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D Indústria Gráfica Indústria Gráfica e 10 anos para cá, monitores coloridos de alta definição e as novas impresso- ras digitais de mesa facilitaram muito esse trabalho. Hoje, é possível criar um impresso em quatro cores e ver imediatamente o resultado final no monitor. Uma prova impressa pode ser conseguida em poucos minutos. Surgem, no entanto, novos desafios. Um deles é fazer com que os resulta- dos no monitor e na prova correspondam ao que vai se obter na impressão final. Sem isso, o produtor corre o risco de ser enganado por seus olhos e aprovar um serviço que na realidade está insatisfatório. Os monitores e as impressoras de mesa são hoje os primeiros dispositivos de prova do nosso fluxo de trabalho. Mas para que funcionem bem, é preciso “caracterizá-los”, os seja, ajustá-los de forma que imitem o comportamento cromático das tintas offset nas impressões industriais. o lado escuro da produção gráfica GANHO de PONTO Por muitas décadas, lidar com cores em produção gráfica era um trabalho semelhante ao de pintar cerâmica antes da queima. Nas arte-finais, as cores a serem aplicadas eram indicadas por valores numéricos de CMYK. Os fotolitos com as separações de cores das fotos vinham direto dos scanners (ou do processo fotográfico). Tudo era reunido no filme limpo e a primeira visualização das cores reais do impresso só surgia nas provas de prelo, quando não na própria máquina impressora. Assim como na cerâmica, os artistas gráficos precisavam imaginar como o produto ia ficar quando as cores surgissem vivas e brilhantes sobre o papel. André Borges Lopes 46 SETEMBRO/OUTUBRO 1999 Publish www.publish.com.br

Ganho de Ponto

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Por muitas décadas, lidar com cores em produção gráfica era um trabalho semelhante ao de pintar cerâmica antes da queima. Nas arte-finais, as cores a serem aplicadas eram indicadas por valores numéricos de CMYK. Os fotolitos com as separações de cores das fotos vinhamdireto dos scanners (ou do processo fotográfico). Tudo era reunido no filme limpo e a primeiravisualização das cores reais do impresso só surgia nas provas de prelo, quando não na própriamáquina impressora. Assim como na cerâmica, os artistas gráficos precisavam imaginar comoo produto ia ficar quando as cores surgissem vivas e brilhantes sobre o papel.

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D

Indústria GráficaIndústria Gráfica

e 10 anos para cá, monitores coloridos

de alta definição e as novas impresso-

ras digitais de mesa facilitaram muito

esse trabalho. Hoje, é possível criar um

impresso em quatro cores e ver

imediatamente o resultado final no

monitor. Uma prova impressa pode ser

conseguida em poucos minutos.

Surgem, no entanto, novos desafios.

Um deles é fazer com que os resulta-

dos no monitor e na prova

correspondam ao que vai se obter na

impressão final. Sem isso, o produtor

corre o risco de ser enganado por seus

olhos e aprovar um serviço que na

realidade está insatisfatório. Os

monitores e as impressoras de mesa

são hoje os primeiros dispositivos de

prova do nosso fluxo de trabalho. Mas

para que funcionem bem, é preciso

“caracterizá-los”, os seja, ajustá-los de

forma que imitem o comportamento

cromático das tintas offset nas

impressões industriais.

o lado escuro da produção gráfica

GANHOde PONTO

Por muitas décadas, lidar com cores em produção gráfica era um trabalho semelhante ao de

pintar cerâmica antes da queima. Nas arte-finais, as cores a serem aplicadas eram indicadas

por valores numéricos de CMYK. Os fotolitos com as separações de cores das fotos vinham

direto dos scanners (ou do processo fotográfico). Tudo era reunido no filme limpo e a primeira

visualização das cores reais do impresso só surgia nas provas de prelo, quando não na própria

máquina impressora. Assim como na cerâmica, os artistas gráficos precisavam imaginar como

o produto ia ficar quando as cores surgissem vivas e brilhantes sobre o papel.

