and means were compared by Tukey test (5%). The increased levelof supplementation positively influenced (P<0.05), slaughter live weight and body lengthranging from 18.53 to 22.50 kg and 58.28 to 63.71 cm for morphometric measures inhousing, only variables hip width, hip perimeter, compactness index of the leg and sufferedinfluences carcass (P<0.05) treatments, with values ranging from 13.95 to 18.70 cm, 43.71to 48.50 cm, 0.40 to 0.51 and from 0.13 to 0.16 (kg/cm) respectively. The absolute weightsof lung, heart, liver, spleen, pancreas and small intestine were influenced (P<0.05) amongtreatments and ranged from 0.136 to 0.202 kg, 0.110 to 0.150 kg, 0.36 to 0.48 kg, 0.033 and0.053kg, 0.019 to 0.029kg and 0.41 to 0.52 kg. Byproducts in the mesentery and omentoonly had influence (P<0.05) treatments and ranged from 0.12 to 0.21 kg and 0.09 to 0.35kg.The weight of "buchada" increased significantly (P<0.05) with increasing level ofsupplementation and ranged from 2.63 to 3.52 kg, respectively. It is possible thatsupplemental feeding goats with higher live weight at slaughter, further morphometricmeasurements in vivo and housing, greater absolute weight for organs, viscera, by productsand constituents of the "buchada”.
Keywords: haggis, savanna, goats, supplementation
__________________________________________________________________________________________________________________________________
1Comitê Orientador: Angela Cristina Dias Ferreira - UFS (Orientadora), Gladston Rafael de Arruda Santos (co-orientador) - UFS e Veronaldo Souza de Oliveira –UFS (membro da banca)
1
CAPÍTULO I
1. Introdução Geral
A criação de caprinos tem se expandido em todos os estados brasileiros, e atualmente
possui um efetivo desta espécie de 8,3 milhões de cabeças, com presença de mais de 90% na
região Nordeste, principalmente, no semi-árido (IBGE, 2009). Independente do objetivo da
exploração, a caprinocultura tem muito a contribuir para o desenvolvimento sócio-econômico
do País, e de modo particular, para a região Nordeste, onde a produção de caprinos vem se
caracterizando como uma atividade de grande importância cultural, social e econômica para
esta região, por representar uma boa alternativa de trabalho e renda, graças a produção de
alimentos de alto valor biológico (leite, carne e vísceras), bem como de pele de excelente
qualidade, além da adaptabilidade dos animais criados na região semi-árida (COSTA et al.,
2008).
Apesar da importância social e econômica e do efetivo numericamente expressivo, o
rebanho de caprinos no Nordeste mantém índices produtivos ainda baixos, pelo fato dos
sistemas de produção serem caracterizados pela ausência ou uso inadequado de tecnologia,
nas áreas de alimentação, sanidade e reprodução. Aliado a estes fatores, em algumas regiões
do nordeste, os sistemas de criação tem como base alimentar, a vegetação nativa da Caatinga,
que durante o período seco do ano apresenta reduzida disponibilidade de biomassa e
nutrientes. De acordo com Oliveira et al. (2001), de uma maneira geral, na região Nordeste os
caprinos são criados em condições extensivas, o que se traduz em uma baixa produtividade,
com obtenção de produtos de qualidade inferior, como carcaças magras e de tamanho
pequeno, devido ao reduzido desenvolvimento muscular do animais.
Nos últimos anos, a raça Anglonubiana tem se disseminado no semi-árido porque
apresenta precocidade, grande capacidade de adaptação aos vários tipos de clima e sistemas
produtivos. A raça também, expressa em sua carne um baixo teor de gordura, e excelente
palatabilidade, características estas que atendem ao exigente e crescente mercado consumidor
de carne caprina e de seus subprodutos (COSTA et al., 2003).
Os caprinos são os principais produtores de carne, leite e couro, apresentando um
importante papel na oferta de alimentos e na economia da região nordeste, onde a produção de
2
carne é uma excelente alternativa econômica para a caprinocultura em função da qualidade
dos alimentos (BAIÃO et al., 2003).
Em termos econômicos, o rendimento dos não componentes de carcaça apresenta-se
importante para produção de carne e subprodutos, pois pode afetar diretamente o rendimento
da carcaça. Na região semi-árida do Nordeste brasileiro, o mercado consumidor aprecia as
vísceras comestíveis de pequenos ruminantes na forma de um prato típico, “a buchada”, que
além de ser usada como uma fonte alimentar nutritiva e de baixo custo para o homem, pode
também aumentar a rentabilidade do produtor (SIMPLÍCIO, 2001).
Os caprinos se adaptam ao ecossistema da caatinga e variam os seus hábitos de seleção
da dieta de acordo com a época do ano. Entretanto, a caatinga, por si só, é insuficiente para
atender aos requerimentos energéticos e protéicos dessa espécie em pastejo, devido à menor
disponibilidade e pior qualidade das forragens, principalmente durante o período seco, onde a
suplementação alimentar pode ser utilizada como uma ferramenta para melhorar o
desempenho dos animais e conseqüentemente o rendimento de carcaça sem afetar o equilíbrio
do sistema de criação.
Com o uso da suplementação durante o período seco espera-se melhorar a sustentabilidade
da criação de caprinos na região da caatinga, proporcionando uma alimentação equilibrada para
que seja alcançada melhor produtividade, aumentar os rendimentos dos produtos (carne) aliada
ao aproveitamento dos órgãos e das vísceras, que podem ser utilizados como pratos típicos,
contribuindo para melhorar a fonte de renda e as condições de vida do agricultor familiar.
Portanto, o trabalho objetivou avaliar as medidas morfométricas in vivo e da carcaça,
bem como os não componentes de carcaça de caprinos mestiços Anglonubiana x SPRD
criados em pastagem de caatinga, recebendo diferentes níveis de suplementação.
3
2. Referencial Teórico
2.1. Caprinocultura no Semi-árido
Durante o período chuvoso do ano, as pastagens nativas da região semi-árida do
Nordeste apresentam taxas elevadas de crescimento e melhor valor nutricional quando
comparadas com as do período seco.
A região semi-árida é coberta por solos rasos, de baixa fertilidade, caracterizada pela
presença da vegetação da Caatinga (CANDIDO, 2005). A exploração agropecuária da região
Nordeste do Brasil é amplamente afetada por fatores climáticos, dentre os quais, a
precipitação pluviométrica e sua distribuição ao longo do ano, que destacam-se por serem
determinantes na disponibilidade e qualidade da pastagem, com conseqüências marcantes na
produção animal (DANTAS et al., 2008).
A criação de caprinos é uma alternativa de produção ajustada à agricultura familiar do
semi-árido do nordeste brasileiro, pois essa produção, além de se adequar às condições
ambientais e sócio-culturais da região, não exige grandes investimentos para ser estabelecida
e permite a geração segura de renda mesmo quando praticada em pequena escala, já que
oferece produtos cada vez mais valorizados nos mercados (JÚNIOR, 2005).
Segundo o IBGE (2009), a região Nordeste deteve o maior número de cabeças
caprinas, totalizando 8,3 milhões de cabeças, com queda de 2,56% frente a 2008. A Bahia é o
estado com o maior efetivo (30,2%), seguido por Pernambuco (17,9%). Os cincos principais
municípios produtores de caprinos na região nordeste foram Casa Nova - BA (3%), Juazeiro -
BA (2,2%), Floresta- PE (1,8%), Curaçá - BA (1,8%) e Sertânia - PE com (1,5%).
Os rebanhos caprinos na região nordeste desempenham um papel de suma importância
econômica, sendo estas atividades exploradas por todas as camadas sociais. Em função do
estreito relacionamento entre o homem e esta espécie, grande parte do rebanho pertence às
populações de baixa e média renda, exercendo dessa forma, um papel sociocultural, tendo em
vista a manutenção do homem no campo. Outro aspecto importante refere-se à
sustentabilidade dos sistemas, que está sempre buscando meios apropriados para intensificar a
produtividade da criação com o mínimo de prejuízo para o ambiente (LEITE et al., 2000).
4
2.2. A Raça Anglonubiana x SPRD
A raça Anglonubiana é originária da Inglaterra, são animais de temperamento manso,
bem adaptada a climas quentes e secos e possui dupla aptidão: leite e carne. São animais de
porte médio-alto pesando de 50 a 90 kg e medindo em torno de 0,90m de altura nos machos,
já as fêmeas pesam de 40 a 60 kg, e medem aproximadamente 0,70m de altura. A pelagem
dos caprinos é variável, indo de negra, castanho escuro, baia até cinza, podendo apresentar
manchas pretas ou castanhas (VIEIRA, 1995).
A criação de caprinos no nordeste normalmente é para subsistência da população e
venda do excedente, em pequena escala. Os caprinos da raça Anglonubiana tem um bom
potencial para produção de carne, pois apresentam um elevado desenvolvimento do animal,
em ambos os sexos (CÂMARA et al., 2004).
Os cabritos bem alimentados atingem 21 a 22 kg de peso vivo com apenas 90 dias de
idade e eles são grandes, robustos, precoces e de carne muito boa. É uma raça muito rústica e
perfeitamente adaptável ao Brasil, sendo encontradas nos estados do Rio de Janeiro, São
Paulo, Minas Gerais, Bahia e Pernambuco (SILVA et al., 2006).
