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História, Tempo e Media Francisco Rui Cádima * As formas de compreensão e de explicação típicas do trabalho histórico podem, no fim de contas, ter muito menos de comum com os modelos científicos do que anteriormente se supunha. Patrick Gardiner, Teorias da História 1 Trata-se essencialmente neste ensaio de desenvolver uma aproximação epistemoló- gica à história da comunicação e dos media, o que significa que se pretende reflectir em torno de uma teoria do conhecimento, isto é, da construção de uma teoria em que não nos sentimos limitados aos “objectos” de comu- nicação em si, mas antes aos diversos mo- dos de conhecimento desses mesmos objec- tos. No fundo, um quadro de síntese da te- oria da história e da epistemologia da comu- nicação conducentes a uma epistemologia da história dos media e da comunicação. Por outro lado, pretende-se desenvolver uma reflexão em torno da genealogia de es- truturas historico-comunicacionais, das res- pectivas mediações simbólicas e tecnológi- cas e da emergência do campo dos media, reflexão ancorada num modelo de análise fi- liado na descrição intrínseca, arqueológica, dos documentos. Do mesmo modo se fará * Universidade Nova de Lisboa,1999. 1 Patrick Gardiner, Prefácio do antologista para a edição portuguesa de Teorias da História, F. C. G., Lisboa, 1984, p. XXXVIII. a análise de contextos, prácticas, regularida- des, arquivos, e das condições de produção histórica do real comunicacional e da lei que orienta e suporta o aparecimento de enunci- ados como acontecimentos ou sistemas sin- gulares. Na abordagem dos diferentes tempos his- tóricos, procurar-se-á problematizar a emer- gência de campos de mediação, designada- mente a partir da interpretação das grandes mutações e na configuração das diferentes estruturas comunicacionais, tecnológicas e simbólicas. Nele se procurará, também, re- pensar as diferentes contribuições proveni- entes do âmbito da teoria da história, com re- levância, quer para o trabalho historiográfico no campo dos media, quer para uma crítica da própria história enquanto grande narrativa na encruzilhada de saberes em crise. Em análise estarão quer os macro acon- tecimentos e as grandes estruturas históri- cas, quer os micro fenómenos comunicaci- onais, do fait-divers (como fait d’histoire) aos meta-acontecimentos e à actualidade trá- gica. No estudo dos diferentes tempos histó- ricos procurar-se-á problematizar o sentido da emergência - o sentido da história - de di- ferentes universos comunicacionais e respec- tivos campos mediáticos, a partir essencial- mente da interpretação das grandes mutações observáveis nas linhas de fractura e na con- figuração das diferentes estruturas comuni-

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História, Tempo eMedia

Francisco Rui Cádima∗

As formas de compreensão e de explicaçãotípicas do trabalho histórico podem, no fimde contas, ter muito menos de comum com

os modelos científicos do que anteriormentese supunha.

Patrick Gardiner,Teorias da História1

Trata-se essencialmente neste ensaio dedesenvolver uma aproximação epistemoló-gica à história da comunicação e dos media,o que significa que se pretende reflectir emtorno de uma teoria do conhecimento, isto é,da construção de uma teoria em que não nossentimos limitados aos “objectos” de comu-nicação em si, mas antes aos diversos mo-dos de conhecimento desses mesmos objec-tos. No fundo, um quadro de síntese da te-oria da história e da epistemologia da comu-nicação conducentes a uma epistemologia dahistória dos media e da comunicação.

Por outro lado, pretende-se desenvolveruma reflexão em torno da genealogia de es-truturas historico-comunicacionais, das res-pectivas mediações simbólicas e tecnológi-cas e da emergência do campo dos media,reflexão ancorada num modelo de análise fi-liado na descrição intrínseca, arqueológica,dos documentos. Do mesmo modo se fará

∗Universidade Nova de Lisboa,1999.1Patrick Gardiner, Prefácio do antologista para a

edição portuguesa de Teorias da História, F. C. G.,Lisboa, 1984, p. XXXVIII.

a análise de contextos, prácticas, regularida-des, arquivos, e das condições de produçãohistórica do real comunicacional e da lei queorienta e suporta o aparecimento de enunci-ados como acontecimentos ou sistemas sin-gulares.

Na abordagem dos diferentes tempos his-tóricos, procurar-se-á problematizar a emer-gência de campos de mediação, designada-mente a partir da interpretação das grandesmutações e na configuração das diferentesestruturas comunicacionais, tecnológicas esimbólicas. Nele se procurará, também, re-pensar as diferentes contribuições proveni-entes do âmbito da teoria da história, com re-levância, quer para o trabalho historiográficono campo dos media, quer para uma críticada própria história enquanto grande narrativana encruzilhada de saberes em crise.

