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1 GÊNEROS TEXTUAIS E ENSINO DE LÍNGUA: UM PANORAMA DA PERSPECTIVA DE CHARLES BAZERMAN NO BRASIL Camila Mota Oliveira 1 Lucas Pazoline da Silva Ferreira 2 GT5 Educação, Comunicação e Tecnologias RESUMO: Situado na perspectiva dos gêneros textuais, este trabalho objetiva evidenciar como uma perspectiva de ensino de gêneros textuais, pautada em teorias de Charles Bazerman (2005; 2006; 2007; 2011), corrobora uma pedagogia de ensino-aprendizagem de línguas mais eficiente. Sua metodologia se constitui na seleção e análise de artigos, dissertações, ensaios, monografias obtidos através do Google Acadêmico, e cujas propostas estejam associadas ao ensino de línguas em sala de aula. Os resultados comprovam que um trabalho direcionado à perspectiva dos gêneros textuais situados é importante tanto para uma conjuntura teórica atualizada quanto a uma exigência educacional que precisa de melhores observações e propostas. Como fundamentação teórica, entre outros autores, foram utilizados os trabalhos sobre gêneros textuais de Bakhtin (1992), Marcuschi (2008) e Bazerman (Ibidem). Palavras-chave: Gêneros Textuais. Ensino de Línguas. Charles Bazerman. ABSTRACT: Situated in the perspective of genres, this work aims to demonstrate how a perspective of teaching genres, based on theories of Charles Bazerman (2005, 2006, 2007, 2011), supports a pedagogy of teaching and language learning efficiently. Its methodology is the selection and analysis of articles, dissertations, essays, obtained through Google Scholar, and whose proposals are associated with language teaching in the classroom. The results show that work directed to the prospect of genres situated is important both for a theoretical context as an updated educational requirements need better observations and proposals. As a theoretical basis, among others, it has been used work on genres of Bakhtin (1992), Marcuschi (2008) and Bazerman (ibid.). Keywords: Textual Genres. Languages Teaching. Charles Bazerman. 1 INTRODUÇÃO Há algumas décadas, os estudos sobre gêneros textuais no Brasil vêm se consolidando de modo a se tornarem inerentes ao processo de ensino de línguas. Tal fato pode ser percebido desde a segunda metade do século XX, quando as pesquisas se voltaram para a construção de uma abordagem teórica propícia à aplicação em ambientes de ensino-aprendizagem, até o final da década de 1990, quando os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Língua 1 Mestranda em Letras (UFS); Bolsista Capes Brasil; [email protected] 2 Mestrando em Letras (UFS); Bolsista Capes Brasil; Pesquisador e membro do grupo de pesquisa CNPq - NUCA - Núcleo de Pesquisa em Comunicação e Tecnologia; [email protected].

Generos Textuais Ensino Li-ngua Olhar Perspectiva Charles Bazerman

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    GNEROS TEXTUAIS E ENSINO DE LNGUA: UM PANORAMA DA

    PERSPECTIVA DE CHARLES BAZERMAN NO BRASIL

    Camila Mota Oliveira1

    Lucas Pazoline da Silva Ferreira2

    GT5 Educao, Comunicao e Tecnologias

    RESUMO: Situado na perspectiva dos gneros textuais, este trabalho objetiva evidenciar como uma

    perspectiva de ensino de gneros textuais, pautada em teorias de Charles Bazerman (2005; 2006;

    2007; 2011), corrobora uma pedagogia de ensino-aprendizagem de lnguas mais eficiente. Sua

    metodologia se constitui na seleo e anlise de artigos, dissertaes, ensaios, monografias obtidos

    atravs do Google Acadmico, e cujas propostas estejam associadas ao ensino de lnguas em sala de

    aula. Os resultados comprovam que um trabalho direcionado perspectiva dos gneros textuais

    situados importante tanto para uma conjuntura terica atualizada quanto a uma exigncia

    educacional que precisa de melhores observaes e propostas. Como fundamentao terica, entre

    outros autores, foram utilizados os trabalhos sobre gneros textuais de Bakhtin (1992), Marcuschi

    (2008) e Bazerman (Ibidem).

