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Gabinete do Desembargador Norival Santomé APELAÇÃO CÍVEL N.° 66285-10.1992.8.09.0137 (9290662854) COMARCA DE RIO VERDE APELANTE TANYA MARTINS BARBOSA E OUTROS APELADA VANILDA ARANTES FONSECA RELATOR Desembargador NORIVAL SANTOMÉ VOTO Conforme relatado, cuida-se de Apelação Cível interposta por TÂNYA MARTINS BARBOSA e seu cônjuge DANILO MORAIS LACERDA, ANA MARIA DE CARVALHO MARTINS SOUZA e seu cônjuge JOSÉ ROBERTO DE SOUZA, CRISTINA MARTINS BARBOSA TIVERON e seu cônjuge ANDRÉ BATISTURA TIVERON, e MÁRCIA APARECIDA CARVALHO, todos devidamente qualificados, em ataque à sentença de fls. 359/364, em sede da qual o MM. Juiz de piso houve por bem dar procedência ao pedido estampado na proemial da Ação Declaratória de Nulidade e, consequentemente, declarar nula as escrituras das doações realizadas em favor das herdeiras legítimas em desproveito da autora, ora apelante. 1

Gabinete do Desembargador Norival Santomé · CIVIL - AÇÃO DE ANULAÇÃO DE DOAÇÃO - ART. 1.176 DO ANTIGO CÓDIGO CIVIL - PORPOSITURA EM VIDA DO DOADOR – POSSIBILIDADE. A ação

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Gabinete do Desembargador Norival Santomé

APELAÇÃO CÍVEL N.° 66285-10.1992.8.09.0137 (9290662854)

COMARCA DE RIO VERDE

APELANTE TANYA MARTINS BARBOSA E OUTROS

APELADA VANILDA ARANTES FONSECA

RELATOR Desembargador NORIVAL SANTOMÉ

VOTO

Conforme relatado, cuida-se de Apelação Cível interposta

por TÂNYA MARTINS BARBOSA e seu cônjuge DANILO MORAIS

LACERDA, ANA MARIA DE CARVALHO MARTINS SOUZA e seu

cônjuge JOSÉ ROBERTO DE SOUZA, CRISTINA MARTINS BARBOSA

TIVERON e seu cônjuge ANDRÉ BATISTURA TIVERON, e MÁRCIA

APARECIDA CARVALHO, todos devidamente qualificados, em ataque à

sentença de fls. 359/364, em sede da qual o MM. Juiz de piso houve por bem

dar procedência ao pedido estampado na proemial da Ação Declaratória de

Nulidade e, consequentemente, declarar nula as escrituras das doações

realizadas em favor das herdeiras legítimas em desproveito da autora, ora

apelante.

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Relembro que a autora, ora apelada, alega em sede de sua

peça vestibular, ser filha concebida em virtude de uma relação extraconjugal de

sua genitora com Remy Martins, e que este, em setembro/1990, mediante

escritura pública, doou todo o seu patrimônio para suas três filhas legítimas.

Irresignados com o julgamento proferido pelo ilustre

Magistrado a quo, o qual houve por bem julgar procedente a demanda proposta,

as beneficiárias da doação operada, juntamente com seus cônjuges, interpõem o

presente apelo, buscando a reforma do decreto judicial digladiado.

Em sede de preliminar alegam a impossibilidade jurídica do

pedido em virtude de que a intenção da autora, ora apelada, seria de receber

adiantamento de quota-parte da herança de seu genitor. Aduzem que tal

pretensão é vedada pelo atual Ordenamento Civil, e que também o era na época

de vigência do Código de Beviláqua.

Bravejam os apelantes, ainda em sede de preliminar de

mérito, a ausência de interesse processual da autora, ora apelada, sob a

argumentação de que no momento do ajuizamento da ação em análise, o doador

ainda era vivo, o que, segundo defendem, fulmina a pretensão demonstrada na

peça de ingresso.

Verberam que “o direito brasileiro não permite discutir ato

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volitivo, consubstanciado em doação, enquanto viverem os doadores, sob pena

de estar se admitindo discussão sobre herança de pessoa viva”.

A despeito de tais fundamentações, verifico não proceder a

insurgência dos recorrentes.

Induvidoso que o herdeiro prejudicado em virtude de doação

do patrimônio aos demais co-herdeiros, possui legitimidade para ajuizar ação

anulatória, ainda que o doador esteja vivo, haja vista que tal doação se mostra

inoficiosa.

