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45 Frutas do Brasil, 35 Uva Fitossanidade INTRODUÇÃO São conhecidas na videira (Vitis spp.) cerca de 50 doenças consideradas de origem viral. A videira, por ser propagada vegetativamente, facilita a disseminação desses patógenos e favorece o aparecimento de doenças complexas, pelo acúmulo de diferentes vírus numa mesma planta. Muitas dessas doenças estão bem identificadas e caracterizadas, enquanto, outras dependem ainda de estudos complementares para definir sua natureza etiológica. Algumas ocorrem de forma ocasional na videira, aparentemente sem expressão econômica. Outras, embora causem prejuízos econô- micos importantes, estão restritas a determinadas regiões ou países, possivel- mente condicionadas por certas caracterís- ticas regionais, como o plantio de cultivares sensíveis ou por condições edafoclimáticas que favoreçam a ocorrência de vetores. Nas regiões vitícolas brasileiras tradicionais, onde os vinhedos foram formados com material introduzido há muitos anos de outros países, principal- mente da Europa, a presença de viroses é comum. Na época, pouca seleção sanitária era conduzida e, conseqüentemente, o material vegetativo infectado era facilmente distribuído entre regiões e países, especialmente os porta-enxertos, nos quais a infecção viral freqüentemente é latente. Outro fator que contribuiu decisivamente para tão altos níveis de incidência de vírus foi o total desconhecimento dessas doenças, as quais começaram a ser estudadas no Rio Grande do Sul somente na década de 70. Como a maioria das cultivares de videira, em especial as uvas finas (Vitis vinifera), é suscetível às doenças virais, ainda hoje, há uma alta incidência desses patógenos nas nossas regiões produtoras. A disseminação é facilitada, em grande parte, no momento da obtenção de porta- enxertos e garfos de produtoras para enxertia, pelo fato de o material vegetativo ser originado de vinhedos mais antigos da região ou introduzido de outras regiões, porém, sem atender a requisitos sanitários. Merecem destaque seis das principais doenças ou complexos virais que afetam a videira no Brasil. DESCRIÇÃO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS Enrolamento-da- folha-da-videira Esta virose foi constatada no Estado de São Paulo e no Rio Grande do Sul atingindo de 78% a 98% das produtoras viníferas, enquanto nos porta-enxertos, sua ocorrência foi de 15,6% a 33% das plantas amostradas. A virose causa sérios prejuízos à videira, afetando o número, o peso e o tamanho dos cachos, além de diminuir o teor de açúcar da uva, a longevidade da planta e a qualidade do vinho. Os danos causados variam em função da susce- tibilidade varietal, estirpe do vírus e intensidade da infecção. Em plantas da cultivar Cabernet Franc, vinífera tinta plantada para elaboração de vinho fino, severamente afetadas em comparação com plantas sadias, verificou-se redução de 42,4% no número de cachos; de 62,8% no peso da produção; de 65,2% no vigor, expresso pelo peso da poda hibernal; e de 3 DOENÇAS VIRAIS Thor Vinícius Martins Fajardo Gilmar Barcelos Kuhn Osmar Nickel

Frutas do Brasil, 35 Uva Fitossanidade 3 DOENÇAS VIRAISVirais... · Frutas do Brasil, 35 Uva Fitossanidade 47 Fig.1. Enrolamento da folha em vinífera branca. (A) Planta com sintomas

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45Frutas do Brasil, 35 Uva Fitossanidade

INTRODUÇÃO

São conhecidas na videira (Vitis spp.)cerca de 50 doenças consideradas de origemviral. A videira, por ser propagadavegetativamente, facilita a disseminaçãodesses patógenos e favorece o aparecimentode doenças complexas, pelo acúmulo dediferentes vírus numa mesma planta. Muitasdessas doenças estão bem identificadas ecaracterizadas, enquanto, outras dependemainda de estudos complementares paradefinir sua natureza etiológica. Algumasocorrem de forma ocasional na videira,aparentemente sem expressão econômica.Outras, embora causem prejuízos econô-micos importantes, estão restritas adeterminadas regiões ou países, possivel-mente condicionadas por certas caracterís-ticas regionais, como o plantio de cultivaressensíveis ou por condições edafoclimáticasque favoreçam a ocorrência de vetores.

Nas regiões vitícolas brasileirastradicionais, onde os vinhedos foramformados com material introduzido hámuitos anos de outros países, principal-mente da Europa, a presença de viroses écomum. Na época, pouca seleção sanitáriaera conduzida e, conseqüentemente, omaterial vegetativo infectado era facilmentedistribuído entre regiões e países,especialmente os porta-enxertos, nos quaisa infecção viral freqüentemente é latente.Outro fator que contribuiu decisivamentepara tão altos níveis de incidência de vírus foio total desconhecimento dessas doenças, asquais começaram a ser estudadas no RioGrande do Sul somente na década de 70.

Como a maioria das cultivares devideira, em especial as uvas finas (Vitis

vinifera), é suscetível às doenças virais,

ainda hoje, há uma alta incidência dessespatógenos nas nossas regiões produtoras.A disseminação é facilitada, em grandeparte, no momento da obtenção de porta-enxertos e garfos de produtoras paraenxertia, pelo fato de o material vegetativoser originado de vinhedos mais antigos daregião ou introduzido de outras regiões,porém, sem atender a requisitos sanitários.

Merecem destaque seis das principaisdoenças ou complexos virais que afetam avideira no Brasil.

DESCRIÇÃO DASPRINCIPAIS DOENÇAS

Enrolamento-da-folha-da-videira

Esta virose foi constatada no Estadode São Paulo e no Rio Grande do Sulatingindo de 78% a 98% das produtorasviníferas, enquanto nos porta-enxertos, suaocorrência foi de 15,6% a 33% das plantasamostradas.

