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INOVAÇÃO SOCIAL NO TERCEIRO SETOR | O DISTRITO DE ÉVORA

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ÍNDICE

7 NOTA DE ABERTURA

11 PREFÁCIO

15 INTRODUçãO

17 1. EnquadramEnto – ConCEitos E PErsPEtivas

17 1.1. Inovação social

18 1.2. Os debates sobre a inovação social – diferentes enfoques

23 1.3. Cultura e artes na inovação social

26 1.4. O terceiro setor

31 1.5. A inovação social no terceiro setor – uma visão de síntese

32 2. PolítiCas dE inovação soCial

32 2.1. A inovação social na política europeia

36 2.2. Os programas europeus de incentivo à inovação social

40 2.3. Benchmarking de experiências de inovação social na UE

48 3. PErfil soCiodEmográfiCo do distrito dE Évora

48 3.1. Sinopse por temas

59 3.2. Tipologia das freguesias

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62 4. lEvantamEnto E CaraCtErístiCas das organizaçõEs do tErCEiro sEtor

66 4.1. Perfil das organizações: localização, constituição, motivações e princípios

68 4.2. Os atores

73 4.3. Procura (utentes/clientes)

74 4.4. Atividades, projetos e gestão

76 4.5. Relações das organizações com a Fundação Eugénio de Almeida

77 5. advErsidadEs, dEsafios E inovação soCial

87 6. ConClusão, oriEntaçõEs E ProPosta

91 REFERêNCIAS BIBlIOgRÁFICAS

95 anExo i

96 glOSSÁRIO DOS INDICADORES ESTATÍSTICOS

103 anExo ii

104 QUESTIONÁRIO – INQUÉRITO ÀS ORgANIZAçÕES DO TERCEIRO SETOR

115 FICHA TÉCNICA

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NOTA DE ABERTURAInovar é imaginar novos futuros possíveis.

(Diogo Vasconcelos)

A Inovação é hoje cada vez mais um tema em destaque na agenda política e mediática global, pelo seu potencial de impacto e transformações económicas e socias sustentáveis; um potencial de resto partilhado com o Empreendedorismo, ao qual este acrescenta o vigor de uma assertividade impulsionadora da construção do destino pessoal e coletivo.

Durante décadas, o foco da inovação foi o mundo empresarial, pelo que as questões económicas e as questões sociais estavam dissociadas. A ideia de que “enquanto a Economia produz riqueza, a Sociedade gasta” era uma espécie de verdade insofismável.

Geoff Mulgan, uma autoridade reconhecida nesta matéria, lembra que “muito do que agora tomamos como garantido na vida social começou como uma inovação radical. Há um século (…) a ideia de um serviço de saúde gratuito era vista como absurdamente utópica, o conceito de “jardim-de-infância” ainda era considerado revolucionário (…). No entanto, com o passar do tempo, estas e muitas outras inovações sociais passaram das margens para a primeira linha. Durante alguns períodos da história recente, a sociedade civil foi a principal impulsionadora da inovação social (…).” Na Europa do século XIX e do início do século XX, há casos em que “a sociedade civil foi pioneira no que respeita aos novos modelos mais influentes de cuidados infantis, habitação, desenvolvimento comunitário e assistência social.” [in O Processo de Inovação Social, revista Portefólio #5, 2010]

Em pleno século XXI, há casos em que setores como a saúde, os serviços sociais ou a educação têm vindo a crescer quer em valores percentuais de PIB quer na criação de emprego. Especialistas preveem que, a longo prazo, a inovação nos serviços sociais será tão importante quanto a inovação na indústria farmacêutica ou na aeronáutica, por exemplo.

No Guia para a Inovação Social, publicado em 2013, a Comissão Europeia considera como ‘inovação social’ qualquer medida inovadora com objetivos sociais explícitos (em oposição a objetivos meramente tecnológicos ou empresariais): “(…), novas respostas a necessidades sociais prementes (…) que não só são boas para a sociedade, mas que também aumentam a capacidade dos indivíduos para agir. Essas inovações dependem da criatividade dos cidadãos, das organizações da sociedade civil, das comunidades locais (…)” E esclarece: “A promoção da inovação, do empreendedorismo e da sociedade do conhecimento constitui a essência da Estratégia Europa 2020”. E, de facto, no quadro da Política de Coesão de 2014-2020, a inovação social foi expressamente integrada nos regulamentos dos Fundos Estruturais, oferecendo-se possibilidades adicionais aos Estados Membros e às regiões que nela invistam.

Este é o reconhecimento, ao mais alto nível, da necessidade que a Europa tem hoje de mobilizar a criatividade coletiva para melhorar a capacidade de inovação e responder aos desafios sociais da contemporaneidade, sejam eles o envelhecimento demográfico, o desemprego juvenil, a redução das emissões de carbono, ou outros tanto ou mais prementes.

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De entre os diversos agentes que intervêm neste processo destacam-se, pelo seu protagonismo, as organizações do terceiro setor, pilares da sociedade civil organizada, que encontram no empreendedorismo e na inovação de face social uma vocação natural e um desígnio institucional.

É o caso da Fundação Eugénio de Almeida, cuja missão está orientada para o desenvolvimento integrado da Região de Évora numa perspetiva de valorização do capital humano, da sustentabilidade e da promoção da coesão social.

Ao longo do seu meio século de existência, a Fundação tem procurado ser uma instituição inovadora e empreendedora de referência.

Começou pela implementação do seu projeto vitivinícola na década de 80 do século passado, que constituiu um investimento inovador, pela sua escala, no quadro das atividades agrícolas tradicionais do Alentejo. O seu impacto faz-se sentir até hoje, não só na geração de emprego para muitas pessoas da Região, como na geração dos recursos que asseguram o cumprimento pleno da sua Missão.

De facto, a Fundação transforma o seu lucro económico em lucro social, redistribuindo-o pelas pessoas e pelas instituições da comunidade, quer sob a forma de apoios pecuniários diretos, quer de projetos de intervenção próprios, estruturados em programas e linhas de ação diversificados, de acordo com os seus fins de promoção do desenvolvimento social, cultural, educativo, e espiritual da Região.

Diogo Vasconcelos – um dos impulsionadores da Inovação Social em Portugal – dizia que não é preciso ser grande nem central para inovar, e que ninguém é demasiado pequeno ou periférico para encetar esse caminho.

Este é também o entendimento da Fundação Eugénio de Almeida. Num contexto de crise económica e social tão gravosa e generalizada como a que que se vive hoje, no país mais ocidental da Europa e num dos territórios mais deprimidos do espaço europeu como é o Alentejo, a Fundação está comprometida em fazer a diferença, em ser agente de mudança, promovendo e utilizando o Empreendedorismo e a Inovação como instrumentos de criação e maximização de valor social.

A Fundação tem-se juntado a outras instituições proactivas neste domínio, determinadas em transformar a sociedade e a serem, também elas, agentes de mudança e inventores de novas abordagens e de novas soluções sustentáveis e duradouras para uma miríade de necessidades sociais.

A constituição de parcerias locais, regionais e nacionais, o trabalho em rede, a partilha de recursos, e a reflexão e o debate em comum são ferramentas poderosas de uma dinâmica colaborativa que nos une a todos num mesmo desígnio.

Neste âmbito, a Fundação desenvolve há mais de uma década um programa integrado de iniciativas visando a qualificação e a inovação das organizações do terceiro setor.

Desde logo através de um plano anual de formação dirigido aos gestores e técnicos dessas organizações, com o objetivo de gerar ou reforçar competências-chave determinantes para o desempenho das suas funções, na perspetiva da inovação e do empreendedorismo social.

Para além de cursos e ciclos de workshops que abordam uma diversidade de temas – da Criatividade à Estratégia, da Gestão dos Recursos Humanos ao Plano de Negócio e à Metodologia SROI – Social Return on Investment, entre muitos outros – realizam-se com frequência encontros de reflexão, debate, e troca de experiências e boas-práticas institucionais. Pretende-se que estes encontros ofereçam às organizações novas oportunidades de aprendizagem e de motivação para abraçarem projetos inovadores.

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Por outro lado, a Fundação tem investido na produção de conhecimento em torno da Inovação Social, como testemunha a presente publicação.

Trata-se de um estudo pioneiro, porquanto é a primeira vez que a Inovação Social é objeto de investigação e análise no contexto das organizações do terceiro setor no Distrito de Évora. É também a primeira vez que, a partir da identificação dos principais desafios que estas organizações enfrentam neste território concreto – e.g. ligados ao envelhecimento da população, ao seu baixo nível de qualificação formal e profissional, ou à deficiência – se identificam igualmente as principais potencialidades e oportunidades detetadas ao longo do estudo.

Acresce ainda como novidade a inclusão de uma proposta concreta que o Professor Frank Moulaert começa por destacar no Prefácio: “a criação de um fórum para o intercâmbio e a cooperação entre as organizações do terceiro setor em Évora e na sua envolvente.”

O estudo foi promovido pela Fundação Eugénio de Almeida no âmbito do Projeto Alentejo Empreende, uma iniciativa desenvolvida em parceria com a ADRAL – Agência de Desenvolvimento Regional do Alentejo, S.A., e cofinanciada pelo INAlENTEJO.

Para a sua realização, a Fundação contou com a colaboração do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa (IGOT-UL).

A Fundação agradece a toda equipa de investigadores e consultores – coordenada pela Professora Isabel André – , o empenho, a competência e o alto profissionalismo que chancelam a qualidade académica e científica deste trabalho.

As conclusões e recomendações desta investigação apontam, entre outros, para a constituição de uma Plataforma para a Coesão e para a Inovação Social em Évora.

Do ponto de vista da estratégia institucional, a Plataforma poderá reforçar o pleno cumprimento da Missão da Fundação na área social – ao responder às necessidades concretas da comunidade e ao promover a coesão social –, permitindo ainda conferir maior alcance e impacto ao seu programa de ação neste domínio.

Um projeto desta natureza poderá criar e sedimentar uma rede colaborativa para a coesão social, económica, cultural e territorial e também para a inovação social, através do apoio à gestão e capacitação das organizações do terceiro setor do Distrito, de estímulos à reflexão crítica, da multiplicação do capital relacional e do incentivo à criatividade social.

No estudo Inovação Social no terceiro setor. O Distrito de Évora pode ler-se que “existe no discurso das entidades uma energia surpreendente para o período de crise que o País atravessa. Não se deteta desânimo nem desistência, mas antes um desejo de mudança (nos valores e nas práticas) e de inovação”.

Esta combinação de coragem inabalável com persistência pragmática representa o otimismo sem derrota de quem não cruza os braços e procura soluções capazes de alavancar a esperança em tempos de desesperança.

A Fundação Eugénio de Almeida quer estar ao lado destes que se arrojam no caminho da “destruição criadora” de que falava Schumpeter, assumindo o desígnio comum de transformar o mundo para criar o futuro.

Eduardo Pereira da SilvaPresidente do Conselho de Administração da Fundação Eugénio de Almeida

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PREfáCIO1

“Inovação Social no Terceiro Setor. O Distrito de Évora” é um estudo pioneiro, que destaca o papel das organizações da sociedade civil na promoção dos valores da solidariedade, reciprocidade e colaboração, com o objetivo de obter maior equidade para todos. De acordo com a lógica expressa neste livro, esta equidade não deve apenas ser conseguida no âmbito económico, mas também nas esferas ambiental, social e política, assegurando a igualdade de oportunidades em termos de acesso, expressão e co-decisão, num quadro que conjuga todos os domínios antes mencionados. Com este propósito, o estudo sustenta a criação de um Fórum para o intercâmbio e a cooperação entre as organizações do terceiro setor em Évora e na sua envolvente. Fá-lo a partir da identificação de elementos partilhados pelas várias organizações e sugerindo novos caminhos para a ação conjunta, para além de indicar funções de apoio e facilitação que podem ser desempenhadas pela Fundação Eugénio de Almeida (FEA) no quadro da construção e sustentação desse Fórum.

Ao chamar a atenção, neste prefácio, para a necessidade de identificar elementos partilhados entre as organizações que atuam em diversos setores, estamos a enfatizar a segunda dimensão da nossa definição de Inovação Social, isto é, a inovação nas relações sociais. É notável verificar como a maioria dos textos introdutórios sobre inovação social que foram produzidos pela Young Foundation, BEPA e outras organizações, apesar de mencionarem a inovação nas relações sociais como um elemento fundamental, acabam por destacar casos paradigmáticos em que as mudanças nas relações sociais recebem menor atenção. No entanto, com base na nossa experiência, aquilo em que mais acreditamos corresponde a: como ser mais respeitoso para com o outro, dentro e entre organizações; como melhorar a comunicação, dando voz a todos os membros e grupos, mesmo que isso requeira a construção colectiva de uma linguagem comum; e, também, aprender com outras organizações acerca das formas de valorizar a diversidade ao mesmo tempo que se procura um consenso sobre decisões estratégicas. Ao sublinhar a dimensão relacional da inovação social está-se, de algum modo, a reinventar a comunidade, ligando os padrões tradicionais de vida em comunidade a um conjunto de padrões novos. Embora estes últimos – e.g. os que decorrem da era da informação e dos novos órgãos de comunicação social –, promovam uma nova abertura, também têm sacrificado a felicidade da comunidade à lógica da eficiência colectiva. E enquanto os velhos padrões da comunidade têm muito mais respeito pelo tempo humano, ou seja, o tempo para ouvir e compartilhar prazer, também representam uma composição frágil de “fechamentos”: fechamentos que privilegiam um grupo em detrimento de outro, que dão prioridade às relações de parentesco em vez das relações baseadas na justiça e no respeito pela alteridade praticadas noutras comunidades – quem não se lembra dos diversos filmes e novelas icónicos sobre guerras de aldeia e crónicas familiares idiossincráticas? As relações tradicionais da comunidade são, em termos gerais, temporalmente mais robustas, ainda que menos resilientes às mudanças estruturais que têm lugar no “mundo grande e mau que fica lá fora”.

Identificar as características de antigos e novos tipos de relações sociais, desvendar a sua geografia e história, bem como o seu potencial no futuro, são desafios importantes e complexos que a FEA se dispôs a assumir através da construção do supracitado Fórum para as organizações sociais. Ao explorar a paisagem das organizações da sociedade civil em Évora e na sua envolvente, as formas visíveis e invisíveis de colaboração e o potencial para o desenvolvimento de futuras colaborações, a FEA forneceu a base material e institucional para a construção de um Fórum em rede. Na preparação desta iniciativa, o presente estudo analisou os pontos fortes e as ameaças para as organizações no distrito de Évora, cujas atividades se centram nos serviços sociais e de saúde e, também, nas atividades culturais e educativas. A crise está a afetar a maior parte destas organizações, mas também as tem

1 Traduzido por Jorge Malheiros.

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conduzido a uma cooperação acrescida e à partilha de recursos. Além disso, a maioria delas envolveu-se em novas atividades com um carácter cultural e educacional significativo, acabando por fertilizar um terreno onde podem desenvolver-se processos socialmente inovadores associados a lógicas em rede.

Até onde conseguirá chegar o novo Fórum, para além de sistematizar as formas existentes de cooperação? Entre as organizações que foram inquiridas no estudo preparatório, mais de dois terços são a favor da criação de uma rede que permita solidificar relações de cooperação orientadas para a partilha de conhecimentos, experiências e recursos. As ambições do Fórum podem ir mais longe, materializando o profundo desejo da maioria das organizações para melhorar a qualidade social da sua cooperação, dando mais peso à solidariedade, ao interesse colectivo e à justiça social. Na verdade, o Fórum pode tornar-se uma experiência compartilhada de práticas de governança socialmente inovadoras que, num momento de desenvolvimento posterior, pode constituir-se como uma fonte de inspiração para novas instituições de governança.

FRANK MOUlAERT

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INTRODUçãOO presente trabalho resulta de um convite dirigido pela Fundação Eugénio de Almeida (FEA) ao Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa (IGOT-UL) para desenvolver um estudo sobre a inovação social nas organizações do terceiro setor no distrito de Évora.

O estudo enquadra-se na perspetiva da investigação-ação, ou seja na pesquisa orientada quer para a co-produção de novos conhecimentos (informação, interpretação, reflexão e debate) quer para a intervenção social, nomeadamente através da promoção de iniciativas mais inovadoras, melhor adequadas e mais pertinentes, tendo em conta o contexto sócio-territorial em que se desenvolvem.

O estudo prossegue os seguintes objetivos:

a) Caraterização das entidades do terceiro setor em atividade no distrito.

b) Análise da produção de inovação social nas organizações do terceiro setor do distrito de Évora. Isto significa avaliar a capacidade potencial e efetiva das organizações para conceberem novas respostas e desenvolverem novos conceitos e processos que correspondam às efetivas necessidades dos públicos alvo e estimulem as dinâmicas das comunidades locais no sentido de as tornar mais autónomas, interativas e inclusivas.

c) Elaboração de propostas e recomendações para a Fundação Eugénio de Almeida que permitam incentivar e estimular a inovação social nos diversos domínios em que esta se pode desenvolver e nos vários tipos de organizações do terceiro setor em Évora.

O cumprimento destes objetivos implicam uma discussão conceptual prévia das diversas dimensões da inovação social e das características fundamentais do terceiro setor que é desenvolvida no primeiro capítulo.

O estudo está organizado em 6 capítulos:

1. Apresentação e discussão do conceito de inovação social e do significado e âmbito do terceiro setor.

2. Políticas e programas nacionais e europeus de estimulo à inovação social e de apoio ao terceiro setor, incluindo um benchmarking baseado em projetos “inspiradores” no campo da inovação social.

3. Caraterização concelhia e por freguesia das dinâmicas demográficas e sociais no distrito de Évora e dos principais problemas sociais na atualidade.

4. Caraterização do terceiro setor no distrito de Évora: levantamento das organizações, atores, atividades, gestão e promoção de inovação.

5. Identificação das principais adversidades com que se debatem as organizações e das respostas inovadoras que encontram.

6. Conclusões e orientações, tendo em vista o desenvolvimento de iniciativas a promover pela FEA.

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No plano metodológico, o estudo baseou-se em instrumentos de recolha e análise de informação muito diversos: análise estatística e cartográfica de dados secundários (INE); inquérito online às organizações do terceiro setor; realização de 2 sessões de focus group com a participação ativa de 15 organizações; análise de conteúdo de projetos descritos em documentos da Comissão Europeia, identificados como boas práticas, bem como do discurso dos representantes das organizações.

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1. ENqUADRAmENTO – CONCEITOs E PERsPETIvAs

O quadro teórico deste estudo não é um debate académico, mas sim a identificação dos conceitos e dimensões de análise que permitem dar coerência ao percurso seguido ao longo dos capítulos, apreciar políticas, analisar programas e projetos, organizar instrumentos de recolha de informação e interpretar resultados.

Assim sendo, o primeiro grande desafio é a clarificação da relação entre inovação e terceiro setor. Muitos estudos têm realçado que as iniciativas socialmente inovadoras provêm sobretudo das entidades do terceiro setor: movimentos cívicos, organizações e instituições. Esta evidência não é, contudo, suficiente para compreender a relação. Quais são as características do terceiro setor que lhe dão vantagem na promoção de inovação social? O terceiro setor concebe a inovação social ou, sobretudo, adota e transforma inovações que vêm de outros setores? Que fatores estimulam a capacidade socialmente inovadora do terceiro setor? Como se transfere a inovação social de uma entidade para outras ou para o exterior do terceiro setor: estado ou mercado?

1.1. INOvAçãO sOCIAlAntes de problematizar estas questões, importa delimitar os contornos da inovação social. O termo tem tido uma utilização crescente na última década e, por isso, assume significados muito distintos.

Ao googlar “social innovation”, surgem 349 milhões de resultados e, em português, 11 milhões e meio. O primeiro centro de pesquisa sobre inovação social surgiu em 1985 em londres (Institute for Social Inventions), o segundo foi criado em Montreal em 1986 (CRISES – Centre de Recherches sur les Innovations Sociales) e o terceiro, fundado em Viena de Austria, data de 1990 (ZSI – Foundation of the Zentrum fur Soziale Innovation). Nos últimos 12 anos, multiplicam-se as instituições que promovem estudos neste campo: entre 2000 e 2011 surgem 15 novas entidades.

Estes números mostram claramente a centralidade que o tema tem vindo a assumir. Ao mesmo tempo, observa-se uma grande diversidade de concepções sobre inovação social que vão desde procedimentos simples, como a agilização de determinados serviços, até práticas coletivas que seguem uma via revolucionária frequentemente associadas a protestos com grande impacto.

O entendimento adoptado neste estudo resume e integra as perspetivas avançadas em estudos de referência sobre este tema (Moulaert et al. 2009 e 2013, Klein e Harrisson 2007, Tremblay et al. 2005, Bassand 1986):

Inovação social é uma resposta original a necessidades não satisfeitas (ou nem sequer identificadas como necessidades), que implica uma transformação das relações sociais no sentido da igualdade de oportunidades, da justiça social e da autonomia das pessoas, promovendo assim a inclusão e a coesão social. A inovação social surge normalmente na sequência de adversidades ou no âmbito de novas oportunidades. Em ambos os casos, é uma resposta coletiva que respeita o interesse comum.

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Esta definição de inovação social identifica não só o lado mais consensual dos processos de inovação – uma resposta nova para necessidades não satisfeitas, mas também uma outra vertente, mais controversa, que se liga à transformação das relações sociais e, em última análise, à reconfiguração das redes de poder. É esta dinâmica que faz associar frequentemente à inovação social a ideia de transgressão ou, pelo menos, de transformação significativa na medida em que muitas vezes põe em causa a ordem estabelecida. “L’innovation affronte l’institué, c’est-à dire qu’elle défait la tradition, elle dépasse la routine et elle défie les contraintes” (Comeau, 2004 : 37). Uma questão interessante a este propósito é, a que escala a inovação social ameaça a ordem estabelecida. Pensamos que em raros casos abala a ordem nacional ou internacional e, na maioria dos casos, transforma apenas o micro- -cosmos local. Isto pode justificar o interesse de realizar um upscaling da inovação em causa o que acontece não só através da instituição da prática ou do conceito mas sobretudo através do networking.

A Comissão Europeia salienta um aspeto relevante, realçando que se trata de: “innovations that are both social in their ends and in their means” (Murray, Calulier-Grice e Mulgan, 2010). Na realidade, o conceito de inovação social deve abarcar as práticas sociais, nomeadamente associadas à concepção de novos produtos e serviços, bem como aos processos e modos de organização dos coletivos e das organizações e também às regras, normas e valores que conduzem as práticas.

Independentemente do tipo de inovação social, o processo tem um ciclo de vida que se inicia com uma ideia criativa e acaba com o desaparecimento, com uma adoção pontual ou com a instituição e adoção plena. Por exemplo, o jardim infantil era uma inovação social no inicio do séc. XX e atualmente surge como uma prática institucionalizada. Já, por exemplo, determinadas coletivos locais inovadores ligados à cultura Hippie e inspirados nas ideias anarquistas mantêm-se pontualmente (caso da Freetown of Christiania em Copenhague) ou desapareceram completamente.

A inovação sobrevive se for acolhida e apropriada pela comunidade e também se apresentar possibilidades de institucionalização que garantam a sua sustentabilidade “A inovação social que perdura é aquela que é bem recebida quando os atores conseguem apropriar-se da ideia e dar um significado ao projeto com base no conhecimento que possuem nas organizações e instituições existentes. A inovação social requer uma redistribuição do poder e dos recursos dentro da organização, o que constitui um desafio permanente à legitimidade das formas de cooperação existentes entre os atores sociais.” (Harrisson 2008: 5)

É também particularmente importante compreender a temporalidade e a espacialidade das inovações sociais o que implica um conhecimento profundo do contexto em causa. As condições contextuais podem favorecer, travar ou mesmo impedir a inovação social, nomeadamente por via dos valores e práticas culturais, dos níveis de tolerância, das competências e recursos disponíveis, da acessibilidade geográfica, etc..