Washington de Barros Monteiro, (in “Curso de Direito

Civil”, 5º vol., 29ª edição, pág. 127), referindo-se ao art. 1.176 do CCB, anota

que “o reconhecimento da inoficiosidade pode ser pedido em vida do doador;

(...), o legislador pátrio imprimiu ao direito do herdeiro lesado a nota de

atualidade e não de mera expectativa; consumada a doação inoficiosa, pode ele

ingressar em juízo imediatamente com a competente ação de redução”.

Entende-se, por doação inoficiosa, aquela operada em favor

de um ou mais descendentes, em detrimento de outro(s), naquilo que ultrapassa

a parte que podeira o doador dispor por mera liberalidade.

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Neste sentido vejamos a etiqueta legal inserta no art. 549 do

Código Civil, in verbis:

“Nula é também a doação quanto à parte que exceder à de que o doador, no momento da liberalidade, poderia dispor em testamento”.

Calha transcrever a lição de Paulo Luiz Netto Lôbo (in

Comentários ao Código Civil, Editora Saraiva, vol. 6, fls. 332/333):

“Cuida o artigo da chamada doação inoficiosa. Ninguém pode dispor, mediante doação, de mais da metade de seu patrimônio. Esse é o limite proporcional adotado pelo direito brasileiro, configurado na chamada parte disponível, ou seja a parte que o doador pode livremente doar a parentes ou a terceiros. A outra metade, indisponível, constitui a legítima dos herdeiros necessários”.

De mais a mais, observo que a pretensão deduzida em sede

de peça rompante pela autora/apelada, em verdade, não é a antecipação de sua

quota-parte na herança de seu genitor, mas tão somente a declaração de nulidade

das escrituras das doações operadas em seu desproveito.

Neste ponto, pois, imerece acolhimento as preliminares em

análise, haja vista que a pretensão da autora, tal como demonstrado alhures,

reveste-se de possibilidade, ainda que em abstrato, dentro do ordenamento

jurídico vigente, bem como resta caracterizado o interesse processual.

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A esse respeito merecem destaques o seguintes julgados:

"APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ORDINÁRIA DE ANULAÇÃO DE NEGÓCIO JURIDICO. EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO. APLICAÇÃO DO ARTIGO 515, § 3º DO CÓDIGO PROCESSUAL CIVIL. DOAÇÃO INOFICIOSA. ANULAÇÃO. 1- (...) 2- NÃO HÁ ÓBICE LEGAL QUE IMPEÇA O ASCENDENTE A FAZER DOAÇÕES AO DESCENDENTE, DESDE QUE SEJA RESPEITADA A LEGÍTIMA DOS DEMAIS HERDEIROS, TENDO EM VISTA SER ESTA INTANGÍVEL. 3- TEM O HERDEIRO PREJUDICADO LEGITIMIDADE PARA AJUIZAR AÇÃO ANULATÓRIA, AINDA QUE O DOADOR ESTEJA VIVO, TENDO EM VISTA A CONSTATACAO DA DOAÇÃO INOFICIOSA. 4- PARTINDO DO FATO DE QUE A DOAÇÃO FEITA EM VIDA, EFETUADA POR ESCRITURA PÚBLICA É INOFICIOSA, JÁ QUE BENEFICIOU EM DEMASIA OS HERDEIROS LEGÍTIMOS, PREJUDICANDO O FILHO RECONHECIDO, DEVE A MESMA SER ANULADA. 5- A APELAÇÃO CONHECIDA E PROVIDA. SENTENCA CASSADA. PEDIDO JULGADO PROCEDENTE." (TJGO, 4ª Câmara Cível, Dra. Sandra Regina Teodoro Reis, AC 118432-3/188, DJ de 07/04/2008)

CIVIL - AÇÃO DE ANULAÇÃO DE DOAÇÃO - ART. 1.176 DO ANTIGO CÓDIGO CIVIL - PORPOSITURA EM VIDA DO DOADOR – POSSIBILIDADE. A ação de anulação de doação inoficiosa, com fundamento no art. 1.176 do antigo Código Civil, também pode ser proposta em vida do doador, pelo prejudicado, a fim de garantir a legítima dos herdeiros, inclusive por não envolver qualquer situação sucessória.(20000210015409APC, Relator SÉRGIO BITTENCOURT, 4ª Turma Cível, julgado em 12/04/2004, DJ 09/08/2005 p. 125)

Alegam os recorrentes, antes de adentrar à argumentação de

mérito, que a autora, ora apelada, quando do ajuizamento da demanda não

contou com a outorga marital de seu então cônjuge; e que a esposa, hoje viúva,

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do Sr. Remy Martins, autor da doação objeto do litígio, não foi citada na

presente demanda.

