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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA NÚCLEO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL E MEIO AMBIENTE ECOLOGIA COMPORTAMENTAL DE Mico rondoni - SAGUI-DE-RONDÔNIA (FERRARI et al., 2010) EM REMANESCENTE FLORESTAL SOB IMPACTOS ANTRÓPICOS EM PORTO VELHO/RO NICHOLLAS MAGALHÃES OLIVEIRA SILVA Porto Velho (RO) 2019

FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA MEIO AMBIE … · Plecturocebus brunneus (Zogue -zogue) e Saimiri ustus (Mico -de -cheiro). Além disso o grupo focal apresentou comportamentos

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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA

NÚCLEO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL E MEIO AMBIENTE

ECOLOGIA COMPORTAMENTAL DE Mico rondoni - SAGUI-DE-RONDÔNIA (FERRARI et al., 2010) EM REMANESCENTE FLORESTAL SOB IMPACTOS

ANTRÓPICOS EM PORTO VELHO/RO

NICHOLLAS MAGALHÃES OLIVEIRA SILVA

Porto Velho (RO)

2019

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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA

NÚCLEO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL E MEIO AMBIENTE

ECOLOGIA COMPORTAMENTAL DE Mico rondoni - SAGUI-DE-RONDÔNIA (FERRARI et al., 2010) EM REMANESCENTE FLORESTAL SOB IMPACTOS

ANTRÓPICOS EM PORTO VELHO/RO

NICHOLLAS MAGALHÃES OLIVEIRA SILVA

Orientadora: Profª. Drª. Carolina Rodrigues da Costa Doria

Co-orientadora: Profª. Drª. Mariluce Rezende Messias

Dissertação de Mestrado apresentada junto ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente, Área de Concentração em Ambiente, Saúde e Sustentabilidade para obtenção do título de mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente.

Porto Velho (RO)

2019

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Fundação Universidade Federal de Rondônia

Gerada automaticamente mediante informações fornecidas pelo(a) autor(a)

S586e Silva, Nichollas Magalhães Oliveira.

Ecologia comportamental de Mico Rondoni - Sagui-de-Rondônia (FERRARI et al., 2010) em remanescente florestal sob impactos antrópicos em Porto Velho/RO / Nichollas Magalhães Oliveira Silva. -- Porto Velho, RO, 2019.

53 f. : il.

Orientador(a): Prof.ª Dra. Carolina Rodrigues da Costa Doria

Coorientador(a): Prof.ª Dra. Mariluce Rezende Messias.

Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente) - Fundação Universidade Federal de Rondônia

1.Orçamento temporal. 2.Dieta. 3.Amazônia-sul-ocidental.

4.Conservação. 5.Callitrichidae. I. Doria, Carolina Rodrigues da Costa. II. Título.

CDU 599.822(811.1)

Bibliotecário(a) Luã Silva Mendonça CRB 11/905

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Dedico esse trabalho a todos aqueles que acreditaram em mim e jamais desistiram de me apoiar mesmo nas horas mais difíceis e em especial aos meus pais que sempre deram sangue e suor para que eu pudesse realizar meus sonhos.

Dedico também a Liza Maria Veiga pelo seu trabalho incrível que despertou em mim a paixão pela primatologia.

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AGRADECIMENTOS

As vezes paramos e nos perguntamos o porquê de estarmos aqui, mas sempre nos recordamos de nossos sonhos, que nos motivam a seguir adiante, dia após dia. Enfrentamos nossos medos, caímos, choramos, mas continuamos a andar, sempre com aquela esperança de que o sol irá raiar. Isso é um fato, assim como a ciência, mas mesmo assim, sempre temos a dúvida da realidade. Essa curiosidade que nos serve de combustível muitas vezes nos cega e nos mergulha na imensidão do nosso próprio eu. Encarar o EGO é uma batalha diária que muitas vezes perdemos e nos vemos sem fé, sem esperança, nos culpando por tudo.

Durante o meu primeiro capítulo (graduação) tive de me confrontar diariamente e lutar comigo mesmo para alcançar meus sonhos. Sempre tive uma base solida que me ajudou a enfrentar cada desafio. Afinal “O mundo não é um grande arco-íris” e não podemos desistir por que apanhamos diariamente, nós precisamos “aguentar e continuar tentando” e não podemos simplesmente dizer “que eu não consigo por causa dele ou dela” e como uma amiga minha um dia disse: “Apenas fracassados desistem” de seus sonhos e não somos fracassados. E como naquela música da Marina Peralta que eu escutava todos os dias ao acordar, eu só vou agradecer a todos aqueles que estavam ao meu lado durante esses dois anos do meu segundo capítulo (mestrado) em busca dos meus sonhos.

São 24 anos desde que eles me conheceram, ou me fizeram? Desde as minhas primeiras palavras até o momento do hoje, essas duas figuras divinas me ensinaram a ser quem eu sou, me mostraram que a vida apesar de todas as dificuldades, ainda é colorida e que há muito ainda a ser vivido. Muito obrigado mãe e pai, por tudo o que vocês fizeram e fazem por mim e me desculpem por toda essa tempestade que passamos juntos durante esses dois anos. Eu amo vocês mais que tudo nesse mundo. Vocês são meus anjos da guarda sempre me guiam no caminho da luz, não importa o quanto esteja escuro.

Já são oito anos aguentando a minha chatice e teimosia, mas graças a você eu descobri esse mundo fantástico da Mastozoologia e primatologia. Hoje somos muito mais do que aluno e orientadora, somos amigos e eu sempre pude contar com você para tudo. Você me entendeu nos meus momentos difíceis e sempre me aconselhou nos rumos que eu deveria tomar e seguir, além de não ter desistido de mim em nenhum momento. Muito obrigado Malu. Você foi a professora que me mostrou que a vida possui vários sentidos e que sempre devemos ver as coisas de outra forma, além de muito amada por todos.

Você sempre foi a professora modelo do curso, sempre te admirei muito e sempre brincamos entre os alunos que quando crescermos queríamos ser iguais a você. Eu me lembro até hoje do dia em que me ofereceu a vaga para ser orientado mesmo não sendo da sua área de estudo. Eu prometi não te decepcionar e espero não ter decepcionado apesar de tudo. Você sempre foi compreensível comigo apesar das cobranças, mas eu sei que tudo o que você faz e para o nosso bem e aprendizado. Muito obrigado Carolina por ter me proporcionado realizar mais um sonho.

Um dos principais pilares que sustentam a gente são os amigos. E olha que dei muito trabalho para eles durante todo esse período. Muito obrigado em especial para o João Facundo, Carolina Brum e Keile por terem me aguentado na minha pior fase. Vocês são uns anjos que não desistem de mim nunca e que vão ser obrigados a me aturar para o resto da vida.

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Um muito obrigado ao Davi Lucas por mesmo de longe ter que me aturar perturbando-o e ele sempre saber o que dizer nos momentos mais difíceis, suas palavras as vezes iluminam o dia.

Um muito obrigado a Day, minha parceira de laboratório que passou por todos esses perrengues junto comigo e me ajudou muito.

Muito obrigado Marcela, por ter sido mais que uma amiga, uma professora e por ter me ajudado e muito a concluir esse trabalho, você é um grande anjo que me guiou pelos mares da estatística e me deu luz nas horas confusas.

Muito obrigado Juliana por estar comigo nos momentos mais difíceis e por me mostrar o verdadeiro significado do amor. Já são quase três anos me aturando e espero que venham muitos outros. Você me ensinou muita coisa nesse tempo e sempre me ajudou a ver as coisas por outra perspectiva. Obrigado por tudo mesmo, pelas noites acordada me fazendo companhia, pelos campos que me acompanhou, por me mostrar os meus erros e acertos, por colorir mais o meu dia, por ser o meu sol e minhas estrelas e por todo carinho e amor que você me dá.

Um muito obrigado a Silvia e ao Renato da SEDAM por todo o apoio logístico durante as expedições na ESEC Samuel.

Muito obrigado Alex por todos os ensinamentos de sobrevivência na selva e pelos campos juntos, além de sua amizade.

Muito obrigado a equipe do herbário Kesia e Cowboy por me ajudarem na identificação dos itens vegetais.

Muito obrigado as minhas amigas de Cacoal que me ajudaram muito no fim do ano principalmente nas aventuras no vale perdido com a participação especial de Jesus vendendo pamonha.

Um muito obrigado a todos do laboratório de fora que me ajudaram de alguma forma nessa jornada.

Cada um de vocês tiveram um papel essencial na minha realização desse sonho. MUITO OBRIGADO!!!!

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Você não pode passar um único dia sem ter um impacto no mundo ao seu redor. O que você faz, faz a diferença, e você tem que decidir que tipo de diferença você quer fazer. – Jane

Goodall

A escalada pode ser longa, mas a vista vale a pena! – Taric, League of Legends.

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RESUMO

O Mico rondoni é uma espécie de primata endêmico do estado de Rondônia. Descrito em 2010, o conhecimento sobre sua ecologia básica e plasticidade ambiental é ainda incipiente. A espécie está categorizada como vulnerável à extinção. 71% de sua área de distribuição geográfica está fora de áreas protegidas e os 29% remanescentes está sob intensa pressão de fragmentação em seu entorno, fato este que ressalta a importância da geração de subsídios para sua conservação. A área de estudo é o remanescente florestal periurbano situado no Campus José Ribeiro Filho da Universidade Federal de Rondônia – UNIR no município de Porto Velho/RO. Apresenta constante supressão vegetal para expansão da universidade, além de diversas pressões antrópicas em seu entorno, como caça e expansão urbana. Para reconhecimento do repertório comportamental foi utilizada a metodologia Ad libitum. Um grupo com 11 indivíduos, foi observado mensalmente por 1232 horas entre os meses de junho de 2018 e maio de 2019. Durante esse período foram obtidos 3855 registros comportamentais, através do método de varredura (scan) com adaptações. Os animais se deslocaram em média cerca de 2,4 km por dia, tendo seu orçamento temporal geral distribuído da seguinte forma: 40,6% em deslocamento, 26,5% em repouso, 14,11% em alimentação, 9,41% em forrageio, 6,12% em interação social e 3,26% em manutenção, apresentado uma baixa e não significativa variação sazonal. Sua dieta apresentou variação sazonal significativa no período chuvoso: os animais consumiram mais goma (seiva) em relação a frutas, diferente do padrão já observado para família, cujo consumo de goma é maior nos meses mais secos. Os animais demonstraram ser tolerantes com a presença de outros grupos e espécies, formando inclusive bandos mistos com Pithecia mittermeieri (Parauacú), Leontocebus weddelli (Sagui-de-cara-suja), Plecturocebus brunneus (Zogue-zogue) e Saimiri ustus (Mico-de-cheiro). Além disso o grupo focal apresentou comportamentos sociais inéditos como catação interespecífica em um indivíduo de P. mittermeieri e em um de L. weddelli. Para a conservação a longo prazo desta população de Mico rondoni, sugere-se que a Universidade implemente medidas de conservação do seu remanescente florestal. Sugere-se a realização de estudos complementares em áreas conservadas, a fim de compreender melhor o contexto biológico e ambiental das inéditas interações afiliativas interespecíficas observadas no presente estudo, isso possibilitaria uma maior compreensão da plasticidade ecológica e comportamental da espécie.

