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FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ - FIOCRUZ ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SERGIO AROUCA - ENSP PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA ANA LUÍSA PINHO PINTO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE E FISIOTERAPIA: REFLEXÕES ACERCA DA FORMAÇÃO DESTES PROFISSIONAIS Rio de Janeiro, 2011

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FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ - FIOCRUZ

ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SERGIO AROUCA - ENSP

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA

ANA LUÍSA PINHO PINTO

SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE E FISIOTERAPIA: REFLEXÕES ACERCA DA

FORMAÇÃO DESTES PROFISSIONAIS

Rio de Janeiro, 2011

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ANA LUÍSA PINHO PINTO

SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE E FISIOTERAPIA: REFLEXÕES ACERCA DA

FORMAÇÃO DESTES PROFISSIONAIS

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado como requisito parcial

para obtenção do Título de

Sanitarista, pela Escola Nacional de

Saúde Pública Sérgio Arouca/RJ.

Orientadora: Prof. Mônica de Rezende

Rio de Janeiro, 2011

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ANA LUÍSA PINHO PINTO

SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE E FISIOTERAPIA: REFLEXÕES ACERCA DA

FORMAÇÃO DESTES PROFISSIONAIS

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado como requisito parcial

para obtenção do Título de

Sanitarista, pela Escola Nacional de

Saúde Pública Sérgio Arouca/RJ.

Aprovado pela Banca Examinadora em _____ de ________________ de 2011.

Banca Examinadora:

Orientadora: Profa. MSc. Mônica de Rezende

Prof. MSc. Fernando Manuel Bessa Fernandes

Prof. Dr. Fábio Batalha Monteiro de Barros

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Aos meus pais, Ivanilda Maria

Pinho Pinto e Odenyr da Silva

Pinto, pelo exemplo de vida que

busco imitar em todos os momentos

de minha caminhada.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus que me iluminou com Sua sabedoria nos momentos difíceis

desta caminhada,

Agradeço imensamente aos meus pais Ivanilda e Odenyr pelo apoio incondicional; ao meu

irmão Fernando Igor pelas horas compartilhadas no computador; e aos meus tios Luzia e

Sandro pela presença e certeza do carinho de vocês por mim.

Ao meu namorado Lyverton, agradeço por dividir todas as angústias e as alegrias durante a

realização deste projeto.

Quero agradecer, aos meus colegas e professores de curso pela troca de conhecimento durante

todo o ano de 2010.

Agradeço ao suporte acadêmico oferecido pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio

Arouca, um dos motivos que nos torna orgulhosos de pertencer a esta Instituição.

À Ângela Vaamonde, pela atenção, carinho e escuta durante nossos encontros, aspectos que

foram fundamentais para a conclusão deste trabalho.

Às profas. Danielli Righetti, Fátima Figueiredo e Sheyla Torres por me apresentarem ao

mundo da Saúde Pública, como uma área possível de atuação do Fisioterapeuta.

Em especial, agradeço à Mônica Rezende, minha orientadora, que cumpriu exemplarmente o

seu papel de educadora, através de palavras que foram importantes não só para construção

deste trabalho, mas também que me guiaram para uma vida mais feliz e enriquecedora.

Enfim, a todos aqueles que contribuíram de uma forma ou de outra para a realização deste

trabalho.

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RESUMO

A crescente demanda da população por serviços de saúde de qualidade, associado à necessidade

de se discutir o tema da formação nas diversas profissões, visando adequá-las a esta demanda,

traz a importância de discutir a relação entre a formação de nível superior em Fisioterapia e o

Sistema Único de Saúde (SUS). Este trabalho caracteriza-se como uma pesquisa descritiva e

tem como objetivo qualificar a produção bibliográfica nacional sobre a relação entre a formação

de fisioterapeutas e sua atuação no SUS, no período de 1996 a 2010. Almeja contribuir para o

debate sobre a inserção deste profissional no SUS ao apontar, a partir da análise dos resultados,

questões que precisam ser aprofundadas em estudos futuros. Para atingir tais objetivos, foi

realizado um levantamento bibliográfico nas seguintes bases de dados: LILACS (Literatura

Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), SCIELO (Scientific Electronic Library

Online) e Banco de teses da Capes. Como resultado, foram encontradas 13 publicações, que

foram classificadas pelas variáveis ano, tipo de publicação e região em que foi publicada e pelas

categorias ‘diretrizes curriculares nacionais’, ‘responsabilidade do profissional’, ‘integralidade

em saúde’ e ‘concepções dos docentes na formação em Fisioterapia’. Verificou-se: um aumento

progressivo no número de publicações a partir do ano de 2005; maior quantidade de artigos em

relação aos outros tipos de publicações (monografias, dissertações e teses); importante

diferença entre as regiões federativas do Brasil, com maior prevalência de estudos na região Sul

(53,8%); e um maior número de publicações referentes à categoria ‘diretrizes curriculares

nacionais’. Foram destacadas diversas questões que giram em torno da aplicabilidade das

orientações das DCN nos projetos pedagógicos dos cursos; adequação dos docentes à realidade

do sistema de saúde; investigação dos modelos de atenção à saúde que estão sendo abordados

nos ambientes formadores; contribuição das Instituições de Ensino Superior de cunho particular

na articulação ensino, pesquisa, extensão/assistência; a possível influência da abrangência do

sistema de saúde das regiões na formação dos profissionais; além da discussão sobre a

responsabilidade de órgãos competentes da profissão na inserção da Fisioterapia nas ações do

sistema de saúde. Cabe aos fisioterapeutas aprofundar estas discussões na busca de identificar

a posição que a Fisioterapia deseja assumir diante do longo processo de consolidação do SUS.

Palavras-chaves: Fisioterapia, Sistema Único de Saúde, Ensino superior

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ABSTRACT

The growing population's demand for quality health services, associated with the need to

discuss the issue of training in various professions, by adapting them to this demand brings the

importance of discussing the relationship between the in education higher in Physiotherapy and

National Health System (SUS). This work is characterized as a descriptive and aims to qualify

the production national literature on the relationship between the training of therapists and their

performance in the SUS in the period 1996 to 2010. Aims to contribute to the debate on the

integration of training in the SUS point, the results from the analysis of issues that need to be

deepened in future studies. To achieve these objectives, a survey was conducted in the following

bibliographic databases: LILACS (Latin American and Caribbean Health Sciences), SciELO

(Scientific Electronic Library Online) and Bank of the CAPES.

As a result, we found 13 publications, which were classified by the variables year, publication

type and region in which it was published and the categories' national curriculum guidelines',

'professional responsibility', 'full health' and 'conceptions of teachers in training in physical

therapy. " It was found: a progressive increase in the number of publications since the year

2005, increased number of articles in relation to other types of publications (monographs, theses

and dissertations); important difference between the regions of Brazil, with higher prevalence

of studies in the South (53.8%) and a greater number of publications for the category 'national

curriculum guidelines. " We highlighted several issues that revolve around the applicability of

the guidelines of the DCN in the pedagogical projects; suitability of teachers to the reality of

healthcare, research models of health care that are being addressed in environments trainers

contribution of university Superior special flavor in teaching, research, extension / assistance,

the possible influence of the coverage of health care regions in the training, besides the

discussion on the responsibility of the competent organs of the profession in the insertion of

Physiotherapy in the actions of the system health. It is up to therapists deepen these discussions

in order to identify the position you want to take the Physiotherapy before the long process of

consolidation of the SUS.

Keywords: Physiotherapy, National Health System, Higher education

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 08

1.1. OBJETIVO GERAL..............................................................................................10

1.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS................................................................................ 10

2. REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................................. 11

2.1. HISTÓRICO DA FORMAÇÃO UNIVERSITÁRIA EM SAÚDE NO BRASIL: DA

CRIAÇÃO DOS PRIMEIROS CURSOS ÀS DIRETRIZES CURRICULARES

NACIONAIS ............................................................................................................................ 11

2.2. A FORMAÇÃO EM FISIOTERAPIA NO BRASIL .............................................. 17

2.2.1. Construção da Profissão e da Formação Universitária ................................. 17

2.2.2. Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduação em Fisioterapia

22

2.3. A FORMAÇÃO UNIVERSITÁRIA EM FISIOTERAPIA E O SISTEMA ÚNICO

DE SAÚDE .............................................................................................................................. 24

3. CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS .......................................................................... 28

4. DISCUSSÃO ........................................................................................................................ 31

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 38

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 40

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1. INTRODUÇÃO

Atualmente, a formação dos profissionais em saúde é apontada como assunto relevante

nas discussões acerca da formulação de políticas públicas voltadas para o setor. A preocupação

com a formação em consonância com as diretrizes e princípios do sistema de saúde se

fundamenta pela necessidade em se adaptar às transformações do perfil epidemiológico e

demográfico brasileiros, a fim de corresponder às reais necessidades de saúde da população

(Ceccim e Carvalho, 2006). Diante dos atuais debates acerca da formação destes profissionais,

verifica-se a importância em discutir a relação da formação em Fisioterapia, como profissão

pertencente à área da saúde, com a atuação dos fisioterapeutas no sistema público de saúde

brasileiro.

A Fisioterapia como profissão de nível superior foi regulamentada no Brasil no ano de

1969, através do Decreto-Lei nº 938 e desde então, assegura ao profissional a execução de

métodos e técnicas terapêuticas, a fim de restaurar, desenvolver e conservar a saúde do paciente.

Com atividades que circundam a assistência à saúde, direção e supervisão no âmbito dos

serviços e magistério, a Fisioterapia avançou ao longo dos anos, fato este que se revelou através

da expansão da oferta de cursos de graduação, inserção de inúmeros profissionais no mercado

de trabalho, e de um conseqüente aumento no seu campo de atuação.

Apesar da origem da profissão ser descrita pela necessidade de conferir uma resposta à

sociedade em torno dos excessivos casos de poliomielite e inúmeros acidentes de trabalho

evidenciados no país (Rebelatto e Botomé, 1999), atualmente a Fisioterapia é vista como uma

profissão capaz de atuar não apenas na reabilitação das doenças, mas também nos diversos

níveis de atenção, colaborando para uma atenção integral à saúde da população. Rezende et al

(2009, p. 1409), ao referirem-se à atuação do fisioterapeuta na atenção básica, através de sua

integração às equipes de Saúde da Família, apontam que “a integração de profissionais de

várias categorias nas equipes de saúde permite distintos olhares, ampliando as possibilidades

inovadoras das práticas do cuidado e aumentando o potencial de resolutividade”.

