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FUNDAÇÃO CASA GRANDE: PRÁTICA DE ENSINO NAS DIVERSIDADES
EDUCACIONAIS. A CRIANÇA E O JOVEM COMO PROTAGONISTAS DE
APRENDIZAGENS
O presente painel de comunicação oral tem como escopo apresentar o resultado de uma
pesquisa de campo realizada junto à Fundação Casa Grande - Memorial do Homem
Kariri – FCG, localizada na cidade de Nova Olinda-CE, que teve como resultado a
produção de três artigos científicos com enfoques diferenciados em relação aos
processos educativos que acontecem na FCG. Esta pesquisa foi desenvolvida no
decorrer da oferta do componente curricular ―Fundamentos da Educação para a
Convivência com o Semiárido‖ do Programa de Pós-Graduação Mestrado em Educação,
Cultura e Territórios Semiáridos, da Universidade do Estado da Bahia (UNEB).
Analisar os processos educativos desenvolvidos na Fundação e observar quais as
relações que as crianças e os jovens mantêm nesse ambiente a partir das práticas que
vivenciam no seu cotidiano, evidenciando dessa forma, o protagonismo juvenil e
infantil, sua relação com a formação crítica, reflexiva e política dos atores sociais
envolvidos foram os objetivos propostos. Ancorados na pesquisa com abordagem
qualitativa, utilizamos como instrumentos e técnicas de coleta de dados, a observação
direta, entrevistas semiestruturadas, a roda de conversa, o registro fotográfico, e o diário
de campo por meio dos quais foi possível perceber a dinâmica de vivência da Fundação.
As reflexões desses trabalhos nos permitiu compreender que os processos educativos
desenvolvidos na FCG são os pilares construtores de novos contextos culturais,
econômicos e político-social visto que se apresenta como instituição construtora de uma
educação não formal que contribui para o pleno desenvolvimento das crianças e dos
jovens a partir do alargamento de habilidades e competências que lhes serão úteis por
toda a vida, além de semear a igualdade, a democracia, a comunicação, a liberdade e a
interculturalidade, ações que tinham como pressuposto a ludicidade levando-nos a
compreender que a educação contextualizada neste espaço, tem como princípio o
envolvimento integral das crianças e dos jovens.
Palavras-Chave: Fundação Casa Grande, Educação Não Formal, Educação
Contextualizada
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
11435ISSN 2177-336X
FUNDAÇÃO CASA GRANDE: ESPAÇO EM QUE A BRINCADEIRA É
LEVADA À SÉRIO
Ana Cecília dos Reis Dias
Universidade do Estado da Bahia – UNEB
Programa de Pós-graduação – Mestrado em Educação,
Cultura e Territórios Semiáridos - PPGESA
Willany da Cunha Reis
Universidade do Estado da Bahia – UNEB
Programa de Pós-graduação – Mestrado em Educação,
Cultura e Territórios Semiáridos - PPGESA
RESUMO
O trabalho em tela tem como escopo apresentar o resultado de uma pesquisa de campo
realizada junto à Fundação Casa Grande - Memorial do Homem Kariri – FCG,
localizada na cidade de Nova Olinda, no Estado do Ceará, na Região do Cariri, ao sopé
da Chapada do Araripe na fronteira com os estados de Pernambuco, Paraíba e Piauí.
Este trabalho foi promovido pelo componente curricular ―Fundamentos da Educação
para a Convivência com o Semiárido‖ do Programa de Pós-Graduação Mestrado em
Educação, Cultura e Territórios Semiáridos, no Campus III da Universidade do Estado
da Bahia (UNEB). Nessa perspectiva objetiva-se compreender como os processos
formativos, que acontecem na FCG dialogam com os princípios da educação
contextualizada para convivência com o semiárido e como a brincadeira realizada pelas
crianças cotidianamente se estabelece enquanto fronteira dos mundos infantocêntrico e
adultocêntrico. Por meio de uma proposta subsidiada no paradigma da pesquisa
qualitativa e auxiliada pelos instrumentos metodológicos das observações diretas,
entrevistas semiestruturadas, vivências em diversos espaços da rede formativa da
Fundação Casa Grande, conversas e visitações coletamos os dados necessários para
nossas análises e inferências. A proposição desse trabalho nos permitiu imergir em um
ambiente onde educação não é sinônimo de escola. E por que seria? O trabalho pretende
demonstrar como é possível estabelecer outras relações formativas com as crianças,
onde autonomia é diferente de disciplinamento e a heterarquia é o pilar construtivo das
relações. Um dos elementos fundamentais que conseguimos identificar na rotina diárias
da FCG foi o desenvolvimento contínuo e dinâmico de ações que tinham como
pressuposto a ludicidade levando-nos a compreender que a educação contextualizada
neste espaço, tem como princípio o envolvimento integral das crianças que não se
restringe aos métodos tradicionais do ensino.
Palavras-chave: Infância. Espaços Formativos. Educação Contextualizada.
Discussões Iniciais O filho implume, no calor do ninho!...
Deves amar, criança, a tua casa!
Ama o calor do maternal carinho!
Dentro da casa em que nasceste és tudo...
Como tudo é feliz, no fim do dia,
Quando voltas das aulas e do estudo!
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
11436ISSN 2177-336X
Volta, quando tu voltas, a alegria!
Aqui deves entrar como num templo,
Com a alma pura, e o coração sem susto:
Aqui recebes da Virtude o exemplo,
Aqui aprendes a ser meigo e justo.
Ama esta casa! Pede a deus que a guarde,
Pede a Deus que a proteja eternamente!
Porque talvez, em lágrimas, mais tarde,
Te vejas, triste, d‘esta casa ausente...
E, já homem, já velho e fatigado,
Te lembrarás da casa que perdeste,
E hás de chorar, lembrando o teu passado...
— Ama, criança, a casa em que nasceste!
(Olavo Bilac, 1919, P.116-117)
Assim é a Fundação Casa Grande: uma casa para os que nela moram. A
Fundação é uma organização não governamental (ONG), fundada em 1992 pelo casal
Alemberg Quindins e Rosiane Limaverde, ambos músicos e arte-educadores. Fica a 560
km de Fortaleza, capital do Ceará e têm como missão a formação educacional de
crianças e jovens, protagonistas em gestão cultural, por meio de seus programas:
Memória, Comunicação, Artes e Turismo. O objetivo é a formação interdisciplinar das
crianças e jovens, a sensibilização do ver, do ouvir, do fazer e conviver através do
acesso a qualidade do conteúdo e ampliação do repertório. Essa casa (Fundação Casa
Grande), como diz poeticamente Moreira (1982, p. 1): ―tão bonita como o povo que
habita nela‖, é uma vivência de processos educativos que ratifica as palavras de
Brandão (2004, p.07) quando nos diz que: ―ninguém escapa da educação‖. Na verdade
essa denominação e/ou conceito (educação) sequer é discutido na casa, mas se reafirma
em suas práticas cotidianas.
Nessa casa mora brincadeiras, histórias, música, arte, cultura, criança, adulto e
toda gente que quiser chegar. Mas, apesar da presença dos adultos que plantaram as
sementes da casa grande, são as crianças os jardineiros que cuidam da terra para que as
flores floresçam todos os dias. Ao conhecer a Casa Grande nos damos conta que tudo
por lá é muito maior do que a missão escrita no papel, apesar de Alemberg Quindins
(Presidente da Fundação Casa Grande) ratificar que a missão da casa ―é nunca deixar
fechar as portas‖. Isso nos diz muito, pois parte-se do entendimento de que sempre
deverá existir uma criança para que o trabalho nunca morra, ou seja, para que as portas
nunca se fechem.
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
11437ISSN 2177-336X
Quando dizemos que são as crianças que fazem florescer aquele espaço, não é
apenas um jeito de dizer, elas realmente são as protagonistas daquele lugar. Na FCG,
não existe o nivelamento de conhecimento e/ou competências/capacidades, ou ainda
padronização de rotinas e processos, tão comum na escola regular onde tudo é igual
para todos.
A necessidade em atuar em um ambiente composto pela diversidade e pela
singularidade dos alunos, tem muita ligação com a maneira como as escolas reproduzem
o mundo de forma deturpada. Pudemos identificar que diferentemente de muitas
instituições escolares, a Fundação Casa Grande faz uso de várias atividades e recursos,
com o propósito de atender as especificidades das crianças, afinal, o desrespeito à
diversidade nos seus vários seguimentos implica graves consequências, as quais podem
causar um regresso na vida particular dos infantes na escola e sociedade, pois somos
pessoas distintas no mundo. Segundo Kramer (2006, p.18), precisamos estar sempre:
―[...] levando em consideração as diferenças de classe social de origem das crianças bem
como a diversidade de etnia, sexo, e cultura. Reconhecer as crianças como seres sociais
que são implica não ignorar as diferenças‖.
Igual para todos é a responsabilidade do cuidado com espaço que é de todos,
mas que permite o plural, a escolha, o direito de opinar e, sobretudo de por em prática
aquilo que cada um e cada uma trazem como ideia ou sugestão. O fantástico é que tudo
isso acontece sem deixar as brincadeiras e os jeitos próprios da infância, inclusive as
peraltices e brigas de criança, que são resolvidas entre elas mesmas.
Discussão e resultados: a brincadeira levada a sério na Fundação Casa Grande
Durante a visita, fomos acompanhados por Alicia, uma das muitas crianças da
Casa Grande. Alicia falava da Casa Grande como se falasse da sua casa, o que não deixa
de ser... Lá ela e tantas outras crianças se sentem em casa. ―Eu venho pra cá todas as
tarde de segunda a sexta, no sábado e domingo fico aqui o dia todo. Sou coordenadora
da semana, sou gerente da biblioteca e sou produtora de teatro e faço também o
programa de rádio‖. Perguntado a ela que horas ela brincava, ela diz: ―Brinco aqui, faço
tudo isso brincando‖. Mais uma vez perguntaram: que horas você estuda? Estudo um
pouco em casa, mais estudo muito aqui, todas as minhas pesquisas faço aqui na FCG.
Quando tenho trabalho em grupo meus colegas vêm pra cá e a gente pesquisa e estuda.
