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Sistema Plantio Direto Pedro Luiz de Freitas 1 Afagar a terra, conhecer os desejos da terra Cio da Terra, propicia estação, E fecundar o chão Cio da Terra, de Chico Buarque e Milton Nascimento Introdução Agronomia é, por definição, o ramo da agricultura que lida com a produção de alimentos e fibras e como o manejo do solo. Nossos recursos naturais – solo, água, fauna e flora – são gerenciados pelos nossos agricultores. Nós, Engenheiros Agrônomos, somos responsáveis por assistir e aconselhar agricultores na sua atividade. Nosso paciente é o solo, individuo complexo e vivo. Nossa opção, nessa missão, é ser engenheiros, e tratar o solo como um mineral, sem vida, ou sermos agrônomos e biólogos, entendendo os fenômenos biológicos que acontecem no solo e identificar as práticas e processos de manejo do solo que permitam o agricultor atingir seu objetivo, de alimentar, vestir e produzir moeda de troca internacional, com lucro e com qualidade de vida, mantendo o ambiente sadio para a vida do homem e de todos os seres vivos. Na verdade não se trata de nossa opção, como engenheiros agrônomos ou como agricultores, mas a opção de nosso Estado, de nosso País e de toda a humanidade, buscando a sua sobrevivência. Nesse capitulo, vamos revelar uma das ferramentas existentes para que possamos fazer a agronomia em harmonia com a natureza, pondo em prática conceitos antigos que se tornam modernos pela evolução do conhecimento técnico-científico adquirido depois de anos de pesquisa e de experiencia fazendo agricultura nos Cerrados do Estado de Goiás. O Sistema Plantio Direto (SPD) é, assim, muito mais que mais um sistema de manejo do solo. É a sobrevivência da agricultura tropical e o caminho certo e definitivo na busca da competitividade, sustentabilidade, equidade, com qualidade ambiente. Sistema Plantio Direto – Definição O SPD compreende um complexo integrado de processos que visam melhorar as condições ambientais visando explorar da melhor forma possível o potencial genético das culturas, respeitando três requisitos mínimos: i) revolvimento do solo restrito a linha de plantio; ii) diversificação de espécies pela rotação de culturas; e, iii) manutenção de resíduos vegetais com o uso de culturas especificas para formação de palhada (proteção do solo contra sol, chuva e ventos, conservando água). 1 Engenheiro Agrônomo, Ph.D. em Ciência do Solo, natural de Santo André, SP, Pesquisador da Embrapa Solos (Rio de Janeiro, RJ), Especialista no Manejo da Fertilidade Física em Solos Tropicais sob o Sistema Plantio Direto. Coordenador da Plataforma Plantio Direto {www.embrapa.br/plantiodireto}. Colaborador técnico e Diretor Secretário Adjunto da APDC (Brasília, DF) e Bolsista e Consultor Ad-Hoc do CNPq. Residente em Goiânia, GO, desde 1988. Conduziu os primeiros ensaios verificando o efeito do Plantio Direto no comportamento de solos de cerrados em Goiás. End. eletrônico: [email protected].

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Agronomia é, por definição, o ramo da agricultura que lida com a produção de alimentos e fibras e como o manejo do solo. Nossos recursos naturais – solo, água, fauna e flora – são gerenciados pelos nossos agricultores. Nós, Engenheiros Agrônomos, somos responsáveis por assistir e aconselhar agricultores na sua atividade. Nosso paciente é o solo, individuo complexo e vivo. Nossa opção, nessa missão, é ser engenheiros, e tratar o solo como um mineral, sem vida, ou sermos agrônomos e biólogos, entendendo os fenômenos biológicos que acontecem no solo e identificar as práticas e processos de manejo do solo que permitam o agricultor atingir seu objetivo, de alimentar, vestir e produzir moeda de troca internacional, com lucro e com qualidade de vida, mantendo o ambiente sadio para a vida do homem e de todos os seres vivos. Na verdade não se trata de nossa opção, como engenheiros agrônomos ou como agricultores, mas a opção de nosso Estado, de nosso País e de toda a humanidade, buscando a sua

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Sistema Plantio Direto

Pedro Luiz de Freitas1

Afagar a terra, conhecer os desejos da terra Cio da Terra, propicia estação, E fecundar o chão

Cio da Terra, de Chico Buarque e Milton Nascimento Introdução

Agronomia é, por definição, o ramo da agricultura que lida com a produção de alimentos e fibras e como o manejo do solo. Nossos recursos naturais – solo, água, fauna e flora – são gerenciados pelos nossos agricultores.

Nós, Engenheiros Agrônomos, somos responsáveis por assistir e aconselhar agricultores na sua atividade. Nosso paciente é o solo, individuo complexo e vivo. Nossa opção, nessa missão, é ser engenheiros, e tratar o solo como um mineral, sem vida, ou sermos agrônomos e biólogos, entendendo os fenômenos biológicos que acontecem no solo e identificar as práticas e processos de manejo do solo que permitam o agricultor atingir seu objetivo, de alimentar, vestir e produzir moeda de troca internacional, com lucro e com qualidade de vida, mantendo o ambiente sadio para a vida do homem e de todos os seres vivos. Na verdade não se trata de nossa opção, como engenheiros agrônomos ou como agricultores, mas a opção de nosso Estado, de nosso País e de toda a humanidade, buscando a sua sobrevivência.

Nesse capitulo, vamos revelar uma das ferramentas existentes para que possamos fazer a agronomia em harmonia com a natureza, pondo em prática conceitos antigos que se tornam modernos pela evolução do conhecimento técnico-científico adquirido depois de anos de pesquisa e de experiencia fazendo agricultura nos Cerrados do Estado de Goiás. O Sistema Plantio Direto (SPD) é, assim, muito mais que mais um sistema de manejo do solo. É a sobrevivência da agricultura tropical e o caminho certo e definitivo na busca da competitividade, sustentabilidade, equidade, com qualidade ambiente.

Sistema Plantio Direto – Definição

O SPD compreende um complexo integrado de processos que visam melhorar as condições ambientais visando explorar da melhor forma possível o potencial genético das culturas, respeitando três requisitos mínimos: i) revolvimento do solo restrito a linha de plantio; ii) diversificação de espécies pela rotação de culturas; e, iii) manutenção de resíduos vegetais com o uso de culturas especificas para formação de palhada (proteção do solo contra sol, chuva e ventos, conservando água). 1 Engenheiro Agrônomo, Ph.D. em Ciência do Solo, natural de Santo André, SP, Pesquisador da

Embrapa Solos (Rio de Janeiro, RJ), Especialista no Manejo da Fertilidade Física em Solos Tropicais sob o Sistema Plantio Direto. Coordenador da Plataforma Plantio Direto {www.embrapa.br/plantiodireto}. Colaborador técnico e Diretor Secretário Adjunto da APDC (Brasília, DF) e Bolsista e Consultor Ad-Hoc do CNPq. Residente em Goiânia, GO, desde 1988. Conduziu os primeiros ensaios verificando o efeito do Plantio Direto no comportamento de solos de cerrados em Goiás. End. eletrônico: [email protected].