André Borges Lopes

46 SETEMBRO/OUTUBRO 1999 Publish www.publish.com.br

Uma das características mais

importantes de qualquer processo de

impressão em larga escala é o chamado

“ganho de ponto” (dot gain), um

comportamento da tinta impressa que

faz com que as cores e imagens

tendam a ficar diferentes do previsto.

Há muito pouco consenso na área

gráfica e de pré-impressão sobre o

funcionamento, as causas e até

mesmo sobre a forma correta de medir

o ganho de ponto. Mas assim como os

espanhóis - que afirmam “no creo embrujas, pero que las hay, las hay” - você

pode até não acreditar em tudo que

falam os gráficos, mas que o ganho de

ponto existe, existe.

TINTA E PAPELO fenômeno que conhecemos como

“ganho de ponto” é o resultado de

uma soma de fatores físicos e ópticos

que ocorrem quando colocamos tinta

sobre papel para formar imagens

impressas. Eles fazem com que as

tonalidades e cores das tintas apresen-

tem comportamentos diferentes do

que seria esperado, em especial nas

retículas dos meio-tons. Normalmen-

te, essas cores têm uma tendência ao

escurecimento, que pode ser maior ou

menor conforme o tipo de papel e

processo de impressão. Mas também

há casos de “ganho de ponto negati-

vo”, onde as cores clareiam. Felizmen-

te, boa parte desses efeitos pode ser

previsto com antecedência, permitindo

que façamos uma compensação (ou

“contra-correção”) nos arquivos

digitais e fotolitos.

A primeira e mais importante causa

do ganho de ponto é o aumento na

área de cobertura dos pontos da

retícula, que ocorre quando se aplica

tinta sobre papel. É semelhante ao

que ocorre quando deixamos cair um

pingo de tinta nanquin ou de caneta

num pedaço de papel: a tinta se

espalha à medida em que vai sendo

absorvida pelas fibras, e a mancha

resultante é muito maior que o pingo

original. O mesmo fenômeno, em

escala reduzida, ocorre em todos os

processos de impressão que usam

originais reticulados. Em linhas gerais,

o ganho de ponto é mais acentuado

quanto mais absorvente for o papel e

quanto maior for a quantidade de tinta

(carga de tinteiro) aplicada pela

impressora. Papéis revestidos (tipo

cuchê) costumam apresentar ganho de

ponto menor que equivalentes não-

revestidos. Os maiores ganhos de

ponto acontecem em papéis inferio-

res, do tipo jornal (figura 1).

No entanto, o ganho de ponto não

é uniforme em todas as tonalidades da

retícula. Nos tons muito claros, a

quantidade de tinta existente nos

pequenos pontos é insuficiente para

provocar um aumento significativo na

área de cobertura. Nos tons muito

escuros, o crecimento da área de

cobertura é grande, mas

FIGURA 1: Uma mesma retícula

apresenta-se de modo bem diferente

no fotolito (A) e impressa em papel

revestido (B), papel não-revestido (C) e

papel jornal (D).

FIGURA 2: A ampliação na área de

cobertura dos pontos originais

(assinalada em laranja) é mais acentuada

na faixa dos meio-tons que nas luzes e

sombras.

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indústria gráfica

48 SETEMBRO/OUTUBRO 1999 Publish www.publish.com.br

ganho de ponto elevado e de controle

muito difícil, exceto em condições

muito boas de impressão.

Por fim, o ganho de ponto também

sofre influência do tipo de equipa-

mento usado na impressão. Embora

haja exceções, a regra geral diz que

quanto mais uma impressora é

otimizada para velocidade, menos ela

é otimizada para qualidade. Por isso,

máquinas de alta produtividade (em

geral rotativas, que usam papel em

bobinas) produzem ganhos de ponto

mais altos que os encontrados nas

máquinas mais lentas (normalmente

planas, que usam folhas soltas). A

tecnologia de impressão também faz

diferença: a flexografia apresenta um

ganho de ponto muito acentuado,

enquanto que na rotogravura o

fenômeno é reduzido. O offset normal

fica no meio termo, enquanto que o

offset sem água (waterless) apresenta

um dos menores ganhos de ponto da

indústria gráfica.