Ao se relacionar com a saúde da população, a Fisioterapia se aproxima do Sistema Único

de Saúde (SUS), de modo a compartilhar de uma concepção de saúde ampliada. Esta forma de

compreender a saúde começa a se consolidar no Brasil, ainda na década de 1970, através do

movimento de Reforma Sanitária, que juntamente com eventos realizados nos anos seguintes,

admitindo a saúde como direito social, atuam na constituição do sistema de saúde brasileiro.

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O SUS é o sistema nacional de saúde brasileiro, regulamentado pelas Leis Orgânicas nº

8.080 e nº 8.142 de 1990, que trata das ações de saúde, organização e funcionamento dos

serviços, sob a forma de princípios e diretrizes (BRASIL, 1990). Através do SUS, as ações em

saúde visam intervir nas condições de vida da população, com a finalidade de melhoria da

qualidade de vida.

Com uma nova forma de compreender a saúde da população, a discussão acerca da

adequação dos profissionais de saúde torna-se fundamental. Assim, as instituições de ensino

superior (IES) em saúde, emergem como importante instrumento para as ações do SUS. Com a

finalidade de proporcionar a aproximação da Educação Superior com os desígnios do SUS,

desde o ano 2000 as orientações para os cursos de graduação encontram-se pautadas nas

Diretrizes Curriculares Nacionais, que propõe a formação de egressos/profissionais de saúde

com ênfase na promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde.

A crescente demanda da população por serviços de saúde de qualidade, associado à

necessidade de se discutir o tema da formação nas diversas profissões, inclusive na Fisioterapia

- visando adequá-las à esta demanda - foram motivos importantes que levaram à realização

deste trabalho.

Ao iniciar minha vida acadêmica, ainda na graduação, me identifiquei instantaneamente

com o ideário da saúde pública, por intermédio do contato com esta disciplina. A expectativa

de ampliar meu conhecimento em torno da atuação da Fisioterapia nessa área era algo que se

acentuava com o passar dos períodos letivos. Posteriormente, ao término da graduação, no

intuito de confirmar minha vontade de atuar na área, procurei o Curso de Especialização em

Saúde Pública, da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP – FIOCRUZ). Tal

curso contribuiu não só na minha formação como profissional, mas também como cidadã. O

ponto fundamental que me incitou à realização deste trabalho foi a ausência, na minha

graduação, de certos assuntos relevantes para o entendimento do sistema de saúde, como

exemplo: sua história e construção social. Dúvidas ligadas ao reconhecimento por parte das IES

quanto à importância da formação generalista do profissional de Fisioterapia para as ações

coletivas em saúde orientaram a minha questão de pesquisa: como procede, no espaço

acadêmico, a discussão acerca da formação em Fisioterapia e sua atuação no SUS?

1.1. OBJETIVO GERAL

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Analisar a produção bibliográfica nacional sobre a relação entre a formação de

fisioterapeutas e sua atuação no SUS, no período de 1996 a 2010.

1.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Caracterizar as Diretrizes Curriculares Nacionais quanto a formação dos

profissionais fisioterapeutas voltada para sua atuação no SUS;

realizar levantamento bibliográfico em bases de dados nacionais, no período de

1996 a 2010, referente à relação entre a formação de profissionais de fisioterapia

e sua atuação no SUS e;

qualificar a produção bibliográfica levantada.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. HISTÓRICO DA FORMAÇÃO UNIVERSITÁRIA EM SAÚDE NO BRASIL: DA

CRIAÇÃO DOS PRIMEIROS CURSOS ÀS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS

A compreensão da trajetória educacional de ensino superior na sociedade brasileira

inicia-se com a transferência da Família Real, fato que trouxe um importante legado cultural à

sede da colônia e acarretou na criação dos primeiros cursos superiores, porém limitados ao

município da Corte (Rio de Janeiro) e à Bahia (Vieira e Farias, 2007). São inicialmente criados

cursos ligados à defesa militar e à saúde, como a primeira faculdade de medicina, que trouxe a

preocupação com a institucionalização de programas de ensino e com a normalização da prática

médica em conformidade com os moldes europeus (Baptista, 2007). No decorrer dos anos, até

o Brasil República, são instituídos vários cursos, dentre eles, os de medicina, Farmácia e

Odontologia, que caracterizavam, na época, a educação superior em saúde no país (Ceccim e

Carvalho, 2006).

O final do século XIX foi caracterizado por importantes fatos políticos para a sociedade

brasileira, com destaque para o advento da República. A educação superior em saúde

apresentou como aspecto marcante o paradigma biologicista (anatomoclínica e fisiopatologia).

Este fato perdurou pelo século XX, principalmente através da reforma do ensino médico

ocorrida no início do século nos Estados Unidos (entre 1910 e 1920), pelo Relatório de

Abraham Flexner, defendendo um ideal científico na formação de cursos médicos que seria

extensivo a todos os cursos identificados com o conhecimento técnico-científico em saúde. Tal

relatório considerava que a formação em saúde deveria ser pautada através da atenção

hospitalar, com apelo para as especialidades e para a clínica da doença (Ceccim e Carvalho,

2006).

No período republicano, a preocupação com a educação é expressa através de diversos

projetos de reformas, marcados pela oscilação entre a influência científica e a humanística

clássica, representado por sucessivos documentos legislativos, com o intuito de organizar o

ensino instituído (Vieira e Farias, 2007). Baptista (2007) afirma que neste período, inicia-se um

maior incentivo às pesquisas nas faculdades de Medicina, além da criação de institutos de

pesquisa, como o Instituto Soroterápico Federal, criado em 1900, sendo nomeado como

Instituto Oswaldo Cruz cerca de um ano após sua criação.

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No período getulista, as reformas continuam a surgir no cenário educacional, porém

com traços de autoritarismo e centralizadoras, aspectos marcantes dos anos 1930. Nesta mesma

época a educação passa a constituir objeto de maior interesse político, sendo criado o Ministério

de Educação e Saúde. Uma das primeiras medidas adotadas, constituiu na instituição do ensino

superior inserido ao sistema universitário, além de tratar também da organização técnica e

administrativa das universidades, observando os dispositivos do Estatuto das Universidades

Brasileiras, definidos no mesmo texto. (Vieira e Farias, 2007).

Ainda na era Vargas, ocorre a promulgação de duas constituições: 1934 e 1937. Em

termos gerais, a Constituição de 1934 - no tocante à educação - traz entre seus artigos

orientações, tanto laicas quanto religiosas, a defesa da escola pública, e também a preservação

de privilégios das instituições privadas. Com a mudança social imposta pelas forças ditatoriais,

em 1937 o país recebe uma nova Constituição; que confere uma posição de omissão do Estado

à algumas modalidades de ensino, priorizando o ensino profissionalizante nas reformas da

época (ensino este, direcionado à população mais pobre, enquanto que o acesso ao ensino

secundário era conferido à uma parcela menor - às elites) (Vieira e Farias, 2007).

As diretrizes educacionais criadas na década de 1930 orientaram o sistema de ensino até

a configuração da Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em 1961, através

da promulgação da Lei nº 4.024/61. Ao tratar da nova LDB de 1961, Vieira e Farias (2007,

p.115) afirmam que, na tentativa de associar interesses distintos num só texto, “surge uma lei

que mais favorece a ideologia da escola privada, do que o aprimoramento da escola pública”.

Vale ressaltar que, no mundo, entre os anos 1950 e 1960, desponta um novo movimento

(iniciado na Inglaterra e disseminado pelos EUA e Canadá) que aponta a formação como

estratégia para transformação das práticas de saúde: o movimento preventivista, onde “as

necessidades de saúde da população são apresentadas como o mote para a transformação da

educação dos profissionais de saúde” (Ceccim e Carvalho, 2006, p.80). Entretanto, os mesmos

autores afirmam que não houve o acompanhamento de forma relevante pelo sistema de

educação das necessidades apontadas. No Brasil, em 1953, ocorre a separação dos setores saúde

e educação, sendo instituídos os Ministérios da Saúde e da Educação e Cultura. A partir de

então, na área da saúde, houve a criação de diversos órgãos responsáveis pelo combate de

doenças, utilizando-se das campanhas sanitárias como forma de intervenção (Paim, 2009).

Em 28 de novembro de 1968, através da Lei Federal nº 5.540, foram fixadas as normas

de organização e funcionamento do ensino superior e sua articulação com a escola média

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(BRASIL, 1968), conhecida como a Reforma Universitária. Surge a definição do currículo

mínimo para as instituições, lei que vigorou até a aprovação da LDB em 1996. O currículo

mínimo representava um conjunto de atividades, com desenvolvimento a ser realizado em

período definido, carga horária prefixada, composto por disciplinas obrigatórias e eletivas

(Ceccim e Carvalho, 2006).

Como salientam Vieira e Farias (2007), a Reforma Universitária representou uma

resposta à uma crescente demanda de acesso ao ensino superior, de modo especifico pelas

camadas médias da população, e também procurou conter uma expansão desordenada deste

nível de ensino, a fim de prover meios para uma melhoria na educação universitária, além de

manter sob controle a participação estudantil na época, que vivia num momento conturbado -

em pleno regime militar brasileiro. Vale ressaltar que desponta desta Lei a indissociabilidade

entre ensino e pesquisa, dentre outras medidas. Outra reforma acompanha o período, com o

intuito de assegurar ainda mais o controle da demanda pelo ensino superior, a chamada Reforma

do ensino de 1º e 2º graus, que fomentava a formação de quadros técnicos de nível médio (Vieira

e Farias, 2007).

A Reforma Universitária de 1968 introduziu a abertura de departamentos, disciplinas,

setores e/ou áreas de ensino da saúde pública, principalmente nos cursos de Medicina,

Odontologia e Enfermagem. Assim, contribuiu para a contestação da prática biomédica vigente,

além de representar a noção de um movimento organizado de mudança na educação dos

profissionais de saúde (Ceccim e Carvalho, 2006).

