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GERENCIAMENTO DE PROCESSOS: ESTUDO DE CASO EM UM BANCO MÚLTIPLO Luiza Fonseca da Silva (UFRGS) [email protected] Renan Kruger (UFRGS) [email protected] As constantes mudanças no mercado atual exigem maior flexibilidade das empresas. A gestão por processos é realizada para quebrar o paradigma da estrutura tradicionalmente funcional e otimizar o fluxo dos processos na empresa. Além disso, poossibilita que a empresa direcione seus esforços em melhorias de maior impacto nos resultados. Este artigo trata da possibilidade de implantação do gerenciamento de processos em um banco múltiplo, a fim de ilustrar possíveis benefícios. Realizou-se o estudo de caso na empresa, sendo analisada a estrutura atual e os problemas relacionados a ela, principalmente referentes à falta de agilidade no fluxo de trabalho. Dessa forma, foi proposto um redesenho do processo de um dos produtos, além de indicadores para avaliar o desempenho do processo. Verificou-se que este gerenciamento poderia facilitar a comunicação entre as funções e contribuir para a redução do tempo total de processo, melhorando o atendimento ao cliente e tornando a empresa mais competitiva. Palavras-chaves: estrutura funcional, gerenciamento por processos, flexibilidade XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

GERENCIAMENTO DE PROCESSOS: ESTUDO DE CASO EM … · Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente GERENCIAMENTO

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GERENCIAMENTO DE PROCESSOS:

ESTUDO DE CASO EM UM BANCO

MÚLTIPLO

Luiza Fonseca da Silva (UFRGS)

[email protected]

Renan Kruger (UFRGS)

[email protected]

As constantes mudanças no mercado atual exigem maior flexibilidade

das empresas. A gestão por processos é realizada para quebrar o

paradigma da estrutura tradicionalmente funcional e otimizar o fluxo

dos processos na empresa. Além disso, poossibilita que a empresa

direcione seus esforços em melhorias de maior impacto nos resultados.

Este artigo trata da possibilidade de implantação do gerenciamento de

processos em um banco múltiplo, a fim de ilustrar possíveis benefícios.

Realizou-se o estudo de caso na empresa, sendo analisada a estrutura

atual e os problemas relacionados a ela, principalmente referentes à

falta de agilidade no fluxo de trabalho. Dessa forma, foi proposto um

redesenho do processo de um dos produtos, além de indicadores para

avaliar o desempenho do processo. Verificou-se que este

gerenciamento poderia facilitar a comunicação entre as funções e

contribuir para a redução do tempo total de processo, melhorando o

atendimento ao cliente e tornando a empresa mais competitiva.

Palavras-chaves: estrutura funcional, gerenciamento por processos,

flexibilidade

XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.

São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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Seção 1.01

1. Introdução

A competitividade gerada pela globalização da economia exige um aumento na flexibilidade

das empresas, para que consigam acompanhar a velocidade de transformação do mercado

atual. A necessidade de se adaptar a essas mudanças é inevitável para algumas empresas e

uma medida de segurança para outras, e um dos motivos é o surgimento de novas exigências

que obrigam as empresas a se modificarem continuamente (GONÇALVES, 1998).

A gestão funcional tradicionalmente utilizada pelas empresas é um modelo baseado em

departamentos estanques e isolados e cada vez mais revela a falta de agilidade e

competitividade (MÜLLER, 2003; ARMISTEAD; MACHIN, 1997). Hronec (1994) e

Rummler e Brache (1994) alertam que o cliente é atendido por processos que cruzam as

funções da empresa e que o desempenho organizacional é, na maior parte, resultado desses

processos. Portanto, valorizar os desempenhos individuais dos departamentos não garante um

bom desempenho da empresa como um todo.

Além disso, a demanda variada dos clientes impõe uma complexidade ímpar no sistema

organizacional de uma empresa, o que torna cada vez mais necessário um bom entendimento

e um efetivo gerenciamento de seus processos (MÜLLER, 2003). Para isso, o autor revela ser

necessário que os gerentes se concentrem tanto no fluxo dos produtos, papéis e informações

entre os departamentos como usualmente se preocupam com as atividades dentro dos

departamentos.

Assim, percebe-se a necessidade de utilizar métodos de gerenciamento de processos para que

as empresas consigam se adaptar às novas exigências do mercado e se organizem de uma

maneira mais adequada para isso. Gonçalves (2000a) ressalta que as empresas de sucesso

serão aquelas que conseguirem potencializar a centralização de suas prioridades, ações e

recursos nos seus processos.