Novamente imerece acolhimento as argumentações dos

insurgentes.

Isso porque a outorga marital ou uxória, é exigida para os

casos em que um dos cônjuges oferece bens do casal em garantia, ou quando

aliena ou onera bens imóveis comuns àqueles, portanto, quando o ato a ser

praticado por um dos cônjuges coloca em risco o patrimônio pertencente a

ambos.

Sendo assim, para o ajuizamento da presente ação anulatória

de escritura de doação, em que não se percebe nenhuma gravação de ônus no

que tange ao bens que compunham o patrimônio do casal, dispensável é a

autorização ou outorga por parte do então cônjuge da autora.

Quanto à ausência de citação da cônjuge meeira do primeiro

requerido, Sr. Remy Martins, autor da doação e pai da requerente/apelada, tenho

que novamente carece de razão as manifestações deduzidas pelos recorrentes.

Isso porque o objeto da ação anulatória, qual seja a doação

inoficiosa levada a termo pelo ascendente em favor das filhas legítimas e em

detrimento da filha havida da relação extraconjugal, não inclui a cônjuge meeira

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do doador e genitora das requeridas, razão pela qual, por ser parte

manifestamente ilegítima para figurar no polo passivo da demanda, incabível a

alegação de nulidade por ausência de sua citação.

De mais a mais, calha observar que a autora, ora recorrida,

busca a declaração de nulidade com relação à doação da parte indisponível do

patrimônio pertencente ao seu genitor, nada requerendo, portanto, no que tange

à quota-parte da esposa e meeira daquele.

É de se ver, inclusive, que os pedidos estampados na inicial

limitam-se à quota parte deixada pelo genitor da apelada e das apelantes, senão

vejamos:

“Cabe observar que a pretensão da requerente, é tão

somente quanto a 50% da doação, ou seja quanto a parte

pertencente ao seu pai, isto porque os outros 50%, pertencia

a mãe dos donatários.” (fl. 04, 2º§).

“Procedência da ação, para declarar por sentença a

relação jurídica ora encarecida, decorrente do

reconhecimento da paternidade da requerente e, via de

consequência, alunar o ato jurídico acoimado de nulo, para

determinar a inclusão desta como beneficiária na doação de

50% do patrimônio doado pelo requerido Remy Martins as

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requeridas, na proporção de ¼ como sua cota parte”.

Verifico, destarte, que a pretensão deduzida em sede de peça

vestibular pela requerente, ora apelada, não encampa a quota patrimonial

pertencente à Sra. Maria Isabel, cônjuge do de cujus e doador Remy Martins.

Em assim o sendo, não reconheço que a ausência de citação

da Sra. Maria Isabel culmine de nulidade o decreto judicial vituperado, razão

pela qual hei por bem afastar mais esta preliminar alegada em sede recursal.

Novamente em sede de preliminar, alegam os insurgentes

que a citação da Sra. Cristina Martins Barbosa, como sucessora das partes

Alzira Maria Martins Barbosa e Túlio Babosa Cabral se mostrou inoficiosa.

Verifico, todavia, que ao contrário do que tentam convencer

os recorrentes, a Sra. Cristina Martins Barbosa foi devidamente citada, ex vi da

Certidão exarada pelo Oficial de Justiça à fl. 290. A despeito de realmente haver

erros meramente materiais da expedição do referido mandado citatório, tais

erros não são passíveis de anular aquele ato processual, que acabou por cumprir

de forma satisfatória a finalidade a que se destinava.

No que tange à suposta ausência de citação da Sra. Cristina

para ingressar ao feito na qualidade de herdeira, por estirpe, do Sr. Remy, para,

querendo, apresentar contestação, não há como se acolher tal tese. É que o 1º

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requerido, Sr. Remy, foi devidamente citado e quedou-se inerte quanto à

oportunidade de se contrapor aos pedidos inaugurais, sendo, destarte, revel no

caso em apreço.