1.2. Os DEBATEs sOBRE A INOvAçãO sOCIAl – DIfERENTEs ENfOqUEs

Os primeiros projetos de investigação científica apoiados pela Comissão Europeia focaram temas específicos como os serviços públicos ou a educação. Uma das pesquisas pioneiras com uma perspetiva integrada foi desenvolvida no âmbito do projeto SINGOCOM (2003, coordenado por Frank Moulaert) focando especialmente a inovação social numa ótica urbana e interdisciplinar, através da análise de casos concretos situados em várias cidades europeias.

Coordenado pelo mesmo investigador, o projeto Katarsis continua essa pesquisa a partir de 2007 defendendo que a inovação social é um processo de transformação das relações sociais no sentido do reforço da solidariedade, da cooperação e da facilitação da comunicação.

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Esta pesquisa lançou pistas relevantes em diferentes domínios (Katarsis, Tackling Social Exclusion through Social Innovation, European Policy Brief, CE, Outubro 2009), designadamente:

· O sucesso da inovação social está muito dependente do contexto histórico e geográfico o que faz com que as boas práticas não sejam necessariamente transferíveis.

· A inovação social promove a criação de emprego, sobretudo no campo da economia social que apresenta um potencial importante para dar resposta a problemas sociais aos quais quer o estado quer o mercado não dão resposta adequada.

· A promoção da inovação social no âmbito do emprego depende da capacidade das políticas públicas para incentivarem os atores individuais e coletivos para constituirem redes que facilitem o acesso aos recursos necessarios e promovam a igualdade de oportunidades.

· No domínio da educação, a inovação social diz respeito à integração social, à reflexão sobre a diversidade, bem como à identificação das necessidades sociais do quotidiano e especialmente à conceção de novos modos de aprendizagem.

· No campo da habitação, a inovação social é sobretudo promovida através de cooperativas e outras iniciativas de coletivos locais.

· No que diz respeito à saúde, a inovação social surge nas redes que promovem o comércio e o consumo da produção alimentar local, assim como nas redes que produzem soluções inovadoras para os problemas do tráfego automóvel e para a utilização dos espaços públicos.

· A inovação social está intimamente associada à criatividade (estratégias sociais criativas), relevando-se a necessidade de encarar as artes e a cultura como elementos cruciais das iniciativas socialmente inovadoras.

Em 2011, o relatório Empowering people, driving change: Social innovation in the European Union, Bureau of European Policy Advisers (“BEPA Report” 2011: 33) indica, que as inovações sociais correspondem a novas ideias (produtos, serviços ou modelos) que simultaneamente atendem a necessidades sociais (de modo mais eficaz que as alternativas existentes) e criam novas relações sociais ou novas colaborações sociais. Assim, estas inovações não só são benéficas para a sociedade mas também promovem a melhoria da sua capacidade de ação.

O referido relatório aponta, por um lado, que a “inovação” se refere à capacidade de criar e implementar novas ideias que incorporam valor. Por outro lado, o termo “social” diz respeito ao tipo de valor incorporado, onde as questões da qualidade de vida, solidariedade e bem-estar são valorizadas em detrimento do lucro. Atendendo à definição adoptada neste documento, são sublinhados quer o processo, quer os resultados enquanto requisitos necessários para a existência de inovação social. No que respeita mais concretamente ao processo, são evidenciadas as interações sociais. Quanto aos resultados, evidencia-se a produção de benefícios sociais.

Relativamente à dimensão “social”, o BEPA Report (2011), propõe três abordagens diferentes, centradas nos seguintes aspetos:

· Necessidade social, as inovações sociais dirigem-se aos grupos mais vulneráveis.

· Desafio social, as inovações sociais dirigem-se à sociedade no seu todo e respondem a domínios em que a fronteira entre o social e o económico se esbate.

· Mudanças sistémicas, as inovações sociais contribuem para a reconfiguração da sociedade no sentido de uma maior participação, onde o empowerment e a aprendizagem são fonte e produto de progresso e bem-estar.

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Em Maio de 2012, o documento de reflexão teórica do projeto europeu TEPSIE, segue a linha definida pela Comissão e vem operacionalizar algumas das perspetivas então definidas para a inovação social. A definição de trabalho adoptada pelo grupo de investigadores da Young Foundation do Danish Technology Institute e outros parceiros TEPSIE, refere que “inovações sociais são novas soluções (produtos, serviços, modelos, mercados, processos, etc.) que simultaneamente respondem a necessidades sociais (de modo mais efetivo do que as soluções existentes) e conduzem à emergência de novas capacidades ou melhoram as capacidades e as relações existentes, contribuindo para a eficácia no uso de bens e recursos. Por outras palavras, as inovações sociais são benéficas para a sociedade e melhoram a sua capacidade de agir” (The Young Foundation/TEPSIE 2012: 18). Como se vê, esta posição é muito próxima da do BEPA Report antes referido, enfatizando contudo a eficácia e a eficiência associadas aos processos de inovação social.

A equipa do TEPSIE elegeu 5 elementos centrais que devem estar presentes em toda a inovação social e 8 das suas características correntes. Embora se reconheça que as inovações sociais podem não conter algumas destas características, este estudo formula a hipótese de que pelo menos uma destas características deve estar presente na inovação social. Estes elementos são apresentados de forma sucinta, quer na representação de conjunto (Figura 1), quer nos Quadros I e II.

Este projeto define também uma tipologia de inovações sociais, identificando 7 tipos: novos produtos, novos serviços, novos processos, novos mercados, novas plataformas, novas formas organizativas e novos modelos de negócio.

FIgURA 1 – ElEMENTOS CENTRAIS E CARACTERÍSTICAS COMUNS DA INOVAçãO SOCIAl

ELEMENTOS CENTRAIS DA INOVAÇÃO SOCIAL

CARACTERÍSTICAS COMUNS DA INOVAÇÃO SOCIAL

NOVAS RELAÇÕES

ABERTA E COLABORATIVA

COMUNIDADE

MELHOR UTILIZAÇÃO DOS ATIVOS E DOS RECURSOS

PROSSUMO E CO-PRODUÇÃOMUTUALISMO

DESENVOLVIMENTO DE CAPACIDADES

E ATIVOS

INOVAÇÃO SOCIAL

TRANSETORIAL

SATISFAZ UMANECESSIDADE

SOCIAL

NOVIDADE

REFORÇAR A CAPACIDADE

DE ATUAÇÃO DA SOCIEDADE

DA IDEIA À EXECUÇÃO

EFICAZ

Nota: Prossumo – tradução da palavra em inglês “prosumption” que é um acrónimo formado pela junção das palavras inglesas “producer” e “consumer” que significa o esbatimento da fronteira entre produtores e consumidores.

Fonte: The Young Foundation (TEPSIE) 2012: 18.

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QUADRO I – ElEMENTOS CENTRAIS DA INOVAçãO SOCIAl

ElEMENTOS CENTRAIS DESCRIçãO

Novidade As inovações sociais são novas no campo, setor, região, mercado ou utilizador, ou são aplicadas de uma nova forma.

Das ideias à implementação Há uma distinção entre invenção (desenvolvimento de ideias) e inovação (implementação e aplicação de ideias).

Atende a necessidades sociais As inovações sociais são explicitamente desenhadas para atender a necessidades sociais reconhecidas.

Eficácia As inovações sociais são mais eficazes do que as soluções existentes – criam uma melhoria mensurável em termos de resultados.

Melhoria da capacidade de ação da sociedade Empowerment dos beneficiários, criando novos papéis e relações, desenvolvendo bens e capacidades e/ou dando melhor uso a bens e recursos existentes.

Fonte: TEPSIE 2012: 20-21.

QUADRO II – CARACTERÍSTICAS HABITUAIS DA INOVAçãO SOCIAl

CARACTERÍSTICAS COMUNS DESCRIçãO

Intersetorial Ocorre no interface entre setores e envolve atores provenientes de diferentes setores.

Novas relações sociais e novas capacidades (capabilities)

As inovações sociais desenvolvem-se com e pelos utilizadores, não sendo apenas fornecidas para estes. Podem ser identificadas pelo tipo de relações que criam com e entre os seus beneficiários.

Abertas, colaborativas e experimentais Produzidas pelas massas – um grande número de pessoas trabalha de modo independente em projetos colectivos sem recorrer às estruturas e mecanismos normais de mercado.

Prossumo e co-produção Esbatimento da fronteira entre produtores e consumidores.

Organizações de base e bottom-up Sistemas nos quais a inovação e as iniciativas são dispersas, periféricas mas ligadas em redes.

Mutualismo Noção de que o bem-estar individual e coletivo é obtido apenas através da mútua dependência.

Melhor uso de bens e recursos Reconhecimento, exploração e coordenação de bens sociais latentes.

Desenvolvimento de capacidades (capabilities) e bens Abordagem participativa que possibilita aos beneficiários responder às necessidades a longo prazo.

Fonte: TEPSIE 2012: 23-24.

Com a centralidade obtida pela inovação social na União Europeia (UE), em parte devida à atual crise, o debate alarga-se cada vez mais. “In the European Union, social innovation is a central element of the Europe 2020 10-year strategy for smart, sustainable and inclusive growth. This strategy’s goal is both to address shortcomings of the European growth model, painfully exposed by the recent crises” (EC 2013: 10).

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No relatório Social innovation research in the European Union. Approaches, findings and future directions, EC (2013) são salientadas 3 questões essenciais que devem estar presentes na pesquisas sobre inovação social:

Porquê? – (i) novas respostas para os antigos e os novos problemas sociais associados à atual crise, (ii) desafios colocados a grupos particularmente vulneráveis.

Como? – iniciativas da sociedade civil.

O quê? – inovações na governança e organizações económicas alternativas.

Apresenta-se a seguir a lista de projetos (e respetivo site) sobre inovação social apoiados pela Comissão Europeia (CE) – DG Research desde 2000 (EC, 2013 - anexo).

FP7 PROJECTS · CITISPYCE: Combating inequalities through innovative social practices of and for young people in cities across Europehttp://www.aston.ac.uk/citispyce

· COCOPS: Coordinating for cohesion in the public setor of the future http://www.cocops.eu

· CSEYHP: Combating social exclusion among young homeless populations http://www.movisie.nl/homelessyouth

· INNOSERV: Social platform on innovative social services http://inno-serv.eu

· LIPSE: Learning from innovation in public setor environments http://www.lipse.org

· SELUSI: Social entrepreneurs as lead users for service innovation http://www.selusi.eu

· SERVPPIN: Public–private services innovation http://www.servppin.com

· SOCIAL POLIS: Social platform on cities and social cohesion http://www.socialpolis.eu

· SPREAD: Social platform on sustainable lifestyles 2050 http://www.sustainable-lifestyles.eu

· TEPSIE: The theoretical, empirical and policy foundations for building social innovation in Europe http://www.tepsie.eu

· WILCO: Welfare innovations at the local level http://www.wilcoproject.eu

FP6 PROJECTS · INCLUD-ED: Strategies for inclusion and social cohesion in Europe from education http://www.ub.es/includ-ed

· KATARSIS: Growing inequality and social innovation: alternative knowledge and practice in overcoming social exclusion in Europehttp://katarsis.ncl.ac.uk

· LLL2010: Towards a lifelong learning society in Europe: the contribution of education systemhttp://lll2010.tlu.ee

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FP5 PROJECTS · SINGOCOM: Social innovation, governance and community building http://users.skynet.be/frank.moulaert/singocom

· CONSCISE: Contribution of social capital in the social economy to local economic development in western Europehttp://www.malcolmread.co.uk/conscise

· PERSE: Socioeconomic performance of social enterprises in the field of work integration http://www.emes.net/index.php?id=87

É interessante observar que as primeiras preocupações incidiam na economia social (com a excepção do SINGOCOM) que utilizou a expressão inovação social.

Na segunda etapa, o foco vai para a inclusão e desigualdade social e para a educação. Na fase mais recente, os temas diversificam-se, sobressaindo a preocupação com a inovação nos serviços públicos e o networking.

1.3. CUlTURA E ARTEs NA INOvAçãO sOCIAlEste subcapítulo traduz uma preocupação específica, mas central no presente estudo, que vai no sentido de identificar as principais “alavancas” da inovação social, em geral, e no âmbito da ação da FEA, em particular. Nesta ótica, julga-se crucial estabelecer a ponte entre dois dos campos de ação da FEA – o “social” e o “cultural-artístico”. Esta ligação tem-se revelado particularmente frutuosa em muitas experiências de inovação social e pode ser largamente desenvolvida nos projetos futuros do terceiro setor e da FEA, em especial.

A passagem das sociedades industriais para a pós-modernidade conferiu à cultura e às artes, em particular, uma posição bastante central na vida das pessoas e das comunidades, “o elemento criativo da nossa existência – expressões de quem somos, de onde vimos e para onde desejamos ir” (Jeannotte e Stanley 2000:136). A certeza associada às grandes visões do mundo, às ideologias que formataram a modernidade deu lugar, a partir dos anos 70 do século XX, à dúvida, à instabilidade, à “inconsistência dos sonhos”. Esta incerteza que marca atualmente o quotidiano do mundo ocidental associada também à progressiva dissolução das várias formas de transcendência, e sobretudo da crença religiosa, é, de algum modo, superada através das artes (Ruby 2002). Mesmo em situações especialmente adversas como a crise e a austeridade que atualmente se vive em vários países da UE, a arte emerge como modo priveligiado de expressar o descontentamento (p.e. através da street art) e também como inspiração ou instrumento de novas soluções sociais (p.e. Orquestra Geração).

De diferentes modos, as artes têm ajudado a construir representações do futuro ou mesmo antecipações do futuro. “Alguns artistas exprimem no seu trabalho sentimentos ou códigos que prevêem o futuro ou que indicam simbolicamente que o presente já não é viável” (Smiers 2005:9).

Por outro lado, as artes não dão só a possibilidade de antever o futuro, são também o elemento central da estetização do quotidiano (Smiers 2005, Ley 2003), cada vez mais intensa nas sociedades atuais. O corpo, a casa, o automóvel, o espaço público ou a cidade são, em larga medida, alvos privilegiados de intervenções guiadas mais pelos critérios da estética do que pela funcionalidade, pela utilidade ou pela eficácia (Ley 2003). A identidade, pessoal e colectiva, usa um grande número de referências estéticas. “Uma identidade cultural bem desenvolvida transmite a forte sensação de que expressões artísticas específicas nos tornam nas pessoas que queremos ser e, ao mesmo tempo, de que outras expressões perturbam as nossas vidas, não têm a ver com aquilo que somos ou nos fazem sentir menos confortáveis” (Smiers 2005:121).

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Tanto ao nível da produção como no campo do consumo, as artes democratizaram-se significativamente ao longo das últimas décadas. Por um lado, alarga-se bastante o conceito de arte, passando a incluir expressões como o design industrial, a publicidade, os produtos multimédia, mas também manifestações mais alternativas como a street art, o hip-hop ou a capoeira. Por outro lado, o ensino artístico desenvolveu-se muito nas últimas décadas, refletindo e possibilitando o florescimento de talentos e alargando essa possibilidade aos vários grupos sociais. A carreira artística deixa progressivamente de ser entendida como um “luxo”, um percurso destinado às elites ou àqueles que estavam dispostos a ser “marginais” e equipara-se a muitas outras escolhas profissionais. Em terceiro lugar, importa salientar o decisivo papel das telecomunicações e, mais especificamente, da Internet permitindo uma difusão incomparavelmente mais ampla da produção artística, que inclui cada vez mais o comércio (electrónico) de obras de arte.

Mas, a visibilidade e relevo que as artes passaram a ter na sociedade contemporânea associa-se certamente também à sua capacidade de comunicação. As diversas expressões artísticas permitem comunicar para além da linguagem comum.

Assim, as artes são, cada vez mais, um importante instrumento das dinâmicas sociais tanto para a afirmação da hegemonia (e.g. a destruição, pelos Talibãs em 2001, dos Budas Gigantes do Bamiyan Valley no Afeganistão) como enquanto expressão da resistência (e.g. a Guernica de Pablo Picasso ou a música de intervenção que tem combatido diferentes regimes de ditadura). As expressões simbólicas traduzem, por vezes com maior rigor, as tensões e os conflitos entre comunidades ou no seu interior. A cultura e as artes associam-se, por isso, com grande frequência à inovação social, processo em que se conjugam a comunicação, a atitude crítica, a participação cívica, a dialética entre o individual e o coletivo, a capacidade de regeneração dos lugares e ainda a dinamização económica e a criação de emprego (Moulaert, Demuynck e Nussbaumer 2004).

Mas, o setor cultural e artístico não tem sido apenas relevante no campo da inovação social, ele tem constituído também um trunfo importante no âmbito do desenvolvimento económico. Muitas cidades da Europa e da América do Norte têm assistido ao desaparecimento das atividades produtivas tradicionais e à dissolução dos valores e das práticas sociais que, em conjunto, configuravam o tecido socioeconómico. As ameaças associadas a essas transformações têm sido, em muitos casos, ultrapassadas por via de uma aposta forte na produção cultural e artística.

Estas atividades emergem atualmente em muitos lugares como o “golpe de mágica” capaz de transformar a degeneração em regeneração. David Ley (2003: 2542) sugere que “the redemptive eye of the artist could turn junk into art”, mas não deixa de acrescentar que “the calculating eye of others would turn art into commodity”. Muito tem sido escrito sobre cidades e comunidades criativas. A tríade – tecnologia, talento e tolerância – proposta por Richard Florida (2002, 2008) tem constituído uma fortíssima fonte de inspiração para tornar criativas as pessoas, as comunidades, as cidades, as empresas ou as nações (Healey 2004:89). Contudo, existem faces mais sombrias nos lugares criativos. Por detrás da capacidade redentiva da arte escondem-se, com frequência, poderosos interesses económicos (Ley, 2003) que se traduzem não só no forte crescimento das indústrias criativas mas também no intenso investimento imobiliário ligado à regeneração urbana. Estas dinâmicas conduzidas em nome da cultura e das artes têm frequentemente associados processos de exclusão social intensa (Moulaert, Demuynck e Nussbaumer 2004).

Não é inevitável, no entanto, que o caminho dos lugares criativos passe fatalmente pela exclusão social. A inovação social no campo da governança local pode associar a criatividade à inclusão e ao empowerment dos atores mais vulneráveis: uma governança criativa – “new policies”, “new projects”, “new practices” and “new people” (Healey 2004) – e, ao mesmo tempo uma governança para a criatividade.

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Patsy Healey (2004) chama a atenção para várias dimensões cruciais desse modelo de governança, como a abertura ao exterior, a cooperação e o networking, os discursos informativos e inventivos, o encorajamento da experimentação e, sobretudo, a enfâse na performance e não na “conformance”. A valorização do capital social das comunidades locais surge, neste quadro, como uma componente crucial. Uma governança socialmente criativa implica limiares de confiança, de cooperação e de reciprocidade elevados. Por outro lado, a conjugação entre a coesão interna da comunidade e a sua abertura ao exterior é essencial para incentivar a inovação.

Nesta perspetiva, a expressão artística surge, ao mesmo tempo, como um instrumento da governança criativa e como um resultado dessa governança. “As artes trazem uma forma poderosa de transcender as fronteiras culturais e demográficas que nos dividem e de encontrar ligações espirituais mais profundas com aqueles que são como nós. Utilizando a nossa linguagem, as artes criam capital social de ‘união’ e de ‘ligação’. […] As artes têm o potencial de promover esse capital social de união precisamente porque oferecem um espaço seguro para acolher diferenças políticas e ideológicas ou, pelo menos, para gerir essas diferenças sem conflitos” (Seminário Saguaro sobre a Participação Cívica na América, 2000:3).

A investigação realizada sobre a importância da cultura e das artes nas estratégias de desenvolvimento local e de inovação social tem mostrado que o papel dos outsiders é muito importante. Eles são portadores de novidade, porque transportam outras culturas, e, ao mesmo tempo, desafiam a comunidade autóctone porque geram a tensão associada à alteridade, ou seja, quebram a rotina, ou mesmo a autarcia das comunidades locais. Peter Hall (2000) chama, contudo, a atenção para o perigo de as comunidades locais ficarem deslumbradas e deixarem-se “absorver” pelos outsiders criativos.

A associação entre espaço público e arte pública tem sido uma das iniciativas que os agentes locais têm desenvolvido com maior sucesso no quadro das intervenções urbanas associadas ao desenvolvimento e inovação social. A maioria dos espaços públicos correspondia a modelos urbanos que desapareceram – o comércio e as atividades de lazer concentraram-se progressivamente em grandes superfícies na periferia das cidades e os espaços públicos tradicionais deixaram de ser referências de centralidade e tornaram-se frequentemente lugares decadentes e inseguros. Nos anos mais recentes, os esforços para inverter essa tendência e devolver os antigos espaços públicos às comunidades locais têm-se multiplicado, pretendendo-se, por essa via, contrariar a fragmentação social, incentivar novas relações de proximidade e reconstruir os laços de vizinhança, ou seja inverter os efeitos de dispersão da sociedade do consumo e do espetáculo (Ruby, 2002). É no quadro dessas iniciativas que a arte pública tem emergido como um instrumento crucial, associando à obra de arte um papel mediador importante. “A arte pública é também uma arte em público, instituindo os espaços públicos e a rua como potenciais momentos de extensão das relações aos outros, na obra de arte e através dela. [...] A obra cria um jogo de distâncias (entre os espaços dentro do espaço), de volumes (à frente/atrás) e obriga a reconstruir trajetórias (contornar, evitar ou atravessar). Este objeto torna-se num ponto fixo a partir do qual se definem posições, incluindo no tempo (antes não havia aqui nada, daqui em diante passa a haver alguma coisa). Assim, revela-me, a mim próprio, os hábitos presos nesse espaço” (Ruby, 2002).

Mais inovadoras ainda são as iniciativas que transformam o espaço da produção ou da expressão artística em espaço público. O enorme espaço da entrada do MACBA (Museu de Arte Contemporânea de Barcelona), no Bairro do Raval em Barcelona, é um bom exemplo deste tipo de intervenções.

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1.4. O TERCEIRO sETORO terceiro setor associado ao desenvolvimento da economia social tem origens muito antigas situadas nos movimentos de ajuda mútua, como as confrarias, os montepios, as corporações, desenvolvidos no contexto do Antigo Regime. Contudo, os seus fundamentos ideológicos encontram-se associados aos movimentos sociais da modernidade (séc. XIX e XX). Os seus valores centrais são a solidariedade e o interesse coletivo.

“É possível identificar, pelo menos, quatro matrizes (ou visões) principais na história do movimento social europeu, com início na segunda metade do século XIX: a) filantropia liberal-burguesa e reformismo; b) iniciativas caritativas promovidas pela Igreja; c) autoajuda e associativismo mutualista; d) movimentos de trabalhadores socialistas. Obviamente, não existe uma linha clara que separe estas trajetórias principais.”

[Martinelli et al (coord)], 2003

Kendal e Knapp (1995), de acordo com a tradição anglo-saxónica, definem a composição do terceiro setor com base em cinco critérios do setor associativo: formalidade, autonomia, independência do governo, finalidade não lucrativa e apelo ao voluntariado. Com uma perspetiva mais alargada do conteúdo do terceiro setor, Vaillancourt (1996) acaba por incluir as cooperativas de consumo e produção no terceiro setor por via da economia social, inspirando-se no papel importante que estas organizações têm na área dos serviços sociais no Québec mas também na Suécia e na Itália.

A perspetiva do terceiro setor associada à economia solidária, muito importante em França (Laville 2000), salienta dois aspetos muito relevantes: em primeiro lugar, as organizações do terceiro setor, enquanto micro espaços públicos, fomentam as relações sociais e o diálogo entre prestadores e utentes, necessários à emergência de serviços de proximidade por construção conjunta da oferta e da procura; em segundo lugar, uma vez criados os serviços de proximidade, estes consolidam-se pela “hibridização” dos diferentes tipos de recursos económicos presentes nas organizações do terceiro setor, idealmente distribuídos de forma equilibrada: voluntariado, parcerias/contratualização com o estado, venda de serviços no mercado.

O laço social (primário), a proximidade geográfica, o acesso ao espaço civil “público”, através do desenvolvimento da participação cívica, e a parceria com o estado configuram a especificidade das organizações do terceiro setor e naturalmente as suas atividades e projetos. O seu sucesso depende da presença de atores qualificados e bem colocados, quer ao nível da sociedade civil local, quer ao nível da gestão e da mediação política do projeto que a organização se propõe desenvolver.