Com relação à oferta no ensino superior, a contenção da “expansão desordenada” ou

ainda, a observância às exigências estabelecidas na reforma de 1968, na verdade não ocorreu.

Houve um expressivo aumento dos cursos em instituições privadas, principalmente entre 1962

e 1973, fato que se acentuou em decorrência da própria política educacional adotada no período

militar, com forte contribuição da LDB de 1961 e das reformas criadas no período. Nesta

década, alguns cursos de formação da área de saúde, antes com enfoque técnico-profissional,

ascendem à formação técnico-científica, motivando a pesquisa e a incorporação tecnológica

(Ceccim e Carvalho, 2006). Como exemplo, o curso de Fisioterapia, objeto de estudo deste

trabalho. Vieira e Farias (2007, p.134) salientam que, tal aumento resultou da prática de

estabelecimentos isolados, que ofereciam cursos de baixo custo, sem muitas pretensões de

qualidade de ensino - “o que parecia satisfazer à demanda reprimida por educação superior

por parte das camadas médias da população”.

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Após um período de pleno desenvolvimento econômico no país, apelidado de “milagre

econômico” (1967/68-1973), inicia-se uma fase de recessão econômica, que emerge junto com

a crise do petróleo em 1973, deflagrando diversos movimentos sociais que demonstravam

insatisfação com o momento político vivido (Vieira e Farias, 2007). Para o setor saúde, esta

época constituiu-se como um dos importantes marcos para a política brasileira: num momento

de crise política, institucional e econômica protagonizada pelo regime militar vigente, o

“movimento sanitário”, formado por intelectuais do setor saúde que se estabeleciam em

diversas instituições acadêmicas do país, fortalecia suas bases a partir da divulgação de estudos

sobre as condições sociais e de saúde da população, reivindicando mudanças efetivas na

assistência à saúde no Brasil. O ideal da Reforma Sanitária Brasileira (RSB) trazia consigo um

novo pensamento sobre o papel do Estado, pautado no direito universal à saúde. Versava sobre

uma gestão administrativa e financeira descentralizada para estados e municípios, além da

função do Estado de promotor da participação e controle social das ações em saúde (Baptista,

2007).

A RSB apresentava outros relevantes aspectos acerca da proteção à saúde, como o

desenvolvimento da cultura e educação (Paim, 2009). A fim de garantir a consolidação e

manutenção de tais ideais, a RSB, enfatiza a importância de realizar uma ruptura com o

reducionismo do modelo hegemônico vigente em 1970 (modelo médico-centrado e

hospitalocêntrico), curativo e voltado à atenção individual, debatendo sobre a necessidade de

novas práticas sanitárias que incorporassem o conceito da integralidade e uma visão ampliada

do processo saúde-doença. Para Baptista (2007), inicia-se neste momento no Brasil, a

ampliação do debate sobre o direito à saúde, a começar pela própria concepção de saúde.

Na década de 1980, instituiu-se o retorno do estado democrático. Especificamente em

1986, ocorre a realização da VIII Conferência Nacional de Saúde (CNS) que traz a tona (para

a realidade brasileira da época) um conceito ampliado da saúde, no qual a mesma é entendida

como um conjunto de determinantes das condições de vida, alimentação, lazer, acesso e posse

da terra, transporte, emprego e moradia, com o discurso da garantia da saúde como direito de

todos e dever do Estado (BRASIL, 1986). A VIII CNS representou um importante instrumento

na discussão sobre saúde acerca da elaboração da nova Constituição Federal, promulgada em

outubro de 1988, onde a saúde passou a ser reconhecida como um “direito de todos e dever do

Estado” (BRASIL, 1988, art. 196). Paim (2009) aponta que, embora o direito à saúde tivesse

sido difundido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1948, no Brasil, somente na

“Constituição Cidadã” de 1988 houve o reconhecimento da saúde como direito social.

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A partir das propostas da VIII CNS instituiu-se o Sistema Unificado e Descentralizado

de Saúde (Suds), que foi o primeiro passo para a construção do atual sistema de saúde brasileiro

– o Sistema Único de Saúde (SUS). O SUS foi regulamentado através da Lei Orgânica da Saúde

em 19 de setembro de 1990 (Lei nº 8.080/90), e devido aos vetos sofridos, esta lei foi

complementada em 28 de dezembro do mesmo ano, pela Lei nº 8.142/90.

Segundo Paim (2009), o SUS pode ser definido como:

“O conjunto de ações e serviços públicos de saúde, compondo uma rede regionalizada

e hierarquizada, organizada a partir das diretrizes da descentralização,

integralidade e participação da comunidade. É uma forma de organizar as ações e

os serviços de saúde através dos dispositivos estabelecidos pela Constituição da

República e pelas leis subseqüentes” (p.51).

A partir da instituição do SUS, o Estado se compromete a garantir, mediante políticas

sociais e econômicas, a redução do risco de doença e de outros agravos, além do acesso

universal e igualitário às ações e serviços de saúde (BRASIL, 1988, art. 196). Paim (2009)

afirma que, ao considerar os fatores determinantes e condicionantes para a saúde, a Lei 8.080/90

reconhece a dimensão social da mesma, adotando, então, um conceito ampliado, já visto nas

propostas da RSB ainda na década de 1970, e propagado na VIII CNS.

Após estes fatos, houve a necessidade de se pensar numa formação dos profissionais de

saúde adequada aos novos princípios e diretrizes propostos. Ceccim e Carvalho (2006) afirmam

que tais debates foram instigados, principalmente, pela Constituição Federal, que passou a

determinar que o setor saúde fosse o ordenador da formação dos seus profissionais.

Em 1996, após oito anos de discussão, é aprovada a nova LDB através da Lei nº 9.394

de 20 de dezembro de 1996, onde o governo federal assume a definição da política educacional,

descentralizando sua execução para os Estados e municípios (Vieira e Farias, 2007). Ceccim e

Carvalho (2006) ressaltam que a partir da nova LDB, o arranjo disciplinar se dá pela perspectiva

das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN):

“(as DCN) incentivam a maior flexibilidade dos desenhos curriculares, a liberdade

para organizar as atividades de ensino e a diversidade das formações pela ampla

participação nas realidades locais de saúde e ativa participação estudantil” (p.77).

Para constituição das novas DCN para os cursos de graduação, em 1997, foi divulgado

o edital nº4/97, pelo Ministério da Educação e do Desporto (MEC) por intermédio da Secretaria

de Educação Superior (SESu), com o objetivo de convocar as Instituições de Ensino Superior

(IES) a apresentar suas propostas, sob a justificativa de atender ao inciso II da Lei nº 9394/96

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(LDB). Desta convocação, foi elaborado um relatório por uma comissão de especialistas e

encaminhado ao Conselho Nacional de Educação / Câmara de Educação Superior.

Além do relatório encaminhado pelo SESu, a constituição das DCN teve como

referência diversos documentos (BRASIL, 2001), que vão desde a Constituição de 1988; a Lei

Orgânica da Saúde; até os vários documentos apresentados pela Organização Panamericana de

Saúde (OPAS), OMS e Rede Unida.

Assim, com um processo iniciado em 1997, a educação nacional, especificamente os

cursos de graduação da área da saúde, entre os anos 2001 a 2004, passam a ter como orientação

as DCN (Ceccim e Carvalho, 2006). Estas foram criadas com o objetivo de garantir a qualidade

da formação, gerar desenvolvimento intelectual e promover em cada estudante uma capacidade

crítica-reflexiva, a partir de reflexões éticas e humanistas, com direcionamento para atitudes

cidadãs; dentre outras ações (BRASIL, 1997).

Uma das justificativas encontradas para resolução das DCN é de que os cursos de

graduação teriam que deixar de ser meros transmissores de conhecimento, passando a assumir

a posição de formadores capazes de preparar os futuros profissionais para as intensas

transformações da sociedade. Os objetivos propostos levam em consideração o aumento da

garantia de capacidade de autonomia e discernimento dos futuros profissionais, buscando a

integralidade da atenção e a qualidade e humanização do atendimento prestado aos indivíduos,

famílias e comunidades (BRASIL, 2001). Assim, a caracterização do SUS é apresentada no

contexto das DCN como um caminho para a proposta de formação.

Com as propostas das DCN, bem como a partir dos debates iniciados ainda no século

XX, alavancados por diversas reuniões científicas em torno do tema educação e ciências da

saúde, surgiram algumas iniciativas nacionais, a partir de 2003, com o intuito de intensificar a

articulação entre a educação e o SUS, são eles: os Pólos de Educação Permanente em Saúde

para o SUS, as vivências e estágios para os estudantes de graduação na realidade do SUS (VER-

SUS), o AprenderSUS que liga o SUS e os cursos de graduação da área da saúde, além do

EnsinaSUS que busca articular o ensino da integralidade na área da saúde (Ceccim e Carvalho,

2006). Além desses exemplos, evidenciam-se ações como o Programa Nacional de

Reorientação da Formação Profissional em Saúde (Pró-Saúde) que soma esforços em busca de

reorientação da formação profissional, assegurando uma abordagem integral do processo saúde-

doença; e o Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (Pet-Saúde) que fomenta a

integração ensino-serviço-comunidade, através do incentivo à atuação de estudantes nas

equipes de Saúde da Família.

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2.2. A FORMAÇÃO EM FISIOTERAPIA NO BRASIL

2.2.1. Construção da Profissão e da Formação Universitária

Apesar de alguns recursos da Fisioterapia, amplamente utilizados atualmente, datarem

desde a antiguidade (4.000 A.C), foi a partir do século XX que surgiram os primeiros cursos de

Fisioterapia no mundo, em consequência do elevado número de seqüelas, seja em decorrência

das grandes guerras, acidentes de trabalho ou acometimentos por doenças (Freitas, 2006).

Com a formação dos primeiros médicos no Brasil, influenciados por suas viagens ao

continente europeu, começam a surgir os primeiros traços da Fisioterapia, ainda no século XIX.

Estudiosos afirmam que os primeiros serviços que surgiram foram hidroterapia e eletricidade

médica (hoje, eletroterapia) entre 1879 e 1883. Neste período, a Fisioterapia era vista com

entusiasmo pela classe médica, sendo alvo de várias disputas pelo seu conhecimento e domínio

(Barros, 2002).