Oliveira et al. (2008), trabalhando com cabritos mestiços oriundos do cruzamento de
reprodutores das raças Anglonubiana, Bôer e SPRD (Sem Padrão Racial Definido),
observaram que as carcaças apresentaram melhor rendimento e conformação, além de maior
precocidade que os cabritos SPRD, mostrando que o cruzamento é uma ferramenta eficiente
para melhorar a produção de carne.
Na avaliação de três grupos genéticos de caprinos ¾ Anglonubiana x 1/3 Sem padrão
racial definido (SPRD), ¾ Boer x ¼ SPRD e SPRD, terminados em pastagem raleada de
caatinga recebendo suplementação alimentar, Oliveira et al. (2008) obtiveram rendimentos de
carcaça quente de 45,60 e 45,86% para os caprinos mestiços ¾ Anglonubina e ¾ Boer,
respectivamente, e rendimento de carcaça fria de 44,73 e 44,96%, para os mesmos
grupamentos genéticos, sendo estes superiores aos animais SPRD, para os rendimentos de
carcaça quente (43,34%) e fria (42,34%), o que demonstra uma superioridade dos animais
mestiços em relação aos SPRD que apresentam como característica fisiológica um
desenvolvimento corporal tardio.
5
2.3. Morfometria in vivo e na Carcaça
A avaliação morfométrica ou morfológica é uma técnica através da qual se consegue
estimar o peso vivo e outros aspectos corporal produtivos, por meio de mensurações do corpo
do animal vivo (SANTOS et al., 2002). As medidas corporais comumente utilizadas são:
altura do anterior, altura do posterior, largura da garupa, largura do peito, comprimento do
corpo, comprimento da garupa, perímetro torácico (COSTA et al., 2008), e essas medidas
corporais podem servir como indicadores do peso vivo e de rendimento de carcaça (BUENO
et al., 1999).
As medidas obtidas a partir do animal vivo, como comprimento corporal, altura do
anterior e posterior, perímetro torácico e largura da garupa, associadas à avaliação do
desenvolvimento muscular do animal e a conformação corporal, constituem ferramentas
importantes na determinação do momento ideal do abate, além de possibilitar atender as
exigências dos padrões de qualidade do mercado (OSÓRIO et al., 1998).
No caso de raças caprinas com aptidão à produção de carne, o produtor pode estimar o
peso do animal e a quantidade de produtos disponíveis para a comercialização, utilizando
medidas de fácil mensuração e baixo custo, como o perímetro torácico e comprimento da
carcaça. Yáñez et al. (2004) destacam a importância da aplicação destas mensurações no
controle zootécnico do rebanho, permitindo ao produtor utilizar essas medidas para avaliação
da produtividade de sua propriedade. Urbano et al. (2006), ao estudarem as medidas
morfométricas em caprinos da raça Canindé, relataram que as variáveis altura do posterior,
comprimento corporal e perímetro torácico estão altamente correlacionadas com o peso
corporal.
A comercialização de caprinos no Brasil é feita por meio de observações no animal,
sendo que o peso corporal é o principal parâmetro adotado e a carcaça é o componente de
maior valor comercial (MENDONÇA et al., 2003).
As medidas morfométricas in vivo e da carcaça dos cabritos são influenciadas pelo
genótipo, sexo, peso e idade de abate, alimentação e sistema de produção. Portanto, as
mensurações realizadas no animal vivo, combinadas com as medidas realizadas na carcaça,
podem ser utilizadas para caracterizar e comparar o produto obtido no sistema de produção
semi-extensivo de cabritos para produção de carne. Todas as técnicas desenvolvidas na
criação, manejo e melhoramento animal, tem como objetivo a obtenção de uma boa carcaça
6
dentro de um menor espaço de tempo, sendo que a qualidade do produto e quantidade da parte
comestível (carne) são os fatores básicos para comercialização da carcaça (SALOMONI,
1981).
Silva Sobrinho et al. (2001) citam que a valorização da carcaça depende, dentre outros
fatores, do peso vivo ou idade ao abate, em que se busca abater animais com menor idade,
porém, apresentando pesos mais elevados. Por esse motivo, a suplementação em sistema
semi-extensivo durante a época da seca torna-se uma alternativa para fornecer, em quantidade
e qualidade, os nutrientes que a pastagem não consegue suprir e, com isso, aumentar a
produtividade dos animais, atendendo às exigências de mercado.
Um fator chave no sistema de produção é a obtenção de carcaças magras com peso e
idade de abate ideal. Cada vez mais os consumidores buscam produtos mais saudáveis e
preferem carcaças magras. Em estudo realizado por Bonagurio et al. (2004), foi verificado
que a melhor faixa de peso de abate para obtenção de carne caprina é entre 25 e 30 kg de peso
vivo. Na maioria dos mercados, o excesso de gordura é um fator que afeta negativamente a
comercialização da carne. Assim, o aumento no peso da carcaça pode elevar o rendimento, no
entanto altos rendimentos podem está associados a excessivo grau de gordura, ou baixa
percentagem dos não componentes da carcaça (GARCIA et al., 2004).
Segundo Zapata et al. (1999) comentam que os grupos genéticos de caprinos do
Nordeste brasileiro são variados, predominando os SPRD (sem padrão racial definido), o que
dificulta uma tipificação de carcaça adequada. Esses autores mostram valores de rendimento
de carcaça encontrados na literatura de acordo com o grupo genético de 49,98% para os
caprinos sem padrão racial definido (SPRD); para os cabritos mestiços de Pardo Alpina x
Moxotó 41,6%, já para os animais oriundos de Anglonubiana + Pardo Alpina + Moxotó, o
rendimento de carcaça foi de 46,51%.
2.4. Não Componentes de Carcaça Caprina
A caprinocultura tem atraído muitos empresários do setor agropecuário, pois tem
apresentado um grande desenvolvimento econômico, tornando-se assim mais uma alternativa
para geração de renda através da venda de animais vivos, carcaças e não componentes de
carcaça. Associado a esses fatores podemos destacar o aumento da demanda por esses
produtos e subprodutos (MACEDO et al., 2000).
7
A maioria dos estudos envolvendo abate de ovinos e caprinos considera apenas a
carcaça como unidade de comercialização, desprezando outras partes comestíveis do corpo do
animal (não componentes de carcaça) que apresentam fonte adicional de renda e que
poderiam contribuir na alimentação de populações (SILVA SOBRINHO, 2001).
Segundo Osório (1992), ao sacrificar um animal, além da carcaça, obtém-se o
conjunto de órgãos, vísceras e subprodutos (conteúdo do trato gastrintestinal, pele, cabeça,
patas, cauda, pulmões, traquéia, fígado, coração, rins, gorduras omental, mesentérica, renal e
pélvica, baço, aparelho reprodutor e bexiga).
No Nordeste brasileiro, segundo Medeiros et al. (2008), é comum a utilização de
vísceras (rúmen, retículo, omaso e intestino delgado) e alguns órgãos (pulmões, coração,
fígado, baço, rins e língua), além de outros componentes como o sangue, omento, diafragma,
cabeça e patas, para a preparação de pratos tradicionais como a “buchada” .
A pele é um não componente de carcaça mais importante e que recebe maior preço,
atingindo entre 10 a 20% do valor do animal (FRASER, 1989). Segundo Jacinto (2004), a
pele pode representar para o produtor a diferença entre o prejuízo, a supervivência e o lucro.
Villarroel et al., (2004), avaliando as características físico-mecânicas do couro de caprinos
mestiços de Bôer e Anglonubiano, observaram que o mercado consumidor está demandando
peles de animais jovens e de boa qualidade.
A “buchada” ocupa papel importante como um dos produtos de interesse econômico
da caprinocultura de corte. Segundo Yamamoto et al. (2004), além do retorno econômico, os
não componentes da carcaça podem melhorar o nível nutricional da dieta das populações
menos favorecidas, já que as vísceras utilizadas no consumo humano constituem uma
importante fonte de proteína animal, sendo os valores nutricionais desses órgãos compatíveis
com o da carcaça. Costa et al. (2003) destacaram que as vísceras comestíveis chegam a atingir
5% da receita obtida com a comercialização da carcaça.
Dos não componentes de carcaça, as vísceras representadas pelo coração, pulmões,
fígado, rins, intestinos e estômagos, podem representar em média 5% do peso vivo, um
rendimento significativo que pode ser revertido em lucro para o produtor, visto que, estas
vísceras podem ser utilizadas na culinária. Normalmente, os pesos das vísceras aumentam
proporcionalmente com o aumento do peso de abate (COSTA et al. 2005), e esses não
componentes da carcaça, são comercializados em quilograma e podem ser utilizados como
8
fonte adicional de renda, contribuindo para compensação dos custos de abate (SILVA
SOBRINHO, 2001).
9
3. Referências Bibliográficas
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12
CAPÍTULO II
CARACTERISTICAS MORFOMÉTRICAS IN VIVO E DA CARCAÇA DE
CAPRINOS MESTIÇOS ANGLONUBIANA X SPRD CRIADOS EM SISTEMA SEMI-
INTENSIVO NA CAATINGA
1. Resumo
Características morfométricas in vivo e da carcaça de caprinos mestiços Anglonubiana xSPRD criados em sistema semi-intensivo na Caatinga. São Cristóvão-SE: UFS. 2011. 12p.(Dissertação, Mestrado em Agroecossistemas)1.
