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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL HABILITAÇÃO: JORNALISMO GERENCIAMENTO DE CRISE: UM ESTUDO DE CASO DAS ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO NA CPI DA PETROBRAS Jessica Silva da Gama Rio de Janeiro Dezembro/2012

Gerenciamento de crise um estudo de caso das estratégias de comunicação na cpi da petrobras

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

HABILITAÇÃO: JORNALISMO

GERENCIAMENTO DE CRISE:

UM ESTUDO DE CASO DAS ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO

NA CPI DA PETROBRAS

Jessica Silva da Gama

Rio de Janeiro

Dezembro/2012

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GERENCIAMENTO DE CRISE:

UM ESTUDO DE CASO DAS ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO

NA CPI DA PETROBRAS

Jessica Silva da Gama

Monografia apresentada como requisito parcial

para obtenção do título de bacharel, do curso de

Comunicação Social da Universidade Estácio de

Sá, com habilitação em Jornalismo.

Orientadora: Profa. Dra. Vânia Maria Torres

Rio de Janeiro

Dezembro/2012

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha mãe, por todo apoio

recebido desde o primeiro passo que tomei na

caminhada em busca do sonho de ser jornalista.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, em primeiro lugar a minha mãe Severina Carlinda, que

com toda dedicação me acompanhou durante esta caminhada. Agradeço

a ela por todo sacrifício empenhado, por todo amor oferecido, pela força

incondicional transmitida, pela sua compreensão desmedida, e por todo

carinho recebido nos momentos mais difíceis que passei para atravessar

esta estrada com o objetivo de me tornar jornalista.

À minha orientadora, e a todos os professores e colegas de turma

pelo bom humor e experiências compartilhados durante esses quatro

anos de jornada.

Por fim, ofereço um agradecimento especial ao meu mentor

profissional, o jornalista, radialista, escritor e blogueiro, Lindinor

Laranjeira pelo incentivo e encorajamento na escolha do tema deste

trabalho. E principalmente, pela paciência e dedicação na passagem de

sua experiência jornalística e lições de vida.

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“Tratava-se, afinal de contas, de reconhecer a

irrefutável realidade: a comunicação resvalava

para outros terrenos e espaços, ampliando o

escopo e adicionando novos campos ao

território da comunicação empresarial”

Gaudêncio Torquato

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RESUMO

Este estudo analisa a importância do uso de ferramentas de relacionamento com a

mídia durante o processo de gerenciamento de uma crise de imagem institucional. Trata-se

de entender os conceitos da estrutura utilizada na comunicação organizacional aplicada no

relacionamento com a mídia durante situações de crise. Para isso, foi realizada uma análise

das estratégias adotas pela Comunicação Institucional da estatal Petrobras no

gerenciamento das informações disponibilizadas à imprensa e no seu relacionamento com

a mídia durante a crise desencadeada pelo advento da instalação da Comissão Parlamentar

de Inquérito (CPI), no ano de 2009, na qual supostos atos ilegais da companhia foram

investigados, influenciando na percepção da imagem da empresa. Desta forma, pretende-se

entender como a adoção de estratégias de comunicação específicas orquestradas pela

estrutura comunicacional da empresa no gerenciamento da crise de imagem causada pela

instalação da CPI influenciou no relacionamento da instituição com a mídia e identificá-los

em seus diferentes aspectos.

Palavras-chave: comunicação organizacional, crise de imagem,

assessoria de imprensa, relacionamento com a mídia.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Nota de esclarecimento sobre o superfaturamento de obra ...............59

Figura 2: Nota de esclarecimento sobre o recolhimento de tributos .................60

Figura 3: Nota de esclarecimento sobre o pagamento de impostos ...................61

Figura 4: Esclarecimentos sobre pagamentos de tributos ..................................64

Figura 5: Petrobras divulga nota oficial sobre o blog fatos e dados ..................65

Figura 6: Sobre a nota da ANJ ...........................................................................66

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Matérias positivas sobre a Petrobras .................................................68

LISTA DE SIGLAS

CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito

ANJ – Associação Nacional dos Jornais

ABERJE – Associação Brasileira de Comunicação Empresarial

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SUMÁRIO

Introdução ........................................................................................................................ 10

Capítulo I: Origens da comunicação na estratégia organizacional

1.1. O surgimento das atividades de assessoria de imprensa e relações públicas ............. 15

1.2. Panorama da comunicação organizacional brasileira ................................................. 20

1.3. A comunicação na construção da imagem organizacional ......................................... 25

Capítulo II: A comunicação como estratégia em tempos de crise

2.1. A comunicação nas organizações ............................................................................... 30

2.2. O planejamento e gerenciamento das informações .................................................... 35

2.3. A identificação e gestão de crises ............................................................................... 40

Capítulo III: Comunicação de crise: a CPI da Petrobras

3.1. Petrobras e a crise ....................................................................................................... 45

3.2. O Sistema de Comunicação de Crise Petrobras ......................................................... 47

3.3. Atuação da Gerência de Imprensa no relacionamento com a mídia .......................... 54

3.4. Ações estratégicas utilizadas no gerenciamento da crise ........................................... 62

Considerações Finais ........................................................................................................ 69

Referências Bibliográficas ............................................................................................... 72

Anexos ................................................................................................................................ 76

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Introdução

Desde o impresso, passando pelo rádio e televisão até a internet, a comunicação

vem imprimindo significados através de seus meios, que se tornaram o espaço de

referência de informações e expressão da sociedade. Esta característica de disseminação

massificada da informação, própria aos meios de comunicação, pode ser percebida ao

longo da história como instrumento de diversas ordens da sociedade na impressão de

ideologias e modelos sociais. Inicialmente utilizada pelas propagandas políticas, a televisão

consolidou o uso da publicidade nos meios de comunicação, e acirrou a competição das

empresas na disputa por consumidores. Coexistindo em um espaço socioeconômico

dominado pela influência institucional de interesses públicos e privados, as empresas se

tornaram cada vez mais presentes nas decisões e no cotidiano da sociedade. Em

contrapartida, representando a opinião pública, a mídia passou a agir como agente

fiscalizadora destas organizações, e ao longo dos anos, colocou em pauta as ações e a

postura das empresas em uma posição de grande relevância para o interesse público.

Neste contexto, assumindo a posição de principal fonte de informações da

sociedade, a mídia tem o dever de informar apresentando assuntos de interesse público

com o máximo de veracidade possível. Entretanto, para isso é preciso que exista uma

apuração séria para evitar ruídos e informações falsas ou confusas que possam prejudicar

ou ferir a honra dos envolvidos em determinado evento. Por vezes, em busca da audiência,

a imprensa promove a divulgação de uma informação errada ou a má interpretação do

contexto do evento, que propagado pelo jornalista, pode causar danos irreparáveis,

destruindo ou arranhando para sempre a imagem pessoal ou empresarial dos envolvidos.

Em decorrência disto, este processo levou as empresas e instituições a despertarem para a

importância da eficácia em se comunicar com a sociedade e manter o relacionamento entre

seus públicos.

Hoje, muitas empresas estão despertando para a necessidade da implantação de

uma estrutura de comunicação própria ou buscando assessorias de imprensa e de

comunicação para uma consultoria especializada no relacionamento com a mídia e seus

demais públicos de interesse. No Brasil, a parcela de empresas preocupadas com a

manutenção ou criação de uma boa imagem institucional ainda é pequena comparada aos

Estados Unidos e Europa, mas segundo pesquisa da Associação Brasileira de Comunicação

Empresarial (Aberje), os investimentos na área de comunicação corporativa no país

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aumentaram 300% nos últimos dez anos. Experiências positivas que se tornaram referência

para a estruturação de modelos de comunicação, e episódios negativos que traduziram a

falta de estrutura e sensibilidade das organizações são responsáveis por esta procura

crescente em todo o mundo. Entre estas experiências, as situações de crise de imagem são

responsáveis por expor negativamente uma organização, testando a eficácia da estrutura

comunicacional adotada, e justamente por isso, alavancam o setor da comunicação

empresarial ou organizacional no país.

A partir do cenário descrito, este trabalho surgiu do interesse em compreender

como as organizações estão adotando as ferramentas de gestão de crise no processo de

gerenciamento das informações aplicadas ao relacionamento com a mídia. Para isso, a crise

de imagem vivenciada pela maior empresa do Brasil, a Petrobras, no ano de 2009, se

apresenta como objeto de estudo deste trabalho acadêmico para exemplificar como a

experiência ocasionada pela repercussão de denúncias de ilegalidade sobre a empresa na

imprensa nacional, e a consequente instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito

(CPI), podem ser utilizados para entender como a estrutura de comunicação da empresa se

utilizou das ferramentas de gestão de crise recomendadas pelos estudos da área durante a

exposição desfavorável de sua imagem. Percebida pela Comunicação Institucional da

empresa nos primeiros meses do ano de 2009, a crise foi iniciada com a disseminação de

reportagens sobre o superfaturamento de obras, o uso de artifícios fiscais para redução do

pagamento de tributos, e o uso indevido de verbas de patrocínio, que sob a pressão da

opinião pública e política, evoluíram para a instalação de uma CPI de investigação das

supostas ilegalidades divulgadas.

Com ênfase nos processos de gestão de crise e assessoria de imprensa existentes

na empresa até este episódio, este trabalho traz a análise da eficácia destas ferramentas e

das ações estratégicas adotas pela equipe de comunicação de crise no relacionamento com

seus públicos de interesse. Entre as ações desenvolvidas durante o processo de gestão de

crise, pode-se observar o uso das atividades de assessoria de imprensa como instrumento

de aproximação e administração do relacionamento com a mídia.

Neste sentido, esta pesquisa se apresenta como justificativa da própria

reconfiguração sociopolítica e cultural proporcionada pela alteração no fluxo de emissão

das mensagens que transformaram o interesse e a participação popular em diversas

instâncias da sociedade, expandindo assim a área de atuação da Comunicação na

modernidade. Neste ambiente, a Comunicação Organizacional pode ser apresentada pela

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concepção de Torquato (2004) como uma ferramenta essencial, não apenas para o

estabelecimento do diálogo entre as empresas, instituições e seus diversos públicos, mas

como musculatura de um novo modelo de cidadania que relacionado à produção de

conteúdo crítico e a mobilização de diferentes esferas da sociedade passaram a fazer parte

do corpo social, e chamaram a atenção para a aproximação dos cidadãos como

consumidores e fiscalizadores da própria sociedade. Este movimento despertou nas

empresas a consciência do sucesso de seus empreendimentos e atividades – traduzidos por

sua reputação e imagem –, na vinculação com a participação e o papel político

desempenhado na sociedade. Com diversos apêndices, a Comunicação Organizacional

entra na pauta dos estudos de Comunicação como uma área abrangente, e atualmente vem

absorvendo muitos profissionais de comunicação, entre eles, profissionais de jornalismo

que se utilizam do conhecimento das técnicas jornalísticas para a produção e

gerenciamento especializado do conteúdo no relacionamento entre a mídia e as

organizações. Nesta dinâmica, a especialização de profissionais de comunicação nos

processos de relacionamento com a mídia através do exercício de um novo olhar da prática

jornalística se mostra cada vez mais necessária, mas ainda é um tema pouco abordado

pelas universidades na formação geral destes profissionais, e por isto, esta pesquisa se

apresenta como uma oportunidade de aprofundamento desta relação.

Assim, para demonstrar como este processo foi originado, o trabalho traz em seu

primeiro capítulo a origem das atividades de assessoria de imprensa e relações públicas,

que surgidas nos Estados Unidos, se disseminaram no início do século XX com a

experiência de sucesso do jornalista norte-americano Ivy Lee na assessoria de empresas em

dificuldade de relacionamento com a mídia. Inaugurando as atividades de assessoria de

imprensa, Lee passou a se relacionar com os jornais, divulgando as ações positivas de seus

assessorados e prestando atendimento no esclarecimento das questões levantadas pela

mídia, transformando assim a imagem negativa construída por escândalos sociais

protagonizados por seus clientes. Neste cenário, o trabalho aborda a evolução das

atividades de assessoria de imprensa e relações públicas para o patamar da comunicação

organizacional no Brasil, e também a relação de desenvolvimento dos conceitos de

identidade, imagem e reputação.

No segundo capítulo, os estudos em Comunicação Organizacional são

conceituados e apresentados sob o espectro da importância de manutenção da reputação e

imagem organizacional através da estrutura e planejamento das estratégias de comunicação

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nas organizações, que desta forma passam a influenciar na gestão corporativa e decisões

administrativas na busca pela construção de uma reputação e imagem institucional

positivas. Na contramão deste processo, as situações de visibilidade desfavorável das

organizações, conceituadas como crises de imagem, se apresentam como fatores de

instabilidade da percepção e associação positiva por parte dos públicos de interesse das

empresas, e traz a gestão de crises como fator determinante para o controle e reversão do

quadro de degeneração da imagem organizacional.

Na aproximação do objeto de estudo deste trabalho, o terceiro capítulo analisa a

estrutura e postura comunicacional da Petrobras associadas ao gerenciamento da crise nos

períodos influenciados pela CPI, por meio da observação do Sistema de Comunicação de

Crise Petrobras. Ainda, analisa a atuação da Gerência de Imprensa no exercício das

atividades de assessoria de imprensa, e o papel da Agência Petrobras na difusão dos

esclarecimentos e respostas à imprensa. Por fim, observa a iniciativa de criação do blog

“Fatos e Dados” que pode ser identificado como uma ação estratégica no gerenciamento

da crise através da gestão e disseminação do conteúdo para a mídia e sociedade, que

coordenado pela Gerência de Imprensa da empresa traz a descentralização da produção de

conteúdos com a abertura do espaço virtual como um ambiente de aproximação de

temáticas distantes, que mesmo gerando impacto direto na sociedade, eram discutidas

apenas no ambiente midiático.

Para o desenvolvimento deste trabalho foi utilizada uma metodologia amparada

pela pesquisa bibliográfica de autores relevantes para o tema, na construção de uma

fundamentação teórica sobre a história do surgimento das relações especializadas entre

organização e mídia, buscando a contextualização do papel dos profissionais de assessoria

de imprensa no relacionamento com a mídia nos processos de gestão de crise e na evolução

da comunicação organizacional brasileira. Para a análise de conteúdo do objeto de estudo

tema deste trabalho, foi realizada uma pesquisa de campo que incluiu a entrevista de dois

funcionários diretamente relacionados aos processos de gestão de crise da Petrobras.

Foram entrevistados dois participantes da equipe de comunicação de crise estruturada na

época do episódio, que em parceria com o comitê de crise da empresa, lideraram as ações

de comunicação no processo de gerenciamento da crise. Assim, através de uma pesquisa

qualitativa dos dados coletados durante a entrevista, pode-se formular uma breve análise

dos formatos assumidos pelo discurso da empresa diante dos eventos e estratégias adotados

pela equipe de comunicação. Além disso, seguindo os procedimentos de análise de

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conteúdo sugeridos por Santos e Ramires (2009), ainda na pesquisa qualitativa, foram

observadas as ações e o discurso adotado oficialmente pela Petrobras para o esclarecimento

e disseminação de sua posição no uso de meios eletrônicos disponibilizados pela empresa

para a imprensa e a sociedade de forma geral.

Desta forma, pretende-se entender como funcionou este fluxo de informações

diante da repercussão negativa da imagem institucional da empresa na cobertura da mídia

em proporção nacional. E, como a importância do estudo e planejamento em comunicação

amparados pelos profissionais de comunicação, os jornalistas que estão na intermediação

entre as fontes e os veículos de comunicação, principalmente em situações de crise podem

contribuir para se evitar ruídos na transmissão das mensagens e amenizar o fluxo de

informações negativas propagadas.

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Capítulo I: Origens da comunicação na estratégia organizacional

1.1. O surgimento das atividades de assessoria de imprensa e relações públicas

As atividades de assessoria de imprensa, como se conhece hoje, tiveram início no

fim do século XIX, como resultado da consolidação de um novo cenário socioeconômico

desencadeado pelo desenvolvimento industrial. A consolidação do capitalismo e a busca

por consumidores levaram empresas e instituições governamentais a outro patamar: ao de

uma sociedade institucionalizada que encontrou na mídia a forma mais eficaz de

manifestar seus interesses.

Conforme Chaparro (2010), esse momento foi protagonizado pelos Estados

Unidos, especificamente após a Guerra de Secessão, que marcou o fim do poder da

aristocracia escravista do Sul do país para concretizar o domínio de uma elite composta por

fazendeiros e capitalistas industriais. A partir disto, o país viveu um período

economicamente próspero para um capitalismo selvagem, que no pós-guerra expandiu

largamente os negócios aumentando a competitividade, e com isso a exploração dos

trabalhadores na busca alucinada e sem limites pela lucratividade. Como exemplo deste

momento, a pesquisadora norte-americana Hebe Wey1 (WEY apud CHAPARRO), ilustra

o quadro social da época como um cenário de vandalismo social que propiciava o

surgimento de fenômenos como o dos “barões ladrões” (robbers barons), “industriais sem

escrúpulos que se dedicavam a negociatas, visando o lucro fácil”. Para Chaparro (2010),

este período ficou marcado na história pela famosa frase – na tradução brasileira – “o

público que se dane”, atribuída ao presidente da maior ferrovia estadunidense, William

Henry Vanderbilt, no ano de 1882, em resposta a jornalistas que pediam esclarecimentos

sobre o fechamento de uma linha ferroviária.

Segundo Amaral (2010), com a pressão de organizações sindicais e dos jornais

transmitindo a opinião pública em torno de eventos como este, as empresas começaram a

despertar a percepção da necessidade de difusão de uma boa imagem institucional para o

sucesso dos negócios. E assim também multiplicaram-se os chamados agentes de imprensa

– anteriores aos atuais assessores de imprensa –, estes profissionais deixaram a ética

jornalística em segundo plano, e exageraram na busca por uma notícia favorável a seus

clientes, inventando fatos e distorcendo a realidade a favor de interesses pessoais. Junto a

1 WEY, Hebe. O processo de relações públicas. São Paulo, Summus, 1986.

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eles, a intensificação de campanhas políticas proporcionada pelo avanço da democracia

trouxe a necessidade de profissionais capacitados para coordenação e execução das

campanhas eleitorais, que passaram a ter como principal fator de sucesso a visão de uma

imagem otimista dos candidatos pela opinião pública. Assim, neste momento de adaptação

à nova realidade social, as empresas começaram a enxergar a necessidade de falar com o

público. Para Manuel Chaparro, este movimento de reconfiguração da sociedade é

consequência dos fenômenos sociais provocados pelos meios de comunicação:

Nos rumos da democracia e da globalização, o mundo mudou,

institucionalizou-se, bem como os interesses, as ações, as próprias

pessoas. Globalizaram-se os processos, as emoções e, sobretudo, os

fluxos e circuitos da informação. E, nesse mundo novo, as instituições,

incluindo-se as empresas, agem pelo que dizem, em especial pelos

acontecimentos significantes que produzem, com os quais interferem

na realidade, ao usarem a eficácia difusora do jornalismo

(CHAPARRO, 2010, p.3).

Apesar da existência de algumas experiências anteriores na área, o surgimento

oficial das atividades de assessoria de imprensa e relações públicas, em consenso com a

maioria dos autores no estudo da Comunicação Social, ocorreu em 1906, com o jornalista

Ivy Lee2. Considerado o “pai das relações públicas”, Lee inovou e mudou radicalmente o

conceito de relacionamento com a mídia desempenhado pelas empresas e figuras públicas.

Interessado no comportamento do público, o jornalista deixou as redações para abrir o

primeiro escritório de relações públicas do mundo para ajudar empresas em crise, em New

York, no ano de 1904. Mas foi em 1906, que a experiência e ousadia de Lee consolidaram

o surgimento da atividade especializada que hoje se denomina assessoria de imprensa com

as práticas de atendimento à mídia como se conhece atualmente. No primeiro trabalho de

grande destaque na área, Luiz Amaral detalha como Lee recuperou a boa reputação de uma

empresa com a adoção de uma postura diferenciada em meio a uma crise de imagem

causada por um grave acidente:

Contratado pela Pennsylvania Railroad, em 1906, para assessorá-la no

caso do grave acidente de Gap, Lee anunciou que se empenharia em

ajudar os repórteres. Ora, num caso de acidente como esse, o instinto

dos empresários, ontem e hoje, é minimizar o fato, dar desmentidos,

afastar repórteres do local e desestimular ao máximo qualquer tipo de

cobertura. No entanto, ele inovou: levou repórteres à área por conta

própria, colocou engenheiros à disposição do grupo para explicar as

causas da tragédia, facilitou entrevistas com os dirigentes da empresa,

2 Ivy Lee, jornalista americano graduado pela Princeton University, em 1898. Trabalhou como

repórter dos jornais The New York Times, New York Journal e New York World antes de se

dedicar a prática das relações públicas. In: MAFEI, 2009, p.33.

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insistiu nas medidas de atendimento às vítimas. E ganhou a parada. A

Pennsylvania Railroad sumiu das manchetes escandalosas. A

transparência no trato com a imprensa (imagem que ele criou) e a

confissão honesta das dificuldades técnicas da ferrovia em prestar um

serviço sem falhas amainaram o ímpeto sensacionalista dos jornais,

que passaram a tratar os acidentes com mais respeito e compreensão

(AMARAL, 2010, p.23).

Como descrevem Amaral (2010) e Chaparro (2010), neste momento, expandia-se

nos Estados Unidos, a prática de um denuncismo sensacionalista pelos jornais, que

acusavam e constrangiam publicamente os grandes industriais, o que explica a relação

estratégica de adoção dos serviços de assessoria pelas empresas norte-americanas na época.

Na contramão dos escândalos sociais, Ivy Lee surgiu como uma solução para evitar

denúncias e o desprestígio diante da opinião pública, assumindo uma nova atitude de

respeito, transparência e credibilidade com a imprensa. Desta forma, Lee marcou o

surgimento das relações públicas, em seu sentido mais amplo, como a atividade que

envolve os processos de relação social de pessoas e instituições. Mais tarde, após muitas

controvérsias no meio acadêmico entre as diferenças conceituais das atividades de relações

públicas e assessoria de imprensa, as atividades que envolvem a prática de assessoria, com

a qual Ivy Lee pretendia auxiliar os empresários na divulgação de conteúdo informativo

noticiável na imprensa sobre as ações de interesse público promovidas por seus clientes,

terminaram por ser inseridas neste contexto como uma face do processo de relacionamento

com o público, exercida oficialmente por jornalistas.