Em análise estarão quer os macro acon-tecimentos e as grandes estruturas históri-cas, quer os micro fenómenos comunicaci-onais, do fait-divers (como fait d’histoire)aos meta-acontecimentos e à actualidade trá-gica. No estudo dos diferentes tempos histó-ricos procurar-se-á problematizar o sentidoda emergência - o sentido da história - de di-ferentes universos comunicacionais e respec-tivos campos mediáticos, a partir essencial-mente da interpretação das grandes mutaçõesobserváveis nas linhas de fractura e na con-figuração das diferentes estruturas comuni-

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cacionais e culturais enquadradas, quer pelaperiodização clássica da história geral, querpela sua reconfiguração a partir da emergên-cia do paradigma historico-comunicacional.

Colocar-se-á então ao historiador o pro-blema das condições de produção histórica- de um quadro legal, de um discurso, ou sa-ber, de um relato événementielle, por exem-plo. É através do trabalho arqueológico doscontextos, discursos e condições de possi-bilidade histórica, que se chegará à descri-ção intrínseca desses documentos, das for-mações discursivas em que se inserem, pro-curando as regularidades que se enunciam, afigura que se forma, a lei da raridade do seuacervo. Importará pois, em definitivo, traba-lhar o campo das excisões que nos apelam àdescoberta da lei do sistema que orientou oaparecimento de enunciados como aconteci-mentos singulares, produzindo dessa formaaquilo que é lícito chamar de real ou, pelomenos, as formas e o conteúdo da visibili-dade desse real mediatizado.

Emergirá, nestas circuntâncias, um me-dium ou um acontecimento-monumento,configurado como produto de um contextohistorico-cultural que lhe deu corpo segundoas relações de forças que aí detinham o po-der e também em função das formações não-discursivas então estabelecidas, das condi-ções de enunciação e contextos criados, dosefeitos assegurados por uma nova prosa domundo que é, finalmente, uma nova ordemremitificadora do mundo.

Perante o conjunto de aporias explicita-das no âmbito da epistemologia e da teoriada história, a condição de possibilidade deuma história da comunicação, em particular,e apesar dos argumentos anti-narrativistas,resultará da confluência entre uma práticadisciplinar que se pretende cada vez mais ri-

gorosa, cada vez mais científica, e uma artenarrativa.

Pela impossibilidade de reificação do real,pela dificuldade de voltar ao social quandoa realidade de que se fala é já discurso, pelafalência da noção de documento, de prova,e inclusivamente pela falência da noção detestemunho, isto é, fundamentalmente, pelapossibilidade de formas opostas de argumen-tação justificarem, pela razão e pela vali-dade dos seus enunciados, um mesmo pro-blema, verifica-se assim, também, a falênciadas modalidades de explicação/explicitaçãodo real.

A questão é que nas ciências humanasse manipulam conceitos - de poder, de dis-curso, de classe, de legitimidade -, concei-tos mais ou menos subtis, que, de facto, doponto de vista da estabilização do estadomorfológico das ciências humanas, não sãoainda susceptíveis de uma definição intrín-seca. Há, enfim, a asserção derridiana quedefende não haver um termo que exprima sa-tisfatoriamente uma concepção, há tambéma questão das “manipulações terminológicasque Habermas refere em A Ciência e a Téc-nica como Ideologia.2 Ambas concorrem,por assim dizer, para a necessária dessacra-lização do estado morfológico das humanís-ticas, sendo esta uma questão de fundo, quenos previne, por assim dizer, relativamente àaporia essencial das “grandes narrativas”.

Mas vejamos através de alguns exemploscomo se foi realizando a história atravésdas suas múltiplas concretizações discursi-vas, procurando de alguma forma estabe-lecer um brevíssimo percurso da história-crónica à história-ciência.

2Jürgen Habermas, La Technique et la Sciencecomme Idéologie, Denoel, Paris, 1973.

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Da cultural oral ficava-nos fundamental-mente a referência a um complexo pro-cesso enunciativo conhecido genericamentepor Poemas Homéricos. Sabemos que ape-sar das sucessivas interpolações e reconstru-ções generativas - sensivelmente do séculoXX a.C. ao século VI a.C. -, os cantos da me-mória dos heróis pelos aedos homéricos ouos relatos orais, mais tarde estabilizados nosPoemas, nos fornecem informações media-das, quer de Micenas e dos Minóicos, quermesmo das invasões dóricas. Por exemplo,a historicidade da guerra de Tróia é verosí-mil, na Ilíada, ao tempo do “jovem” Homero,sendo as aventuras de Ulisses relatadas naOdisseia.