Palavras-chave: Orçamento temporal; Dieta; Amazônia-Sul-Ocidental; Conservação; Callitrichidae.

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ABSTRACT

Rondon’s Marmoset is a species of endemic primate from the state of Rondônia. Described in 2010, the knowledge is still incipient about its basic ecology and environmental plasticity. The species is categorized as vulnerable to extinction. 71% of the geographical distribution of the species is outside the protected areas and the remaining 29% is under intense fragmentation pressure in its surroundings, which causes to stand out the importance of subsidy generation for the Rondon’s Marmoset conservation. The study area is the periurban forest remnant located at the Campus José Ribeiro Filho of the Universidade Federal de Rondônia — UNIR in Porto Velho/RO. The area features constant vegetation suppression because of the university expansion as well as several anthropogenic pressures in its surroundings, such as hunting activity and urban expansion. To recognize the behavioral repertory was used the Ad Libitum methodology. A group with 11 individuals was observed for 1.232 hours monthly between June 2018 and May 2019. During this period 3.855 behavioral records were obtained through the scan method with some adaptations. The animals moved an average of 2.4 km per day, and their overall time budget was distributed as follows: 40.6% in dislocation, 26.5% at rest, 14.11% in feeding, 9.41% in foraging, 6.12% in social interaction and 3.26% in management, presenting a low and non-significant seasonal variation. Their diet showed a significant seasonal variation in the rainy season: the animals consumed more gum (sap) compared to fruits, different from the pattern already observed for the family, whose consumption of gum is higher in the drier months. The animals demonstrated to be tolerant with the presence of other groups and species, even forming mixed flocks with Pithecia mittermeieri (Saki Monkey), Leontocebus weddelli (Weddell’s Saddle-Back Tamarin), Plecturocebus brunneus (Brown Titi Monkey) and Saimiri ustus (Golden-Backed Squirrel Monkey). Also, the focus group showed unprecedented social behaviors such as interspecific grooming in one P. mittermeieri and one L. weddeli individuals. For the long term conservation of this population of Rondon’s Marmoset is suggested that the university implements conversation measures at its remnant forest. Complementary studies in conserved areas are recommended to better understand the biological and environmental context of the unprecedented interspecific affiliation interactions observed in the present study, which would allow a better comprehension of the ecological and behavioral plasticity of the species. Key-words: Time budget; Diet; Southwestern Amazon; Conservation; Callitrichidae.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01: Mapa da área de estudo Campus José Ribeiro Filho, da Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho/RO........................................................................................................18 Figura 02: Mico rondoni fêmea, sentada sobre um galho no remanescente florestal do Campus José Ribeiro Filho da Universidade Federal de Rondônia – UNIR. Data: 29/11/2018...............19 Figura 03: Mapa representativo da localização das árvores dormitórios do grupo de estudo de Mico rondoni no Campus José Ribeiro Filho da Universidade Federal de Rondônia - UNIR, Porto Velho/RO, entre os meses de julho de 2018 e maio de 2019. Em destaque, perímetro da universidade com as demarcações das árvores dormitório.........................................................24 Figura 04: Gráfico do percentual de itens alimentares consumidos por mês pelo grupo de estudo de Mico rondoni, no remanescente florestal do Campus José Ribeiro Filho – Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho/RO. Entre os meses de junho de 2018 a maio de 2019...........................................................................................................................................27 Figura 05: Orçamento temporal de Mico rondoni no remanescente florestal do Campus José Ribeiro Filho – Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho/RO. Entre os meses de junho de 2018 a maio de 2019..............................................................................................................30 Figura 06: Orçamento temporal por intervalo de hora durante os meses de junho de 2018 a maio

de 2019 de Mico rondoni em remanescente florestal no Campus José Ribeiro Filho da

Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho/RO................................................................30

Figura 07: Mico rondoni macho adulto, em repouso em galho no remanescente florestal do Campus José Ribeiro Filho – Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho/RO. Data: 27/07/2018................................................................................................................................32 Figura 08: Mico rondoni se alimentando de exsudato no remanescente florestal do Campus José Ribeiro Filho – Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho/RO. Data: 27/11/2018..........32 Figura 09: Dois Mico rondoni, machos adultos realizando o comportamento de piloereção e exibição de genitália durante competição territorial em remanescente florestal no Campus Jose Ribeiro Filho da Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho/RO. Data: 12/08/19............33

Figura 10: Mico rondoni adulto, realizando a vocalização de defesa em remanescente florestal

do Campus José Ribeiro Filho da Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho/RO. Data:

12/08/2019........................................................................................ ........................................34

Figura 11: Três indivíduos jovens de Mico rondoni realizando grooming em um indivíduo macho de Mico. Em remanescente florestal do Campus José Ribeiro Filho – Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho/RO. Data: 23/11/2018.........................................................35

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Figura 12: Leontocebus weddelli adulto realizando grooming em Mico rondoni adulto no remanescente florestal do Campus José Ribeiro Filho – Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho/RO. Data: 15/08/2018. ..........................................................................................36 Figura 13: Três indivíduos de Mico rondoni “cutucando” um indivíduo de Pithecia mittermeieri no remanescente florestal do Campus José Ribeiro Filho – Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho/RO. Data: 29/11/2018...........................................................................................38 Figura 14: Macho de Mico rondoni se deslocando sobre galho de Embaúba carregando filhote. Em remanescente florestal do Campus José Ribeiro Filho – Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho/RO. Data: 29/11/2018...........................................................................................40 Figura 15: Mico rondoni adulto realizando auto-catação (Self-grooming) no remanescente florestal da do Campus José Ribeiro Filho – Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho/RO. Data: 29/11/2018.....................................................................................................40

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01: Etograma do Mico rondoni, em remanescente florestal no Campus José Ribeiro Filho da Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho/RO..................................................22 Tabela 02: Dias por mês de formação de bandos mistos de Mico rondoni com demais primatas no remanescente florestal do Campus José Ribeiro Filho, Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho/RO, durante os meses de junho de 2018 a maio de 2019........................................25 Tabela 03: Itens vegetais consumidos pelo grupo de estudo de Mico rondoni no remanescente florestal do Campus José Ribeiro Filho da Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho/RO, entre junho de 2018 e maio de 2019...........................................................................................27 Tabela 04: Formação de bandos mistos por intervalo de horários no remanescente florestal do Campus José Ribeiro Filho – Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho/RO. Entre os meses de junho de 2018 a maio de 2019.....................................................................................28

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SUMÁRIO

1 REFERENCIAL TEÓRICO...............................................................................................12 2 OBJETIVOS............................................................................................. ............................17 2.1 Objetivo geral.....................................................................................................................17 2.2 Objetivos específicos............................................................................... ...........................17 3 REFERENCIAL METODOLÓGICO...............................................................................17 3.1 Área de estudo......................................................................................... ...........................17 3.2 Espécie alvo do estudo.......................................................................................................18 3.3 Objeto de estudo.................................................................................................................20 3.4 Coleta de dados..................................................................................................................20 3.4.1 Grupo de estudo................................................................................................................22 3.5 Análises estatísticas...........................................................................................................22 3.5.1 Deslocamento diário......................................................................................................23 4 RESULTADOS.....................................................................................................................23 4.1 Ecologia básica da espécie.................................................................................................23 4.1.1 Deslocamento diário.........................................................................................................24 4.1.2 Organização social............................................................................................................25 4.1.3 Ecologia alimentar............................................................................................................26 4.2 Parâmetros populacionais (composição e tamanho de grupo).......................................28 4.2.1 Repertório comportamental..............................................................................................29 4.3 Ecologia comportalmental................................................................................................29 4.4 Categorias comportamentais............................................................................................31 4.4.1 Forrageio............................................................................................. .............................31 4.4.2 Repouso............................................................................................................... .............31 4.4.3 Alimentação........................................................................................ .............................32 4.4.4 Interação social.................................................................................................................33 4.4.4.1 Piloereção......................................................................................................................33 4.4.4.2 Defesa............................................................................................................................33 4.4.4.3 Gromming (catação)......................................................................................................35 4.4.4.4 Brincadeiras...................................................................................................................37 4.4.4.5 Marcação de cheiro........................................................................................................37 4.4.4.6 Formação de grupos mistos............................................................................................38 4.4.4.7 Disputa por alimento......................................................................................................39 4.4.4.8 Cuidado parental............................................................................................................39 4.4.5 Locomoção.......................................................................................................................39 4.4.6 Manutenção.......................................................................................... ............................40 4.5 Impactos locais e alteração comportamental do grupo de Mico rondoni da universidade......................................................................................................................... ....41 5 DISCUSSÃO............................................................................................. .........................41 6 CONCLUSÃO.......................................................................................... .........................45 REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO....................................................................................46

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1. REFERENCIAL TEÓRICO

O Brasil é detentor de uma das maiores biodiversidades do mundo. Estima-se que haja

cerca de 1,8 milhões de espécies em seu território, entretanto apenas 11% desse número já foi

catalogado (aproximadamente 220 mil espécies) dos quais 1.173 estão ameaçados em algum

nível de extinção (JUNIOR e GONÇALVES, 2019). O Brasil também apresenta a maior

biodiversidade de primatas, possuindo 140 das 665 espécies de primatas do mundo (21%), das

quais, 117 ocorrem na Amazônia (84% das espécies brasileiras) (SBP, 2018; RYLANDS et al.,

2012).

Visando a conservação desse patrimônio biológico, desde a década de 70 o Brasil

promoveu um avanço nas ações e no desenvolvimento de capacidades para conservação

(MITTERMEIER, et al., 2005).

Ao contrário de alguns países desenvolvidos, o Brasil construiu seu programa de

conservação sobre uma sólida base cientifica (MITTERMEIER, et al., 2005). Uma das

evidências mais tangíveis em relação a consciência conservacionista no Brasil, foi a

proliferação de parques e reservas, desde a década de 70 (MITTERMEIER, et al., 2005).

Os estudos com primatas desempenharam papel importante no desenvolvimento de

paradigmas e métodos de conservação no Brasil, principalmente a partir da década de 60

(MITTERMEIER, et al., 2005). Um dos trabalhos mais importantes em relação a primatologia

e a conservação no Brasil, foi de José Marcio Ayres com o projeto de criação das reservas de

Mamirauá e Amanã.

O interesse pelos primatas brasileiros está arraigado na história do país, tendo seu

primeiro contato com os indígenas que possuem o hábito de criar primatas como animais de

estimação, fato que passou a ser adotado pelos europeus para serem utilizados como um meio

de entretenimento (BELLESA, 2015). Apenas na década de 20 os primatas começaram a ser

estudados com ênfase na saúde, tendo em vista doenças relacionadas a ecto e endoparasitas,

além de pesquisas com primatas exóticos da espécie Macaca mulata relacionadas a vacinas

contra a febre amarela, pelo instituto Oswaldo Cruz (MITTERMEIER, et al. 2005; BELLESA,

2015).