A virose causa sérios prejuízos àvideira, afetando o número, o peso e otamanho dos cachos, além de diminuir oteor de açúcar da uva, a longevidade daplanta e a qualidade do vinho. Os danoscausados variam em função da susce-tibilidade varietal, estirpe do vírus eintensidade da infecção. Em plantas dacultivar Cabernet Franc, vinífera tintaplantada para elaboração de vinho fino,severamente afetadas em comparação complantas sadias, verificou-se redução de42,4% no número de cachos; de 62,8% nopeso da produção; de 65,2% no vigor,expresso pelo peso da poda hibernal; e de

3DOENÇAS VIRAIS

Thor Vinícius Martins Fajardo

Gilmar Barcelos Kuhn

Osmar Nickel

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2,7º Brix ou 25,6 g/L no teor de açúcaresredutores da uva. No vinho elaborado comuvas da mesma cultivar afetadas pela virosefoi verificada uma perda de 15% no teoralcoólico e diminuição acentuada naintensidade da cor do vinho.

Agente causal

É o vírus do enrolamento da folha davideira (“Grapevine leafroll associated virus”,GLRaV), pertencente ao gênero Ampelovirus

(antigo Closterovirus). Até o presente, isolaram-se oito vírus (GLRaV-1 a -8), sorologica-mente distintos, associados aos tecidos devideiras afetadas. Há consenso de que essavirose seja causada por um complexo viral,embora cada um dos vírus possa ocorrer deforma isolada. GLRaV-3 ocorre com maiorfreqüência em todo o mundo; GLRaV-1 e-3 já foram detectados no Brasil e, maisrecentemente, o GLRaV-2 em vinhedospaulistas.

São vírus que possuem um únicotipo de partícula, alongada e flexuosa, comcerca de 1.400 a 2.200 nm de comprimentoe 12 nm de diâmetro. Apresentam o genomacomposto por RNA fita simples de 15 a20 kb (1.000 nucleotídeos) e peso mole-cular das subunidades da capa protéica de35 a 43 kDa, exceto em GLRaV-2 que é de26 kDa. Somente GLRaV-2 Closterovirus étransmissível pela via mecânica parahospedeiros herbáceos, cujo espectro érestrito, basicamente, a Nicotiana spp.

Sintomatologia

Os sintomas variam com as condiçõesclimáticas, época do ano, fertilidade dosolo, estirpe do vírus e com a cultivar. Sãofacilmente reconhecidos em cultivaressensíveis, em especial no fim do ciclovegetativo, antes da queda das folhas peloenrolamento dos bordos da folha parabaixo, observado nas cultivares européias(Vitis vinifera) tintas e brancas (Fig. 1A e1B), embora possa ocorrer infecção semque as folhas se enrolem. Nas viníferas

tintas o limbo adquire uma coloraçãovermelho-violácea, permanecendo, emgeral, o tecido ao longo das nervurasprincipais com a cor verde normal (Fig. 2Ae 2B). Nas viníferas brancas infectadas, olimbo toma uma leve coloração amarelo-pálida, às vezes mais pronunciada no tecidoao longo das nervuras principais. Nascultivares viníferas, tanto brancas comotintas, as folhas das plantas infectadasapresentam o limbo com aspecto rugoso,quebradiço e de consistência mais grossado que nas folhas de plantas sadias.Os sintomas causados pela virose,independentemente da cultivar, aparecemsempre a partir da base dos ramos,evoluindo para as demais folhas daextremidade. Dependendo do nível deinfecção e da virulência da estirpe viral, ossintomas podem ser discretos e se restringiràs folhas da base dos ramos.

As videiras americanas (Vitis labrusca)e híbridas, que predominam em áreacultivada no Brasil, não mostram ossintomas característicos da doença. Podeser observado, em cultivares como NiágaraBranca, Niágara Rosada e Concord, leveenrolamento e, às vezes, queimadura entreas nervuras principais, bem como reduçãono desenvolvimento da planta. Na cultivarIsabel, a redução no crescimento é osintoma mais evidente. Já as cultivares deporta-enxertos não mostram qualquersintoma nas folhas quando infectadas pelovírus, o que torna impossível a distinçãoentre plantas sadias e doentes pela simplesobservação.

Nos cachos de plantas muito afetadas,o sintoma mais comum é a maturaçãoirregular e retardada da uva, chegando atéa não se completar. Além disso, nas plantasmuito afetadas, o número e o tamanho doscachos são menores e as plantas tornam-setotalmente definhadas.

Sintomas de avermelhamento ouamarelamento das folhas, semelhantes aoscausados pela virose, podem ser induzidospor outras causas como: deficiência depotássio, de magnésio ou de boro; ataque

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Fig.1. Enrolamento da folha em vinífera branca. (A) Planta com sintomas fortes, (B) enrolamentodos bordos do limbo foliar na página inferior da folha.

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de cigarrinhas e ácaros; asfixia da plantapelo excesso de umidade no solo; infecçãopor outros patógenos (vírus, fitoplasma efungos radiculares); efeito fitotóxico depesticidas e outras causas que interrompama circulação normal da seiva da planta.

Nenhum outro hospedeiro natural éconhecido para o vírus além da videira.

Epidemiologia

A disseminação natural dos vírus nosvinhedos por vetores começou a ser consi-derada a partir da constatação experimentalde que GLRaV-1 e GLRaV-3 sãotransmitidos de videira para videira pelascochonilhas algodonosas da família

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Pseudococcidae (Planococcus ficus, Planococcus

citri, Pseudococcus longispinus, Pseudococcus

calceolariae, Pseudococcus affinis (=P. viburni),Heliococcus bohemicus e Phenacoccus aceris) epor cochonilhas de carapaça da famíliaCoccidae (Pulvinaria vitis e Parthenolecanium

corni). No entanto, existem poucasinformações disponíveis sobre a ocorrência,a dispersão e a bioecologia dessas espéciesde cochonilhas em videiras na regiãovitícola da Serra Gaúcha.

Na ausência de cochonilhas, já relatadascomo vetoras de GLRaV-1, outrascochonilhas poderiam estar disseminandoesse vírus em vinhedos. Há relato de que acochonilha Neopulvinaria innumerabilis poderiaestar envolvida na disseminação desse vírus.

