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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE ARTES CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS PROFESSOR DR. TASSOS LYCURGO GALVÃO NUNES ALUNO. HERBTON SEVERO CALAFANGE DA SILVA FRANS JANSZOON POST: ESTUDO DA INVENÇÃO E DA INTERTEXTUALIDADE SOBRE O FORTE REIS MAGOS. NATAL/RN 2019

FRANS JANSZOON POST: ESTUDO DA INVENÇÃO E DA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE ARTES

CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS

PROFESSOR DR. TASSOS LYCURGO GALVÃO NUNES

ALUNO. HERBTON SEVERO CALAFANGE DA SILVA

FRANS JANSZOON POST: ESTUDO DA INVENÇÃO E DA

INTERTEXTUALIDADE SOBRE O FORTE REIS MAGOS.

NATAL/RN

2019

HERBTON SEVERO CALAFANGE DA SILVA

FRANS JANSZOON POST: ESTUDO DA INVENÇÃO E DA

INTERTEXTUALIDADE SOBRE O FORTE REIS MAGOS.

Trabalho de conclusão de curso apresentado à universidade

federal do rio grande do norte – UFRN como parte dos

requisitos para obtenção do título de Licenciado em Artes

Visuais.

ORIENTADOR: Tassos Lycurgo Galvão Nunes

NATAL/RN

2019

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de

Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Departamento de Artes – DEART

Silva, Herbton Severo Calafange da.

Frans Janszoon Post : estudo da invenção e da intertextualidade

sobre o Forte Reis Magos / Herbton Severo Calafange da Silva. - 2019.

63 f.: il.

Monografia(licenciatura) - Universidade Federal do Rio Grande do

Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Licenciatura em

Artes Visuais, Natal, 2019.

Orientador: Prof. Tassos Lycurgo Galvão Nunes.

1. Fortaleza dos Reis Magos (Natal, RN). 2. Arte holandesa -

Brasil - História. 3. Post, Frans Jansz, 1612-1680 - Primeira fase,

1637-1644. 4. Intertextualidade. I. Nunes, Tassos Lycurgo Galvão. II.

Título.

RN/UF/BS-DEART CDU 75.047

Elaborado por Ively Barros Almeida - CRB-15/482

HERBTON SEVERO CALAFANGE DA SILVA

Trabalho de conclusão de curso apresentado à universidade

federal do rio grande do norte – UFRN como parte dos

requisitos para obtenção do título de Licenciado em Artes

Visuais.

_______________________________________

Prof. Dr. Tassos Lycurgo Galvão Nunes – Universidade Federal do Rio Grande do Norte –

Orientador.

_______________________________________

Prof. Dr. Vicente Vitoriano Marques Carvalho – Universidade Federal do Rio Grande do

Norte

_______________________________________

Prof. Dr. José Guilherme Santa Rosa – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Dedico este trabalho à minha família, especialmente a minha tia

Francisca Ângela da Silva que tem possibilitado conhecê-la

melhor nos últimos anos, e a minha mãe Tereza Cristina Barata.

Finalizo com a frase de Aristóteles “a arte é a ideia da obra, a

ideia, a ideia que existe sem matéria”.

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, quero agradecer ao Deus Supremo, Onipotente e Trinitário pela iluminação de

abrir meus caminhos para adentrar no Curso de Artes Visuais. Agradeço também,

profundamente ao Professor Vicente Vitoriano Marques Carvalho que ao longo dos anos 2016

a 2019 me favoreceu estudos sobre a História das Artes no Rio Grande do Norte, sem dúvida,

o professor Vicente é uma pessoa dedicada e feliz por ser professor, artista e pesquisador em

Artes Visuais. Ao meu orientador do TCC II, o professor Tassos Lycurgo Galvão Nunes que

tem sido bastante transparente com sua generosidade e testemunho de cristão e de pessoa

humana. Por mim, quero agradecer aos professores e professoras do DEART, particularmente,

ao professor Rogerio Junior Correia Tavares que sempre foi prestativo a ensinar as disciplinas

de Desenho em Computador, e oferecido um excelente dialogo humano; a professora Laurita

Ricardo de Salles que tem sido uma mãe no Curso de Artes Visuais; aos meus colegas e

funcionários terceirizados e públicos que prestaram maiores forças nos momentos difíceis.

RESUMO

O processo artístico está desenvolvido nesta monografia na área da História das Artes sobre

Frans Post, que procura destacar sua pintura do Forte Reis Magos do Rio Grande do Norte,

mas abrange também a região do Nordeste, pois é analisada toda a primeira fase do pintor

entre os anos de 1637 a 1644 do século XVII. Porém o Trabalho de Conclusão de Curso

(TCC) não finaliza somente na descrição das obras de Frans Post, mas também verifica a

relação intertextual da iconografia do Forte Reis Magos desde Frans Post até a

contemporaneidade. A pesquisa na arte holandesa no Brasil deve ser levada em conta duas

dimensões: a primeira o contexto da invasão dos holandeses entre os anos de 1630 a 1655 no

Nordeste; e a segunda a presença dos viajantes entre eles o pintor Frans Post, que teve a

missão de registrar o paisagismo do Novo Mundo. A divisão dos capítulos foi feita pensando

na melhor maneira de apresentar a influência do pintor na arte, ou seu estilo de técnica

lavando em conta a palavra naïf que caracteriza aquele que nunca passou por uma escola de

artes. A procura de investigar se os registros pintados no Nordeste por Frans Post pode ser

considerado uma invenção ou uma criação somente fazendo mais pesquisa sobre esta

problematização de analisar os efeitos de composição e efeito pictórico das obras, mas

refletindo sobre esses aspectos pode-se perceber que nas ultimas fases do pintor as obras

parecem fazer parte de uma recriação das primeiras fases.

Palavras-chave: História das Artes; Forte Reis Magos; Intertextualidade; Primeira fase (1637-

1644); Invenção.

ABSTRACT

This dissertation seeks to understand Frans Post's artistic processes applied on his painting of

the Reis Magos fortress, located at the State of Rio Grande do Norte, Brazil. It's also an Art

History work that analyses Post's first artistic stage - between 1637 and 1644 - 17th Century.

It does not only elaborates a description of Post's work, since this work is also concerned with

the intertextual relations within the Reis Magos fortress' iconography since Post's years until

nowadays. Research on Dutch art in Brazil has to be taken in two dimensions: firstly,

considering the Dutch invasion and occupation of the Northeast of Brazil during the period of

1630 to 1655; secondly, considering the constant presence of the pilgrims - Post being of of

those - that had the mission of register the new word's landscape. The chapters were chosen

with the intent of present the painter's influence in the arts or even his naif style, taking into

consideration that he's never been to a school of arts. This work also intends to investigate

whether Post's artworks on the Brazilian Northeast themes can be considered as a creation in

itself. In order to do so, this work tries to get deeper into the composition effects and into

Post's artwork pictorial effects. This dissertation concludes that Post's latter artistic stages are

to be considered as a recreation of the former stages of his works.

Keywords: History of Arts; Strong Magi; Intertextuality; First phase (1637-1644); Invention.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Retrato de Frans Post..............................................................................11

Figura 2 - Retábulo de Gante....................................................................................21

Figura 3 - A Vigia da Noite......................................................................................23

Figura 4 - Carro de Boi.............................................................................................27

Figura 5- Forte Ceulen..............................................................................................29

Figura 6 - Vista de Itamaracá....................................................................................35

Figura 7 - Carro de Boi.............................................................................................36

Figura 8 – Forte Ceulen.............................................................................................37

Figura 9 – Vista da Cidade Frederica na Paraíba......................................................38

Figura 10 – O Rio São Francisco...............................................................................40

Figura 11 – Porto Calvo.............................................................................................41

Figura 12 – Forte Frederik Hendrik...........................................................................42

Figura 13 – Forte Reis Magos....................................................................................46

Figura 14 – Forte Ceulen............................................................................................47

Figura 15 – Castel Eulen Aen Rio Grande.............................................................................48

Figura 16 – Fluvius Grandis........................................................................................49

Figura 17 – Forte Reis Magos.....................................................................................51

Figura 18 – Forte Reis Magos.....................................................................................52

Figura 19 – Forte Reis Magos.....................................................................................53

Figura 20 – Forte Reis Magos.....................................................................................54

Figura 21 – Forte Reis Magos.....................................................................................55

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.............................................................................................................11

1. CAPÍTULO I: A influência artística de Frans Post na História da Arte holandesa..20

1.1. Arte renascença e a Arte

holandesa.........................................................................................................................20

1.2. O protestantismo na Arte

holandesa.........................................................................................................................22

1.3. Frans Post e sua produção

artística.............................................................................................................................24

2. CAPÍTULO II: Primeira fase (1637-1644) de Frans Post no Nordeste....................32

2.1. A primeira pintura de Frans Post..............................................................................33

2.2. As pinturas de 1638 de Frans Post...........................................................................34

2.3. As últimas pinturas da primeira fase........................................................................38

3. CAPÍTULO III: A intertextualidade da iconografia do Forte Reis Magos a partir

do Frans Post...................................................................................................................42

3.1. Pintura de Post verso a pintura de Thiéry sobre o Forte Reis Magos......................45

3.2. Gravura do Forte Reis Magos..................................................................................47

3.3. Fotografia do Forte Reis Magos...............................................................................51

CONCLUSÃO...............................................................................................................55

REFERÊNCIAS............................................................................................................58

ANEXOS........................................................................................................................60

11

INTRODUÇÃO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) no formato monográfico tem por

objetivo manifestar a contribuição do pintor Frans Post para história da arte, particularmente,

na área artística. O trabalho monográfico está dividido em três capítulos: o primeiro capítulo,

a influência artística de Frans Post na História da Arte holandesa; o segundo capítulo, a

primeira fase (1637-1644) de Frans Post no Nordeste; e o terceiro capítulo, a intertextualidade

da iconografia do Forte Reis Magos a partir de Frans Post. Consequentemente, a partir da

construção dos capítulos tenta-se problematizar duas questões direcionadas para o objetivo

relatado sobre a história da arte em Post, tanto, na região do Nordeste como especificando

diretamente para o Estado do Rio Grande do Norte. A primeira problematização procura

responder o aspecto da invenção na construção artística do pintor a partir da primeira fase que

constitui a produção artística de Post no Nordeste. A segunda problematização averígua a

relação intertextual ou a intertextualidade na iconografia do Forte Reis Magos a partir de

Frans Post.

Fiigura 1 - Retrato de Frans Post.

Detalhe de gravura feita por Frans Hals, em meados da década de 1660.

Segundo Lago e Lago (2009) na biografia de Frans Post como pintor deve ser levada

em conta as quatro fases da sua vida como artista, pois sua trajetória no desenvolvimento na

12

formação artística é considerada complexa de ser analisada, principalmente por ausência de

informação sobre sua vida. No entanto, do que foi possível identificar sobre Frans Post os

autores nos proporciona verificar. O que se sabe sobre Frans Janszoon Post (1612-1680) foi

que ele era filho de Jan Jansz Post e de Francyntie Peters sendo o terceiro filho do casal

nascido na Cidade de Leyden, localizada nos Países Baixos, mas logo que completara dois

anos ficou órfão do seu pai que falecera. Seus irmãos são constituídos por três membros:

Pieter Janszoon Post o mais velho (1608), Anthoni Janszoon Post (1610) e Johanna Janszoon

Post (1614).

Antes da partida para o Brasil, o dado mais relevante da vida de Frans Post é

sua proximidade com o irmão mais velho Pieter (1608-1669), também pintor,

que se tornaria um dos mais famosos arquitetos na Holanda de seu tempo.

Tanto quanto se sabe, a vida de Frans Post fois sempre muito envolvida com

a arquitetura, talvez até mais do que com a pintura, devido, certamente, à

influência de seu irmão Pieter Post. Com seu pai Jan, pintor sobre vidro,

morreu quando Post tinha somente dois anos de idade, sua importância deve

ter sido apenas a de um exemplo distante. Acredita-se que a influência de

maior peso em sua formação tenha sido realmente a de Pieter, quatro anos

mais velho e já membro da guilda de São Lucas de pintores de Haarlem em

1623 (LAGO E LAGO, 2009, p. 23).

A formação artística de Frans Post é atribuída a partir da influência do seu próprio

irmão Pieter Post que foi uns dos melhores arquitetos de Haarlem, na Holanda, pois como não

houve contato direto com seu pai que também teria sido artista, acabou transferido toda sua

referência para seu irmão.

Post é não somente o primeiro pintor de paisagem brasileira, como também o

primeiro paisagista das América. Tem, para a arte brasileira uma posição de

importância fundamental, e permanece hoje como o exemplo mais acabado

do “olhar distante” exercido pelo artista estrangeiro que descobre a surpresa e

o fascínio de um jovem pintor de 24 anos, formado na escola de Haarlem,

habituado aos céus baixos e à topografia plana da Holanda, diante da

natureza exuberante, da nova luz, flora, fauna e raças que descobre ao

desembarcar em Pernambuco (LAGO E LAGO, 2009, p. 09).

