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IBSN: 0000.0000.000 Página 1 GEODIVERSIDADE E PATRIMÔNIO GEOMORFOLÓGICO: IDENTIFICAÇÃO DE POSSÍVEIS GEOMORFOSSÍTIOS NO MACIÇO DE URUBURETAMA, CEARÁ, BRASIL Islane Pinto de Carvalho (a) , Danielle Lopes de Sousa Lima (b) , Andréa César da Silveira (c) , Abner Monteiro Nunes Cordeiro (d) , Frederico de Holanda Bastos (e) (a) Graduanda em Geografia Bacharelado,Universidade Estadual do Ceará, e-mail: [email protected] (b) Mestra em Geografia, Universidade Estadual do Ceará, e-mail: [email protected] (c) Doutoranda em Geografia, Universidade Estadual do Ceará, e-mail: [email protected] (d) Prof. Dr. da Universidade Estadual do Ceará, e-mail: [email protected] (e) Prof. Dr. da Universidade Estadual do Ceará, e-mail: [email protected] Eixo: Geoarqueologia, geodiversidade e patrimônio natural Resumo Inserido no Domínio Ceará Central da Província Borborema, na porção norte do Estado do Ceará, o Maciço de Uruburetama é um dos muitos relevos residuais que pontuam o semiárido cearense. Sua constituição litológica, associada a diferentes cenários climáticos durante o Cenozoico, tem relação direta com a gênese e evolução de geoformas graníticas localizadas, principalmente, na vertente dissecada seca, setor de sotavento. Esse maciço pré- litorâneo apresenta potencial patrimônio geomorfológico, haja vista que sua história geológica e geomorfológica está associada a eventos importantes para a evolução do patrimônio natural do Estado do Ceará. O objetivo deste trabalho é identificar os possíveis geomorfossítios do Maciço de Uruburetama que possuem valor científico e estético, caracterizando as principais geoformas graníticas em escala de detalhe. A metodologia utilizada teve como base revisão de literatura, levantamento cartográfico e visita de campo que possibilitaram a identificação dos locais de interesse geomorfológico, aqui elencados como geoformas graníticas. Assim, foram identificados onze locais de interesse geomorfológico que se constituem como parte da geodiversidade da região em que estão inseridos. Palavras-chave: Patrimônio Geomorfológico; Geoformas Graníticas; Geodiversidade; Patrimônio Natural. 1. Introdução O termo Geodiversidade surgiu ocasionalmente durante a Conferência de Malvern sobre Conservação Geológica e Paisagística, realizada no Reino Unido em 1993, e diz respeito a diversidade do meio abiótico (GRAY, 2004). Deste modo, a Geodiversidade compreende os aspectos não vivos do planeta, não se limitando apenas aos testemunhos do passado geológico,

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GEODIVERSIDADE E PATRIMÔNIO GEOMORFOLÓGICO:

IDENTIFICAÇÃO DE POSSÍVEIS GEOMORFOSSÍTIOS NO MACIÇO

DE URUBURETAMA, CEARÁ, BRASIL

Islane Pinto de Carvalho (a), Danielle Lopes de Sousa Lima (b), Andréa César da

Silveira (c), Abner Monteiro Nunes Cordeiro (d), Frederico de Holanda Bastos (e)

(a)Graduanda em Geografia Bacharelado,Universidade Estadual do Ceará, e-mail: [email protected]

(b) Mestra em Geografia, Universidade Estadual do Ceará, e-mail: [email protected]

(c) Doutoranda em Geografia, Universidade Estadual do Ceará, e-mail: [email protected] (d)

Prof. Dr. da Universidade Estadual do Ceará, e-mail: [email protected] (e)

Prof. Dr. da Universidade Estadual do Ceará, e-mail: [email protected]

Eixo: Geoarqueologia, geodiversidade e patrimônio natural

Resumo

Inserido no Domínio Ceará Central da Província Borborema, na porção norte do Estado do Ceará, o Maciço de