É sabido que para Aristóteles a origemda tragédia estava já contida na estruturanarrativa dos Poemas. Para outros autores,fora mesmo uma verdadeira enciclopédia domundo antigo, ou inclusive um manual de fi-losofia. “A sua influência sobre toda a cul-tura grega, donde passa à latina, e desta a to-das as culturas ocidentais dela derivadas, éum facto (. . . ). São, por exemplo, o modelo,directo ou indirecto, de toda a poesia épicasubsequente e influem consideravelmente nalírica (. . . )”. 3

Se os Poemas eram fundamentalmente umdos raros sistemas enunciativos de “reifica-ção” de uma história mnemónica, oralizada,já na cultura alfabética, o exemplo das Histó-rias de Heródoto, dito “o pai da História”, re-metiam para uma mnemotécnica, que, comose sabe, designadamente desde o Fedro dePlatão, conduzia os homens aos “exterior desi”, mas no caso de Heródoto, nas Histórias

3Maria Helena da Rocha Pereira, Estudos de His-tória da Cultura Clássica, I Vol., Cultura Grega, 4a

edição, FCG, Lisboa, 1976, pp. 121-122.

e nos Inquéritos, nem por isso deixava de sermenos pertinente a utilização desse novo re-curso: “Eis a exposição do inquérito (histo-riê) empreendido por Heródoto de Tourioi,para impedir que as acções cometidas pe-los homens se apaguem da memória com otempo, e que grandes e admiráveis feitos, le-vados a cabo tanto do lado dos Gregos, comodos lado dos bárbaros, cessem de ser nome-ados”.4 Mas os gregos tiveram outros gran-des historiadores, ou “homens-memória” - éo caso de Tucídides, que foi o primeiro asubstituir a interpretação mitológica tradici-onal da história por um novo tipo de pensa-mento histórico. “Il se peut, que l’absence dela forme fabulatoire de ma narration puissesembler moins plaisante à l’oreille; mais cer-tains désirent avoir une claire vision tant desévénements qui sont advenus que de ceuxqui, selon toute probabilité humaine, arrive-ront de la même façon ou tout au moins defaçon similaire; que pour ceux-là mon his-toire soit utile m’est suffisant. Et bien sûrelle a été composée non pas pour être en-tendue aujourd’hui, mais comme une posses-sion éternelle”. 5 Para Tucídides, a histó-ria devia ser apenas “verdadeira” - ela é pes-quisa da verdade, simultaneamente procurae inquérito judiciário. Recusa os prazeres de“ouvido”, considerando que a história se dácomo uma aquisição “para sempre”.

O facto é que já Aristóteles referia que osaber autêntico tinha a haver com o univer-sal, com as razões das coisas, e não com

4Ver “Heródoto”, de F. Hartog, Dictionnaire desSciences Historiques, de André Burguière, PUF, Pa-ris, 1986.

5Tucídides, La Guerre du Péloponnèse, L. I, chap.XXII, Paris, Les Belles Lettres, 1968-1975, sg., a tra-dução de Ernst Cassirer, in L’Idée de l’Histoire, Cerf,Paris, 1988.

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o acidental, o particular ou simples factos.Recorde-se a sua Poética:6 “L’historien etle poète, ne diffèrent pas par le fait qu’ilsfont leur récit l’un en vers, l’autre en prose.On aurait pu mettre l’oeuvre de Hérodote envers et elle ne serait pas moins de l’histoireen vers qu’en prose. Ils se distinguent aucontraire en ce que l’un raconte les événe-ments qui sont arrivés, l’autre des événe-ments qui pourraient arriver. Aussi la poésieest-elle plus philisophique et d’un caractèreplus élevé que l’histoire car la poésie raconteplutôt le géneral, l’histoire le particulier”.

Santo Agostinho, será, por assim dizer, oprimeiro fundador de uma filosofia da histó-ria, embora no seu caso, os neo-platonismosse tenham convertido em redenção, em “re-velação cristã”, em simbolismo teológico an-corado na dualidade tempo vs. eternidade.

A emergência da história-crónica - e so-bretudo dos textos que mais se aproxi-mam de uma história moderna, como su-cede no caso de Fernão Lopes,7 mais do quelegitimar-se pela inviabilização do apaga-mento da memória, vem fundamentar os seuspressupostos na dualidade verdadeiro/falso,sendo certo que ele é também o cronista quenão abdica desde logo da sua independên-

6Aristóteles, La Poétique, Cap. 9, 51a/b, traduçãoe notas de Roselyne Dupont-Roc e Jean Lallot, Éditi-ons du Seuil, 1980.