Para cumprir o papel de informar a sociedade sob uma nova perspectiva, o

jornalista Ivy Lee, escreveu uma declaração de princípios para explicitar o trabalho que

pretendia fazer. Em forma de carta aos editores de jornais, ele marcou os preceitos éticos

fundamentais para o exercício da atividade, estabelecendo os critérios de transparência e

confiabilidade, que podem ser usados até os dias de hoje, conforme apresenta Chaparro:

Este não é um serviço de imprensa secreto. Todo nosso trabalho é

feito às claras. Pretendemos fazer a divulgação de notícias. Isto não é

agenciamento de anúncios. Se acharem que o nosso assunto ficaria

melhor na seção comercial, não o usem. Nosso assunto é exato.

Maiores detalhes, sobre qualquer questão, serão dados prontamente. E

qualquer diretor de jornal interessado será auxiliado, com o maior

prazer, na verificação direta de qualquer declaração de fato. Em

resumo, nosso plano é divulgar, prontamente, para o bem das

empresas e das instituições públicas, com absoluta franqueza, à

imprensa e ao público dos Estados Unidos, informações relativas a

assuntos de valor e de interesse para o público (LEE, apud

CHAPARRO, 2010, p.6).

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Entretanto, para Chaparro (2010), foi em 1914 ao assumir como cliente o

empresário John D. Rockefeller que Ivy Lee fez escola e se tornou efetivamente o “pai das

relações públicas” na história da Comunicação. Hostilizado pela opinião pública,

Rockefeller era intitulado como “patrão sanguinário” por ter sua imagem associada a um

comportamento agressivo e implacável sensibilidade diante das questões trabalhistas. Após

o assassinato de grevistas em sua empresa, a Colorado Fuel and Iron Co., ele procurou os

serviços do jornalista para que o auxiliasse no tratamento de sua imagem com a imprensa.

Odiado pela sociedade, Rockefeller atingiu um nível insustentável em que para garantir sua

integridade física só poderia sair acompanhado de seus guarda-costas. Em cena, Lee

expandiu as atividades de assessoria de imprensa na divulgação de informações para

prestar consultoria ao empresário. Assim, o jornalista reverteu este cenário caótico com a

aproximação de Rockefeller do público, dispensando seus seguranças particulares, e

colocando em prática os objetivos de sua declaração de princípios com a criação de fatos

noticiáveis a favor de seu assessorado e o pronto atendimento no esclarecimento dos

eventos com foco na transparência das informações, como demonstra Manuel Chaparro:

quando o Congresso norte-americano resolveu investigar a greve em

que o dono da Colorado Fuel and Iron Co. “mandara atirar sobre os

grevistas” o odiado John D. Rockefeller compareceu livremente,

cooperando com a investigação. A imprensa, naturalmente, deu o

devido destaque à inesperada atitude, o que – nas palavras de

Teobaldo de Andrade – “melhorou a situação” (CHAPARRO, 2010,

p.7).

Segundo Moreira3, outras iniciativas pioneiras também foram responsáveis pela

transformação da imagem do odiado Rockefeller. Ivy Lee ainda orientou o empresário a

fazer investimentos sociais para construir uma imagem orientada pela honestidade e

filantropia através do patrocínio de projetos:

As ações promovidas por Ivy Lee, tendo por objetivo mudar a imagem

do seu ilustre cliente, provocaram resultados espantosos. De patrão

sanguinário, Rockefeller passou a ser visto como benfeitor da

humanidade, grande mecenas, financiando artistas, cientistas e

organizações de caráter humanitário. Por fim, seu nome passou a

designar uma das mais importantes fundações de incentivo à ciência e

às artes: a Fundação Rockefeller (MOREIRA, 2009).

Apesar do sucesso conquistado por Lee, nem sempre a atividade de divulgação de

conteúdo noticiável como sugestão de pauta à imprensa foi bem aceita pelos veículos.

3 MOREIRA, Henrique. A comunicação nas organizações: uma análise histórica. Disponível em:

http://publicacoes.uniceub.br/index.php/arqcom/article/view/938. Acesso em 08 de setembro de

2012.

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Muitos jornalistas ofereceram resistência à novidade, considerando o trabalho dos

assessores de relações públicas/imprensa apenas como uma manobra para promover o

negócio de seus assessorados de forma gratuita, evitando assim o pagamento de anúncios

publicitários. Aos poucos a visão do assessor de imprensa começou a ser aceita nas

redações como fonte de informação dentro do processo de apuração na busca por

informações completas e verdadeiras, formatadas nos conceitos do rigor do texto

jornalístico e da credibilidade da notícia. “Se existem divergências entre o papel do

assessor e do jornalista de redação, existem também objetivos em comum. O principal

deles é que nós, os assessores, trabalhamos para intensificar o fluxo de informações entre

os meios de comunicação e a sociedade” (MAFEI, 2009, p.28).

Chaparro (2010) demonstra como a crescente necessidade das instituições em

responder às demandas da sociedade e melhorar o relacionamento com os diversos

públicos de interesse promoveu a rápida expansão da experiência do modelo norte-

americano pelo mundo. Originado nos Estados Unidos, o ritmo de crescimento acelerado

na criação de assessorias chegou ao vizinho canadense em 1940. Pouco tempo depois, em

1946, a Europa iniciou o processo de instalação da atividade por iniciativa das petrolíferas

Esso Standard e Shell. No ano de 1950, sete países da Europa já haviam consolidado as

práticas de relações públicas pela sociedade:

À margem das querelas teóricas, a importância e a influência das

relações públicas cresceram vertiginosamente nas décadas de 50 e 60,

nos Estados Unidos. Monique Augras dimensiona em números o ritmo

desse crescimento: em 1936, naquele país, seis em cada grupo de 300

empresas possuíam serviço de relações públicas; em 1961, a relação

era de 250 em 300. E, segundo ela, no livro que escreveu em 1970,

“podemos supor que hoje em dia a proporção deve beirar os 100%”

(CHAPARRO, 2010, p.11).

No Brasil esta expansão ocorreu depois da Segunda Guerra Mundial, se

intensificando com a posse do presidente Juscelino Kubitscheck, que abriu o país para

grandes investimentos internacionais. As multinacionais trouxeram a experiência

americana no exercício das atividades de relações públicas e assessoria de imprensa,

contaminando assim as empresas nacionais, que aprenderam e desenvolveram a

comunicação como estratégia empresarial.

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1.2. Panorama da comunicação organizacional brasileira

Iniciada com as atividades de assessoria de imprensa e relações públicas surgidas

no século XX, a estrutura conceituada pelos estudos contemporâneos em comunicação

como comunicação empresarial, institucional ou corporativa, e ainda como defende

Torquato (2004), comunicação organizacional, pode ser observada por diversas facetas em

sua evolução histórica. Segundo Torquato (2004), conceituada hoje como uma estrutura ou

sistema de comunicação plural e integrado dentro das organizações, a comunicação

organizacional, como preferem alguns autores por abranger entidades setoriais, associações

e terceiro setor, reúne diversas atividades e campos da comunicação para alcançar um

objetivo em comum: planejar e promover ações que estimulem positivamente a imagem da

organização perante a sociedade, seja direta ou indiretamente.

Em direção ao sucesso em um ambiente cada vez mais competitivo, as

organizações despertaram para o uso de estruturas e ferramentas comunicacionais capazes

de inserir instituições e empresas na agenda da sociedade. Este movimento de

reposicionamento da comunicação nas organizações mudou radicalmente as diretrizes de

relacionamento com a mídia e com os diversos públicos de interesse, que segundo

Torquato (2004), passou a se orientar pela transparência e visibilidade. No rumo de uma

comunicação polivalente, a tradicional atividade de assessoria de imprensa, que conforme

conceituação de Duarte (2010) pode ser definida como a gestão do relacionamento e dos

fluxos de informação entre fontes de informação e imprensa para atender às demandas por

informações relacionadas a uma organização ou fonte em particular, ganhou novas

características e responsabilidades. Esta atividade, praticada em significativa maioria por

profissionais graduados em jornalismo, evoluiu e expandiu o leque de atuação da área

desde seu surgimento nos Estados Unidos, criando novas oportunidades de mercado para

profissionais e empresas. Seguindo um conceito estratégico de comunicação para a difusão

e consolidação da imagem institucional das organizações, as assessorias tornaram-se

responsáveis pela gestão da imagem organizacional, minimizando danos e criando cenários

através da orientação de decisões e do gerenciamento das informações de forma

transparente e eficaz entre empresa e sociedade.

Assessores de imprensa que evitam o fundamentalismo corporativista

adquirem novos conhecimentos e habilidades e, ao mesmo tempo,

passam a compreender e valorizar outras áreas, facilitando a

compreensão e a operacionalização da comunicação como processo

global, sistêmico e integrado. Administrar este processo amplo exige

Page 21: Gerenciamento de crise   um estudo de caso das estratégias de comunicação na cpi da petrobras

21

definição de uma estratégia global, programas de informação e

relacionamento adaptados aos interesses e especificidades de cada

público. Também por isso, o desempenho de papel específico de

intermediário entre organizações e imprensa tornou-se mais exigente e

apenas parte das possibilidades (DUARTE, 2010, p.69).

Mas a diversidade de atuação dos profissionais de comunicação nem sempre foi

tão clara e objetiva assim. Lentamente, as organizações se estruturaram para chegar a um

nível sofisticado de gestão da comunicação e imagem como se apresenta hoje. Segundo

Duarte (2010), no Brasil o crescimento da atividade foi exponencial, que a exemplo do

modelo americano, atraiu grandes organizações e instituições públicas preocupadas em

melhorar a imagem e se comunicar com seus stakeholders4 ou públicos de interesse. Neste

sentido, as primeiras experiências brasileiras foram marcadas pelo setor público. Com o

intuito de manter a popularidade, muitas autoridades e instituições públicas fizeram uso

das atividades de assessoria de imprensa para se promover na mídia, como mostra Jorge

Duarte ao ilustrar o cenário político da época. “Num período em que os jornais eram

engajados politicamente, Campos Sales, nosso quarto presidente (1898-1902) usou os

serviços do jornalista Tobias Monteiro, do Jornal do Commercio (RJ), para divulgar sua

viagem à Europa” (DUARTE, 2010, p.52).

Entretanto, somente a divulgação de notícias não era suficiente para construir uma

boa imagem para todos os públicos de interesse, e é nesse momento que surge a percepção

da importância de se relacionar com a sociedade em uma escala mais ampla. As

instituições passam a criar setores de comunicação, com profissionais qualificados para

planejar, gerir e operar o relacionamento entre organização e sociedade, incluindo

diferentes níveis de atuação. Como exemplo deste movimento se destaca a iniciativa do

Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio em uma das primeiras manifestações de

estruturação do que hoje, se aproximaria de uma estrutura de comunicação organizacional:

Já a implantação do atendimento à imprensa e divulgação jornalística

na área pública ocorre em 18 de novembro de 1909, quando o

presidente Nilo Peçanha, ao organizar a estrutura do Ministério da

Agricultura, Indústria e Comércio, cria a Seção de Publicações,

Informação e Propaganda. O setor tinha como finalidade distribuir

informações por meio de notas ou notícias fornecidas à imprensa e aos

particulares que as solicitassem e editar o Boletim do Ministério. (...)

No regulamento, a responsabilidade de que o Boletim constituísse

fonte “a mais completa possível, de consulta e divulgação dos

4 Stakeholders, a partir da definição de Kotler (2000) pode ser classificado na linguagem

empresarial como todos os grupos de indivíduos que afetam ou podem ser afetados pelas ações,

decisões e objetivos de uma organização.

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22

conhecimentos úteis aos lavradores, industriais e comerciantes”

(DUARTE, 2010, p.52).

Esta iniciativa demonstra a preocupação do ministério em se comunicar

diretamente com a imprensa e seus públicos de interesse. Além disso, por meio da

integração entre as repartições do Ministério para divulgar com rapidez e precisão

informações à imprensa, e a construção de uma publicação da casa, é que a instituição

ajudou a formatar o sentido de comunicação organizacional difundido atualmente. No setor

privado, outras empresas começaram a se movimentar no mesmo período, como a

estrangeira The Light and Power Co. Ltda., que germinou a semente da comunicação como

estratégia organizacional no país:

em janeiro de 1914, a empresa canadense The Light and Power Co.

Ltda., concessionária da iluminação e do transporte coletivo na capital

paulista, criou o departamento com o nome de Relações Públicas (que

alguns consideram o primeiro do mundo) e que tinha, entre outras

funções, manter relacionamento com os órgãos de imprensa e os

poderes públicos (DUARTE, 2010, p.52).

Mas, foi a partir da década de 50 que as ações de comunicação nas empresas se

multiplicaram. Desenvolvendo-se no ritmo da industrialização brasileira, o processo

sistêmico de comunicação nas organizações teve partida no setor privado com a entrada de

multinacionais no país.

No setor privado, a divulgação institucional teria se estabelecido

durante os anos 50, com empresas estrangeiras, notadamente do ramo

do petróleo (Esso) e de eletricidade (São Paulo Light), e que traziam a

experiência de seus países de origem. A Esso, no Rio de Janeiro, por

volta de 1950, hostilizada no período da campanha “O Petróleo é

Nosso”, criou um departamento de Relações Públicas. A assessoria de

imprensa era uma área desse Departamento e tinha a nomenclatura

“Press, Analysis & Conferences” – os outros setores eram

Publicações, Eventos e Relações Institucionais (DUARTE, 2010,

p.56).

Segundo Torquato (2004), pouco tempo depois, a partir da década de 60, as

experiências desenvolvidas pelas multinacionais orientadas pela concepção do conceito de

comunicação utilizado nas empresas, se intensificaram com a industrialização da região

sudeste, disseminando a prática por diversos segmentos e provocando a mudança da

cultura organizacional.

Algumas poucas empresas, já naquela época, deram-se conta da

existência de uma relação forte entre elas e a sociedade. As

organizações preocupavam-se em dizer aos empregados que deveriam

orgulhar-se do lugar em que trabalhavam. E em demonstrar

claramente aos consumidores que fabricavam produtos bons e

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23

prestavam serviços de qualidade. Por isso, consideravam-se honestas e

merecedoras de confiança (TORQUATO, 2004, p.2).

Apesar das transformações ocasionadas pela implantação da comunicação nas

empresas e da expansão do mercado brasileiro, a percepção das ações de comunicação

como estratégia organizacional integrada ainda era uma questão secundária. Ao mesmo

tempo, o desenvolvimento do país e dos meios de comunicação como a televisão –

propulsora do mercado publicitário – fundamentaram a criação de estruturas capazes de

levar os objetivos da organização a todas as instâncias da sociedade. “O interesse da

imprensa por pautas relacionadas à economia, cultura e negócios aumentou em paralelo ao

desenvolvimento do país, fruto do surgimento de grandes empresas estatais e privadas e do

crescimento de uma classe média ávida por informações” (DUARTE, 2010, p.58). Assim,

o reposicionamento das empresas na sociedade foi fundamental para a profissionalização e

o desenvolvimento da atividade do jornalismo empresarial, que se observaria nesta mesma

década com a criação da Associação Brasileira de Editores de Revistas e Jornais de

Empresa (Aberje), fundada em São Paulo, no ano de 1967, como explica Nassar5:

No começo, quando se falava em Comunicação Organizacional

brasileira, tudo se resumia à publicação e veiculação de boletins,

jornais e revistas para os empregados. Esse era o panorama

comunicacional vigente na segunda parte dos anos 1960, quando o

campo da Comunicação Organizacional começava o seu processo de

organização teórica e prática e também uma série de ações afirmativas

com o objetivo de institucionalizar a atividade e o seu pensamento

dentro do universo das empresas e da universidade, além de dignificar

os jornalistas e relações públicas, em sua maioria sob o comando de

áreas de pessoal (NASSAR, 2007, p.33).

A criação da Aberje, que mais tarde, em 1989 se transformaria na Associação

Brasileira de Comunicação Empresarial, marcou a história da comunicação organizacional

emergindo de um período autoritário, que segundo Torquato (2004) era dominado pelo

medo que reinava nos ambientes internos e o controle das estruturas de Recursos Humanos

sobre os profissionais contratados. Segundo Bueno (2003), a década de 70 marcou a

consolidação da mudança cultural nas empresas com relação à comunicação através da

chegada de profissionais, oriundos dos primeiros cursos de Comunicação do Brasil, nas

empresas privadas de médio e grande porte, que em sua maioria começavam a implantar

áreas de Comunicação. Para Torquato (2004), os primeiros modelos de comunicação

5 NASSAR, Paulo. Aberje 40 anos: uma história da Comunicação Organizacional brasileira.

Disponível em: http://revistaorganicom.org.br/sistema/index.php/organicom/article/viewFile/

108/127. Acesso em 19 de setembro de 2012.

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24

corporativa surgiram nessa época. Eram estratégias focadas nos valores do associativismo

e da solidariedade nas organizações, e que de forma primária, foram responsáveis pela

germinação da estruturação de um sistema de comunicação integrado como se conhece

atualmente.

A função da comunicação como alavanca de mobilização aparecia

como eixo da estratégia de arregimentação dos trabalhadores em torno

da meta de dar o melhor de si à organização. Do ponto de vista

externo, a propaganda continuava a trabalhar a imagem institucional.

Notava-se ainda, forte disputa entre as diversas áreas – recursos

humanos, relações públicas, marketing, vendas e jornalismo – para

comandar a comunicação (TORQUATO, 2004, p.4).

Nos anos 80, com o fim do regime militar e a redemocratização do país, a

comunicação organizacional teve seu impulso definitivo para se consolidar como estratégia

dentro da estrutura empresarial. Segundo Duarte (2010), nesse instante a sociedade se

encaminhava para um novo momento com o ressurgimento da democracia, acompanhada

da liberdade de imprensa, do retorno dos movimentos sindicais e dos novos padrões de

competitividade mercadológica, orientados por uma maior exigência aos direitos sociais e

dos consumidores. Torquato (2004) caracteriza este período como a era da estratégia, que

fundamentada no conceito de posicionamento despertou a necessidade das organizações

em se tornarem as primeiras do mercado.

No período de saída do regime militar para a democracia, era

necessário comunicar muito além do produto. Era fundamental

administrar a comunicação tendo como referência a produção de boa

imagem no âmbito da sociedade, do mercado e dos inúmeros públicos

empresariais. As empresas começavam a se preocupar em alinhar as

suas imagens a uma sociedade que via no diálogo e na transparência

atributos construtivos de uma boa imagem organizacional. A

Comunicação Organizacional brasileira entrava na era da imagem. E,

com isso, voltava os seus olhos para o ambiente no qual a organização

estava inserida e para uma operação mais articulada de suas áreas, de

seus pensamentos e de seus profissionais (NASSAR, 2007, p.37).

Pouco depois, na década de 90, este processo de comunicação se consolidaria

como estratégia, conforme defende Nassar (2007) ao definir a comunicação nas empresas

como instrumento formador de imagem e de posicionamento na sociedade.

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25

1.3. A comunicação na construção da imagem organizacional

A consolidação do processo comunicacional nas empresas, a partir da década de

90, embalou novas perspectivas para o aprimoramento dos conceitos vigentes e dos

profissionais de comunicação, que se especializaram para atender as necessidades de

posicionamento estratégico, construção de imagem, identidade e reputação das

organizações. A partir disto, as empresas passaram a se orientar nestes conceitos para

estruturar planos estratégicos e mecanismos de gerenciamento de conteúdo para tentar

garantir a sobrevivência de seu negócio em meio à competitividade de um mercado de

amplas possibilidades.

Segundo definição de Lasbeck6, a imagem de uma empresa é formada

mentalmente pelos consumidores e stakeholders, a partir das informações e da experiência

pessoal de relacionamento com a organização. Para o autor, a identidade de uma

organização pode ser observada na relação de construção entre as intenções do discurso do

emissor e as impressões desses estímulos pelo receptor, traduzidos por graus incertos que

precisam ser ocupados proativamente pelo discurso estratégico das organizações. Já a

reputação pode ser considerada como o resultado qualitativo de um processo, a longo

prazo, de conhecimento e exposição da imagem e identidade para finalmente consolidar a

opinião pública sobre a organização. Nesta relação, a construção de uma boa imagem e

reputação organizacional passou a exigir cada vez mais a percepção da comunicação como

estratégia nas empresas, e se tornou fator decisório para o sucesso ou fracasso dos

negócios. Assim, aos poucos as decisões da alta administração pública, corporativa e

setorial passaram a ser pautadas em planos de comunicação complexos elaborados por

diferentes profissionais de comunicação. “Tratava-se, afinal de contas, de reconhecer a

irrefutável realidade: a comunicação resvalava para outros terrenos e espaços, ampliando o

escopo e adicionando novos campos ao território da comunicação empresarial”

(TORQUATO, 2004, p.1).

Já em 1961, na busca pela construção de uma imagem organizacional positiva

baseada na credibilidade, a iniciativa protagonizada pela Volkswagen, utilizou uma

estratégia diferenciada para incentivar a expansão do setor automobilístico no Brasil,

6 LASBECK, Luis. Imagem e reputação na gestão da identidade organizacional. Disponível em:

http://www.revistaorganicom.org.br/sistema/index.php/organicom/article/view/112. Acesso em 19

de setembro de 2012.

Page 26: Gerenciamento de crise   um estudo de caso das estratégias de comunicação na cpi da petrobras

26

promover o interesse da imprensa com relação à prestação de serviços e notícias sobre

transporte, e construir um relacionamento positivo com diversos públicos:

O setor surgiu como “Seção de Imprensa” e logo foi incluído na

Divisão de Relações Públicas, com as seções de Relações Públicas e

de Propaganda. O jornalista Reginaldo Finotti conta que os primeiros

produtos eram chamados “calhaus”. Consistiam em um conjunto de

dez notas com oito ou dez linhas, redigidas para ocupar pequenos

espaços que ficassem vazios quando da diagramação das páginas. As

notas tratavam de temas como abertura de novas estradas, número de

carteiras de motoristas emitidas, orientações educativas sobre o

trânsito e outras curiosidades, desde que entendidas como notícias. O

objetivo não era, necessariamente, obter a citação do nome dos

produtos ou da empresa, até porque isso era difícil. A estratégia era

tronar o tema transportes de interesse da imprensa, valendo-se de uma

divulgação baseada em prestação de serviços, que criasse

credibilidade para que a Volks se tornasse fonte dos veículos de

comunicação (DUARTE, 2010, p.57).

