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-*_ tribunal de justiça do eslaüo de goiàs Protocolo n°: 200502555178 (JRO) PODER JUDICIÁRIO Comarca deTurvânia Gabinete SENTENÇA O Ministério Público do Estado de Goiás ofereceu denúncia imputando a Juarez Gomes Cardoso Neto a conduta tipificada no art.180, §1°, do CP, ea Wender Vieira da Silva a conduta tipificada no art. 180, caput, também do Código Penal. Narra a peça inaugural, com base em Inquérito Policial, que no dia 15 de outubro de 2005, por volta das 21:00 horas, no estabelecimento comercial denominado "Posto do Juarez", o primeiro denunciado, sabendo ser produto de crime, adquiriu 20.000 (vinte mil) litros de combustível, em proveito próprio, no exercício de atividade comercial do referido posto, do qual era responsável à época dos fatos. Descreve ainda a denúncia que o acusado Wender, na mesma data, horário e local, transportou 30.000 (trinta) mil litros de combustível, na direção de um caminhão Mercedes Bens, produto de roubo na cidade de Campos Belos/GO. A denúncia foi recebida às f.292 dos autos (05.12.2006) e determinada a citação dos acusados. .2 Citados, estes apresentaram defesa preliminar às f.302/303 e 426/427 3 por meio de advogados constituídos, argumentando, em suma, que não incorreram na prática dos delitos descritos. Durante a instrução foram inquiridas as testemunhas anoladas na denúncia e nas defesas (f.378; 401/403; 446/450 e 485/487). M/ e^ ^»y Pág. 1de 17 y_

Gabinete - mpgo.mp.br§a... · Narra a peça inaugural, com base em Inquérito Policial, que no dia 15 de outubro de 2005, por volta das 21:00 horas, no estabelecimento comercial

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-*_

tribunalde justiçado eslaüo de goiàs

Protocolo n°: 200502555178(JRO)

PODER JUDICIÁRIOComarca deTurvâniaGabinete

SENTENÇA

O Ministério Público do Estado de Goiás ofereceu denúncia imputando

a Juarez Gomes Cardoso Neto a conduta tipificada no art.180, §1°, do CP, e a Wender

Vieira da Silva a conduta tipificada no art. 180, caput, também do Código Penal.

Narra a peça inaugural, com base em Inquérito Policial, que no dia 15

de outubro de 2005, por volta das 21:00 horas, no estabelecimento comercial

denominado "Posto do Juarez", o primeiro denunciado, sabendo ser produto de crime,

adquiriu 20.000 (vinte mil) litros de combustível, em proveito próprio, no exercício de

atividade comercial do referido posto, do qual era responsável à época dos fatos.

Descreve ainda a denúncia que o acusado Wender, na mesma data,

horário e local, transportou 30.000 (trinta) mil litros de combustível, na direção de um

caminhão Mercedes Bens, produto de roubo na cidade de Campos Belos/GO.

A denúncia foi recebida às f.292 dos autos (05.12.2006) e determinada a

citação dos acusados.

.2 Citados, estes apresentaram defesa preliminar às f.302/303 e 426/427

3 por meio de advogados constituídos, argumentando, em suma, que não incorreram na

prática dos delitos descritos.

Durante a instrução foram inquiridas as testemunhas anoladas na

denúncia e nas defesas (f.378; 401/403; 446/450 e 485/487). M/ e^

^»y

Pág. 1de 17 y _

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\

59

I

tribunal poder judiciário aât+i #{de jUStiça Comarca de Turvânia c/i-vp l '*' \t?doesiado degoiás Gabinete /^\ -cr/

Em alegações finais, o Ministério Público, entendendo comprovadasjas

condutas tipificadas no art.180, do Código Penal, requereu a condenação dos acusados

(f.491/496).

Às f.507/514, a defesa do acusado Juarez postulou pelo reconhecimento

do arrependimento posterior, com redução da pena.

O acusado Wender, por sua vez, postulou em seus argumentos finais,

pela absolvição ou, em caso de condenação, seja reconhecido que o crime se deu na

forma tentada, já que não recebeu o pagamento pelo transporte que estava fazendo

(f.523/527).

É o relatório. Decido.

Presentes as condições da ação penal (CPP, art. 41), bem ainda os

pressupostos processuais de existência e validade.