7Embora Oliveira Marques considere, por exem-plo, que a crónica de D. João I vale mais como ro-mance histórico de alto nível literário, concede que ocronista “combinou o inevitável louvor aos vencedo-res com um relato franco dos acontecimentos e dosseres humanos, que o tornou espantosamente ’mo-derno’ e científico” - História de Portugal, Vol. I,p. 277. Ainda sobre esta questão e sobre a história-crónica ver o estudo de Joaquim Barradas de Carva-lho, Da História-Crónica à História-Ciência, LivrosHorizonte, Lisboa, 1976.

cia histórica e literária, comprovando factose documentos, designadamente com a con-frontação directa de outras fontes e crónicasanteriores . Recorde-se, apesar de tudo, o“programa” da Crónica de D. João I:8 “Masmentira em este volume é muito afastada danossa vontade”, ou o “não certificar cousasalvo de muitos aprovada”, referida designa-damente por Borges Coelho no seu prólogo àRevolução de 1383 . . .9 Recorde-se tambémo próprio prólogo à Crónica de D. João I:“Se outros per ventuira em esta cronica bus-cam fremosura e novidade de palavras e noma certidom das estorias, desprazer-lhe-á denosso razoado, muito ligeiro a eles d’ouvir, enom sem gram trabalho a nós de ordenar”.10

Será interessante ver também que nestacrónica medieval emergente, as fontes exte-riores de Fernão Lopes, para além das portu-guesas, referidas por múltiplos autores - deAlexandre Herculano11 a Aubrey Bell12 vãodesde os cronistas franceses Villehardouin,Jean de Joinville, Jean Lebel e Froissart(Sécs XI-XIV) aos italianos, nomeadamente- Compagni, Guichardini, entre outros, pas-sando pelos cronistas de Castela, como Lu-cas de Tuy, Rodrigo de Toledo, Ayala, o quesignifica estarmos perante um acervo discur-sivo sistemático na Europa medieval. Masem termos de fontes intertextuais do grande

8Crónica de D. João I de Fernão Lopes, Apresen-tação crítica, selecção e notas de Teresa Amado, SearaNova, Editorial Comunicação, Lisboa, 1980.

9António Borges Coelho, Prólogo de A Revoluçãode 1383, Seara Nova, Lisboa, 1977.

10Crónica de D. João I de Fernão Lopes, op. cit., p.78.

11Alexandre Herculano, Opúsculos, Tomo V, Ber-trand, Lisboa, s/d.

12 Aubrey Bell, Fernão Lopes, edições Imprensa daUniversidade, Coimbra, 1931.

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cronista medieval, Peter Russel,13 por exem-plo, remonta inclusivamente a plausibilidadedessas fontes a Aristóteles, Tito Lívio, Oví-dio e Santo Agostinho.

Fernão Lopes foi, sem dúvida, mais doque o “pai” da historiografia portuguesa, “oprimeiro dos historiadores modernos”, naexpressão de Peter Russel, o que teria sidoconseguido com base não só na aplicação deum quadro de regras metodológicas rigoro-sas (Borges Coelho), como ainda por se tersuportado também no estudo da teoria e dométodo da história baseados na teoria aristo-télica de causa e efeito (Peter Russel). Masna opinião de outros foi também o primeiro“escritor em português”.14

Aquilo a que habitualmente se chama uma“filosofia da história” aparece pela primeiravez com Hegel. Neste caso, ao contrário deSanto Agostinho, razão e fé pertencem a umsistema integrado, ou seja, ao saber, à possi-bilidade de conhecer, à comprensão intelec-tual, evoluindo assim da interpretação teoló-gica para a interpretação lógica. Spengler,que de alguma maneira sofre a influênciaclara do sistema hegeliano, nomeadamenteem O Declíneo do Ocidente,15 surge comnovas propostas, desafiando modelos cien-tíficos e lógicos. Para Spengler, o desejode escrever a história cientificamente conti-nha uma contradição de fundo, na medidaem que, segundo ele, a natureza deveria sercaptada cientificamente, e a história poeti-

13Peter Russel, As fontes de Fernão Lopes, Coim-bra, 1941.

14Ver a apresentação crítica de Teresa Amado daCrónica de D. João I de Fernão Lopes, op. cit., p. 20.

15Oswald Spengler, Le Déclin de l’Occident - Es-quisse d’une morphologie de l’histoire universelle,Éditions Gallimard, 1978.

camente. Cassirer,16 reconhecendo essa di-mensão “essencial” da história, - “l’historienne fait pas que raconter mais il reconstruit lepassé; il lui insuffle une nouvelle vie”, con-sidera que sem uma hermenêutica histórica,sem a arte da interpretação contida na histó-ria, a vida humana seria algo de muito po-bre”.