A ocorrência da cochonilha-pardaParthenolecanium persicae é freqüente emvinhedos da região vitícola da SerraGaúcha, devendo ser objeto de estudopara verificar sua possível atuação nadisseminação de vírus. Outras espéciescomo a cochonilha-algodão (Icerya schrottkyi)e as cochonilhas-do-tronco (Hemiberlesia

lataniae, Duplaspidiotus tesseratus e D. fossor),que ocorrem no Brasil, também deverãoser estudadas como potenciais vetoras devírus na videira.

Como as cochonilhas, a princípio, sãovetores de vírus pouco eficientes, em razãoda sua baixa mobilidade nas plantas, adefinição da importância epidemiológicadesse tipo de vetor ainda necessita demaiores estudos. No padrão relatado de

Fig.2. Enrolamento da folha em vinífera tinta. (A) Folha com sintomas (esquerda) e folhasadia (direita); (B) Página inferior da folha com sintomas.

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disseminação do GLRaV-3 em videiras acampo, observa-se a dispersão do vírus,preferencialmente, entre plantas vizinhasdentro da linha de plantio, o que implicaestar envolvida a atuação de um vetorpouco móvel.

A disseminação de longa distânciaocorre através do material propagativoinfectado, durante o processo de formaçãodas mudas, independentemente do métodode enxertia. Não há informação detransmissão de vírus pela tesoura de podaou pelo contato das raízes.

Complexo rugosoda videira

Quatro viroses constituem ocomplexo rugoso da videira (“Grapevine

rugose wood complex”), causando alteraçõesno lenho de plantas infectadas: ointumescimento-dos-ramos (“Corky bark”)e as caneluras-do-tronco, estas, por suavez, associadas às viroses “Rupestris stem

pitting”, “Kober stem grooving” e “LN33 stem

grooving”. Essas viroses podem serseparadas por meio de testes biológicoscom cultivares indicadoras (Rupestris duLot, Kober 5BB e LN33) específicas paracada vírus (Tabela 1).

Intumescimento-dos-ramos-da-videira

Esta doença foi descrita pela primeiravez na Califórnia (EUA), tendo sido,posteriormente, denominada “Grapevine

corky bark”. O intumescimento-dos-ramosocorre na maioria dos países vitícolas,afetando muitas cultivares comerciais deprodutoras e de porta-enxertos sem queestas apresentem sintomas aparentes.No Rio Grande do Sul e em São Paulo temsido constatada em cultivares americanase viníferas, numa incidência de 2,3% a

20%. Em algumas áreas isoladas a infecçãosupera 50%.

Nas cultivares americanas Isabel,Niágara Rosada e Niágara Branca, ocorrequeda progressiva de produtividade, a uvanão completa a maturação, há redução noteor de açúcar e a planta pode morrer empoucos anos. Em cultivares de Vitis vinifera,a presença desse vírus, associada ao sintomade engrossamento na região da enxertia,causa a morte de mudas nos primeiros 2 ou3 anos após a enxertia.

Agente causal

O vírus B da videira (“Grapevine virus

B” , GVB) é o vírus associado aointumescimento do ramo da videira.Recentemente, foi classificado no gêneroVitivirus, juntamente com os vírus GVA,GVC, GVD isolados de videiras afetadaspelo complexo rugoso. Seu genoma, comaproximadamente 7.600 nucleotídeos, éconstituído de RNA fita simples e sensopositivo. A partícula viral tem cerca de800 nm de comprimento (Fig.3), e assubunidades da capa protéica possuem23 kDa de peso molecular. Como os outrosex-Trichovirus da videira, o GVB étransmissível pela via mecânica para umagama de hospedeiros herbáceos, a maioriaNicotiana spp.

Fig.3. Micrografia eletrônica de partículasde “Grapevine virus B “(GVB), em contrastaçãonegativa com acetato de uranila a 2%, emextrato de Nicotiana occidentalis infectadacom GVB.

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A diagnose da doença pode ser feitapor meio de testes de indexagem biológicautilizando-se a cultivar indicadora LN33(Couderc 1613 x Thompson Seedless),que é extremamente sensível ao vírus eexpressa sintomas típicos da virose(Fig. 4A).

Sintomatologia

Nas cultivares americanas (Vitis

labrusca), como a Isabel, Niágara Rosada eNiágara Branca, os sintomas são facilmenteobservados e se caracterizam pelointumescimento dos entrenós do ramo doano, com fendilhamento longitudinal dotecido afetado (Fig. 4B e 4C). Esses

Tabela 1. Cultivares indicadoras e tempo necessário de observação até a expressão desintomas nos testes de indexação biológica.

sintomas podem ser observados tambémno pecíolo das folhas próximas às regiõesafetadas dos ramos. Com o amadu-recimento do ramo, o tecido da regiãointumescida fica com um aspectocorticento. Os ramos afetados sãodestacados da planta com facilidade,principalmente quando há formação detecido corticento na região de sua inserção.Nas plantas muito afetadas, a brotação éretardada e fraca. As folhas tendem a enrolaros bordos para baixo, além de caírem maistardiamente no outono. Em cultivaresamericanas, a planta definha gradativamente,com seca parcial ou total dos ramos afetados,podendo morrer em poucos anos.

Em algumas cultivares viníferas ehíbridas pode ser observado averme-

(*) viroses associadas às caneluras do tronco.Fonte: Embrapa Uva e Vinho, 2001.

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lhamento intenso nas folhas, em cultivarestintas (Fig. 5A e 5B), ou amarelamento eenrolamento dos bordos foliares, emcultivares brancas (Fig. 5C), que seevidenciam no outono. Essa coloraçãoanormal abrange toda a área foliar,inclusive os tecidos ao longo das nervurase, em viníferas, está associada ao complexorugoso da videira do qual o intumescimentodos ramos é um dos componentes.

Outro sintoma associado à presençado vírus é o engrossamento na região daenxertia, principalmente em mudas de 1 a3 anos. Forma-se nessas um volumeexcessivo de tecido de consistênciaesponjosa na região e acima da enxertia.O tecido, quando maduro, adquire aspecto

corticento e apresenta fendilhamentoslongitudinais. Até o momento o únicohospedeiro natural conhecido para o vírusé a videira.