    Palavras-chave: Gneros Textuais. Ensino de Lnguas. Charles Bazerman.

    ABSTRACT: Situated in the perspective of genres, this work aims to demonstrate how a perspective

    of teaching genres, based on theories of Charles Bazerman (2005, 2006, 2007, 2011), supports a

    pedagogy of teaching and language learning efficiently. Its methodology is the selection and analysis

    of articles, dissertations, essays, obtained through Google Scholar, and whose proposals are associated

    with language teaching in the classroom. The results show that work directed to the prospect of genres

    situated is important both for a theoretical context as an updated educational requirements need better

    observations and proposals. As a theoretical basis, among others, it has been used work on genres of

    Bakhtin (1992), Marcuschi (2008) and Bazerman (ibid.).

    Keywords: Textual Genres. Languages Teaching. Charles Bazerman.

    1 INTRODUO

    H algumas dcadas, os estudos sobre gneros textuais no Brasil vm se consolidando

    de modo a se tornarem inerentes ao processo de ensino de lnguas. Tal fato pode ser percebido

    desde a segunda metade do sculo XX, quando as pesquisas se voltaram para a construo de

    uma abordagem terica propcia aplicao em ambientes de ensino-aprendizagem, at o

    final da dcada de 1990, quando os Parmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Lngua

    1 Mestranda em Letras (UFS); Bolsista Capes Brasil; [email protected] 2 Mestrando em Letras (UFS); Bolsista Capes Brasil; Pesquisador e membro do grupo de pesquisa CNPq - NUCA - Ncleo de Pesquisa em Comunicao e Tecnologia; [email protected].

  • 2

    Portuguesa incluam enquanto orientao pedaggica a perspectiva dos gneros textuais no

    ensino de lngua materna.

    Atualmente, esse panorama de teoria/prtica no estudo dos gneros textuais bastante

    diversificado. Sendo assim, o recorte escolhido para a realizao desse estudo demonstra as

    contribuies de Charles Bazerman especialmente no tocante aplicabilidade dos gneros

    textuais em ambientes de ensino-aprendizagem oficiais no Brasil.

    Charles Bazerman professor do departamento de Educao da Universidade da

    Califrnia, em Santa Brbara (EUA). Suas pesquisas centram-se na dinmica social da escrita,

    nas teorias retricas e uso do conhecimento. No Brasil, o professor Bazerman publicou pela

    editora Cortez3 os livros Gneros Textuais, Tipificao e Interao, em 2005, Gnero,

    Agncia e Escrita, em 2006, e Escrita, Gnero e Interao Social, em 2007.

    Neste estudo, objetivou-se evidenciar como perspectivas de ensino de gneros textuais

    pautadas em teorias de Charles Bazerman corroboram uma pedagogia mais eficiente para o

    ensino-aprendizagem de lnguas. Logo, com a finalidade de constituir um corpus (artigos,

    dissertaes, ensaios, monografias) favorvel para cumprir o objetivo ora proposto, foi

    utilizado o Google Acadmico, um motor de busca especfico, disponibilizado pela empresa

    Google.

    Seguindo critrios pr-estabelecidos para seleo de materiais para constituio do

    corpus, foi realizada uma triagem dos resultados obtidos pelo buscador a fim de obter

    materiais potencialmente mais gerais e relevantes, mesmo que de forma condensada, pois

    sabemos o grande nmero de trabalhos disponveis em peridicos e acervos digitais.