Esta experiência trouxe credibilidade à empresa e ajudou a formar a reputação da

organização, que passando a ser vista como uma instituição socialmente ativa se tornou

referência e fonte de informações para os consumidores e imprensa. Outra iniciativa de

destaque que demonstra a fase de reestruturação da cultura organizacional de comunicação,

iniciada a partir da década de 70, tem como exemplo histórico dessa transição o caso da

Rhodia brasileira, apresentado por Bueno (2003), que em 1985 marcou a história da

comunicação organizacional no país ao inovar com a implantação de uma política de

comunicação de “portas abertas”, orientada por uma postura de transparência e

compromisso social.

Tratava-se de iniciativa pioneira no mercado, porque, antes dela,

nenhuma outra empresa ou entidade havia sistematizado e tornado

público o seu projeto de comunicação. A Política de Comunicação

Social (PCS) da Rhodia foi o primeiro best-seller da área, com

seguidas reedições, para atender aos pedidos dos profissionais e das

empresas, que tinham como referência, esta experiência no campo da

comunicação (BUENO, 2003, p.7).

Esta iniciativa transformou o cenário dos investimentos em comunicação nas

empresas, que passaram a enxergá-la como uma estratégia de negócio responsável pela

construção da reputação, posicionamento e credibilidade perante a sociedade. Para

Torquato (2004), a consolidação deste processo ocorreu não só nas estruturas, na

linguagem, na forma dos veículos, nas estratégias, e na definição de programas, mas

também na profissionalização dos quadros transformando a comunicação organizacional

em um processo multidisciplinar que criou novas esferas de atuação prática e teórica para

Page 27: Gerenciamento de crise   um estudo de caso das estratégias de comunicação na cpi da petrobras

27

os profissionais de comunicação. A ampliação do mercado de comunicação criou

oportunidades e desafios para as organizações que cada vez mais cobradas pela sociedade,

precisaram aumentar os esforços para a construção e manutenção de uma imagem

organizacional positiva, por meio da estruturação de políticas, sistemas e estratégias de

relacionamento, o que aumentou a responsabilidade dos profissionais de comunicação em

posição estratégica.

Apesar do trabalho contínuo de construção e manutenção da imagem

organizacional, qualquer instituição está sujeita a sofrer um revés em sua estabilidade e ver

a reputação conquistada se desintegrar rapidamente se não estiver preparada para situações

de crise, sejam elas previsíveis ou não. Segundo Prestes7, a partir da década de 90, a

consciência da prevenção e do controle de informações sobre ocorrências de repercussão

negativa nas organizações foram disseminados para evitar situações de risco à imagem

organizacional e a sua própria existência. Este processo que pode ser conceituado como

gestão de crise estruturou áreas, planos e estratégias como resposta às situações de

emergência através do gerenciamento da crise, da comunicação durante a crise, da

comunicação de risco, do plano de crise, do manual de comunicação de crise e do estudo

de vulnerabilidades.

Neste caminho, a preocupação com a manutenção da imagem organizacional

colocou em pauta dentro da estrutura de comunicação das empresas, o planejamento e o

relacionamento com a mídia na prevenção de crises. Bueno (2003) mostra o outro lado do

relacionamento com os stakeholders, e explica como o trabalho de relacionamento com a

mídia e o gerenciamento das informações é fundamental para evitar o desgaste da imagem

organizacional em situações desfavoráveis.

Todo empresário, executivo ou profissional de comunicação tem

consciência de que um bom relacionamento com a mídia é essencial

para o sucesso de sua organização. A imprensa potencializa a

divulgação de fatos relevantes associados a uma empresa ou entidade,

o que repercute positivamente entre os públicos de interesse e perante

a opinião pública. Eles sabem também que, se as coisas não andam

bem, a imprensa pode amplificar situações de crise, expondo

resultados desfavoráveis, comunicando deslizes administrativos ou

práticas comerciais ilegítimas. Enfim, diferentemente das publicações

por elas próprias editadas, as organizações não têm controle sobre os

7 PRESTES, Eduardo. Comunicação de risco, elemento-chave na gestão de crises corporativas e

um desafio para o século XXI: a teoria na prática, situação atual e tendências. Disponível em:

http://www.revistaorganicom.org.br/sistema/index.php/organicom/article/view/93/225. Acesso em

28 de setembro de 2012.

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28

meios de comunicação, que agem quase de maneira independente, à

mercê de seus interesses e compromissos (BUENO, 2003, p.63).

Buscando evitar ou minimizar situações de crise, Bueno (2003) concebe o

relacionamento com a imprensa como uma prática fundamental que deve ser construída

através de contatos regulares e sistemáticos, baseados no profissionalismo e transparência

das informações, e estabelece a obrigatoriedade da comunicação de fatos relevantes por

mais que sejam comprometedores para a organização.

É bom lembrar sempre que os jornalistas têm oportunidade e interesse,

quando for o caso, de acessar outras fontes – concorrentes, sindicatos,

ONGs, etc, –, que estarão dispostos, sobretudo nessas horas, a dar sua

versão e revelar, desde sua ótica, aquilo que a empresa ou entidade fez

o possível para ocultar. A notícia estará de qualquer forma na mídia.

Não há dúvida de que o impacto será menos desfavorável se a

empresa tiver mantido canais limpos com a imprensa ao longo de sua

vida, e se agir como se espera, ética e transparentemente, numa

situação em que esteja em desvantagem (BUENO, 2003, p.77).

Como exemplo deste relacionamento transparente com a imprensa, Bueno (2003)

apresenta o caso do acidente ocorrido em São Paulo, em 1996, com um avião da

companhia aérea TAM que caiu sobre um bairro paulista, para demonstrar a importância

de comunicar a verdade em qualquer situação, e como isto pode mudar os rumos de uma

crise de grande dimensão.

A companhia, por sua cultura de atendimento, tinha um crédito com

os jornalistas e, sobretudo, agiu com transparência e lisura durante o

momento de crise. (...) A mídia não a culpou e soube esperar os

resultados da investigação para descobrir qual havia sido,

efetivamente, o motivo da queda. Evidentemente, algo permaneceu,

pois as famílias das vítimas tinham queixas importantes contra o

processo de indenização, tratando-se de uma questão que, ao que

parece, não foi até hoje bem resolvida. No entanto, as ações da

empresa, a adesão dos seus clientes fiéis e os seus resultados não

foram abalados (BUENO, 2003, p.77).

Este episódio trágico de escala nacional, e internacional, não é um caso isolado e

se repetiu com esta e outras companhias aéreas, que a exemplo, conseguiram reestabelecer

sua imagem e reputação através de um intenso trabalho de relacionamento e transparência

com seus stakeholders. Ainda no âmbito dos grandes acidentes, os desastres ecológicos

também são responsáveis por arranhar a imagem e trazer muitos problemas para as

empresas que trabalham com operações de risco, principalmente se estas não estiverem

preparadas para lidar com a situação de crise. Como exemplo disto, o episódio ocorrido

com a Petrobras em 2000, no vazamento de um duto da Refinaria Duque de Caxias

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29

(Reduc)8, que despejou cerca de 1,3 milhão de litros de óleo na Baía de Guanabara, ilustra

o momento decisivo em que a empresa precisa estar preparada para atender as demandas

da mídia com credibilidade e transparência.

Vale lembrar o posicionamento da Petrobras diante do vazamento de

petróleo na Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro, que rendeu

imagens fortes para as emissoras de TV sobre o arrasador efeito que o

acidente causou ao meio ambiente. Numa entrevista, um dos

executivos da companhia estava diante do cenário desolador das águas

cobertas de óleo negro. Questionado sobre as medidas tomadas pela

empresa, interrompeu a pergunta do repórter para corrigi-lo em

relação à quantidade de petróleo derramado. O problema é que o dado

exato era minimamente inferior ao citado pelo jornalista. O porta-voz

deveria fazer tal correção, mas de maneira ponderada, argumentando

que o mais preocupante não era a quantidade exata de óleo, mas os

prejuízos que o acidente provocou na região (MAFEI, 2009, p.113).

Esta experiência gerou um custo operacional altíssimo para reverter os estragos

causados, além de implicações jurídicas e a necessidade emergencial de recuperar a

imagem da organização diante de seus stakeholders, sejam acionistas, consumidores ou a

mídia. A postura adotada pela empresa com relação à mídia na época não foi exemplar,

transformando assim o trabalho de recuperação de sua imagem mais complexo do que

deveria ser. Para Mafei (2009), esta situação demonstra a importância da dinâmica de

transparência e proatividade no estabelecimento de um discurso eficaz que irá garantir a

sobrevivência e estabilidade das organizações em situações adversas, amenizar os danos

inevitáveis causados à sua imagem e reafirmar os valores inerentes à sua reputação para a

sociedade.

8 ISTOÉ online – O preço do descuido. Disponível em:

http://www.istoe.com.br/reportagens/32105_O+PRECO+DO+DESCUIDO+. Acesso em 20 de

setembro de 2012.

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30

Capítulo II: A comunicação como estratégia em tempos de crise

2.1. A comunicação nas organizações

A comunicação sempre esteve intrínseca no desenvolvimento da humanidade e no

decorrer da história pode ser caracterizada e percebida em diferentes sentidos. Marcada

pela evolução da sociedade, a comunicação assumiu diversas formas físicas e subjetivas

que ocasionaram na pluralidade de significados sobre sua conceituação. Para Martino

(2010), desde a invenção da escrita pelas civilizações mais antigas, passando pela criação

da imprensa, rádio e televisão até as novas mídias como se conhece hoje, o conceito de

comunicação foi marcado pela polissemia de significados, e por isso, diante desta

diversidade de significações pode-se entender a comunicação a partir da associação das

relações entre os seres humanos. Segundo Martino (2010), a origem do termo comunicação

vem do latim communicatio e pode ser distinguida em sua etimologia em três elementos:

uma raiz munis, que significa “estar encarregado de”, que acrescido do

prefixo co, o qual expressa simultaneidade, reunião, temos a ideia de

uma “atividade realizada conjuntamente”, completada pela terminação

tio, que por sua vez reforça a ideia de atividade (MARTINO, 2010,

p.12 e 13).

Para o autor, o sentido original de tornar uma ação em comum inaugurou o

significado no vocabulário religioso onde o termo apareceu pela primeira vez com a ideia

de ruptura do isolamento típico da vida eclesiástica. “Não se trata pois de relações sociais

que naturalmente os homens desenvolvem, mas de uma certa prática, cuja novidade é dada

pelo pano de fundo do isolamento” (MARTINO, 2010, p.13). Entretanto, segundo Martino,

para definir o que é comunicação não se pode restringir sua significação à condição de ter

algo ou realizar uma ação em comum, é preciso ir além da simples decomposição do

termo.

Pode-se dizer que o termo comunicação não se aplica nem às

propriedades ou ao modo de ser das coisas, nem exprime uma ação

que reúne os membros de uma comunidade. Ele não designa nem o

ser, nem a ação sobre a matéria, tampouco a práxis social, mas um

tipo de relação intencional exercida sobre outrem” (MARTINO, 2010,

p.14).

Conforme Martino (2010), desta forma pode-se entender a comunicação em sua

definição conceitual como uma ação em comum, desde que se considere este algo em

comum como referência a um mesmo objeto de consciência compartilhado.

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31

A “ação” realizada não é sobre a matéria, mas sobre outrem,

justamente aquela cuja intenção é realizar o ato de duas (ou mais)

consciências com objetos comuns. Portanto, em sua acepção mais

fundamental, o termo “comunicação” refere-se ao processo de

compartilhar um mesmo objeto de consciência, ele exprime a relação

entre consciências” (MARTINO, 2010, p.14).

Neste sentido, Martino (2010) apresenta a comunicação como uma relação de

transmissão de mensagens própria ao domínio humano, e que pode encontrar no suporte

material – oralidade, escrita e imagem – diversas formas de se manifestar. “Comunicar é

simular a consciência de outrem, tornar comum (participar) um mesmo objeto mental

(sensação, pensamento, desejo, afeto)” (MARTINO, 2010, p.23). Para Hohlfeldt (2010),

este processo característico exclusivamente da habilidade humana é responsável por

transformar a comunicação em um fenômeno social, já que pode ser percebida na relação

entre pessoas ou grupos e está diretamente ligada ao desenvolvimento social através das

relações e avanços dos processos comunicacionais.

a comunicação, ao permitir o intercâmbio de mensagens, concretiza

uma série de funções, dentre as quais: informar, constituir um

consenso de opinião – ou, ao menos, uma sólida maioria – persuadir

ou convencer, prevenir acontecimentos, aconselhar quanto a atitudes e

ações, constituir identidades, e até mesmo divertir (HOHLFELDT,

2010, p.63).

É esta relação característica das funções da comunicação que nos permite entender

a atuação de seus mecanismos – os processos comunicacionais – como instrumentos da

produção de sentido. Ao longo da história esses processos se multiplicaram e assumiram

diferentes formatos para atender às emergentes necessidades das relações humanas, e se

aprimoraram em todos os campos comunicacionais para formar o cenário socioeconômico

atual. Nas empresas e instituições não foi diferente, a necessidade de informar, persuadir,

construir significados e identidades evoluiu para um sofisticado processo de impressão de

significados simbólicos na sociedade como fruto da competitividade política e econômica.

Assim, cada vez mais necessários, os processos comunicacionais passaram a fazer parte da

estrutura e estratégia das empresas.

Para compreender a importância da comunicação nas empresas no espectro que

envolve a imagem organizacional e suas variantes, pode-se entender a comunicação nas

empresas ou organizações a partir da concepção da comunicação como uma estratégia

sistemática e multidisciplinar de atividades.

A comunicação empresarial se utiliza de muitas linguagens que não

têm necessariamente como objetivo imediato o processo de vendas.

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32

Mas que não deixam, por isso, de ser ferramentas fundamentais no

marketing da empresa. Dentre essas linguagens estão a das relações

públicas, a de imprensa e a de atendimento direto ao consumidor. As

ações dessas áreas de comunicação empresarial, se não são

diretamente mensuráveis num balanço contábil, podem significar, no

mínimo, a simpatia da sociedade, a fidelidade dos consumidores, um

bom relacionamento com trabalhadores e sindicatos (NASSAR;

FIGUEIREDO apud TOMASI; MEDEIROS, 2010, p.56).

Esta concepção de definição da comunicação empresarial ou organizacional – no

caso de associações, sindicatos e terceiro setor – como ferramenta estratégica de

relacionamento com a sociedade traz o planejamento e a estrutura comunicacional das

organizações como exigência e requisito para a eficácia do processo de construção e

transmissão de conteúdo. Para Tomasi e Medeiros (2010) o sentido de comunicação

evoluiu da transmissão de mensagens para a impressão de significados, o que para uma

organização representa a articulação das informações em um fluxo hierárquico na recepção

e elaboração de conteúdos dentro de um sistema de redes internas e externas. Desta forma,

a integração das partes como um todo agiria como orientação central para a coerência e

qualidade das informações, e sem isto, seria impossível construir e gerenciar a imagem

institucional em seus diversos ambientes.

Nesse complexo sistema de redes e fluxos, quantidade de informação

não significa qualidade. Sem as condições básicas de entendimento,

persuasão, resposta, a comunicação pode ser seriamente afetada, isto

é, se houver desequilíbrio entre os mecanismos de produção e

recepção, a comunicação poderá enfrentar problemas, como:

sobrecarga de informações, ausência de entendimento da mensagem,

falta de convicção, ausência de respostas ou respostas negativas e

comprometimento da imagem e da identidade da empresa (TOMASI;

MEDEIROS, 2010, p.34).

Para Torquato (2004), a imagem e identidade das organizações são elementos

fundamentais para a construção do maior patrimônio de qualquer organização, que

considera como o seu nome ou reputação. Por isso, para construir uma associação positiva

com relação ao nome da empresa é preciso manter um bom relacionamento e saber se

comunicar com os stakeholders. “Ao se comunicar com os consumidores, uma empresa

está levando a mensagem de seu nome. E quando adquire um produto, na verdade, o

consumidor está adquirindo o conceito globalizante de identidade e imagem”

(TORQUATO, 2004, p.97). Segundo Torquato (2004), responsável pelo sucesso desta

relação, a comunicação organizacional atua diretamente no gerenciamento da identidade e

imagem organizacional na transmissão de conteúdos simbólicos para a sociedade.

Page 33: Gerenciamento de crise   um estudo de caso das estratégias de comunicação na cpi da petrobras

33

A identidade se refere ao plano dos conteúdos lógicos, concretos,

apreendidos pelo nível do consciente. A construção de uma identidade

há de levar em consideração valores e critérios, tais como o foco, a

essência; a capacidade de permanência; a singularidade, que preserva

a especificidade e a unicidade, que garante a coerência. Ou seja, a

identidade é o conceito-mor que define os limites, os contornos e as

possibilidades do posicionamento da marca. A imagem se refere ao

plano dos simbolismos, das instituições e conotações, apreendidas

pelo nível do inconsciente. A identidade se projeta na imagem, graças

ao estabelecimento de uma marca para “carimbar” o produto e ao

desenvolvimento de técnicas de comunicação e marketing voltadas

para posicionar o produto na mente do consumidor (TORQUATO,

2004, p.104).

Mesmo com a estruturação de um sistema comunicacional nas organizações, a

fragilidade do processo de articulação das mensagens se torna evidente no momento em

que a ocorrência de falha no fluxo das mensagens pode comprometer seriamente a imagem

da organização. A integração dos envolvidos no fluxo comunicacional é responsável pelo

sucesso do processo de impressão de significados, e consequentemente, da construção

positiva da imagem institucional, podendo ser caracterizada pela atuação sistemática e

planejada de diversos profissionais que consolidam as estratégias e as atividades de

comunicação nas organizações.

A comunicação empresarial não pode ser considerada apenas uma

definição de dicionário, um conjunto de métodos e técnicas de

comunicação dentro da empresa dirigida ao público interno e ao

público externo. Ela é o somatório de todas as atividades de

comunicação da empresa. Deve ser elaborada de forma

multidisciplinar, com base em métodos e técnicas de relações

públicas, jornalismo, lobby, propaganda, promoções, pesquisa e

marketing e dirigida à sociedade, formadores de opinião,

consumidores e empregados, e deve ter como referência o

planejamento estratégico da empresa (TOMASI; MEDEIROS, 2010,

p.56).

Segundo Tomasi e Medeiros (2010), a construção da imagem institucional depende

diretamente da integração e da competência da organização na execução destas atividades

de forma eficaz e estratégica para a construção de uma imagem sólida. Para a manutenção

desta imagem, a comunicação organizacional precisa se orientar prioritariamente no

planejamento, qualificação e na prevenção de situações desfavoráveis desencadeadas por

possíveis ruídos em seu sistema que possam comprometer esta imagem.

A comunicação empresarial moderna e excelente tem entre seus

principais atributos: o monitoramento dos ambientes nos quais a

empresa se insere, para detectar as ameaças e as oportunidades

simbólicas; a seleção de informações e as oportunidades simbólicas; a

seleção de informações importantes para tomada de decisão da gestão;

Page 34: Gerenciamento de crise   um estudo de caso das estratégias de comunicação na cpi da petrobras

34

o mapeamento dos públicos estratégicos; a velocidade nas emissões e

respostas; a formatação impecável e adequada de mensagens; a

seleção de mídias adequadas que cheguem aos públicos estratégicos; a

habilitação, em comunicação, de todas as pessoas da organização; as

pesquisas; o planejamento e a operação de orçamentos (NASSAR

apud TOMASI; MEDEIROS, 2010, p.57).

Para Torquato (2004), estas atividades consolidam os objetivos gerais da

comunicação nas organizações diante de seus públicos, pois são fundamentais para o

alinhamento da instituição a suas crenças e valores, além de serem indispensáveis para o

desenvolvimento de formas de comunicação adequadas ao ambiente social e às

necessidades específicas da empresa. Na direção dessas atividades e ações estratégicas para

a organização, estão as áreas de jornalismo empresarial, relações públicas, relações

corporativas, marketing e eventos, publicidade, editoração e identidade visual, e a frente do

relacionamento e conteúdo veiculado pela mídia, a assessoria de imprensa. O trabalho

desenvolvido por essas áreas influi diretamente na manutenção da imagem organizacional,

assim as organizações precisam estar preparadas para criar e gerir planos de contingência

em situações de crise que possam arranhar a imagem da organização.

Conforme Faria (2010), exercendo um papel de representação da opinião pública, a

mídia pode ser considerada como a grande propulsora da construção ou destruição da

imagem organizacional diante da sociedade nas situações de crise originadas por falhas ou

descuidos da organização, onde essa força pode se mostrar ainda maior na disseminação do

conteúdo negativo sobre a instituição atingida.

Ao construir um sistema simbólico por intermédio da linguagem, da

imagem e de sons, a imprensa se transforma numa organização

estruturante da sociedade. Ao erigir um sistema simbólico, a imprensa

constrói ao mesmo tempo um tipo exclusivo de capital, a saber, o

capital simbólico (FARIA, 2010, p.137).

Do outro lado, na posição estratégica de relacionamento com a mídia, a assessoria

de imprensa, aliada às outras áreas do sistema comunicacional, operacional e

administrativo das organizações, desempenha a função de gerenciamento sistemático da

imagem institucional diante da sociedade no acompanhamento do conteúdo veiculado, e

para isso realiza seu planejamento, ações e gestão de forma integrada para atender as

demandas do comportamento social marcado pela competitividade no atendimento à

imprensa. “A contribuição que a assessoria pode oferecer é justamente dimensionar os

fatos das organizações de acordo com os movimentos e interesses detectados no espaço

público” (FARIA, 2010, p.139).