A partir da implementação da gestão por processos, surgiu a necessidade de adaptar os

sistemas de medição de desempenho, pois são tradicionalmente utilizados de maneira isolada

em cada departamento. Sob a nova visão de gerenciamento, as funções têm o propósito de

apoiar os processos da empresa e, portanto, seu desempenho deve ser medido quanto ao grau

que serve a eles (RUMMLER; BRACHE, 1994). Ou seja, deve ser desenvolvido um sistema

de indicadores relacionados ao processo e a quanto cada função está agregando a ele.

Dessa forma, o presente estudo tem como objetivo propor o alinhamento organizacional de

um banco múltiplo com o processo do seu produto ‘Capital de giro’, além de sugerir

indicadores de desempenho para etapas importantes. Com isso, pretende-se apontar as

possíveis melhorias ocasionadas pela utilização do gerenciamento do processo.

Para tanto, o artigo é composto primeiramente de uma revisão bibliográfica onde são

discutidos conceitos de gerenciamento de processos e avaliação de desempenho, e a relação

entre eles. Além disso, são mencionadas vantagens e dificuldades que decorrem da sua

implementação. Então, é esclarecida a metodologia de pesquisa utilizada para realizar o

estudo e proposta a sistemática a ser seguida. A seguir, é mostrada a aplicação dessa

sistemática, tendo como resultado a apresentação do processo e dos indicadores propostos.

Finalmente, são explicitadas as conclusões derivadas do estudo.

2. Referencial Teórico

2.1 Gerenciamento de Processos

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Um processo pode ser definido como uma seqüência de atividades que converte entradas em

saídas de valor para o cliente (interno ou externo), de forma a satisfazer suas necessidades e

atingir os objetivos da empresa (ZAIRI, 1997; DAVENPORT, 2005).

Ao perceber a importância de visualizar a empresa como um conjunto de processos,

identifica-se a necessidade de encontrar meios para gerenciá-los. Para isso, surgiram várias

técnicas e metodologias a serem implementadas nas empresas que desejam otimizar seus

processos, dando origem à Gestão por Processos. Lee e Dale (1998) a conceituam como uma

abordagem focada no cliente com a finalidade de sistematicamente gerenciar, medir e

melhorar todos os processos da empresa através do trabalho em equipe interfuncional e

capacitação dos funcionários.

Segundo Boehringer (2009), a partir do gerenciamento por processos é possível entender

como os processos interagem com os negócios da empresa e identificar quais processos

devem ser redesenhados, além de contribuir para localizar falhas e possibilitar melhorias no

fluxo de trabalho, na eficiência e na satisfação dos clientes.

Entre os benefícios do gerenciamento de processos, pode-se citar o aumento na confiabilidade

dos processos, a redução dos custos e estoques, a redução da burocracia, a melhoria na

capacidade de produção e a melhora na moral dos funcionários (HARRINGTON, 1993).

Assim, a empresa apresenta maior agilidade e aumenta a satisfação de seus clientes, de forma

a tornar-se mais competitiva frente às exigências e constantes mudanças do mercado.

Entretanto, apesar de muitas empresas terem caminhado rumo à gestão por processos, poucas

conseguiram mudar fundamentalmente o modo de se organizar, pois continuam focando o

poder nas unidades funcionais. Isso é confirmado por Hammer e Stanton (1999) quando

afirmam que os processos horizontais em sistemas verticais de gerenciamento ocasionam

conflito e confusão. Os autores ressaltam que organizar-se por processos não significa que as

unidades funcionais devem ser eliminadas, pelo contrário, as estruturas horizontais e verticais

devem coexistir e terem relações de parceria. Gonçalves (2000b) confirma que, para um bom

gerenciamento de processos, a empresa também deve estar estruturada dessa forma e

identifica cinco estágios na evolução de uma empresa que busca a gestão por processos, sem

que necessariamente a empresa passe por todos, e que vão do modelo puramente funcional ao

essencialmente baseado em processos. Rummler e Brache (1994) sustentam que os

relacionamentos de reporte permanecem verticais, mas os objetivos do processo devem ser os

direcionadores do desempenho e, assim, os gerentes funcionais devem ser julgados pelas

contribuições que seu departamento dá a um ou mais processos

A maior dificuldade na organização por processos está em quebrar os paradigmas existentes

na cultura gerencial da empresa e este é um dos principais desafios das organizações

modernas (MÜLLER, 2003). Assim, surgiram estudos para identificar os principais

problemas na implantação da gestão por processos e entender a melhor forma de obter uma

organização efetiva e de qualidade. Pode-se citar o estudo realizado por Malanovicz et al.