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O SPD, associado a outras práticas conservacionistas, é visto como um conjunto de práticas biológicas que permite a recuperação efetiva e duradoura de áreas degradadas por erosões crônicas, onde por anos imperaram pastagens mal conduzidas ou lavouras cultivadas com os métodos de preparo convencional. Nesse caso, aparece o tema da integração entre as atividades agrícola e pecuária, o qual permite o máximo aproveitamento dos benefícios das culturas anuais e das pastagens. A universalidade da aplicação da Integração Lavoura-Pecuária (ILP) nos trópicos e subtrópicos tem aberto novas perspectivas para a pecuária de corte brasileira, reconhecidamente extrativista (baixo desfrute, estreita margem de renda, etc.) e para a pecuária de leite (Lara Cabezas & Freitas, 2000).

Ao lado do significativo aumento da produtividade física das culturas, SPD e a ILD proporcionam a maximização da produtividade de insumos e de mão de obra. Associa-se a isto a diminuição significativa de consumo de petróleo (60 a 70 % a menos de óleo diesel), o aumento do seqüestro de carbono (aumento do estoque no solo e da matéria orgânica em decomposição na superfície), a diminuição expressiva da perda de solo por erosão (90 % de diminuição nas perdas estimadas em 10 t solo / t de grão produzida), as quais evidenciam a possibilidade de se obter uma agricultura sustentável e limpa, produzindo alimentos saudáveis, com impacto positivo sobre a qualidade do meio ambiente e da vida do homem, seja no meio rural como no urbano, tais como maior disponibilidade de água limpa para uso humano, menor concentração de pó no ar, temperatura ambiente menos extremada, maior lucratividade do tempo trabalhado e mais tempo para lazer junto à família.

Finalmente, o sistema permite o cumprimento do calendário agrícola, validando as recomendações do zoneamento, e sendo um atrativo para as seguradoras, viabilizando a atividade agrícola. Por suas reconhecidas características, comprovadas amplamente pela pesquisa agropecuária brasileira, o Plantio Direto é a mais importante ação ambiental brasileira em atendimento as recomendações da conferencia da ONU (RIO-92) e da Agenda 21 brasileira, indo de encontro ao acordado na assinatura do Protocolo Verde.

Como em qualquer outro campo da atividade econômica, a adoção de novas tecnologias e estratégias na agricultura requer, normalmente, maiores investimentos visando maximizar os benefícios. Para poder manter os níveis de risco desse investimento a níveis toleráveis e dessa maneira manter ou aumentar as possibilidades de êxito, a capacitação e profissionalização da atividade agropecuária aparecem como uma necessidade.

O desenvolvimento do SPD é fruto da integração tecnológica, com um papel importante e decisivo dedicado aos agricultores, com apoio de órgãos de pesquisa, extensão rural e assistência técnica, ensino e da iniciativa privada. Esse desenvolvimento tem sido facilitado pela surgimento dos Clubes Amigos da Terra (CATs), induzindo a comunicação agricultor x agricultor, eficaz e eficiente meio de difusão tecnológica.

A adoção da filosofia do SPD implica na mudança do comportamento daqueles envolvidos com a atividade agrícola, permeada em toda a cadeia produtiva. Essa mudança se expressa especialmente nos gerentes dos recursos naturais, que são os agricultores, os quais, ficam sensíveis a outras mudanças, incluindo-se a introdução dos avanços tecnológicos. Por outro lado, essa filosofia permeia todas as cadeias de produção, assim como todos os níveis de produtores rurais, desde aqueles com pequenas áreas, onde predomina o plantio manual ou por tração animal, até aqueles com milhares de hectares, com operações intensamente mecanizadas. O mérito principal desses produtores é a obtenção de razoáveis produções, com intensa diversificação, promovendo o uso e manejo racionais dos recursos naturais – solo, água e biodiversidade, convivendo com a natureza.

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SPD no Mundo

A produção agrícola, à semelhança da natureza – sem preparo do solo, é tão antiga quanto a própria agricultura e persistiu até que os egípcios, há uns 6.000 anos atrás, inventaram o arado de madeira arrastado por bois. Em muitas regiões da América Latina, camponeses ainda usam pequenas machetes como única forma de preparo do solo para semeadura, após o corte da vegetação espontânea. Alguns usam hastes pontiagudas para abrir covas sob restos vegetais. A semeadura direta de culturas era prática comum em civilizações antigas, como a Egípcia e a Inca.

A “evolução” foi pela preparação intensa do solo com arados e grades, com tração animal, substituída gradualmente por máquinas cada vez maiores, levando a agronomia (definida como manejo do solo) para o caminho contrário a natureza

. Já no década de 1940, Edward Faukner questionava o preparo intenso do solo e propunha o cultivo mínimo como alternativa. No entanto, o Plantio Direto – PD (“zero tillage” ou “direct drilling”), só foi conceituado pela primeira vez por norte-americanos e europeus no final dos anos 60, após a introdução do “paraquat”, viabilizando o controle químico de plantas invasoras. As primeiras experiências com o PD foram colocadas em prática em Kentucky, EUA e deram origem a publicação do livro de Phillips & Young com o título “No-tillage farming”, em 1973.

A área de SPD nos EUA chegou em 2000 a mais de 21 milhões de ha. Nas Américas, em termos de adoção relativa à área cultivada destacam-se a Argentina, com 10 milhões de ha, ou 50 % da área com culturas anuais, e o Paraguai, com mais de 1 milhão de ha, algo como 85 % de adoção. O Canadá, pais essencialmente de clima temperado, a área de SPD chega aos 4 milhões de ha, apesar de problemas relacionados à dificuldade de germinação por baixas temperaturas na primavera; adaptação de semeadoras; e, dificuldades no manejo de plantas invasoras (Landers, 2000). Na Europa, mesmo com a pouca expressão da erosão hídrica, os ambientalistas têm percebido os benefícios ambientes do SPD e ajudam os agricultores a vencer problemas como o excesso de palha e o embuchamento de semeadoras, permitindo o rápido e seguro desenvolvimento do Sistema no continente. Países tropicais e subtropicais na África e na Ásia procuram vencer os desafios agronômicos e econômicos, adaptando às suas realidades culturais os preceitos básicos do sistema (não revolvimento, rotação de culturas e cobertura permanente do solo), ajudando a superar a marca de 65 milhões de ha de SPD em todo o mundo, dos quais 23 % encontram-se em território brasileiro (Derpsch, 2000).

Sistema Plantio Direto no Brasil

A história do SPD no Brasil é um exemplo de integração tecnológica entre produtores, profissionais ligados aos setores de equipamentos e herbicidas, profissionais liberais, professores e pesquisadores.

A essência do desenvolvimento do SPD no Brasil ainda persiste na abnegação e persistência desses pesquisadores e produtores pioneiros, no importante aprendizado sobre como explorar a agricultura em maior harmonia com a natureza, em um processo constante de mudança do comportamento humano.