Trata-se de ação penal intentada pelo Ministério Público em desfavor

de Juarez Gomes Cardoso Neto e Wender Viera da Silva, imputando-lhes a prática dos

crimes de receptação qualificada e receptação, respectivamente.

Verifico, inicialmente, que o processo transcorreu com estrita

observância dos preceitos constitucionais e legais pertinentes a toda e qualquer ação

| penal, apesar das alterações legislativas ocorridas no curso do processo, especialmente

-= quanto à entrada em vigor da Lei 11.719/2008.

Os acusados tiveram oportunidade de se defenderem diretamente e por

defensor habilitado, bem como fora observada, em todo o processo, a garantia da

produção de provas por meios lícitos, como determina a Constituição Federa]. a

. /

... Pág. 2 deJ7

.V

tribunal poder judiciário.de justiça Comarca deTurvâniado estado degoiâs Gabinete

Tecidaitais considerações, concluo que as provas carreadas aos autos

são suficientes para amparar a pretensão punitiva do Estado, conforme passo a declinar

individualizadamente.

Quanto ao acusado Wender Vieira da Silva

Assim dispõe o artigo 180, caput, do Código Penal:

"Art. 180. Adquirir, receber, transportar, conduzir ou

ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe

ser produto de crime, ou influir para que terceiro de boa-

fé, a adquira, receba ou oculte:

Pena - reclusão, de l(um) a 4 (quatro) anos." (grifou-se).

A materialidade do fato está demonstrada por meio do Auto de Prisão

em Flagrante de f.16/19 e do Termo de Exibição e Apreensão de f.35, não havendo

dúvida de que o crime ocorreu.

No que concerne à autoria do fato criminoso, o acusado Wender,

quando ouvido pela autoridade policial, assim afirmou:

"{...) que no dia de ontem (15/10/05), por volta das 08:00

hs, estava abastecendo seu veículo Monza no Posto de

Gasolina Jaosão, na cidade de Goiânia, quando foi

•o abordado por um homem desconhecido, (...) que lhe1g, perguntou se era motorista de caminhão ou se conhecia

| alguém que fosse; que o interrogando informou que era

!motorista de caminhão, inclusive tinha habilitação para

cargas perigosas (MOPE); que o homem desconhecido

então lhe ofereceu RS 200,00 (duzentos reais) para que

trouxesse um caminhão com o tanque de combustível

para a cidade de Firminópolis e aqui descarregasse a

/

«&JleAè&*'*'Pág.3de 17

.-'..

f.423/425:

tribunalde justiçado estado de go:ás

PODER JUDICIÁRIOComarca deTurvâniaGabinete W rf^

carga de combustível em um Posto de Bandeira Texaco;

(...) que, esclarece o interrogando que perguntou ao

homem desconhecido sobre a nota fiscal do combustível

e este lhe informou que não tinha, (...) que o

interrogando encontrou com CUNHA na cidade de

Nerópolis, para pegar o caminhão, sendo que logo

depois chegou um senhor de idade, de

aproximadamente 50 anos de idade, com cabelos

grisalhos, que conduzia o veículo, e deixou o mesmo com

o interrogando. (...)" (f.16/18).

Assim ainda afirmou em juízo, conforme interrogatório acostado às

"(...) que CUNHA indagou ao interrogando se não

conhecia um motorista, pois ele precisava fazer uma

entrega de combustível e seu motorista estava doente;

(...) que então Cunha mandou-lhe buscar a carreta na

cidade de Nerópolis, indicando-lhe o local; que chegando

a Nerópolis encontrou a carreta com a chave na ignição,

documentos sobre o painel, que não havia qualquer

pessoa nas proximidades; que o contatos com Cunha

eram feitos por celular; (...)."

O acusado não nega que transportava a carreta com o combustível

roubado, afirmando apenas que não suspeitou que se tratava de combustível objeto de

•| crime. Ora, considerando que o acusado exercia a profissão de motorista, sabia ele o

| preço aplicado a fretes intermunicipais, bem como a necessidade de apresentação de

Inota fiscal, tanto é que ele mesmo afirma que chegou a questionar a respeito de sua

existência.

Não bastassem tais constatações, hábeis à comprovação de^que o autor

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Pág. 4_de 17 Juiz* Tltr *ê*»WA'

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tribunal poder judiciáriode justiça Comarca de Turvâniado estado de goiás G a b in ete V

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f\.

sabia da origem ilícita do combustível, destaco que, de acordo com seu depoimento em

juízo, o caminhão foi deixado em determinado local, sem ninguém por perto, somente

com a chave na ignição. Ora, abandonar um caminhão carregado de combustível, sem

qualquer vigilância, não é uma atitude comum. Pelo contrário, é de se causar bastante

estranheza, o que leva a corroborar o entendimento de que o acusado sabia a origem

da carga.

