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 Frutas do cerrado brasileiro, como araticum, cajá-manga, sapoti, tamarindo, jenipapo e pequi, estão em plena produção e podem ser um diferencial de sabores na ceia natalina, tradicionalmente abastecida pel as uva s, ameix as e sse gos , de ori gem ori ent al . Al ém do consumo in natur a,  produtores começam a p rocessar as frutas, transf ormando-as em geléias, licores , doces e panetones, garantindo renda extra para as famílias que vivem na região. CERRADO FÉRTIL A temporada de frutas do cerrado começou e nos supermercados e feiras de Minas Gerais elas aparecem como uma alternativa mais brasileira às ceias de Natal e de fim de ano, normalmente  preenchidas com u vas e pêssego, de or igem oriental. Apesar de algumas variedades como o pequi, o  jatobá e o baru serem altamente nutritivas e com teores de vitaminas acima de frutas mais tradicionais, a baixa oferta desses frutos do cerrado ainda limitam o consumo no país. Produtores rurais de Minas e de estados do Centro-Oeste começaram nos últimos cinco anos a  processar as plantas do cerrado, transformando-as em geléias, licores, panetones e doces, at ual mente vendidos nos gra nde s centr os urbanos. O tr aba lho , nor malment e conduzido por coo per at iva s, tem gar ant ido renda extra par a as famílias interioranas, enquanto aument a a oportunidade de outros brasileiros conhecerem um pouco mais os sabores e os benefícios dessas frutas. Alguns órgãos de pesquisa, como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), já fazem cursos de culinária exclusivamente com plantas do cerrado brasileiro. Foto 1 - Muito procurado, o araticum tem propriedades antioxidantes, que ajudam a prevenir doenças degenerativas. DA SUBSISTÊNCIA À AGROINDÚSTRIA O cerrado ocupa grande parte da região central do território brasileiro com solo considerado nada favorável ao plantio de várias espécies, mas as árvores de umbu, pequi, cagaita, baru, mangaba, araçá, araticum e gariroba, por exemplo, sobrevivem nessas condições e garantem alimento para milhares de famílias. Mas o que era apenas fruto de subsistência, extra ído do fundo dos quintais ou na pequena vegetação mais próxima, se transformou nos últimos anos em uma fonte de renda para os moradores do cerrado. Fábrica s de doces, bebidas e até medicamentos fitoterápic os foram construídas em regiões carentes como o Norte de Minas, onde cooperativas têm explorado comercialmente centenas de frutas nativas. A Cooperativa dos Agricultores Familiares e Agroextrativista Grande Sertão, em Porteirinha, que represent a 1,5 mil famílias, const ruiu há 12 anos sua primeira unidade de beneficiamento de frutos do cerrado. Atualmente, os cooperados industrializam 460 toneladas de frutas por ano. "Temos feito polpas para suco com mangaba , ara ticum, caga ita, maracunati vo, coquinho -aze do, araçá e outr as frut as típicas na região. São duas fábricas, em Montes Claros e Porteirinha, e outras 16 que produzem óleo de pequi e rapaduras", diz o presidente da cooperativa, José Teles. O trabalho trouxe ordem a uma atividade muito comum no Norte de Minas. Para garantir renda extra no fim de ano, as famílias recolhem frutos nas matas e levavam para vender em feiras e cidades mais próximas. Agora, o produto é encaminhado para as usinas de beneficiamento e transformado em mercadorias que garantem um retorno financeiro maior aos moradores. As famílias ainda não conseguem viver exclusivamente da exploração racional do cerrado, mas garantem cerca de um salário mínimo por mês com as frutas. Praticamente toda a produção é vendida para o governo federal e o restante é negociado com supermercados e padarias nas cidades vizinhas às unidades de beneficiamento.