Muitos atores dessa façanha ainda estão presentes, na plenitude de seus trabalhos, ajudando no fomento do SPD, com belíssimos exemplos para serem vistos e discutidos, principalmente na faina diária dos produtores pioneiros.

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A mobilização de atenções para as possibilidades de introdução do SPD no Brasil teve início ao final da década de 60, na Estação Experimental do IRI nas áreas de cerrado do Estado de São Paulo (Matão).

Foi, porém, nos Estados do Rio Grande do Sul e do Paraná que se concentram o maior elenco de pesquisadores e produtores voltados ao desenvolvimento tecnológico do SPD. No RS, os primeiros registros são do plantio de sorgo em 1969 em área do Ministério da Agricultura em Não-Me-Toque, seguido de vários ensaios conduzidos pelas precursoras de instituições como a FUNDACEP/FECOTRIGO (Cruz Alta), a Embrapa Trigo e a UPF (Passo Fundo), a COTRISA (Santo Ângelo), assim como em áreas de produtores em Giruá e Palmeira das Missões, com o apoio da empresa inglesa ICI. O primeiro registro de adoção do SPD no RS acontece em 1974 em Santo Ângelo pelo Produtor José Carlos da Veiga Mello.

No PR as primeiras pesquisas aconteceram em 1971, com o apoio da ICI Brasil e da GTZ alemã, nas áreas experimentais do IPEAME/Ministério da Agricultura em Londrina e em Ponta Grossa. O sucesso dessas iniciativas foi a proximidade de um grupo de produtores extremamente preocupados com a sustentabilidade e com o impacto ambiental negativo de sua atividade. Assim, ao mesmo tempo em que era estudado e avaliado em áreas-piloto pelas instituições de pesquisa, o movimento em torno do SPD descortinava-se no Paraná, incentivado por um misto entre necessidade e idealismo dos produtores, preocupados com a erosão e as restrições de credito para custeio (Landers, 1999). Registra-se o pioneirismo de vários produtores do Norte do Paraná, com natural e merecido destaque para Herbert Bartz, em Rolândia, por ter vencido as dificuldades iniciais de um sistema desconhecido, no qual nos ajudou a montar a tecnologia da semeadura direta e o manejo da palha, para estabelecer, sobre um quadro antes degenerativo, a agricultura baseada no conhecimento e respeito à natureza (Saturnino, 1998; Saturnino, 2001).

Demandas legitimas da sociedade rural na busca de soluções tecnológicas compatíveis com as suas reais necessidades, foi inaugurado, em 1972, o IAPAR. Nas suas áreas experimentais, foi constatada a eficiência do SPD no controle da erosão, com diminuição de 90% das perdas de solo e acima de 50% das perdas de água em relação aos sistemas convencionais. A partir de 1975 o IAPAR iniciou projeto de pesquisa enfocando o SPD como um sistema de produção, no lugar da visão reducionista de uma simples técnica de manejo do solo para controle da erosão, permitindo o melhor entendimento do SPD nos seus componentes fitotécnicos, edáficos, fitossanitários e econômicos (IAPAR, 1981).

Em 1976, produtores da região dos Campos Gerais do Paraná, produtores como Manoel Henrique Pereira, iniciaram processo de adoção do SPD, dando inicio a um ciclo de prosperidade, revertendo, pelo efeito demonstrativo, o quadro de degradação dos recursos naturais que então persistia pelo efeito erosivo das arações e gradagens. Em 1979 é criado o “Clube da Minhoca”, formado por produtores interessados em discutir suas dúvidas,, tornando possível a adoção do SPD (FEBRAPDP, 2001). Fruto da iniciativa desses produtores, foram realizados tres encontros nacionais de Plantio Direto em Ponta Grossa entre 1981 e 1985. Ainda em 1982 foram institucionalizados os primeiros Clubes Amigos da Terra – CATs - com base na experiência do Clube da Minhoca, mediante ações de conscientização, capacitação desenvolvimento técnico para a adoção e refinamento do SPD (Borges, 1993). A partir dessa iniciativa, muitos CATs se formaram e estão sendo desenvolvidos no País, contribuindo significativamente como célula básica para a organização dos produtores que praticam o sistema PD e facilitando, de maneira marcante, as ações de transferência, difusão e desenvolvimento de novas tecnologias.

Ainda na década de 70, uma série de inovações tecnológicas permitiram a viabilização do SPD. Inicialmente, o desenvolvimento de mecanismos rompedores de solo para plantio, a

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partir de ações desenvolvidas por pesquisadores da Embrapa Trigo (Passo Fundo, RS), em convênio com a ICI Brasil. A primeira semeadora-adubadora nacional para o SPD, lançada pela empresa brasileira Semeato, abriu o caminho para outros equipamentos, sendo que, já em 1985, mais de 13 semeadoras encontravam-se disponíveis no mercado brasileiro. No início da década de 80, ocorre a introdução do primeiro dos herbicidas modernos, o glyphosate, que atua em mecanismos bioquímicos exclusivos das plantas, inicialmente com a patente exclusiva da empresa Monsanto, e como genérico por várias empresas a partir de 1984. O lançamento de semeadoras eficientes e do principio ativo glyphosate, ao lado da intensificação de estudos de campo sobre culturas de cobertura e rotações, deram o avanço definitivo do SPD nos anos 80 em rumo da competitividade em custos, com qualidade ambiente, sem os quais o Brasil não seria, no final do milênio, referência internacional em SPD.

Para registrar esses avanços, em 1983 é lançado o informativo de circulação nacional: Plantio Direto (Embrapa, CCLPL, IAPAR, e EMATER/ACARPA), o qual serviu como fonte de informações da área até 1987.

Em 1983 é oferecido, como parte do curso de Agronomia da UEPG, a primeira disciplina de Plantio Direto em nível universitário. Em 1984 são registradas, no Rio Grande do Sul, experiências na implantação do SPD em campos nativos, inicialmente pela COTRIJUI e Embrapa Trigo, e depois para os Campos Gerais e na região do Arenito Caiuá no Paraná, dando origem aos programas direcionados à integração lavoura-pecuária Ainda em 1984 é criada nos Campos Gerais do PR, a Fundação ABC a qual muito contribuiu para o desenvolvimento e a divulgação do SPD, considerada “um exemplo nacional de pesquisa adaptada e assistência técnica profissional aos agricultores” (Landers, 2000).

Em São Paulo são consolidados os trabalhos iniciados no IAC em 1973 objetivando avaliar a eficiência do SPD em controlar a erosão e o efeito no espaçamento entre terraços (Lombardi et al., 1991), seguidos de ensaios em SPD no Vale do Paranapanema.

Na década de 90 ocorre a divulgação extensiva dos resultados dos esforços da pesquisa agropecuária, em parceria com técnicos e com produtores rurais, incluindo, a Revista Plantio Direto, lançado durante a Jornada Sul-Brasileira de PD (Cruz Alta, RS e Ponta Grossa, PR, em 1990), o livro: “Manejo da fertilidade do solo no PD” (Sá, 1993), lançado durante o Seminário Internacional sobre PD em Sistemas Sustentáveis (Castro, PR, 1992). Em 1993 a Embrapa lança o livro “Plantio Direto no Brasil” (EMBRAPA, 1993).