Epidemiologia

O patógeno é disseminado pelomaterial vegetativo, por meio da multi-plicação por estacas ou gemas, e étransmitido pela enxertia. A disseminaçãonatural do intumescimento dos ramos foirelatada em Israel e no México associada àpossível atuação de um inseto vetor.Posteriormente, foi realizada a transmissãoexperimental do GVB por cochonilhas dafamília Pseudococcidae: Planococcus ficus,

Fig.4. Intumescimento dos ramos.(A) Engrossamento do entrenó e do pecíolocom enrolamento das folhas na indicadoraLN33; (B) Em produtora americana; (C) De-talhe do intumescimento do entrenó comformação de tecido corticento no interior daregião afetada em produtora americana ena indicadora LN33.

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Isabel

LN 33

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Planococcus citri, Pseudococcus longispinus ePseudococcus affinis. Também não háconstatação de contaminação de plantaspor meio de ferramentas e tesoura de poda.

Caneluras-do-tronco-da-videira

Esta doença é conhecida na maioriadas áreas vitícolas do mundo. No Brasil éconhecida com o nome de caneluras dotronco ou cascudo. Os níveis de incidênciada doença variam, dependendo da cultivar,de 3% a 10%, mas podem ser superiores a50% em cultivares muito suscetíveis nosvinhedos com mais de 12 anos.

A severidade dos sintomas dependeda combinação produtora/porta-enxerto,suscetibilidade de cultivares e virulênciada estirpe do vírus. Nas combinações maissensíveis, a doença causa o declínio e asubseqüente morte da planta, que podeocorrer aos 7-8 anos após a infecção.O declínio sempre é acompanhado de umaprogressiva redução da colheita até aimprodutividade total da planta.

Agente causal

A etiologia das caneluras-do-tronconão está totalmente esclarecida, perten-cendo, porém, ao complexo rugoso da

Fig.5. Complexo rugoso da videira. (A) Sintoma inicial em folha de cultivar vinífera tinta;(B) Planta de cultivar vinífera tinta com avermelhamento intenso das folhas; (C) Em folha decultivar vinífera branca, mostrando amarelamento e enrolamento do limbo foliar (direita)e folha sadia (esquerda).

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videira. As caneluras-do-tronco são devidasà presença de uma ou mais das seguintesviroses: “Rupestris stem pitting”, “Kober stem

grooving” e “LN33 stem grooving”. Ao“Rupestris stem pitting” e ao “Kober stemgrooving” estão especificamente associa-dos os vírus “Rupestris stem pitting associated

virus” (RSPaV) e “Grapevine virus A” (GVA),respectivamente.

Recentemente foi caracterizado oRSPaV, pertencente ao gênero Foveavirus,e possuindo partículas alongadas eflexuosas, com cerca de 800 nm decomprimento, RNA fita simples comaproximadamente 8700 nucleotídeos eproteína capsidial de 28 kDa. Este vírustem sido identificado como agente causalde caneluras em tronco de videiras, emparticular, aquelas induzidas na indicadoraRupestris. Não é transmitido mecanica-mente, via inoculação com extrato foliar.

GVA é transmissível para hospedeirosherbáceos (Chenopodium quinoa, C. amaranticolor,Gomphrena globosa e Nicotiana spp). Possuipartículas alongadas com cerca de 800 nmde comprimento e RNA fita simples comaproximadamente 7.400 nucleotídeos.As subunidades da capa protéica têm22,5 kDa de peso molecular. GVA e GVBapresentam certo nível de relacionamentosorológico.

Sintomatologia

Em cultivares sensíveis, caneluras sãoobservadas sob a casca do tronco da videirana superfície do lenho. As canelurascorrespondem ao local onde a casca penetrano tronco prejudicando a formação dosvasos condutores da seiva (Fig. 6A e 6B).O número de caneluras, o seu comprimentoe a largura variam de acordo com asensibilidade da cultivar afetada e com aestirpe do patógeno. As plantas doentes,em geral, têm seu vigor diminuído e háretardamento na brotação das gemas, deuma a duas semanas. A casca do tronco émais grossa e de aspecto corticento.Em algumas combinações enxerto/porta-

Fig.6. Caneluras-do-tronco-da-videira.(A) Tronco de videira vinífera mostrando ascaneluras do tronco (esquerda), (B) Cortetransversal em tronco de videira viníferamostrando reentrâncias no lenho do tronco.

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enxerto, os sintomas podem se limitar aum dos componentes, quando o outro étolerante. Os porta-enxertos normalmentemostram sintomas nítidos da doença(Fig. 7). Muitas cultivares de produtorasviníferas e americanas são altamentesuscetíveis (Fig. 8A e 8B). As caneluraspodem ser observadas até nas raízes,especialmente em cultivares muitosuscetíveis, como o porta-enxerto

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Fig.7. Porta-enxerto Rupestris du Lot comsintomas das caneluras do tronco, eviden-ciando a penetração da casca no lenho(direita) e sadio (esquerda).

Fig.8. Caneluras-do-tronco-da-videira.(A) Detalhe das caneluras no lenho numtronco de produtora vinífera; (B) Ramos devideira americana com caneluras do tronco,evidenciando a penetração da casca nolenho.

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Rupestris du Lot. Também pode ocorrerna região da enxertia uma diferença dediâmetro entre o enxerto e o porta-enxerto.As folhas das cultivares tintas podemapresentar avermelhamento em plantasmuito afetadas em função da formaçãoanormal dos vasos condutores na regiãoafetada. A morte de plantas normalmenteocorre entre 6 e 10 anos de idade, e atémais cedo, quando ambas as cultivares(porta-enxerto e enxerto) são sensíveis.Em muitas cultivares a doença permaneceem estado latente.