Segundo este autor, em 1884 foi organizado, no Hospital de Misericórdia do Rio de

Janeiro, através da cooperação do médico Arthur Silva, o primeiro serviço de Fisioterapia da

América do Sul. Já em 1919, o médico Raphael Penteado de Barros fundou o departamento de

eletricidade médica, onde futuramente se constituiria a Universidade de São Paulo (USP), e o

médico Waldo Rolim de Moraes, em 1929, instalou o Serviço de Fisioterapia do Instituto

Radium Arnaldo Vieira de Carvalho.

No decorrer dos anos, vários outros médicos, participaram da história da Fisioterapia

através de contribuições; sejam elas pela criação de departamentos de Fisioterapia, ou ainda

relatos acerca de estudos sobre os benefícios dos novos recursos terapêuticos. A respeito da

participação médica nos primeiros estudos da Fisioterapia, Freitas (2006) salienta que:

“[...] reflete a característica de uma medicina voltada para a prática que valorizava

o desenvolvimento das especializações, [...] e a compartimentalização do corpo, além

da tendência do enquadramento da Fisioterapia como um recurso terapêutico a ser

desenvolvido e/ou, no máximo, uma nova especialização médica em construção”. (p.

30)

Dois fatores relevantes que ocorreram na primeira metade do século XX contribuíram

para a construção do campo de trabalho da Fisioterapia; são eles: a preocupação com os casos

de acidentes de trabalhos e a epidemia de poliomielite (Freitas, 2006)

Com a crise de 1929, ocorreu no Brasil a decadência da cafeicultura e a ascendência da

indústria, o que trouxe como conseqüência a intensificação da atividade industrial no país. Com

a mudança nos meios de produção, algumas questões iniciaram uma fase de preocupações

sociais, como as perdas das funções laborais de pessoas inseridas no ambiente de trabalho,

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sejam elas por acidentes ou por doenças ocupacionais (Freitas, 2006). Segundo Rebelatto e

Botomé (1999), o Brasil apresentava um dos maiores índices de acidentes de trabalho da

América do Sul.

Na década 1950, a incidência de poliomielite encontrava-se alta no país, o que gerava

um elevado número de portadores de seqüelas (Barros, 2002). Tal surto atingiu a população

independente de sua classe social (Freitas, 2006). Diante do contexto apresentado, passou a

existir uma demanda por serviços de reabilitação, que configurava na necessidade de reinserir

na sociedade os indivíduos acometidos pelos agravos citados anteriormente. Começava a

configurar-se então, as primeiras definições da Fisioterapia, apoiando-se nas medidas

reabilitadoras (Rebelatto e Botomé, 1999), como resposta a uma demanda social.

A formação em Fisioterapia no Brasil acontece num momento em que a constatação da

ausência de estudos e práticas leva a necessidade de implementar uma proposta que levasse a

uma resposta social eficaz e eficiente para a possível retomada dos indivíduos aos seus meios

produtivos (Freitas, 2006). Em 1951, foi criado o curso para a formação de técnicos de

Fisioterapia (Barros, 2002), chamados de fisioterapistas - denominação originária do termo

physiotherapist, utilizado pela escola anglosaxônica - no Hospital de Clínicas de São Paulo

(Almeida, 2008).

No Rio de Janeiro, em 1954, ocorreu a criação da Associação Beneficente de

Reabilitação (ABBR) e, em 1956, teve início o primeiro curso com a intenção de formar

Fisioterapeutas e Terapeutas Ocupacionais, com duração de dois anos e formação de dezesseis

fisioterapeutas.

Nesta mesma época, na Universidade de São Paulo (USP), acontece o primeiro curso

para formação superior de fisioterapeutas, que estabeleceu convênios com a Organização

Panamericana de Saúde (OPAS)/Organização Mundial de Saúde (OMS) e a World

Confederation for Physical Therapy para garantir a participação de fisioterapeutas estrangeiros

como docentes (Freitas, 2006).

A partir de então, a formação superior em Fisioterapia no Brasil se expande preocupada

em preparar “um profissional que atuasse de forma quase que exclusiva em centros de

reabilitação, nas seqüelas físico-funcionais apresentadas pelos pacientes.” (Freitas, 2006, p.

36).

Apesar da formação de fisioterapeutas se apresentar como superior, suas funções eram

restritas à execução do tratamento prescrito pelo médico e o fisioterapeuta apresentava-se como

um “auxiliar médico” (Galvão, 1999 apud Barros, 2002).

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Em 1959, funda-se a Associação Brasileira de Fisioterapia (ABF) cujo um dos objetivos

era colaborar para o aprimoramento do ensino da profissão, o que durante toda a década de

1960 buscou-se colocar em prática através das tentativas de estruturar a profissão a partir de

uma formação mais adequada aos interesses da categoria, além do objetivo de obter o

reconhecimento do Estado (Barros, 2002). Neste mesmo ano, na Assembléia Geral da ABF,

decidiu-se adotar a terminologia fisioterapeuta para aqueles que se formavam nos cursos

ministrados (Almeida, 2008).

Na década de 1960, a partir da solicitação da ABBR e do Instituto de Reabilitação da

USP, o Conselho Federal de Educação estabeleceu o currículo mínimo para a formação

universitária em Fisioterapia no país, através do Parecer 388/63 homologado através da Portaria

511/64 do Ministério da Educação e Cultura (MEC), (Barros, 2002). Apesar de ter sido

elaborado com a finalidade de redimensionar o currículo de formação do fisioterapeuta, o

referido parecer trouxe certas limitações quanto à atuação deste profissional. Barros (2002)

destaca dois trechos do citado parecer:

“[...] A referida Comissão insiste na caracterização desses profissionais como

auxiliares médicos que desempenham tarefas de caráter terapêutico sob a orientação

e a responsabilidade do médico [...] Não compete (ao fisioterapeuta e terapeuta

ocupacional) o diagnóstico da doença ou da deficiência a ser corrigido. Cabe-lhes

executar, com perfeição, aquelas técnicas, aprendizagem e exercícios recomendados

pelo médico...” (p.39)

Segundo Figuerôa (apud Barros, 2002), o parecer trouxe avanços para a profissão

quanto à duração mínima de três anos para os cursos e carga horária mínima de 2.160 horas,

porém trouxe também a reafirmação do profissional de Fisioterapia como apenas um auxiliar

médico. Freitas (2006) aponta que a análise do Parecer 388/63 leva a intenção de desqualificar

os profissionais de Fisioterapia, que por uma ausência de Lei regulamentadora da profissão,

seria considerado como técnico.

Como efeito do parecer de 1963, houve imediatamente, o crescimento da mobilização

da categoria de fisioterapeutas quanto à busca da autonomia profissional através de uma lei

própria, aliados às ações da ABF em torno do mesmo propósito.

Em 13 de outubro de 1969 a Fisioterapia e a Terapia Ocupacional foram finalmente

reconhecidas como profissões de nível superior através do Decreto-Lei nº 938. O presente

Decreto representou uma grande vitória para a Fisioterapia, mostrando-se fundamental para

desenvolvimento da profissão no país. Dentre seus artigos, institui o exercício dos

fisioterapeutas como profissionais de nível superior, caracterizando suas atividades de cunho

privativo, através da restauração, desenvolvimento e conservação da capacidade física do

paciente. Além disso, instituiu a atuação de fisioterapeutas em cargos de direção de órgãos e

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serviços públicos e/ou particulares, e previu sobre a capacidade de exercer o magistério nas

disciplinas tanto de formação básica quanto de nível médio ou superior e a atuação na

supervisão de alunos e profissionais (BRASIL, 1969).

Freitas (2006) aponta que embora os documentos representassem avanços quanto à

profissão, ambos apresentavam lacunas quanto à participação dos profissionais de saúde na

redação das suas propostas, o que segundo o autor, pode levar a uma discussão não tão ampla

sobre as necessidades da Fisioterapia e dos fisioterapeutas. Talvez, uma das principais

conseqüências de tal fato, seja a afirmação levantada pelo mesmo autor acerca do Decreto de

1969:

“[...] apesar da essência desse documento estar voltada para a garantia do exercício

profissional do fisioterapeuta como um profissional autônomo e/ou liberal, acabou

reforçando a concepção de que o trabalho do fisioterapeuta estaria restrito aos níveis

de atenção à saúde na qual a capacidade física das pessoas já estivesse

comprometida.” (p.43)

Apesar da conquista do Decreto-Lei ainda se fazia necessário colocar em prática os

direitos adquiridos pelos fisioterapeutas. Foi então que, através da ABF, houve a realização de

projetos para a constituição dos Conselhos Regionais de Fisioterapia, aprovados seguidamente

por intermédio da Resolução do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional –

COFFITO, nº 01, de 11 de dezembro de 1977. Foram aprovadas as normas para instalação e

organização dos primeiros Conselhos Regionais, com a função de normatizar e fiscalizar o

exercício profissional da Fisioterapia em todo o país (COFFITO, 1977). A partir da criação dos

conselhos, foram instituídas várias resoluções, dentre elas a que aprova as normas para

habilitação do exercício das profissões de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Resolução

COFFITO 08) e a Resolução COFFITO 10, que trata do código de ética da profissão

(COFFITO, 1978).

A década de 1980 foi atravessada por incessantes disputas travadas pela Sociedade

Brasileira de Medicina Física e Reabilitação e o Conselho Federal de Medicina – CFM e os

Conselhos e Associação de Fisioterapia. A ação judicial movida pelos órgãos ligados a

Medicina, tinha como objetivo contestar a constitucionalidade dos artigos 3o e 4o do Decreto-

Lei 938/69 e do Parágrafo Único do artigo 12 da Lei 6.316/75. Estes artigos contestados

tornavam os métodos e técnicas fisioterápicas privativas do fisioterapeuta, o que obrigava às

empresas (inclusive as que pertencessem aos médicos) que prestassem serviços de fisioterapia

à inscrição no respectivo Conselho da profissão, ficando estas empresas, sob o poder normativo

e fiscalizador do Conselho de Fisioterapia (Barros, 2002). Como desfecho, a autonomia dos

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profissionais de Fisioterapia permaneceu garantida, bem como a obrigação das empresas que

prestam serviços de Fisioterapia nos conselhos da categoria.