O objetivo deste trabalho foi avaliar as características morfométricas in vivo e da carcaça decaprinos mestiços Anglonubiana x SPRD em sistema de pastagem nativa no semi-árido dePernambuco, recebendo diferentes níveis de suplementação (0,0; 0,5; 1,0 e 1,5% do pesovivo) no período da seca. Foram utilizados 28 cabritos mestiços de Anglonubiano, castrados,com seis meses de idade e média de peso vivo inicial de 18,75kg. O sistema de manejo foisemi-intensivo com os caprinos ao pasto durante o dia e recolhidos no final da tarde, quandorecebiam suplementação concentrada a base de palma miúda, fubá de milho, farelo de trigo,farelo de soja e caroço de algodão em baias individuais. Os animais foram abatidos aos 84dias da fase experimental. Os animais suplementados apresentaram maiores peso vivo aoabate, maiores medidas morfométricas in vivo e da carcaça. O aumento do nível dasuplementação influenciou positivamente (P<0,05) o peso vivo ao abate e o comprimentocorporal que variaram de 18,53 a 22,50kg e de 58,28 a 63,71cm, respectivamente, e para asmedidas morfométricas na carcaça, apenas as variáveis largura da garupa, perímetro dagarupa, índice de compacidade da perna e da carcaça sofreram influencia (P<0,05) dostratamentos, apresentando valores que variaram de 13,95 a 18,70 cm; 43,71 a 48,50 cm; 0,40a 0,51 e 0,13 a 0,16 (kg/cm) respectivamente. A suplementação ao nível de 1,5% do pesovivo, de caprinos mestiços criados em sistema semi-intensivo na caatinga na época da seca,possibilitou maior peso vivo e comprimento corporal, bem como melhor conformação dacarcaça.
Palavras – chave: caprinos, semi-árido, suplementação
______________________________________________________________________1Comitê Orientador: Angela Cristina Dias Ferreira - UFS (Orientadora), Gladston Rafael de Arruda Santos –UFS (co-orientador), Veronaldo Souza de Oliveira (membro da banca)
13
2. Abstract
Morphometric characteristics in vivo and carcass crossbreed goats Anglonubiana x SPRDreared under semi-intensive in the Caatinga. São Cristóvão-SE: UFS. 2011. 13p. (Dissertation,Master in Agroecosystems)1.
The aim of this study was to evaluate the morphometric characteristics in vivo and carcassgoat crossbred Anglonubiana x SPRD system in native pasture in semi-arid region ofPernambuco, receiving different levels of supplementation (0.0, 0.5, 1.0 and 1.5% of bodyweight) during the dry season. We used 28 crossbred goats Anglonubiana, neutered, sixmonths old, average initial weight of 18.75 kg. The management system is semi-intensivegoats to pasture during the day and collected in the late afternoon, when the base receivedconcentrate supplementation girl palm, corn, wheat bran, soybean meal and cottonseed pensindividual. The animals were slaughtered at 84 days of the experimental phase. Thesupplemented animals had higher live weight at slaughter, further morphometricmeasurements in vivo and carcass. The increased level of supplementation positivelyinfluenced (P <0.05), slaughter live weight and body length ranging from 18.53 to 22.50 kgand 58.28 to 63.71 cm, respectively, and morphometric measures the carcass, only thevariables hip width, hip perimeter, compactness index of the leg and suffered influencescarcass (P <0.05) treatments, with values ranging from 13.95 to 18.70 cm, 43.71 to 48.50 cm,0.40 to 0.51 and from 0.13 to 0.16 (kg/cm) respectively. Supplementation at 1.5% of liveweight of crossbred goats raised in semi-intensive system in the Caatinga during the dryseason, allowed a higher body weight and body length, and better carcass conformation.
Keywords: goats, semi-arid, supplementation
______________________________________________________________________1Guidance Committee: Angela Cristina Dias Ferreira - UFS (Orientadora), Gladston Rafael de Arruda Santos –UFS (co-orientador), Veronaldo Souza de Oliveira (membro da banca)3. Introdução
14
O rebanho caprino do Brasil é de aproximadamente 8,3 milhões de animais, sendo que
a maior concentração desse efetivo está na região Nordeste, com 90% do rebanho (IBGE,
2009), representando a caprinocultura como uma atividade de alta potencialidade sócio-
econômica para as populações de média e baixa renda, sendo fonte de proteína animal de alta
qualidade.
A produção de caprinos de corte com carcaças de qualidade e com elevados
rendimentos, é necessária para garantir maior rentabilidade. A qualidade da carcaça de
determinada espécie é influenciada por diversos fatores, dentre eles, a raça, idade, sexo e
principalmente, o estado nutricional do animal (SILVA, 2004).
A caprinocultura no semi-árido se apresenta como uma das alternativas mais
apropriadas para gerar crescimento econômico e benefícios sociais, uma vez que possui forte
identidade com o sertão, com a cultura nordestina e com a agricultura familiar (HOLANDA
JÚNIOR et al., 2004). Segundo Guimarães et al. (2000), a exploração de caprinos no semi-
árido brasileiro, especialmente por pequenos produtores, está associada à satisfação e as
necessidades sócio-econômicas de curto prazo, segurança e sobrevivência. Essa espécie
permite uma diversificação dos recursos que podem proporcionar redução dos riscos,
atenuação da pobreza e dar maior estabilidade às unidades de base familiar localizadas no
semi-árido.
Neste cenário, a suplementação alimentar pode ser considerada como uma tecnologia que
visa a sustentabilidade da criação de caprinos na região da caatinga, proporcionado uma
alimentação equilibrada para que seja alcançada melhor produtividade durante a época da
seca, e obter animais com menor idade ao abate e com pesos mais elevados, proporcionando
maior rendimento de carcaça, que contribuirá para melhorar a fonte de renda e as condições de
vida do agricultor familiar.
As medidas corporais como altura do anterior, altura do posterior, largura da garupa,
largura do peito, comprimento do corpo, comprimento da garupa e perímetro torácico são
importantes, pois através dessas medidas consegue estimar o peso vivo e outros aspectos
corporais produtivos, por meio de mensurações do corpo do animal e as mesmas indicam
rendimento de carcaça, a capacidade digestiva e respiratória dos animais (COSTA et al.,
2008).
As medidas corporais dos animais têm sido utilizadas para avaliar, entre outras, as
características que possam ser influenciadas pelo melhoramento genético e também em
15
relação ao peso corporal em ovinos e caprinos, bem como para predizer o peso e as
características de carcaça de cabritos, onde o peso vivo é, geralmente, a medida mais segura
do rendimento bruto de carne do animal (YÁÑEZ et al., 2004).
Este trabalho foi realizado com o objetivo de avaliar as características morfométricas
in vivo e da carcaça de caprinos mestiços Anglonubiana x SPRD criados em pastagem de
caatinga, recebendo diferentes níveis de suplementação.
4. Material e Métodos
O presente trabalho foi conduzido durante a época da seca (agosto a dezembro de
2009) no Centro de Treinamento e Profissionalização em Caprino-Ovinocultura do Instituto
Agronômico (IPA), localizado na cidade de Sertânia–PE cujas coordenadas geográficas são:
Latitude 8º03'38" sul e Longitude 37º13'32" oeste, na microrregião do Sertão do Moxotó, a
600m acima do nível do mar, em ecossistema de caatinga, com clima semi-árido quente,
temperatura anual média de 25ºC alcançando, no mês mais quente do ano, com uma média de
27,8ºC. A precipitação acumulada no ano de 2009 foi de 705,2 mm, tendo março a junho
como os principais meses chuvosos com a precipitação de 593,0mm, e de agosto a dezembro
os principais meses seco com a precipitação de 63,0mm. Os dados referentes à precipitação
pluviométrica ocorrida durante o ano de 2009 encontram-se no Gráfico 1.
16
Gráfico 1. Precipitação pluviométrica (mm) observada durante o ano de 2009 naEstação Experimental de Sertânia-PE
Foram utilizados 28 cabritos machos, castrados, mestiços de Anglonubiana, com seis
meses de idade e média de peso vivo inicial (PVI) de 18,75 kg, sendo tratados contra endo e
ectoparasitas, e vacinados contra clostridiose e raiva. Os animais foram pesados em jejum
antes do início do período experimental e foram identificados através de colares de cores
branca, vermelha, amarela e azul, que corresponderam aos respectivos tratamentos de
suplementação alimentar de 0,0; 0,5; 1,0 e 1,5% do peso vivo e foram submetidos ao período
de adaptação ao ambiente e ao manejo durante 15 dias.
O período experimental teve duração de 84 dias, sendo subdivididos em quatro sub-
períodos de 21 dias. Durante este período os animais foram mantidos na pastagem de
caatinga, adotando-se uma taxa de lotação de 1,3 cabeça/ha sob lotação contínua em área
correspondente a 37 ha de caatinga.
Os animais tinham acesso a pastagem às 07:00 horas, sendo posteriormente recolhidos
para o galpão experimental às 17:00 horas, sendo alojados em baias individuais com
dimensões de 1,0 x 1,40 metros, construídas com cobertura de telha de amianto e piso de chão
batido, providas de bebedouros, saleiros e comedouros, para receberem a suplementação
alimentar diariamente.