Epidemiologia

A disseminação de longa distânciadas caneluras-do-tronco ocorre pelomaterial vegetativo contaminado, e atransmissão, por meio de enxertia.Demonstrou-se que GVA pode sertransmitido entre videiras ou parahospedeiras herbáceas pelas cochonilhas

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da família Pseudococcidae: Pseudococcus

longispinus, Pseudococcus affinis, Planococcus

citri e Planococcus ficus, havendo ainda umrelato de transmissão por Neopulvinaria

innumerabilis (Coccidae). Em relação aoRSPaV não há vetor relatado para estevírus. Também não se tem registro datransmissão das caneluras do tronco deuma videira a outra por meio de ferramentasou tesoura de poda.

Degenerescência-da-videira

A degenerescência é uma das maisantigas e bem caracterizadas das virosesda videira. É conhecida como “Court noué”

ou “Dégénérescence infectieuse”, na França, e“Grapevine fanleaf degeneration”, nos EstadosUnidos, e ocorre em todos os paísesvitícolas. No Brasil, essa doença tem poucaexpressão, com incidência de 2% a 3%.

Nos Estados Unidos e na Europa, adoença é uma das mais importanteseconomicamente. Os danos causadosvariam com a cultivar afetada e com aestirpe do vírus. As cultivares maissensíveis sofrem um declínio progressivo,queda de até 80% na produção, perda dequalidade da uva, diminuição na pega daenxertia e no enraizamento das mudas.

Agente causal

O vírus dos entrenós curtos(“Grapevine fanleaf virus”, GFLV) é o agentecausador da doença. Possui partículasisométricas de 30 nm de diâmetro, pertenceà família Comoviridae e ao gênero Nepovirus,é triparticulado e seu genoma é compostopor dois RNAs (RNA 1 e RNA 2) de fitasimples e senso positivo (infectivo),ambos necessários à infecção. O capsídeodo GFLV é composto de subunidades deuma proteína de 54 kDa, codificada peloRNA 2.

GFLV é transmissível pela via mecâ-nica para mais de 30 espécies de sete

famílias botânicas. Chenopodium quinoa,

C. amaranticolor, Gomphrena globosa eCucumis sativus são os principais hospedeirosherbáceos; a reação pode ser latente evariar segundo o isolado do vírus.

Sintomatologia

A doença afeta todos os órgãos davideira. Nas folhas ocorrem deformaçõescom distribuição anormal das nervuras;ângulo do pecíolo muito aberto ou fechado;assimetria foliar com dentes pontiagudos eredução do tamanho, além de manchastranslúcidas de formas variadas observa-das, normalmente, na primavera. Nosramos, observam-se entrenós curtos,bifurcações, achatamentos e nós duplos(Fig. 9A), proliferação de gemas e brotaçãofraca e atrasada. Nos cachos, o número etamanho das bagas são menores e háformação de bagoinhas, ou seja, bagas quepermanecem pequenas e verdes (Fig. 9B).

Outro sintoma é a coloração amarelo-ouro nas folhas, causada por uma estirpeespecífica do GFLV que induz o mosaico-amarelo. Esse amarelecimento ocorreprimeiro como manchas pequenas deforma e tamanho distintos, normalmentede distribuição irregular na lâmina foliar(mosaico), e evolui, em seguida, para umacoloração amarelo-ouro (Fig. 10). Outraestirpe do vírus causa somente oamarelecimento do tecido ao longo dasnervuras principais e pode se estenderàs nervuras secundárias (Fig. 11). As fo-lhas com amarelecimento nas nervuraspodem ficar assimétricas. Geralmente, asplantas doentes são menos desenvolvidas.

As indicadoras herbáceas Chenopodium

amaranticolor e C. quinoa reagem comsintomas sistêmicos de mosqueado eclareamento de nervuras nas folhas novase, ocasionalmente, pequenas lesões locaiscloróticas nas folhas inoculadas, quandoinoculadas mecanicamente com GFLV(Fig. 12).

Frutas do Brasil, 35Uva Fitossanidade56

Epidemiologia

O vírus é disseminado em vinhedos noHemisfério Norte pelos nematóidesXiphinema index e X. italiae, sendo oX. index mais eficiente na transmissão doGFLV no campo. No Brasil, já foramconstatadas quatro espécies de Xiphinema

em videira, Xiphinema americanum (Sin.X. brevicolle), X. index, X. brasiliensis eX. krugi. Contudo, a possível atuação dessasespécies como vetoras de GFLV aindanecessita ser avaliada em vinhedos do País.

Fig.9. Degenerescência da videira. (A) Ramo exibindo bifurcação e achatamento, (B) cachocom formação de bagoinhas (bagas que não se desenvolvem) em virtude da infecção pelovírus dos entrenós curtos.

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Fig.10. Mosaico-amarelo causa-do por estirpe do GFLV.

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Fig.11. Faixa amarela nas nervuras causada por estirpe doGFLV.

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Fig.12. Chenopodium quinoa exibindo pe-quenas lesões locais cloróticas e, inicial-mente, mosqueado e clareamento denervuras nas folhas inoculadas com GFLV.

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57Frutas do Brasil, 35 Uva Fitossanidade

Fig.13. Porta-enxerto R110 afetado pelanecrose das nervuras. (A) Planta no campomostrando folha basal com sintoma;(B) detalhe das nervuras necrosadas.

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verde das folhas é bem menos intensa e anecrose das nervuras pode evoluir paramanchas necróticas que abrangem grandeparte da área foliar, em especial nas folhasda base. Esses sintomas são observadossomente no porta-enxerto R110 (Vitis

rupestris x V. berlandieri). Nas demaiscultivares, a doença é latente. Além doR110, o porta-enxerto Vitis berlandieri xV. riparia, conhecido regionalmente como nome de Solferino, reage à infecção comescurecimento em forma de estrias nosramos e pecíolos e o franzimento das folhas.

Os restos de raízes de plantas doentesque ficam no solo permanecem viáveis poralguns anos e servem de fonte de inóculo,em áreas infestadas por nematóides vetores.

Necrose-das-nervuras-da-videira

Descrita pela primeira vez na Françacom o nome de Necrose des nervures de la

vigne, essa virose já foi identificada noBrasil.