Retornando especificamente para o tema da formação do fisioterapeuta, ainda

encontrava-se em vigência desde 1963 o currículo mínimo que estabelecia a formação do

fisioterapeuta como auxiliar médico, dentre outras particularidades já mencionadas. A partir de

1983 (até o ano de 2001), inicia-se a vigência de um novo currículo mínimo que previa a

formação com duração mínima de 4 anos e máxima de 8 anos, carga horária de 3.240 horas, e

estabelecia-se em torno de 4 ciclos de matérias (quadro 1):

Quadro 1: Ciclo de matérias instituídas a partir do novo currículo mínimo

Biológicas Biologia, Ciências morfológicas, Ciências fisiológicas e

Patologias

Formação Geral Sociologia, Antropologia, Psicologia, Ética e Deontologia;

Introdução à Saúde Humana, compreendendo Saúde pública;

Metodologia de Pesquisa Científica, incluindo Estatística.

Pré-

profissionalizantes

Fundamentos de Fisioterapia, Avaliação funcional; Fisioterapia

geral; Exercício terapêutico e Reeducação funcional; Recursos

terapêuticos manuais

Profissionalizante Fisioterapia aplicada às condições neuro-músculo-esqueléticas;

fisioterapia aplicada às condições Cárdio-pulmonares,

fisioterapia aplicada às condições Gineco-obstétricas e

pediátricas fisioterapia aplicada à pediatria; fisioterapia aplicada

às condições sanitárias, incluindo fisioterapia preventiva; estágio

supervisionado, constando de prática de fisioterapia

supervisionada. Fonte: Adaptado de Barros (2002)

A década de 1990 apresentou diversas resoluções e legislações oriundas do Ministério

da Saúde e do COFFITO em torno do reconhecimento e da valorização da Fisioterapia. Segundo

Barros (2002), “esta quantidade de resoluções, portarias e decretos vinham consolidando o

campo assistencial da Fisioterapia cada vez mais, reconhecendo legalmente, o que o

fisioterapeuta já fazia, na prática, há anos atrás”. (p. 54)

Ao tratar da expansão do ensino da profissão, tem-se na segunda metade da década de

1990, um aumento exponencial dos cursos ofertados, de 63 para 115 cursos equivalentes a 80%

de aumento; tendência que prevaleceu entre 1999 e 2003 aumentando de 115 para 298 a

quantidade de cursos (cerca de 159% de aumento em apenas 5 anos), quando em 2008 o número

de cursos alcançou o patamar de 479 (Bispo Júnior, 2009).

Além da constatação do forte crescimento no ensino da profissão, no período de 1995 a

2003, de acordo com Pereira e Almeida (2006), a distribuição desses cursos no país não se deu

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de forma equilibrada, isto porque as regiões Sul e Sudeste concentravam juntas cerca de 70%

dos cursos de Fisioterapia, enquanto que a Região Nordeste apresentou diminuição de cursos

no decorrer do período e uma melhora pouco expressiva nas Regiões Norte e Centro-Oeste.

Um dos pontos que motivaram tal situação foi a ampliação da oferta de cursos. Pereira

e Almeida (2006) apontam a grande expansão da oferta de graduação do setor privado em

relação ao público, principalmente a partir de 1998. Macedo et al (2005) salienta que a

consequência da ampliação do número de cursos se deu de forma desordenada, gerando baixa

qualidade no ensino e o desequilíbrio entre áreas de conhecimento e entre as regiões geográficas

do país.

A partir das mudanças no cenário social brasileiro, principalmente no setor saúde -

iniciadas ainda na década de 1980, a preocupação em repensar os modelos de formação

adotados nas instituições de ensino superior no país tornou-se marcante. Com a aprovação da

nova Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional em 1996, o ensino de graduação em

Fisioterapia, através da Resolução nº 4 de 19 de fevereiro de 2002, passa a ser orientado pelas

Diretrizes Curriculares Nacionais; com fundamento no Parecer CES 1.210/2001.

2.2.2. Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduação em Fisioterapia

As DCN para os cursos de graduação em Fisioterapia têm por objetivos definir os

princípios, fundamentos, condições e procedimentos da formação de fisioterapeutas, para

aplicação em âmbito nacional na organização, desenvolvimento e avaliação dos projetos

pedagógicos dos cursos das IES. Considera como perfil profissional:

“[...] o Fisioterapeuta, com formação generalista, humanista, crítica e

reflexiva, capacitado a atuar em todos os níveis de atenção à saúde,

com base no rigor científico e intelectual. Detém visão ampla e global

[...] Capaz de ter como objeto de estudo o movimento humano em todas

as suas formas de expressão e potencialidades [...] objetivando a

preservar, desenvolver, restaurar a integridade de órgãos, sistemas e

funções [...] (BRASIL, 2002).” (p.11)

Além disso, apresenta dentre outras competências, a atenção à saúde onde o

fisioterapeuta dentro de seu âmbito profissional, deve estar apto a desenvolver ações de

prevenção, promoção, proteção e reabilitação da saúde, tanto em nível individual quanto

coletivo, sensibilizados e comprometidos com o ser humano, atuando multiprofissionalmente

(BRASIL, 2002).

O texto sobre a aprovação das DCN para os cursos de fisioterapia destaca, dentre seus

artigos, a necessidade da formação de um profissional comprometido com o contexto social,

que deve atender ao sistema de saúde vigente. Para isso selecionam vários conteúdos - ditos

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essenciais, com associação na prática, instituída por estágios curriculares: - conhecimentos

biológicos, sociais e humanos, biotecnológicos e fisioterapêuticos (BRASIL, 2002).

Quanto às obrigações das IES, cabe promover um projeto pedagógico para seus cursos

de graduação, tendo como consciência a busca pela formação integral e adequada através de

uma articulação entre o ensino, a pesquisa e a extensão/assistência. Todavia, as mesmas podem

flexibilizar e aperfeiçoar as suas propostas curriculares, considerando o contexto sócio-

econômico em que se enquadram, mas sempre sob a responsabilidade de assegurar uma

formação generalista (BRASIL, 2002).

Ceccim e Feuerwerker (2004) discutem a importância do papel das IES ao afirmarem

que a universidade exerce um “mandato público”, entendendo-se que suas ações devem ser

geridas de acordo com os interesses da sociedade. Acrescentam, ainda, que a relevância pública

da saúde (definida constitucionalmente) deveria representar uma exceção quando se trata de

autonomia das IES.

O papel das DCN para a graduação na área de saúde, esbarra no modelo de formação

adotado e propagado desde a criação dos cursos superiores, que considera o processo saúde-

doença apenas como um processo biológico; o que gera grandes desafios no cumprimento das

diretrizes.

No caso específico da fisioterapia, não há registros de sua inclusão nas discussões sobre

as transformações no sistema de saúde promovidas até a instituição do SUS. Tal fato, somado

à necessidade da auto-afirmação da profissão no cenário da saúde, leva a um maior desafio de

instituir mudanças no campo de trabalho, bem como na concepção de uma formação

direcionada para as propostas do SUS (Freitas, 2006).

Apesar das DCN instituírem uma proposta norteadora para os cursos de graduação,

Ceccim e Feuerwerker (2004) ressaltam que:

“[...] considerando-se as transformações ocorridas no mundo do

trabalho e da produção de conhecimento, torna-se fundamental firmar

uma política pública de mudança na graduação para que as diretrizes

constitucionais do SUS e as diretrizes curriculares nacionais

pertençam à obediência às normas gerais da União e à observância às

diretrizes gerais pertinentes ou atinentes, como prevê a LDB (Lei das

Diretrizes Básicas)”. (p. 1403)

As DCN, assim como as diretrizes do SUS e os movimentos de mudança na formação

dos profissionais de saúde, trazem as perspectivas da existência de IES comprometidas com as

questões de relevância social (Pinheiro e Ceccim, 2006). Deste modo, as DCN para os cursos

de Fisioterapia apresentam, além de uma orientação para as IES, um caminho que insere o

fisioterapeuta nos serviços de saúde pública de uma forma integral e humanizada, propondo

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transformações em sua atuação. Traz, desta forma, grandes desafios aos atores sociais

envolvidos na formação (entendendo-se as universidades, os docentes, os responsáveis pela

elaboração das políticas e os próprios alunos):

1) romper com um modelo enraizado na assistência curativa e;

2) promover, no âmbito da formação, ações que envolvam os futuros profissionais com as

demandas provenientes do sistema de saúde, entendendo que o agir transformador se inicia com

o pensamento crítico e reflexivo de tais questões que irão determinar o resignificado de suas

práticas na saúde pública.

2.3. A FORMAÇÃO UNIVERSITÁRIA EM FISIOTERAPIA E O SISTEMA ÚNICO DE

SAÚDE

Atualmente, a tentativa de compreender o processo saúde-doença a partir de um

conceito amplo de saúde busca ultrapassar as dimensões biológicas, tão propagadas no início

da formação na área de saúde. Assim, uma formação que considera a saúde como uma área que

abrange as questões sociais, ambientais, biológicas e comportamentais como determinantes das

condições de saúde da população está comprometida com o ideário difundido pelo projeto da

Reforma Sanitária que contribuiu para a formulação do atual sistema de saúde brasileiro, além

de cumprir com a orientação das DCN.

Para Rebelatto e Botomé (1999), o objeto de trabalho do setor saúde ainda está muito

enraizado na doença, “obscurecendo a totalidade desse objeto que são as condições de saúde”

(p.17). Tais autores consideram que na Fisioterapia esse problema é acentuado: “há uma

absoluta atenção à doença” (p.18).

Em contrapartida, observa-se nos princípios do SUS a preocupação de alcançar a

universalidade de acesso em todos os níveis de assistência, garantindo a integralidade da

mesma, que vem a ser entendida como um conjunto das ações e serviços preventivos e

curativos, individuais e coletivos (BRASIL, 1988). Baptista (2007) complementa que com a

reforma no sistema de saúde, os profissionais devem incorporar e construir uma nova concepção

de saúde, com a necessidade de compreender o indivíduo no contexto da coletividade e dos

problemas que dela emana. O que vale questionar diante desse quadro é: como a formação em

Fisioterapia se posiciona diante dos desafios propostos pelo SUS?