Quanto à tese da defesa, em suas alegações finais, de que deve a

imputação ser desclassificada para a forma tentada, em razão de não ter recebido o

pagamento combinado, não entendo plausível, na medida em que o artigo não exige,

para consumação, que ao se transportar a coisa produto de crime, que o condutor

obtenha, efetivamente, qualquer vantagem.

Vale dizer, ainda, que não há nos autos qualquer indício ou elemento

que permita concluir tenha o réu agido em legítima defesa ou estado de necessidade,

tampouco há notícia de que o tenha feito em estrito cumprimento de dever legal, nem

que semelhante conduta seja resultado de regular exercício de algum direito.

Ao contrário, o conjunto probatório é lídimo e cristalino no sentido de

ensejar a condenação do réu Wender pela prática do crime de receptação (art. 180,

caput, do Código Penal).

i

!

Ante o exposto, julgo procedente a imputação contida na denúncia,

•Jf para condenar o acusado Wender Vieira da Silva, já qualificado, pela prática da

s conduta descrita no art. 180, caput, do Código Penal.

Quanto ao acusado Juarez Gomes Cardoso Neto.

Assim dispõe o artigo 180, §1°, do Código Penal:

Pág. 5 de 17

tribunal poder judiciário <</% ,.-Ay\de justiça Comarca de Turvânia ^ V5A__—\ J~^do estado cegoiás Gabinete \ SrV

"Art. 180. Adquirir, receber, transportar, conduzir ou

ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que'sabe

ser produto de crime, ou influir para que terceiro de boa-

fé, a adquira, receba ou oculte:

Pena - reclusão, de l(um) a 4 (quatro) anos.

§1° - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter

em depósito, desmontar, montar, remontar, vender,

expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em

proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade

comercial ou industrial, coisa que deve saber ser produto

de crime:

Pena - reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos. e multa."

A materialidade do fato está demonstrada por meio do Auto de Prisão

em Flagrante de f.20/24 e do Termo de Exibição e Apreensão de f.35, não havendo

dúvida de que o crime ocorreu.

No que concerne à autoria do fato criminoso, o acusado Juarez, quando

ouvido pela autoridade policiai, assim afirmou:

"(...) que na data de ontem (15/10/05), por volta das

08:30hs, recebeu uma ligação de uma pessoa que se

identificou como JAIME dizendo que era funcionário da

empresa Petrosul Distribuidora de Petróleo Ltda; que

JAIME ofereceu ao interrogando 15.000 (quinze) mil)9

O

f| litros de óleo diesel e 5.000 (cinco mil) litros de gasolina;

Ique JAIME ofereceu ao interrogando os combustíveis

pelo mesmo preço em que normalmente é negociado

pelas outras companhias, (...) que JAIME falou que o

combustível então iria sair de São Paulo, e seria entregue

ao interrogando, nesta cidade de Firminópolis naquele

Pág. 6de 17 .*!&!&&'.

tribunal poder judiciáriode justiça Comarca de Turvâniado estado Cegolas Gabinete

mesmo dia à noite; que JAIME não forneceu nenhum

telefone de contato; que por volta das 20:20hs de ontem

(15/10/2005), foi informado pelo frentista do posto que

o combustível havia chegado, momento em que se

deslocou para o posto de gasolina para receber a

entrega; (...) que perguntado se negociou combustível

com a empresa Petrosul, alegou que certa vez já

negociou preço com esta empresa no ano de 2001,m mas

não fizeram negócio; que perguntado se conhecia

alguma pessoa de nome JAIME que trabalhava na

empresa Petrosul, respondeu que não; que perguntado

se não achou estranhao receber uma ligação no sábado

pela manhã, de uma empresa com que não negocia, de

uma pessoa que não conhece e se identificou apenas

como JAIME, negociado uma carga de combustíveis,

para ser entregue no mesmo dia à noite, sendo que esta

carga segundo JAIME teria dito, sairia de São Paulo, e

que inclusive seria para efetuar o pagamento ao próprio

motorista do caminhão, respondeu que não, pois

acreditou que JAIME era da Petrosul; (...) que

perguntado que, pelo fato de seu posto de gasolina ser

% de bandeira Texaco, teria que adquirir combustíveis

daquela empresa, respondeu que com certeza, mas que

assim não agiu, pois estava com uma pendência perante

a Texaco; (...) que o combustível enviado pela Texaco

para o declarante sempre acompanha nota fiscal e boleto

"3 bancário, sendo que a Texaco sempre envia boleto

J> bancário e, nunca o pagamento é feito ao motorista do

I caminhão; (...) que quanto a verificação de procedênciaIdocombustível que estava adquirindo, tem a informar