A doença é conhecida nas principaisregiões vitícolas do mundo e afeta amplagama de cultivares. Na Itália, a doença foiverificada com freqüência de até 80% emclones selecionados nas Regiões Central eSul. No Brasil, a incidência da virose atingiuníveis de 70,8%, 46% e 34,4%, respec-tivamente, em cultivares de uvas viníferas,porta-enxertos e uvas comuns.

Nas cultivares afetadas, os efeitosparecem ser de pouca relevânciaeconômica. Mesmo assim, por ser umadoença latente na quase totalidade dascultivares comerciais, e por sua altaocorrência, tem sido normalmente incluídanos programas de seleção sanitária.

Agente causal

O patógeno causador da doença édesconhecido, perpetua-se através domaterial vegetativo, é transmitido porunião de tecidos e pode ser eliminado portermoterapia.

Sintomatologia

Ocorre necrose nas nervuras, visívelna página inferior das folhas da base,evoluindo para outras folhas com ocrescimento do ramo (Fig. 13A e 13B).Quando a necrose é muito intensa, podeinduzir enrugamento e assimetria da lâminafoliar. Na superfície dos ramos verdes e nopecíolo da folha ocorrem estrias necróticas.Nas plantas muito afetadas, a coloração

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Nessas duas cultivares, quando as plantasestão muito afetadas, ocorre severa reduçãodo crescimento, que evolui para odefinhamento total das plantas.

Epidemiologia

O patógeno perpetua-se no materialvegetativo e é transmitido pela união detecidos. As tentativas de transmissão porinoculação mecânica para plantasherbáceas, até o momento, não tiveramsucesso. Não há nenhuma constatação decontaminação de plantas através deferramentas e tesoura de poda. Tambémnão é conhecido nenhum vetor dopatógeno. Não se conhece outro hospedeironatural para o patógeno, além da videira.

Manchas-das-nervuras-da-videira

Constatada pela primeira vez naCalifórnia, essa doença já foi registrada namaioria dos países vitícolas do mundo,inclusive no Brasil. Nenhum outrohospedeiro natural além da videira éconhecido.

A doença ocorre nos vinhedos brasilei-ros com freqüência e com incidência de até56% e 18,1% em cultivares de produtoras ede porta-enxertos, respectivamente. Tendoem vista sua alta ocorrência e por ser latenteem praticamente todas as cultivares viníferase de porta-enxertos, essa virose faz parte dosprogramas de seleção sanitária da maioriados países vitícolas.

Agente causal

O agente causal é o vírus-das-man-chas-das-nervuras-da-videira (“Grapevine

fleck virus”, GFkV), gênero Moculavirus. Essevírus não é transmissível mecanicamente,é limitado ao floema, possui partículasisométricas de 30 nm de diâmetro e RNAfita simples de cerca de 7,5 kb. As sub-unidades protéicas do capsídeo têm pesomolecular de 28 kDa.

Sintomatologia

Os sintomas da doença localizam-senas folhas novas e de meia idade da cultivardo porta-enxerto Rupestris du Lot, comomanchas translúcidas, sem forma definida,que acompanham as nervuras, em especialas de terceira e quarta ordens. Essasmanchas aparecem distribuídas em parteou em toda a lâmina foliar (Fig.14).Outros sintomas comuns são a aberturaexcessiva do seio peciolar, a assimetriacom distorção e a deformação das folhas.As plantas muito afetadas são menosdesenvolvidas e podem apresentar as folhascom os bordos voltados para cima.O porta-enxerto Kober 5BB tambémmostra os sintomas da doença porém commenor intensidade. Nas demais cultivarescomerciais, o vírus ocorre de forma latente.

Fig.14. Folhas do porta-enxerto Rupestrisdu Lot afetado pela virose da mancha dasnervuras (direita) e sadia (esquerda).

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.B. K

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Epidemiologia

O vírus é disseminado pelo materialvegetativo e transmitido pela enxertia. Nãohá constatação de contaminação de plantasatravés de ferramentas ou tesoura de poda.

A disseminação natural de GFkV emvinhedos tem sido observada, ligando essefato à atuação de um possível vetor aéreo.

TÉCNICAS DE DIAGNOSE

Infecções múltiplas envolvendo diver-sos vírus são comuns em videiras, o quetorna o diagnóstico baseado em sintomas de

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campo praticamente impossível. Muitascultivares não apresentam sintomas eviden-tes, seja porque a infecção é latente ou por-que ela é influenciada por fatores como areação varietal e a idade da planta. Outrosfatores também podem induzir sintomassemelhantes aos causados por vírus, comocarência ou excesso de nutrientes e ataque deoutros patógenos ou pragas. Desse modo, astécnicas de diagnóstico são ferramentas valiosaspara a identificação de infecções virais.

Entre as técnicas de diagnose inclui-se a indexagem biológica em plantasindicadoras lenhosas, em que os resultadospodem demorar de 2 meses a 2 anos. Nestetipo de teste, são utilizadas comoindicadoras cultivares de videira quereagem com sintomas característicos decada vírus inoculado, normalmente, porenxertia verde ou de mesa. Apesar dotempo de avaliação e as variações na reaçãodas plantas indicadoras que podem ocorrer,em função das condições ambientais, aindexagem biológica é necessária pela suaconfiabilidade, e por oferecer informaçõesrelevantes sobre o comportamentobiológico do isolado e sua identidade.As principais videiras indicadoras e asviroses e/ou vírus que elas detectamconstam da Tabela 1.

Na indexagem biológica tambémpode-se utilizar plantas herbáceasindicadoras, tais como várias espécies defumo (Nicotiana spp.), Chenopodium quinoa

e C. amaranticolor (Fig. 12). A transmissãodo vírus é feita pela inoculação mecânica,ou seja, friccionando o extrato foliar devideira sobre as folhas da indicadoraherbácea. A indicadora reagirá comsintomas típicos de infecção viral em atéduas semanas. A limitação dessa técnicaestá no reduzido número de indicadorasque reagem positivamente àqueles vírusque infectam videira.