A aproximação à verdade - se não mesmoa reposição da verdade como totalidade -, éassim um dado presente em todo este per-curso de narrativização da história e encon-tra o seu apogeu, mais para além da história-crónica, precisamente na afirmação de posi-tivismos e historicismos. Da história trans-cendental de Bossuet,17 no século XVII, àhistoire-bataille de Fustel de Coulanges noséculo XIX, consagra-se todo um sistema dereferência a uma história total, inexpugná-vel. O historicismo alemão, por exemplo, deLeopold von Ranke e Simmel, consideravanão haver outra realidade se não a história,sendo o seu objectivo, dar os acontecimentosdo passado “como eles na realidade se pas-saram”. Procurava a eliminação do erro peloexercício da então chamada crítica históricamas também pela confiança na intuição. Ahistória era interpretada como uma históriatotal, inquestionável, depositária da verdadeabsoluta.

Ainda no início do século XIX, a Cam-bridge Modern History considerava que otempo da história definitiva estava próximo.

16Ernst Cassirer, “Séminaire sur la philosophie del’Histoire”, L’Idée de L’Histoire, Les Éditions duCerf, Paris, 1988, p. 85.

17Veja-se, por exemplo, de Jacques-Bénigne Bos-suet, o seu Discours sur l’histoire universelle, Flam-marion, Paris, 1966, designadamente o capítulo final,“(. . . ) ou l’on montre qu’il faut tout rapporter a uneprovidence”, p. 427.

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Com o conhecimento dos grandes arquivos,com a abertura dos livros de chancelarias eu-ropeias, toda a informação estaria ao alcancedo historiador.

Os primeiros sinais evidentes de mudançanesta concepção de história emergem sobre-tudo a partir da Escola dos Annales, com Lu-cien Febvre e Marc Bloch, que publicam apartir de 1929 os Annales d’Histoire Écono-mique et Social É o tempo da interdisciplina-riedade e da procura do rigor crítico e cientí-fico, feito na transversalidade entre a geogra-fia, a linguística, a psicologia, a matemática.É o tempo, portanto, da emergência das ciên-cias “auxiliares” da história, como por vezesse considerava.

Raymond Aron, em 1936, coloca clara-mente a questão: não existe uma realidadehistórica elaborada antes da ciência, passívelde ser reproduzida com fidelidade. A reali-dade histórica, por que é humana, é equívocae inesgotável: “Je me confonds avec mondevenir comme l’ humanité avec son his-toire”.18 Karl Popper, em A Miséria do His-toricismo,19 um texto publicado inicialmenteem Milão, em 1945, alertava para a negaçãodos ciclos, das repetições, da predicção, daprevisibilidade do futuro, fazendo notar quea crença no destino histórico era pura supers-tição. Do seu ponto de vista, a história só po-dia ser teorética, o que significava uma novaoposição aos traços indisfarçáveis de histori-cismo existentes nas mais modernas teorias

18Raymond Aron, Introduction à la philosophie del’histoire - Essai sur les limites de l’objectivité histo-rique, Éditions Gallimard, Paris, 1978, p. 12.

19Karl Popper, A Miséria do Historicismo, Cultrix,São Paulo, 1980. Aliás, o livro é dedicado à memó-ria de homens e mulheres que “tombaram vítimas dacrença fascista e comunista em Inexoráveis Leis deDestino Histórico”.

históricas: “Quase diríamos que os histori-cistas procuram compensar-se da perda deum mundo imutável apegando-se à crença deque é possível antecipar a mutação, pois queesta é governada por uma lei imutável”.20

No caso britânico, a New Cambridge Mo-dern History, nos anos 50, vem relembrar,através de sir George Clark, que o juízo his-tórico implica um testemunho pessoal e umponto de vista subjectivo, não existindo ver-dade objectiva em história. E, em França, apartir do início dos anos 60, é Braudel quelidera a escola dos Annales. Tempo geográ-fico, tempo social e tempo individual mar-cam novas categorias históricas: muito longaduração, longa duração e tempo curto. Otempo individual, “curto”, foi também consi-derado por Fernand Braudel como o “tempodo jornalista”. E nesta identificação estátambém uma crítica à noção de aconteci-mento - a oscilação curta, rápida, nervosa,que retoma a histoire-événementielle. Brau-del prefere as tendências seculares, as estru-turas históricas de longa duração. “A his-tória, dialéctica da durée, não é, à sua ma-neira, explicação do social em toda a sua re-alidade?”21 Da mesma forma, Paul Veyne,22

considera que o événement é a variável, osubproduto da construção do modelo invari-ante - “só interessa a determinação da invari-ante”.