    2 GNEROS TEXTUAIS E ENSINO

    Uma sociedade se estabelece principalmente pelas situaes comunicativas das quais o

    sujeito participa constantemente. Essas prticas sociais podem ser compreendidas desde, por

    exemplo, um simples dilogo ou bilhete at uma palestra ou artigo cientfico, ou seja, de

    construes textualizadas simples e cotidianas s complexas e de instncias especficas. Essas

    atividades sociais de utilizao da lngua so denominadas Gneros Textuais.

    No Brasil, est aumentando o nmero de trabalhos relacionados aos gneros textuais e

    sua aplicabilidade no ensino de lnguas, fato confirmado por Marcuschi (2008). Como explica

    o linguista, o estudo dos gneros textuais no recente, se considerarmos as primeiras

    3 Editora brasileira com mais de 30 anos de atuao, voltada especificamente para a formao e especializao

    de professores e alunos nas reas de Cincias Humanas e Sociais.

  • 3

    observaes de Plato no sculo V a.C., mas est na moda, pois o foco na linguagem em

    funcionamento, relacionada aos aspectos das atividades sociais e culturais, acomoda-se

    facilmente ao pensamento cientfico atual.

    De maneira didtica, Marcuschi (2008), um dos pioneiros da Lingustica Textual no

    Brasil, apresenta algumas correntes tericas de estudo dos gneros que se destacam e se

    proliferam no panorama nacional. Em resumo, tem-se: uma linha bakhtiniana, alimentada

    pelo socioconstrutivismo; a perspectiva swalesiana (escola norte-americana); uma

    perspectiva sistmico-funcional (sob os postulados de Halliday); e uma perspectiva menos

    marcada por essas anteriores e mais geral (Bakhtin, Bazerman, Miller, Bronckart, entre

    outros).

    Como parte do estudo de Marcuschi (2008), em Gneros textuais: Produo textual,

    anlise de gneros e compreenso direcionada ao ensino, faz-se necessria uma definio

    de gnero textual de fcil percepo. Por isso, Marcuschi (2008) se valendo das observaes

    de Bakhtin (1979/1992), Miller (1984) e Bronkart (1999), entre outros, apresenta um conceito

    de gnero textual.

    Gnero textual refere os textos materializados em situaes comunicativas

    recorrentes. Os gneros textuais so os textos que encontramos em nossa

    vida diria e que apresentam padres sociocomunicativos caractersticos

    definidos por composies funcionais, objetivos enunciativos e estilos

    concretamente realizados na integrao de foras histricas, sociais,

    institucionais e tcnicas. Em contraposio aos tipos, os gneros so

    entidades empricas em situaes comunicativas e se expressam em

    designaes diversas, constituindo um princpio de listagem aberta.

    (MARCUSCHI, 2008, p. 155)

    A partir dessa conceituao, Marcuschi (2008) aponta para uma importante distino

    entre gneros textuais e tipologias textuais. Os gneros so constitudos pelas realizaes

    textuais empricas que desempenham funes em situaes sociocomunicativas atravs de

    vrias possibilidades de estruturao textual. Cartas, recibos, artigos, palestras, seminrios e

    bate-papos virtuais so exemplos de gneros. Os tipos textuais esto relacionados s

    caractersticas intrnsecas da lngua, uma construo terico-abstrata, delimitada por fatores

    sintticos, lexicais, estilsticos etc. Descrio, narrao, argumentao, injuno e dissertao,

    tudo isso faz parte da classificao limitada das tipologias, que em si mesma, no evidencia

    uma situao de uso da lngua.

    Para um trabalho de ensino-aprendizagem pautado na perspectiva dos gneros

    textuais, algo que deve ser levado em considerao a relao interdependente entre gneros

  • 4

    textuais e tipos textuais, pois o constructo terico-lingustico (tipo) fundamental para a

    construo de um gnero, e vice-versa.