As técnicas sorológicas baseiam-seno reconhecimento do antígeno (proteínaviral) por um anticorpo produzido contra aproteína viral em animais como coelhos ecamundongos. São importantes comple-mentos do método biológico e, em muitas

situações, representam ótima alternativa.No teste sorológico ELISA, a combinaçãoantígeno/anticorpo é detectada pela reaçãode uma enzima (conjugada ao anticorpo)com o seu substrato e a avaliação do teste éfeita medindo-se a densidade ótica (cor) doproduto da reação. ELISA, e suas variantes,é especialmente adequado para monitora-mento, em programas que visam selecionar,manter e propagar material básico livre devírus, sendo o teste mais amplamenteutilizado com fruteiras em geral. Em videira,diversos vírus podem ser diagnosticados porsorologia, incluindo alguns de importânciaeconômica. A Fig. 15 apresenta o resultadofinal do teste ELISA, desenvolvido especi-ficamente para a detecção do GLRaV-3 emamostras foliares de videira. Assim, odiagnóstico sorológico apresenta-se comoopção vantajosa pois pode reunir simplici-dade, baixo custo, alta sensibilidade econfiabilidade.

O teste Dot-ELISA distingue-se doELISA tradicional pelo suporte sólido que éutilizado. Em lugar da placa de microtitulação,o extrato foliar das amostras é depositadosobre uma membrana de nitrocelulose. Outramodificação importante ocorre no desenvol-vimento da reação, em que se usam diferentessistemas de substrato/enzima, e o produtoda reação enzimática é insolúvel e de corpúrpura.

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Fig.15. Placa mostrando o resultado finaldo teste ELISA, desenvolvido para a detecçãodo GLRaV-3 em diversas amostras foliaresde videira. Poços de cor amarela indicamamostras infectadas e poços incolorescorrespondem a amostras sadias.

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A amostragem é um fator extremamentecrítico no diagnóstico sorológico, e a flutuaçãode concentração dos vírus, segundo a estaçãodo ano, e a sua distribuição desuniforme nostecidos vegetais podem produzir resultadosfalso-negativos. Assim, devem ser definidosfatores como época de coleta das amostras,tipo, idade e posição do tecido na planta.Essa situação aplica-se sobremaneira aosvírus que infectam videira, pois, em geral,estes apresentam baixa concentração nostecidos vegetais, muitas vezes concen-trando-se apenas em determinadas partesda planta, como acontece com o GLRaV,que se concentra especificamente nofloema. Estas peculiaridades devem serconsideradas na execução do diagnósticosorológico, caso contrário poderãodificultá-lo ou mesmo inviabilizá-lo.

Dessa forma, a realização do testeELISA para a detecção dos vírus GLRaV,GVA e GVB é recomendada a partir defolhas de videira colhidas em final do ciclovegetativo, utilizando-se principalmenteas nervuras e os pecíolos. Já para o GFLVe o GFkV, o teste ELISA é indicado apartir de folhas colhidas em início do ciclovegetativo. Nos estádios de desenvol-vimento indicados, a concentração viral émais elevada, permitindo a segura detecçãoviral.

Além da indexagem biológica e dostestes sorológicos, para o diagnóstico e acaracterização de vírus são utilizadosmétodos moleculares, que se valem dasdiferentes características da proteínacapsídica e do ácido nucléico, constituintesbásicos da partícula viral. Tais técnicassão complementares à sorologia para odiagnóstico e a caracterização viral, emborapouco adequadas para o diagnóstico rápidoem grande número de amostras, e sãoferramentas importantes na seleção dematerial básico.

As proteínas virais, que compõem acapa que envolve a partícula viral, podemser separadas por eletroforese, proce-dimento no qual as proteínas migramatravés de géis impulsionadas por uma

corrente elétrica. As proteínas separadassão visualizadas pelo tingimento comcorantes específicos e as informaçõesobtidas por esse procedimento, a exemplodo peso molecular da proteína capsidial,auxiliam na caracterização e no diagnósticoviral.

A transferência western blot, comu-mente utilizada na caracterização deproteínas virais em videiras, é um métodoimunoeletroforético em que proteínasvirais, em extratos de videiras infectadas,são separadas por eletroforese e, a seguir,transferidas e detectadas em membranasde nitrocelulose, pela reação comanticorpos específicos para o antígeno.

Conhecendo-se pelo menos parte daseqüência de nucleotídeos do agente viralde interesse, é possível o diagnóstico viaPCR (Reação em cadeia da polimerase).Esse é um processo automatizado deamplificação (aumento do número decópias) cíclica do DNA molde do agentede interesse, conduzido em termoci-cladores. A avaliação é realizada pelavisualização do DNA amplificado em géissubmetidos a eletroforese (Fig. 16).

Fig.16. Análise eletroforética em gel deagarose 1,5%, corado com brometo de etídio,da amplificação por PCR de um fragmento deDNA de 340 bp (seta) obtido com “reagentes”(oligonucleotídeos) específicos para GLRaV-3. Amplificação a partir de RNA total extraí-do de pecíolos e nervuras foliares de videi-ras. Amostras 1, 2, 5 e 6, sadias, e amostras3 e 4, infectadas com GLRaV-3.

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.M. Faja

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não estejam afetadas por viroses, doençasdifícieis de serem detectadas no momentoda aquisição das mudas.

Não se recomenda que o viticultorproduza suas mudas a partir da seleção dematerial vegetativo em seu próprio vinhedoou de outros produtores, pois, comomencionado, os sintomas de infecção viralno campo nem sempre são evidentes.No entanto, caso o viticultor faça a opçãode produzir sua própria muda, ele deveseguir épocas adequadas para selecionarplantas matrizes. Para o enrolamento, amelhor época é a do fim do ciclo vegetativoda planta, antes da queda das folhas,enquanto para as viroses do complexorugoso a melhor época é a do período derepouso da planta.

A maioria dos viticultores e viveiristasestá consciente do risco que os patógenosvirais representam para sua atividadeeconômica. Uma vez infectada por vírus, éimpossível curar uma planta no campopelos métodos tradicionalmente utilizadospara outras doenças. Somente técnicascomo a cultura de tecido e/ou termoterapiasão eficientes no controle das viroses devideira. Países onde a viticultura tem longatradição há muito estabeleceram sistemasde limpeza clonal e distribuição de materialpropagativo. No Brasil, a Embrapa Uva eVinho e outras instituições oficiais têm, aolongo de anos, desenvolvido programas deprodução e distribuição de materialvegetativo de videira livre de vírus.