Contudo sem querer desvincular ou fugir do foco sobre a produção artística de Frans

Post na primeira fase, é importante destacar a participação histórica dos holandeses no Brasil,

principalmente liderada pelo Conde João Maurício de Nassau (1604-1679). Os holandeses se

13

fizeram presente ao Novo Mundo (no Brasil) a partir da primeira tentativa em terras baianas,

nos anos 1624 sem sucesso, pois a defesa portuguesa estava eficiente à tentativa de invasão.

Porém em Pernambuco, nos anos de 1630, os holandeses conseguiram encontrar abertura para

invadir o Novo Mundo, pois a defesa militar da corte portuguesa já não era tanto eficiente

quanto na Bahia.

A presença holandesa deve ser explicada neste contexto de invasão não apenas como

mais uma nação interessada em exportar da colônia a principal produção econômica do

período do século XVII, o açúcar, mas constatar as contribuições positivas que os holandeses

proporcionaram como fontes históricas a realidade do século XVII no Brasil. O trabalho de

Nassau na nova colônia possibilitou trazer para a viabilidade novos conceitos de arquitetura,

de pintura, de política e de ciência. As produções feitas pelos holandeses podem ser

percebidas por meio dos seus mapas, livros, quadros a óleo, gravuras, novas informações

geográficas, botânicas, zoológicas, étnicas sobre a América e seus novos conhecimentos

científicos. Nesse sentido, é provável que sem a presença dos holandeses no Brasil no século

XVII não teríamos fontes históricas voltadas para ilustrações sobre esse período, pois os

viajantes em sua maioria foram holandeses que descreveram e desenharam o Brasil.

Entretanto, o século XVII deve ser levado em conta o apogeu da Holanda em duas

características: a primeira uma sociedade burguesa mercantil influenciada por ideia calvinista,

e a segunda pela sua grandiosa relação com a arte realista que se tornou um berço para o

estudo do paisagismo, ou o “século de ouro” da Holanda. Os pintores Rembrandt e Hals

representaram esse crescimento da arte na Holanda, e podem ser considerados os pais da arte

holandesa. No entanto, o século XVII não pode ser analisado na História das Artes uma

ruptura integral com a arte da Idade Média, pois o Renascimento ainda possuía vestígios

aprisionados dentro dos limites dos elementos visuais. Por isso o pintor não obtinha nenhuma

reflexão especial, ou garantia de uma posição diferenciada na sociedade.

“(...) o pintor integrava-se sem conflitos na ordem social. Nada está mais

distante dos costumes dessa época do que a revolta do incompreendido ou a

vontade obstinada de originalidade. O artista procura utilizar bem, ou melhor,

uma técnica, que era em suma artesanal, na qual tivera um aprendizado, mas

sobre cuja natureza profunda ele não se interroga. Os pintores formam uma

guilda, a que chegam pelos degraus habituais: foram aprendizes de um mestre

que os fez lavar os pincéis e varrer o ateliê; montaram os cenários para as

telas do mestre; pintaram uma figura acessória no quadro no qual o mestre se

reservava o principal; trabalharam sobre seus esboços. Quando se tornam

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mestres, afinal, vão abastecer um mercado com cotações regidas pelas leis

gerais do comércio. O trabalho não merece, como tal, nem consideração nem

honra particulares” (Zumthor, 1989: 240).

Frans Post viveu apenas sete anos no Novo Mundo, entre 1637 e 1644, mas sua

produção artística no Nordeste somente pode ser analisada entre 1637 a 1640, ou

correspondendo a sua primeira fase. As demais obras que poderiam ser fontes históricas para

a pesquisa artística são consideradas inexistentes, pois não há informações sobre os paradeiros

delas. Porém, Post merece ser considerado essencial na construção do paisagismo do Novo

Mundo não porque fosse holandês, ou porque tivesse sido formado nos moldes tradicionais

dos ateliês. Pelo contrário, sem sua vinda para o Novo Mundo é provável que jamais tivesse

sido conhecido na História das Artes, pois sua carreira artística é desconhecida sem

informações anterior a 1637. Post merece ser contextualizado pela sua criatividade de

misturar sua formação artística da Holanda com as perspectivas.

No entanto, é importante apontar que alguns autores estudiosos sobre a História das

Artes não consideram o pintor Frans Post como um pintor que tenha sido moldado ou

formado realmente sobre a escola de arte da Holanda. Alguns se referem à aparente falta de

antepassados para o estilo de Post no Brasil, como George Gordon, que evoca a dificuldade de

identificar para Post uma filiação artística clara nas obras holandesas anteriores. O

extraordinário naturalismo de Post, que já foi equivocadamente associado a uma postura naïf,

nada tem haver com limitações técnicas, mas antes com um descompromisso com as

convenções vigentes, que surpreende num artista ainda jovem, mas suficientemente maduro

para que já tivesse incorporado muitos dos cacoetes de seus contemporâneos.

No entanto, definindo melhor a construção da monografia em Artes Visuais sobre o

pintor Frans Post é verificado que percorremos detalhadamente sobre cada capítulo definido.

O primeiro capítulo procura se basear na influência da Arte holandesa para o pintor Frans

Post, e consequentemente, a influência que a Arte holandesa possui da Arte do Renascimento.

A construção do primeiro capítulo é uma tendência marcada por uma referência que possa

contribuir para o entendimento do estilo do pintor holandês no Brasil. Esse capítulo não

procura destacar nenhuma hipótese desconhecida que não seja baseada nas referências

pesquisadas, principalmente, almejando dialogar a questão da invenção nas obras de Frans

Post. A invenção é sugerida nessa monografia como maneira refletiva de questionar e

problematizar até que ponto pode-se dizer que as impressões deixadas nas obras desenhadas e

15

pintadas do pintor Frans Post podem nos afirmar que as descrições repassadas foram

impressões reais de uma região nordestina do Novo Mundo.

O segundo capítulo tem por finalidade identificar as sete obras que compõem a

primeira fase de Frans Post no Brasil, especificamente no Nordeste. Este levantamento sobre

as sete obras foi constituída a partir de pesquisa feita nos teóricos em História das Artes,

principalmente, nos autores Lago e Lago (2009). As abordagens foram feitas por leitura dos

livros sobre o pintor Frans Post, e a leitura visual das imagens das sete obras. A única obra

que pode ser analisada no Brasil é a obra do Forte Frederik Hendrik (1640), que está

localizada no Instituto Ricardo Brennand em Recife-PE. Nesse capítulo procura-se verificar

duas dimensões sobre as obras. A primeira a descrição das imagens, os personagens, os

pigmentos utilizados, a técnica de pintura, a composição de cores e as semelhanças da

tonalidade de cores nas imagens. A segunda destaca-se pela análise nas imagens, assim

observando o contexto histórico do período do século XVII, a presença dos holandeses no

Nordeste, as construções arquitetônicas, as etnias presentes nas imagens, os fortes em

destaques, particularmente, o Forte Reis Magos (1637). O segundo capítulo pode-se dizer que

iluminado pelo ensinamento apreendido na disciplina de História das Artes do Curso de Artes

Visuais do departamento de Artes.

O terceiro capítulo investiga-se relacionar a relação intertextual da iconografia do

Forte Reis Magos, desde o desenho, a pintura e a gravura do pintor Frans Post em outras

obras produzidas posteriormente sobre o Forte Reis Magos, que abrangem as seguintes

estruturas: na pintura, na gravura e na fotografia. A intertextualidade é tudo aquilo que está

referenciada em uma base constituída por algum artista que, nesse caso, inicia-se a partir de

Frans Post. A intertextualidade serve como forma de contribuir identificar as possíveis

relações que uma obra possui de outro artista ou de um estilo artístico. Quando nos referimos

à intertextualidade podemos verificar que, geralmente, um artista é influenciado por um estilo

e nas imagens podemos conectar os traços presentes nas obras. Em relação à intertextualidade,

na disciplina de História das Artes do Rio Grande do Norte, observamos que a

intertextualidade pode ser analisada no pintor Newton Navarro, que nas suas imagens

possibilita visualizar sua influência no expressionismo.

As demais fases são compostas das seguintes etapas: a segunda fase (1645-1660) de

Post corresponde aos primeiros 15 anos após seu retorno à Holanda, e se estendeu dos 33 aos

48 anos de idade do pintor. Os quarenta quadros hoje identificados que pertencem a essa

16

período estão certamente entre os melhores da obra de Post, pois representa seu

aperfeiçoamento de técnica de paisagismo. A terceira fase (1661-1669) é considerada um

período curto de nove anos, geralmente, considerado como o mais brilhante e prolífico da

produção do artista, dos 49 aos 57 anos. Sendo 71 quadros ser inseridos nesta terceira fase

elevando a média de menos de três quadros por ano da fase anterior para quase oito nesta

década que provavelmente corresponde ao momento de maior popularidade de sua obra. As

composições tornam-se livres, e Post excuta agora Capricci1 com variados elementos

brasileiros para satisfazer a curiosidade e o gosto pelo exotismo de sua nova clientela, que na

sua maioria nunca esteve no Brasil. A quarta fase (1670-1680) corresponde a ultima fase de

Post em vida coincidindo o período que é considerado como decrescente, dos 58 aos 67 anos

de idade. Nessa temporada, supõe-se que sua saúde e habilidades estivessem diminuídas, e

que problemas de alcoolismo o tenham atormentado.

A contribuição das pinturas que marcam a primeira fase das obras brasileiras algumas

está localizada no Estado de Pernambuco, e outras estão concentradas no museu Louvre na

França. Percebe-se que a pintura de Post centraliza-se no paisagismo, mas coloca em

destaque o pitoresco de pequenas figuras ou personagens que não são muito relevantes nas

obras, assim sendo, uma maneira de oferecer ao leitor visual uma interpretação horizontal do

local, ou como é mais conhecido como paisagismo. Entre as obras destacam-se na primeira

fase: “Vista de Itamaracá”, “Rio São Francisco”, “Engenho com Capela”, “Ruínas da Sé de

Olinda”, “Paisagens das Vizinhanças de Pernambuco”, “Cachoeira de Paulo Afonso”,

“Engenho de Açúcar”, “Paisagem de Pernambuco com Casa Grande” e “O Forte dos Reis

Magos”.

Se fosse possível observar as quase 160 pinturas conhecidas de Post num mesmo

ambiente, se tornaria fácil perceber os artifícios usados para recriar as paisagens brasileiras.

Vários de seus quadros trazem o título Paisagem brasileira ou Paisagem no Brasil. Quase

todos usam o recurso do repoussoir, em telas ou pranchas de tamanho médio, com palmeiras

e vegetação exuberante no primeiro plano, concentradas à esquerda ou à direita. As cenas têm

ao fundo um horizonte relativamente baixo, que faz o céu ocupar cerca de metade da tela: no

plano intermediário trazem construções como casas-grandes, engenhos, igrejas ou ruínas e,

usualmente, um pequeno grupo de escravos, homens e mulheres brancos ou mesmo mestiços,

perto das construções ou num terreiro em frente a elas, conversando, dançando ou em afazeres

1 O termo também é usado para outras obras de arte com um elemento de fantasia.

17

cotidianos. Aparecem ainda, especialmente em seus quadros da terceira fase, animais

tropicais junto à vegetação do primeiro plano.

Com efeito, a fonte de dados desse trabalho é do livro Frans Post (1612-1680): obra

completa, de Pedro e Bia Corrêa do Lago (2009), que permite entender, sobretudo, a

perspectiva da primeira fase de Post no Nordeste, e, possivelmente, o sentido da imagem do

Forte dos Reis Magos, que constitui a única obra de Post na região do Estado do Rio Grande

do Norte. Em tese, Lago e lago (2009) permitem conhecer as possibilidades que o Forte dos

Reis Magos representava naquela época do século XVII. A obra não teria sido concluída pelo

pintor no mesmo dia e nem no mesmo local, isso permite indagar que Frans Post não teria

passado muito tempo no Rio Grande do Norte. O motivo de sua rápida visita ao Estado não é

conhecido, mas o pouco que se sabe da presença de Frans Post se repassa por meio do

paisagismo sobre a margem do Forte.

Contudo, o importante de observar, historicamente, a imagem do Forte dos Reis

Magos de Frans Post está, sobretudo, em contribuir para o estudo da História da Arte local,

particularmente, no período Colonial. O estudo sobre a História da Arte no Rio Grande do

Norte ainda é uma lacuna, principalmente entre os séculos XVI a XIX, pois não há registros

que informem oficialmente pinturas desses séculos. Quando remota a História do Rio grande

do Norte entre os séculos citados, geralmente, se encontra em registros de viajantes que por

algum motivo específico, acabaram desenhando o paisagismo local, mas, além disso, não

permite fazer alguma análise da construção artística na história local.