Não descurando estes aspetos, parece-nos que uma originalidade importante das organizações do terceiro setor reside no modo como articulam as vertentes social e económica (e as diferentes economias: mercantil, não mercantil e não monetária), com o objetivo de fazer vingar um projeto (de desenvolvimento) que tende a ajustar, de modo constante, a oferta e a procura de serviços pessoais e sociais nas áreas da educação, do ambiente, da saúde e/ou do bem-estar.

A construção da confiança e a “hibridização” entre recursos económicos são dois aspetos que tornaram estes serviços acessíveis a categorias da população especialmente vulneráveis pela idade, sexo, emprego, rendimento ou etnia, contribuindo assim para o reforço da coesão social.

Ao contrário do que pode ficar subentendido nos parágrafos anteriores, o terceiro setor é heterogéneo, não só ao nível mundial, mas também no espaço europeu. O Quadro III sintetiza os principais traços dessa diversidade.

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QUADRO III – CARACTERÍSTICAS DO TERCEIRO SETOR NA EUROPA

MACRO REgIãO

gEOgRAFIAS IMPORTâNCIA DO TERCEIRO SETOR

DIMENSãO PRINCIPAIS ATIVIDADES

FINANCIAMENTOS

Espaço anglo-saxónico

Reino Unido (e também EUA e Austrália)

grande protagonismo da sociedade civil, sobretudo da atividade caritativa. O estado tem um papel secundário.

“Big Society”.

grande dimensão.

Relevância do voluntariado.

Economia social.

Serviços sociais.

Impostos e donativos.

Welfare state nórdico

Escandinávia Forte intervenção do estado em conjunto com organizações profissionais (sindicatos, cooperativas, etc.).

grande dimensão.

Relevância do voluntariado.

Funções sociais mas também cívicas (e.g. apoio jurídico), culturais e recreativas.

Quotas de associados e donativos.

Welfare state europeu

Maioria dos países da Europa Ocidental

Imbricação estado-terceiro setor, sobretudo ao nível local, herdada do Antigo Regime.

grande dimensão.

Trabalho profissional.

Serviços sociais, especialmente educação, saúde e apoio social.

Orçamentos dos estados.

Europa do Sul Grécia, Espanha e Portugal

Dominado pela Igreja Católica até aos anos 70.

Atualmente apresenta um forte ecletismo, mantendo uma presença importante da Igreja.

Dimensão média.

grande crescimento nos anos 90 (incentivos do Estado central e local).

Serviços sociais. Orçamentos dos estados e fundos comunitários.

Europa Oriental Países do ex- -bloco comunista

ligação aos movimentos sociais e políticos pós- -comunistas.

Pequena dimensão. grande expressão das funções desportivas e recreativas.

Donativos.

Fonte: adaptado de Salamon, Sokolowski e List (2003).

Abdel-Illah Hamdouch (2010) apresenta, no âmbito do projeto KATARSIS, uma abordagem às organizações do terceiro setor (NPOs) onde estas são analisadas como promotores chave da inovação social. A originalidade destas organizações face às instituições do setor público (GPOs) ou às provenientes do privado (FPOs), decorre de dois aspetos: por um lado, das suas características intrínsecas e, por outro, de determinantes de comportamento e de motivações que caracterizam os diversos participantes do terceiro setor.

A aplicação de um conjunto de critérios de eficiência que permitem comparar o terceiro setor com o público e com o privado é um exercício original e muito útil porque nos deixa compreender globalmente as vantagens comparativas de cada setor e o seu posicionamento relativo em diversos campos (Quadro IV).

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QUADRO IV – ClASSIFICAçãO SEgUNDO OS CRITÉRIOS DE EFICIêNCIA DE CAMPBEll E COMPARAçãO SEGUNDO A SUA RELATIVA IMPORTâNCIA NOS VáRIOS SETORES (EMPRESARIAL – FPOS, PUBLIC – GPOS E NãO lUCRATIVO – NPOS)

CATEgORIA CRITÉRIOS DE CAMPBEll FPOS gPOS NPOS

EFICIêNCIA Produtividade ++ - -

Eficiência (stricto sensu) ++ - -

lucro ++ - -

PERDAS Acidentes = - +

Absentismo + - =

Rotatividade + - =

Qualidade - - +

EFICÁCIA Crescimento + - -

Valor dos recursos humanos - - ++

Eficácia + - +

Avaliação externa + - +

Cumprimento de novos objetivos + - ++

REATIVIDADE Flexibilidade e adaptabilidade - - ++

Planeamento e definição de objetivos + ++ +

Reatividade + - -

Controle ambiental + - -

Estabilidade = ++ +

COORDENAçãO Capacidade relacional dos gestores = = +

gestão + - +

Informação e comunicação = - +

Controle + ++ -

“CLIMA” INTERNO Ética (cultura da organização e valores) - = ++

Coesão e conflitos + = +

Consensos nos objetivos - - +

Identificação com os objetivos = = +

Conformidade com as regras + ++ =

Satisfação dos trabalhadores - - +

Motivações = - +

Participação nas decisões - - ++

Formação profissional = = +

Legenda: = Neutro/variável; + Importante/muito relevante;- Negligenciável/secundário.Fonte: Hamdouch 2010: 42. O valor dos recursos humanos, o cumprimento de novos objetivos e vários itens associados ao “clima interno” das instituições (ética,

participação, identidade, motivações, formação) emergem como importantes mais valias do terceiro setor. Segundo Hamdouch (2010), estas vantagens são potenciais estímulos à inovação social.

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Assumindo que estas caracteristicas são cruciais para a afirmação do terceiro setor, nomeadamente enquanto promotor de inovação social, uma segunda análise proposta por Hamdouch (2010) esclarece melhor este assunto, procurando identificar a relação da instituição com os principais atores que nela participam, ao nível da sua substituição, do poder e da “lealdade” (Quadro V).

QUADRO V – TIPOlOgIA DE COMPORTAMENTOS NAS ORgANIZAçÕES DO TERCEIRO SETOR BASEADA NA TRILOGIA DE HIRSCHMANN’S “EXIT-VOICE-LOYALTY”

PARTICIPANTES SUBSTITUIçãO - EXIT PODER - VOICE LEALDADE - LOYALTY

Empreendedores/ fundadores

Raro. Saem por morte ou quando discordam do rumo seguido pela organização (novos gestores).

Têm poder e capacidade para definir a estratégia.

Muito elevada uma vez que estão na génese da organização.

gestores Podem resignar ou serem substituídos.

Podem negociar para mudar a estratégia de acordo com as suas opiniões.

Depende das suas motivações, incentivos e convicções.

Trabalhadores Podem resignar ou serem substituídos.

Têm poder negocial de acordo com a importância das suas competências na organização

Depende das suas motivações, incentivos e convicções. E também do modelo de gestão seguido.

Voluntários Saem quando discordam da política da organização.

O seu poder negocial depende da função que desempenham e da coesão do grupo.

Depende das suas motivações, incentivos e convicções.

Financiadores individuais O donativo pode ser cancelado por vários motivos pessoais e por discordância com a organização.

O seu poder negocial depende dos montantes doados.

Depende das suas motivações, convicções e também do seu rendimento e estatuto social.

Financiadores coletivos (empresas, fundações, etc.)

O donativo pode ser cancelado se o “retorno” fica aquém do esperado.

O seu poder negocial depende dos montantes doados.

Depende das suas motivações, convicções e também do seu rendimento e estratégias.

Financiadores públicos O apoio pode acabar se houver desacordo com a utilização dos fundos ou com os objetivos da organização.

As entidades públicas podem controlar o terceiro setor por via do quadro jurídico.

Depende das orientações políticas dos governos centrais e locais.

Beneficiários/utentes Abandonam quando estão insatisfeitos.

O seu poder negocial depende da coesão e organização do grupo.

Depende da qualidade dos serviços, dos preços e da dependência face aos serviços oferecidos.

Fonte: adaptado de Hamdouch 2010: 50.

Esta abordagem permite verificar que a “lealdade” assume uma importância crucial nas relações internas das organizações do terceiro setor, já que as convicções e as motivações partilhadas podem criar laços muito fortes. Isto traduz-se em níveis de confiança que facilitam a negociação, mas também a inovação social, na medida em que o risco da mudança é amortecido. Esta perspetiva não salienta, contudo, a transformação das relações de poder associadas aos processos de inovação social, assumindo assim um carácter conservador face à ordem estabelecida.

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No quadro seguinte (Quadro VI) é apresentado um balanço sintético dos aspetos positivos e negativos do terceiro setor.

QUADRO VI - VIRTUALIDADES E LIMITAçõES DO TERCEIRO SETOR

VIRTUAlIDADES lIMITAçÕES

RESPOSTA Abordagens pioneiras na resposta às necessidades sociais (através de campanhas, ações, advocacy e prestações de serviços).

Fraca visibilidade e divulgação das boas práticas.

Resposta a necessidades negligenciadas pelo estado e pelo mercado, particularmente em “serviços de proximidade” (p.e. educação, cuidados de saúde, serviços pessoais e sociais) /construção conjunta (prestadores e utentes) da oferta e da procura.

Emprego temporário; trabalho precário.

grande variedade de respostas. grande fragmentação associada à forte diversidade de interesses, valores e necessidades.

ORgANIZAçãO Estruturas flexíveis, de pequena dimensão (“estruturas leves”)/adaptáveis à mudança/dinâmicas de projeto.

Dificuldade de planeamento a longo prazo.

A formalização jurídica confere reconhecimento e legitimidade às organizações.

A maioria das organizações é de pequena dimensão e a ação fica limitada à sua escala.

Integram redes de cooperação e solidariedade mais ou menos estruturadas.

Falta de comunicação e de redes de trabalho entre organizações que se ocupam das mesmas questões.

RElAçãO Relação de proximidade facilita a criação e consolidação de laços sociais, responde a problemas locais, promove a inclusão social.

Demasiada dependência das lideranças individuais e das relações de poder ao nível local.

QUAlIFICAçãO Qualificação de atividades informais, nomeadamente as que vêm transferidas da esfera familiar (p.e. apoio a crianças, idosos e portadores de deficiência).

Emprego pouco qualificado.

ATORES Atores diversos: membros , stakeholders, técnicos, voluntários, beneméritos,…

Confusão de competências (em particular no que respeita à prestação voluntária) e fraca confiança entre os diversos atores.

RECURSOS Coexistência de diferentes tipos de recursos: mercantis, não mercantis e não monetários: alia as vantagens dos diversos modelos de organização económica e inibe as desvantagens de cada um deles.

Uso deficitário dos recursos disponíveis contribui para abordagens dispersas em detrimento de abordagens estratégicas.

Dependência de subsídios orientados para despesas fixas, o que impede o crescimento financeiro.

Financiamentos do estado traduzem reconhecimento de missão de interesse geral.

Financiadores destinam verbas para programas de resultados imediatos e negligenciam os custos operacionais e nucleares. Estes são indispensáveis à promoção da capacidade e da resiliência das organizações e à manutenção da sua identidade.

Fonte: adaptado de The Young Foundation/TEPSIE 2012, Hamdouch 2010 e Rêgo 2001 e 2003.

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1.5. A INOvAçãO sOCIAl NO TERCEIRO sETOR – UmA vIsãO DE sÍNTEsE

Depois de apresentados, nos pontos anteriores, os aspetos que nos parecem fundamentais para enquadrar a análise da inovação social nas organizações do terceiro setor no distrito de Évora, resta estabelecer as pontes entre condições, processos e resultados da inovação social, por um lado, e as características do terceiro setor, por outro. O esquema da Figura 2 sintetiza essas relações.

FIgURA 2 – INOVAçãO SOCIAl E TERCEIRO SETOR

Adversidades, Necessidades e Oportunidades

INOVAÇÃO SOCIAL

Resposta original a necessidades não satisfeitas

Transformação das relações sociais no sentido da igualdade de oportunidades, da justiça social e da autonomia das pessoas

Projeto coletivo definido pelointeresse comum

POLÍTICAS (europeias, nacionais e locais)

EstratégiasIncentivosMetodologiasRedes

TERCEIRO SETOR

Não lucrativoValores-âncora:

solidariedade reciprocidade justiça social interesse coletivo

Importância do voluntariado / capital social

Caráter híbrido: trabalho/emprego, atividades, modelos, governança

Autonomia/dependência face ao estado e às empresas/parcerias

IS nos meios e nos fins:Produtos/resultadosProcessosModos de organizaçãoRegras, normas e valores

Respostas específicas e adequadasProximidade social e geográficaMediação / Plataformas sociais

CONTEXTOSociogeográfico (estrutura demográfica, família, grupos sociais, isolamento, mobilidade, urbanidade/ruralidade)Político (papel do estado – local e central, do mercado, da sociedade e das comunidades locais)Cultural (capacidade de correr riscos, empreendedorismo, identidade, cooperação, ...)

ConhecimentoCapital social

Elaboração própria.

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2. POlÍTICAs DE INOvAçãO sOCIAl

Apesar de recente, o trajeto das politicas de inovação social mostra já dois rumos relativamente distintos.

Nos EUA, o forte impulso dado por Barack Obama a esta causa levou à criação de uma agência pública (White House’s Office of Social Innovation and Civic Participation, OSICP) e de um fundo próprio alimentado por recursos públicos e especialmente por via das instituições filantrópicas. Uma perspetiva análoga é seguida no Reino Unido, onde também foi criada uma agência governamental para estimular a inovação social, no quadro da “Big Society”, modelo que orienta o atual governo de David Cameron.

“A questão é bem clara: dia após dia, a comunidade desenvolve soluções para os desafios da América – o Governo não deve sobrepor-se a esses esforços, mas sim apoiar esses esforços.”

Presidente Barack Obama, 30 de junho de 2009

Nos países escandinavos, ao nível nacional, e na UE/CE a visão é diferente, como se verá a seguir, e muito associada a uma nova “versão” do welfare state (e.g. Social Development Center SUS, na Dinamarca, Forum for Social Innovation, na Suécia). A sociedade civil é chamada à ação mas a regulação e a intermediação cabe essencialmente ao estado.

2.1. A INOvAçãO sOCIAl NA POlÍTICA EUROPEIA Embora as políticas sociais tenham já uma história longa na UE, pelo menos desde a criação do Fundo Social Europeu (FSE) em 1957, seguiram durante décadas uma orientação virada para o funcionamento do mercado de trabalho e para a formação profissional.

Só na primeira década do séc. XXI é que as políticas sociais europeias adquiriram a multidimensionalidade que revelam atualmente, o que, de algum modo, significou uma autonomia face às políticas de emprego. Ainda assim, a UE tem sido um motor muito importante de inovação social – muito antes do conceito se consagrar (p.e. no domínio da igualdade de oportunidades e na implementação de ações positivas ou nas políticas de empowerment) – e tem contribuído decisivamente para o progresso dos estados membros neste campo.

Na realidade, tornou-se claro que o crescimento económico não era um motor suficientemente forte para garantir as respostas sociais necessárias em muitos domínios, especialmente nos campos da igualdade de género, da co-produção de conhecimento e de capital social, do envelhecimento, da deficiência ou da habitação. E é precisamente pela inadequação das respostas, especialmente em períodos de crise, pela crescente organização da sociedade civil, quer ao nível local quer à escala global, e ainda pelas oportunidades que os apoios públicos têm feito emergir, que o conceito de inovação social adquiriu grande centralidade nos últimos anos. Esta relevância está bem espelhada no Programa para a Mudança e Inovação Social (CE, 2014-2020). Contudo antes de chegarmos aos programas atuais, importa identificar e perceber os marcos principais deste trajeto.

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O primeiro aspeto a destacar diz respeito ao “lugar” da inovação social nas instituições europeias. Começando por se desenvolver no quadro político dos assuntos sociais acaba por se transferir para o âmbito da inovação e empreendedorismo e de entrar mesmo recentemente na política urbana regional. Esta mudança tem a ver com as orientações da Estratégia de Lisboa que conferem à inovação – em todas as suas vertentes, mas sobretudo orientada para o mercado e empreendedorismo – um papel central no desenvolvimento europeu. Esta mudança é importante porque não se trata apenas da organização administrativa. De facto, no âmbito da Direção Geral das Empresa e Indústria, a promoção da inovação social ganha um estatuto formalmente equivalente ao da inovação tecnológica, tornando-se mais abrangente e entrando em campos como a investigação científica, o ambiente, a criatividade, a educação, a saúde ou o setor financeiro. A integração destes diversos domínios acontece sob o chapéu do “desenvolvimento sustentável”.

Contudo, esta proximidade entre inovação social e inovação tecnológica também tem riscos. A segunda é de tal maneira forte no âmbito das políticas comunitárias que deixará, quase inevitavelmente, a inovação social na “sombra”. Por outro lado, a inovação social tende a perder o seu papel transformador das relações sociais e de poder.

O reconhecimento da importância política da inovação social surge claramente na Europa 2020, influenciando assim fortemente o período de programação 2014-2020.

A fim de garantir que todas as regiões participem e de evitar uma “clivagem em inovação”, a União da Inovação propõe uma melhor utilização dos Fundos Estruturais na investigação e inovação e em atividades-piloto sobre inovação nos setores social e público, integrando simultaneamente a inovação social nos programas de financiamento da UE28. (EC (2011), Europa 2020, Flagship “União da Inovação” Bruxelas, 2.12.2011 COM(2011) 849 final.

Isto coincide também com o grande desafio de encontrar respostas válidas para a presente crise. “In this context, the need to reconcile a view of development focused on innovation with the social dimension has created a fertile ground for the emergence of social innovation as an innovative policy domain.” (BEPA/EC 2011:64).

Depois de algumas experiências muito bem sucedidas – como a Iniciativa EQUAL, em 2008, a CE adotou a “Agenda Social Renovada” (2009) ancorada em 3 princípios fundamentais: oportunidade, acesso e solidariedade. A inovação social emergiu aqui explicitamente como um instrumento essencial das políticas sociais europeias, elegendo como primeiro objetivo prevenir e combater os riscos sociais e como metodologia o envolvimento ativo dos agentes e atores, na ótica da co-produção de respostas. Em termos políticos e ideológicos, isto pode ser encarado como uma alternativa neo-moderna ao welfare state. Ou seja, um modelo em que o estado mantém importantes funções reguladoras e mediadoras, estabelecendo uma geometria variável de cooperações e redes com os parceiros sociais (João Ferrão, 2012, Conferência “Public policies and socially creative geographies”, Give Cities a Chance, arts for socially creative geographies, Universidade de Lisboa).

Contudo, por razões várias (e.g a procura de consensos), a objetivos bastante ambiciosos não correspondem orientações e medidas suficientemente concretas. Em que domínios devem incidir então as políticas de inovação social? E a que problemas respondem?

Uma síntese das conclusões do projeto KATARSIS – Tackling Social Exclusion through Social Innovation (EC/FP6 – coord. geral de Frank Moulaert), bem como o “European Policy Brief” (October 2009, http://ec.europa.eu/research/social-sciences/pdf/policy-briefs-katarsis_en.pdf, acedido em 12 janeiro 2013), baseado nos resultados do projeto, permitem identificar bem o que está em causa (Quadro VII).

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QUADRO VII – DOMÍNIOS E TóPICOS A PRIVIlEgIAR NAS POlÍTICAS DE INOVAçãO SOCIAl

DOMÍNIOS TóPICOS (DINâMICAS DE EXCLUSãO | ESTRATÉGIAS SOCIALMENTE CRIATIVAS)

Mercado de trabalho, emprego e economia social

As dinâmicas de exclusão decorrem especialmente dos processos de restruturação económica, correspondentes ou não a situações de crise, e pelo recuo do estado. Mais concretamente associam-se ao desemprego, à desadequação das qualificações, à precariedade dos vínculos laborais e à discriminação cultural.Nas estratégias de inovação social, sobressai a importância dos setores socialmente criativos (nomeadamente na cultura e nas artes) como forma de combate à exclusão social. Para além de corresponderem a um reconhecimento dos “saberes-fazer”, permitem identificar novas necessidades sociais cuja resposta contribui para o bem estar e para a autonomia dos indivíduos.O sucesso das estratégias socialmente criativas neste domínio depende muito do contexto geográfico e do percurso histórico, em particular no que toca à cooperação e à solidariedade.Depende também da capacidade de se constituírem redes (papel mediador do estado), de garantir o acesso aos recursos (p.e. crédito, terra,... ) e de promover, ao mesmo tempo, a diversidade e a equidade de oportunidades.O terceiro setor pode ter um papel muito importante desde que não corresponda à desresponsabilização do estado central e local.

Educação e formação São identificados três tipos de exclusão a combater: (i) do acesso à educação, (ii) do processo educativo, (iii) dos resultados da educação.A inovação social neste campo pode facilitar o acesso, a integração social, a gestão da diversidade, o levantamento das necessidades, a ligação ao mercado de trabalho e o desenvolvimento de novas formas de aprendizagem mais ajustadas aos públicos-alvo.Estes focos podem seguir diferentes perspetivas: adaptação dos grupos excluídos ao rationale dominante (adoção); mixing de atividades do rationale dominante e de outras alternativas, eventualmente em conflito com as primeiras (compromisso); visibilidade e relevância de experiências e valores socialmente criativos (diversidade).Os casos com maior sucesso apresentam uma forte integração na comunidade local quer em termos de financiamento quer ao nível da decisão.

Habitação e relações de vizinhança

As dinâmicas de exclusão no campo da habitação incluem os sem-abrigo, os alojamentos superlotados, os alojamentos degradados ou com falta de equipamentos. A exclusão está sobretudo ligada à imigração e aos processos de gentrificação urbana, ou seja à polarização social dos territórios associada, por sua vez, à falta de transportes públicos, de equipamentos e serviços. Tudo isto está ancorado nas politicas nacionais e locais de habitação (favorecimento da compra de casa, privatização dos espaços públicos, etc.).Outra vertente da exclusão associa-se à insegurança, à criminalidade e à violência doméstica.A inovação social surge sobretudo nas organizações locais assentes na participação cívica. O terceiro setor tem um protagonismo muito relevante se apoiado pelas entidades públicas. Salientam-se as seguintes práticas: (i) constituição de coletivos locais para a melhoria das condições de habitação e do espaço público; (ii) combate à relocalização das populações mais vulneráveis; (iii) iniciativas culturais e artísticas para combater a perceção negativa e a estigmatização de determinados bairros ou lugares.

Saúde e ambiente As dinâmicas de exclusão dizem respeito ao gap entre os avanços da medicina e da farmacologia e as desigualdades sociais em termos de bem estar físico e psíquico. Isto deve-se sobretudo: (i) à incapacidade do estado gerir sistemas de saúde em que a parcela de população idosa cresceu muito e rapidamente; (ii) aos padrões de alimentação; (iii) à degradação do tecido urbano e das condições de habitação nos bairros mais pobres; (iv) à hegemonia do transporte motorizado.No campo específico do ambiente (muito ligado ao da saúde), a exclusão associa-se: (i) à produção alimentar; (ii) à poluição da água e da atmosfera; (iii) aos riscos naturais nalgumas urbanizações de fraca qualidade/baixo preço (inundações, incêndios, deslizamentos, etc.); (iv) à crescente privatização do espaço público.A inovação social passa pela organização e mobilização das comunidades locais, processos em que o terceiro setor tem um papel crucial. Mais especificamente pela criação de espaços comunitários multifuncionais, pela redução da dependência face ao transporte motorizado, pela constituição de redes alimentares locais (recursos locais), pela promoção da medicina preventiva, pela adoção de dietas alimentares mais saudável (especialmente na população infantil e jovem).

governança e democracia

As principais dinâmicas de exclusão associam-se à privatização dos domínios públicos, limitando o acesso aos bens públicos. Acresce o clientelismo e a corrupção, bem como a redução do protagonismo do estado e as novas formas de gestão pública (muito vulneráveis à influência das grandes empresas).A inovação social neste campo assenta na participação da sociedade civil e na auto-organização dos coletivos locais, na implementação de políticas locais integradas (não setoriais) e adequadas ao contexto.