Uruburetama é um dos muitos relevos residuais que pontuam o semiárido cearense. Sua constituição litológica,

associada a diferentes cenários climáticos durante o Cenozoico, tem relação direta com a gênese e evolução de

geoformas graníticas localizadas, principalmente, na vertente dissecada seca, setor de sotavento. Esse maciço pré-

litorâneo apresenta potencial patrimônio geomorfológico, haja vista que sua história geológica e geomorfológica

está associada a eventos importantes para a evolução do patrimônio natural do Estado do Ceará. O objetivo deste

trabalho é identificar os possíveis geomorfossítios do Maciço de Uruburetama que possuem valor científico e

estético, caracterizando as principais geoformas graníticas em escala de detalhe. A metodologia utilizada teve

como base revisão de literatura, levantamento cartográfico e visita de campo que possibilitaram a identificação

dos locais de interesse geomorfológico, aqui elencados como geoformas graníticas. Assim, foram identificados

onze locais de interesse geomorfológico que se constituem como parte da geodiversidade da região em que estão

inseridos.

Palavras-chave: Patrimônio Geomorfológico; Geoformas Graníticas; Geodiversidade; Patrimônio Natural.

1. Introdução

O termo Geodiversidade surgiu ocasionalmente durante a Conferência de Malvern sobre

Conservação Geológica e Paisagística, realizada no Reino Unido em 1993, e diz respeito a

diversidade do meio abiótico (GRAY, 2004). Deste modo, a Geodiversidade compreende os

aspectos não vivos do planeta, não se limitando apenas aos testemunhos do passado geológico,

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mas também aos processos naturais que ocorrem atualmente, originando novos testemunhos

(BRILHA, 2005).

Nesse sentido, a Geodiversidade compreende a variedade de ambientes, fenômenos e

processos ativos de caráter geológico, geradores de paisagens, rochas, minerais, fósseis, solos,

dentre outros componentes superficiais que compõem a base para a vida no planeta Terra e a

sua respectiva diversidade natural (SILVA; NASCIMENTO, 2016), sendo, portanto, a base

para o desenvolvimento da biodiversidade (GRAY, 2008; STANLEY, 2000).

Desta forma, há entre os elementos da geodiversidade, àqueles que, por suas

características excepcionais e por constituírem elementos importantes para humanidade por

razões que não seja a extração de recursos e cuja a preservação é desejável para a atual e futuras

gerações, são concebidos como locais de interesse geológico/geomorfológico, os

geomorfossítios, que, em seu conjunto, concebem o patrimônio geomorfológico (BORBA,

2011; BRILHA, 2005; PANIZZA, 2001).

Portanto, o patrimônio geomorfológico, também denominado como sítio

geomorfológico, geossítio morfológico ou geomorfossítio, é conceituado como um conjunto de

locais de interesse geomorfológico aos quais foi atribuído valor (PANIZZA, 2001; PANIZZA;

PIACENTE, 1993). O patrimônio geomorfológico pode ser constituído por todos os recursos

de formação geológica, geomorfológica, paisagística, afloramento mineralógico e

paleontológico naturais, não renováveis, de um local delimitado geograficamente, onde

ocorrem elementos da geodiversidade com valores científico, pedagógico, cultural ou turístico,

singulares (BRILHA, 2005).

Existem duas perspectivas principais a respeito do conceito de local de interesse

geomorfológico: uma mais restrita, que considera as geoformas como formas de alto valor

científico para o conhecimento da Terra, da vida e do clima; e outra mais ampla, que considera

como geoformas, as formas as quais lhe são atribuídas valor científico, ecológico, cultural,

estético e/ou econômico (GRANDGIRARD, 1997; PANIZZA, 2001; PIACENTE, 1993).

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Nesse contexto, o Maciço de Uruburetama, localizado na porção norte do Estado do

Ceará, inserido no Domínio Ceará Central (DCC) da Província Borborema, é um dos muitos

relevos residuais graníticos que pontuam o semiárido cearense e, por sua complexidade

geológica e geomorfológica, exibe grande geodiversidade que integra macro e microformas

graníticas, visíveis, principalmente, em sua vertente dissecada seca, setor de sotavento, porção

sul-oriental, localizada entres os munícipios de Irauçuba, Itapipoca e Itapajé.