No período do Brasil Colônia, 1530 a 1808, o país vivia sob a visão da colonização e

da expansão mercantil, porém esse interesse da metrópole de escravizar negros e trazer para

as grandes capitanias do Brasil permitiram desta maneira as invasões de outras nacionalidades

no Brasil, principalmente, na região do Nordeste. Por volta de 1621, à Holanda, interessada

por matéria prima do açúcar, faz sua primeira expedição para invadir o Brasil através da

capitania baiana, mas não houve conquista pela força portuguesa de evitar a invasão. Todavia,

o Brasil nesse período do século XVII vivia também constantes rebeliões entre aldeias

indígenas, sobretudo, os patiguara que viviam na região litoral do Nordeste. Por esse motivo,

muitos soldados que estavam na Bahia temiam vir para o Estado de Pernambuco. Assim

sendo, a cidade de Recife ficou a mercê de resguardar a região de uma possível invasão, mas

por desprimorosa dificuldade de guardas suficientes para combater estrangeiros não puderam

fazer nada. Quando os holandeses resolveram investir numa segunda tentativa de invadir o

18

Brasil através da capitania pernambucana sob o comando de Maurício de Nassau. Entre 1630

a 1654, os holandeses fixaram, quase que totalmente, na região do Nordeste em busca de

plantação açucareira.

O Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) foi desenvolvido sobre a orientação

metodológica demostrada por Lakatos (2001), pois, expressa um caminho para o

entendimento sobre o que se pretende estudar como forma de monografia. A partir do

momento que existe uma pergunta a ser questionada existe uma possibilidade de construir um

TCC, mas para isso é preciso saber como se repassar uma construção de um projeto e

posteriormente de uma escrita acadêmica que, nesse caso, está direcionado para o pintor Frans

Post.

Considerando que a metodologia utilizada neste Trabalho de Conclusão de Curso

refere-se ao processo que caracteriza uma monografia, que possui um interesse de apresentar

o pintor Frans Post como referência de arte na História do Brasil e, especialmente no Estado

do Rio Grande do Norte. Geralmente, a problematização é uma questão simples, mas não

pode se superficial, pois não possibilita construir uma linha direta sobre a temática estudada.

Nesse Caso, Frans Post é uma temática que possibilita um estudo em Artes Visuais, mas

contextualizar sobre a iconografia do Forte Reis Magos, desde Frans Post até um fotógrafo

não é fácil, porém também não é impossível.

Michel de Certeau (1982) demonstra que o papel da história é proporcionar também

memória viva sobre os acontecimentos passados, ou revivendo fatos mortos. Nessa sequência,

transmite que um espaço ou até mesmo um lugar arquitetado pode ser perspectiva de

reconhecimento ou de nova leitura histórica, mas para que um monumento se torne

resinificado para uma sociedade é preciso que saia do esquecimento e do abandono,

possibilitando encontrar seu verdadeiro sentido ou sua origem. O Forte Reis Magos, objeto de

estudo nos faz caminhar sobre os passos desse significado de construção físico como espaço

de fortaleza, e por lado nos permiti revelar um espaço de imagem artística.

A narrativa histórica, como a escrita da história, em uma formulação “tem

uma função simbolizadora, permite a uma sociedade situar-se, dando-lhe na

linguagem um passado e abrindo um espaço próprio para o presente: marcar

um passado é dar lugar à morte, mas também redistribuir o espaço das

possibilidades, determinar negativamente aquilo que está por fazer e,

consequentemente, utilizar a narratividade que enterra os mortos como meio

de estabelecer um lugar para os vivos” (CERTEAU, 1982, p. 107).

19

Simon Schama (1996), “Paisagem e Memória” busca identificar a mitologia da

natureza no Ocidente em suas várias manifestações. Com uma erudição impressionante,

Simon Schama faz uma análise detalhada e profunda das significações atribuídas à paisagem

natural em diversas épocas e lugares, mostrando o que se conserva e o que se perde, na visão

de natureza culturalmente herdada. Shama mesmo sendo um autor direcionado para o campo

da História nos proporciona perceber na construção do Trabalho de Conclusão de Curso em

Artes Visuais que o Forte Reis Magos construído no século XVI tinha uma perspectiva militar

de fortaleza, mas ao longo dos séculos tornou-se um objeto de arte.

20

CAPÍTULO I: A influência artística de Frans Post na História da Arte holandesa.

1.1. Arte renascença e a Arte holandesa.

Primeiramente, este capítulo tem por objetivo apresentar a influência do Renascimento

na pintura holandesa, e posteriormente o interesse de Frans Post nos pintores holandeses

Pieter Post, Pieter Molijn e Van Ruysdael preponderados pelo estilo do realismo.

A arte do Renascimento pode ser caracterizada como um modo de resgatar as antigas

origens das artes do período clássico, particularmente, as artes gregas e romanas. No entanto,

no início da transição estava de um lado à arte gótica um estilo ainda influenciado pela

teologia cristã onde a Arte era uma manifestação divina, que tudo centralizava em Deus, tanto,

na arte, na filosofia, na política e na cultura. Por outro lado, com o surgimento do

Renascimento em meado do século XV, na Itália, os caminhos artísticos foram sendo

manifestados de maneiras diversas, as escolas de pintura italiana e flamenga apresentam os

mesmos fenômenos, mas o Realismo começa a destacar com maior nitidez na arte. Nesse

sentido, a arte no renascimento é encarada com novos olhos, encanta o artista como um

espetáculo maravilhoso, mesmo ainda com designação religiosa, mas a representação muda

para a própria imagem e não mais para o simbolismo.

No transcorrer das mudanças, observamos que os flamengos2 deixam-se levar pelo

instinto, diferentemente dos florentinos que são levados pela própria lógica do estilo da

racionalidade. O novo modo da arte renascentista tinha sido influenciado pelos clássicos, o

retorno da arte grega possibilitara a mudança de perspectiva deixando de ser naturalista para

ser idealizada na busca pela perfeição.

O humanismo fez recuar a cultura, e então a antiguidade apareceu como um

espelho. Portanto, toda a vida intelectual do século XV se tornou imitação do

antigo: imitação filológica e estilística, imitação dos sistemas filosóficos,

imitação dos costumes. Mas o humanismo não representava somente um fato

cultural, correspondia também a uma nova atitude espiritual com relação à

pessoa humana. Humanismo significava estima do homem, admiração por suas qualidades e certeza do seu eterno destino, porque nas bibliotecas,

juntamente com os autores pagãos, havia os cristãos que os humanistas

estudavam. A apologia da idade antiga sempre neles se encontra com a

exaltação da própria idade e da confiança desmedida em suas forças pela

consciência de não tão-somente imitar e, sim superar os modelos antigos.

(MONTERADO, 1978, p. 86).

2 Adj. De ou pertencente ou relativo à Flandres. Cada um dos dialetos do neerlandês, falados na Bélgica e na

região de Dunquerque (França). (FERREIRA, 1988, p. 299).

21

No entanto, é evidente, que essa mentalidade não apenas desenvolveu uma crise na

arte cristã, mas como os próprios artistas renascentistas como Leonardo da Vinci, Rafael e

Miguel Angelo são exemplos de terem deixado o velho estilo voltado para as Igrejas

Católicas, ou pelo menos mostrar que o pensamento já não era mais medievo na arte.

A arte flamenga do século XV é a grande escola de pintura, tendo como iniciadores os

irmãos Van Eyck, Hubrecht e Jan. Eles conseguem libertar a pintura da escravidão do livro e

da arquitetura monumental criando o quadro de cavalete tal como o entendemos hoje, portátil,

destinado à decoração de interiores. Em cooperação pintam o famoso retábulo do Cordeiro

Místico. Introduziram o princípio do realismo completo aceitando o espírito da Renascença.

Figura 2 (Jan Van Eyck, Hubrecht Van Eyck. Retábulo de Gante, 3,5 x 4,6m. Madeira, têmpera, tinta a óleo,

Maria, 1432).

22

1.2. O protestantismo na Arte holandesa.

Como consequência das guerras religiosas cristãs, particularmente entre o catolicismo

e a reforma protestante no século XV, as províncias do norte da Europa se separam dos países

Baixos, ao norte eram protestantes como na Holanda, tendo o sul do país permanecido

católico. Nas províncias do norte, implantou-se uma democracia laica alicerçada numa

sociedade burguesa sob o espírito luterano e Calvinista sem hierarquia. Nem os grandes

programas civis ou religiosos e nem a mitologia interessava os comerciantes de Amsterdã ou

Haarlem. O estilo que predominava a região holandesa era admirável com o uso da pintura

realista.

A Holanda pode ser visualizada nesse período a partir de dois grandes pintores

holandeses que se propuseram em destacar uma arte local. O primeiro, Frans Hals (1580-

1666) de Haarlem, retratista e pintor de cenas de costumes ou pinturas cotidianas, no seu

estilo de pintar se preocupava mais com o efeito pictórico do que com a qualidade de modelo.

O segundo, e talvez o mais celebre entre os holandeses, Harmensz Rembrandt Van Rijn

(1606-1669). Rembrandt tinha na pintura um contato excepcional e espiritual, dessa forma a

realidade física dos personagens perde toda a importância, o que interessava era a

interioridade expressiva de suas almas. O pictórico nas pinturas se misturava com emoção,

sentimento e dor entre os personagens que eram pintados.

Figura 3 (Rembrandt, a vigia da noite, 363 cm × 437 cm, Óleo sobre tela, 1642).

23

O tema essencial deste retrato retrata de uma vigia onde é possível observar homens de

várias categorias de classes juntos por um ideal defender uma mulher que aparece no meio do

lado esquerdo do quadro iluminada de cor dourada. Observa-se que na frente estão dois

homens que possivelmente seriam príncipes ou pessoas de alto escalão, pois pelas vestimentas

de roupas se destacam dos demais. Em suas telas é perceptível que Rembrandt não era um

artista como qualquer outro da época da “Idade do Ouro”, pois possuía uma técnica que

permitia o contraste entre luz e sombra e também deslumbrante de um sentimento de ternura,

ou seja, transmiti sentimentos reais por meio da arte.

Nessa pintura, o artista estava usando a perspectiva linear de ordem geométrica,

quando se observa no fundo da pintura. Porém, a luz destaca-se nos personagens

desconhecidos da obra, principalmente, a mulher meia de desesperada que algo estivesse para

acontecer. Apesar de destacar-se pelos efeitos óticos das suas telas, o artista conferiu ao

quadro uma paleta de cores tranquila. Em muitas de suas pinturas usava ultramarinos naturais.

O elemento visual da luz é o maior exemplo da qualidade de Rembrandt na pintura.

É evidente notar que Rembrandt apresenta sua influência com o realismo, e ao mesmo

momento o estilo flamengo de não se deter apenas a geométrica, linha direta do estilo, mas

sua criatividade de recriar a partir do próprio instinto de passar para o quadro a maneira que

pensava na realidade.

Contudo, é louvável explicar que a arte neerlandesa foi construída sobre a existência

camponesa e burguesa, enquanto a italiana se baseia na vida da cidade, sua visão aristocrática.

A essência da arte holandesa é a pintura dos campos, dos sítios, dos banquetes, dos costumes

cotidianos. A Holanda foi à primeira em toda Europa a deter sua técnica para o campo e

destacando sua dimensão natural.

Entretanto, não querendo distanciar do objeto deste primeiro capítulo da monografia

para outro viés ou outros caminhos sobre Frans Post, mas manifestar que o “conhecimento”

prescreve sobre os pilares anteriores da arte holandesa ao pintor. Buscaremos a partir das

páginas a seguir deter a Frans Post, diretamente, sua atuação como pintor holandês.

24

1.3. Frans Post e sua produção artística.

Anne Cauquelin (2007) descreve uma história de uma menina que é levada pela

fantasia a acreditar que as coisas acontecem por meio dos sonhos, que a luz e a sombra estão

ligadas por meio da invenção que é aproximada aos objetos. A paisagem é uma invenção a

partir da perspectiva, que inaugura um novo regime ótico. Na antiguidade não havia noção de

paisagem entre os filósofos gregos já que a imagem era apenas uma forma de fundo para

narrar, para contar estórias sob o signo do princípio, da razão. A invenção é uma construção

mental dada pela possibilidade de ver, de criar e de perspectiva.

A paisagem é uma invenção de uma técnica do olhar. Segundo Cauquelin: “vemos em

perspectiva, vemos em quadros, não vemos nem podemos ver senão de acordo com as regras

artificiais estabelecidas em um momento preciso, aquele no qual, com a perspectiva, nasce a

questão da pintura e a da paisagem?” (CAUQUELIN, 2007, p. 79).