Demais disso, o condutor do feito, atendendo a petitório

atravessado pela autora, e atento à necessidade de se evitar futuras alegações de

nulidade, determinou a citação, por edital, de todos e quaisquer possíveis

herdeiros do falecido, conforme se verifica da decisão de fl. 311 e edital de fls.

315/316.

Destarte, verifico desmerecer acolhimento a preliminar ora

analisada.

Alegam os recorrentes, ainda em preliminar de mérito, a

nulidade da citação da Sra. Tânya Martins Barbosa, como herdeira de Alzira

Maria Martins Barbosa e Túlio Babosa Cabral.

Verifico, todavia, não prevalecer as deduções dos

insurgentes, isso porque, a bem da verdade, os réus que faleceram durante o

trâmite processual já haviam em muito contestado os pedidos inaugurais, e

mais, após o advento do falecimento daqueles, foram devidamente citadas e

intimadas suas herdeiras, seja pessoalmente ou via edital, com consequente

nomeação de curadora.

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Insurgem-se ainda os descontentes, quanto à alegada falta de

nomeação de curador especial para os supostos herdeiros de Alzira, Túlio e

Remy, defendendo, assim, a nulidade do decreto judicial.

Novamente sem razão os recorrentes, haja vista que

inexistem, ou ao menos não restou comprovada a existência desses herdeiros, o

que, por consectário lógico, impossibilita nomear-lhes curador especial.

Finalmente, como última preliminar de mérito, aduzem que o

decreto judicial digladiado se reveste de nulidade em virtude da ausência de

citação dos cônjuges das herdeiras, por estirpe, quais sejam: Tânya Martins

Barbosa e Cristina Martins Barbosa.

Não merece acolhimento tal alegação haja vista que a citação

dos cônjuges é necessária quando a ação versar sobre direitos reais, o que

verifico não ser o caso.

Pelo contrário, o que se pretendeu com a ação em análise é a

simples declaração de nulidade de escritura de doação, por ser esta

reconhecidamente inoficiosa, não se enquadrando, destarte, na previsão do art.

10, §1º do Digesto Processual Civil.

Vencidas as preliminares levantadas, passo à análise do

mérito recursal.

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Pois bem.

Verberam os recorrentes que o Magistrado de piso incorreu

em equívoco ao enfrentar a matéria como se se tratasse de anulação de escritura

de compra e venda; que não houve oportunidade para os herdeiros colacionarem

os bens deixados pelo falecido; que a sentença deve ser reformada sob pena de

se autorizar interferência, pelo Poder Judiciário no ato volitivo do doador; que a

doação é válida e caracteriza adiantamento de legítima; que os honorários

sucumbenciais devem ser calculados sobre a meação pertencente ao de cujus; e

que não há razão de ser na condenação ao pagamento da curadora especial

nomeada.

Primeiramente, no que tange à alegação de que o MM. Juiz

de piso enfrentou a matéria de forma equivocada, é imperioso destacar que o

sentenciante em momento algum tratou o caso como se contrato de compra e

venda fosse, mas tão somente utilizou da ferramente da analogia para

fundamentar o seu posicionamento com relação à nulidade da escritura de

doação levada a termo.

Demais disso não prospera a alegação de que o Poder

Judiciário, na forma como especificado no decreto objeto do presente recurso,

estaria interferindo no ato volitivo do doador. Isso porque a doação da parcela

indisponível do patrimônio, feita a determinados descendentes, e em detrimento

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de outros, caracteriza-se como ato nulo, ainda que presente a boa-fé dos

envolvidos.

A esse respeito calha transcrever o teor do art. 549 do CPC:

“Art. 549. Nula é também a doação quanto à parte que exceder à de que o doador, no momento da liberalidade, poderia dispor em testamento.”

Quanto à oportunidade de colacionar os bens deixados pelo

espólio como forma de melhor resolver a perlenga instaurada, observo que

durante o tramite processual em primeiro grau de jurisdição, os requeridos

visaram a dispensa de sua realização, o que obsta, nessa esfera recursal, o

atendimento do pleito deduzido, sob pena de se possibilitar que os apelantes se

valham da própria torpeza.