Deste modo, o presente trabalho tem como objetivo analisar os principais aspectos da

geodiversidade do Maciço de Uruburetama, a fim de identificar as principais geoformas

graníticas que compõem sua paisagem e que se configuram como um possível patrimônio

geomorfológico, que traz consigo importantes registros da evolução natural do Estado do Ceará.

2. Materiais e Métodos

A metodologia empregada neste trabalho constituiu em detalhada revisão bibliográfica

acerca dos aspectos geológico, geomorfológico e das feições graníticas do Maciço de

Uruburetama conforme os trabalhos de Claudino-Sales (2016); Lima (2018); Lima e Bastos

(2018); Maia (2014); Maia et al. (2015); Souza Filho (2000) e Twidale (1982, 2005), de modo

a compreender sua evolução e os processos formadores de sua paisagem. Além de uma revisão

dos conceitos de geodiversidade e patrimônio geomorfológico, segundo os trabalhos de Brilha

(2005), Gray (2004), Nascimento (2016), Pereira (2006) e Stanley (2000).

A cartografia utilizada teve como base dados vetoriais e matriciais disponibilizados pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Instituto de Pesquisa e Estratégia

Econômica do Ceará (IPECE); dados Shuttle Radar Topographic Mission (SRTM) cena

s04_w040_1arc_v3 com resolução espacial de 30m, disponibilizada pela National Aeronautics

and Space Administration (NASA); e base geológica disponibilizada pela Companhia de

Pesquisa de Recursos Minerais – CPRM, referente ao mapeamento da folha Irauçuba (SA.24-

Y-D-V) na escala de 1:100.000 (CPRM, 1999), e o Atlas Digital de Geologia e Recursos

Minerais do Ceará, publicado em 2003 pela CPRM, na escala de 1:500.000 (CPRM, 2003).

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Sendo esses dados essenciais para caracterização da área de estudo, assim como para a

confecção dos produtos cartográficos de localização e geodiversidade.

Os levantamentos de campo, inicialmente, serviram para reconhecer a área de estudo,

aprofundar a caracterização geológica e geomorfológica, e identificar as geoformas graníticas

do Maciço de Uruburetama. As pesquisas de campo também foram fundamentais para corrigir

e confirmar as informações obtidas por meio das geotecnologias. Estas foram essenciais no

reconhecimento do controle litoestrutural do maciço e na espacialização das feições graníticas

aflorantes em escala de detalhe.

Posteriormente, adotando-se o método proposto por Pereira (2006), que consiste nas

etapas de inventário de caráter qualitativo e posterior quantificação, foi elaborado um inventário

preliminar dos potenciais geomorfossítios presentes na área de estudo e representados neste

trabalho como geoformas graníticas de beleza singular que, portanto, possuem valor estético e

científico. Por fim, foi realizada a interpretação e integralização das informações obtidas, nas

etapas antecedentes de maneira a subsidiar a elaboração do trabalho final.

3. Resultados e Discussões

3.1 Localização e Aspectos Naturais do Maciço de Uruburetama

O Maciço de Uruburetama (Figura 1), situado acima da cota de 100 m, com área de

aproximadamente 930 km², é um dos numerosos maciços graníticos, com dimensões variadas

que pontuam o semiárido cearense. Esse relevo serrano corresponde ao afloramento e

resistência litológica do núcleo intrusivo, representado pela Suíte Tamboril Santa Quitéria

(NP(PP)ts), datada do Criogeniano (~650 Ma), alinhada segundo a direção NE–SW,

representando um conjunto formado, principalmente, pela associação granito-migmatítica, com

enclaves de rocha calcissilicática, paragnaisse e anfibolito (ANGELIM et al., 2003).

A gênese das características geológicas e estruturais do Maciço de Uruburetama

remontam ao terceiro episódio de aglutinação continental, responsável pela origem do

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supercontinente Panotia, composto pela Laurásia e Gondwana, no final do Neoproterozoico

começo do Fanerozoico (~900 e 500 Ma) (ALMEIDA; BRITO NEVES; CARNEIRO, 2000).