Como visto anteriormente, a própria origem da Fisioterapia se deu pela necessidade de

tratar indivíduos doentes, direcionando sua atuação para atividades curativas. As características

educacionais da maioria das instituições de ensino em saúde, induzidas pelo desenvolvimento

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do modelo flexneriano - onde predomina a transmissão do conhecimento tecnicista, sólida

formação em ciências básicas, centralidade na figura do professor, a pouca ênfase nos aspectos

de prevenção e promoção da saúde, com especial atenção médica individual e estímulo a

aprendizagem dentro do ambiente hospitalar (Freitas, 2006); também contribuíram para a visão

limitada da Fisioterapia como profissão voltada apenas para a cura e reabilitação de doenças

(Bispo Júnior, 2009). Essas considerações levam a refletir sobre as conseqüências do tipo de

formação para os futuros profissionais e para a população.

As IES e outras instituições formadoras vêm sendo pressionadas por mudanças no

processo de formação que visam maior articulação com o sistema de saúde, devendo propagar

o conceito, diretrizes e princípios do SUS, bem como estar em conformidade com as DCN. Esta

necessidade de mudança decorre das novas exigências em relação ao perfil dos profissionais e

como conseqüência, da reconstrução do papel social da universidade (Ceccim e Feuerwerker,

2004). Barros (2002) enfatiza que neste contexto de mudanças, o fisioterapeuta pode ter um

papel de destaque, participando efetivamente de uma equipe multidisciplinar contribuindo na

organização dos serviços de saúde, porém o que se percebe é a participação secundária da

profissão; e isso pode ser instituído no próprio ambiente formador pela falta de interesse nas

disciplinas de cunho social, em decorrência da quase exclusividade de interesses pelas

disciplinas “técnicas”.

Cabe ressaltar que a tentativa de aproximar fisioterapeutas das demandas populacionais

em saúde não pode ser exclusivamente através das práticas reabilitadoras, cabe a profissão

adequar-se à nova lógica de organização dos modelos de atenção e ao atual perfil

epidemiológico da população (Bispo Júnior, 2009). Um dos documentos que versam sobre as

atividades de fisioterapeutas para além da assistência curativa (além das DCN) é o Código de

Ética da profissão que institui ao Fisioterapeuta a assistência ao homem, tanto em atividades de

promoção, tratamento e recuperação da sua saúde, bem como a participação em programas de

assistência à comunidade (BRASIL, 1978).

Como forma de adaptação a esta nova realidade, a Associação Brasileira de Ensino em

Fisioterapia (ABENFISIO) desenvolveu Oficinas de Implementação das DCN em cooperação

com a Organização Pan Americana da Saúde e o Ministério da Saúde/Departamento de

Educação e Gestão em Saúde, com o objetivo de contribuir para a mudança do enfoque da

formação do fisioterapeuta. Uma de suas questões norteadoras foi como desenvolver a

integração entre o SUS e formação acadêmica (ABENFISIO, 2007).

Freitas (2006) aponta que a instituição das DCN coloca a Fisioterapia no campo da

atenção primária à saúde, desafiando-a a resignificar os valores e práticas da profissão; e

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trazendo para o campo da sua formação a responsabilidade de organizar sua metodologia de

ensino e currículo em torno das demandas sociais e das políticas públicas de saúde.

Contudo, segundo Da Silva e Da Ros (2007) ainda existe uma escassez de documentos

tanto oficiais (dos ministérios) como da própria categoria profissional indicando o espaço de

atuação do fisioterapeuta no SUS.

Apesar de esforços trazidos pela aplicabilidade das DCN e dos conselhos e associações

ligadas às profissões de saúde, novos rumos parecem ser necessários para reais mudanças na

formação dos profissionais adequados à realidade da atenção integral à saúde. Da Silva e Da

Ros (2007) salientam a necessidade de:

“[...] políticas claras do SUS, pautadas por suas diretrizes, devem indicar ações

orientadas para a mudança na formação dos profissionais [...] ser capaz de ir além

das declarações de intenção e da existência formal de propostas, instâncias ou

estruturas. Tem de ser capaz de convocar o pensamento crítico e o compromisso de

todos os atores (docentes, estudantes, gestores de saúde e de educação, conselheiros

de saúde e movimentos sociais), além de oferecer possibilidades de interferência real

no processo de formação profissional.” (p.1405).

Cunha (2006) é enfática ao afirmar que a formação em graduação dos futuros

fisioterapeutas, apesar de obter melhoria da qualidade com o passar dos anos, ainda permanece

enraizada na simples transmissão de técnicas de tratamento e de receitas de procedimentos a

serem aplicados, onde a desarticulação entre teoria e prática e a ausência de preparação desses

futuros profissionais para atuarem em pesquisas e em questões relacionadas ao ensino de novos

profissionais, são os maiores problemas encontrados neste processo de formação. Bispo Júnior

(2009) afirma que a consolidação das DCN na orientação da formação em Fisioterapia se

caracteriza como instrumento imprescindível para a garantia da qualidade de ensino,

direcionada de acordo com a realidade epidemiológica e com os novos modelos de atenção à

saúde.

A Fisioterapia tem, instituído nas DCN, um grande desafio em torno da mudança da

formação dos seus profissionais. Como um caminho a ser seguido, os responsáveis por tal

formação devem estar imbuídos de um espírito transformador, comprometidos com a

sociedade, com a ética de suas ações e identificados com a necessidade de cumprimento do

papel da profissão na área da saúde.

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3. CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS

Esta pesquisa caracteriza-se como uma pesquisa descritiva, “na qual o pesquisador

limita-se a descrever o fenômeno observado, sem inferir relações de causalidade entre as

variáveis estudadas” (Appolinário, 2004, p.153).

Para produção dos objetivos da pesquisa, foram realizados debates e estudos

preliminares sobre algumas questões que apontavam, inicialmente, para o estudo de bases de

dados (BD). As perguntas que norteavam o tema eram: o que são as BD; quais as principais

bases que trabalham com educação e saúde; e como se dá a organização de uma base de dados.

O mesmo foi feito para o estudo das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) a fim de

esclarecer questões que apontavam para sua definição, constituição e relação com o SUS.

Na primeira fase, foi realizada análise documental do texto das DCN para o curso de

graduação em Fisioterapia, com o intuito de identificar, neste documento, a relação da formação

do profissional com a sua atuação no SUS. Este estudo permitiu delimitar o recorte do período

da pesquisa, pois a partir dele foi possível identificar a Lei que rege o sistema educacional

brasileiro: Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996 que versa sobre a Lei das Diretrizes Básicas

da Educação; incluindo no período selecionado para a pesquisa a aprovação das Diretrizes

Curriculares para os Cursos de Fisioterapia, no ano de 2002, através da Resolução CNE/CES

4/2002. Estes fatos são importantes, pois constituem avanços para a educação superior no país,

além de a aprovação das DCN se apresentar como um ponto relevante para a discussão acerca

da formação em Fisioterapia e sua relação com o sistema de saúde brasileiro.

Em seguida, iniciou-se o processo de busca bibliográfica (BB), utilizando como

ferramenta o serviço de BB da Biblioteca de Saúde Pública da ENSP, a fim de delimitar as

bases de dados a serem pesquisadas, bem como as palavras-chaves a serem utilizadas. Optou-

se por bases de abrangência nacional e latina, já que o intuito da pesquisa é identificar as

publicações nacionais que discutem o tema proposto. As bases selecionadas foram: LILACS

(Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), SCIELO (Scientific

Electronic Library Online) e Banco de teses da Capes.

A LILACS possui um vasto índice bibliográfico das ciências da saúde, considerando

países da América Latina e Caribe. Foram utilizadas as palavras-chaves formacao and

fisioterapia (palavras) and SUS com acesso em março de 2011.

A base SCIELO foi selecionada por possuir publicações que elencam países latinos,

bem como o Brasil, além de indexar importantes periódicos de educação e saúde. Para a busca,

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em março de 2011, foram utilizadas as palavras-chaves formacao and fisioterap$ and

graduação and SUS.

Foi observado, nesta fase, um grande número de textos sobre a proposta da pesquisa,

que tinham como características serem publicações referentes a trabalhos acadêmicos, como

monografias, dissertações e teses. Assim, o Banco de Teses da Capes foi selecionado como

base para o estudo. Nesta base, acessada também em março de 2011, utilizou-se as seguintes

palavras-chaves: fisioterapia, graduação, sistema único de saúde.

Após a busca bibliográfica, foi realizado um trabalho de organização das publicações

selecionadas, considerando-se os seguintes tópicos: palavras-chaves utilizadas, título da

publicação, base de dados pesquisada, ano da publicação, objetivo do trabalho, resumo e

questões-chaves da pesquisa. Para tal organização, trabalhou-se através de tabelas

disponibilizadas pelos recursos do programa Excel – 2007, elencando as publicações por ordem

alfabética.

Foram considerados como aspectos relevantes para a análise: os anos das pesquisas, as

regiões federativas onde as mesmas foram realizadas e os tipos das publicações (artigo,

monografia, dissertação ou tese). Pretende-se com tais discussões, fomentar o debate acerca da

importância da realização de tais estudos pertinentes à formação do fisioterapeuta; utilizando-

se da qualificação da produção bibliográfica levantada.

Como forma de análise dos dados levantados, utilizou-se do estudo criterioso dos

resumos, onde buscou-se trabalhar com as questões que se apresentaram mais evidentes e

apontadas com maior freqüência nestas leituras. Considera-se com isso, selecionar as categorias

que se mostraram mais relevantes nos estudos, ao tratar do tema da formação do fisioterapeuta

relacionada ao SUS. A partir desta análise, foram destacadas as seguintes categorias: diretrizes

curriculares nacionais, a responsabilidade do profissional, a integralidade em saúde e as

concepções dos docentes na formação do fisioterapeuta.