Em 1992 são instituídas as representações nacionais e internacionais dos produtores adotantes do SPD, que são a Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha - FEBRAPDP, sediada em Ponta Grossa (PR) e a Confederação de Associações Americanas para a Produção Agropecuária Sustentável - CAAPAS, que reúne entidades da Argentina, Brasil, Chile, Paraguay, Uruguai, México e Estados Unidos.

Na década de 90 o desenvolvimento do SPD aconteceu de forma maciça em todo o país. No RS, é executado o Projeto METAS, uma parceria da Embrapa Trigo com instituições dos setores público e privado, visando a viabilizar e difundir o SPD por meio da realização de demonstrações técnicas, excursões, dias de campo, cursos, palestras e a instalação de unidades técnico-demonstrativas. O Projeto contribuiu efetivamente para o aumento da área de SPD no Planalto do RS de 320 mil ha para mais de 800 mil ha cinco anos após, em 1998, e constitui um modelo de P & D, o qual tem sido praticado em vários locais do país, a exemplo da Fundação ABC, FUNDACEP, Fundação MS, entre outras. Paralelamente, são desenvolvidas ações fundamentais de difusão do PD, com o marcante trabalho de demonstrações e comunicações entre produtores, com eventos locais, regionais e nacionais

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com a efetiva participação de instituições de pesquisa, ensino e assistência técnica e extensão rural. Cria-se assim um ambiente de grande interesse pelo sistema em todo o Brasil e chamando-se a atenção de organismos internacionais, a exemplo do Banco Mundial, FAO, entre outros.

O SPD se consolida em todo o país como “uma tecnologia ambientalista para uma Agricultura Sustentável” (Sade, 2000) possível pelo tripé Ensino - Pesquisa – Assistência Técnica / Extensão Rural, não deixando mais espaço para dúvidas e retrocessos em relação a sua viabilidade e benefícios para a sociedade.

SPD no Cerrado

Por constituir o coração da região dos Cerrados, a história do SPD em Goiás se confunde com a viabilização do Sistema nos Cerrados, que se inicia na década de 80, atendendo a “maior fronteira agrícola do país, onde há necessidade de cuidados especiais para defesa do meio ambiente” (Sade, 2000).

Com base nos exemplos vindos da região sul do país, a adoção do SPD nos Cerrados é uma história de integração tecnológica liderada por produtores rurais, com uma defasagem ao redor de uma década (Figura 1). As características edafo-ambientes dos Cerrados, requerendo soluções agronômicas próprias, não ter permitido a evolução plena do sistema. Da mesma forma, a experiencia adquirida nos Cerrados tem sido fundamental para a adoção do SPD nos trópicos úmidos da região Norte e nas áreas mais áridas do Nordeste.

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Figura 1 – Evolução do SPD no Brasil no período de 1972/73 a 2002/03 (adaptado de Bernardi et al., 2003).

Bernardi, A.C.de C.; Machado, P.L.O.de A.; Freitas, P.L.de; Coelho, M.R., Leandro, W.M.;

Oliveira Júnior, J.P.; Oliveira, R.P.de; Santos, H.G.dos; Madari, B.E.; Carvalho, M.da C.S. Correção do Solo e Adubação do Sistema de Plantio Direto nos Cerrados. Rio de Janeiro, Brasil: Embrapa Solos, 2003. 22 p. (Embrapa Solos. Documentos, 46).

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As primeiras iniciativas na região dos Cerrados aconteceram no Estado de Goiás, mais precisamente em Rio Verde, datada de 1981 pelo Sr. Eurides Penha na Fazenda Boa Esperança (Caixa 1). A partir das experiências bem sucedidas, o sistema é apresentado em dia de campo realizado em fevereiro de 1982 com apoio da empresa Agroquima, como uma nova e grande solução para o grave problema de erosão dos Chapadões do Sudoeste Goiano (Rio Verde, Paraúna, Jataí, Mineiros, Aporé, Serranópolis etc.).

Em 1982 o sistema era utilizado por Ricardo de C. Merola, com o apoio do Eng. Agrônomo Eliseu Marson Filho, em áreas de produção de sementes de milho na Fazenda Santa Fé em Santa Helena (GO). Vale destacar o pioneirismo das experiências de John N. Landers na Fazenda Tijunqueiro, em Morrinhos (GO) a partir de 1982 (Caixa 2). Vários eventos aconteceram na área mantida até 1987, sendo o primeiro realizado no verão de 1983. A partir de 1988, John Landers conduziu vários campos experimentais em fazendas da região, com apoio da Manah e dos Eng. Agrônomos Vivaldo de Souza Machado e José Antonio R. de Almeida.

A partir de 1984 são registrados o estabelecimento do sistema em Maracaju (MS), por Ake Van der Vinne, que estabelece o sistema e, dez anos depois, inicia a integração entre a lavoura de soja e a pecuária, nos cerrados da região da represa de Tres Marias (MG) pelos Eng. Agrônomos Luis Lovato (então da Monsanto) e Helvecio Mattana Saturnino, (1982 / 1984, com o grupo BMG) e, em Irai de Minas (MG) por produtores do PRODECER como Enary Seibt e a família Lohmann. Em Lucas do Rio Verde (MT) ocorre, após 1989, a gradual conversão dos trabalhos dos técnicos Lucien Séguy e Serge Bouzinac, da equipe CIRAD, com importante colaboração no Estado de Goiás (Embrapa Arroz e Feijão), do Eng. Agrônomo Ayrton Trentini e do agricultor Munefume Matsubara.

Vários ensaios foram instalados na região no início dos anos 80 pela UFMS em Dourados (MS) e na UNESP Ilha Solteira (1985). Em 1985 foram iniciados ensaios de adaptação de espécies de cobertura do solo em Bandeirantes (MS), o qual resultou no lançamento de variedades comerciais de milheto e de guandu para pastoreio.

Em 1987 a Embrapa Solos (então SNLCS) instala a Frente Regional do Planalto Central, depois Coordenadoria Regional do Centro-Oeste, em Senador Canedo (Goiânia, GO) compartilhando salas, laboratórios, apoio de campo e área experimental da Estaçao Experimental de Goiânia (depois Filostro Machado Carneiro) da Emgopa (Emater GO, atual AgenciaRural) e, depois de 1989 nas junto às instalações da Embrapa SNT em Goiânia (GO). A equipe da Embrapa Solos inicia em 1988 trabalhos buscando sistemas alternativos de manejo do solo, em conjunto com pesquisadores da Emgopa (AgenciaRural GO), complementadas com observações na Microbacia Piloto do Estado de Goiás, em Morrinhos (Teixeira et al., 1998). Em 1990, a equipe recebe o Dr. Philippe Blancaneaux, especialista do ORSTOM/França, o qual dedicou cinco anos de trabalho para o desenvolvimento do SPD na região.