Segundo Lago e Lago (2009) são prováveis que nesse período de transição da Idade

Média para o Renascimento, o país da Holanda tem dedicado sua expressão de arte para as

paisagens tanto nas pinturas e nos desenhos, assim configurando um marco na história do

paisagismo ao longo dos séculos XV, XVI e XVII. O século XVII foi marcado por um

período chamado “século de ouro” da arte holandesa. No qual marcou um período de vários

artistas que eram especializados na pintura de paisagens e criavam obras notáveis.

Continuando, Constantijn Huygens (1596-1687), que era secretário das províncias

unidas dos Países Baixos, também conhecido como poeta, compositor, diplomata e grande

conhecedor de arte considerou a arte de paisagistas holandeses da seguinte maneira: “a lavra

de pintores de paisagens (é assim que chamo aqueles que se especializam na pintura de

florestas, campos, montanhas e aldeias) é tão vasta e tão afamada em nossa terra que a relação

dos artistas, por nome, certamente daria um pequeno livro” (LAGO e LAGO, 2009, p. 10).

Entretanto, segundo o levantamento histórico realizado pelos pesquisadores Lago e

Lago, a pintura de paisagens na Holanda não estava apenas restrita nos registros de rios,

pôlderes3 e diques

4, principalmente, das regiões dos interiores holandesas, mas encontravam-

se também em pinturas e desenhos de viajantes que se aventuravam em ultrapassar as

fronteiras para conhecer outros climas naturais e objetos desconhecidos na região da Holanda.

3 S.m. Planície que, inundada ou sujeita a inundação pelo mar ou rios, é protegida por diques e dessecada

continuamente com o fim de torna-la utilizável na agricultura e/ou na habitação. Grande parte do território da

Holanda é constituído de pôlderes. (FERREIRA, 1988, p. 514). 4 S.m. Construção sólida, para represar águas correntes; represa, açude. (FERREIRA, 1988, p. 223).

25

O pintor e desenhista Roelant Saverx (1576-1639) representa um desses viajantes que

trabalhou para a Corte do Imperador Rodolfo II, em Praga, onde foi possível registrar

montanhas e florestas.

Depois de viajar, ainda jovem, ao sul da Noruega e da Suécia, Allart Van

Everdingem (1621-1675) apresentou à arte neerlandesa a paisagem

escandinava com suas cachoeiras, formações rochosas e chalés de troncos de

madeira, outros artistas contentaram-se em seguir o estilo de seus pares de

ofício viajantes. Por exemplo, Jacob Van Ruisdael pintou muitas paisagens

com cachoeiras, provavelmente sem ter jamais visto uma, e a luz dourada que

banha as paisagens tardias de Aelbert Cuyp equivocadamente sugere que ele

tenha viajado à Itália. (LAGO e LAGO, 2009, P. 10).

Diante disso, se observam que existiam nesse período do Renascimento alguns tipos

de viajantes, aqueles que pintavam segundo o que visualizava na realidade e registrando na

obra; outros que por seguir o estilo semelhante buscava predominar na obra fragmento

pictórico parecido sem jamais ter conhecido o que pintou. No caso de Jacob5, que gostava de

estudar o efeito e a sombra sobre esses terrenos, e sendo especializado em cenas florestais.

Com efeito, o pintor Frans Post é contextualizado como um desses pintores que são

considerados viajantes, ou estrangeiros que registrou no seu paisagismo uma série de imagens

do Novo Mundo. Nascido em Haarlem, Post merece especial destaque, pois foi o primeiro

pintor a sair da Europa para o novo continente e, certamente tinha bastante interesse de

conhecer a visão exótica que se passava na mente dos europeus sobre o Novo Mundo. Nesse

sentido, Post pode ser caracterizado diferente dos seus colegas holandeses, pois pela sua

temática exótica o assegurava uma posição diferenciada em relação à profusão de paisagens

executadas no norte da Holanda no século XVII.

Lago e Lago (2009) enxergam que as pinturas de Post não podem ser divididas em

dois momentos, um na Holanda e outro no Brasil, mas que consistem pinturas que se encaixa

na própria característica do pintor paisagista. O que diferencia é a posição dele no Novo

Mundo, onde o registro mudava dos demais que foram considerados viajantes. A pintura

holandesa de paisagem continua sendo a mesma para Post, apenas seu tema muda.

É evidente perceber que Post, semelhante os seus contemporâneos, tinha o objetivo de

fazer parte de um grupo de artistas nativos da Holanda que estava vivendo um período de

século de ouro. Como explicar um fenômeno artístico num só lugar? Por isso, não podemos

5 LAGO e LAGO (2009) destaca o pintor Jacob como um exemplo de um pintor que tentava pintar certas

pinturas pictóricas sem nunca ter visto algumas paisagens. Na informação nítida de quem seria Jacob, mas é

utilizado apenas como exemplo no livro: Obras Completas de Frans Post.

26

deixar de pensar Post fora desse contexto artístico. Sua tendência na pintura paisagística teve

início na realidade e na própria cultura holandesa.

Em meio a essa profusão de artistas Pieter Brueghel, o velho (1525-1569) e

Herdrick Goltzius (1558-1617), pintores desenhistas e gravuristas, todos eles

trabanhando em Haarlem e todos eles especializados em paisagística,

encontramos Frans Post, filho do pintor de vidros Jan Jansz Post e irmão mais

moço do arquiteto e pintor Pieter Jansz Post (1608-1669). Sem dúvida, Frans

entrou em contato com artistas e arquitetos quando era ainda muito jovem, e,

portanto, não surpreende que, apesar do tema não-holandês, seus trabalhos de

desenhos e pinturas – no Brasil e mais tarde na Holanda – estivessem

sintonizados, de muitas maneiras, com a obra de seus companheiros de oficio

em Haarlem. As paisagens de Post são muito parecidas com as de seus

conterrâneos, tanto em termos de paleta quanto de composição: em geral,

trazem um horizonte posicionado ligeiramente abaixo do meio da pintura e

um repoussoir (elemento de primeiro plano que realça a sensação de

profundidade). (LAGO e LAGO, p. 17).

Figura 4 (Frans Post. Carro de Boi. 61.00 x 88.00 cm. Óleo sobre tela. Museu de Louvre, França, 1638).

Contudo, observa-se que o termo de primeiro plano é apresentado como uma técnica

utilizada já na Holanda e o pintor Frans post destaca em todas as sete obras. Assim,

caracterizando na sua dimensão visual o estilo de repoussoir. É interessante destacar que Post

nunca se deteve em retratar na Holanda aspectos voltados para dunas, florestas, estradas de

terra, trigais ou rios. Lago e Lago destacam que antes de sua vinda ao Brasil os retratos de

Post não são conhecidos, dando certa obscuridade e mistério sobre suas obras anteriores. O

27

que se conhece sobre Frans Post se baseia a partir dos desenhos e pinturas de paisagens

brasileiras. Diante disso, nos arquivos e antigos catálogos de venda de obras de arte não há

quaisquer referências a paisagens holandesas de sua autoria.

Contudo, o que se sabe sobre Frans Post como artista, se torna possível,

principalmente na Europa, que foi o primeiro artista a retratar a paisagem tropical com suas

palmeiras e fauna e flora exótica. A escolha pelo tema foi proposta pelo Conde João Maurício

de Nassau – Siegen (1604-1679), nomeado governador de geral da colônia holandesa no

Brasil na sua expedição de oferecer a Post uma missão de registrar paisagem visual.

João Maurício convidou Post, juntamente com outros artistas e cientistas, a

acompanhá-lo em sua viagem ao Novo Mundo. Assim, enquanto Albert

Eckhout (1610-1666), representava em desenhos e pinturas a população, as

plantas e os animais locais, Frans Post se ocupava do registro visual da

paisagem brasileira. (LAGO e LAGO, 2009, p. 17).

Com efeito, as principais características técnicas da pintura de Frans Post, cujo estilo

varia ao longo das quatro fases de sua carreira que foram identificadas pelos autores Lago e

Lago são concentradas em dois pares: o primeiro na primeira e segunda fase. O segundo na

terceira e quarta. Porém, os autores apontam que na primeira fase é mais nítida da veracidade

na realidade das obras, mas não descarta as demais fases, mesmo que sejam consideradas

posteriores da presença de Post no Brasil, ou lembrança da presença no Nordeste.

Lago e Lago (2009) apontam que pela ausência de conhecimento das obras anteriores

da presença de Frans Post no Brasil, apenas pode-se ser analisada a partir da primeira fase

onde se encontra sete telas remanescentes. A dificuldade de identificar para Post uma filiação

artística clara nas obras holandesas não é evidente, pois apenas com sua chegada ao Novo

Mundo é que Frans Post se destaca como artista, anterior a isso, na Europa Frans Post não

pode ser visualizado. Provavelmente, Post chegou ser reconhecido como artista depois da sua

volta para Holanda, tendo sua experiência exterior como tendência focalizada nas imagens

pictóricas e exóticas do Brasil configurando como o pintor viajante.

No entanto, a técnica que caracteriza Frans Post pode ser vista, desde o primeiro plano

em seus propósitos de composição. A mesma característica pode ser vista em Forte Ceulen no

Rio Grande, o reflexo da figura é visto apenas parcialmente em primeiro plano.

28

Figura 5 (Frans Post. Forte Ceulen. 60.00 x 86.00 cm. Óleo sobre tela. Museu de Louvre, França, 1638).

Analisando a obra do Forte Ceulen observa-se que o primeiro plano está voltado para

o lado esquerdo no quadro, onde é possível enxergar a dimensão dos recifes logo no primeiro

plano seguindo para o céu cinzento, provavelmente, no momento chuvoso ou nublado, na

região da profundidade visualiza-se o Forte e mais à frente figuras pictóricas representando

possivelmente indígenas.

Embora as paisagens brasileiras sejam finalizadas de forma aleatória em um

dos seus lados, a maioria delas exceto duas são ancoradas cuidadosamente

em um dos lados por uma árvore ou um conjunto de árvores. O clássico efeito

Repoussoir (elemento lateral de primeiro plano visando acentuar o efeito de

perspectiva). O conjunto de arbustos, à esquerda pode ser visto mesmo em

vista de Itamaracá. A exceção fica por conta de Forte Ceulen, uma

composição sofisticada, cuja âncora, à esquerda, formada por planícies de

lama das marés, é deliberadamente sobrepujada pela linha de fuga também à

esquerda. (LAGO e LAGO, 2009, p. 69).

Lago e Lago (2009) descrevem que as obras remanescentes de Post foram todas

executadas a óleo sobre suporte em telas do mesmo tamanho, com pequenas variações. Várias

destas telas estão atualmente envelhecidas, mas que representam, de certa maneira, um traço

da textura holandesa, e que a forma de U e é decorrente da fibra do tecido, e da camada de

pintura em datas posteriores.

Entretanto, a presença da arte holandesa no Brasil possui em parte um conceito de

Michel de Foucault sobre os dispositivos (FOUCAULT, 2002, p. 291), ou os poderes que

29

impõem a sociedade como servidora do poder. Frans Post pode ser considerado o primeiro

pintor estrangeiro em terras do Novo Mundo. Porém deixa claro, que sua presença possuía

parcialmente a tentativa de registrar o paisagismo brasileiro, assim não se pode negar que as

evidencias deixadas mostraram que Frans Post era influenciado pela arte holandesa. As

autoridades presentes no Brasil possuíam a mentalidade fixada na religiosidade, mas os

holandeses não. A missão de Frans Post não pode ser comparada apenas por que não fosse

católico, mas pelo seu trabalho de registrar monumentos importantes em cada província que

passou. O caso do Forte Reis Magos e não outro lugar no Rio Grande pode estar ligado pela

cidade ser pequena.

O efeito sobre a pintura da vitória do protestantismo foi ainda mais

acentuado. Sabemos que a catástrofe foi tão grande que tanto na Inglaterra

como na Alemanha, onde as artes haviam florescido não menos que em

qualquer outro país na Idade Média, a carreira de um pintor ou escultor

deixou de atrais os talentos nativos. Recordemos que nos Países Baixos, onde

era tão forte a tradição de bons artífices, os pintores tinham que se concentrar

em certos ramos da arte para os quais não houvesse objetos de fundo

religioso. (GOMBRICH, 1999, p.413).

Nesse sentido, os gêneros de pinturas holandesas são expressivos por meios de retratos

da natureza morta, a paisagem de vida cotidiana e doméstica. Outra característica na sensação

holandesa é que a particularidade surge também com o retrato coletivo que reúne várias

pessoas. O objetivo na arte holandesa é, sobretudo, o externo aquilo que se manifesta de fora

para dentro. Diferentemente da concepção religiosa que concebia que não podia haver

grandiosidade humana, já que o Criador deveria ser sempre o centro de tudo.