A suplementação alimentar foi isoprotéica (média de 12% PB), composta por palma
forrageira miúda (Nopalea cochenillifera Salm- Dick), fubá de milho, farelo de trigo, farelo
17
de soja e caroço de algodão, sendo formulada de acordo com o NRC (1981) para atender aos
requerimentos de mantença + ganho de peso médio de 100 g/animal/dia. Na Tabela 1 mostra a
composição centesimal e bromatológica do suplemento alimentar.
Tabela 1. Composição centesimal e bromatológica do suplemento alimentar
Ingrediente % com base na MSPalma miúda 50,00Fubá de Milho 16,14Farelo de Trigo 9,94Farelo de Soja 5,70Caroço de Algodão 18,21Mistura Mineral 0,01
Composição BromatológicaMatéria Seca (%) 48,47Proteína Bruta (%) 12,60NDT (%) 73,00FDN (%) 30,85FDA (%) 20,15Cálcio (g) 3,81Fósforo (g) 2,48Energia Metabolizável (Mcal EM/kg de MS) 2,60
Ao término do período experimental, os animais foram pesados para obtenção do peso
vivo final (PVF) e submetidos a jejum de sólidos por 18 horas, e pesados novamente para
registro do peso vivo ao abate (PVA).
Após a última pesagem foi feita a avaliação morfométrica in vivo seguindo a
metodologia descrita por Yáñez et al. (2004), que constituiu nas seguintes medidas:
comprimento corporal (CC): é a distância entre a articulação cérvico-torácica e a base da
cauda na primeira articulação intercoccígea, altura do anterior (AA): a distância entre a região
da cernelha e a extremidade distal do membro anterior, altura do posterior (AP): a distância
entre a tuberosidade sacra e extremidade distal do membro posterior, comprimento da perna
(CP): a distância entre o trocânter maior do fêmur e o bordo da articulação tarso metatarsiana,
perímetro torácico (PT): perímetro tomando-se como base o esterno e a cernelha, passando a
fita métrica detrás da paleta; largura da garupa (LG): a distância entre os trocânteres maiores
dos fêmures e largura do peito (LP): distância entre as faces laterais das articulações escapulo-
umerais.
18
Para proceder o abate, os animais foram insensibilizados por concussão cerebral em
seguida sangrados por 4 minutos, através da seção da carótida e jugular, sendo o sangue
recolhido em sacos plásticos, para posterior pesagem. Logo após, foi feita a esfola,
evisceração, e retirada da cabeça (secção na articulação atlanta-occipital) e patas (secção nas
articulações carpo e tarso-metatarsianas). Após essas etapas a carcaça foi pesada para
mensuração do peso da carcaça quente (PCQ), incluindo os rins e a gordura pélvica-renal. O
trato digestório (TD) foi pesado cheio e depois vazio para determinação do peso do corpo
vazio (PCVZ) de acordo com Cezar & Souza (2007).
Após a obtenção do peso da carcaça quente, as carcaças foram imediatamente
resfriadas por 24 horas a 4ºC em câmara frigorífica penduradas pelas articulações tarso-
metatarsianas distanciadas em 14 cm, por meio de ganchos apropriados. Após resfriamento,
as carcaças foram pesadas para obtenção do peso da carcaça fria (PCF), incluindo rins e
gordura pélvica-renal.
Na seqüência, foi realizada a avaliação morfométrica na carcaça, que constitui: o
comprimento externo da carcaça (CEC): distância entre a articulação cérvico-torácica e a 1ª
articulação intercoccígea; largura da garupa (LG): largura máxima entre os trocânteres dos
fêmures, perímetro da garupa (PG): perímetro na região da garupa, com base nos trocânteres
dos fêmures e perímetro do tórax (PT): perímetro medido detrás da paleta. Em seguida, foram
feitas as medidas internas da carcaça que constitui: comprimento interno da carcaça (CIC):
distância entre o bordo anterior do osso púbis e o bordo anterior da primeira costela em seu
ponto médio; comprimento da perna (CP): distância entre o trocânter maior do fêmur e o
bordo da articulação tarso-metatarsiana e profundidade do tórax (PrT): distância entre o
esterno e a cernelha e largura do tórax. Todas as medidas de comprimento e de perímetro
foram feitas com fita métrica, e as da largura com um paquímetro. A partir desses valores, foi
determinado o índice de compacidade da perna (ICP), pela fórmula: ICP (kg/cm) = LG/CP, e
o índice de compacidade da carcaça (ICC) pela fórmula: ICC (kg/cm) =PCF/CIC, descrito por
Yáñez et al. (2004).
A avaliação de forma subjetiva das carcaças foi realizada seguindo-se a metodologia
adotada por Colomer-Rocher (1988), para determinação do grau de conformação da carcaça
que foi dadas notas de 1 a 5, a partir da avaliação visual do estado de musculosidade da
carcaça, sendo o valor de 1 (ruim) a 5 (excelente), o acabamento foi realizado pela avaliação
visual da proporção da gordura de cobertura da carcaça, sendo o valor 1(muito magra) e 5
19
(muito gorda), a gordura pélvica-renal foi feita avaliação visual da quantidade de gordura
existente na cavidade pélvica e na cavidade abdominal em torno dos rins, sendo 1 (gordura
ausente) e 5 (gordura excessiva).
O delineamento experimental, utilizado foi em blocos inteiramente casualizados
(DBC), com quatro níveis de suplementação (0,0; 0,5; 1,0 e 1,5% PV) e sete caprinos
(repetições), sendo os blocos formados para controlar o efeito do peso inicial. Foi feita análise
de variância e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey (5%) através do pacote
estatístico SAS (1999).
5. Resultados e Discussão
Os valores médios do peso vivo inicial, peso vivo ao abate, comprimento corporal,
perímetro torácico, largura do peito, largura da garupa, altura do posterior e altura do anterior
em função dos tratamentos, estão apresentados na Tabela 2.
Tabela 2. Valores médios do peso vivo inicial, peso vivo ao abate e das medidas
morfométricas in vivo de caprinos mestiços Anglonubiana x SPRD criados na
Caatinga de Pernambuco em função dos diferentes níveis de suplementação
VariáveisNíveis de Suplementação CV
(%) Significância0,0% 0,5% 1,0% 1,5%Peso vivo inicial (kg) 19,21 18,69 18,51 18,61 10,46 NsPeso vivo ao abate (kg) 18,53b 19,73ab 20,36ab 22,50a 13,98 0,0421Comprimento corporal (cm) 58,28b 61,28ab 60,86ab 63,71a 5,68 0,0500Perímetro torácico (cm) 62,86 62,85 63,57 65,14 4,70 NsLargura do peito (cm) 15,38 14,54 13,64 15,40 8,72 NsLargura da garupa (cm) 11,20 11,46 11,06 12,07 11,77 NsAltura do posterior (cm) 57,28 57,71 60,86 62,86 7,24 NsAltura do anterior (cm) 57,71 60,00 62,00 62,14 5,90 NsCV= Coeficiente de variação; Ns: não significativo.Nas linhas, as médias seguidas da mesma letra, não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey a5% de probabilidade.
Não houve diferença significativa (P>0,05) entre os tratamentos, para as variáveis:
perímetro torácico, largura do peito, largura da garupa, altura do anterior e altura do posterior.
O aumento do nível da suplementação influenciou positivamente (P<0,05) o peso vivo
ao abate e o comprimento corporal que variaram de 18,53 a 22,50kg e de 58,28 a 63,71cm,
20
respectivamente. O crescimento e o desenvolvimento dos animais são influenciados pela
qualidade e quantidade de alimentação fornecida. Á medida que o animal cresce, ocorrem
modificações em suas medidas corporais e o animal começa a se desenvolver, sendo que o
crescimento e o desenvolvimento corporal diminui gradativamente quando o animal atinge a
maturidade. Portanto, é importante avaliar essa medida, para a obtenção do máximo
desenvolvimento do animal para o abate. Para Grande et al. (2003), há de se considerar a
velocidade de crescimento dos cabritos e o nível nutricional como fatores fundamentais para a
produção de carne. Carvalho et al. (2002), avaliando as medidas barimétricas de cordeiros
Santa Inês, submetidos a diferentes manejos alimentares, destacam que os animais
apresentaram maiores pesos, provavelmente devido ao maior quantidade de nutrientes na
dieta dos animais suplementados, efeito semelhante ao obtido no presente experimento.
Na Tabela 3, estão apresentados os valores médios do peso da carcaça quente, peso da
carcaça fria, as medidas morfométricas da carcaça fria e os índices de compacidade da carcaça
e da perna em função dos tratamentos.
O comprimento externo e interno da carcaça, comprimento da perna, a largura,
profundidade e perímetro do tórax não foram influenciados (P>0,05) pelos níveis de
suplementação.
O peso de carcaça quente e o peso da carcaça fria apresentaram diferença significativa
(P<0,05) no nível de suplementação 1,5% do PV em relação os animais não suplementados e
variaram de 7,45 a 9,89kg, e de 7,09 a 9,45kg, respectivamente. Os maiores pesos de carcaça
(quente e fria) podem ser justificados pelos melhores desempenhos produtivos e maior peso
corporal ao abate dos caprinos. Moore et al. (2002), avaliando as características de carcaça de
caprinos mestiços Bôer x SPRD, observaram diferença significativa no peso da carcaça
quente e fria dos animais alimentados com casca de soja e subprodutos do trigo em
comparação à dieta com feno, e apresentaram valores que variaram de 8,62 a 9,95 kg, e de
8,29 a 9,84 kg, sendo os valores relatados superiores aos encontrados neste trabalho.