    Como o prprio Marcuschi (2008) confirma, suas posies levam em conta

    principalmente o pensamento bakhtiniano. Ou seja, deve-se considerar que as atividades

    humanas esto relacionadas utilizao da lngua, que ocorre de maneira heterognea em

    contextos determinados. Sendo assim, como os gneros textuais so tipos relativamente

    estveis de enunciados elaborados em determinadas esferas da comunicao humana

    (BAKHTIN, 1992, p. 279), eles tambm so heterogneos, podendo se manifestar, por

    exemplo, na forma de uma simples carta ou de um texto jurdico.

    Em resumo, os gneros no so estticos, parados no tempo, eles transmutam e

    acompanham o desenvolvimento tecnolgico, ou seja, sua ampliao chega denominada

    cultura eletrnica atravs do telefone, do gravador, do rdio, da TV e do computador e seus

    similares. Por outro lado, deve-se tambm considerar a prpria escrita alfabtica enquanto um

    aparato tecnolgico, que propiciou o surgimento de novos gneros.

    Em relao ao ensino de lnguas, principalmente o da lngua portuguesa, estabelecido

    pelos Parmetros Curriculares Nacionais, o foco na caracterizao e utilizao dos gneros

    textuais, enquanto objeto de ensino, fundamental, pois a partir do uso terico-prtico da

    diversidade de gneros, a competncia discursiva do aluno desenvolvida. Em relao ao

    professor e ao ensino, isso implica numa melhor seleo de textos para estimular a

    compreenso e produo escrita e oral.

    Os textos organizam-se sempre dentro de certas restries de natureza

    temtica, composicional e estilstica, que os caracterizam como pertencentes

    a este ou aquele gnero. Desse modo, a noo de gnero, constitutiva do

    texto, precisa ser tomada como objeto de ensino. [...] Nessa perspectiva,

    necessrio contemplar, nas atividades de ensino, a diversidade de textos e

    gneros, e no apenas em funo de sua relevncia social, mas tambm pelo

    fato de que textos pertencentes a diferentes gneros so organizados de

    diferentes formas. (PCN, 1998, p. 25)

    Com a utilizao didtica dos gneros textuais em sala de aula, o espao para o

    processo de ensino-aprendizagem de uma lngua se torna mais complexo, pois agora so

    levados em considerao elementos intrnsecos e extrnsecos lngua, oriundos de inmeros

    fatores de textualidade. Assim, a competncia lingustica mais bem desenvolvida tendo em

    vista que o conceito de texto ampliado de modo a considerar aspectos individuais, sociais,

    culturais, comunicativos e lingusticos.

  • 5

    2.1 OS GNEROS NA PERSPECTIVA DE CHARLES BAZERMAN

    Dentre as vrias perspectivas de estudos dos gneros textuais que esto se difundindo

    no Brasil, essa pesquisa se concentra em teses de Charles Bazerman, professor da

    Universidade da Califrnia (EUA), e como o prprio se intitula, terico do gnero em geral.

    No Brasil, a primeira publicao de Bazerman foi o livro Gneros textuais, tipificao e

    interao, em 2005. Sobre esta ltima, Marcuschi (2008) destaca seu alto potencial

    aplicativo, pois ela trata dos aspectos funcionais e histricos dos gneros e apresenta

    conceitos claros sobre gneros, sistemas e conjuntos de gneros.

    Os trabalhos de Bazerman (2005; 2006; 2007; 2011) dialogam perfeitamente com os

    desenvolvidos por Carolyn Miller. O conceito para gnero proposto por Miller (1984; 2011)

    no qual o gnero uma ao retrica tipificada baseada numa situao retrica recorrente

    amplamente utilizado por Bazerman (ibidem), que se dedica principalmente ao gnero

    enquanto uma categoria psicossocial que emerge historicamente. Sendo assim, deve-se

    observar o contexto scio-histrico e o sujeito cognitivo, pois a partir deles que sentidos so

    identificados, moldados, localizados e recebidos.