Nesse ponto de vista investigam-se duas realidades sobre o foco na pintura. O

primeiro, o objeto sensível ao pintor para registrar a realidade ao seu redor, a paisagem é um

grande exemplo que os pintores adquiriram como maneira de se apropriar do que era possível

na época. O segundo se refere da formação de registrar o cotidiano da vida, quer que seja

coletivo ou individual, mas que mostrasse claramente a distância daquele modelo de pintura

cristã do catolicismo que era configurado pela religiosidade.

O que caracteriza a diferença entre os pintores da Holanda é sua ideia de viver sem a

necessidade de fazer uma obra e depois procurar um comprador: “... num aspecto, é possível

que os artistas se alegrassem ao ficar livres de patrocinadores que interferiam na sua obra...”

(Gombrich, 1999, p.416).

Segundo Wölfflin (2000), o sentimento de nacionalidade (conceito revolução

francesa), é um gesto formal que entra em contato com os elementos espirituais e morais de

30

um povo. Por isso a história da arte tem seu lado positivo de apresentar tantos estilos

presentes na evolução da arte. As coisas estão em plena relação umas com as outras. Separá-la

seria o mesmo que criar outra coisa. Os quadros holandeses também foram sintonias com o

mundo, mesmo que essa relação não seja mais aquela que foi na Idade Média.

O espirito ou a essência da alma holandesa é definido pela sua relação com seu povo,

em outro sentido, chamada flamenga (PEIXOTO, 2014, p. 51), essa relação não pode ser

julgada apenas pela cisma protestante, mas também pelo sentido de nacionalidade que

desenvolvia na Holanda. O estilo marca um conceito de carimbo nacional, todos que pintavam

na Holanda possuíam essa identidade ou era influenciado pela na arte renascentista.

Como decorrência dessa nacionalidade pode-se observar que afirmar um estilo

nacional é desafiador, pois se trata de uma possível influência de um estilo original como é

ensinado na representação gráfica; formas que geram formas diferentes, mas que em certos

sentidos conservam-se sua originalidade da forma primeira. "Épocas diferentes produzem

artes diferentes; o espírito da época mescla-se ao espírito de raça. É preciso estabelecer, em

primeiro lugar, os traços gerais de um estilo antes de o considerarmos um estilo propriamente

nacional” (Wölfflin, 2000, p.11).

Portanto, se considerar que Post usufruiu talvez mais do que os outros colegas de

profissão, todas as oportunidades da Holanda de seu tempo, principalmente, para servir à

nobreza e viajando ao Novo Mundo deve exclusivamente ao cenário histórico em que Frans

Post viveu e a seu serviço de pintar paisagens marcadas por um gênero de mercado garantido.

No entanto, é possível identificar um ponto em comum em todas as obras de Post, ele

pintava com o espírito de um holandês ou seguia as tradições pictóricas e descritivas da

pintura de paisagem neerlandesa. Assim, construindo cenas teatrais delimitadas pelo

repoussoir (elemento de primeiro plano), de vegetação exuberante e pelo amplo horizonte ao

fundo, que destacava sua arte visual, elevadas por um céu bastante luminoso que pode ser

visualizada no clima da região do Nordeste do Brasil.

Em contrapartida, a escolha de Post pela pintura de paisagens pode também ter outro

sentido, pois é averiguado na Holanda do século XVII que somente os artistas incapacitados

executavam retratos, ou seja, esses artistas sentiam reprimidos de executar quadros

considerados neutros para depois vender: “e a única maneira de muitos deles conseguirem

adquirir reputação consistia em se especializarem num determinado ramo ou gênero de

pintura” (Gombrich, 1999: 418).

31

Nesse segmento, refletindo nas declarações de Lago e Lago sobre a dificuldade de

analisar as obras de Post anteriores a vinda ao Brasil pode estar relacionada ao sentido os

quais o pesquisador em artes Gombrich define que seria apenas mais um dos pintores menores

que atuavam nos Países Baixos, e que repetia o esgotamento do mesmo tema, principalmente

a partir da circunstância em que o iniciante e burguês marcado pela arte holandesa começaria

a consumir sua produção.

Apesar disso, o reconhecimento artístico de Frans Post somente pode ser visualizado

por meio das suas obras brasileiras. Então, fica uma indagação sobre a obra de Post não seria

na verdade uma recriação do Novo Mundo? Se observar a perspectiva do europeu sobre o

novo mundo partia sobre o imaginário em consideração ao outro (MBERMBE, 2018, p. 25) a

partir de então, muito deve aos amplos espaços, céus límpidos, casas de fazenda, engenhos e

capelas, além de personagens quase sempre sem rosto: brancos, mestiços, negros e índios

pintados por Post.

Por conseguinte, as quatro fases que constitui o trabalho de Frans Post em vida

artística estão ligadas, diretamente, ao tema do Novo Mundo e a partir da segunda fase até as

últimas são enxergadas como recriação da primeira fase, então parece que Frans Post não saia

do tema exótico depois que retornou para Haarlem. É provável que sua tendência estivesse

ligada ao mercado interessado em obras exóticas.

Consequentemente, se Post fazia parte de uma burguesia e estava ligado ao serviço de

Nassau seguindo o modo de um padrão mercantil não se pode definir que a visão seiscentista

apenas era configurada por uma sociedade ligada ao poder econômico e político, mas pode se

definir que os elementos apresentados de Frans Post mostram que sua tendência no Brasil e na

Holanda é determinada como um artista que pintava um gesto de produção de venda. É

comprovável que o espírito protestante é relacionado com a visão capitalista, que Deus

abençoa que trabalha. Caminha-se, nessa direção, é capaz de enxergar na obra de Post essa

dimensão de garantia de venda.

32

2º Capítulo: Primeira fase (1637-1644) de Frans Post no Nordeste.

O segundo capítulo é configurado a partir da primeira fase de Frans Post no Brasil,

particularmente, na região do Nordeste entre os Estados do Rio Grande do Norte, da Paraíba,

de Pernambuco e de Alagoas, que inicia no ano de 1637 com a sua chegada até o ano de 1644

que finaliza sua estadia no Brasil e retorna para a Holanda. O objetivo deste capítulo é

analisar as sete obras que compõem as telas que sobreviveram, mas que representam a

importância do artista no reconhecimento das produções realizadas no Nordeste.

Segundo Lago e Lago (2009), a primeira fase deveria ser composta por 18 telas, mas

apenas sete obras são consideradas na atualidade sobreviventes as demais que deveriam fazer

parte do conjunto ou as 11 que são desconhecidas não tem informações do que aconteceu com

elas. O que se pode determinar que a primeira fase fosse analisada somente pela as sete obras

que algumas estão localizadas no museu do Louvre na França, e outras estão no Instituto

Ricardo Brennand no Estado de Pernambuco.

Antes de iniciar o registro das sete obras procura-se estabelecer neste capítulo o

levantamento da missão de Frans Post como pintor oficial convidado por Nassau para

registrar as paisagens do Nordeste. É evidente perceber em cada imagem que Post registrou

desta fase não apenas caracteriza um espaço “imaginário” (Tuan, 1983, p. 30), construído

sobre o Comando da Corte portuguesa, mas também permite catalogar os principais

monumentos importantes das regiões. Por outro lado, se a intenção de Nassau era promover

por meio do artista Frans Post imagens que representassem o cotidiano das vilas, dos

costumes, das culturas e da economia daquele tempo pode-se imaginar que cada obra da

primeira fase permite refletir que os locais escolhidos representam, sobretudo, pontos

estratégicos criados sob o poder português, como o caso explícito do Forte Reis Magos.

33

2.1. A primeira pintura de Frans Post.

Figura 6 (Vista de Itamaracá, Frans Post, 63,5x88,5 cm, oléo sobre tela, 1637).

Esta obra da figura 6, da Vista de Itamaracá, localizada no Estado de Pernambuco marca o

início da primeira fase do pintor Frans Post no Nordeste como trabalho artístico registrado

sobre o poder holandês.

A imagem da Vista de Itamaracá é a única que foi desenhada e pintada no ano de 1637,

possivelmente, o motivo seja por ser a mesma data que marca a chegada de Frans Post no

Nordeste.

O primeiro óleo conhecido pintado por Frans Post no Brasil é esta Vista de

Itamaracá, executado em 1637, no mesmo ano da chegada do artista ao

Nordeste. Foi também o primeiro dos quadros desaparecidos das coleções

reais a ser reencontrado na França, nos anos 1880, quando foi adquirido pelo

Rijksmuseum, que em 1953 o emprestou de forma permanente ao

Mauritshuis, em Haia (LAGO e LAGO, 2009, p. 86).

34

Em primeiro plano é possível observar dois europeus um cavaleiro montado no cavalo

olhando na direção de outro cavalo sendo conduzido por um possível negro vestido de índio,

que aparentemente o cavalo branco esteja querendo comer a cesta de frutas que estão à frente

do escravo; o outro europeu do lado esquerdo está de costa para o quadro, talvez

representando à admiração a ilha de Itamaracá, que aponta na direção do sul. E afastado outro

negro vestido de índio como estivesse chegando de uma suposta colheita, pois em cima de sua

cabeça segura uma cesta caminhando na direção dos dois europeus. O céu destaca um

amarelado cinzento entre o primeiro plano, mas no terceiro plano o céu é composto por um

amarelo mais claro puxado mais para o branco.

2.2. As pinturas de 1638 de Frans Post.

Figura 7 (o carro de bois, Frans Post, 62x95 cm, oléio sobre tela, 1638)

A segunda obra de Frans post “o carro de bois” é considerada como uma das mais belas

paisagens que registra a natureza típica do Nordeste. Além de ser uma imagem que sempre

apresenta o primeiro plano em destaque também considera as figuras pictóricas não

idealizadas, pois apenas destaca as possíveis figuras, que neste caso da tonalidade da cor

35

pode-se deduzir que sejam negros trabalhando na roça utilizando a carroça como instrumento

de transporte.

Trata-se, sem dúvida, do vilarejo da vila Formosa de Serinhaém, onde havia

importantes engenhos de açúcar. O oceano é visível, a distância. À esquerda e

na beira do rio observam-se os telhados vermelhos da cidade em torno de um

largo, bem como duas construções mais alongados, que provavelmente

abrigavam escravos, mas a esquerda, próxima a ribanceira do rio, está a casa

do plantador, que se sobrepõe à capela (LAGO e LAGO, 2009, p. 90).

Assim como na imagem anterior da obra “o carro de bois” o céu é destacado sobre

uma tonalidade amarelada, mas que neste caso, o céu é visualizado mais claro sem a presença

de sombra permitindo traduzir que seja cerca de meio dia. Além dessa interpretação do tempo,

a árvore à esquerda é vista sem sombras e claridade da árvore sugere que o tempo era claro.

Figura 8 (Forte Ceulen, Frans Post, 62x95 cm, óleo sobre tela, 1638)

A terceira obra composta por Frans Post seja, talvez a única que é descrita sem

vegetação no primeiro plano, apenas destaca a beira da praia a presença de índios tapuias,

com lanças de pesca que parecem ter acabado de desembarcar da canoa. No segundo plano

pode-se observar o Forte Reis Magos, possivelmente, com sua construção original; no terceiro

36

plano visualiza-se dunas cobertas por vegetações típicas de restingas que são espécies

herbáceas e pequenos arbustos da região.

(...) A preparação cinza-azul do quadro é em parte deixada visível em

algumas áreas do primeiro plano, o que aparentemente foi intencional. Post

usa isso para representar o tom da estrutura sedimentar debaixo da borda

onde a areia da camada superior foi levada pela água (...) (LAGO e LAGO,

2009, p. 96).

Se observar a Vista de Itamaracá com o Forte Ceulen pinturas feitas por Frans Post

visualiza-se as semelhanças das composições de cores usadas no céu, na água e horizonte.

Assim percebe-se que o pintor representou o céu a partir de uma analogia da tonalidade da

areia para representar o céu cinzento. Porém o Forte é registrado com bastante nitidez entre a

cor secundária do marrom puxado para o vermelho e amarelo. Os recifes merecem destaque

pela sua visibilidade realista que procura apresentar a tonalidade das rochas e assim as

biodiversidades existentes nos recifes. É provável, que o pintor esteve do lado oposto da

entrada do Forte, pois a sensação que parece é a intenção de mostrar no fundo da pintura as

dunas apontando para o sul.

Figura 9 (Vista da Cidade Frederica na Paraíba, Frans Post, 61x87,3 cm, óleo sobre tela, 1638)

37

Obviamente que os lugares que foram destaques de esboços na visão do pintor Frans

Post sejam todos considerados uma obra prima, pois não apenas oferecem uma visibilidade

panorâmica dos principais povoados como também permiti enxergar o cotidiano daquele

tempo do século XVII. Nesse sentido, a quarta obra de Post merece um destaque especial,

pois é a única obra que registra a cidade de João Pessoa, anteriormente, chamada de Felipéia,

em homenagem ao rei Felipe da Espanha, que durante a invasão holandesa passou a ser

homenageada como a Cidade Frederica em homenagem ao príncipe Frederik de Orange.