21
Tabela 3. Valores médios do peso da carcaça quente, peso da carcaça fria e das medidas
morfométricas da carcaça fria de caprinos mestiços Anglonubiana x SPRD
criados na Caatinga de Pernambuco em função dos diferentes níveis de
suplementação.
VariáveisNíveis de Suplementação CV
(%) Significância0,0% 0,5% 1,0% 1,5%Peso da carcaça quente(kg)
7,45b 8,17 ab 8,68 ab 9,89 a 16,13 0,0214
Peso da carcaça fria(kg)
7,09b 7,78 ab 8,27 ab 9,45a 16,39 0,0215
Comprimento externoda carcaça (cm)
50,35 51,10 50,70 53,24 4,32 Ns
Comprimento internoda carcaça (cm)
54,18 56,08 55,30 57,62 5,74 Ns
Largura da garupa(cm)
13,95b 17,35a 18,70a 17,71a 12,36 0,0180
Largura do tórax (cm) 16,02 16,58 16,25 16,82 8,81 NsComprimento da Perna(cm)
34,48 37,14 36,44 36,68 5,40 Ns
Profundidade do tórax(cm)
22,58 22,57 24,21 23,77 7,68 Ns
Perímetro do tórax(cm)
54,00 55, 84 55,24 57,02 4,14 Ns
Perímetro da Garupa(cm)
43,71b 45,55ab 45,00ab 48,50a 5,12 0,0064
Índice de compacidadeda perna (kg/cm)
0,40b 0,46ab 0,51a 0,48ab 11,24 0,0054
Índice de compacidadeda carcaça (kg/cm)
0,13b 0,14b 0,15ab 0,16a 11,72 0,0086
CV = Coeficiente de variação; Ns = não significativoNas linhas, as médias seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si pelo teste deTukey a 5% de probabilidade.
O rendimento de carcaça quente variou de 40,20% a 43,95%, e o rendimento da
carcaça fria variou de 38,26% a 42,00%, sendo o rendimento de carcaça uma importante
característica a ser avaliada na hora da comercialização do produto. Hashimoto et al. (2007)
afirmaram que o rendimento verdadeiro da carcaça é o mais preciso, pois elimina as variações
do conteúdo do trato gastrintestinal em seu cálculo e citam que esse rendimento em caprinos
varia de 35 a 50%. Os valores encontrados no presente trabalho mantiveram-se dentro da
faixa aceitável para caprinos. Os rendimentos de carcaça quente e fria obtidos por Bezerra
(2010) avaliando a morfometria e as características da carcaça de cabritos SPRD em pastejo,
22
suplementados ou não na Caatinga de Pernambuco, apresentaram valores que variaram de
37,31% a 42,93% e de 35,37% a 40,38%, respectivamente e esses resultados estão próximos
do presente trabalho.
A largura e o perímetro da garupa apresentaram diferença significativa (P<0,05) em
função dos tratamentos e variaram de 13,95 a 17,71cm e de 43,71 a 48,50cm,
respectivamente. Essas medidas mostraram que houve um maior desenvolvimento muscular e
as diferenças no status nutricional são evidentes e confirmam os resultados verificados no
índice de compacidade da carcaça pelas variações no peso das carcaças e no peso corporal ao
abate. Segundo Araújo Filho et al. (2007), essas medidas indicam deposição de carne de
melhor qualidade.
Quanto ao índice de compacidade da carcaça (ICC) e o índice de compacidade da
perna (ICP), variaram de 0,13 a 0,16 kg/cm, e de 0,40 a 0,48 kg/cm respectivamente, o que
pode ser explicado pelas variações no peso das carcaças, peso corporal ao abate, comprimento
corporal e no rendimento de carcaça, indicando maior deposição de tecido muscular e adiposo
na região da largura da garupa. Segundo Amorim et al. (2008) esta avaliação é importante,
porque quanto maior ICC, maior deposição de tecido muscular e adiposo por unidade de área
(cm2), conseqüentemente carcaça com melhor qualidade e quantidade de carne.
Tabela 4. Valores médios da avaliação subjetiva das carcaças de caprinos mestiços
Anglonubiana x SPRD criados na Caatinga de Pernambuco em função dos
diferentes níveis de suplementação
VariáveisNíveis de suplementação CV
(%) Significância0,0% 0,5% 1,0% 1,5%Escore 3,20 3,30 3,30 3,50 7,81 NsConformação daCarcaça (1-5)1
1,80b 2,00b 2,00b 2,50a 19,72 0, 0037
Acabamento (1-5)2 2,00ab 1,70b 1,80b 2,70a 27,36 0, 0146Gordura Pelv. Renal(1-5)5
1,00b 1,40ab 1,50ab 1,80a 28,85 0, 0078
CV = Coeficiente de variação; Ns = não significativo;1Índice 1-5, sendo 1= ruim, 2=razoável, 3= boa; 4= muito boa, 5= excelente2 Índice 1-5, sendo 1= muito magra, 2= magra, 3= média, 4=gorda, 5= muito gorda3 Índice 1-5, sendo 1 = gordura ausente; 2 = gordura escassa; 3 = gordura mediana; 4 = gordurauniforme; 5 = gordura excessivaNas linhas, as médias seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si pelo teste deTukey a 5% de probabilidade.
23
O escore da carcaça não foi influenciado (P>0,05) pelos níveis de suplementação.
Porém, a conformação da carcaça apresentou diferença significativa (P<0,05) do nível 1,5%
do PV em relação aos animais não suplementados e variou de 1,80 a 2,50, o que possibilitou
maior deposição de tecido muscular nas carcaças e carcaças com formatos mais convexos.
Segundo Siqueira et al. (2001), a conformação da carcaça, reflete na condição corporal,
quanto maior o peso dos animais, mais elevada é a conformação da carcaça, fato que foi
confirmado neste trabalho.
A suplementação ao nível de 1,5% do PV aumentou significativamente o acabamento
das carcaças (P<0,05) em relação aos demais tratamentos e variou de 2,00 a 2,70, o que está
relacionado com a deposição de gordura na carcaça, devido à maior quantidade de nutrientes
da dieta dos animais suplementados.
A gordura pélvica-renal apresentou diferença significativa (P<0,05) no nível 1,5% do
PV em relação aos animais não suplementados, onde o índice obtido mediante avaliação
objetiva foi de 1,0 a 1,80. Portanto, a suplementação alimentar proporcionou uma pequena
deposição de gordura em relação aos animais não suplementados e mesmo sendo pouca esta
deposição de gordura, a suplementação contribuiu positivamente para uma melhora no
acabamento em relação aos demais tratamentos, provavelmente devido à característica
intrínseca da espécie caprina em depositar mais gordura perirrenal e pélvica do que gordura
de cobertura. Osório et al. (1992), afirma que a quantidade de gordura depositada na carcaça
influencia positivamente nas características sensoriais da carne e no seu valor comercial,
porém o excesso leva à depreciação do produto.
24
6. Conclusão
A suplementação ao nível de 1,5% do peso vivo, de caprinos mestiços criados em
sistema semi-intensivo na caatinga na época da seca, possibilitou maior peso vivo e
comprimento corporal, bem como melhor conformação da carcaça.
25
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27
CAPÍTULO III
AVALIAÇÃO DOS NÃO COMPONENTES DE CARCAÇA DE CAPRINOS
MESTIÇOS ANGLONUBIANA X SPRD TERMINADOS EM PASTAGEM DE
CAATINGA RECEBENDO SUPLEMENTAÇÃO ALIMENTAR
1. Resumo
Avaliação dos não componentes de carcaça de caprinos mestiços Anglonubiana x SPRDterminados em pastagem de Caatinga recebendo suplementação alimentar. SãoCristóvão-SE: UFS. 2011. 26p. (Dissertação, Mestrado em Agroecossistemas)1.
O objetivo deste trabalho foi avaliar o peso, o rendimento de órgãos, vísceras,
subprodutos e o rendimento da “buchada” de caprinos mestiços Anglonubiana x SPRD
terminados em sistema de pastagem nativa do semi-árido de Pernambuco, recebendo
diferentes níveis de suplementação (0,0; 0,5; 1,0 e 1,5% do peso vivo) no período da seca.
Foram utilizados 28 cabritos mestiços Anglonubiana, castrados, com seis meses de idade e
média de peso vivo inicial de 18,75kg. O sistema de manejo foi semi-intensivo com os
caprinos ao pasto durante o dia e presos no final da tarde, quando recebiam suplementação
concentrada a base de palma miúda, fubá de milho, farelo de trigo, farelo de soja, caroço de
algodão e sal mineral á vontade, em baias individuais. Os animais foram abatidos aos 84 dias
da fase experimental. Antes do abate, os animais foram pesados após jejum alimentar de 18
horas. O abate foi realizado por meio de insensibilização, seguida de sangria, esfola e
evisceração. O intestino delgado (kg) e o peso do total de vísceras (kg) apresentaram
diferença significativa (P<0,05) em função dos tratamentos e variaram de 0,41 a 0,53kg e de
1,38 a 1,64kg, respectivamente. A suplementação proporcionou maiores quantidades de
gorduras mesentérica e omental e variaram de 0,12 a 0,21kg e de 0,09 a 0,35kg,
respectivamente. Os pesos absolutos do pulmão, coração, fígado, baço e pâncreas sofreram
influencia (P<0,05) dos tratamentos e variaram de 0,136 a 0,202kg; 0,110 a 0,150kg; 0,36 a
0,48kg; 0,033 a 0,053kg; 0,019 a 0,029kg. O peso de “buchada” aumentou significativamente
(P<0,05) em função do aumento do nível de suplementação e variou de 2,63 a 3,52kg,
respectivamente. A suplementação possibilitou animais com maiores valores de peso absoluto
para órgãos, vísceras, subprodutos e constituintes da “buchada”. A utilização das vísceras
comestíveis no preparo de pratos como a “buchada” pode ser uma excelente alternativa
28
econômica, pois agrega valor e aumenta a lucratividade da produção gerando renda adicional
para o produtor rural.