Fonte: Conclusões do projeto KATARSIS – Tackling Social Exclusion through Social Innovation (EC/FP6 – coord. geral de Frank Moulaert) – http://katarsis.ncl.ac.uk/index.html (acedido em 08/02/2013)

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Para além da especificação dos tópicos a incluir nas políticas de inovação social da UE, outra dimensão muito importante é a identificação precisa dos agentes e atores a envolver e do papel que cabe a cada tipo de protagonistas. O Quadro VIII apresenta esta questão de forma simples e sintética.

QUADRO VIII - AGENTES E ATORES DA INOVAçãO SOCIAL

SETORES PAPÉIS NO âMBITO DA INOVAçãO SOCIAl

Terceiro setor Prestação de serviços de caráter público que correspondam a necessidades não satisfeitas

Sensibilização e networking

Mobilização de novos recursos e financiamentos

Setor público Informação

Plataformas de apoio à inovação social

Diversificação e personalização dos serviços

Envolvimento dos cidadãos nas decisões públicas

Prevenção das situações de risco social

Setor privado Empresas sociais

Responsabilidade social

Parcerias com o terceiro setor

Setor informal Redes de cuidados

Valorização do voluntariado

Novas formas de colaboração

Fonte: adaptado de The Young Foundation/TEPSIE (2012).

O terceiro aspeto a salientar, no sentido da efetiva concretização das políticas europeias de inovação social, é a necessidade de uma perspetiva integrada, que abarca 3 vertentes (Olivier Rouland2, 2012):

a) Ligação entre inovação social e prioridades sociais, ou seja, os processos de inovação social devem corresponder efetivamente às necessidades não satisfeitas bem como aos desafios de médio e longo prazo.

b) Integração da inovação social no “policy making”, quer em termos de cooperação e parcerias (multi stakeholders, governança multilevel, envolvimento dos cidadãos, incubadoras, etc.) quer no que respeita aos mecanismos de financiamento (incentivos fiscais, contratos públicos, títulos de crédito social, etc.).

c) Scale up e mainstream das soluções efetivas – experimentações no campo das políticas sociais, boas práticas e decisões políticas adequadas, monitorização e avaliação dos impactos da inovação social.

2 Olivier Rouland é Chefe da Unidade de Demografia, Migrações, Inovação Social e Sociedade Civil da Comissão Europeia.

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O documento recentemente organizado pela Comissão Europeia, Social innovation research in the European Union. Approaches, findings and future directions, EC (2013) aponta várias recomendações relevantes para a condução das políticas neste campo:

a) Encorajar a discussão dos projetos desenvolvidos por diversos tipos de agentes e com âmbitos geográficos distintos para promover atividades adicionais e associação de organizações.

b) Criar um fórum para debater quando e em que condições é que a inovação social é um input ou um resultado e também para permitir o cruzamento de informação de uma forma crítica.

c) Fomentar a ligação entre universidades/centros de investigação e os shareholders e endusers, envolvendo-os na co-produção do conhecimento sobre inovações sociais e na disseminação das práticas e dos conceitos.

d) Contar com o apoio das ciências sociais para se compreender os precedentes do processo de inovação e identificar se se trata efetivamente de algo novo ou de uma adequação, reutilização de algo que já existia.

2.2. Os PROgRAmAs EUROPEUs DE INCENTIvO à INOvAçãO sOCIAl

Embora a ideia de inovação social esteja presente em programas europeus desde os anos 90 (e.g. LEADER, URBAN, INTERREG), é bastante consensual que a afirmação do conceito e o reconhecimento da sua importância é um fruto da Iniciativa Comunitária EQUAL (2000-2006) que elegeu a inovação social, enquanto processo, como um dos seus quatro princípios, a par da parceria, cooperação territorial e igualdade de género.

A EQUAL foi um programa financiado pelo Fundo Social Europeu, executado no período 2000-2010, de carácter experimental, com o objetivo de desenvolver abordagens inovadoras para combater as discriminações no acesso e no mercado de trabalho que, depois de validadas, deveriam ser generalizadas. A EQUAL teve, assim, por ambição inovar as práticas sociais a fim de responder de forma mais eficaz e mais eficiente às necessidades das pessoas, em particular das mais desfavorecidas.

Desenvolvidos por Parcerias de Desenvolvimento (PD) os projetos EQUAL tiveram de responder a um conjunto de requisitos, que exigiram um grande esforço de aprendizagem por parte dos técnicos e organizações que nele participaram mas que foram indutores da inovação produzida. Todos os projetos foram desenvolvidos por entidades associadas em parcerias, incluindo empresas e outras entidades empregadoras, tiveram de integrar o princípio do empowerment dos participantes e beneficiários bem como a dimensão do género, ser inovadores, incluírem uma dimensão de cooperação transnacional, corporizarem as abordagens desenvolvidas, testadas e validadas, em produtos tangíveis e apropriáveis por terceiros e desenvolverem estratégias e práticas de disseminação e transferência dos seus produtos.

A EQUAL foi, assim, um grande laboratório de inovação social, de como se promove essa inovação e como se passa do nível experimental para o ganhar escala da inovação testada a um nível micro. Pela riqueza do processo, em particular do processo de aprendizagem que envolveu um número muito significativo de pessoas e organizações e pelo legado de produtos inovadores que estão disponíveis para a apropriação e utilização por todos os interessados, justifica- se a sua divulgação. Num contexto de crise generalizada como o que vivemos (…), a inovação social surge como imperativo para uma melhor utilização dos recursos consagrados às políticas sociais e como um meio de mobilização da energia criativa de pessoas e organizações, em especial das mais desfavorecidas.

Ana Vale (2010: 287)

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Na sequência da EQUAL, foi aprovada em 2008 pela CE a “Agenda Social Renovada” que veio consagrar orientações fundamentais experimentadas anteriormente. Contudo, o termo “inovação social” não é expresso nem uma vez no documento oficial (ver Bruxelas, 2.7.2008 COM(2008) 412 final). Esta omissão recorrente não é por certo um acaso. Por um lado, inovação social pode sugerir mudanças radicais, em especial porque surge frequentemente associada a processos bottom-up, a movimentos grassroot e ao empowerment. Por outro lado, a relação entre inovação tecnológica (até há pouco tempo a “verdadeira” inovação) e inovação social é controversa e difícil de estabelecer.

Porém, em 2009 e por iniciativa do Presidente da CE, a inovação social ganha novo protagonismo. O Bureau of European Policy Advisers (BEPA) é encarregue de organizar um workshop com um leque muito diverso de especialistas e de produzir um relatório com um diagnóstico fundamentado e sobretudo com um conjunto de recomendações precisas.

É no atual contexto de crise, socialmente multifacetado e politicamente discutível (a passagem do estado social ao estado assistencialista), que as novas respostas se tornam mais prementes. Seguem-se diversos eventos e debates patrocinados por Bruxelas e, em 2011, o Parlamento Europeu propõe um Programa para a Mudança e Inovação Social/Programme for Social Change and Innovation | PSCI (2014-2020), integrado no Innovation Union flagship da Europa 2020.

Embora este programa não tenha sido integralmente adotado pela Comissão Europeia, é interessante compreender as propostas que são avançadas.

Efetivamente, o primeiro objetivo deste programa é responder a problemas específicos gerados pela crise, nomeadamente a pobreza, o crescimento do desemprego, a fragmentação do mercado de trabalho, a pressão crescente sobre os sistemas de segurança social, a conciliação entre responsabilidades familiares e profissionais.

O texto da proposta (Brussels, 6.10.2011 COM(2011) 609 final) enuncia desde logo as dificuldades previstas na implementação do Programa, designadamente o défice de conhecimentos sobre o assunto, a atual fragmentação dos esforços e dos recursos, os baixos níveis de envolvimento dos cidadãos, a falta de transparência dos processos de decisão, a dificuldade de efetuar o scale-up das boas práticas, os métodos incipientes de avaliação.

O PSCI aponta 5 grandes objetivos:

· Desenvolvimento de ações integradas e concretas nos campos do emprego, das condições sociais e de trabalho.

· Apoio a sistemas de proteção social e a mercados de trabalho adequados, acessíveis e eficazes, promovendo reformas políticas, boa governança, co-aprendizagem e inovação social.

· Modernização da legislação europeia (“smart regulation”).

· Incentivo à mobilidade geográfica dos trabalhadores.

· Promoção do emprego e da inclusão social através do maior acesso ao microcrédito por parte dos grupos e micro-empresas mais frágeis e do acesso ao financiamento por parte das empresas sociais.

Os objetivos do PSCI são contudo condicionados à partida, na medida em que este Programa vai integrar vários instrumentos criados, de modo avulso para acudir a situações de urgência, nos últimos anos: PROGRESS, Iniciativas de Microcrédito (e.g. Jasmine | intermediação de crédito, Jeremie | start-ups e I&D) e outros mais antigos como o EURES. Estas componentes configuram precisamente os 3 eixos do PSCI.

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PROgRESS (criado em 2010)

Três objetivos intermédios:

Aplicação efetiva das normas europeias em matéria de igualdade e protecção dos trabalhadores. Promover normas mais eficazes em matéria de inspeção, controlo e aplicação efetiva por parte dos países da UE e avaliar a forma como a legislação da UE foi aplicada.

Visão partilhada e adesão aos objetivos da UE. Os países da UE chegaram a acordo quanto a directrizes e objetivos comuns para orientar, coordenar e incentivar as reformas a nível nacional.

Parcerias eficazes. Promover a participação dos interessados ao longo de todo o processo político: definição do problema, recolha de dados, consulta, identificação de opções, tomada de decisões, execução e avaliação.

Cinco objetivos imediatos:

Partilha efetiva de informações e ensinamentos. Os responsáveis pela definição das estratégias políticas e pela tomada de decisões a nível nacional e da UE determinam em conjunto com as partes interessadas as melhores práticas e as ferramentas de avaliação para melhorar a definição das políticas, os processos de execução e os resultados.

Políticas e legislação da UE devidamente fundamentadas. Realizar estudos comparativos de investigação e análise de elevada qualidade e reunir informações pertinentes, credíveis e exactas no interesse dos intervenientes.

Integração de questões transversais e coerência. Integrar a igualdade (de género, deficiência, etc.) em todas as políticas e atividades e recolher dados discriminados, se necessário, sobre a participação de homens e mulheres.

Maior capacidade das redes nacionais e europeias. Investir na capacidade das redes nacionais e europeias para participar na tomada de decisões e na execução das políticas a nível nacional e da UE.

Debate político participativo e de elevada qualidade. garantir um debate produtivo com todos os interessados a nível nacional e da UE sobre a legislação, as políticas e os objetivos.

http://ec.europa.eu/social/main.jsp?catId=657&langId=pt

EURES (1994)

Os Serviços Europeus de Emprego – EURES – são uma rede de cooperação para facilitar a livre circulação dos trabalhadores no Espaço Económico Europeu. Os parceiros da rede incluem os serviços públicos de emprego, os sindicatos e as organizações de empregadores. A rede é coordenada pela Comissão Europeia.

Os principais objetivos da EURES são: (i) informar, orientar e aconselhar os trabalhadores potencialmente móveis sobre oportunidades de emprego, bem como sobre as condições de vida e de trabalho no Espaço Económico Europeu; (ii) assistir empregadores que pretendam recrutar trabalhadores de outros países; (iii) aconselhar e orientar os trabalhadores e os empregadores nas regiões transfronteiriças.

http://ec.europa.eu/eures/main.jsp?acro=eures&lang=pt&catId=1&parentId=0

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PROgRESS MICROFINANCE

A European Progress Microfinance Facility (Progress Microfinance), foi criada em 2010, para aumentar o acesso ao microcrédito – empréstimos inferiores a 25 000 euros – para o desenvolvimento de pequenos negócios.

O Programa não financia diretamente os pequenos empresários, mas apoia entidades selecionadas que concedem microcrédito, facilitando garantias bancárias, partilhando os riscos potenciais do crédito.

A concessão de microcrédito pode ser efetuada por várias entidades financeiras com ou sem fins lucrativos e são elas que estabelecem as condições do empréstimo (montante, duração, taxas de juro, etc.)

Em menos de 3 anos, mais de 6 000 pequenos empresários tiveram acesso ao microcrédito através do Programa, com uma forte concentração na Bélgica. Resta-se uma forte concentração na Bélgica, Holanda e países da Europa de Leste. Em termos de atividades a grande concentração é a agricultura e o comércio.

Em termos de ações, a proposta do PSCI é bastante detalhada, elencando no Artigo 6.º o conjunto seguinte:

Atividades de análise:

a. Recolha de dados e estatísticas, bem como desenvolvimento de metodologias, classificações, indicadores e parâmetros de referência comuns;

b. Inquéritos, estudos, análises e relatórios, designadamente através do financiamento de redes de peritos;

c. Análises e avaliações de impacto;

d. Acompanhamento e avaliação da transposição e aplicação da legislação da União;

e. Preparação e realização de atividades de experimentação social enquanto método de testar e avaliar soluções inovadoras com vista à sua utilização generalizada;

f. Divulgação dos resultados destas atividades de análise.

Atividades de aprendizagem mútua, sensibilização e divulgação:

g. Intercâmbios e disseminação de boas práticas, abordagens e experiências inovadoras, revisões interpares, avaliações comparativas e aprendizagem mútua a nível europeu;

h. Eventos, conferências e seminários da Presidência do Conselho;

i. Formação de juristas, políticos e conselheiros EURES;

j. Redação e publicação de guias, relatórios e materiais didáticos;

k. Atividades de comunicação e informação;

l. Desenvolvimento e manutenção de sistemas de informação com vista ao intercâmbio e à divulgação de informações sobre as políticas e legislações da União, bem como sobre o mercado de trabalho.

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Apoio aos principais agentes em matéria de:

m. Despesas de funcionamento das principais redes estabelecidas a nível da União cujas atividades sejam relevantes e contribuam para os objetivos do eixo Progress;

n. Criação de capacidades das administrações nacionais e dos serviços especialistas responsáveis pela promoção da mobilidade geográfica designados pelos Estados-Membros, bem como das instituições de microcrédito;

o. Organização de grupos de trabalho compostos por responsáveis nacionais para acompanhar a aplicação da legislação da União;

p. Ligação em rede e cooperação entre organismos especializados, autoridades nacionais, regionais e locais e serviços de emprego à escala europeia;

q. Financiamento de observatórios a nível europeu;

r. Intercâmbio de pessoal entre administrações nacionais.

Ações para promover a mobilidade de pessoas na União, em especial o desenvolvimento de uma plataforma digital multilingue para a compensação das ofertas e dos pedidos de emprego e regimes de mobilidade específicos para preencher as ofertas onde tenham sido identificadas lacunas e/ou ajudar grupos particulares de trabalhadores, designadamente os jovens.

Apoio ao microfinanciamento e às empresas sociais em especial.

Na realidade, o PSCI é inovador nos conceitos, é ambicioso nos objetivos, mas nos aspetos mais concretos não vai muito além do que já existe atualmente.

Mais recentemente, em 2013, o Parlamento e o Conselho Europeus chegam a um entendimento comum sobre esta matéria, acabando por aprovar o Programa EaSI – Emprego e Inovação Social, comportando uma ligação mais direta aos problemas do emprego do que a contemplada no PSCI, o que se justifica pela premência do tema na atual situação de crise. Este novo programa conta com 815 M€ para o período 2014-2020 e visa, em primeiro lugar, apoiar os estados-membros na criação de emprego e na implementação de reformas sociais.

Tal como estava previsto do PSCI, este novo Programa propõe-se acolher e alargar o âmbito dos programas Progress, EURES e European Progress Microfinance Facility.

2.3. Benchmarking DE ExPERIêNCIAs DE INOvAçãO sOCIAl NA UE

No sentido de aprofundar o conhecimento sobre os resultados das políticas e programas identificados nos pontos anteriores, foi efetuada uma análise de benchmarking com base em 49 projetos europeus reconhecidos como mais valias importantes para a inovação social.

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A seleção dos projetos baseou-se no reconhecimento de valor atribuído pelas entidades da CE, ou seja, analisaram-se 3 conjuntos de projetos provenientes das seguintes fontes:

PROjETOS EQUAL

18 projetos incluídos nas “histórias de sucesso”

e ao mesmo tempo considerados relevantes

na ótica da inovação social.

SOCIAL INNOVATION IN EUROPE (SIE)

21 projetos selecionados

para ilustrarem as boas práticas

neste “sítio” internet.

SOCIAL INNOVATION ExChANgE (SIx)

9 projetos selecionados

para ilustrarem as boas práticas

neste “sítio” internet.

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Com base na informação disponível para cada um desses projetos, efetuou-se uma ficha com as seguintes entradas:

CARACTERIZAçãO DO PROJETO

Nome

Natureza da principal instituição promotora / Site

País

Públicos-alvo

Contexto

Adversidades a que responde

Parceiros Envolvidos

Metodologias mais valorizadas

Ações

Objetivos atingidos

Tipo de Inovação

Procedeu-se em seguida à análise de conteúdo, cruzando a informação dos vários projetos sobre cada uma das dimensões analíticas, nomeadamente:

· País do promotor

· Tipo de entidade promotora

· Contexto da iniciativa

· Assunto do projeto

· Público-alvo

· Ações

· Metodologias

· Resultados

Os 49 projetos analisados correspondem a uma distribuição geográfica bastante equilibrada no espaço europeu (Figura 3) onde sobressai, contudo, o Reino Unido. Em quase todas as análises empíricas, este país tem uma posição saliente quer pela visibilidade que é dada às experiências que aí se desenvolvem quer pela experiência acumulada no campo da organização e na mobilização da sociedade civil.

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FIgURA 3 – lOCAlIZAçãO DOS PROJETOS ANAlISADOS

Fonte: produção cartográfica de Leandro Gabriel.

São de tipos muito diversos as instituições e organizações responsáveis pelos projetos. O terceiro setor surge em primeiro lugar com 25 projetos: 14 projetos são de associações, 3 de cooperativas, 3 de fundações, 3 de empresas sociais, surgindo ainda uma rede de voluntariado e um movimento coletivo. Logo a seguir vem a administração pública com 12 projetos: 6 da administração local, 5 da administração central e 1 da regional. Fora destas grandes categorias surgem diversas empresas (3 das quais empresas sociais), escolas e universidades.

O gráfico seguinte (Figura 4) permite cruzar as entidades responsáveis e os países onde estão ancorados os projetos.

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FIgURA 4 – lOCAlIZAçãO E ENTIDADES RESPONSÁVEIS PElOS PROJETOS ANAlISADOS

Fonte: produção gráfica de Leandro Gabriel.

Os contextos em que se desenvolvem os projetos podem agrupar-se em 8 tipos principais:

· Mercado de trabalho – integração, reformas, salários, emprego das mulheres, desemprego, reestruturação empresarial, qualificações.

· Empreendedorismo e economia social – criação do próprio emprego, novas produções, incubadoras.

· Família e envelhecimento – familiares dependentes, cuidados a idosos, envelhecimento ativo, insucesso e abandono escolar, crianças e jovens em situação de risco.

· Imigração e minorias étnicas – aprendizagem da língua, indocumentação, requerentes de asilo, comunidade cigana.

· Doença e deficiência – doença mental, consumo de álcool, atividades para pessoas com deficiência.

· Exclusão – reclusos e pessoas sem abrigo.

· Habitação e cidade – acesso a habitação condigna, estigmatização de determinados territórios, alojamento para estudantes.

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Os assuntos específicos dos projetos estão representados na “nuvem” da Figura 5, onde sobressaem a inclusão, inserção e intervenção social, por um lado, e a empregabilidade e empreendedorismo, por outro.

FIgURA 5 – ASSUNTOS ESPECÍFICOS DOS PROJETOS

Fonte: Projetos inovadores analisados (18 EQUAL, 21 SIE, 9 SIX).Elaboração própria.

Os públicos-alvo dos projetos estão naturalmente associados ao contexto e ao assunto em causa, contudo, como se pode observar na Figura 6, a diversidade é bastante grande abarcando as mais diversas situações de vulnerabilidade individual, ligadas ao risco efetivo (como os doentes, pessoas com deficiência, desempregados, vítimas de violência) e ao risco potencial (idosos, crianças e jovens, imigrantes). Para além destes públicos-alvo, surgem também os coletivos, como as minorias étnicas ou os reclusos.

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FIGURA 6 – PúBLICOS-ALVO DOS PROJETOS

Fonte: Projetos inovadores analisados (18 EQUAL, 21 SIE, 9 SIX).Elaboração própria.

As iniciativas levadas a cabo incluem instrumentos de apoio à ação, intervenções diretas e disseminação, podendo organizar-se em 8 categorias:

· Estudos – inquéritos, observatórios, pesquisas, avaliações, construção de modelos.

· Promoção do emprego e formação profissional – apoio a trabalhadores, ações várias de formação geral e específica, criação de empregos, serviço educativo prisional, rede de trabalho, criação de cooperativas de produção e de distribuição, emprego protegido, formação de pessoas sem-abrigo, qualificação de agentes locais mediadores.

· Reorganização de serviços de apoio social – “one-stop-shop”, serviços integrados para a infância, distribuição de bens, alojamento de estudantes em casa de idosos, serviços de assistência de proximidade.

· Apoio a excluídos – planos de reinserção de reclusos, apoio jurídico, construção de casas e outros apoios para pessoas sem-abrigo.

· Apoio ao empreendedorismo – gestão de PME, empréstimos flexíveis, microcrédito, serviços de apoio às empresas, colaboração entre empresas, apicultura urbana, produção de roupa com materiais naturais.

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· Igualdade de género – horários de trabalho, formação em tarefas domésticas para homens, formação parental.

· Atividades artísticas e desportivas para a inclusão social – aprendizagem de música, teatro, atividades físicas para idosos, atividades físicas e artísticas para pessoas com deficiência.

· Divulgação e comunicação – seminários, workshops, eventos, exposições, guias de boas práticas, campanhas publicitárias.

São seguidas várias metodologias no desenvolvimento das ações. A colaboração, através de parcerias e redes, é um método recorrente que permite a troca de experiências e a co-produção de conhecimentos.

No conjunto das metodologias de aprendizagem, a tutoria ou acompanhamento pessoal está presente em muitos projetos, ou seja o apoio “à medida” numa relação de proximidade. São também desenvolvidas plataformas de aprendizagem on-line, formação intercultural e intergeracional, aprendizagens artísticas (disciplina, auto-estima, etc.), comunidades de aprendizagem (e.g. pais), apoio entre pares.

Outro conjunto de metodologias diz respeito a novos modelos de produção, distribuição e prestação de serviços. Aqui incluem-se centros de recursos locais, soluções integradas para pequenos negócios, tecnologia para cuidados de saúde móveis, simplificação de procedimentos, novo modelo de utilização de centros de logística e distribuição, venda direta.

Por fim, os métodos de divulgação que incluem o envolvimento ativo dos media, a realização de eventos criativos, novas estratégias de comunicação, parque com atividades interativas, acesso aos media por parte de pessoas com doença mental (combate ao estigma).

Quanto aos resultados obtidos, salienta-se, pelo seu interesse particular, a instituição de boas práticas quer através da legislação quer através das regras de funcionamento das instituições. Este resultado deve ser entendido como um dos grandes desígnios da inovação social.

É também muito relevante, neste conjunto de projetos, a criação de empregos para pessoas em situação de fragilidade, bem como o apoio à criação de pequenos negócios aliada a preocupações ambientais (materiais naturais, apicultura urbana, redução da poluição, etc.). O apoio ao emprego e às empresas está diretamente associado à qualificação das pessoas e das organizações.

Por fim, salientam-se também outros 3 tipos de resultados interessantes: a mediação, o apoio jurídico e a criação de novas oportunidades, todos eles envolvendo aqueles que se encontram efetivamente em situação de exclusão.

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3. PERfIl sOCIODEmOgRáfICO DO DIsTRITO DE ÉvORA

Para se compreender o perfil, as ações e os projetos das organizações do terceiro setor do distrito de Évora é necessário conhecer o contexto sociogeográfico nas suas diversas escalas. Com este objetivo, foi elaborada uma análise de um vasto conjunto de indicadores (ver lista e glossário em anexo) que traduzem a situação atual e a evolução na última década. Estes indicadores encontram-se organizados em 10 temas: (i) Dinâmicas gerais da população; (ii) Envelhecimento; (iii) População estrangeira; (iv) Famílias, (v) Habitação; (vi) Educação; (vii) Saúde; (viii) Equipamentos sociais; (ix) Emprego; (x) Rendimentos.