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
11438ISSN 2177-336X
Falas como essa, nos faz perceber como esse espaço de educação, chamado por
muitos de espaço não formal, é capaz de contribuir com/na formação dessa meninada
que vai além dos conhecimentos formais trabalhados pela escola. Se pensarmos nos
espaços educativos, enxergamos meninos e meninas responsáveis pelo funcionamento e
organização desse espaço, revelando o protagonismo infantil, já que estes assumem
responsabilidades que na maioria dos espaços são de responsabilidade dos adultos.
Na Fundação Casa Grande todas as crianças têm atribuições, que não são
construídas para elas, são construídas com elas, afirmando as crianças como sujeitos
protagonistas e ativos de todo processo. As crianças tem clareza dos seus papéis e os
fazem com maestria e leveza. Para Galeano (1999, p.11):
Dia após dia nega-se às crianças o direito de ser crianças. Os fatos, que
zombam desse direito, ostentam seus ensinamentos na vida cotidiana. O
mundo trata os meninos ricos como se fosse dinheiro, para que se acostumem
a atuar como o dinheiro atua. O mundo trata os meninos pobres como se
fossem lixo, para que se transformem em lixo. E os do meio, os que não são
ricos nem pobres, conserva-os atados à mesa do televisor, para que aceitem
desde cedo, como destino, a vida prisioneira. Muita magia e muita sorte têm
as crianças que conseguem ser crianças.
A fala de Galeano nos faz refletir de que modo percebemos, ou melhor, como
não percebemos esses sujeitos nos espaços da sociedade. Na FCG, parece estar visível
como as crianças precisam ser percebidas. Elas são tão aparentes, tão parte daquele
lugar, que os adultos não subestimam as suas capacidades de dar sentido às suas ações e
seus contextos.
Nesse espaço, o jeito de lidar com a infância vai de encontro ao que é
preconizado pela escola e ratificado na crítica de Vasconcellos (2007) sobre os espaços
que lidam com crianças quando alerta que é preciso entender a criança a partir do seu
mundo, dos seus sonhos, dos seus desejos A perspectiva adultocêntrica não se faz na
Casa Grande, visto que é pensada pelas crianças e para as crianças, sem desconsiderar
que os adultos estão por lá, mas o protagonismo é delas.
É muito intensa a percepção de que a Casa para elas é muito mais que um espaço
físico. É abrigo, aconchego, cultura, arte conexão com o mundo. A FCG é conhecida no
Brasil e no mundo pela visualização dos diversos visitantes que lá chegam bem como de
suas premiações. Ela abriu portas para que crianças descobrissem que são capazes de
produzir arte, cultura e conhecimento a partir de suas contribuições aos que lá visitam. É
simplesmente encantador, observar a desenvoltura, autonomia e o sentimento de
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
11439ISSN 2177-336X
pertença que as crianças têm com esse lugar e com a sua história. Esse talvez seja o
exemplo de processo formativo que Alves (2006) sonhou, sem jamais julgar que
pudesse existir.
Para Vasconcellos (2007, p.7): ―algumas vezes, as sociedades esquecem que
precisam de suas crianças e que para tê-las há de se respeitar o direito de viver a
infância, mas infelizmente são raros os exemplos de respeito à infância‖. Fala-se muito,
―as crianças são o futuro de uma nação‖1, entretanto, pouco se vê essa materialização
nas políticas de atendimento a essas crianças, e sobretudo a garantia do ato de viver a
infância. A escola que deveria ser o espaço das crianças terem vez e voz, continua na
maioria das vezes a ser o lugar da opressão. A retirada do recreio, em algumas escolas,
em algumas cidades é um exemplo concreto de que esse respeito não é acatado. Se
existisse a voz da perspectiva infantocêntrica, ela nos diria que o recreio é a melhor
coisa da escola e que a criança não existiria sem a brincadeira.
E nós (adultos), o que dizemos? Wallon (1989, p.9) afirma que: ―A criança não
sabe senão viver a sua infância. Conhecê-la pertence ao adulto. Mas o que vai
prevalecer neste conhecimento: o ponto de vista do adulto ou da criança?‖. Infelizmente
o olhar do adulto ainda prevalece sobre o da criança. Algumas frases clássicas são
comumente repetidas entre os adultos ―criança não sabe de nada‖. Estas atitudes
reforçam estereótipos que foram construídas historicamente sobre a infância. A FCG, no
entanto, tem rompido com essa construção, onde os adultos decidem o que fazem as
crianças, a proposta é que se o espaço é delas é bom que seja pensado e construído com
elas até porque a missão da casa ―é nunca deixar fechar as portas‖.
É de fato uma desconstrução histórica que se faz do que é ser criança na FCG.
Lá criança é criança. Só isso basta! É de fato um rompimento de um paradigma
adultocêntrico que foi construído historicamente e que Ariès (1981) aponta o fato de
que as crianças são formadas para serem adultos em miniatura, pois deviam se vestir e
se comportar como tal, para adquirirem desde a infância, a concepção de que são os
adultos que comandam a sociedade e delegam o que é certo e errado a ser seguido.
Por isso as crianças precisam desconsiderar suas vontades de criança e tornarem-
se adultos cada vez mais rápido. Airès (1981, p.10) sustenta que:
1 Jargão sempre utilizado quando se projeta a criança como mola propulsora de desenvolvimento de um
país.
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11440ISSN 2177-336X
Contudo, um sentimento superficial da criança – a que chamei de
―paparicação‖ – era reservado à criancinha em seus primeiros anos de vida,
enquanto ela ainda era uma coisinha engraçadinha. As pessoas se divertiam
com a criança pequena como um animalzinho, um macaquinho impudico. Se
ela morresse então, como muitas vezes acontecia, alguns podiam ficar
desolados, mas a regra geral era não fazer muito caso, pois outra criança logo
a substituiria. A criança não chegava a sair de uma espécie de anonimato.
A ideia de infância denota um período formativo complexo com predominância
da imaginação na descoberta do mundo. Para um trabalho diferenciado dessa fase, é
imprescindível que a escola esteja preparada física e pedagogicamente. Nesse sentido, a
experiência lúdica realizada em espaços não formais de educação proporcionam
experiências significativas que muitas vezes a escola não desenvolve. Sendo assim,
experimentam as emoções que as atividades interativas permitem, pois a criança
envolve-se completamente com os fatos vividos em seu cotidiano. De acordo com
Barros (2009, p.45):
O reconhecimento do brincar como atividade relevante para o
desenvolvimento infantil, ao longo dos tempos, mostra que, embora tenha
havido avanços em relação à concepção de criança e seu desenvolvimento, a
contextualização do brincar no campo educacional ainda não tomou as
proporções necessárias que materializassem uma textura significativa da
relevância dessa atividade, na atualidade.
Essa experiência fortalece o âmago das pesquisadoras envolvidas neste trabalho,
visto que são pistas que começam a aparecer neste caminho do reconhecimento da
criança como esse sujeito de direitos e provedor de ações. Essa conquista faz-nos crer
que é possível sim empoderar a criança através de processos formativos que consideram
a gênese da infância.
Fundação Casa Grande e Educação Contextualizada: princípios que dialogam?
Quando trazemos os princípios da educação contextualizada preconizados pela
Rede de Educação do Semiárido Brasileiro - RESAB2 (2006, p. 07) para relacionar-se
2 Surge durante a realização do I Seminário de Educação para o Semiárido, realizado na cidade baiana de
Juazeiro. Esse evento reúne entidades da Sociedade Civil e Órgãos Públicos, sobretudo ligados às áreas
do ensino e da pesquisa, que encaminham propostas de uma educação oficial adequada às peculiaridades
ambientais e socioculturais da região. O caminho apontado pelo seminário de Juazeiro é de constituição
de uma Rede que, não se configurando como uma instituição oficial consiga agregar entidades da
Sociedade Civil e instituições públicas enfeixadas em torno da proposta de uma educação contextualizada
para o semiárido. A RESAB passa a ser gerida por um ―grupo gestor‖, integrado por representantes de
entidades e instituições que vem articulando e participando das discussões e debates sobre a rede. Os
primeiros debates da Resab apontam para a discussão de temas que pululam e ocupam as preocupações
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11441ISSN 2177-336X
com os princípios vivenciados pela Fundação Casa Grande é porque acreditamos que
estes fortalecem a ideia de pertencimento com o local. Pertencer significa vivenciar,
sentir e ser sentido. Neste caso a afirmação destas instituições não se dá pela explicação,
mas pelo entendimento de sua existência e dos sentidos a ela produzidos. A afirmação
se faz no fazer e não na explicação... É esse o entendimento que as faz não se
explicarem para se tornarem o que são.
No princípio que defende ―Integridade dos direitos dos atores e atrizes do
processo educacional e o respeito e promoção dos direitos das crianças, adolescentes e
jovens‖, podemos observar que esses princípios dialogam com a FCG, visto que a
infância/juventude é a gênese de todo processo de criação e de manutenção da casa.
Noronha (2008, p. 6) afirma que:
A primeira grande impressão do visitante é deparar-se com crianças e jovens
no comando de ações que, convencionalmente, seriam próprias de adultos,
tais como apresentar programas de rádio ou organizar pessoas no teatro,
filmar e editar vídeos, escrever e editar revistas em quadrinhos...
E muito mais do que participar de atividades promovidas pela FCG, as crianças
brincam, simplesmente brincam... Aí está a diferença entre FCG e a escola, na primeira
as crianças, opinam, decidem e executam as atividades que é melhor para elas; na
segunda, elas recebem as decisões de uma minoria adulta que sequer ouviu os seus
desejos de crianças.
Outro princípio é o de equidade na distribuição de renda e no acesso do
conhecimento cultural, científico, moral, ético e tecnológico em todos os níveis da
educação. Nesse princípio, diversas contexturas dialogam, pois ao mesmo tempo em
que as crianças estão na FCG, constitui-se uma rede para que ela permaneça ali, através
da economia solidária e do empreendedorismo, a partir do incentivo ao turismo com
criação das pousadas domiciliares3, restaurantes, Museu Expedito Seleiro e artesanatos
dos seus integrantes, como a produção de materiais didáticos contextualizados, a formação dos
professores, e, de maneira abrangente quais pressupostos culturais dão sustentação e sustança a proposta
de uma convivência harmoniosa entre homem e natureza no semiárido brasileiro. (MOREIRA NETO,
2013, P.140).