Palavras-chave: buchada, caprinos, suplementação, semi-árido, vísceras
________________________________________________________________________________Comitê Orientador: Angela Cristina Dias Ferreira - UFS (Major Professor), Gladston Rafael de Arruda Santos -UFS (co-orientador) e Veronaldo Souza de Oliveira- UFS (membro da banca)
29
2. Abstract
Evaluation of non-carcass components of crossbred goats Anglonubiana x SPRD finished onpasture Caatinga receiving supplemental feeding. São Cristóvão-SE: UFS. 2011. 28p.(Dissertation, Master Science in Agroecossistemas)1.
The aim of this study was to evaluate the weight, the yield of organs, viscera, and the yield ofbyproducts "buchada" goat crossbred Anglonubiana finished in pasture system's native semi-arid Pernambuco, receiving different levels of supplementation (0.0, 0.5, 1.0 and 1.5% ofbody weight) during the dry season. We used 28 crossbred goats Anglonubiana, neutered, sixmonths of age and average initial of 18.75 kg. The management system is semi-intensivegoats to pasture during the day and imprisoned in the late afternoon, when the base receivedconcentrate supplementation girl palm, corn, wheat bran, soybean, cotton and salt mineral willbe in individual stalls. The animals were slaughtered at 84 days of the experimental phase.Before slaughter, the animals were weighed after fasting for 18 hours. The slaughter wascarried out by stunning followed by bleeding, skinning and gutting. The small intestine (kg)and total weight of the viscera (kg) showed significant differences (P<0.05) in the treatmentsand ranged from 0.41 to 0.53 kg and 1.38 to 1.64 kg, respectively. The supplementationresulted in higher amounts of fat and mesenteric and omental ranged from 0.12 to 0.21kg and0.09 to 0.35kg, respectively. The absolute weights of lung, heart, liver, spleen and pancreaswere influenced (P<0.05) among treatments and ranged from 0.136 to 0.202 kg, 0.110 to0.150kg, 0.36 to 0.48kg, 0.033 to 0.053kg; 0.019 to 0.029kg. The weight of "buchada"increased significantly (P<0.05) with increasing level of supplementation and ranged from2.63 to 3.52kg, respectively. Supplementation allowed animals with higher absolute weightfor organs, viscera, by-products and constituents of the “buchada”. The use of edible offal inthe preparation of dishes like "buchada"can be an excellent economic alternative, it addsvalue and increases the profitability of production generating additional income for ruralproducers.
Keywords: haggis, goats, supplementation, semi-arid, viscera
__________________________________________________________________________________________________________________________________
1Guidance Committee: Angela Cristina Dias Ferreira - UFS (Major Professor), Gladston Rafael de ArrudaSantos - UFS (co-orientador) e Veronaldo Souza de Oliveira- UFS (membro da banca)
30
3. Introdução
A caprinocultura na região nordeste representa um forte potencial de geração de renda
para a economia brasileira. A demanda por carne caprina e vísceras vem apresentando um
crescimento considerável nas grandes cidades do Nordeste e Sudeste do Brasil (CARVALHO
et al., 2005).
No Nordeste brasileiro é comum a utilização de vísceras (rúmen, retículo, omaso e
intestino delgado) e alguns órgãos (pulmões, coração, fígado, baço, rins e língua) além de
outros componentes como o sangue, cabeça, patas, omento e diafragma na culinária local,
para a preparação de pratos tradicionais como o “sarapatel e a buchada" (SILVA
SOBRINHO, 2001).
Os não componentes da carcaça vêm sendo habitualmente utilizado para referenciar os
órgãos e as vísceras comestíveis, através da comercialização desses produtos que proporciona
benefícios econômicos para os produtores, aumentando a lucratividade da produção (COSTA
et al., 2009).
A suplementação alimentar durante o período seco apresenta-se como uma alternativa
alimentar e fornece uma quantidade e qualidade de nutrientes necessários aos caprinos que a
pastagem não consegue suprir os nutrientes que não estão disponíveis nas forrageiras
consumidas na pastagem nativa, durante este período, permitindo assim uma recria e
terminação mais eficiente de cabritos no semi-árido.
De acordo com Osório et al. (2001), os órgãos e as vísceras representam um baixo
valor comercial e podem ser usados na elaboração de pratos típicos ou embutidos que
permitem agregar valor à unidade de produção ou de abate e melhorar o nível de vida das
populações de baixo poder aquisitivo, além de trazer benefícios econômicos para os
produtores de caprinos, agregando valor ao produto.
Os pesos das vísceras aumentam proporcionalmente com o aumento do peso vivo do
animal. No peso vivo do animal, as vísceras podem representar mais de 50,0%, e este
percentual pode ser influenciado pela genética, idade, sexo, tipo de nascimento e alimentação,
que são parâmetros responsáveis pelas variações no peso do animal (CARVALHO et al.,
2005).
Para que haja uma melhor valorização da produção animal, a comercialização deveria
ser feita considerando o animal como um todo, valorizando além da carcaça, os não
31
componentes da carcaça, visto que estes apresentam estreita relação com o rendimento de
carcaça (CARVALHO et al., 2003).
A "buchada" é um prato tradicional nordestino que apresenta uma boa aceitação pelos
consumidores e tem como principais ingredientes o coração, rins, fígado, pulmões, intestinos,
rúmen e o sangue, sendo que a cabeça e as patas não fazem parte da carcaça (COSTA et al.,
2010).
Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar o peso, o rendimento dos não componentes
de carcaça e o rendimento da “buchada” de caprinos mestiços de Anglonubiana x SPRD
terminados em pastagem nativa de Caatinga recebendo diferentes níveis de suplementação.
4. Material e Métodos
O presente trabalho foi conduzido durante a época da seca (agosto a dezembro de
2009) no Centro de Treinamento e Profissionalização em Caprino-Ovinocultura do Instituto
Agronômico (IPA), localizado na cidade de Sertânia–PE cujas coordenadas geográficas de
Latitude 8º03'38" sul e Longitude 37º13'32" oeste, na microrregião do Sertão do Moxotó, a
600m acima do nível do mar, em ecossistema de caatinga, com clima da região é do tipo
semi-árido muito quente, apresentando temperatura anual média de 25ºC (SANTOS et al.,
2009).
Foram utilizados 28 cabritos machos, castrados, mestiços da raça Anglonubiana, com
seis meses de idade e média de peso vivo inicial (PVI) 18,75kg, sendo tratados contra endo e
ectoparasitas, vacinados contra clostridiose e raiva. Os animais foram pesados em jejum antes
do início do período experimental e foram identificados através de colares de cores branca,
vermelha, amarela e azul, que corresponderam aos respectivos tratamentos de suplementação
alimentar (0,0; 0,5; 1,0 e 1,5% do peso vivo) e foram submetidos ao período de adaptação ao
ambiente e ao manejo durante 15 dias.
O período experimental teve duração de 84 dias, sendo subdivididos em quatro
períodos de 21 dias. Durante este período os animais foram mantidos na pastagem de
caatinga, adotando-se uma taxa de lotação de 1,3 cabeça/ha sob lotação contínua em área
correspondente a 37 ha de caatinga.
Os animais tinham acesso a pastagem às 07:00 horas, sendo posteriormente recolhidos
para o galpão experimental às 17:00 horas, onde foram alojados em baias individuais com
32
dimensões de 1,0 x 1,40 metros, construídas com cobertura de telha de amianto e piso de chão
batido, providas de bebedouros, saleiros e comedouros, para receberem a suplementação
alimentar e mistura mineral diariamente.
A suplementação alimentar foi isoprotéica (média de 12% PB), composta por palma
forrageira miúda (Nopalea cochenillifera Salm- Dick), fubá de milho, farelo de trigo, farelo
de soja e caroço de algodão, sendo formulada de acordo com o NRC (1981) para atender aos
requerimentos de mantença + ganho de peso médio de 100g/animal/dia. Na Tabela 1 mostra a
composição centesimal e bromatológica do suplemento alimentar.
Tabela 1. Composição centesimal e bromatológica do suplemento alimentar
Ingrediente % com base na MSPalma miúda 50,00Fubá de milho 16,14Farelo de trigo 9,94Farelo de soja 5,70Caroço de algodão 18,21Mistura mineral 0,01
Composição BromatológicaMatéria seca (%) 48,47Proteína bruta (%) 12,60NDT (%) 73,00FDN (%) 30,85FDA (%) 20,15Cálcio (g) 3,81Fósforo (g) 2,48Energia metabolizável (Mcal EM/kg de MS) 2,60
Ao término do período experimental, os animais foram pesados para obtenção do peso
vivo final (PVF) e submetidos a jejum de sólidos por 18 horas e pesados novamente para
registro do peso vivo ao abate (PVA), antecedendo o abate.