Neste ponto, e com relação à invalidade da doação operada,

adoto na íntegra a fundamentação esposada pelo Magistrado primário, em honra

aos princípios da economia e celeridade processual, ancorado no permissivo

instituído pelo art. 210, Parágrafo único do Regimento Interno do TJ-GO, razão

pela qual passo a transcrevê-la:

“Embora o pedido tenha sido ajuizado em 1992, a sucessão

foi aberta em 2000 (fls.212), ano em que faleceu o pai da agravante. Rege-se,

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pois, pelo Código Civil de 1916, cujo art. 1.786, dispunha: 'os descendentes,

que concorrerem à sucessão do ascendente comum, são obrigados a conferir as

doações e os dotes, que dele em vida receberam.

A pretensão das contestantes de serem dispensados de trazer

à colação os imóveis que lhes foi doado por seu pai quando vivo, foge do

comando da lei, a qual exigia (arts. 1.788 e 1.789, CC/1916), como faz o atual

CC/2002 (arts. 2005 e 2006), que a dispensa seja dada, de forma expressa, em

testamento ou no próprio título que institui a liberalidade.

Segundo o art. 1.171. do CC/1916, a doação dos pais aos

filhos importa adiantamento de legítima. E a legítima é a parte do patrimônio a

que fazem jus os herdeiros necessários.

O art. 1.722, do CC/1916, dispunha que a legítima

corresponde à metade dos bens que o inventariado possuir ao falecer,

acrescida das doações feitas aos descendentes, regra que foi reproduzida no

art. 1.846, do CC/2002, que assegura, também, o direito à legítima ao dispor

que pertence aos herdeiros necessários, de pleno direito, a metade dos bens da

herança, constituindo-se a legítima.

Segue-se que o doador pode dispor, livremente, sobre a

metade do seu patrimônio, a qual é considerada pela lei disponível.

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E, ainda que possua herdeiros necessários, a lei autoriza a

dispensa da colação, desde que os bens doados provenham da parte disponível

do patrimônio e não a exceda, computado o valor dos bens ao tempo da

doação.

Caso o doador disponha sobre mais da metade do seu

patrimônio, e tenha herdeiros necessários, tal doação será considerada

inoficiosa, na parte que ultrapassar a metade disponível.

Contudo, a dispensa de colacionar o bem doado não pode

ser presumida. Impõe-se, para que seja considerada válida, que conste

expressamente no testamento ou no título de liberalidade, além de observar a

regra do art. 1.788, do CC/1916, ou seja, que o bem doado tenha saído da

parte disponível do patrimônio do doador, pena de nulidade da doação (art.

1.176, CC/1916 e art. 549, CC /2002)

A escritura pública de doação com reserva de usufruto, ao

dispor que o doador transferiu todos os seus bens mantendo apenas o usufruto

deles para a sua subsistência revela que a doação ultrapassa a parte disponível

em testamento, e assim não dispensa as contestantes de colacionarem os

imóveis recebidos por doação quando aberta a sucessão hereditária do doador.

Isto porque quando o donatário for filho do doador, a

doação importa antecipação de legítima. E deverá, nessa hipótese, o herdeiro,

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no processo de inventário, trazer à colação o bem (ou a importância

respectiva), para igualar as legítimas. Pouco importa se constou expresso que

a doação não excedeu a metade disponível que será examinada no processo de

inventário.”

Observo que no presente caso o genitor da autora, antes de

reconhecê-la espontaneamente como filha, realizou a doação da integralidade de

seu patrimônio às outras descendentes, o que demonstra, de forma cristalina, a

intensão de prejudicar aquela, deixando-a à margem dos bens que teria direito

quando da abertura da sucessão hereditária.

Corroborando esse entendimento, transcrevo:

CIVIL. DOAÇÃO INOFICIOSA. NULIDADE. PROTEÇÃO DA LEGÍTIMA. 1. Consubstanciou-se, no caso vertente, a chamada doação inoficiosa, na medida em que a liberalidade, promovida pelo doador, ultrapassou sua metade disponível. A alienação gratuita procedida pelo doador alcançou a metade disponível dos herdeiros necessários, no caso, os descendentes, mostrando-se passível de nulidade por esses, já que detêm a legítima. 2. Apelação e recurso adesivo não providos.(TJDFT, 20060110413725APC, Relator FLAVIO ROSTIROLA, 1ª Turma Cível, julgado em 01/12/2010, DJ 07/12/2010 p. 142)