3 As pousadas domiciliares são suítes que ficam localizadas nos quintais da casas dos pais das crianças da
Casa Grande. Cada pousada tem dois beliches, jogos de cama e banho, frigobar, TV, vídeo e aparelho de
som. Uma diária custa R$ 50,00 reais por pessoa, inclusos dormida, café da manhã, almoço e jantar. Hoje,
a Cooperativa Mista dos Pais e Amigos da Casa Grande – Coopagran. Dispõem de 10 pousadas na área
urbana com capacidade para 40 leitos e duas pousadas opcionais em área rural de floresta e sertão com
dois leitos cada.
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
11442ISSN 2177-336X
retratando a Casa e o que se vive nela. Essas ações também culminaram com a criação
da Cooperativa Mista dos Pais e Amigos da Casa Grande (COOPAGRAN4).
No que se refere ao Nordeste Semiárido, espaço em que está localizada a
Fundação, o discurso hegemônico preconizado pelas elites dominantes através das
mídias que trabalharam a seu favor, colocou a seca como fator de calamidade pública e
essa região como inviável, porém essa perspectiva homogeneizante não teve força
suficiente para diminuir o princípio formativo adotado pela FCG que faz exatamente ao
contrário, mostrar a viabilidade de se viver no semiárido tendo a educação e a cultura
como elementos possibilitadores da garantia de uma nova mentalidade de se pensar o
local, a geração de renda e a sustentabilidade e tornar-se assim o que é.
Nas palavras de Reis (2010) são essas problematizações realizadas nos espaços
de discussão e nas publicações da RESAB, que fortalecem a construção de uma
epistemologia que revele esses sujeitos (homens, mulheres e crianças) que aqui estão e
não como uma caricatura do que criaram da gente.
A imprensa nacional e os que escreveram sobre esta região, tendo como
parâmetros apenas uma época do ano, ou apenas um ângulo da região,
criaram uma caricatura do Semiárido. Os livros didáticos que circularam e
circulam na nossa região afirmaram essa caricatura da região, onde o sujeito
que vive no Semiárido é visto como o ―matuto‖, é um ―sujeito sem saber‖. É
essa a imagem caricaturada que se criou do Semiárido e que ainda está
presente entre nós e que nós também que aqui vivemos, terminamos por
assumi-la e proliferá-la. (REIS 2010, P. 112).
Estas imagens vão dando lugar a outras paisagens na Fundação visto que se
formata uma rede que dialoga de forma sistêmica a partir da tríade escola-família-
comunidade e com isso possibilita um desenvolvimento sustentável local e sobretudo
um outro pensamento epistêmico sobre o estar e ser naquele lugar, naquela região,
naquela comunidade e sobretudo da sua responsabilidade com tudo aquilo que ali está
construído. Segundo NIETZSCHE,
Conhecer com orgulho o extraordinário privilégio da responsabilidade, ter
consciência dessa liberdade rara, desse poder sobre si e sobre seu destino, aí
está quem penetrou até as profundezas últimas de sua pessoa e que se tornou
instinto, instinto dominante – que nome lhe dará a esse instinto dominante,
supondo que sinta a necessidade de conferir-lhe um nome? Isso não oferece
dúvida alguma: o homem soberano o chamará de sua consciência...
(NIETZSCHE, 1887, p.58).
4 Cooperativa Mista dos Pais e Amigos da Casa Grande constituída pelos pais das crianças atendidas pela
Fundação Casa Grande. Esta cooperativa possui o direito de uso de imagem da marca ―Casa Grande‖,
confeccionando e comercializando suvenires e artesanatos, também gerencia o receptivo turístico
dispondo aos visitantes lojinha de brindes, cantina, pousadas domiciliares e serviço de transporte.
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11443ISSN 2177-336X
Mas essa prática só é possível mediante um conhecimento dos sujeitos do seu
contexto, sua história, da história, da história de seu povo. Isso fica muito claro na obra
de BOFF (1999, p.135),
[...] Cada pessoa precisa descobrir-se como parte do ecossistema local e da
comunidade natureza, biótica, seja em seu aspecto a natureza, seja em sua
dimensão de cultura. Precisa conhecer os irmãos e irmãs que comportem da
mesma atmosfera, da mesma paisagem, dos mesmos solos, das mesmas
fontes de nutrientes... Precisa conhecer a história daquelas paisagens, visitar
aqueles rios e montanhas, frequentar aquelas cascatas e cavernas; precisa
conhecer a história das populações que aí viveram sua saga e construíram seu
habitat, como trabalharam a natureza, como a conservaram ou a depredaram;
quem são seus poetas e sábios, heróis e heroínas... os/as pais/mães
fundadores da civilização local. O cuidado salva a vida e garante o futuro da
terra.
Outros princípios que também dialogam com Educação Contextualizada e a
FCG são:
Gestão democrática garantindo a plena participação dos vários setores, atores
e atrizes na sua execução [...] Intersetorialidade nas definições das políticas
públicas educacionais; Interdisciplinaridade e transdisciplinaridade na
construção do conhecimento; Sustentabilidade ambiental, social, econômica e
cultural como pilares dos processos e projetos educacionais; Formação
abrangendo os aspectos socioculturais, político e ambientais do semiárido;
Diálogo permanente dos saberes locais com o universal; Descentralização,
transparência e gestão compartilhada; Respeito e promoção dos direitos
humanos, do meio ambiente e dos princípios e direitos constitucionais.
(RESAB, 2006, P. 07).
No entanto, se perguntarmos a Alemberg Quindins se há algum fundamento
teórico epistemológico para construção de tudo aquilo que acontece na FCG, ele nos
dirá que não há ali nenhum conceito imbricado, mas sim uma vivência. ―A Casa é o que
estamos vendo5‖, e ao ver, percebemos ali claramente os princípios da educação
contextualizada protagonizados pelas crianças, bem como a presença de diversas teorias
que ali se fazem presentes. Noronha (2008, p. 26), alega, por exemplo, que na FCG a
―construção de saberes significativos não pode se dá no vazio de teorias e de práticas,
mas na relação teórico-prática em que os atores sociais se movem‖.
Esse movimento é exatamente o que nas palavras de Alemberg gera a
convivência e para academia se afirma como campo de conhecimento. A convivência,
sobretudo na perspectiva da educação contextualizada ―não se faz se o elemento
motivador não for a educação a favor da vida, potencializando a diversidade cultural,
que reconheça e conviva com os diferentes, e que ajude as pessoas a serem mais
humanas‖ (MENEZES E ARAÚJO, 2007, P.45).
5 Fala de Alemberg durante a visita à Fundação Casa Grande, em 15 de novembro de 2015.
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
11444ISSN 2177-336X
Nas palavras de REIS (110, p.128) ―a Educação Contextualizada [...] não pode
ser entendida como o espaço do aprisionamento do conhecimento e do saber, ou ainda
na perspectiva de uma educação localista, mas como aquela que se constrói no
cruzamento cultura – escola – sociedade – mundo‖. E é assim que a Casa Grande se faz
e refaz nesse grande movimento que é grande como o mundo da infância. Para isso a
brincadeira é só mais uma estratégia, tão importante quanto outras, mas que define a
criança como provedora dessa forma de pensar e de atuar no lugar que se faz e refaz a
cada dia, pois essa criança também irá crescer e será ela enquanto adulto que dará essa
mesma oportunidade a tantas outras crianças que virão e que se farão parte. E então esse
ciclo da missão da FCG ―nunca deixar fechar as portas‖ estará sempre fortalecido o que
também compreendemos como princípio da educação contextualizada.
Considerações finais
A proposição desse trabalho nos permitiu imergir em um ambiente onde
educação não é sinônimo de escola além de demonstrar como é possível estabelecer
outras relações formativas com as crianças em processos não formais de educação, onde
autonomia é diferente de disciplinamento e a heterarquia é o pilar construtivo das
relações.
Os instrumentos metodológicos da abordagem qualitativa possibilitaram-nos,
através de observações, vivências em diversos espaços da rede formativa da Fundação
Casa Grande, conversas e visitações, compreender como os processos formativos que
acontecem na FCG dialogam com os princípios da educação contextualizada para
convivência com o semiárido e, como a brincadeira realizada pelas crianças
cotidianamente se estabelece enquanto fronteira dos mundos infantocêntrico e
adultocêntrico.
Os processos formativos, que acontecem na FCG dialogam com os princípios da
educação contextualizada por fazer entender que a educação precisa nascer no lugar que
os sujeitos se fazem, se constroem e que se tornam potencializadoras desse ambiente a
partir do seu pertencimento com o mesmo. Os princípios da FCG e da Educação
Contextualizadas se cruzam e entrecruzam por suas histórias estarem cravadas no
semiárido brasileiro onde ainda pululam histórias de fracasso e desesperança.
Essa pesquisa é, portanto, um redesenho das possibilidades de vivências nesse
espaço com aprendizagem, educação e cultura que transcende o escopo de escola formal
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11445ISSN 2177-336X
que ainda prevalece no nosso país, que não consegue enxergar o entorno onde está
inserida e as potencialidades de aprendizagem que ali estão.
A criança da FCG é a protagonista que trouxemos como provedora da
visualização do que é ser e fazer-se criança a cada dia. E a brincadeira como estratégia
de definição de espaços, de vivências e de aprendizagem. Brincar para elas nada mais é
do que fazer parte daquele espaço que é delas e que se faz por elas. Brincar é
simplesmente brincar e compreender que aquele lugar precisa dar espaço para outras
crianças que desejarem chegar, portanto há uma missão implícita, subjetividade de
sentidos e de valores que a fazem amar aquele lugar cada vez mais.
O que fica é a compreensão de que muito ainda há por trilhar em perspectivas
formativas de educação em didática e prática de ensino no contexto político
contemporâneo. Porém essas cenas da educação brasileira possibilitadas pela
experiência da Fundação Casa Grande faz-nos acreditar que distintos caminhos estão
sendo trilhados, caminhos estes que nos levarão a um outro entendimento de educação
que transcende até mesmo as categorias (formal, não-formal e informal) que fomos
criando para hierarquizar a importância de onde esse conhecimento ocorre.