Uma infinidade de outros fatores

têm influência sobre o crescimento

da área dos pontos. Dentre eles

destacamos o tipo de fotolito (chapas

ou fôrmas produzidas com filmes

positivos têm ganho de ponto menor

que às feitas com filmes negativos,

que são normalmente empregadas em

jornais), o processo de gravação das

chapas, a viscosidade da tinta, o

equilíbrio água-tinta na impressão

offset e a pressão dos rolos e

blanquetas nas máquinas impressoras.

COR DO PAPELUm outro tipo de “ganho de ponto”, no

entanto não tem nada a ver com o

aumento da área dos pontos da retícula.

É um ganho de ponto óptico, causado

pela influência da tonalidade do branco

do papel sobre as cores e tons das

imagens. É fácil entender que, aplicada

sobre um papel acinzentado, uma foto

tenderá a ficar bem mais escura do que

se houvesse sido impressa em um

suporte mais alvo.

Novamente aqui os papéis do tipo

jornal são os grandes prejudicados.

Mas deve-se explicar que a cor

cinzento-amarelada do papel jornal

não decorre apenas da baixa qualidade

do produto. Ela é em boa parte

intencional, pois ajuda a reduzir o

efeito de transparência (comum em

papéis de baixa gramatura) e torna

mais confortável a leitura sob condi-

ções de grande luminosidade (como ao

sol, por exemplo).

É interessante notar que esse

ganho de ponto óptico também causa

distorções no tom das cores. Para

compreender o porquê, imagine que o

tom do papel jornal é aproximadamen-

te o mesmo de uma cor feita com 10%

de Cyan, 8% de Magenta e 12% de

Amarelo. Essa “cor de fundo” vai

somar-se a todas as cores impressas

percentualmente reduzido em função

do maior tamanho do ponto original.

Além disso, boa parte da tinta espalha-

se sobre áreas já cobertas pelos pontos

adjacentes (figura 2). Por isso, o

fenômeno costuma ser mais acentuado

nos meio tons (25% a 75%), com pico

na faixa entre 50% e 60%. Num

gráfico, podemos representar a

influência do ganho de ponto sobre os

tons da imagem como uma curva

“embarrigada” para cima.

Uma das conseqüências desse tipo

de comportamento, é que o ganho de

ponto não apenas escurece imagens

coloridas, mas também pode mudar o

tom das cores originais. Um exemplo:

numa cor laranja, feita com 90% de

Amarelo e 60% de Magenta, o ganho

de ponto será muito mais acentuado

na segunda cor que na primeira. O

tom laranja tenderá a distorcer,

ficando mais vermelho quanto maior

for o ganho de ponto da impressão.

Outro fator importante, é que o

ganho de ponto também varia em

função do tipo e da lineatura de

retícula empregada nos fotolitos.

Normalmente, quanto mais alta é a

lineatura (deixando os pontos meno-

res e mais próximos), mais acentuado

e difícil de controlar se torna o ganho

de ponto. Este é um dos principais

problemas que impede o uso mais

amplo das retículas do tipo estocástica

ou FM: esse tipo de fotolito gera um

FIGURA 4: A partir da previsão da curva de ganho de ponto de um impresso, é

possível aplicar uma curva de correção na imagem digital, gerando fotolitos que

minimizem os problemas.

FIGURA 3: Uma cor verde impressa

sobre papel jornal resulta em um tom

diferente, bem menos brilhante e

saturado que o original em papel

cuchê branco.

Publish SETEMBRO/OUTUBRO 1999 49www.publish.com.br

sobre o papel, num processo de

“contaminação”. E a contaminação

gera influências estranhas nas cores.

Um verde feito com C80 M4 Y100,

por exemplo, passaria a ser visto como

C90 M12 Y112. A influência sobre o

amarelo chapado é quase nula e sobre

o Cyan é relativamente pequena. Mas

a quantidade de magenta foi multipli-

cada por três! Por isso, impressas em

sobre papéis cinzentos as cores

tendem não só a escurecer, mas

também a ficar menos brilhantes e

pouco saturadas (figura 3).