(2009) a fim de identificar os possíveis fatores críticos de sucesso (FCS) que devem ser

considerados em um projeto de gestão por processos de negócio.

Boehringer (2009) acrescenta que, para obter sucesso em um gerenciamento de processos, é

preciso manter contínua documentação, análise e esforços de melhoria. Além disso, percebe-

se a necessidade de haver um comprometimento de todos com os objetivos da organização

para alcançar a satisfação dos clientes e, assim, possibilitar um aumento na competitividade

no mercado atual (SANTOS; SENTANIN, 2007).

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2.2 Indicadores de Desempenho

Indicadores de desempenho são obtidos através da coleta, do acompanhamento e a análise de

dados específicos. Para isso, é necessário definir o que medir e quais os padrões que

satisfazem às expectativas e às necessidades dos processos e clientes para aquela medida

(SINK; TUTTLE, 1993). Com isso, é possível definir prioridades de melhorias e avaliar quais

produtos e processos necessitam correção.

Rummler e Brache (1994) afirmam que para que os sistemas da organização sejam

efetivamente gerenciados, é necessário um método de medição total, e não um conjunto de

medidas sem relações.

Lantelme (1994) classifica os indicadores em específicos, aqueles que refletem o desempenho

dos processos internos e servem para melhoria das atividades específicas, e em globais, que

mostram o desempenho geral de um setor ou de uma empresa.

Os indicadores de desempenho específicos podem ser divididos em indicadores de resultado e

vetores de desempenho, segundo Kaplan e Norton (1997). Os vetores de desempenho

fornecem informações sobre previsões e tendências para determinada unidade de negócios. Já

os indicadores de resultado mostram se as ações de curto prazo estão tendo resultado efetivo.

Deve-se ressaltar a necessidade de adaptar os indicadores de desempenho à estrutura de

gerenciamento de processos de modo a medir quanto cada atividade está agregando ao

processo. A avaliação do processo é fundamental para identificar se ele está ocorrendo

adequadamente e, principalmente, para permitir o direcionamento dos esforços na melhoria

dos processos. Para o presente estudo de caso, serão adotados indicadores específicos que

tratem das saídas dos processos e do comportamento geral do produto dentro da empresa.

3. Metodologia

A metodologia utilizada neste artigo foi o estudo de caso. Esta modalidade de pesquisa

permite um amplo e detalhado conhecimento a respeito de um ou poucos objetos a partir de

um estudo profundo sobre eles (GIL, 2009). Segundo Yin (2005), o estudo de caso é utilizado

para analisar fenômenos contemporâneos inseridos em um contexto real e, embora inicie a

partir de um esquema teórico, deve-se estar atento aos novos elementos que podem surgir no

decorrer do trabalho. No caso estudado, foi analisada a possível aplicação do Gerenciamento

por Processos em uma empresa do setor financeiro, a fim de verificar os possíveis benefícios

conseqüentes.

O banco múltiplo analisado faz parte de um grupo de empresas que possuem necessidade de

efetuar transações financeiras de grande volume e com alta freqüência. Além disso, a

empresa também possui a necessidade de realizar transações financeiras para uma rede de

cartões. Atualmente, o banco tem responsabilidade de cobrar os usuários de cartões -

geralmente, grandes empresas - e pagar os estabelecimentos conveniados com a marca do

cartão. Nesse universo de clientes surgiram os produtos oferecidos pelo banco: ‘Antecipação

de recebíveis’, ‘Capital de giro’ e ‘Seguro empresarial’.

É visível, dentro do contexto empresarial, a falta de comunicação entre as interfaces do

organograma, e os processos interfuncionais sem gestão apresentam problemas nessas

lacunas. Por conseguinte, com o capitalismo de serviços e uma nova tendência de

terceirização, tarefas que antes eram realizadas pela empresa tornaram-se serviços contratados

e geraram dificuldades ainda maiores no entendimento dos processos da empresa. Por isso,

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propor uma gestão por processos e criar indicadores de qualidade é altamente recomendável

para acabar com as falhas que existem dentro da organização.