Apresentamos aqui os traços essenciais de cada tema, bem como a tipologia das freguesias construída a partir de uma análise multivariada com 45 indicadores repartidos pelos vários temas. Esta tipologia permite-nos ter uma visão integrada de conjunto, salientando 4 grandes conjuntos de espaços: (i) urbano consolidado, (ii) urbano recente (mix urbano-rural), (iii) rural dinâmico e (iv) rural deprimido.

3.1. sINOPsE POR TEmAsAs dinâmicas gerais da população (2001-2011) são marcadas por um fraco ou negativo crescimento populacional levando à perda do seu peso demográfico no conjunto nacional.

2001 2011 VAR. (%)

Portugal 10 356 117 10 562 178 2,0

Distrito Évora 173 654 166 726 -4,2

Concelho de Évora 56 519 56 595 0,1

Cidade de Évora 47 806 48 792 2,0

Fonte dos dados: INE, Censos.

Regista-se uma progressiva concentração da população nalgumas freguesias urbanas, especialmente em Évora, Vendas Novas, Reguengos de Monsaraz, Estremoz, Borba e Vila Viçosa. Também se nota uma diferenciação forte entre os diversos concelhos e freguesias do distrito no que respeita ao crescimento demográfico. Destaca-se Évora, Viana do Alentejo e Vendas Novas, com crescimento demográfico positivo, ainda que com um padrão interno (freguesias) bastante desigual. Em contraste, os concelhos mais distantes de Évora (periféricos no distrito) surgem com valores negativos, particularmente Mourão e Mora.

As freguesias mais urbanas mostram decréscimos mais suaves e as sedes de concelho registam mesmo crescimento demográfico entre 2001 e 2011.

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FIGURA 7 – VARIAçãO DA POPULAçãO RESIDENTE, POR FREGUESIAS, 2001- 2011

Fonte: INE.Base Cartográfica: CAOP (IGP).

Todo o distrito apresenta um elevado grau de envelhecimento demográfico, com consequências evidentes nos diferentes indicadores de dependência.

POP. IDOSA (%) POP. JOVEM (%) ÍNDICE DE DEPENDêNCIA TOTAl

ÍNDICE DE SUSTENTABIlIDADE

POTENCIAl

Portugal 19,0 14,9 51,3 347,2

Distrito Évora 24,5 13,2 60,6 254,2

Concelho de Évora 19,7 14,4 51,8 333,8

Cidade de Évora 18,5 14,7 49,8 359,8

Índice de dependência total – Relação entre a população jovem e idosa, e a população em idade ativa, definida como o quociente entre o somatório de pessoas com idades compreendidas entre os 0 e os 14 anos e as pessoas com idade igual ou superior a 65 anos, e o número de pessoas com idades compreendidas entre os 15 e os 64 anos, geralmente expressa em percentagem, por 100 pessoas com 15-64 anos.Índice de sustentabilidade potencial – Relação entre a população em idade ativa e a população idosa, definida como o quociente entre o número de pessoas com idades compreendidas entre os 15 e os 64 anos e o número de pessoas com 65 ou mais anos, geralmente expressa em percentagem, por 100 pessoas com 65 ou mais anos.

Fonte dos dados: INE, Censos.

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Apesar da elevada parcela de população idosa, o concelho de Évora, principalmente nas freguesias urbanas centrais, apresenta efeitos de envelhecimento com menor impacto devido às assimetrias entre as diversas freguesias, sendo que em algumas das áreas da periferia da cidade se regista mesmo um índice de juventude bastante elevado. Pelo contrário, Mora e Alandroal apresentam muito forte envelhecimento quer no topo da pirâmide (grande parcela de idosos) quer na base (fraca presença de crianças e jovens).

FIGURA 8 – ÍNDICE DE ENVELHECIMENTO, 2011

Fonte: INE.Base Cartográfica: CAOP (IGP).

A população estrangeira tem vindo a aumentar no distrito, especialmente no concelho de Évora e nos municípios junto à fronteira.

POP. ESTRANgEIRA 2011 (%) VAR. POP. ESTRANgEIRA (%)

Portugal 3,4 1,2

Distrito Évora 2,0 0,7

Concelho de Évora 2,4 1,4

Cidade de Évora 2,5 1,4

Fonte dos dados: INE, Censos.

Se nuns casos, estamos perante o fenómeno imigratório que se verificou com intensidade na primeira década do sec. XXI em todo o País, noutros casos trata-se certamente de migrações pendulares de espanhóis que residem no Alentejo, próximo da fronteira. O concelho de Mourão regista a maior presença relativa de espanhóis.

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FIGURA 9 – PROPORçãO DE POPULAçãO ESTRANGEIRA, 2011

Fonte: INE.Base Cartográfica: CAOP (IGP).

Importa realçar que a distribuição das diferentes nacionalidades é geograficamente diferenciada: em Évora, Montemor-o-Novo, Portel e Borba predominam os imigrantes “clássicos”, originários dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa PALOP e do Brasil; nos restantes concelhos, os europeus estão em maioria entre os estrageiros residentes.

A dimensão média das famílias tem vindo a diminuir, consequência da alteração dos padrões de fecundidade, da transformação das relações familiares e do envelhecimento da população. Entre os diversos efeitos, assume particular expressão o aumento das famílias unipessoais e monoparentais, assim como a população viúva.

DIMENSãO MÉDIA DA FAMÍlIA 2011

FAMÍlIAS MONOPARENTAIS (%)

FAMÍlIAS UNIPESSOAIS (%)

Portugal 2,5 14,9 21,4

Distrito Évora 2,5 11,8 23,2

Concelho de Évora 2,5 14,9 24,7

Cidade de Évora 2,5 11,8 30,5

Fonte dos dados: INE, Censos.

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A expressão percentual dos vários tipos de famílias é relativamente uniforme, não apresentando significativas assimetrias geográficas. Contudo, nos concelhos do Centro e Sul, com exceção de Moura, a transformação da família é mais pronunciada. Na situação oposta, com mudanças mais discretas, estão os concelhos de Mora e Estremoz.

No campo da habitação, merece especial destaque o surpreendente aumento, entre 2001 e 2011, do número de alojamentos (9%), sendo de 14% na cidade de Évora. Num contexto de recessão demográfica a que se veio juntar a crise, este acréscimo é paradoxal, só justificável pelo facto de na primeira metade da década, o investimento imobiliário ser entendido como um ativo interessante.

FIGURA 10 – VARIAçãO DE ALOJAMENTOS FAMILIARES, 2001-2011

Fonte: INE.Base Cartográfica: CAOP (IGP).

Para além desta situação, verifica-se que, excetuando a cidade de Évora, é nos concelhos do Norte do distrito, especialmente Mora, Arraiolos e Borba, que a construção de novos edifícios tem sido mais intensa, relacionada certamente com uma maior dinâmica económica.

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A residência secundária tem aumentado bastante, principalmente nos concelhos fronteiriços, destacando-se Alandroal, Reguengos de Monsaraz e Mourão. Isto deve-se sobretudo ao turismo e ao impacto da Barragem do Alqueva.

Os alojamentos vagos são uma parcela importante, com maior expressão em concelhos periféricos, nomeadamente Mora e Portel, mas também, em menor grau, em Borba e Vila Viçosa. O envelhecimento da população e a saída dos mais novos justificam este abandono.

VAR. DO NúMERO DE ALOJAMENTOS 2001-2011(%)

% AlOJAMENTOS DE RESIDêNCIA SECUNDáRIA, 2011

% AlOJAMENTOS FAMIlIARES VAGOS, 2011

Portugal 14,4 19,3 12,5

Distrito Évora 9,1 18,6 13,9

Concelho de Évora 11,7 10,7 12,4

Cidade de Évora 14,0 9,9 10,9

Fonte dos dados: INE, Censos.

No que diz respeito à educação, o distrito segue a tendência nacional da diminuição do analfabetismo e do aumento da população com o Ensino Superior. Ainda assim, a maioria da população ainda tem apenas o Ensino Básico.

TAXA DE ANALFABETISMO (%), 2011

% POP. QUE COMPlETOU O ENSINO BáSICO, 2011

% POP. QUE COMPlETOU O ENSINO SUPERIOR, 2011

Portugal 5,2 42,2 11,8

Distrito Évora 11,0 40,1 4,4

Concelho de Évora 5,5 56,2 11,8

Cidade de Évora 4,0 61,2 17,8

Fonte dos dados: INE, Censos.

O concelho de Évora destaca-se como o mais qualificado, o que se deve ligar ao seu caráter urbano e também à presença da Universidade. Pelo contrário, os concelhos periféricos, como Mora, Alandroal e Mourão, são aqueles onde a população apresenta menor grau de instrução.

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FIGURA 11 – PROPORçãO DA POPULAçãO COM O ENSINO SUPERIOR COMPLETO, 2011

Fonte: INE.Base Cartográfica: CAOP (IGP).

Os estabelecimentos de ensino parecem preencher as necessidades da população em cada concelho, ainda que, muitas vezes, os municípios não apresentem mais de 2 escolas por cada grau de ensino, obrigando à concentração dos alunos, o que, se por um lado, obriga a maiores deslocações, por outro, favorece a existência de mais e melhores equipamentos escolares.

O Ensino Superior existe apenas no concelho de Évora, conferindo à cidade uma dinâmica muito importante, que, mesmo em período de crise, permite a manutenção de muito comércio e restauração particularmente virados para a população universitária.

No domínio da saúde, o distrito de Évora apresenta globalmente uma situação desfavorável quer em termos de oferta de serviços quer nas condições de saúde da população, o que se deve não só aos défices do sistema mas também ao forte envelhecimento da população e ainda às muito precárias condições de vida, especialmente no passado anterior ao 25 de Abril, que deixaram sequelas importantes na população que tem atualmente entre 50 e 75 anos. Este problema é, como seria de esperar, mais agudo nos concelhos periféricos do distrito, como Mora, Alandroal, Reguengos de Monsaraz e Portel, contrastando com os valores mais baixos em Évora.

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MÉDICOS (POR 1 000 HAB.),

2011

ENFERMEIROS (POR 1 000 HAB.),

2011

% DE POP. (MENOS DE 75 ANOS) COM DIFICUlDADE

GRANDE EM VER, 2011

% DE POP. (MENOS DE 75 ANOS) COM DIFICUlDADE MOTORA GRANDE, 2011

Portugal 4,1 6,1 3,3 4,9

Distrito Évora 1,3 3,1 6,7 5,4

Concelho de Évora 5,6 12,7 5,6 4,5

Cidade de Évora – – 5,6 4,3

Fonte dos dados: INE, Censos.

Com exceção das farmácias e postos farmacêuticos móveis, Évora, como principal pólo do distrito, apresenta o maior número de profissionais de saúde per capita. Pelo contrário, os concelhos imediatamente contíguos a Évora, beneficiando dessa proximidade, tendem a apresentar valores relativamente baixos, como é o caso de Redondo, Portel e Reguengos de Monsaraz.

FIGURA 12 – NúMERO DE MÉDICOS POR 1 000 HABITANTES, 2011

Fonte: INE.Base Cartográfica: CAOP (IGP).

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No domínio dos equipamentos sociais, deve-se realçar que o número de creches no distrito é bastante satisfatório e a rede equilibrada o que se deve, em grande parte, à iniciativa do 3.º setor. Pelo contrário, os centros de atividades ocupacionais e os lares residenciais são circunscritos aos concelhos de Évora, Montemor-o-Novo, Estremoz e Reguengos de Monsaraz, limitando a integração e a qualidade de vida da população mais vulnerável. Contudo, os centros de dia, estruturas residenciais e serviços de apoio domiciliário a idosos estão presentes em todos os concelhos do distrito, ainda que com maior oferta em Évora, Estremoz e Montemor-o-Novo. Ainda assim, são os concelhos periféricos, como Redondo, Alandroal ou Viana do Alentejo, que apresentam um maior equilíbrio entre a população idosa e os serviços disponibilizados.

FIGURA 13 – RELAçãO ENTRE POPULAçãO IDOSA E OS CENTROS DE DIA, 2011

Fonte: INE.Base Cartográfica: CAOP (IGP).

No campo do emprego, o concelho de Évora é aquele que regista a maior percentagem de população ativa, o que tem a ver com o seu maior dinamismo económico.

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POP. ATIVA 2011 (%)

POP. DESEMPREgADA 2011 (%)

POP. EMPREgADA NOS SERVIçOS DE NATUREZA

SOCIAl 2011(%)

POPUlAçãO EMPREgADA NO SETOR

PRIMÁRIO 2011 (%)

Portugal 47,6 13,2 40,8 3,1

Distrito Évora 51,0 12,6 51,1 9,3

Concelho de Évora

57,1 10,6 53,0 4,2

Cidade de Évora 47,4 11,1 – 2,7

Fonte dos dados: INE, Censos.

O desemprego afeta especialmente a área oriental do distrito; em contraste, as situações menos desfavoráveis encontram-se nos concelhos de Vendas Novas e Montemor-o-Novo, onde as alternativas de emprego fora da área de residência são, por certo, maiores. Pelo contrário, nos concelhos periféricos, como Mora, Portel, Alandroal e Mourão, observam-se as menores taxas de atividade e as maiores de desemprego.

FIGURA 14 – PROPORçãO DA POPULAçãO DESEMPREGADA, 2011

Fonte: INE.Base Cartográfica: CAOP (IGP).

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A terciarização do mercado de emprego nacional está também plasmada no distrito e especialmente no concelho de Évora. Contudo, nos concelhos de Redondo, Alandroal e Portel o setor primário ainda desempenha um importante papel, enquanto que em Vila Viçosa e Vendas Novas o setor secundário apresenta uma quota de emprego significativa.

Os rendimentos no distrito de Évora atingem níveis bastante inferiores à média nacional (74% do valor nacional no caso do Poder de Compra em 2009).

Como seria de esperar, o concelho de Évora apresenta o maior poder de compra per capita (17% acima da média nacional). Vila Viçosa e Vendas Novas também se destacam mas num nível secundário.

Na situação contrária, surgem os concelhos periféricos, principalmente aqueles localizados junto à fronteira, como Alandroal e Mourão, que apresentam valores de ganho médio mensal e de poder de compra mais baixos, tendo também registado uma dinâmica mais fraca na última década.

A fragilidade e a dependência social é também mais marcada nos concelhos periféricos do distrito, como Mourão, Mora e Alandroal, que apresentam maiores taxas de beneficiários de Rendimento Social de Inserção (RSI) e de pensionistas. Os valores mais baixos desses 2 indicadores registam-se em Évora e Vendas Novas, concelhos com um tecido social menos vulnerável.

FIGURA 15 – PODER DE COMPRA CONCELHIO, 2011

Fonte: INE.Base Cartográfica: CAOP (IGP).

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FIGURA 16 – PERCENTAGEM DE BENEFICIáRIOS DO RSI POR CONCELHO, 2011

Fonte: INE.Base Cartográfica: CAOP (IGP).

3.2. TIPOlOgIA DAs fREgUEsIAsApresenta-se a seguir a tipologia das freguesias.Este exercício baseia-se nos resultados de uma análise estatística multivariada onde foram incluídos 45 indicadores com dados por freguesia.

Trata-se de uma análise fatorial de componentes principais, seguida de uma classificação hierárquica ascendente (cluster) das unidades de análise – freguesias – efetuada a partir dos “loadings” dos 10 principais fatores.

Estes procedimentos permitem, por um lado, estabelecer grupos de freguesias cuja posição é próxima na “nuvem” de fatores e, por outro, caraterizar cada um desses grupos com base nos indicadores que definem o seu perfil.

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PERFIL SOCIODEMOGRáFICO – DINâMICAS RECENTES (2001-2011)

TIPOlOgIA DAS FREgUESIAS

A B C D E

Urbano consolidado Urbano recente Rural dinâmico Rural atípico Rural deprimido

1. DINâMICA DEMOgRÁFICA gERAl

Diminuição significativa da população. Densidade muito elevada.

População estável. Densidade elevada.

Diminuição pouco pronunciada da população. Densidade baixa.

Enorme perda de população. Densidade baixíssima.

grande perda de população. Densidade muito baixa.

2. ENVElHECIMENTO

Envelhecimento acentuado.

Nível de envelhecimento relativamente baixo.

Nível de envelhecimento relativamente baixo.

Índice de dependência total muito elevado.

Envelhecimento muito acentuado.

3. ESTRANgEIROS

Parcela elevada de população estrangeira. Expressão significativa de população dos PAlOP e brasileiros entre a população estrangeira.

Expressão significativa de população dos PAlOP e brasileiros entre a população estrangeira.

Expressão significativa de espanhóis entre a diminuta população estrangeira.

grande parcela de população estrangeira.

Muito pouca população estrangeira.

4. FAMÍlIAS grande expressão das famílias unipessoais e da população divorciada.

As famílias monoparentais aumentaram bastante na última década e assumem atualmente uma grande expressão.

As famílias monoparentais aumentaram bastante na última década embora tenham uma expressão reduzida.

grande parcela de população divorciada.

As famílias monoparentais diminuíram entre 2001 e 2011 e mantêm uma expressão reduzida.

5. HABITAçãO grande parcela de alojamentos vagos. Índice de envelhecimento dos edifícios muito elevado.

Aumento significativo do número de alojamentos.

Situação próxima dos valores médios distritais.

Decréscimo do número de alojamentos. Enorme percentagem de alojamentos vagos.

grande parcela de alojamentos de residência secundária.Índice de envelhecimento dos edifícios muito elevado.

6. EDUCAçãO Taxa de analfabetismo relativamente baixa. Parcela significativa de população com ensino superior.

Taxa de analfabetismo relativamente baixa. Parcela significativa de população com ensino superior.

Níveis de instrução próximos da média distrital, exceto no ensino superior, sendo bastante pequena a parcela de população com este grau.

Taxa de analfabetismo elevada. grande parcela de população com ensino superior.

Taxa de analfabetismo elevada. Diminuta parcela de população com ensino superior.

7. EMPREgO Pouco emprego agrícola.Peso significativo do emprego na administração pública.

Pouco emprego agrícola.

Peso significativo do emprego na administração pública.

Próximo dos valores médios distritais.

Peso elevado do emprego agrícola.

Peso significativo do emprego agrícola. Pouca expressão do funcionalismo público.

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FIgURA 17 – CARTOgRAFIA DA TIPOlOgIA DAS FREgUESIAS

Fonte: INE.Base Cartográfica: CAOP (IGP).

A tipologia pode resumir-se do seguinte modo:

· No “urbano consolidado” (Tipo A) integram-se 6 freguesias – 3 em Évora, Vila Viçosa, Borba e Estremoz. Este grupo tem a ver com as características destas freguesias mas também com a sua dimensão muito reduzida, limitada ao espaço efetivamente urbano.

· O “urbano recente” (Tipo B) corresponde à maioria das restantes freguesias sede de concelho, com exceção de Alandroal e Mourão.

· O “rural dinâmico” (Tipo C) envolve as principais áreas urbanas, surgindo também com grande expressão na área fronteiriça.

· Com características rurais mas com traços muito atípicos distingue-se, no concelho de Estremoz, a freguesia de São Bento de Ana loura (Tipo D).

· O “rural deprimido” (Tipo E) assume particular expressão geográfica nas áreas mais distantes da capital do distrito – ocidente (concelho de Montemor-o-Novo), norte (concelhos de Mora, Arraiolos e Estremoz) e um número reduzido de freguesias no Sul (concelhos de Portel e Reguengos de Monsaraz).

A maioria dos concelhos apresenta desigualdades internas bastante marcadas. O próprio concelho de Évora inclui freguesias de 4 tipos.

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4. lEvANTAmENTO E CARACTERÍsTICAs DAs ORgANIzAçõEs DO TERCEIRO sETOR

Recorrendo aos dados do Observatório Social do Alentejo da Fundação Eugénio de Almeida (OSA-FEA), às Páginas Amarelas on-line e aos dados da Segurança Social, foram contabilizadas 315 organizações do terceiro setor no distrito de Évora. Estas organizações apresentam uma distribuição geográfica equilibrada, embora com uma concentração significativa no concelho de Évora e, de um modo geral, em todas as sedes de concelho.

FIgURA 18 – lOCAlIZAçãO DAS ENTIDADES

Fonte: OSA-FEA; Páginas amarelas on-line; Segurança Social.Base Cartográfica: CAOP (IGP).

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FIgURA 19 – ENTIDADES POR CONCElHO

Fonte: OSA-FEA; Páginas amarelas on-line; Segurança Social.Base Cartográfica: CAOP (IGP).

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FIgURA 20 – PADRãO DE lOCAlIZAçãO DAS ENTIDADES

Fonte: OSA-FEA; Páginas amarelas on-line; Segurança Social.Base Cartográfica: CAOP (IGP).

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FIgURA 21 – FONTE DO lEVANTAMENTO DAS ENTIDADES

Fonte: OSA-FEA; Páginas amarelas on-line; Segurança Social.Base Cartográfica: CAOP (IGP).

O inquérito on-line lançado às organizações (ver questionário em anexo) obteve uma taxa de resposta significativa (43% das 180 entidades contactáveis por email) o que permite traçar com alguma segurança o perfil destas entidades.

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4.1. PERfIl DAs ORgANIzAçõEs: lOCAlIzAçãO, CONsTITUIçãO, mOTIvAçõEs E PRINCÍPIOs

A caracterização das entidades que responderam ao inquérito é desde logo feita por variáveis de caracter objetivo, como é o caso da localização, da data de constituição e dos domínios de intervenção. Assim, verifica-se que estas entidades se concentram largamente nas freguesias sedes de concelho (70,5%) e que a data da sua constituição é variada, distribuindo-se ao longo do tempo, mas com preponderância para o período pós 25 de Abril. Concretamente, cerca de 17% das entidades surgiram nos anos mais recentes.

FIgURA 22 – DATA DE CONSTITUIçãO DAS ENTIDADES

0%

10%

20%

30%

40%

<1960 1961-1974 1975-1989 1990-1999 >2000 S/R

13

33

26

17

6 5

Fonte: Questionário aplicado às organizações.Elaboração própria.

Paralelamente, esta caracterização inclui outro tipo de variáveis, mais subjectivas, como são aquelas que se prendem com as motivações e os princípios orientadores das entidades. Sobre os motivos presentes na constituição e no desenvolvimento das entidades, destacam-se os relativos à “vontade da comunidade” (56%), seguindo-se os “religiosos” (22%) e os “profissionais” (15%).

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FIgURA 23 – MOTIVOS PARA A CONSTITUIçãO DA ENTIDADE

0%

20%

40%

60%

VONTADE DA COMUNIDADE

RELIGIOSOS FAMILIARES PROFISSIONAIS INCENTIVOS PÚBLICOS

OUTRO

56

22

10

15

6

18

Nota: Esta questão foi respondida por um total de 78 entidades. A mesma é de resposta múltipla, pelo que, as percentagens indicadas correspondem ao número de organizações que responderam a determinada categoria em relação ao universo das entidades (78).

Fonte: Questionário aplicado às organizações.Elaboração própria.

Relativamente aos valores orientadores da ação, o número de respostas das entidades destacam a “solidariedade” (67%), a defesa do “interesse coletivo” (45%) e ainda a “justiça social” (40%). A análise dos “outros valores” identificados permite destacar a “promoção da cultura e da arte” e o respeito pela “confidencialidade” nas atuações desenvolvidas.

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FIgURA 24 – VAlORES ORIENTADORES DA ENTIDADE

0%

20%

40%

60%

80%

SOLIDARIEDADE RECIPROCIDADE JUSTIÇA SOCIAL INTERESSE COLETIVO

DIÁLOGOINTERCULTURAL

OUTRO

67

17

40

45

27 27

Nota: Esta questão foi respondida por um total de 78 entidades. A mesma é de resposta múltipla, pelo que, as percentagens indicadas correspondem ao número de organizações que responderam a determinada categoria em relação ao universo das entidades (78).

Fonte: Questionário aplicado às organizações.Elaboração própria.

4.2. Os ATOREs

DIREçãO

O inquérito realizado permite definir traços importantes do perfil dos dirigentes das entidades. Quase 63% dos dirigentes que responderam ao inquérito são homens. A participação feminina nestes cargos é relativamente pequena.