De alguma meneira, a crítica destas con-cepções pode ser estruturada com referênciaa vários autores. Por um lado, pela insusten-tável estabilidade das estruturas (Foucault);por outro lado, pela recuperação da noção de

20Popper, op. cit., p. 125.21Fernand Braudel, Écrits sur l’Histoire, Flamma-

rion, Paris, 1969, p. 61.22Paul Veyne, “L’inventaire des différences”, lição

proferida no Collège de France, 1976.

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acontecimento (Pierre Nora) e ainda pela no-meação da história enquanto ficção, na pers-pectiva de Michel de Certeau e de muitos ou-tros autores, como veremos - e não enquanto“explicação do social”.

Daí a invocação da História Nova. Pi-erre Nora escreve por esse altura o texto “Oretorno do acontecimento”23, onde defendeque os media fazem o acontecimento, sendoeste “o maravilhoso das sociedades demo-cráticas”: os media “dão ao discurso, à de-claração, à conferência de imprensa a soleneeficácia do gesto irreversível”, e acrescen-tava: “donde esta impressão de jogo maisverdadeiro do que a realidade, de festa quea sociedade dá a si mesma através do grandeacontecimento”. Mas não só: os própriosmass media surgem então como os detento-res do monopólio da história, uma vez quea actualidade, deste ponto de vista, não eramais do que o culminar de um novo fenó-meno - o acontecimento, conceito por suavez manipulado pelos historiadores do “ins-tante”, ou pelos técnicos do saber prático.A própria história das mentalidades cruza-se necessariamente com a questão do acon-tecimento numa vertigem crescente, no di-zer de Alain Boureau.24 Mas a grande feridanarcísica da emergência dos media neste de-bate é porventura a questão da mediatizaçãodas representações, na medida em que estamediação contextual elimina a possibilidadede uma representação transparente do real,o que implica que esse “real” não seja nada

23Pierre Nora, “O regresso do acontecimento”, Fa-zer História, Vol. I, Bertrand, Lisboa, pp.

24Alain Boureau, “Propositions pour une histoirerestreinte des mentalités”, Annales ESC, nov.-déc.1989, no6, pp. 1491-1504.

mais senão, justamente, o próprio contextode mediação25

Em Braudel, a estabilidade das grandes es-truturas históricas, na longue durée, surgeassim claramente questionada não só poraquilo a que Foucault designou de irrupçãodos acontecimentos, mas também por todoum complexo teórico que reintroduz a ques-tão do fragmentário nas práticas e nas teo-rias da história. É o caso da escola itali-ana, de Ginzburg e da “micro-história”,26 porexemplo, é também o caso de Marc Ferroque considera, nos Annales, o fait-divers,não como um órfão de história, mas antescomo objecto de história privilegiado, comouma necessidade da história,27 mesmo ape-sar de, enquanto facto excepcional, ou curio-sidade, se poder considerá-lo um événementsans événement, uma informação total, ima-nente, que contém em si todo o seu sabersendo percebido de igual modo por todos.Não reenvia para nada mais a não ser para simesmo. Tudo é dado no fait-divers. Aliás,trata-se de uma questão emergente funda-mentalmente no quadro do desenvolvimentodo próprio sistema dos media: “son retouren force, aujourd’hui, dans les médias e dansles sciences sociales, s’inscrit dans le mêmemouvement: valorisation du privé, recher-che de l’intime, fascination du secret, goût

25Sobre esta questão ver, por exemplo, o texto deMarike Finlay Pelinski, “Pour une épistémologie dela communication: au-delà de la représentation et versla pratique”, Communication/Information, Vol. V. no

2/3 pp. 3-34.26Ver o “Manifesto” de Carlo Ginzburg e Carlo

Poni, Le Débat, no 17, 1981.27Marc Ferro, “Fait divers, fait d’histoire”, Annales

ESC, Juillet-Aout 1983, pp. 821-826. Sobre a questãoda estrutura do fait divers, ver nomeadamente Anna-les o artigo de Roland Barthes, “Structure du fait di-vers”, Essais Critiques, Paris Éditions du Seuil, 1964.

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pour l’autobiographie, le détail, triomphe dusujet”.28 Questões, aliás, já referidas ante-riormente pelo próprio Aron no quadro deum novo conceito de história baseado so-bre o conceito de événements: “accidents,hasards ou rencontres, qui ne se produisentplutôt qu’ils ne sont et qui échappent défini-tivement à la raison”.29