3.1 Sistemática proposta

Rummler e Brache (1994) propõem as seguintes fases para a implementação da Gestão por

Processos: (1) identificação da Questão Crítica do Negócio; (2) seleção do processo crítico;

(3) seleção de líder e membros da equipe; (4) treinamento da equipe; (5) desenvolvimento do

mapa atual; (6) identificação de problemas; (7) análise dos problemas; (8) desenvolvimento

do mapa ideal; (9) estabelecimento de medidas (indicadores); (10) planejamento de mudanças

e recomendações; e, (11) implementação das mudanças.

Essas etapas foram adaptadas à disponibilidade e às necessidades da empresa, e formulou-se a

seguinte sistemática (Figura 1):

Identificação da

questão crítica do

negócio

Seleção do

Processo Crítico

Análise da

estrutura atual

(funcional)

Identificação dos

problemas

relacionados à

estrutura atual

Desenvolvimento

do mapa ideal

Proposição de

indicadores

Figura 1 – Fluxograma da sistemática proposta

Primeiramente, deve ser feita a identificação da questão crítica da empresa que evidenciou a

oportunidade de implementação da Gestão por Processos. Então, é selecionado o processo

crítico, ou seja, aquele que tem maior influência na questão crítica. A estrutura deste processo

(anterior à Gestão por Processos) deve ser analisada, possibilitando a identificação dos

problemas relacionados a ela. A partir da análise desses problemas, é desenvolvido o mapa

ideal do processo e proposto um sistema de indicadores adequado à nova estrutura.

4. Resultados

Para a identificação da questão crítica do banco, foram analisados os indicadores do Balanced

Scorecard, proposto por Kaplan e Norton (1997), utilizados pela empresa que demonstraram

o insucesso da gestão funcional. O indicador para o produto era apenas o tempo de liberação

do crédito, não levando em conta outros fatores como sincronismo das tarefas, desempenho

comercial, risco do crédito e crescimento da carteira. Por isso, em entrevistas com gestores e

colaboradores, identificou-se como questão crítica o tempo de liberação de crédito no produto

de ‘Capital de giro’.

Identificou-se o processo do produto ‘Capital de Giro’ como processo crítico, pois envolve

importantes áreas que possuem atividades comuns a outros produtos dentro do banco. Os

setores diretamente envolvidos são:

– Área de Crédito: contempla as atividades de análise de crédito e supervisão de cadastro;

– Área Comercial: supervisiona as atividades de venda, sendo essas terceirizadas e feitas

através de um canal de tele-vendas;

– Área Financeira: responsável pela formalização de contratos e liberação do crédito.

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Além dessas, existem áreas de serviços terceirizados como a de Contato com o Cliente, que

consiste em uma operação comercial e é supervisionada pela área Comercial do banco. Outras

áreas terceirizadas são a de coleta de documentos e a de cadastro, ambas sob supervisão da

área de Crédito interna. Também existem setores de suporte, como Processos, Tecnologia da

Informação e Negócios (planejamento estratégico).

O universo de clientes do produto é restrito pelos clientes da marca dos cartões de crédito, ou

seja, apenas estes estabelecimentos estão aptos a contratar o ‘Capital de giro’. Isso ocorre

devido à forma de pagamento, pois o que amortiza o contrato de empréstimo é o reembolso do

estabelecimento oriundo do faturamento com os cartões.

Para a análise da estrutura atual foram feitos acompanhamentos das atividades em cada setor.

Após a coleta de informações foram desenhados fluxogramas detalhados das atividades para

identificar pontos de falhas e, além disso, foi desenhado um fluxograma com o resumo das

atividades em cada setor (Figura 2).

ÁREA DE

CRÉDITOCOMERCIAL CADASTRO FORMALIZAÇÃO

Início

GERAÇÃO

DE

PROPOSTA

DE GIRO

FÁCIL

ANÁLISE DE

CRÉDITO

EFETIVAÇÃO

DA

PROPOSTA

DE GIRO

CADASTRO

DO CLIENTE

LIBERAÇÃO

DE CRÉDITO

Fim

CONTABILI-

ZAÇÃO

FINANCEIRO

FORMALI-

ZAÇÃO

Figura 2 – Fluxo Resumido de Atividades

Na etapa de identificação de problemas relacionados ao processo do produto foram analisados

os tempos de entrega do produto a partir de informações do sistema de gestão de

empréstimos. Com isso, verificou-se que os contratos de renovação passam pelas mesmas

tarefas que dos novos clientes, fato que não deveria ocorrer, pois clientes de renovação já são

cadastrados e possuem um histórico de comportamento nos contratos anteriores. Por

conseguinte, pode-se visualizar o baixo índice de clientes novos através do gráfico na Figura

3, o que demonstra uma carteira de empréstimos com alto índice de renovação.