No momento do abate, os animais foram insensibilizados, por concussão cerebral, em
seguida foram sangrados, por 4 minutos, através da seção da carótida e jugular, sendo o
sangue recolhido em sacos plásticos, para posterior pesagem. Em seguida, foi feita a esfola,
evisceração, e retirada da cabeça (secção na articulação atlanta-occipital) e patas (secção nas
articulações carpo e tarso-metatarsianas). Após essas etapas o trato digestório (TD) foi pesado
cheio e depois vazio, assim como a bexiga e a vesícula biliar, para determinação do conteúdo
33
do trato digestório. O peso de corpo vazio (PCVZ) foi obtido através da diferença entre o peso
vivo ao abate e o peso do conteúdo do trato digestório.
Foram obtidos ainda, os pesos dos não componentes de carcaça constituídos por
órgãos (língua, pulmões, traquéia, coração, fígado, vesícula biliar, pâncreas, baço, diafragma,
pênis); vísceras vazias (esôfago, rúmen, retículo, omaso, abomaso e os intestinos delgado e
grosso) e os subprodutos (sangue, pele, cabeça, patas e depósitos adiposos: gorduras omental
e mesentérica), conforme esquema proposto por Silva Sobrinho (2001).
O delineamento experimental, utilizado foi em blocos inteiramente casualizados
(DBC), com quatro níveis de suplementação (0,0; 0,5; 1,0 e 1,5% PV) e sete caprinos
(repetições), sendo os blocos formados para controlar o efeito do peso vivo inicial. Foi feita
análise de variância e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey (5%) através do
pacote estatístico SAS (1999).
5. Resultados e Discussão
Os valores médios do peso vivo inicial (PVI), peso vivo ao abate (PVA), peso do
corpo vazio (PCVZ), conteúdo do trato digestório (TD), os pesos absolutos da língua,
traquéia, pulmão, coração, diafragma, fígado, baço, pâncreas, pênis, vesícula biliar, do total
dos órgãos e do rendimento dos órgãos em relação ao peso corporal ao abate em função dos
níveis de suplementação, estão apresentados na Tabela 2.
Os valores do conteúdo do trato digestório, os valores médios absolutos da língua,
traquéia, diafragma, pênis, vesícula biliar e o rendimento da língua, diafragma, pênis e
vesícula biliar não foram (P>0,05) influenciados pelo aumento do nível de suplementação.
Os pesos absolutos do pulmão e coração apresentaram diferença significativa (P>0,05)
do nível 1,5% do PV da suplementação em relação aos animais não suplementados, e
variaram de 0,136 a 0,202kg e de 0,110 a 0,150kg, respectivamente. O que está relacionado
ao maior aporte de nutrientes oriundos da suplementação, ocasionando um aumento na taxa
metabólica. Segundo Bezerra et al. (2010), ao avaliarem os componentes não integrantes da
carcaça de cabritos alimentados em pastejo na Caatinga, observaram que os animais que
receberam suplementação apresentaram maiores pesos de pulmão+ traquéia e coração que
variaram de 0,182 a 0,257 kg e de 0,067 a 0,103kg. Os valores foram próximos aos
encontrados no presente trabalho.
34
Tabelas 2. Valores médios do peso vivo inicial, peso vivo ao abate, peso do corpo vazio,
conteúdo do trato digestório, os pesos absolutos dos órgãos, o peso do total dos
órgãos, e os rendimentos dos órgãos e do total dos órgãos em relação ao peso
corporal ao abate de caprinos mestiços Anglonubiana x SPRD terminados em
pastagem de Caatinga recebendo suplementação alimentar durante o período
seco.
Variável Níveis de Suplementação CV Significância0,0% 0,5% 1,0% 1,5% (%)
PVI (kg) 19,21 18,69 18,51 18,61 10,46 NsPVA (kg) 18,52b 19,72ab 20,35ab 22,50a 13,98 0,0421PCVZ (kg) 14,34b 15,08ab 16,00ab 18,35a 15,15 0,0270Conteúdo do TD (kg) 4,18 4,63 4,35 4,14 15,28 Ns
Peso absoluto dos Órgãos (kg)Língua 0,085 0,108 0,126 0,132 32,76 NsTraquéia 0,054 0,060 0,060 0,068 26,56 NsPulmão 0,136b 0,174ab 0,186a 0,202a 18,68 0,0020Coração 0,110b 0,130ab 0,125ab 0,150a 18,68 0,0385Diafragma 0,056 0,063 0,067 0,060 27,78 NsFígado 0,367b 0,395ab 0,388ab 0,480a 14,93 0,0107Baço 0,019b 0,025ab 0,023ab 0,029a 20,21 0,0082Pâncreas 0,033b 0,040b 0,045ab 0,053a 19,75 0,0018Pênis 0,035 0,036 0,037 0,038 32,66 NsVesícula Biliar 0,002 0,002 0,002 0,030 28,14 NsTotal dos órgãos 0,954b 1,087b 1,118b 1,642a 10,11 0,0001
Rendimento dos órgãos (%)*
Língua 9,05 9,85 11,25 8,11 28,81 NsTraquéia 5,60 5,52 5,38 4,17 21,47 NsPulmão 14,32bc 16,05ab 16,72a 12,32c 10,78 0,0001Coração 11,48a 11,93a 11,19a 9,10b 9,37 0,0001Diafragma 5,89 5,82 5,92 5,65 15,60 NsFígado 38,48a 36,62a 34,88a 29,20b 9,13 0,0001Baço 2,01ab 2,30a 2,10ab 1,79b 16,14 0,0602Pâncreas 3,48ab 3,69ab 4,13a 3,27b 15,22 0,0474Pênis 3,31 3,67 3,67 3,69 24,39 NsVesícula Biliar 0,27 0,26 0,22 0,18 26,97 NsTotal dos órgãos 4,85b 5,15b 5,14b 6,85a 13,56 0,0001CV = Coeficiente de variação; Ns = não significativo.*em relação ao peso corporal ao abate.Nas linhas, as médias seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey a 5%de probabilidade.
O peso absoluto do fígado aumentou (P<0,05) em função do aumento da
suplementação e variou de 0,36 a 0,48kg. O fígado é um órgão de elevada taxa metabólica, o
tamanho e o crescimento desse órgão está relacionado com o maior consumo de nutrientes da
35
dieta pelo animal, especialmente energia e proteína, já que o fígado participa ativamente no
metabolismo desses nutrientes. Carvalho et al. (2005), avaliando os não componentes de
carcaça de cordeiros submetidos a diferentes níveis de suplementação concentrada (0,0; 1,0;
1,5; 2,0 ou 2,5% do PV), encontraram valores absolutos para o fígado que variaram de 0,44 a
0,46kg. Os valores foram próximos aos encontrados no presente trabalho.
O peso absoluto do pâncreas aumentou (P<0,05) em função dos tratamentos e variou
de 0,033 a 0,053kg. O pâncreas é uma glândula do sistema digestivo e endócrino nos animais
e está situado atrás do estômago e que produz o suco pancreático que é lançado no duodeno, e
a insulina que é lançada diretamente no sangue. O aumento dos níveis de concentrado elevou
os teores de energia metabolizável das dietas, e estimulou o desenvolvimento do pâncreas.
Medeiros et al. (2008), verificou efeito semelhante ao estudar o efeito dos níveis de
concentrado sobre os não componentes de carcaça de ovinos Morada Nova.
O peso absoluto do baço apresentou diferença significativa (P<0,05) do nível 1,5% do
PV em relação aos animais não suplementados e variaram de 0,019 a 0,029kg. O baço é um
órgão de elevada taxa metabólica, pois participa ativamente do metabolismo de nutrientes e
responde a diferentes níveis de energia. Carvalho et al. (2007), avaliando o ganho de peso, as
características da carcaça e os não componentes de carcaça de cordeiros da raça Texel
terminados em diferentes sistemas alimentares, encontraram valores absolutos para o baço
que variaram de 0,044 a 0,056kg, sendo que esses valores são superiores ao encontrado no
presente trabalho.
Na Tabela 3 estão apresentados, os valores médios dos pesos do esôfago, rúmen,
retículo, omaso, abomaso, intestino delgado e intestino grosso, o peso do total das vísceras e o
rendimento das vísceras e do total das vísceras em relação ao peso corporal ao abate em
função dos níveis de suplementação.
36
Tabelas 3. Valores médios do peso absoluto das vísceras, o total das vísceras e os rendimentos
das vísceras em relação ao peso corporal ao abate de caprinos mestiços
Anglonubiana x SPRD terminados em pastagem de Caatinga recebendo
suplementação alimentar durante o período seco.