Page 35: Gerenciamento de crise   um estudo de caso das estratégias de comunicação na cpi da petrobras

35

2.2. O planejamento e gerenciamento das informações

Para alcançar um nível satisfatório de relacionamento com a imprensa, evitar

ruídos e a defasagem das informações, a assessoria de imprensa e a comunicação de toda

organização precisam desenvolver um plano estratégico para orientar as ações e tomadas

de decisão, principalmente em ambientes desfavoráveis ou desconhecidos. “O conceito-

chave do sucesso em qualquer atividade, inclusive na Assessoria de Imprensa, vincula-se

diretamente a um planejamento estratégico, que se cria, se atualiza e se recria para atingir

objetivos definidos” (RIBEIRO; LORENZETTI, 2010, p.216). Na construção deste

planejamento, Ribeiro e Lorenzetti (2010) definem como conceitos para orientação deste

plano a tradução da identidade da organização, a criatividade, flexibilidade, adaptação à

novas situações, previsão e instalação de mecanismos que possam garantir a

implementação das ações, processos de tomada de decisão orientados na missão e valores

da organização, o estabelecimento de objetivos que gerem estratégias, e o

acompanhamento e avaliação do plano e das ações.

Apresentado em cinco fases, Ribeiro e Lorenzetti (2010), trazem como primeiro

passo de um planejamento estratégico a pesquisa e diagnóstico da organização, onde o

máximo de informações sobre a instituição, incluindo seus objetivos, cultura,

posicionamento de mercado e histórico na imprensa devem ser levantados. É esta fase

inicial de observação do cenário atual da organização que possibilitará a definição de

objetivos sólidos, que serão fundamentados em informações precisas para que se possa

gerar estratégias e ações eficazes. “Quanto mais detalhada e abrangente for a pesquisa,

mais confiáveis os parâmetros que teremos para planejar. Se falharmos nesse começo,

poderemos comprometer todo o nosso planejamento, por vício de origem” (RIBEIRO;

LORENZETTI, 2010, p.224).

A segunda fase, classificada por Ribeiro e Lorenzetti (2010) como análise e

interpretação corresponde ao desdobramento da pesquisa e diagnóstico para o

estabelecimento dos pontos fortes, fraquezas, oportunidades e ameaças que envolvem o

ambiente organizacional estudado. “Concluída, com êxito, a fase de Pesquisa e

Diagnóstico, o profissional passa a ter em mãos um material precioso, que revela como é

vista a empresa naquele momento e como ela pretende ser percebida” (RIBEIRO;

LORENZETTI, 2010, p.225). A partir disso é possível identificar e definir os desafios

futuros, pontos de melhoria e prever situações de ameaça à imagem organizacional a fim

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36

de posicionar estrategicamente a organização para uma associação positiva e solucionar os

problemas emergentes.

Com isso é possível definir: (...) a partir das ameaças, como atuar para

evitar que se concretizem e, no caso de se concretizarem, as

contraofensivas que poderão ser implementadas para enfrentá-las,

inclusive com a adoção de um plano de gerenciamento de crise

(RIBEIRO; LORENZETTI, 2010, p.225).

Partindo dessas informações e da interpretação do cenário organizacional é

possível iniciar o processo de definição de um planejamento para as ações envolvidas no

relacionamento com a mídia. Segundo Ribeiro e Lorenzetti (2010), a terceira fase de

planejamento de relações com a imprensa precisa conter em sua base a fundamentação de

mensagens-chave, a listagem de veículos estratégicos e a preparação de porta-vozes.

Mensagens-chave – definir quais são as mensagens que vão contribuir

para que a empresa tenha o posicionamento buscado em seu

planejamento estratégico e que devem ser sempre disseminadas.

Veículos estratégicos – listar os veículos que têm coerência com o

posicionamento e objetivos buscados e com os quais a organização

deve e quer manter e estreitar relacionamento. Preparação de porta-

vozes – preparar os porta-vozes, ou seja, as pessoas que vão falar em

nome da organização, tendo em vista que de nada adianta iniciar um

trabalho de relacionamento com a imprensa se os porta-vozes não

estiverem preparados para conversar ou ser entrevistados por

jornalistas (RIBEIRO; LORENZETTI, 2010, p.225).

Após o estabelecimento desses critérios orientadores, Ribeiro e Lorenzetti (2010)

definem para as últimas etapas a aplicação prática das ações e atividades acompanhadas de

sua mensuração. Na penúltima fase, chega-se ao momento de execução das ações rotineiras

e específicas que serão implementadas no trabalho diário da assessoria imprensa através do

monitoramento da imprensa, acompanhamento e apresentação de fontes, resposta à

solicitação de entrevistas, divulgação de eventos e atividades especiais por meio de

mensagens direcionadas à imprensa. Por fim, a mensuração de resultados irá avaliar se

essas ações empreendidas estão gerando os resultados esperados em alinhamento aos

objetivos da organização, e no caso de não estarem, através desse relatório de medição

periódica, a equipe poderá traçar novos caminhos e ações para transformar a imagem da

organização na mídia.

Na operacionalização deste planejamento, encontram-se elementos importantes

que orientam a construção de um relacionamento eficaz com a mídia. Operando no dia-a-

dia dos profissionais de comunicação responsáveis pela organização alguns mecanismos

são importantes para garantir bons resultados. Apontando os principais mecanismos,

Page 37: Gerenciamento de crise   um estudo de caso das estratégias de comunicação na cpi da petrobras

37

Ribeiro e Lorenzetti (2010) trazem o mailing de imprensa como uma das primeiras

providências para a atuação da assessoria de imprensa na facilitação e agilização dos

contatos com a mídia. “O importante é que seja atualizado permanentemente e que possa

ser manejado de acordo com a segmentação desejada” (RIBEIRO; LORENZETTI, 2010,

p.243). Outro importante ponto de partida para o contato com a imprensa, é a seleção do

que é notícia, pois nem todo assunto é relevante para a imprensa e consequentemente não

renderá publicações. A insistência na distribuição de press releases sobre um assunto

irrelevante pode gerar desgastes no relacionamento com os jornalistas.

Se for uma notícia comum, importante para a organização, mas sem

grande relevância em termos de opinião pública, poderá se pensar

numa estratégia pontual de divulgação. E se for algo relevante, adotar

uma estratégia compatível com a importância do que vai ser

divulgado. (RIBEIRO; LORENZETTI, 2010, p.243).

Para Ribeiro e Lorenzetti (2010), aliada do processo de relacionamento com a

imprensa, a internet tanto pode ser usada para facilitar a circulação e confirmação das

informações organizacionais, quanto de comunicados à imprensa. Segundo os autores, é

preciso ter cuidado com a quantidade e o formato de envio das mensagens para não

exagerar e se tornar uma fonte indesejável. Neste sentido se apresentam também a

proatividade, prevenção e reação da equipe como matizes do relacionamento com a

imprensa. Segundo Ribeiro e Lorenzetti (2010), a proatividade da equipe de imprensa no

gerenciamento das informações e no relacionamento com os jornalistas deve ser posta em

cheque constantemente através da iniciativa de mobilização da organização, interlocução

direta entre fonte e imprensa, e sugestão de novas abordagens que gerem oportunidades de

pauta para a mídia. O aspecto preventivo se caracteriza pela busca e identificação de

ameaças para a correção de possíveis pontos vulneráveis de exposição desfavorável da

imagem organizacional que possam gerar impactos negativos.

São incontáveis as situações dentro de uma organização que, mal

conduzidas, se transformarão em combustível para notícias

sensacionalistas na imprensa. Uma greve, um acidente de trabalho, um

desequilíbrio ambiental, uma ação da Polícia Federal, um grande

desfalque, um caso de corrupção. Numa atuação preventiva, a

Assessoria de Imprensa analisa todas as variáveis dos problemas, para

recomendar atitudes que possam ser tomadas e que minimizem o

impacto na mídia e na imagem da organização (RIBEIRO;

LORENZETTI, 2010, p.244).

Page 38: Gerenciamento de crise   um estudo de caso das estratégias de comunicação na cpi da petrobras

38

Já o aspecto reativo é caracterizado por Ribeiro e Lorenzetti (2010) como a

qualidade de atendimento à imprensa em situações facultativas, que embora não sejam

diretamente atribuídas a empresa, envolvem a solicitação da participação e posicionamento

organizacional diante da sociedade.

Podem ser demandas favoráveis, como saber a opinião da empresa

sobre determinada medida governamental, repercutir alguma

tendência de mercado, dar depoimento sobre alguma efeméride, etc.

(...) É quando serão postas à prova a agilidade e a capacidade de

interlocução no ambiente jornalístico, cujos pressupostos básicos são a

transparência, a ética, a objetividade e o culto à verdade dos fatos

(RIBEIRO; LORENZETTI, 2010, p.244).

Fundamentais no trabalho diário de relacionamento com a imprensa, todos esses

elementos são orientadores do gerenciamento das informações transmitidas à mídia em

situações comuns ou especiais para garantir a propagação positiva da imagem

organizacional. Em situações desfavoráveis à imagem da organização, geralmente

caracterizadas por crises de imagem, a comunicação da organização ou a empresa

prestadora de serviços responsável pelo gerenciamento das informações se tornam

ferramentas estratégicas e definidoras na superação do evento, e geralmente se utilizam de

um plano de crise para orientar decisões. Nesses casos, o trabalho desenvolvido a partir do

planejamento estratégico em assessoria de imprensa passa a incluir o gerenciamento das

informações de forma mais cautelosa e a revisão do plano para melhor adaptação ao

ambiente social. “A comunicação na crise deve ser ágil, direcionada a diminuir as

incertezas, atenuar as expectativas, criar padrões de entendimento e cordialidade, a fim de

que a empresa possa passar pela crise sem grandes impactos” (TORQUATO, 2004, p.60).

Nesta dinâmica, a preparação e sinergia da organização no processo de tomada de

decisões e confirmação das informações podem ser fatores decisivos para atenuar ou piorar

a imagem organizacional na mídia. Para Mafei (2009) é importante enfrentar a situação de

forma ágil e transparente, prestando esclarecimentos oficiais de interesse público, e

administrando o problema da forma mais correta possível. “A gestão bem-feita da crise é o

principal remédio para reverter uma imagem” (MAFEI, 2009, p.112). Facilitador desta

gestão, o plano de crise pode ajudar as organizações no processo de tomada de decisões e

orientar a estrutura organizacional a fim de reduzir os ruídos e falhas de comunicação.

A assessoria de imprensa deve buscar, pelo menos, alcançar o

equilíbrio entre as versões da mídia para os fatos. E isso só será

possível se a equipe de comunicação participar efetivamente do

círculo de tomada de decisões sobre como agir diante da crise. Em vez

de ser acionada apenas para repassar aos jornalistas o que a

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39

organização ou a personalidade resolveu fazer, o assessor deve

interferir na escolha do que, efetivamente, deve ser feitos nessas horas

(MAFEI, 2009, p. 112).

A falta de uma estrutura eficaz no processo de tomada de decisões pode levar a

organização a cometer erros graves no gerenciamento das informações e piorar a situação

da imagem organizacional, sobre isto Molleda (2010) destaca a necessidade da organização

em estabelecer uma estrutura de tomada de decisões entre a comunicação e o corpo

diretivo das instituições.

Apesar de cada organização ter sua hierarquia e cadeia de comandos,

empregados que precisam ter uma interação rápida e eficiente com

públicos externos importantes devem estabelecer um acesso direto às

fontes de que necessitam para explicar a posição pública da

organização (MOLLEDA, 2010, p.160).

Segundo Rinaldi e Barreiros9 para obter a fluência e integração necessárias aos

processos de gerenciamento da informação e tomada de decisão nas organizações, a

comunicação de riscos é um instrumento importante que pode ajudar na orientação deste

processo por ser uma ferramenta de otimização da capacidade de diálogo das organizações

com seus públicos de interesse no gerenciamento dos riscos à organização.

Ao se incorporar tais princípios no processo de tomada de decisão,

contribui-se para que diferentes partes interessadas desenvolvam

correta percepção a respeito da dimensão dos riscos existentes para,

dessa forma, buscarem consenso a fim de compatibilizar interesses

aparentemente divergentes (RINALDI; BARREIROS, 2007, p.139).

A partir de técnicas e avaliações do ambiente organizacional e das ações tomadas

em situações específicas, a organização pode identificar o nível de percepção que seus

públicos estão sofrendo, e que muitas vezes pode ser uma percepção equivocada pela falha

no modo de se comunicar com a sociedade prejudicado a imagem organizacional.

Os erros em interpretar dados, as disputas entre os diferentes veículos

de comunicação, a cobertura prematura de informações científicas e,

em algumas situações, o sensacionalismo demasiado da mídia

culminam em má interpretação por parte do público, que incorpora

uma percepção equivocada a respeito da possibilidade da ocorrência

de um determinado evento (COVELLO apud RINALDI;

BARREIROS, 2007, p.142).

9 RINALDI, Alexandra; BARREIROS, Dorival. A importância da comunicação de riscos para as

organizações. Disponível em:

http://www.revistaorganicom.org.br/sistema/index.php/organicom/article/view/96. Acesso em 25

de outubro de 2012.

Page 40: Gerenciamento de crise   um estudo de caso das estratégias de comunicação na cpi da petrobras

40

2.3. A identificação e gestão de crises

Para identificar e gerenciar uma crise, primeiro é preciso esclarecer os conceitos

que envolvem esse tema emergente na discussão interna das organizações, pois nem toda

divulgação negativa caracteriza necessariamente uma situação de crise de imagem. Parte

do próprio cenário de competitividade e legitimidade política e social, as crises constituem

as fraquezas expostas das organizações, que atingidas pela inconformidade aos direitos e

valores da sociedade podem abalar qualquer tipo de organização.

Nenhuma empresa, por mais sólida, admirada e moderna que seja, está

imune à crise. (...) Não importa a intensidade. Existem crises

devastadoras, que só não acabam com a empresa, à custa de altos

investimentos em publicidade, ações de relações públicas e

compensação de prejuízos. Outras, de menor intensidade, podem

surgir de notícias ou fatos insignificantes em sua dimensão, mas

complicados em seus desdobramentos (FORNI, 2010, p.388).

Geralmente ligadas a eventos como catástrofes e acidentes provocados por erro

humano, falhas administrativas e denúncias de ilegalidade, as crises são comumente

enxergadas como um evento ou ocorrência imprevisível com possibilidades de repercussão

negativa descontrolada, que podem ameaçar a segurança e estabilidade do ambiente

subjetivo de pessoas ou organizações, causando danos e comprometendo sua reputação e

existência. Mas para Shinyashiki e Fischer10

esta ideia de imprevisibilidade não tem lugar

na gestão de crise das organizações, que por trabalharem com situações de risco inerente

ao negócio, devem prevê-las em seu planejamento.

Essa necessidade de prevenção demonstra que a crise não é um evento

tão súbito quanto pode parecer à primeira vista, mas, sim, um processo

progressivo de degeneração. Portanto, crises podem ser definidas

como processos de degeneração e ameaças à organização que se

manifestam em eventos súbitos, os quais podem colocar em risco a

sobrevivência da empresa ao provocar perdas humanas, financeiras ou

de reputação (SHINYASHIKI; FISCHER, 2007, p.153).

Segundo Forni (2010), uma crise não é derivada somente de eventos de grande

porte que alcançam publicidade natural, e por isso é importante se preocupar com fatos

simples e aparentemente insignificantes que podem assumir dimensões bem maiores do

que o imaginado. Em sua análise da pesquisa anual realizada pelo Institute for Crisis

Management, dos Estados Unidos, João Forni demonstra que nos últimos dez anos, das

10 SHINYASHIKI, Roberto; FISCHER, Rosa Maria; SHINYASHIKI, Gilberto. A importância de

um sistema integrado de ações na gestão de crises. Disponível em:

http://www.revistaorganicom.org.br/sistema/index.php/organicom/article/view/97/229. Acesso em

29 de setembro de 2012.

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41

crises que passam pela mídia em todo o mundo, cerca de 80% ocorrem por erros de gestão

ou envolvimento de empregados e somente 20% teriam origem em outras causas. Este

quadro reafirma a possibilidade de que a maioria das crises de imagem pode ser evitada e

superada se seguir princípios básicos de gestão de crise na condução iminente de situações

críticas de ameaça à reputação.

Para Forni (2010) não existe um padrão de crises, entretanto, cerca de 65% das

situações apresentam sinais prévios de identificação da possibilidade desta ocorrência. “É

mais fácil a crise ter origem em cochilo da empresa ou da personalidade pública do que

essa crise ter sido provocada por ação de terceiros” (FORNI, 2010, p.391). Dentro deste

ambiente de previsibilidade dos acontecimentos é possível evitar situações desfavoráveis à

organização e manter o controle fazendo uso da transparência e do bom relacionamento

com a mídia. No caso de constatação de um fato desfavorável que possa tomar proporções

maiores, é recomendável que a organização comunique-o oficialmente à imprensa e se

mostre aberta a esclarecimentos sobre o assunto.

Um repórter, por exemplo, passa longo tempo pesquisando matéria

polêmica, que pode ser fruto de denúncia ou até de investigação

iniciada pela própria empresa. A organização acompanha essa

apuração, presta todas as informações, mesmo sabendo dos

desdobramentos negativos na imprensa. Ainda que não saiba a versão

final da publicação, o interessado tem como prever as consequências

com certa dose de acerto. E pode até planejar as ações posteriores

(FORNI, 2010, p.391).

Conforme Forni (2010), essa postura consolida a premissa de que nos casos de

crise, muitas vezes, a versão da organização é mais importante do que os fatos, e com a

instalação da crise a organização precisa estar integrada para atender às demandas da

imprensa. Nesse momento deve surgir a atuação do comitê de crise para realizar o

gerenciamento de situações críticas, definindo as ações e estratégias para solucionar o

problema. A estrutura de um comitê de crise não possui um padrão fixo, mas segundo

Forni (2010) precisa ser constituído de um grupo pequeno de pessoas com poder de

decisão ligadas a alta administração, que em geral incluem o presidente da organização,

executivos ou representantes de áreas estratégicas, jurídico, áreas de comunicação e

consultores. A formação desta equipe fundamental na gestão da crise deve se orientar pelo

conhecimento da organização, autonomia no processo de tomada de decisões e capacitação

para o relacionamento e resposta à imprensa. Além disso, o comitê é responsável por

identificar e corrigir os erros e falhas que desencadearam a crise. “Um comitê bem afinado

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42

e uma diretoria bem atenta certamente irão detectar as vulnerabilidades da organização,

tendo presente que não existe a hipótese de total invulnerabilidade ou imunidade a

qualquer tipo de crise” (FORNI, 2010, p.401).

Outra responsabilidade do comitê de crise é a escolha do porta-voz para levar o

discurso que a organização deseja disseminar. Forni (2010) concebe a escolha de um

representante como o elemento-chave de resolução da crise, que deve ser baseada na

eleição de uma única pessoa que transmita credibilidade, conheça profundamente a

organização, possua treinamento para lidar com a mídia, ouvir e expressar-se, e domine os

aspectos da crise. O porta-voz, escolhido por sua qualificação e conformidade com o

problema, tem a missão de posicionar, esclarecer e transmitir o discurso da organização

para a sociedade. E é justamente este posicionamento da organização que vai definir o

rumo das proporções alcançadas pelo evento e agravar ou diminuir os riscos à imagem.

Não basta uma empresa ser extremamente competente para solucionar

os transtornos de um acidente, por exemplo, no momento em que

acontece. A imprensa acompanha os desdobramentos, a forma de

relacionamento com os públicos atingidos, o respeito e atenção à

sociedade. Tudo isso impacta na imagem das corporações, com o

rescaldo muitas vezes indigesto do evento negativo (FORNI, 2010,

p.392).

Para Forni (2010), a necessidade da adoção de uma postura transparente em

situações de crise torna-se mais evidente com as novas tecnologias, que tornam as

situações de crise ainda mais delicadas, quando a imprensa fica sabendo dos

acontecimentos antes dos próprios interessados, por meio de cidadãos comuns, que no

papel de produtores de conteúdo, comunicam diretamente seu testemunho e opinião.

Com a difusão de blogs, sites de relacionamento, celulares e câmaras

de vídeo, divulgar notícia não é mais exclusividade dos meios de

comunicação. A empresa não centraliza mais as informações e a mídia

chega atrasada. Qualquer pessoa pode ser produtor de conteúdo

(FORNI, 2010, p.393).

Bueno (2003) destaca a proatividade das organizações na prevenção de situações

como esta. Para isto é preciso que a empresa se antecipe e avalie os possíveis riscos para

tentar evitar e se preparar para as crises iminentes, mas no caso de uma crise surgir, a

organização deve pensar e agir antes para se antecipar à imprensa e dar a sua versão sobre

os fatos.

O jornalista saberá recompensar esta boa vontade, esta disposição de

interagir, ouvindo com atenção e pesando com equilíbrio as

informações que receber. Se, como já foi dito, conhece a empresa,

assim como seus profissionais, e a respeita por sua transparência e

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43

postura ética, a crise estará atenuada, pelo menos no que diz respeito à

repercussão na mídia. Não vai sair nada que não esteja próximo da

verdade no dia seguinte. E é isto que uma empresa socialmente

responsável, cidadã, deve pretender (e trabalhar para isso) do seu

relacionamento com a mídia, quando a crise chega (BUENO, 2003,

p.78).

É esta proatividade que irá fundamentar o processo de gestão de crise para que as

coisas não saiam do controle e se dizime a possibilidade de consequências imprevisíveis

conforme Shinyashiki e Fischer.

pode-se definir a gestão de crise como um conjunto de ações

realizadas pelos gestores com o objetivo de evitar, previnir e

solucionar as situações de risco de degeneração enfrentadas pelas

empresas, de modo a recuperar suas condições normais de

funcionamento, rentabilidade e competitividade (SHINYASHIKI;

FISCHER, 2007, p.155).

Segundo Forni (2010), assumir o controle é o primeiro passo para reverter a

situação quando a crise emerge. “Se a empresa não conseguiu intervir antes da divulgação

de ocorrências negativas, a saída é apurar tudo, rapidamente, para divulgar uma versão

plausível e convincente à imprensa” (FORNI, 2010, p.394). É preciso também que a

organização, e especificamente a área de assessoria de imprensa, assuma o gerenciamento

das informações na mídia, assessorando, prestando informações e esclarecimentos precisos

de forma ágil aos jornalistas, além de facilitar o acesso às fontes da organização para evitar

que o conteúdo veiculado contenha informações erradas ou mal interpretadas que possam

manchar ainda mais a imagem da empresa.