A distribuição dos dirigentes por classes de idade mostra uma maior representação do grupo etário dos 45 a 54 anos (26%), secundado por representações importantes dos grupos etários seguintes (55-64 anos com 21% e ≥65 anos com 18%).

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FIgURA 25 – PERFIl ETÁRIO DAS DIREçÕES

0%

10%

20%

30%

≤24 25-34 35-44 45-54 55-64 ≥65 S/R

6

11

26

21

18

15

3

Fonte: Questionário aplicado às organizações.Elaboração própria.

O nível de instrução destes dirigentes é muito elevado já que 68% possui um curso superior.

Relativamente ao seu domínio de especialização profissional verifica-se que num conjunto de 54 respostas a pluralidade é a tónica. Contudo, salientam-se as formações em gestão (15%) e nas áreas artística e técnica (13%).

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FIgURA 26 – ÁREAS DE ESPECIAlIZAçãO DOS MEMBROS DAS DIREçÕES

0%

10%

20%

30%

SAÚDE GESTÃO DIREITO ARTÍSTICOTÉCNICO

ENSINO S/R AMBIENTEHUMANIDADESA. SOCIAL

40%

6

10

15

3

13

8

11

3

31

Fonte: Questionário aplicado às organizações.Elaboração própria.

Paralelamente, apenas 17% dos 78 dirigentes das entidades inquiridas referiram ter feito formação complementar no domínio da gestão das organizações. Destes, 38,5% realizou esta formação na Fundação Eugénio de Almeida.

Embora a gestão financeira seja a principal função exercida (74%), a gestão técnica e a conceção de projetos são tarefas muito referidas e que congregam mais de 50% das respostas recolhidas.

A direção é desempenhada maioritariamente por pessoas a título individual (87%) mas onde participam, com valores relativamente residuais, entidades religiosas (8%), associações, empresas e organismos públicos (valores entre os 3 e os 4%).

COlABORADORES REMUNERADOS

A dimensão destas entidades pode ser avaliada, de modo sucinto, através do número dos seus colaboradores permanentes. Verifica-se que quase 39% das entidades inquiridas tem entre 1 e 15 trabalhadores. Um número significativo (17%) afirmou não ter qualquer colaborador remunerado. Este aspeto não retira importância ao terceiro setor enquanto empregador no distrito. O facto de 9% das entidades se enquadrarem na classe dos 46 a 115 trabalhadores é bem significativa.

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FIgURA 27 – NúMERO DE COlABORADORES REMUNERADOS

0%

10%

20%

30%

0 ≤5 6-15 16-25 26-45 46-115 S/R

17

26

13

10

14

9 11

Fonte: Questionário aplicado às organizações.Elaboração própria.

Estes trabalhadores concentram-se no grupo etário dos 35 a 44 anos (maioritário em 40% das entidades) embora o grupo etário seguinte, dos 45 aos 54 anos, ainda tenha expressão significativa (maioritário em 23%).

A formação dos colaboradores acaba por dividir as entidades inquiridas em 2 grupos: aquelas onde predomina o ensino básico (31%) e outro grupo, da mesma dimensão, em que a maioria dos colaboradores tem um curso do ensino superior. A situação intermédia (ensino secundário) é a que tem menor peso relativo embora ultrapasse 20% das respostas.

Importa referir que quando os trabalhadores acumulam outras tarefas, para além das suas atribuições específicas, estas centram-se na conceção de projetos (51% das respostas) e na gestão técnica das entidades (44%).

Finalmente, importa notar que a formação (complementar) destes colaboradores no domínio da gestão é pouco significativa no conjunto das respostas obtidas (16%).

COlABORADORES VOlUNTÁRIOS

Embora 13% das entidades afirmem não contar com a colaboração de voluntários, a expressão do voluntariado é desigual mas bastante significativa. Assim, 46% das entidades contam com 1 a 15 voluntários para o desenvolvimento da sua atividade.

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FIgURA 28 – NúMERO DE VOlUNTÁRIOS

0%

10%

20%

30%

0 ≤5 6-15 16-25 26-45 46-100 S/R ≥101

13

27

19

5 56

4

21

Fonte: Questionário aplicado às organizações. Elaboração própria.

Estes voluntários repartem-se de forma equilibrada pelos diversos grupos etários (entre os 25 e os 64 anos) e só têm expressão reduzida nos escalões etários extremos, mais jovens e mais idosos.

Os voluntários têm na maioria dos casos um perfil de instrução elevado, verificando-se que os licenciados são maioritários em 31% das entidades.

Apesar de um grupo significativo de voluntários participar em tarefas variadas desde a direção (32%) até à conceção de projetos (25%), há um conjunto importante (55%) que só desempenha tarefas executivas específicas. Esta informação parece configurar duas situações distintas nas entidades do terceiro setor: por um lado, o voluntariado de direção e, por outro, um voluntariado não centrado nas entidades mas sim nos indivíduos. Naturalmente, as duas modalidades podem coexistir.

Constata-se que o trabalho voluntário é dominantemente regular (51%) sendo desenvolvido numa relação formal com as entidades que o acolhem (47%). Em alguns casos, esta “contratualização” com a entidade acolhedora é assegurada por via da participação na direção ou por via do laço associativo. Em 14 casos foi reconhecida a existência de um vínculo específico mediante o desenvolvimento de um programa de voluntariado ou outro. Embora 42% das entidades não possuam seguro para os voluntários, quase 30% não respondeu ou desconhece esta matéria o que deixa alguma imprecisão nas conclusões sobre este ponto da análise.

Relativamente às modalidades de captação de voluntários há uma margem de desconhecimento significativa (56%). Contudo, são sinalizadas, com algum peso, quer as redes pessoais e familiares (17%) quer as campanhas de divulgação (14%).

Finalmente, embora quase 25% das entidades tenham referido que os seus voluntários têm formação específica, 42% indicaram que os colaboradores voluntários não têm formação.

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4.3. PROCURA (UTENTEs/ClIENTEs)A dimensão das entidades é particularmente avaliada pela sua procura. Neste ponto, relativamente ao número de utentes, as entidades têm uma dimensão variada. Assim, 27% têm até 90 utentes e 33% têm entre 91 e 500. Contudo, 12% das entidades abrangem um número superior de beneficiários.

FIgURA 29 – NúMERO DE UTENTES/ClIENTES

0%

10%

20%

30%

0 ≤30 31-90 91-150 151-500 ≥501 S/R

3

13 14

13

20

12

25

Fonte: Questionário aplicado às organizações.Elaboração própria.

Importa referir que no conjunto dos utentes, a população feminina é quase três vezes superior à masculina, o que se deve em grande parte à sobre-representação dos idosos entre os utentes.

Também relativamente à idade média desta população, domina o grupo dos mais de 75 anos (21%) embora o grupo dos 35 a 44 anos seja também expressivo (17%). Observa-se que a distância geográfica é uma variável com influência no número de beneficiários das entidades, verificando-se um decréscimo nos utentes à medida que nos afastamos da localidade sede da entidade. Ou seja, a larga maioria das entidades (83%) refere que grande parte dos utentes residem na freguesia onde se localiza a entidade, a seguir surge a população utente do mesmo concelho e, residualmente, os utentes de “fora do concelho”.

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4.4. ATIvIDADEs, PROjETOs E gEsTãO

ATIVIDADES

Para caracterizar as entidades presentes no distrito de Évora, interessa ver quais são as atividades mais frequentes que nelas ocorrem. A identificação dos principais domínios de ação da entidade revela o destaque assumido pelo “apoio social” (56%), a que se seguem as “atividades culturais” (27%). Próximas destas, a “produção artística” tem um peso ainda significativo (17%). Quando se analisa a categoria “outro domínio de ação da entidade”, 6 das 13 respostas (46%) concentram-se na “formação/educação (formal/não formal)”.

Relativamente às respostas desenvolvidas, observa-se um misto de ação social e cultural/desportiva, assumindo particular relevância as “atividades ocupacionais/desportivas”, os “centro de dia”, as “atividades culturais e artísticas”, o “apoio domiciliário” e do “lar residencial/acolhimento social”. Estas respostas são mencionadas por mais de 15% das entidades.

RESPOSTAS N.º ENTIDADES %

Atividades Ocupacionais/ Desportivas 16 20,5

Centro de Dia 15 19,2

Atividades Culturais/ Artísticas 15 19,2

Apoio Domiciliário 15 19,2

Lar Residencial/ Acolhimento Social 13 16,7

Ensino Pré-escolar 10 12,8

lar de Idosos 8 10,3

Banco Alimentar/ Cantina Social 8 10,3

Formação/ Inserção Profissional 6 7,7

Cuidados de Saúde 6 7,7

S/R 20 25,6

Ação Social (diversa) 18 23,1

Outras 17 21,8

O número de utentes/clientes destas atividades é muito diverso, traduzindo a variedade das respostas. Dos cerca de 113 000 utentes/clientes contabilizados nas respostas das 78 entidades, 56% dizem respeito às “atividades culturais e artísticas” e 29% ao “banco alimentar/cantina social” – estas respostas dirigem-se a uma população muito ampla. As restantes atividades congregam um número muito inferior de utentes/clientes.

Quando se considera o número médio de utentes/clientes de cada atividade, identificamos três situações: (i) o “centro de dia”, o “lar de idosos”, o “apoio domiciliário”, o “lar residencial/acolhimento social” têm entre 20 e 50 utentes/clientes; (ii) o “ensino pré-escolar”, as “atividades ocupacionais/desportivas” e a “formação/inserção profissional” têm uma dimensão intermédia com 70 a 120 utentes/clientes; (iii) os “cuidados de saúde”, o “banco alimentar/cantina social”, e as “atividades culturais/artísticas” atingem um vasto número de utentes/clientes (900 no primeiro caso e cerca de 4 000 nos restantes), em consonância com as características destas atividades, muito abrangentes e que não obrigam à exclusividade dos beneficiários.

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Por último, 36% das 78 entidades referiram a existência de novas atividades nos dois últimos anos. No contexto atual de crise, económica e social, este aspeto é relevante e da maior importância para a nossa abordagem. A análise das 50 referências feitas permite ver que 38% destas atividades dizem respeito a “atividades culturais”, 18% têm que ver com “formação” e um número não negligenciável (14%) refere atividades/projetos que classificámos como “de resposta imediata” a uma carência / necessidade identificada.

PROJETOS

Mais de 1/3 das entidades (39%) afirmam ter iniciado novos projetos nos dois últimos anos. Estas iniciativas são particularmente relevantes já que dão resposta a dificuldades ou carências recenseadas pelas diversas entidades. Ao analisar as 47 respostas obtidas nesta questão, verifica-se que quase 22% dizem respeito à “certificação de qualidade/formação” e a candidaturas ao PRODER e à EDP Solidária. Observa-se ainda que são também significativos os projetos ligados a “equipamentos/infraestruturas” (15%).

Sobre a modalidade em que são desenvolvidos estes projetos, verifica-se que 58% das entidades dão uma resposta positiva aos projetos realizados em parceria. Neste conjunto, a análise dos 70 parceiros citados permite ver a relevância das “autarquias” (37%), de “outros organismos públicos” (23%) e das “entidades congéneres” (22%).

A participação em redes, permitindo a criação de sinergias, a geração de ganhos de eficiência e a troca de experiências, é particularmente significativa a nível local (55%). Quando se analisam as 64 especificações de redes locais fornecidas, o destaque vai para o CLAS (45%) e para a Rede Social (28%). Paralelamente, a integração em redes nacionais ou internacionais é referida por 19% das entidades. Aqui, quando se analisam as redes citadas, quase 48% dizem respeito a redes nacionais e menos de metade a redes europeias.

gESTãO

Cabe, preferencialmente, à direção quer a identificação dos novos projetos a desenvolver (69%) quer a preparação das candidaturas (60%). Contudo, a equipa técnica de cada entidade tem também um papel relevante nesta segunda tarefa (49%).

As atividades desenvolvidas são divulgadas de forma diversa. Apesar do leve destaque dos “folhetos” (58%), o facebook, a imprensa local, os cartazes/placards e o website/internet recolhem todos mais de 40% das respostas.

No que respeita à principal fonte de financiamento, 26 das 78 entidades destacam os protocolos de cooperação com o estado (33%). Entretanto, a remuneração dos serviços prestados é mencionada por 19% das entidades inquiridas.

Sobre a parcela dos apoios públicos (regulares) nas receitas das entidades vemos que as categorias 31-50% e 51-70% são as dominantes. Estas duas classes dizem respeito, no total, a 32% das respostas obtidas.

Relativamente aos impactos da atual crise no funcionamento das entidades, são referidos os seguintes aspetos: a “falta de recursos” (41%), o “aparecimento de novos problemas e a necessidade de novas respostas” (40%). Como corolário da primeira resposta (falta de recursos), é ainda referida com peso expressivo a “diminuição do número de utentes” (28%).

Quanto a novas oportunidades trazidas pela crise, nas respostas obtidas destacam-se o “incremento da solidariedade” (36%) e a “maior reflexão” (35%).

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4.5. RElAçõEs DAs ORgANIzAçõEs COm A fUNDAçãO EUgÉNIO DE AlmEIDA

É muito significativa a parcela de entidades que tem relações próximas com outras entidades, destacando-se as empresas e as fundações, em especial a Fundação Eugénio de Almeida (FEA).

FIGURA 30 – RELAçõES PRóXIMAS COM OUTRAS ENTIDADES

0%

10%

20%

30%

40%

EMPRESAS FUNDAÇÕES UNIVERSIDADES/CENTROS DE

INVESTIGAÇÃO

CENTROS DE FORMAÇÃO

AGÊNCIAS DE DESENVOLV.NACIONAIS

AGÊNCIAS DE DESENVOLV.EUROPEIAS

OUTRO

37 38

33

29

8

1

19

S/R

29

Nota: Esta questão foi respondida por um total de 78 entidades. A mesma é de resposta múltipla, pelo que, as percentagens indicadas correspondem ao número de organizações que responderam a determinada categoria em relação ao universo das entidades (78).

Fonte: Questionário aplicado às organizações.Elaboração própria.

Todas as entidades inquiridas conhecem a FEA e algumas têm laços muito próximos. Este relacionamento assume diversas formas como a “colaboração pontual” (40%), “apoios da FEA” (28%) ou já desenvolveram “projetos conjuntos” (15%).

Paralelamente, quase 72% das entidades que foram inquiridas são favoráveis ao desenvolvimento, pela FEA, de uma rede/plataforma do terceiro setor em Évora. As razões evocadas valorizam a “partilha de saberes, experiências e recursos” (51%) mas também a “facilidade de contacto entre as entidades e a FEA” (18%) e ainda a “realização de eventos culturais e na área social” (10%).

Na mesma linha da opinião precedente, 69% das entidades revelaram interesse em integrarem essa rede/plataforma do terceiro setor. As vantagens elencadas sublinham a “criação de redes de suporte” (37%), a “aprendizagem e partilhas” (28%) e a “divulgação do trabalho das entidades e da FEA” (18%).

Finalmente, sobre as atividades a desenvolver em conjunto registaram-se 42 respostas que valorizam a “in/formação” (41%), a “troca de ideias e de atividades a desenvolver no futuro” (26%), o “desenvolvimento de atividades em colaboração/rede” (17%) e ainda o “marketing social” (10%).

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5. ADvERsIDADEs, DEsAfIOs E INOvAçãO sOCIAl

As respostas ao inquérito dirigido às entidades do terceiro setor do distrito de Évora, permitem-nos identificar rapidamente as principais adversidades sentidas por estas organizações, expressas enquanto necessidades não satisfeitas.

A problemas estruturais e persistentes do Alentejo – como o envelhecimento, a fraca atração de novos habitantes e de novas atividades económicas e o défice de equipamentos e serviços públicos (do estado social) – vieram juntar-se, nos últimos anos, os impactos da crise, ampliando o desemprego e diminuindo as prestações sociais, o que em muito tem contribuído para acentuar a pobreza e mesmo para gerar novos perfis de privação.

FIgURA 31 – PRINCIPAIS NECESSIDADES NãO SATISFEITAS

0%

20%

ENVELHECIMENTO POBREZA FRACODINAMISMO

LOCAL

FALTA DE APOIO À DOENÇA

E INCAPACIDADE

POUCAOFERTA

CULTURAL

S/RFALTA DE APOIO ÀSCRIANÇAS

INÉRCIA DASAUTORIDADES

PÚBLICAS

DESEMPREGO

40%

60%

51

42

37

27

2426

18

11

18

OUTROSMOTIVOS

8

Nota: Esta questão foi respondida por um total de 78 entidades. A mesma é de resposta múltipla, pelo que, as percentagens indicadas correspondem ao número de organizações que responderam a determinada categoria em relação ao universo das entidades (78).

Fonte: Questionário aplicado às organizações.Elaboração própria.

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No dia-a-dia das organizações, a atual crise também se faz sentir, nomeadamente através da falta de recursos, tendo em conta que grande parte das organizações do terceiro setor tem uma parcela importante de receitas vindas da segurança social.

Os novos problemas sociais são mencionados em segundo lugar e a diminuição do número de utentes vem logo a seguir. Esta última resposta é especialmente preocupante, tendo em conta que significa p.e. uma parte significativa dos idosos ou das pessoas com deficiência deixarem de ter apoio institucional, situação que vai deteriorar consideravelmente a sua qualidade de vida.

FIgURA 32 – IMPACTOS DA ATUAl CRISE

0%

10%

20%

40%

50%

30%

DIMINUIÇÃO DONÚMERO DE

UTENTES

DÍVIDAS DOSUTENTES

NOVOS PROBLEMAS E NECESSIDADES DE NOVAS RESPOSTAS

FALTA DE RECURSOS

DIFICULDADESINSTITUCIONAIS(P. EX. COM A

SEGURANÇA SOCIAL)

S/R

22

OUTRO

14

28

19

40 41

8

Nota: Esta questão foi respondida por um total de 78 entidades. A mesma é de resposta múltipla, pelo que, as percentagens indicadas correspondem ao número de organizações que responderam a determinada categoria em relação ao universo das entidades (78).

Fonte: Questionário aplicado às organizações.Elaboração própria.

A par dos problemas desencadeados ou ampliados pela crise, esta situação também comporta desafios e até oportunidades na medida em que torna imprescindível encontrar alternativas.

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FIgURA 33 – OPORTUNIDADES TRAZIDAS PElA ATUAl CRISE

0%

10%

20%

30%

40%

MAIORREFLEXÃO

MAIS SOLIDARIEDADE

NOVASCOLABORAÇÕES

REFORÇO DAIMPLANTAÇÃO

LOCAL

S/R

35 36

20

14

29

OUTRAS

8

Nota: Esta questão foi respondida por um total de 78 entidades. A mesma é de resposta múltipla, pelo que, as percentagens indicadas correspondem ao número de organizações que responderam a determinada categoria em relação ao universo das entidades (78).

Fonte: Questionário aplicado às organizações.Elaboração própria.

A reflexão sobre os problemas e sobre as respostas possíveis é a oportunidade mais referida pelas entidades que responderam ao inquérito. O reforço da solidariedade, da colaboração e dos laços locais também são bastante mencionados. Estes aspetos sugerem que a crise põe realmente em causa o modelo de sociedade, obrigando a pensar sobre os valores e os procedimentos que se tinham convertido em rotinas.

Os resultados dos dois workshops realizados com um conjunto amplo e diverso de organizações que tinham respondido ao inquérito, permitem desenvolver significativamente os tópicos referenciados nos parágrafos anteriores.

Foram lançadas, nesses workshops, duas linhas de debate:

· Luzes ao fundo do túnel: novas respostas para as adversidades do presente;

· Construir o futuro hoje: políticas e projetos para 2014-2020.

Todos os participantes se pronunciaram sobre estes dois tópicos e em seguida os moderadores identificaram as principais questões surgidas nas intervenções, o que deu origem a um período de debate interessante e enriquecedor quer do ponto de vista das experiências quer na ótica da reflexão.

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A seguinte “nuvem” de palavras resulta das palavras-chave definidas para cada uma das intervenções, no âmbito da sua apresentação prévia.

FIgURA 34 – ÁREAS DE INTERVENçãO DAS ORgANIZAçÕES

Fonte: Workshops com as entidades.Elaboração própria.

A imagem permite identificar claramente:

· Os objetivos – capacitação, valorização, desenvolvimento social e local, ocupação das pessoas, educação, formação;

· Os valores – interculturalidade, integração, acesso, comunidade;

· O meio/contexto – local, comunitário, isolamento;

· Os públicos-alvo – idosos, pessoas com deficiência, crianças e jovens em risco, mulheres vítimas de maus--tratos.

A questão da deficiência e das novas formas que assume foi muito referida, designadamente pela falência das respostas tradicionais e falta de soluções alternativas.

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As adversidades identificadas coincidem normalmente com as nomeadas no inquérito, correspondendo sobretudo a problemas entendidos como conjunturais, entre os quais se destacam o recuo do Estado na ação social, o défice de financiamento e a dificuldade de captação do público-alvo.

“Neste último ano temos sentido um decréscimo dos alunos que pensamos que está diretamente ligado com a crise.” (Universidade Sénior de Évora).

“É verdade que as verbas são poucas ou quase nenhumas. (…) A exigência de haver uma rede de trabalho, parcerias, tem que constar, mas na prática não é isso que acontece.” (Associação Sementes de Esperança).

“(…) este ano a verba que nos vão transferir não dá para as despesas. Baixaram o tipo de apoio. Vamos ter um prejuízo que neste momento está calculado em 15.000€ apenas na parte dos alunos que é financiada pelo POPH.” (Eborae Música).

“Temos 1 650 sócios e [contudo] bastantes dificuldades em captar os idosos para a nossa Associação.” (ARPE, Associação de Reformados e Pensionistas de Évora).

É estabelecida uma ligação entre os problemas com que as entidades se debatem e a visão assistencialista que tem predominado no terceiro setor.

“Somos talvez a instituição que mais é identificada com a prestação de cuidados tradicionais. Ou seja, nós somos um bocadinho identificados com o assistencialismo.” (Cáritas Diocesana de Évora)

mas...

“Nós estamos a passar de uma filosofia assistencialista para outra filosofia. (…) Nós temos que deixar de dar coisas às pessoas. Ou seja, temos que lhas dar mas temos que pedir qualquer coisa em troca.” (Cáritas Diocesana de Évora).

Ainda no campo das visões, a questão da institucionalização emerge como um tema problemático:

“(…) Institucionalizar tem sido sempre o nosso calcanhar de Aquiles porque o intuito é inserir os clientes na comunidade.” (Associação 29 de Abril).

Assim como a falta de participação:

“A nossa maior adversidade é, no fundo, a falta de participação da comunidade em geral nas atividades individuais e comunitárias e que achamos estar associado a um desconhecimento das ações e do que elas podem fazer à comunidade.” (Associação Suão).

E a perspetiva uniformizante da legislação:

“Houve uma vontade de legislar muitas respostas numa ideia de termos as mesmas respostas do Norte a Sul do país. E penso que isso é um erro.” (Casa João Cidade).

No plano interno do funcionamento das organizações são também identificados diversos problemas.

No âmbito das relações entre trabalhadores e dirigentes :

“[…] As pessoas que trabalham na Instituição passaram a reivindicar outro tipo de horário (…) nos fins-de-semana tem sido problemático porque ninguém quer fazer fins-de-semana… (…) Grande parte das instituições são desertos afetivos, e isso horroriza qualquer um.” (ASCTE, Associação Sócio-Cultural Terapêutica de Évora).

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No domínio da cooperação:

“O trabalho em rede é muito importante. Mas em Portugal quase que não existe. Há parcerias pontuais entre as instituições públicas (como a câmara municipal) e outras instituições particulares.” (Associação Pé de Xumbo).

“São poucos recursos para uma população tão grande. Existem demasiadas instituições com as mesmas características na cidade de Évora. (…). Estamo-nos a imitar uns aos outros em vez de gerir recursos. Estamos a tentar “roubar” sócios uns aos outros e sobrepor-nos.” (ARPE).