Com a proximidade da RIO-92, vários movimentos ambientalistas e fóruns de ONGs foram organizados em Goiás. Em abril de 1991 foi realizado em Mineiros (GO) o Encontro Ecológico Centro-Oeste, promovido pela FIMES, oportunidade na qual Engenheiros Agrônomos, como Cassimiro Vaz Costa, Luiz Alberto Souza, Pedro L. de Freitas e Arthur Eduardo A. de Toledo tiveram a oportunidade de mostrar o papel da agricultura no manejo ambiental. Com essa atuação, o agropecuarista passou a ser considerando o verdadeiro gerente dos recursos naturais – solo, água, flora e fauna – utilizando ferramentas como o manejo integrado de microbacias hidrográficas, o terraceamento e, em especial, o Plantio Direto como um sistema conservacionista de manejo do solo. Esse aspecto foi ressaltado e discutido nas reuniões preparatórias para a participação goiana na RIO-92,

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promovidas por ONGs como ITS/UCG, SEJA, ARCA, SODERNA, SBG, AEF, Fundaçao Emas, IBRACE, ABG, AGAE e Grupo Trilhas e Cavernas.

A inserção do SPD aconteceu também em encontros do agronegócio, como o III Centro-Soja (1991, Rio Verde, GO) mostrando a importância da rotação de culturas e do manejo sustentável do solo e da água.

Em setembro de 1991 é realizado o Encontro de Plantio Direto em Goiás, promovido por Cassimiro Vaz Costa, Rogério A. Almeida, Dirceu Durante, Luis Carlos Valadares e Pedro L. de Freitas (AEAGO, Embrapa Solos, Emgopa / AgenciaRural, Semeato, Monsanto, entre outros), com palestras de convidados especiais no CENTRER/AgenciaRural, e demonstrações de campo na Est. Experimental da Emgopa (AgenciaRural) em Senador Canedo.

Em abril de 1992 foi realizado um Dia de Campo do Projeto Demonstrativo em Plantio Direto no Cerrado na Fazenda Querência das Antas em Montividiu (GO), propriedade de Eurides Penha (caixa 1), com a supervisão técnica do Eng. Agrônomo Francisco Januário da Silva (SAGRIA/Rio Verde).

Nesse inicio da década de 90, produtores e técnicos dominava o SPD e promoviam a criação de Fundações, como a Fundação MS em Maracaju (MS). No mesmo ano foi fundada a Associação de Plantio Direto no Cerrado – APDC, com sede em Goiânia (GO) com a proposta de promover a troca das muitas experiências existentes na região visando o rápido desenvolvimento do SPD (Caixa n. 3). Fruto do trabalho da APDC, foram criados vários Clubes Amigos da Terra – CATs - com destaque ao CAT de Jataí (hoje desativado), de Rio Verde e de Bom Jesus, com a contribuição de produtores como Flavio Faedo, Andréas C. J. Peeters, José Roberto Brucelli entre outros. Com o objetivo de promover o SPD como caminho para atingir a sustentabilidade da agricultura nos Cerrados Brasileiros, a APDC e os CATs afiliados organizaram, entre 1992 e 2001, seis encontros regionais (ERPDC) e, em nome da FEBRAPDP, dois encontros nacionais (ENPDP), que foram decisivos para a evolução da área de PD, chegando a 5 milhões de ha no ano agrícola 2001/2002 (Figura 2).

Figura 2 – Papel dos Encontros na Evolução da Área de Plantio Direto nos Cerrados Brasileiros (ENPDP – Encontro Nacional de Plantio Direto na Palha;

ERPDC – Encontro Regional de Plantio Direto no Cerrado)

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Empresas, como a Monsanto, também tiveram participação importante em todas as iniciativas nos Cerrados Brasileiros, apoiando os trabalhos em realização, disseminando tecnologias adaptadas, promovendo, no inicio da década de 90, ensaios de culturas em safrinha em rede, incluindo a FESURV em Rio Verde e a Emgopa (AgenciaRural) em Morrinhos (GO), promovendo treinamentos e apoiando eventos, ao lado da Semeato, Manah, SLC, entre várias outras

Em 1993, a Escola de Agronomia/UFG, Embrapa Solos, AEAGO entre outros, promovem em Goiânia o 24o Congresso Brasileiro de Ciência do Solo onde foram discutidos aspectos do SPD nos Cerrados com a participação, pela primeira vez, de técnicos de assistência técnica e de agricultores.

Em 1993, a APDC lança a publicação: “Fascículos de Experiências de Plantio Direto no Cerrado” (Landers, 1994), um manual prático baseado em experiências de produtores da região, incluindo recomendações das indústrias e resultados de trabalhos gerados pela pesquisa agropecuária. Em 1996 é publicado o livro: “O Meio Ambiente e o Plantio Direto” incluindo os principais argumentos sobre o assunto levantados durante o 5o Encontro Nacional realizado em Goiânia no mesmo ano (Saturnino e Landers, 1996). Também em 1996 foi iniciada a publicação do jornal quadrimensal “Direto no Cerrado”, com tiragem de 10.000 exemplares em 2001.

Na vanguarda do desenvolvimento agrícola da região, as Semanas Agronômicas promovidas pelas universidades e escolas de agronomia incluem discussões sobre PD em suas várias edições, a começar em 1991. (UFG/EA/Goiânia – C. A A Bernardo Sayão, FESURV/Rio Verde, Fac. Cênicas Agrárias de Itumbiara – FCAI (C. A. A. Issa Haddad))

No inicio da década de 90 os professores da Escola de Agronomia da FESURV (Rio Verde, GO) inserem o SPD em todas as disciplinas. Em 1993, a Escola de Agronomia da UFG (Goiânia, GO) é oferecido o Curso de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado) em Agronomia, onde o SPD é inserido em várias disciplinas, com destaque a de Manejo e Conservação do Solo e da Água de responsabilidade do Prof. Huberto Kliemann com a colaboração de Philippe Blancaneaux (ORSTOM – atual IRD) e Pedro L. de Freitas (Embrapa Solos).

Em 1994, a AgenciaRural (então Emgopa), com a parceria da Embrapa Solos e suporte financeiro da FINEP/PADCT/CIAMB inicia a execução de projeto visando o desenvolvimento de sistemas agroecológicos integrados, com ênfase a viabilização do SPD nos Cerrados Brasileiros (Freitas et al., 1994).

Em 1998 é realizado, em Goiânia, um workshop sobre o Sistema Produtivo Plantio Direto em Goiânia, GO, fruto de entendimentos entre as direções da FUNAPE, APDC, CNPq, Embrapa e FEBRAPDP. Naquela oportunidade, foram mobilizados os vários segmentos do agronegócio, tendo-se o Plantio Direto como o centro das atenções nas diversas cadeias produtivas.