CIVIL. INVENTÁRIO. COLAÇÃO. PEDIDO DE EXCLUSÃO DE METADE DO ÚNICO BEM ARROLADO. DOAÇÃO. AUSÊNCIA DE ANÚÊNCIA DOS DEMAIS HERDEIROS E DISPOSIÇÃO SUPERIOR A QUE PODERIA SER DISPOSTO EM TESTAMENTO. NULIDADE. I - Nos termos do que determina o art. 1.176 do Código Civil de 1916, em vigor à época da celebração do negócio jurídico, nula é a doação quanto à parte que exceder a de que o doador, no momento da

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liberalidade, poderia dispor em testamento.II - Ainda que tal nulidade só incida sobre a parte que excedeu aquela que o doador, no momento da liberalidade, poderia dispor em testamento, tal circunstância não se mostra hábil a impedir que o imóvel seja levado à colação, por força do que dispõe o art. 1.786 do CC/1916. III - Nos termos do art. 1.132 do CC/16, os ascendentes não podem vender aos descendentes, sem que os outros descendentes expressamente consintam com aludida liberalidade.IV - (...). VII - Negou-se provimento ao recurso.(TJDFT, 20090020067928AGI, Relator JOSÉ DIVINO DE OLIVEIRA, 6ª Turma Cível, julgado em 26/08/2009, DJ 02/09/2009 p. 80)

No âmbito deste Sodalício destaco, mutatis mutandis:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. INVENTÁRIO E PARTILHA. DOAÇÃO. BENS EXCLUÍDOS DO INVENTÁRIO. COLAÇÃO. VALOR DOS BENS COLACIONADOS. CONFLITO DE NORMAS. ARTIGO 1.014, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL E ARTIGO 2.004 DO CÓDIGO CIVIL. DIREITO INTERTEMPORAL. INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 1.787 DO CÓDIGO CIVIL. DOAÇÃO INOFICIOSA. INOCORRÊNCIA. 1 - O autor da herança pode dispor de seus bens em vida desde que observe a porção disponível do seu patrimônio. 2 - Os bens doados em vida devem ser colacionados para se igualar a legítima dos herdeiros necessários. 3 - O Código de Processo Civil, artigo 1.014, parágrafo único, dispõe que os bens devem ser colacionados no valor que tiverem ao tempo da abertura da sucessão, ao passo que o Código Civil, artigo 2.004, estabelece que os bens colacionados devem ser computados pelo valor existente à época da liberalidade. 4 - Diante do conflito de normas aplica-se a regra de direito intertemporal do artigo 1.787, do Código Civil, segundo a qual aplica-se a lei vigente ao tempo da abertura da sucessão. Logo, se a morte do autor da herança ocorreu após a vigência do novo Código Civil, aplica-se para a colação a regra do artigo 2.004 do Código Civil, devendo os bens doados em vida serem colacionados pelo valor correspondente ao tempo da liberalidade. 5 - Caracteriza-se a doação inoficiosa se os bens doados ultrapassarem a quota que o doador, no momento da liberalidade, poderia dispor em testamento, o que não ocorre no caso vertente, visto que ao tempo da doação os bens

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transferidos não ultrapassavam a metade do patrimônio do doador. AGRAVO CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJGO, 6ª Câmara Cível, Rel. Des. Fausto Moreira Diniz, AI 97480-06.2010, Dj de 13/10/2010)

APELACAO CIVEL. ACAO DECLARATORIA C/C ANULATORIA DE ESCRITURA PUBLICA DE DOACAO. NAO OBERVADA RESERVA DA LEGITIMA. DOACAOINOFICIOSA. NULIDADE DA DOACAONA PARTE QUE EXCEDEU A PARTE DISPONIVEL. I - A DOACAO, PARA QUE SEJA VALIDA, NAO PODE EXCEDER A 50 % DO PATRIMONIO DO DOADOR QUANDO EXISTIREM HERDEIROS NECESSARIOS, A FIM DE PROTEGER A LEGITIMA DOS SUCESSORES, A LUZ DO DISPOSTO NO ARTIGO 1721 DO CODIGO CIVIL DE 1916. ESSA VERIFICACAO DEVE SER FEITA EM RELACAO AO PATRIMONIO DO DOADOR EXISTENTE NA DATA DA LIBERALIDADE, CONSOANTE ARTIGO 1.176 DO MESMO DIPLOMA LEGAL. II - COMPROVANDO QUE A DOACAOEXCEDEU A PARTE QUE PODERIA DISPOR O DOADOR, JA QUE DOADO EM SUA INTEGRALIDADE O UNICO QUE POSSUIA, IMPOE-SE RECONHECER A NULIDADE DA DOACAONA PARTE CONSIDERADA INOFICIOSA, EM BENEFICIO DOS HERDEIROS APELACAO PARCIALMENTE PROVIDA. (TJGO, 1ª Câm. Cível, Rel. Des. Luiz Eduardo de Souza, AC 136148-1/188, DJ de 27/07/2009)