O isolamento é também uma adversidade :

“Outro problema é que estamos em Estremoz e temos uma abrangência de 7 concelhos. Como a rede de transportes pública é praticamente inexistente, e apesar de nós termos uma rede de transportes montada, esta também já se torna insuficiente (...). Em relação ao isolamento na quinta, enfim, podemos usá-la para uma série de situações, por outro lado, se estivéssemos dentro da comunidade seria mais fácil para esta se adaptar à nossa presença.” (CerciEstremoz).

Importa ainda destacar os problemas específicos associados aos públicos-alvo:

“ (…) Nós estamos preparados para a violência mas não estamos preparados para as patologias. (…) O que me parece é que têm surgido mais patologias da saúde mental. E isso acontece tanto nas adolescentes como nas mulheres.” (Lar Santa Helena).

A seguinte “nuvem” de palavras-chave sintetiza o essencial das adversidades identificadas.

FIgURA 35 – ADVERSIDADES IDENTIFICADAS

Fonte: Workshops com as entidades.Elaboração própria

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As respostas às adversidades são normalmente encaradas pelas entidades como um trabalho inovador.

As principais soluções apontadas relacionam-se com mudanças na organização do trabalho:

“O futuro passa pelas respostas integradas (…) O trabalho em rede sem dúvida nenhuma, a procura das complementaridades entre as instituições e uma grande preocupação em promover a integração das pessoas, promovendo assim a sua auto-estima, principalmente nos novos.” (Cáritas Diocesana de Évora).

“A nova resposta seria uma resposta inclusiva. E portanto devemos pensar a pessoa com deficiência na comunidade e não a partir das instituições. A desinstitucionalização, para mim, é o futuro. [Há-que] privilegiar as ajudas ao domicílio e as residências autónomas. Penso que ao nível das respostas sociais devíamos ter uma maneira de as adequar ao território onde elas estão implementadas. A solução estaria na formação das pessoas e na reconstrução de redes sociais à sua volta.” (Casa João Cidade).

Relacionam-se também com estratégias mais eficazes para estreitar as ligações com o território, com a comunidade e com as entidades locais:

“[Desenvolvemos] um projeto muito direcionado a jovens, à escola, a ações de sensibilização, à comunidade em geral, que tem também a ver com a questão da violência doméstica.” (Sementes de Esperança).

“Criámos atividades culturais para o público em geral com a intenção de criarmos novos públicos. (…) Sabemos que através da música se desenvolvem muitas outras capacitações.” (Eborae Música).

Muitas entidades afirmam que algumas mudanças podem ser possíveis através de uma aposta na formação, na informação, no marketing social e num trabalho assente em parcerias reais e efetivas:

“(…) começar a apostar no marketing social e na capacitação para a autonomia de vida.” (Lar Santa Helena).

“Em termos de empreendedorismo, estamos com projetos de desenvolvimento do empreendedorismo. Estamos envolvidos em vários projetos a nível de formação e de marketing social. Recebemos voluntários formados pela FEA e temos também os nossos jovens a fazer voluntariado com a Fundação.” (Chão dos Meninos).

Outras entidades dão mais relevo à complementaridade entre as respostas já existentes e novas soluções possíveis de serem implementadas a médio-longo prazo:

“Temos atuado muito ao nível da prevenção, ou seja, trabalhamos muito com as escolas, com miúdos, por exemplo na área da igualdade de género. E temos criado materiais pedagógicos envolvendo os próprios miúdos na criação desses materiais. Pretendemos que os projetos se complementem uns aos outros. (…) Começámos este projeto no Centro de Novas Oportunidades onde criámos um grupo que ajuda a promover melhores níveis de literacia. Apesar de não termos um centro de dia, ou apoio domiciliário, trabalhamos em conjunto com as instituições que o fazem para tentar complementar o trabalho que é feito.” (Terras Dentro).

“É também muito urgente tentar construir residências de autónomos.” (CerciEstremoz).

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É muito sublinhada a importância da capacitação do público-alvo:

“Passamos do assistencialismo para o empreendedorismo, para a capacitação, para a valorização da pessoa com deficiência.” (CerciEstremoz).

“Nós temos uma abordagem territorial e tentamos que ela seja integrada. Tentamo-nos afastar do tal modelo mais assistencialista e procuramos antes capacitar estas populações no sentido de ganharem autonomia e criarem o seu próprio caminho.” (Terras Dentro).

Por último, é estabelecida uma articulação entre o trabalho social e as artes, enquanto instrumentos de prevenção primária dos problemas.

“Dediquei-me mais à prevenção primária (na verdadeira acessão da palavra) ou seja, criando alternativas para que as crianças e os jovens cresçam de uma forma saudável e através da cultura, através da música concretamente.” (Eborae Música).

A seguinte “nuvem” de palavras-chave resume o fundamental no âmbito das respostas e particularmente da inovação social, tal como é vista pelas entidades.

FIgURA 36 – INOVAçãO SOCIAl

Fonte: Workshops com as entidades.Elaboração própria.

A imagem revela bem a importância dada à procura de soluções promotoras da capacitação, da qualificação e da autonomia das pessoas e das comunidades com as quais trabalham. Por outro lado, surgem como orientações principais do trabalho a realizar, o marketing social, a abertura e a divulgação dos projetos desenvolvidos, a procura

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de novos públicos e a aposta no voluntariado. Um outro aspeto relevante na procura de soluções eficazes passa pela adaptação a novas realidades e, portanto, pela complementaridade das respostas existentes.

No debate, destacaram-se cinco tópicos principais: (i) adequação das respostas, (ii) trabalho, voluntário e remunerado, (iii) apoios e sustentabilidade, (iv) gestão de recursos e redes, (v) adaptação dos espaços.

ADEQUAçãO DAS RESPOSTAS

Numa primeira apreciação, o modo como se configuram as respostas atuais surge como um bloqueio à inovação:

“(…) Há uma desadequação entre a resposta pensada inicialmente e as necessidades atuais das pessoas. As respostas ficam cristalizadas no tempo.” (Casa João Cidade).

São contudo apresentadas novas respostas e novos projetos que pretendem fazer face às adversidades atuais:

“Eu já fiz o protocolo com o IADE e poderá ser uma boa fonte de inspiração e formação. Temos uma voluntária da APPACDM que trabalha em cerâmica e que se voluntariou também para trabalhar nas suas férias com as nossas utentes e com as crianças. Ou inventar mesmo um produto de marketing que as mulheres possam fazer.” (Lar Santa Helena).

É bastante consensual e transversal aos vários tipos de respostas que a capacitação das pessoas – utentes e comunidades – é fundamental, promovendo o sentimento de pertença e de participação nos serviços existentes na comunidade:

“(…) o papel das entidades de desenvolvimento local deverá contrariar a tendência do assistencialismo. Quando as entidades perguntam às comunidades se querem ajuda, aí quase que desaparece a possibilidade de realmente se poder fazer algo. Porque as pessoas não querem ajuda. [É necessário] que pensem sobre as competências e capacidades que têm e que apresentem eles mesmos propostas.” (Associação Pé de Xumbo).

TRABALHO, VOLUNTáRIO E REMUNERADO

Revela-se importante a definição dos papéis que cada membro assume no funcionamento interno da entidade e as relações estabelecidas entre si. Algumas entidades identificam uma certa petrificação e excessiva centralidade do poder dos dirigentes, que dificultam a motivação e partilha de responsabilidade entre técnicos, voluntários e dirigentes.

“Quando nós, dirigentes, pedimos que colaborem, vemos como é difícil que as pessoas assumam uma determinada responsabilidade. Das duas uma: ou é pago, ou se é gratuito é muito difícil. Há muitas limitações.” (ASCTE).

“Eu penso que o problema aí é da motivação. Como é que os dirigentes das associações motivam os seus trabalhadores para darem além das suas 35 horas?” (Casa João Cidade).

“Para as pessoas tomarem iniciativa também é preciso deixar-se isso acontecer. Porque por vezes os técnicos podem ter ideias mas não terem possibilidade de as pôr em prática. Nós temos um discurso que diz que queremos que as pessoas participem mas depois na prática fazemos tudo para que a participação seja cortada.” (Casa João Cidade).

“E quem é o voluntário? É aquele indivíduo que vou buscar para fazer o trabalho que eu não quero pagar?” (Cáritas Diocesana de Évora).

“[O dirigente] desenvolve essa ideia e depois fica lá eternamente, até a ideia se esgotar porque já não responde a nenhuma necessidade. [Há que] distinguir a direção da instituição.” (Cáritas Diocesana de Évora).

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APOIOS E SUSTENTABIlIDADE

A (im)possibilidade de autonomia financeira e o papel do Estado no apoio ao terceiro setor e ao trabalho social que desenvolve são as principais questões.

“Eu sou contra a mão estendida ao Estado. Mas nós temos que procurar as fontes para nos financiarmos. Apesar de querermos ajudar os outros, sermos solidários etc., no entanto pagamos miseravelmente aos funcionários.” (Cáritas Diocesana de Évora).

“Porque os projetos estão completamente formatados. Naturalmente as câmaras são o apoio mas, ao fim e ao cabo, aqui com a Câmara de Évora é impossível.” (Eborae Música).

“De entre todas as câmaras só temos o apoio de uma. Podemos sempre contar com o apoio das câmaras em termos logísticos ou em termos de integração de estágios ou de outros programas financiados através do IEFP onde conseguimos encaixar os nossos formandos. Mas em termos financeiros é praticamente zero.” (CerciEstremoz).

Foram contudo apresentadas ideias criativas neste domínio que passam pelo ajustamento da atividade aos recursos disponíveis e evitar a todo o custo o abandono dos projetos.

“Na nossa experiência, se há projeto ou não há, com candidatura ou sem, não importa, vamos fazer isto, com mais ou menos recursos. A ideia é boa, se vierem dinheiros, ótimo. Se não, temos que nos “desenrascar” com uma dimensão mais pequena. Isto é importante, portanto, tem que ser feito. Pronto, com uma dimensão mais reduzida.” (Lar Santa Helena).

gESTãO DE RECURSOS E REDES

A ausência de um plano estratégico conjunto para o terceiro setor (num determinado território) foi referida como um dos principais entraves ao seu desenvolvimento:

“É um pouco ao sabor do vento. A mim o que me parece é que não existe um projeto, existem apenas necessidades a resolver. (…) Existem reuniões promovidas pela câmara com as instituições. Mas eu acho que depois não se traduzem em nada no terreno. Os documentos fazem-se, há uma tentativa, mas depois não há continuidade.” (CerciEstremoz).

“Pensamos que o ideal seria haver um suporte de base para manter um núcleo “duro” em cada uma das organizações. E depois, conforme a sua capacidade de intervenção e iniciativas, as organizações iam crescendo.” (Terras Dentro).

É atribuída bastante relevância às Redes Sociais (municipais) e sublinhado que elas poderiam ser os grandes mediadores, garantindo a complementaridade e colaboração entre as entidades. No entanto, é frequentemente afirmada a sua reduzida efetividade:

“Só as redes permitem que não se sobreponham respostas.” (Cáritas Diocesana de Évora).

“Nós temos uma Rede Social mas que efetivamente não trabalha em rede. Está lá porque é obrigatório e fica bem no mapa. Mas deveríamos reivindicar.” (Casa João Cidade).

O papel das autarquias e a sua relação com as entidades do terceiro setor merecem uma atenção especial:

“As autarquias não vão ter dinheiro para infraestruturas. A era do betão acabou. E vão elas próprias desenvolver muitas das atividades que têm vindo a ser desenvolvidas pelo terceiro setor. Vão começar a apostar muito mais neste tipo de atividades e é por aí que vão chegar aos cidadãos. E o caminho deveria ser por aí, por trabalharmos em conjunto e não em concorrência.” (Terras Dentro).

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ADAPTAçãO DOS ESPAçOS

A existência de muitos espaços vazios, nomeadamente na cidade de Évora, é uma realidade que chama a atenção das entidades presentes no debate. Coloca-se a possibilidade de obviar a falta de espaços adequados às necessidades específicas das entidades do terceiro setor:

“Há uma enorme quantidade de espaços que estão vazios em Évora. Portanto parece tratar-se apenas de uma défice de gestão. Não?” (Isabel André).

“Eu conheço o projeto que está desenhado e que foi pensado para o tipo de intervenção a ter com aquelas crianças. [É complicado trabalhar] num convento com um primeiro andar, com camaratas e que desumaniza a intervenção.” (Lar Santa Helena).

“As novas patologias e problemas muito graves ao nível da saúde mental, tornam aquele espaço caótico. Não é de todo adequado à função!” (Chão dos Meninos).

“Os espaços condicionam as formas de comunicar. Mas eu acho que podendo adaptar-se um edifício existente é preferível.” (Terras Dentro).

Em síntese, como se pode confirmar nas páginas anteriores, as grandes preocupações das organizações do terceiro setor estão muito centradas nos problemas internos e na dificuldade de os ultrapassar num contexto de crise.

6. CONClUsãO, ORIENTAçõEs E PROPOsTA

Ao longo deste estudo foram sendo identificados os problemas cruciais do distrito de Évora enquadráveis no campo de ação do terceiro setor, bem como as possíveis soluções. Neste âmbito – da conjugação entre problemas e respostas desejáveis e realistas – destacam-se os seguintes desafios:

· Num quadro de forte envelhecimento, importa garantir a qualidade de vida dos idosos, sobretudo no âmbito da saúde e das relações sociais, e promover práticas de envelhecimento ativo, p.e. ligadas à atividade profissional anterior das pessoas;

· A deficiência assume novos contornos (a parcela de crianças que nasce com uma deficiência grave vem diminuindo significativamente) muito associados a diversas patologias do foro psíquico. Neste campo, parece ser imprescindível repensar a institucionalização das pessoas e garantir ações promotoras da capacitação e da autonomia individual;

· No distrito de Évora, e mesmo nos seus centros urbanos, permanece um nível baixo de qualificação formal. Neste âmbito, a valorização do conhecimento tácito, o reconhecimento dos saberes tradicionais, assim como a ampliação do acesso à cultura e às artes constituem certamente alguns dos principais desafios a equacionar;

· O isolamento das áreas rurais periféricas é um problema cada vez mais difícil de contrariar, num contexto em que a população se concentra nos centros urbanos, permanecendo nos lugares remotos os mais velhos ou aqueles que, normalmente por falta de qualificação profissional, não conseguem aproveitar as oportunidades das cidades. Este é um desafio em que as telecomunicações podem ter um contributo especialmente importante, ajudando a reduzir as distâncias e permitindo resolver alguns problemas através

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da comunicação digital. Pensar soluções dirigidas a públicos alvo com grandes limitações no uso da tecnologia digital é um desafio particularmente relevante (mas não impossível, se considerarmos que essa tecnologia é cada vez mais “amigável” e básica).

Neste quadro de problemas e desafios, importa destacar as principais potencialidades e oportunidades detetadas ao longo do estudo.

ligadas ao contexto:

· O contributo da cultura e das artes para a inovação social como facilitadoras da comunicação e como incentivadoras da confiança e do reconhecimento externo;

· A forte identidade local – sobretudo nos lugares de pequena e média dimensão – com estreita ligação à agricultura e aos ambientes naturais permite valorizar os valores éticos e o equilíbrio da vida coletiva e desenvolver projetos que retomam ou recriam a atividade agrícola (transportando-a eventualmente para outros contextos), fomentando, por essa via, os laços de entreajuda, o convívio, o bem comum;

· A larga parcela de edifícios e alojamentos vagos pode significar uma ampla oferta de espaços disponíveis – edifícios comuns e espaços patrimoniais – que, bem geridos em conjunto, podem qualificar consideravelmente o trabalho das organizações do terceiro setor;

· A significativa expressão das segundas residências, o turismo e a presença de imigrantes configuram uma forte presença de outsiders o que representa um potencial importante para a inovação social na medida em proporcionam o cruzamento de diferentes modos de vida, culturas, modos de fazer, saberes, etc..

ligadas às organizações:

· A parcela significativa de entidades do terceiro setor fora dos principais centros urbanos podem constituir – se bem articuladas – pólos ou antenas de desenvolvimento local, trabalhando em colaboração com as “grandes” organizações urbanas;

· A experiência das entidades (50% são anteriores a 1990) deve ser valorizada. Permite pensar os percursos longos e relativizar a urgência do curto prazo;

· O elevado nível de qualificação das direções (68% de licenciados) são um importante potencial, facilitando a inovação social;

· O voluntariado tem uma ampla expressão e em 1/3 das organizações assegura a direção. Este facto, só por si, revela um tecido social coeso e solidário. A dimensão que o trabalho voluntário atinge nestas organizações é um aspeto muito positivo, qualificando e ampliando em muito a oferta. Não se pode contudo deixar de acautelar duas ameaças associadas a esta situação: (i) a perpetuação nas direções, associada uma certa autoridade resultante do vínculo benévolo; (ii) a substituição de trabalhadores remunerados (difíceis de manter em tempos de austeridade) por voluntários;

· Atitude associada ou não a direções voluntárias, os líderes parecem monopolizar excessivamente, em muitos casos, a decisão sobre novos projetos. Na ótica da inovação social, este é um procedimento a evitar. Importa trazer os outros atores (nomeadamente os técnicos) e sobretudo os utentes e a comunidade em geral para os processos de decisão. Não é um processo fácil, mas existem várias experiências bem sucedidas de participação ativa (deliberativa) em contextos adversos;

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· Existe no discurso das entidades uma energia surpreendente para o período de crise que o país atravessa. Não se deteta desânimo nem desistência, mas antes um desejo de mudança (nos valores e nas práticas) e inovação. É evidente a necessidade e vontade de encontrar soluções num contexto que incentiva a reflexão e a solidariedade adoptando uma perspetiva anti-assistencialista, baseada na capacitação, na participação ativa e na reciprocidade;

· É muito frequente o estabelecimento de parcerias e a integração em redes. Contudo, parece que esse comportamento colaborativo é em grande parte forçado pelos programas de apoio ao terceiro setor que fazem depender desses laços a aprovação dos projetos. Embora não seja desejável a cooperação forçada, parece contudo que estas orientações das políticas públicas têm vindo a criar uma nova cultura institucional de colaboração;

· Uma proposta surgida no debate que acolhemos sem reservas é a necessidade de reconstrução das redes sociais de proximidade. Estas redes incluem as organizações, sobretudo na qualidade de mediadores de uma comunidade. Na realidade, trata-se de um desafio ambicioso: reforçar o capital relacional das organizações do terceiro setor em conjunto com o da(s) comunidade(s) com quem trabalham.

Os resultados deste estudo e a reflexão conjunta – FEA e equipa – que ele proporcionou permitem considerar a constituição de um Fórum ou Plataforma onde se possa efetivamente trocar experiências, proporcionar diversos apoios e intercâmbios e garantir a produção de co-conhecimento, originando assim efetiva inovação social.

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INOVAÇÃO SOCIAL NO TERCEIRO SETOR | O DISTRITO DE ÉVORA

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ANExO I

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glOssáRIO DOs INDICADOREs EsTATÍsTICOs

INDICADOR DESCRIçãO

DINÂMICAS DEMOgRÁFICAS

População Residente Indivíduos que, independentemente de no momento censitário estarem presentes ou ausentes numa determinada unidade de alojamento, aí habitam a maior parte do ano ou detinham a totalidade ou a maior parte dos seus haveres.

Relação de Masculinidade (ou Sex Ratio)

Quociente entre os efetivos populacionais do sexo masculino e os do sexo feminino, geralmente expresso por 100 mulheres.

Densidade Populacional Relação entre o número de habitantes de uma determinada área e a superfície desse território, geralmente expressa em número de habitantes por quilómetro quadrado.

Crescimento Efetivo Indicador que permite saber qual foi o grau de crescimento ou de diminuição da população, relacionando o Crescimento Natural (ou Saldo Fisiológico) com o Saldo Migratório.

Crescimento Natural (ou Saldo Fisiológico)

Diferença entre o número de nascimentos e o número de óbitos de uma dada população num determinado período de tempo.

ENVELhECIMENTO

Índice de Envelhecimento Relação entre a população idosa e a população jovem, definida como o quociente entre o número de pessoas com idade igual ou superior a 65 anos e o número de pessoas com idades compreendidas entre os 0 e os 14 anos, geralmente expressa em percentagem, por 100 pessoas com idades entre os 0 aos 14 anos. Também é designado "índice de vitalidade".

Índice de Juventude Relação entre a população jovem e a população idosa, definida como o quociente entre o número de pessoas com idades compreendidas entre os 0 e os 14 anos e o número de pessoas com idade igual ou superior a 65 anos, geralmente expressa em percentagem, por 100 pessoas com idade igual ou superior a 65 anos.

Índice de Dependência Total Relação entre a população jovem e idosa, e a população em idade ativa, definida como o quociente entre o somatório de pessoas com idades compreendidas entre os 0 e os 14 anos e as pessoas com idade igual ou superior a 65 anos, e o número de pessoas com idades compreendidas entre os 15 e os 64 anos, geralmente expressa em percentagem, por 100 pessoas com 15-64 anos.

Índice de Dependência dos Jovens

Relação entre a população jovem e a população em idade ativa, definida como o quociente entre o número de pessoas com idades compreendidas entre os 0 e os 14 anos e o número de pessoas com idades compreendidas entre os 15 e os 64 anos, geralmente expressa em percentagem, por 100 pessoas com 15-64 anos.

Índice de Dependência dos Idosos

Relação entre a população idosa e a população em idade ativa, definida como o quociente entre o número de pessoas com idade igual ou superior a 65 anos e o número de pessoas com idades compreendidas entre os 15 e os 64 anos, geralmente é expressa em percentagem, por 100 pessoas com 15-64 anos.

Índice de Sustentabilidade Potencial

Relação entre a população em idade ativa e a população idosa, definida como o quociente entre o número de pessoas com idades compreendidas entre os 15 e os 64 anos e o número de pessoas com 65 ou mais anos, geralmente expressa em percentagem, por 100 pessoas com 65 ou mais anos.

População Jovem Número de pessoas com idades compreendidas entre os 0 e os 14 anos.

População Idosa Número de pessoas com idade igual ou superior a 65 anos.

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INDICADOR DESCRIçãO

FAMÍLIAS

Família Clássica Conjunto de pessoas que residem no mesmo alojamento e que têm relações de parentesco (de direito ou de facto) entre si, podendo ocupar a totalidade ou parte do alojamento. Considera-se também como família clássica qualquer pessoa independente que ocupe uma parte ou a totalidade de uma unidade de alojamento.

Dimensão Média da Família (Clássica)

Quociente entre o número de pessoas residentes em famílias clássicas e o número de famílias clássicas residentes.

Família Clássica Unipessoal Família Clássica constituída por apenas um indivíduo.

Família Clássica Monoparental Núcleo familiar que integra apenas um dos progenitores, pai ou mãe, com filho(s).

Estrutura Etária da População Residente

Intervalo de idade, em anos, no qual o indivíduo se enquadra, de acordo com o momento de referência. Habitualmente utilizados os grupos: idade igual ou inferior a 14 anos; idade entre 15 e 24 anos; idade entre 25 e 64 anos; idade igual ou superior a 65 anos.

Estado Civil da População Residente

Situação jurídica da pessoa composta pelo conjunto das qualidades definidoras do seu estado pessoal face às relações familiares, que constam obrigatoriamente do registo civil, compreendendo as seguintes situações: a) Solteiro; b) Casado (com ou sem registo); c) Viúvo; d) Divorciado.

População Residente Viúva Número de pessoas cuja situação jurídica que consta no registo civil é de viuvez.

Religião da População Residente Indivíduos residentes quanto à resposta relativa à religião, compreendendo as seguintes opções: a) Católica; b) Ortodoxa; c) Protestante; d) Outra cristã; e) Judaica; f) Muçulmana; g) Outra não cristã; h) Sem religião; i) Sem resposta.

População Residente Católica Número de pessoas cuja opção religiosa é o Catolicismo.

População Residente Sem Religião

Número de pessoas que não têm qualquer religião.

hABITAÇÃO

Alojamento Familiar Alojamento que, normalmente, se destina a alojar apenas uma família e não é totalmente utilizado para outros fins no momento de referência.

Alojamento Familiar de Residência Secundária

Alojamento familiar ocupado que é apenas utilizado periodicamente e no qual ninguém tem residência habitual.

Alojamento Familiar Vago Alojamento familiar desocupado e que está disponível para venda, arrendamento, demolição ou outra situação no momento de referência.