Nessa hora, acionar quem deve ser acionado. Buscar esclarecimentos

rápidos, pelo menos para amenizar a pressa do jornalista, ainda que,

depois seja combinada uma estratégia melhor com as áreas

envolvidas. Não se pode presumir que o repórter saiba ou deva saber

tudo sobre a empresa. O ideal é conseguir uma fonte credenciada, com

capacidade de explicar o assunto com clareza (FORNI, 2010, p.395).

Durante a crise, ainda é preciso observar as ações e evitar atitudes que possam

comprometer negativamente a organização como deixar os jornalistas sem retorno sobre as

informações ou se omitir deixando margem para versões incompletas e distorcidas da

realidade dos fatos.

A omissão nas pautas negativas dá ao jornalista o direito de escrever o

que bem entende. As fontes devem, portanto, interferir na matéria, se

tiverem explicações plausíveis. (...) Desmentir, se for o caso, ou

admitir, quando o fato é irreversível, informando as providências

tomadas. Ignorar uma pauta pode significar para o jornalista o medo

da empresa em se explicar, o que supõe culpa (FORNI, 2010, p.396).

Page 44: Gerenciamento de crise   um estudo de caso das estratégias de comunicação na cpi da petrobras

44

Para Forni (2007), no caso de uma publicação negativa a organização precisa

analisar muito bem as dimensões da matéria e ter segurança para conversar com o

jornalista ou enviar uma resposta de esclarecimento à redação, mas é preciso ter cuidado

para que a solução não repercuta e vire alvo de polêmica. Por isso, mesmo com

publicações desfavoráveis à organização, os relacionamentos também precisam ser

mantidos nas situações de crise e a empresa deve agir com transparência e flexibilidade

para contornar a crise, e enxergar oportunidades de reversão no processo de degradação da

imagem organizacional.

Shinyashiki e Fischer (2007) apresentam como recomendação no processo de

gestão de crises a prevenção através do planejamento e formalização de ações estratégicas

de minimização das consequências negativas. Entre estas ações a necessidade de

identificação e especial atenção aos públicos envolvidos pela crise são fundamentais para a

organização. É preciso traçar estratégias de comunicação e conteúdo direcionados para

cada tipo de relacionamento em articulação com planos de comunicação emergenciais para

atingir todos os stakeholders de forma eficaz.

Apesar do risco que afeta a imagem organizacional, o processo de gerenciamento

de crises também pode ser uma oportunidade de aprendizado e sucesso para as

organizações, que através do reconhecimento de seu discurso e o crédito obtido nos valores

organizacionais pela sociedade como resposta à sua transparência pode encontrar lugar

para reforçar sua imagem.

Page 45: Gerenciamento de crise   um estudo de caso das estratégias de comunicação na cpi da petrobras

45

Capítulo III: Comunicação de crise: a CPI da Petrobras

3.1. Petrobras e a crise

Diretamente relacionada a fatores como a competitividade, fiscalização e

exposição da imagem organizacional, hoje a sobrevivência, estabilidade e sucesso das

organizações são influenciados cada vez mais pela eficácia nas estratégias de comunicação

e pela habilidade de adaptação a novos ambientes. Mesmo grandes organizações que já

construíram uma boa reputação e possuem uma estratégia de comunicação bem estruturada

estão suscetíveis a vivenciar situações desfavoráveis que podem desencadear uma crise de

imagem. Para as organizações de uma forma geral, Forni (2010) alerta que nenhuma

empresa por mais solidez, bom posicionamento e boa reputação que possua está livre de

vivenciar uma crise de imagem, e como exemplo desta premissa pode-se utilizar a maior

empresa do Brasil para demonstrar esta afirmação.

Líder do ramo petrolífero, a Petrobras11

é considerada a maior empresa do Brasil e

uma das cinco maiores empresas de energia do mundo. Instalada em 28 países, é referência

internacional de produção da área, atuando nas atividades de exploração e produção de

petróleo, refino, comercialização e transporte, petroquímica, distribuição de derivados, gás

natural, biocombustíveis e energia elétrica. Fundada em 3 de outubro de 1953, como

consequência da pressão popular e política originada com a campanha "O petróleo é

nosso", no ano de 1946, a Petrobras foi criada pelo então presidente Getúlio Vargas para

executar atividades no setor petrolífero em nome da União. Instituída como estatal, a

empresa é uma sociedade anônima de capital aberto, onde o acionista majoritário é o

Governo Federal.

Atualmente com 100 plataformas de produção, 16 refinarias, 30 mil quilômetros

em dutos e mais de seis mil postos de combustíveis por todo território nacional, a empresa

possui um corpo de aproximadamente 80 mil empregados para a gestão deste complexo

sistema administrativo e operacional. Em consequência de uma história corporativa

diretamente ligada ao desenvolvimento nacional, a empresa marca uma grande presença

através de seus produtos e serviços no cotidiano e na memória da população brasileira. E

por ser uma estatal é geralmente observada pela sociedade, e especificamente pelos

cidadãos brasileiros como parte do patrimônio nacional, explorando assim o sentimento de

11 Este texto contém informações retiradas do site institucional Petrobras. Disponível em:

http://www.petrobras.com.br/pt/quem-somos/. Acesso em 09 de novembro de 2012.

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46

pertencimento e fiscalização por parte da sociedade, que segundo Tomasi e Medeiros

(2010) faz parte da tendência do mercado e exige uma nova postura comunicacional das

empresas.

Atuando com operações de risco, a empresa já experimentou variadas situações de

crise de imagem, em especial nos episódios que envolveram acidentes com perdas

humanas e ambientais. Entre os exemplos mais recentes de casos de grande repercussão na

mídia12

estão o vazamento em um duto da Refinaria Duque de Caxias (Reduc), em 2000, e

ainda no mesmo ano, o acidente na Refinaria Presidente Getúlio Vargas13

no Paraná, que

ocasionou o derramamento de 4 milhões de litros de óleo nos rios Barigui e Iguaçu. Pouco

tempo depois, o acidente com a maior plataforma de petróleo do mundo na época, a P-3614

,

que afundou na Bacia de Campos, gerou 11 vítimas fatais em 2001 e abalou novamente a

imagem da empresa. Após estes eventos, a empresa utilizou a experiência adquirida nestas

crises para melhorar sua gestão e instrumentos de trabalho nos processos operacionais e

comunicacionais com a estruturação de um Sistema de Comunicação de Crise, a fim de

evitar falhas de comunicação e conter a exposição desfavorável de sua imagem na mídia e

sociedade.

Porém, no início de 2009, a estrutura de comunicação da companhia foi testada

por uma nova crise de imagem que se instalou na empresa após uma série de reportagens

realizadas por grandes veículos de comunicação do país ao denunciarem supostas

irregularidades no pagamento de tributos, gastos com obras de novos empreendimentos e

no uso de verbas de patrocínio. Mesmo com sistemáticos esclarecimentos oficiais por parte

da Petrobras, a exposição na mídia e a pressão política sobre a companhia desencadearam a

instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar os supostos

atos ilegais da empresa. Segundo o Requerimento nº 569, de 200915

do Senado Federal, as

atividades investigadas foram:

12 Folha de São Paulo online – Os principais vazamentos da Petrobras nos últimos 25 anos.

Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u5494.shtml. Acesso em 24 de

novembro de 2012. 13

Reportagem publicada na Revista Veja on-line. A mancha da impunidade. Disponível em:

http://veja.abril.com.br/260700/p_110.html. Acesso em 10 de novembro de 2012. 14

Reportagem publicada na Revista Veja on-line. Desastre em alto-mar. Disponível em:

http://veja.abril.com.br/210301/p_036.html. Acesso em 10 de novembro de 2012. 15

Requerimento nº 569, de 2009. Documento disponível em:

http://www.senado.gov.br/atividade/materia/getPDF.asp?t=58130&tp=1. Acesso em 12 de

novembro de 2012.

Page 47: Gerenciamento de crise   um estudo de caso das estratégias de comunicação na cpi da petrobras

47

a) indícios de fraudes nas licitações para reforma de plataformas de exploração de

petróleo, apontadas pela operação "Águas Profundas" da Polícia Federal;

b) graves irregularidades nos contratos de construção de plataformas, apontadas

pelo Tribunal de Contas da União;

c) indícios de superfaturamento na construção da refinaria Abreu e Lima, em

Pernambuco, apontados por relatório do Tribunal de Contas da União;

d) denúncias de desvios de dinheiro dos "royalties" do petróleo, apontados pela

operação "Royalties", da Polícia Federal;

e) denúncias do Ministério Público Federal sobre fraudes envolvendo pagamentos,

acordos e indenizações feitos pela ANP a usineiros;

f) denúncias de uso de artifícios contábeis que resultaram em redução do

recolhimento de impostos e contribuições no valor de 4,3 bilhões de reais;

g) denúncias de irregularidades no uso de verbas de patrocínio da estatal.

Requerida oficialmente em 15 de maio de 2009, e instalada em julho do mesmo

ano com previsão de duração de 180 dias, os reflexos da CPI sobre a imagem da empresa

se estenderam ao longo de todo ano corrente e tiveram atenção especial da imprensa até o

relatório final que inocentou a empresa de ter cometido atos ilegais. Considerada pelo

então presidente da empresa na época, José Sérgio Gabrielli, como a maior crise da história

da Petrobras, este exemplo pode ser utilizado para entender como as estratégias e o

processo de gestão de crise podem influenciar e ajudar no controle da exposição negativa

da imagem organizacional.

3.2. O Sistema de Comunicação de Crise Petrobras

Após uma sequência de crises vivenciadas pela Petrobras entre 2000 e 2002, a

empresa criou um Sistema de Comunicação de Crise para facilitar o processo de

identificação e gestão de crises. Delineado por um manual, este produto contém

orientações e procedimentos que devem ser adotados diante de situações que ofereçam

risco à imagem da empresa, sejam elas operacionais ou corporativas. O Sistema de

Comunicação de Crise Petrobras se apresenta como um guia impresso e eletrônico para

Page 48: Gerenciamento de crise   um estudo de caso das estratégias de comunicação na cpi da petrobras

48

todos os colaboradores em posição de liderança, sobre os procedimentos de segurança que

devem ser acionados para evitar a exposição negativa da imagem da empresa.

Neste sentido, o Guia pode ser observado como uma ferramenta desenvolvida

com o objetivo de possibilitar o controle da organização sobre os eventos prejudiciais à

percepção de sua imagem pela sociedade, o que segundo Mafei (2009), é importante para

não deixar que a crise siga seu próprio rumo e a organização possa tomar as rédeas da

situação, e com isto, esteja preparada para tomar as decisões corretas e se tornar a principal

fonte de informações da imprensa.

Hoje é comum que as grandes organizações contem previamente com

um plano de contingência, pronto para ser acionado em situações de

crise. Esse roteiro de ações emergenciais deve ser implementado

quase que automaticamente – já que, nessas horas, é preciso tomar

medidas que não paralisem a instituição e que ajudem as decisões a

fluírem melhor, tirando o assessorado da crise o quanto antes

(MAFEI, 2009, p.110).

Composto por 14 capítulos, o Guia do Sistema de Comunicação de Crise

Petrobras aborda o tema de forma abrangente e direcionada para a empresa, se

aprofundando e adequando algumas ações comuns da gestão de crise à realidade de seus

processos internos e públicos de interesse. Através da análise dos capítulos fundamentais

que envolvem os conceitos centrais para a compreensão deste sistema, como primeira

etapa no capítulo 1, denominado como “Comunicação de Crise”, pode-se observar o que o

documento define como crise na intenção de possibilitar a compreensão por parte da

equipe de trabalho do que poderia se classificar assim diante de uma determinada situação:

Crise é qualquer evento ou percepção negativa que possa trazer danos

à imagem da Petrobras ou prejudicar seu relacionamento com a

sociedade, clientes, acionistas, investidores, parceiros, órgãos

reguladores e poderes públicos, entre outros. São eventos operacionais

(vazamento, explosão e incêndio, por exemplo) e qualquer outro no

qual a imagem da Companhia possa vir a ser afetada negativamente

(greve, demissão de executivo, denúncias e conflito com as instâncias

do Poder Público, entre outras). Neste caso, são chamadas de crises

corporativas (PETROBRAS, S/D, p.16).

Neste trecho observa-se que a definição adotada pela empresa segue os princípios

fundamentais da conceituação de crise sugeridos por Forni (2010), e é essencial para a

conscientização do papel dos envolvidos no processo de transmissão das informações

sobre o evento. “Crise é qualquer situação que está ameaçando ou pode ameaçar prejudicar

pessoas ou propriedades, interromper seriamente o negócio, ameaçar a reputação ou

impactar negativamente o valor de mercado” (BERNSTEIN apud FORNI, 2010, p.388).

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49

Além disso, o Guia esclarece e situa a organização no ambiente social de competitividade

mercadológica, demonstrando que a Petrobras como qualquer empresa também está

suscetível a viver uma situação de crise. “Crises surgem a qualquer momento e sem aviso

prévio. Nenhuma empresa está livre delas, principalmente a Petrobras, devido à

complexidade de seu negócio” (PETROBRAS, S/D, p.16).

Esta fase de entendimento do que é crise para a empresa também apresenta de

forma simples uma breve contextualização das premissas e objetivos da comunicação de

crise, com ênfase na velocidade de transmissão e no alcance das informações na sociedade.

O Guia traça um perfil de trabalho orientado pela rapidez e transparência das informações

durante a crise, demonstrando o que para Mafei (2009) é o principal remédio para a

superação da crise. “Se os fatos estão diante de todos e é impossível fugir, então o que os

envolvidos têm a fazer é prestar esclarecimentos de interesse público e administrar o

problema da maneira mais correta” (MAFEI, 2009, p.112).

Explicitando a necessidade de uma comunicação eficaz nas iminentes situações de

crise, o Guia orienta a empresa a estabelecer uma postura de cautela com relação a eventos

que considerados insignificantes para a totalidade, podem evoluir para uma crise de grande

repercussão na mídia. Como exemplo, destaca a possibilidade de uma informação errada

ou mal interpretada que disseminada rapidamente pela imprensa local possa atingir um

nível de abrangência nacional, como afirma Forni ao relacionar pequenos incidentes a

velocidade da informação proporcionada pelas novas tecnologias da informação.

Nos momentos difíceis, conturbados, ou mesmo nos pequenos

incidentes, que possam ter desdobramentos, a empresa tem que ser

ágil nas respostas. Hoje, na maioria dos casos, a imprensa fica

sabendo dos acontecimentos negativos antes dos próprios interessados

(FORNI, 2010, p.393).

Desta forma, o conceito se apresenta no Sistema de Comunicação de Crise

Petrobras como um risco às atividades e à sobrevivência da empresa, que podem ser

impactados a qualquer momento pela repercussão negativa de um evento regional que não

foi bem esclarecido à imprensa.

A internet e os noticiários on line elevaram o risco de expansão rápida

da repercussão de um problema aparentemente local. Hoje não

existem mais notícias locais: qualquer evento pode ganhar repercussão

nacional ou internacional em minutos. Notícias sobre a Petrobras

podem gerar oscilação imediata da cotação de suas ações,

principalmente se a Companhia não for ágil o bastante para esclarecer

a situação e demonstrar ao público a verdadeira dimensão do ocorrido.

Como consequência, negociações que vinham acontecendo há meses

Page 50: Gerenciamento de crise   um estudo de caso das estratégias de comunicação na cpi da petrobras

50

podem ser prejudicadas, e os acionistas (entre eles milhares de

brasileiros que adquiriram ações com o FGTS) verem seu patrimônio

ser reduzido da noite para o dia (PETROBRAS, S/D, p.17).

Com o estabelecimento de critérios como a transparência e a proatividade em

esclarecer os eventos, o Guia destaca a necessidade de rapidez nesta ação por parte das

equipes de trabalho, visando a prevenção de uma divulgação incorreta dos fatos ocorridos

por parte da imprensa, e consequentemente, uma exposição desfavorável da imagem da

empresa como pode ser observado a seguir.

A Comunicação de Crise é um trabalho desafiador, pois se desenvolve

em ambiente ao mesmo tempo volátil e de grande nervosismo. A

Petrobras precisa estar pronta para responder rapidamente e de forma

transparente a qualquer crise que esteja se delineando. Para isso, deve

seguir o Plano de Comunicação de Crise, uma vez que tais ocorrências

têm potencial para gerar emoções, fragilidade e paralisia,

especialmente nos primeiros momentos. A partir do planejamento e do

treinamento, os empregados podem concentrar-se nos aspectos

racionais e agir com a firmeza necessária (PETROBRAS, S/D, p.17).

Neste sentido, pode-se relacionar a eficácia desta estrutura de comunicação à

integração da organização no processo de articulação das mensagens, ao levar em

consideração os papéis e responsabilidades dos envolvidos no fluxo comunicacional de

produção e transmissão das mensagens como apresentam Tomasi e Medeiros. “Também

não deve a comunicação empresarial depender de ações individuais. Deve estar conectada

a sistemas implantados. E precisa estar relacionada com os altos escalões da empresa”

(TOMASI; MEDEIROS, 2010, p. 56). Esta relação com as posições de liderança da

empresa trazem o treinamento e a capacitação de pessoas no relacionamento com a mídia

como fator determinante para o sucesso do discurso que a empresa pretende disseminar.

O elemento mais importante de uma resposta bem-sucedida à crise é a

integração de todos os setores da Companhia envolvidos na

mensagem a ser distribuída à sociedade. O trabalho conjunto permite

preparar uma resposta institucional que abranja todos os públicos

atingidos pela ocorrência. A probabilidade de a Petrobras fazer

prevalecer sua posição na cobertura da mídia depois de uma crise

aumenta muito se todas as medidas recomendadas forem seguidas –

respondendo de maneira pró-ativa aos investidores e à mídia

internacional e buscando validação para as ações da Empresa junto a

especialistas externos, por exemplo. A indefinição de papéis e

responsabilidades, a ausência de planejamento e a baixa capacidade de

prever ocorrências são as mais graves barreiras ao bom gerenciamento

de crise (PETROBRAS, S/D, p.18).

Esta racionalização das ações da gestão de crise através de mecanismos

orientadores de como a empresa deve agir e se posicionar diante da sociedade para evitar

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51

danos a sua imagem e reputação é a ideia central do Sistema de Comunicação de Crise

Petrobras, que apresenta como objetivo principal a redução do impacto negativo na

imagem da empresa.

O melhor resultado é sair da crise após convencer todos os públicos,

inclusive a mídia, de que não houve negligência por parte da Petrobras

e de que a situação foi resolvida sem maiores impactos. O ideal é

oferecer resposta rápida e abrangente, que impressione

favoravelmente pela seriedade e responsabilidade na atuação da

Empresa. Uma resposta bem-sucedida ajuda a criar boa vontade da

imprensa e da opinião pública e estimula uma cobertura mais

favorável em crises futuras (PETROBRAS, S/D, p.18).

Utilizando esta relação de impressão das características qualitativas da Petrobras

sobre a imagem da empresa na mídia, o Guia faz uso de mensagens-chave a serem

utilizadas no discurso da organização para a sociedade durante a crise. Através do

posicionamento da empresa realizado a partir de sua missão institucional, pode-se perceber

em seu discurso a seriedade e responsabilidade que caracterizam sua reputação implícitos

na tradução de sua missão.

Atuar de forma segura e rentável, com responsabilidade social e

ambiental, nos mercados nacional e internacional, fornecendo

produtos e serviços adequados às necessidades dos clientes e

contribuindo para o desenvolvimento do Brasil e dos países onde

atua16

.

Já no ambiente operacional da gestão de crise, o Sistema de Comunicação de

Crise Petrobras apresenta as premissas de comunicação de crise mais comuns entre os

autores da área, como a rapidez; o uso da tecnologia da informação; a transparência; o

compromisso total da liderança nos processos de aprovação das informações e de tomada

de decisões; a integração; comunicação; e incorporação das melhores práticas já

experimentadas. Aplicadas no capítulo 2, titulado como “Sistema de Comunicação de

Crise da Petrobras”, as orientações práticas para o início efetivo do processo de gestão de

crise podem ser observadas. Nesta fase em que o sistema de comunicação é efetivamente

apresentado no Guia, pode-se destacar uma importante prática que para Forni (2010)

sinaliza a sensibilidade da empresa para com o problema: a criação do comitê de crise.

Embora não seja uma prática sistematizada pela Companhia, a

Petrobras já adotou a figura do Comitê de Crise durante ocorrências

como a da Baía de Guanabara e no acidente da P-36, entre outras.

16

Petrobras – Quem somos – Estratégia corporativa. Disponível em:

http://www.petrobras.com.br/pt/quem-somos/estrategia-corporativa/. Acesso em 14 de novembro

de 2012.

Page 52: Gerenciamento de crise   um estudo de caso das estratégias de comunicação na cpi da petrobras

52

Consagrado nas principais companhias petrolíferas do mundo como

um elemento-chave no gerenciamento de crises, o Comitê é um grupo

a ser convocado pelo gerente geral da Unidade, pelo diretor gerente da

Área de Negócios, pela Diretoria ou até mesmo pelo presidente. É

formado por representantes das áreas técnicas envolvidas no combate

à ocorrência e por empregados de áreas com interesse estratégico,

como Comunicação, Jurídico, Recursos Humanos e Finanças

(PETROBRAS, S/D, p.23).

Responsável pelo gerenciamento de situações críticas, o Guia apresenta a

necessidade de instituição do comitê de crise diante de ocorrências que ganhem

repercussão entre todos os públicos de relacionamento da empresa, em nível nacional e

internacional, mesmo que o evento ocorra em apenas uma Unidade de Negócios, como

estabelece o capítulo 3, “Níveis de Repercussão de Crises”. Esta situação, caracterizada

pelo Sistema de Comunicação de Crise Petrobras como uma situação de nível 3 – máximo

nível de classificação – pode ser identificada durante a crise de 2009, com a instalação da

Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras.

Após a repercussão nacional de uma série de reportagens realizadas pelos maiores

veículos de comunicação do país, que denunciaram supostos atos ilegais da empresa, e

logo depois, com o requerimento de uma CPI para investigação das questões denunciadas

pela mídia, a Petrobras decidiu estruturar um comitê de crise com as áreas envolvidas

diretamente nos temas alvo de denúncias. Conforme orienta o Guia, o corpo do comitê foi

instituído com base na alta administração da empresa, contando com a presença do

presidente, de representantes indicados por áreas de interesse, e com participação direta do

gerente executivo da Comunicação Institucional e do Gerente de Imprensa. Esta iniciativa

é considerada por Forni (2010) como uma importante decisão para o diagnóstico e

identificação das vulnerabilidades da empresa. “A partir do diagnóstico, o trabalho é

corrigir os pontos fracos” (FORNI, 2010, p. 401).