Acontecimento e documento são assimdois conceitos inultrapassáveis na redefini-ção do quadro conceptual da epistemologiada história. Mas a questão fundamental já ahavia colocado Michel Foucault nesta altura,mais concretamente no final dos anos 60,através dos procedimentos metodológicos eda argumentação epistemológica expostos naArqueologia do Saber.30 É neste texto queFoucault, melhor que qualquer outro, contri-bui definitivamente, do nosso ponto de vista,para a recusa do velho dogma da continui-dade e da totalidade históricas. Mas nãosó. Através deste novo discurso do mé-todo histórico, os documentos deixam dese poder subordinar a um simples agencia-mento clássico de crítica interna e externa,para passarem a ser descritos, decompos-tos e redistribuídos no seu interior: “Elle(l’histoire) l’organise, le découpe, le distri-bue, l’ordonne, le répartit en niveaux, établitdes séries, distingue ce qui est pertinent de cequi ne l’est pas, repère des éléments, définitdes unités, décrit des relations”.31 Acima detudo, Foucault coloca o problema ao nível deum inventário de esquecimentos, o que acabapor conferir ao seu discurso a actualidade da

28Michelle Perrot, “Fait divers et histoire au XIXe.Siècle”, Annales, Juillet-Aout, 1983, pp. 917.

29Raymond Aron, op. cit., p. 20.30Michel Foucault, L’Archéologie du Savoir, Gal-

limard, Paris, 1969.31Foucault, op. cit., p. 14.

crítica da história do presente e sobretudo dotempo “curto” do jornalista.

A massa documental, os acervos discur-sivos, são seguidos por Foucault não comoum acumular de textos, mas enquanto práti-cas, nas sua regras intrínsecas, na sua espe-cificidade própria, através de uma complexaanálise das modalidades de enunciação e doscontextos, estabelecendo a lei dos sistemas,as regras dessas formações discursivas. Esseconjunto de “práticas”, são interpretados emregra como “traços verbais”, como forma-ções recorrentes e homogéneas constituindo“o invariante comum” de um conjunto de tra-ços.

No campo da epistemologia da história, edesignadmanete na perspectiva de uma epis-temologia da história dos media torna-se es-sencial reconhecer que é o modo de questi-onamento do documento, é o trabalho no ar-quivo e a sua lei, que nos podem conduzira uma outra forma de apropriação do real.No fundo, tal como defendia Legoff, o do-cumento é “o produto da sociedade que o fa-bricou segundo as relações de forças que aídetinham o poder”32

Aliás, é muito clara a passagem em queFoucault expõe, de forma cabal, o cerne daquestão:33 “(. . . ) De nos jours, l’histoire,c’est ce qui transforme les documents en mo-numents, et qui, là où on déchiffrait des tra-ces laissées par les hommes, là où on es-sayait de reconnaître en creux ce qu’ils avai-ent été, déploie une masse d’éléments qu’ils’agit d’isoler, de grouper, de rendre perti-nents, de mettre en relations, de constituer enensembles (...) L’histoire de nos jours, tend

32Jacques Legoff, “Documento-Monumento”, En-ciclopédia Einaudi, Vol. 1, Memória-História, p. 102,Lisboa, IN-CM, 1984.

33Foucault, op. cit., p. 131.

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à l’archéologie, - à la description intrinsèquedu monument” .

Para além da perspectiva foucaultiana,importa considerar outras propostas para aconstituição de uma teoria e de um saber his-tórico. No quadro epistemológico e concep-tual de uma teoria da história dos media te-rão ainda que se enquadrar novas temáticascomo, por exemplo, a questão da formaçãohistórica e o conceito de esfera pública bur-guesa no âmbito de uma teoria crítica da so-ciedade, não só porque - questão polémica, apensar sobretudo em Foucault, Artaud, Cla-vel, etc., -, nas sociedades das Luzes, noscenáculos e nas esferas francs-maçons, porexemplo, se podia exercer os princípios daigualdade política - e, também, de exclusão-, de uma sociedade futura,34 mas porque,concordando sobretudo com Louis Quéré,designadamente em Des miroirs équivoques- Aux origines de la communication mo-derne,35 onde se procura complementar insu-ficiências metodológicas, “impotências” daspróprias ciências sociais, nomeadamente noquadro da crise das grandes narrativas e tam-bém perante a emergência de uma nova ques-tão da contemporaneidade - a questão comu-nicaccional .

E essa complementaridade, Quéréentende-a como um projecto epistemológicoalternativo e fá-la sobretudo na perspec-tiva da análise das mediações técnicase simbólicas do campo comunicacional,recorrendo ao que designa de uma teoriado espaço público que permita a reconstru-

34É o caso de Jürgen Habermas. Veja-se, nomeada-mente, “’L’Espace Public’, 30 ans après”, Quaderni,no 18, automne 1992, pp. 161-191

35Louis Quéré, Des miroirs équivoques - Aux ori-gines de la communication moderne, Aubier Mon-taigne, Paris, 1982.