Referências
ALVES, Rubem. Pinóquio às avessas: Uma estória sobre crianças e escolas para pais
e professores; Ilustração Mírian Guedes de Tullio Norking. Campinas, SP. Ed. Verus,
2005.
BAZÍLIO, Luiz Cavalieri. KRAMER, Sonia. Infância, educação e direitos humanos.
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PROTAGONISMO JUVENIL NA FUNDAÇÃO CASA GRANDE: REFLEXÕES
SOBRE UMA PROPOSTA DE EDUCAÇÃO NÃO-FORMAL
Viviane Brás dos Santos
Universidade do Estado da Bahia –UNEB Programa de
Pós-graduação – Mestrado em Educação, Cultura e
Territórios Semiáridos - PPGESA
Cleidinalva dos Santos Martins
Universidade do Estado da Bahia –UNEB Programa de
Pós-graduação – Mestrado em Educação, Cultura e
Territórios Semiáridos - PPGESA
Ana Paula Rocha dos Santos
Universidade do Estado da Bahia –UNEB Programa de Pós-
graduação – Mestrado em Educação,
Cultura e Territórios Semiáridos – PPGESA
RESUMO
O presente trabalho tem como finalidade apresentar o resultado de uma pesquisa de campo
realizada na Fundação Casa Grande, no Município de Nova Olinda/CE. Levando-se em
consideração que os processos educativos vivenciados na Casa representam ações de uma
educação não-formal que busca a formação plena dos sujeitos a partir de capacitações e ações
que possibilitam o desenvolvimento de indivíduos preocupados com as questões de
desigualdades sociais existentes, dentre outras, propõe-se os seguintes objetivos: investigar se a
proposta de educação da instituição visitada, alinha-se aos pressupostos teórico-práticos da
educação contextualizada apresentados nas discussões promovidas pelo componente curricular
Fundamentos da Educação para a Convivência com o Semiárido do Programa de Pós-
Graduação Mestrado em Educação, Cultura e Territórios Semiáridos, no Campus III da
Universidade do Estado da Bahia (UNEB); analisar os processos educativos desenvolvidos na
Fundação e observar quais as relações que as crianças e os jovens mantêm nesse ambiente a
partir das práticas que vivenciam no seu cotidiano e na mesma, evidenciando dessa forma, o
protagonismo juvenil e sua relação com a formação crítica, reflexiva e política dos atores sociais
envolvidos. Ancorados em na pesquisa com abordagem qualitativa, utilizamos como
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
11448ISSN 2177-336X
instrumentos e técnicas de coleta de dados, a observação direta, por meio da qual foi possível
perceber a dinâmica de vivência da Fundação; a roda de conversa, realizada com os jovens, as
crianças e o fundador da instituição; o registro fotográfico, que oportunizou capturar momentos
relevantes das atividades desenvolvidas na Casa e o diário de campo, que nos favoreceu
registros importantes no decorrer de toda a visita. Com esses procedimentos metodológicos
identificamos que a Fundação possui uma proposta educacional alinhada os pressupostos da
educação contextualizada de forma que o protagonismo juvenil constitui-se um elemento
norteador das ações desenvolvidas na formação dos jovens.
Palavras-chave: Protagonismo juvenil. Casa Grande. Educação não-formal.
A educação não-formal na Fundação Casa Grande
Quando se discute educação, emerge a concepção de educação escolar, a qual é
denominada como formal, institucionalizada, seguidora de parâmetros curriculares e conteúdos
previamente sistematizados. Nesse contexto os professores tornam-se os únicos profissionais
responsáveis pelo processo de ensino/aprendizagem. Contudo precisa-se levar em consideração
que outras modalidades de educação existem, são vivenciadas em outros espaços fora do
ambiente escolar e precisam também ser conhecidas, respeitadas e valorizadas.
Nesse sentido, destaca-se a educação não formal, desenvolvida em diversos espaços que
vivenciam os processos educativos de forma diferente dos que são estabelecidos na escola. A
educação não formal busca trabalhar com questões educativas voltadas para o mundo social e
estimula os indivíduos a saberem quais são seus direitos e a cumprirem seus deveres enquanto
cidadãos. De acordo com Gohn (2006) esta educação:
Não é organizada por séries/ idade/ conteúdos; atua sobre aspectos subjetivos
do grupo. Desenvolve laços de pertencimento. Ajuda na construção da
identidade coletiva do grupo [...]; ela pode colaborar para o desenvolvimento
da auto-estima e do empowerment do grupo, criando o que alguns analistas
denominam, o capital social do grupo. Fundamenta-se no critério da
solidariedade e identificação de interesses comuns e é parte do processo de
construção da cidadania coletiva e pública do grupo. (p.30).
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11449ISSN 2177-336X
Mediante esta questão, tal modalidade de educação, procura discutir como o sujeito
pode se tornar um cidadão mais preocupado com a sociedade e seus conflitos, bem como, que
este se sinta responsável pela melhoria da qualidade de vida do coletivo, pois passa por
experiências que contribuem para a construção de um processo de aprendizagem baseado na
organização e na capacitação crítica, política e social. Nessa perspectiva acredita-se que as
pessoas aprendam a conviver e respeitar as diferenças étnicas, culturais, religiosas, econômicas,
sociais e ambientais. Gohn (2006) esclarece ainda que:
A educação não-formal [...] dá condições aos indivíduos para desenvolverem
sentimentos de auto-valorização, de rejeição dos preconceitos que lhes são
dirigidos, o desejo de lutarem para ser reconhecidos como iguais (enquanto
seres humanos), dentro de suas diferenças. (p. 30).
A partir dessa compreensão, percebe-se que na educação não formal existe um
compartilhamento de experiências que colaboram para o desenvolvimento de uma
aprendizagem significativa dentro de um coletivo. Com isso, destacamos as ações da Fundação
Casa Grande, localizada em Nova Olinda/CE6, que possui características de uma educação não
formal, pois suas práticas educativas são constituídas através das vivências dos sujeitos em meio
as ações e trabalhos pensados e desenvolvidos por crianças, jovens e adultos da própria
comunidade, com o propósito de ensiná-los a produzir e desenvolver projetos que os tornam
mais ricos em conhecimento e mais experientes na prática construída coletivamente.
Os processos formativos da Casa são conduzidos de uma forma horizontal, ou seja, não
há uma hierarquização de quem pode mais e de quem pode menos, o que existe é o
compromisso com o bom andamento da instituição de forma solidária e responsável, assim
6 A Fundação Casa Grande - Memorial do Homem Kariri é uma organização não- governamental, cultural
e filantrópica criada em 1992, com sede em Nova Olinda, Ceará, Brasil. Sua criação se deu a partir da
restauração da primeira Casa da Fazenda Tapera, hoje cidade de Nova Olinda, ponto de passagem da
estrada das boiadas que ligava o Cariri ao sertão dos Inhamuns, no período da civilização do couro, final
do século XVII. Hoje a Fundação Casa Grande-Memorial do Homem Kariri é uma escola de referência
em educação e tem a visão de levar "o mundo ao sertão". Mas não qualquer mundo, e sim um mundo que
proporcione as crianças e jovens o empoderamento da cultura e da cidadania. Para proporcionar o acesso
de outras comunidades a nossa tecnologia social, foi criado o ―Turismo de Conteúdo‖, abrindo à pesquisa
os laboratórios de conteúdo da Fundação para um público que em 2006 chegou a 28 mil pessoas. A
Fundação Casa Grande - Memorial do Homem Kariri tem como missão a formação educacional de
crianças e jovens protagonistas em gestão cultural por meio de seus programas: Memória, Comunicação,
Artes e Turismo. Os programas de formação da Fundação Casa Grande desenvolvem atividades de
complementação escolar através dos laboratórios de Conteúdo e Produção. O objetivo é a formação
interdisciplinar das crianças e jovens, a sensibilização do ver, do ouvir, do fazer e conviver através do
acesso a qualidade do conteúdo e ampliação do repertório. Disponível em:
http://www.fundacaocasagrande.org.br/principal.php
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
11450ISSN 2177-336X
como a liberdade de criação que é favorecida para todos que desejam aprender a ser, fazer,
conhecer e compreender novas artes.
A Fundação, assim como outros espaços que desenvolvem ações educativas não
formais, preocupa-se em formar o sujeito para a vida, onde esse esteja capacitado para interagir
na sociedade conhecendo e respeitando o coletivo. A mesma pretende estimular o sentimento de
solidariedade e companheirismo. O processo de socialização de conhecimentos e informações
são fundamentais para a formação sóciocultural das crianças e dos jovens que frequentam a
Fundação.
No espaço da Casa Grande observamos a preocupação em desenvolver a partir de suas
ações, sujeitos conscientes de seu papel enquanto construtores de história e de capital cultural.
Para isso, tanto as crianças como jovens são instigados a serem criativos, agentes e produtores
de saberes que buscam cidadania, igualdade, justiça social, e o desenvolvimento de melhores
condições de vida para sua família e comunidade. Diante dessa reflexão problematizamos a
proposta de educação da Fundação Casa Grande, alinha-se aos pressupostos teórico-práticos da
educação contextualizada?
Destarte propomos como objetivos investigar se a proposta de educação da instituição
visitada, alinha-se aos pressupostos teórico-práticos da educação contextualizada, analisar os
processos educativos desenvolvidos na Fundação e observar quais as relações que as crianças e
os jovens mantêm nesse ambiente a partir das práticas que vivenciam no seu cotidiano e na
mesma, evidenciando dessa forma, o protagonismo juvenil e sua relação com a formação crítica,
reflexiva e política dos atores sociais envolvidos.
Reflexões teóricas: o protagonismo juvenil
A realidade histórica educacional do Brasil mostra-nos que nossas escolas não tiveram
uma base sólida que proporcionasse educação de qualidade que vise à heterogeneidade e
proporcionasse o desenvolvimento humano atendendo de forma inclusiva a todos os indivíduos,
focalizando sua identidade. Sabe-se que historicamente a criança desde o nascimento, tem uma
educação domesticada, ou seja, a mesma cresce e já é conduzida de modo que, quando se tornar
adulta, saiba se comportar e obedecer às regras estabelecidas nas sociedades civis, para manter
uma moralidade hipócrita e contraditória, que marginaliza quem não a segue de forma alienante,
sem questionamentos e rupturas.