A partir da divisão deste supercontinente, a evolução desse maciço residual granítico se deu,

principalmente, por meio da ação externa de agentes naturais que, durante o período Cenozoico,

modelaram as macrofeições e microfeições graníticas embutidas no quadro geomorfológico da

atual paisagem (PEULVAST; CLAUDINO-SALES, 2002; LIMA, 2018).

Figura 1 – Localização e delimitação do Maciço de Uruburetama, Ceará, Brasil. Fonte: Elaborado pela autora

(2019), a partir de edição dos dados SRTM.

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A gênese das características geológicas e estruturais do Maciço de Uruburetama

remontam ao terceiro episódio de aglutinação continental, responsável pela origem do

supercontinente Panotia, composto pela Laurásia e Gondwana, no final do Neoproterozoico

começo do Fanerozoico (~900 e 500 Ma) (ALMEIDA; BRITO NEVES; CARNEIRO, 2000).

A partir da divisão deste supercontinente, a evolução desse maciço residual granítico se deu,

principalmente, por meio da ação externa de agentes naturais que, durante o período Cenozoico,

modelaram as macrofeições e microfeições graníticas embutidas no quadro geomorfológico da

atual paisagem (PEULVAST; CLAUDINO-SALES, 2002; LIMA, 2018).

O quadro litoestratigráfico do Maciço de Uruburetama é composto, especialmente, por

três grandes agrupamentos litológicos: rochas metaplutônicas pré-brasilianas, presentes,

principalmente, na porção central e extremo sudoeste; rochas supracrustrais, presentes nas

porções centro-sul e noroeste; e por rochas plutônicas brasilianas de idade Neoproterozoica

(BRANDÃO, 2003). Os depósitos quaternários representados por faixas aluvionares ocorrem

ao longo dos principais cursos d’água, compreendendo depósitos inconsolidados (SOUZA;

OLIVEIRA, 2006; LIMA, 2018).

O Maciço de Uruburetama está inserido no Domínio dos Escudos e Maciços Antigos

(SOUZA, 1988), e têm seu relevo compartimentado nas seguintes unidades geomorfológicas:

platô, vertente dissecada úmida (setor de barlavento), vertente dissecada seca (setor de

sotavento) e planícies alveolares (LIMA, 2018).

No setor de barlavento, voltado para o litoral, as condições de umidade favorecem ao

desenvolvimento de solos mais profundos, vegetação mais densa e de maior porte. Na porção

sul-ocidental, setor de sotavento, as condições climáticas de escassez, exibe solos mais rasos

com afloramentos rochosos frequentes, condicionando uma vegetação mais seca e menos densa.

O platô, situado a partir da cota de 500 metros, exibe topografia levemente planificada,

apresentando superfícies de aplainamento dissecadas a partir da cota de 600 metros que se

configuram como as áreas mais elevadas e suavemente aplainadas deste relevo.

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Com disposição predominante WNW-ESE e NW-SE, o Maciço de Uruburetama,

apresenta altimetria que varia entre 500-800m, ocorrendo locais com cotas superiores a 1.000m,

justificadas por sua resistência litológica em relação à erosão diferencial que se estabeleceu e

que distinguiu o núcleo intrusivo, constituído por granitoides da depressão erosiva rebaixada

circundante composta por uma associação granito-migmatítica (LIMA, 2018).

Semelhante ao que ocorre no semiárido nordestino, a vegetação predominante no

Maciço de Uruburetama é a Caatinga arbórea e arbustiva densa ou aberta, associada aos terrenos

cristalinos da superfície erosiva rebaixada, caracterizada pela deficiência hídrica e por solos de

pouca profundidade. Já as associações de solos encontradas no maciço e seu entorno, estão

distribuídas de acordo com as variações das condições litológicas, geomorfológicas e

climáticas, bem como por meio das distinções de altitude, declividade, umidade e cobertura

vegetal que contribuem para a evolução de processos formadores de solo (LIMA, 2018).