Adicionalmente as pesquisas voltadas a saúde, Adelmar F. Coimbra-Filho foi um dos

precursores na pesquisa com Macaca mulata estudando a sua ecologia reprodutiva. Na década

de 60 apenas Adelmar F. Coimbra-Filho exercia pesquisas em campo com primatas no Brasil e

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estudava o mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia) (MITTERMEIER, et al. 2005;

BELLESA, 2015).

Das 117 espécies ocorrentes na Amazônia, 22 ocorrem no estado de Rondônia,

distribuídas em cinco famílias: Cebidae com quatro espécies (Sapajus apella, Sapajus

macrocephalus, Saimiri ustus e Saimiri boliviensis), Pitheciidae com oito espécies (Pithecia

mittermeieri, Chiropotes albinasus, Plecturocebus brunneus, Plecturocebus dubius,

Plecturocebus moloch, Plecturocebus bernhardi, Plecturocebus cinerascens e Plecturocebus

sp. nov.), Atelidae com quatro espécies (Ateles chamek, Alouatta puruensis, Alouatta caraya e

Lagothrix cana), Aotidae com uma espécie (Aotus nigriceps) e Callitrichidae com cinco

espécies (Mico rondoni, Mico melanurus, Leontocebus weddelli, Leontocebus labiatus e

Cebuella pygmaea niveiventris).

Dentre essas espécies, o Mico rondoni, que foi identificado primeiramente como

Callithrix emiliae (THOMAS, 1920) e posteriormente como Callithrix nigriceps (FERRARI e

LOPES, 1992), sendo reconhecido como espécie após passar por análises filogenéticas a partir

do DNA mitocondrial (FERRARI et al., 2010). É uma espécie endêmica do estado de Rondônia,

sendo sua distribuição geográfica proposta por FERRARI et al. (2010) delimitada pelos rios

Mamoré (ao oeste), Madeira (ao norte), Ji-paraná ou Machado (ao leste) e pela Serra dos Pacaás

Novos (Sudoeste). Entretanto, sua distribuição pode ser maior ao sul do que previsto no trabalho

de sua descrição, visto, que GUSMÃO et al., (2015) registrou o Mico rondoni ao sul de sua

distribuição, a aproximadamente 120 km de distância do limite proposto inicialmente para

espécie, na RESEX Rio Cautário, situada no município de Costa Marques/RO. O limite exato

de sua distribuição ao sul do estado ainda precisa ser investigado.

O Sagui-de-Rondônia recebeu seu nome em homenagem ao Marechal Cândido Rondon,

da mesma forma que o estado de Rondônia (FERRARI et al., 2010). Esta espécie é parapátrica

com o Mico melanurus e simpátrica com Leontocebus weddelli (Saguinus weddelli), uma

possível espécie competidora por espaço e recursos. Em alguns estudos já foi possível averiguar

a formação de bandos mistos entre estas três espécies (GUSMÃO et al., 2015; ICMBIO, 2018).

O Mico rondoni é pertencente da família Callitrichidae, na qual estão presentes os

primatas do Novo Mundo de pequeno porte comumente conhecidos como micos, soins e saguis.

Apresentam em média 400g e medem cerca de 220mm (cabeça-corpo) e 330mm de cauda, suas

unhas são modificadas em garras (exceto no hálux) para auxiliar na locomoção arbórea, não

apresentam cauda preênsil, são diurnos e vivem em grupos. A família é distribuída por quase

todos os biomas brasileiros e sua alimentação consiste em pequenos vertebrados, frutos,

invertebrados, flores, exsudatos e néctar. Atualmente, são reconhecidos oito gêneros na família

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(Mico, Callithrix, Callimico, Saguinus, Cebuella, Callibella, Leontopithecus e Leontocebus)

(DOS REIS et al., 2015; RYLANDS, 2016).

Dentre os primatas do Novo Mundo, a família Callithrichidae era a mais especiosa (37

espécies) até a última década, perdendo em riqueza para a família Pitheciidae, que com o

aumento no número de espécies da subfamília Callicebinae, após recentes revisões filogenéticas

que indicaram a ocorrência de aproximadamente 40 espécies (DOS REIS et al., 2015; BYRNE,

et al., 2016). Entretanto, muitos táxons de calitriquídeos podem ainda não ter sido descritos

cientificamente, como evidenciado pelas recentes descobertas de 22 novas espécies entre os

anos de 2000 até 2019, das quais, quatro são de calitriquídeos, sendo Mico rondoni um destes

exemplos (IUCN, 2018).

Após análises filogenéticas o gênero Callithrix foi dividido em dois gêneros (Callithrix

e Mico), na qual, o gênero Mico (LESSON, 1840) foi validado por RYLANDS et al., (2000).

O “novo” gênero atualmente é aceito, entretanto algumas discussões ainda são levantadas em

relação ao mesmo (MORO-RIOS, 2013).

Esta família, assim como as demais da Ordem Primates, vem sofrendo com as ações do

homem (impactos antrópicos). As atividades antrópicas impactantes podem ser rodovias

próximas a áreas de preservação permanente, hidroelétricas, cidades e atividades agropecuárias,

entre outros (ALMEIDA, 1996; VALERI e SENÔ, 2004). As atividades antrópicas vêm

gerando problemas como a fragmentação, simplificação de ecossistema, alterações sensíveis na

comunidade biótica, redução de populações e isolamento de metapopulações (ALMEIDA,

1996; VALERI e SENÔ, 2004). Devido a esses impactos, cerca de 61% (n=84) das espécies de

primatas estão ameaçadas de extinção (IUCN, 2018).

O Mico rondoni está incluído entre elas, estando atualmente categorizado com o status

de vulnerável a extinção (IUCN, 2018; ICMBIO, 2018). Sua distribuição inicial apresenta cerca

de 70.576,54 Km² (FERRARI, 2010), entretanto a distribuição geográfica do Mico rondoni é

bem menor do que a prevista em sua descrição; estima-se uma distribuição de 15.500 km² menor

que a descrita anteriormente para esta espécie (OCHOA-QUINTERO et al., 2017). Além disso,

grande parte da sua distribuição modelada (71%) situa-se fora de áreas protegidas (OCHOA-

QUINTERO et al., 2017).

A espécie tem como principais atores de impacto a expansão da agricultura e o

desenvolvimento de infra-estruturas que transformaram/destruíram 20.532 km² de floresta

dentro de sua área de distribuição (38%) até 2016, principalmente em áreas sem proteção.

Outros 10.316 km² de floresta estão previstos para serem desmatados até 2040 sob os atuais

padrões de governança de acordo com a modelagem realizada por OCHOA-QUINTERO et al.

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(2017). Estes autores, sugerem que se eleve o status de conservação desta espécie para

ameaçada, na ausência de novas áreas protegidas, de acordo com o cenário BAU-Business As

Usual.

Destaca-se ainda que o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

(ICMBIO, 2017) publicou em 1º de dezembro de 2017 a portaria Nº 792, aprovando o Plano de

Ação Nacional para Conservação dos Primatas Amazônicos. Este plano consta 15 espécies de

primatas prioritárias para conservação, estando o Mico rondoni entre elas. O plano prevê que

até 2023 sejam atingidas as seguintes metas para a espécie:

Aprimorar o planejamento territorial, visando a conservação dos primatas amazônicos

ameaçados, em cinco anos;

Orientar a mitigação e compensação dos efeitos de empreendimentos sobre as espécies

alvo, em cinco anos;

Reduzir a pressão de caça sobre os primatas amazônicos ameaçados em cinco anos;

Avaliar e mitigar os impactos de epizootias sobre primatas amazônicos ameaçados em

cinco anos; e

Gerar conhecimentos a respeito dos impactos e formas de minimizar os efeitos das

mudanças climáticas sobre as espécies alvo, em cinco anos.

Nesse cenário, considerando a drástica perda de habitat do Mico rondoni e sua área de

distribuição estar abrangida pelo arco do desmatamento, além da lacuna de informações sobre

sua ecologia e história de vida, vê-se a urgência de geração de informações sobre a espécie.

Ação prevista na lista vermelha da IUCN e no Livro Vermelho da Fauna Brasileira (OCHOA-

QUINTERO et al., 2017; IUCN, 2018; ICMBIO; 2018).

Em decorrência do pequeno número de pesquisadores de campo e das dificuldades

inerentes a observação comportamental de primatas em florestas tropicais – particularmente de

calitriquídeos, que possuem pequeno porte e são extremamente ativos e ágeis - há relativamente

poucos estudos dessa família no bioma amazônico em condições naturais sobre a ecologia

comportamental e ecologia alimentar, podendo citar os de EPPLE e KATZ, (1980); SOINI,

(1987); GARBER, (1988); EGLER, (1992); FERRARI e MARTINS, (1992); LOPES e

FERRARI, (1994); HEYMANN, (1995); AZEVEDO, (2006); CANIZO e CALOURO, (2011);

SANTOS, (2015); SOBROZA, (2015); DOS SANTOS et al., (2017); SAUER et al., (2017) e

sobre distribuição geográfica os de CRANDLEMIRE-SACCO, (1988); SILVA JR e

NORONHA, (1998); OLIVEIRA e FERRARI, (2008); GONÇALVES, et al., (2009); RÖEH,

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et al., (2009); DE SOUZA FIALHO, (2010); FERRARI et al., (2010); BUCKNER et al.,

(2015); GUSMÃO et al., (2015); OCHOA-QUINTERO et al., (2017).

Estudos sobre o comportamento animal são importantes para o monitoramento

ambiental (SNOWDON, 1999), visto que mudanças no comportamento animal (e orçamento

temporal) é o primeiro indicador de degradação ambiental, que antecede as alterações

populacionais ou de comunidade. Estas mudanças comportamentais podem ser nas relações

intraespecíficas (com aumento de comportamentos agonísticos e redução de comportamentos

afiliativos, como, por exemplo a catação “grooming”) e mudanças no comportamento sexual,

que ocorrem de forma mais rápida em ambientes degradados, desta forma esperar uma redução

da população para se preocupar com o ambiente pode levar a um ponto irreversível de sua

degradação (SNOWDON, 1999).

Os diferentes tipos de comportamento são reações proporcionadas pela relação com o

meio, no qual, o ser se encontra (AURICCHIO, 2017). Estímulos como a disponibilidade de

alimento, presença ou ausência de predadores, aspectos reprodutivos e a vida em sociedade,

fazem com que os animais apresentem respostas diferentes a cada estímulo (AURICCHIO,

2017). Desta forma essas reações bem-sucedidas têm grande papel no seu sucesso evolutivo

(AURICCHIO, 2017).

Os primatas são animais extremamente sociais, desta forma, interações sociais são

regidas por comportamentos de comunicação, sendo estas por diversas formas, tais como:

vocalização, posturas, odores, expressões e cores (AURICCHIO, 2017). Além disso, os estudos

de ecologia comportamental e da história natural dos primatas podem ser utilizados como

ferramentas básicas para a compreensão de suas necessidades ecológicas e plasticidade

comportamental e ambiental, com aplicação direta em programas de conservação (DEL-

CLARO e TOREZAN-SILINGARDI, 2006).