Vale ressaltar que conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, Lei
8.069/90, o período da adolescência é compreendido para aqueles com faixa etária de 12 a 18
anos de idade. Neste sentido, a constituição de 1988 garante ao adolescente o voto facultativo
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11451ISSN 2177-336X
como cidadão e eleitor a partir dos 16 anos, o que se configura como um marco na sua vida
política e ratifica a responsabilidade outorgada aos adolescentes nas decisões eleitorais do país.
O que desejamos evidenciar nesse momento é a formação estabelecida para nós desde
nossa infância, que não contribui para o desenvolvimento do protagonismo juvenil, mas sim,
para a produção de um protagonismo adulto condicionado e carregado de intencionalidades para
atender as demandas de uma sociedade preconceituosa e excludente. Entendemos juventude
como um período rico de mudanças não somente físicas e comportamentais, mas principalmente
ideológicas. A pesquisadora Eisenstein (2005) estabelece a seguinte conceituação:
Adolescência é o período de transição entre a infância e a vida adulta,
caracterizado pelos impulsos do desenvolvimento físico, mental, emocional,
sexual e social e pelos esforços do indivíduo em alcançar os objetivos
relacionados às expectativas culturais da sociedade em que vive. A
adolescência se inicia com as mudanças corporais da puberdade e termina
quando o indivíduo consolida seu crescimento e sua personalidade, obtendo
progressivamente sua independência econômica, além da integração em seu
grupo social (p.01).
Mediante essa discussão, observa-se que o protagonismo juvenil não é um tema muito
discutido nos espaços formais de ensino/aprendizagem (escolas) e também deixa a desejar em
alguns espaços informais, pois na atualidade as preocupações circulam em torno do futuro
profissional que precisamos adquirir na fase adulta de nossas vidas. Ademais, faz-se necessário
refletirmos sobre a questão: jovens e adolescentes têm acesso e participação ativa em práticas
sociais e educativas que favoreçam e estimulem os seus protagonismos? Se atuarem de forma
dinâmica terão maiores possibilidades de ser cidadão/ã mais crítico, reflexivo e com autonomia
em diversas circunstâncias que requerem posicionamentos firmes e concisos. Dessa maneira,
obter sucesso profissional seria apenas uma boa consequência de suas ações. Souza (2007)
colabora com nossa reflexão quando diz:
O jovem protagonista é inevitavelmente lembrado como ―o ator principal‖ no
cenário público, posição de destaque que supõe algum tipo de ação política.
Contudo uma ação política despida da luta e transformada em atuação
social... o discurso atual prescreve à juventude uma ―nova forma‖ de política
que ocorre mediante a atividade/atuação individual e que contribui para a
integração dos jovens. O apelo ao protagonismo ou à posição principal,
presta-se sobretudo, para motivar os jovens à integração. (p.10).
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
11452ISSN 2177-336X
Temos no Brasil um índice alarmente de famílias que sofrem as mazelas da exclusão
social. Em virtude dessa problemática, presenciamos diariamente nos meios de comunicação
impresso e midiático notícias alarmantes sobre o número significativo de jovens em situações de
risco seja em virtude das drogas ou práticas relacionadas à violência física, psicológica entre
outras. Neste contexto muitas Organizações não governamentais (ONGs) e entidades sociais
têm desenvolvido ações educativas, culturais, religiosas, para propor aos adolescentes e jovens
meios que lhes garantam maiores e melhores condições de vida. Considera-se, pois nesta
perspectiva que a participação dos jovens é um meio eficaz de exercitar a cidadania,
desenvolver habilidades, potencializar as relações interpessoais e intrapessoais, bem como,
prevenir o envolvimento na criminalidade.
Muitas ONGs, Movimentos Sociais e outros espaços que dialogam sobre o
protagonismo juvenil lutam diariamente para arrecadar fundos, recursos que possam custear as
despesas de seus projetos de ação/intervenção. E na Fundação Casa Grande não ocorre de forma
diferente, todos que participam da mesma, mobilizam-se para buscar parcerias que subsidiem
seus projetos. Podemos perceber assim, que o protagonismo juvenil faz-se presente nessa
mobilização, pois os jovens são os responsáveis por recepcionar os visitantes que vêm de
diversas partes do Brasil e do mundo e explicar todo o processo de construção da Fundação,
tendo como foco o Memorial do Homem Kariri, seus projetos, atividades, sua manutenção e
funcionamento.
Na Fundação o protagonismo juvenil acontece naturalmente, de forma espontânea,
podemos perceber o todo momento o envolvimento, a participação e o comprometimento dos
adolescentes e jovens nos diversos espaços lá existentes (gibiteca, teatro, biblioteca, museu,
dvdteca, parquinho, laboratório de arqueologia, Casa Grande FM, TV Casa Grande), são nesses
espaços em que os jovens constroem, descobrem e produzem vivências singulares em termos de
cultura, conteúdos sociocríticos que viabilizam o desenvolvimento do protagonismo juvenil e
imprimem um significado salutar ao desenvolvimento de uma educação autônoma. Para Costa
(1996):
Protagonismo juvenil é a participação do adolescente em atividades que
extrapolam os âmbitos de seus interesses individuais e familiares e que
podem ter como espaço a escola, os diversos âmbitos da vida comunitária;
igrejas, clubes, associações e até mesmo a sociedade em sentido mais amplo,
através de campanhas, movimentos e outras formas de mobilização que
transcendem os limites de seu entorno sócio-comunitário (p.90).
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11453ISSN 2177-336X
Ao fazermos um paralelo com algumas abordagens teóricas, a fim de melhor
compreender o delineamento proposto pela fundação, buscamos fundamento na teoria da
Pedagogia da Autonomia proposta por Freire (1996) a qual instiga-nos a pensar sobre saberes
necessários à prática educativa que em nossa compreensão não se restringe à escola. A atuação
dos jovens e responsabilidades atribuídas a estes nas atividades rotineiras da Fundação
demonstra a concepção diferenciada em relação ao processo de formação contínua enquanto
seres inacabados que somos.
Muitos jovens já fazem parte da Casa desde o seu nascimento, como é o caso da
adolescente Yasmim, que nos recepcionou e hoje tem 12 anos de idade e há 12 anos faz parte da
Fundação. Os processos educativos desencadeados na Casa alimentam e nutrem os jovens de
boa música, bons filmes, leituras ricas, peças teatrais que motivam e estimulam a permanência
delas em seus espaços. A diversidade de conhecimentos adquiridos permite ao jovem a
elaboração de um pensamento mais crítico e articulado sobre seu contexto, conforme ratifica
Reis (2011):
Etimologicamente, a palavra educação origina-se do latim educere, que
significa conduzir, levar, puxar para fora, tirar do lugar. Com esse
entendimento, a educação passa a ser compreendida como o processo pelo
qual uma ou várias capacidades se desenvolvem gradativamente e pelo
exercício se aperfeiçoam. Essa compreensão não nos esclarece quem são os
sujeitos desse processo e qual a razão desse deslocamento, já que buscando
aplicá-lo aos processos educativos o que teríamos aí seria uma condução das
pessoas para fora dos contextos nos quais estão inseridos, pois entendemos o
lugar na perspectiva cultural, antropológica, social, política, econômica etc.,
onde os sujeitos humanos tecem e entretecem suas histórias, tingidas de
significados, sentidos e saberes. Ou seja, a educação passa assim a se tornar
um processo de negação dos fundamentos ontológicos e culturais
determinantes daqueles que a escola tem acesso. (p.102).
A noção de infância e juventude denota um período formativo complexo com
predominância da imaginação na descoberta do mundo. Para um trabalho diferenciado dessa
fase, é imprescindível que a escola esteja preparada física e pedagogicamente. Nesse sentido, a
experiência lúdica realizada em espaços não formais de educação proporcionam experiências
significativas que muitas vezes a escola não desenvolve. Sendo assim, experimentam as
emoções que as atividades interativas permitem, pois os jovens envolvem-se completamente
com os fatos vividos em seu cotidiano.
A adolescência e juventude são períodos de grande importância na vida do homem e da
mulher. Nestas fases surgem os contatos sociais e as primeiras construções de um ser em
formação que ao decorrer de sua vida estará contribuindo para a mudança ou permanência dos
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11454ISSN 2177-336X
processos existentes na sociedade. Nesta fase é comum que as brincadeiras sejam desejadas e
priorizadas em relação às demais atividades consideradas ―atividades adultas‖. De acordo com
Luckesi (2005):
Uma educação lúdica tem na sua base uma compreensão de que o ser
humano é um ser em movimento, permanentemente construtivo de si mesmo.
Ela foge ao entendimento de que o ser humano é um ser dado pronto e que
deve, no decorrer da existência, ―salvar a sua alma‖, visão sobre a qual está
assentada a pedagogia tradicional. Uma prática educativa lúdica só pode
assentar-se, ao contrário, sobre um entendimento de que o ser humano,
através de sua atividade e conseqüente compreensão da mesma, constrói-se a
cada momento, na perspectiva de tornar-se mais senhor de si mesmo, de
forma flexível e saudável. (p.42)
Os alunos e as alunas precisam ser o alvo principal do processo educativo, portanto,
existe a necessidade de articularmos propostas pedagógicas, a fim de valorizar cada jovem em
sua totalidade respeitando seus aspectos, levando em conta que a educação é o processo que
busca propiciar a construção de conhecimentos especialmente de envolvimento integral do ser
humano; pois quando este ―chega ao mundo‖ é herdeiro da cultura e do meio em que está
inserido. Para que essa construção de fato aconteça, os adultos precisam estar conscientes da
importância da juventude e de seu papel no mundo contribuindo com um novo modelo de
educação que valorize e que dê significado ao protagonismo juvenil. Para tanto, a formação será
imprescindível para que esta construção seja concretizada.
A necessidade em atuar em um ambiente composto pela diversidade e pela
singularidade dos alunos e das alunas tem muita ligação com a maneira como as escolas
reproduzem o mundo de forma deturpada. Pudemos identificar que diferentemente de muitas
instituições escolares, a Fundação Casa Grande faz uso de várias atividades e recursos, com o
propósito de atender as especificidades desses jovens, afinal, o desrespeito à diversidade nos
seus vários seguimentos implica graves consequências, as quais podem causar um regresso na
vida particular da juventude tanto na escola quanto sociedade, pois somos pessoas distintas no
mundo.