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Figura 3 – Comparação entre contratos novos e renovações

Após entender o elevado índice de renovação na carteira foram estudados os tempos dos

contratos, separando-os entre as atividades principais como mostra a Figura 4. Com esse

estudo demonstrou-se que a análise de crédito detinha em média 46 % do tempo total de

entrega do produto, e o cadastro 21%. Assim, foi possível focar nas melhorias dessas

atividades e determinar as alterações necessárias para o novo processo de trabalho.

Tempo Médio das Tarefas (Todos Contratos)

0,19

4,85

1,70

1,12

1,90

0,31

0,00

1,00

2,00

3,00

4,00

5,00

6,00

LIBERAÇÃO DA

PROPOSTA

ANÁLISE DE

CRÉDITO

EFETIVAÇÃO DA

VENDA

VALIDAR

CADASTRO

FORMALIZAÇÃO

DO CONTRATO

CONFERÊNCIA

DE

ASSINATURAS

COMPROVANTE

POSTAGEM

LIBERAÇÃO DO

CRÉDITO

Tempo(Dias)

Figura 4 – Tempo médio das atividades principais do processo relacionado ao ‘Capital de giro’

A partir da análise da estrutura atual, ficou evidente a falta de sincronismo das tarefas.

Algumas propostas de venda chegam para a análise de crédito sem as autorizações necessárias

e permanecem aguardando o recebimento do documento. Além disso, não há um work flow

determinado no sistema de empréstimos. Dessa forma, não se identifica claramente a situação

do processo, pois quando uma tentativa de venda é colocada no sistema todos os setores

visualizam-na como pendente, sem saber se a tarefa predecessora já foi executada pelo setor

responsável. Assim, torna-se difícil identificar os contratos que já estão disponíveis para as

atividades de cada setor.

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Após a identificação e análise dos problemas, foi possível construir o mapa ideal do processo

e desenvolver o sistema de medição adequado.

4.1 Mapa ideal do Processo

Com o auxílio dos estudos realizados foram feitas discussões com gestores das áreas

envolvidas para o redesenho do processo. O processo macro do produto foi dividido em

venda, renovação, venda para clientes antigos e renegociação, como mostra a Figura 5.

Venda

Renovação

Venda

Clientes

Antigos

Início

Renegociação

FIM

Figura 5 – Divisão das atividades macro do produto

O processo de venda não passou por alterações nas atividades macro, apenas foram sugeridas

as seguintes melhorias:

Reestruturação do work flow de tarefas no sistema de gestão de empréstimos;

Orientação aos colaboradores de venda para incluírem propostas com todos os documentos

necessários para a análise de crédito, caso contrário, ela seria reprovada e não mais

aguardaria no fluxo de tarefas;

Criação de uma atividade de monitoramento de empréstimos que, após a liberação do

crédito, avalia mensalmente as transações dos clientes a partir de dois índices de

monitoramento: reembolso de transações e poder de pagamento. O primeiro verifica a

média de reembolso necessária, desde o início do contrato, para realizar o pagamento, e o

último avalia os dias restantes de contrato e faz relação entre a média necessária para

pagamento e a média atual de reembolso.

Para a renovação foi estruturado um novo fluxo de trabalho, com início no monitoramento dos

empréstimos, a partir do qual é possível determinar quais empréstimos seriam pagos e

entrariam no fluxo de renovação. Caso o contrato seja pago, duas atividades paralelas devem

ser requisitadas: a revisão do cadastro e a análise de crédito. Após a conclusão destas tarefas,

o cliente seria contatado pela área comercial informando a oportunidade de crédito. Ao

antecipar as etapas de revisão de cadastro e análise de crédito, o tempo de liberação do crédito

é minimizado na visão do cliente. Além disso, a venda seria mais efetiva, pois a oferta de

crédito só seria feita para clientes aptos a receberem o crédito, visto que teriam passado pelas

análises anteriores. A Figura 6 demonstra as atividades de renovação.