O Comitê é dirigido por um líder, que conduz reuniões diárias durante

a crise. Nesses encontros, normalmente realizados no fim da tarde, os

integrantes fazem um relatório completo sobre suas áreas de atividade

e compartilham as informações com o grupo. O líder dá instruções e

determina estratégias para o combate à emergência e para a

comunicação institucional. Conta com o apoio do representante da

Comunicação, que sempre deve fazer parte do Comitê, e do porta-voz

designado. Embora seja provável que o líder mantenha contato com os

membros do Comitê no decorrer do dia, a reunião é a melhor maneira

de as áreas se manterem atualizadas e integradas e coordenarem

melhor a resposta que está sendo dada pela Companhia

(PETROBRAS, S/D, p.24).

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53

No episódio da CPI, pode-se observar que a liderança do comitê e o exercício da

atividade de porta-voz durante a crise foram exercidos pelo então presidente da empresa na

época, que simultaneamente comandou tanto o levantamento e aprovação de informações

no comitê, quanto a disseminação da posição da Petrobras para a imprensa. Apesar da

instituição de um comitê de crise como orienta o Sistema de Comunicação de Crise

Petrobras, esta equipe não era responsável pelas ações de comunicação no processo de

gestão da crise. O comitê era responsável por reunir informações para a própria companhia

sobre todos os temas envolvidos nas denúncias que precisavam ser apresentados a

parlamentares na CPI. Já as ações de comunicação eram planejadas por um segundo grupo

de trabalho que coexistia dentro da área de Comunicação Institucional da empresa, e é

denominado pelo Guia como equipe de comunicação de crise.

A equipe de comunicação de crise é o grupo de empregados que irá

coordenar todas as atividades de comunicação durante uma

ocorrência, incluindo relações com a mídia, empregados e

comunidades, além de prestar apoio à área de Relacionamento com

Investidores e demais setores que necessitem fazer contato com outros

públicos (por exemplo, clientes, fornecedores e empresas parceiras).

Apesar de também não ser uma prática já sistematizada pela

Companhia, a eficácia da formação da equipe já foi comprovada em

crises anteriores (PETROBRAS, S/D, p.27).

Exercendo um papel fundamental para o controle da exposição negativa da

imagem da empresa, a equipe formada por quatro integrantes – dois Assessores de

Comunicação, o Gerente de Imprensa e o Gerente de Responsabilidade Social – exerceu

um papel fundamental na agilização do fluxo comunicacional e na validação direta das

informações solicitadas pela mídia com o presidente. Em um nível hierárquico de

autonomia e poder de decisão, pode-se apontar que a equipe de comunicação de crise

prestava informações de todas as ações realizadas ao comitê de crise. Entretanto, estas

ações de comunicação eram executadas a partir da determinação direta do presidente em

acordo com as demais orientações estabelecidas no comitê.

Ainda sob o aspecto operacional do Sistema de Comunicação de Crise Petrobras,

o Guia apresenta a necessidade de acionamento imediato do Plano de Comunicação de

Crise para facilitar o fluxo de informações e a conscientização das responsabilidades nos

processos de tomada de decisão. O plano apresenta um formato atemporal e

estruturalmente hierárquico da organização, que deve ser adotado e adaptado aos diferentes

níveis e tipos de crise estabelecidos no Guia pela empresa.

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54

O Plano de Comunicação de Crise deve ser posto em prática sempre

que o Plano de Contingência da UN ou da região for acionado,

tornando-se um processo paralelo e complementar às providências

técnicas. No caso de crises não-operacionais (demissão de executivos,

denúncias, conflito com as diversas esferas do Poder Público, entre

outras), o Plano de Comunicação entra em operação

independentemente do Plano de Contingência, nas UNs ou na Sede. É

acionado pelo gerente de Comunicação da UN ou pelo gerente

executivo da Comunicação Institucional, com aprovação do gerente

geral ou do Gabinete da Presidência, dependendo do nível de

repercussão (PETROBRAS, S/D, p.30).

Além disso, o plano se destaca como uma ferramenta de priorização do processo

de confirmação das informações por parte das equipes de trabalho envolvidas com a crise,

com o objetivo de evitar falhas ou a defasagem das informações no processo de divulgação

do conteúdo na imprensa por parte da Comunicação.

Duas prioridades conflitantes encontram um meio-termo no Plano de

Comunicação de Crises: resposta rápida e disciplina das mensagens. A

imposição de um sistema rigoroso de checagem e rechecagem das

informações pode aumentar o tempo necessário para responder à

mídia. Em contrapartida, a resposta será mais precisa ao consolidar-se

em torno de um conteúdo aprovado. Ao tomar tal precaução, a equipe

de comunicação de crise aumenta suas possibilidades de influenciar a

cobertura dada pela imprensa, protegendo a imagem da Companhia

(PETROBRAS, S/D, p.31).

3.3. Atuação da Gerência de Imprensa no relacionamento com a mídia

Composta por 23 jornalistas, dentre eles, 15 responsáveis pela assessoria de

imprensa, e mais 6 ajudando a coordenar a atividade no Brasil e no exterior, a Gerência de

Imprensa da Petrobras é responsável por atender a demanda por informações, organizar

coletivas e fazer a intermediação entre as fontes internas da empresa e a mídia.

No início de 2009, especificamente a partir do mês de fevereiro, a Gerência de

Imprensa da Petrobras viu o número de demandas da imprensa se multiplicar

exponencialmente. As solicitações de esclarecimentos e entrevistas, por parte dos grandes

jornais do país, relativos a patrocínios culturais, sociais e ambientais, e de solicitações de

relatórios preliminares do Tribunal de Contas da União (TCU) referentes à construção de

refinarias e unidades de refinarias, chegou a pautar as publicações nacionais em uma média

de 3 vezes por semana até o mês de abril. A crise se anunciava, era uma amostra do que

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55

viria pela frente com a futura instalação da CPI, e para atender a esta intensa demanda por

parte da imprensa, a Gerência de Imprensa percebeu a necessidade de intensificar o

acompanhamento real das informações publicadas diariamente. E também, de aumentar a

velocidade no processo de internalização deste conteúdo para os gerentes e executivos da

empresa.

Neste processo de intensificação do acompanhamento do conteúdo publicado pela

mídia sobre a Petrobras, pode-se observar como principal ferramenta o clipping – uma

atividade sistêmica da empresa –, que se apresenta como um importante instrumento no

retorno e esclarecimento das informações imprecisas publicadas. Coordenado pela

Gerência de Imprensa, o clipping é realizado por uma empresa externa, que executa o

serviço com base nas especificações que a área fornece. Esta empresa contratada repassa o

material coletado em sua busca diária para a Gerência de Imprensa, que fica responsável

pela análise e classificação dessas informações para a produção do clipping interno da

Petrobras, que contendo as publicações mais relevantes para a empresa, é direcionado para

todos os gerentes e a diretoria da organização.

Segundo o Gerente de Imprensa da empresa, Lucio Pimentel17

, durante a crise,

para atender a velocidade e o alcance necessário do monitoramento das informações

publicadas pela imprensa foi preciso adotar uma cultura do tempo real, tendência esta, que

é possível observar em uma escala global nas empresas como afirma Forni (2010).

A escala do tempo mudou de modo irreversível. Para a empresa não

basta ter uma cultura da comunicação; é imperativo criar uma cultura

de comunicação em tempo real. Isso significa que a agilidade da área

de comunicação deve-se irradiar à organização (FORNI, 2010, p.

393).

Em complemento ao clipping, a empresa contou com o aprimoramento de uma

ferramenta interna já existente em seu dia-a-dia de trabalho, um banco de dados eletrônico,

chamado de Central de Conteúdo, que disponibiliza todas as publicações, vídeos e áudios

relacionados à empresa em escala global. Esta ferramenta foi responsável pelo aumento da

capacidade de resposta da companhia aos veículos que publicaram informações erradas ou

imprecisas sobre a empresa, e ajudou a Petrobras a se posicionar com agilidade diante de

todas as publicações desfavoráveis nos períodos mais intensos da crise.

17 Lucio Pimentel é Gerente de Imprensa da Petrobras e concedeu entrevista à autora deste trabalho

acadêmico no dia 29 de outubro de 2012, posteriormente transcrita e disponibilizada no Anexo 4.

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56

Do outro lado da mídia, o projeto Agência Petrobras18

, criado em 2006, empresta

o conceito de uma agência de notícias ao processo de assessoria de imprensa da empresa,

facilitando a dinâmica entre a organização e a mídia. Conforme definição do Gerente de

Imprensa da Petrobras – idealizador do projeto –, o site corporativo funciona como uma

agência de notícias, que utilizando um sistema único, permite que colaboradores de todos

os países em que a empresa está presente informem e supram sua própria necessidade de

informações através da postagem de releases e outros materiais, que também são

disponibilizados à mídia geral.

Neste sentido pode-se observar que o site proporciona a sinergia entre dois

públicos-alvo diferentes: a imprensa e o público interno da empresa. Ao mesmo tempo em

que a agência permite que equipes localizadas nas regionais, refinarias e exterior postem

todos os dias o conteúdo divulgado à imprensa em nível local ou publiquem releases para a

divulgação de ações regionais, simultaneamente, a imprensa possui acesso imediato às

informações publicadas e pode buscar neste banco de notícias informações segmentadas

para a construção das publicações.

Apesar da importância para os processos internos de integração entre as equipes

da empresa, pode-se identificar a Agência Petrobras como um produto de comunicação

direcionado à mídia geral. A agência tem o objetivo de possibilitar que profissionais de

comunicação de todos os veículos de comunicação, nacionais e internacionais, possam se

cadastrar gratuitamente e pautar suas matérias em informações sobre as atividades da

empresa como conceitua o site da agência.

A Gerência de Imprensa da Petrobras busca ser proativa no

relacionamento com a imprensa e para isso conta com profissionais

especializados em seis editorias: Economia, Internacional, Cultura,

Esporte, Social e Meio Ambiente. Para complementar o trabalho dos

jornalistas, seja na cobertura de eventos ou em coletivas, foi criado

um site exclusivo para a imprensa: a Agência Petrobras. O conceito é

de um site ferramental de apoio à imprensa, onde jornalistas de todo o

mundo encontram, em português, inglês e espanhol, releases, avisos

de pauta, textos complementares, apresentações, fotos em alta

resolução, ilustrações, gravações de áudio e vídeo, entrevistas e

transcrições de entrevistas (AGÊNCIA PETROBRAS, 2012)19

.

Além disso, o projeto Agência Petrobras também aborda a capacitação de

funcionários em posição de liderança para o relacionamento com a mídia. O media training

18

Agência Petrobras. Disponível em: http://www.agenciapetrobras.com.br/ 19

Agência Petrobras – Sobre o Site. Disponível em: http://www.agenciapetrobras.com.br/sobre.asp.

Acesso em 19 de novembro de 2011.

Page 57: Gerenciamento de crise   um estudo de caso das estratégias de comunicação na cpi da petrobras

57

realizado para gerentes e executivos da empresa é percebido pelo Gerente de Imprensa,

Lucio Pimentel, como o principal responsável pela melhoria dos processos internos de

validação e confirmação das mensagens, principalmente durante situações de crise. “Sem

esse gerente entendendo qual é o papel dele nesse processo, eu não aprovo rapidamente

uma informação que necessito, eu não obtenho uma informação rapidamente como eu

preciso, e eu não tenho porta-voz pra passar essa informação como necessito”20

. Esta

priorização da capacitação de fontes e porta-vozes para a conscientização da importância

dos processos de imprensa no atendimento às demandas, na proatividade empreendida no

trato com a mídia e no aproveitamento de oportunidades, demonstram o que Ribeiro e

Lorenzetti (2010) afirmam sobre o planejamento em assessoria de imprensa que deve ser

pensando a médio e longo prazo na estratégia de comunicação das equipes.

Preparar os porta-vozes, ou seja, as pessoas que vão falar em nome da

organização, tendo em vista que de nada adianta iniciar um trabalho

de relacionamento com a imprensa se os porta-vozes não estiverem

preparados para conversar ou ser entrevistados por jornalistas

(RIBEIRO; LORENZETTI, 2010, p.226).

Em oposição ao sistemático trabalho de relacionamento com a mídia, e a esta

estrutura de comunicação orientada pela velocidade das informações, a Petrobras

vivenciou desde os primeiros meses do ano, pouco antes da instalação da CPI, a perda do

espaço reservado ao direito de sua versão na imprensa. Com o aumento do número de

matérias envolvendo denúncias à empresa, a Gerência de Imprensa também precisou

aumentar o número de cartas e esclarecimentos enviados aos veículos de comunicação.

Mesmo com seguidas notas e cartas oficiais divulgadas sobre os assuntos alvo de

denúncias, as reportagens negativas continuaram sob a mesma abordagem ofensiva. Nesta

situação, Forni (2010) alerta que qualquer pessoa ou organização injustamente atacada pela

divulgação equivocada e inconsequente de conteúdo prejudicial à sua imagem por parte da

mídia nunca deve aceitar passivamente, e sempre despender a isto uma reação

proporcional.

A versão da imprensa sobre pessoas ou entidades atingidas nem

sempre é correta. A mídia, por mais poderosa que seja, não tem o dom

da infalibilidade. Por isso, é necessário estar atento às apurações

apressadas que redundam em deslizes da imprensa. Muitas matérias

bombásticas não resistem a uma análise cuidadosa (FORNI, 2010,

p.398).

20

Entrevista concedida à autora deste trabalho acadêmico, conforme mencionado anteriormente na

nota de número 17.

Page 58: Gerenciamento de crise   um estudo de caso das estratégias de comunicação na cpi da petrobras

58

Para não deixar nenhuma matéria publicada com informações imprecisas e

prejudiciais à empresa sem resposta, a Gerência de Imprensa precisou reforçar sua equipe

de trabalho, contando assim com profissionais mais experientes na gestão de crise. Nesta

mecânica, o Gerente de Imprensa destaca que apesar das respostas oficiais enviadas sobre a

versão da Petrobras, a empresa não encontrou espaço equivalente à visibilidade que as

denúncias alcançaram no país.

Um determinado jornal oferece um espaço para que você possa

manifestar sua opinião sobre as matérias que saíram, que é o Carta aos

Leitores, mas é óbvio que entre uma chamada, uma manchete de

primeira página, uma matéria de meia página, uma página inteira ou

duas e três páginas, e uma carta que o jornal limita a caracteres, que

não passam normalmente de três a quatro parágrafos, existe uma

diferença descomunal. Então a Petrobras enviou centenas de cartas

nesse período, aos maiores jornais brasileiros, algumas não foram

publicadas, a maioria foi publica é verdade, mas o efeito de uma carta

publicada é mínimo sobre o estrago de uma manchete de primeira

página21

.

Com um trabalho focado no monitoramento e esclarecimento das denúncias

divulgadas pela mídia, a equipe utilizou a Agência Petrobras como uma ferramenta aliada a

este processo. Para tentar diminuir o volume de matérias ofensivas à reputação da empresa,

e em contrapartida às informações erradas e imprecisas veiculadas nos noticiários pode-se

identificar que a Gerência de Imprensa utilizou ativamente o site Agência Petrobras para

publicar notas, esclarecimentos e matérias explicativas com o objetivo de colaborar para

uma apuração mais precisa da imprensa.

Como se pode observar na Figura 1, com pouco mais de um mês antes do

requerimento oficial da CPI, a companhia utilizou o site Agência Petrobras para se

posicionar e esclarecer detalhadamente as questões abordadas nas denúncias de

superfaturamento da Refinaria Abreu e Lima, um dos primeiros tópicos a se tornar alvo de

denúncias na imprensa desde março de 2009. Com a nota de esclarecimento oficial, a

empresa informou que estava prestando esclarecimentos ao órgão responsável e reafirma

que não houve superfaturamento em suas obras, apresentando as respectivas variantes

fiscais em torno do assunto.

21

Entrevista concedida à autora deste trabalho acadêmico, conforme mencionado anteriormente na

nota de número 17.

Page 59: Gerenciamento de crise   um estudo de caso das estratégias de comunicação na cpi da petrobras

59

Figura 1: Nota de esclarecimento sobre o superfaturamento de obra

Esclarecimento publicado em 08/04/2009 em resposta às matérias sobre o suposto

superfaturamento das obras da Refinaria Abreu e Lima.

Fonte: http://www.agenciapetrobras.com.br/materia.asp?id_editoria=8&id_noticia=6404

Já a nota de esclarecimento da Figura 2, foi publicada em resposta ao jornal O

Globo, que na data de 10/05/2009 publicou a matéria bombástica “Manobra Bilionária” em

sua versão impressa, onde afirma que a Petrobras deixou de recolher R$ 4,3 bi em

impostos pelos cálculos da Fazenda. No mesmo dia o jornal publica na íntegra em seu site,

Page 60: Gerenciamento de crise   um estudo de caso das estratégias de comunicação na cpi da petrobras

60

na editoria de economia, o texto publicado22

pela Agência Petrobras, e no dia seguinte, a

carta enviada pela empresa na seção “Cartas do Leitor”.

Figura 2: Nota de esclarecimento sobre o recolhimento de tributos

Esclarecimento publicado em 11/05/2009 em resposta à matéria do jornal “O Globo” dos dias

10 e 11/05/2009 sobre o uso de artifícios contábeis para a redução do recolhimento

de impostos e contribuições fiscais.

Fonte: http://www.agenciapetrobras.com.br/materia.asp?id_editoria=8&id_noticia=6567

Dois dias depois da publicação do jornal O Globo, e a consequente repercussão da

notícia em diversos veículos do país, a Gerência de Imprensa publicou novamente uma

nota de esclarecimento sobre o assunto, que desta vez, trouxe em seu conteúdo uma

22

O Globo on-line – Nota de esclarecimento Petrobras. Disponível em:

http://oglobo.globo.com/economia/petrobras-divulga-nota-para-negar-realizacao-de-manobra-

contabil-3163162. Acesso em 17 de novembro de 2012.

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61

abordagem técnica e explicativa de como foi realizada a contabilidade e o pagamento de

tributos da empresa à Receita Federal como pode-se identificar na Figura 3.

Figura 3: Nota de esclarecimento sobre o pagamento de impostos

Esclarecimento publicado em 13/05/2009 em resposta às informações

imprecisas divulgadas no noticiário geral sobre o pagamento de impostos.

Fonte: http://www.agenciapetrobras.com.br/materia.asp?id_editoria=8&id_noticia=6578

Cerca de um mês após a publicação dos esclarecimentos apontados pela Figura 2

e 3, e da oficialização do requerimento da CPI, o jornal O Globo publicou em sua edição

do dia 17/06/2009 a matéria “Garras menos afiadas”, onde novamente afirmava que a

Petrobras realizou mudanças sem amparo legal em seu regime tributário. No dia seguinte,

o jornal retificou a matéria com a publicação da carta enviada pela Petrobras na seção

“Cartas do Leitor”. Este e outros casos semelhantes se repetiram na rotina da empresa, e só

chegaram ao fim a partir do momento em que novas ações estratégicas para o

gerenciamento da crise foram adotadas pela Petrobras.

Page 62: Gerenciamento de crise   um estudo de caso das estratégias de comunicação na cpi da petrobras

62

3.4. Ações estratégicas utilizadas no gerenciamento da crise

Em um ciclo de respostas negativas por parte dos maiores veículos de

comunicação do país com relação aos esclarecimentos produzidos pela Petrobras sobre as

denúncias publicadas nos meses que antecederam a instalação da CPI, a equipe de

comunicação de crise da empresa precisou adotar novas estratégias para o controle da

crise. Ao longo da atividade diária de análise do conteúdo veiculado pela imprensa para a

produção de respostas às publicações incorretas, a equipe percebeu que a imagem da

empresa estava cada vez mais desgastada pela incessante sequência de acusações diárias

protagonizadas pela imprensa. Entretanto, mesmo com o bom relacionamento conquistado

pelo trabalho constante da Gerência de Imprensa na atenção e proatividade na prestação de

informações à mídia, o que teoricamente ajudaria a melhorar a situação como demonstra

Forni (2010), o número de acusações não diminuiu. “Reputação e credibilidade não são

importantes apenas para o mercado. A mídia também tem alta consideração, na hora de

julgar comportamentos e atitudes” (FORNI, 2010, p.409). Para estes casos, Forni (2010),

apesar de considerar como ação mais efetiva a ser adotada para a administração da crise o

bom relacionamento com a imprensa, admite que em casos extremos, quando a

organização não consegue espaço para a divulgação de sua versão pode fazer o uso da nota

paga.

A propósito da nota paga (anúncio), trata-se de uma resposta à crise

para casos extremos, quando a organização não consegue ter um

espaço na mídia espontânea ou precisa dar uma explicação rápida e de

interesse público. (...) Paga-se caro por um anúncio que poucos irão

ler. Ou pelo menos levar em conta. Receber a imprensa, informando

tudo com transparência, funciona melhor. Dá muito mais credibilidade

à resposta (FORNI, 2010, p.413).

Com uma enorme quantidade de matérias negativas e esclarecimentos que

pareciam não ganhar espaço na mídia, a equipe de comunicação de crise começou a

discutir e estudar outras formas de abrir espaço para a exposição da versão da Petrobras na

sociedade. Desta discussão, entre as alternativas analisadas pela equipe de comunicação de

crise da empresa, a opção do uso da nota paga foi descartada rapidamente, e a escolha final

foi por colocar as informações na internet, o que Forni (2010) afirma como uma ação

positiva para o gerenciamento da crise. “Um sinal muito positivo para os clientes e os

empregados numa crise é a competência na utilização da Internet. O cliente, diante de uma

notícia de que a empresa enfrenta uma crise, corre logo para o site para saber informações

e acompanhar os acontecimentos” (FORNI, 2010, p.407). Porém, com esta escolha um

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63

novo problema surgiu para a comunicação, que seria a definição do formato utilizado para

esta ação. Após várias reuniões entre os membros da equipe, a utilização de um blog

pareceu a alternativa mais eficaz por ter um formato aberto à interatividade e a troca de

opiniões, conforme explica o Gerente de Imprensa, Lucio Pimentel.