Observam-se na categoria “diretrizes curriculares nacionais” publicações que discutem

a importância e real aplicação das diretrizes na formação dos fisioterapeutas. Na categoria

“responsabilidade do profissional” foram incluídas publicações que referem-se à co-

responsabilidade da profissão e, conseqüentemente dos fisioterapeutas, na mudança de

abordagem da formação, a fim de constituir a inserção da profissão nos moldes do que preconiza

o sistema de saúde no Brasil. Além disso, é apontada a adequação das resoluções dos órgãos de

Fisioterapia no tocante à consonância com as políticas e programas que incentivam a formação

voltada aos moldes do SUS. A categoria “integralidade em saúde” é composta por publicações

que tratam sobre a formação pautada na complexidade do ser humano, somados à artigos que

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discutem a formação em Fisioterapia a partir da ótica da integralidade - como um dos princípios

do SUS. Por fim, a categoria “concepções dos docentes na formação do fisioterapeuta” é

justificada a partir de publicações que falam sobre a necessidade da formação adequada de

docentes para o ensino em Fisioterapia articulado com os preceitos do SUS, que consideram a

importância dos docentes no processo de transformação da formação em Fisioterapia.

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4. DISCUSSÃO

A organização dos dados obtidos com a pesquisa em distintas tabelas possibilitou tanto

a análise dos resultados que serão expostos e discutidos a seguir, quanto a qualificação da

produção bibliográfica sobre o tema, no período estudado.

Inicialmente, foi possível observar que todas as publicações inseridas no corpus da

análise datam dos anos 2000, especificamente a partir do ano de 2005. De 1996 a 2004 não

foram identificadas publicações; foi encontrada uma única publicação em 2005, outra em 2006,

2 em 2007 e em 2008, 3 em 2009 e 4 em 2010, totalizando 13 publicações (Tabela 1).

Tabela 1: Anos das Publicações

Ano Número de publicações % 1996 0 0

1997 0 0

1998 0 0

1999 0 0

2000 0 0

2001 0 0

2002 0 0

2003 0 0

2004 0 0

2005 1 7,7

2006 1 7,7

2007 2 15,4

2008 2 15,4

2009 3 23

2010 4 30,8

Total 13 100

Fonte: Elaboração própria

Foi verificado um aumento progressivo no número de publicações, chegando a 4 no ano

de 2010, 30,8% do total.

Os resumos pesquisados sugerem relação entre os anos de suas publicações e o período

da instituição das DCN no ano de 2002, caracterizado como fato histórico para o contexto da

formação em saúde. Este dado indica que a discussão em torno das novas diretrizes para a

formação dos profissionais de saúde produziu algum efeito impulsionador em fisioterapeutas

que estavam olhando ou passaram a olhar para saúde pública como um campo de atuação e de

pesquisa. Cabe uma reflexão sobre como adequar os projetos pedagógicos dos cursos às

diretrizes deste novo campo, em torno de propostas articuladas entre os diversos atores

participantes deste processo (discentes, docentes, coordenadores de cursos, gestores públicos);

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com vistas a tornar as propostas das DCN uma realidade nos cursos de Fisioterapia. Outro ponto

que leva ao questionamento é como analisar a atuação de associações e órgãos legisladores da

Fisioterapia em torno das estratégias pertinentes às mudanças na formação do profissional, de

acordo com as DCN.

Nota-se que, apesar de ter havido um crescimento significativo no número de cursos a

partir da segunda metade da década de 1990 - cerca de 80% de aumento, como afirma Bispo

Júnior (2009), não houve, em tal período, publicações acerca da discussão sobre a formação em

Fisioterapia e sua relação com o SUS. Esta constatação destaca a importância de se refletir, nos

dias de hoje, acerca da posição da Fisioterapia diante do processo de consolidação do sistema

único de saúde: que lugar a profissão deseja assumir nas propostas do SUS? Como forma de

discutir tal questão, tem-se na universidade um dos caminhos para aproximação da profissão

com o sistema de saúde público.

Outra observação importante a ser feita a respeito dos trabalhos publicados refere-se aos

tipos de publicações. Dentre as 13 publicações, havia 7 artigos científicos (cerca de 53,8% do

total), 1 monografia, 4 dissertações e 1 capítulo de livro (Tabela 2)

Tabela 2: Anos e tipos de publicações

Ano Artigo Monografia Dissertação Capítulo de

Livro

2005 0 0 1 0

2006 0 0 0 1

2007 2 0 0 0

2008 0 0 2 0

2009 1 1 1 0

2010 4 0 0 0

Total 7 1 4 1

% 53,8 7,7 30,8 7,7

Fonte: Elaboração própria

Observou-se uma quantidade relevante de artigos em relação aos outros tipos de

publicações, sendo importante considerar que caracteriza-se como a totalidade das publicações

no ano de 2010. Este fato sugere identificar o motivo crescente do interesse de pesquisadores

acerca da discussão da relação entre formação em Fisioterapia e o SUS.

Entretanto, cabe ressaltar que a publicação de 2005 é uma dissertação de mestrado. Tal

fato é relevante, tendo em vista que a publicação de uma dissertação em um determinado ano

significa o início de um estudo dois anos antes. Desta forma, se lembrarmos que as DCN para

Fisioterapia foram aprovadas em 2002, percebe-se que o interesse pela discussão, neste caso,

iniciou-se logo em seguida.

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Identificou-se a ausência de teses de doutorado acerca da relação entre a formação de

Fisioterapia e o sistema de saúde, no período selecionado para a pesquisa. Tal fato corrobora

com o achado de Coury e Vilella (2009), de que há um predomínio das áreas biológicas na

formação dos pesquisadores fisioterapeutas. Isso incita a reflexão sobre a carência de pesquisas

da Fisioterapia na área de saúde pública, o que se torna relevante à medida que se observa a

instituição de um campo crescente de atuação, que é o cenário do SUS, com muitos aspectos a

serem debatidos e com grande necessidade de participação multiprofissional.

Os mesmos autores constatam, ainda, que a maioria dos pesquisadores fisioterapeutas

escolhe as universidades particulares como área de atuação, sendo poucos os profissionais que

se fixam em órgãos públicos ou institutos de pesquisa. Contudo, ao apurar as instituições nas

quais foram produzidos os trabalhos científicos (monografia e dissertações), nota-se a ausência

de universidades particulares como fonte institucional das publicações encontradas. Foram

localizados 2 órgãos federais e 3 órgãos estaduais: Escola de Saúde Pública do Rio Grande do

Sul, Universidade Estadual de Londrina, Universidade Federal de São Paulo, Universidade do

Vale do Itajaí e Universidade Federal do Rio Grande. Tal achado indica que, apesar de ser

menor o número de pesquisadores preocupados com as questões da fisioterapia inseridos em

órgãos ou institutos de pesquisa públicos, são eles que estão produzindo sobre a relação entre a

formação do fisioterapeuta e sua atuação no SUS. Isso revela a importância de se investigar a

relação ‘instituições de ensino superior (IES) públicas e privadas versus modelo de atenção à

saúde utilizado como referência para atuação profissional’. E, também, ao considerar as

orientações das DCN, cabe questionar acerca da contribuição das IES particulares, em torno da

articulação entre o ensino, a pesquisa e a extensão/assistência.

Outras questões podem ser levantadas em torno da carência de pesquisadores

fisioterapeutas estudando a relação entre a formação da Fisioterapia e sua atuação no SUS:

como propor incentivos que levem a maior inserção de fisioterapeutas em áreas de pesquisas,

onde os mesmos não estão fortemente inseridos, como a própria área de saúde pública; como

se pode pensar em inserir o fisioterapeuta pesquisador neste campo? Cabe considerar se os

fomentos, como auxílios e bolsas, são suficientes para real adequação do profissional nas

propostas da área de saúde pública.

A respeito dos artigos publicados, há uma predominância de publicações em revistas

cientificas que abordam temas de abrangência da área de Fisioterapia: Fisioterapia em

Movimento, Fisioterapia e Pesquisa, Fisioterapia Brasil. Apenas um dos trabalhos foi publicado

na Revista Ciência e Saúde Coletiva, editada pela Associação Brasileira de Pós-Graduação em

Saúde Coletiva (ABRASCO). As revistas editam suas publicações em períodos diversos, desde

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trimestral, bimestral até mensalmente, e todas apresentam indexações em mais de uma base de

dados, nacionais e internacionais.

Das revistas próprias da área de Fisioterapia, 2 delas são publicações de cursos da área

de saúde de instituições de ensino: uma do curso de Fisioterapia da Pontifícia Universidade

Católica do Paraná e outra da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, particular

e pública, respectivamente. Este dado propõe a reflexão a respeito da contribuição das

universidades na propagação da pesquisa em Fisioterapia.

No que se refere às Regiões do país, observou-se significativa prevalência de estudos

na região Sul, num total de 7 publicações. As demais se apresentaram da seguinte forma: 2 no

Sudeste, 1 no Nordeste, 2 no Centro-Oeste e nenhuma na região Norte. Em uma das publicações

analisadas não foi possível obter tal informação (Tabela 3).

Tabela 3: Regiões das Publicações

Regiões Número de publicações % Sul 7 53,8

Sudeste 2 15,3

Nordeste 1 7,6

Centro-Oeste 2 15,3

Norte 0 0

Não identificado 1 7,6

Total 13 100

Fonte: Elaboração própria

Observa-se uma significativa diferença entre as regiões federativas, além da ausência

ou insuficiência de estudos relacionados à formação de fisioterapeutas e o SUS em algumas

regiões. A região Sul representa um volume de publicações muito maior quando relacionado às

outras regiões, cerca de 53,8% das publicações. Cabe refletir acerca o porquê desta disparidade.

Vale afirmar que, além das diferenças espaciais, sociais e econômicas entre as regiões

brasileiras, também são evidenciadas diferenças nas ofertas de serviços de saúde, e isto pode

indicar possíveis considerações acerca dos dados encontrados nesta pesquisa. Estes fatos

conduzem para uma questão que pode influenciar na formação dos profissionais de saúde: a

menor ou insuficiente abrangência do sistema de saúde público em algumas regiões pode

apontar para uma desqualificação da formação em saúde voltada aos preceitos do SUS? Pode-

se pensar que o melhor desenvolvimento social e cientifico de algumas regiões, contribui para

o maior número de publicações encontradas, trazendo a tona elementos importantes que podem

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auxiliar na qualidade da formação como, maior acesso às bolsas de incentivo, a programas de

formação, etc.?