que foi descuidado, pois deveria ter conferido a

documentação e a origem do produto que estava lhe

sendo entregue; (...)" (f.20/24).

Pág. 7 de 17

tribunal poder judiciáriode justiça Comarca deTurvâniado estado de goiás G a b in ete

Assim ainda afirmou em juízo, conforme interrogatório acostada às

f.297/301:

"(...) que são verdadeiras em partes as imputações que

lhes são feitas; (...) que no dia dos fatos, pelo período da

manhã, o interrogando recebeu uma ligação no telefone

do posto de uma pessoa que se identificou como Jaime e

que era o mesmo funcionário da Petrosul, situada em

Paulinha-SP, na qual o posto do Juarez tinha cadastro e

comprava combustível; que essa pessoa de nome Jaime

ofereceu para o interrogando a quantia de 20.000 litros

de combustível sob a justificativa de que este

combustível estava sobrando e o caminhão estava indo

para Barra do Garça; que o interrogando não tinha

conhecimento que o combustível era produto de roubo;

que o interrogando nunca comprou combustível da

empresa Petrosul, mas não tem muita certeza, mas acha

que o administrador anterior, pais do interrogando,

comprou combustível da referida firma; (...) que o

combustível enviado pela Texaco era acompanhado de

nota fiscal e boleto para pagamento no prazo de dois

.^" dias; que o interrogando não se recorda se no veículo

tinha alguma identificação da procedência do

combustível; que quando a compra do combustível era

feita da distribuidora SR o pagamento era feito com a

entrega do cheque ao motorista que entregasse o

j? combustível; que o interrogando, após saber que o2

\

combustível adquirido era produto de roubo, procurou

amenizar os fatos comprando combustível do posto ao

qual o combustível tinha sido roubado."

Assim declarou uma das testemunhas inquiridas:

"EDILON ETERNO PEREIRA: (...) o posto de^còmbustível

pág8del7 j^^JH^3^

tribunal poder judiciário .>> \\jH<=» ilIQfir.a rnmarra Hp Tiirvánis j tl£J£ *~-£H

V rv«*»'de justiça Comarca de Turvánia ( H£ÜZ~~-""^fdo estado de goiás G a b in ete

era bandeirado, bandeira fechada; as vestimentass do

primeiro denunciado eram normais, não apresentava

nenhuma identificação de que o mesmo trabalhava para

alguma distribuidora de combustíveis; o veículo não

apresentava nenhuma identificação de empresa

distribuidora de combustíveis, as plaquetas laterias do

tanque haviam sido raspadas e pintadas de forma que

também não traziam identificação nesse sentido; (...)"

(f.446).

No mesmo sentido declarou a testemunha Vanderlei Alves da Silva,

conforme termo de f.447.

As circunstâncias em que foi adquirido o combustível sugerem, pois, a

qualquer pessoa leiga, a ilicitude do produto, quanto mais a um comerciante que já

havia efetuado outras compras de combustíveis, tendo considerável experiência para

verificar que se tratava de um negócio suspeito. Portanto, inadmissível, para um

comerciante, comprar produto oferecido por um desconhecido e sem conferir a licitude

do que estava adquirindo, como quer fazer crer o acusado. Patente, desse modo, a

configuração da qualificadora insculpida no §1° do art.180 do Código Penal.

Tudo converge para a confirmação de que o réu adquiriu o combustível

sabendo tratar-se de produto ilícito, sobretudo se considerarmos que o Posto era

,. bandeirado, ou seja, que sequer poderia o acusado ter adquirido produto que não fosse--

d fornecido, in casu, pela Texaco.

fNesse sentido:

I "Apelação 1. Receptação dolosa (CP, art.

180, capuf). Alegação de ausência de dolo. Absolvição.