Seleção sanitária

É feita em etapas, envolvendo umasérie de atividades e testes biológicos atése chegar às plantas que servirão comofonte de propagação.

No vinhedo é feita a seleção massal,através de observações minuciosas,marcando-se as plantas sem sintomasaparentes e com boa produção. Em segui-da, pode ser feita a seleção clonal, ou seja,de cada planta marcada são formados

A técnica de PCR é extremamente sensívele específica, possibilitando a detecção dequantidades ínfimas do patógeno dentrode uma amostra da planta infectada ou deum inseto vetor virulífero, o que torna odiagnóstico baseado nessa técnica bastantepreciso.

CONTROLE

A metodologia de controle é comuma todas as viroses citadas e divide-se nospontos a seguir.

Utilização de materialpropagativo sadio

O controle das viroses da videirasomente é viável, no campo, por meio dautilização de material vegetativo sadio doporta-enxerto e da produtora. Como algunsdos vírus que afetam a videira podem serlatentes em muitas cultivares comerciais, ouseja, as plantas quando infectadas nãomostram os sintomas característicos dadoença, é impossível selecionar plantas sadiaspela simples observação no campo. Faz-senecessário obter mudas ou material depropagação em locais que disponham dematerial comprovadamente livre de vírus.

Recomenda-se assim, na implantaçãoou renovação de vinhedos, a aquisição demudas ou material propagativo certificadosou fiscalizados, ou seja, que tenhamidentidade varietal e garantia de sanidade.Esse tipo de material pode ser obtido emórgãos oficiais, que desenvolvam progra-mas de produção de material vegetativo devideira livre de vírus, ou em viveiristasidôneos, que multipliquem material sadiosob controle de órgãos oficiais. Outraopção é a aquisição de mudas, via impor-tação através do Ministério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento, de viveiristasque forneçam o certificado de sanidadeexpedido por órgão oficial do país deorigem. A aquisição de mudas de umafonte idônea dá maior segurança de que

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clones e observados detalha-damente porum período de 2 ou mais anos. Tanto naseleção massal quanto na clonal, asobservações são feitas em diversas épocasdo ano, visto que os sintomas das virosespodem aparecer em diferentes estádios dodesenvolvimento da planta. As plantasque se mostrarem aparentemente sadiasna seleção morfológica são submetidasaos testes diagnósticos para comprovarsua sanidade. A técnica comumente usadapara detectar vírus em plantas lenhosas é aindexagem sobre cultivares indicadorasespecíficas para cada vírus (Tabela 1).

Termoterapia associadaao cultivo in vitro

É o meio mais eficiente e seguro deobter planta sadia a partir de uma plantainfectada por vírus. A técnica consiste emsubmeter a planta afetada a temperaturasentre 37 oC e 38 oC, umidade de 80% a 90%e fotoperíodo de 16 horas de luz, por períodoque varia, normalmente, de 30 a 150 dias,dependendo do vírus. Após o tratamentotérmico, procede-se a micropropagação desegmentos caulinares de uma gema (1 a2 cm), obtidos das extremidades dos brotoscrescidos durante a termoterapia. Estessegmentos são cultivados e enraizados invitro. Posteriormente, as plantas desenvol-vidas são transferidas para vasos em casa devegetação e submetidas a testes de diagnosepara comprovar a eliminação dos vírus.

Controle de vetores

Os Ampelovirus (antigos Closterovirus)(GLRaV-1 e -3) e os Vitivirus (GVA e GVB)são transmitidos de maneira não circulativasemi-persistente pelas cochonilhas relatadascomo vetoras. De modo geral, nesse tipo derelação vírus-vetor, os insetos podemtransmitir o vírus após 15 minutos de acessode aquisição, sendo que a eficiência natransmissão pode aumentar com períodos dealimentação mais longos, e cerca de 30minutos de acesso de inoculação, não

havendo período latente. Os vetores retêm ahabilidade de transmitir os vírus por períodosque variam de uma até 48 horas. O vírus nãose replica nos vetores e não há passagemtransovariana. Quando testada a transmis-são de GLRaV-3 pelas cochonilhasPseudococcus longispinus e P. calceolariae, só foiobtida a transmissão entre videiras peloprimeiro instar de ambas cochonilhas.

As dificuldades verificadas no con-trole de cochonilhas da videira, quando,além de pragas são também vetoras devírus, estão exatamente em evitar atransmissão do patógeno, pois o vetorpode transmitir o vírus à planta antes demorrer em decorrência do efeito doinseticida. No caso de insetos-praga háconceitos que balizam um controleeficiente, tais como o manejo integrado depragas e o nível de dano econômico, ouseja, a cultura pode conviver com um certonível de infestação da praga sem sofrerprejuízos econômicos significativos e,portanto, sem justificar a interferência comdefensivos químicos. Quando o mesmoinseto é vetor de vírus, esses conceitos nãose aplicam, pois mesmo uma reduzidapopulação de insetos pode eficientementedisseminar o vírus em campo. Por todosesses aspectos, o controle de insetosvetores de vírus, seja cochonilha ou outroqualquer (cigarrinha, etc.), é um temaimportante que demanda estudos adicio-nais, específicos para cada situação,procurando definir questões como aeficiência e o alcance dessa prática.

Para o controle de vírus transmitidospor nematóides, devem-se eliminar asplantas (videiras) com o máximo das raízese introduzir culturas pouco suscetíveis aosnematóides como alfafa e cereais, durante7 a 10 anos. O tempo de cultivo dessasgramíneas pode ser maior ou menordependendo da população dos nematóidese do tipo de solo, se arenoso ou argiloso.Caso se queira plantar a videira deimediato, deve-se fazer um tratamentorigoroso do solo com nematicida apropriadoseguindo-se rigorosamente as recomen-dações de utilização do produto.