Portanto, a subjetividade que nos compõe torna-nos seres únicos neste universo que
habitamos, onde a complexidade e a diferença agridem a lei ―natural‖ do modelo de sociedade a
qual fazemos parte. Os alunos possuem uma relação identitária com a Fundação que encanta
nossos olhares enquanto sujeitos externos àquela proposta. Eles sentem-se sujeitos ativos e
importantes em todos os processos desde a organização física, a apresentação do espaço, a
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11455ISSN 2177-336X
organização das atividades, o envolvimento da comunidade, a limpeza de forma que garantem a
manutenção da ONG. Segundo Souza (2007):
Hoje ONG é a instancia que faz a intermediação entre os indivíduos e o
cenário público, oferecendo-lhes um canal de participação. A realização do
objetivo do cenário de integração da juventude pobre, coube em grande parte,
as ONGs que têm se dedicado à chamada educação-não formal. E no
cumprimento da mais importante finalidade da educação não formal – a
transformação do jovem em ator social – as ONGs tornaram-se as principais
produtoras e reprodutoras do discurso do protagonismo juvenil ( p.17).
Precisamos estar sensíveis para que assim sintamos os cheiros, os gostos, os olhares que
cada ser possui e possamos reafirmar a necessidade de práticas educativas diversificadas,
promovendo rupturas com o sistema massificador que busca homogeneizar os processos
didático-pedagógicos, dando primazia à educação que se tece na Fundação Casa Grande/CE.
A visita de campo, aliada aos estudos e às discussões propostas pela disciplina
Fundamentos da Educação para Convivência com Semiárido, possibilitou a convergência entre
a teoria e prática in loco, promovendo uma formação integral às mestrandas que puderam
constatar práticas educativas contextualizadas com a vida dos sujeitos na individualidade e na
coletividade. Embora a Fundação Casa Grande não faça menção à Educação Contextualizada,
constatamos que os seus princípios convergem para essa educação que tem como escopo partir
do estudo da realidade, conhecer as suas potencialidades de maneira a intervir na vida dos
jovens e, consequentemente, na vida das suas famílias e na vida em comunidade por meio de
itinerários pedagógicos que perpassam pela contextualização, como afirma Martins (2011):
Fazer Educação contextualizada é praticar uma Educação que parta da
realidade dos sujeitos; parta da riqueza, dos limites e da problemática geral
dos contextos de vida das pessoas. Mas, não é para ficar dando voltas nisto. É
para produzir conhecimento sofisticado, baseado em trabalhos de pesquisa,
em estudos, em tematizações, em problematizações fundamentadas e em
ações concretas, amparadas pelos conhecimentos gerados num itinerário
pedagógico, partindo sempre da teoria à prática e vice-versa. Assim sendo,
todo trabalho de Educação Contextualizada supõe um itinerário pedagógico
que: a) parte do conhecimento desta realidade; b) problematiza esta realidade,
excedendo o conhecimento empírico inicial; e, c) organiza um processo de
transformação desta realidade, a partir do novo conhecimento produzido
sobre ela. (p.58).
Coadunamos a fala do autor que respalda a Educação Contextualizada como um
itinerário pedagógico que não é estanque, pois se direciona em percursos formativos dos
sujeitos em todo o seu potencial. Os jovens que frequentam a Casa Grande (con)vivem
autonomamente a educação, com responsabilidade e respeito ao outro e às tradições locais.
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11456ISSN 2177-336X
Considerações finais
Como educadoras acreditamos que as práticas educativas voltadas para a
contextualização ganham cada vez mais espaço nas discussões sobre a educação que se faz em
diversos espaços formativos, sejam eles dentro ou fora dos muros da escola. O que se sabe é que
ainda temos muito a construir e lutar para que a educação desperte nos sujeitos o desejo de
transformação da sociedade e mudança de tantas desigualdades existentes em nosso país, seja
qual for o espaço formativo a intencionalidade de melhoria da qualidade de vida das pessoas
deve ser um ponto fundamental de discussão. Os processos formativos precisam ter um caráter
problematizador e consciente das realidades vivenciadas na atualidade.
Enfatizamos que a missão da Casa Grande, nas palavras do seu criador, Alembergue
Quindins, é ―manter as portas abertas, nunca deixá-las fechar‖. Com isso, constatamos que,
mais que uma missão institucional, trata-se de uma missão de vida para essa e para as próximas
gerações que têm na Fundação um referencial de educação para as crianças e jovens da região.
O protagonismo juvenil é um aspecto peculiar no processo de construção de uma
educação autônoma, crítica e cidadã. A participação ativa e dinâmica dos adolescentes e jovens,
a maneira de ser, agir e pensar são estabelecidas pelas relações construídas entre os
organizadores da ONG, as crianças, as famílias e os visitantes desse espaço formativo, são
visíveis de muita importância para a construção e consolidação de uma sociedade mais justa,
solidária, criativa, que não discrimina, e sim respeita e valoriza os diversos contextos.
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XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
11458ISSN 2177-336X
FUNDAÇÃO CASA GRANDE: UM JEITO DIFERENTE E PRAZEROSO DE
APRENDER
Josenilda Martins de Souza
Universidade do Estado da Bahia –UNEB
Programa de Pós-graduação – Mestrado em Educação,
Cultura e Territórios Semiáridos - PPGESA
Rosymarilethe Ribeiro da Silva Amorim
Universidade do Estado da Bahia –UNEB
Programa de Pós-graduação – Mestrado em Educação,
Cultura e Territórios Semiáridos - PPGESA
Resumo
O trabalho tem como escopo apresentar o resultado de uma pesquisa de campo realizada
junto à Fundação Casa Grande - Memorial do Homem Kariri – FCG, considerando a
relevância dos seus processos educativos nos contextos cultural, econômico e político-
social desta instituição na região e representa uma ação científica essencial para que
outros tenham conhecimento de como acontece a formação das crianças e o que elas
vivenciam na Fundação que encontra-se localizada na cidade de Nova Olinda, no
Estado do Ceará, na Região do Cariri, ao sopé da Chapada do Araripe na divisa com os
estados de Pernambuco, Paraíba e Piauí. Esta pesquisa de campo foi promovida pelo
componente curricular ―Fundamentos da Educação para a Convivência com o
Semiárido‖ do Programa de Pós-Graduação Mestrado em Educação, Cultura e
Territórios Semiáridos, no Campus III da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e
auxiliada pelos instrumentos metodológicos da abordagem qualitativa, através de
análise descritiva considerando pesquisas em fontes bibliográficas, visita técnica,
observação direta, registros fotográficos, áudios, e diálogos no espaço visitado. Nessa
perspectiva objetiva-se examinar a relevância dos processos educativos no contexto
cultural, econômico e político-social do Sertão do Cariri desenvolvidos na Fundação
Casa Grande. A proposição desse trabalho nos permitiu compreender que os processos
educativos desenvolvidos na Fundação Casa Grande são os pilares construtores de
novos contextos culturais, econômicos e político-social no Sertão do Cariri. A cidade
que abriga essa efervescência educativa torna-se uma prospecção de que podemos sim
nos orgulhar dos saberes que produzimos, mas sobretudo do entrelaçamento desses
saberes que constroem um novo saber.
Palavras-chave: Experiências educomunicativas. Educação não formal. Educação
Contextualizada.
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
11459ISSN 2177-336X
Problema de pesquisa
Sabemos que na sociedade contemporânea a educação formal, na qual a
aprendizagem é realizada por meio de conteúdos organizados e regida por leis,
prevalece ainda como superior diante das outras formas de educação. Porém, vale
salientar que, dentre os outros processos educativos existentes, a educação não formal
também vem se configurando como um modo de formação dos indivíduos a partir do
empoderamento de suas práticas educativas, sociais e culturais. No Programa de Pós-
graduação Mestrado em Educação, Cultura e Territórios Semiáridos – PPGESA o
objetivo é debater os processos educativos formais e não formais que se estabelecem em
contextos de regiões semiáridas de vários lugares do mundo, focalizando, neste cenário,
o Semiárido Brasileiro. Dessa forma, a disciplina de Fundamentos da Educação para
Convivência com o Semiárido, constituiu-se como um componente curricular essencial
que nos permitiu evidenciar os diversos modos de educação existentes. Dessa forma tem
nos instigado o problema de pesquisa: como os processos educativos desenvolvidos na
Fundação Casa Grande tem impactado no contexto cultural, econômico e político-social
do Sertão do Cariri.
Objetivo
O presente trabalho objetiva examinar a relevância dos processos educativos no
contexto cultural, econômico e político-social do Sertão do Cariri desenvolvidos na
Fundação Casa Grande tendo como parâmetro as leituras de embasamentos teóricos e
instrumentos metodológicos pautados na perspectiva qualitativa, pois considera as
análises dos textos, as subjetividades dos autores, e a visita in loco à ―Fundação Casa
Grande – Memorial Homem do Kariri‖. Foram consideradas as diversas observações e
diálogos no espaço visitado objetivando interrelacioná-los de forma a proporcionar
reflexões que possibilitem compreender como acontece o processo educativo na
instituição visitada e sua relevância nos contextos cultural, econômico e político-social
da cidade de Nova Olinda-CE.
Procedimentos metodológicos: O olhar dos pesquisadores sobre a Fundação Casa
Grande.
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
11460ISSN 2177-336X
O nosso olhar de pesquisadora teve como parâmetro as leituras de
embasamentos teóricos e instrumentos metodológicos que perpassaram uma perspectiva
qualitativa, uma vez que considera as análises dos textos, as subjetividades dos autores,
e a visita in loco à Fundação Casa Grande – Memorial Homem do Kariri. Tal definição
deu-se pela necessidade de conhecer e entender as atividades que são realizadas pelas
crianças em seus processos educativos nos espaços da instituição. Caracterizou-se por
uma análise descritiva considerando pesquisas em fontes bibliográficas, visita técnica,
observação direta, registros fotográficos, áudios, e diálogos no espaço visitado e pela
relevância do trabalho desenvolvido nos contextos cultural, econômico e político-social
das crianças e como se repercute na Cidade de Nova Olinda-CE.