Segundo Lago e Lago (2009), o ano de 1638 do século XVII representou o principal

momento que Nassau teria escolhido para viajar entre as províncias da Paraíba e do Rio

Grande, no qual se encontrava sobre o domínio holandês. É provável que o ano de 1638 tenha

sido o maior tempo que Frans Post pintou mais ou menos três obras. Segundo o cronograma

de ano os registros apontam no mínimo três pinturas.

Esta obra merece ser considerado como a única que apresenta a cidade de João Pessoa

e o povoamento daquele tempo e ainda o convento dos franciscanos abaixo as margens do rio.

Mesmo a Ordem OFM (ordem franciscana menor) seja ligada à Igreja Católica Apostólica

Romana, o pintor Post destaca quase que no centro da obra.

A vista da cidade Frederica na Paraíba aparece na composição com pigmentos

diferente das demais obras pintadas no ano de 1638, pois Post apresenta o céu de maneira

mais realista puxado para a cor azul escuro e o branco, somente pouca parte é possível

visualizar manchas amarelas entre as nuvens como o pintor estivesse destacando o início do

pôr do sol. Além disso, à direita é possível observar que a presença de animais exóticos

próximos da floresta esteja ligada a intenção do pintor de mostrar a imaginação entre as

fronteiras da cidade com a mata.

38

2.3. As últimas pinturas da primeira fase.

Figura 10 (o Rio São Francisco, Frans Post, 62x95 cm, óleo sobre tela, 1639)

A quinta obra denominada “o Rio São Francisco” foi registrada no ano de 1639 do

século XVII, que possivelmente apresenta a trajetória de Frans Post sobre as margens do Rio

São Francisco. A obra é a única entre as sete que destaca no primeiro plano uma Capivara e

mais atrás como fosse o segundo plano um cacto deixando o leitor visual imaginar o toque

poético do pintor sobre sua pintura. Por outro lado, tanto a Capivara como o cacto não

estariam no quadro apenas por uma visão romântica do Nordeste, mas por uma influência de

outros pintores que registravam a Capivara ou o porco d´água como era conhecida.

É o único quadro conhecido do período brasileiro de Post em que um animal

exótico aparece claramente no primeiro plano da composição. A presença da

Capivara mostra bem a grande liberdade com que Post abordava a execução

de seus óleos pintados no Brasil, que tinham objetivo claramente decorativo,

em oposição à preocupação documental que o artista demonstrará em seus

desenhos que servirão de base anos mais tarde para as gravuras no livro de

Barlaeus (...) (LAGO e LAGO, 2009, p. 102-104).

39

É interessante perceber que quando o desenho do Rio São Francisco é gravado a

Capivara é retirada da cena, mas é aproveitado o fundo mostrando a fuga dos portugueses

após um ataque bem-sucedido de Nassau à região. Nesse sentido, pode-se pensar que a visão

de Post de substituir a Capivara na tela a óleo por portugueses fugindo na gravura imaginar

que a filosofia de Heráclito levemente atravessa a ideia do vir a ser, (HERÁCLITO, 1985, p,

42), que tudo muda nada permanece a mesma coisa, uma vez já passado.

Figura 11 (Porto Calvo, Frans Post, 63x89 cm, óleo sobre tela, 1639)

A sexta obra destaca uma visão bem clara de uma cena cotidiana entre a dominação

holandesa no Nordeste, localizada no Estado de Alagoas. No primeiro plano observa tropas

auxiliares formadas por índios que descem o vale em direção ao Forte. Porém do lado

esquerdo da árvore é possível observar duas pessoas descansando um completamente deitado

e outro meio sentado. É importante analisar os dois homens que estão próximos da árvore,

pois a sensação que o pintor Post teve foi descrever a realidade do clima da nova colônia

holandesa sugerindo certa preguiça.

Além do que foi descrito sobre a obra pode-se visualizar que o Forte está no segundo

plano quase que não sendo percebido, mas representava um dos mais importantes da região.

40

No fundo da obra observa-se a dimensão do horizonte infinita que o pintor Post deixou como

traços, talvez mostrando a dimensão territorial da dominação holandesa sobre o Estado da

Alagoas. O céu aparece nitidamente claro sobre o Estado da Alagoas. O céu aparece

nitidamente claro dando a sensação que o dia estava chegando à tarde do pôr do sol, a

presença das sombras de nuvens entre a árvore e o caminho da estrada para o Forte deixa

evidente que o clima estava quente.

Figura 12 (Forte Frederik Hendrik, Frans Post, 66x88 cm, óleo sobre tela, 1640)

Este quadro é considerado o último dos sete sobreviventes dos 18 óleos pintados por

Frans Post no Nordeste, especificamente em Pernambuco. É o único da primeira fase que está

conservado na Capital do Recife no Instituto Ricardo Brennand, desde 1999 voltou para o

local onde foi pintado.

Lago e Lago (2009) descrevem que a obra do Forte Frederik Hendrik representa uma

obra prima, pois não apenas destaca o cotidiano daquele tempo do século XVII, mas

concentra-se a cena no primeiro plano, composta por três personagens: um europeu de costas

para o quadro, um chapéu sobre a cabeça segurando uma lança, vestido aparentemente um

41

casaco vermelho, calça branca na cintura do joelho e por volta do corpo uma bolsa; uma índia

ou uma mestiça vestida à europeia, que em cima da cabeça está conduzindo uma cesta com

lençóis branco, provavelmente, estivesse retornando depois de um dia trabalho doméstico; e

por último um escravo africano fumando um cachimbo, que também é descrito de costas para

o quadro levando um tipo material desconhecido na cabeça, aparentemente, apenas com um

tipo de calça branca. O interessante observar nesta obra é capacidade do pintor interagir na

pintura a relação das três etnias que constituíam a base da população brasileira.

Assim o belo é a manifestação do ideal, o ideal não é abstrato, é a ideia

presente e transparente no objeto idealizado; sejam os humildes objetos

cotidianos de uma natureza morta holandesa, seja o semblante de uma

madona de Rafael. A arte não imita, idealiza. A arte exprime o universal no

particular; e a obra é tanto mais bela quanto seu conteúdo espiritual possui

uma verdade mais profunda (...) (FRENNE, 2004, p. 44).

O objeto de discursão que o autor Mikel du Frenne propõe esteja além de uma simples

análise artística, pois sua categoria filosófica é apoiada na Filosofia da Estética. Porém, são

sem dúvida uma relação entre as três visões clássicas: o Belo, o Justo e a Bondade que

envolve profundamente na categoria artística do século XVII. Se o belo na Idade Média

constituía a imitação ao Sagrado, ou a cópia legítima de imagens relacionadas a catequese

Cristã, observa-se que a mentalidade de seguir uma nova filosofia moderna relacionada a

estética constituiu uma maneira também de não descartar a influência dessas três categorias.

Frans post não deixou de fora a natureza espontânea da realidade brasileira, pelo contrário,

propôs destacar o real de uma forma criativa de apresentar três etnias e dialogar com o belo

com sua visão idealizada holandesa.

42

3º Capítulo: A intertextualidade da iconografia do Forte Reis Magos a partir do Frans

Post.

Neste capítulo se averiguara proferir o sentido da intertextualidade na imagem do

Forte Reis Magos a partir do pintor Frans Post. No entanto o que caracteriza o conceito da

intertextualidade? A intertextualidade trata de um texto que se refere de outro texto no método

do fenômeno verificando uma imagem e analisando se a obra se refere algum estilo anterior e

quais suas contribuições sobre o contexto.

Nessa situação, o capítulo está apoiado em algumas “obras” que compõem a

iconografia do Forte Reis Magos de Frans Post como também na relação intertextual de

outros artistas, desse modo, estabelecendo se em cada imagem a ser destacada pode-se

determinar se há conexão intertextual, ou apenas a realização do objeto na arte. Apesar disso,

a linha de pesquisa é analisar as possíveis influências que o Forte Reis Magos tenha sido tema

de destaque como produção artística a partir de Frans Post, mas sem deixar de fora que a

construção do Forte pode ser apenas uma maneira criativa de se pintar sem uma concepção

inventada a partir de Frans Post, pois a imagem já existia antes de Post. O que significa que

não pode ser uma criação imaginária do pintor, mas o que se pintou já existia anterior ao

pintor, apenas passou a ser destaque do seu paisagismo.

Segundo Andrade (2011), na imagem do Forte Reis Magos deve ser levada em conta

as transformações físicas, desde 1598 até os dias atuais. O Forte dos Reis Magos sofreu várias

intervenções, ora de natureza física como restaurações, demolições, reformas e adequações,

ora relativas à própria utilização. Já serviu como sede administrativa da Capitania, Comando

Militar, Quartel de Tropas e refúgio de moradores. Desde 1950, entretanto, ele foi tombado

pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que até hoje zela por esse

monumento de indiscutível relevância para a história, não só do Rio Grande do Norte, mas

também do Brasil.

Antes de propor neste capítulo as seguintes etapas de propostas referentes a

iconografia do Forte Reis Magos sobre os atributos da intertextualidade a partir de Frans Post.

Nessa sequência, é sobre o pensamento aristotélico da essência e do acidente que se descobre

o que é verdadeiro ou falso. Como consequência dessa ideia pode se conhecer o que é e o que

43

não é, isto no sentido filosófico, mas que ilumina entender o contexto da intertextualidade na

visão das Artes.

...Em segundo lugar, devemos ver se ele não se predica na categoria de

essência, mas como um acidente, como “branco” se predica da neve ou

“semo vente” da alma uma espécie de “objeto em movimento”: o movimento

é um acidente seu, como o é muitas vezes de um animal o andar ou estar

andando. Por outro lado, “mover-se” não parece indicar a essência, mas antes

um estado de atividade ou passividade. É analogamente no que se refere a

“branco”, pois este termo não indica a essência da neve, mas uma certa

qualidade desta. Logo, nem a brancura se predicam na categoria de essência

(ARISTÓTELES, 1978, p. 55).

É admissível que a determinação do raciocínio apresentado por Aristóteles contribui

eficazmente na construção do pensamento artístico sobre a intertextualidade na iconografia do

Forte. Nesta linha de raciocínio a essência do Forte é sua própria construção de pedra voltada

para um lado para o mar e outra para a terra. Porém, é evidente que o Forte no seu todo

constitua a sua essência. Por outro lado, as reformas, as paredes pintadas ou as demolições de

alguma parte interna sejam caracterizadas como acidentes, pois estão em estado de

movimento. Nesse sentido, se pode enxergar, posteriormente, em cada expressão artística do

Forte, tanto, na fotografia, na pintura, na gravura e no desenho aspectos voltados para um

determinado olhar do artista sobre a essência, mas que destaca os acidentes presentes a partir

do movimento temporal sob o Forte Reis Magos.

Segundo Lago e Lago (2009), os desenhos de Frans Post ou os esboços que serviram

como registros dos lugares, nos quais o viajante esteve presente, poderiam ser totalizados com

um número considerado, mas apenas 57 são reconhecidos e que foram descobertos até os

meados do século XX. Os desenhos podem ser encontrados em dois países: Holanda e

Inglaterra. No entanto, os desenhos estão divididos em três partes: a primeira composta por

seis desenhos considerados avulsos, dos quais dois estão desaparecidos; a segunda 19

desenhos realizados na viagem de Frans Post rumo ao Brasil, atualmente conservados no

Museu Marítimo de Amsterdã, descoberto em 1959; a terceira 32 desenhos de Frans Post para

o livro de Barlaeus no século XVII, conservados no British Museum, em Londres. No grupo

dos 32 desenhos pode-se constatar a presença do desenho do Forte Reis Magos. Além disso,

“desses desenhos 31 foram gravados e publicados no livro de Barlaeus, que saiu em 1647. Só

um desenho, Forte Arxim, foi gravado, mas não incluído no livro. Cada desenho mede 33 x

44

51 cm, o que corresponde exatamente ao tamanho das gravuras” (LAGO E LAGO, 2009, p.

384).

Figura 13 (Forte Reis Magos, Frans Post, desenho sobre papel).

Continuando sobre esse pensamento da intertextualidade, o desenho do Forte Reis Magos

encontrado no Livro “Obras Completas de Frans Post” de Lagos e Lagos (2009), pode-se

visualizar que o desenho seria a matriz que foi utilizada para ser reproduzida posteriormente

na gravura. As semelhanças entre o desenho e a gravura são bastante comuns. Porém, a

pintura de Frans Post mostra que a composição tenha sido produzida por outra matriz

(esboço), ou por outra concepção do olhar do pintor, pois na pintura Frans Post destaca apenas

os indígenas na da praia e, no fundo, o Forte Reis dos Magos.