    Para Bazerman (2011), a noo de gnero pode ser aplicada a qualquer tipo de

    artefato, e a sua delimitao que o torna diferente do texto. Em relao ao ensino de lngua

    na perspectiva dos gneros em geral, Bazerman (2011) afirma que necessrio situar o

    prprio ensino de escrita como ao social motivada de modo que o aluno deseje moldar o

    sentido e se empenhe para cri-lo. Nesse caso, o professor deve orientar e criar situaes

    motivadoras com gneros significativos. E o que seriam esses gneros significativos? So os

    gneros que levaro o aluno a assumir determinados papis e atividades, considerando tanto

    seu conhecimento como suas disposies atuais.

    A abordagem de Bazerman (2007; 2011) para o ensino reflete a viso do gnero como

    mediador de interaes socioculturais. Sendo assim, para desenvolver habilidades no aluno

    nessa perspectiva, necessria uma pedagogia especfica em alguns prontos: (re)produzir

    elementos-chave dos sistemas de atividades dentro dos quais o gnero evolui e utilizado; e

    por fim, reconhecer o dinamismo, a transformabilidade e relativa estabilidade dos gneros.

    A educao letrada precisa atender no somente s habilidades formais de

    codificar e decodificar textos, mas tambm aos processos individualizados

    da construo de sentidos. preciso tambm ajudar os alunos a engajarem-

    se com as ferramentas necessrias para compreender, avaliar e participar dos

    sistemas de atividade social maiores onde os textos assumem significados e

    vida. (BAZERMAN, 2007, p.196)

  • 6

    A contribuio de Charles Bazerman para a teoria dos gneros em geral, e

    principalmente para o ensino de lnguas, de suma importncia para uma pedagogia adequada

    tanto a uma conjuntura terica atualizada quanto a uma exigncia educacional no to recente,

    mas que ainda necessita de observaes e propostas que auxiliem ao professor/pesquisador

    em suas atividades.

    3 A ABORDAGEM DE BAZERMAN EM ESTUDOS DESENVOLVIDOS NO BRASIL

    Atualmente, no Brasil, vrias so as pesquisas que incorporam a perspectiva de

    Charles Bazerman para o ensino de gneros textuais situados. Por ser uma perspectiva geral,

    como a de Bakhtin (1978/1992), Miller (1984), muitos dos seus postulados so fundamentais

    e de fcil acesso para qualquer pesquisador dos gneros, seja ele iniciante ou em fase de

    doutoramento.

    *

    Para observar a influncia de Charles Bazerman nas produes acadmicas brasileiras,

    foi utilizado o Google Acadmico (http://scholar.google.com.br), um motor especfico de

    busca web. Esta ferramenta permite, de maneira simples, pesquisar literatura acadmica de

    maior relevncia, que estejam integradas rede mundial de computadores Internet/Web. A

    confiabilidade nas informaes encontradas se estabelece no modo como os resultados so

    classificados, dando ao pesquisador uma amostra considervel daquilo que est procurando.

    O Google Acadmico classifica os resultados de pesquisa segundo a

    relevncia. Como na pesquisa da web com o Google, as referncias mais

    teis so exibidas no comeo da pgina. A tecnologia de classificao do

    Google leva em conta o texto integral de cada artigo, o autor, a publicao

    em que o artigo saiu e a frequncia com que foi citado em outras publicaes

    acadmicas. (GOOGLE, 2012)

    Como um dos critrios, foi eleito o ano de publicao (2005) de Gneros textuais,

    tipificao e interao, primeira obra de Bazerman publicada no Brasil, para demarcar ponto

    cronolgico inicial para as buscas. Foram utilizadas as palavras Charles Bazerman no motor

    de busca, que apresentou 110 resultados4 (sem incluir patentes e citaes isoladas). Desses

    materiais, em que se destacam artigos, teses e monografias, foram selecionados apenas os

    trabalhos sobre gneros textuais em sala de aula (propostas de ensino) que trazem C.