Tendo em vista os poucos dados sobre o comportamento das espécies do gênero Mico,

é necessário a geração de informações comportamentais. Um dos poucos trabalhos com este

gênero como o de SAUER et al., (2017) com Mico melanurus em um fragmento florestal urbano

demonstrou que os animais despendem maior parte do seu orçamento temporal com forrageio

(47,6%), deslocamento (21,4%), interações sociais (17,2%), alimentação (6,6%), escarificação

(3,9%) e repouso (3,3%). Acredita-se que esse orçamento temporal deve ser similar para o Mico

rondoni, entretanto deve-se levar em consideração as condições ambientais, os fatores

ambientais podem impactar os padrões comportamentais e consequentemente o orçamento

temporal da espécie.

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Tais informações são importantes para futuros projetos conservacionistas e de políticas

públicas voltadas a conservação da espécie, visando um desenvolvimento mais sustentável para

a região, no qual seja possível conciliar a expansão urbana com a conservação da biodiversidade

local e regional.

2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral:

Descrever e avaliar parâmetros ecológicos da espécie Mico rondoni em um remanescente

florestal com diferentes impactos antrópicos em Porto Velho/RO.

2.2 Objetivos específicos:

Compreender padrões de deslocamento diário, organização social e ecologia alimentar do Mico

rondoni em um renascente florestal em Porto Velho/RO;

Comparar a composição da dieta de Mico rondoni de um renascente florestal em relação a

sazonalidade em Porto Velho/RO;

Comparar qualitativamente parâmetros populacionais (variação na composição sexo-etaria do

grupo e tamanho de grupo, formação de bandos mistos) de um grupo de Mico rondoni em

relação a sazonalidade em um renascente florestal em Porto Velho/RO;

Descrever e quantificar as interações intraespecíficas, tanto de coesão de grupos (afiliativas)

como agonísticas;

3. REFERENCIAL METODOLÓGICO

3.1 Área de estudo

O estudo foi realizado em uma área com diferentes níveis de impactos antrópicos, sendo

um remanescente florestal com aproximadamente 50 hectares situado dentro do perímetro do

Campus José Ribeiro Filho da Universidade Federal de Rondônia (UNIR) situado na BR-364,

km 9,5, sentido Rio Branco (Figura 01). A fitofisionomia da área é de uma florestal ombrófila

aberta de terras baixas, com altitudes variando de 40 a 150m do nível do mar (MIRANDA,

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2004). O remanescente é categorizado como floresta secundária, devido a quase toda a sua área

ter sido explorada no passado (MIRANDA, 2004). A área amostral apresenta-se em constante

supressão da vegetação devido à expansão horizontal da universidade.

Durante o estudo novas obras foram iniciadas na universidade, causando a supressão de

mais áreas do remanescente florestal e gerando também possíveis barreiras nos percursos de

deslocamento diário dos animais. Além da expansão da infraestrutura da universidade o

remanescente florestal sofre retirada de madeira ilegal (o que reduz ainda mais a sua qualidade

ambiental), caça e pressão em seu entorno pela expansão urbana, proeminentemente da Vila

Princesa e propriedades vizinhas.

Figura 01: Mapa da área de estudo Campus José Ribeiro Filho, da Universidade Federal de Rondônia.

Fonte: Nichollas Magalhães.

3.2 Espécie alvo do estudo

O Mico rondoni (Figura 02) apresenta poucos pelos na face, apenas na região nasal e

entre os olhos; os pelos pretos estendem-se da testa até as laterais da cabeça e tornam-se mais

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claros e densos na orelha e no pescoço; sua face não é pigmentada, mas apresenta manchas nos

lábios e narinas; os membros posteriores apresentam uma coloração de cor castanha puxando

para o preto próximo a cauda, que apresenta pelos negros, podendo haver manchas brancas na

ponta, ou no meio da cauda. As fêmeas e os machos medem em média cerca de 220,6mm e

pesam em torno de 330,2g (FERRARI et al., 2010). Sua dieta é composta por frutos, pequenos

insetos, flores e seiva; sua área de vida é estimando de 10-40ha e apresentam um sistema de

acasalamento poliândrico – ou seja, uma fêmea se acasala com vários machos (DE OLIVEIRA

et al., 2008; FERRARI, 2008; SILVA JR e NORONHA, 1998; STEVERSON e RYLANDS,

1988). Seu estado de conservação consta como vulnerável a extinção (IUCN, 2019; ICMBIO,

2018).

Esta espécie habita floresta ombrófila densa de baixada e floresta ombrófila aberta (DE

OLIVEIRA et al., 2008; MESSIAS et al., 2005). Apresenta comportamento de formação de

bandos mistos com outras espécies, tais como Leontocebus weddelli e Mico melanurus na

RESEX do Rio Cautário em Costa Marques/RO (GUSMÃO et al., 2015) e Sapajus apella e

Pithecia mittermeieri na Floresta Nacional do Jamari (ICMBIO, 2018).

As principais ameaças para a espécie são: assentamentos rurais, agricultura, pecuária,

expansão urbana, desmatamento, aumento da matriz energética, aumento da matriz rodoviária,

desconexão e redução de habitat, além de uma possível competição por recursos com a espécie

Leontocebus weddelli (ICMBIO, 2018; IUCN, 2019). Figura 02: Mico rondoni fêmea adulta, sentada sobre um galho no remanescente florestal do Campus José Ribeiro

Filho da Universidade Federal de Rondônia – UNIR. Data: 29/11/2018.

Fonte: Nichollas Magalhães.

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3.3 Objeto de estudo

O grupo selecionado para amostragem era formado por 11 indivíduos. Ao todo eram

dois filhotes, quatro jovens ou sub-adultos e cinco adultos.

Atualmente o grupo é formado por 11 indivíduos, sendo que dois membros (um filhote

e um jovem) da formação inicial não estão mais no grupo (possivelmente predados), mas após

o nascimento de dois filhotes o número se estabeleceu, logo após, um indivíduo jovem migrou

para o grupo, totalizando 12 indivíduos, entretanto no mês de maio um dos filhotes não foi mais

avistado, mantendo assim a contagem inicial de indivíduos/grupo.

3.4. Coleta de dados

O estudo foi realizado no período de maio de 2018 a maio de 2019, totalizando 13 meses

de amostragem, na qual, o primeiro mês foi dedicado a habituação (cerca de 80 horas) e fase

piloto do trabalho. Foram analisados quatro grupos de Mico rondoni e o grupo que apresentou

maior habituação à presença humana foi selecionado para o estudo. Após a primeira semana foi

dado início a fase piloto, na qual, foi utilizada a metodologia de Ad libitum (ALTMANN, 1974),

a fim de gerar um etograma da espécie (Tabela 01), que consiste em um mapa do repertório

comportamental da espécie, de forma descritiva e detalhada.

A coleta de dados foi realizada durante 10 dias consecutivos, nas últimas duas semanas

de cada mês, totalizando 120 dias de amostragem, dos quais, em 112 houve amostragem e em

oito não houve avistamento da espécie. As amostragens eram iniciadas ao nascer do dia (em

torno das 6:00h) e encerravam-se ao final do dia (17:00h). Em alguns dias a amostragem se

iniciou mais tarde em decorrência de fatores climáticos (chuva) ou encerrou mais cedo

conforme a atividade dos animais ou perda dos mesmos. Devido à dificuldade em acompanhar

os indivíduos, por algumas áreas próximas a igarapés, durante alguns dias, houve uma lacuna

nos horários de 11:00 a 13 :00 horas, na qual, os animais se deslocavam em alguns locais de

baixa visibilidade e inundados, impossibilitando a visualização do pesquisador, perdendo-os de

vista. Para localização dos indivíduos era iniciado uma busca pela árvore dormitório, caso os

animais não estivessem na mesma, era iniciada uma busca auditiva e visual pela área de uso do

grupo.

Para formulação do orçamento temporal dos espécimes, inicialmente foi realizado um

teste de metodologia para averiguar qual método seria o mais adequado. Foram testadas as

metodologias de Animal focal e varredura (Scan) (ALTMANN, 1974). O método de varredura

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(ou scan) - que consiste em uma varredura momentânea do comportamento do grupo durante

um período amostral pré-determinado - foi escolhido para coleta dos dados. Os intervalos entre

os períodos amostrais (PA) também foram testados em campo, sendo o intervalo amostral de

maior eficiência e eficácia o de três minutos entre os PA’s. Entretanto foi necessário realizar

uma adaptação no mesmo, tendo em vista a impossibilidade de coletar os dados de todos os 11

indivíduos do grupo, gerando assim uma lacuna nas informações coletadas. Desta forma, os

indivíduos de uma mesma faixa etária foram agrupados contabilizando apenas um indivíduo

por faixa etária em um intervalo de um minuto. A dificuldade de utilização do método de

varredura sem alterações foi devida as características da área de estudo, que apresentou baixa

visibilidade e terrenos descontínuos, com aclives de aproximadamente 20m de altura, ausência

de trilhas, presença de igarapés, áreas privadas sem autorização de acesso, além das

características da espécie, como pequeno porte dos animais e grande agilidade, fatores que

implicaram na impossibilidade de individualização dos espécimes. Por isso, também não foi

possível a aplicação adequada do método “Animal focal”, que consiste em anotar durante um

período pré-determinando todos os comportamentos de um mesmo indivíduo selecionado do

grupo.

Esses dados foram categorizados e organizados em uma planilha do software Excel

2013. Os dados então foram analisados de forma mensal. Na análise do orçamento

comportamental, optou-se pelo percentual mensal a fim de compreender melhor a interação dos

espécimes com o meio em relação a sazonalidade.

Os comportamentos (com ênfase em comportamentos agonísticos) foram descritos

detalhadamente e comparados qualitativamente levando em consideração parâmetros

ambientais e comportamentais como a composição vegetal, ações antrópicas no entorno e

sobreposição de área de vida dos grupos vizinhos de Mico rondoni. A variação na composição

sexo-etária do grupo ao longo do período amostral também foi avaliada qualitativamente. Da

mesma forma foram avaliados os possíveis impactos das obras da universidade sobre o

comportamento do grupo de Mico estudado do remanescente florestal.

Para registrar os itens alimentares, sempre que os animais eram vistos consumindo

algum item alimentar, o mesmo era coletado quando possível (quando se encontravam em

estado reprodutivo) Todos os itens vegetais que não foram possíveis de serem identificados

pelo pesquisador utilizando o website flora do Brasil, foram encaminhados ao Herbário

rondoniense (RON) e foram identificados pela bióloga Késia da Silva Gonçalves e pelo

estagiário Adelciano Alves Soares (Cowboy), que utilizaram principalmente o Guia da Reserva

Ducke (RIBEIRO et al., 1999) e o website flora do Brasil (http://floradobrasil.jbrj.gov.br).

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Tabela 01: Etograma do Mico rondoni, em remanescente florestal no Campus José Ribeiro Filho da Universidade

Federal de Rondônia, Porto Velho/RO. Elaborado a partir da metodologia de Ad libitum. Categoria Subcategoria Alimentação Os animais manuseiam alimentos e ingerem. Repouso Os animais permanecem por um determinado

período parados em um local, geralmente um galho. Podem estar tanto sentados, quanto deitados.

Deslocamento Os animais se deslocam por saltos de forma diagonal, vertical ou horizontal e podem também se deslocar por pequenas corridas como se estivessem “galopando”.

Manutenção Os animais podem praticar “Self-grooming” (se catar), urinar e limpar a face em galhos, ou até mesmo no chão.