Então, a ideia do blog foi exatamente essa, “nós vamos provocar um

ruído de comunicação pra chamar a atenção da sociedade e dos

veículos de imprensa de que a Petrobras não está sendo ouvida”.

Porque durante todos esses meses que eu falei, das matérias que foram

pautadas de fevereiro a abril, e isso continuou pela CPI, de cada dez

perguntas que eu respondia no máximo uma resposta era publicada,

quando era publicada. Então nós percebemos que faltava um

mecanismo que desse transparência absoluta e total às perguntas dos

repórteres e às respostas da Petrobras, para que a sociedade fizesse o

seu juízo de valor sobre o que estava acontecendo23

.

Entretanto, não haviam critérios bem estabelecidos para o uso corporativo de um

canal de comunicação como este pela empresa, e ao apresentar a ideia diretamente para o

então presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, a equipe recebeu a ordem de criação

do novo canal de comunicação institucional. Segundo entrevista concedida pelo Assessor

de Comunicação, Erasmo Granado, um dos grandes desafios da criação do blog girou em

torno da questão da interatividade com relação ao formato institucional que a Petrobras

precisava adotar.

O blog tinha como componente adicional a interatividade, o blog é

uma ferramenta interativa, e a grande discussão que nós tínhamos era

como lidar com a interatividade, como estabelecer critérios pra você

manter o caráter institucional da companhia, publicar a posição da

companhia sobre todas as coisas e respeitar a opinião de quem

interagisse conosco24

.

Após a decisão de criação do blog, a equipe de comunicação de crise iniciou o

trabalho de formatação do canal em conjunto com a gerência setorial de Multimeios, que é

a responsável por toda comunicação eletrônica da empresa. Em cerca de quatro dias este

processo chegou ao fim, e no dia 2 de junho de 2009, o acesso ao blog “Fatos e Dados”25

foi disponibilizado ao público geral com a publicação direta das perguntas e respostas

oferecidas à imprensa. Responsável por 85% do conteúdo publicado no blog, a Gerência de

23

Entrevista concedida à autora deste trabalho acadêmico, conforme mencionado anteriormente na

nota de número 17. 24 Erasmo Granado é Assessor de Comunicação do Gabinete da Presidência da Petrobras e

concedeu entrevista à autora deste trabalho acadêmico no dia 24 de setembro de 2012,

posteriormente transcrita e disponibilizada no Anexo 3. 25

Fatos e Dados. Disponível em: http://fatosedados.blogspetrobras.com.br/

Page 64: Gerenciamento de crise   um estudo de caso das estratégias de comunicação na cpi da petrobras

64

Imprensa, já no segundo dia de disponibilização do acesso, realizou uma postagem em

esclarecimento às acusações de manobras contábeis para a redução do pagamento de

tributos como mostra a Figura 4.

Figura 4: Esclarecimentos sobre pagamentos de tributos

Fonte: http://fatosedados.blogspetrobras.com.br/2009/06/03/esclarecimentos-sobre-pagamentos-de-tributos/

Anteriormente publicado no site Agência Petrobras – direcionado à imprensa –,

agora esta postagem traz o esclarecimento de forma reduzida e encaminha o leitor para

links explicativos, e inclusive para a própria nota de esclarecimento da agência. Apesar de

ter recebido apenas 9 comentários, a postagem marca o início efetivo da missão do blog de

levar à sociedade, sem edições, a versão da empresa.

Page 65: Gerenciamento de crise   um estudo de caso das estratégias de comunicação na cpi da petrobras

65

Com a publicação das perguntas e respostas enviadas pela imprensa a partir do dia

4 de junho de 2009, o blog ganhou visibilidade, principalmente devido à resistência da

imprensa a respeito do conteúdo divulgado antes mesmo da publicação dos jornais. Em

consequência a isto, os veículos de comunicação passaram a publicar reportagens ofensivas

à iniciativa e acusaram a empresa de vazar informações. Em contrapartida, a Petrobras

postou uma nota oficial onde esclarece que o objetivo do blog é de possibilitar a máxima

transparência possível de seus processos e relacionamento com seus públicos de interesse

como apresenta a Figura 5.

Figura 5: Petrobras divulga nota oficial sobre o blog fatos e dados

Fonte: http://fatosedados.blogspetrobras.com.br/2009/06/07/petrobras-divulga-nota-oficial-sobre-o-blog-

fatos-e-dados/

Page 66: Gerenciamento de crise   um estudo de caso das estratégias de comunicação na cpi da petrobras

66

Na análise da Figura 5 pode-se identificar que com cinco dias após o seu

lançamento, o blog teve um aumento exponencial no número de participações por

postagem, que se iniciando com 9 comentários passou para a contagem de 294 comentários

postados, onde 165 destas participações podem ser observadas correspondendo a

mensagens diretas de incentivo, cumprimentos e apoio à empresa.

Ainda no âmbito do conturbado relacionamento com a mídia durante a crise, após

a consecutiva publicação das matérias e solicitações da imprensa na íntegra, a Gerência de

Imprensa e a Petrobras como um todo receberam diversas reclamações de repórteres e

editores de jornais, que se sentiram lesados pela veiculação do conteúdo no blog antes de

sua publicação. Chegando a receber críticas da Associação Nacional dos Jornais (ANJ),

como resposta a empresa esclareceu novamente os objetivos do blog.

Figura 6: Sobre a nota da ANJ

Fonte: http://fatosedados.blogspetrobras.com.br/2009/06/08/sobre-a-nota-da-anj/

Page 67: Gerenciamento de crise   um estudo de caso das estratégias de comunicação na cpi da petrobras

67

Com a postagem “Sobre a nota da ANJ”, o assunto mais uma vez ganhou

repercussão e colocou em pauta a iniciativa do uso da ferramenta eletrônica como

instrumento de transmissão da posição oficial da Petrobras sobre as informações

divulgadas na mídia. Através da publicação na íntegra de entrevistas concedidas à

imprensa e editoriais de opinião da própria companhia sobre a acusação de edições

publicadas anteriormente, pode-se observar nos anexos 5, 6 e 7, publicados durante o mês

de junho – o primeiro após o requerimento oficial da CPI –, que as postagens mantêm a

regularidade de participações. Sobre os comentários recebidos a partir da disponibilização

do blog, o Assessor de Comunicação, Erasmo Granado ressalta a importância do apoio da

sociedade que ao ter acesso às informações sem edições, pôde fazer uma analogia do

comportamento e abordagem da mídia com relação às informações oficiais fornecidas.

O efeito do blog pra nós encheu a gente de força, porque as

manifestações de solidariedade, os comentários positivos foram

geniais, o que deu um gás pra gente impressionante. Aquilo nos deu

um ar, um vigor novo e conseguimos superar, foi muito importante

sob este aspecto e também por incrível que pareça o blog mudou a

forma de como os jornalistas perguntam as coisas pra gente26

.

Depois da criação do blog, aos poucos o nível de matérias ofensivas à imagem da

empresa diminuiu, e quando a CPI efetivamente foi instalada com o início dos trabalhos a

partir do mês de agosto, as acusações à empresa se tornaram mais pontuais e restritas à

apuração das investigações e reuniões realizadas pelo Senado Federal. Segundo Dantas27

,

como sinal da repercussão do blog “Fatos e Dados” na sociedade pode-se observar o

número de visitações crescente do blog, que na data de 22 de junho de 2009 atingiu a

marca de 500 mil visitantes; 1 milhão em 21 de julho de 2009; e 2 milhões em 24 de

novembro de 2009, quando a CPI já se aproximava do relatório final divulgado em 17 de

dezembro de 2009.

Além da grande recepção por parte da sociedade, os reflexos da criação do blog

como uma ação estratégica no gerenciamento da crise podem ser observados em uma

análise do número de matérias positivas publicadas ao longo do ano de 2006, que

comparadas ao ano da crise, e posteriormente ao ano de 2011, demonstram um aumento

26

Entrevista concedida à autora deste trabalho acadêmico, conforme mencionado anteriormente na

nota de número 24. 27 DANTAS, Daniel. A argumentação como elemento discursivo na mídia digital: Um estudo sobre

o Blog “Fatos e Dados”. Disponível em: http://fatosedados.blogspetrobras.com.br/wp-

content/uploads/2009/11/A_argumentacao_como_estrategia_discursiva_na_midia_digital.pdf.

Acesso em 20 de novembro de 2012.

Page 68: Gerenciamento de crise   um estudo de caso das estratégias de comunicação na cpi da petrobras

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significativo da visibilidade positiva da imagem da empresa (Graf.1). Esta análise

comparativa reflete a disseminação de uma imagem institucional positiva diante da opinião

pública, que alcançando um número cerca de quatro vezes maior que a média anual de

2009 pode ter este aumento relacionado às ações desempenhadas durante a crise.

GRÁFICO 1: Matérias positivas sobre a Petrobras

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69

Considerações finais

A reconfiguração socioeconômica e cultural ocorrida a partir do século XIX, com

a consolidação do capitalismo e o aumento da difusão massificada das informações

proporcionada pelos meios de comunicação, transformou o ambiente de participação da

sociedade, e trouxe a inserção de temas relacionados às empresas e organizações para a

pauta da opinião pública. A partir disto, inicialmente surgido com as atividades de

assessoria de imprensa e relações públicas que criaram novas formas de comunicação e

adequaram a postura das organizações ao novo ambiente social, o campo de estudos na

área da Comunicação Empresarial ou Organizacional evoluiu significativamente e ampliou

sua atuação. Desde então, com a consciência da necessidade emergente de

aperfeiçoamento das formas de comunicação com a mídia, as organizações passaram a

promover suas ações e prestar esclarecimentos de suas atividades como uma forma de

prestação de contas à sociedade.

Do outro lado, como principal representante da sociedade, a mídia passou a

exercer o papel de fiscalização das organizações, disseminando assim informações

positivas e negativas a respeito de suas atividades que ganharam cada vez mais destaque

para o interesse público. Em um ambiente social e mercadológico orientado pela imagem,

as situações desfavoráveis experimentadas pelas organizações passaram a ser cada vez

mais questionadas pela mídia e opinião pública em geral. Desta forma, o campo de

especialização da comunicação organizacional aprimorou as técnicas de assessoria de

imprensa para manter a estabilidade da imagem das organizações, e entre elas a gestão de

crises ganhou espaço e atenção dos profissionais de comunicação. O episódio vivenciado

pela Petrobras com a repercussão intensa de denúncias e a instalação da CPI demonstram a

importância deste segmento e pode ser observado neste trabalho como um exemplo

relevante no processo de gerenciamento de crises.

A partir da observação do interesse da Petrobras em desenvolver uma estrutura de

comunicação para a prevenção e gestão de crises pode-se identificar a sensibilidade da

empresa para o tema, e a intenção de conscientização de seus empregados de que a

organização, como qualquer outra, está sujeita a experimentar situações que afetem

negativamente sua imagem. Com a análise do Sistema de Comunicação de Crise Petrobras

foi possível identificar na composição do Guia conceitos orientados pelos principais

estudos da área adequados à realidade da empresa. Como principais conceitos, o Guia

Page 70: Gerenciamento de crise   um estudo de caso das estratégias de comunicação na cpi da petrobras

70

apresentou a transparência e proatividade na orientação das ações e processos de

comunicação, ressaltando a importância de procedimentos de contato, atendimento e

exposição na mídia amparados por estes fundamentos. Buscando manter a estabilidade e

amenizar a exposição negativa da imagem da empresa, o Guia trouxe recomendações

teóricas importantes no processo de gerenciamento de crises como a agilidade no

atendimento a mídia, rapidez na apuração e validação das informações, além da escolha de

porta-vozes, e a estruturação do comitê e da equipe de comunicação de crise.

Ainda, é possível perceber a preocupação da empresa em integrar os processos de

tomada de decisão e conscientizar suas lideranças para o papel exercido dentro do processo

de circulação das informações entre a Petrobras e a mídia, com o objetivo de agilizar e

evitar falhas no fluxo de informações que possam comprometer ainda mais a imagem

organizacional. Com isto pode se observar que durante a CPI os conceitos e procedimentos

descritos pelo Sistema de Comunicação de Crise Petrobras foram aplicados em sua

maioria.

Neste sentido, a atuação da Gerência de Imprensa, que exercendo as atividades

inerentes aos processos de assessoria de imprensa, apresentou um desempenho orientado

pelo planejamento, agilidade, e segurança com a utilização de ferramentas de

monitoramento da mídia já existentes que facilitaram e agilizaram o processo de

acompanhamento das matérias sobre a Petrobras. Apesar de uma ágil atuação no processo

de atendimento e esclarecimento às informações imprecisas publicadas durante a crise, a

Gerência de Imprensa não conseguiu alcançar um retorno positivo no aspecto do conteúdo

publicado sobre a empresa. Entretanto, pode-se perceber que as ações da Gerência foram

orientadas pelos conceitos teóricos em acordo com os procedimentos apresentados no

Sistema de Comunicação de Crise Petrobras. Além disto, o uso de meios eletrônicos pode

ser observado como um importante fator de contribuição para o processo de

relacionamento com a mídia, que através do site Agência Petrobras – um banco de pautas

eletrônico sobre a empresa disponibilizado à imprensa geral –, se apresentou como um

diferencial na dinâmica de contato e disseminação das informações oficiais com a

publicação direta de esclarecimentos oficiais como resposta às matérias ofensivas

noticiadas.

Em função da resposta negativa da imprensa aos procedimentos de gerenciamento

de crise adotados pela Petrobras e a contínua veiculação de denúncias sem a exposição da

versão oficial da empresa, as ações estratégicas no gerenciamento de crises surgem neste

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71

episódio de forma emergencial. Novamente com o uso de meios eletrônicos, a criação

estratégica do blog “Fatos e Dados”, se destaca como uma iniciativa pioneira ao publicar

na íntegra as perguntas e respostas da imprensa antes mesmo de sua publicação, além de

editoriais de opinião em esclarecimento à veiculação de notícias relativas a denúncias. A

significativa recepção da sociedade por meio de comentários nas postagens do blog pode

ser identificada em contrapartida às críticas negativas da grande imprensa a esta iniciativa

como uma reposta positiva à ação.

Desta forma, ao relacionar o número total de notícias positivas sobre a Petrobras

no ano da crise com anos anteriores, pode-se observar que o aumento deste número foi

cerca de 4 vezes maior. Assim, é possível concluir que este efeito é justificado pelo

sucesso da ação estratégica adota no gerenciamento da crise com a criação do blog “Fatos

e Dados”. Além disso, a partir da observação destes números com os anos seguintes é

possível perceber um aumento crescente na publicação positiva de notícias sobre a

empresa, o que demonstra a recuperação de sua imagem diante da opinião pública.

Esta experiência, apresentada com a crise ocasionada com a CPI da Petrobras

pode ser percebida como uma importante oportunidade para o estudo de caso das práticas

de assessoria de imprensa e da área de atuação da Comunicação Organizacional, no

aprofundamento da pesquisa de seus processos e ferramentas, refletidos na contribuição

para o exercício profissional da comunicação.

Page 72: Gerenciamento de crise   um estudo de caso das estratégias de comunicação na cpi da petrobras

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Referências Bibliográficas

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http://oglobo.globo.com/economia/petrobras-divulga-nota-para-negar-realizacao-de-

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Revista Veja on-line. Desastre em alto-mar. Disponível em:

http://veja.abril.com.br/210301/p_036.html. Acesso em 10 de novembro de 2012.

Documentos consultados

Requerimento nº 569, de 2009. Documento disponível em:

http://www.senado.gov.br/atividade/materia/getPDF.asp?t=58130&tp=1. Acesso em 12 de

novembro de 2012.

Guia de Comunicação de Crise Petrobras. S/L, S/E, S/D.

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ANEXO

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Anexo 1

Requerimento da Comissão Parlamentar de Inquérito, de 15 de maio de 2009.

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Anexo 2

Roteiro de entrevista

A crise: Em que momento a comunicação da companhia considerou a instalação de uma crise?

A comunicação da companhia chegou a prever a possibilidade desta situação de crise de

imagem?

Em qual nível a comunicação poderia considerar esta experiência?

Como funcionou a relação de integração da Gerência de Imprensa com as outras áreas neste

período delicado?

Quais foram os elementos fundamentais na superação e gestão desta crise?

Blog Fatos e Dados: Como surgiu a ideia de criação do blog?

Como foi e quanto tempo durou o processo de criação do blog para a comunicação?

Como funcionou o gerenciamento das informações no blog?

O blog influenciou no relacionamento com a imprensa? Como?

Em média, os comentários positivos de apoio à companhia foram maiores que os negativos?

Existem números?

Relacionamento com a mídia: Como foi o ritmo da Gerência de Imprensa no acompanhamento das informações fornecidas

oficialmente pela empresa no desdobramento pela mídia?

Em situações de publicações errôneas ou fora do contexto das informações oficiais fornecidas,

como foi o processo de esclarecimento por parte da Petrobras?

Existe alguma situação de destaque que gerou algum tipo de conflito no relacionamento entre

a mídia e a companhia?

Aproximadamente quantos profissionais e áreas foram envolvidos no monitoramento das

informações?

Como foi o monitoramento dos resultados diários durante e após a crise?

Pós-crise: Na visão de vocês como a imagem da companhia se apresentou durante a crise?

E com o fim da crise, após o relatório final da CPI?

Quais foram as práticas positivas e experiências que ficaram para a Petrobras desta situação?

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Anexo 3

Entrevista concedida pelo Assessor de Comunicação do Gabinete da Presidência da

Petrobras, Erasmo Granado, em 24 de setembro de 2012.

Sobre a crise

– Uma matéria clássica é a do jornal O Globo de sábado que da numa manchete “Multa à

Petrobras derruba a secretária da Receita Federal”, que é a quebra da secretária da

receita. Todo o motivo que levou a instalação da CPI foi uma mudança de cálculo de

contabilidade contábil da companhia, que alguém considerou que era irregular mudar no

meio do período do ano fiscal. Mas depois ficou claro, comprovado que todo o

procedimento estava de acordo como previa a lei, até porque como a Petrobras é a maior

contribuinte da receita do Brasil, a Petrobras se reúne a cada 20 dias com a receita. Então,

o jornal reproduziu esta notícia em todos os dias na matéria, e todos os dias nós mandamos

cartas pra eles. Até que um dia na nota de rodapé, debaixo da Carta aos Leitores estava lá

realmente que a Petrobras não foi multada, mas foi a comissão da Petrobras que derrubou o

secretário. E na época, o que também era uma mentira, mas de qualquer forma eles

acabaram a reconhecer que não tinha multa.

O comitê de crise

– Em virtude das denúncias a companhia decidiu montar um comitê com as áreas

envolvidas nesses temas, e aí além das áreas envolvidas diretamente, outras áreas que

tinham envolvimento direto: segurança empresarial, jurídico, comunicação. Áreas que

obrigatoriamente tinham que estar participando deste processo. E ainda área de negócios

da companhia: Abastecimento, Exploração e Produção, Serviços Compartilhados, etc.,

efetivamente as áreas que estavam envolvidas nas denúncias. Os nomes foram

apresentados pelas áreas a respeito da companhia pra participar da comissão. Foi uma

comissão de alto nível da companhia, de executivos da companhia. Você tinha na

comunicação, um esquema de comunicação de crise e o gerente executivo da Comunicação

Institucional. (...) O comitê tratava das informações que tinham que ser levadas para

parlamentares, levantando informações para a própria companhia sobre todos os casos, e

neste momento a própria companhia se perguntou se havia algo errado. E tudo isso foi

revisitado e trabalhado para estarmos realmente seguros do que estávamos fazendo. Esse

era o papel do comitê, o comitê tinha uma ação de se reunir periodicamente pra apresentar

todas as informações que estavam sendo solicitadas. Por outro lado as ações de

comunicação eram trabalhadas nesse grupo de trabalho que acontecia na Comunicação

com a validação direta do presidente. A comunicação no comitê prestava informações de

tudo o que ela estava fazendo, mas as ações de comunicação eram executadas a partir da

determinação do presidente sem se chocar evidentemente com aquilo que estava sendo

estabelecido no comitê.

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Criação do blog Fatos e Dados

– A questão do blog não passa pelo comitê, nós tínhamos todos os dias, além do comitê,

nós tínhamos na comunicação um grupo de trabalho específico que analisava todas as

questões que estavam sendo veiculadas com o nome da companhia todos os dias, nos

reuníamos todos os dias de manhã, erámos quatro, o gerente de Imprensa e de

Responsabilidade Social, e mais dois assessores, eu e outro. Nós nos reuníamos todos os

dias de manhã, analisávamos tudo que tinha saído de notícia na imprensa e tirávamos uma

pauta de atuação naquele dia respondendo as coisas erradas que tinham saído na imprensa.

Nós percebemos que tudo que a gente falava e explicava a imprensa não retratava, era um

problema isso, nós estávamos tendo por dia uma infinidade, uma quantidade enorme de

matérias negativas contra a Petrobras. A imprensa nos demandava, nós respondíamos à

imprensa porque surgiam denúncias de todos os lados. Nós respondíamos as denúncias

com a justificativa da companhia mostrando que não havia nada errado, e o que acontecia

era que tudo que a gente falava não aparecia nas matérias. E aí nós começamos a discutir

então como é que nós iriamos fazer pra posição da Petrobras sobre esses diversos casos

fosse conhecida. Uma coisa nós sabíamos, não dava pra colocar matéria paga no jornal. E

aí o que aconteceu, nós decidimos que isso não era alternativa, então nós fomos pensando

em várias alternativas, uma delas segundo as ideias que surgiram era colocar na internet a

posição da Petrobras, e aí nessa discussão de colocar na internet existiam várias formas:

criar um hotsite onde nós deixássemos ao público todas as versões da Petrobras e uma

outra ideia que surgiu era a do blog. O blog tinha como componente adicional a

interatividade, o blog é uma ferramenta interativa, e a grande discussão que nós tínhamos

era como lidar com a interatividade, como estabelecer critérios pra você manter o caráter

institucional da companhia, publicar a posição da companhia sobre todas as coisas e

respeitar a opinião de quem interagisse conosco. Foi preciso várias reuniões para discutir

esse fato, era preciso que a gente tivesse critérios bem estabelecidos pra poder fazer isso,

foi quando em uma conversa que nós tivemos com o presidente Gabrielli apresentando a

ele todas as possibilidades que nós tínhamos, o nosso problema de que a posição da

Petrobras não era veiculada nas matérias, e o presidente decidiu “nós vamos fazer o blog”.