Frutas Do Serrado

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Frutas do cerrado brasileiro, como araticum, caj-manga, sapoti, tamarindo, jenipapo e pequi, esto em plena produo e podem ser um diferencial de sabores na ceia natalina, tradicionalmente abastecida pelas uvas, ameixas e pssegos, de origem oriental. Alm do consumo in natura, produtores comeam a processar as frutas, transformando-as em gelias, licores, doces e panetones, garantindo renda extra para as famlias que vivem na regio. CERRADO FRTIL A temporada de frutas do cerrado comeou e nos supermercados e feiras de Minas Gerais elas aparecem como uma alternativa mais brasileira s ceias de Natal e de fim de ano, normalmente preenchidas com uvas e pssego, de origem oriental. Apesar de algumas variedades como o pequi, o jatob e o baru serem altamente nutritivas e com teores de vitaminas acima de frutas mais tradicionais, a baixa oferta desses frutos do cerrado ainda limitam o consumo no pas. Produtores rurais de Minas e de estados do Centro-Oeste comearam nos ltimos cinco anos a processar as plantas do cerrado, transformando-as em gelias, licores, panetones e doces, atualmente vendidos nos grandes centros urbanos. O trabalho, normalmente conduzido por cooperativas, tem garantido renda extra para as famlias interioranas, enquanto aumenta a oportunidade de outros brasileiros conhecerem um pouco mais os sabores e os benefcios dessas frutas. Alguns rgos de pesquisa, como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria (Embrapa), j fazem cursos de culinria exclusivamente com plantas do cerrado brasileiro. Foto 1 - Muito procurado, o araticum tem propriedades antioxidantes, que ajudam a prevenir doenas degenerativas. DA SUBSISTNCIA AGROINDSTRIA O cerrado ocupa grande parte da regio central do territrio brasileiro com solo considerado nada favorvel ao plantio de vrias espcies, mas as rvores de umbu, pequi, cagaita, baru, mangaba, ara, araticum e gariroba, por exemplo, sobrevivem nessas condies e garantem alimento para milhares de famlias. Mas o que era apenas fruto de subsistncia, extrado do fundo dos quintais ou na pequena vegetao mais prxima, se transformou nos ltimos anos em uma fonte de renda para os moradores do cerrado. Fbricas de doces, bebidas e at medicamentos fitoterpicos foram construdas em regies carentes como o Norte de Minas, onde cooperativas tm explorado comercialmente centenas de frutas nativas. A Cooperativa dos Agricultores Familiares e Agroextrativista Grande Serto, em Porteirinha, que representa 1,5 mil famlias, construiu h 12 anos sua primeira unidade de beneficiamento de frutos do cerrado. Atualmente, os cooperados industrializam 460 toneladas de frutas por ano. "Temos feito polpas para suco com mangaba, araticum, cagaita, maracuj nativo, coquinho-azedo, ara e outras frutas tpicas na regio. So duas fbricas, em Montes Claros e Porteirinha, e outras 16 que produzem leo de pequi e rapaduras", diz o presidente da cooperativa, Jos Teles. O trabalho trouxe ordem a uma atividade muito comum no Norte de Minas. Para garantir renda extra no fim de ano, as famlias recolhem frutos nas matas e levavam para vender em feiras e cidades mais prximas. Agora, o produto encaminhado para as usinas de beneficiamento e transformado em mercadorias que garantem um retorno financeiro maior aos moradores. As famlias ainda no conseguem viver exclusivamente da explorao racional do cerrado, mas garantem cerca de um salrio mnimo por ms com as frutas. Praticamente toda a produo vendida para o governo federal e o restante negociado com supermercados e padarias nas cidades vizinhas s unidades de beneficiamento.

A pequena quantidade de frutas do cerrado nos hipermercados das cidades ainda se deve s poucas pesquisas de melhoramento gentico dessas plantas, ao contrrio de outras frutas tropicais. Por isso, ainda possvel encontrar a maioria das frutas nativas apenas entre novembro e fevereiro. "Algumas j esto se adaptando para serem culturas agora", diz a pesquisadora Heloisa Mattana Saturnino, da Epamig, que desenvolve projeto de seleo de umbu no estado. Foto 2 - Apesar de nutritivas, espcies do cerrado tm oferta limitada. Preveno - Apelos para a sade as plantas do cerrado tm de sobra. Pesquisadores da Universidade Catlica de Gois e da Unicamp, por exemplo, tm investigado as propriedades das frutas nativas da chamada savana brasileira. Os resultados preliminares j indicam que o araticum e o pequi tm propriedades antioxidantes, que podem auxiliar na preveno de doenas degenerativas. Para