Interação social As interações sociais comumente resumem-se ao Grooming/Allogrooming (catação) intra e interespecífico, comportamentos agonísticos (piloereção, vocalização de alerta, demarcação de território, disputa por alimento e brigas) e brincadeiras.

Forrageio Toda e qualquer procura ou busca por alimento, manuseando galhos, folhas e gravetos.

3.5 Análises estatísticas

Foi definido como período de cheia o correspondente de dezembro a maio e de seca de

junho a novembro, levado em consideração o nível da precipitação apresentado pelos dados do

INMET (2019).

Para a análise estatística foi utilizado o Software Past 3.0. Na avaliação da diversidade

de dieta foi empregado o Índice de Diversidade de Shannon-Wiener, sendo realizado o teste T

de comparação entre os períodos (KREBS, 1998). Para avaliar a diferença de proporções de

itens da dieta entre os dois períodos foi realizada a proporção de itens na dieta. Esse cálculo

baseia-se dividindo o número de registros de consumo do item pelo número total de registros

alimentícios: Pd = nr/N, onde nr = o número de registros de consumo do item alimentar durante

o período, e N = o número total de registros de alimentação durante o mesmo período. Da

mesma maneira também foi calculada a proporção de uso de uma família vegetal: dividindo-se

a quantidade de registros daquela família pelo total de registros alimentares de todas as famílias. Considerando a adaptação do método, e o baixo número de dias completos (20 dos 112

dias com observação) para formulação do orçamento temporal considerou-se como unidade

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amostral o intervalo de cada hora, desta forma, obtendo-se então uma média percentual do

comportamento/intervalo de hora do dia.

3.5.1 Deslocamento diário

A fim de compreender o deslocamento diário dos espécimes foi gerado trilhas virtuais

durante as observações dos animais, utilizando o aplicativo de livre acesso Wikloc Navegação

Outdoor GPS para IOS ou Android. Através das distancias estimas pelo aplicativo, foi gerada

uma média do deslocamento diário. Não foi possível utilizar um método sistemático devido à

dificuldade na aplicação das metodologias em decorrência do baixo número de dias inteiros de

monitoramento do grupo, desta forma, optou-se por usar a média aproximada do deslocamento

diário dos animais.

4. RESULTADOS

4.1 Ecologia da espécie:

O grupo de Mico rondoni estudado iniciava suas atividades ao nascer do dia nos

intervalos de 6:00h a 7:00h (n=15) e de 7:00h as 8:00h da manhã (n=65) e encerrando ao

entardecer (por volta das 16:30h e 17:00h da tarde).

Durante o estudo o grupo monitorado alternou entre três árvores dormitório (Figura 03),

não apresentando um padrão aparente de escolha entre elas, mas sim relativo a proximidade da

árvore do local, no qual, os mesmos estavam ao entardecer.

A primeira árvore dormitório localiza-se nas coordenadas 8º 50’ 04.50”S 63º

56’29.86”O, encontra-se na borda de uma estrada de acesso a um sitio atrás da universidade. A

árvore é um Angelim (Hymenolobium petraeum) de aproximadamente 23 metros de altura

coberto por lianas. Os primatas abandonaram a árvore dormitório durante o mês de outubro

após a árvore perder alguns galhos durante uma forte chuva. Logo após uma segunda árvore

passou a ser usada com frequência, uma Embaúba (Cecropia palmata), de aproximadamente

13 metros de altura com a presença de algumas lianas próximo ao dossel, localizada ao lado do

prédio das Coleções Zoológicas e Laboratórios Integrados (8º 50’03.02”S 63º 56’ 24.52”O). A

terceira árvore dormitório encontra-se centralizada em sua área de vida (8º 50’12.60”S 63º

56’29.30”O), entretanto seu uso era devido ao grande adensamento de lianas localizado na faixa

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do sub-bosque e só foi utilizada três vezes durante o estudo em dias de chuva. A distância média

entre a árvore 01 e a 02 (linha reta) é de 170m. Entretanto, para se deslocar entre as mesmas,

os animais necessitavam se deslocar aproximadamente 480m devido a área edificada que se

encontra entre as duas árvores. A distância aproximada (em linha reta) entre a árvore 01 e 03 é

de 250m e da 02 a 03 é de 330m.

Figura 03: Mapa representativo da localização das árvores dormitórios do grupo de estudo de Mico rondoni no

Campus José Ribeiro Filho da Universidade Federal de Rondônia - UNIR, Porto Velho/RO, entre os meses de

julho de 2018 e maio de 2019. Em destaque, perímetro da universidade com as demarcações das árvores

dormitório.

Fonte: Nichollas Magalhães.

4.1.2 Deslocamento diário:

Durante os meses de frutificação de plantas exóticas como a manga, foi possível

observar que os animais se deslocavam ao longo de todo o dia por uma pequena faixa de borda

(aproximadamente 342 metros em média) onde o alimento se concentrava. Esse comportamento

estendeu-se por todo o período da disponibilidade do fruto e durante o período de recesso de

aulas da Universidade (nos meses de junho/julho 2018 e novembro 2018 a janeiro 2019), os

animais se deslocavam em média 0,9 a 1km por dia, enquanto nos demais meses do ano, os

animais se deslocavam em média 2,4km por dia, não havendo uma variação expressiva durante

o ano.

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4.1.3 Organização social:

Devido as dificuldades na identificação dos espécimes, além das elencadas

anteriormente, não foi possível reconhecer um padrão para organização social do grupo.

Entretanto foi evidenciado que há a presença de um casal dominante. Sendo assim o bando era

formado por quatro fêmeas (duas adultas e duas jovens), seis machos (dois adultos e quatro

jovens) e dois filhotes que não foi possível realizar a sexagem.

As formações de bandos mistos observadas, demonstraram um comportamento de

tolerância do M. rondoni as demais espécies de primatas ocorrentes no remanescente. Formando

bandos mistos durante todo o dia, sempre durante o deslocamento com L. weddelli (88 dias) e

durante alguns dias com outros primatas como: P. brunneus (10 dias), P. mittermeieri (22 dias)

e S. ustus (10 dias) (Tabela 02).

A área de uso de um grupo de L. weddelli é a mesmo do grupo de estudo, desta forma

os indivíduos quase sempre formavam bandos mistos para forrageamento, entretanto na estação

seca (com maior disponibilidade de frutos) esse comportamento é reduzido (n=49 na chuva e

n=39 na seca).

Tabela 02: Dias por mês de formação de bandos mistos de Mico rondoni com demais primatas no remanescente

florestal do Campus José Ribeiro Filho, UNIR, Porto Velho/RO, durante os meses de junho de 2018 a maio de

2019.

Meses M/Lw M/Pb M/Pm M/Su N total

Junho 4 0 0 0 4

Julho 6 0 0 0 6

Agosto 10 0 2 0 12

Setembro 4 0 0 0 4

Outubro 10 0 0 0 10

Novembro 10 5 5 0 20

Dezembro 10 0 0 0 10

Janeiro 10 5 5 0 20

Fevereiro 5 0 7 0 12

Março 4 0 0 0 4

Abril 5 0 0 0 5

Maio 10 0 3 10 23

M/Lw= Mico rondoni/Leontocebus; M/Pb= Mico rondoni/Plecturocebus brunneus; M/Pm= Mico

rondoni/Pithecia mittermeieri; M//Su= Mico rondoni/Saimiri ustus.

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4.1.4 Ecologia alimentar:

Durante o estudo os espécimes do bando estudado foram vistos se alimentando de 23

espécies vegetais (Tabela 03), sendo nove espécies exóticas e 13 autóctones. Grande parte dos

itens consumidos foi observada durante a fase de habituação (16) sendo observada durante a

coleta de dados sete novos itens alimentares. Não foi possível identificar os invertebrados a

nível taxonômico além da ordem, entretanto foi possível observar o consumo das ordens

Orthoptera (gafanhotos), Lepdoptera (borboletas e mariposas), Blattodea (cupins) e Coleoptera

(besouro rola-bosta). Houve só um registro de consumo de vertebrado: um pequeno lagarto

arborícola (Figura 05).

A frequência no consumo de itens alimentares variou conforme a sazonalidade. Houve

diferença na frequência de consumo de itens alimentares (H= 83,58 p< 0,05), sendo o exsudato

e frutos os itens mais consumidos, seguido de invertebrados, flores e vertebrados (Figura 05).

Entre os meses mais úmidos (dezembro de 2018 a abril de 2019) o exsudato substituiu quase

que completamente o consumo de frutos com cerca de 143 (26,28%) dos 544 registros de

alimentação sendo n=41 (7,53%) de frutos, n=9 (1,65%) de inflorescência, n=1 (0,18%) de

vertebrados e n=3 (0,55%) de flores e complementado com invertebrados n=25 (4,59%).

Durante os meses de outubro/novembro e de maio a julho, as árvores no remanescente

tendem a florescer e frutificar (PANSINI, 2008), dessa forma o consumo de frutas aumenta,

tais como a manga suprem a alimentação dos animais em relação aos demais itens alimentares.

A manga foi a espécie exótica mais consumida, cerca de 51 (9,37%) dos 544 registros

alimentares totais.

Logo após o início da chuva (novembro/dezembro), poucas frutas estão presentes no

ambiente, levando os animais a substituírem quase que completamente o consumo de fruta por

exsudato durante todo o período de chuvas (de dezembro a abril) (Figura 05).

Não houve diferença significativa na diversidade de itens alimentares em relação a

sazonalidade (t= 0,93 gl=283,43 p=0,34).

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Figura 05: Gráfico do percentual de itens alimentares consumidos por mês pelo grupo de estudo de Mico rondoni,

no remanescente florestal do Campus José Ribeiro Filho – Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho/RO.

Entre os meses de junho de 2018 a maio de 2019.

Tabela 03: Itens vegetais consumidos pelo grupo de estudo de Mico rondoni no remanescente florestal do Campus

José Ribeiro Filho da Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho/RO, durante junho de 2018 e maio de 2019.

Nome popular Nome científico Tipo de item consumido

Manga* Mangifera indica Fruto

Morontotó Schefflera morototoni Exsudato

Goiaba-de-anta Bellucia grossularioides Fruto

Breu-branco Protium heptaphyllum Fruto/Exsudato

Breu Protium sp.1 Fruto/Exsudato

Breu Protium sp.2 Fruto/Exsudato

Embaúba-gigante Cecropia sciadophyla Infrutescência

Embaúba-roxa Cecropia purpurascens Infrutescência

Murici Byrsonima crassifolia Fruto

Figo* Ficus benjamina Fruto

0

50

100

150

200

250

300

350

400

0102030405060708090

100

Prec

ipita

ção

em m

m

Perc

entu

al

Meses

Exsudato Flor Fruto Infrutescência

Invertebrados N.I. Vertebrados Precipitaçao

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(Continuação)

Nome popular Nome científico Tipo de item consumido

Figo Ficus guianensis Fruto

Maracujá-silvestre Passiflora coccinea Fruto

Maracujá* Passiflora edulis Fruto

Cupuaçu* Theobroma grandiflorum Fruto

Azeitona-preta* Syzygium cumini Fruto

Uva-do-mato Cissus verticillata Fruto

Goiaba* Psidium guajava Fruto

Mamão* Carica papaya Fruto

Cacau-í Theobroma cacau Fruto

Tucumã* Astrocaryum sp. Fruto

Cajazinho* Spondias lutea Fruto

Faveira-ferro Parkia sp. Fruto * Itens exóticos consumidos durante a coleta de dados; demais itens autóctones consumidos.