No mesmo ano é proposto o Projeto Plataforma Plantio Direto tendo a FEBRAPDP como proponente, a Embrapa como executora, ao lado de inúmeras instituições de pesquisa, ensino, extensão rural e organizações públicas e privadas. Aprovado em 1999, o projeto só seria implantado em fevereiro de 2000, tendo como meta final identificar as tendências tecnológicas e estimular o relacionamento entre os diferentes setores envolvidos, buscando a formação de parcerias que tornassem possível dar soluções aos problemas tecnológicos levantados e, ao mesmo tempo, equacionar o quadro atual da difusão de tecnologias, aproximando a pesquisa aos produtores e, propor instrumentos políticos de estimulo ao

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Plantio Direto. O projeto teve sua execução facilitada pelo apoio recebido pela FUNAPE/GO e pela APDC.

No final dos anos 90, como reconhecimento da importância da integração tecnológica praticada por todos os setores envolvidos com o Plantio Direto no Brasil e fruto das discussões acontecidas nos encontros nacionais ocorridos em Goiânia (1996) e Brasília (1998) iniciam-se ações que culminariam com a proposição e a organização da Plataforma Plantio Direto. Para isto foi determinante a necessidade de maior envolvimento dos produtores na determinação de prioridades de pesquisa, os problemas surgidos em decorrência do novo quadro edafo-ambiental encontrado após alguns anos da implantação definitiva do Plantio Direto e, por fim, a implantação definitiva dos conceitos de agronegócio, considerando que o Plantio Direto permeia praticamente todas as cadeias produtivas envolvendo as atividades agrosilvipastoris.

SPD nas pequenas propriedades rurais familiares

O SPD, tecnologia considerada para produtores em grandes áreas, tem sido objeto de campanhas visando a adequação e adoção em pequenas propriedades rurais e na agricultura familiar em vários estados. As primeiras experiências viabilizando o SPD com tração animal ocorreram a partir de 1984 no Paraná com o lançamento da semeadora-adubadora “Gralha Azul”, desenvolvida nos Laboratórios de Engenharia Agrícola do IAPAR. Na seqüência, foi instalada uma rede de ensaios visando avaliar sistemas com tração animal e o uso de culturas de cobertura do solo (adubação verde) em distintas regiões edafo-climáticas do Paraná. Em 1991, como parte do Programa PARANARURAL foi implantado um projeto com agricultores familiares e industrias de equipamentos de tração animal, com o intuito de validar e difundir o SPD. Em 1993 é realizado, em Ponta Grossa, o 1o Encontro Latino-Americano de Plantio Direto na Pequena Propriedade, o qual teve seqüência com a realização de encontros em 1996 na região de Itapua, no Paraguai, em 1998 na cidade de Pato Branco (PR) e, em sua 4a edição, em 2000, na cidade de Erechim-RS.

Em Goiás é criado, em 1993, uma parceria liderada pelo Grupo GOYAS, formado por professores da Escola de Agronomia da UFG, objetivando adaptar, desenvolver e validar tecnologias conservacionistas para a pequena propriedade, sob a liderança do Prof. Rogério Araújo de Almeida. O primeiro projeto foi iniciado no mesmo ano com a Assoc. de Pequenos Agricultores do Serra-Abaixo (APASA) de Inhumas (GO), com destaque ao Produtor Nerico Qualhato. Fruto desse trabalho, foi realizado, em setembro de 1996, o 1o Encontro de PD para Pequenos Agricultores, com apoio da APDC. Outros dois encontros foram realizados no local, em agosto de 1997 e em novembro de 2001.

Com apoio dos produtores do CAT Rio Verde, então sob a presidência de Flávio Faedo, o PD teve divulgação, a partir de 1996, entre pequenos produtores do distrito de Rio Preto.

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CAIXA N. 1 - Plante que o solo garante: ensinamentos de um “sobrevivente da agricultura

brasileira” TTrreecchhooss ddee ddeeppooiimmeennttoo ddee EEuurriiddeess PPeennhhaa ccoolleettaaddooss ppoorr TTéérrcciiaa NNeeiivvaa GGoonnççaallvveess eemm 11999988..

Desmatei, arei, plantei, colhi e aprendi muito. trabalhei bastante, é verdade, mas adquiri siso e tino próprio sobre a coisa e até dei de gostar de plantar – plantando a gente modifica o mundo e se modifica, enquanto aguarda o momento certo da colheita. Até sonhos eu plantei, mas, nada se compara ao doce cheiro de terra virgem – tem essência de útero e de vida..

A vegetação dos cerrados goianos me encanta – aqui muito pau nasce torto, galhos são tortos, folhas são ásperas e sinuosas, até a cinza, aqui, é torta. Tanto pau torno e crespo é a expressão máxima da transcendência, da criatividade das raízes na busca de alternativas à sobrevivência das plantas, num meio ácido, de equilíbrio tão dinâmico e delicado. Pensando bem, tem hora que as raízes parecem ser mais competentes do que gente, sobretudo aqueles que se entusiasmam diante do lucro rápido e fácil, sem antes perguntar: “até quando, a que preço?”

O solo de uma fazenda é um espelho da mentalidade do dono - por trás de um adensamento, de uma erosão, tem sempre um sujeito fragmentado, pragmático, ambicioso, centralizador e obediente às normas.

Uma revolução estava acontecendo – era a tal revolução verde, coisa de agrônomo norte-americano que garantia ser possível salvar o planeta da fome à base do uso maciço de adubos químicos, sementes selecionadas e agroquímicos. Pacotes tecnológicos trazidos para o Brasil, sem consideração com as condições edafoclimáticas, culturais e financeiras. Não demorou muito, grandes parcelas dos solos agrícolas de Goiás entraram em decadência. Deram o Premio Nobel para o agrônomo norte-Americano e, nos dias de hoje, uma em cada 6 pessoas passa fome no planeta.

prevalece o “saber-fazer” europeu – daí a força histórica daquela tal mania brasileira de arar e revolver os solos antes do plantio, como se caísse neve aqui também e fosse necessário revolver a terra para que suas entranhas ficassem expostas a mais luz e calor. Ora, o Brasil é um país tropical, onde luz e calor são coisas que tem de sobra.

Os solos dos cerrados são mais vulneráveis do que os solos do Sul ou Sudeste - se a ocupação histórica das terras brasileira tivesse começado pelos cerrados, hoje, com certeza, isso aqui seria deserto.

sempre vejo os campos salpicados por em embalagens de produtos químicos e sujeitos descabelados, trabalhando de sol a sol, apressados e endividados, com as mãos sujas de graxa e o corpo cheio de poeira, mal dormido e massacrado pelo medo de a chuva ser pouca ou muita, o adubo ou herbicida não fazerem efeito – eu não tenho dúvida, esses sujeitos seguem a cartilha do sistema de plantio tradicional. Aram suas terras todos os anos sem dar descanso algum. Usam insumos químicos cada vez mais tóxicos e em doses cada vez maiores, pedindo a Deus que dê a eles vida e saúde para fazer uma boa colheita e pagar as suas dívidas.