Total de Edifícios Construção permanente, dotada de acesso independente, coberta e limitada por paredes exteriores ou paredes-meias que vão das fundações à cobertura e destinada à utilização humana ou a outros fins.

Edifícios pela Época de Construção

Período que pode corresponder à construção do edifício propriamente dito, à construção da parte principal do edifício (quando diferentes partes de um edifício correspondem a épocas distintas) ou à reconstrução do edifício que sofreu transformação completa, compreendendo as seguintes épocas: a) antes de 1919 a 1960; b) entre 1961 e 1980; c) entre 1981 e 2000; d) entre 2001 e 2011.

Índice de Envelhecimento dos Edifícios

Relação entre os edifícios construídos numa época mais antiga e os edifícios construídos numa época mais recente, geralmente expressa em percentagem.Para 2001 utilizou-se a relação entre os edifícios construídos até 1945 e os edifícios construídos após 1991.Para 2011 utilizou-se a relação entre os edifícios construídos até 1960 e os edifícios construídos após 2001.

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INDICADOR DESCRIçãO

POPULAÇÃO ESTRANgEIRA

População Residente Estrangeira Conjunto de pessoas de nacionalidade não portuguesa que sejam consideradas residentes em Portugal no momento da observação.

População Residente Estrangeira por Nacionalidade

Conjunto de pessoas de nacionalidade não portuguesa residentes em Portugal segundo a sua origem, compreendendo as opções: a) Espanha; b) União Europeia (sem Espanha); c) Brasil e Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP); d) Outro.

População Residente Estrangeira de Nacionalidade Espanhola

Conjunto de pessoas de nacionalidade não portuguesa residentes em Portugal originárias de Espanha.

EDUCAÇÃO

População Residente com Idade Igual ou Superior a 10 anos por Nível de Escolaridade

Grau de ensino completo mais elevado atingido pelo indivíduo, compreendendo as opções: a) Sem grau de ensino; b) 1.º Ciclo do Ensino Básico; c) 2.º Ciclo do Ensino Básico; d) 3.º Ciclo do Ensino Básico; e) Ensino Secundário; f) Ensino Pós-Secundário; g) Ensino Superior.

Taxa de Analfabetismo Relação entre a população com 10 ou mais anos que não sabe ler nem escrever, i.e., incapaz de ler e compreender uma frase escrita ou de escrever uma frase completa, e a população com 10 ou mais anos, geralmente expressa em percentagem.

População Residente com, pelo menos, o Ensino Básico (9 Anos de Escolaridade)

Relação entre a população com, pelo menos, o Ensino Básico (1.º, 2.º e 3.º Ciclos) e a população com idade igual ou superior a 14 anos, geralmente expressa em percentagem.

População Residente com um grau de Ensino Superior

Relação entre a população com um grau de Ensino Superior Completo e a população residente com idade igual ou superior a 21 anos, geralmente expressa em percentagem.

Taxa de Abandono Escolar Relação entre a população com idades entre 10 e 15 anos que abandonou a escola sem concluir o 9.º ano e a população com idade entre 10 e 15 anos, geralmente expressa em percentagem.

Estabelecimentos de Educação Pré-Escolar

Total de estabelecimentos de ensino regular, públicos ou privados, onde é ministrada a Educação Pré-Escolar, isto é, o subsistema de educação, de frequência facultativa, destinado a crianças com idades compreendidas entre os três anos e a idade de ingresso no Ensino Básico, realizado em estabelecimentos próprios, designados por jardins-de-infância, ou incluídos em unidades escolares em que é também ministrado o Ensino Básico.

SAÚDE

Médicos Relação entre o total de médicos inscritos no final de um ano e a população residente, geralmente expressa em médicos por 1 000 habitantes.

Enfermeiros Relação entre o total de enfermeiros inscritos no final de um ano e a população residente, geralmente expressa em médicos por 1 000 habitantes.

Farmácias e Postos Farmacêuticos Móveis

Relação entre o total de farmácias e postos farmacêuticos existentes no final de um ano e a população residente, geralmente expressa em médicos por 1 000 habitantes.

Taxa de Deficiência Relação entre a população com deficiência e a população residente total, geralmente expressa em percentagem.

População Residente com Idade Igual ou Inferior a 74 Anos com Dificuldades

População residente com idade igual ou interior a 74 anos com dificuldades, compreendendo as opções: a) Ver; b) Ouvir; c) Andar ou Subir Degraus; d) Memória ou Concentração; e) Tomar Banho ou Vestir-se Sozinho; f) Compreender os Outros ou Fazer-se Compreender.

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INDICADOR DESCRIçãO

EQUIPAMENTOS SOCIAIS

Creches Resposta social, desenvolvida em equipamento, de natureza socioeducativa, para acolher crianças até aos três anos de idade, durante o período diário correspondente ao impedimento dos pais ou da pessoa que tenha a sua guarda de facto, vocacionada para o apoio à criança e à família.

Creches para a População Infantil

Relação entre a população infantil, com idades entre 0 e 4 anos, e o número total de creches, expressa em crianças por creche.

Centros de Atividades Ocupacionais

Resposta social, desenvolvida em equipamento, destinada a desenvolver atividades para jovens e adultos com deficiência grave.

lares Residenciais Resposta social, desenvolvida em equipamento, destinada a alojar jovens e adultos com deficiência, que se encontrem impedidos temporária ou definitivamente de residir no seu meio familiar.

Centros de Dia Resposta social, desenvolvida em equipamento, que consiste na prestação de um conjunto de serviços que contribuem para a manutenção das pessoas idosas no seu meio sociofamiliar.

Centros de Dia para a População Idosa

Relação entre a população idosa, com idade igual ou superior a 65 anos, e o número total de centros de dia, expressa em idosos por centro de dia.

Estruturas Residenciais para Idosos

Considera-se estrutura residencial para pessoas idosas, o estabelecimento para alojamento colectivo, de utilização temporária ou permanente, em que sejam desenvolvidas atividades de apoio social e prestados cuidados de enfermagem. A estrutura residencial pode assumir uma das seguintes modalidades de alojamento: a) Tipologias habitacionais, designadamente apartamentos e ou moradias; b) Quartos e c) Tipologias habitacionais em conjunto com o alojamento em quartos.

Estruturas Residenciais para Idosos para a População Idosa

Relação entre a população idosa, com idade igual ou superior a 65 anos, e o número total de estruturas residenciais para idosos, expressa em idosos por estruturas residenciais.

Serviços de Apoio Domiciliário a Idosos

Resposta social, desenvolvida a partir de um equipamento, que consiste na prestação de cuidados individualizados e personalizados no domicílio a indivíduos idosos, isto é com idade igual ou superior a 65 anos, quando, por motivo de doença, deficiência ou outro impedimento, não possam assegurar temporária ou permanentemente, a satisfação das necessidades básicas e/ou as atividades da vida diária.

Serviços de Apoio Domiciliário para a População Idosa

Relação entre a população idosa, com idade igual ou superior a 65 anos, e o número total de serviços de apoio domiciliário, expressa em idosos por serviços de apoio domiciliário.

Emprego e Empresas

Taxa de Atividade Relação entre a população ativa que exerce uma profissão remunerada, cumpre serviço militar e está desempregada, e a população em idade ativa (com 15 ou mais anos), geralmente expressa em percentagem.

Taxa de Desemprego Relação entre a população ativa desempregada, e a população em idade ativa (com 15 ou mais anos), geralmente expressa em percentagem.

População Empregada por Setor de Atividade

Indivíduos empregados por setor de atividade, compreendendo as opções: a) primário; b) secundário; c) terciário.

População Empregada no Setor Terciário de Natureza Social

Relação entre os indivíduos empregados no setor terciário de natureza social e o total de indivíduos empregados no setor terciário, geralmente expressa em percentagem.

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INDICADOR DESCRIçãO

População Empregada pela Atividade Económica

Indivíduos ativos empregados segundo a atividade económica discriminada pela CAE, compreendendo as opções: a) Agricultura, Produção Animal, Caça, Floresta e Caça; b) Indústrias Extractivas; c) Indústrias Transformadoras; d) Construção; e) Comércio por Grosso e a Retalho e na Reparação de Veículos Automóveis e Motociclos; f) Transportes, Armazenagem e Comunicações; g) Alojamento, Restauração e Similares; h) Alojamento, Restauração e Similares; i) Atividades Financeiras e de Seguros; j) Administração Pública e Defesa e na Segurança Social Obrigatória; k) Educação; l) Atividades de Saúde Humana e Apoio Social; m) Outras Atividades.

População Empregada na Atividade de Agricultura, Produção Animal, Caça, Floresta e Caça

Relação entre os indivíduos ativos empregados na Agricultura, Produção Animal, Caça, Floresta e Caça e a população empregada, expressa em percentagem.

Total de Empresas Entidade jurídica (pessoa singular ou coletiva) correspondente a uma unidade organizacional de produção de bens e/ou serviços, usufruindo de uma certa autonomia de decisão, nomeadamente quanto à afectação dos seus recursos correntes. Uma empresa pode exercer uma ou várias atividades, em um ou em vários locais.

Empresas por Pessoal ao Serviço Pessoas que, no período de referência, participaram na atividade da empresa/instituição, qualquer que tenha sido a duração dessa participação, compreendendo as opções: a) Menos de 10 Pessoas; b) entre 10 a 49 Pessoas; c) entre 50 a 249 Pessoas; d) 250 ou Mais Pessoas.

RENDIMENTOS

Ganho Médio Mensal Montante ilíquido em dinheiro e/ou géneros, pago ao trabalhador, com carácter regular em relação ao período de referência, por tempo trabalhado ou trabalho fornecido no período normal e extraordinário. Inclui, ainda, o pagamento de horas remuneradas mas não efetuadas (férias, feriados e outras ausências pagas) e é geralmente expresso em Euros.

Poder de Compra Per Capita Indicador compósito que pretende traduzir o poder de compra em termos per capita, considerando o valor 100 como média do país.

Beneficiários do Rendimento Social de Inserção por 1 000 Habitantes em Idade Ativa

Relação entre os indivíduos beneficiários do Rendimento Social de Inserção (RSI) e a população média ativa, expressa em beneficiários de RSI por 1 000 ativos.

Pensionistas da Segurança Social por 1 000 Habitantes em Idade Ativa

Relação entre os pensionistas da Segurança Social e a população ativa, expressa em pensionistas por 1 000 ativos.

CUlTURA

Espectadores de Espectáculos ao Vivo por Habitante

Relação entre o indivíduo que possui direito de ingresso, pago ou gratuito, para uma sessão de espectáculo, vulgo espectador, e a população média anual residente.

Despesas em Cultura e Desporto Municipais

Valor, em milhares de Euros, gastos pelas Câmara Municipais para atividades culturais e desportivas.

Espectadores de Cinema por 1 000 Habitantes

Relação entre o indivíduo que possui direito de ingresso, pago ou gratuito, para uma sessõo de cinema, vulgo espectador de cinema, e a população média anual residente.

Média de Espectadores por Sessão de Cinema

Relação entre o indivíduo que possui direito de ingresso, pago ou gratuito, para uma sessão de cinema, vulgo espectador de cinema, num ano civil e o número de sessões de cinema num ano civil.

Receitas de Bilheteira de Cinema Valor, em milhares de Euros, conseguido pela venda de bilhetes para sessões de cinema num ano civil.

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ANExO II

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qUEsTIONáRIO – INqUÉRITO às ORgANIzAçõEs DO TERCEIRO sETOR

3º sETOR - ÉvORA

INTRODUÇÃO

O Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa (IGOT-UL) está a realizar um estudo sobre “Inovação Social nas Organizações do Terceiro Setor do Distrito de Évora”, para a Fundação Eugénio de Almeida.

No âmbito deste estudo, solicitamos a sua participação. Ela contribuirá não só para aprofundar o conhecimento sobre o Terceiro Setor, mas também para poder responder ao inquérito. Se tiver alguma dúvida não hesite em contatar-nos (email: [email protected]).

Agradecemos, desde já, a sua participação no presente inquérito.

Isabel André (coord.) e Sara Rêgo

IDENTIFICAÇÃO

1. Nome da entidade:

_________________________________________________________________________________

2. Morada:

_________________________________________________________________________________

3. Telefone:

_________________________________________________________________________________

4. Email:

_________________________________________________________________________________

5. Natureza jurídica:

_________________________________________________________________________________

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6. Data de constituição:

_________________________________________________________________________________

7. Domínio de intervenção:

_________________________________________________________________________________

8. Missão (princpiais objetivos):

___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

9. Principiais valores:

__ Solidariedade __ Interesse colectivo

__ Reciprocidade __ Diálogo Intercultural

__ Justiça social

__ Outro (especifique)

_________________________________________________________________________________

10. Que motivos levaram à constituição e desenvolvimento desta entidade?

__ Vontade da comunidade __ Profissionais

__ Religiosos __ Incentivos públicos

__ Familiares

__Outro (especifique)

_________________________________________________________________________________

ATORES E FUNÇÕES

RElATIVAMENTE AO PRESIDENTE DA DIREçãO (OU CARgO EQUIVAlENTE)

11. Sexo:

__ Feminino __Masculino

12. Idade:

_________________________________________________________________________________

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13. Nível de instrução:

__ Ensino básico/obrigatório

__ Ensino secundário

__ Ensino superior

14. Domínio de especialização (p.e. ação social, medicina, gestão, etc):

_________________________________________________________________________________

15. Fez formação complementar no domínio da gestão de organizações?

__ Sim __ Não

Se sim, em que entidade formadora fez essa formação?

_________________________________________________________________________________

RElATIVAMENTE À DIREçãO (OU óRgãO EQUIVAlENTE)

16. Quais as principais funções da direção?

__ Gestão financeira __ Gestão técnica __ Conceção de projetos

Outro (especifique):

_________________________________________________________________________________

17. Na direção participam:

__ Pessoas a título individual

__ Empresas

__ Organismos públicos

__ Entidades religiosas

__ Associações

Outro (especifique):

_________________________________________________________________________________

RElATIVAMENTE AOS COlABORAORES

18. Quantos colaboradores remunerados tem a entidade?

_________________________________________________________________________________

19. Qual a média de idades aproximada dos colaboradores?

__ Menos de 25 anos __De 35 a 44 anos __ De 55 a 64 anos

__ De 25 a 34 anos __De 45 a 54 anos __ Mais de 64 anos

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20. A maioria dos colaboradores tem:

__ Ensino básico/obrigatório

__ Enisno secundário

__ Ensino superior

21. Para além das suas tarefas específicas, os colaboradores também participam em:

__ Gestão financeira __ Gestão técnica __ Conceção de projetos

Outro (especifique):

_________________________________________________________________________________

22. Os colaboradores fizeram formação complementar no domínio da gestão de organizações?

__ Sim __ Não

Se sim, em que entidade formadora fez essa formação?

_________________________________________________________________________________

RElATIVAMENTE AOS VOlUNTÁRIOS

23. Quantos voluntários colaboram atualmente com a entidade?

_________________________________________________________________________________

24. Qual a média de idades aproximada dos voluntários?

__ Menos de 25 anos __ De 35 a 44 anos __ De 55 a 64 anos

__ De 25 a 34 anos __ De 45 a 54 anos __ Mais de 64 anos

25. A maioria dos voluntários tem:

__ Ensino básico/obrigatório

__ Enisno secundário

__ Ensino superior

26. Para além das suas tarefas específicas, os voluntários também participam em:

__ Gestão financeira __ Gestão técnica __ Conceção de projetos

Outro (especifique):

_________________________________________________________________________________

27. O trabalho voluntário é:

__ Regular __ Ocasional

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28. Os voluntários têm uma relação formalizada com a entidade?

__ Sim __ Não

Se sim, de que tipo? (especifique)

_________________________________________________________________________________

29. Os voluntários têm seguro?

__ Sim

__ Não

30. Como é que a entidade costuma captar os voluntários?

_________________________________________________________________________________

31. Os voluntários (ou alguns deles) têm formação em voluntariado?

__ Sim __ Não

Se sim, em que entidade adquiriram essa formação?

_________________________________________________________________________________

PROCURA (CLIENTES/UTENTES)

32. Quantos beneficiários tem atualmente a entidade?

_________________________________________________________________________________

33. São maioritariamente:

__ Mulheres

__ Homens

34. Qual é a média de idades aproximada dos beneficiários?

__ Menos de 14 anos __ De 35 a 44 anos __ De 65 a 74 anos

__ De 15 a 24 anos __ De 45 a 54 anos __ Mais de 74 anos

__ De 25 a 34 anos __ De 55 a 64 anos

35. Aproximadamente qual é o número de beneficiários:

Da mesma localidade (onde se encontra a entidade) _______

Do mesmo concelho _______

Do distrito de Évora _______

De outros distritos _______

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INOVAÇÃO SOCIAL NO TERCEIRO SETOR | O DISTRITO DE ÉVORA

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ATIVIDADES E PROjETOS

36. Qual é o principal domínio de ação?

__ Apoio social __ Produção artística

__ Ação cívica __ Desenvolvimento local

__ Atividades culturais

Outra (especifique)

_________________________________________________________________________________

37. Que atividades/respostas desenvolvem?

1. _______________________________________________________________________________

2. _______________________________________________________________________________

3. _______________________________________________________________________________

4. _______________________________________________________________________________

5. _______________________________________________________________________________

6. _______________________________________________________________________________

38. Qual o número de utentes/clientes em cada uma dessas atividades/respostas?

1. _______________________________________________________________________________

2. _______________________________________________________________________________

3. _______________________________________________________________________________

4. _______________________________________________________________________________

5. _______________________________________________________________________________

6. _______________________________________________________________________________

39. Nos últimos 2 anos surgiram novas atividades?

__ Sim __ Não

Se sim, quais? (especifique)

_________________________________________________________________________________

40. Nos últimos 2 anos apresentaram candidaturas de novos projetos?

__ Sim __ Não

Se sim, apresente sumariamente o(s) projeto(s) candidatado(s):

___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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FUNDAÇÃO EUGÉNIO DE ALMEIDA

41. Atualmente, têm projetos em parcerias com outras entidades?

__ Sim __ Não

Se sim, quais são as entidades parceiras?

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

42. Atualmente, integram alguma rede local (p.e. CLAS, Rede Social, Comissão Social de Freguesia, etc.)?

__ Sim __ Não

Se sim, quais? (especifique)

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

43. Atualmente, integram alguma rede de âmbito nacional ou internacional?

__ Sim __ Não

Se sim, quais? (especifique)

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

gESTÃO, PARTICIPAÇÃO E COMUNICAÇÃO

44. Quem identifica os projetos a desenvolver?

__ Direção __ Técnicos

__ Outro (especifique)

_________________________________________________________________________________

45. Quem prepara as candidaturas a novos projetos?

__ Direção __ Entidade externa

__ Técnicos

__ Outro (especifique)

_________________________________________________________________________________

46. As candidaturas são geralmente preparadas por:

__ Uma pessoa específica __ Uma equipa de trabalho

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INOVAÇÃO SOCIAL NO TERCEIRO SETOR | O DISTRITO DE ÉVORA

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47. A entidade tem relações próximas com:

__ Universidades/centros de investigação __ Empresas

__ Centros de formação __ Fundações

__ Agências de desenvolvimento nacionais

__ Agências de desenvolvimento europeias

__ Outro (especifique)

_________________________________________________________________________________

48. Como é feita a divulgação das atividades?

__ Folhetos __ Website/internet

__ Imprensa local __ Facebook

__ Cartazes/placards

__ Outro modo (especifique)

_________________________________________________________________________________

49. Na sua opinião, o que motiva as pessoas a escolherem esta entidade?

___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

50. Na sua opinião, as empresas privadas do concelho ou do distrito poderiam ter um papel mais ativo no desenvolvimento social ao nível local?

__ Sim __ Não

Se sim, como? (especifique)

___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

51. Qual a principal fonte de financiamento?

__ Remuneração pelos serviços prestados __ Subsídios das autarquias

__ Quotas dos sócios __ Apoios de empresas

__ Protocolos com o Estado (central e local) __ Outras receitas próprias

__ Apoios públicos a projetos

__ Outro (especifique)

_________________________________________________________________________________

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FUNDAÇÃO EUGÉNIO DE ALMEIDA

52. Qual é aproximadamente a parcela das receitas proveniente dos apoios públicos regulares? (refira a %)

_________________________________________________________________________________

53. A atual crise tem impactos no campo de ação da entidade?

__ Dimunuição do número de utentes __ Falta de recursos

__ Dívidas dos utentes __ Dificuldades institucionais (por exemplo com a Segurança Social)

__ Novos problemas e necessidade de novas respostas

__ Outro (especifique)

_________________________________________________________________________________

54. A atual crise abriu novas oportunidades?

__ Maior reflexão __ Novas colaborações

__ Mais solidariedade __ Reforço da implantação local

__ Outras (especifique)

_________________________________________________________________________________

INOVAÇÃO SOCIAL

55. No domínio em que trabalham e na área geográfica onde atuam, as principais necessidades não satisfeitas dizem respeito a:

__ Pobreza __ Falta de apoio à doença e incapacidade

__ Desemprego __ Pouca oferta cultural

__ Envelhecimento __ Inércia das autoridades públicas

__ Falta de apoio às crianças __ Fraco dinamismo local

__ Outros motivos (especifique)

_________________________________________________________________________________

56. A entidade já concebeu e pôs em prática algum projeto/iniciativa que considere inovador?

__ Sim __ Não

Se sim, qual ou quais? (especifique)

_________________________________________________________________________________

57. Conhece projetos/iniciativas especialmente inovadoras no campo de ação em que trabalham?

__ Sim __ Não

Se sim, qual ou quais? (especifique)

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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INOVAÇÃO SOCIAL NO TERCEIRO SETOR | O DISTRITO DE ÉVORA

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58. As atividades desenvolvidas têm alguma componente cultural ou artística?

__ Sim __ Não

Se sim, qual ou quais? (especifique)

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

59. Na sua opinião, seria interessante introduzir ou reforçar essa componente nas atividades?

__ Sim __ Não

Se sim, porquê? (especifique)

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

RELAÇÃO COM A FUNDAÇÃO EUgÉNIO DE ALMEIDA

60. Como caracteriza a relação da entidade com a Fundação Eugénio de Almeida (FEA)?

__ Não conhece __ Já tiveram projetos conjuntos

__ Conhece apenas de nome __ Tiveram apoios da FEA

__ Já colaboraram pontualmente

__ Outra (especifique)

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

61. Na sua opinião, a FEA deveria promover uma rede/plataforma do Terceiro Setor em Évora?

__ Sim __ Não

Porquê? (especifique)

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

62. A entidade que representa teria interesse em integrar essa rede/plataforma?

__ Sim __ Não

Se sim, quais as principais vantagens? (especifique)

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

63. Na sua opinião, quais deveriam ser as atividades a desenvolver em conjunto?

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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FUNDAÇÃO EUGÉNIO DE ALMEIDA

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INOVAÇÃO SOCIAL NO TERCEIRO SETOR | O DISTRITO DE ÉVORA

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fICHA TÉCNICA

Título | Inovação Social no Terceiro Setor | O Distrito de Évora

Autor | Instituto de Geografia e Ordenamento do Território – Universidade de Lisboa (IGOT-UL)

Edição | Fundação Eugénio de Almeida (FEA)

Coordenação geral | Maria do Céu Ramos

Coordenação de Projeto | Henrique Sim-Sim

Coordenação Científica | Isabel André

Equipa Técnica do IgOT-UL | Isabel André, Patrícia Rêgo, Sara Pedro-Rêgo, Bruno Osório

Consultores do IgOT-UL | Frank Moulaert e Jorge Malheiros

Equipa Técnica da FEA | Henrique Sim-Sim, Carla Lã-Branca, Ana Talhinhas

Revisão FEA | Carla Lã-Branca, Ana Talhinhas

Traduções | Sintraweb

Design Gráfico | Mindimage Design

Impressão | Onda Grafe - Artes Gráficas

ISBN | 978-972-8854-67-6

Depósito Legal | 379172/1

Tiragem | 1000 exemplares

© Fundação Eugénio de Almeida, 2013

Pátio de S. Miguel, Apartado 2001, 7001-901 Évora

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