Improcedência. Circunstâncias fáticas que evidenciam o

—•<&* aí ««&Pág. 9de 17 /

i

1

tribunal poder judiciáriode justiça Comarca deTurvâniado estado ee goias Gabinete

conhecimento pelo acusado da origem ilícita do objeto.

Provas suficientes para ensejar a condenação. Apreensão

das peças subtraídas na posse do réu. Desclassificação

para receptação culposa. Dolo configurado. Condenação

mantida. 1- No crime de receptação, devido ao fato de

não ser fácil a verificação acerca do conhecimento ou

não do agente sobre a origem ilegal do produto, deve-se

considerar as circunstâncias que envolveram o delito.

Diante disso, havendo indícios seguros de que o réu

tinha ciência da origem ilícita da 'reé, a condenação é

medida que se impõe." (TJPR - AC 05281801 - Rei. Des.

Marcus Vinícius de Lacerda Costa - DJ de 06.08.2009).

"Apelação crime. Crime de receptação. Art. 180, § Io, do

código penal. Insurgência quanto a configuração da

materialidade delitiva. Demais elementos dos autos

suficientes para efetiva demonstração de que o

combustível adquirido pelo réu é o mesmo roubado do

caminhão transportado pelo motorista do auto posto

Marcelo Itda. Autoria e materialidade devidamente

comprovadas. Demonstração inequívoca da ciência do

réu sobre a origem ilícita do combustível em razão das

circunstâncias que envolveram o fato. A recurso a que se

nega provimento. 1. No crime de receptação, devido ao

fato de não ser fácil a verificação acerca do

conhecimento ou não do agente sobre a origem ilegal do

produto, deve-se considerar as circunstâncias que

envolveram o delito. Diante disso, havendo indícios

seguros de que o réu tinha ciência da origem ilícita da

'res", a condenação é medida que se impõe." (TJPR - AC

7097670 - Rei. Des. Carvilio da Silveira Filho - DJ de

11.03.2011).

"Embargos infringentes. Roubo qualificado. Prova

Pág. 10 de 17 .;' /

tribunal poder judiciário p-«^ .Jmde justiça Comarca oeTurvânia l v̂ Jdo estadode goiás Gabinete \ -N. •'

colhida na fase inquisitiva. Confirmação pelas provas

obtidas em juízo. Absolvição. Impossibilidade.

Receptação qualificada. Insuficiência de provas.

Absolvição. Impossibilidade. 1. Impossível a absolvição

do condenado quando fica explicita a autoria do fato,

diante das provas constantes da fase inquisitiva e de sua

confirmação pelo acervo obtido em juízo. 2. Para que se

configure a receptação qualificada basta que as

circunstancias indiquem que o agente, em razão das

cautelas que a atividade comercial pressupõe, devia

saber da origem ilícita do produto, sendo suficiente o

dolo eventual. 3. Embargos rejeitados." (TJGO - EI n.

1596-4/96 - Rei. Des. Paulo Teles - DJ de 21.08.2009)

Ademais, em suas alegações finais, o próprio acusado Juarez confessa a

prática do delito, por meio de seu defensor, postulando, tão somente, pela redução da

pena em razão do arrependimento posterior.

Friso também não haver nos autos qualquer indício ou elemento que

permita concluir tenha o réu agido em legítima defesa ou estado de necessidade,

La» tampouco há notícia de que o tenha feito em estrito cumprimento de dever legal, nem

que semelhante conduta seja resultado de regular exercício de algum direito.

Ao revés, o conjunto probatório é lídimo e cristalino no sentido de

^ ensejar a condenação do réu Juarez pela prática do crime de receptação qualificada (art.H=3

I 180, §1°, do Código Penal).

i

Ante o exposto, julgo procedente a imputação contida na denúncia,

para condenar o acusado Juarez Gomes Cardoso Neto, igualmente qualificados, pela

prática da conduta descrita no art. 180, §1°, do Código Penal.

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I

. .... _Pág.Ude_l7

/•

de justiça Comarca de Turvâniab -^3 do estada de goiás Gabinete

tribunal poder judiciário /f"1

Passo à dosimetria da pena, atenta às diretrizes dos arts. 59 e 60, ambos

do Código Penal.

Nesse ponto, cabe ao Juiz sentenciante definir a qualidade e a

quantidade da sanção penal de acordo com os critérios de necessidade e suficiência da

resposta estatal.