Fonte: Nichollas Magalhães.

4.2 Parâmetros populacionais (composição e tamanho de grupo)

Três bandos mistos se formaram em momentos específicos do dia, amanhecer e

entardecer (Tabela 04). Durante a maior parte do dia mantinham-se sozinhos e quase todos os

grupos apresentavam cerca de 11 a 12 indivíduos havendo uma homogeneidade na composição.

Os espécimes chegaram a formar bandos mistos com até três espécies diferentes de primatas ao

mesmo tempo.

Tabela 04: Formação de bandos mistos por intervalo de horários no remanescente florestal do Campus José Ribeiro

Filho – UNIR, Porto Velho/RO. Entre os meses de junho de 2018 a maio de 2019.

Horário M/Lw M/Pb M/Pm M/Su N=Sp 6:00h - 11:00h 44 7 15 0 3 11:00h - 17:00h 30 3 7 0 3 6:00h - 17:00h 14 0 0 10 2

M/Lw= Mico rondoni/Leontocebus; M/P.b= Mico rondoni/Plecturocebus brunneus; M/P.m= Mico

rondoni/Pithecia mittermeieri; M/Su= Mico rondoni/Saimiri ustus; N=Sp número de espécies junto ao Mico

rondoni. Fonte: Nichollas Magalhães.

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4.2.1 Repertório comportamental

Em relação ao comportamento agonístico, os grupos não apresentaram disputas claras

por território, muitas vezes se demonstrando tolerantes com a presença de outros grupos em sua

área de vida (n=90). Durante todas as vezes em que outros bandos de primatas adentravam em

sua área de uso, os animais formavam bandos mistos para forrageio, poucas vezes havendo

comportamentos agonísticos (N=32), que consistiram em puxões (os animais agarravam os

saguis pela “cintura” e o lançavam para o galho debaixo) durante a alimentação.

4.3 Ecologia comportamental

Foram obtidos ao longo de todo o período de amostral 3855 registros comportamentais

distribuídos da seguinte forma: 1565 em deslocamento (40,6%), 1021 em repouso (26,5%), 544

em alimentação (14,11%), 363 em forrageio (9,41%), 236 em interação social (6,12%) e 126

em manutenção (3,26%).

Após observações prévias notou-se que os jovens e adultos apresentavam um padrão

comportamental bastante similar entre si, desta forma não foi possivel uma análise comparativa

entre os comportamentos por faixa etária. Os dados de filhotes foram mínimos para serem

considerados no estudo. Não foi possível a identificação individual de todos os membros do

grupo.

Não houve variação no orçamento temporal mensal do grupo (Figura 06). Levando em

consideração o intervalo por hora o deslocamento demonstrou ser o comportamento mais

expressivo entre os horários de 6:00h às 10:00h da manhã n=955 (61,13%), variando

ligeiramente até às 13:00h. Houve um aumento do deslocamento entre 14:00h até às 16:00h. O

grupo normalmente encerrava o dia entre as 16:00h e às 17:00h (Figura 07).

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Figura 06: Orçamento temporal de Mico rondoni no remanescente florestal do Campus José Ribeiro Filho –

Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho/RO. Entre os meses de junho de 2018 a maio de 2019.

Fonte: Nichollas Magalhães.

Figura 07: Orçamento temporal por intervalo de hora durante os meses de junho de 2018 a maio de 2019 de Mico

rondoni em remanescente florestal no Campus José Ribeiro Filho da Universidade Federal de Rondônia, Porto

Velho/RO.

Fonte: Nichollas Magalhães.

0

50

100

150

200

250

300

350

400

0

10

20

30

40

50

60

Prec

ipita

ção

em m

m

Perc

entu

al

Meses

Forrageio Int. Social Manutenção Deslocamento

Alimentação Repouso Precipitaçao

0

50

100

150

200

250

300

6:00 7:00 8:00 9:00 10:00 11:00 12:00 13:00 14:00 15:00 16:00 17:00

de re

gist

ros

Horário

Alimentação Repouso Forrageamento Deslocamento Int. Social Manutenção

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4.4 Categorias comportamentais

4.4.1 Forrageio

O forrageio n=363 (9,41%) do M. rondoni consiste em vasculhar visualmente a área em

busca de qualquer item alimentar, como presas (invertebrados), manipulam folhas, pequenos

galhos e cascas de árvores, além de perfurar cupinzeiros alocados no dossel das árvores. No

chão, vasculham a serapilheira e troncos ocos (adentrado em seu interior).

4.4.2 Repouso

O comportamento de repouso foi registrado em n=1021 (26,48%). Este comportamento

categoriza-se pelo animal se encontrar parado, deitado ou sentado por mais de três segundos

consecutivos. Esse período foi adotado, após observações prévias do tempo despendido em

cada comportamento pelos animais, devido a hiperatividade dos animais, os mesmos alteravam

o comportamento em questão de poucos segundos, desta forma o intervalo de três segundos

garantiu uma padronização da categoria “repouso”. Os animais geralmente apresentam algumas

posturas próprias para repouso, quando estão “sentados” recolhem-se em posição fetal com a

cauda enrolada entre os membros posteriores, quando deitados os animais esticam-se

ventralmente em um galho deixando seus membros “soltos”, pendendo verticalmente em

relação ao mesmo (Figura 08). A postura de “parado” pode ser semelhante à de forrageio visual

(visto que os animais ficam sentados, mas com a cauda solta ou presos ao tronco), entretanto

os animais claramente não estão em busca de alimento.

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Figura 08: Mico rondoni macho adulto, em repouso em galho no remanescente florestal do Campus José Ribeiro

Filho – Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho/RO. Data: 27/07/2018.

Fonte: Nichollas Magalhães.

4.4.3 Alimentação

A alimentação foi registrada em n=544 (14,11%). Este comportamento consiste no

manuseio e ingestão de alimento pela espécie, podendo ser de origem animal ou vegetal. O

Mico rondoni apresenta duas formas de alimentação, com o apoio dos membros anteriores

(manuseando e direcionando o alimento a boca) ou diretamente com a boca (mordendo ou

lambendo o alimento, mais comum na ingestão de exsudatos) (Figura 09).

Figura 09: Mico rondoni se alimentando de exsudato no remanescente florestal do Campus José Ribeiro Filho –

Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho/RO. Data: 27/11/2018.

Fonte: Nichollas Magalhães.

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4.4.4 Interação social

4.4.4.1 Piloereção:

O comportamento de piloereção (Figura 10) foi observado em 15 ocasiões. Este

comportamento consiste em arrepiar os pelos corporais, principalmente os da faixa mediana do

dorso. O M. rondoni arrepia os pelos de toda a cauda e superior do dorso todo quando se sentem

ameaçados. Este comportamento foi muito comum durante a fase piloto do estudo, mas após o

período de habituação do grupo ao pesquisador, os animas repetiram este comportamento

apenas quando outros humanos passavam próximos a eles (nas rampas de acesso aos prédios

por exemplo) ou quando alguma ave de rapina se aproximava do grupo (n=02).

Figura 10: Dois Mico rondoni, machos adultos realizando o comportamento de piloereção e exibição de genitália

durante competição territorial em remanescente florestal no Campus Jose Ribeiro Filho da Universidade Federal

de Rondônia, Porto Velho/RO. Data: 12/08/19.

Fonte: Mario Roberto Venere.

4.4.4.2 Defesa:

Poucos comportamentos de defesa foram observados (n=32). Levando em consideração

que o grupo se apresentou bastante tolerante em relação as demais espécies de primatas

ocorrentes na sua área de uso, com registros de formação de bandos mistos com quatro espécies

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de primatas (73,33% dos 120 dias de observação) da mesma forma em relação ao

compartilhamento das áreas de alimentação. Obteve-se apenas três registros de defesas

territoriais entre grupos de Mico rondoni, todas ocorrentes no período chuvoso (duas em junho

de 2018 e uma em maio de 2019). O comportamento de defesa territorial consistiu em

vocalizações agressivas (Figura 11), e enfrentamentos (deslocando-se em direção do espécime

invasor). O comportamento de disputa por alimento caracterizou-se por derrubar o animal do

galho, ou vocalizações constantes na área de concentração de alimento, ou puxões. Apenas uma

disputa por alimento entre M. rondoni e L. weddelli e seis registros de marcação de território

(duas em novembro, três em dezembro de 2018 e uma em fevereiro de 2019).

Foram observadas por duas vezes, um comportamento de defesa em relação a predação

por aves (uma vez no período da seca e uma vez no período chuvoso), na qual um indivíduo

macho adulto de Mico rondoni afugentou um gavião (Rupornis magnirostris) correndo em

direção ao mesmo e vocalizando enquanto o animal permanecia na área.

Outra forma de defesa por parte dos machos é a demonstração de genitália, na qual, os

animais esticam os membros posteriores e mostram a genitália para o possível invasor. Este

comportamento foi observado para espécie, entretanto, não durante o estudo.

Figura 10: Mico rondoni adulto realizando a vocalização de defesa em remanescente florestal do Campus José

Ribeiro Filho da Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho/RO. Data: 12/08/2019.

Fonte: Mario Roberto Venere.

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4.4.4.3 Grooming (catação):

O registro deste comportamento foi muito comum para a espécie (n=176, 73,94% de

todos os comportamentos sociais) (Figura 12), e é especialmente realizado em estratos mais

altos, na qual, os animas costumam repousar. Os animais que recebem a catação geralmente se

deitam ventralmente em um galho e relaxam o corpo expondo as partes, na qual, está sendo

realizada a catação. Este comportamento também pode ser realizado com indivíduos de outras

espécies. Os comportamentos de catação interespecífica observados foram os primeiros para

espécie e serão descritos e quantificados a seguir:

a) Comportamento de grooming de Leontocebus weddelli em Mico rondoni:

No dia 15 de agosto de 2018 o grupo de estudo estava formando um bando misto com

um indivíduo adulto não sexado de Leontocebus weddelli. Os animais se juntaram para repouso

em uma liana, as 15:00h da tarde, logo após o L. weddelli iniciou o comportamento de grooming

em um indivíduo macho adulto de M. rondoni (Figura 13). O comportamento se prolongou por

cerca de dez minutos. Durante o mesmo o espécime alternava o grooming entre outros

indivíduos de M. rondoni (três, um jovem e dois adultos, sendo que um estava com filhotes no

dorso), o tempo estimado não alcançou um minuto entre as trocas de um indivíduo para o outro.

Em apenas um indivíduo ele permaneceu a catação por dez minutos, provavelmente o alfa.

Figura 12: Três indivíduos jovens de Mico rondoni realizando grooming em um indivíduo macho de Mico rondoni

em remanescente florestal do Campus José Ribeiro Filho – Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho/RO.

Data: 23/11/2018.

Fonte: Nichollas Magalhães.