ção dos objectos deslocados pela análiseempírico-analítica, pelos sociologismos, ehistoricismos, elucidando prioritariamente odiscurso interpretativo e normativo sobre osocial. A proposta de Quéré vai, no entanto,mais longe, procurando “elucidar o processode instituição ou de especificação histórico-cultural dos suportes da operacionalidade dacomunicação”,36 e, por assim dizer, causase consequências do “programa” fundadorda própria comunicação e dos modelosculturais. Trata-se, em suma, não só de umaanalítica do espaço público, mas, também,de uma preocupação pelas dimensões prag-mática, histórico-cultural e do campo dateoria da recepção.

Na sequência da crise do paradigma clás-sico, uma outra temática surge com enormeimportância vindo reacentuar aquilo que jáhavia ficado claro a partir dos pressupos-tos foucaultianos na Arqueologia do Saber.Trata-se da questão do fim da dicotomia ré-cit de fiction/récit historique, aliás questãoque se enquadra na hermenêutica ricoeuri-ana desde finais dos anos 60 também, no-meadamnete desde que Paul Ricoeur publi-cou a sua obra sobre O Conflito das Interpre-tações,37 onde anunciava, de certo modo, aruptura com o estruturalismo. Aqui, a ques-tão essencial é a questão do contexto. ParaRicoeur, a linguagem não é somente uma lín-gua, susceptível de taxinomia e de semiolo-gia, mas é também um dizer. Na linguagemalguém se dirige a alguém para lhe falar dealguma coisa, o que significa que a lingua-gem contém sempre um sujeito, um mundoe uma audiência.

36Quéré, op. cit., p. 46.37Paul Ricoeur, Le Conflit des Interprétations, Édi-

tions du Seuil, Paris, 1969.

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A questão da narrativa histórica semprepreocupou Ricoeur. No seu livro Histoire etVérité (1955)38 abordava já a crise da histó-ria e do conceito de verdade de um pontode vista hermenêutico. Mais tarde, em AMetáfora Viva (1975)39 considera a metá-fora como o poder através do qual o discursopode reescrever a realidade, de uma forma“suprema”, aliás.

A grande obra de Ricoeur, Temps et Ré-cit,40 aprofunda a questão do acto de narrar ea reciprocidade entre narratividade e tempo-ralidade. Considera a narrativa como a guar-diã do “tempo”, uma vez que a experiênciatemporal apenas pode ser narrada.

Na análise da narratividade, do que se trataé de pensar um “impossível” (precisamente oacto de narrar), preservando a diversidade ir-redutível dos usos de linguagem, enfim, doque se trata é de reunir as formas e as moda-lidades do jogo de narrar, disseminadas emgéneros literários cada vez mais específicos,separados em narrativas com uma pretensãoà verdade, como a história, e em narrativasde ficção.

A unidade funcional deste campo espar-tilhado é o seu carácter temporal. A narra-tiva é uma re-figuração da experiência, que,no fundo, contém já em si própria uma es-trutura pré-narrativa, feita de “histórias” queprocuram ser narradas. A questão é, afinal,a identidade estrutural entre a historiografiae a narrativa de ficção. Daí, no fundo a ne-cessidade de atenuar as diferenças apriorísti-cas de regime narrativo entre ficção e histó-

38Paul Ricoeur, Histoire et Vérité, Éditions duSeuil, Paris, 1955.

39Paul Ricoeur, La Métaphore Vive, Éditions duSeuil, 1975.

40Paul Ricoeur, Temps et Récit, 3 Vols., Éditionsdu Seuil, Paris, 1983-1985.

ria. Tal como Barthes no texto “Le discoursde l’histoire” 41, onde se questiona essa se-paração, essa diferença entre narração histó-rica e géneros como a epopeia, o romance, odrama. . . No fundo, é na permuta entre histó-ria e ficção que a nossa historicidade é levadaà linguagem.

Desta forma, tratando a qualidade tempo-ral da experiência como referente comumda história e da ficção, Ricoeur constituium problema único, a saber, ficção, his-tória e tempo, filiados na muthos aristo-télica, na mise-en-intrigue clássica, na se-lecção/distribuição teleológica dos aconteci-mentos e das acções narradas, tanto para ahistória como para a ficção.

A narrativa é ainda a guardiã do tempo hu-mano e é a história enquanto narrativa quereinscreve o tempo vivido sobre o tempo cós-mico e a memória, cabendo à ficção resolvero que é negligenciado pelo tempo vivido. Omesmo é dizer, se a dimensão mimética daficção conduz ao essencial, a dimensão ficci-onal da história conduz ao possível.

As condições de possibilidade da históriados media são então as condições de possi-bilidade de questionamento dos novos docu-mentos, da sua lei e das condições e contex-tos históricos em que foram enunciados.

41Roland Barthes, Poétique, Février de 1982.

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