GANHO NEGATIVOHá um terceiro tipo de “ganho de

ponto” que tende a clarear as imagens

e, por isso, é conhecido como “ganho

de ponto negativo”. Na verdade,

existem dois fenômenos independen-

tes que produzem esse ganho negativo

em algumas condições de impressão,

especialmente quando se usa papéis

de baixa qualidade.

O primeiro fenômeno acontece nas

chamadas “mínimas”, as regiões mais

claras das imagens, onde se encontram

os menores pontos da retícula. Em

papéis de superfície muito áspera e

irregular é extremamente difícil fazer

com que pequenos pontos de tinta se

fixem no impresso. O resultado é que

as áreas mais claras tendem a ficar

“carecas” ou “furadas”, comprometen-

do a reprodução de detalhes nas altas

luzes da imagem. Em papéis revesti-

dos e com boas condições de impres-

são, é possível imprimir pontos de 2%

a 3% (ou até de 1%, dependendo da

lineatura da retícula). Em papéis

inferiores e impressoras rápidas,

raramente é possível imprimir pontos

menores que 5% ou 6%. Devido ao

tipo de forma empregada, essa questão

é especialmente crítica na impressão

por flexografia.

O segundo fenômeno acontece nas

chamadas “máximas”, as regiões mais

escuras da imagem, onde as cores

estão praticamente chapadas. Nesses

pontos, a chamada “densidade de

cobertura” da cor depende de quanta

tinta a impressão consegue depositar

sobre o papel. E aí, ocorrem dois

problemas. Nos papéis muito absor-

ventes, boa parte da tinta penetra nas

fibras do papel, o que acaba compro-

metendo a espessura do chamado

“filme de cobertura”. Além disso, em

máquinas muito velozes os rolos

tinteiros têm dificuldade de suprir a

quantidade necessária de tinta, em

especial no caso de extensas áreas

chapadas. Por isso, o “preto total”

conseguido mesmo nos jornais mais

bem impressos é muito mais claro que

o que se consegue numa boa impres-

são plana em cuchê.

COMPENSAÇÃO DO GANHOA combinação desse conjunto de

fatores determina o comportamento

geral do ganho de ponto em um

determinado impresso. Estudando as

variáveis, fazendo testes comparativos

FIGURA 5: O Photoshop oferece diversas

opções de combinação Tinta/Papel.

Escolha a mais adequada ao seu impresso.

FIGURA 6: O ajuste de ganho de ponto

por gráfico de curvas é um poderoso

recurso introduzido na versão 5

Photoshop.

indústria gráfica

50 SETEMBRO/OUTUBRO 1999 Publish www.publish.com.br

e medindo a área dos pontos com

ajuda de um densitômetro é possível

prever uma “curva de ganho” aproxi-

mada para cada combinação possível

de papel e impressão. Essa curva é a

base para que se aplique, nos arquivos

digitais ou nos fotolitos, a chamada

“compensação” ou “contra-correção”

do ganho de ponto (figura 4). Com

isso, é possível minimizar seus efeitos

nocivos, mantendo a luminosidade da

imagem dentro dos valores corretos e

garantindo que as cores não sofram

distorções inaceitáveis.

Basicamente, a compensação de

ganho de ponto é feita pelo ajuste

dos limites mínimos e máximos das

retículas, pelo clareamento dos meio-

tons (onde o ganho é mais acentua-

do) e pelo aumento do brilho e da

saturação das cores (compensando as

contaminações). As técnicas não são

novidade: os bons operadoradores de

fotolito empregam esse mesmo

processo há décadas. No fotolito

convencional, a compensação era

feita por processos ópticos e fotográ-

ficos. Nos computadores, podemos

fazê-la digitalmente, de forma

manual ou automática.

As primeiras versões dos programas

de edição de imagem e editoração

eletrônica não ofereciam ajustes que

permitissem compensar automatica-

mente o ganho de ponto dos impres-

sos. Assim, a única maneira de obter

bons resultados era aplicando manual-

mente curvas de correção que deixa-

vam as imagens claras e desbotadas no

monitor, torcendo para que no proces-

so de impressão o escurecimento das

tintas trouxesse as cores para níveis

mais corretos. Um trabalho impreciso,

baseado nos valores númericos de cada

tinta e na intuição do produtor.