VariáveisNíveis de Suplementação CV
(%) Significância0,0% 0,5% 1,0% 1,5%Esôfago (kg) 0,04 0,03 0,03 0,04 13,34 NsRúmen (kg) 0,45 0,45 0,46 0,50 14,01 NsRetículo (kg) 0,08 0,08 0,08 0,09 18,84 NsAbomaso (kg) 0,10 0,11 0,10 0,13 24,94 NsOmaso (kg) 0,08 0,06 0,08 0,08 28,62 NsIntestino Delgado (kg) 0,41b 0,48ab 0,42ab 0,53a 16,27 0,0276Intestino Grosso (kg) 0,22 0,24 0,20 0,27 24,38 NsTotal de Vísceras (kg) 1,38b 1,46ab 1,38ab 1,64a 12,61 0,0373
Rendimentos das vísceras (%)*Esôfago 0,21 0,19 0,19 0,20 13,13 NsRúmen 2,40 2,29 2,26 2,27 9,53 NsRetículo 0,44 0,42 0,38 0,42 17,18 NsAbomaso 0,52 0,55 0,52 0,59 25,03 NsOmaso 0,42 0,32 0,42 0,32 25,37 NsIntestino Delgado 2,25 2,43 2,07 2,35 16,59 NsIntestino Grosso 1,54 1,22 1,00 1,23 41,09 NsTotal de Vísceras 7,40 7,40 6,80 7,29 10,87 NsCV = Coeficiente de variação; Ns = não significativo.*em relação ao peso corporal ao abate.Nas linhas, as médias seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si pelo teste deTukey a 5% de probabilidade
Não houve diferença significativa (P>0,05) entre os tratamentos, para o peso das
variáveis: esôfago, rúmen, retículo, abomaso, omaso, intestino grosso, e para os rendimentos
das mesmas vísceras e o rendimento do total de vísceras.
Apenas o intestino delgado (kg) e o peso do total de vísceras (kg) apresentaram
diferença significativa (P<0,05) em função dos tratamentos e variaram de 0,41 a 0,53kg e de
1,38 a 1,64kg, respectivamente. O aumento dos níveis de concentrado na dieta estimulou o
desenvolvimento do intestino delgado. Medeiros et al., (2008) avaliando o efeito do níveis de
concentrado (20; 40; 60 e 80%), sobre os não componentes de carcaça de ovinos Morada
Nova em confinamento, observaram que as dietas com maiores níveis de concentrado,
promoveram um aumento no peso dessa víscera, como forma de ampliar a área de digestão e
absorção de nutrientes, efeito semelhante ao obtido no presente experimento.
37
Na tabela 4, estão apresentados os valores médios absolutos dos subprodutos e os
rendimentos dos subprodutos em relação ao peso corporal ao abate em função dos níveis de
suplementação.
Tabela 4. Valores médios absolutos dos subprodutos, os depósitos adiposos e o total das
gorduras e os rendimentos dos subprodutos em relação ao peso corporal ao abate
de caprinos Anglonubiana x SPRD terminados em pastagem de Caatinga
recebendo suplementação alimentar durante o período seco.
Variável Níveis de Suplementação CV Significância0,0% 0,5% 1,0% 1,5% (%)
Cabeça (kg) 0,86 0,90 0,88 0,94 13,98 NsPata (kg) 0,54 0,58 0,63 0,64 15,04 NsPele (kg) 1,31 1,30 1,42 1,43 16,34 NsSangue (kg) 0,80 0,83 0,82 0,98 22,87 NsMesentério (kg) 0,12b 0,17ab 0,15ab 0,21a 24,83 0,0068Omento (kg) 0,09b 0,14ab 0,17ab 0,35a 43,91 0,0001Total das Gorduras (kg) 0,31b 0,47ab 0,48ab 0,84a 25,35 0,0001
Rendimentos dos Subprodutos (%)*
Cabeça 4,67a 4,57ab 4,40ab 4,20b 6,95 0,0469Pata 2,96 2,93 3,08 2,86 7,04 NsPele 7,07 6,65 7,00 6,34 8,68 NsSangue 4,41 4,20 4,00 4,36 17,30 NsMesentério 0,70b 0,87b 0,76b 0,94a 22,82 0,0001Omento 0,50b 0,69b 0,83b 1,59a 41,13 0,0001Total das Gorduras 1,67b 2,35b 2,40b 3,73a 21,03 0,0001CV = Coeficiente de variação; Ns = não significativo*em relação ao peso corporal ao abate.Nas linhas, as médias seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey a5% de probabilidade.
Os pesos absolutos da cabeça, pata, pele e sangue e os rendimentos da pata, pele e
sangue não apresentaram diferença significativa (P>0,05) em função dos níveis de
suplementação.
A suplementação proporcionou maiores quantidades de gorduras mesentérica e
omental e variaram de 0,12 a 0,21kg e de 0,09 a 0,35kg, respectivamente. A gordura é um
componente que apresenta maior variação em função do tipo de alimentação. Segundo
Furusho-Garcia et al., (2003), essas deposições de gordura em ovinos tropicais atuam como
reservas energéticas para serem utilizadas durante o período de escassez de alimentos na
38
época da seca. Vale ressaltar que esses tecidos adiposos não têm valorização comercial e não
são utilizados para o consumo humano, exceto parte do omento, quando utilizado na
preparação de algumas iguarias da região Nordeste, até porque apresentam altos valores de
ácidos graxos saturados (SIQUEIRA et al., 2001).
O rendimento da cabeça (%) variou de 4,67 a 4,20%, sendo que a cabeça é uma região
de desenvolvimento intermediário, pois ela cresce com uma velocidade menor em relação as
outras partes do corpo, à medida que os animais aumentam de tamanho. Bezerra et al., (2010)
avaliando os componentes não integrantes da carcaça de cabritos alimentados em pastejo na
Caatinga, encontraram valores para o rendimento da cabeça que variaram de 8,36 a 8,82%,
sendo que esses valores são superiores ao encontrado no presente trabalho.
Na Tabela 5, estão expostos os valores absolutos dos constituintes da “buchada” e os
seus rendimentos em função dos níveis de suplementação.
Tabela 5. Média dos pesos absolutos dos constituintes da “buchada” e do rendimento de
“buchada” de caprinos mestiços Anglonubiana x SPRD terminados em pastagem
de caatinga recebendo suplementação alimentar durante o período seco
VariávelNíveis de Suplementação CV Significância
0,0% 0,5% 1,0% 1,5% (%)Buchada (kg) 2,63b 2,87b 2,88b 3,52a 13,94 0,0036Rendimento buchada:PVA (%) 14,32 14,59 14,16 15,67 7,28 NsRendimento buchada:PVCZ (%) 18,49 19,11 18,07 19,22 7,51 NsCabeça+patas (kg) 1,41 1,48 1,51 1,58 11,52 NsCabeça+patas:PVA (%) 7,62a 7,52ab 7,50ab 7,08b 4,86 0,0458Cabeça+patas:PCVz (%) 9,87a 9,85a 9,55a 8,68b 5,33 0,0005Buchada – sangue, fígado, rins, pulmões, baço, língua, coração, omento, rúmen, retículo, omaso e intestinodelgado.CV = Coeficiente de variação; Ns = não significativoNas linhas, as médias seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey a 5% deprobabilidade.
A buchada compreende o somatório dos pesos de sangue, fígado, rins, pulmões, baço,
língua, coração, omento, rúmen, retículo, omaso e intestino delgado. Na região metropolitana
do Recife, Pernambuco, e nos municípios próximos, a buchada inclui cabeça e patas
(SANTOS et al., 2005).
Os rendimentos da “buchada”, tanto para peso vivo ao abate, como para peso do corpo
vazio, não apresentaram diferença significativa (P>0,05) em função dos níveis de
suplementação.
39
O peso de “buchada” aumentou significativamente (P<0,05) em função do nível de
suplementação e variou de 2,63 a 3,52kg, respectivamente. Portanto, o fígado, coração e os
rins apresentam elevada demanda pelos consumidores da região nordeste, pois além de serem
mais atrativos, e de fácil digestão, proporciona benefícios econômicos para os produtores
gerando aumento da lucratividade da produção e são mais comercializados do que o pulmão,
traquéia, língua e outros. Para Costa et al. (2003) o aproveitamento dos órgãos e vísceras
caprinas na elaboração de produtos como a “buchada”, prato típico da culinária nordestina,
representa uma importante alternativa econômica na utilização destes componentes
comestíveis, visto que os mercados encontram-se cada vez mais competitivos tornando-se
necessário o aproveitamento das vísceras e dos subprodutos que apresentam um significativo
valor cultural, pois refletem na tradição e no modo particular de preparo dessa iguaria
regional.
O valor obtido pelos não componentes de carcaça podem ser utilizados para cobrir as
despesas no processo de abate, e consequentemente, formar uma margem de lucro para os
produtores. Visto que, os produtores sempre receberam valores referentes apenas para a
carcaça, não sendo remunerado pelos não componentes de carcaça no momento do abate. O
preço médio da buchada comercializado no estado de Pernambuco é de R$ 3,50/kg, sendo que
após o processamento (limpeza, lavagem e pré-cozimento das vísceras) e elaboração do prato
típico o valor total pode chegar a R$ 9,50.
O rendimento da buchada representa em média 14,20% do peso vivo ao abate, sendo
que se essas vísceras forem utilizadas para elaboração de pratos típicos, podem agregar valor
á unidade de produção, podendo alcançar valores próximos ao da carne. Segundo Silva
Sobrinho (2001) comenta que essa comercialização apresenta fonte adicional de renda, que
pode contribuir com parte das despesas no processo de abate.
40
6. Conclusão
A suplementação de caprinos mestiços da raça Anglonubiana terminados em pastagem
de Caatinga durante o período seco possibilitou maiores pesos absolutos para órgãos, vísceras,
subprodutos e constituintes da “buchada”.
A utilização das vísceras comestíveis no preparo de pratos como a “buchada” pode ser
uma excelente alternativa econômica, pois agrega valor e aumenta a lucratividade da
produção gerando renda adicional para o produtor rural.
41
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