45

3.1. Pintura de Post em relação a pintura de Thiéry sobre o Forte Reis Magos.

Figura 14 (Frans Post, Forte Ceulen, óleo sobre tela, 60 x 86 cm, 1638).

Quatro índios tapuias aparecem em primeiro plano, nus, calçados com

sandálias, ornados com plumas e armados de arcos. Um dos homens está

sentado na canoa. Eles estão de um lado da praia e pode-se ver uma parte de

outra margem, enquanto a base do triângulo assim formado é ocupada pelo

Forte. No caso desta composição bastante intrigante, tanto o óleo quanto a

gravura correspondente do livro de Barlaeus são bastante semelhantes, mas

enquanto o óleo se concentra nas figuras dos índios tapuias (...). (LAGO E

LAGO, 2009, p.55).

No caso da obra de Frans Post observa-se que a intenção do pintor era documentar um

acontecimento preciso: o momento em que os holandeses foram abordados pela primeira vez

pelos indígenas, que se manifestaram e ofereceram presentes. Frans Post acrescenta na tela

sobre óleo, de um certo sentido, o contato entre duas culturas, desta forma destacando índias

nuas na obra para apresentar a realidade daquela região do Nordeste.

Além disso, na obra de Post observa-se que a descoberta do desconhecido é destacada na

imagem do Forte Ceulen. A expressão antes inexistente sobre um mundo visto através de

46

fábulas e mitos por não ser tanto vivenciado ou ainda está em processo de colonização. O fato

de tal incógnita ser transmitida de modo harmonioso no conjunto da tela mais uma vez

destaca a eficiência administrativa de Nassau no poder, como também minimiza o caráter

exótico da colônia – que talvez por isso a torna ainda mais curiosa.

Figura 15 (Thiéry, Castel Eulen Aen Rio Grande, Gauche, 38,4 x 54,1 cm, 1765).

Na cópia de Thiéry, a única diferença notável é que um dos quatro índios está em pose

distinta à do óleo. Um detalhe nítido é a ausência de flechas dos índios no quadro de Post.

Mas que Thiéry provavelmente copiou de outros quadros. “O francês certamente teve acesso

ao grupo original de 18 vistas pintadas no Brasil quando esse grupo original ainda se

encontrava completo (ou quase completo) no castelo de Chaville” (Lago e Lago, 2009, p. 96).

Em alguns quadros que ele decidiu não copiar haveria, sem dúvida, alguns

detalhes que lhe pareceram interessantes e que foram acrescentados aos

guaches. Whitechead e Boeseman (1989) opinam que esses detalhes

poderiam ter sido copiados de um suposto caderno de esboços, o que nos

parece menos provável (LAGO e LAGO, 2009, p.96).

A relação intertextual entre essas duas pinturas deixa evidente que as imagens se

apresentam claramente. De um lado na obra de Frans Post se visualiza a profundidade de

manter o clima real, talvez no momento que estivesse presente ao Forte sobre o clima chuvoso

caracterizando o céu parcialmente cinzento e, possivelmente, um pouco afastado do Forte,

47

como estivesse tentando enxergar o horizonte ao redor do monumento. Além disso, dando

visibilidade aos índios sem deter integralmente as fisionomias do rosto dos indígenas.

Por outro lado, se observa que o pintor Thiéry possivelmente não esteve no Forte e nem

conhecia o clima da região. Pelo contrário, observa que a tentativa de destacar um paisagismo

mais “vivo” com cores vivas, além do céu parcialmente azulado e no fundo um alaranjado no

processo de destacar o início do porto do sol ou o final do dia.

3.2. Gravura do Forte Reis Magos.

Figura 16 (Arnoldus Montanus, Fluvius Grandis, Gravura, 41 cm x 34 cm, 1670).

A imagem aqui apresentada é uma das muitas gravuras existentes no monumental livro

produzido pelo explorador holandês, missionário e teólogo Arnoldus Montanus (1625? –

1683). É uma visão finamente gravada da Fortaleza dos Reis Magos, mostrada fortemente

armada ao longo do Rio Potengi. No primeiro plano, soldados e nativos podem ser vistos

descarregando mercadorias de pequenos barcos que chegavam à terra firme.

48

Essa gravura foi publicada em livro, cujo título original em holandês era De Nieuwe en

Onbekende Weereld, 6tendo sido publicado originalmente em 1671. O livro foi traduzido na

Inglaterra pelo editor de mapas John Ogilby sob o título, bastante impressionante e extenso,

de “O Novo e Desconhecido Mundo: ou Descrição da América e do Sul, Contendo a origem

dos Americanos e Sul-terrestres, viagens notáveis para lá, qualidade das margens, ilhas,

cidades, fortalezas, templos, montanhas, fontes, rios, casas, a natureza das feras, árvores,

plantas e lavouras estrangeiras, religião, costumes, ocorrências milagrosas, guerras antigas e

novas: adornadas com ilustrações tiradas da vida na América e descritas por Arnoldus

Montanus” (MEDEIROS, 2019).

De Nieuwe en Onbekende Weereld 7 pode-se ser considerado, provavelmente, como o

primeiro livro que transmitiu de forma popular para o Continente Europeu as diversas

realidades sobre o Novo Mundo, na qual permitiram tornar conhecido novos conceitos

presentes nas ilustrações até anteriormente desconhecidos na Europa. O importante é perceber

que a gravura ilustra uma realidade vivida sobre o domínio holandês entre os anos de 1638 a

1640. Segundo Medeiros (2019), o gravador Jacob Van Meurs se inspirou nos relatos dos

viajantes que estiveram no Novo Mundo. Entretanto Montanus nunca visitou o Novo Mundo

e sua obra contém inúmeros erros e concepções fantásticas sobre as pessoas e os animais das

Américas. Ele repetiu muitas concepções fantásticas e o mesmo vale para as ilustrações.

O livro de Montanus é ricamente ilustrado com 125 gravuras de cobre, incluindo 32 vistas

dobradas, 70 placas, 16 mapas e sete retratos incomumente bonitos de exploradores famosos,

cada um destes rodeado por molduradas barrocas.

Porém, a gravura da Fortaleza dos Reis Magos não foi utilizada apenas informações

obtidas por Montanus, mas é uma ilustração que mostra as adaptações tiradas do desenho ou

da própria gravura feita pelo pintor Frans Janszoon Post.

6 MEDEIROS, 2019.

7 MEDEIROS, 2019.

49

Figura 17 (Frans Post, Forte Reis Magos, gravura em cobre...).

Esta gravura em cobre do Forte Reis Magos foi datada no ano de 1647 do século XVII. O

que indica que foi produzida na segunda fase de Frans Post. Aparentemente se observa que a

obra realizada em gravura que destaca uma sensação de cores vivas. O céu é registrado com

cores puxadas para o azul acinzentado sob as nuvens misturadas com três posições de cores: o

vermelho, amarelo e o branco. O vermelho se mistura com o amarelo formando quase que um

marrom e algumas partes o marrom é misturada com o branco dando uma tonalidade mais

clara. Os recifes à margem da praia são registrados diferentes da tonalidade da cor do Forte

sob a cor vermelha misturado com o amarelo, porém o vermelho possui menos pigmentos. Na

praia pode-se observar que o contato dos holandeses com os índios também ganha destaque

na cor vermelha, apenas o holandês entre os dois companheiros registrados com o pigmento

vermelhado está com cores diferentes: o azul da parte inferior e superior do corpo e por volta

de uma roupa amarela. Possivelmente, esse personagem seja o próprio Frans Post tendo seu

primeiro contato com os índios tapuias. O interessante é que os indígenas não são definidos

pela presença de pigmentos em nenhuma parte do corpo, porém existe levemente no remo a

cor vermelha da canoa onde aparece um índio sentado conduzindo para a beira da praia.

50

Essa imagem foi ilustrada no livro de Caspar (Ou Gaspar) Barlaeus, cuja publicação

ocorreu em 1647. Essa gravura possui a estampa de número 30, estando sem assinatura, mas

com as características de outras obras assinadas por Frans Post. Mostra a foz do Rio Potengi e

a Fortaleza dos Reis Magos, que é apresentado no desenho ao centro, construído em pedra,

tendo os seus ângulos em blocos aparelhados, contrastando com o restante da superfície, mais

rústica. Igualmente vemos quatro das pontas, o que nos faz supor que o autor estivesse situado

sobre o recife que se vê no primeiro plano, que barrava em parte a entrada do rio, com o mar à

sua esquerda e o rio à direita.

“Sobre as paredes é possível visualizar várias seteiras e nas extremidades pequenas

guaritas, provavelmente em madeira, sustentadas com peças inclinadas, que se apoiavam

sobre a alvenaria de pedra” (MEDEIROS, 2019,).

Figura 18 (Gravura do Forte Reis Magos, Frans Post).

A gravura do Forte Reis Magos, esboçada por Frans Post, apresenta o inverso da

gravura em cobre que foi copiada de maneira colorida. Nessa versão observa-se que a gravura

foi produzida de forma simples apenas papel sobre a cor preta. Mas, as imagens das ambas as

gravuras representam a mesma cena vivenciada naquele período.

51

Figura 19 (Gravura do Forte Reis Magos, Hubert Vincent, 1698).

Nessa gravura do Forte Reis Magos de Vincent, observa-se que foi datada

posteriormente a presença de Frans Post no Nordeste, particularmente no Rio Grande. O

interessante perceber é que a imagem tenha sido publicada pelo italiano Andreas Antonio

Orazi. A gravura segue o mesmo olhar de Post, apenas destaca-se em cima do Forte uma

planta horizontal mostrando o panorama do litoral. Os anjos com brasão da bandeira de

Portugal, provavelmente, destacando a vitória dos portugueses contra os holandeses ainda no

mesmo século XVII.

3.3. Fotografia do Forte Reis Magos.

Diante da dimensão de oferecer uma ligação direta ou indireta da influência do

registro artístico do Forte Ceulen a partir de Frans Post sobre o período moderno não é uma

perspectiva fácil, pois são dimensões totalmente distintas. Porém é por meio da leitura visual

que podem se destacar as permanências do olhar de Frans Post e as mudanças posteriores, a

partir de um olhar do fotógrafo Jaeci.

52

Figura 20 (Forte Reis Magos, Jaeci Emerenciano Galvão, anos 1940).

Nesse sentido, observa-se que o olhar do fotógrafo Jaeci, profissional, natural do Rio

Grande do Norte, responsável por um dos maiores acervos de Natal a partir da década de 40

do século XX, teve, certamente, influência da modernidade de utilizar máquinas fotográficas

como: a Polaroid Model 95, que representou a primeira câmera com filme instantânea, ou

Hansa Canon. O que se entende é que Jaeci utiliza o olhar de cima para baixo como estivesse

tirando à foto de dentro de uma aeronave, ou helicóptero.

Na fotografia em preto e branco visualiza-se grosseiramente nas paredes externas o

formato de pedras encaixadas, provavelmente, nesse tempo, o Forte ainda conservava rabiscos

semelhantes às que se enxerga na pintura de Frans Post, uma imagem antiga.

Contudo, a fotografia por ser mais nítida do que uma pintura, possibilita observar que a

intenção do fotografo Jaeci deixa de lado a visão paisagista de destacar o horizonte ao redor

do Forte. Esse período do século XX parece que o objeto do Forte em destaque tem mais

importância do que se pode visualizar da parte periférica ao redor da parte externa.

Diferentemente de Frans Post, que tinha um olhar primário sobre o Forte e sua

familiaridade não estava ligado pelo costume rotineiro do local, e seu serviço foi passageiro

53

visualizando que o interior do Forte não representou muita importância no seu registro. Por

outro lado, a fotografia de Jaeci parece ser familiarizada na sua vida diária, porém parece que

o interior do Forte passa a ser uma tendência misteriosa de saber o que tem lá.

Figura 21 (Forte Reis Magos, João Alves de Melo, século XX).

Mas uma fotografia dos meados da década de 20 do século XX, foto em preto e branco, a

autoria do fotografo é de João Alves de Melo. Porém observa-se a tentativa de destacar o

interior do Forte Reis Magos, principalmente, um destaque de uma das partes que estão ao

redor do interior do forte. Nesse caso, a foto está direcionada para a capela no centro do pátio

no interior do Forte.

Em uma crônica antiga, Câmara Cascudo, acreditava que a Capelinha dos Reis Magos foi

construída junto com a Fortaleza dos Reis, onde seus defensores deveriam adorar os

primitivos padroeiros dos três reis, que certamente foram destruídos durante a invasão dos

holandeses.

Cascudo (1999) que mostra várias descrições deste sítio arqueológico, feitas por cronistas

do século XVII e aponta que a mesma foi destruída na derrota dos holandeses. Depois o local

foi reconstruído e em 1755 recebeu as imagens dos três Reis Magos, um regalo de El Rei D.