o pesquisador Jos Orlando de Melo, da Embrapa Cerrados, o jatob o exemplo mais representativo do potencial das frutas do cerrado. "Alm de energtico natural, tem uma composio muito superior de potssio quando comparado com outras frutas. A concentrao trs vezes maior que a da banana, por exemplo, o que o torna indicado para uma reposio isotnica at mesmo para atletas", afirma. O fruto tem sido transformado em farinha ou em suco para ser vendido no mercado. "O jatob tambm conta com alto teor de clcio, fsforo, magnsio e ferro, que ajudam no crescimento de crianas e no equilbrio de pessoas com ostoporose", comenta. Para popularizar o produtos do cerrado, a Embrapa faz h trs anos cursos de culinria com frutos e plantas tpicas PEQUI O MAIS POPULAR DE TODOS O mais popular fruto do cerrado sem dvida alguma o pequi, tambm chamado de ouro do cerrado. Apesar de muitos considerarem o cheiro e os espinhos nada convidativos ao consumo da amndoa amarelada, o pequi sempre fez parte da culinria e da vida das onde a rvore floresce. Cozinhar no arroz ou no feijo so as maneiras mais tradicionais de preparo, mas vrias empresas j se especializaram em extrair o leo, fazer doces, licores, xaropes e sabonetes com a planta. "O trabalho de beneficiamento das frutas do cerrado importante, porque como fruta fresca o pequi tem um mercado restrito. Mas com o leo, a farinha e outros derivados, os produtores ganham muito mais espao para trabalhar", diz o professor de fruticultura da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Carlos Ruggiero, coordenador do portal Toda Fruta, dedicado troca de informaes sobre variedades entre pesquisadores e empresas. Existem em Minas Gerais muitas cooperativas trabalhando o processamento do pequi em parceria com universidades pblicas e privadas. Japonvar, no Norte de Minas, o maior produtor mineiro de pequi, sendo que mais da metade de seus 8,9 mil habitantes trabalham na explorao do fruto. A Cooperativa de Pequenos Produtores Rurais de Japonvar (Cooperjap) processa alm do ouro do cerrado outras 15 variedade tpicas da regio. O grande desafio dos pesquisadores e produtores garantir um cultivo sustentvel e racional do pequizeiro. "Ainda no podemos falar em sustentabilidade pois existe muita depredao como a coleta de frutos antes do tempo e sem os devidos cuidados. H uma necessidade de capacitar o pessoal, como foi feito entre 2000 e 2004", diz o pesquisador Lincoln Cambraia Texeira, da Fundao Centro Tecnolgico de Minas Gerais (Cetec), se referindo a um trabalho feito em conjunto com Sebrae entre 230 famlias no Norte do estado na produo e melhoramento da fava danta. Foto 3 - Do pequi podem ser feitos doces, licores e sabonetes PREO AINDA ASSUSTA CONSUMIDOR Como a produo dos frutos do cerrado pequena, a lei de oferta e procura pode assustar alguns consumidores. Os produtos vendidos em Belo Horizonte podem custar at R$ 19 o quilo,

dependendo da origem e da poca do ano. Alguns mais populares, como o pequi e o caj-manga, tm preo menores e so consumidos em maior quantidade. Segundo os vendedores, os clientes tm curiosidade de provar e saber o nome dos frutos do cerrado, mas muitas vezes no sabem aprecilos de outra maneira que no seja in natura. Os preferidos para sucos e doces como o caj-manga, a cagaita e o jenipapo normalmente custam menos de R$ 10 o quilo nesta poca do ano. No Mercado Central de BH eles so facilmente encontrados em bancas de frutas especializadas em produtos do cerrado. Um pacote de 300 gramas de tamarindo, por exemplo, custa R$ 8, enquanto o quilo de araticum vendido a R$ 1. "O pessoal gosta muito de siriguela e pitomba tambm, sem se esquecer do umbu. Geralmente elas so mais caras que as outras frutas porque so poucas pessoas produzindo e o custo de trazer a carga para a capital alto", explica o feirante Cleverson Valadares, dona Loja do Tio, que h 28 anos vende frutas do cerrado no Mercado Central. O mais caro entre os frutos do cerrado atualmente o sapoti, adocicado no paladar, mas um pouco amargo na hora de pagar. O quilo custa cerca de R$ 20 em Belo Horizonte, o equivalente a cinco quilos de ma. Uma alternativa econmica so as cestas de produtos e frutas do cerrados, como as feitas pelo grupo do Projeto Graal, de Montes Claros. "Trabalhamos com 40 espcies para todo tipo de uso e fizemos esse projeto, para garantir renda s famlias", explica Arlete de Almeida Silva, coordenadora do Cesta de Produtos com Frutos do Cerrado. A cesta inclui licores, gelias, doces e uma variedade de produtos e custa de R$ 40 a R$ 45. (RA)