E a partir daí começou-se então o trabalho de preparação do blog, que foi uma coisa muito

rápida, não foi demorada, dentro da Gerência de Relacionamento, que tem a gerência

setorial de Multimeios que cuida de toda comunicação eletrônica da Petrobras. E esse

procedimento foi discutido, esse grupo discutiu, validamos com o presidente e a partir daí

isso foi colocado no ar. (...) E aí saiu aquela ideia do blog de publicar as perguntas que

eram feitas e as respostas para que o leitor pudesse comparar com o que era publicado, o

que nós respondemos e o que o jornal publicou. (...) Tem uma coisa que pra mim foi

inesperada, mas teve um papel fundamental pra nós, que pra mim foi sob o aspecto

psicológico porque quando estávamos no meio da maré de ataques da imprensa, denúncia,

parlamentares, aquela confusão toda, a impressão que você tinha no primeiro momento era

que o mundo está contra você, só que quando entrou o blog, começou a funcionar, e a

interatividade com as manifestações de apoio que aconteciam nos posts era uma

quantidade muito maior do que as manifestações em contrário, isso deu pra gente um vigor

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novo que você percebia que apesar da imprensa não retratar a posição da companhia nas

matérias, as pessoas estavam apoiando a Petrobras, a sociedade estava apoiando a

Petrobras. A primeira coisa muito curiosa disso: o efeito do blog pra nós encheu a gente de

força, porque as manifestações de solidariedade, os comentários positivos foram geniais, o

que deu um gás pra gente impressionante. Aquilo nos deu um ar, um vigor novo e

conseguimos superar, foi muito importante sob este aspecto e também por incrível que

pareça o blog mudou a forma de como os jornalistas perguntam as coisas pra gente.

Aquelas perguntas sacanas, de o cara perguntar isso ficou muito escancarado, as pessoas

começaram a criticar. O cara falseava a pauta, o cara perguntava uma coisa sobre uma

questão tributária por exemplo, mas ele estava querendo pegar a história da Receita e aí a

matéria que saia vinha numa lógica totalmente diferente. O fato de publicar deu outra

lógica pra isso. Essa ação do blog teve um papel valiosíssimo.

Sobre o Sistema de Comunicação de Crise Petrobras

– O Plano de Comunicação de Crise da companhia foi criado em 2002, e ele foi criado a

partir de tudo que aconteceu entre o acidente da Baía de Guanabara em janeiro de 2000 e o

afundamento da P-36 em março de 2001. Este período foi um período de muitos problemas

de comunicação, falhas enormes que levaram a criação deste sistema. (...) Para as pessoas

do lado de fora que não conhecem esses detalhes (informações técnicas sobre a quantidade

de óleo derramado na Baía de Guanabara), essa imprecisão nossa da informação, leva a

ficar pensando “ou tão querendo nos enganar ou não conhecem o negócio deles” e aí

passam a desacreditar na gente, e quando você cai em descrédito o sindicalista, o

ambientalista, o padre, o pastor, o líder comunitário, o cara do clube de futebol, o

pipoqueiro da pracinha, o que eles falam tem tanto peso quanto o que você fala. E aí você

fica mal, porque você vai ver que todo esforço pra reconquistar a confiança daquelas

pessoas é muito, muito grande. Por isso hoje trabalhamos sempre, primeiro, a premissa

fundamental: todas as informações divulgadas em situações de crise tem que ser

confirmadas, não tem como não ser assim. Elas tem que ser confirmadas, vão ser

aprovadas pelo executivo da companhia, e a gente sempre trabalha na relação, da

divulgação da informação na relação custo-benefício com a velocidade. Porque um outro

aspecto muito importante e isso em todas as companhias é que se você tem um problema,

seja o primeiro a comunicar, não esconda o problema. Esconder o problema: aí você vai ter

dois trabalhos, um de comunicar e outro de corrigir as informações que estão erradas. (...)

Essa ação de comunicar rápido é uma coisa fundamental, se você tem um problema que

você informa, as pessoas estão vendo que você está preocupado em dar satisfação a

sociedade, e aí quando você passa que está preocupado com isso, você da a ideia de que

está preocupado em resolver. Se você tenta esconder, as pessoas vão desconfiar de você se

realmente tem um bom intencionamento. Esta ação proativa, que, aliás, é o que estabelece

a política de comunicação da Petrobras de ser transparente e proativa, ela diminui muito a

quantidade de problema que você vai ter.

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– A coisa estava organizada assim: eu como gestor do sistema de comunicação de crise era

responsável por lidar com todas as demandas, tudo o que chegava de demanda vinha pra

mim. A minha função era interagir com todas as áreas, com o comitê, levantar todas as

informações, entender o caso, fechar as informações, e fazer o processo de aprovação

interno, e depois que a informação estivesse pronta ia para a Gerência de Imprensa pra

resposta e para o blog, e a comunicação interna. Ou seja, era uma ação simultânea, tudo o

que dizia respeito ao tratamento com a imprensa era feito na Gerência de Imprensa e tudo o

que dizia respeito ao meio eletrônico era feito na equipe da Gerência de Multimeios, mas

era um trabalho todo ajustado, integrado.

O fim da crise

– Esta foi uma experiência riquíssima e acho que definitivamente foi uma história de

sucesso. Para você ter uma ideia, teve fins de semana que nós integrantes do comitê de

crise chegávamos a trocar 200 e-mails. Era o tempo inteiro, ao ponto de esperar o jornal de

domingo estar saindo no sábado à tarde e já começava a trabalhar. Teve uma coisa que foi

fundamental em tudo isso, nós não deixamos uma denúncia, um questionamento sequer

sem resposta. A cada matéria que saia, a gente enviava carta para o jornal, publicava no

blog. Cada informação errada a gente corrigia. Foi um trabalho muito intenso, extenuante.

Entrávamos na empresa e só saíamos às 11 horas. (...) O jornal não fazia uma outra

matéria, mas o blog atuava de maneira a preservar a imagem da companhia. À medida que

o blog começou a ser conhecido, à medida que o blog foi ganhando destaque às respostas,

o posicionamento da companha foi cada vez mais conhecido e como a gente conseguia

responder e demonstrar que a companhia tinha razão em todas as coisas que ela tinha

adotado, que apesar das denúncias a gente desmontava, explicava realmente o que estava

por de traz daquela denúncia, o que no começo era um tsunami de denúncias foi caindo e

quando a CPI começa efetivamente a funcionar, instalada no começo de julho, veio o

recesso e começou em agosto, o nível de ataque da imprensa contra a Petrobras já estava

bem baixo. Maio, junho e julho, julho já um pouco menos, mas foi um período muito

intenso. O que fez esse trabalho intenso nesses meses? Provocou que quando a CPI

começou efetivamente funcionar, nós já tínhamos conseguido desmontar a grande maioria

das denúncias e a credibilidade da companhia estava em alta. Então esse foi um aspecto

muito importante que nos permitiu atravessar o período do funcionamento da CPI mesmo

muito mais tranquilo. Foi muito positiva essa ação, esse período, muito cansativo, mas

positivo pra companhia nos primeiros meses antes do começo da CPI. (...) é um case de

sucesso, porque a gente conseguiu em um mar de denúncias responder a todas elas, sem

exceção. E aí o que aconteceu? Nós chegamos ao final disso e fomos acompanhando a

imagem da companhia, o que demonstrou que a gente saiu desse processo. Então foi muito

valioso, é tanto que hoje a Petrobras foi eleita duas vezes consecutivas pelos jornalistas

como a empresa mais transparente e que melhor se comunica. Então essa ação é um case

de sucesso que merece ser conhecido.

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Anexo 4

Entrevista concedida pelo Gerente de Imprensa da Comunicação Institucional, Lucio

Pimentel, em 29 de outubro de 2012.

Percepção da crise

– No início de 2009 nós percebemos na Gerência de Imprensa que estava aumentando em

muito o número de solicitações dos grandes jornais do país sobre patrocínios culturais,

sociais e ambientais, enfim, uma pauta atrás da outra, e também aumentou muito o número

de solicitações em virtude de relatórios preliminares do TCU (Tribunal de Contas da

União) sobre construção de refinarias ou construção de unidades de refinarias. E o

noticiário entre fevereiro e abril, se concentrou nisso, mais praticamente 3 vezes por

semana, nesses dois a três meses a grande imprensa pautou matérias desse tipo, então

estava evidente que tinha algum interesse por trás dessas matérias de alguém ou algum

grupo político ou não, pautando estes jornais com relação a estes assuntos. E aí nós

percebemos claramente que tínhamos que aumentar ainda mais o nosso acompanhamento

em tempo real das informações que são publicadas, e aumentar a velocidade de internalizar

essas informações para gerentes e para os grandes executivos da companhia.

Durante a crise

– Quando a empresa teve a informação, através do seu acompanhamento, no Congresso

Nacional de que havia uma ideia de instalar uma CPI em relação à Petrobras basicamente

para esmiuçar estes dois assuntos, obras de refinaria e patrocínios, na Gerência de

Imprensa, por exemplo, nós melhoramos e aprimoramos uma ferramenta que temos

internamente que é um banco de dados, o qual chamamos de Central de Conteúdo. Com

que objetivo? Bom, se nós vamos ter que aumentar a velocidade e o alcance do

monitoramento de informações que são publicadas na imprensa, isso em tempo real, em 24

horas por dia, nós vamos ter que ter também internamente uma capacidade de resposta

rápida pra que essas informações que em tese e potencialmente são negativas não se

propaguem. Então, a gente passou a melhorar os procedimentos e processos internos

buscando essa melhor e maior capacidade de resposta. Quando a crise propriamente se

instalou com o envolvimento do presidente da empresa e gerentes executivos nós já

tínhamos esses processos melhor desenhados e mais eficazes. Além desse banco de dados

que era a Central de Conteúdos, o pessoal do clipping, por exemplo, passou a sair às 2

horas da manhã porque a nossa atividade de clipping na verdade é de análise, o clipping

quem faz é uma empresa externa com base nas especificações de serviço que a Petrobras

dá, a minha atividade aqui é a análise dessas informações que essa empresa busca através

desse trabalho de clipagem, a classificação dessas informações, e aí sim consequentemente

a produção desse clipping interno da Petrobras que circula pra todos os gerente e a

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diretoria. Só que esse clipping não para e a empresa contratada também não para, então na

medida em que eu tenho que ter informação em tempo real, tanto este clipping,

principalmente com base no impresso, quanto esse em tempo real, eles são o início e o

final deste meu processo de assessoria de imprensa. Ele é o início quando eu obtenho uma

informação que ela não é precisa, ela não é completa ou ela está errada, e o que eu tenho

que fazer? Imediatamente eu tenho que ter uma capacidade de resposta de dar mais

precisão aquela informação imprecisa, de dar mais amplitude aquele dado que estava

incorreto ou de corrigir aquela informação que estava errada. Este exercício se deu muito

durante a crise de 2009, inclusive sábado, domingo e feriados, a nossa prontidão online

com os nossos executivos da empresa e com o próprio presidente chegava até meia-noite

digamos assim, todos os dias, incluindo sábado e domingo. E a ordem do nosso executivo

maior na época era de que nada pode ficar sem resposta e nós não podemos demorar a

responder, claro que sempre você pensando no mantra de crise que é responder

rapidamente, de forma ágil porém precisa. Não adianta você ser rápido e ser impreciso e

também não adianta você ser preciso e ser demorado. Então na imprensa nos pegamos esse

mantra á risca. Nós tivemos que reforçar a equipe de assessoria de imprensa, de jornalistas

nesse período, inclusive com pessoas de fora da Petrobras que tivessem mais experiência

com crise e que trabalharam conjuntamente com a equipe interna da Petrobras. (...) Então

na Gerência de Imprensa a gente estruturou melhor este banco de dados, estruturamos

melhor a redação, ampliamos o horário de 05 da manhã até às 02 da manhã todos os dias,

sábado e domingo plantão assim como nos dias de semana com dois telefones celulares

ligados para o mundo inteiro. E, a ordem desde então mantém não deixar nenhuma

pergunta sem resposta, responder rapidamente e principalmente intervir no noticiário em

tempo real quando a informação é imprecisa ou é incorreta.

O blog Fatos e Dados na imprensa

– No dia 2 de junho de 2009 foi lançado o blog Fatos e Dados e a Gerência de Imprensa foi

responsável por 85% desse conteúdo. Hoje fora da crise caiu um pouco, mas eu acredito

que a gente esteja em torno de 70 à 75%. O blog foi criado como um ruído de

comunicação, quando a comunicação clássica, conservadora que seja, ela não surte efeito,

você pode abrir mão de um recurso que se chama ruído de comunicação. Então, a ideia do

blog foi exatamente essa, “nós vamos provocar um ruído de comunicação pra chamar a

atenção da sociedade e dos veículos de imprensa de que a Petrobras não está sendo

ouvida”. Porque durante todos esses meses que eu falei, das matérias que foram pautadas

de fevereiro a abril, e isso continuou pela CPI, de cada dez perguntas que eu respondia no

máximo uma resposta era publicada, quando era publicada. Então nós percebemos que

faltava um mecanismo que desse transparência absoluta e total às perguntas dos repórteres

e às respostas da Petrobras, para que a sociedade fizesse o seu juízo de valor sobre o que

estava acontecendo. Então isso não durou quatro dias, isso foi de 2 a 6 de junho de 2009

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que nós colocamos no ar as perguntas e as respostas para os veículos antes que as matérias

fossem publicadas. O blog assim como um site, uma página no Facebook, Twitter, é uma

coisa relativamente fácil e rápida de se fazer, eu acho que o mais importante que dá uma

responsabilidade maior é a decisão de se colocar no ar, uma vez que você entra nas redes

sociais dificilmente você vai sair, a não ser que as próprias redes sociais se modifiquem.

(...) Por isso o blog continua até hoje, porém não mais com essa pegada de ruído de

comunicação, mas como mais uma ferramenta de comunicação da Petrobras para a

sociedade como um todo, afinal este é o princípio básico das redes sociais. (...)Um

determinado jornal te dá um espaço para que você possa manifestar sua opinião sobre as

matérias que saíram, que é o Carta aos Leitores, mas é óbvio que entre uma chamada, uma

manchete de primeira página, uma matéria de meia página, uma página inteira ou duas e

três páginas, e uma carta que o jornal limita, que a não sei quantos caracteres, que não

passam normalmente de três a quatro parágrafos, existe uma diferença descomunal. Então

a Petrobras enviou centenas de cartas nesse período, aos maiores jornais brasileiros,

algumas não foram publicadas, a maioria foi publica é verdade, mas o efeito de uma carta

publicada é mínimo sobre o estrago de uma manchete de primeira página. Então era

desproporcional o peso da acusação sobre a defesa, daí foi criado o blog. Na medida em

que você me pergunta dez coisas e eu te respondo dez coisas, a sociedade tem o direito de

saber então o que eu estou respondendo, tanto o que você está perguntando quanto o que

estou respondendo já que o jornal não publica 90% do que eu respondo, e obviamente as

cartas por terem que ser concisas e reduzidas também não vão dar espaço pra responder as

dez coisas que eu respondi. Na verdade é um avanço da democracia, é a sociedade criando

mecanismos para que a informação completa dos dois lados como a gente aprende da

faculdade de jornalismo de fato ocorra.

Agência Petrobras de Notícias

– Na gerência eu tenho 15 jornalistas fazendo a assessoria de imprensa e mais seis me

ajudando a coordenar toda essa atividade tanto no Brasil quanto no exterior. Então eu

tenho 23 profissionais pra cuidar de um processo de assessoria de imprensa que é global e

a gente chamou de Agência Petrobras de Notícias. O projeto Agência Petrobras de Notícias

foi criado em 2006, e ele consiste, como o nome diz, em emprestar o conceito de uma

agência de notícias ao processo de assessoria de imprensa da Petrobras. Que pressupõe o

que uma agência de notícias é composta de “N” colaboradores espalhados por um país ou

pelo mundo inteiro, e no nosso caso, no mundo inteiro. Uma agência de notícias tem um

sistema único em que esses colaboradores postam essas informações e também suprem sua

necessidade de informação. E isso foi criado então com o site da Agência Petrobras de

Notícias que é corporativo em três idiomas, que visa atender a imprensa do mundo inteiro,

e através dele esses colaboradores que inclusive estão fora da Gerência de Imprensa nas

regionais de comunicação, nas refinarias, nas empresas do exterior, e postam todos os dias

o que eles divulgam pra imprensa a nível local. Então você passa a ter uma agência de

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notícias de atividades da Petrobras. E isso pressupõe uma dinâmica completamente

diferente do que existia até então onde cada um atuava isoladamente sem essa sinergia.

Este processo já foi concebido pensando na velocidade da informação, na velocidade da

resposta da Petrobras, no uso de ferramentas eletrônicas, e em um clipping corporativo

mundial, na medida em que você consiga velocidade na obtenção da informação publicada

pra que você pudesse ter velocidade na resposta à informação que foi publicada. O projeto

também já pressuponha o treinamento de executivos no relacionamento com a imprensa,

que é o media training e hoje a gente já passa de 1.400 gerentes treinados de 2006 para cá.

E por fim o projeto já pressuponha também, cursos para os jornalistas entenderem melhor

as atividades da Petrobras, e isso desde a área de exploração e produção até o projeto

social, por exemplo. E é óbvio por fim, indicadores globais que medissem a eficácia desse

processo de assessoria de imprensa para a Petrobras. Bom o que aconteceu então, é que nós

melhoramos o processo de redação interna, nós melhoramos as ferramentas de

comunicação interna, nós melhoramos ou deixamos mais claro o papel do gerente da

empresa nesse processo, o que é super importante. Sem esse gerente entendendo qual é o

papel dele nesse processo, eu não aprovo rapidamente uma informação que necessito, eu

não obtenho uma informação rapidamente como eu preciso e eu não tenho porta-voz pra

passar essa informação como eu necessito. Bem, em 2006 a Petrobras tinha 4.973 matérias

positivas, isso nos grandes veículos de comunicação sobre a Petrobras, em 2009, o ano da

crise nós fechamos com 20.947 notícias positivas, em 2011 nós alcançamos 35.096

notícias positivas, e provavelmente em 2012 a gente irá superar esse número. A

sistematização de um processo de assessoria de imprensa na Petrobras, além de trazer

ganhos operacionais, trouxe um enorme ganho de imagem para a empresa. Em resumo foi

assim que a gente se preparou, e eu diria que por sorte a gente teve uma crise como a de

2009 pra testar esses nossos processos que já existiam. E a crise de 2009 nos deu a

oportunidade de melhorar ainda mais esses processos. Eu diria que de 2009 pra hoje nós

não estamos fazendo muita coisa diferente, então eu acho que a gente chegou em um

patamar qual com a crise de 2009 que nós já estamos mais do que testados.

Relacionamento com a imprensa

– Acho que no início (sobre a criação do blog) teve óbvio uma resistência, afinal existe

uma expressão que define isso, foi uma quebra de paradigma “como uma empresa que é

solicitada a esclarecer ao que um jornal pergunta coloca no ar tudo o que ela responde

quando até então só o jornal tinha o poder de publicar ou não ao seu critério o que ele

gostaria ou não de publicar”, então foi a quebra de paradigma. Então nesse primeiro

momento houve sim várias reclamações, principalmente de editores, de repórteres nem

tanto porque você afeta de alguma forma, apesar de claro que o objetivo não era esse, o

objetivo era de apenas dar transparência às informações, mas você afeta o produto. Porque

se você fura o produto jornal X, o outro jornal que é concorrente se aproveita da

informação, então você começa a ferir o princípio lógico do furo de reportagem que a rigor

é o diferencial do produto do jornal X. Mas repito, a ideia não era ferir, digamos assim

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comercialmente o jornal, era dar transparência absoluta às informações que a Petrobras

disponibilizada. Eu respondi isso ao presidente da Federação Nacional dos Jornalistas, a

alguns presidentes de Sindicatos de Jornalistas, à alguns colegas de imprensa de que o

objetivo não era furar ninguém, não era prejudicar ninguém, o objetivo é só chamar

atenção pra um determinado fato, nós respondemos dez perguntas e vocês não publicam

“nós respondemos dez perguntas e no máximo vocês publicam uma pra validar a matéria”.

Eu acho que a sociedade tem o direito de ter acesso a essa informação de forma clara e

irrestrita.

Sobre o fim da crise

– Eu acho que o nosso grande acerto, claro que seguindo orientação do líder, do presidente,

foi não ter deixado nenhuma pergunta sem resposta. As pesquisas de opinião que são feitas

pela área de comunicação e os números relativos a notícias positivas nos dão a certeza de

que, é claro houve um prejuízo de imagem para a Petrobras, porém ela saiu da crise com

uma imagem forte. (...) Não me recordo assim de dois ou três exemplos de críticas à

Petrobras por estar disponibilizando a informação sem retoques. (...) O Gabrielli

(presidente da Petrobras), considerou como a pior crise da Petrobras, e eu vou dizer com

toda sinceridade que ele tem toda razão, porque tem muito mais peso uma crise

institucional de imagem em que houve um movimento tentando de alguma forma tentando

atingir a confiança o acionista, o brasileiro, as pessoas tem na Petrobras do que uma

plataforma afundando, que é uma atividade operacional e que todos sabem que pode

acontecer, é de risco e faz parte da indústria do petróleo. Ou o derramamento de petróleo

na Baía de Guanabara, que foi uma crise muito intensa, mas é da atividade. Uma crise

institucional de imagem que vai repercutir no valor da ação, na idoneidade das pessoas e da

própria empresa é muito mais grave.

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Anexo 5

Fonte: http://fatosedados.blogspetrobras.com.br/2009/06/14/respostas-ao-jornal-folha-de-s-paulo/

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Anexo 6

Fonte: http://fatosedados.blogspetrobras.com.br/2009/06/17/cartas-da-petrobras-aos-jornais/

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Anexo 7

Fonte: http://fatosedados.blogspetrobras.com.br/2009/06/18/manobras/