Hoje, já é possível fazer com que o

computador aplique uma compensa-

ção automática, ajustando a maneira

como as imagens CMYK são mostradas

na tela, desde que as previsões

corretas de ganho de ponto e contami-

nação das tintas que sejam informadas

ao sistema. Uma das maneiras de fazê-

lo é usando perfis ICC e algum dos

diversos kits e softwares de

gerenciamento de cores do mercado,

uma opção relativamente cara e

complicada. Há um método bem mais

fácil, acessível e multi-plataforma de

fazer isso, ao menos nas fotos e

imagens dos trabalhos. Basta acertar

corretamente o CMYK Setup do

Photoshop e tomar alguns cuidados no

ajuste manual das imagens.

CMYK SETUPO CMYK Setup (File /Color Settings /

CMYK Setup) é uma novidade do

Photoshop 5: surgiu da reunião dos

antigos ajustes “Printing Inks Setup”

e “Separation Setup”, incorporando

alguns recursos novos e mais podero-

sos. No entanto, o ajuste padrão

(default) com que a Adobe configura o

programa pode até servir para quem

produz fotos para revistas impressas

em Minessota ou no Kentucky, mas

não respeita os padrões brasileiros de

trabalho. Mal ajustado, ele é um dos

grandes responsáveis pela visualização

errada das cores no monitor e também

pelas dificuldades que enfrentamos ao

tentar obter boas separações de

cor no Photoshop. Na edição

anterior, falamos sobre os

ajustes das opções de separação

(UCR, GCR, etc). Agora vamos

fazer o acerto do ganho de

ponto (dot gain) das tintas.

No Brasil, o normal é que as

gráficas empreguem tintas

CMYK padrão Escala Europa,

que prevê o uso de fotolitos

positivos e impressão em

máquinas offset planas. Nos EUA

e Canadá, as tintas obedecem ao

padrão SWOP (Specifications for Web

Offset Publications), que além de ter

tons ligeiramente diferentes do das

nossas, prevê o uso de fotolitos negati-

vos e impressão em máquinas offsetrotativas. Por isso, altere as tintas (ink

options) para Euroscale.

Além da tinta, é preciso informar o

papel que será utilizado, e o

Photoshop nos dá três opções (figura

5): coated (revestido), uncoated (não

revestido) e newsprint (papel jornal).

Papéis revestidos são os do tipo cuchê

(fosco ou brilhante) e similares de boa

qualidade. Papéis não-revestidos são

os do tipo Sufite, Alta-alvura,

Westerprint, etc genericamente

conhecidos como “papéis offset”.

Papéis jornal são mais escuros e de

qualidade inferior. Escolha o que mais

se aproxima do tipo de papel que você

vai usar. Ao escolher o tipo de papel e

tinta correta, o Photoshop irá acertar

não apenas o ganho de ponto, mas

também o grau de contaminação dos

pigmentos pela cor de fundo do papel

e a densidade máxima das cores.

CURVAS DE GANHOFeita a escolha da tinta e papel, o

Photoshop carrega um percentual

estimado de “ganho de ponto”. A

medida do ganho de ponto é feita em

percentuais, mas não é uma porcenta-

gem. Refere-se, ao aumento absoluto

verificado na área dos pontos de 50%.

Um ganho de ponto de 10% significa

que os pontos de 50% aumentam para

60% no impresso.

Na opção “Eurostandart Coated”,

por exemplo, o ganho de ponto

estimado é de 9% (pontos de 50%

imprimem com 59%). É um valor

subestimado, pois 12% a 14% são

números mais reais na impressão em

papel cuchê com máquinas off-set

planas e filmes positivos. Até aí,

bastaria elevar o valor para os níveis

corretos, mas há outro sério problema.

A Adobe confunde

indevidademente conceitos de

“pureza de pigmento” e “balanço de

gris” com ganho de ponto, e conside-

ra que esse ganho é mais alto na

tinta Cyan que nas demais. Isso

FIGURA 7: Na compensação do ganho de

ponto extremamente alto dos jornais,

frequentemente é preciso fazer curvas de

desenho estranho, como esta acima.