Mais que isso, ressalto que o esforço das conclusões esposadas neste

tópico é inspirado nas advertências sempre atuais do milanês César Bonesana, o

Marquês de Beccaria, em sua conhecida obra datada de 1764 'Dos delitos e das penas',

ao final do livro: "É que, para nãoser um ato de violência contra o cidadão, a pena deve

ser essencialmente pública, pronta, necessária, a menor das penas aplicáveis nas

circunstânciasdadas, proporcionada ao delito e determinada em lei".

De todo modo, adoto o sistema legal, consagrado na doutrina e na

jurisprudência, denominado trifásico, ou seja, a quantidade da pena é definida por uma

análise dos dispositivos que regem a matéria, a ser feita em três etapas, tal como indica

o art. 68 do Código Penal.

Quanto ao acusado Wender Vieira da Silva

Na primeira fase de dosimetria da pena, observo as circunstâncias

judiciais constantes no art. 59, do CP. A culpabilidade, enquanto circunstância judicial,

| significa o grau de reprovabilidade da conduta. No caso, verifico que, sob esse aspecto,

| não há elementos nos autos que autorizem o agravamento da pena.

I Quanto às circunstâncias, não observo fato relevante para amparar a

majoração da pena, porque não se valeu o réu de qualquer situação ou fato especial

que mereça maior reprovação e exceda as do próprio tipo incriminador.

^^j^H^... Pag. I2del7. _•- '

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tribunal poder judiciário /y "%"<de justiça Comarca de Turvânía ' '$%£_£• "*•do essado de goiás Gabinete \ ••.-*•— j.

Os antecedentes não lhe são desfavoráveis, porquanto não consta

qualquer condenação criminal definitiva anterior que configure causa agravante da

reincidência, única forma de interpretar tal dispositivo em consonância com o princípio

constitucional da não-culpabilidade.

Quanto às demais circunstâncias judiciais, conduta social e

personalidade, dada a extrema abstração desses conceitos e considerando que

estamos submetidos a um sistema de direito penaldo fato, em oposição ao famigerado

'—; direito penal do autor, não há como aferi-las, quiçá para prejudicaro réu.

No que tange às conseqüências do delito, considerando que não

houve ressarcimento do prejuízo experimentado pela vítima do roubo, agravo a pena

em 06 (seis) meses.

Os motivos, que podem ser reconhecidos como favoráveis ou

desfavoráveis ao denunciado na aplicação da pena, são, por um lado, inerentes ao tipo

e, de outro, não há notícias de qualquer justificativa para o delito, respectivamente.

Portanto, mantenho a pena.

Quanto ao comportamento da vítima, em nada contribuiu para a

consecução do delito.

Fixo, assim, a pena-base em 1 (um) ano e 06 (seis) meses.

Ausentes quaisquer agravantes e atenuantes, bem como as causas de

aumento e diminuição, torno definitiva a pena em 1 (um) ano e 06 (seis) meses de

reclusão.

Todavia, compulsando detidamente os autos, percebo que a última

causa de interrupção da prescrição, nos termos do artigo 117, inciso I, do CP^e. deu em

Pág. 13 de 17

I

tribunal poder judiciáriode justiça Comarca de Turvâniado eslado de goias Gabinete

" \

\

05 de dezembro de 2006, sendo que, observando a pena ora aplicada e o qüi

determina o artigo 109, inciso V, do CP, impõe-se o reconhecimento da prescrição d.

pretensão punitiva estatal.

Ante o exposto, declaro EXTINTA A PUNIBIUDADE em relação ac

acusado Wender Vieira da Silva, pelos fatos narrados nesses autos, com arrimo no incise

IV do art. 107 c/c art. 109, inciso V, ambos do Código Penal.

;*^ . Quanto ao acusado Juarez Gomes Cardoso Neto

Na primeira fase de dosimetria da pena, observo as circunstâncias

judiciais constantes no art. 59, CP. A culpabilidade, enquanto circunstância judicial,

significa o grau de reprovabilidade da conduta. No caso, verifico que, sob esse aspecto,

não há elementos nos autos que autorizem o agravamento da pena.

Quanto às circunstâncias, não observo qualquer fato relevante para

amparar a majoração da pena, porque não se valeu o réu de situação especial que

mereça maior reprovação e exceda as do próprio tipo incriminador.

:. *~ Os antecedentes não lhe são desfavoráveis, porquanto não consta

qualquer condenação criminal definitiva anterior que configure causa agravante da

reincidência, única forma de interpretar tal dispositivo em consonância com o princípio

constitucional da não-culpabilidade.