Ainda, segundo Angers (1992, apud Jaccoud e Mayer, 2010, p.255), os
principais traços da ―observação direta, observação participante ou observação in situ
são: a)Técnica direta – que corresponde ao contato com os informantes; b) Observação
não-dirigida – a observação da realidade é o objetivo final do observador.‖ Portanto, o
pesquisador deve estar atento para o movimento das pessoas, os gestos, ―pois um
aspecto supostamente trivial pode ser essencial para a melhor compreensão do problema
que está sendo estudado‖, (LUDKE e ANDRÉ, 1986, p.12).
Discussões Iniciais
Cinco horas da manhã. Os raios solares já despertavam para a vida cotidiana,
abraçavam os corpos e encantavam os olhos dos que estavam com suas mochilas
prontas com destino a Cidade de Nova Olinda - CE, localizada a 364 Km da
Universidade do Estado da Bahia - UNEB – Departamento de Ciências Humanas,
Campus III em Juazeiro – BA, para uma visita a Fundação Casa Grande.
Foram 05 horas de deslumbramento e inserção, através das janelas do
transporte que rompida a distância entre o ponto de saída (Juazeiro -BA) e o de chegada
(Nova Olinda - CE), mostrava-nos a vegetação xerófita e exótica da Caatinga, formada
principalmente por árvores e pequenos arbustos tortuosos que perdem suas folhas nos
períodos de seca. Outros olhares foram os diversos cactos como mandacaru, xique-
xique, facheiro e as coroas de frade além de plantinhas rasteiras que nas primeiras
chuvas são as que rapidamente deixam seu estado de dormência e se revigoram e
servem de alimento farto para os pequenos animais que tem hábitos noturnos para se
protegerem do sol causticante. Segundo Carvalho (2006, p.45): ―o bioma Caatinga é o
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principal ecossistema existente no Nordeste, estendendo-se pelo domínio de climas
semi-árido, numa área de aproximadamente 11% do território nacional‖ rico em
espécies animais e vegetais, sendo muitas delas endêmicas. Ainda no percurso,
visualizam-se em diversos pontos, residências simples, distantes e também próximas
uma das outras com cisternas instaladas, as quais contribuem para a permanência do
homem nas terras de suas origens, reduzindo a sua migração para os grandes centros
urbanos na perspectiva de um padrão de vida que dificilmente ou nunca alcança.
E o transporte segue seu percurso... Parafraseando o poeta Olavo Bilac (2016)
os raios solares que despertaram para a vida cotidiana, abraçaram os corpos e
encantaram os olhos ao amanhecer, agora já se encontram ao pino do meio dia.
Meio-dia. Sol a pino.
Corre de manso o regato.
Na igreja repica o sino;
Cheiram as ervas do mato.
Meio-dia! O sol escalda,
E brilha, em toda a pureza,
Nos campos cor de esmeralda,
E no céu cor de turquesa...
Meio dia.
E chega-se a região do Cariri, rica em aquíferos, um oásis no semiárido, e logo
à cidade de Nova Olinda- CE, distante 560 Km da capital Fortaleza-CE, e que se
encontra inserida no semiárido brasileiro, uma das maiores áreas do planeta em
extensão, correspondente aos estados do ―Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba,
Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e norte de Minas Gerais‖ (CARVALHO, 2006,
p.17). Lá, a vida passa mansamente, a sensação é que o vento é mais tranquilo e faz a
curva com suavidade nas suas ―ruazinhas.‖ Os habitantes desta pacífica cidade veem as
horas passarem sentados nas calçadas, na tranquilidade das suas cadeiras de balanço.
No interior das casas, os ponteiros do relógio marcam o tic-tac manso de uma cidade
interiorana e serena, banhada pelo Rio Cariús que é afluente do Jaguaribe.
A cidade de Nova Olinda, com estimativa de 15.181 habitantes para o ano de
2015 (IBGE, 2012) tem sua origem nos primórdios do ciclo do couro no século XVIII,
quando a região possuía uma casinha de taipa e bom pasto para os animais. Esta casa
serviu por muitas vezes de rancho para comboeiros, que são pessoas que trabalhavam
com ―comércio de cana de açúcar e carne seca‖ (TV CASA GRANDE, 2014) e
vaqueiros que com suas manadas faziam o percurso ―Crato-Oeiras, que ligava a Paraíba
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
11462ISSN 2177-336X
ao Piauí, Crato - Inhamuns e Inhamuns – Pernambuco‖ (ACIOLI, 2002, P) e
desbravavam outras regiões.
O ponto de apoio logo se transformou em Fazenda Tapera, na qual foi
construída uma casa grande, uma capela e um cemitério. No entorno, foram sendo
construídas as casas e logo se transformaram no Povoado de Tapera. O tempo passa... E
a construção da casa grande que deu origem a Fazenda Tapera e em seguida ao
município de Nova Olinda deteriora-se e transforma-se em ruínas que logo servem para
a criação de diversas histórias assombradas naquela região.
No ano de 1992, um dos herdeiros daquelas terras, juntamente com, sua esposa,
restauraram a velha casa grande para o funcionamento do Memorial do Homem Cariri
que expõe o acervo arqueológico e mitológico da Chapada do Araripe, com fotografias
e desenhos confeccionados pelas crianças. Também contém as lendas, os mitos, o
material lítico e cerâmico bem como os registros rupestres. ―A casa foi tombada como
patrimônio histórico municipal, pelo Decreto de 03 de novembro de 1992, e criada a
Fundação Casa Grande‖ (FUNDAÇÃO CASA GRANDE, 1992).
No meio das brenhas nordestinas, as expectativas eram as mais diversas. Uma
Fundação... Um espaço de brincar e aprender... Um jeito diferente de interagir e
ensinar... As crianças como protagonistas e autônomas... Biblioteca disponível...
Cinemateca acessível... Parque no pátio, sem horário estabelecido para brincar... Teatro
que funciona semanalmente com espetáculos de músicas, danças, cineclube e
apresentações teatrais... Tudo a disposição das crianças.
Discussão e resultados: conferindo os espaços da Fundação Casa Grande...
No desembarque, na Fundação Casa Grande, somos aguardados por crianças
protagonistas que conduzem os visitantes (estudantes – UNEB/BA) às residências dos
moradores que oferecem as suas dependências como pousadas domiciliares. Por um
valor simbólico, é ofertado ao hospedado a condição de sentir-se em casa, uma vez que
tem contato com toda a família e usufrui das dependências comuns a todos, como sala e
cozinha. Além das dependências comuns, uma suíte com instalações simples, mas bem
higienizadas, composta por cama, travesseiro e roupa de cama, frigobar, televisão,
ventilador disponíveis no quarto, além de alguns livros e revistas.
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Inicia-se à tarde, sol... Muito sol. O calor provoca uma sensação térmica abafada
e agonizante, mas os habitantes de Nova Olinda – CE parecem nem sentir aquela
temperatura. As crianças, sem se dar conta do calor, correm e brincam no parque de
diversão que fica no pátio da instituição. Uma das crianças assume a função de monitora
e tem como incumbência apresentar as dependências do Memorial Homem do Kariri
que faz parte da Fundação Casa Grande. ―O Memorial possui vestígios arqueológicos da
ocupação humana na região, facilitando a compreensão dos aspectos histórico-culturais
do Geopark Araripe‖ (BRITO e PERINOTTO, 2012. P.56).
As crianças foram se envolvendo com a Fundação Casa Grande – Memorial
Homem do Kariri aos poucos e atraídas pela movimentação dos visitantes, deram vida,
cor e alegria a casa. Sentindo-se estimuladas/provocadas foram expressando seus
sonhos que aos poucos se tornaram realidade. A autonomia da criança monitora é
fascinante e além de monitora, ainda assume a ―função de auxiliar na biblioteca infantil
e infanto-juvenil, e faz programa de rádio‖ (TV CASA GRANDE, 2014). Enquanto
monitora o seu papel não foi desviado em momento algum, mesmo quando um dos seus
colegas lhe servira uma fatia de bolo, ela respondeu com muita segurança, que
guardasse o pedaço que ao terminar, comeria. E de fato, ao terminar as suas
responsabilidades enquanto monitora, lá estava ela, sentada no chão, degustando a sua
fatia de bolo. O que nos inquieta nessa visita é como desenvolver tamanha
responsabilidade e compromisso em uma criança? O que tem aqui, que em outro lugar
não tem?
Brincadeiras, histórias, música, arte, cultura, criança, adulto e toda gente que
quiser chegar. Mas, apesar de ter nela, adultos que plantaram as sementes da
casa grande, são as crianças os jardineiros que cuidam da terra para que as
flores floresçam todos os dias. Ao conhecer a Casa Grande nos damos conta
que tudo por lá é muito maior do que a missão escrita no papel (DIAS, REIS
W.C. e REIS E.S., 2015, p.2.).
A Fundação Casa Grande - Memorial Homem do Kariri tem como premissa a
formação educacional de crianças e jovens numa perspectiva cidadã e crítica. Tanto é
que, no cotidiano da instituição, as crianças habitualmente não assistem novelas, mas
assistem programação de documentários, programas de arte e músicas. Esses e outros
aspectos observados caracterizam a FCG como um espaço de educação não formal
conforme cita Gohn (2006):
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A educação não-formal capacita os indivíduos a se tornarem cidadãos do
mundo, no mundo. Sua finalidade é abrir janelas de conhecimento sobre o
mundo que circunda os indivíduos e suas relações sociais. Seus objetivos não
são dados a priori, eles se constroem no processo interativo, gerando um
processo educativo. Um modo de educar surge como resultado do processo
voltado para os interesses e as necessidades. que dele participa. [...] A
transmissão de informação e formação política e sociocultural é uma meta na
educação não formal. Ela prepara os cidadãos, educa o ser humano para a
civilidade, em oposição à barbárie, ao egoísmo, individualismo etc. (p. 29-
30).
Desta forma, o seu compromisso é a formação educacional de crianças e jovens
protagonistas em gestão cultural por intermédio de seus programas: ―Memória,
Comunicação, Artes e Turismo, Meio Ambiente e Esporte‖ (TV CASA GRANDE,
2012). Oferece cursos que tem como objetivo aguçar o protagonismo e iniciativa das
crianças, numa perspectiva que vai além do desenvolvimento de competências e
habilidades, mas, sobretudo incentivar a prática da afetividade e elevar a autoestima
fundamentados nos quatro pilares da educação: ser, aprender, fazer e conviver,
trabalhando primordialmente com as oficinas de quadrinhos, oficina de recuperação de
fachadas, oficinas de rádio, oficinas de música e oficina de gestão cultural.