    4 O link da pesquisa http://scholar.google.com.br/scholar?q=%22Charles+Bazerman%22&hl=pt-BR&lr=lang_pt&as_sdt=0&as_ylo=2005&as_yhi=2012&as_vis=1, acessado no perodo de 02 a 04 de janeiro de 2012.

  • 7

    Bazerman em sua fundamentao. A anlise dos resultados desses trabalhos (teses,

    monografias, artigos) ser importante para que se evidencie como as propostas de ensino de

    gneros textuais pautadas em teorias de Bazerman corroboram uma pedagogia que auxilia um

    ensino-aprendizagem de lngua eficiente.

    *

    Dos 110 trabalhos encontrados, apenas 7 se enquadravam no recorte proposto para

    esse estudo. A fim de uma melhor visualizao dos resultados, o Quadro 1 resume os dados

    especficos de cada pesquisa e seus respectivos autores.

    Quadro 1 Resultado da pesquisa atravs do Google Acadmico Fonte: produo dos autores, 2013.

    GNERO TTULO ANO AUTOR TITULAO FACULDADE

    Artigo SMS: UM TORPEDO LINGSTICO

    NAS AULAS DE LINGUAS

    2007 Giselda dos Santos Costa Mestre UFPE

    Artigo PRODUO DE RESENHAS

    ACADMICAS: OS RECURSOS

    LINGSTICOS E A APROPRIAO

    DO GNERO

    2009 Ana Virgnia Lima da

    Silva

    Mestre UFMG

    Artigo ALINE, GNEROS E LEITURA: POR

    NOVOS PARADIGMAS DE ENSINO

    PARA O GNERO TIRINHA NO

    ENSINO BSICO

    2010 Alx Caldas Simes Mestrando UFTM

    Monografia ENSINO-APRENDIZAGEM DE

    LNGUA PORTUGUESA,

    GNEROS TEXTUAIS E. PRTICA

    PEDAGGICA

    2010 Gilvnia Oliveira do

    Nascimento Gonzalez

    Mestre UNIV.

    CATLICA DE

    PERNAMBUCO

    Ensaio A UTILIZAO DO JORNAL

    ESCOLAR COMO METODOLOGIA

    DE ENSINO DE LNGUA

    PORTUGUESA E SUA INFLUNCIA

    NA APRENDIZAGEM EM SALA DE

    AULA

    2010 Vanessa Wendhausen

    Lima

    Doutoranda UNISUL

    Dissertao OS GNEROS TEXTUAIS NA

    FORMAO DO PROFESSOR DE

    LNGUA PORTUGUESA EM

    INSTITUIES DE ENSINO

    SUPERIOR

    2010 Hiliana Alves dos Santos Mestre UNIVERSIDAD

    E CATLICA

    DE

    PERNAMBUCO

    Monografia A CONTRIBUIO DOS GNEROS

    NO PROCESSO DE AQUISIO DA

    LEITURA E ESCRITA

    2011 Maria Euveciana de

    Lacerda

    Graduanda FGF

  • 8

    Para melhor compreender as pesquisas expostas na triagem (Quadro 1), realizar-se-

    uma breve descrio das propostas e dos resultados respectivos a cada trabalho, aos quais,

    alm disso, ser feita uma correlao com os postulados apresentados de Charles Bazerman.

    SMS e ensino de lngua

    O artigo SMS: Um torpedo lingusticonas aulas de lnguas, de Giselda dos Santos

    Costa, apresenta ao professor de lngua(s) como explorar o gnero textual SMS (Short

    Message Service) de modo a desenvolver as capacidades lingusticas discentes, atravs de

    atividades orientadas. Fundamentada na teoria de gneros, de Charles Bazerman, a mestre em

    Lingustica elabora uma estratgia para o ensino da leitura e escrita, porm no a reproduz

    efetivamente em sala de aula. Por outro lado, mesmo sem a realizao das atividades

    possvel notar que a proposta incorpora aspectos relevantes, como os fatores socioculturais e

    interacionais, para o ensino de lngua a partir de gneros.