Quanto às demais circunstâncias judiciais, conduta social e

personalidade, dada a extrema abstração desses conceitos e considerando que

estamos submetidos a um sistema de direito penaldo fato, em oposição ao famigerado

direito penal do autor, não há como aferi-las, quiçá para prejudicar o réu.

No que tange às conseqüências do delito, considerando^q-ue não

Pág. 14de 17

tribunal poder judiciário /V-S?Cí^%%r <-. "A

de justiça Comarca de Turvânia £ x-J £\"de estado ae goüs Gabinete FIA*-— -

houve ressarcimento do prejuízo experimentado pela vítima do roubo, agravoa pena

em 06 (seis) meses.

Os motivos, que podem ser reconhecidos como favoráveis ol

desfavoráveis ao denunciado na aplicação da pena, são, por um lado, inerentes ao tipe

e, de outro, não há notícias de qualquer justificativa para o delito, respectivamente.

Portanto, mantenho a pena.

\- . > O comportamento da vítima em nada contribuiu para a consecução

do delito.

Fixo, assim, a pena-base em 3 (três) anos e 6 (seis) meses de

reclusão.

Ausentes quaisquer agravantes e presente a atenuante da confissão

espontânea, reduzo a pena em 06 (seis) meses.

Ausentes, também, causas de aumento ou de diminuição, em especial

pela não comprovação da tese de arrependimento posterior, torno definitiva a pena

* r-V •--' em 03 (três) anos de reclusão.

Atenta ao disposto no art. 33, §2°, alínea c, e remetendo-me aos

argumentos já expendidos quando da análise da fixação da pena-base (CP, art. 59), FTXO

•=? O REGIME ABERTO para inicial cumprimento da pena.

I•—

I Considerando, ainda, que o dispositivo penal impõe também

I reprimenda de multa, condeno o réu ao pagamento de dez (10) dias-multa, arbitrados

em 1/30 do salário-mínimo vigente ao tempo do fato e devidamente atualizado.

Considerando o disposto no art. 44, § 2o do Código Penal,/j5artè final,

Pág. 15 de 17JJ,-./^ %/<&*&»

,.

c.

tribunal poder judiciáriode justiça Comarca de Turvâniado estndo do goiás Gabinete

te

\

V

v\

;

estando presentes os pressupostos objetivos e subjetivos mencionados no referido

dispositivo legal, substituo a pena privativa de liberdade imposta ao acusado, pelas

penas restritivas de direitos consistentes na prestação de serviços à comunidade e

interdição temporária de direitos, nos termos do art. 46 e 47, inciso IV, do Código Penal.

A prestação de serviços à comunidade dar-se-á junto à entidade

pública, devendo ser as tarefas atribuídas conforme as aptidões do condenado, à razão

de uma hora de tarefa por dia de condenação, fixadas de modo a não prejudicar a

jornada normal de trabalho, conforme disposto no art. 46 e §3°, do Código Penal.

A interdição temporária de direitos consistirá na proibição ao

condenado de freqüentar bares, casas de jogos, prostíbulos e congêneres, conforme

dispõe o art. 47, inciso IV, do Código Penal, pelo tempo de duração da pena.

Condeno ainda o acusado a arcar com as custas do processo.

Após o trânsito em julgado desta sentença, determino as seguintes

providências: a) Seja lançado o nome do réu condenado no rol dos culpados; b) Seja

comunicado ao Tribunal Regional Eleitoral para fins de comando da fase, registrando a

suspensão dos seus direitos políticos, nos termos do artigo 15, III, da Constituição

Federal e da Súmula 09 do Tribunal Superior Eleitoral; c) Igualmente seja oficiado ao

Instituto Nacional de Identificação para as anotações devidas.

| Considerando o nível do trabalho desenvolvido pelo. Defensor Dativo,

| fixo os honorários ao Dr. José Donizete Carneiro Júnior, OAB/GO n° 33.634, em 04

1(quatro) UHD's, a serem pagos pelo Estado na forma da Lei.

Expeça-se certidão, após o trânsito em julgado.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se, pessoalmente, o representante do

- -• .*. ...Pág. 16 de 17

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Luciana Nascimento Silva

Juíza de Direito, em substituição automática

Pág. 17 de 17-..-—-.

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Ministério Público, o advogado de defesa e o acusado, nessa ordem, na forma do ai

390 e seguintes do Código de Processo Penal.