Cabe ressaltar que, com relação ao local de editoração dos periódicos, observou-se que

3 das 4 revistas, são editadas em estados da região Sudeste, sendo a outra editada na região Sul.

Este dado leva ao questionamento acerca da necessidade de se promover formas de incentivo

às editoras científicas das diversas regiões, no tocante à contribuição da divulgação de estudos

na área de Fisioterapia e às demais áreas da saúde.

A análise dos resumos permitiu criar quatro categorias a partir dos assuntos que foram

abordados nas publicações. O número de publicações encontradas para cada uma das categorias

criadas encontra-se na Tabela 4.

Tabela 4: Categorias de análise traçadas

Categorias de

Análise

Num. publicações que tratam das

categorias %

Diretrizes

Curriculares Nacionais

6 33,3

Responsabilidade

do Profissional

4 22,2

Integralidade em

Saúde

5 27,7

Concepções dos

docentes na formação

em Fisioterapia

3

16,6

Total 18* 100

Fonte: Elaboração própria

* Considera-se que uma publicação pode tratar de mais de uma categoria

Ao tratar das categorias de análise, cabe ressaltar os olhares que os autores estão tendo

sobre os temas abordados.

Na categoria “diretrizes curriculares nacionais”, tratam da atuação diferenciada na

prática do fisioterapeuta, a ser produzida a partir da interação entre as DCN, que enfatizam um

olhar generalista, crítico e envolvido com a comunidade, e a realidade acadêmica na graduação

em Fisioterapia.

Nota-se, na Tabela 4, que esta categoria encontra-se em evidência quando comparada

às demais categorias (33,3%). A partir desta análise é possível suscitar a seguinte indagação: o

debate sobre a formação em saúde voltada para o SUS, com relação à profissão de Fisioterapia,

gira em torno da inserção das DCN nos ambiente formadores, porém, a sua aplicação

acompanha o mesmo passo das discussões acerca do tema?

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Na categoria “responsabilidade do profissional”, as publicações abordam: (1) a

responsabilidade da profissão com a mudança de abordagem nos processos pedagógicos dos

cursos a partir da inserção da Fisioterapia em programas de saúde pública; (2) a participação e

responsabilidade de órgãos competentes da profissão na inserção da Fisioterapia nas ações do

sistema de saúde; e (3) a mobilização dos estudantes em prol de mudanças na formação

acadêmica.

Na categoria “integralidade em saúde” algumas questões são discutidas, caracterizando

a importância da formação em Fisioterapia sob a ótica da integralidade das ações em saúde. A

questão da participação em equipes multiprofissionais é apontada como algo necessário na

formação, para adequação dos futuros fisioterapeutas à prática em saúde de acordo com os

preceitos do SUS. Como caminho, é indicada uma abordagem interdisciplinar na graduação

deste profissional.

Na categoria que trata das “concepções dos docentes na formação em Fisioterapia”, os

temas levantados consideram a importância da formação de docentes voltados aos preceitos do

sistema único de saúde. Algumas publicações trabalharam com questões acerca do

conhecimento dos docentes sobre integralidade, atenção básica e promoção à saúde; temas

relevantes para atuação no SUS. Apesar de ter sido a categoria com menor número de

publicações, diversas questões mostram-se relevantes a respeito desta temática: será que uma

formação de docentes de Fisioterapia adequada à realidade do sistema de saúde pode

representar um dos instrumentos para a implementação das DCN? Pode ajudar na superação de

uma formação pautada pela excessiva especialização? Cabe pensar acerca da necessidade de

promover espaços freqüentes de reflexões, nas próprias IES, sobre as necessidades de saúde da

população e as propostas político-pedagógicas institucionais, como forma de trabalhar com

estes profissionais as propostas do SUS.

Ao traçar uma relação entre os tipos das publicações e as categorias de análise do estudo

encontramos cerca de 83% das publicações que tratam sobre as DCN compostas por artigos

(Tabela 5). Como já indicado neste capítulo, as DCN se apresentam como assunto de maior

discussão científica na relação entre formação em Fisioterapia e SUS, representado pelo maior

número de publicações do tipo artigos científicos.

A mesma tabela demonstra que, as demais categorias de análise são temas mais

freqüentes nos estudos do tipo dissertações; onde a categoria “concepções dos docentes na

formação” possui somente este tipo de trabalho cientifico como fonte de publicação.

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Tabela 5: Relação entre tipos de publicações e categorias de análise

Tipos das

publicações

Diretrizes

Curriculares

Nacionais

Responsabilidade

do Profissional

Integralidade

em Saúde

Concepções

dos docentes

na formação

em

Fisioterapia

Artigo 5 1 1

Monografia 1

Dissertação 1 3 2 3

Capítulo de

livro 1

Total 6* 4* 5* 3*

Fonte: Elaboração própria

*Uma única publicação pode tratar de mais de uma categoria

Portanto, os dados obtidos com a análise dos resumos das publicações possibilitaram

considerar alguns aspectos importantes da relação entre a formação em Fisioterapia e o

SUS. As considerações apontadas representam um grande universo de questões a serem

debatidas no âmbito tanto da graduação quanto da formulação de políticas que envolvam a

articulação dos setores da saúde e da educação.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta desta pesquisa foi analisar a produção bibliográfica nacional sobre a relação

entre a formação de fisioterapeutas e sua atuação no SUS, no período de 1996 a 2010.

Evidenciaram-se poucas publicações. Entretanto, cabe enfatizar como limite do estudo, que ao

realizar a busca nas bases de dados, foram utilizadas dentre as palavras-chaves a Fisioterapia e

o SUS na tentativa de destacar a relação entre esses 2 termos. Espera-se, com este estudo,

colaborar para o debate sobre a inserção da fisioterapia no SUS, identificando como vem sendo

pensada a relação entre a formação de nível superior dos fisioterapeutas e o sistema único de

saúde.

À medida que o trabalho se desenvolvia, tornava-se maior a minha aproximação com o

tema. A oportunidade de cursar disciplinas, debater conceitos e compartilhar opiniões nas aulas

da Especialização em Saúde Pública da ENSP - FIOCRUZ, fomentaram um outro olhar para a

formação superior do profissional de saúde. As dificuldades encontradas ao longo dos meses

de realização deste trabalho apontaram para questões que remeteram à minha própria formação

acadêmica, isto é, a inexperiência na participação de pesquisas científicas levou a algumas

dificuldades de compreensão de conceitos, metodologias e análise de conteúdo; mas que foram

encaradas como importantes desafios para a concretização deste projeto e para o compromisso

com a minha profissão.

A partir da análise dos dados foi possível levantar algumas considerações acerca da

discussão da relação entre a formação de fisioterapeutas e o SUS. A evidência de poucas

publicações acerca do tema foi considerada como um dos resultados a serem pensados e

estudados no entorno do debate sobre a formação superior em Fisioterapia. A constatação de

ausências de publicações até o ano de 2004, com um aumento progressivo dos estudos a partir

do ano seguinte, levou a indagações a respeito da influência das DCN no debate sobre a

formação. A instituição das DCN para os cursos da área de saúde tem como um dos seus

propósitos, articular as IES e seus projetos pedagógicos com as necessidades de saúde da

população, contribuindo para a relevância social da universidade. Busca comprometer o futuro

profissional com os preceitos do SUS; a partir de uma formação crítica e generalista. Nos cabe,

em meio às intensas discussões acerca da sua importância, identificar a aplicação de tais

orientações nos ambientes formadores.

Ao considerar o papel das IES na formação em contribuição às diretrizes do SUS, evidencia-

se a necessidade de olhar para os modelos de atenção à saúde que estão sendo abordados na

formação, como referência para a futura atuação do fisioterapeuta. Isto representa um grande

desafio para o SUS, visto que, cabe ao sistema ordenar a formação de recursos humanos na área

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de saúde. Como forma de reflexão, vale levantar a discussão sobre a criação de espaços nas

próprias instituições de ensino que tratem das necessidades de saúde da população e da

formulação e revisão regular de suas propostas político-pedagógicas. Esta sugestão, aponta para

a afirmação de Guizardi et al (2006) sobre a necessidade das universidades apresentarem como

forma de interação entre sistema de saúde e ensino de graduação, o exercício da crítica de seus

próprios territórios institucionais, como condição para a produção coletiva de novos espaços e

práticas de formação em saúde orientados para a integralidade. Outro ponto a ser considerado

sobre os modelos de atenção à saúde abordados na formação está em questionar: a que

interesses esses modelos de atenção atendem? E a que concepções de saúde? Essas indagações

se aproximam daquelas apontadas por Saippa-Oliveira, Koifman e Pinheiro (2006) ao

considerar a análise dos conteúdos selecionados para os cursos de formação em saúde.

Na articulação ensino, pesquisa, extensão/assistência, cabe pensar acerca da contribuição

das IES de cunho particular, em torno de tal aspecto. A partir do dado referente ao maior número

de publicações de Fisioterapia originadas de instituições públicas, a discussão acerca do papel

das IES particulares se torna pertinente, a fim de buscar compreender que tipo de interação

existe entre as práticas de ensino e pesquisa de tais instituições com os serviços públicos de

saúde.

A relação entre a formação superior em saúde e o SUS deve ser pensada e repensada pelas

diversas pessoas e órgãos que contribuem para o aperfeiçoamento da graduação em saúde no

país. Como enfatizado anteriormente, o resultado do estudo permitiu, através da qualificação

bibliográfica, levantar questões que precisam ser aprofundadas, e assim como afirma Freitas

(2006) o objetivo contribuiu para “colocar reticências e propor questões que podem auxiliar

outros trabalhos”; na tentativa de intensificar a tão necessária discussão sobre a relação entre

o SUS e a formação superior em Fisioterapia.

Enfim, cabe enfatizar que este trabalho foi um ponto de partida para minha vida acadêmica,

tornando-se um estímulo a mais para me inserir na discussão apresentada. Entendo que compete

à Fisioterapia, como profissão de nível superior, fazer parte deste debate, com a finalidade de

identificar qual a posição que a profissão e seus profissionais desejam assumir diante do longo

processo de consolidação do nosso sistema público de saúde.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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