3.2 Patrimônio Geomorfológico Potencial do Maciço de Uruburetama

O patrimônio geomorfológico é conceituado como um conjunto de locais de interesse

geomorfológico, que adquiriram valor derivado da percepção humana (PANIZZA;

PIACENTE, 1993; PANIZZA, 2001). A estética constitui um dos valores fundamentais

atribuídos aos elementos geológicos e geomorfológicos, permitindo que determinadas

ocorrências apresentem características singulares que as faz sobressair sobre as demais e, por

esta razão, é lhes atribuído um valor patrimonial (PEREIRA, 2006).

As geoformas enquanto elementos naturais importantes da paisagem, se apresentam

como fundamento do patrimônio geomorfológico, como as formas da superfície terrestre com

dimensões que variam entre quilômetros e poucos milímetros (CORATZA; GIUSTI, 2005). As

geoformas, macro e microfeições graníticas, identificadas no Maciço de Uruburetama (Figura

2), foram, possivelmente, concebidas em virtude dos diferentes cenários climáticos verificados

durante o Cenozoico (PEULVAST; BÉTARD, 2015), onde, a alternâncias de períodos úmidos

e secos reproduziram em sua paisagem padrões de evolução distintos e sucessivos.

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Figura 2 – Geoformas Graníticas que representam Potenciais Geomorfossítios expostos,

principalmente, na vertente dissecada seca do Maciço de Uruburetma. Fonte: Autores (2019).

Legenda: 1: Inselberg, localizado na superfície erosiva rebaixada. 2: Pináculo granítico com

tafone, localizado na vertente dissecada seca. 3: Bornhardt localizado no distrito de Missi,

Irauçuba, Ceará; 4: Tafone, localizado na vertente dissecada. 5: Pináculo granítico,

localizado no platô. 6: Afloramento granítico com a presença de tors, provenientes de

colapso periférico por fraturamento, localizado na vertente dissecada seca. 7: Rocha

pedestal (pedestal rock), situada na vertente dissecada seca. 8: Polygonal cracking,

localizado na vertente dissecada seca. 9: Pináculo granítico, localizado no platô do

maciço.10: Bornhardt, localizado no platô do maciço. 11: Tafone em bornhardt, localizado

na vertente dissecada seca.

Para compreender os processos de geomorfogênse das paisagens graníticas presentes no

Maciço de Uruburetama, principalmente, na vertente dissecada seca, deve-se considerar o papel

do intemperismo físico e químico de forma integrada, tanto em superfície como em

subsuperfície, além das características mineralógicas e estruturais das rochas que compõem seu

substrato, considerando os processos de erosão diferencial e as condições climáticas, as quais a

sua litologia foi submetida (LIMA, 2018; TWIDALE; VIDAL ROMANÍ, 2005).

Segundo Lima (2018), grande parte das feições graníticas expostas, na vertente

dissecada seca do Maciço de Uruburetama, tiveram sua origem em condições paleoclimáticas,

associadas a processos epigênicos (sob o manto de intemperismo), onde as reações de

dissolução são muito mais expressivas, a exemplo do karren. Desse modo, em fases mais

úmidas a alteração do substrato rochoso, em subsuperfície, se deu através do intemperismo

químico, enquanto que nas fases mais secas houve a remoção desse manto de intemperismo,

expondo as feições graníticas.

4. Considerações Finais

A partir da realização da revisão bibliográfica, levantamento cartográfico e visitas de

campo preliminares, foi possível identificar no Maciço de Uruburetama onze locais de interesse

geomorfológico que, por suas características singulares, e por reconstituírem a evolução

geológica e geomorfológica do patrimônio natural local, se apresentam como potenciais

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geomorfossítios de valor científico e estético, merecedores de ações voltadas à geoconservação

para contribuir com a proteção de suas geoformas graníticas.

Ademais, este trabalho contribuirá com a etapa de inventário que será realizada

posteriormente com auxílio de ficha interpretativa, entrevistas com pesquisadores especialistas

na área de estudo e a interpretação geral dos dados.

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