(FUNDAÇÃO CASA GRANDE, 1992).
Ainda segundo Noronha (2008):
Consideramos que uma criança e/ou jovem que tem oportunidade de viajar,
conhecer espaços, localidades, paisagens diferenciadas, consegue entender
melhor de Geografia e História. Mais uma vez, portanto, salientamos a
importância de integração entre a educação formal e não-formal no
desenvolvimento da criança, jovem e adulto. Acrescentamos, porém, que tais
experiências são restritas, não conseguem abarcar muitas crianças, dentre as
que participam da FCG [...]. Participar da FCG também implica em estar
matriculado na rede, oficial de ensino e nela ter boas referências
(assiduidade, disciplina, boas notas) e dedicar-se muito às atividades da FCG.
Há, ainda, o incentivo à continuidade dos estudos. (p.73)
Outras atividades, como o Programa de Memória, que nada mais é do que a
catalogação do acervo mitológico da pré-história do homem cariri é realizada para
complementarem a educação escolar, e são praticados nos laboratórios de Conteúdo e
Produção com o principal objetivo de fazer com que as crianças e jovens se tornem mais
sensíveis ao ver, ao ouvir, ao fazer e ao conviver, favorecendo dessa forma uma
formação integral. E no Teatro Violeta Arraes - Engenho de Artes Cênicas acontece a
criação dos laboratórios de música, cineclube, gibiteca e biblioteca, tendo como objetivo
a formação de crianças por meio da arte, qualidade de conteúdo e produção artística,
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que acontece de forma totalmente orgânica e integral (FUNDAÇÃO CASA GRANDE
1992).
Com os olhos de quem enxerga longe... Muito longe, o diretor mobilizou os pais
das crianças que participam da Casa Grande para a criação da Cooperativa Mista dos
Pais e Amigos da Casa Grande – COOPAGRAN. A cooperativa produz e comercializa
suvenires e artesanatos, além de gerenciar o receptivo turístico através da lojinha,
cantina, bodeguinha, pousadas domiciliares e serviço de transporte. Segundo Noronha
(2008, p.128) a COOPAGRAN: ―veio a atender a dois desenvolvimentos locais: o
econômico (em termos de ajuda financeira à FCG e geração de renda familiar) e o
turístico (a região do Cariri cearense concentra um potencial turístico que cresceu com a
edificação da Fundação Casa Grande)‖.
Usufruindo da política educacional e cultural posta pela iniciativa dos
governos estadual e federal, a FCG prosperou, [...] No seu percurso,
evidenciam-se o estabelecimento de uma teia de relações e uma
paisagem material (rádio, editora, teatro, aparelhos televisivos, espaço,
museu, biblioteca, gibiteca, DVDteca, parque, laboratório de
informática, pousadas domiciliares e cooperativa) e imaterial
(cultura), cenário que pode vir a se constituir como um universo que
pode denotar práticas educativas não-formais, permeadas por práticas
disciplinares (NORONHA, 2008, p.77-78).
Nessas teias nos emaranhamos, e entre tantos lugares para visitar fomos a um
dos projetos da Fundação que é o Museu Memorial Expedito Celeiro que se configura
como um museu do ciclo de couro realizado pela Associação Expedito Seleiro. Foi
inaugurado no dia 19 de dezembro de 2014, ficando as margens do caminho das boiadas
e foi idealizado em parceria com o Serviço Social do Comércio- SESC. Na ocasião,
pudemos apreciar o conjunto das obras de arte em couro feito por Expedito Seleiro,
incluindo as máquinas utilizadas por ele para confeccionar os produtos em couro. Logo
após visitamos a loja onde são vendidos diversos produtos em couro entre bolsas,
sandálias, cadeiras, bancos, e vários outros produtos.
Após a realização das visitas voltando para a FCG foi sucedida uma roda de
conversa com o presidente da FCG e também:
um contador de "causos e lendas", e foi inspiração de diretores e
atores do cinema brasileiro, ministrando palestras e conferências vem
realizando aulas e espetáculos em congressos, seminários e eventos
ligados a educação, comunicação, artes, turismo e cidadania. Foi
palestrante da caravana do "Rumos" Itaú Cultural, é fellow da
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ASHOKA e líder da AVINA. (FUNDAÇÃO CASA GRANDE,
1992).
Durante o encontro vários estudantes contribuíram para o enriquecimento da
pesquisa com questionamentos sobre a FCG. Uma das primeiras indagações era sobre o
monitorando as crianças, uma vez que o ambiente é aberto à comunidade. Prontamente
foi respondido que não tinha nenhuma pessoa responsável por elas e no surgimento de
algum conflito as próprias crianças e jovens, que se relacionam muito bem, resolviam
seus problemas. Na FCG existe uma liberdade com responsabilidade. Outros pontos
também foram enfatizados tais como a liberdade, a nutrição cultural recebida durante as
atividades realizadas assim como o tema autonomia que teve destaque na roda de
conversa por ser uma das características marcantes no processo educativo realizado na
Casa. Destacou também que no contexto social de antigamente as crianças brincavam
mais que as de hoje em dia, e os vizinhos tinham mais contato uns com os outros. Outro
ponto relevante foi com relação à forma como a academia e alguns autores falam sobre
a educação e a vivência infantil, tentando ―ditar‖ como tem que ser a vivência entre as
crianças.
Outro tema evocado foi a pedagogia da liberdade uma vez que as crianças ficam
a vontade nas atividades e que não incentiva o trabalho pedagógico e conceitual, nesse
momento uma das responsáveis, ressaltou que apesar de incentivar essa liberdade a
Fundação Casa Grande também incentiva os alunos a estudarem, inclusive ao ingresso
na academia. Com relação a essa liberdade cognitiva Freire salienta que ―não haveria
criatividade sem a curiosidade que nos move e que nos põe pacientemente impacientes
diante do mundo que não fizemos, acrescentando a ele algo que fazemos‖ (FREIRE,
1997, p. 31).
Após várias discussões, um dos professores salientou a importância da
organicidade da Fundação e de como as regras às vezes tolhem as ideias e impedem a
criatividade de acontecer, pontuando que as escolas formais precisam aprender com
essas experiências, uma vez que essas escolas geralmente não trabalham com
profundidade as subjetividades e a vivência entre as pessoas. Citou também a
necessidade do currículo ser mais livre, enfatizando que o projeto da Fundação é
inovador. Finalizando a roda de conversa, o responsável pela Fundação frisou que ―o
que é legal é que faz a gente feliz‖!
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E é essa felicidade que é vislumbrada a partir da recepção das crianças aos
visitantes. Como diz o fundador: ―a casa é o que vocês estão vendo‖. A Fundação Casa
Grande vislumbrada como um destino turístico onde as crianças são preparadas para
receber o público externo através de formações que atendam a essa demanda. Para os
turistas o que acontece é o turismo de conteúdo, pois permite que o visitante tenha
acesso ao acervo dos laboratórios de conteúdo e se envolvam com as atividades
desenvolvidas nos laboratórios de produção.
No entanto, o ponto forte da Fundação Casa Grande – Memorial Homem do
Kariri é a perspectiva educomunicativa. As crianças apresentam gosto musical acurado,
diferente das crianças que não frequentam a instituição. Geralmente, escolhem bem o
que querem consumir. As consequências dessas escolhas estão na cuidadosa condução
musical em que os diretores encaminham o processo, mas sem controle proibitivo,
porém existe a preocupação em fazer as crianças compreenderem e cultivarem outro
repertório musical.
Assim, entende-se que a educomunicação que se faz de forma espontânea a
partir dos seus entrelaçados e de forma horizontal permite aos sujeitos nela envolvidos
se imbricarem no processo. Na Fundação Casa Grande as crianças ganham o direito de
optarem por ler um livro, fazer programa de rádio, assistir a um filme, brincar.
Evidentemente que eles escolheram a melhor opção. Ir a Fundação Casa Grande.
Considerações finais
A Casa Grande apresenta-se como uma instituição construtora de uma educação
não formal e que contribui para o pleno desenvolvimento das crianças e dos jovens que
lá se encontram, promovendo o desenvolvimento de habilidades e competências que
lhes serão úteis para toda a vida, além de semear a igualdade, a democracia, a
comunicação, a liberdade e a interculturalidade, tendo como referência os quatro pilares
da educação.
As práticas contextualizadas tem a preocupação de valorizar os saberes locais.
Destaca-se também a relevância do empreendedorismo voltado para o turismo e das
parcerias do setor privado que ao mesmo tempo em que gera renda para o município
permitem que as crianças lidem com questões de planejamento, assuntos econômicos e
culturais dando ênfase principalmente a geração de respeito ao povo e à cidade com sua
cultura local.
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Os arranjos educomunicativos desenvolvidos pela Fundação como rádio,
cinema, teatro, notícias e documentários, também atinge toda a cidade de Nova Olinda e
circunvizinhanças, pois o que acontece na FCG ultrapassa seus muros, movimenta e dá
vida ao local, trazendo novas perspectivas de ação aos seus habitantes, o que reverbera
na projeção da cidade em âmbito nacional e internacional. O envolvimento dos pais
através da COOPAGRAN evidencia um emaranhado de relações que envolvem a
comunidade local e influencia suas vidas, posto que as pousadas domiciliares
encontram-se espalhadas por toda a cidade. A educação patrimonial, presente em seus
saberes e fazeres cotidianos propicia às crianças o desenvolvimento de um sentimento
de pertencimento que se traduzem em práticas de cidadania consciente e atuante na
preservação do patrimônio material e imaterial na região do Cariri cearense.
Dessa forma, os processos educomunicativos desenvolvidos na Fundação Casa
Grande são os pilares construtores de novos contextos culturais, econômicos e político-
social no Sertão do Cariri. A cidade que abriga essa efervescência educativa torna-se
uma prospecção de que podemos sim nos orgulhar dos saberes que produzimos, mas
sobretudo do entrelaçamento desses saberes que constrói um novo saber.
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