    Produo de resenhas acadmicas

    O artigo Produo de resenhas acadmicas: os recursos lingusticos e a apropriao

    do gnero, de Ana Virgnia Lima da Silva, mestre em Lingustica, tem por objetivo analisar a

    apropriao do gnero resenha, suas caractersticas e os recursos lingusticos empregados em

    sua produo. O corpus analisado pela pesquisadora constitudo por resenhas produzidas por

    graduandos em Letras da Universidade Federal de Minas Gerais. Fundamentada em teorias de

    Bazerman, a pesquisadora ressalta a importncia de evidenciar os papis sociais a serem

    desenvolvidos pelos alunos para produo de gneros em situaes dadas. Os resultados

    mostraram que quanto maior a diversidade de recursos lingusticos, maior ser a apropriao

    do gnero em questo.

    Tirinhas e Aline

    Ao analisar 20 tirinhas de Aline, da sria Aline Gorda, de Ado Iturrusgarai, Alex

    Caldas Simes, em seu artigo Aline, gneros e leitura: por novos paradigmas de ensino para

    o gnero tirinha no ensino bsico, busca apresentar uma estratgia de ensino de lngua a

    partir do gnero textual tirinha, levando em considerao a leitura como uma atividade

    complexa. O pesquisador evidencia a perspectiva de Charles Bazerman, principalmente ao

  • 9

    considerar o texto como fato social, os conceitos de gnero, conjuntos e sistemas de gneros,

    sistemas de atividades humanas e as modificaes no processo de escrita, causadas pela

    multimodalidade. Como resultado, tem-se uma proposta para o ensino de leitura e escrita no

    aplicada efetivamente em sala, porm potencialmente eficaz para o ensino de lnguas.

    Gneros textuais e prticas pedaggicas

    A monografia intitulada Ensino-aprendizagem de lngua portuguesa,

    gneros textuais e prtica pedaggica, de Gilvnia Oliveira do Nascimento Gonzalez, tem

    como objetivo compreender como as atividades de linguagem so desenvolvidas na sala de

    aula de lngua materna e quais os diferenciais de uma aula na perspectiva dos gneros

    textuais. Ao produzir e analisar relatrios de observao de quatro professores de lngua

    portuguesa da rede pblica de Recife, a pesquisadora evidencia a importncia de se considerar

    a percepo sociorretria defendida por Bazerman atrelada ao ensino de lnguas. Como

    resultado, foi identificado que o formalismo e o estruturalismo ainda so muito presentes nas

    aulas, o que dificulta uma caracterizao da lngua em seus aspectos scio-histricos e

    culturais.

    O jornal em sala de aula

    O ensaio A utilizao do jornal escolar como metodologia de ensino de lngua

    portuguesa e sua influncia na aprendizagem em sala de aula, de Vanessa Wendhausen

    Lima, fundamentado na concepo sociorretrica de anlise de gnero (a partir de

    Bazerman), aborda um projeto de elaborao de jornal escolar ainda a ser implantado numa

    escola pblica de Tubaro (RS). Trata-se de uma forma de analisar os aspectos lingusticos

    inerentes a essa produo (do jornal) e verificar os comportamentos de autores e de leitores

    perante o material escrito.

    Gneros textuais e formao docente

    A dissertao intitulada Gneros textuais na formao do professor de lngua

    portuguesa em instituies de ensino superior, de Hiliana Alves dos Santos, tem como

    objetivo analisar o ensino dos gneros textuais nos cursos de letras em faculdades de

    formao de professores. A partir das propostas de Bazerman, que tratam os gneros como

  • 10

    fenmenos de reconhecimento psicossocial e evidenciam a responsabilidade do professor na

    escolha dos gneros que sero produzidos em sala, a pesquisadora analisou alguns

    questionrios respondidos por seis professores que lecionam no nvel superior. Os resultados

    apontam para um distanciamento entre a teoria e a prtica realizadas em sala, o que sugere

    uma melhor qualificao dos profissionais envolvidos na pesquisa.