Vejamos o entendimento no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, in verbis:

DIREITO CIVIL. DOAÇÃO INOFICIOSA. NULIDADE NO TOCANTE À PARTE QUE ULTRAPASSA A PARCELA PATRIMONIAL DE QUE O DOADOR PODERIA DISPOR EM TESTAMENTO NO MOMENTO DA LIBERALIDADE. CCB. ART. 1.790. PROCESSOCIVIL. HONORÁRIOS DA SUCUMBÊNCIA. MATÉRIA FÁTICA. SÚMULA/STJ. ENUNCIADO Nº 7. RECURSO DESACOLHIDO. I - A doação a descendente, naquilo que ultrapassa a parte de que poderia o doador dispor em testamento, no momento da liberalidade, é de se qualificada inoficiosa e, portanto, nula. Circunstâncias do caso concreto que incrementam a violação da legítima dos autores, pela forma como concretizada a doação. II - Não se tratando de impugnação ao critério legal adotado na fixação dos honorários

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advocatícios, mas de mera insurgência quanto ao montante arbitrado, incide, em princípio, a vedação do enunciado sumular nº 7, deste Corte. (STJ, REsp 86518 / MS, Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, DJ 03/11/1998)

Quanto aos honorários da curadora especial, arbitrados pelo

doutro Juiz de piso no importe de R$ 500,00 (quinhentos reais), tenho que

imerece reparos a deliberação judicial primária, porquanto vislumbro, do

compulso do caderno processual, que aquela desincumbiu de forma satisfatória

o seu munus, manifestando-se de forma tempestiva, bem como comparecendo à

audiência designada.

De mais a mais, levando-se em consideração o empenho

daquela profissional, assim como atento ao princípio da razoabilidade e a

dignidade da profissão, não vejo como afastar a remuneração da curadora, nem,

tampouco reduzir a verba que lhe foi concedida.

Consigno, outrossim, que a defesa apresentada por curador

especial refere-se tão somente à matéria de direito, haja vista que este, por não

possuir conhecimentos acerca da matéria fática ligada à questão objeto do

litígio, fica impossibilitado de aventa-la.

Sendo assim, não vejo razões suficientes para afastar a

condenação dos requeridos, ora apelantes, ao pagamento dos honorários da

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curadora especial.

Com relação à insurgência manifestada quanto à antecipação

da tutela, deferida pelo Julgador primário em sede de sentença, novamente não

vejo como acolher a tese defendida pelo recorrente.

É que a medida antecipatória pode ser deferida em sede de

sentença com o intuito de se preservar o imediato cumprimento da medida

judicial, o que, caso contrário, somente poderia ser atingido com o advento da

coisa julgada, que no mais das vezes, delonga tempo capaz de prejudicar o

exercício do direito em litígio.

Doutro tanto, tenho que o MM. Juiz sentenciante bem

observou a longevidade do feito, que hoje se aproxima de 20 (vinte) anos, bem

como a ausência de anotação de apontamento de feito repercusório nas margens

dos registros dos imóveis.

Ante a possibilidade de antecipar os efeitos da sentença, tal

como determinado pelo presidente do feito na instância singela, e por

vislumbrar a presença dos requisitos autorizadores da medida, é que tenho por

bem manter o decisum, nesta parte, tal como lançado.

Por fim, quanto à alegação de que os honorários foram

equivocadamente arbitrados pelo MM. Juiz a quo, verifico merecer guarida a

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tese defendida pelos recorrentes.

É que os insurgentes, outrora requeridos, foram condenados

solidariamente ao pagamento da verba honorária, que restou arbitrada em 15%

(quinze por cento) do valor da legítima pertencente à autora, que por sua vez foi

fixado em 25% (vinte e cinco por cento) do valor dos dois imóveis.

Destaco que o valor atribuído aos honorários advocatícios

merece ser mantido, vez que atende à etiqueta legal inserta no art. 20, §3º do

Digesto Processual Civil.