Publish SETEMBRO/OUTUBRO 1999 51www.publish.com.br

pode ser visto ao escolhermos o

modo “Curves”, uma opção de

ajustar o ganho de cada tinta separa-

damente por meio de gráficos (figura

6 ). O ganho de 9% do Photoshop

significa 9% para as cores MYK e de

13% para a cor Cyan, o que está a

quilômetros da realidade no Brasil e

a milhas da realidade nos EUA.

Por isso, a melhor opção é refazer os

gráficos, ajustando o ganho de ponto das

tintas CMY para algo em torno de 12% a

14% (50% passa para 62% a 64%) e

deixando o Preto (K) com um ganho de

ponto 4% ou 5% mais alto (66% a 69%)

que o das demais tintas, o que é bem

mais próximo da realidade de impressão.

O modo “curves” é uma poderosa

ferramenta para construir curvas de

ganho adequadas a realidade de cada

processo de impressão e tipo de papel.

Após selecionar a opção tinta/papel

correta, use a tabela abaixo como

referência para fazer seus próprios

ajustes. Mas lembre-se: os números são

apenas indicativos e o aprimoramento

desse ajuste depende de tentativas e

experiências. Em condições extremas de

ganho de ponto positivo e negativo,

como as existentes nos jornais de grande

tiragem, não se assuste se a curva ideal

assumir um desenho parecido com o da

figura 7. Nesses casos, pode haver uma

grande variação no ganho de ponto de

um dia para outro, ou mesmo entre dois

exemplares de uma mesma edição.

SEPARAÇÕES CORRETASÉ possível salvar o conjunto dos acertos

feitos no CMYK Setup (inclusive o UCR

e GCR), guardando ajustes otimizados

para os diversos tipos de trabalho que

usam papeis e impressões diferentes.

Antes começar a trabalhar com um lote

de imagens, verifique sempre se o

Photoshop está com o Setup adequado.

Com o CMYK Setup devidamente

ajustado, o Photoshop não apenas vai

mostrar as imagens no monitor mais

próximas do resultado final, como

também irá produzir separações CMYK

mais corretas a partir da conversão de

imagens RGB ou CIE-Lab. Ou seja, se o

ganho de ponto for alto, os arquivos

CMYK terão as cargas de tintas aliviadas

para que o resultado impresso fique mais

próximo da imagem RGB original.

De qualquer modo, ainda será preciso

fazer manualmente um “ajuste fino” nas

cores das imagens. Em caso de papéis

escuros, uma boa opção é aumentar ao

máximo o brilho e a saturação das cores,

compensando a inevitável contamina-

ção dos tons vivos. Também é bom

acertar os valores numéricos das

máxima e mínimas, impedindo o

surgimento de “pontos furados” nas

áreas claras e o “entupimento” das

sombras. Afinal, por mais bem ajustada

que esteja, nenhuma ferramenta

substitui o talento e a habilidade de

um bom retocador de imagens.

Na próxima edição, discutiremos o

uso do filtro “Unsharp Mask”, um

recurso fundamental e indispensável

no aprimoramento de imagens

impressas. Até lá.

André Borges Lopes([email protected]) é produtorgráfico, consultor em artes gráficas e diretorda Bytes &Types.

REFERÊNCIAS BÁSICAS DE AJUSTE

Impressão Papel Ganho nos 50% Mínimas Máxima do Preto

Off-set plana Revestido 12% a 14% 2% a 3% 93% a 95%

Não Revestido 16% a 20% 3% a 4% 90% a 93%

Jornal 22% a 28% 5% a 7% 85% a 90%

Off-set rotativa Revestido 14% a 17% 3% a 5% 90% a 95%

Não Revestido 17% a 23% 4% a 7% 85% a 93%

Jornal 27% a 40% 7% a 10% 80% a 90%

Rotogravura Revestido 10% a 14% 3% a 5% 90% a 95%

Não Revestido 14% a 20% 4% a 7% 87% a 93%

Jornal 20% a 25% 7% a 10% 83% a 90%