54

José, que atualmente se encontram na igreja de Santos Reis, onde são celebrados a cada dia 6

de janeiro, um dos feriados oficiais da capital potiguar.

Diante da perspectiva de olhar a fotografia como instrumento de registro pode-se,

portanto, concluir que a relação intertextual observada nos fotógrafos João Alves de Melo e

Jaeci Emerecenciano Galvão tem tendências para a intertextualidade na fonte de Frans Post,

pois as intenções registradas pelos fotógrafos deixam claro que mesmo não havendo o

interesse de mostrar a mesma perspectiva paisagista de Post, mas o objeto é o Forte. Por outro

lado não se enxerga nas fotos uma visão panorâmica ao redor do Forte, mas isso não

configura que não possa existir elemento intertextual.

55

CONCLUSÃO

O Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em Artes Visuais ofereceu como proposta

de pesquisa monográfica o pintor Frans Post, que abrange a área de História das Artes.

Espera-se alcançado o objetivo de apresentar a contribuição do pintor holandês na arte local

(Rio Grande do Norte), mas levando em consideração as contribuições do pintor também no

Nordeste. É provável que o título desde trabalho tenha gerado dúvida, ou complexidade em

relação à palavra “Invenção”, mas a finalidade é apresentar a partir dos aspectos escritos sobre

a primeira fase de Frans Post, e a intertextualidade da iconografia do Forte Reis Magos

indagações sobre a veracidade do pintor estrangeiro no Brasil.

Os capítulos desenvolvidos tiveram como meta informar os fatos históricos e artísticos

sobre o pintor Frans Post no Nordeste, especificamente direcionando para o Forte Reis

Magos, sobretudo, objeto de estudo para este trabalho. Porém, como foi diagnosticado que

pesquisar o pintor Frans Post somente levando em conta sua contribuição no Rio Grande do

Norte poderia acarretar poucas informações sobre o pintor. Por isso, foi resolvido abranger a

produção artística de Post em toda sua passagem no Nordeste, desde 1637 a 1644 do século

XVII. Observa-se detalhadamente o período do século XVII que o Brasil vivia sobre o regime

colonial (1530-1808), que esse período correspondeu o auge da exploração de materiais

brutos do Novo Mundo, mas que ao mesmo tempo correspondeu possibilidades de invasões

de outras nações interessadas em fazer do Brasil suas colônias.

Quando os holandeses conseguiram dominar por 25 anos o Nordeste do País sobre o

comando do governador Maurício Nassau que foi responsável de fazer do Nordeste a nova

Amsterdã não deixou de lado registro dos acontecimentos presentes daquele período entre

1630 a 1655 do século XVII. As presenças de Albert Eckhout (1610-1666) e de Frans Post

(1612-1669) holandeses que estiveram no Novo Mundo não apenas contribuíram para

registrar o domínio do poder holandês no Brasil, mas colaboram para carimbar nas imagens

produzidas no Nordeste várias informações relacionadas às arquiteturas, as paisagens,

monumentos, costumes, etnias, faunas e floras.

Segundo Lago e Lago (2009) Frans Post foi o primeiro pintor há pisar em solo do

Novo Mundo, certamente, sem o persistente olhar externo jamais poderia ter existido

documentação visual que proporcionasse analisar o cotidiano daquele período do século

XVII, pois a arte no Brasil trazida pelos portugueses, ou o estilo do Maneirismo influência do

56

renascimento com a transição para o barroco não possuía o mesmo olhar do holandês com seu

naturalismo, paisagismo e cotidiano.

A arte holandesa é diferenciada da arte portuguesa, pois a influência do protestantismo

possibilitou para os pintores holandeses evoluir os temas de pinturas para os campos, boques

e rios; já as pinturas portuguesas ainda concentravam os temas em figuras religiosas,

ensinamentos catequéticos e imagens de santos.

No entanto, o Trabalho de Conclusão de Curso deste trabalho teve como metodologia

duas abordagens, inicialmente, construídas ao longo da pesquisa sobre Frans post. A primeira

foi analisar as sete obras, exceto uma que é datada no ano de 1640 do século XVII, que está

no Instituto Ricardo Brennand, localizada em Recife – PE. As outras seis inclusive a obra do

Forte Reis Magos no Rio Grande do Norte estão todos localizadas no Museu de Luvre –

França. Porém as abordagens foram feitas por meio de impressões das imagens e procurando

analisar e descrever cada uma. A segunda foi relacionar outras imagens sobre o Forte Reis

Magos comparando sobre a intertextualidade das imagens.

Enquanto isso, alguns leitores de Artes visuais podem perguntar-se por que

desenvolver um TCC sobre o pintor Frans Post, principalmente, levando em consideração o

Forte Reis Magos? Outros leitores podem ainda ir além, por que apresentar um pintor

estrangeiro e não um que seja brasileiro? Diante disso, pode-se verificar que a contribuição

principal é oferecer uma pesquisa voltada para a História das Artes no Rio Grande do Norte,

porém como poucas informações existem sobre a História das Artes no Rio Grande do Norte

no período colonial o único caminho que foi possível para não deixar de fazer um trabalho

monográfico artístico no período colonial foi apresentar o pintor Frans Post, que foi um dos

vários pintores que desenhou e pintou o Forte Reis Magos.

Com efeito, alguns críticos em Artes podem não considerar o pintor Frans Post como

um pintor que possa fazer parte da História das Artes no Rio Grande do Norte, pois sua

passagem no local foi curta, e não há informação se existe outra obra que possa ser

considerada ou incluída na História das Artes local. A obra do Forte é a única que foi

registrada oficialmente por Frans Post na sua presença no RN, mas isso não caracteriza negar

ou afirmar que a História das Artes pode ser analisada a partir de Frans Post. Porém pode-se

concluir que a obra do Forte de Frans Post em si mesma representa uma marca histórica e

artística para o período colonial.

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A intertextualidade desenvolvida deste trabalho iniciou a partir das contribuições

oferecidas pelo professor Vicente Vitoriano Marques Carvalho, professor de Artes do

DEART, que foi o orientador do TCC I sugerindo que o discente desenvolvesse uma

finalidade concreta sobre o trabalho, mas como os capítulos estavam sendo desenvolvidos a

partir da definição da invenção estava gerando muita confusão, principalmente, por ausência

de argumentação eficiente. Nesse sentido, foi resolvido dividir o trabalho em três partes, a

primeira sendo a influência do renascimento da arte holandesa; a segunda a comparação de

composições e texturas na primeira fase de Frans Post; e a terceira apresentar o sentido real do

trabalho que foi a intertextualidade na imagem do Forte Reis Magos a partir de Frans post.

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REFERÊNCIAS

CAUQUELIN, Anne. A Invenção da Paisagem. Trad. Marcos Marcionilo. São Paulo, ed.

Martins Fonte, 2007.

CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano. Vol. 1. Trad. Efhaim Ferreira Alves.

Petrópolis; Vozes, 1994.

COMBRICH, E.H. A História da Arte. 16. Ed. Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro, ed.

LTC, 1999.

FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade. Trad. Mana Ermantina Galvão – São Paulo:

Martins fontes, 1999.

FRENNE, Mikel du. Estética e Filosofia. 3.ed. São Paulo, ed. Perspectiva, 2004.

HERÁCLITO. “Fragmentos e Doxografia”. Trad. Wilson Regis e José Cavalcante de

Souza. In: Os pré-socráticos. Col. Os Pensadores. São Paulo, Abril Cultural, 3a edição, 1985.

LAGO, Pedro Corrêa do; Lago, Bia Corrêa do. Frans Post (1612-1680): Obra Completa. 2.

ed. Rio de Janeiro, ed. Capivara, 2009.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS Eva Maria. Metodologia do Trabalho

Científico. 5. ed. São Paulo, Atlas, 2001.

MBEMBE, A. Crítica da Razão Negra. Tradução Sebastião Nascimento Ed. N-1, Paris,

2018.

MEDEIROS, Rostand. As Imagens da Fortaleza dos Reis Magos em Gravuras do século

XVII. NATAL. Disponível em:http://www.tokdehistoria.com.br/imagens. Acesso em: 12 de

mar. 2019.

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MONTERADO, Lucas de. História da Arte (com um apêndice sobre as artes no Brasil). 2.

ed. Rio de Janeiro, ed. JC, 1978.

OS PENSANDORES. Aristóteles volume I. Trad. José Américo Motta Pessanha. São Paulo,

ed. Nova Cultura, 1978.

PEIXOTO, Renato Amado. “Duas Palavras”: Os Holandeses no Rio Grande e a invenção da

identidade católica norte-rio-grandense na década de 1930. Revista de História Regional

19(1), Natal, 2014.

SCHAMA, SIMON. Paisagem e memória. Trad. Hildegard Feist. São Paulo, Companhia das

Letras, 1996.

TUAN, Yi-Fu. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. Londrina, ed. Eduel, 2013.

WÖLFFLIN, Heinrich. Conceitos Fundamentais da História da Arte. 4. ed. Trad. João

Azenha Jr. São Paulo, ed. Martins Fontes, 2000.

ZUMTHOR, Paul. A Holanda no tempo de Rembrandt. Tradução de Maria Lúcia

Machado. São Paulo, Companhia das Letras, 1989.

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ANEXOS

RELATÓRIO DA AÇÃO PEDAGÓGICA.

A programação da Semana de Artes Visuais ocorreu entre os dias 06 a 10 de maio de

2019, no DEART/UFRN possibilitando aos formandos do Curso de Licenciatura em Artes

Visuais (2019.1) apresentar suas ações pedagógicas na sexta feira.

A programação da ação pedagógica disponibilizou para o formando Herbton Severo

Calafange da Silva, matrícula 20160005567, apresentar o Trabalho de Conclusão do Curso de

Artes Visuais entre 09h às 11h.

O público alvo foram os próprios alunos do curso de Artes visuais que sentiram

convidados a fazerem presentes na palestra na área de História das Artes, especificamente, na

História Local do Rio Grande do Norte, mas que abrangeu o Nordeste. A temática oferecida

para a palestra foi problematizar a seguinte questão: Invenção ou Criação nas obras

de Frans Post no Nordeste.

Ação pedagógica foi iniciada no horário previsto a partir das 09h no qual contou com

a presença de aproximadamente 20 pessoas, além do bolsista que esteve como orador de

auxiliar o palestrante, e o professor Vicente Vitoriano Marques Carvalho que esteve presente

para contribuir na abordagem proferida pelo palestrante.

A palestra foi dividida em três etapas, sendo a primeira uma visão panorâmica da

pesquisa do TCC, o estudo dos capítulos, focalizando nas principais colunas que sustentavam

os capítulos, tais como: o renascimento, os pintores Rembrandt e Frans Hals, a

intertextualidade na imagem do Forte Reis magos a partir de Frans Post; o segundo momento

foi mostrar algumas imagens que compõem os recursos metodológicos para a leitura visual,

entre essas: a primeira fase do pintor Frans Post no Brasil (1637-1644), e a relação

intertextual entre outras imagens do Forte. Além disso, realizando uma aula didática de

descrever e analisar as sete obras da primeira fase; e o terceiro momento que foi realizar uma

avaliação contínua, mas disponibilizando de duas questões: qual é a importância da

intertextualidade na arte? O pintor Frans Post pode ser considerado uma criação ou uma

invenção nas pinturas do Novo Mundo?

O tempo programado foi utilizado muitíssimo bem sem a necessidade de ter havido

pausa na palestra. Às duas horas disponibilizadas para a palestra foram suficientes para

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manter o público presente e participativo. Apenas houve dois contratempos: o primeiro a

mudança de sala em última hora, sem o aviso prévio, e a segunda da invasão de uma

funcionária durante a palestra informando que os mesmos que se encontravam na sala

evitassem falar alto, pois estava ocorrendo um concurso na sala ao lado, ou a sala onde era

para ter sido a ação pedagógica. Felizmente, como o público de Artes Visuais não é de gerar

confusão e nem de se incomodar com questão secundária continuei a palestra sem mais

problema constrangedora.

Anterior a semana de Artes Visuais realizada entre os dias de 06 a 10 de maio de 2019

foi realizada no dia 24 de abril de 2019 uma ação pedagógica na Escola Estadual Myriam

Coeli, localizada no conjunto Nova Natal. A palestra teve a participação de duas turmas no

horário matutino; a primeira foi do 1º ano do Ensino Médio, que totalizou 28 participantes. A

segunda turma teve a participação de 18 estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental. A

duração foi totalizada em quatro horas.

O objetivo nesse primeiro encontro da ação pedagógica foi apresentar o Trabalho de

Conclusão de Curso para os alunos de rede pública com a finalidade de mostrar a partir do

tema de pesquisa “Frans Post, estudo sobre a invenção e a intertextualidade na primeira fase,

estimular os alunos conhecer sua própria história voltada para as artes no Rio Grande do

Norte.

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