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Figura 13: Leontocebus weddelli adulto realizando grooming em Mico rondoni adulto no remanescente florestal

do Campus José Ribeiro Filho – Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho/RO. Data: 15/08/2018.

Fonte: Nichollas Magalhães.

b) Comportamento de grooming de Mico rondoni em Pithecia mittermeieri:

Durante o mês de fevereiro de 2019, foi possível observar em uma única ocasião o

comportamento de grooming com um indivíduo adulto não sexado, solitário de P. mittermeieri.

Na ocasião, um bando misto de Mico rondoni com Leontocebus weddelli interagiu com o

indivíduo solitário de P. mittermeieri na árvore dormitório 01 (Um Angelim - Hymenolobium

petraeum) a cerca de 12 metros de altura por volta das duas horas da tarde. Dois micos jovens

não sexados realizaram a catação na cauda e no dorso do P. mittermeieri (aproximadamente

dez metros do solo em um emaranhado de cipós), enquanto os demais indivíduos do bando

misto repousavam em um galho próximo (aproximadamente 5m de distância a uma altura de

12 metros do solo). Houve registros de apenas um comportamento de grooming com cada uma

destas espécies.

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4.4.4.4 Brincadeiras:

O Mico rondoni apresenta um vasto repertório comportamental relacionado a

brincadeiras tanto intra como interespecífica. Durante o estudo foi observado dois tipos de

brincadeiras de M. rondoni com as espécies Leontocebus weddelli (Sagui-de-cara-suja) e

Pithecia mittermeieri (Parauacú).

Os indivíduos jovens são os responsáveis por tais comportamentos, tais como puxar a

cauda, cutucar o ventre e dorso, perseguir e morder. Esses comportamentos claramente não são

agonísticos, devido a reação dos animais aos comportamentos sendo evidente a falta de

agressividade.

Em relação ao P. mittermeieri, um grupo de quatro indivíduos jovens de M. rondoni se

aproximou no dia 29 de novembro de 2018 no período da tarde de um indivíduo de P.

mittermeieri, adulto, não sexado a uma altura de aproximadamente 4m do chão e o cutucaram

na cauda e dorso do animal, eles então puxaram sua cauda e logo após se distanciavam e

voltavam a “provocar” o Pithecia (Figura 14), ou seja, a repetir esta sequência comportamental.

Este comportamento durou cerca de cinco minutos e não ocasionou interações agonísticas por

parte de nenhuma das espécies.

As interações de M. rondoni com L. weddelli são semelhantes as realizadas com

indivíduos da mesma espécie. Os animais geralmente brincam numa espécie de “pega-pega”,

na qual, perseguem um indivíduo alvo e o abraçam, geralmente sendo realizada no chão, os

animais correm atrás um do outro pulando nas árvores se lançando ao chão tentando “abraçar”

o outro (envolvendo os membros anteriores pela parte superior dorsal do indivíduo “abraçado”),

essa brincadeira durou em torno de 10 a 15 minutos. Estes comportamentos foram realizados

por 5 indivíduos (3 M. rondoni e 2 L. weddelli) no chão e árvores próximas. Esse

comportamento foi observado apenas uma vez durante todo o período amostral (fevereiro de

2019).

4.4.4.5 Marcação de cheiro:

O Mico rondoni apresentou durante o estudo os três tipos de marcações (n=6), sendo:

suprapúbicas (n=1), esternal (n=2) e a circugenital (n=3) a mais observada dentre as demais.

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Figura 14: Três indivíduos de Mico rondoni “cutucando” um indivíduo de Pithecia mittermeieri no remanescente

florestal do Campus José Ribeiro Filho – Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho/RO. Data: 29/11/2018.

Fonte: Nichollas Magalhães.

4.4.4.6 Formação de grupos mistos:

No presente estudo, foi observado que durante todo o ano, há formação de bandos mistos

com L. weddelli. Entretanto, essa interação varia de acordo com a época de ano, sendo

observado nos meses de novembro de 2018 e janeiro de 2019 formação de bandos mistos para

forrageio com um mesmo grupo de P. mittermeieri e com um mesmo grupo de Plecturocebus

brunneus. Os animais passaram cerca de duas semanas forrageando todos os dias juntos na

mesma rota (todas as quatro espécies acima) e compartilhando pontos de recursos. Nos demais

meses os animais formavam apenas bandos mistos com L. weddelli ou forrageavam sozinhos.

Em maio de 2019 foi possível observar a formação de bando misto de M. rondoni com um

indivíduo solitário de Saimiri ustus, comportamento observado durante as duas últimas duas

semanas de coleta de dados do mês de maio de 2019.

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4.4.4.8 Disputa por alimento:

Durante todo o estudo poucas disputas foram avistadas em relação a alimento (n=4). Na

maioria das vezes era referente a invertebrados, na qual, encontros agonísticos “brigas” e até

mesmo roubo de presas são mais comuns entre juvenis e adultos de Mico. Esse comportamento

foi classificado pelo pesquisador como “insistência juvenil”, que consiste na insistência de

infantos e juvenis pelas presas (invertebrados) capturadas por adultos, os indivíduos ao avistar

um adulto com um inseto, começam a vocalizar constantemente e persegui-lo até que o mesmo

desista da presa, ou furtam o inseto para se alimentar. Esse comportamento é frequente durante

o período de forrageio, sendo realizado por todos os jovens que estiverem presentes no

momento (n=30).

4.4.4.9 Cuidado parental:

Foi observado que durante o estudo, apenas um indivíduo carrega os filhotes por um

dado período (entretanto não foi possível averiguar se foi o mesmo indivíduo em todas as

gestações), dividindo esse cuidado com outro macho conforme os filhotes crescem. Ao alcançar

uma dada idade (primeiros meses) os filhotes vão aos poucos sendo deixados em galhos, mas

sempre com um macho adulto próximo.

4.4.5 Locomoção

Sua locomoção é quadrupede “caminhando” (Figura 15) e saltando, apoiando-se com

os membros anteriores e impulsionando com os posteriores. Seu deslocamento é quase que

exclusivo em “corridas” (se deslocando rapidamente entre galhos), alternado apenas em saltos

(pequenos saltos laterais e jogando-se de uma árvore mais alta para uma mais baixa), quando

não há conexão entre as árvores. Os micos preferem se deslocar pelo dossel das árvores (em

uma altura média de 10m), utilizando as ligações entre as copas das árvores, alternando para o

sub-bosque e chão para forragear invertebrados.

Obteve-se 39 registros de atividade no chão: cinco registros de deslocamento no chão,

três de brincadeiras, 12 de alimentação, 16 de forrageio e três de repouso.

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Figura 15: Macho de Mico rondoni se deslocando sobre galho de Cecropia sp. (Embaúba) carregando filhote. Em

remanescente florestal do Campus José Ribeiro Filho – Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho/RO. Data:

29/11/2018.

Fonte: Nichollas Magalhães.

4.4.6 Manutenção

A categoria de manutenção engloba comportamentos fisiológicos (excreção), coçar e de

auto catação (self-grooming) (Figura 16). Obteve-se seis registros de self-grooming e 118

registros de coçando.

Figura 16: Mico rondoni adulto realizando auto-catação (Self-grooming) no remanescente florestal da do Campus

José Ribeiro Filho – Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho/RO. Data: 29/11/2018.

Fonte: Nichollas Magalhães.

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4.5 Impactos locais e alteração comportamental do grupo de Mico rondoni da universidade

Durante o estudo averiguou-se a interação dos espécimes com as atividades antrópicas

relacionadas aos avanços da expansão da infraestrutura da universidade. Em meio a rota dos

animais encontra-se alguns obstáculos como três rampas de acesso a parte mais baixa da

universidade, onde se encontram os prédios de laboratórios de zoologia, engenharia

civil/elétrica e educação física.

Diariamente os animais se deslocam mais de uma vez pelo chão, regiões que por sua

vez, são áreas sem cobertura florestal, deixando-os vulneráveis a predação tanto por aves de

rapina, quanto por animais domésticos que residem no campus. Foram registrados em 97 dias

(dos 112 dias com amostragem) de deslocamentos nestas áreas.

Os animais se deslocam grande parte do seu tempo em área de borda (aproximadamente

70% de seu deslocamento). Durante os meses de novembro de 2018 a janeiro de 2019, muitas

árvores que os animais utilizavam como ponto de alimentação foram removidas por apresentar

riscos aos estudantes, como mangueiras e algumas lianas (n=6) utilizadas pelos primatas

próximas a um ponto de ônibus (8º50’11.43”S 63º56’25.20”O).

Durante os meses de janeiro e fevereiro foi dado início a construção de mais um prédio

no campus, dentro da área de vida do grupo observado (8º50’6.43”S 63º56’27.32”O). Após o

início das obras foi notada uma rejeição por parte dos espécimes ao observador, visto que há

uma semelhança da vestimenta dos operários em relação a vestimenta do observador. Essa

“rejeição” pode ser caracterizada por um comportamento de defesa, tendo em vista que a obra

gera um aumento no número de pessoas no local, poluição sonora e destruição parcial da área

de uso dos espécimes, todo esse estresse implica na fuga dos animais dos operários, sendo

assim, do pesquisador também.

5. DISCUSSÃO

Desde a sua descrição no ano de 2010 poucos trabalhos sobre o Mico rondoni foram

realizados, desta forma, informações sobre a sua biologia e ecologia comportamental e

alimentar ainda são escassos. Dentre essas informações, dados como o de formações de bandos

mistos, dieta e de sua tolerância com áreas degradadas ainda são incipientes e imprecisos.

Formações mistas podem apresentar aspectos positivos em relação à diminuição no risco

de predação, e o aumento no número de integrantes no grupo reduz a taxa de risco de predação,

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desta forma, o tempo em vigília também é reduzido, havendo assim uma diminuição no gasto

energético (AURICCHIO, 2017). Este comportamento também pode facilitar no

forrageamento, tendo em vista que uma espécie pode utilizar da outra para encontrar árvores

frutíferas (AURICCHIO, 2017).

GUSMÃO et al., (2015) registraram a formação de bando misto do Mico rondoni com

outras duas espécies de calitríquedeos (Leontocebus weddelli e Mico melanuros) na região de

Costa Marques/RO mais ao sul da distribuição prevista para espécie, indicando um possivel

aumento da distribuição da espécie, tendo em vista que a mesma ainda é imprecisa e portanto

requer maiores estudos voltados a distribuição geográfica da espécie.