O equívoco reside, a meu ver, na fixação da legítima

pertencente à autora, que se deu no patamar de 25% do valor dos imóveis.

Assiste razão aos apelantes quando aduzem que “a apelada

é filha tão-só de Remy, ou seja, aquela não herda sobre a meação de Maria

Isabel de Carvalho Martins, que era cônjuge de Remy”.

Ora, se os imóveis, antes do advento da doação, pertenciam

ao Sr. Remy Martins e sua então esposa, a Sra. Maria Isabel, é de se concluir

que aquele patrimônio era de cunho comum do casal. Em assim o sendo, a Sra.

Maria Isabel, na condição de meeira, faz juz a parte daqueles imóveis, restando

à autora, assim como às demais herdeiras, concorrerem ao quinhão pertencente

ao cônjuge varão.

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Destarte, a verba honorária, qual seja de 15%, deve incidir

sobre 25% não do valor dos dois imóveis, mas sim sobre a quota parte

pertencente ao falecido genitor, Sr. Remy Martins.

Ao teor do exposto, já conhecido o recurso, DOU-LHE

PARCIAL PROVIMENTO, tão somente para reformar a sentença com

relação a incidência do honorários advocatícios, nos termos alhures

consignados, mantendo-a no mais, por estes e por seus próprios fundamentos.

É como voto.

Goiânia,

Desembargador NORIVAL SANTOMÉRelator

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APELAÇÃO CÍVEL N.° 66285-10.1992.8.09.0137 (9290662854)

COMARCA DE RIO VERDE

APELANTE TANYA MARTINS BARBOSA E OUTROS

APELADA VANILDA ARANTES FONSECA

RELATOR Desembargador NORIVAL SANTOMÉ

CIVIL. AÇÃO DE ANULAÇÃO DE ESCRITURA DE

DOAÇÃO. INOFICIOSA. LEGITIMIDADE.

POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO.

INTERESSE DE AGIR. CITAÇÃO DO CONJUGE DO

DOADOR. HONORÁRIOS DO CURADOR ESPECIAL.

ANTECIPAÇÃO DA TUTELA EM SEDE DE

SENTENÇA. ARBITRAMENTO DE HONORÁRIOS

ADVOCATÍCIOS. I – Entende-se por doação inoficiosa

aquela operada em favor de um ou mais descendentes, em

detrimento de outro(s), naquilo que ultrapassa a parcela que

o doador poderia dispor por mera liberalidade. II - O

herdeiro prejudicado, em razão de doação inoficiosa, possui

legitimidade para ajuizar ação anulatória, ainda que o doador

esteja vivo. II – O pedido de anulação de escritura de doação

inoficiosa é juridicamente possível e não induz à antecipação

de quota-parte na herança do genitor do autor da demanda,

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mas tão somente a declaração de nulidade daquela. III –

Comprovada que a doação excedeu a parte que poderia

dispor o doador, já que doada a integralidade de seu

patrimônio, é de se reconhecer a nulidade daquele ato. V – O

curador especial nomeado para defender os direitos do réu

citado via edital, faz jus à percepção de honorários, os quais

devem ser arbitrados levando-se em consideração o empenho

profissional, assim como o princípio da razoabilidade e

dignidade da profissão. VI – Pode o magistrado, em sede de

sentença, antecipar os efeitos da tutela, a fim de preservar o

imediato cumprimento da medida judicial. VII – Merece

reforma parcial a sentença primária, vez que fixou de forma

equivocada o valor da quota parte da herdeira prejudicada

pela doação inoficiosa, para fins de arbitramento dos

honorários advocatícios. APELAÇÃO CONHECIDA E

PARCIALMENTE PROVIDA.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de

Apelação Cível nº 66285-10, acordam os integrantes da 4ª Turma Julgadora da

6ª Câmara Cível, por unanimidade, em CONHECER E PARCIALMENTE

PROVER o apelo, nos termos do voto do Relator.

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Presidiu a sessão o Desembargador Jeová Sardinha de

Moraes.

Votaram com o Desembargador Norival Santomé, o

Desembargador Jeová Sardinha de Moraes e o Dr. Eudelcio Machado Fagundes

substituto do Desembargador Camargo Neto.

Esteve presente à sessão a ilustre Procuradora de Justiça

Dra. Laura Maria Ferreira Bueno.

Goiânia, 14 de junho de 2011.

Desembargador NORIVAL SANTOMÉ

Relator

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