Em Goiás a gente vê o longe perto. Tudo é uma planura só, com áreas enormes elevadas à categoria de “terras aráveis”. Uma leitura parcial ou reducionista desses solos leva a adoção de práticas agrícolas inadequadas. Se aqui me referir ao Sistema Plantio Direto vão dizer que é implicância minha. Mas não é. O sujeito que adota esse sistema com a leitura vesga pode não ter a resposta favorável.

Não quer dizer que o sujeito tenha que providencias um colchão de massa verde ou de restos de cultura para plantar por cima – basta adotar práticas de plantio que, de tempos em tempos, vão favorecer a lenta e gradual adição de matéria orgânica nos solos e estabelecer uma nova situação de equilíbrio, que deverá permitir a distribuição de matéria orgânica em todo o perfil através da ação das raízes, sobretudo das plantas em rotação com a cultura principal que vão participar do sistema de plantio ecologicamente correto.

O SPD pode ser o primeiro passo para uma agricultura sustentável porque, a baixos custos sociais, financeiros e ambientais, ele pode proporcionar um novo equilibro entre o plantio e o ambiente.

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Enquanto se produz alimentos no deserto, com em Israel, nós estamos produzindo desertos para colher alimentos. Só quem trabalha o solo com as mãos sabe o valor da matéria orgânica. Pouco importa a quantidade de alimento que precisamos, o tamanho do financiamento. O solo dá o que tem e não o que queremos.

EURIDES PENHA, agricultor e músico. Natural de Morro Agudo, SP, de família ligada à inovação agrícola (sobrinho do inventor da

máquina de debulhar milho), nascido em 1940, veio para Goiás no final dos anos 60, trabalhando na fazenda Paviterrana em Maurilândia até 1971.

De início, dividiu 20 alqueires de terra em áreas de teste e plantou diferentes variedades de leguminosas e gramíneas forrageiras, experiencia que formaria a base do SPD, com o uso de braquiária (B. ruziziensis) e de Calopogonio. Na sua área, na fazenda Boa Esperança - Querência das Antas, obteve bons resultados com o PD no ano agrícola de 81/82, considerada a primeira experiencia bem sucedida nos cerrados – com a assistência técnica do Eng.agrônomo Benedito Soares Adorno Filho, então da AGROQUIMA.

Parou de plantar em 1983, quando dedicou-se somente a outras atividades, como a musica, mesmo continuando a fazer experimentos. Em 84/85 plantou soja e milho tendo o calopogonio como base, sem o uso de herbicidas, para o milho e o arroz, enquanto que gramíneas, como a braquiária, é base para leguminosas, como a soja.. Em 1992 foi criada a Sociedade de Estudos Técnicos do Cerrado CEASSE, sociedade com interesse na pesquisa, desenvolvimento e divulgação de tecnologia aplicada ao cerrado. Em 1999 foi publicado o primeiro numero da publicação: “Plantio Direto”, onde são relatadas suas experiências na viabilização do PD sem o uso de herbicidas.

CAIXA N. 2 – “Gringo Doido”, sempre à frente do seu tempo: John Landers

Agrônomo Tropical, especialista na organização institucional e na transferência de tecnologias, John N. Landers nasceu na Inglaterra, com antecedentes escoceses, fez graduação em Londres (Reading University) e mestrado os EUA. Iniciou suas atividades no Brasil em 1968 como gerente do IRI em Matão (SP) e na Venezuela.

Em 1977 iniciou atividade como arrendatário na produção de sementes de soja e milho em Morrinhos onde, em 1982, após adquirir uma semeadora especifica e com a assistência de técnicos da ICI e da Monsanto, realizou o primeiro plantio direto de 50 ha de soja e milho em palhada de girassol. O sucesso permitiu que a área fosse palco, em 1983, de um dia de campo promovido pela ICI. A tentativa custou-lhe o apelido de “gringo doido”, fato comum entre os pioneiros do Sistema em todo o país.

Em 1988, chefiou projeto piloto instalado com o apoio da Manah, na pessoa de seu presidente, Dr. Fernando Penteado Cardoso. Com esse apoio, foram instaladas áreas de demonstração nas propriedades de Vivaldo da S. Machado e José A. Rodrigues de Almeida. Mesmo com o corte do apoio em adubos pela metade no segundo ano e em para um terço no terceiro, o projeto piloto teve continuidade, proporcionando um importante conjunto de informações técnicas. A iniciativa foi reconhecida com o premio da Associação Internacional de Fertilizantes em 1992.

Com o término prematuro do projeto, foram promovidos uma série de cursos de treinamento. Em um desses cursos foi criada a APDC da qual foi convidado para ser Secretario Executivo, cargo que ocupa até o presente.

Em 1994 editou os “fascículos de experiências de PD” onde são descritas experiências de produtores e relatados resultados de pesquisas. No mesmo ano iniciou a publicação do jornal “Direto no Cerrado”, do qual é editor chefe.

Após 1997, como consultor da SRH/MMA e do Banco Mundial, atuou em projetos de incentivo a formação de mais de 40 CATs na região dos Cerrados. Em 2001 atuou como especialista visitante do CNPq para a valoração dos impactos ambientais do SPD. Atualmente, é Diretor de Projetos Especiais da APDC..

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CAIXA N. 3 - ASSOCIAÇÃO DE PLANTIO DIRETO NO CERRADO A APDC nasceu em julho de 1992 a partir do reconhecimento por parte de produtores e

técnicos a necessidade em preencher o vazio existente pela falta de informação técnica que desse embasamento ao Plantio Direto, sistema que despertava o interesse de produtores de vários municípios da região de Cerrados. Era assim percorrido o longo caminho necessário para quebrar a resistência natural às mudanças, forjando parcerias frutíferas com setores privados e governamentais. O passo seguinte foi a criação de uma rede de CATs com o único objetivo de disseminar e melhorar a tecnologia de SPD na busca da sustentabilidade, da competitividade e da qualidade ambiente no uso e manejo dos Recursos Naturais dos Cerrados.

Resumo Histórico 1992 Assembléia de Fundação em Santa Helena (GO) em 28 de julho, com a presença de Ricardo de

C. Merola, Márcio J. Scaléa, Aristides Castro Neto, João M. Del’Acqua, Vivaldo de S. Machado, João de Deus de S. Bernardino, Antônio V. Campos, Edimilson M. Coelho, José A. Rodrigues de Almeida, Eliseu Marson Filho, John N. Landers, Jaime Corso, Nilvo Altmann e Felipe B. Guimarães. A fundação oficial da APDC foi promulgada em dezembro.

1993 1o Enc. Regional de PD no Cerrado em Rio Verde (GO) (300 Participantes) Eleição e Posse da primeira Diretoria, em assembléia geral, com os seguintes membros:

Ricardo de C. Merola (Presidente), Rogério Marinho de Siqueira (Vice-Presidente), João Mendonça Del’Acqua (Tesoureiro) e Aristides de Castro Neto (Secretário).