    Gnero, leitura e escrita

    A monografia intitulada A contribuio dos gneros no processo de aquisio da

    leitura e escrita, de Maria Euveciana de Lacerda, tem por objetivo identificar como os

    gneros textuais contribuem para o ensino da lngua materna no 6 ano da Escola de Ensino

    Fundamental Careolano Leite, em Maurit CE. Adotando a concepo de Bazerman de

    gnero com fato social, os resultados apontam para necessidade de formao contnua do

    professor tendo em vista as exigncias em se trabalhar com gneros no ensino de lnguas.

    A amostragem analisada evidencia que as teorias de Charles Bazerman realmente

    confirmam uma pedagogia que auxilia um ensino-aprendizagem de lnguas de maneira

    eficiente. Seja uma proposta com resultados potenciais ou uma anlise da realidade escolar,

    todas vm corroborar a importncia de se considerar algumas peculiaridades tanto para se

    trabalhar com o gnero quanto para utiliz-lo como intermedirio de outro objetivo curricular.

    4 CONSIDERAES FINAIS

    Ao evidenciar as contribuies de Charles Bazerman aos estudos dos gneros textuais

    no Brasil, atravs da anlise do corpus, tais peculiaridades se tornam evidentes: considerar o

    texto como fato social; estabelecer distino entre os conceitos de gnero, conjuntos e

    sistemas de gneros e sistemas de atividades humanas; compreender os gneros como

    fenmenos de reconhecimento psicossocial; evidenciar a responsabilidade do professor na

    escolha dos gneros a serem produzidos. Tal conjuntura possibilita ao professor/pesquisador

    uma viso clara das teorias subjacentes prtica de ensino de lngua na perspectiva dos

    gneros textuais.

    Por outro lado, isso no quer dizer que os postulados de Charles Bazerman

    compreendam por si s uma abordagem terica completa para a concepo dos gneros

    textuais. O fato que, devido a sua generalidade, seu pensamento, ilustrado em suas obras,

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    pode ser facilmente associado a diferentes teorias sobre os gneros e incorporado s pesquisas

    que levam em considerao a utilizao de gneros textuais, principalmente em sala de aula.

    REFERNCIAS

    BAKHTIN, M. Esttica da Criao Verbal. Editora Martins Fontes- So Paulo, 1992.

    (Trabalho original publicado em 1979.)

    BAZERMAN, Charles. Gneros textuais: tipificao e interao. So Paulo: Cortez, 2005.

    _________________. Escrita, gnero e interao social. So Paulo: Cortez, 2007.

    _________________. Gnero, agncia e escrita. So Paulo: Cortez, 2006.

    _________________. Gneros Textuais / Charles Bazerman, Carolyn Miller; orgs. Angela

    Paiva Dionsio, Carolyn Miller, Charles Bazerman, Judith Hoffanagel; traduo Benedito

    GomeBezerra, Fabiele Stockmans De Nardi, Daro Gmez Snchez, Maria Auxiliadora

    Bezerra, Joice Armani Galli. 1. ed. Recife: [s.n.], 2011.

    BRASIL. Secretaria de Educao Fundamental. Parmetros Curriculares Nacionais. MEC:

    Braslia, 1998.

    BRONCKART, Jean-Paul. 1999. Atividades de Linguagem, textos e discursos. Por um

    interacionismo scio-discursivo. So Paulo, Editora da PUC-SP, EDUC.

    GOOGLE. Sobre o Google Acadmico. Disponvel m http://scholar.google.com.br/intl/pt-

    BR/scholar/about.html. Acesso em janeiro de 2012

    MARCUSCHI, Luiz Antnio. Produo textual, anlise de gneros e compreenso. So

    Paulo: Cortez, 2008.

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