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ÁREA DE

CRÉDITOCOMERCIALCADASTRO FORMALIZAÇÃOFINANCEIRO

Revisão CadastroAnálise de Crédito

Efetivação da

Venda

Atualização

cadastro

Formalização de

contrato

Liberação de

Crédito

Venda

efetivada?

Monitor de

Empréstimos

(Financeiro-

Cobrança)

Contrato

pago?

Não

Renegociação

Fim

Início

Sim

A

A

Sim

Não

Processo de

venda para

clientes antigos

Renovação

Figura 6 – Novo fluxograma das atividades de Renovação

No caso de clientes que não optarem por renovar o contrato no momento do pagamento, foi

criado um fluxo de tarefas para aqueles que já tiveram um relacionamento com o produto no

passado. O processo de venda para clientes antigos consiste em analisar o potencial do cliente,

avaliando as transações dos clientes, assim como determinar o novo contato com o cliente

para que não ocorram propostas de produtos consecutivas para os tomadores de crédito. Após

esta análise o cadastro do cliente passa por uma revisão e são avaliadas as validades dos

documentos para a execução da análise de crédito.

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O processo de renegociação é específico do setor de cobrança interno, e, no caso de não

conseguir nenhum meio de resgatar o capital, a cobrança deve ser executada por vias judiciais

como já é realizado atualmente.

4.2 Sistema de indicadores

O desenvolvimento de indicadores foi estabelecido através das saídas principais de cada

etapa, além de serem propostos indicadores de evolução da carteira e fidelização de clientes.

Foram determinados juntamente com a gerência da empresa a fim de solucionar as principais

dificuldades encontradas ao longo do processo. Visto que um dos principais problemas da

empresa é a interação entre os departamentos, foram desenvolvidos indicadores para medir o

processo em cada interface funcional como demonstra a Tabela 1 abaixo.

Saída Requisito Indicador de desempenho

Medida Padrão

Crescimento da

carteira de novos

clientes

Market Share

Crescimento do número de

novos contratos em relação

ao mês anterior

Crescer 25% ao ano

Índice de

renovação da

carteira

Fidelização de

Clientes

Percentual de clientes novos

renovados Índice de 80% de renovação

Tempo da

análise de

crédito para o

produto

Acessibilidade

do cliente

Tempo de análise de crédito

em dias 1 dia

Cadastramento

de propostas

sem documentos

Sincronismo de

tarefas

Percentual de propostas

cadastradas sem todos os

documentos

0 % das propostas

Efetivação de

clientes com a

análise de

crédito aprovada

Efetividade

comercial

Percentual de contratos

fechados dentre as análises

aprovadas

70% de efetivação

Percentual de

contratos pagos

no vencimento

Segurança do

Crédito

Percentual de contratos que

foram pagos sem atraso

dentro do mês analisado

90% dos contratos

Tabela 1 – Matriz de Indicadores

O principal objetivo desses indicadores é garantir que a empresa adote e permaneça utilizando

o gerenciamento por processos, além de possibilitar o acompanhamento da evolução e o

monitoramento do processo.

5. Conclusões

Neste trabalho, foi analisada a estrutura atual de um banco múltiplo que possui dificuldades

no fluxo do processo devido à organização funcional e à terceirização e, assim, proposto o

gerenciamento do processo de forma a solucionar esses problemas. A partir das melhorias

propostas ao processo do produto ‘Capital de Giro’, espera-se otimizar o fluxo de informação

na empresa, aumentar a efetividade de vendas e tornar o processo mais flexível. Percebe-se

que a implementação da gestão por processos e dos indicadores propostos possibilitaria a

redução no tempo total do processo, melhorando o atendimento aos clientes. Assim, com o

aumento da satisfação dos clientes e otimização do processo, verifica-se a que o banco pode

tornar-se mais competitivo no mercado.

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Vale ressaltar que, para obter sucesso no gerenciamento do processo, a empresa deve

mobilizar todos os funcionários. Deve-se repassar a eles a proposta da nova estrutura e o

empenho de todos necessário para a implantação, bem como os conseqüentes benefícios. Para

trabalhos futuros, sugere-se a aplicação da sistemática e processo propostos ao produto

‘Capital de Giro’, além da realização do mesmo estudo e posterior aplicação para os demais

produtos da empresa.

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