1994 Publicação dos “Fascículos de Experiências de Plantio Direto no Cerrado” com 12 capítulos e 260 páginas (4 300 exemplares em duas edições).

1995 Agraciamento do prêmio: “Monsanto Worldwide Award for Envir. Actions” 2o Enc. Regional de PD no Cerrado em Brasília/DF (800 participantes, 25 ha de campo

demonstrativo e apoio de 27 empresas). Encontro com a Diretoria Executiva da Embrapa, com exposição dos benefícios do PD,

prioridade ao sistema no seu planejamento e apoio ao Encontro Nacional. 1996 Realização, por delegação da FEBRAPDP, do 5o Enc. Nacional de PD na Palha em Goiânia

(2300 participantes, 40 ha de área de demonstração, apoio de 30 empresas) Lançamento do jornal “Direto no Cerrado,” órgão oficial da APDC 1997 Publicação do livro “O Meio Ambiente e o Plantio Direto” (Tiragem de 10000 exemplares). 3o Enc. Regional, organizado pelo CAT Rio Verde/GO (participação de 1 200 participantes e

apoio de40 empresas). Inicio da cooperação técnica entre APDC e Embrapa, com a participação de Pedro Freitas.

1998 Realização do 6o Enc. Nacional de PD em Brasília (2000 participantes, demonstração em 40 ha e apoio de 40 empresas). Treinamento de técnicos em extensão rural do DF e dos estados de TO e RO em PD, preparando as ações de introdução do PD em pequenas e médias propriedades da região.

1999 Constituição do Cons. Deliberativo dos Presidentes dos CATs, órgão superior da APDC. 4o Enc. Regional de PD em Uberlândia/MG (500 participantes, 4 fazendas de demonstração e

10 empresas participantes). Treinamento de 127 extensionistas (GO, MG, SP, DF, TO, BA) em PD básico

Circulação do “Direto no Cerrado” aumenta a 10.000 cópias com 24 páginas. Atualmente, a APDC desenvolve atividades de apoio aos CATs e afins e executa projetos junto ao

MMA visando a redução dos aportes de sedimento e a manutenção da vazão na Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, no Oeste Baiano, e junto ao IFAD para disseminação e desenvolvimento do Plantio Direto na agricultura familiar de Goiás, Minas Gerais e Distrito Federal. Participa também

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de ações conjuntas com várias instituições internacionais como a TNC (The Nature Conservancy) e a WWF.

A Diretoria atual da APDC (2003/2005) é presidida pelo Eng.-Agr. André Ramalho Flores de Bom Jesus de Goiás

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Futuro do plantio direto em Goiás

Os efeitos da degradação acelerada dos recursos naturais – solo, água e biodiversidade – são visíveis nesse momento em que passamos por uma série crise energética, iniciada em 2001. Enquanto se atribui a falta de investimentos ou as condições climáticas adversas, olhando para o baixo volume de água armazenado a céu aberto nos nossos reservatórios, a verdadeira causa da crise instalada passa desapercebida e mostra, de forma clara, a falta de conhecimento e de comprometimento para com as características dos solos tropicais e subtropicais. Desconhece-se assim a capacidade de armazenamento de água de nossos aqüíferos, que dependem diretamente da capacidade de infiltração de água da chuva nos solos, característica própria dos solos que dominam a paisagem Brasileiras.

A crise energética, no entanto, é apenas uma das conseqüências da ação do homem. O reflexo principal é, sem dúvida, um inexorável ciclo de pobreza, que é arrastado por tratores de alta potencia puxando implementos a base de discos, não adaptados as nossas condições tropicais. Esse ciclo pode e deve ser evitado, promovendo a sua imediata reversão para um ciclo de prosperidade, marcado pelo crescimento econômico sustentável do agronegócio brasileiro.

O uso não planejado das terras, o manejo inadequado dos solos, o desmatamento desenfreado de áreas de recarga e de equilíbrio, o uso de sistemas importados de cultivo, têm provocado a degradação dos recursos naturais, verdadeira responsável pela crise de disponibilidade hídrica para usos múltiplos, como a produção de energia, o consumo humano, a indústria, a suplementação hídrica de culturas (irrigação), o lazer, o transporte, etc. Permitindo a maior captação de água de chuva, associado a uma sensível redução da evaporação do solo, o uso de sistemas conservacionistas baseados no Sistema Plantio Direto (SPD) e na Integração Lavoura-Pecuária (ILP) permitem que tenhamos uma quantidade expressiva de milímetros disponíveis. O uso inteligente dessa água se traduz no aumento da produção agrícola, ao mesmo tempo que mitiga as perdas de solo e de água por erosão (Freitas, 2001; Lara-Cabezas & Freitas, 2000).

Para a população do Estado de Goiás existe a oportunidade de decidir sobre o seu futuro, decidindo sobre o tipo de agricultura que deseja. De um lado, escolher pela atividade agropecuária nos moldes tradicionais, com preceitos agronômicos adaptados das áreas de clima temperado, onde os recursos naturais são exauridos ao máximo e a degradação ambiental é onipresente, em termos espaciais ou temporais. Poeira, fumaça, morte da fauna e da flora, nascentes profundas, rios secos, dias quentes e noites muito frias, umidade relativa do ar abaixo dos limites de sobrevivência, são alguns dos resultados dessa agricultura, onde predomina a ação do homem sobre a natureza, com altos gastos de energia fóssil (petróleo) e o uso de efeitos abortivos no preparo de áreas para o crescimento de plantas e animais exóticos, com a predominância de discos (arados e grades).

De outro lado, pode optar pelo exemplo existentes em bolsões de prosperidade presentes em pólos como o sudoeste, o sul e o entorno de Brasília. Predomina nessa área o uso pleno no conhecimento tecnológico assegurando o mínimo de degeneração na utilização no sistema planta, solo e clima, garantindo a produtividade. Essa agricultura se baseia integralmente no respeito às leis da natureza, o uso de preceitos biológicos agronômicos, substituindo, como afirma o Prof. Dr. Zilmar Z. Marcos, o amanho tradicional por técnicas, como o SPD e a ILP, que proporcionem o mínimo necessário para fazer do solo “um ninho propicio para a deposição da semente e o crescimento das plantas, resultando no máximo de benefício para a humanidade”.

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Esse capitulo mostrou que existe um caminho cujas indicações claras estão aqui mesmo no estado, na audácia e perseverança de produtores. O histórico do SPD, seja no mundo, no Brasil ou em Goiás, mostra a mudança de comportamento e a profissionalização do agropecuárista como o custo para um futuro de prosperidade.

A escolha do caminho irá sinalizar o futuro econômico do Estado, a qualidade de vida de seus moradores e o futuro das profissões relacionadas às ciências agrárias, uma vez que, a atividade agropecuária extrativista, tradicional no planalto central brasileiro, não demanda suporte técnico, exigindo um mínimo de conhecimento técnico-científico com um máximo de força e energia. Isto mostra que o ciclo de degradação dos RNs que leva ao ciclo de pobreza é muito mais fácil e tem efeitos muito mais perversos.

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