Buscou-se compreender as interações entre as espécies e se estas poderiam ser

competidoras por recursos alimentares visto sua proximidade sistemática e ecológica (SOINI,

1987; FERRARI e MARTINS, 1992; LOPES e FERRARI, 1994; DE OLIVEIRA, 2008;

FERRARI et al., 2010; GUSMÃO et al., 2015), ou uma colaborar com a outra de forma

parcimoniosa. Segundo os dados coletados durante o trabalho, pode-se observar que essa

interação entre Mico rondoni e Leontocebus weddelli, demonstra ser parcimoniosa de

colaboração mutua, na qual, o L. weddelli se aproveita da capacidade do M. rondoni de

escarificar árvores para consumir o exsudato, em contrapartida os Leontocebus fornecem um

aumento no número de indivíduos/bando e auxiliam no forrageamento de presas como

invertebrados, principalmente no chão. Acredita-se então que não aja uma certa competição

entre as espécies, mas sim uma interação de cooperação entre elas, na qual, uma se beneficia

da outra de forma positiva, com a possível redução na taxa de predação e aumento nas

estratégias de forrageamento que cada uma pode oferecer, como no caso do M. rondoni, a

abertura de fissuras nas árvores para consumo de exsudato, algo que a morfologia dos dentes

do L. weddelli não possibilita. Essa coesão entre as espécies e os possíveis benefícios entre elas

já foi proposto por LOPES e FERRARI (1994) na antiga Cachoeira de Samuel, atualmente

UHE de Samuel em Candeias do Jamari/RO. Entretanto segundo observações do pesquisador

nesta mesma área, posteriormente transformada em uma área de proteção integral a Estação

Ecologia de Samuel, localizada no Município de Candeias do Jamari/RO (ESEC Samuel

durante 315 horas de busca ativa nos meses de janeiro, fevereiro, abril e setembro de 2018,

dados não publicados), e os dados coletados durante o estudo no remanescente florestal da

UNIR, Campus Porto Velho (área do presente estudo) pode-se observar que não há uma

competição pela fonte de exsudatos (goma) como pressuposto no trabalho citado.

Além dessas duas espécies foi possível observar a formação de bandos mistos para

forrageio com outras três espécies de primatas (Pithecia mittermeieri, Saimiri ustus e

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Plecturocebus brunneus). Algumas vezes (n=3) todas as espécies (exceto S. ustus) formaram

um bando único e se deslocavam durante o dia a procura de alimento. Este registro é

considerado excepcional por sua raridade, tendo em vista que poucas interações interespecíficas

entre primatas já foram observadas, e muitas vezes com uma ou no máximo duas espécies,

como apresentado por AURICCHIO, (2017). Comportamentos de interação entre M. rondoni,

P. mittermeieri e M. rondoni e Sapajus apella, foram registrados por MESSIAS na FLONA do

Jamari, Itapuã d’oeste/RO (comunicação pessoal). Entretanto, essas interações não foram

monitoradas sistematicamente pois foram levantadas durante a aplicação do método de

transecção linear. Mas como foi possível observar no presente estudo, o M. rondoni apresenta

uma certa plasticidade em relação a interações interespecíficas. Entretanto como observado,

esse comportamento é exclusivo no que se trata do comportamento de “forrageamento”, mas

em dados momentos específicos (alguns dias em meses distintos), na qual não foi possível

constatar o real motivo dessa formação mista de diversas espécies. Acredita-se que a motivação

desse comportamento seja a ausência ou o aumento de alimentos proeminentes das perturbações

antrópicas na época de transição entre chuva e seca. Esse fator pode ter ocasionado, no aumento

na interação social entre novembro de 2018 a fevereiro de 2019, tendo em vista que durante o

mês de novembro há uma maior disponibilidade de alimento (frutas exóticas: manga, goiaba,

mamão...), podendo assim aumentar a coesão entre os grupos. A relação entre M. rondoni e

humanos ainda precisa ser melhor estudada, entretanto alguns trabalhos com gêneros da mesma

família demonstram que muitas vezes essa interação pode ser parcimoniosa, havendo até

mesmo a disponibilização de alimentos por parte dos humanos como visto nos trabalhos com

Saguinus bicolor (DOS SANTOS et al., 2017) e Callithrix penicillata (SILVA et al., 2014).

Outros comportamentos observados entre as espécies foram os comportamentos de

brincadeira e de coesão de grupo “grooming” (catação). Tais comportamento foram registrados

entre o M. rondoni e as espécies L. weddelli e P. mittermeieri. Devido à baixa frequência dos

comportamentos (apenas um registro para cada espécie) não foi possível compreender se essa

interação social é comum para a espécie, entretanto esses comportamentos só foram vistos em

espécimes solitários de P. mittermeieri e L. weddelli que estavam junto ao bando de M. rondoni.

Isso pode estar relacionado à escassez de alimento na área, situação, na qual, os espécimes como

estratégia podem ter desenvolvido essa coesão entre espécies para favorecer na busca por

alimento e defesa territorial.

Em relação às demais categorias comportamentais a espécie alvo do estudo apresentou

uma variação no orçamento temporal em relação a outra espécie do gênero (Mico melanurus).

Para M. melanurus o comportamento mais expressivo para a espécie foi o forrageamento

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(47,6%) (SAUER et al., 2017), da mesma forma que no trabalho de SANTOS (2013) com uma

espécie de outro gênero: o Callithirix penicillata em fragmentos urbanos em Campo

Grande/MS, no bioma do cerrado, na qual o forrageamento demonstrou ser a categoria

comportamental mais expressiva (24,2%). Entretanto para o M. rondoni o comportamento mais

expressivo foi o deslocamento (40,6%). Mas se levarmos em consideração que o remanescente

florestal é composto por uma mata secundária (MIRANDA, 2004) e vem sofrendo

constantemente com a expansão urbana da região, provavelmente este fator que pode estar

influenciando no comportamento dos animais (aumentando a frequência do comportamento de

deslocamento), como visto no trabalho de SILVA et al., (2011) com dois grupos de Callithrix

jacchus em ambiente urbano do Campus da UFRPE em Recife/PE realizado durante um ano

(entre maio de 2001 e maio de 2002), no qual o comportamento mais expressivo também foi o

deslocamento (28%); Entretanto, no grupo com mais indivíduos jovens o deslocamento foi

ainda mais frequente (48,6%), tendo o forrageamento como o segundo comportamento mais

expressivo (11,7%) e repouso como segundo comportamento mais frequente no grupo d adultos

(24,1%).

No presente estudo o grupo de M. rondoni é composto em sua maioria por adultos e sub-

adultos, e apresentou o mesmo padrão do orçamento temporal para indivíduos adultos de área

urbana observado por SILVA et al., (2011), tendo alocado 40,6% em deslocamento (mais

frequente) e 26,5% de repouso (segundo comportamento mais frequente).

O grupo de Mico rondoni observado apresentou uma certa plasticidade à ambientes

antropizados, algo previsto para família (SUSSMAN e KINZEY, 1984), fator este que

possivelmente se deve também à disponibilidade de frutos exóticos na área.

Levando em consideração que os primatas apresentam grande importância para

manutenção ecológica de ecossistemas, servindo para estruturação da paisagem (pelos primatas

herbívoros) e através da dispersão de sementes (primatas frugívoros), além de serem

aproximadamente 40% da biomassa de vertebrados frugívoros de áreas tropicais, sendo assim

responsáveis por boa parte da regeneração florestal (CHAPMAN, 1995; CHAPMAN et al.,

2013; CULOT et al., 2010). A partir disso pressupõe-se que o M. rondoni possivelmente possa

participar do processo de dispersão de sementes de diversas espécies autóctones como o Breu-

branco (Protium heptaphyllum), Uva-do-mato (Cissus verticillata), Murici (Byrsonima

crassifólia) e Goiaba-de-anta (Bellucia grossularioides), que são componentes de sua dieta. Em

áreas mais degradadas, nas quais, não há a presença de primatas de grande porte, a dispersão

de sementes é basicamente mantida pelas espécies primatas de pequeno e médio porte

(ARROYO-RODRÍGUEZ e DÍAS, 2010). Desta forma o M. rondoni, possivelmente é um dos

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responsáveis pela manutenção do recrutamento de várias espécies deste remanescente florestal.

Entretanto há necessidade de estudos mais complexos voltados a essa questão.

A composição sazonal da dieta dos animais diferiu do esperado para a família, que

geralmente aumenta o consumo de seiva (exsudatos) no período da seca (PASSOS, 1999;

SANTOS, 2013; BASILE, 2016). Os animais consumiram mais seiva no período chuvoso do

que no período da seca, fato este que pode ser devido à frutificação das árvores no remanescente

ocorrer nos meses de dezembro/janeiro e julho/agosto (PANSINI, 2008). O maior consumo de

frutos exóticos pode ter sido influenciado pela antropização da área, pois a presença dos

mesmos pode alterar o comportamento e dieta, devido à facilidade de obtenção dos mesmos,

desta forma afetando o deslocamento (pela concentração dos pontos de alimentação) e

forrageamento dos animais. O consumo de frutos exóticos referentes a antropização foi possível

ser visto em Saguinus bicolor em fragmentos urbanos da cidade de Manaus (SANTOS, 2015),

na qual, os animais se alimentavam de: banana, ingá, manga, goiaba e mamão, devido à

presença desses frutos na sua área de vida e oferta por parte dos moradores. O M. rondoni

demonstrou preferência por frutos exóticos como a manga durante a sua frutificação (período

de transição seca/chuva nos meses de junho a novembro de 2018), sendo substituído

posteriormente pelo exsudato conforme a redução da disponibilidade de frutos na área no pico

da época da chuva. É imprescindível que estudos levando em consideração fatores nutricionais

das espécies exóticas/nativas devem ser levados em consideração afim de compreender com

maior precisão a dieta desses animais em áreas urbanas.

6. CONCLUSÃO

Dados inéditos de M. rondoni sobre a sua dieta e interações sociais interespecíficas

foram obtidas durante o estudo. Os dados apresentados nesse trabalho podem ser utilizados para

entender melhor a biologia desta espécie endêmica e colaborar com dados para sua conservação.

Os animais apresentaram alteração no padrão esperado para o gênero, visto que os

indivíduos despederam mais tempo se deslocando e em repouso do que forrageando. Essa

alteração no comportamento pode estar relacionada com a disponibilidade de alimentos

concentrados nas bordas e em pequenos trechos, fazendo com que os animais não necessitem

procurar por muito tempo pelo alimento, entretanto necessitam aumentar seu deslocamento pela

borda para acessar as árvores de alimentação e contornar prédios da universidade para acessar

algumas árvores de pernoite.

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Como previsto para família os animais demonstraram preferência por áreas

antropizadas, entretanto esse fator pode ser devido a presença de componentes alimentares

exóticos – principalmente de manga - o que reduz a necessidade de percorrer maiores distâncias

durante o dia para forragear (day range) e também reduz a necessidade de disputa por território

com os bandos vizinhos, proporcionando assim uma economia energética aos animais.

A destruição da área de vida dos grupos pela expansão da universidade deve ser revista

pela administração superior a fim de reduzir os impactos sobre a fauna local. Visto que a

redução da área verde remanescente do Campus pode implicar na perda dessa espécie endêmica

presente no campus, além das outras 20 espécies de mamíferos ocorrentes na área. Ainda pode

haver o desaparecimento de indivíduos de extrema importância ecológica como o Gavião-real

(Harpia harpyja) animal topo de cadeia em extremo risco de extinção que realiza o controle

populacional de diversas espécies de mamíferos.

Sugere-se que estudos posteriores devem ser realizados em áreas mais conservadas a

fim de realizar uma comparação do orçamento temporal dos animais e de suas interações sociais

intra e interespecíficas nos dois tipos de ambientes. Além disso, algumas áreas como a biologia

reprodutiva e a genética da espécie ainda requerem estudos mais aprofundados para maior

compreensão das suas interações com o meio, visando subsidiar futuros projetos de conservação

da espécie.

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